departamento de taquigrafia, revisÃo e redaÇÃo … · agricultura do estado do rio grande do sul...

77
CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL Versão para registro histórico Não passível de alteração COMISSÃO ESPECIAL - PEC 215-A, DE 2000 - DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDIGENAS EVENTO: Conferência REUNIÃO Nº: 686/2014 DATA: 11/4/2014 LOCAL: Passo Fundo, Rio Grande do Sul INÍCIO: 14h TÉRMINO: 17h53min PÁGINAS: 76 DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO LUCIANO PALMA DE AZEVEDO - Prefeito do Município de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. PAULO RICARDO DE SOUZA DIAS - Presidente da Comissão de Assuntos Fundiários da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul - FARSUL. SÍLVIO BORGHETTI - Representante da FETAG-RS - Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul. RUI VALENÇA - Coordenador-Geral da FETRAF Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul - FETRAF-SUL/CUT). HENRIQUE KUJAWA - Antropólogo e professor da Faculdade Meridional de Passo Fundo - IMED. JETIBÁ FAUSTINO - Consultor da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul - FETAG-RS sobre demarcação de terras indígenas e quilombolas. CARLOS CESAR D'ELIA - Representante da Procuradoria-Geral do Estado do Rio Grande do Sul. RODINEI ESCOBAR XAVIER CANDEIA - Representante da Procuradoria-Geral de Erechim-RS. SIDIMAR LUIZ LAVANDOSKI - Representante da FETRAF - Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar, de Sananduva. SUMÁRIO Debate sobre o processo de demarcação de terras indígenas, conforme propõe a Proposta de Emenda à Constituição nº 215, de 2000, objeto de estudo da Comissão Especial. OBSERVAÇÕES Houve intervenções fora do microfone. Inaudíveis. Há falha na gravação.

Upload: others

Post on 22-Jul-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

Versão para registro histórico

Não passível de alteração

COMISSÃO ESPECIAL - PEC 215-A, DE 2000 - DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDIGENAS

EVENTO: Conferência REUNIÃO Nº: 686/2014 DATA: 11/4/2014

LOCAL: Passo Fundo, Rio Grande do Sul

INÍCIO: 14h TÉRMINO: 17h53min PÁGINAS: 76

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO

LUCIANO PALMA DE AZEVEDO - Prefeito do Município de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. PAULO RICARDO DE SOUZA DIAS - Presidente da Comissão de Assuntos Fundiários da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul - FARSUL. SÍLVIO BORGHETTI - Representante da FETAG-RS - Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul. RUI VALENÇA - Coordenador-Geral da FETRAF Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul - FETRAF-SUL/CUT). HENRIQUE KUJAWA - Antropólogo e professor da Faculdade Meridional de Passo Fundo - IMED. JETIBÁ FAUSTINO - Consultor da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul - FETAG-RS sobre demarcação de terras indígenas e quilombolas. CARLOS CESAR D'ELIA - Representante da Procuradoria-Geral do Estado do Rio Grande do Sul. RODINEI ESCOBAR XAVIER CANDEIA - Representante da Procuradoria-Geral de Erechim-RS. SIDIMAR LUIZ LAVANDOSKI - Representante da FETRAF - Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar, de Sananduva.

SUMÁRIO

Debate sobre o processo de demarcação de terras indígenas, conforme propõe a Proposta de Emenda à Constituição nº 215, de 2000, objeto de estudo da Comissão Especial.

OBSERVAÇÕES

Houve intervenções fora do microfone. Inaudíveis. Há falha na gravação.

Page 2: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

1

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Queremos chamar para

compor a Mesa o Deputado Osmar Serraglio, Relator da PEC 215. Aqui já está o

Deputado Darcísio Perondi, que também é membro da Comissão. Aqui está o

Deputado Vilson Covatti, da mesma forma, membro da Comissão. Aqui está o

Deputado Alceu Moreira, que convido para sentar-se à mesa e que também é

membro da nossa Comissão.

Quero convidar o Deputado Estadual Capoani, representando a Assembleia

Legislativa, onde também se dedica a este tema.

Queremos convidar também o Edison Nunes, que representa o Prefeito de

Passo Fundo, que chegará dentro de alguns instantes. Então, Edison, por favor,

tome assento à mesa, representando os Prefeitos que estão aqui presentes.

Gostaríamos também de chamar aqui a representação da Federação da

Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos

Trabalhadores na Agricultura — FETAG e da Federação dos Trabalhadores na

Agricultura Familiar — FETRAF.

Chamo também os Procuradores: o Procurador-Geral do Estado, Dr. Carlos

César, se possível, fique conosco aqui, e também o Dr. Rodinei Candeia. Por favor,

estejam conosco, Dr. Rodinei e Dr. Carlos César.

Convido o Cadinho, Paulo Ricardo, representando aqui a FARSUL. Convido

também o Sílvio Borghetti, representante da FETAG. Onde está o Sílvio? O.k.,

Sílvio. Da mesma forma, convido o representante da FETRAF, o Sr. Rui Valença.

Onde está o Rui? Por favor, Rui, chegue aqui. Então, aqui já estão as entidades que

estão presentes neste ato.

Gostaríamos também de convidar o Paulo de Tarso, Presidente do Sindicato,

que é o nosso anfitrião, está nos recepcionando, foi o encarregado de nos ajudar

aqui no evento. Por favor, Paulo.

Aqui está o Dr. Arno Jerke, representando a Confederação Nacional da

Agricultura. Dr. Arno, por favor.

Prefeito Luciano, por favor. Aqui, tchê! Atrasamos para receber o Prefeito, que

tinha um compromisso.

A Senadora Ana Amélia Lemos também foi convidada, meu colega Airton

Borowski, não pôde estar presente, mas determinou que o seu suplente, o nosso

Page 3: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

2

companheiro e amigo Márcio Turra, aqui estivesse a representando. Por favor,

Turra. Uma cadeira a mais aqui, Cris; arrume-nos mais uma cadeira, Cris.

Convido também um Vereador, representando aqui os Vereadores, por favor.

Coloquem um Vereador que esteja envolvido no processo. Luciano, há Vereador de

Passo Fundo aqui? Está aqui o Pedro, Vereador de Passo Fundo? Senão vamos

chamar outro Vereador. Representando, então, os Vereadores, está aqui o Vereador

Pedro Daneli. Por favor, Pedro, puxe o banco.

Boa tarde a todas e todos! Agradecemos também à Brigada Militar, na pessoa

do Tenente-Coronel Fernando Carlos Bicca, pela ajuda que está nos dando. Muito

obrigado à nossa valorosa e briosa Brigada Militar, que está junto conosco aqui.

Agradeço a produtores, produtoras, Prefeitos e Vereadores que vieram aqui nesta

tarde para podermos debater.

Esta é uma sessão específica da nossa Comissão Especial da PEC 215. Eu e

o Deputado Alceu Moreira apresentamos uma proposição, que foi aprovada na

nossa Comissão Especial, para fazermos uma audiência pública no Rio Grande do

Sul. O Deputado Alceu havia proposto que fosse em Porto Alegre, e eu, em Passo

Fundo. E deliberamos. Achamos melhor fazer a reunião em Passo Fundo pela

proximidade que vocês têm da grande maioria dos processos. A grande maioria dos

processos estão próximos desta região. Então, por isso, para que não se cansassem

muito, nós fizemos a reunião aqui em Passo Fundo, para que pudéssemos ouvir a

todos nesse processo.

Eu quero dizer que nós convidamos o Ministério da Justiça. O Ministro coloca

que não mandou representantes. Também não está presente. Convidamos também

a Presidência da FUNAI de Brasília, para que se fizesse presente, a FUNAI de

Passo Fundo, a Superintendência da FUNAI.

A gente tem ligação com os produtores. É fácil falar com a FETRAF, com a

FETAG, com a FARSUL, com os Prefeitos, com a Secretaria de Governo do Estado.

E o pessoal se articula para vir. Por isso nós pedimos à FUNAI — nós mesmos

ligamos para a FUNAI na semana passada, além de termos mandado o documento.

Mas nos enviaram uma comunicação de que não poderiam estar presentes. Nós

lamentamos.

Page 4: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

3

Seria importante que os próprios índios que estão assentados nos diferentes

locais aqui do Rio Grande do Sul pudessem se manifestar. Para o Relator e para

nós Parlamentares da Comissão, seria extremamente importante ouvir também os

índios, que estão sofrendo hoje na beira das estradas. Convidamos os índios dos

assentamentos, que já têm sua propriedade, que já estão em suas reservas.

Também não há aqui nenhum cacique, nenhum representante, mas o convite foi

feito.

O que nós queremos falar aos nossos colegas Parlamentares, às lideranças e

a todos vocês que aqui estão é: não sejamos parciais. Podem dizer: “O Deputado só

convidou um lado”. Não, a Comissão; não foi o Deputado. O convite, Deputado

Osmar Serraglio, veio da nossa Comissão Especial. Lá em Chapecó, ouvimos

criticas, queixas de que o pessoal não havia sido convidado, e foi. O Deputado

Colatto organizou a reunião lá, com outros Parlamentares de Santa Catarina. Todos

foram convidados, e resolveram não participar.

Nós estivemos no Pará, por exemplo, e o Deputado Giovanni Queiroz nos

falava agora, na terça-feira, que lá os índios também se manifestaram. Por isso nós

fizemos o convite e insistimos para que eles viessem. Infelizmente, também não

estão aqui.

Convidamos também os Procuradores federais Bruno Alexandre Gütschow,

Fernanda Alves de Oliveira, Fredi Everton Wagner, Juarez Mercante e também

Ricardo Gralha Massia. Convidamos todos para que aqui estivessem.

O Dr. Ricardo faz uma colocação, diz que gostaria de estar aqui, mas, devido

à exiguidade de prazo, na época em que recebeu o convite, não poderá se fazer

presente. Pelos menos respondeu que não poderia vir.

Recebemos também ofício da Presidência da FUNAI, dizendo que não

poderia se fazer presente. Também não mandou representante. Maria Augusta pelo

menos nos mandou um e-mail.

Recebemos também da CEPI, por meio de Maria Luiza dos Santos Soares,

Coordenadora do Conselho Estadual dos Povos Indígenas, comunicado de que

também não poderia se fazer presente. Mas convidamos. Era nossa obrigação.

Agradecemos ao Dr. Carlos César e ao Dr. Rodinei, aqui presentes, estão

junto conosco, para podermos debater, e eles poderem contribuir com o Relator da

Page 5: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

4

matéria, com os Parlamentares, sobre esta importante reunião que estamos fazendo

e essa importante decisão que nós deveremos tomar, a partir dessas audiências

públicas que há alguns dias estamos realizando.

Queremos agradecer também às duas Vereadoras de Palhoça, em Santa

Catarina. Uma delas vive o mesmo problema. Estivemos juntos em Chapecó. Como

é o seu nome?

(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Maria Rosângela

Prates, Vereadora, representando o pessoal de Santa Catarina, que vive o mesmo

drama que nós vivemos aqui.

A todos vocês que estão presentes digo que é uma satisfação estarmos

discutindo. Aqui está o pessoal do CADEC. Eu convidei o CADEC?

(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - O CADEC é um

conselho, uma comissão que reúne FARSUL, FETAG, FETRAF, entidades que

estão aqui presentes, com o apoio da Federação das Associações de Municípios do

Rio Grande do Sul — FAMURS. Márcio, por favor. Então, nós queremos agradecer.

É o pessoal que também está preocupado com essa questão.

Vamos explicar o que nós estamos fazendo, a PEC, essa proposta de

emenda à Constituição brasileira, relatada pelo competente e brilhante advogado, o

Deputado Osmar. Eu sou agrônomo. Outros não têm essa mesma formação que o

Deputado Osmar tem: jurista renomado, professor universitário, foi Relator da CPI do

Mensalão. Não é qualquer pessoa. Tem várias credenciais o nosso brilhante

Deputado Federal, que é gaúcho da Barra do Rio Azul. É isso? Diz que nasceu em

quatro ou cinco Municípios. No fim era Erechim. Como é que era ali, Osmar?

(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Eram Erechim, Aratiba,

Itatiba e Barra do Rio Azul. Os candidatos que estão aqui, Deputado Capoani,

gostam de dizer que nasceram em 10, 15 Municípios. O Deputado Osmar nasceu

efetivamente em quatro Municípios do Rio Grande do Sul, e o registro dele é de

Erechim. Então, o nosso conterrâneo, gaúcho, hoje está servindo à Câmara Federal

pelo Estado do Paraná, no quarto mandato. Pela competência, nós temos certeza de

Page 6: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

5

que vai fazer um brilhante trabalho frente a essa PEC, essa proposta de emenda à

Constituição.

Vários temas estão sendo debatidos, especificamente acerca da questão

indígena. Vejo aqui o pessoal de Cachoeira, o pessoal dali da região de Caçapava,

que talvez estivesse esperando debate sobre a questão quilombola. Não é esse o

foco da reunião e nem da PEC 215. Tratamos especificamente da questão indígena.

O que nós queremos trazer também para o Congresso Nacional? Como é que

funciona? Hoje, os processos são gerados a partir da FUNAI, a partir do Ministério

da Justiça, a partir da Casa Civil, e, por último, a Presidenta assina o decreto final.

Então, o que nós queremos? Que a Câmara Federal, o Senado Federal, o

Congresso Nacional também possa deliberar sobre esse tema. Por isso nós

estamos fazendo essa discussão.

Houve dificuldade para que nós pudéssemos implantar esta Comissão. Nós,

membros, os Parlamentares que estão aqui, o Covatti, o Alceu, o Perondi, todo

mundo sabe a dificuldade que tivemos para implementar, mas está implementada.

Depois, Márcio, a própria Senadora Ana Amélia pode nos dar uma mão. Vai ajudar,

já está ajudando nesse processo também. Os Senadores vão participar desse

processo; vai chegar a vez deles. Esse é o ponto. Hoje os Parlamentares vieram

muito mais para ouvir os diferentes casos que nós temos aqui.

Agradecemos a presença. Vou passar a palavra, para uma saudação rápida,

ao Prefeito anfitrião, para que possa receber todos vocês; afinal, nós estamos em

Passo Fundo. O Prefeito Luciano Azevedo vai dar uma palavrinha para recepcionar

todos vocês, para nós, então, darmos início à nossa reunião de audiência pública da

PEC 215. Com a palavra o Prefeito Luciano Azevedo.

O SR. LUCIANO PALMA DE AZEVEDO - Boa tarde a todos. Registro minha

saudação ao Deputado Federal Luis Carlos Heinze, ao Deputado Osmar Serraglio,

que nos visita. Eu queria aqui saudar também os Deputados Federais Vilson Covatti,

Darcísio Perondi e Alceu Moreira e o Deputado Estadual Gilberto Capoani. E vou

pedir licença para, na pessoa dos Deputados Federais, dos Deputados Estaduais —

vão me permitir aqui os amigos da Mesa, Lideranças, representantes das entidades

e da Câmara de Vereadores —, fazer uma saudação breve que contemple a todos.

Page 7: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

6

Eu queria apenas, em nome da Prefeitura de Passo Fundo, em primeiro lugar,

desejar que sejam bem-vindos aqueles que nos visitam na tarde de hoje para

participar desta reunião da Comissão, deste debate, deste encontro, que trata de

uma pauta que vem sendo permanente, Deputado Heinze, das discussões públicas,

das conversas, dos debates políticos e, principalmente, da preocupação desta nossa

região norte do Estado.

Existe uma ameaça concreta, aqui na nossa região, e seguramente isso

existe em outras regiões do Brasil, ao patrimônio de produtores rurais, de famílias de

agricultores, de pequenos, médios e grandes trabalhadores do campo, que têm, ao

longo dos anos, das décadas, ajudado a construir a grandeza e a riqueza desta

terra, desta região.

Passo Fundo, por força das emancipações que acontecerem aqui no ano de

1992, se tornou uma cidade com grande dependência dos Municípios da região.

Produz-se muito mais nos Municípios da região, do ponto de vista da produção

agrícola, do que aqui na nossa terra. Mas isso não nos faz menos dependentes da

produção rural. E por isso essa questão da demarcação é algo que nos preocupa

muito, preocupa Passo Fundo, preocupa a cidade, preocupa todos os setores.

Ao saudar aqui, Deputado Luis Carlos Heinze, a presença dos Deputados

Federais, dos Deputados Estaduais e das Lideranças, eu quero apenas dizer que

espero que esta audiência possa contribuir para que nós encontremos uma solução,

uma alternativa, que já está encaminhada. Mas tem que ser uma alternativa que

preserve, eu não tenho nenhuma dúvida, aquilo que foi construído ao longo dos

anos por tantas pessoas que trabalharam na área rural. Trabalharam e ainda

trabalham. Quero, por isso, desejar que sejam produtivos os debates.

Sejam todos muito bem-vindos a Passo Fundo, e que nós possamos, num

prazo curto de tempo, encerrar essa novela, deixar as pessoas trabalharem com

tranquilidade, com serenidade, sem preocupação com o seu patrimônio e com o seu

futuro. Preocupação o produtor rural já tem de sobra no dia a dia. Todo mundo sabe

disso. Não precisava de mais essa. Eu espero, sinceramente, que isso possa

acabar, e acabar logo, com a solução que está sendo gestada pelos Parlamentares

na Câmara Federal, que é a solução por que espera todo o Brasil, quando se trata

desse tema. Sejam bem-vindos!

Page 8: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

7

Deputado Heinze, bom trabalho! Passo Fundo recebe a Comissão de braços

abertos. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Obrigado, Prefeito.

Queremos também saudar e agradecer a presença da imprensa, rádios,

jornais e televisão, que estão dando cobertura ao evento, o que é muito importante,

porque vocês estão levando para o cidadão urbano aquilo que é a aflição e a agonia

dessa gente do campo, que está sofrendo neste momento.

Nós temos aqui três entidades: a FETRAF, a FETAG e a FARSUL. A gente

vai dar um pequeno espaço para que cada uma possa se manifestar. Depois, temos

aqui outros inscritos, para falar dos processos, dos problemas que nós temos. Estou

vendo aqui representantes de Mato Preto, Mato Castelhano, Pontão, Tapejara,

Sananduva. Que o pessoal possa se manifestar.

Então, eu pediria inicialmente ao Cadinho, Paulo Ricardo, que representa a

FARSUL, que fizesse a sua manifestação. O que você pode trazer para enriquecer o

trabalho do nosso Relator e dos colegas Parlamentares?

Com a palavra o Paulo Ricardo, que neste ato representa o Presidente Carlos

Sperotto, da nossa Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul.

O SR. PAULO RICARDO DE SOUZA DIAS - Muito boa tarde.

Eu gostaria de fazer uma saudação rapidamente, sem tomar muito tempo, em

respeito a todos os que vão falar depois de mim. Não vou citar uma a uma as

autoridades que já foram citadas aqui, mas não poderia deixar de manifestar aos

senhores o nosso agradecimento e a nossa satisfação e prazer de tê-los aqui

conosco, não só pela presença dos senhores, mas fundamentalmente pelo trabalho

que vêm desenvolvendo em defesa da produção brasileira e em defesa do direito de

propriedade.

Sr. Relator, Deputado Osmar Serraglio, a FARSUL vem trabalhando essa

questão há algum tempo, preocupada com os efeitos que ela toma. Particularmente

em relação a essa proposta de emenda à Constituição, nós a apoiamos de forma

integral, defendemos efetivamente essa tese, porque realmente é preciso retirar do

Executivo esse poder. Esses superpoderes não devem permanecer nas mãos da

FUNAI, principalmente alicerçados num ordenamento jurídico que sequer fora

Page 9: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

8

efetivamente discutido pela sociedade — muitos desses ordenamentos políticos são

feitos por decreto, por instrução normativa e por portarias.

Então, é preciso, sim, que a sociedade venha discutir este tema. Para isso,

ela deve ser representada pelos senhores, que são nossos representantes e que

vão, sim, dar uma nova sinalização, inclusive para uma nova política indigenista — a

atual, no nosso entender, está equivocada.

Esta política indigenista baseada na aquisição de terra, na busca desenfreada

por terra, tem causado sérios problemas. Nós já temos 13% do território nacional

como terra indígena. Não é da terra que o índio precisa; o índio precisa de

cidadania, de saúde, de educação, de respeito a todos os seus aspectos culturais e

as suas tradições. Isso nós entendemos que tem que ser discutido pelo Congresso.

Por isso, nós defendemos essa PEC, que inclusive pode causar — e vai

causar — um grande desarranjo social nas comunidades que estão sendo atingidas.

Essas milhares de famílias que são retiradas do processo produtivo vão causar um

impacto socioeconômico nos Municípios, que certamente serão o seu caminho. Isso

tudo nos preocupa muito.

Aqui, na sua frente, Deputado — o senhor é da região e conhece muito bem o

tema —, estão homens e mulheres produtores rurais que trabalham dia a dia

acreditando num sonho. As nossas propriedades, mais do que um patrimônio, são

as nossas vidas, são o nosso futuro, o futuro dos nossos filhos. Muito obrigado por

defender esses sonhos. Não são simplesmente 40% do PIB gaúcho que estão aqui

representados; está aqui representada a nossa essência.

Parabéns pelo trabalho dos senhores! A CNA — Confederação da Agricultura

e Pecuária do Brasil está aqui representada pelo Dr. Arno, que traz um abraço da

Senadora Kátia Abreu, do Presidente Carlos Rivaci Sperotto, o qual eu represento, e

traz uma saudação e um agradecimento a todos.

Deixando marcadas as nossas posições, gostaríamos de entregar um

documento com algumas considerações, algumas sugestões de encaminhamentos,

sobre os quais, efetivamente, por respeito a todos os que hão de falar, eu não vou

fazer uma dissertação, mas vou entregar o documento, para registro.

Muito obrigado. (Palmas na plateia.)

Page 10: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

9

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Muito obrigado, Paulo

Ricardo.

Com a palavra Sílvio Borghetti, representando aqui a nossa FETAG —

Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul, do Presidente

Elton Weber.

O SR. SÍLVIO BORGHETTI - Boa tarde a todos e a todas. É com grande

alegria que estamos aqui, nesta tarde chuvosa, que nós podíamos estar curtindo em

casa com a nossa família, na fase final da colheita, mas estamos aqui para um

desafio maior.

