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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO DA AMAZÔNIA, INTEGRAÇÃO NACIONAL E DESENVOLVIMENTO REGIONALEVENTO: Audiência Pública N°: 0337/10 DATA: 13/04/2010INÍCIO: 14h32min TÉRMINO: 17h31min DURAÇÃO: 02h58minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 02h58min PÁGINAS: 59 QUARTOS: 36
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃOCRISTOPH BERNHARD JASTER – Chefe do Parque Nacional Montanha do Tumucumaque do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade – ICMBio.KELLY BONACH – Chefe do Parque Nacional do Cabo Orange.PAULO JOSÉ DA SILVA RAMOS – Presidente da Comissão de Relações Exteriores da Assembleia Legislativa do Estado do Amapá.MÁRIO LÚCIO ALVES DE ARAÚJO – Comandante da 23ª Brigada de Infantaria de Selva, sediada em Marabá, no Pará, do Ministério da Defesa.LUÍZA LOPES DA SILVA – Chefe da Divisão de Assistência Consular do Ministério das Relações Exteriores.
SUMÁRIO: Debate sobre os conflitos entre brasileiros e franceses na área de fronteira do Brasil com a Guiana Francesa.
OBSERVAÇÕESHouve exibição de imagens.Houve intervenção fora do microfone. Inaudível.Houve exibição de vídeos.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALComissão da Amazônia, Integração Nacional e Desenvolvimento RegionalNúmero: 0337/10 Data: 13/04/2010
O SR. PRESIDENTE (Deputado Marcelo Serafim) - Declaro aberta a presente
reunião de audiência pública, promovida pela Comissão da Amazônia, Integração
Nacional e Desenvolvimento Regional, em atendimento ao Requerimento nº
645/2010, de autoria da Deputada Dalva Figueiredo, para debater os conflitos entre
brasileiros na área de fronteira do Brasil com a Guiana Francesa.
Inicialmente, gostaria de cumprimentar todos os presentes, em especial os
senhores expositores, e convido para compor a Mesa o General de Brigada, Mário
Lúcio Alves de Araújo, Comandante da 23ª Brigada de Infantaria de Selva do
Ministério da Defesa, sediada em Marabá, no Estado do Pará — peço que V.Sa. se
mantenha no local, porque será o terceiro expositor; o Sr. Christoph Bernhard Jaster,
Chefe do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, do Instituto Chico Mendes
de Biodiversidade, e Sra. Kelly Bonach, Chefe Substituta do Parque Nacional do
Cabo Orange, do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade. Convido para compor a
Mesa.
Dando continuidade à presente reunião, informo que a lista de inscrição para
os debates se encontra sobre a mesa. O Parlamentar que desejar interpelar os
expositores deverá se dirigir primeiramente à Mesa e registrar seu nome.
Esclareço aos senhores expositores e aos Srs. Parlamentares que a reunião
está sendo gravada para posterior transcrição e, por isso, solicito que, durante suas
exposições, falem ao microfone. Informo ainda que os convidados não poderão ser
aparteados no decorrer de suas exposições. Somente depois de encerradas as
exposições os Deputados poderão fazer suas interpelações, tendo cada um o prazo
de 3 minutos, e o interpelado igual tempo para responder, facultadas réplicas e
tréplicas pelo mesmo prazo. Os apartes e interpelações deverão ser feitos
estritamente quanto ao assunto objeto da convocação, nos termos regimentais.
Peço ainda aos expositores que assinem a autorização para publicação e
utilização pela Câmara dos Deputados de imagem e voz gravada no decorrer deste
evento.
Dando continuidade à audiência, convido o Sr. Christoph Bernhard Jaster
para fazer uso da palavra por 15 minutos.
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O SR. CHRISTOPH BERNHARD JASTER - Muito boa tarde a todos os
presentes. Agradecemos muito o convite e esperamos poder contribuir para a
audiência pública presente.
Da parte do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, mais
precisamente da parte do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque e também
do Parque Nacional de Cabo Orange, acreditamos que seja muito pertinente a nossa
colaboração aqui para tentar esclarecer alguns detalhes sobre o cotidiano, a
dinâmica da região da fronteira entre Amapá e Guiana Francesa, tendo em vista que
ambos os parques são fronteiriços. Tentaremos prestar alguns esclarecimentos
quanto ao cotidiano de gestão ambiental dessas duas unidades de conservação.
Achamos por bem fazer uma breve apresentação institucional.
(Segue-se exibição de imagens.)
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, o órgão gestor
das unidades de conservação federais do Brasil, foi criado recentemente através da
Lei nº 11.516, de 2007. O ICMBio, que é a sigla, tem apenas 2 anos e meio de
existência é um órgão que está se estruturando, mas que não por isso sua
responsabilidade frente à gestão ambiental neste País é menos importante.
Para falar rapidamente sobre as funções institucionais, a missão do ICMBio é
a execução da Política Nacional de Unidades de Conservação.
Existem algumas outras tarefas, mas vou passar muito rapidamente essa
parte porque queremos focar a conversa mesmo nas unidades de conservação.
Além da Política Nacional de Unidades de Conservação, ele também tem a
função de executar as políticas relativas a uso sustentável dos recursos naturais
renováveis e apoio ao extrativismo das populações tradicionais nas unidades de
conservação de uso sustentável que o Brasil possui.
Alem disso, o ICMBio deve fomentar e executar programas de pesquisa,
proteção, preservação e conservação da biodiversidade e educação ambiental;
exercer o poder de polícia ambiental para proteção das unidades de conservação
instituídas pela União e promover e executar, em articulação com os demais órgãos
e entidades envolvidas, programas recreacionais de uso público e de ecoturismo.
Muito rapidamente, seriam essas as missões institucionais do ICMBio.
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As diferentes categorias de unidades de conservação no Brasil são divididas
em 2 grandes grupos. Primeiro, as de proteção integral, e desse grupo fazem parte
os parques nacionais e também o grupo das unidades de conservação de uso
sustentável. No grupo das de proteção integral, temos um total de 131 unidades — o
mapa não deixa muito claro, mas há uma concentração na região amazônica, em
termos de área principalmente — e 173 unidades de conservação de uso
sustentável.
Existe ainda uma categoria particular de unidade de conservação, chamada
reserva particular do patrimônio natural — RPPNs. Elas são em número de 529 e
ocupam quase meio milhão de hectares no Brasil.
Um total de 78 milhões de hectares é protegido através de unidades de
conservação no Brasil, o que representa aproximadamente 9% do território nacional.
Além das unidades de conservação propriamente ditas, o ICMBio ainda tem a
gestão sobre centros especializados. Poderia citar talvez um dos mais conhecidos,
que seria o que cuida de tartarugas marinhas, o Projeto TAMAR, com base na
Bahia, na Praia do Forte, além de diversos outros centros que aparecem neste
eslaide.
Do ponto de vista da organização da estrutura administrativa, somos divididos
em coordenações regionais. Já para ir direcionando a conversa para o Estado do
Amapá, somos atendidos pela Coordenação Regional 4, CR-4, que tem sua sede
em Belém.
Continuo minha fala apresentando algumas informações sobre o Parque
Nacional Montanhas do Tumucumaque, que está sob a minha responsabilidade
como gestor.
Uma rápida contextualização da unidade de conservação. O Parque Nacional
Montanhas do Tumucumaque é o maior parque nacional do Brasil, uma das maiores
unidades, ou melhor, uma das maiores áreas protegidas de floresta tropical do
mundo. Com uma área de mais de 3,8 milhões de hectares, ocupa mais de 27% da
área do Amapá. Localiza-se na região noroeste do Estado, junto da fronteira da
Guiana Francesa.
Por si próprio, ele já é imenso, e quando observamos a conjuntura desse
quadro percebemos que está inserido num enorme mosaico de áreas protegidas
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entre unidades de conservação federais, estaduais, algumas particulares ou
municipais e terras indígenas. Esse mosaico todo, pelo que nos consta, é o maior do
mundo, com uma área superior a 300 mil quilômetros quadrados.
A extensão geográfica do Tumucumaque, realmente, impressiona. Ele tem
aproximadamente o tamanho do Estado do Rio de Janeiro; uma extensão geográfica
de 360 quilômetros de leste a oeste e de 320 quilômetros de norte a sul. Só o
contorno do parque supera 1.900 quilômetros, e tem uma área de mais de 38 mil
quilômetros quadrados.
Para falar um pouco sobre a gestão, nós nos orientamos nisto: na missão da
Tumucumaque e na visão de futuro. Isso é fruto do nosso planejamento estratégico,
que foi desenvolvido nos últimos 2 anos.
Gostaria de destacar algumas coisas relevantes que aconteceram no dia a dia
da gestão do Parque Tumucumaque, desde o momento em que ele foi criado, no
ano de 2002.
No ano seguinte, nós tivemos a criação da nossa equipe. Em 2005, foi
apresentada uma nova composição de conselho consultivo. Essa foi uma das
prioridades da ação da equipe naquele momento, porque a antiga composição havia
sido julgada inadequada. Então, tivemos a iniciativa de tentar reformular o conselho
consultivo e ele está em funcionamento desde essa data. Nós estamos partindo
agora para a 12ª reunião ordinária.
De 2004 a 2006, nós tivemos a execução de algumas atividades já
relacionadas ao plano de manejo do parque, como a contratação de consultorias e
execução de serviços técnicos. Uma das mais conhecidas atividades foi a realização
de pesquisas científicas para estudos da biodiversidade.
De 2006 a 2008, nós fomos submetidos a um programa de gestão por
resultados, para tentar melhorar a qualidade das nossas ações gerenciais. Em
setembro de 2008, nós tivemos a primeira validação pelo Programa GesPública.
A partir de maio de 2009, nós tivemos uma interlocução bastante estreita com
os órgãos da defesa nacional, em especial o Ministério da Defesa e o Conselho de
Defesa Nacional, no sentido de sintonizar os propósitos de manejo, pelo plano de
manejo do parque, com a Política de Defesa Nacional.
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Essa interação foi bastante rica, foi um aprendizado interessante para nós, e
tudo isso culminou com a recente aprovação do nosso plano de manejo, em março
de 2010, pouco mais de um mês atrás, o que para nós é um marco referencial na
gestão. A partir de agora, nós entramos numa outra fase, uma fase bastante
diferenciada na gestão do Tumucumaque, respaldados pelo plano de manejo que
nós temos.
Aqui são alguns detalhes sobre o plano de manejo. Ele é uma exigência legal
Toda unidade de conservação tem que ter plano de manejo, que se divide numa
fase bastante interessante, que é a fase de diagnóstico. Destacamos aqui porque
todos os estudos que realizamos foram uma real contribuição também para o
conhecimento sobre aquela região, tendo em vista que o Amapá é bastante pobre
em informações de base. Então, nós tivemos que tomar a iniciativa de contratar
várias consultorias, abordar vários assuntos, resgatar alguns dados que haviam
praticamente sido esquecidos. Tudo isso foi compilado para subsidiar a elaboração
do plano de manejo da unidade.
Assim, surgiram informações às vezes inéditas sobre o meio físico, como a
geologia, geomorfologia, hidrologia, solos etc.; sobre meio biológico também,
através dessas 5 expedições científicas. Foi contratada uma consultoria para realizar
um levantamento histórico-cultural, que gerou um relatório belíssimo, que, por si só,
já é uma excelente contribuição ao conhecimento da região e também do meio
socioeconômico.
Nós construímos um SIG em cima de um lote de imagens de radar em alta
resolução que nos foi fornecido pelo SIVAM. Essa também é uma ferramenta
substancial para o auxílio na tomada das decisões quanto à gestão.
Para falar mais especificamente sobre o manejo do parque, um componente
importante no manejo de uma UC é o zoneamento, ou seja, divide-se a área do
Tumucumaque em diferentes zonas de uso, cada uma com um certo nível de
restrição. Para dar um exemplo mais centrado, focado, aqui temos um segmento da
região de fronteira, especificamente na região de Ilha Bela e Vila Brasil, que tenho
certeza de que vão ser abordados em vários aspectos na tarde de hoje, e as
diferentes cores basicamente significam diferentes restrições ou diferentes objetivos
de uso daquelas áreas.
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O nosso plano de manejo cita ao todo 7 programas de manejo. Cito como
exemplo o Programa de Educação Ambiental, que é a visitação do parque,
lembrando aos senhores e às senhoras que a visitação é um objetivo fundamental
de um parque nacional. Ele precisa ser aberto à visitação pública, e estamos em
vias de iniciar o desenvolvimento do nosso plano de uso público. Há ainda o
Programa de Educação Ambiental, o Programa de Proteção e Monitoramento, todas
atividades que fazem parte do dia a dia da gestão da unidade de conservação.
Especificamente na região da fronteira, na faixa de fronteira, temos uma
situação bastante inusitada. O Tumucumaque apresenta um limite, uma fronteira de
670 quilômetros ao todo. A maior parte desse segmento é junto com a Guiana
Francesa, mas também há um segmento de 60 quilômetros com o Suriname. Então,
somos um parque duplamente fronteiriço: não fazemos limite somente com um país,
mas com dois. Isso traz condicionantes bastante interessantes, desafiadoras na
verdade, para a gestão do Tumucumaque, mas enxergamos um grande potencial de
interação entre os países vizinhos, o que pode trazer uma série de frutos
interessantes para nós.
Essa é uma projeção cartográfica da região que nos interessa no dia de hoje.
Os dois pontos destacados são comunidades que se localizam dentro do parque
nacional. A primeira delas, no sentido de quem vem através do rio Oiapoque, é a
localidade de Ilha Bela. Pouco adiante, mais ou menos 10 quilômetros depois,
chegamos à Vila Brasil. Vou tentar caracterizar cada uma mais precisamente,
destacando que são duas realidades completamente distintas, apesar da pouca
distância entre elas.
Estas são algumas imagens da localidade de Ilha Bela. Ilha Bela é uma
corruptela de garimpo. É, por assim dizer, um entreposto de abastecimento do
garimpo, que é substancialmente praticado na Guiana Francesa. Então, existem
estimativas, dizem que há um contingente de aproximadamente 10 mil a 15 mil
garimpeiros brasileiros em terras francesas atuando irregularmente, o que significa,
obviamente, uma situação de conflito com o país vizinho.
Estas imagens são do lado do Parque Nacional Montanhas do
Tumucumaque, ou seja, são também situações de conflito, porque é uma ocupação
irregular.
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Em parceria com as Forças Armadas e as forças policiais, estamos tentando
controlar essa situação, através, principalmente, do desestímulo à ocupação
daquela área, porque os objetivos de Ilha Bela são completamente incompatíveis
com os objetivos do Parque Nacional.
Algumas atividades foram realizadas. A primeira foto mostra a retirada de um
gerador que estava fornecendo energia para a comunidade, que tinha sido instalado,
obviamente, sem licença, sem consentimento da equipe gestora. Até do ponto de
vista fiscal, isso era um problema porque, evidentemente, essa era uma forma
clandestina de comércio de energia.
A outra imagem foi por ocasião de uma operação militar que ocorreu no ano
passado naquela região. Acho que o representante das Forças Armadas, o General
Araújo, vai abordar as operações militares que têm ocorrido naquela região.
O cenário futuro que visualizamos para Ilha Bela é justamente o desestímulo
à ocupação daquela área. Seria extremamente insensato tentar retirar aquela
comunidade à força em pouquíssimo prazo, e não é essa a nossa política, mas
quero deixar claro aqui que a existência de Ilha Bela é um dos principais pontos de
conflito do Parque Tumucumaque.
Um pouquinho mais para frente, chegamos a Vila Brasil, subindo o rio
Oiapoque, e nos defrontamos com uma realidade completamente diferente. Vila
Brasil existe em função do comércio de gêneros de primeira necessidade, com uma
população que fica do outro lado do rio, uma comunidade chamada Camopi, em
terras franco-guianenses.
Vila Brasil tem aproximadamente 200 habitantes; Camopi, 600 habitantes.
Elas são separadas fisicamente pelo rio Oiapoque, mas, na verdade, não é uma
separação, não é uma fronteira, não é um limite; o rio é quase uma praça pública. O
que quero destacar nesse sentido é que há uma franca inter-relação entre Camopi e
Vila Brasil. Pratica-se o comércio, existe essa relação comercial, mas essa relação
se amplia no campo das relações sociais e também culturais.
Vimos algumas imagens. A primeira imagem é a Vila Brasil, quando se chega
na vila. A imagem do canto inferior direito é o destacamento do Exército, que está
instalado lá, que está em fase de ampliação para Pelotão Especial de Fronteira.
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Com isso, provavelmente termos a presença permanente de em torno de 80
militares, mas o General Araújo vai esclarecer melhor.
Uma imagem aérea da vila como um todo.
Esta é uma imagem orbital, bastante didática, que mostra o limite
internacional que, naquele ponto, é apenas formal.
No lado direito, esta península mais pontuda é a Vila Brasil; é o ponto de
aglomeração das habitações da Vila Brasil.
Esta é a pista de pouso, que faz parte do conjunto Camopi, que se estende
praticamente em volta de Vila Brasil. Vila Brasil é apenas esta pequena península
aqui.
Outra coisa que chama a atenção é a qualidade da água, que é bastante
nítida nesta foto.
Aqui a montante, aqui a jusante, ou seja, aqui é rio acima, e o rio corre neste
sentido.
Este é um tributário, chamado rio Camopi. O rio Camopi tem, em suas
cabeceiras, áreas de garimpo, e o garimpo normalmente ocorre através de
desmonte de barrancos. Por isso a água acaba carregando uma quantidade
substancial de material em suspensão, o que acaba interferindo na qualidade de
água rio abaixo. Esse efeito se faz sentir até a cidade de Oiapoque — na verdade,
até a foz do rio Oiapoque. Então, fica claro para nós que o dano ambiental
provocado pela atividade é bastante substancial.
O que quero destacar nesta imagem é justamente até a inserção geográfica
de Vila Brasil neste complexo habitacional, que poderia ser chamado sistema
Camopi-Vila Brasil.
Vislumbramos um potencial para inserir a Vila Brasil nos objetivos de manejo
do parque nacional, especialmente através do programa de uso público.
Identificamos que Vila Brasil tem um bom potencial para trabalhar no sentido do uso
público do parque, da visitação. Isso já ocorre informalmente mas, evidentemente,
como gestores do parque nacional, temos de regularizar essa atividade. Isso faz
parte das nossas obrigações institucionais. Acreditamos que Vila Brasil tem um
potencial bastante interessante para isso. Mas isso somente se justifica se
conseguirmos barrar o crescimento desordenado da Vila.
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Então, tomamos algumas medidas para tentar conter o crescimento através
de um cadastro dos imóveis e dos moradores. Fizemos um plaqueamento de
imóveis, e a norma lá é que não se construa nada novo sem que algo velho seja
removido do local. Ou seja, o objetivo é fazer com que Vila Brasil jamais passe, pelo
menos não neste primeiro momento, de possuir aquelas 96 benfeitorias, como é o
caso hoje.
Sobre a instalação do destacamento do Exército já mencionei.
Quanto ao cenário futuro, acreditamos que é possível manter Vila Brasil sob
essas premissas no sentido de ela se converter a prestar serviços de apoio ao uso
público ou à visitação mas, evidentemente, é necessário obedecer algumas normas.
Essas normas estão sendo definidas através da elaboração de um termo de
compromisso, que está em curso. Estão previstas, neste ano ainda, 4 reuniões com
as comunidades locais no sentido de fazer um termo de compromisso bastante
participativo e democrático e que atenda aos interesses de ambas as partes, a
gestão do parque e as comunidades, a comunidade Vila Brasil.
Em contrapartida, pretendemos oferecer algumas coisas também. Demos o
primeiro passo nessa política na semana retrasada. Começamos a tratar de um
assunto bastante sério, a destinação do lixo, dos resíduos sólidos produzidos pela
população de Vila Brasil.
Queria destacar que o forte da Vila Brasil é o comércio. Existem muitos
pontos de comércio lá, e a população consumidora é a população de Camopi. Isso
só se faz em função da ingestão de recursos por parte do governo francês na
população de Camopi, através de auxílios de diversas naturezas, o que faz com que
aquela população tenha um poder de compra substancial. Existem famílias com
muitos filhos indígenas que recebem de 3 a 4 mil euros por mês. Então, é uma
realidade econômica bastante peculiar, e Vila Brasil surgiu em função dessa
realidade. Costumamos dizer que essa situação se mantém num equilíbrio artificial
que perdura enquanto o governo francês continuar injetando recursos naquela
região.
O mais importante na ótica do parque é que os impactos causados por Vila
Brasil serão reduzidos, porque não se trata de uma população extrativista, de
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agricultores, de pecuaristas ou de madeireiros. Eles são comerciantes e, com isso, o
impacto ambiental é bastante reduzido.
Acreditamos que, em função dessa conjuntura, temos a possibilidade de
inserir Vila Brasil nos objetivos e manejo do parque. Então, vamos tentar resolver a
questão do lixo, do esgoto, da energia, da água potável. São alguns benefícios que
a gestão do parque vai tentar promover naquela localidade, também, obviamente,
tendo em vista o objetivo de manejo da visitação pública.
Temos ainda uma perspectiva interessante da instalação de uma base de
pesquisas científicas lá, em decorrência de acordo que foi assinado entre os
Presidentes Lula e Sarkosy no sentido da criação de um centro franco-brasileiro de
biodiversidade amazônico. Isso quer dizer que o foco desse centro é pesquisa
científica, e nós temos a perspectiva de que seja montada uma base física de
pesquisas científicas na região de Vila Brasil.
Outro ponto a ser destacado é a intensificação da parceria com Camopi e o
Parque Amazônico da Guiana. Acredito que isso seja também talvez mais pertinente
fazer durante o debate, mas só para adiantar para as senhoras e senhores, existe
uma inter-relação bastante estreita entre as duas unidades de conservação, o
Parque Tumucumaque e o Parque Amazônico da Guiana, que é franco-guianense.
Nós definimos uma linha de trabalho, já no ano passado, e estamos tentando
implantar essa linha de trabalho.
Então, basicamente, seria isso. É uma exposição muito rápida. Perdoem a
pressa, mas acredito que esses temas podem ser retomados no debate.
Agradeço a atenção e passo a palavra para a Kelly para falar do Parque
Nacional Cabo Orange.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Dalva Figueiredo) - Muito obrigada pela sua
contribuição.
Boa tarde a todos. Estou substituindo momentaneamente o Presidente, que
foi atender um outro compromisso.
Passo a palavra à Dra. Kelly, que está aqui representando o Instituto Chico
Mendes.
A SRA. KELLY BONACH - Boa tarde a todos. Sou Kelly Bonach, Chefe
Substituta do Parque Nacional do Cabo Orange. Também fazemos fronteira coma
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Guiana Francesa, bem lá onde fica o Cabo Orange, acidente geográfico com o rio
Oiapoque e o mar.
Vou apresentar aos senhores que o nosso parque é marinho também; tem
uma área marinha, tem 200 quilômetros de costa desde o Farol da Ponta de Cabo
Orange até o Município de Calçoene, em Cunani. Temos um ambiente variado.
Somos 619 mil hectares de área.
(Segue-se exibição de imagens.)
Vou apresentar mais para os senhores os programas de cooperação que
temos com a Guiana Francesa.
O Parque Nacional do Cabo Orange, que vai fazer 30 anos este ano; é o mais
antigo do Estado do Amapá. Viemos articulando com a Guiana Francesa desde
2004 projetos de cooperação internacional na área de meio ambiente e
desenvolvimento sustentável. Desde 2004, formatamos 3 programas diferenciados,
cada um com tema diferenciado com a Guiana Francesa, e todos se encontram já
em andamento.
O primeiro programa é o de monitoramento integrado da área estuarina
marina de fronteira, Brasil-Guiana Francesa. Temos uma série de parceiros, como o
Escritório Regional do IBAMA, a Delegacia de Polícia Federal do Oiapoque, o
Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar. Do lado francês, a cooperação é
com a Direção de Assuntos Marítimos, conhecida como Direction Régionale des
Affaires Maritimes, a Marinha Nacional francesa e Maritimes.
Os trabalhos de cooperação que executamos são nessa área, no estuário do rio
Oiapoque, já tomando a área marinha.
É muito importante o Parque Nacional do Cabo Orange , que faz divisa com a
Guiana Francesa. A nossa área marinha começa mais ou menos aqui, por isso é
importante a cooperação e a parceria entre outros órgãos, inclusive o IBAMA,
porque nessa área não é feita fiscalização, mas atuamos com logística, com nosso
barco e com o pessoal técnico, contando sempre com a participação do IBAMA e da
Polícia Federal.
O objetivo desse programa é monitorar e fiscalizar a área estuarina marinha
da fronteira, promovendo um canal permanente de comunicação sobre as
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embarcações, os procedimentos de fiscalização e os ilícitos envolvendo pesca
nessa região.
Esse é o nosso barco regional de fiscalização, o Peixe-boi, mas faz outras
atividades também. Nós temos uma lancha e esse é um barco da Gendarmerie
Maritime. Cada um está dentro do seu limite de atuação. Não passamos para a área
francesa, nem eles passam para a área brasileira, mas toda operação é marcada
antecipadamente por ponto, canal de rádio, para que estejamos na área em tempo
exequível.
A justificativa desse programa é por ser um grande apoio no controle da
pesca ilegal na região, implementando as ações realizadas pelo parque e pelo
escritório do IBAMA de Oiapoque. Contribui para a conservação ambiental da área,
para a segurança e para essa cooperação internacional, o que é muito bacana e tem
ocorrido muito bem.
As ações realizadas até hoje, de 2008 a 2010, foram 7 operações conjuntas
nessa área. Houve trocas de experiências sobre as técnicas e estratégias de
abordagens utilizadas pelos 2 países nessa área de controle de pesca ilegal. O meu
chefe já participou e acompanhou o trabalho deles na Guiana, assim como
representantes da Affairs Maritime acompanharam nosso trabalho no Brasil.
Formamos um canal permanente de comunicação, em que nos comunicamos
semanalmente. Estamos sempre trocando informações sobre os barcos que estão
pescando na área da Guiana e na área do Brasil de interesse da Guiana. Está
havendo um grande apoio nessas ações pela Polícia Federal e Polícia Militar. Um
exemplo desse canal de comunicação e dessa cooperação é a contenção da
violência que é realizada no mar. Esse barco com o nome de Emanuel é conhecido
como G-Mirim na região. Hoje já não existe, mas era um barco violento tanto no lado
brasileiro quanto no lado francês. Através dessa comunicação, desse intercâmbio, a
Polícia Federal conseguiu apreender esse barco e resolver um pouco dessa pressão
de violência na região.
Agora estamos elaborando uma minuta de instrumento de cooperação
internacional regional, chamado de Memorando de Entendimento, que queremos
assinar regionalmente com Affairs Maritime e a Marinha Nacional Francesa, para a
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formação de um canal permanente de comunicação e realização de operações
cooperadas no Rio Oiapoque na zona estuarina.
Queremos fazer reuniões trimestrais, com o comprometimento de buscar
caminhos para facilitar as entradas dos parceiros em ambos os países. Temos
grande dificuldade do lado brasileiro. Moramos na área de fronteira, e eu,
particularmente, moro em Oiapoque, mas não podemos atravessar a fronteira muito
facilmente devido aos nossos trâmites burocráticos nacionais, então o ICMbio está
procurando uma forma de viabilizar, com o Ministério do Meio Ambiente, um
procedimento que possa beneficiar pessoas que moram na área de fronteira e que
têm contato constante com nossos companheiros franceses que estão na área.
A previsão de assinatura desse memorando é junho de 2010, durante o
evento da Comissão Mista Transfronteiriça, em Cayenne.
Um segundo programa de cooperação com a Guiana é um projeto de turismo
de base comunitária. Trata-se do projeto de experimentação do turismo de base
comunitária no Parque Nacional do Cabo Orange, dentro de uma rota integrada
Brasil-Guiana Francesa. O projeto é vulgarmente conhecido como Tartaruga
Imbricata, Tortue Imbriquée.