Eu queria saudar o Deputado Luis Carlos Heinze e o Deputado Osmar

Serraglio, que é o Relator da PEC 215/00, e, na sua pessoa, saudar todos os

Deputados Estaduais e Federais da Mesa e também todas as lideranças sindicais,

cooperativas e políticas que estão aqui na plateia. Quero, ainda, saudar o colega da

FETRAF-SUL, o Candeias, e, na sua pessoa, todas as lideranças jurídicas que

estão aqui, bem como cada agricultor, cada agricultora que veio aqui neste dia para

nos incentivar a fazer avançar a PEC 215/00.

Nada mais justo do que democratizar ainda mais a questão indígena, tirando

o poder da FUNAI e do Ministério Público e transferindo-o para o Congresso. Nós

vivemos num país democrático. Queremos democratizá-lo ainda mais. Queremos

levar esta discussão para o Plenário, para que lá seja decidida, e não deixar que

meia dúzia de pessoas decidam por uma imensidão de agricultores no Rio Grande

do Sul e neste País.

Quero dizer que a FETAG está aqui. Estou aqui representando o Presidente

Elton, que deixa um abraço a cada um e a cada uma de vocês. Está aqui o colega

Jetibá também, que é consultor da FETAG, que está nos apoiando neste tema

indígena, nesta questão indígena. Ele trabalhou por muito tempo dentro da FUNAI e

sabe os caminhos, os meios que nós temos para nos defender.

Então, a todos um grande abraço. Sucesso. Contem sempre com a FETAG e

com os sindicatos, porque nós estamos nesta luta para chegarmos ao final

vencedores. Com certeza, ninguém vai sair de suas terras. Mas para isso

precisamos da união de todos.

Era isso. Obrigado. (Palmas.)

Page 11: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

10

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Obrigado, Borghetti,

representante da nossa FETAG.

Com a palavra, o Presidente da FETRAF, aqui representando os três Estados

do Sul, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e também Paraná, o Rui Valença.

O SR. RUI VALENÇA - Boa tarde e todos e a todas.

Peço permissão para cumprimentar o nosso Deputado Osmar Serraglio, que

é o Relator; o Deputado Luis Carlos Heinze, o Deputado Alceu Moreira, o Deputado

Vilson Covatti, os Deputados Estaduais, o Capoani, o nosso Prefeito e todas as

autoridades políticas e jurídicas, além dos meus colegas de sindicato, em especial o

Presidente do sindicato lá em Marau, e demais pessoas aqui presentes.

Sr. Relator, eu vou fazer a minha fala em dois momentos: um, como

Coordenador, como Presidente da Federação da Agricultura Familiar; e outro, como

agricultor atingido por este problema. Peço licença para misturar um pouco esta

coisa. Sei que geralmente eu misturo isso. Então, já vou me adiantando.

Vou contar não uma história como as que a gente vê nos laudos da FUNAI,

mas uma história verdadeira. Eu sou atingido. Moro hoje na terra que é do meu pai.

O meu bisavô foi morar lá em 1910, trabalhando na construção da estrada de ferro

que liga Santa Maria a Marcelino Ramos para ganhar o seu pedaço de terra — em

1910, há mais de 100 anos. Neste momento, então, toda essa história, tudo isso

está sendo desconsiderado.

Isso me deixa triste e preocupado, porque nós também vivemos na agricultura

familiar um momento em que os jovens estão saindo de lá, e eu não tenho como

dizer para os meus filhos: “Fiquem aqui com o pai”, como o meu pai ficou, como o

meu bisavô ficou, porque eu não sei para onde eu vou daqui a uns dias, para onde

eu terei que ir. Então, essa é uma situação muito complicada, muito delicada.

Como representante de uma Federação, eu quero dizer que já enfrentei

muitas peleias, como se fala aqui no Rio Grande, quer dizer, muitas lutas em defesa

dos agricultores familiares, mas eu nunca vi uma injustiça tão grande como esta. É a

maior injustiça que eu já vivi como sindicalista, nos últimos 30 anos. Eu nunca ouvi

nada parecido. Isso nos deixa muito preocupados.

Infelizmente, não está sendo tratado com seriedade este assunto. E não está

sendo tratado com seriedade nem para o lado da comunidade indígena… É só nós

Page 12: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

11

andarmos. Eu vim de Sananduva agora. Vi o acampamento em Mato Castelhano e

as condições em que os indígenas estão vivendo. Isso é falta de seriedade, sim.

Isso é falta de compromisso, porque eles são seres humanos também. E não está

havendo seriedade e compromisso também com os agricultores, porque não se

deixam famílias 5 anos, 10 anos, 15 anos, 20 anos sem saber o que vai ser do seu

futuro. Isso é falta de seriedade.

Está faltando mais do que isso: nesta semana, o pessoal de Sananduva, que

está aqui — muitos conhecidos —, nos enganou mais uma vez. Fomos enganados

mais uma vez. Por quê? Porque ficamos sabendo que a FUNAI e o INCRA iriam

fazer um levantamento na área de Sananduva, no Passo Grande do Forquilha, para

ver que agricultores iriam sair. Foi-nos dito pelo representante do Ministério da

Justiça que isso não iria ser feito, mas, 2 horas depois, estavam lá, fazendo o

levantamento e, mais grave do que isso, induzindo, pressionando, intimando os

agricultores a dizerem que queriam sair da sua terra. Isso é falta de seriedade, e

mais uma vez nos enganaram.

Isso nos leva a uma situação muito preocupante. Nós temos que tratar essa

situação de uma forma que resolva os problemas, mas há muita coisa para se fazer.

Uma delas, Deputado, é acabar com algo que é, sim, gerador deste problema — e a

culpa não é do índio. Desculpem-me por dizer isto aqui, mas há um problema muito

sério, e a culpa não é do índio, mas de branco sem-vergonha que vai plantar em

terra de índio, arrendar terra de índio. Isso é uma coisa muito séria. Foram feitas

muitas denúncias, mas, até este momento, não vi nenhuma resolução para esse

problema.

Então, nós temos também que impedir isso e acabar com a indústria da

demarcação que foi criada neste País. Há uma indústria que demarca, pois alguém

sonha que uma determinada região é área indígena, e esse lugar acaba virando

área indígena a partir de qualquer tipo de laudo.

Para finalizar, não temos dúvida nenhuma de que há solução, sim, para este

problema. E, mais do isso, há legislação que permite essa solução. Há o Estatuto do

Índio, que diz que, em caso de vulnerabilidade das comunidades indígenas, é

possível, sim, o Governo criar reservas indígenas. Vamos fazer isso. Vamos dar

essa terra para esses índios que estão nessa situação. Comprem a área de terra,

Page 13: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

12

criem uma reserva e deixem nossos agricultores trabalhando lá, como eu estou,

como meu pai, meu avô e meu bisavô estiveram por mais de 100 anos. Tenho

certeza de que essa é uma solução viável.

Quero dizer que estamos juntos nesta luta e, por mais difícil que ela seja, não

há outro jeito: precisamos nos organizar, lutar, porque é assim que nós vamos

conquistar nossos direitos.

Obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Hauly) - Muito obrigado ao

representante da FETRAF, Rui Valença.

Agora, em nome dessa junção das entidades FETRAF, FETAG, FARSUL e a

própria FAMURS —, tem a palavra o Sr. Márcio.

O SR. MÁRCIO - Senhores, boa tarde. Eu sou do CADEQUI, o Comitê

Estadual dos Atingidos por Desapropriações Quilombolas e Indígenas do Rio

Grande do Sul. Nós contamos com o apoio de várias federações, sindicatos,

entidades, Municípios, associações de moradores, tanto para a questão indígena

quanto para a quilombola. Nós debatemos, analisamos, aconselhamos e articulamos

diferentes ações...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Só um minuto.

Estamos tendo um problema com o som. O pessoal está ouvindo aí atrás? (Pausa.)

O.k., pode falar.

O SR. MÁRCIO - Muito bem.

Então, dentro desse Comitê, nós organizamos diferentes atividades de

comunicação, articulação...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - O pessoal não está

ouvindo.

O SR. MÁRCIO - Não estão ouvindo? Vou falar mais alto, então.

Bom, dentro desse nosso Comitê, a gente vem acompanhando a causa

indígena e quilombola há 4 anos. As origens são parecidas, apesar de o foco aqui

ser a questão indígena.

Mas o que nós observamos em comum, senhores? Esse problema com dois

decretos que saíram voltados para a questão indígena e quilombola atinge de

Page 14: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

13

maneira frontal o agronegócio do Rio Grande do Sul, que hoje representa 4,5% de

todo o PIB do Estado.

E, no imaginário do cidadão urbano, existe uma visão equivocada do que é o

agronegócio no Rio Grande do Sul. O agronegócio não é formado por aqueles

grandes produtores, como o cidadão urbano imagina, mas, sim, é uma teia, uma

rede que se entrelaça de pequenos, médios agricultores, alguns grandes, que

dependem e interagem com uma rede enorme de agroindústrias e indústrias de

tecnologia prestadoras de serviços de diferentes áreas.

E toda essa rede sustenta, no Rio Grande do Sul, 4,58% de todo o PIB do

Estado. Milhões de pessoas dependem do agronegócio no nosso Estado. No Brasil,

esse percentual é de vinte e poucos por cento. É hoje o segmento mais competitivo

da economia do nosso Estado, o único que consegue realmente fazer crescer as

suas exportações, trazer oportunidades, fazer com que pessoas prosperem.

Mas, senhores, o agronegócio só prosperou ao longo desses anos, se

transformou em um negócio competitivo mundialmente, que consegue trazer

oportunidades para tanta gente, porque ele opera em um regime de livre mercado e

com reconhecimento claro da propriedade privada dos investidores e

empreendedores, que são empreendedores de 5 hectares, de 100 hectares ou de

500 hectares, mas são todos empreendedores rurais que sustentam uma rede

enorme de indústrias de implementos agrícolas, de agroquímicos. É uma teia

complexa.

Se nós ameaçarmos a estabilidade dessa grande rede com o espectro que

estamos vivendo, que elimina uns dos grandes pilares — o livre mercado e o

reconhecimento da propriedade —, nós passamos a eliminar, a relativizar o conceito

e a clareza da propriedade, nós passamos a criar um ambiente onde o investidor,

seja ele pequeno ou grande empreendedor, não vai mais investir. Dessa forma, o

agronegócio pode se degradar e iniciar um processo de crise, e nós não vamos

saber, daqui a 5 anos, por que ele começou.

Quando a gente estuda economia, entende que as nações que realmente

prosperaram ao longo da história foram sempre as que tiveram um livre mercado

forte. O livre mercado permite, obriga as pessoas, os empreendedores a serem

inovadores, a assumirem riscos — e os riscos inerentes à agricultura são enormes.

Page 15: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

14

Nós realmente não podemos contar com mais um risco de identidade, que é o

de não saber, quando nós despertarmos, no dia de amanhã, se a nossa propriedade

é nossa ou não é nossa, seja ela de 2 hectares ou de 500 hectares. Isso desarticula

toda a rede: desarticula a rede agroquímica, desarticula a rede de transporte, cria

uma aflição enorme em todo o sistema.

Então, senhores, a razão clara disso tudo é evidente, e nós precisamos

combatê-la. Hoje, caso os senhores não saibam, são 97 os Municípios — anotem

bem: 97! — no Estado do Rio Grande do Sul que têm algum problema com pleitos

indígenas ou quilombolas, em áreas que vão de 500 hectares a 6 mil hectares.

Alguns desses pleitos ainda não se tornaram públicos. Vocês podem estar

dentro de uma área pleiteado por quilombolas ou por indígenas e ainda não saber;

vão saber daqui a meio ano, daqui a 1 ano, porque esse pleito pode estar correndo

ainda em silêncio dentro das autarquias. A gente não sabe.

Não existe nada mais vital hoje do que levar esse processo para dentro do

Congresso Nacional. Para criar transparência para este debate, ele tem que sair da

obscuridade dos corredores do INCRA e da FUNAI, onde as coisas ocorrem em uma

penumbra que ninguém entende, e você anoitece proprietário, herdeiro, ou aquele

que trabalhou ou conquistou, e amanhece invasor, ruralista e um sem-número de

adjetivos que degradam a sua imagem.

Parabenizamos os Deputados que estão aqui conosco, os quais

acompanhamos e sabemos que são fortes nas lutas e nas posições, às vezes

expondo a sua imagem pessoal, arriscando-a, correndo ainda o risco de pagar um

custo político. Mas esta causa é nobre e a luta vale a pena.

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Os representantes das

entidades já falaram.

Quero agradecer a presença do nosso ex-Prefeito de Passo Fundo, ex-

Deputado Federal e hoje produtor rural, sempre Prefeito e sempre Deputado, Dr.

Carrion. Muito obrigado pela presença.

Agora, concedo a palavra ao Prof. Kujawa, para pontuar as questões ao

nosso Relator e aos nossos Parlamentares, nos situando. O Dr. Kujawa é um

Page 16: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

15

historiador e conhece bem a história da nossa região. Então, com a palavra o Dr.

Kujawa.

O SR. HENRIQUE KUJAWA - Boa tarde a todos e a todas. Na pessoa do

Deputado Luis Carlos Heinze, quero cumprimentar toda a Mesa, todas as lideranças

já mencionadas no protocolo — não vou me ocupar repetindo o nome de todos.

De fato, como historiador, como cientista social, eu tenho estudado isso nos

últimos 10 anos e tenho me preocupado, pesquisado, discutindo isso principalmente

na região norte do Estado do Rio Grande do Sul.

Queria aproveitar este momento para dizer ao Relator que, se este problema

enfrentado no Brasil inteiro gera angústia, na nossa região essa angústia se

multiplica. Em um raio de 100 quilômetros de Passo Fundo, nós temos 15

acampamentos indígenas e 15 áreas em disputa ou em conflito. E esse conflito, na

prática, não se iniciou nessas 2 décadas.

É importante que todos nós diferenciemos o momento que estamos vivendo

hoje do momento vivenciado nos anos 90, que foi o processo de retomada, ou de

reentrega, das terras historicamente demarcadas para os indígenas. Ou seja, no Rio

Grande do Sul, lá no início do século XX, quando Torres Gonçalves e Borges de

Medeiros venderam a terra para os colonos, naquele mesmo momento criaram

áreas indígenas. Em algum momento histórico, nos anos 60, se entendeu por bem

reduzir essas áreas demarcadas. Nos anos 90, essas áreas foram restituídas, seus

marcos temporais foram restituídos. E o que os índios estão reivindicando hoje,

claramente, num movimento de ampliação, é a criação de áreas indígenas. Ou seja,

eles não reivindicam a demarcação de áreas indígenas, mas a criação de novas

áreas indígenas, em sua grande maioria, onde os agricultores vivem.

Como o representante da FETRAF contou, desde o início do século XX, há 1

século, essas terras foram compradas do próprio Estado pelos antepassados das

pessoas que hoje as possuem. Eu passei em todas as casas dos agricultores de

Getúlio Vargas, tive a oportunidade de conversar com todos eles, assim como estou

fazendo em Mato Castelhano, e percebendo isso: o próprio Estado vendeu, há 1

século, essas terras para os agricultores. Portanto, é fundamental considerar que

mais de 90% das terras, na nossa região — pega Sananduva, Getúlio Vargas e

Page 17: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

16

mesmo Faxinalzinho —, não chegam a 20 hectares. São pequenas propriedades

mesmo; são agricultores que não tratam a terra apenas como patrimônio.

Com isso eu não estou dizendo que não é legítimo defender o nosso

patrimônio. Eu estou dizendo que se está discutindo mais do que o patrimônio: está-

se discutindo justamente uma relação, um vínculo dessas pessoas com suas terras,

com cemitérios centenários. Em Sananduva, há lápide de 1912 que a partir de agora

entraria em terras indígenas.

Portanto, é fundamental que se discuta no âmbito legislativo, no âmbito

executivo um novo rito, um novo processo de identificação e delimitação do que vem

a ser terra indígena, porque, pelo atual critério, se essas são terras indígenas, todas

as terras dos agricultores da região, ainda que tenham escrituras de 1910, 1912,

1875, como no caso de Sananduva, são terras indígenas.

É fundamental, Srs. Deputados, que se faça um esforço para interpretar, para

regulamentar os arts. 231 e 232 da Constituição Federal. É fundamental que se veja,

inclusive, a possibilidade de nesta PEC se discutir a pertinência ou não de um marco

temporal, ou seja, se vale ou não aquela resolução do STF no caso da Raposa

Serra do Sol de que as terras efetivamente indígenas são as terras que eles

ocupavam em 1988.

É visível! Todos os documentos históricos, todos os estudos feitos, mesmo os

laudos da FUNAI, não conseguem demonstrar — porque é impossível fazer isso —

que os índios, no último século, estão nas terras que estavam reivindicando. Ora, se

há agricultores que têm 20 hectares, 30 hectares, 50 hectares e cujas famílias

possuem essas terras há gerações, como é possível dizer que os índios ocupavam

essas terras, ou que elas são terras tradicionalmente ocupadas? Isso só é possível,

obviamente, se se adotar a Teoria do Indigenato, ou seja, do direito imemorial,

segundo a qual todas as terras são terras indígenas, independente da ocupação

histórica, do marco temporal.

Então, de fato, eu vejo isso com uma preocupação acadêmica, com uma

preocupação social, e vejo com bons olhos que os Deputados, que a Câmara dos

Deputados, que o Senado e também a Assembleia Legislativa — embora saibamos

claramente que não é de competência do Estado regulamentar a demarcação das

terras indígenas — se preocupem com isso, e olhem justamente para a realidade

Page 18: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

17

regional, para todas as famílias, para toda essa história e procurem, de fato,

encontrar uma solução, não no sentido de dizer que o índio não tem direito de ser

índio, mas no sentido de dizer que o agricultor tem direito de ser agricultor. E quem

está sendo aviltado neste processo é justamente o agricultor.

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Obrigado, Dr. Kujawa.

Nós temos aqui também, representando a FETAG, além do nosso

companheiro Borghetti, o Jetibá, que é antropólogo, Deputado Osmar Serraglio, tem

vivência, já trabalhou lá em Brasília, conhece este assunto. Seria importante se ele

pudesse também dar a sua colaboração. Para nós, seria extremamente importante

ouvir alguém que já trabalhou do outro lado do balcão, certo, Jetibá? Então, seria

importante ouvirmos a manifestação do Jetibá, representando a nossa FETAG.

Com a palavra, o Sr. Jetibá.

O SR. JETIBÁ FAUSTINO - Obrigado pela oportunidade. Boa tarde a todos.

Eu quero parabenizar a Comissão que está engajada no trabalho pela PEC nº

215/00. Vocês estão muito bem representados nesta luta.

Eu gostaria, primeiro, de fazer uma pergunta: Quem — podem levantar a

mão, se quiserem — aqui é beneficiário do Crédito Fundiário ou do PRONAF?

Levante a mão quem for beneficiário. Pode levantar quem tem o benefício. Grande

parte. Tudo bem.

Quem é o gestor do Crédito Fundiário e do PRONAF? O Governo Federal. O

agricultor recebe um recurso do Governo Federal para adquirir uma área para

plantar, para sobreviver. É a agricultura familiar. O Governo dá esse incentivo. Só

que esse dinheiro é emprestado; o agricultor fica vinculado ao Banco do Brasil,

certo? Até onde eu sei, é por aí. Aí o agricultor adquire a terra, cria benfeitorias,

compra implementos, vai lá, instala a família e começa a trabalhar. Quem é que faz

tudo isso para o agricultor? O Ministério do Desenvolvimento Agrário. Por outro lado,

quando o agricultor começa a trabalhar, vem o Ministério da Justiça e lhe tira a terra,

através da demarcação.

Isso é o que se chama de injustiça. Isso é o que se chama de falcatrua oficial.

Page 19: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

18

Existe a Lei nº 11.326/06, a Lei da Agricultura Familiar, que beneficia todos

vocês. Existe uma série de programas voltados a quem? Ao agricultor familiar, por

um lado.

Por outro lado, o representante da FETRAF — Federação dos Trabalhadores

da Agricultura Familiar, disse que o bisavô, em 1910... Foi justamente quando foi

fundado o Serviço de Proteção aos Índios que começou a farra demarcatória no

Brasil.

Em 1973, veio a Lei nº 6.001, que trata do Estatuto do Índio. De 1973 até

1996, o agricultor sequer tinha o direito de reclamar se a sua terra estava sendo

demarcada ou não, porque o Decreto nº 1.775 é que estabelece o direito ao

contraditório, que dá o direito de reclamar. Para vocês terem uma ideia de como isso

vem acontecendo.

Hoje, o próprio Ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência

da República, admitiu e declarou na mídia que o interesse das demarcações, hoje,

está voltado para a agricultura familiar. Ou seja, hoje, o alvo do Sr. Gilberto Carvalho

é vocês.

A PEC nº 215 não é de hoje, ela já é antiga. É com muita luta que está se

tentando levar esse processo adiante, para que se pare com esse ranço de

demarcações no Brasil, em que todo mundo perde a terra, todo mundo é indenizado

com benfeitoria. Nos casos de terras de quilombola, indeniza-se a terra. Quer dizer,

tem que parar com isso. Tem que rever conceitos. Eu não vou conversar com vocês

aqui sobre conceitos, porque não é a hora de fazer isso. Uma discussão técnica tem

que ter outro momento.

Eu só quero dizer que vocês, hoje, são parte importante de um processo que

está sendo administrado por homens públicos que estão engajados nesse processo

e preocupados em acabar com esse tipo de coisa que está acontecendo no Brasil.

Esse processo já rançou. Está na hora de modernizar. Uma forma de

modernizar é tirar o monopólio da FUNAI nas outras demarcações e passar esse

processo para o Congresso Nacional. É isso que tem que acontecer. Isso só vai

acontecer com a participação de vocês também, apoiando esse tipo de iniciativa que

está sendo feita hoje aqui. A mudança está precisando é disso.

Page 20: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

19

Eu tenho certeza — hoje me impressionou muito o número de pessoas — de

que vocês estão realmente preocupados com isso. O assunto é longo. Poderíamos

ficar discutindo aqui até domingo, mas não é o caso. Eu só digo a vocês que a PEC

nº 215 é uma grande oportunidade que se tem de modernizar isso no Brasil e de

frear uma injustiça que está sendo feita, frear um abuso que está sendo feito contra

a propriedade rural.

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Os dois procuradores

que estão aqui irão se manifestar. Já conversei com eles. Eles preferem ouvir mais

um pouco.