Essa parceria é feita com uma empresa privada da Guiana Francesa. É um
projeto de pesquisa acompanhado pelo Centro de Desenvolvimento Sustentável da
UNB. Nós já começamos as primeiras experimentações agora em 2009.
Esse é um esquema da área de fronteira. Nós temos aqui o rio Oiapoque; o
lado brasileiro e o lado francês são quase simétricos, os rios, a disposição de tudo.
Acreditamos que um projeto de turismo embarcado contribui muito para a presença
de parceiros na área do parque, o que é uma competição com a pesca ilegal, com a
presença de ilícitos na região. Acreditamos que o turismo é um forte parceiro na
proteção do parque, nessa rota integrada.
Essa é a nossa rota e esse é o mapa. Até agora são apenas turistas
franceses, são grupos experimentais de 8 pessoas, é bem pequeno. E por que
turismo francês? Por que estamos mais próximos da França do que do próprio
Brasil, é mais barato e já existe esse fluxo de turistas no Oiapoque.
Temos incentivado a Prefeitura a realizar uma melhor organização desse turismo.
Os turistas saem de Roura, de carro, fazem o trajeto até São Jorge do Oiapoque,
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atravessam para o Oiapoque, vão de carro até Primeiro do Cassiporé, no Brasil; e
aqui descem de caiaque, e o retorno se faz por barco, novamente à Guiana
Francesa, onde existe também um circuito.
A articulação desse programa vem sendo feita desde 2005, com os parceiros
franceses. Alguns comunitários: para saber se eles tinham interesse por esse tipo de
trabalho conosco — são comunitários das vilas do entorno do parque —, eles foram
convidados para ir à Guiana Francesa; então foram representantes, e houve um
processo de discussão antes de iniciar o projeto.
A maior demanda de visitação é de cidadãos franceses, mas o projeto
também é aberto a cidadãos brasileiros. Tudo é experimentação. Estamos
aprendendo a fazer. Ao longo das experimentações, estamos tomando
conhecimento do que é melhor, do que é pior, e vamos tentando adaptar isso com o
tempo. A própria turma da UnB acredita que é possível trazer grupos do Brasil
também para esse tipo de experimentação que estamos fazendo. Então, é um
próximo passo que devemos dar.
Esse turismo seria integrado com as necessidades locais, das comunidades
do entorno do parque, e seria fomentador de melhorias. Seria integrado também
com as necessidades do parque. É um turismo integrado à vida do parque e à vida
da comunidade. E nós temos uma condição privilegiada no cenário de turismo
internacional, porque o nosso parque é muito próximo de São Jorge, que é uma área
de entrada do turista francês. Então, é como se fosse uma porta, um portal, no
contexto das unidades de conservação, para o turismo europeu.
O projeto visa a uma experimentação de 2 anos. Um barco francês conduz
esses grupos, com apoio do nosso barco brasileiro — o Peixe-boi, que os senhores
viram na operação de fiscalização anterior. Visitação às comunidades do Primeiro do
Cassiporé, Vila Velha e Cunani, e os custos são divididos entre os parceiros.
Os resultados esperados são: implantar no Cabo Orange um turismo de base
comunitária, alicerçado em bases regionais, dentro dessa filosofia imbricata, ou seja,
as atividades turísticas misturadas com a vida da comunidade, as necessidades das
comunidades e as necessidades do parque. Então, o turismo é baseado nesse
barco regional. Não existem estruturas físicas de hotel, pousada, nada disso. O
barco é pousada, o barco é o refeitório, o barco serve para transporte de pessoas e
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produtos das comunidades — a ideia de futuro —, apoio às escolas e aos postos de
saúde, apoio à pesquisa científica dentro do parque, apoio ao manejo e à proteção
do parque.
Essa é uma série de trocas entre os parceiros. Nós temos o turismo, o parque
nacional, a empresa de turismo e as comunidades. Existe uma troca de
experiências, de objetivos, de ações que podem ser feitas entre os parceiros, e isso
colabora para um equilíbrio de um projeto de turismo alicerçado na troca de
experiências regionais.
Obtivemos alguns resultados preliminares. Realizamos, em outubro de 2008,
a viagem exploratória, apenas para testar o barco francês pela primeira vez. Foi bem
bacana, porque tivemos a primeira percepção de como a comunidade de Vila Velha
do Cassiporé iria reagir. E ficamos bem estimulados pela reação da comunidade,
pela vontade de fazer e de mostrar a vida regional.
Fizemos oficialmente a primeira experimentação em maio de 2009. Tivemos
jantar em residência regional, descida de caiaque com a comunidade do Primeiro do
Cassiporé, alojamento no barco regional.
Café da manhã com a comunidade no barco Peixe-boi, visita ao projeto
Quelônios, no Cabo Orange, a vivência do beneficiamento do cacau.
Vivência do beneficiamento de farinha. Os turistas podem torrar a farinha
junto com os comunitários. A ideia é que eles coloquem a mão na massa mesmo, e
vivam a vida deles ali. Almoço na comunidade, trilha dentro do Parque.
Por último, em novembro, fizemos a segunda experimentação. Veio um grupo
fechado, de 8 pessoas, diretamente da França. Foi bem bacana também. Repetimos
o mesmo roteiro, porque é uma pesquisa científica, precisa ter amostra e
experimentação. Realmente está bem legal: a comunidade está participando bem e
se organizando para isso.
A escola está dentro desse projeto. A escola é uma fomentadora desse tipo
de atividade, tem repassado isso muito bem.
Fizemos uma reunião de avaliação e planejamento, em fevereiro, quando
trouxemos o parceiro francês, as 3 comunidades participantes do projeto, e o
ICMBio — o Ivan é um analista ambiental novo.
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A prefeitura está por dentro do projeto, tem dado apoio, mas ainda não
participa diretamente. Estamos de braços abertos.
Na verdade, trata-se de um projeto pequeno, que começou de forma
experimental. Não tínhamos muitos parceiros, eles estão se agregando agora.
Provavelmente vai ter o SEBRAE, a Secretaria de Meio Ambiente e a Secretaria de
Turismo de Oiapoque. Precisamos articular, para as próximas experimentações, a
participação deles.
Temos outros parceiros. Temos o Centro de Desenvolvimento Sustentável,
também temos o apoio da Embaixada da França, na primeira experimentação.
Já temos relatórios de todas as experimentações, além de monografias. Um
artigo no site do Instituto Socioambiental vai ser publicado agora. Foi feito um
documentário francês, que a empresa de turismo da França produziu. Se alguém
tiver interesse, posso passar por e-mail o site, para que os senhores saibam como o
projeto está tendo andamento.
Temos um terceiro programa, que é o mais antigo de todos: um parque
natural regional da Guiana. Esse parque natural regional é um pouco diferenciado do
nosso, é como se fosse uma APA no Brasil. Temos ações mais no entorno do
Parque Natural Regional. São feitas pesquisas, em que cada um faz do seu lado,
mas há algumas trocas de publicações interessantes.
O objetivo geral do Programa Oiapoque Natureza — OYANA — é promover a
conservação do meio ambiente e dos recursos naturais no Rio Oiapoque, através da
gestão participativa dos 2 parques, levando ao desenvolvimento sustentável do
Parque Natural e do entorno do Cabo Orange.
Esse é um esquema da Guiana Francesa. O parque natural está em cima. Na
parte inferior da Guiana, divisa com o Brasil, a comunidade decide se vai ficar ou
não no parque. Eventualmente, o parque muda de configuração, não tem um mapa
exato, depende da vontade política do local.
Os objetivos são: pesquisa, educação ambiental, políticas públicas, manejo e
proteção da fauna, divulgação da cooperação, desenvolvimento sustentável,
ecoturismo, integração com comunidades e criação de uma reserva da biosfera.
Cada ator ou representante local pode apresentar projetos, que são
analisados pelos 2 parques, e é estudada a viabilidade da ação. Atualmente, o que
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acontece mais é juntarmos os 2 parques e tentarmos fazer o projeto com parceiros
que nós mesmos buscamos.
O programa é de 2006 a 2013 e está integrado ao Programa Operacional
Amazonie, do Parque Natural Regional com a União Europeia. Então, o Fundo
Europeu sustenta esse programa pelo lado francês e não pelo lado brasileiro. Do
lado brasileiro há alguns parceiros, mas há grande dificuldade de realização desses
projetos, pois alguns dependem de recursos e é um pouco complicado
conseguirmos isso muito rápido.
Quais são as atividades para 2010? Na área de pesquisa, há a pesquisa
sobre onça, com monitoramento através de câmeras que vamos instalar,
emprestadas pela Associação Kwata, da Guiana.
Vamos fazer uma pesquisa sobre lontra também, com status populacional no
Parque Nacional do Cabo Orange. Já está sendo feito no lado francês. No entanto,
do lado francês já fizeram, e agora, no lado brasileiro, será feito por uma equipe da
UNIFAP. Serão cruzados os dados, com o empréstimo do material francês.
Quanto à pesquisa do jacaré, pretendemos elaborar um documento de
publicação regional do status populacional desses animais.
A Dracaena guianensis é um lagarto ameaçado na Guiana, e estão sendo
feitas entrevistas do status dele também no Oiapoque.
Na parte de desenvolvimento sustentável, temos um projeto de manejo do
açaí, que ainda está decolando. Provavelmente nosso parceiro, o Instituto Estadual
de Florestas — estamos contatando agora e parece que está tudo certo —, vai
começar os cursos de manejo sustentável do açaí. Temos interesse também de
fazer um projeto de meliponicultura, mas ainda está um pouco lento, e também de
levantamento de recursos pesqueiros da região.
Para a integração com as comunidades locais, realizamos todos os anos a
feira internacional.
Essas são algumas fotos das participações, a Feira de Turismo na Guiana, da
qual participamos. Assinamos um memorando de entendimento, que é um
instrumento local de cooperação internacional. Fotos a bordo do barco, em 2008.
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Agora, mais recentemente, fizemos essas entrevistas sobre o lagarto, a
Dracaena, também utilizando o barco Peixe-Boi para fazer um percurso no Rio
Oiapoque, no entorno do parque.
Essas são as ações que o ICMBio está fazendo na área de fronteira com a
Guiana.
Obrigada a todos.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Dalva Figueiredo) - Muito obrigada.
Convido o Sr. Lúcio Alves de Araújo, Comandante da 23ª Brigada de
Infantaria de Selva, do Ministério da Defesa, sediada em Marabá, e o Deputado
Paulo José da Silva Ramos, Presidente da Comissão de Relações Exteriores da
Assembleia Legislativa do Amapá, para comporem a Mesa.
Inicialmente, gostaria de convidar o Deputado Paulo José da Silva Ramos
para usar a palavra por 10 minutos, extensivos por mais 5.
Registro a presença do Deputado Bala Rocha, que também tem
acompanhado esse tema.
Vamos iniciar com o Deputado Paulo José, já agradecendo a S.Exa. por ter
atendido ao nosso convite. S.Exa. está com a palavra.
O SR. PAULO JOSÉ DA SILVA RAMOS - Boa tarde a todos. Inicio saudando
a companheira oiapoquense, ex-Governadora do meu Estado, Deputada Dalva
Figueiredo, as Sras. e os Srs. Deputados da Comissão e autoridades presentes.
Sra. Presidenta Dalva, enquanto as providências estão sendo tomadas para
que seja exibido um vídeo, digo que ouvi atentamente a Dra. Kelly e o Dr. Christoph,
e gostaria de falar a respeito da realidade no Oiapoque.
Tudo o que foi dito aqui foi muito bem explanado e até nos causou admiração,
dada a preocupação das autoridades vinculadas não apenas ao Instituto Chico
Mendes, mas também a outros institutos. No entanto, o que trago aqui é bem
diferente: é uma realidade triste, é uma realidade que, sobretudo, envolve o ser
humano, o ser humano que está sendo degradado da sua vida, que está perdendo o
direito de trabalhar, está perdendo o direito de viver.
E, neste particular, não temos algo positivo para mostrar a esta seleta plateia.
O que trazemos aqui, em nome de 600 mil habitantes — e faço isso com o aval da
Deputada Dalva Figueiredo e do Deputado Sebastião Bala Rocha, que estão aqui
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presentes —, são fatos que, sem dúvida, não deixarão a representação política
Amapá satisfeita com tudo o que está acontecendo no Estado.
O Amapá tem sido hoje, em sua fronteira, alvo do modus operandis praticado
pela polícia francesa. Para nós, não poderia ser assim em momento algum, visto
que já que se constrói uma ponte que vai ligar o Brasil à França. Gostaríamos que
essa relação fosse profícua. No entanto, prezada Presidenta Dalva Figueiredo, como
é do conhecimento de V.Exa., o Amapá vive hoje uma expectativa muito difícil.
Quando fui convidado para participar desta audiência, baseei-me no tema do
requerimento da eminente Deputada Dalva Figueiredo: “conflitos entre brasileiros e
franceses na área de fronteira”.
Senhoras e senhores, a Dona Anerise pagou com a vida pela forma com que
a polícia francesa agiu contra um cidadão brasileiro. Vai aparecer daqui a pouco o
fato absolutamente provado, visto por todos nós, e sem podermos sequer tomar
qualquer iniciativa para proteger o cidadão brasileiro. Infelizmente, a Anerise pagou
com a vida. O seu cadáver foi exposto e o País todo acompanhou a preocupação
das autoridades brasileiras em relação a tudo que fora feito pela polícia francesa.
Não podemos mais nos curvar diante de tudo que tem acontecido no Amapá,
Deputada Dalva Figueiredo. O Amapá, hoje, muito embora tudo que está
acontecendo, tem sido alvo principalmente por parte da PAF e do Gendarmerie. O
cidadão amapaense principalmente, aquele que quer atravessar o rio e buscar o seu
labor com dignidade, não tem recebido tratamento de forma digna da polícia
francesa.
Temos consciência, sim, de que falta efetivamente o imperativo da legalidade.
No entanto, nosso maior pleito hoje é que o Itamaraty se instale no Amapá para que
possa efetivamente acompanhar e ter a certeza, Ministra Luíza — essa já é uma
promessa do Ministro Patriota —, de que o Amapá terá uma representação do
Itamaraty.
Não podemos mais, não devemos mais esperar que isso tudo aconteça. Eu
vim aqui clamar, pedir para a Comissão da Amazônia acompanhar junto conosco
toda a problemática da crise que vive o Amapá.
Faço aqui faço o destaque, General, da pessoa do Coronel Batista,
companheiro que incansavelmente protegeu o cidadão brasileiro na área de fronteira
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enquanto lá esteve; no entanto, não foi o suficiente. Hoje, são 30 mil brasileiros
clandestinos que lá estão em busca de um trabalho, muito embora em região de
garimpo.
No entanto, está sendo construída uma ponte que poderá se transformar em
um Muro de Berlim. Essa ponte tem de dar a oportunidade para que o brasileiro
possa reforçar a relação que queremos com a França. Esta ponte, por incrível que
pareça, vai trazer um passivo social muito grande não apenas para o Brasil, mas
também para a França, se não houver a preocupação das autoridades brasileiras de
adotar medidas preventivas para que o cidadão, o ser humano, possa atravessar o
Rio Oiapoque na busca de trabalho.
A viagem foi feita por ocasião de várias denúncias de brasileiros que foram
atacados, que tiveram suas vidas ceifadas. Operação da polícia francesa.
Então, vou deixar que as senhoras e senhores assistam ao filme e possam
comprovar tudo aquilo que, calados, estamos vivendo. A partir de hoje, o Amapá tem
que contar com a Comissão da Amazônia.
Quero saudar a Deputada Janete Capiberibe, mãe do Deputado Camilo
Capiberibe, Vice-Presidente da Comissão.
Nossa chegada em Clevelândia.
Essa abordagem é feita pelo Exército brasileiro, que tem sido nosso parceiro,
sobretudo na proteção do cidadão, muito embora houvesse um questionamento a
respeito da maneira como essa abordagem era feita. O Coronel Batista, apesar de
ter deixado o Amapá, tem explicado, principalmente para a população de Oiapoque,
por que o Exército tem de fazer esse tipo de abordagem.
(Exibição de vídeo.)
Sra. Presidenta, temos recebido no Aeroporto de Macapá, às segundas,
quartas e sextas-feiras, em torno de 30 pessoas deportadas da Guiana Francesa.
Todas elas, na sua grande maioria, vêm com malária e não são assistidas no
Aeroporto, nem pelo Ministério da Saúde. Muitas vezes retornam para a Guiana
Francesa na busca daquela atividade que, embora ilegal, já exerciam.
Vou ser muito breve. Queremos que o Itamaraty — há um aceno dessa
brasileira, que tem sido nossa parceira, a Embaixadora Edileuza, juntamente com o
Ministro Celso Amorim — instale no Amapá um escritório regional do Itamaraty.
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A Embaixadora Edileuza, quando participou do I Encontro Internacional
Transfronteiriço, na cidade do Oiapoque, garantiu que tudo faria, e está fazendo,
para que isso aconteça.
É com emoção que estou aqui falando, Deputada Dalva Figueiredo, em nome
de tantos brasileiros que já morreram. Se estou aqui, senhoras e senhores, é porque
vi e vivi, ajudei a carregar cadáveres, pessoas que tiveram suas vidas ceifadas pela
polícia francesa. É uma denúncia grave? É, mas ela passa a ser grave na medida
em que há omissão. Há omissão principalmente por parte daqueles que têm a
responsabilidade de cuidar muito bem do território brasileiro.
Quero hoje fazer um apelo, Deputada Dalva Figueiredo, à Comissão da
Amazônia e de Relações Exteriores desta Casa Legislativa para que visitem o
Oiapoque.
Os programas do Dr. Christoph Bernhard Jaster e da Dra. Kelly Bonack muito
nos motivam a contribuir efetivamente para que eles sejam executados. Eu não os
conhecia. Saio daqui hoje extremamente satisfeito e motivado muito mais ainda para
voltar ao Oiapoque e dizer que existem brasileiros, como V.Sas., que querem pelo
menos minimizar essa questão, que é muito grave.
Falo isso porque vi uma senhora e uma criança, de 6 meses de vida, mortas
por picada de cobra, porque passaram pelo Varador, aquela região que mostrei. Isso
é muito grave. Tenho tudo isso documentado. E quero, nesta oportunidade, fazer um
apelo veemente aos Deputados desta Comissão, às autoridades, ao General de
Brigada Mário Lúcio Alves de Araújo e à Ministra Luiza Lopes da Silva, que já
conhece a problemática, no sentido de que, juntos, possamos dar ao Amapá o que o
Dr. Christoph e a da Dra. Kelly tão bem nos mostraram.
É emocionante. Estou aqui tomado pela emoção porque, pela primeira vez na
história do Amapá, na região da fronteira, deu-se prioridade à crise, ao embate. O
Exército brasileiro está contribuindo conosco lá, promovendo ações positivas. No
entanto, há brasileiros morrendo na região do Suriname, em Albina. Aquilo não é
verdadeiro, houve mais de 26 mortos. Eu estive lá, pessoalmente.
O Deputado Sebastião Bala Rocha também tem sido incansável junto
conosco, é a voz do Congresso Nacional, junto com a Deputada Dalva Figueiredo,
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que nasceu no Oiapoque e tem compromisso com o Amapá. Deputada Janete, a
bancada Federal do meu Estado está preocupada.
Então, quero aproveitar este momento para gritar em nome do povo do
Oiapoque, em nome do povo do Amapá, para que providências sejam tomadas, se
não cadáveres serão vistos novamente boiando no Rio Oiapoque.
Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Dalva Figueiredo) - Muito obrigada,
Deputado Paulo José.
Passo a palavra ao General de Brigada Mário Lúcio Alves de Araújo.
O SR. MÁRIO LÚCIO ALVES DE ARAÚJO - Deputada Dalva Figueiredo,
Ministra Luiza Lopes da Silva, Deputado Paulo José, Sr. Christoph, Sra. Kelly, que já
fizeram uso da palavra, senhoras e senhores, estamos aqui representando o
Ministério da Defesa, que solicitou e determinou a presença de um Oficial General
do Exército para abordar a questão, por ser o Exército o representante prevalente
das Forças Armadas na área em questão.
Eu, pessoalmente, estou muito feliz e digo que é um privilégio estar aqui em
nome do nosso Exército, que pertence a todo o povo brasileiro, e do Ministério da
Defesa, para fazer essa apresentação com o objetivo de mostrar um ponto de vista,
uma visão dessa questão tão sensível na fronteira delimitada pelo Rio Oiapoque.
Nós preparamos uma apresentação com muitas imagens, porque as imagens
por si falam muito. Com isso, cada um pode tirar sua conclusão.
Atualmente, sou o Comandante Interino da 8ª Região Militar, 8ª Divisão de
Exército, o grande comando do Exército sediado em Belém e que enquadra o 34º
Batalhão de Infantaria de Selva, unidade responsável por destacar uma companhia
de fuzileiros, cerca de 200 homens, para localidade de Clevelândia do Norte,
exatamente às margens do Rio Oiapoque, local onde a nossa Deputada — quero
fazer uma referência — nasceu, por ser filha de militar. Então, é motivo de orgulho
para todos nós, Deputada, a senhora ter nascido em um local histórico e nós vamos
mostrar o porquê.
Gostaria que todos observassem essa fotografia. São bois deitados,
acomodados em uma balsa. Esse é um boi e aqui é outro boi. Nós estamos
chamando a nossa apresentação de situação atual na fronteira Brasil-Guiana
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Francesa. Vamos seguir esse roteiro. Em que pese o número de itens, a nossa
apresentação será bastante rápida.
Vamos falar da base legal de emprego do Exército na área, uma ambientação
da área, os principais atores que tomam parte nessa fronteira, a presença do
Exército na fronteira, a situação atual e a conclusão.
A base legal de emprego do Exército, de acordo com o art. 2º da Lei
Complementar nº 97, alterada pela Lei Complementar nº 117, de 2004, reza o
seguinte:
“Cabe ao Exército, além de outras ações
pertinentes, como atribuições subsidiárias particulares:
IV - atuar, por meio de ações preventivas e repressivas,
na faixa de fronteira terrestre, contra delitos
transfronteiriços e ambientais, isoladamente ou em
coordenação com outros órgãos do Poder Executivo,
executando, dentre outras, as ações de:
a) patrulhamento;
b) revista de pessoas, de veículos terrestres, de
embarcações e de aeronaves; e
c) prisões em flagrante delito."
A faixa de fronteira, de acordo com a nossa base legal, é de 150 quilômetros.
Esse diploma não está previsto para o Exército fora da faixa de fronteira. Gostaria de
frisar bem esse ponto.
Ainda como base legal, podemos citar o acordo entre o Governo brasileiro e o
Governo francês, cujo nome é: Acordo na Área da Luta Contra a Exploração Ilegal
do Ouro em Zonas Protegidas ou de Interesse Patrimonial. Esse acordo foi criado
para atender à questão em discussão aqui hoje.
As partes se comprometem a implementar as medidas necessárias para
assegurar a prevenção e repressão das seguintes atividades, que destaco: toda a
atividade de extração ilegal em zonas protegidas, que é o nosso caso, em razão do
Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque; toda a atividade de transporte e
detenção, venda ou cessão de mercúrio; toda a atividade de comércio de ouro,
como está escrito no acordo, não transformado sem autorização. Com certeza, a
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nossa Ministra vai poder tratar desse assunto com mais propriedade, mas eu
gostaria de citá-lo como instrumento importante na nossa discussão.
Quero citar também a decisão da Justiça Federal do Amapá, fruto de uma
ação impetrada pela Associação de Moradores da Localidade de Ilha Bela. Destaco,
dentre aspectos apresentados nessa decisão, o seguinte: “A permanência das
Forças Armadas no local, bem como a fiscalização exercida sobre civis na área do
Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, tem como finalidade a proteção da
área de fronteira, por imperativo de soberania nacional, conforme prescreve a
Constituição da República.”
E cita o art. 142 da nossa Constituição, que reza a missão constitucional das
Forças Armadas: “Ademais, é público e notório o exercício da atividade de garimpo
na áreas adjacentes do PNMT, o que requer a fiscalização permanente por parte do
Poder Público. “
Ainda, noutro viés: “Revela salientar que, enquanto não concluído o plano de
manejo das comunidades situadas no referido Parque Nacional, não se pode obstar
a livre locomoção das pessoas ali residentes, em face do que determina o art. 5º da
nossa Constituição. Além disso, é indispensável que os moradores possam
ingressar na referida comunidade portando alimentos e gêneros de primeira
necessidade em quantidade suficiente” — gostaria de fazer um grifo na expressão
quantidade suficiente, que vai ser repetida várias vezes na minha apresentação —
“para sua subsistência e de seus familiares, sem cunho comercial” — o grifo é da
decisão —“, sendo permitido ao Exército aferir tal situação.”
Então, gostaria de ressaltar que isso faz parte de uma sentença judicial.
Ainda, na decisão: “Malgrado não haver nos autos prova inequívoca de que
os moradores de Ilha Bela estão cerceados do seu direito constitucional de ir e vir,
tal fato não impede a concessão da liminar máxime, considerando a possibilidade de
concessão da medida em caráter preventivo”. Depois, vamos comentar o conceito
de ir e vir na área.
“Ante o exposto, defiro, em parte, o pedido de liminar para assegurar a livre
locomoção dos moradores da comunidade de Ilha Bela, podendo ainda ingressarem
na comunidade com alimentos e gêneros de primeira necessidade para a sua
subsistência e a de seus familiares, conforme estabelecido acima.”
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Desculpem-me a leitura, mas julgo muito importante essa decisão judicial
exarada em final do ano passado, fruto de ação impetrada por uma associação de
moradores de Ilha Bela, porque isso dá substância e lógica ao que nós vamos falar
de agora em diante.
Quais são os principais atores envolvidos nessa questão, sob o nosso ponto
de vista? São: habitantes irregulares de Ilha Bela — esse conceito de irregulares se
deve ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, não é conceito
introduzido por tropas do Exército, ao qual não caberia tratar de assuntos desse
nível —, habitantes de Vila Brasil, comerciantes da cidade de Oiapoque, canoeiros e
barqueiros do Rio Oiapoque, habitantes da cidade de Oiapoque, órgãos de
segurança pública federais e estaduais e o Exército brasileiro. Observem que em
Vila Brasil não temos o conceito de irregulares. Esses são os principais atores
nacionais.
Vamos ver os estrangeiros: habitantes da localidade francesa de Camopi,
habitantes da localidade francesa de São Jorge e órgãos de segurança da Guiana
Francesa.
Para que nos situemos em relação ao Brasil, está aqui o Estado do Amapá e
a área a ser tratada. (O orador aponta para o mapa.)
Esse outro mapa já foi mostrado pelo Instituto Chico Mendes. Ele retrata o
Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque. Chamo atenção para a existência,
dentro do parque, que é uma unidade de conservação, das localidades Ilha Bela e
Vila Brasil. Vou fazer uma rápida explanação a respeito.
Aspectos essenciais: primeiro, toda a problemática está abrangida pelo
Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque; há milhares de brasileiros
envolvidos, voltados para a atividade de garimpo, buscando sobrevivência. Eles não
são tratados como criminosos. São brasileiros integrantes das Forças Armadas,
filhos de garimpeiros, soldados, gente da nossa terra que veste a nossa farda, como
os garimpeiros. Só há um pequeno detalhe (terceiro item): há prática de crimes
transfronteiriços e ambientais.
Em cima desses 3 conceitos buscamos a lógica desta apresentação.
Eis uma tomada da região. Aqui estão o Rio Oiapoque, o Cabo Orange, a
cidade do Oiapoque, com cerca de 20 mil habitantes, Clevelândia do Norte, que fica
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próxima ao Oiapoque, e o Rio Siquini, um afluente do Rio Oiapoque. Na foz do Rio
Siquini, no encontro das águas, há um arquipélago conhecido na região como Ilha
Bela. Treze quilômetros rio acima, a montante, temos a localidade de Vila Brasil.
Vejamos cada um desses pontos.
Chamo atenção para a extensão do Parque Nacional, abrangendo as duas
localidades e excluindo as localidades de Oiapoque e Clevelândia.