Encontram-se aqui, do Mato Preto, Nelson Rogalski; do Pontão, Jair Dutra

Rodrigues; de Tapejara, Cláudio Bee; de Sananduva, Dênis Golim; de Caçapava,

Benemídio, representando a região sul do Estado; e de Mato Castelhano, Alexander

Piccoli. Os nossos colegas de Santa Catarina também vão dar uma palavra aqui

sobre os problemas que eles enfrentam lá. Citei esses casos. Eu vou deixar a

palavra em aberto. Caso alguém também queira se manifestar sobre outros

processos, afora esses que estão aqui, podem se inscrever. O Dr. Kujawa citou 15

processos aqui na região. No Rio Grande do Sul existem 30 processos em

andamento. Aqui eu citei cinco ou seis. Se alguém mais quiser fazer menção e falar,

os procuradores — é importante a fala deles —, os Parlamentares, o Relator, nós

vamos estar aqui com a inscrição em aberto.

O primeiro inscrito é o Sr. Nelson Rogalski, aqui representando a comunidade

do Mato Preto: Getúlio Vargas, Erechim, e Erebango, em torno de 4.200 hectares.

São 435 famílias.

Com a palavra o Sr. Nelson.

O SR. NELSON ROGALSKI - Quero aqui, em nome do Deputado Luis Carlos

Heinze, saudar todos os Deputados aqui presentes. Também, em nome do

Procurador do Estado do Rio Grande do Sul, Rodinei Candeia, cumprimento as

demais autoridades aqui presentes. Para mim é uma satisfação poder participar de

uma equipe que vem trabalhando na defesa dos agricultores. Todas aquelas

pessoas que lutam nesta questão têm um trabalho muito importante. Eu jamais

Page 21: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

20

poderia pensar que um dia eu viveria tamanha injustiça. Eu me refiro ao que vem

acontecendo com os agricultores.

Eu sou morador da região do Mato Preto. Conheço profundamente aquela

região, que foi colonizada em 1900 pelo próprio Governo do Estado. Os agricultores

receberam as terras, pagaram por elas e vêm trabalhando nessas terras há várias

gerações, mas hoje, infelizmente, são chamados de intrusos. Eu acho inadmissível o

que está acontecendo lá. Eu venho acompanhando várias audiências públicas. Os

representantes do Governo vêm falando que o Brasil tem uma grande dívida com os

quilombolas e com os indígenas. Pois tratem de pagá-los! Os agricultores não têm

dívida nenhuma, e, quando têm dívida, eles se desfazem de algum bem e pagam

suas dívidas. Eles sempre pagaram suas dívidas, fizeram tudo certo, mas hoje são

tratados dessa forma.

Há 10 anos, na região do Mato Preto, os agricultores vivem uma incerteza:

será que nós vamos ficar em cima dessas terras ou será que nós vamos ser

desapropriados? Todos eles possuem escrituras registradas em cartórios. E eu

pergunto: onde fica a fé pública? Não me refiro à escritura atual, mas à escritura por

várias gerações. O que vem acontecendo é lamentável. Eu li no Correio do Povo de

ontem que um cidadão, o Sr. Elton Scapini, que morou nesta região, onde está

sendo demarcada terra indígena, e que hoje ocupa a Secretaria de Desenvolvimento

Rural do Rio Grande do Sul, vai indenizar os agricultores. Os agricultores não

querem dinheiro. Eles querem permanecer nas terras onde têm vínculo. Eu

pergunto: qual índio tem vínculo com a terra do Mato Preto e onde está a função

social da terra? Nós temos que continuar esta luta. Nós contamos com o apoio dos

Deputados Federais Luis Carlos Heinze e Alceu Moreira, de outros Deputados

Estaduais, como o Deputado Capoani, e também com o apoio do Procurador do

Estado, Dr. Rodinei Candeia. Essa é uma luta justa, porque os agricultores não são

intrusos. Eles são os legítimos proprietários. Isso que está acontecendo lá no nosso

Município é um desgoverno. Nem no tempo da ditadura, um governo deixa

acontecer tudo isso que vem acontecendo com os agricultores.

Agora, eu queria entregar para o Relator da Mesa a ata do Mato Preto, em

que o Procurador Federal disse que havia agricultores interessados em vender suas

propriedades. Nós temos uma ata aqui, que foi aprovada por unanimidade, dizendo

Page 22: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

21

que nenhum agricultor quer sair da terra, porque ele precisa da terra para trabalhar e

sustentar sua família, que vem sendo sustentada por várias gerações. E também

temos um pequeno relato sobre a questão histórica do Mato Preto.

Era isso, Sr. Presidente. (Palmas na plateia.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - No caso específico do

Mato Preto, eu queria fazer uma ressalva. Onde está o pessoal do Mato Preto?

Queria render a minha homenagem ao Procurador-Geral da República, Rodrigo

Janot.

Na intenção de ajudar — Lá existe um processo, Dr. Candeia, sobre a

delimitação de uma área de 4.230 hectares —, ele intermediou junto ao Ministério da

Justiça, junto à FUNAI, junto aos próprios Procuradores Federais, à Dra. Deborah,

da 6ª Câmara, tentando diminuir a área, em vez de 4.230 hectares, seriam em torno

de 650 hectares. Por isso, veio a proposta. O Prefeito Presotto, o Vice-Prefeito

Soligo, o Sindicato Rural, as lideranças reuniram toda a comunidade para que

mandassem uma resposta. O Valença esteve conosco lá, conversando com o Dr.

Rodrigo Janot, na tentativa de ajudar no processo. Felizmente, vocês ouviram o

relato do Rogalski, que representa as quatrocentas e tantas famílias do Mato Preto,

dizendo que ninguém, Deputado Osmar Serraglio, quer sair da sua terra.

O Prefeito Presotto e as lideranças estão procurando outra área de 600, 700

hectares e oferecendo ao Ministério da Justiça para colocar esses índios em outro

lugar. Isso é correto. É isso o que está acontecendo em Mato Preto.

Há um outro processo, Deputado Osmar — 180 famílias, 1.900 produtores

que estão também nesse drama. O Dênis Golim é um dos atingidos. Ele também

tem uma história para contar sobre o seu problema e sobre os problemas dos seus

colegas produtores daquela região.

Com a palavra o Sr. Dênis Golim, de Sananduva.

O SR. DÊNIS GOLIM - Boa tarde a todos! Sr. Presidente, em seu nome,

cumprimento essa digna Mesa que trabalha por nós em mais uma jornada pela

legalidade.

Vou relatar alguns fatos da minha situação. Vou ser breve, objetivando dizer

que sofro um roubo por um governo que mente para nós, que nos trai — a mais alta

cúpula: Presidenta Dilma, Vice-Presidente Michel Temer e o Governador do Estado,

Page 23: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

22

com quem estivemos. Os três prometeram legalidade, os três prometeram não

avançar com o processo, prometeram providências em breve, mas o que fizeram foi

exatamente o contrário: traição. Mandaram a milícia de índios continuar o processo

de extorsão, o processo de invasão de propriedades, o processo de esbulho

possessório. Além disso, há o terrorismo que afeta mais de mil pessoas de Passo

Grande do Rio Forquilha, aquelas cento e poucas famílias. Algumas vivem lá no

local; outras, na cidade. Enfim, essas famílias vivem essa extorsão promovida pelo

Governo Federal.

E nós entendemos que isso aí é uma ação política. Por quê? Porque são os

Ministérios que coordenam esse trabalho, principalmente o Ministro José Cardozo e

o Ministro Gilberto Carvalho, através da FUNAI, do Ministério da Justiça, do INCRA,

do MDA, que promovem direta e indiretamente essa agressão, com o uso de milícias

de indígenas, que são, repito, mantidos como zoológico humano, de onde saem as

milícias para agredir os produtores.

A situação em que vivem os indígenas no País é de total descaso. Os

senhores são prova disso, os índios testemunham isso. E o Governo, ao servir aos

produtores, ao servir aos interesses da legalidade, preferem satisfazer os interesses

das ONGs e de grandes corporações que vêm usando essas terras, direta e

indiretamente.

Nós temos a convicção de que o nosso processo de reintegração um dia vai

chegar ao fim. Um Procurador da 4ª Vara Federal de Porto Alegre já julgou

procedente a nossa reintegração; faltam os votos de três desembargadores. No

entanto, no momento em que nos derem a reintegração, quem vai cumprir? O

governador mentiroso, que nos trai, que disse, em Lagoa Vermelha, que ninguém ia

nos tirar da terra, mas no dia seguinte nos abandona, dizendo que não era função

do Estado cuidar de cartório? Cuidar de cartório deve ser função do padre, sei lá de

quem! Vivemos esse descaso, senhores! Infelizmente, são fatos que nos atingem,

com certeza, a mim, pessoalmente, que vivo esse terrorismo direto e indiretamente.

A minha família foi totalmente esbulhada por esse governo ladrão, e a Defensoria

sabe disso e não fez nada. São todos da mesma laia, envolvidos num processo de

terrorismo. São pessoas que falam de ditadura e nos enganam! Falam dos outros,

Page 24: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

23

porque deveriam falar deles. Como não sabem como falar deles falam dos outros,

vivenciam a ditadura num espelho.

Não acredito que esse governo tenha um futuro e um fim merecedores do

tamanho da nossa Nação. Nós esperamos providências imediatas, senhores.

Muito obrigado. (Palmas na plateia.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Golim, diga ao

Deputado qual é o tamanho da tua área e qual o tamanho da área que tu arrendas.

Há quanto tempo tu perdeste a tua terra?

O SR. DÊNIS GOLIM - Há 4 anos que esse governo ladrão colocou uma

milícia de índios e tirou meus 12 hectares e meio, que eu nem tinha acabado de

pagar. Associadas a esses 12 hectares e meio, tenho mais duas propriedades

arrendadas, da Dalva Câmara da Silva e do espólio de Sandro João da Silva,

totalizando 55 hectares. Isso representava 60% da minha área plantada. Tiraram o

meu chão! Tiraram o meu tapete, o meu ganha-pão, o meu sustentáculo! Doze

hectares e meio são um pouquinho mais que a média dos 11 hectares e meio da

maioria desse povo que está aí. Em Passo Grande do Rio Forquilha há mais de 160

famílias, são mil pessoas, ou mais, numa área de 1.900 hectares. Isso não é justo!

Isso não está certo! (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Obrigado.

Está aqui o Sr..Jair Rodrigues, representando a comunidade do Pontão.

O SR. JAIR DUTRA RODRIGUES - Senhores e senhoras, boa tarde! É com

grande satisfação que recebemos todos vocês aqui no Parque de Exposições para

esta audiência pública. Cumprimento o Deputado Federal Osmar Serraglio, o

Deputado Luis Carlos Heinze, assim como cumprimento toda a Mesa.

Eu quero dizer para vocês que, graças ao Deputado Osmar e ao Ministro

Joaquim Barbosa que os mensaleiros estão hoje na cadeia. O Deputado Osmar foi o

Relator do mensalão. Foi graças ao Deputado Osmar que, juntamente com mais

Deputados que votaram a favor da cassação desses canalhas, que hoje estão na

cadeia, que um José Dirceu não é Presidente da República hoje. Podia ser muito

pior, senhores, se um José Dirceu fosse o Presidente da República!

Page 25: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

24

Dessa maneira, agradeço a eles e peço uma salva de palmas para o

Deputado Osmar, esse gaúcho que hoje está no Paraná e já é Deputado Federal

pelo quarto mandato. (Palmas.)

Sou de Pontão, temos uma área arrendada, que foi invadida por índios.

Ganhamos a reintegração de posse aqui na Justiça Federal de Passo Fundo,

ganhamos em Porto Alegre. Finalmente, Srs. Parlamentares, conseguimos o prazo

para que os índios desocupassem a área. Eles têm 30 dias para sair da área. Estão

desocupando-a, mas estão fazendo casas definitivas à beira da rodovia, que é área

do DAER. O que isso quer dizer? Que eles vão continuar no Município de Pontão,

que vão continuar nos incomodando.

Na ânsia, senhores, de resolver problema, depois de ter conversado com o

Governador, depois de termos ido à Câmara dos Deputados e ajudado a instalar a

PEC nº 215, um dia, juntamente com o Rui e cerca de 200 pessoas, nós invadimos

um ginásio em Novo Hamburgo — muitas pessoas que estavam lá estão aqui hoje

—, onde a Presidenta Dilma ia fazer a formatura do PRONATEC. Éramos somente

seis pessoas em uma sala e ela nos disse: “Não, fiquem tranquilos”. Depois de ter

entrado na sala, nos abraçado e nos beijado, a Presidenta Dilma disse: “Não, fiquem

tranquilos, aqui no Rio Grande do Sul não será mais demarcada nenhuma área

indígena”.

Mentira, senhores! Na semana seguinte, ela e o Ministro da “injustiça”

assinaram o decreto que dizia que Sananduva era terra indígena. É este o governo

que nós temos hoje! (Palmas na plateia.) Esses mentirosos, que estão aí hoje, são

os que reclamam da ditadura. Se nós não abrirmos os olhos, o Brasil irá voltar a ser

uma ditadura com esse pessoal que está aí mandando, e será muito pior do que

antes.

Estamos aqui nessa audiência pública para apoiar os nossos Deputados

Federais na aprovação da PEC nº 215. Vamos fazer de tudo, Srs. Parlamentares,

para que ela seja aprovada, para tirar do poder da FUNAI e do Ministério Público a

autonomia de dizer: “essa terra é do índio”. Os maiores criminosos que temos hoje

no Brasil são o Ministério Público — pena que eles não vieram, pois iríamos dizer

isso na cara deles — e a FUNAI. Eles são os maiores criminosos do Brasil hoje. São

eles os culpados por esses miseráveis, os índios, estarem passando fome e frio à

Page 26: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

25

beira das rodovias. Tragam esses índios para a cidade, que é o que eles querem.

Eles não querem terra. Terra é para os sem-vergonha dos produtores arrendar dos

índios e dar para os caciques ficarem ricos, como há alguns em Serrinha e Ronda

Alta. Nós precisamos acabar com isso, antes que aconteça uma revolução neste

País.

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Luis Carlos Heinze) - Obrigado, Jair.

Concedo a palavra ao Sr. Alexander Piccolo.

Dr. Alexander, seria importante fazer menção ao processo que está no

Ministério Público Federal, aqui em Passo Fundo, sobre dois pretensos caciques

que vivem em Mato Castelhano, aquele processo que os senhores da comissão nos

mostraram. É muito importante que o Deputado Osmar tome conhecimento.

O SR. ALEXANDER PICCOLO - Boa tarde a todos! Mais uma vez eu não

digo que seja um prazer estar aqui, mas este movimento mostra o quanto somos

fortes e conseguimos encher, em um dia de chuva, um ginásio deste tamanho.

Estamos mostrando que o agricultor está unido, organizado e não vai deixar este

Estado tomar nossas terras, Estado esse que, como já disseram aqui, é ladrão. Por

quê? O nome desse processo que existe aqui hoje está errado. Esse não deveria

ser chamado de processo de identificação e de demarcação de terra indígena, mas

de processo de roubo de área de colonos e agricultores que produzem, que

alimentam a população.

Quando eu cheguei aqui hoje vi uma faixa que chamou a minha atenção. Eu

quero lê-la para os senhores — para quem não a observou ainda, ela está lá à

minha esquerda: “O índio manda, o Governo obedece, e o agricultor paga”. Eu só

quero inserir uma frase antes: “ONGs internacionais mandam nos índios”. Aos índios

o Governo obedece, e o agricultor paga.

Quem está mandando no nosso Governo, hoje, não é nem brasileiro, é o

negócio internacional. Tenho pouca idade e um pouquinho de acompanhamento e

conhecimento da questão. Sou advogado de algumas associações, do Sindicato

Rural de Passo Fundo, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Pontão. Esse era

um desabafo que eu queria fazer.

Page 27: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

26

Mas agora, entrando na questão de fundo, meu Presidente, Relator da

Comissão Especial, eu lhe digo que a questão aqui no Rio Grande do Sul é muito

delicada, porque aqui a ladroagem se mostra com muito mais frequência. Não há um

processo de demarcação que não tenha alguma irregularidade. Mato Castelhano é o

Município que estou representando neste momento, e vou relatar.

A nossa história começou em Pontão, Município vizinho ao nosso. No

Município de Pontão, em 2004, chegou um grupo de indígenas lá que tentou

demarcar uma terra indígena. Pelo meio do caminho, a terra acabou não sendo

demarcada, e aqueles índios, que estavam em Pontão e que diziam que os seus

ancestrais eram de lá, se mudaram para Mato Castelhano. Qual é o discurso deles

hoje? Os ancestrais deles não são mais de Pontão, são de Mato Castelhano. Agora

a historinha, bonitinha que contam lá no laudo antropológico do Relatório

Circunstanciado, que é o nome técnico dado a tal documento, é que os avós, os

bisavós desses índios andaram por ali. Mas como os avós deles teriam andado por

ali, se o meu avô comprou e pagou por uma área que foi adquirida do Governo do

Estado do Rio Grande do Sul há mais de 100 anos? Tenho certeza de que não há

nenhum avô embaixo do acampamento hoje. Mas há outras áreas. Estão dizendo, o

que é mentira, que indígenas, que é o caso de Pontão, moraram ali até os 19 anos

de idade e saíram, mas que agora estão voltando para retomar a terra, quando não

tinha índio ali. Mato Castelhano é a mesma coisa: é fraude. É fraude, meus amigos!

Deputado Heinze, o senhor pediu para eu falar sobre o processo. Existe um

processo no Ministério Público Federal em que os próprios índios relatam abusos.

Os próprios índios contam que eles tiveram que sair de áreas já demarcadas. Antes

disso, eu gostaria de fazer um parêntesis aqui. Esses índios que estão em Mato

Castelhano já estiveram em outros lugares tentando demarcar área. O cacique que

está comandando essa quadrilha, hoje, lá em Mato Castelhano, já demarcou,

auxiliou, participou de cinco demarcações. Se ele recebeu terras, não sei, acredito

que sim, pois não foi à toa que participou. Deve ter recebido. Por que ele não ficou

em nenhuma dessas outras áreas já demarcadas? Por que ele quer tomar a terra do

meu avô? Por que ele quer tomar os 17 hectares que o meu pai herdou do meu avô,

que, com o suor da testa, comprou, lutou e batalhou para adquiri-los?

Page 28: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

27

Além disso, Deputado Osmar, Presidente da Comissão, lá existe uma floresta

nacional. Essa floresta não é só de interesse de Mato Castelhano; é de interesse de

toda a comunidade. Aquilo lá é o pulmão da região norte do Estado do Rio Grande

do Sul, e está prestes a ser demarcada como área indígena, assim como a terra dos

meus parentes e dos meus amigos de Mato Castelhano. São 1.300 hectares. Não

há mata desse porte aqui, na nossa região. Não existe outra igual.

Eu já posso lhe adiantar a pretensão deles. A pretensão está consignada,

está registrada nesse processo no Ministério Público Federal. Dois caciques

organizam a situação em Mato Castelhano, nos acampamentos. E eles contam qual

é o discurso do outro, nesse processo no Ministério Público Federal, para dividir o

dinheiro dos pinheiros, dessa mata, que o meu avô plantou inclusive, auxiliando até

para pagar a terra que ele comprou também. Ele limpava, ele capinava, ajudou,

assim como os pais e avós de muitos de Mato Castelhano que estão aqui hoje.

Outra situação também aconteceu e está narrada nesse processo no

Ministério Público Federal — agora fecho o parêntese e volto para a situação

anterior, dos arrendamentos. Não é história de branco, não, meus amigos. Foram

eles que contaram. Os próprios índios narraram isso no processo que está no

Ministério Público Federal. Disseram que os caciques ficam com quase toda a área.

Os filhos, as lideranças auxiliam na hora da votação para eleger os caciques. Eles

detêm toda a área. Existe índio passando fome, sim, mas não é por falta de terra,

não. Existe índio passando fome porque não há uma forma organizada de

administrar as áreas indígenas, e a FUNAI é a principal responsável por isso.

E, pior, uma dificuldade que todos encontram: ninguém tem acesso a

documento. Quando os índios chegaram a Mato Castelhano, todos nós corremos,

fomos atrás de documentos para tentar saber se o João está fora, se o Maneco está

fora. Opa, se o João está dentro, o Maneco está fora, como diz o Deputado Alceu.

Nós queríamos saber quem estava dentro e quem estava fora. Ninguém sabia de

nada.

Para piorar a situação, tivemos que ingressar com ação judicial para que a

FUNAI exibisse os documentos. Ingressamos com a ação judicial. Nesse meio

tempo, a FUNAI respondeu. O Procurador, um advogado da FUNAI, disse — mentiu

no processo — que ele não tinha como disponibilizar ao Judiciário cópia de

Page 29: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

28

processo, porque não há como fornecer o que não existe. Ele mentiu, disse que não

tinha processo, e o relatório já estava pronto, e nos foi informado.

Finalizando, então, eu digo o seguinte: nós precisamos que esta Comissão

Especial dê a devida atenção ao tema. Nós esperávamos do Ministério da Justiça

mais ação também, mas o próprio Ministro da Justiça — hoje é o responsável por

decidir e assinar, em conjunto com a FUNAI, logo após o “sim” da FUNAI, que atesta

que ela é indígena — disse-nos que ele é advogado e não tem competência, não

tem conhecimento algum para registrar se a terra é ou não indígena. Dessa forma,

se quem faz o relatório é a FUNAI e se o Ministro não pode contrariar o laudo da

FUNAI, quem decide é a FUNAI.

Isso tem que ser mudado. E a hora é agora. A PEC 215 tem que ser

aprovada! Depois, que o Congresso Nacional analise e vote essa matéria, finalize

essa discussão! O meu avô já é falecido, mas eu não vou deixar o meu pai morrer

assim! (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Com a palavra Claudio

Bier, de Tapejara.

O SR. CLAUDIO BIER - (Falha na gravação) tivemos que contratar

segurança armada para poder concluir a colheita na área, porque o Estado não nos

deu proteção. Todas as vezes em que foi pedida, alegou-se simplesmente que a

Brigada não tem efetivo. O Comando não determina que se dê proteção ao produtor.

Nós passamos, no caso indígena, pela mesma coisa. No Rio de Janeiro,

agora, tiveram que chamar o Exército para tirar traficante de favela para proteger a

população. Aqui, no Rio Grande do Sul, o pessoal chama a Polícia Federal para tirar

produtor das áreas, para que assentamentos indígenas sejam feitos. Essa é a

ameaça que nós estamos vivendo aqui.

Eu deixo então, Deputados, o meu breve relato aqui, a nossa preocupação

com a situação de insegurança e intranquilidade. No nosso caso, mortes não

ocorreram por detalhe, como aconteceu em Sananduva, também num conflito com

indígenas. Foi por detalhe. Se dependêssemos do nosso Estado, teriam ocorrido

mortes, porque ninguém nos deu proteção. Nós precisamos de tranquilidade e

segurança.

Page 30: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

29

Esse é o relato que nós gostaríamos de deixar aqui, a fim de que seja levado

para Brasília, para os nossos representantes. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Obrigado.

Benemídio é de Cachoeira, Caçapava, representando, então, a questão

quilombola que vocês tem ali em Restinga Seca e mesmo em Caçapava, Sebastião,

o Benemídio pode dá um toquezinho. Ele tem problema na região dele, representa

os produtores daquela região de Caçapava e também Restinga com relação à

questão indígena e dá um toquezinho na questão quilombola, que é do teu lado

também. Têm as duas coisas ali.

O SR. JOSÉ BENEMÍDIO ALMEIDA - Em primeiro lugar, eu gostaria de

cumprimentar todos os senhores e todas as senhoras que aqui estão pela mesma

causa que eu aqui estou.

Quero cumprimentar o Heinze, Presidente da Mesa, o Deputado Covatti, os

demais Deputados, as demais autoridades que nos honram com sua presença e

buscam defender os interesses dos agricultores lá no Congresso Nacional.

Quero dizer aos senhores que, ao chegar aqui hoje, tive a certeza de tudo

aquilo que fizemos em defesa das nossas terras, dos nossos companheiros que aqui

estão, todos atingidos também por esta sacanagem, a demarcação de terras

indígenas que nos toma a propriedade que era dos nossos avós, como já foi dito

aqui, e que está hoje sob a nossa posse.

Está registrado ali, são escrituras de mais de 100 anos. Isso não tem valor?

Fechem então os cartórios. Quando entramos aqui, o meu companheiro ali disse:

“Olha lá, Benemídio, tu dizes isso há muito tempo”. Existem escrituras, desde o

início, são terras que foram vendidas, em 1800 e alguma coisa, aos nossos bisavós,

aos da minha esposa, e hoje estão dizendo que ali existiu índio, que ali residiu índio.

Mas a antropóloga que fez aquilo e escreveu aqueles absurdos teve a coragem de

escrever também, senhores, que eram índios itinerantes.

Vejam os senhores, índios itinerantes vindos do Uruguai, da Argentina e do

Paraguai. Se eles tinham terra, direito a terra, que vão buscar isso na Argentina, no

Uruguai ou no Paraguai, não em cima das terras de nossa propriedade.

Isso é um absurdo! É uma sacanagem que existe no Brasil hoje. Eu disse ao

promotor federal em Cachoeira do Sul: “Faça um favor para nós, feche esses

Page 31: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

30

cartórios, que são ladrões”. Quando alguém adquire uma terra, paga por ela, paga

— não é pouco — para escriturá-la, e depois paga IPTU, ITR e sei lá o que mais

eles inventam para que o dono pague ao Município. Então, só se paga, não se tem

direito.

Ora, senhores, basta! Chega desse absurdo! E o fim disso só pode acontecer

com reuniões como esta e com a representatividade do segundo poder nacional.

Isso nós temos que dizer aqui hoje, Deputado. O cidadão tem que saber disso,

aquele que às vezes se esquece, porque acredita em alguma coisa, acredita que é

proprietário, acredita que tem direitos e que aquele que o fere vai ser punido. Mas

isso não tem acontecido.

Eu aprendi, senhores, no Município de Santa Cruz, no Colégio São Luís, em

1949, quando eu tinha 11 anos, na minha primeira aula de História deste País, que o

Brasil é administrado por três Poderes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Nós,

hoje, não podemos mais, neste Governo, acreditar no primeiro Poder, porque não é

um Poder que administra por meio dos seus princípios, mas, sim, por meio de uma

negociata com os demais Poderes, onde há pessoas que se vendem. A dignidade

neste País hoje tem início e meio, e o meio é aquele em que o econômico supera a

dignidade que esse cidadão possa ter.

Eu acredito que ainda exista gente que não se venda no Legislativo. Contem

hoje quantos estão lá para defender o agricultor, esse homem que joga tudo fora na

terra e espera que São Pedro, com boa vontade, lhe dê condição de juntar o que

planta, e depois fica esperando que lhe paguem. Esse é o agricultor teimoso — eu

também sou um, e sou filho de agricultor, sou agropecuarista, e hoje vejo tomarem

as minhas terras —, e esse homem está sendo roubado, saqueado à luz do dia.

Como se isso não bastasse, ainda não o deixam mais dormir sossegado. Fica

olhando para a cama dos seus filhos, com sua esposa ao lado. Aplacam-nos em

tudo, senhores.

Aqui, no Rio Grande, nós temos uma tradição a cumprir — está escrita ali —,

é a tradição de não pisar no pala. Enticaram conosco. A resposta, eu tenho certeza

de que a daremos.

E o Judiciário, senhores, e o Judiciário deste País? Barbosa disse há poucos

dias que já está montada a sacanagem, e está 6 a 4. O que ele quis dizer com isso,

Page 32: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

31

senhores? Que são seis Ministros nomeados por este Governo. Isso não é

admissível! Esta é outra coisa, senhores, que tem de acabar neste País: Ministro do

Judiciário ser nomeado por Presidente da República, por partidos políticos. Não

pode! Eles dizem: “A nossa próxima Ministra vai ser a senhora. Vamos aposentá-lo

por doença. Vamos tirar esse cara que está contra nós”.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Benemídio...

O SR. JOSÉ BENEMÍDIO ALMEIDA - Eu vou concluir, Deputado.

Nós temos que repensar este País em todos os sentidos. Eu já disse uma vez

que, se os Deputados e os Senadores não o fizerem, o povo terá que fazê-lo,

porque está sobrando muito pouca coisa. (Palmas.)

O povo é o dono do País porque é o povo que paga as dívidas. Esse furo que

existe hoje no setor de energia elétrica, por exemplo, nós vamos pagar a partir de

2015, senhores — isso já está escrito e já está dito —, por incapacidade de se criar

neste País infraestrutura capaz de garantir o crescimento e o desenvolvimento desta

Pátria. Isso vale também para a agricultura, que está trancada, porque não há mais

energia para formar a irrigação por pivôs centrais e outras coisas, quando, às vezes,

é proibido fazer o açude.

Lá, Deputado, há também os quilombolas. Há uma luta para que agricultores

sejam retirados de 600 hectares de terra produtiva, para que elas sejam entregues a

quilombolas. É uma luta permanente em torno de terras vendidas com escritura de

mão, como se fazia na época — a venda era escriturada e assinada pela mão do

dono da terra, e não existe documento de maior valia do que esse escriturado a

mão. Pois estão querendo tirar essas terras de seus proprietários, hoje já na terceira

geração. Essa é outra sacanagem. Nada contra os quilombolas, mas isso não pode

acontecer.

Precisamos acreditar naqueles que nos governam e precisamos acreditar na

Justiça principalmente, porque é ela que busca o meio. Do Ministério Público, nós

temos que cuidar de perto. Há gente boa lá? Claro que sim. Conheço diversos que

defendem a sociedade — não a sociedade rica ou a sociedade pobre, não a

sociedade quilombola ou a indígena, mas a sociedade que somos todos nós. Eu sou

igual ao senhor, e o senhor é igual a mim, e o seu direito vai até onde o meu se

inicia. Mas no Brasil não é mais assim. O direito do Governo vai até onde ele quer,

Page 33: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

32

e, quanto ao seu, você que se vire, que o problema é seu. O Governo ainda diz que

“não sabia”.

Senhores, a PEC 215 tem que ser aprovada! Nós temos que trabalhar para

isso! (Palmas.) Nós temos que representar os Deputados que têm a coragem de se

pôr a favor da PEC e contra a sacanagem que querem fazer com este País!

Vim de Cachoeira e irei a qualquer lugar para defender a nossa causa. Estarei

com os senhores, Deputados! Podem contar comigo! (Palmas.)

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Vamos dar vez a

integrantes da Mesa. Falará o Deputado Alceu Moreira; depois, o Deputado Vilson

Covatti e, em seguida, o Deputado Capoani, que tem compromisso.

Com a palavra o Deputado Alceu Moreira.

O SR. DEPUTADO ALCEU MOREIRA - Pessoal, os discursos são

importantes, mas nós estamos cansados de falar para nós mesmos. Nós falamos

para nós mesmos, nós nos aplaudimos — é importante —, mas, no dia seguinte, é

quarta-feira de cinzas, e a demarcação continua.

Enquanto nós estamos aqui reunidos num dia de chuva, o larápio continua

instalado num gabinete de carpete aveludado para tomar a terra de vocês na mão

grande.

Precisamos tomar cuidado e ser objetivos no que estamos fazendo. Não

adianta ficarmos felizes com discursos. Precisamos de soluções. Tem que apertar

para ver gemer! Não pode continuar desse jeito.

Quero saudar este Parlamentar, que é certamente motivo de orgulho para

todos nós: o Deputado Osmar Serraglio, meu companheiro de partido que esteve na

relatoria de um dos processos mais complicados da Nação — hoje, grande parte dos

dirigentes de um partido político fazem política a partir da Papuda, estão lá por

causa do mensalão.

Também quero saudar o meu amigo Deputado Covatti, o meu amigo

Deputado Perondi, o nosso Deputado Estadual Capoani, todas as autoridades,

procuradores, representantes das federações. Saúdo o Deputado Luis Carlos

Heinze.

Page 34: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

33

De vez em quando, encontramos nos corredores uns papagaios pintados

falando de terras indígenas e quilombolas para todos os lados. Mas houve um tempo

em que era difícil encontrar alguém que as defendesse. Era difícil! Estava todo o

mundo quieto. Aqui, meu irmão, há muita gente que ruge como leão, mas, nos

corredores do Congresso, na frente de Gilberto Carvalho, mia como gato. (Palmas.)

Lá, desaparecem. Ficam atrás de uma emendinha aqui e ali, e do interesse maior

não tratam.

Hoje, nesta audiência pública, é o dia de mostrarmos que a PEC 215 é

absolutamente necessária como instrumento de defesa democrático contra um

processo que é unilateral, viciado desde o primeiro momento — quantas vezes o

Deputado Osmar Serraglio me ouviu dizer a mesma coisa!

Onde começa o processo demarcatório? Em um laudo antropológico feito

com base em memória oral. O safado encomenda a história, até treina o índio para

contar a história, depois contrata o antropólogo para validar a mentira. O dono da

terra não sabe, o Estado não sabe, o Município não sabe; só sabe a mesma corriola.

De repente, aparece um laudo pronto.

Esses dias eu dizia ao Candeias que, quando se lê o documento da primeira

à última página, vê-se um livro fantástico, onde se encontra menção a sítio

arqueológico, há registro teórico, nomes, datas, passagens, fotografias. Alguns livros

assim têm até material, mas são todos mentira. O laudo é uma fraude, desde a

primeira linha! É feito por encomenda!

E não sonhem. Não é para proteger índio nem quilombola, é para tomar a

terra das pessoas. O dono da terra não consegue pagar aos advogados para

defender seus direitos e acaba tendo que sair com uma das mãos à frente e com a

outra atrás. O índio vai para lá e aluga a terra para branco sem-vergonha. Eles

denunciam os índios, que são retirados, e, pronto, está lá um projeto socialista

bolivariano: a terra é de uso comum, de todos, é entregue para a companheirada,

que não paga por ela nem 1 centavo.

Isso é fundamentalismo ideológico. Esse processo, pessoal, é mantido a partir

da antessala da Presidência da República!

Page 35: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

34

Há algumas ferramentas para solucionar isso. Uma delas é tentar aprovar a

PEC 215. Outra vai estar nas mãos de todos no dia 5 de outubro. Quem quiser

continuar com essa desgraça só tem que votar com eles!

Eu queria, Deputado Luis Carlos, que V.Exa. chamasse um Deputado do PT

para falar aqui hoje. (Risos.) Ué, eles não são representantes da agricultura familiar?

Não são eles os donos da agricultura familiar? Por que não dar a palavra a um deles

aqui e agora? Por será que não há nesta Mesa nenhum representante deles? Onde

será que eles estão? Não são a agricultura familiar? Não havia um monte de gente

do PRONAF aqui?

Pois bem, esses moços, no Congresso, ajudam a construir o boneco do

Estado ladrão, na frente da porteira, para tomar a terra das pessoas. Lamento.

Concluo dizendo que a função do Ministério Público Federal é constitucional.

Ele tem o dever de fazer a defesa das minorias, dos índios, mas ele não tem o

direito de ser um Ministério Público militante, com viés ideológico absolutamente

claro. Ele não tem o direito de pegar um processo que expropria terra, que surrupia,

que anula a propriedade, que apaga a vida das pessoas como se fosse coisa escrita

com giz em quadro verde! Apagaram, não existe mais!

O projeto, na origem, é uma fraude, e, se o laudo antropológico é fraudulento,

toda a resultante dele é uma fraude, por princípio de origem. A origem é uma fraude!

Como é que alguém do Ministério Público se vale de uma representação do

Estado para agir contra a cidadania, sendo pago com o nosso dinheiro, para

advogar contra nós, para tomar a nossa terra?

Nós não concordamos com isso, e continuamos a luta — não esqueçam! — lá

no Congresso.

Dezesseis por cento da população vive na roça, na lavoura. O restante da

população é urbana. Esta audiência pública é importante, Deputado Luis Carlos

Heinze, mas ela só cria massa crítica. Nós Parlamentares precisamos criar maioria.

Nós vamos precisar de dois terços, senão nós não aprovamos a matéria lá. Eles

podem contar com a maioria urbana.

Então, preparem-se! Nesta luta, cada passo adiante, com todo o sacrifício de

vocês, não está sendo dado por acaso! Estão deixando isso como herança à futura

democracia no Brasil, senão instala-se aqui uma ditadura de esquerda, uma ditadura

Page 36: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

35

falsa, absolutamente desonesta! Nós não queremos nenhuma ditadura, nem a de

direita, nem a de esquerda. Nós queremos a democracia.

Estaremos na luta com vocês. Mas não sonhem. A solução não é simples. É

preciso muita luta! É preciso muita peleia! Não permitam nem um passo na sua

propriedade! Não adianta denunciar! Não adianta botar na rede social que eu fiz isso

ou aquilo. Eu fiz e me garanto, porque o povo me deu mandato. Não adianta vir essa

corriola querer denunciar isso ou aquilo.

O modelo demarcatório de terra no Brasil é uma falcatrua patrocinada pelo

Governo Federal! Isso é que é verdade! O resto é o resto! (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Obrigado, Deputado

Alceu.

Terá a palavra o Deputado Covatti, o Deputado Capoani e, depois, os dois

Procuradores. Há outros inscritos. Para nós, não há problema, podemos ficar por

mais tempo, se vocês puderem. Eu sei que alguns têm compromissos, nós também

temos, mas é importante que possamos ouvi-los. Estão inscritos mais alguns

produtores. O mais importante é que o nosso Relator também faça a sua

manifestação.

Com a palavra o Deputado Covatti.

O SR. DEPUTADO VILSON COVATTI - Saúdo a Mesa, os produtores, as

agricultoras, os agricultores, os líderes que estão entrincheirados nessa

arquibancada. Digo “entrincheirados” porque já não é mais uma luta, é uma batalha,

uma verdadeira guerra.

Um capítulo da guerra terminou há pouco tempo. Nesse cenário, havia mais

um entrincheirado conosco, Deputado Osmar Serraglio, o Deputado Moacir

Micheletto, que foi o Relator do Código Florestal. Era este grupo que estava lá

lutando pelos seus interesses, os interesses de quem produz alimentos neste País.

Nós vencemos graças à força que as senhoras e os senhores nos deram. Nós não

nos sentimos sós.

Hoje, aqui, a guerra continua. Esta audiência pública, Deputado Osmar

Serraglio — o Relator — serve para nos fortalecer, para nos energizar para

continuarmos a luta e vencermos a batalha.

Page 37: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

36

Agora é a PEC 215, a demarcação de áreas indígenas. Várias são as

legislações. Nas mãos do nosso Relator estão 23 propostas de emenda

constitucional. Uma delas é de minha autoria. Fui ajudado pela assessoria jurídica

da FARSUL, pelo Dr. Luiz Fernando. A proposição torna insuscetíveis de

desapropriação para fins de regularização fundiária e para fins de demarcação de

terras indígenas e quilombolas as propriedades produtivas e as pequenas e as

médias propriedades rurais. É mais uma proposta apresentada a V.Exa. para

estancarmos essa farra da demarcação.

Eu tenho certeza de que o nosso Relator, com os depoimentos aqui feitos por

todos, vai apresentar a melhor proposta, e nós vamos pôr fim a essa agonia que os

senhores estão vivendo, seja em Mato Preto, seja em Sananduva, seja em Vicente

Dutra, seja na tua terra, Benemídio, em Cachoeira do Sul, seja em qualquer parte do

Rio Grande ou do País. Nós vamos vencer essa guerra! Para isso, nós precisamos

do apoio dos senhores e das senhoras.

Essa farra da demarcação tem que ser estancada. Tem que valer, Deputado

Osmar Serraglio, o estabelecido na Constituição de 1988. O que era área indígena

tem de ser respeitado, e também o que é dos agricultores, o que está comprovado

como sendo legítima propriedade. Nós temos de estabelecer o marco temporal. O

que é de propriedade de produtores, depois da Constituição de 1988, tem que ser

respeitado, tem que valer! A Constituição vale para índios, negros, brancos, para

todas as raças! Não há outra legislação!

As ONGs internacionais que querem tornar instável a nossa produção

primária, a produção de alimentos, vão ter que respeitar um País democrático e

organizado. Para isso, Deputado Alceu, Deputado Perondi, Deputado Luis Carlos,

precisamos da luta dos senhores e das senhoras que estão aqui. Estão querendo

socializar a terra. Há até passagem para esses índios que ali foram colocados,

Deputado Capoani, paga pela FUNAI. O direito à legitimidade, à propriedade tem de

falar mais alto.

Por isso, lideranças, vamos continuar firmes, unidos! Vencemos a guerra do

Código Florestal, vamos vencer também a da demarcação de áreas, por meio da

PEC 215.

Page 38: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

37

Eu, o Deputado Luis Carlos, a Senadora Ana Amélia vamos estar,

independentemente de partido, ao lado de quem produz alimentos neste País. Os

direitos têm de ser respeitados.

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Com a palavra o

Deputado Capoani, que representa a Assembleia Legislativa, onde também já tem

um trabalho nessa área.

O SR. GILBERTO CAPOANI - Cumprimento o Deputado Heinze,

cumprimento o Deputado Serraglio.

O Rio Grande tem orgulho do Parlamentar que ele emprestou para o Estado

vizinho do Paraná. Refiro-me ao Deputado Serraglio. Eu já participei de várias

audiências públicas, de várias reuniões com o Ministro da Justiça, com o Presidente

da FUNAI, e sei do seu trabalho.

Cumprimento o Deputado Perondi, o Deputado Covatti, o Deputado Alceu, o

Presidente do Sindicato, as entidades representativas da sociedade.

Já foi dito aqui, com muita propriedade, inclusive por historiador, que, embora

não seja função da Assembleia Legislativa, ela não pode ficar de costas para

qualquer problema que ocorra no Rio Grande, especialmente um tão grave como

este, o da demarcação das reservas indígenas. Que pena, que pobre a participação

do Parlamento gaúcho aqui! Apenas um Parlamentar está aqui, porque os outros,

como disse o Deputado Moreira, estão discursando para a agricultura familiar, e se

negaram a assinar o requerimento para que nós constituíssemos, na Assembleia

Legislativa, uma Comissão Especial para tratar desse assunto. Na hora do relatório,

votaram contra. Ainda antes das eleições, nós vamos trazer para vocês o nome, um

por um, de quem votou contra.

Nesse relatório, nós elencamos 11 ações que deveriam ser trabalhadas para

evitar que essa grande injustiça que está sendo cometida possa se efetivar. Era a

ampliação do prazo de defesa dos agricultores, que é de 90 dias. Era a participação

dos entes federados. Cria-se reserva em Getúlio Vargas, em Marau, em Mato

Castelhano, em Gentil, em Ciríaco, e a Prefeitura não participa disso? A Câmara de

Vereadores não sabe, o sindicato rural não toma conhecimento disso?

Page 39: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

38

Há a questão da observação das 19 condicionantes feitas pelo Supremo

Tribunal Federal quando demarcou a Raposa Serra do Sol. Essa decisão do

Supremo não é respeitada.

A aprovação da PEC 215 foi o maior obstáculo na Assembleia Legislativa por

parte dos Deputados da base do Governo. Refiro-me à aprovação do relatório que

nós fizemos.

Tal como disse o Deputado Alceu, nós temos que ser objetivos. Valem a

pena, sim, as audiências públicas, porque, com elas, nós ganhamos a simpatia da

população.

Quando se começou a falar em demarcação de terras indígenas, eu vi a

questão com simpatia. Pensava na demarcação da área dos índios, conforme está

especificado na Constituição Federal. Mas ninguém disse para a sociedade que

demarcação de terra indígena significava ampliação das reservas já existentes nem

criação de outras tantas em área de agricultura consolidada.

Então, é importante o debate, mas nós temos que promover ações objetivas,

entre elas, Deputado Serraglio, a da PEC 215, que estabelece como atribuição

exclusiva do Congresso Nacional, Deputado Carrion, a demarcação de reservas

indígenas. Quem tem mais possibilidade de errar, os 513 Deputados e os 81

Senadores ou apenas uma pessoa, o Ministro da Justiça, que muitas vezes tem de

decidir de afogadilho, dentro de 30 dias, conforme decisão judicial de antecipação de

tutela? E a prova que está no processo que se encontra na mão dele é a prova com

base em laudo antropológico feito de forma fraudulenta, uma verdadeira vigarice,

conforme disse o Deputado Alceu Moreira!

Um dia, eu fui à TVCOM, junto com o Deputado Heinze, discutir sobre as

acusações que estavam sendo feitas. Eu não conheço nenhuma vigarice maior do

que o processo de demarcação das reservas indígenas.