Eis uma fotografia histórica da instalação da base militar, em 1940 — o
Exército brasileiro não é convidado recente, está lá há 70 anos —. Foi instalada a
base militar com o Pelotão de Fuzileiros Independente do Oiapoque. Vejam aqui a
instalação do Pelotão. Há autoridades civis, todas vestidas de branco, no segundo
plano dessa tomada.
Eis uma tomada aérea da localidade de Clevelândia, onde está a atual base
do Exército. A fotografia é bem atual.
Aqui está o território francês. O limite fronteiriço passa na linha do talvegue,
onde o rio é mais profundo.
Aqui está a base do Exército brasileiro.
Essa outra tomada mostra a localidade de Clevelândia, onde está instalada a
1ª Companhia Especial de Fronteira do 34º Batalhão de Infantaria de Selva, com
base na cidade de Macapá.
Chamo a atenção, nessa fotografia, para o obstáculo conhecido na área como
Grand Roche ou Rochelle — tem vários outros nomes, não é, Deputada —. A
Deputada vê isso com muito carinho. É um lugar maravilhoso. Eu ouvi o Instituto
Chico Mendes falar em ecoturismo, dada a exuberância do lugar. Com certeza há
muito espaço para essa atividade.
Aqui, outra tomada. Estamos girando a aeronave. Agora estamos observado
a Grand Roche ou Rochelle do lado brasileiro. É importante que todos prestem
atenção nesse ponto. O limite fronteiriço passa na linha do talvegue. E onde está o
talvegue? Aqui está. Daqui para o Norte é território francês. Então, o afloramento
rochoso de maior extensão está em território francês. O que sobrou para o território
brasileiro, nesse obstáculo, foi essa pequena faixa, com a linha de talvegue
dividindo. Essa faixa que aqui está. A passagem natural está no território francês,
pelas condições fisiográficas e pela topografia do terreno. A passagem em território
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brasileiro, como disse o Deputado Paulo — ele deve ter apontado o marco, que está
em território brasileiro —, deve ser aqui na margem.
No território brasileiro, temos essa área como patrimônio da União, área
jurisdicionada ao Exército brasileiro.
Essa tomada é de extrema importância para entendermos toda a
problemática. Aqui há um grupamento de soldados do Exército ultrapassando o
obstáculo. Observem a quantidade de soldados para conseguir elevar essa
embarcação de madeira, conhecida na área como Ubá, para vencer as dificuldades
rio acima. Além desse obstáculo, até chegar a Vila Brasil, há mais 4 outros que
trazem grandes dificuldades para a navegação.
Outras tomadas da travessia do obstáculo da Grand Roche.
Agora vamos falar de Vila Brasil. Ela se encontra a exatamente 100
quilômetros da Cidade do Oiapoque.
Em Vila Brasil, como já foi mostrado pelo Sr. Cristoph, temos essa área em
território brasileiro. Aqui é o fluxo da água; jusante e montante; território francês,
território brasileiro.
Vila Brasil é uma localidade espelho, como é normal em todas as fronteiras.
Na fronteira Brasil-Uruguai, onde há uma localidade uruguaia, há uma localidade
brasileira. Isso é normal nas fronteiras, e aqui não é diferente: nós temos a
localidade de Vila Brasil, onde está instalado o destacamento militar, atualmente
com 30 homens do Exército, que tem um projeto, no âmbito do Programa Amazônia
Defendida, para instalar cerca de 80 homens, com campo de pouso, a exemplo do
que acontece na base da Legião Estrangeira de Camopi.
Aqui está também a localidade de Camopi, fundada em 1930, com posto do
Serviço de Proteção do Índio, atual FUNAI. Em 2005 foi feito um recenseamento.
Foram registrados 140 habitantes. Está na unidade de conservação, como já foi
falado. Dentro do plano de manejo do parque, a orientação é que o contingente
populacional seja estabilizado. O Instituto Chico Mendes cadastrou todos os imóveis,
em 2006, e o crescimento foi estabilizado, conforme falado.
Essa é a sede do pelotão do Exército.
Agora uma tomada aérea do Pelotão do Exército, em 2007. Observem as
edificações. Em 2008 já foi aumentando. Vejam em 2009 e a atual situação.
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Vamos falar agora de Ilha Bela. Como disse, está rio abaixo, a 13 quilômetros
de Vila Brasil.
Tomadas de Ilha Bela.
Ocupada no final dos anos 90, sua origem marcadamente se dá em apoio ao
garimpo, atividade ilegal praticada naquela área de conservação — está numa
unidade de conservação, como já dissemos.
A política atual é reduzir a ocupação ilegal dessa área. O Instituto Chico
Mendes cadastrou todos os imóveis, em 2006, então faz acompanhamento cerrado
sobre a evolução da ocupação dessa área.
Outra tomada. Agora queremos destacar as distâncias, a localização da
Grand Roche, o Rio Siquini, que é um acidente geográfico importante para nossa
problemática.
Outras tomadas de Ilha Bela. Observem a ocupação às margens do Rio
Oiapoque. Essa é a margem brasileira.
Chamo a atenção para 3 aspetos: a ação da política francesa, em 2008,
realizando uma operação, com boa capacidade operacional, com muitos recursos.
Houve êxodo dos garimpeiros brasileiros do Rio Siquini na direção do Rio Oiapoque,
e eles se estabeleceram em Ilha Bela. Houve um boom na ocupação de Ilha Bela
após essa operação.
No levantamento realizado em 2008 havia cerca de 2 mil habitantes. Esse é
um dado bastante flutuante, com tendência à diminuição, mas há registro de cerca
de 300 residências e atividade econômica predominantemente de apoio ao garimpo
ilegal, quer seja em território brasileiro, em área de conservação, quer seja em
território francês.
Outra tomada de Ilha Bela.
Resultado da ocupação: inicia-se o processo de derrubada da mata — são
fotos reais, não é montagem.
Outras tomadas.
Aqui chama a atenção a casa. Já começam a melhorar as condições, a casa
é de alvenaria.
Aqui chama a atenção a infraestrutura do garimpo ilegal de Ilha Bela. Há
bujões de gás em quantidade, suprimentos variados, combustível.
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(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)
O SR. MÁRIO LÚCIO ALVES DE ARAÚJO - Aqui dentro, não temos registro
de nenhuma escola.
Aqui nós temos o transporte de animais. São suínos. Essa foto foi mostrada
pelo Sr. Christoph.
Depósito de combustível. Cada contêiner desse consegue armazenar mil
litros. Esses aqui são contêineres de 200 litros. Isso não é para subsistência — acho
que todos concordam com essa ideia.
Aqui, o aparato: equipamento para o trato com o ouro, para a produção de
ouro; estruturas de comércio para atender ao garimpo; restaurantes. (Fonte: Instituto
Chico Mendes, à qual tivemos acesso e acho que vale a pena mostrar).
De outubro de 2007 a novembro de 2008 houve levantamento de: 36 imóveis
novos; 28 imóveis autuados pelo Instituto e desmontados; 14 imóveis abandonados.
Esse período foi marcado por operações militares na área, mas as operações
realizadas pelo Exército em momento algum são feitas de forma individual, somente
com a estrutura do Exército. Temos uma parceria muito grande com o Instituto Chico
Mendes, com a Polícia Federal, com a Receita Federal, com o IBAMA e outros
órgãos de âmbito federal e estadual. O Exército sempre trabalha com parceria.
Aliás, os primeiros momentos em que o Exército se mostrou presente,
tratando dessa questão, foi atendendo ao chamamento desses órgãos, dessas
instituições, que necessitavam do seu apoio logístico, e ao longo desses 2 anos
assim tem sido feito.
Na sexta-feira, eu estava no Oiapoque, realizando a reunião de início da
nossa operação desencadeada na região, concentrando cerca de 500 soldados,
com o apoio da Marinha do Brasil, com o apoio da Força Aérea, mostrando nossa
bandeira brasileira na área e realizando patrulhamentos, conhecendo melhor,
atualizando os dados disponíveis. Como disse o Deputado, estávamos mostrando o
Estado brasileiro na região. Mas, como ele disse também, não adianta mostrar
somente o Exército brasileiro na área; nós precisamos de mais Estado, não é isso,
Deputado? Assim todos nós vamos ganhar.
De novembro de 2008 a maio de 2009, houve essa evolução. Diminuiu-se o
número de imóveis novos. Entre imóveis autuados e desmontados também houve
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uma queda e imóveis abandonados tiveram a tendência de subir de 14 para 24. Isso
quer dizer que as operações de controle realizadas em Clevelândia já começam a
surtir efeito.
Em momento algum foi negado o direito de ir e vir a qualquer brasileiro que
utilizava a nossa área. Depois nós vamos mostrar como atua o Exército nesse ponto
de controle. Fazemos questão de chamar ponto de controle, e não bloqueio, porque
bloqueio dá a ideia de impedimento e controle dá a ideia de passagem seletiva, para
impedir a prática de crimes ambientais e de crimes transfronteiriços, conforme prevê
a nossa base legal de emprego do Exército. Nós não abrimos mão disso. Agora,
existe uma lei, e é obrigação do Exército trabalhar como tal.
Sobre a presença do Exército na região, desde novembro de 2008, numa
operação em cooperação com vários órgãos de segurança pública, chamo a
atenção para que, a partir daquele momento, ficamos na área em caráter
permanente. Inicialmente, nessa fase, visamos o combustível de apoio à atividade
ilegal de garimpo. Ao combustível para a subsistência das pessoas que moravam na
Vila Brasil ou mesmo para o consumo próprio em Ilha Bela, em momento algum
houve impedimento.
A partir de novembro de 2009, iniciamos também o controle sobre gêneros
alimentícios compatíveis com o conceito de subsistência e ações sempre gradativas,
com maciça informação à população local. Em momento algum o Ponto de Controle
do Exército tomou qualquer medida sem informar à população do Oiapoque.
Agora volto à foto de abertura: é a logística do garimpo ilegal. Vou mostrar
outra foto, que é mais extensa. Nessa mesma embarcação não estavam só 2 bois.
Aqui nós temos 5 animais acomodados no fundo de uma embarcação.
Ainda a logística do garimpo ilegal. Observem a quantidade de material. Isso
aqui é material para ser utilizado em mergulhos na atividade garimpeira, material de
apoio à atividade garimpeira.
Ações importantes de outros órgãos: em Ilha Bela, já foi falado aqui pelo
instituto e permito-me passar à frente, chamo a atenção para um gerador de 55
KVA, que foi retirado, em janeiro de 2009, pelo Instituto Chico Mendes.
A presença do Exército não se dá apenas em controle e somente com a sua
presença, para dizer que o Exército está ali na fronteira, mas se dá, historicamente,
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em apoio à nossa população, à população brasileira, que nós temos de tratar com
muito carinho.
Aqui está o trabalho do Exército na região. Aqui nós temos uma oportunidade
em que o Comandante do 34 BIS está realmente informando a população a que se
deve, qual o motivo da existência do controle.
Aqui temos o requinte da logística, já buscando áreas mascaradas para
esconder suprimento. Esta é uma tomada das operações do Exército e de como nós
operamos na calha do rio e nos tributários do Rio Oiapoque.
Apoio da Marinha, a presença da tropa durante as operações.
A Marinha. Tropa embarcada. Apoio da Força Aérea. Logística em aeronaves.
Soldados trabalhando na região. Um soldado realizando o patrulhamento.
Quero chamar a atenção, para finalizar, para o fato de que a população de
Vila Brasil está cadastrada. A entrada de bens de subsistência é baseada num
cadastro.
À População de Ilha Bela o acesso de bens de subsistência sempre foi
assegurado.
Em dezembro de 2009, a Justiça Federal do Amapá pronunciou-se, como
disse anteriormente, sobre a continuidade do controle, frisando o não cerceamento
do direito de ir e vir dos cidadãos — quer dizer, ela enfatizou esse aspecto, que já
era respeitado —, cabendo ao Exército, grifo meu, aferir quantidades — isso consta
da sentença.
Situação atual: prosseguimos no controle. Houve aumento dos atos de
hostilidade dos garimpeiros contra a polícia francesa — esse assunto já foi
anteriormente comentado.
Em março de 2010, tivemos um confronto entre brasileiros e a polícia
francesa. Felizmente, ninguém se feriu. Há um acirramento dos ânimos, motivo de
preocupação para as autoridades brasileiras.
Para concluir, queremos enfatizar um aspecto muito importante. A ação de
controle contra a atividade ilegal se dá apenas contra a atividade garimpeira ilegal.
Os brasileiros, pelo contrário, têm de sentir a presença do Exército como
representante da sociedade brasileira, que visa mostrar que aquele território nos
pertence, pertence ao Brasil, e que estamos ali para ajudar as nossas populações.
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Mas o Exército não pode compactuar com crimes que ocorrem além da fronteira e
com crimes contra o nosso meio ambiente.
Essa é a mensagem que nós deixamos. Quero aproveitar, mais uma vez, a
oportunidade que foi dada ao Exército de vir até aqui, representando o Ministério da
Defesa, para trazer ideias, mostrá-las e complementá-las, para a discussão tão
importante na região — como a Deputada a chama — onde começa o Brasil.
Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTE (Deputada Dalva Figueiredo) - Obrigada, General,
pelas suas informações, pela sua exposição.
Convido para usar a palavra a Sra. Ministra Luíza Lopes da Silva, Chefe da
Divisão de Assistência Consular do Ministério das Relações Exteriores.
Quero registrar, ainda, a presença do Deputado Federal Jurandil Juarez,
nosso Deputado do Amapá.
Muito obrigada.
A SRA. LUÍZA LOPES DA SILVA - Boa tarde a todos.
Deputada Dalva Figueiredo e demais membros da Comissão da Amazônia,
gostaria de agradecer a oportunidade que foi dada à área consular do Itamaraty de
vir prestar a sua contribuição a esse debate. Para nós, o momento não poderia ser
mais adequado.