Meus prezados agricultores, eu tenho lutado muito, eu tenho ocupado muito o

meu tempo lá, no Parlamento gaúcho, em defesa desta causa, independentemente

do resultado eleitoral que ela me traga no fim do ano, saia eu das urnas vitorioso ou

derrotado. Há uma coisa que me conforta muito: eu quero sair um dia do Parlamento

gaúcho com a cabeça erguida, tranquilo, consciente de que tudo fiz para que essa

injustiça não fosse cometida.

Page 40: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

39

Contem comigo! Estou com vocês! Estou com o direito à propriedade! Estou

com os nossos pequenos produtores até as últimas consequências! Vamos à luta! A

luta continua! Contem comigo!

Um grande abraço. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Obrigado, Deputado

Capoani.

Vou passar a palavra ao Dr. Carlos César, da Procuradoria-Geral do Estado,

a quem agradeço a presença. Também é importante a participação da Procuradoria-

Geral do Estado, especialmente hoje, quando não há aqui representante da

Procuradoria-Geral da República. Depois, falará Rodinei Candeia.

Com a palavra o Dr. Carlos César.

O SR. CARLOS CÉSAR D’ELIA - Boa tarde a todas e a todos.

Eu vou pedir permissão para falar sentado, em função das minhas condições

aqui.

Deputado Heinze, eu quero, primeiro, parabenizar V.Exa. Eu acho que isto é

o exercício da democracia, é o esforço da Câmara dos Deputados para levar o

debate em especial às pessoas diretamente interessadas.

Eu lamento a ausência das outras representações, que foram convidadas, e

não se fizeram presentes. E quero lamentar especialmente a ausência das

representações indígenas. Os senhores sabem — já participei de outras audiências,

tanto das que são convocadas pelos senhores como aquelas que são convocadas

pelas representações indígenas —: lamentavelmente sempre vi ausência de um lado

e de outro. E me parece que a grande necessidade que nós temos é justamente a

de estabelecer na vida, no concreto, um espaço efetivo de diálogo.

Por que me preocupa isso? Porque nós percebemos a angústia que tanto as

senhoras e os senhores agricultores quanto as lideranças e comunidades legítimas

indígenas estão sofrendo. Mais do que isso, esse tensionamento leva cada vez mais

a um acirramento de ânimo que pode nos levar a enfrentamentos absolutamente

indesejáveis. Tenho certeza de que nenhuma agricultora, nenhum agricultor, assim

como nenhum indígena, nenhuma indígena, assim como a sociedade brasileira não

quer ver confronto, não quer ver conflito, não quer violência. Se a civilização humana

consegue construir-se em cima da nossa capacidade de ponderar, da nossa

Page 41: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

40

capacidade de argumentar, é mais do que evidente que temos de criar, efetiva e

concretamente, um espaço de diálogo.

Quero pedir permissão às senhoras e aos senhores agricultores que

eventualmente a minha fala não venha exatamente na direção dos anseios que

todos vocês têm debatido legitimamente, diga-se de passagem. Apenas pondero

que neste momento tão delicado que vivemos, especialmente aqui no Rio Grande do

Sul em que se envolvem particularmente médios e pequenos agricultores, há uma

particularidade, porque a gente tem que entender que a questão indígena e a PEC

215 têm repercussão em todo o País e que os conflitos e as realidades que temos

no resto do País são fundamentalmente diferentes dos nossos. Aqui, temos

exatamente uma especificidade: o problema da demarcação incide muito — temos

aqui as representações — em regiões onde temos pequenos e médios agricultores,

especialmente pessoas que trabalham na agricultura familiar, a pequena agricultura.

E todos nós sabemos que é essa agricultura que coloca comida na mão de todos os

brasileiros e brasileiras. Sabemos disso. Sabemos da importância, portanto,

estratégica e fundamental de que não se vive sem alimentação, especialmente sem

uma alimentação adequada.

Entretanto, levo à reflexão as senhoras e os senhores: o processo da PEC

215, sob o ponto de vista político, absolutamente legítimo, tem suas nuances e suas

possibilidades de interpretações jurídicas diversas. Assim como bem sabemos, Sr.

Relator, que a Comissão de Constituição e Justiça já apontou, na sua posição inicial,

pela constitucionalidade, existem vários juristas que apontam para a sua

inconstitucionalidade. E não é novidade. Sabemos que não só leis mas até mesmo

emendas constitucionais podem ser inconstitucionais.

O que temos para o debate? Temos para o debate a nossa Constituição de

1988, que prevê tanto o respeito ao direito de propriedade como também o resgate e

a definição das terras indígenas — os marcos estão colocados especialmente no art.

231 da Constituição Federal —, assim como temos também a necessidade de

enfrentar esse problema que aconteceu no Rio Grande do Sul, nos termos

colocados no art. 32 das Disposições Transitórias da Constituição Estadual.

O que nós temos que colocar? Temos que colocar que a PEC 215, seja ela

inconstitucional ou constitucional — e acho importante que tenhamos isso presente

Page 42: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

41

— não é uma emenda constitucional, ainda que tenha sua validade consolidada, e

tenho muita clareza de que, mesmo que seja aprovada pelo Congresso, será objeto

de ação de inconstitucionalidade. Existem diversas entidades e o próprio Ministério

Público Federal que poderão fazer isso, mas ela necessariamente será levada à

apreciação do Poder Judiciário. Ou seja, a constitucionalidade dela é discutível,

como tudo no Direito não é totalmente absoluto.

O que mais me preocupa é que, para além da solução jurídica, construamos

na vida e nos fatos uma solução negociada, uma solução que nos permita

efetivamente construir uma relação pacífica entre agricultoras, agricultores,

comunidades indígenas e também quilombolas. Esse é o nosso grande desafio,

porque não será com isso, mesmo que juridicamente definidos quais os destinos que

a Constituição terá com ou sem a PEC 215, que nós resolveremos imediatamente a

vida nos fatos, a vida no dia a dia, a vida no olho no olho, a vida que está na relação

entre pessoa agricultor e pessoa indígena. É importante que tenhamos claro que a

dignidade da pessoa humana deve ser preservada, respeitada e entendida tanto em

relação a agricultoras e agricultores como em relação a indígenas, a quilombolas e a

quem quer que seja.

A constitucionalidade ou não de qualquer emenda se molda também pelo que

a própria Constituição diz. É por isso que o Supremo Tribunal Federal possivelmente

será levado a dizer se, nos marcos da Constituição, a PEC 215 terá validade jurídica

ou não.

De qualquer sorte, Srs. Deputados, venha ela a ser entendida como

constitucional, como válida, porque, se assim fosse, ela já seria visceralmente

constitucional, evidentemente que não se trata de um dispositivo constitucional que

estaria determinando pura e simplesmente que não se demarca mais. Acho que nem

é isso que se deseja. Acho que se deseja justamente que o processo de

demarcação seja aquilo que a Constituição efetivamente estabelece, com justiça,

com critério, com respeito àquilo que a própria Constituição bem interpretada quer

determinar. Esse é o nosso grande desafio. De tal sorte que, assim como o direito

de propriedade é muito caro, tem que ser preservado, os direitos dos indígenas

também têm a sua legitimidade.

Page 43: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

42

Eu entendo perfeitamente a angústia de agricultoras e agricultores que estão,

há mais de 100 anos, como está colocado nas faixas aqui, com os títulos na mais

absoluta boa-fé e terem hoje as suas terras questionadas.

A grande questão é que o Estado brasileiro, em determinados momentos, em

alguns casos que devem ser definidos da forma mais criteriosa e técnica possível,

cometeu equívocos ao assentar agricultores em determinados lugares, o que não

poderia ter feito. Ou seja, essa identidade absolutamente legítima e compreensível

de agricultoras e agricultores com a sua terra deve ser respeitada, como foi aqui

colocado, e essa mesma identidade com as terras os indígenas também têm. Nós

temos é que separar as coisas, e isso me preocupa.

Acho que a Câmara dos Deputados junto com os demais Poderes têm uma

tarefa urgente: debruçarem-se sobre as situações de aproveitamento, as situações

que estão procurando dentro desse cenário uma atuação absolutamente ilegítima,

seja de caciques que assim se intitulam e trabalham numa perspectiva

completamente contrária àquilo que efetivamente a comunidade indígena

legitimamente pode querer, seja de agricultores que se aproveitam ou até se utilizam

e fomentam isso também de uma forma ilegítima, como é o caso dos arrendamentos

que foram aqui citados. Ou seja, nesse caldo de cultura, nós ainda temos tanto

indígenas quanto agricultores que lamentavelmente não trabalham numa

perspectiva de efetivamente solucionar e, sim, de aprofundar o caos, aprofundar o

conflito numa perspectiva absolutamente nefasta e condenável.

Essa é uma situação concreta que tem que ser imediatamente visitada. Acho

que se têm de tomar medidas, independentemente do processo de discussão da

demarcação. Acho que alguma atuação com relação a essas pessoas, que até

podem ser identificadas, deve ser adotada.

De qualquer sorte, eu acho que existem alguns princípios na nossa

Constituição muito caros. Um deles é o compromisso que nós temos com a paz. Eu

tenho certeza de que qualquer agricultora, qualquer agricultor, assim como qualquer

integrante de comunidade indígena que estiver debruçado legitimamente e com a

mais absoluta boa-fé com relação aos seus direitos pode e deve, sim, construir

alternativas dialogadas, negociadas, dentro desse processo. Só as soluções

jurídicas serão, no meu entendimento, suficientes.

Page 44: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

43

Nós temos que ter o compromisso político e social, envolvendo todos os

setores, inclusive entidades não governamentais, entidades institucionais —

Ministério Público, Congresso, Câmara, Assembleias Legislativas e Poderes

Executivos. Todos nós temos o compromisso fundamental, primeiro com a dignidade

da pessoa humana e, principalmente, com o discurso que nos permita trabalhar no

plano da dignidade e da racionalidade humana.

Não queremos absolutamente entender que nós possamos abrir espaços

para a radicalização, especialmente para a violência. E, no plano jurídico, repito, a

constitucionalidade da PEC é discutível, como qualquer norma jurídica é discutível.

O que não é discutível são as legitimidades. São legítimas as preocupações e as

demandas das agricultoras e dos agricultores que estão se fazendo presentes aqui

— absolutamente legítimas —, como são legítimas as pretensões genuinamente

consolidadas, que estão previstas na Constituição, das comunidades indígenas.

Nós temos que demonstrar e consolidar como se resolve esse conflito de

legitimidade. É isso que nós temos que procurar. E a PEC 215 pode ou não ser a

solução no plano jurídico. Mas, no plano dos fatos, no plano do concreto, nós temos

que entender que a identidade com a terra, a ansiedade, a angústia e a tristeza que

cada agricultora e cada agricultor neste momento está sofrendo também existem no

campo dos indígenas. O que nós precisamos é de um esforço de empatia, um

esforço que nos permita, agricultoras e agricultores, entender a mundividência dos

indígenas, assim como os indígenas precisam entender a mundividência de

agricultoras e agricultores. Então, essa é a preocupação primeira.

A Procuradoria do Estado está concluindo um grupo de trabalho e estará

emitindo o relatório, a ser apresentado ao Governador do Estado, de um estudo que

estamos realizando. O Dr. Rodinei participa desse grupo. Nós temos as nossas

saudáveis e respeitosas discordâncias, e estamos trabalhando juntos, no sentido de

construir um documento que consiga orientar o Estado do Rio Grande do Sul.

Para finalizar, existe a responsabilidade do Estado, de que o Estado tem que

dar conta, e existe a responsabilidade da União. Essa é outra definição que tem que

ser melhor trabalhada também no plano jurídico, para que a União cumpra

efetivamente aquilo que lhe cabe, que é efetivamente resolver o problema, e o

Page 45: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

44

Estado do Rio Grande do Sul cumpra o que tem que resolver com relação a esse

tema da mesma forma.

Espero que o trabalho da Procuradoria consiga contribuir nesse sentido. E

nos colocamos, eu na condição de Coordenador da Comissão de Direitos Humanos

da PGR, sempre à disposição, para construir, junto com agricultoras, agricultores e

indígenas, esse espaço de negociação, esse espaço de conversa, esse espaço de

aproximação, quem sabe, de soluções negociadas que possam ser ainda mais

efetivas do que qualquer enfrentamento, que é o que todo mundo não quer.

Muito grato pela audiência dos senhores. Muito grato pelo convite, Sr.

Deputado. (Apupos na plateia.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Obrigado.

Um minutinho. Vamos ouvir o Procurador, que veio aqui falar e que também

vai ouvir. Isso faz parte. Agradeço ao Dr. Carlos.

Vou pedir algo a vocês, na medida do possível, e sei que é complicado, em

função do tempo — tem gente com compromisso —, mas talvez a pessoa mais

importante para vocês ouvirem seja o Relator, Deputado Osmar Serraglio. Ele não

pode falar sem, antes, ouvir. Há mais quatro ou cinco inscritos, e dois Deputados

para falar. Então, eu peço a vocês que, na medida do possível, aguardem, para

poderem ouvir a pessoa mais importante, que é o Relator dessa matéria. Os

Deputados falaram, o.k., mas o mais importante é nós ouvirmos o Deputado Osmar.

Então, concedo a palavra ao nosso Procurador Rodinei Escobar Xavier

Candeia, que já vem trabalhando no tema, já conhece o tema, que é muito

importante.

O SR. RODINEI ESCOBAR XAVIER CANDEIA - Boa tarde, Deputado Luis

Carlos Heinze; Paulo Huff; meu irmão Edson; Deputado Darcísio Perondi; Deputado

Osmar Serraglio; Deputado Jerônimo; Cadinho; Carlos, meu prezado colega,

senhoras e senhores, eu não tenho lá muita novidade para dizer aos senhores, que

já conhecem as minhas posições jurídicas e que a gente tem repetido nos vários

ambientes em que isso tem-se proposto. Alguns registros eu quero repetir, porque

falar por último também tem o fato de que você acaba perdendo a oportunidade de

falar o que alguém já falou. Rui Valença praticamente já roubou o meu discurso no

aspecto jurídico.

Page 46: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

45

Queria salientar também, como o meu colega Carlos falou, que este é o

ambiente mais democrático possível, que é realmente a democracia participativa,

cara a cara, é aquele sonho de democracia em que o cidadão pode falar com o seu

Parlamentar, pode expor suas ideias. O que eu lamento é que, no exercício mais

legítimo de democracia, nós fiquemos, como disse o Deputado Alceu Moreira,

falando para nós mesmos.

As pessoas que deveriam estar aqui para nos ouvir, para ouvir as

reclamações, não se dispõem a isso. E, ao contrário, meu colega Carlos, lamento,

por vezes estimulam a violência. As violências não têm partido, aqui no Rio Grande

do Sul, dos agricultores. Os enfrentamentos têm sido muito sérios e propostos pelos

outros movimentos que não estão dispostos a discutir. Essa é uma questão muito

grave. É uma pena que nós percamos esse espaço de discussão, porque aqui nós

teríamos que não só expor os problemas, mas também propor as soluções, que é o

que o Deputado Osmar veio fazer aqui conosco. Quais são as soluções a partir de

agora? O quadro está dado. E, daqui para a frente, o que é que vai ser? Nós vamos

ficar discursando uns para os outros, falando e propondo?

A questão jurídica estrita é relativamente simplória. Permita-me, Deputado

Osmar, mas não precisava nem da PEC. Para mim, é muito simples. A Constituição

diz que as terras que ocupam devem ser demarcadas, e as terras que ocupam são

da União. A União pode demarcar as suas terras. Repete a Constituição que as

terras tradicionais são aquelas que habitam. “Ocupam” e “habitam” são verbos no

presente, logo, o marco temporal é a Constituição de 1988. Ponto. Há situações de

comunidades indígenas que nela não estão abrangidas? Há. Mato Preto é uma

comunidade indígena que não tem área. O que se faz? Simples. O Estatuto do Índio

prevê a instituição de áreas reservadas. Portanto, a solução é comprar uma área,

criar uma reserva e enfrentar o problema que está por trás disso, que gera todos os

problemas nas comunidades indígenas, que é a gestão indígena.

Por exemplo, lá em Cacoal, Rondônia, o Almir Suruí, que é um indígena

genial, resolveu e disse: “Não quero nem saber da FUNAI. Aqui, nós propomos as

nossas soluções. Fui lá e fiz um acordo com o Google, criei laboratórios de

informática, tenho créditos de carbono, e assim por diante. Não quero a FUNAI, que

só me atrapalha”. Quer dizer, o indígena não quer ficar no zoológico humano, não

Page 47: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

46

quer ficar no fóssil vivo, eternamente sendo observado como se fosse um troféu

civilizatório.

Ao mesmo tempo, nós não podemos fazer a revanche histórica e dizer que os

indígenas que sofreram violências históricas, o que é público, notório e indiscutível,

sintam-se autorizados e estimulados a promover uma revanche violenta e histórica.

Nós temos que sentar, sim, e buscar soluções. Mas, enquanto o Ministério Público

Federal, a FUNAI e uma ou outra liderança indígena estiverem encastelados nas

suas posições e se negarem a ceder um passo para negociar, realmente fica difícil.

Objetivamente, eu queria dizer que, em relação à PEC 215, há vários pontos

que são interessantes. Mas eu queria aproveitar o espaço e propor o seguinte: o que

tem que constar na PEC é a garantia do contraditório e a ampla defesa no processo

demarcatório, seja na PEC, seja numa regulamentação. Isso tem que ser garantido,

porque a falta da garantia efetiva da ampla defesa e do contraditório é que dá

espaço para os abusos que nós vimos aqui relatados de áreas que evidentemente

não eram indígenas, de uma ou outra liderança. E a gente conhece na região quais

são as lideranças que estão desviadas de rumo e que fazem as coisas erradas.

Lá em Pontão, por exemplo, o laudo da FUNAI diz que não é nem nunca foi

área indígena. Isso em 2005. No entanto, tem uma nova invasão dizendo que é. Por

quê? Porque a família que promove a invasão lá é a mesma família que domina

Ronda Alta, da minha época, quando a gente trabalhou na demarcação de Serrinha,

e é o mesmo grupo que está em Mato Castelhano. Quer dizer, profissionalizou-se

essa questão de domínio de áreas. Como é possível? É possível porque o processo

de demarcação abre esse espaço. Mas abre esse espaço legalmente? Não, ele não

abre legalmente. Legalmente não pode, porque o processo administrativo de

demarcação é exclusivo para áreas ocupadas. Para áreas que não estejam

ocupadas, a legislação e a interpretação sistemática diz que, então, tem que

comprar a área. E comprar área razoável, adequada, apropriada, com apoio. Esse é

um dos pontos, ou seja, a garantia do contraditório e a ampla defesa.

Quer dizer, nós temos que dizer o óbvio. A PEC vai ser o óbvio do óbvio do

óbvio! Vai ser a terceira reafirmação. E o que, na verdade, está pegando na

discussão é o seguinte: nessa área em que estão os agricultores, a FUNAI tem

sustentado que não discute o marco temporal. Ela diz: “Não, eu reconheço que o

Page 48: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

47

marco temporal é a Constituição de 1988”. Só que, nesta área aqui, os indígenas

foram esbulhados, expulsos, grilados!

Então, o argumento central é a questão do renitente esbulho. Ou seja, houve

esbulho de indígena nessa área? Só que o renitente esbulho não pode ser definido

em processo administrativo, porque processo administrativo, na nossa estrutura

legal, não pode desconstituir a propriedade privada, que só se desconstitui por lei ou

decisão judicial. A estrutura jurídica está pronta! Como não há espaço para essa

discussão e para a busca da solução, porque a tese é mais importante do que as

pessoas, há o legítimo movimento político da PEC 215, da Portaria nº 303, e de

vários outros movimentos.

Espero, sinceramente, que a iniciativa da PEC, passe ou não a PEC, seja

suficiente para trazer esses atores do outro lado para uma discussão e para uma

construção consensual, democrática, e não uma solução abusiva, violenta,

autoritária e que desrespeita, antes de mais nada, as pessoas humanas. Então, as

minhas proposições são de que realmente haja a criação desse espaço para a

solução e de que, antes de tudo, seja realmente respeitado o direito de cada um.

Para mim, não resta dúvida: não pode ser desconstituída propriedade privada,

através de laudo de um servidor que nem é de carreira.

Por fim, Deputado Osmar, eu vejo que a participação também, definida lá na

condicionante 19, dos entes federados nos processos demarcatórios é essencial. E

diria mais: é essencial que tenha essa participação, através da advocacia pública

autônoma e não de uma advocacia de Governo, uma advocacia de Estado, que seja

capaz, sim, de participar e de garantir a legalidade e a correção de todo esse

procedimento. O que nós estamos discutindo aqui, senhores, é o formato de

República. O que nós estamos discutindo é a manutenção do nosso modelo de País.

Era isso.

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Obrigado, Dr. Candeia.

Com a palavra o Deputado Darcísio Perondi, por favor.

O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - Boa tarde para todos vocês!

Parabéns ao Heinze, organizador desta reunião, ao Serraglio, gaúcho, guerreiro!

Graças a ele, muitos candidatos a Presidente da República de um partido estão na

Page 49: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

48

cadeia! Ele foi o Relator da Comissão de Inquérito do Mensalão, tem coragem, tem

garra e veio aqui buscar informação e energia de vocês para fazer um ótimo

relatório. Jerônimo, Justiça, Ministério Público, esses são bons! Tem Ministério

Público muito acomodado a serviço de poucos, a serviço de partidos e também de

gente corrupta!

O que aconteceu em Mato Preto, em junho de 2013, quando havia aquelas

manifestações no Brasil inteiro e chovia? Vocês se lembram daquela tarde chuvosa?

Até agora algumas vitórias na Justiça — conversava sobre isso com essa liderança

ao meu lado —, aumentou-se a consciência, aumentaram os aliados, a mobilização

continuou. Mas, concretamente, o que aconteceu? Um grupo de Deputados

corajosos, não comprometidos com a corrupção, não comprometidos com partido

totalitário, trabalhou, trabalhou, trabalhou, até elegermos o Presidente da Câmara —

não é, Heinze, Osmar e Gerônimo, a quem eu saúdo —, com o compromisso de

criarmos a Comissão Especial 215. E mesmo com a eleição do Presidente, os

poderosos do Palácio do Planalto, do Ministério da Justiça — vou dar nomes:

Cardozo, Dilma, Gilberto Carvalho, que trabalharam, trabalharam — demoramos um

pouco mais, mas conseguimos criar a Comissão. Isso foi um avanço bem concreto

para dar uma luz. E vocês têm lá, sim, um grupo forte de Deputados comprometidos,

muito forte!

Se tudo der certo, votaremos no primeiro semestre na Comissão Especial —

no plenário da Câmara eu não sei, mas que vai passar, vai passar. Então, lá tem um

grupo muito forte do lado de vocês.

É um jogo muito pesado: mobilização, organização, criação da PEC, um

grupo de Deputados. Isso basta? Não basta. Vocês se lembram da luta dos

transgênicos, foi muito dura, queriam queimar a soja que vocês tinham na terra, e

não era o Tarso que estava lá. E, de novo, um Governador se omite. Transgenia nós

vencemos. A luta do Código Florestal. Que horror! Que horror estava acontecendo!

Vocês pelearam, deram força para nós, muita força, nós mudamos o Código. Não é

perfeito, mas melhorou. Ainda não saiu a regulamentação, e, de novo, os mesmos:

boa parte do Ministério Público, o Ministério da Justiça, o Ministério do Meio

Ambiente, o Palácio do Planalto — a Presidenta que mentiu, lá em Novo Hamburgo,

para um grupo de lideranças que falou com ela, há alguns meses, não saiu a

Page 50: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

49

regulamentação. Mas ganhamos a transgenia, ganhamos o Código Florestal e

vamos ganhar esta.

Mas para ganhar esta existe outro instrumento, porque esta luta não vai

acabar este ano, ela vai continuar: é um instrumento que muda o modelo gerencial

do Brasil, muda o modelo gerencial na área federal e muda o modelo gerencial

executivo na área estadual. Tira essa gente do poder! (Palmas.) E só tem uma

forma, independente de partido, só tem uma forma, uma única forma: o voto! O voto

que, naquele minuto ali, você sozinho pode decidir. Vocês todos são lideranças!

Trabalhem, organizem-se, mobilizem-se, dos dois candidatos de Oposição,

escolham um, e trabalhem, que os dois vão estar juntos no segundo turno.

É o voto que a democracia permite, é o voto de mudança! E é o voto que vai

garantir nós ganharmos e continuarmos avançando, como avançamos em muitas

áreas, porque, senão tivesse Deputados corajosos lá na transgenia e no Código,

não teria acontecido. Então, essa luta não acaba agora. Mas a outra etapa é

importante. A reunião mais importante nacional, gigantesca, é a do dia 5 de outubro.

É o voto para mudar.

Serraglio, muita paz, muita inteligência, muita coragem, muita firmeza. Isto

V.Exa. tem, e mostrou no mensalão. Nisso vamos ajudá-lo. Um abraço, muito

obrigado, conte com a gente. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Carlos Heinze) - Quero saber ainda do

representante de Palmeiras, o Vicente Dutra Ele ainda está por aqui? (Pausa.) Já

foi!

Ouviremos também a D. Bete, do Morro dos Cavalos, o Sr. Wilson, dos

Quilombos e o Sr. Sidimar Lavandoski. São essas as pessoas inscritas.

Deputado Jerônimo, por favor.

O SR. DEPUTADO JERÔNIMO GOERGEN - Quero pedir desculpas pelo

meu atraso. Hoje, além do nosso encontro, lá em Porto Alegre, centenas de

prefeitos na Praça da Matriz, que também nos apoiavam, Paulo, faziam uma

manifestação. Entre as pautas pelas quais estávamos lutando, debaixo de chuva,

estava exatamente a pauta das demarcações.

Aliás, isso me surpreendeu muito. Os prefeitos lá disseram que o Palácio

Piratini fez um movimento com prefeitos da base dele para que não fossem lá.

Page 51: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

50

Depois, apareceram três prefeitos para defender a política, para defender o Governo

sem se preocuparem com os munícipes que eles tinham que representar.

Ao justificar isso, Luiz Carlos e Perondi, e estavam também o Alceu e Covatti,

quero saudar esse grande colega, um grande advogado, um grande Parlamentar,

um constitucionalista, um gaúcho de Erechim, e dar boas-vindas a Osmar Serraglio.

Osmar, talvez V.Exa. não conheça todos os componentes desta Mesa, mas

temos aqui representantes de sindicatos, da prefeitura e da nossa FARSUL. Temos

aqui dois representantes do Estado, que representam a defesa e o interesse do

Estado, não do cidadão, mas do seu ente maior.

Um, numa posição que nos orgulha, o Rodinei Candeia (Palmas.), Deputado

Carrion, foi um dos grandes líderes dessa luta corajosa que nós hoje temos aqui e lá

em Brasília.

Deputado Osmar, quando o Rodinei foi a público dizer o que pensava, ali a

gente teve a certeza de que era o caminho que tínhamos de trilhar.

Outro, o Dr. Carlos, que vejo aqui, que não fez uma fala como gostaríamos,

mas fez uma análise jurídica interessante. E aí, para que eu não recorra a repetir

tudo o que foi dito, a todos que falaram anteriormente, vou dizer, de público, aquilo

que falei em histórica reunião com o Presidente Henrique Alves, quando decidíamos

sobre esta instalação. Faço justiça inclusive ao Deputado Moreira Mendes e ao

Carlos Magno, que junto conosco defendiam a mesma tese.

Esta é mais uma das reuniões a que vimos entre tantas, meus queridos são-

valerenses. Falamos, fomos guerreiros, tivemos coragem, somos unidos, e não

tenho a menor dúvida disso. Mas eu queria, Osmar, lembrar à sociedade brasileira,

que produz, que trabalha — e há poucos dias a nossa união fez com que não

perdessem 10% do PIS-COFINS da soja, que o Governo queria cobrar, mais uma

luta que conseguimos vencer — que tomamos uma decisão: deveríamos tratar da

regulamentação da Constituição ou tratar de uma PEC. A cada reunião que fomos

com o Ministro da Justiça, com o Advogado-Geral da União, ouvíamos do Governo,

eles dizerem que o Parlamento não estava legislando. Isto me dói o coração. O

Governo nos jogou uma responsabilidade, e isto é verdade, porque até hoje não se

regulamentou a Constituição, meu caro Alex, e nós, Osmar, e este é o medo que eu

Page 52: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

51

tenho, talvez por algum conflito político, talvez pela falta de uma análise mais

profunda, resolvemos pela Comissão da PEC.

Se o Governo disse que tinha que regulamentar, e eu entendia, Dr. Rodinei,

que a palavra deles era o que nós tínhamos que pegar para solucionar o problema,

por um caminho mais curto, como V.Sa. mesmo disse, a partir de uma Constituição

que é clara, que precisa ser regulamentada para ser cumprida. Ao provocarmos esta

discussão da PEC, com os prazos que nós temos, Osmar, de eleição, de Copa do

Mundo, de primeiro turno, de segundo turno, de troca do Governo, preocupa-me

ainda mais que esse não seja realmente o melhor caminho ou o mais curto para

solucionarmos o problema.

Mas a decisão está tomada. Se foi certa ou se foi errada, Luiz Carlos, Perondi

e Osmar, foi tomada por todos nós. E agora só temos um caminho sim: a

mobilização. Tentar encurtar os prazos, meu querido Relator, entregar antes do mês

de maio, para que ainda no primeiro semestre seja votada. Daqui a 60 dias o Brasil

vai parar; o Congresso já está parado. Nesta semana vimos a dificuldade que foi, e

na semana que vem nem haverá pauta legislativa. Na outra já vem mais um feriado.

O Governo empurra para frente as soluções do Brasil. O Governo não quer que o

Brasil ande, mas os processos que vocês enfrentam seguem andando na esfera

administrativa.

Este é o temor que eu acho que tem que servir para nos mobilizar; nem que

seja, como aqui foi dito, durante o processo eleitoral, com a lembrança das

omissões, dos Deputados que vão pedir votos para os senhores e para as senhoras,

falando em defender a agricultura familiar. Nós temos Secretários aqui da região que

se dizem defensores da agricultura familiar, mas o que eu sei, João, meu querido

Falcão, é que estão mandando dinheiro para apoiar os índios, deixando faltar para

os nossos agricultores.

Essa luta, meu querido Osmar, não adianta nós repetirmos. O processo está

posto. A vitória da aprovação na Comissão será importante. Senão a solução com a

PEC, mas mostrará a força do produtor brasileiro para o Governo, para que ele

possa entender que, cada vez que vocês foram à rua, cada vez que nós fomos à

beira da estrada, nós o fizemos para mostrar que o Brasil que eles quebraram, que

eles destruíram, com a corrupção que campeia neste nosso País, com a falta de

Page 53: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

52

planejamento, não é o Brasil que vocês sustentam com suor no rosto e com as mãos

calejadas.

Por isso, eu quero aqui reafirmar o compromisso, sendo transparente naquilo

que eu penso. Se o caminho foi certo ou se o caminho foi errado, é o caminho que

encontramos. E este resultado tem que ser uma marca de um passo a mais, para

solução desse conflito, que nada mais é do que um conflito entre brasileiros.

Portanto, meu querido Osmar Serraglio, que Deus ilumine V.Exa. ao fazer o

seu parecer. Eu estarei com V.Exa., com o Luiz Carlos, com o Perondi, para

votarmos a favor do parecer de V.Exa., mas favorável principalmente ao povo

brasileiro, que estes homens e mulheres representam.

Muito obrigado. Contem comigo. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Carlos Heinze) - Bete, por favor...

Estão aqui o Sidimar e o Wilson; já podem chegar para cá. Vamos dar lugar a

essa senhora que veio de Santa Catarina para se somar ao anseio das mulheres e

dos homens do Rio Grande do Sul. Dona Bete, da comissão contra a demarcação

das terras indígenas no Morro dos Cavalos, em Santa Catarina, simboliza os

catarinenses, em apoio aos gaúchos.

Bete, já que eu fui a Chapecó, você veio retribuir a minha visita aqui.

Bete, por favor. Já podem chegar o Cerro e o Sidimar, também. Por favor,

venham aqui para frente.

A SRA. BETE - Boa tarde a todos. Cumprimento a Mesa, na pessoa do Dr.

Luiz, nosso Deputado, o Deputado Osmar. Em nome deles eu cumprimento a Mesa

e cumprimento aqui toda essa companheirada bonita, agricultores de mãos

calejadas, que vieram aqui hoje discutir o direito da sua terra.

Nós temos uma situação em Santa Catariana que não é diferente da de

vocês, mas aqui eu vou me ater à situação do Morro dos Cavalos. Foi feita uma

demarcação, assinada pelo então Ministro Tarso Genro, a partir de um laudo

fraudulento, assinado por Maria Inês Ladeira. Foi então o Ministro Tarso Genro, hoje

Governador do Estado do Rio Grande do Sul, que assinou. Eu tenho a impressão de

que ele fez igual à Presidente Dilma: ele não olhou, ele não sabia de nada, ele

simplesmente assinou (palmas), porque este é o discurso do PT.

Page 54: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

53

Nós estamos hoje, em nosso País, enfrentando uma crise muito grave,

companheiros. Nós, lá em Santa Catarina, enfrentamos hoje uma invasão em terras

urbanas, comandada por um cacique, que representa os índios naquele Estado.

Eles estão invadindo áreas urbanas, eles estão na Universidade Federal de Santa

Catarina. A Polícia Federal, na semana passada, esteve na universidade e interveio

no tráfico de drogas, comandado por esses mesmos ativistas que invadem as terras

no Rio Grande do Sul. E sabem o que está sendo feito hoje em Santa Catarina? A

Semana Bolivariana, e a reitora da Universidade Federal aceita aquela vergonha

que está lá.

Então, é questão de governo sim! Nós não podemos nos omitir, nós temos

que formar trincheiras, nós temos que defender as nossas terras, porque índio,

FUNAI — Fundação Nacional do Índio, Ministério Público e Governo não querem

discutir com a gente. A prova é isto que está aí. O que nós estamos esperando para

lutar? Vamos convidá-los sempre? Achar que eles vêm em nossas casas para

discutir o direito às nossas terras? Não vêm, eles não vêm, porque os índios têm

Governo, Ministério Público, FUNAI, Procuradorias, o Gabinete da Presidência,

todos à disposição deles. Nós não temos, mas nós temos a força do povo, e essa

força do povo vai ter que prevalecer para defender o que é direito nosso!

Nós não podemos deixar que essa gente em que nós acreditamos, 12 anos

atrás, com discurso fácil, com discurso de direitos humanos, com direito de guerrilha

no Araguaia, e que nós achávamos que era a nossa esperança, coloque-nos no

chão. Hoje, nós não temos mais direito a nada, absolutamente nada. O olhar deles

não é para o povo brasileiro, o olhar deles é para o socialismo que querem implantar

nas Américas. É isto que está acontecendo em nosso País. (Palmas.) Ninguém está

aqui para se enganar.

Então, nós temos que formar trincheiras e defender a nossa terra, porque nós

somos maioria neste País, nós somos verde-amarelo, nós não somos vermelhos,

como aquela bandeira que foi hasteada na Universidade Federal de Santa Catarina,

na semana passada: jogaram a bandeira brasileira no chão e levantaram a bandeira

vermelha.

Nós temos que lutar, sim, nós temos que vir para o diálogo, e viemos, não

temos problemas, estamos aqui, pessoas do Estado inteiro estão aqui, do Rio

Page 55: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

54

Grande do Sul e Santa Catarina, estamos atentos a esse processo. Mas não

esqueçam o recado deixado por Santa Catarina e Morro dos Cavalos, depois

daquela demarcação fraudulenta, assinada pelo Ministro Tarso Genro, Governador

do Estado do Rio Grande do Sul, e o DNIT — Departamento Nacional de

Infraestrutura Terrestre — já tinha recebido 11 milhões de reais para tirar os índios

de lá de cima, mas eles continuaram lá, e o dinheiro ninguém sabe onde foi parar.

Estamos lá penando, agricultores, maricultores e pescadores, que, se hoje forem

jogados para fora de suas terras, nem em favelas vão comprar mais as suas casas.

Isto é Governo? Isto é uma vergonha para o nosso País! É uma vergonha o que está

acontecendo!

Então, companheiros, a nossa única esperança é nós nos juntarmos, vocês

voltarem para suas casas, resistirem e não abrirem mão da terra que é de vocês!

Muito obrigada. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Com a palavra o Sr.

Sidimar Lavandoski, da FETRAF — Federação dos Trabalhadores na Agricultura

Familiar, de Sananduva. Ele está junto com a turma de Sananduva lá, estão

irmanados.

O SR. SIDIMAR LUIZ LAVANDOSKI - Sr. Presidente, Deputado Luis Carlos

Heinze, quero, em nome de V.Exa., cumprimentar as demais autoridades já

nominadas e que estão aqui na mesa. Quero saudar cada um e cada uma de vocês,

agricultores, agricultoras, lideranças, lutadores que aqui se fazem presentes.

Eu sou do Município de Sananduva, sou um agricultor familiar e, como

agricultor familiar, nesses últimos 15 anos, eu tenho lutado muito para conquistar

políticas públicas para essa categoria, categoria que hoje tem e sempre teve um

papel fundamental para a sociedade: produzir alimentos. É isso que nós sabemos

fazer, é isso que nós fizemos todos os dias e fizemos isso com muito orgulho.

Então, eu me orgulho muito de ter participado de lutas por meio das quais

conquistamos o PRONAF, políticas públicas diferenciadas para a agricultura familiar.

Eu me orgulho muito por ter lutado para conquistar uma política de habitação rural.

Enquanto o agricultor tinha dinheiro para construir o chiqueiro, a estrebaria, o

galpão, não tinha dinheiro para construir uma casa. Eu me orgulho muito de ter

lutado pelo direito da Previdência Social, que hoje o agricultor tem acesso.

Page 56: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

55

Agora, em 2014, que é o ano reconhecido pela ONU como o Ano

Internacional da Agricultura Familiar, nós estamos vendo acontecer a maior das

injustiças já feita contra a agricultura familiar exatamente no Ano Internacional da

Agricultura Familiar: o risco de não só perdermos a nossa terra, a nossa casa, mas

perdermos a nossa história. Eu não estou dizendo que eu sou contra o índio, que eu

sou contra as comunidades quilombolas.

Nós precisamos, de fato, construir uma proposta para que possamos,

primeiro, implementar uma polítca pública de etnodesenvolvimento para as

comunidades indígenas que estão abandonadas. Hoje, a maior parte dos problemas

que nós enfrentamos todos os dias se resolve com uma política pública séria que

possa ser executada dentro das áreas indígenas. Quem reivindica as nossas terras,

as terras dos agricultores familiares, são os índios, na sua grande maioria, índios

dissidentes de conflitos internos de áreas que já existem. É assim lá em Sananduva,

é assim em Mato Castelhano, é assim lá em Faxinalzinho, e poderia citar várias

outras cidades. Ou seja, é preciso pensar, de fato, uma política pública que possa

libertar os índios do domínio dos seus caciques.

Segundo, é preciso combater esses conflitos internos para que agricultura

familiar não arque com essa conta. Falo mais da agricultura familiar, porque é o meu

campo, onde a gente atua, mas também a agricultura como um todo. Nós não

podemos pagar essa conta, porque essa conta não é nossa. Estamos lá a partir de

uma política pública de Estado brasileiro ainda no período da colonização, há mais

de 100 anos. Não estamos em cima de áreas indígenas, não grilamos terras

indígenas, não expulsamos índios de lá. Estamos lá de uma forma legal, legítima e

justa.

Terceiro, nós, enquanto Federação — e temos participado de intensos

debates —, entendemos que, às vezes, tem muitas comunidades indígenas que, de

fato, como aqui já foi dito, precisam de uma área, mas não é tirando terra de

agricultor e dando para os índios que vai se resolver o problema. Nós defendemos

que, aquilo que está no Estatuto do Índio, permite ao Estado brasileiro comprar terra

de quem quer vender e ali criar as reservas indígenas e poder atender à demanda

dessas comunidades indígenas que ali estão. (Palmas.) Essa é uma forma simples

de resolver o problema.

Page 57: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

56

Então, para isso, meus amigos, nós precisamos lutar. Se a PEC vai ou não

ser aprovada lá no futuro, se é constitucional ou não, ela está abrindo um amplo

espaço de debate. Ela é uma ferramenta de debate sério sobre essa questão, e nós

precisamos aproveitar isso. Estão aqui os meus companheiros aqui de Sananduva e

os companheiros aqui de Getúlio Vargas, com os quais eu tenho uma preocupação

maior. E aí eu peço aos Deputados que nos ajudem a encontrar uma alternativa

para, principalmente, essas duas áreas aqui no Rio Grande do Sul, que têm portaria

declaratória já assinada.

Penso que, se a PEC 215 conseguir chegar até o final e for aprovada, nós, de

Sananduva e Getúlio Vargas, não vamos conseguir aguentar até o final do processo,

porque já estão declaradas. Eu acreditei muito, meus amigos — e várias pessoas

que aqui participaram de audiências diriam “não” —, que o processo de negociação

fosse a saída para os nossos problemas. O diálogo, a negociação, as mobilizações

que nós fizemos, inclusive lá em Novo Hamburgo, onde eu estava, e várias outras,

apontavam para as mesas de negociação. Na mesa de negociação só tem acordo

se o agricultor aceitar sair. É isso! Lá, em Sananduva, nesta semana, mais uma vez

eu fui enganado por ter acreditado nessa possibilidade, fui traído mais uma vez.

Na segunda-feira, baixou uma equipe do INCRA e do MDA, juntamente com o

cacique, visitando os agricultores, intimidando-os para que aceitassem uma

indenização. Imediatamente fizeram contato com o INCRA, com o Ministério da

Justiça, e me disseram: “Acalmem os agricultores que nós não vamos mais fazer o

levantamento.” Eu fiz a minha parte. Na quarta-feira, estava lá a equipe visitando os

agricultores. Ou seja, esse processo de diálogo, na forma como nós temos tentado

fazer, não está funcionando.

Então, meus amigos Deputados que aqui estão, é preciso, principalmente

nessas duas áreas, Sananduva e Getúlio Vargas, que têm portaria declaratória,

pensar uma saída para que aqueles agricultores permaneçam ali onde estão, há

mais de 100 anos, e que ali se criem reservas indígenas em outros locais para

atender aos índios que ali estão.

Eu espero ter contribuído um pouco para essa questão. Lembrei a tempo de

dizer, permitam-me mais um pouquinho, que a nossa saída para essas duas áreas,

parece-me, que é só pelo caminho jurídico. Sananduva e Getúlio Vargas têm

Page 58: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

57

processos judiciais em andamento, sejam eles de reintegração de posse, sejam eles

para discutir o mérito. Em relação ao trâmite da Justiça, parece-me que já vão mais

de 10 anos, e, naquela pressão diária, nós não vamos aguentar.

Nós estamos tentando, no Governo do Estado e na Assembleia Legislativa do

Estado, entrar com uma ADIn — Ação Direta de Inconstitucionalidade, para que

esse processo possa ser levado diretamente ao Supremo Tribunal, a fim de que

rapidamente possa se definir juridicamente essas duas áreas. Se existir algum

caminho jurídico além do Estado, enquanto Assembleia Legislativa ou enquanto

Câmara dos Deputados, a gente pode ingressar com uma ADIn para tentar acelerar

os processos, caso administrativamente a gente não consiga.

Desculpem-me estender o tempo.

Muito obrigado pela oportunidade. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - O próximo orador é o

Sr. Wilson Cerro, simbolizando, Osmar — a região dele é quilombola, e aqui está o

pessoal de Restinga Seca —, outros processos. São 70 processos quilombolas no

Rio Grande do Sul.

Concedo a palavra ao Sr. Wilson Cerro.

O SR. WILSON CERRO - Inicio saudando o Deputado Luis Carlos Heinze e,

em seu nome, saúdo todos os componentes da Mesa.

Vou falar um pouco do trabalho dos quilombolas. Nós, no Município de

Sertão, temos áreas que já estão em processo, no INCRA, que se iniciou há mais de

10 anos. A gente foi pego de surpresa, a gente não sabia quando se iniciou o

trabalho, e, quando nós vimos, já estava em processo adiantado, mas mesmo assim

conseguimos fazer a nossa defesa.

A questão não é diferente, senhores, da questão indígena. Todos os laudos

elaborados, no que diz respeito à demarcação de terra quilombola, foram

fraudulentos! Isso nos indigna muito. Sabendo que o meu avô, um descendente de

italiano vindo da Itália, que se estabeleceu no Município de Sertão há mais de 100

anos, recebeu o título do Governo do Estado, senhores, hoje aquela área está sendo

reivindicada pelos remanescentes de quilombolas. Dizem que nós somos os

culpados, que nós temos que pagar a dívida. Infelizmente, senhoras e senhores, nós

Page 59: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

58

não somos devedores dessa conta, e, sim, o Governo! E ele que arrume um jeito de

ressarcir, se é que existe essa conta.