Gostaria de contextualizar um pouco a questão do conflito entre brasileiros e
franceses na área de fronteira Brasil/Guiana Francesa, tema sobre o qual me foi
solicitado falar. Eu me permito ir um pouco mais além do mero conflito entre
brasileiros e franceses. Pretendo falar um pouco mais das causas estruturais e,
sobretudo, da visão do Itamaraty em relação ao problema e às perspectivas de um
tratamento integrado multidisciplinar.
A situação dos garimpeiros brasileiros na fronteira norte é uma das
prioridades na área consular do Itamaraty. Temos, hoje, a responsabilidade de
cuidar de cerca de 3 milhões de brasileiros que constituem a nossa diáspora no
exterior. Nesse contingente, temos algumas comunidades particularmente
vulneráveis, que são nossa prioridade.
Em relação à enorme comunidade de “brasiguaios” no Paraguai, hoje
estamos fazendo um enorme esforço para regularizar a sua situação migratória.
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Estamos num processo junto com o Governo e as autoridades paraguaias para
regularizar a situação dos brasileiros. Em duas missões itinerantes, nos últimos 4
meses, regularizamos mais de 2 mil brasileiros. É um projeto de médio prazo.
Outra prioridade nossa é a Bolívia. Nós temos tido muito contato com a
bancada do Acre sobre essa questão. Brasileiros residem ilegalmente na faixa de
fronteira, e a Constituição boliviana não permite o assentamento de estrangeiros.
Então, estamos dando atenção muito especial para repatriar aqueles que queiram
retornar ao Brasil, ir para assentamentos, ou transferir para o interior da Bolívia os
que desejarem, mas, de qualquer maneira, saírem da faixa de fronteira.
A nossa outra prioridade são as comunidades de garimpeiros brasileiros nas
Guianas.
Entendo que aqui estamos nos concentrando na Guiana Francesa, mas para
o Itamaraty a situação é extremamente similar entre Guiana Francesa, Suriname,
Guiana e certa região da Venezuela e da Colômbia. Em todos esses casos, temos
uma situação curiosa: o esgotamento de minas no Brasil e o aumento dos controles.
Inclusive foi excelente a exposição do general, porque mostra que, fazendo o nosso
trabalho internamente, podemos exportar o problema para outros países. O
resultado é que essa situação de um maior controle no Brasil exportou uma enorme
comunidade de garimpeiros brasileiros.
Hoje nós temos entre 50 e 60 mil brasileiros residindo nas 3 Guianas. Na
Guiana Francesa, nós calculamos cerca de 20 mil, dos quais cerca de 10 mil
garimpeiros — nós não sabemos, é impossível saber.
Por que esses brasileiros estão lá? Sabemos que a atração do garimpo é
irresistível. Nós tivemos a presença da nossa cônsul em Caiena, na semana
passada, e ela levou uma caixinha de suco. Nós não entendemos por que ela
chegou à reunião com aquela caixinha, mas ela mostrou que, se um garimpeiro
encher essa caixinha, ganha o equivalente a 56 mil reais. Que emprego no Brasil
pode competir com tamanha atração?
Então, em busca desse sonho, temos esses 10 mil brasileiros na Guiana
Francesa e talvez outros 10 mil no Suriname e 5 mil na Guiana. Esses brasileiros
estão conscientes dos riscos, dos danos do mercúrio. Talvez não saibam a extensão
dos delitos migratórios e das violações das leis locais, mas eles têm uma boa ideia
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do que estão fazendo e acham que vale a pena, porque nós, do lado de cá, ainda
não oferecemos alternativas atraentes o bastante para mantê-los aqui.
Gostaria de falar um pouco sobre a diferença dessas comunidades nos 3
países. É muito similar a situação dos brasileiros: vêm de Estados fronteiriços,
atraídos por esse sonho. O que muda é, de fato, a política dos 3 governos. No
Suriname, por exemplo, percebemos uma maior tolerância. No ano passado, o
Suriname regularizou a situação migratória de centenas de brasileiros. Então, deu-
lhes oportunidade. Nos próximos meses, a depender de uma negociação, de um
acordo, poderemos retornar.
Isso, para nós, é prioridade, porque, no momento em que regularizamos a
situação migratória de um brasileiro, ele passa a ter outras alternativas econômicas
fora da clandestinidade, ou seja, ele não está mais limitado a se empregar nas
atividades clandestinas. Ele pode ter um emprego normal, com direitos trabalhistas.
No Suriname e na Guiana, aos poucos, estamos conseguindo isso.
Na Guiana Francesa, há um clima mais repressivo, que reflete a situação de
toda a união europeia. Estamos vivendo uma época de controle, de repressão. Não
há nos países europeus, hoje, a disposição de fazer uma reforma migratória.
Nós temos sempre esperanças. O Itamaraty está sempre explorando essa
oportunidade, mas o fato é que neste momento não há oportunidades. Teremos que
fabricá-las mediante negociações pontuais, essa é a realidade.
Então, dos 3 países — vou chamar assim, embora a Guiana Francesa seja
uma província, um departamento da França —, é na Guiana Francesa onde há
política repressiva mais consistente, em consequência da qual ocorre maior número
de deportações e casos como os que o Deputado Paulo José mencionou. Enfim, é lá
que acontecem mais episódios desse gênero.
Vou falar um pouco sobre o que está por trás disso no governo francês. O
ouro, para o governo francês, segundo nós sabemos, não é prioridade. O governo
francês está muito mais interessado em preservar a floresta, a sua biodiversidade do
que em explorar o ouro. Neste momento, eles não têm intenção de aumentar o
número de concessões para garimpos legais. Com isso, proliferam os garimpos
clandestinos.
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Eu não pude trazer hoje, mas a nossa cônsul em Caiena trouxe um mapa,
que mostra as zonas de garimpo ilegal. Parece um câncer que ataca o território da
Guiana Francesa. Trata-se de uma quantidade enorme de garimpos. A maior parte
dos garimpos está nas mãos de brasileiros. Os garimpos legais estão nas mãos de
franco-guianenses e os clandestinos nas mãos de brasileiros, por falta de
alternativas. Se houvesse possibilidade de brasileiros abrirem garimpos legais, eles
certamente prefeririam, mas não há muitas oportunidades. Isso, em grande medida,
empurra-os para a clandestinidade.
Sendo o garimpo clandestino, não há observância das regras ambientais. Os
garimpeiros simplesmente optam pelas técnicas de baixa tecnologia, como o uso
mercúrio, extremamente danoso ao meio ambiente. Há uma rede de ilícitos
associada ao garimpo clandestino: contrabando de mercúrio, contrabando de
gêneros, prostituição, violência, homicídios. A lei do garimpo clandestino é
extremamente violenta.
O governo francês, como mencionei, é o mais rigoroso. Quanto a esse rigor,
podemos marcar, mais ou menos, o ano 2005, que foi quando eles implementaram o
CESEDA, código de entrada e permanência de estrangeiros. Essa lei prevê a
recondução dos estrangeiros irregulares aos países de origem. Em 2007, essa lei
começou a ser implementada com muito rigor, quando então se registrou um
aparelhamento maciço das forças policiais da Gendarmerie francesa.
É importante que nós aqui sejamos muito abertos. A polícia francesa não
procura quaisquer irregulares. Não. Um brasileiro ou surinamense irregular que
esteja trabalhando na construção civil normalmente não será detido nem deportado.
A polícia francesa concentra todos os esforços no estrangeiro que, além de irregular,
está engajado em uma atividade que por suas leis é ilegal. Todos os esforços da
polícia, da Gendarmerie, estão concentrados nos garimpeiros clandestinos. A eles a
polícia aplica o CESEDA com toda severidade.
O garimpo ilegal viola 14 leis francesas: esse código que mencionei, a
legislação ambiental, o código de minas, o código comercial, o tribunal, o penal,
regulamentos europeus sobre transporte de combustível, de valores, de alimentos,
leis trabalhistas e previdenciárias e de assistência social, além de obrigação de
notificar doenças endêmicas. São 14 leis.
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Mais uma vez, temos de reconhecer que o governo francês não pune o
garimpeiro estrangeiro com toda a força de punição dessas 14 leis. Ele aplica
apenas o código CESEDA.
Na prática, apesar de um garimpeiro brasileiro trabalhar ilegalmente, quando
é identificado, não é preso, não é julgado nem condenado. Na primeira vez em que é
identificado, simplesmente é reconduzido à fronteira. Ele nem sequer tem o nome
registrado em uma lista que o impeça de retornar, de obter um visto — na primeira
recondução.
Na segunda vez em que aquele mesmo estrangeiro é identificado, ele é
novamente reconduzido à fronteira, mas dessa vez o nome dele, sim, é registrado e
um Juiz vai determinar o prazo durante o qual ele não poderá ingressar legalmente
no território francês.
A terceira violação já acarreta prisão seguida de deportação. Da quarta em
diante, vão aumentando os prazos de prisão.
Essa é a situação legal, que não é realmente aplicada. O Governo francês
tem todo esse instrumento jurídico nas mãos, mas a opção deles é simplesmente
por reconduzir. Claro que a recondução é um trauma — arrancam-se os garimpeiros
dos garimpos ilegais e eles são reconduzidos —, mas é importante observar que de
todo esse instrumento eles usam o mais leve, que é simplesmente a recondução.
São relativamente poucos os casos de prisão por esse motivo que temos
registrados. O nosso consulado visita semanalmente as prisões em Caiena e
mantém um controle com muita atenção aos brasileiros que necessitam de alguma
ajuda.
Vou falar um pouco sobre os presos brasileiros. Há uma questão muito
importante que às vezes interfere na assistência consular prestada pelo nosso
consulado. A lei francesa não autoriza visitas a presos que não manifestem vontade
em receber visitas. Aliás, é o mesmo que acontece nos Estados Unidos. Ou seja, se
um brasileiro diz que não quer visita do consulado, nós nem sequer ficaremos
sabendo da detenção dele ou de todo o período que ele cumprir e talvez saibamos
da deportação se nos for pedida a emissão da ARB — Autorização de Retorno ao
Brasil, que é o documento que permite a entrada de um brasileiro no Brasil,
substituindo o passaporte ou a carteira de identidade.
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Então, o que acontece? Muitos brasileiros, quando são presos pela segunda
ou terceira vez, dão nome falso à autoridade francesa, porque, com aquilo, o nome
dele não fica fichado pela segunda, terceira ou quarta vez.
Consequências disso: ele não pode dar o nome verdadeiro — isso vai agravar
a situação dele — e dá o nome falso. Portanto, ele não quer que o consulado
contacte a família. Se o consulado contactar a família, vai ter de saber o nome
verdadeiro dele.
Então, para nós, isso é um impedimento grave à assistência consular, porque
é o brasileiro que não quer. Temos tido muitos problemas com a família, que nos
solicita entrar em contato com o brasileiro. Claro que eles dão o nome verdadeiro,
mas o brasileiro não quer ser reconhecido por aquele nome. Enfim, isso tem sido um
problema sério para nós fazer a ponte entre os brasileiros presos e as famílias. É
uma situação que não conseguimos contornar, porque também não queremos
denunciar o brasileiro, dizendo a verdade: “esse brasileiro aqui é fulano de tal que
está entrando pela segunda ou terceira vez”.
Essa é a situação da repressão aos garimpeiros brasileiros na Guiana
Francesa. Isso tudo nós encaramos como um problema consular. Nosso consulado
está muito atento e acompanha tudo. Mas a verdade é que o Itamaraty vê esse
problema como a ponta de um iceberg. O nosso problema aqui é estrutural, é muito
maior do que saber qual lei o brasileiro está violando, se saiu pela primeira vez ou
pela segunda vez. O problema é muito maior.
Enfim, o problema vem daqui, do nosso território. Nós estamos exportando
para Suriname, Guiana e Guiana Francesa brasileiros que estão dispostos a se
empregar em uma atividade clandestina e ilegal, que traz danos ao ambiente e à
saúde deles e que traz uma rede de crimes conexos, como sabemos, desde
contrabando, prostituição, tráfico de mulheres e vários outros.
Então, o Itamaraty, extrapolando um pouco a sua função — nós de vez em
quando podemos fazer isso —, resolveu pensar em uma política abrangente,
multidisciplinar. E, na semana passada, no dia 8 de abril, o nosso Secretário-Geral,
Embaixador Antonio Patriota, presidiu a nossa primeira reunião multidisciplinar,
convocada por iniciativa da área consular do Itamaraty, para tratar da questão. Nós
trouxemos representantes dos nossos 3 postos: trouxemos o Embaixador em
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Suriname, a Cônsul em Caiena e o Ministro Conselheiro em Georgetown, na
Guiana; convidamos a virem aqui em Brasília representantes dos Governos do
Amapá, Pará e de Roraima; e trouxemos representantes do Ministério do Trabalho e
Emprego, Ministério da Saúde, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome, IBAMA, Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Gabinete de
Segurança Institucional da Presidência, Ministério do Meio Ambiente e outros. Agora
temos um grupo institucionalizado e interministerial para pensar uma política
abrangente.
Sabemos que a ação de assistência consular do Itamaraty é importante, mas
é a ponta do iceberg. A cada brasileiro preso, nós o acompanhamos, visitamos na
prisão, fazemos a ponte com a família, repatriamos, damos verba de desvalimento,
vemos se tem problema de saúde, mas isso realmente não resolve o problema. É
um paliativo importante, obviamente é essencial, mas o problema é muito maior.
Então, nessa reunião, nosso Secretário-Geral estabeleceu as diretrizes para
esse trabalho. Nosso objetivo é elaborar uma política abrangente nas esferas
migratória, trabalhista, de saúde física, psicossocial, de educação ambiental,
comunicação e imagem do Brasil no exterior.
Para o Itamaraty, esse problema transcende a questão meramente
humanitária, que é essencial, claro, pois nos preocupamos com cada um dos
brasileiros que estão lá e podem ser presos a qualquer momento, deportados e
reconduzidos à fronteira. Para nós, além de tudo, há problema na agenda bilateral
com esses 3 países: Guiana, Suriname e França.
Queremos transformar esse problema em uma agenda positiva e mostrar aos
Governos dos 3 países o que o Brasil faz. Nosso objetivo não é acobertar o garimpo
ilegal; nosso objetivo é encontrar alternativas. Por isso, trouxemos os Ministérios do
Trabalho e do Meio Ambiente para definirmos como podemos ajudar essas
populações e fixá-las em atividades úteis que contribuam para a economia,
atividades sustentáveis: agricultura, extrativismo, defesa da floresta, guardiães da
floresta. Há uma série de projetos. Achamos que é responsabilidade do Brasil ter
uma política para as suas comunidades, para que elas não transbordem para o outro
lado e passem a ser um problema do Brasil e desses 3 países.
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Na reunião, discutimos questões de trabalho e emprego. Discutimos muito
uma iniciativa importante do Ministério do Trabalho: a criação da casa do trabalhador
migrante, no Oiapoque — imagino que os senhores já tenham conhecimento da
experiência da casa do trabalhador migrante em Foz do Iguaçu. Propusemos ao
Ministério do Trabalho e vai ser estudada a possibilidade de que essa experiência
seja regionalizada, ou seja, que tenhamos essa casa do trabalhador na fronteira do
Amapá, em Oiapoque; na fronteira com a Guiana, em Bonfim, que faz fronteira com
Lethem; e, como não temos uma fronteira com o Suriname, talvez em Paramaribo;
além de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela.
Além de simplesmente ter as casas do trabalhador migrante, nós discutimos
— e isso vai ser aprofundado em reuniões posteriores — a possibilidade de se
formarem parcerias, porque a casa do trabalhador não seria apenas para falar de
trabalho e emprego, seria para muito mais.
Por exemplo, a Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres já ofereceu
uma parceria para todo um trabalho de acompanhamento das mulheres em situação
de violência, servindo como porta de entrada para encaminhá-las aos centros de
referência e uma série de serviços prestados pela rede atual de apoio às mulheres.
Falamos também em uma série de atividades de apoio com os Ministérios de
Meio Ambiente, Minas e Energia e outros.
Meu tempo já está se encerrando. Eu só vou, rapidamente, mencionar os
subgrupos de trabalho que se formaram dessa iniciativa. Nós formamos um
subgrupo de Trabalho e Emprego, que deverá fazer o inventário de tudo que nós já
temos e, a partir daí, apresentar propostas de linhas de ação, de políticas, visando a
geração de empregos sustentáveis. O outro grupo é de Políticas Sociais, Saúde e
Violência de Gênero. Nós vamos ter participação do Ministério da Saúde e do de
Desenvolvimento Social e da Secretaria de Políticas para as Mulheres. Vamos falar
da saúde na fronteira, de questões de gênero e questões sociais e meio ambiente,
porque nós vamos ter participação do Ministério de Minas e Energia, Meio Ambiente
e IBAMA. Em todos eles, vamos convidar os Governos Estaduais que tenham
interesse transversal em todos esses assuntos. Nós achamos que, a partir daí,
começaremos a delinear uma política, não apenas uma política de ações pontuais,
como nós identificamos que existe hoje, não só pontuais, que não se conhecem. Um
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Ministério tem uma política, outro tem outra ação, mas elas juntas não formam uma
estratégia. Elas juntas não têm uma coerência suficiente para que as comunidades
como um todo se sintam atraídas pelos projetos. Então, nós vamos, a partir de
agora, trabalhar com toda essa parceria. Naturalmente, nós vamos nos reportar a
todos os nossos parceiros aqui do Congresso, da Comissão da Amazônia, da
bancada dos Estados fronteiriços.
Eu encerraria aqui com a palavra de otimismo do nosso Secretário-Geral,
que, pensando grande no problema, viu para o Brasil uma comunidade de 50 mil, 60
mil brasileiros no exterior. É um problema perfeitamente administrável. Nós temos
condições de encontrar alternativas, de delinear políticas. Só o que nós precisamos
é unir os esforços. É isso que o Itamaraty agora está empenhado em fazer.
Muito obrigada.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Dalva Figueiredo) - Muito obrigada pela sua
exposição. Agradeço a sua disponibilidade de sempre em nos atender no Ministério,
no Itamaraty, e também a todos que aqui vieram prestar informações, contribuir com
esse problema com que nós, brasileiros da Região Norte, do Estado do Amapá,
temos nos deparado.
Aqui outros já fizeram referência de que eu sou do Oiapoque, nasci no
Oiapoque, em Clevelândia do Norte. Na exposição do general, eu fiquei vendo o
Camopi. Eu me lembro bem da minha avó e do meu avô falando de quando eles
moravam no Camopi. Ela sempre retrata que, no inverno, eles desciam para o
Oiapoque. Quando as águas baixavam, eles voltavam para o Camopi. Com certeza,
o meu avô trocava mercadoria, levava peixe, que deveria trocar. Minha avó fala que
ele era comissário. Então, esse problema é antigo. O Deputado Paulo José há anos
acompanha os problemas que os brasileiros enfrentam na Guiana também.
Devido aos últimos acontecimentos na relação entre brasileiros ilegais na
área de garimpo e os policiais franceses, o nosso objetivo aqui, de toda a nossa
bancada — cito os Deputados Paulo José, Jurandil Juarez, Janete, Bala, Evandro
Milhomen, Davi Alcolumbre —, é pautar esses problemas junto com algumas ações
que estão previstas para o Oiapoque e que estão travadas.
Em 2002, quando foi criado o Parque Tumucumaque, era período eleitoral. Eu
lembro que eu talvez, de representante política, fosse uma das poucas que
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defendiam a decisão do Fernando Henrique de criar o Parque Tumucumaque. Até
hoje algumas críticas são feitas, por conta das compensações que diziam que o
Amapá poderia ter com a criação do parque: asfaltamento de BRs, projetos de
saneamento, projetos de infraestrutura, saneamento básico, asfaltamento da BR-
156, de norte a sul, e BR-210.
E todos nós, da nossa bancada, ao longo dos anos, claro — sou uma
entusiasta da criação do Instituto Chico Mendes, sou uma daquelas que se
entusiasmam com a Reserva do Cabo Orange —, na medida em que nos
relacionamos e convivemos em todo o Estado do Amapá com os diversos
segmentos, desde os povos indígenas até os extrativistas, temos procurado destinar
recursos ou nos mobilizar junto aos Ministérios para que recursos fossem liberados,
a fim de que pudéssemos combinar a preservação do meio ambiente com o uso
sustentável dos nossos recursos, com o mapeamento de todas as áreas, inclusive
das áreas indígenas.
Este é o melhor momento. E fico muito feliz em ouvir que foi criada essa
comissão multidisciplinar. Por quê? Nós, há pouco, tivemos um conflito envolvendo
as pessoas que utilizam as catraias, aquelas lanchinhas que também chamamos de
voadeiras também.
A ponte está sendo construída. Esse é um dos exemplos, quando se fala que
estamos transferindo o problema para o outro lado. Temos em torno de uns 600
catraieiros cadastrados no Oiapoque, Deputado Bala e Deputado Jurandil?
O SR. PAULO JOSÉ DA SILVA RAMOS - Quatrocentos e oitenta e sete.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Dalva Figueiredo) - Quatrocentos e oitenta
e sete, Deputado Paulo José.
O SR. PAULO JOSÉ DA SILVA RAMOS - Agora, que atuam lá tem esse
número.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Dalva Figueiredo) - E são muitas as
famílias que dependem disso.
Não sou contra a ponte; pelo contrário. Com a ativação da ponte, essa
atividade, que transporta as pessoas, será reduzida. Tenho certeza de que 40% a
60% dessas pessoas, para ser bem trágica, procurarão trabalho no garimpo ilegal ou
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trabalharão na construção civil, na Guiana Francesa, enfim, em qualquer atividade
com que possam sustentar a sua família.
Fico feliz quando vejo que o Instituto Chico Mendes está desenvolvendo
algum projeto — só se precisa ampliar mais isso, pelo Governo do Estado, pelas
prefeituras — em que possamos utilizar os nossos recursos, a nossa cultura, para
que possamos substituir as atividades que existem no Oiapoque. Aí sinto falta dos
povos indígenas.
Quem sabe substituiremos o garimpo ilegal por uma outra atividade
econômica? Agora, para isso, precisamos, com urgência, instalar ou criar o Instituto
Federal de Educação — o que já conseguimos fazer em Laranjal do Jari —,
precisamos ampliar os cursos universitários, levar o linhão, a energia elétrica 24
horas, do Calçoene até o Oiapoque, precisamos concluir o asfaltamento da BR e
precisamos investir.
Na última visita do Presidente Lula, em conversa com o Governador Valdez,
apresentamos um projeto de infraestrutura e de saneamento básico para o
Oiapoque, e me parece que esse projeto empacou. Nós nos mobilizamos, andamos,
mas não conseguimos avançar.
Então, devemos começar a trabalhar para solucionar os problemas que
enfrentamos hoje, sim, desde a fiscalização, general, porque ninguém aqui quer
proteger a atividade ilegal; queremos os brasileiros sendo tratados com respeito.
Acredito na necessidade de um bom diálogo entre a comunidade e o Exército,
entre a população de Clevelândia do Norte e a do Oiapoque, para definir regras. Às
vezes reclamamos que o Estado não está lá, mas na Vila Brasil há posto de saúde,
escola e energia elétrica. Em várias atividades o Estado está presente, seja Governo
Federal, seja Governo municipal.
Christoph disse que nós estamos mapeando para não deixar aumentar a
população. Se eu não estou enganada, o Governo do Amapá vai implantar ensino
médio modular, porque há jovens lá. Automaticamente, essa população vai
aumentar.
A grande preocupação é que possamos aproveitar os conflitos que
aconteceram entre brasileiros e policiais franceses e a fiscalização que o Exército
brasileiro tem por tarefa fazer, pois está previsto constitucionalmente. Eu só
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estranho — e já comentei isso aqui com o general — a definição de critérios. Eu não
quero aqui falar da situação específica de cada uma das atividades.
Se eu morar na Vila Brasil ou na Ilha Bela, para que os catraieiros me levem
até lá, já que, sendo professora, devo ganhar entre 1 mil e 1.500 reais, não poderei
descer a cada 15 dias. Eu venho a cada mês! Eu acho que essa questão deve ser
discutida com a comunidade, porque eu vou viajando no barquinho, levo horas e
horas para chegar até lá, e alguém vai dizer “você não pode passar com 10 quilos
de feijão, você não pode passar com 10 latas de leite”? Essas situações todas, claro,
têm a tarefa de impedir o garimpo ilegal. Algumas atividades comerciais estão
instaladas na Vila Brasil, como farmácia e açougue, porque, senão, as pessoas vão
voltar.
As pessoas vão se multiplicar. As pessoas que moram lá vão se casar. Então,
é meio esquisito. Tem de haver mais diálogo com a comunidade nos envolvendo
diretamente — nós estamos à disposição.
Sei que há acordo em uma Comissão que prevê a fiscalização de garimpo
ilegal, numa parceira entre Brasil e Guiana Francesa, cujo Relator é o Deputado
Bala Rocha. Há algumas ações. Por isso, nós temos que aproveitar este momento
para ouvir os problemas e as dificuldades que o Exército brasileiro, o Instituto Chico
Mendes, o Itamaraty, os outros Ministérios, a Comissão de Amazônia e a Comissão
de Relações Exteriores enfrentam para saber que avanço podemos dar.
Tramita em uma das Comissões da Casa projeto do Senador Sarney, do qual
sou Relatora, sobre um programa de desenvolvimento dos municípios que ficam no
entorno do Tumucumaque por meio do qual se pretende garantir no orçamento
recursos para desenvolver as diversas atividades que há no Oiapoque e no Laranjal
do Jari.
Há algum tempo, o Ministério Público, o IBAMA, o Instituto Chico Mendes e os
pescadores, lá no Cabo Orange, firmaram um termo de ajuste de conduta, um termo
de compromisso, porque os pescadores enfrentavam problemas — eles moram lá.
Criaram-se condições e critérios, porque os barquinhos dos pescadores não tinham
como atravessar o alto-mar. Os grandes chegam a alto-mar e fazem pesca ilegal.
Então, são diversas as atividades.
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O que nós queremos do Amapá? Não é tratar apenas restritamente o
problema do garimpo ilegal. Queremos aproveitar este momento em que está sendo
construída uma ponte e asfaltada a BR para que todos os Estados presentes
naquela região possam avançar e obter investimentos que vão da educação à
segurança.
Eu fico imaginando aqui... Eu sei que há atividade de prostituição. Todos nós
sabemos os problemas que existem lá, como droga na fronteira, esgoto a céu aberto
na cidade do Oiapoque e falta de moradia. Nós queremos a ponte, nós queremos o
progresso, nós queremos o combate à atividade ilegal, mas nós queremos o
investimento.
Então, nós aproveitamos este momento para marcar esta audiência pública.
Com isso, eu quero agradecer a contribuição que os senhores deram a esta
Comissão. Eu, o Deputado Bala e outros Deputados queremos ampliar esse debate
— e o Deputado Bala já está fazendo isso em outra Comissão —, convidar outros
Ministérios para que possamos nos mobilizar. Querermos também chamar a atenção
para esse problema, a fim de que não ocorra o mesmo que ocorreu no Suriname.
Sempre foi pacífica a relação entre brasileiros e franceses. O Oiapoque tem
um potencial enorme, tem o Museu Koahi, que junta todos os povos indígenas.
Então, são atividades econômicas possíveis de fazer, respeitando as populações
indígenas e os povos da floresta; enfim, todos os segmentos ali presentes. Agora, o
que nós precisamos é de investimentos. Foi com esse objetivo que chamamos a
atenção. Nós queremos ir além deste conflito. Talvez, de alguma forma, tenhamos
exagerado em algum momento ou não tenhamos sabido dialogar com a comunidade
e por isso tivemos alguns problemas relacionados ao direito de ir e vir das pessoas.
E quem já está instalado lá há muitos anos, exercendo sua atividade
legalmente? Então, acho que este é um grande momento para podermos superar os
problemas que enfrentamos no Oiapoque.
Não vou fazer nenhuma pergunta. Não havia ninguém na mesa para que eu
pudesse passar a coordenação dos trabalhos.
Passo a palavra ao Deputado Sebastião Bala Rocha. Depois falará para o
Deputado Jurandil Juarez. Aí, então, devolvo a palavra aos convidados, para
fazerem suas conclusões.