Lá no Município de Sertão são todas pequenas propriedades, propriedades

com menos de 20 hectares, com 5, 8, 10, 12 hectares. Então, nós estamos

praticamente numa angústia todos os dias porque não sabemos o dia de amanhã. E

se nós, que estamos aqui com os nossos Deputados, não conseguirmos ter uma

solução, vamos perder sim as nossas terras. E nós iremos engrossar as fileiras da

cidade.

Mas falo aqui também em nome daquelas outras regiões: Restinga Seca,

Morro Alto, Maquiné, Osório. São todas regiões, pelo que se sabe, onde todos os

laudos elaborados até então foram fraudulentos. A Constituição é clara, ela diz que é

de direito a regulamentação da terra por ora ocupada. E quando foi? Foi lá na

promulgação da Constituinte. Então, nós temos que fazer valer a Constituição. E aí

nós temos os nossos direitos amparados. Do contrário, nós iremos perder as nossas

terras, e iremos engrossar as fileiras da cidade, porque o que nós sabemos fazer,

senhoras e senhores, é produzir. Nós não sabemos fazer outra coisa. Nós estamos

produzindo alimento todos os dias. E estamos colocando na mesa de quem está

consumindo, que mora na cidade, e que, muitas vezes, não sabe o que acontece lá

na propriedade onde nós moramos.

Então, para que haja um encaminhamento, eu gostaria de pedir para o

Relator, Deputado Osmar, se há possibilidade também de se incluir na PEC 215

alguma coisa que nos ampare, Deputado, porque a demarcação de terras, no que

diz respeito aos quilombolas, pelo que se sabe, corre na mesma linha dos pedidos

nos indígenas.

Nós também gostaríamos de ter incluso na PEC 215 alguma coisa que nos

amparasse, que nos desse direito à propriedade. Infelizmente, temos as terras,

adquirida pelos nossos avós, com escritura há mais de 100 anos, e que hoje, para

nós, não tem validade nenhuma. Infelizmente, o Governo baixa um decreto e diz que

ali é uma área de quilombolas, e nós temos que dizer amém para tudo.

Então, para encerrar, eu só gostaria de fazer esse pedido.

Muito obrigado. (Palmas.)

Page 60: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

59

O SR. PRESIDENTE (Luis Carlos Heinze) - Com a palavra o Erni Lago, por 2

minutos. Depois vamos ouvir o nosso Relator.

O SR. ERNI LAGO - Tudo bem, Luis Carlos.

Eu quero cumprimentar a Mesa, em seu nome, e apertar a mão do Deputado

Osmar Serraglio, pela seriedade com que agiu no mensalão. Eu assistia, todas as

noites, ao senhor falando. Por isso eu lhe agradeço.

Mas, gente, eu ouvi uns quantos que fizeram uso da palavra aqui dizerem que

era com grande alegria que falavam com os senhores. Eu quero dizer o seguinte: é

com uma grande tristeza que eu estou falando com vocês, porque nós não

precisávamos estar aqui pelo motivo que temos! Eu não tenho alegria nenhuma por

isso. (Manifestação da plateia.)

Na FUNAI — um bando de sem-vergonhas —, nós fomos várias vezes lá para falar

com eles, mas fomos tocados. O dia em que nós conseguimos entrar naquela

imundície, eles correram, deixaram lá nós, agricultores, um olhando para o outro, e

não nos deram satisfação nenhuma! Correram, abandonaram o local, nós ficamos lá

e acabamos indo embora.

Eu peço que, se houver um jeito, Parlamentares, extingam a FUNAI, porque

faz 30 anos que existe esse problema indígena e ela não resolveu nada porque é

incompetente! Não é preciso ter isso aí.

Hoje, eu acredito que os senhores, quando estavam andando pela região,

enxergaram, nas beiras de estrada, aqui, em Soledade, onde nunca teve índio... O

Samir Lamaison me disse recentemente que eles colocaram lá, na chuva, uns

indiozinhos caminhando na beira do asfalto, para chamar a atenção de vocês e para

vocês se compadecerem pela miserabilidade deles. Ora, senhores, os índios têm

108 hectares de terra cada um! Vocês têm 20, 30 hectares. E nós estamos vivendo

tranquilos. Por que eles, com 108 hectares, têm que andar acampados em beira de

estrada? Vão ocupar as terras que são de vocês e deixem os agricultores quietos!

Antes não tinha essa anarquia, essa folia que está acontecendo aí. (Palmas.)

Eu quero ser meio rápido, Luis Carlos, porque o senhor me falou que era para

fazer uso da palavra de forma moderada e rápida. Eu quero dizer só o seguinte:

vocês são produtores rurais documentados, têm aquela escritura, que vocês estão

com nojo de olhar para aquilo. Vocês já estão com nojo de olhar para aquilo! Vocês

Page 61: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

60

leem e releem, e procuram onde é que tem algum erro lá, algum furo, que diga que

essa propriedade não é de vocês. Lá está lavrado, perante o tabelião; o senhor

assinou, assumiu o compromisso de comprar e pagar, porque a coisa mais triste é

um pequeno agricultor comprar um pedaço de terra e conseguir pagar. Isso é muito

sofrido! Eu sei porque eu passei por isso. É difícil comprar terra e pagar! Vocês

fizeram isso, assinaram o compromisso de comprar e pagar.

Aí, depois que estava pronto lá no tabelião, vocês pegaram aquela escritura e

levaram no Registo de Imóveis. Pagaram para fazer tudo isso. E daí o tabelião

assinou, o cara do Cartório de Registros também assinou, e lá em baixo tem uma

clausulazinha que diz assim: “Este documento é verdadeiro e dou fé”. Mas e que fé

é essa, que agora não vale mais? Mas como isso, se foi dito que é legítimo, não tem

mais o que falar? Agora estão questionando aqui, dizendo que não, que isso aqui

não vale. Sabe o que estão querendo fazer? Estão querendo patrolar o direito à

propriedade. É isso o que estão querendo fazer! Eles estão fazendo uma loucura, e

os senhores sabem disso. Eles querem acabar com o direito à propriedade pelo

seguinte: esse bando de sem-vergonhas foram os incompetentes no passado que

não trabalharam igual nós trabalhamos e não tiveram a hombridade de ter um

pedacinho de terra e pagar! Receberam fortunas de herança, e venderam, e

gastaram o dinheiro em boates, com chinarias, correndo por aí. Eu conheço uns

quantos desses! (Palmas.)

Meu amigo Rodinei Candeia falou aqui: “Você sabe por que te afastaram

desse processo? Porque tu és honesto. Você fala a verdade, e a verdade, para o

Ministro da Justiça, para o Governo do Estado e para a D. Dilma não serve! Você

não serve lá!” (Palmas.)

Gente, para finalizar, eu vou dizer, com todas as letras, porque eu não sou

candidato a nada, então eu posso falar isso, os senhores não podem: no dia 5 de

outubro, gente, pelo amor de Deus, não votem no PT, porque essa gente não presta!

Muito obrigado. (Manifestação na plateia.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Obrigado.

Tem a palavra o Dr. Cunha, por 2 minutos. Depois, vamos ouvir o Relator.

O SR. CUNHA - Boa tarde! Meus parabéns ao orador. Concordo plenamente

e endosso as suas palavras.

Page 62: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

61

Eu quero ser breve e noticiar um dado muito importante, que até agora não foi

falado aqui. Quero até que me auxiliem na resposta. Vocês sabem que 55 milhões

de hectares no Brasil produzem 39% do PIB brasileiro. Nesses 55 milhões de

hectares são produzidos soja, milho, trigo, lã, algodão — ajudem-me aí —, caprinos,

ovinos, equinos, bubalinos. O que mais é produzido?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Frango, milho, leite...

O SR. CUNHA - Aveia, frango, suíno... Enfim, tudo isso é produzido em 55

milhões de hectares. Vocês sabem quanto o Governo Federal quer doar aos índios,

dar de mão beijada, de graça? Cento e doze milhões de hectares, 25% do território

nacional! Isso é um absurdo! E não é só isso, não para por aí: 112 milhões de

hectares para os indígenas, mais a soma dos quilombolas, mais a soma dos sem-

terra, até chegar a 450 milhões de hectares para produzir o quê? Nada,

absolutamente nada. Quem produz? Quem põe o alimento na nossa mesa? É o

agricultor. Eu, quando pequeno, debulhei milho com estas mãos para pagar meus

estudos. Hoje existe debulhadora de milho, àquela época não havia. Somente com

um agricultor valorizado é que este País será um país decente e terá um governo

que presta.

Uma coisa é fundamental também, Deputado Heinze: eu mandei um e-mail,

dias atrás, à Diretoria da EXPODIRETO para que lá não ficassem só de segunda a

sexta-feira vendendo máquina e negociando. Agricultura não é só dinheiro,

agricultura não é só negócio, agricultura vai mais além que isso. Pedi que eles

estendessem a EXPODIRETO — e esta é a minha sugestão à Mesa — de segunda

a domingo, para que no sábado e no domingo fosse propiciado a todas aquelas

pessoas que não estão ligadas à agricultura visitar a EXPODIRETO e ver o quanto é

pujante a agricultura e quanto a sociedade tem que se aproximar dos agricultores,

para respeitá-los, dar-lhes apoio e, quando houver eleições, votar com eles, e não

contra eles. Isso é que tem que ser visto como um todo, com um sentido macro na

economia. O agricultor não pode ser apenas um item na economia. Ele tem que ser

considerado, como toda a sociedade, uma forma macro, com essa visão geral, para

que todos o apoiem e que realmente não se constituam esses verdadeiros absurdos

que estão acontecendo neste País. É isto que tem que acabar.

Page 63: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

62

Só existem três coisas que os senhores têm que fazer para manter as suas

terras e fazer com que a agricultura suba, cresça e se mantenha: lutar pelas suas

terras, lutar pelas suas terras e lutar pelas suas terras! (Manifestação na plateia.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Agora, com a palavra o

artista da festa, o ator principal, o nosso Relator, gaúcho, tchê, do Rio dos Índios...

(Risos.) (Manifestação na plateia.) Ele é bom porque é gaúcho, viu? Não tenho nada

contra os paranaenses que o elegem e vão elegê-lo de novo. Deputado Osmar

Serraglio, por favor.

O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - É a nossa esperança!

O SR. DEPUTADO OSMAR SERRAGLIO - Boa tarde a todos! Eu confesso

que, quando vou passando os olhos pela plateia, eu vou identificando muita

semelhança de vocês com os meus familiares, com os meus parentes. E imagino se

fossem eles que aí estivessem sentados com esta aflição. Não há nada mais triste

para uma civilização do que a injustiça. Nós dizemos que nós nos conformamos até

com a morte. Aparentemente pode ter algo mais triste do que a morte? Mas nós nos

conformamos, porque é da contingência humana. Nós nascemos e sabemos que,

inexoravelmente, um dia nós iremos morrer. Mas, se vocês olharem na história da

humanidade, vocês vão perceber que aquilo que mais marcou a humanidade foram

os momentos de injustiça.

Vocês podem viver isso, passando rapidamente, por cima, com Sócrates,

morrendo ao beber um cálice de cicuta; com Júlio César, morto pelo seu filho Brutus;

com Jesus Cristo, condenado duas vezes, pelos romanos, por Herodes, e pelos

religiosos; depois, com os cristãos, sendo sacrificados na arena; com os judeus, no

Holocausto. Numa época mais moderna, vivem isso quando perguntamos: por que,

no Oriente Médio, não é possível ajustar a Palestina com Israel? Porque, quando

Israel foi criado, e foi a civilização que o criou, chegaram ao local, como se fosse

aqui em Passo Fundo, e disseram o seguinte à ONU, então presidida por um

brasileiro, Osvaldo Aranha: "Agora, isso aqui vai ser Israel”. “E nós, que estamos

morando aqui centenariamente?” “Não, agora tudo isso aqui não é mais de vocês." É

por isso que nunca vai haver — escutem o que eu estou dizendo — paz no Oriente

Médio. Não vai haver paz enquanto não for reparada a injustiça que se fez contra os

palestinos.

Page 64: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

63

Nós estamos testemunhando, modernamente, injustiças, como esta que

estamos vendo aqui, e parece que nós não temos força suficiente para convencer

aqueles que a comandam. Aqui, esta mesma tristeza minha tem o Deputado

Perondi, que muitas vezes esteve conosco; o Deputado Luis Carlos, que preside a

Frente Parlamentar da Agropecuária; os Deputados que aqui estiveram. Quantas

vezes nós estivemos nos gabinetes traduzindo isso que vocês aqui estão passando

para a gente, conclamando que eles percebam que estão fazendo injustiça com

outra injustiça, uma injustiça gritante, que poderia ser evitada? Esse é o problema. A

injustiça que está sendo praticada contra vocês poderia ser perfeitamente evitada.

Primeiro, vocês podem observar que não é por que se cria reserva indígena

que se dá proteção ao indígena. Ou vocês acham que os indígenas que estão nas

reservas indígenas estão bem e com uma qualidade de vida que faça com que nós

nos convençamos, como civilização, que eles realmente integram essa nossa

comunidade? Não! Então, a solução não é terra. Por que a gente não consegue

convencer que está na hora de pôr um ponto final nisso?

Eu não fui Constituinte em 1988, mas essa mesma questão foi posta — e só

quem estuda poderá ver isso —, foi posta, repito, em 1988, e era preciso resolvê-la.

Aí os Constituintes escreveram sobre os locais ocupados. Lá diz que os locais que

os índios ocupam — ocupam — deverão ser preservados e concedidos aos

indígenas. “Ocupam” não é que ocupavam, não é que ocuparão, é que ocupam.

Portanto, como Relator, eu reafirmo isto: o local onde havia indígena em 5 de

outubro de 1988 nós vamos preservar. Agora, levar em conta locais onde não havia

indígena em 5 de outubro de 1988 é rasgar a Constituição e insistir em fazer aquilo

que nós estamos vendo ocorrer aqui, no Rio Grande do Sul, e no Paraná. Eu moro

em Umuarama, onde estão querendo criar uma reserva indígena de 14 mil hectares

e onde seguramente não existia e não existe há mais de 40 anos um índio, nem à

beira da estrada; Aqui, pelo menos, vocês têm ainda alguma aparência que eles

criaram, mas lá nem sequer isso criaram.

Então, a gente percebe que realmente é uma coisa ideológica. E para que

nós vençamos isso... É triste constatar que nós conseguimos fazer com que eles

sentem aqui e ouçam o que ouvimos aqui, mas nós não temos uma alternativa que

os convença. Eu tenho insistido nisso nas entrevistas que dou, que nós

Page 65: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

64

precisamos... Vocês são atingidos e têm uma convicção, mas a grande maioria do

povo brasileiro ainda está com pena dos nossos indígenas. Nós também temos, mas

eles não estão examinando e pondo na balança a situação de vocês. Por que eles

não estão colocando a situação de vocês? Porque eles não sabem que vocês estão

sendo retirados de suas terras sem direito a nada. Esta é a tristeza: vocês não têm

direito à indenização. Então, é uma coisa tão gritante que clama os céus.

Fui hoje a Tapera, no seminário onde estudei. Eu pertenço, portanto, à Igreja

Católica e faço parte da Pastoral Parlamentar Católica. Vejo movimentos da Igreja

— e não é a Igreja, mas parte da Igreja — trabalhando para que nós tenhamos esse

tipo de dificuldade, que passa a ser quase que insolúvel, porque eles nos puxam o

tapete na hora que nós precisamos do apoio popular. É diferente para os

Parlamentares que aqui estão ouvindo vocês. Quando nós chegamos lá, não

existem 513 Parlamentares da zona urbana. Eu falo assim quando estou na

televisão: "Você, que está me ouvindo; você, que tem uma casinha; se amanhã eles

resolverem que aqui é uma reserva indígena, aí onde você está, você vai para a rua

e não vai ter direito a nada. Você acha isso cristão? Você acha isso justo?" Mas isso

não clama os céus? Será que não há racionalidade, não há lógica, não há

sensibilidade? Mas que mundo é este? E por que esses que estão assim

encastelados não discutem esse aspecto? Vejam aqui o que eles falam: "Não, isso

aí é inconstitucional. Vocês não podem ficar discutindo isso". Sim, porque eles não

podem discutir o mérito. Não há como sustentar, como argumentar que alguém deva

perder terra centenária sem receber nada. Então, para não permitir que nós façamos

isso, o que eles colocam? "Não, vocês não podem discutir isso, porque isso, na

separação de poderes, cabe ao Executivo."

E aí vem para a minha área. Vou falar muito rapidamente, porque é uma

questão técnica. Vejam só: para colocar uma usina hidrelétrica numa reserva

indígena sequer o Presidente — agora é uma Presidente —, sequer o Presidente da

República pode opinar. Numa reserva indígena, quem começa e termina o processo

para autorizar a construção de uma usina hidrelétrica é solitamente o Congresso

Nacional — começo, meio e fim. A Constituição estabelece isso para uma usina

hidrelétrica e diz que a exploração de minério numa reserva indígena depende de

decisão do Congresso Nacional — começo, meio e fim —, porque se faz por decreto

Page 66: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

65

legislativo, e não por lei; se fosse por lei, iria para o Executivo. O que o Constituinte

está sinalizando senão a valorização absoluta do Congresso? E eles querem dizer

que nós não podemos definir a área que será uma reserva indígena; ainda que seja

através de lei não será decisão exclusiva nossa. Isso aqui é exclusivo. Nós

poderíamos chegar ao limite de colocar “exclusivo”, mas nós estamos colocando que

vamos com lei, que vamos unir o Executivo. O Executivo pode fazer a proposta.

Essa é uma discussão que levamos ao Procurador-Geral, mas quem nomeia

o Procurador-Geral? A Presidente da República. Quando nós vamos ao Advogado-

Geral da União, quem nomeia o Advogado-Geral da União? A Presidente da

República. Quando vamos ao Supremo, vemos que hoje mais da metade, aliás, só

dois ou três não são dessa ideologia. Então, realmente nós precisamos brigar, e

brigar muito.

Vocês viram de quando é esta PEC? É de 2000 — de 2000! Nós estamos em

2014, e foi preciso isso que aqui foi relatado. Foi preciso exigir: “Você quer o nosso

apoio para ser Presidente da Câmara?” “Então, assuma o compromisso de nomear

Comissão, para a gente poder trabalhar.” Foram 12 anos para poder discuti-la. Nós

não estamos nem falando em aprovar, nem nada. “Vamos, permita que nós

trabalhemos!”

Então, primeiro há esse aspecto da admissibilidade, da constitucionalidade.

Isso nós vamos até o final discutindo. A Comissão de Constituição e Justiça e de

Cidadania já disse que é constitucional, mas vocês percebem que eles continuam

dizendo que vão ao Supremo. E o que é lamentável? Há despacho de um Ministro:

“Concedo a liminar”. Pronto, terminou a PEC: “Concedo a liminar. Suspendo a PEC

215”; ou: “Suspendo a emenda tal, que vai ser a emenda lá na frente”.

Vocês percebam que nós temos uma dificuldade muito grande. Então, nós

estamos estudando também alternativas a isso, por exemplo, àquilo que já se fez

referência aqui: criar, obrigar. Isso já está na minha proposta, no esboço.

Vejam só: o Constituinte de 1988 disse o seguinte: o Governo Federal tem

mais 5 anos para resolver a questão indígena no Brasil — está no art. 67 do Ato das

Disposições Constitucionais Transitórias. Foram concedidos 5 anos para resolver

isso, e nós estamos há mais de 20 anos sem que tenha sido resolvido.

Page 67: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

66

Então, o que eu estou colocando? Toda e qualquer reserva indígena, após 5

anos, se quiser fazer tem que indenizar. “Ah, mas você está concordando com que

eles criem o mecanismo: pagou, tem que sair.” Ainda é uma alternativa, porque,

vejam só, não precisa pensar em reserva indígena. Pensem que vocês são sem-

terra. Qual é a regra dos sem-terra hoje? Vai lá, desapropria o sítio do Deputado

Perondi e bota lá. “Não, porque não pode, porque eu gosto muito do meu sítio.” Não.

Eu tenho que te indenizar.

Então, o sistema jurídico hoje permite a desapropriação, desde que se

indenize. Não é para reserva, não importa para o que seja, tem que pagar e daí

pode fazer o que quiser. Quer fazer uma estrada? Quer fazer um hospital? Faça o

que você quiser. Então, a propriedade, nós temos o sagrado direito de propriedade

— está lá na Constituição —, mas a própria Constituição permite a desapropriação.

A diferença é: desapropriação se paga; no caso da criação de reserva indígena, não

se paga.

Então, pelo menos, por que a gente acha que isso vai ser um freio? Porque é

muito simples a FUNAI — Fundação Nacional do Índio — ir criando reserva

indígena, porque não tem custo nenhum. Agora, vai lá dizer que tem que pagar cada

metro quadrado que eles estão tomando para ver se o Governo Federal vai ficar

assinando com facilidade, como se tivesse dinheiro sobrando. Então, esse é um

mecanismo que nós estamos pensando em colocar.

O segundo mecanismo seria para solucionar também o problema que aqui foi

levantado: “Não, mas por que não compra 500 alqueires de terra e se resolve isso?”

O problema é que, juridicamente, nós temos dificuldades. Para vocês parece uma

coisa distante, mas vejam só. A Constituição diz — vamos hipoteticamente imaginar

isso — que onde havia ocupação no dia 5 de outubro de 1988 pode ser criada a

reserva indígena. Mas agora lá há outras pessoas, estão lá os não indígenas. Nós

constatamos que existe esse direito, porque em 5 de outubro eles já estavam lá,

mas vamos supor que tenham saído em 1990. “Mas ele aceita trocar.” O problema é

que essa negociação vai ficar pendente da possibilidade de ser anulada. “Como

assim, se foi assinado e tudo?” Não dá para assinar, porque a Constituição diz que é

um direito originário. Então não dá para negociar. Ele foi beneficiado e pode ser que

nunca mais ninguém o incomode, mas nós temos alguém que sempre incomoda e

Page 68: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

67

que se chama Ministério Público. Já estão falando isso. Já estão falando das

próprias questões que nós levantamos aqui. Vamos solucionar isso? O Governo

compra 500 alqueires, 1.000 alqueires não sei onde, deixa esse pessoal sossegado.

O Ministério Público diz: “Não, o índio quer a terra dele, onde ele está.” Aí não

adiantou ter feito pagamento, não adiantou ter feito compensação.

O que falta neste País é solidariedade, é vergonha na cara, é respeito à

Constituição. A Constituição diz que todo poder emana do povo. Aí você olha lá

quem é que representa o povo. O Senado representa os Estados. Quem representa

o povo é a Câmara Federal. Quando nós vamos dizer que é o povo que vai falar,

que vai criar uma reserva indígena, eles falam que o Congresso Nacional é

estranho, não pode criar uma reserva indígena. Essa concepção é de quem não tem

espírito democrático! Nós estamos trabalhando com quem não tem espírito

democrático. Como é que se vai vencer isso? Pelos caminhos que vocês ouviram

aqui.

Nós precisamos mudar. Não faz sentido que nós continuemos assistindo ao

que nós estamos vendo. Vocês percebem que está chegando agora a vocês. Há 4

anos foi a Raposa Serra do Sol. E o que nós fizemos em favor daqueles lá? Alguém

aqui se mobilizou? Vocês se lembram da peça do Bertold Brecht? Como era um

pastor protestante, ele disse o seguinte: “Primeiro, eles vieram, pegaram os

comunistas, e eu não fiz nada porque acho que comunista não é cristão”. Essa era a

visão da época. “Eu não reagi. Depois eles vieram, pegaram os judeus, e eu

também não fiz nada. Eu sou um protestante. Eu não fiz nada porque, afinal, os

judeus foram os que mataram Jesus Cristo, e eu sou cristão. Não fiz nada. Depois,

eles vieram e pegaram os católicos. Eu também não fiz nada, porque nós temos

nosso desentendimento com os católicos desde Martinho Lutero e companhia.

Agora eles vieram me pegar, e eu estou sozinho, eu não posso mais reagir.”

Vale isso como lição para nós. Vocês não podem sossegar. Têm que persistir,

que reagir, porque isso é uma varrição que vem vindo. Isso vai nos atingir, vai

ultrapassar e chegar ao limite daquilo que nós sabemos que é, de fato, embora

pareça tão remota, a extinção do direito da propriedade. É a extinção do direito da

propriedade. Nós ainda somos majoritários. Vocês têm força.

Page 69: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

68

Hoje, apesar de a gente atribuir muito isso ao PT, ainda é pequeno o PT

dentro do Congresso. Nós ainda podemos mobilizar o Congresso. Teremos um

mecanismo forte. Está aqui o Presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária. A

agricultura hoje, finalmente, está sendo respeitada no Brasil. Há 10 anos a

agricultura era algo que sequer era levado em conta.

Aqui no Brasil, o Lula fala que há uma marolinha. Por que uma marolinha?

Quem é que dá dinheiro para o Brasil se apresentar ao mundo com reservas de 370

bilhões de dólares — todo ano são 50 bilhões, 60 bilhões de dólares? O

agronegócio. Nós somos os maiores exportadores do mundo! Vejam só: nós somos

os maiores exportadores do mundo de carne de boi, de carne de frango. De suco de

laranja nós representamos 80% da exportação! Também de soja, de milho, de

açúcar, de café ainda somos os maiores exportadores do mundo.

Agora, lá em cima, eles precisam nos ouvir. Por isso vocês sempre ouvem

que a Frente Parlamentar da Agropecuária é a mais forte que existe lá,

merecidamente, porque é quem sustenta o Brasil. É com essa força dessa Frente

Parlamentar que nós vamos fazer o quê?

Agora, eu vou dizer a vocês qual é a nossa concepção. Vejam bem, quando o

Supremo foi julgar a Reserva Raposa Serra do Sol, precisou estudar a Constituição

e dizer o seguinte: “Qual é o regime jurídico dos indígenas no Brasil? O que a

Constituição diz sobre os indígenas no Brasil?” Aí, eles fizeram um esquema e

disseram: “Diz que só tem direito quem estava na área no dia 5 de outubro de 1988.

Diz que só pode ser criada a reserva indígena ouvindo os entes federados. Diz que

não pode ampliar reserva indígena.” Então, fizeram a lista das condicionantes, só

que de novo houve um problema técnico: o Supremo estava julgando a questão

Raposa Serra do Sol, e essas regras que ele extraiu são as regras gerais do

indigenismo no Brasil. Então, quando ele pegou esse esquema de regras, só pegou

algumas que cabiam na Raposa Serra do Sol, as que não cabiam neste caso estão

no limbo.

Houve uma provocação há 4 anos, e eles mandaram retirar todo mundo da

Raposa Serra do Sol. No ano passado, em outubro, o Supremo terminou dizendo

que as condicionantes não tinham aplicação geral. Por que não tinham aplicação

Page 70: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

69

geral? Porque o Supremo não tem poder para impor regras gerais quando está

analisando um caso.

Então, o que nós vamos fazer? Nós vamos apresentar à sociedade as

condicionantes e vamos colocá-las na Constituição. Por que isso? Porque daí nós

vamos ter que ficar ouvindo, como nós estamos ouvindo nas reuniões, como

ouvimos aqui, como ouvimos em Chapecó, que nós estamos fazendo coisas

inconstitucionais. Como assim “inconstitucionais”, se nós estamos colocando na

Constituição o que o Supremo disse? Bastaria que as condicionantes estivessem em

vigor para que tudo isso fosse resolvido, para vocês verem como é triste.

O Deputado Luis Carlos, Presidente da Frente Parlamentar, e o Presidente da

Câmara dos Deputados foram comigo ao Palácio do Planalto falar com a Ministra-

Chefe da Casa Civil, quando estavam pondo em dúvida a aplicação da Portaria nº

303. E o que é a Portaria nº 303? São as condicionantes do Supremo. O Governo

não fez nada. Só pegou o que o Supremo fez e baixou uma portaria, e ainda assim a

suspendeu. Aí, nós fomos lá reclamar. Sabe o que ela disse? “Dois ou três índios

ameaçaram se suicidar no Ministério da Justiça. Isso vai criar um clamor

internacional”. E o Deputado Luis Carlos falou: “O que vocês querem? Que a gente

traga o agricultor ameaçando se matar? Nós vamos trazê-lo aqui para a frente do

Palácio. Parece que essa é a única linguagem que vocês entendem”. “Então tá, nós

vamos suspender a portaria, vamos reativar a área.” Reativaram a área até que

viesse o julgamento de outubro.

Isso foi julgado em outubro. Nós fomos lá conversar, e o Advogado-Geral da

União, Ministro Luís Adams, disse: “Está em vigor”. Hoje, se vocês forem ao

Advogado-Geral da União e perguntarem sobre isso, ele vai dizer: “A portaria está

em vigor”. Está em vigor, mas não existe uma alma neste Governo que a aplique.

Está em vigor abstratamente, hipoteticamente, porque a FUNAI não obedece a ela.

Para concluir, creio que nós queremos resolver isso para que vocês não

sejam injustiçados. Então nós vamos lutar até o último momento que pudermos. E

nós vamos resistir. Nós vamos ensinar a eles uma coisa que é tão comum e tão

simples — eu leciono isso na universidade há mais de 20 anos. É só abrir a

Constituição, e qualquer um entende: o Poder Executivo executa a norma; quem a

faz é o Legislativo, porque ele é o povo, não dá para levar a população de toda

Page 71: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

70

região de Passo Fundo a Brasília para dizer o que quer. Então, como é que o povo

está lá em Brasília? Nós somos o povo lá, traduzindo o que a população brasileira

quer.

O que diz a Constituição? Que o Poder Executivo é submetido ao princípio da

legalidade. Nós que fazemos a lei. Então, o Executivo não pode fazer nada. O

Presidente da República não pode dizer o seguinte: “Ah, eu vou fazer isso”. Ele tem

que pensar: “Onde tem uma lei que diz que eu posso fazer isso?” Se não achar uma

lei que diga que ele pode fazer isso, ele não tem poder. É o Presidente da

República, mas ele não pode fazer. Eu, Osmar Serraglio, posso fazer o que quiser,

desde que não tenha uma lei que me proíba, é diferente. Se não tiver uma lei que

proíba, ele que é médico pode inventar um treco diferente e fazer. Não tem

nenhuma lei que proíba, em genética, não-sei-das-quantas, não tem uma lei que

proíba. O Presidente da República não é quem proíbe. Não tem nenhuma lei que

proíba? Não. A pergunta não é essa. Qual é a lei que permite? Onde está

autorizado?

Aí vem o seguinte: se a FUNAI tem algum poder — está na hora de parar

para pensar nisso —, é porque ele foi criado pelo Congresso Nacional, que pode

extingui-lo. Claro que ninguém quer esse terror, mas juridicamente, se o Congresso

Nacional quiser extinguir a FUNAI, ele a extingui. A FUNAI não tem nenhum poder

se não for conferido por uma lei. Isso nós temos insistido. (Palmas.)

Enfim, eu quero cumprimentá-los por estarem resistindo, persistindo até agora

aqui. Eu sei que o que está lá na alma de vocês é essa aflição. Nesses dias eu ouvi

uma expressão que achei muito importante. Na verdade, vocês estão com um

sofrimento moral, é um terrorismo moral que está sendo imposto a vocês. Vocês não

têm a garantia sequer de imaginar — eu vejo gente mais jovem — que vão poder

prosseguir nas suas terras.

Mas que país é este? Que país é este? Eles estão provocando demais,

demais, e vai chegar a hora... O povo já foi às ruas, e eles perceberam que aquilo

iria se agigantar.

Eu só vou provocar vocês, não vou dizer quem. Eu só vou provocar. Quem

vocês acham que colocou os black blocs para atrapalhar as manifestações

democráticas, legítimas, sadias nas praças e nas ruas? (Manifestação nas galerias.)

Page 72: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

71

Está na hora de a população reagir. Nós temos instrumentos para isso. A

Constituição está aí nos abrindo as portas, e estamos muito próximos. Ajudem a

gente! Nós queremos resolver isso, se Deus quiser, antes das eleições. Eu vou

apresentar, vou atropelar, e nós vamos fazer com que a Comissão cumpra a sua

obrigação muito expeditamente, muito rapidamente.

Depois nós teremos que ir ao plenário, e vocês têm acompanhado o que tem

acontecido conosco. Nós já chegamos a ter em 1 ano, apenas 72 dias para discutir o

que nós quiséssemos, porque no resto nós fomos trancados pelas medidas

provisórias. Se você montar um mapa estratégico, bota uma medida aqui, depois

outra aqui, depois outra aqui e tranca o Congresso Nacional. Nós não podemos

votar quando tiver uma medida provisória trancando a pauta. Vejam a que nível

chegamos!

É triste, mas nós estamos lá para resistir e vamos fazer isso em nome de

vocês, porque vocês merecem. E acreditem: eu tenho uma formação que me faz me

revoltar contra injustiça. E se eu enfrentei, como aqui já se disse, algo muito mais

forte do que isso que vocês estão vendo aqui, se eu tive que enfrentar o poder da

República, colocando aquele que seria o futuro Presidente da República na cadeia,

podem crer que nós vamos brigar por vocês até a última instância, até a última

consequência.

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luis Carlos Heinze) - Vamos bater palmas

para este Relator. (Palmas.)

Pessoal, para arrematar, 2 minutos para encerrar. Primeiro, agradeço ao

Deputado Osmar Serraglio, um Deputado que está em eleição, assim como eu e o

Deputado Perondi. O Deputado Osmar Serraglio saiu ontem às 14 horas de Brasília,

podia estar no Estado dele, teria visitado hoje quatro ou cinco Municípios da base

eleitoral dele, vai pernoitar em Passo Fundo e sair amanhã de manhã — se precisar,

Falcão, estou contando contigo —, para poder vir aqui prestar essa solidariedade a

nós, gaúchos, Perondi, eu, e vocês todos, que estamos dependendo do trabalho

dele e do nosso trabalho.

Portanto, muito obrigado, Osmar, pelo trabalho que está fazendo e pela

quarteada de vir aqui conosco. Quero agradecer ao Paulo de Tarso; agradecer a

Page 73: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

72

Cris, a tua equipe, Paulo, que nos propiciou fazermos este evento; agradecer a

você, Cadinho, que nos ajudou também nesta mobilização, e a vocês que aqui

vieram.

Para nós, foi extremamente importante que pudéssemos fazer esta reunião.

Faz umas duas ou três semanas que estamos trabalhando para fazer esta reunião,

estamos aqui até o fim, mas agradecemos a vocês também, que ficaram até o fim,

respeitando aqueles que, por razões “a” ou “b”, tiveram que se ausentar.

Para acabar, vou responder ao Sidimar e ao Golim, à turma de Sananduva e

Cacique Doble. Vamos, sim, fazer uma proposta concreta, como fizemos no caso lá

de Getúlio Vargas, do Mato Preto. Onde está o Sidney? Nós vamos procurar,

Sidimar, fazer a mesma proposta que você, o Presoto e a turma estão fazendo de

comprar uma área. Depois eu vou conversar contigo para te dar essa resposta.

Vamos arrematar, ouviu, D. Bete?

Muito obrigado, pessoal de Santa Catarina. (Palmas.) É desta forma que nós

vamos nos irmanar com as pessoas de bem deste País, independente de coloração

partidária. Nós temos gente do PT que está sofrendo o que vocês estão sofrendo.

Deputado Geraldo Simões, do PT da Bahia, defendendo os assentados da reforma

agrária. Um, inclusive, foi morto há questão de 1 mês. Aqui não tem partido, aqui

tem pessoas de bem na defesa de um interesse do Brasil.

Torceram as minhas palavras lá em Vicente Dutra. Quando eu falei que tudo

que não presta está aninhado no gabinete do Gilberto Carvalho, não quis dizer que

são os negros que não prestam, que são os índios que não prestam. Quem não

presta é quem comanda esse movimento. E o Procurador aqui falava do

arrendamento, e eu denunciei. Quem sabe se o superintendente não veio aqui hoje,

porque ele está com o Tribunal de Contas aqui na Superintendência? Se já foi

substituído o Procurador, a denúncia foi minha e do Rodney Candeia. Por isso eles

estão tendo que se explicar pelos 33 mil hectares que são arrendados para brancos

aqui no Rio Grande do Sul. E vamos continuar nessa batida até resolver. Não

interessa o tempo que a gente leve para resolver isso.

O desespero dessa gente é o seguinte: vocês viram a pesquisa na semana

passada. Faz mais de 1 mês, 2 meses, Fabiana, que nós sabemos da posição da

Ana Amélia. As pesquisas mostram isso. A nossa parceria, Perondi, PMDB, o Osmar

Page 74: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

73

que é PMDB, vai acontecer no segundo turno. Seja o Sartori, seja a Ana Amélia, nós

vamos estar juntos no segundo turno. E o desespero dessa gente é em função de

que o Tarso está atrás da Ana Amélia. Por isso, torcem as minhas palavras e dizem

que eu falei que tudo que é negro não presta. Estava aqui, não pôde falar, o pessoal

de Restinga Seca, onde vocês assistem no meu site negros me defendendo. Negros

que o Lula desapropriou, três senhoras, três senhores, duas áreas de 1,8 hectare e

uma área maior de 94 hectares, que não era de um alemão e não era de um italiano,

era de um negro, José Adriano, que está depondo em meu favor, porque eu estou

os ajudando, aqueles negros que tomaram a terra deles, Cerro, na área dos

quilombolas, e assim vão fazer nas outras áreas também. É um processo ideológico.

Dr. Cunha, esses quatrocentos e tantos milhões são as terras indígenas, são

as terras dos sem terras, são os Parques Nacionais, são todas essas áreas, mais da

metade do Brasil são terras públicas. Os advogados que estão aqui sabem disso. Se

nós produzimos em 55, 60 milhões de hectares a riqueza do Brasil, tem 78 milhões

de hectares, Antenor e Cadinho, que nós defendíamos desde o tempo dos sem-terra

— os sem-terra que não têm escritura das suas propriedades. Tudo isso é terra do

Estado e eles fazem o que bem entendem. Aqui está o verdadeiro comunismo que

eles estão implantando, o regime que eles querem implantar no nosso País.

E por isso estou me rebelando. Vou falar aqui — está gravado — e em

qualquer lugar, falei em Vicente Dutra, falei em Campo Grande: o Brasil não pode

aceitar passivamente, pacificamente esse estado de coisas! Nós somos brasileiros e

temos que defender este nosso País, até a morte! Assim como o Osmar Serraglio

fez ao enfrentar o poder. (Palmas.)

Vamos fazer isso! Não interessa! Eu sei que é difícil, Benete, fazerem o

enfrentamento que vocês fizeram. Você, em depressão, colegas, sete mortos aqui,

sete mortos no Rio Grande do Sul, em função desse problema. Nós não podemos

aceitar calados essa situação! Vamos enfrentar!

Não resolve porque o Governo não quer resolver, por ideologia. Tem o

Ministério da Justiça contra nós, tem o Ministério da Cultura contra nós, tem o

Ministério do Gilberto Carvalho contra nós, tem a FUNAI contra nós, tem o INCRA

contra nós, tem a Fundação Palmares. São três órgãos do Governo e três

Ministérios. A 6ª Câmara do Ministério Público Federal foi convidada para vir e não

Page 75: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

74

veio. A própria FUNAI foi convidada a vir aqui, e não veio. Por que não vieram? Nós

convidamos.

Eu pedi: “Tragam a brigada, tragam segurança”, porque achei que viriam mil

índios aqui. Não haveria problema, nós iríamos ouvi-los, iríamos estabelecer o

debate, porque nós queremos ajudar os índios. Não são os índios que não prestam.

Os índios que arrendam terra, os índios que querem tomar as terras de vocês, esses

são os que não prestam.

Torcem as palavras pelo desespero de uma campanha eleitoral, porque a Ana

Amélia está na frente. Se fosse quando o Turra tinha 5%, quando o Celso tinha 5%,

ninguém dava bola. A Ana está com quase 40% na pesquisa e o Tarso tem 31%.

Esse é o desespero. Pegam as minhas frases ditas em um momento em que eu

falava aos produtores rurais sobre a questão indígena, assim como falo para vocês

agora, e depois as jogam no ar. Estão fazendo aquilo e muito mais, pelo desespero

que têm.

O Rio Grande é bem maior, e o Brasil muito mais. E nós vamos fazer essa

batida no Brasil inteiro, pela Frente Parlamentar da Agricultura. Homens, Deputados,

como Osmar Serraglio, Darcísio Perondi e tantos outros. Nós faremos a nossa parte

e espero que vocês façam a parte de vocês para defendermos o nosso País no dia 5

de outubro. É ali que temos que dar o troco. Eles não estão preocupados com

vocês. “Sananduva, Getúlio Vargas, Gentil, Marau, qualquer cidade não me

interessa. Isso é corruptela, é pouco voto. Eu me interesso por São Paulo, Porto

Alegre, Belo Horizonte.” É o que eles dizem. Nós vamos mostrar para essa gente

que, a partir do campo, do interior, das pequenas comunidades, vamos derrotá-los

nas urnas, no dia 5 de outubro.

Precisamos de vocês para fazer o enfrentamento. Saiam às ruas, peguem os

votos, façam a parte de vocês que nós estamos fazendo a nossa. O Brasil não

merece o Estado de corrupção.

Quebraram a PETROBRAS, que desde o tempo do Getúlio Vargas era

orgulho do povo brasileiro. Quebraram! Quando Lula assumiu, era uma das dez

maiores empresas do mundo! Sabe qual é a posição da PETROBRAS hoje? Está

em 121º lugar. Estão acabando com Pasadena, com Abreu Lima. E há tantas outras

falcatruas. Está aí o caso do Mais Médicos, Deputado Darcísio Perondi, V.Exa. que

Page 76: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

75

é médico! Já mandaram para Cuba mais de 1 bilhão de reais. São quase 10 mil

médicos, mil ficam para os médicos e 9 mil vão para Cuba. São 90 milhões todos os

meses que mandam para lá. Sabe para quem? Para uma ONG. Será que esse

dinheiro não volta para cá? É claro que volta. Para fazer o quê? Campanha contra

nós. E nós vamos ficar parados?

Quebraram as elétricas! Estava aqui o Benemídio em cima das cooperativas

de eletrificação. Quebraram! O País está sendo enterrado, e vão tomar o que é

nosso.

Eu tenho propriedade e vou defender as minhas terras. Vocês defendam as

terras de vocês. Cada um defenda a sua propriedade. Nós não podemos nos

abaixar para essa gente, temos que fazer o enfrentamento!

Deputado Osmar Serraglio, muito obrigado. Sei que aqui temos um parceiro

que vai até o fim à luta, porque não se dobrou para o José Dirceu.

Eu tenho vergonha do Supremo Tribunal Federal de hoje, porque é mandado.

O negrão, Joaquim Barbosa, fez a posição dele, votou para condenar e condenou,

Dr. Cunha e Dra. Fabiana, e agora o mesmo Supremo está absolvendo para retirar

esses caras da cadeia, Deputado Osmar. Isso é uma vergonha, porque é um

Supremo nomeado pelo ex-Presidente Lula e pela Presidenta Dilma!

Pelo amor de Deus! No Congresso Nacional — foi falado pelo Alceu —,

grande parte dos nossos colegas, Deputado Perondi, se vende por emendas

parlamentares. Muitas vezes, Secretário, não posso ajudar vocês porque eu não

consigo. Agora, isso aqui eu faço e vou continuar defendendo. Não vou me vender

por emenda, por nada. Vou manter as minhas convicções, como defendo esse caso

de vocês, como os transgênicos, como qualquer coisa. Vamos fazer isso. A nossa

parte nós estamos fazendo.

Muito obrigado a vocês que ficaram até essa hora aqui. E vamos seguir na

luta. O Brasil é bem maior e, no Rio Grande do Sul, nós vamos mostrar no dia 5 de

outubro. Ela começou a cair nas pesquisas e vai cair mais, deve até ser trocado de

candidato.

E aqui nós temos o rapaz do PDT, Vieira da Cunha, um belo sujeito; nós

temos o Sartori, um ótimo sujeito; nós temos a Ana Amélia, outra figura; nós temos

Page 77: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul — FARSUL, da Federação dos ... com o apoio da Federação das Associações

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PEC 215-A, de 2000 - Demarcação de Terras Indigenas Número: 0686/14 11/04/2014

76

gente para bater. Em Brasília, Aécio ou Eduardo Campos, votem em qualquer um,

desde que não votem neles.

Muito obrigado. (Palmas.)

(É executado o Hino do Estado do Rio Grande do Sul.)