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Concedo a palavra o Nobre Deputado Sebastião Bala Rocha.
Preciso registrar minha presença no plenário.
O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA - Agradeço à Deputada
Dalva Figueiredo. Aproveito para cumprimentar todos os nossos ilustres convidados:
o General Araújo, a Ministra Luiza, os representantes do Instituto Chico Mendes e do
Parque do Tumucumaque e o Deputado Paulo José. Parabenizo a Deputada Dalva
Figueiredo pela iniciativa, ela que é oiapoquense da gema, nadou na Gran Roche,
atravessou de um lado para outro do Rio Oiapoque, conhece muito bem, mais do
que todos nós, os conflitos que envolvem a fronteira do Amapá com a Guiana
Francesa.
Há um pequeno vídeo, de um minuto e meio, sobre o conflito de que o
general falou, mas que não foi mostrado na exposição do Deputado Paulo José.
Acho importante abrir com ele, para as pessoas que ouviram o general terem mais
noção do que ele falou a respeito desse conflito.
Está pronto? (Pausa.)
Está carregando. Então, falarei mais um pouco, até ficar pronto.
Eu quero começar, general, fazendo referência à sua fala e destacando duas
situações muito claras. Primeiro, o comportamento do Governo brasileiro, com
relação à crise na fronteira, é muito parecido com o que diz aquela frase notória do
Luís XIV: “O Estado sou eu”. Então, é importante destacar que ali tem gente, que a
ponte, por exemplo, não liga um vazio demográfico a outro vazio demográfico.
Infelizmente, a população cabocla do Oiapoque e a nativa da Guiana Francesa são
excluídas de qualquer debate, de qualquer negociação sobre a sobrevivência deles
no Oiapoque, sobre projetos de interesse no Oiapoque. Raramente. Pode ser que
Instituto CMBio ou outra entidade que trabalhe na área ambiental façam essa
negociação local, ouvindo as pessoas, estabelecendo uma comunicação de alto
nível sobre projetos de interesse da comunidade legal.
O que o Estado brasileiro faz é repressão, junto com o Estado francês. Isso
não basta. Se bastasse a repressão, se bastassem as brilhantes intervenções da
Embaixadora Edileuza e do Itamaraty, que está sempre do nosso lado, defendendo
o interesses do Brasil na fronteira, se bastasse isso, esse conflito não teria
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acontecido. Há ação espetacular, extraordinária do Itamaraty na região, e os
conflitos continuam.
Então, passarei para a segunda parte da minha fala. Sou médico e
acompanhei o caso de um amigo que estava com dor do lado direito do abdome,
recebeu tratamento para vesícula, mas estava mesmo com apendicite supurada.
Que aconteceu com o meu amigo e acontece muitas vezes quando se erra o
diagnóstico? O paciente morre. Foi o que aconteceu com o meu amigo e é o que
está acontecendo com o Oiapoque, porque o diagnóstico está errado. Duvido que o
Governo brasileiro tenha uma pesquisa sequer sobre projetos de desenvolvimento
para o Oiapoque, sobre a satisfação do povo de Oiapoque, sobre o pensamento do
povo do Oiapoque com relação ao Governo, com relação ao Exército, com relação
aos sonhos das pessoas e às prioridades das pessoas no Oiapoque. Tudo é de cima
para baixo. Como eles costumam dizer: tudo é entre Sarkosy e Lula. Quando a
questão foge a Sarkosy e Lula, ou seja, Brasília e Paris, as negociações são feitas
entre Cayenne e Macapá, sempre passando por cima de Saint George de
l‘Oiapoque.
Desse jeito, não haverá condição de chegarmos rapidamente a uma solução
favorável, que permita o fechamento dos garimpos, mas permita também, como
disse a Sra. Deputada Dalva, a geração de empregos, a geração de renda, a
sobrevivência do povo com dignidade, objetivo tão próprio do Presidente Lula, que
luta pelos pobres. Aquela é uma região de pobres, lá há uma legião de pobres. Não
há garimpeiro rico. O garimpeiro, o homem mesmo que vai até lá, que enfrenta pela
madrugadas a mata, a chuva, o sol, com 60 quilos nas costas, não é rico. Não há
ricos lá. O comerciante pode ser rico, o comprador do ouro pode ser rico, mas o
trabalhador que se dirige ao garimpo e fica lá em situação totalmente insalubre não
é rico, é um sonhador, ele é o pobre que o Presidente Lula defende.
Então, o Governo Lula hoje apresenta grande dicotomia, porque trabalha na
região do Oiapoque só com repressão. Há raras exceções, como a ICMBio, o
pensamento voltado para o turismo ecológico, o projeto Casa do Trabalhador
Migrante, do Itamaraty. São coisas boas, mas não estão no estágio em que o
conflito se encontra.
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Apresentarei o vídeo, depois concluirei minha fala, porque não quero tomar
muito tempo.
Passarei o vídeo para que as pessoas tenham real percepção da crise em
que se encontra o Oiapoque. Se não forem tomadas as providências, conforme
tenho dito, no dia 5 de novembro, na inauguração da Ponte do Oiapoque, em vez de
uma festa de comemoração, em vez de aplausos ao Presidente Lula e ao Presidente
Sarkosy, poderemos ter lá grande vexame, com a revolta das populações locais
tanto de Saint George quanto de Oiapoque. Se não forem tomadas as providências,
que não estão só no âmbito do Exército e do Itamaraty, que cumprem seus papeis,
assim como o Instituto Chico Mendes o faz muito bem, mas não basta, a ponte será
aquilo que disse o Sr. Deputado Paulo José: servirá apenas aos ricos, não servirá
aos pobres, que o Presidente Lula tanto defende.
(Exibição de vídeo.)
O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA - O.k. Deputada Dalva, só
para concluir.
Não sei se os senhores observaram, bem no eixo, no outro lado, há um
descampado. É lá a área da ponte. Então, o conflito foi exatamente onde vai ser
construída a ponte. Se tivesse ocorrido uma morte ali, imaginem a marca com a qual
ia nascer a ponte sobre o Rio Oiapoque.
General, somente uma observação sobre sua fala: o acordo Brasil-França
não está valendo. Então, ele não pode ser citado, ainda, como base legal, porque
ele foi assinado em dezembro de 2008, mas eu, ano passado, pedi vista, retirei de
pauta e agora sou Relator do acordo. Então, ele não foi votado na Comissão de
Relações Exteriores, não foi transformado em decreto legislativo. Depois da
Comissão de Relações Exteriores, ele vai à CCJ, vai a Plenário, vai ao Senado, na
forma de decreto legislativo, e somente depois é que ele passa a ter valor legal. Por
enquanto, ele não tem valor legal, porque não foi votado pelo Congresso.
Quanto à questão do Parque do Tumucumaque, realmente é o que a
Deputada Dalva disse.
Pedimos agora o apoio do Exército, do Itamaraty, de todas as entidades no
sentido de que haja compensações para o Oiapoque. Se vão fechar o garimpo,
como foi feito com o Parque do Tumucumaque, quando foram prometidas muitas
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compensações e nenhuma foi cumprida, nós queremos compensações para o
Oiapoque. Nós não queremos só repressão. Não podemos impedir que o Exército
realize a Operação Curare; não podemos impedir que a Gendarmerie realize o que
tem de ser realizado do lado deles, mas nós queremos compensações. Enquanto
não houver compensações, enquanto não chegarmos ao Oiapoque e dissermos que
o Governo brasileiro está reprimindo o garimpo, mas está oferecendo alternativas de
desenvolvimento para a região, não há acordo. Nós não vamos poder votar esse
acordo este ano, general.
O acordo Brasil-França sobre garimpo só vai ser votado depois que
realizarmos uma audiência pública na Comissão de Relações Exteriores — já há um
requerimento, de minha autoria, para isso — e depois que realizarmos um seminário
no Oiapoque, a fim de incluir sua população, porque ela está excluída.
Quero até elogiar o Coronel Alan, porque ele foi, a nosso pedido, ao
Oiapoque conversar como os canoeiros. Esse é um gesto bom do Exército. Mas o
Exército lá já disparou tiros contra embarcações de brasileiros, que tinham, aliás,
obedecido às suas ordens e cujas embarcações tinham sido fiscalizadas por ele.
Isso é um perigo, porque pode haver uma revolta da comunidade contra o Exército
brasileiro. Isso não é bom para nós. O Exército é uma instituição respeitada, uma
das que detém maior credibilidade do povo brasileiro. Nós queremos o Exército do
nosso lado.
Deputada Dalva, perdoe-me, é que vão surgindo as coisas. Não posso deixar
de falar sobre um último ponto, sobre o general ter dito que está garantido às
pessoas o direito de ir e vir à Vila Brasil. Mas as condições lá são sub-humanas. Na
área do Exército, por onde as pessoas passam — o Deputado Paulo José fez a
caminhada —, é como se fosse um trabalho escravo, porque essas pessoas,
mulheres, mulheres grávidas, homens, crianças, têm de passar por ladeiras, por
pedregulhos, no meio da mata de brasileira, com 60 quilos nas costas.
Nós reivindicamos ao Exército brasileiro, ao Ministério da Defesa, que se
estude uma maneira, assim como os franceses. O Exército, general, não passa pelo
lado brasileiro. Quando ele tem de subir lá para a Vila Brasil, passa pelo lado
francês. E por que os brasileiros, que têm as suas embarcações, todos os seus bens
fiscalizados pelo Exército, mediante autorização do Exército, têm de sofrer todas
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essas agruras? Então, nós pedimos ao Exército apoio no sentido de melhorar a
passagem dos brasileiros, porque do jeito que está não foi garantido o direito de ir e
de vir. Deram lá um cantinho para eles passarem, que, infelizmente, fere os direitos
humanos. Como eu disse, é uma espécie de trabalho escravo.
Nós vamos continuar denunciando isso na Secretaria Nacional de Direitos
Humanos, na tribuna da Câmara, na Comissão de Direitos da Câmara dos
Deputados.
Quando formos ao Oiapoque para realizar audiência pública da Comissão de
Relações Exteriores, vamos convidar membros da Comissão de Direitos Humanos
da Câmara dos Deputados, para que observem as condições dos brasileiros lá.
Obrigado, general.
A SR. PRESIDENTA (Deputada Dalva Figueiredo) - Obrigada, Deputado
Bala.
O Deputado Jurandil Juarez estava inscrito, mas acho que ele foi registrar a
presença em Plenário.
Eu vou passar a palavra ao general, lembrando que já extrapolamos nossa
reunião em uma hora. Depois vamos ver de que forma os demais convidados podem
concluir suas exposições.
O SR. MÁRIO LÚCIO ALVES DE ARAÚJO - Primeiramente, eu gostaria de
reforçar, em nossa conversa, em nossa discussão, que nós temos mais pontos em
comum do que divergências.
Quero agradecer à Deputada sua citação sobre o Exército estar cumprindo
sua missão constitucional, cumprindo com sua obrigação, e ao Deputado Bala
Rocha, que disse que o Exército está fazendo a sua parte. Por força legal, teria de
estar fazendo isso mesmo.
Conforme V.Exa. mencionou — citou até a presença do Coronel Alan,
Comandante do 34º Batalhão de Infantaria de Selva, sediado em Macapá —, é
importante o Exército conversar com a população do Oiapoque. O Exército
brasileiro, como sempre dizemos, é o povo brasileiro vestido de farda. Não abrimos
mão desse conceito. Todas as vezes que for necessário uma conversa dos nossos
comandantes, em todos os níveis, com a população vizinha, nós estaremos
dispostos a conversar.
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A Deputada Dalva Figueiredo levantou a questão sobre a quantidade de
víveres autorizados a passar nos pontos de controle. Eu gostaria de dizer que nós
adotamos um critério, apresentado à juíza federal, a qual aquiesceu e reforçou que
caberia ao Exército aferir as quantidades, por ela ter achado razoável.
Deputada, isso não impede que voltemos a conversar com o Coronel Alan,
com a população de Vila Brasil e com a população do Oiapoque. Vamos sentar e
discutir essas quantidades. Nós estaremos, se for coerente, convencidos de mudar
essas quantidades. Conforme V.Exa. disse: cada caso é um caso.
Nós temos nos baseado nos cadastros do Instituto Chico Mendes para a
formulação dessas quantidades; temos nos baseado nas quantidades que o pelotão
de Vila Brasil recebe, mas nós também temos de considerar as especificidades das
populações que vivem rio acima. Não há nenhum problema.
Então, acho que já há aqui um ganho em nossa discussão, que é marcar uma
reunião para discutir as quantidades. Queremos ouvir Vila Brasil, porque ela já está
cadastrada. Não podemos aceitar que pessoas com outras intenções utilizem essa
possibilidade de as quantidades chegarem a Vila Brasil e desviem esses víveres
para apoiar o garimpo ilegal. Com isso não podemos concordar. Mas essa conversa
já está aberta, e reforço a abertura enfatizada aqui por todos.
Com relação à política de Governo para a área, isso extrapola a nossa
competência. Eu gostaria que V.Exa. apresentasse essa questão às autoridades
competentes. Nós não vamos fazer juízo de valor à política de governo adotada para
a área.
Com relação ao acordo citado, entre o Governo brasileiro e o governo
francês, queremos agradecer ao Deputado por nos ter alertado. Isso reforça a nossa
ideia. Nós vimos que realmente está tramitando no Congresso. Ele foi citado aqui
apenas como uma orientação do nosso trabalho. Quero dizer para o senhor que, em
função da nossa maior presença naquela área, na fronteira, isso reforça o conceito
de responsabilidade das autoridades brasileiras na linha de fronteira. Quando as
instituições são respeitadas, o País também é respeitado.
Por outro lado, nós não podemos aceitar a nossa população naquelas
condições, tendo que partir para a alternativa do garimpo como solução para as
suas vidas. Então, nós, brasileiros, temos de buscar soluções para os nossos
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brasileiros. Contudo, em que pese essa intenção, não podemos compactuar com
crimes transfronteiriços ou crimes ambientais. É obrigação do Exército, por força das
nossas leis, escritas pelos Srs. Deputados, cumprir essas leis. É só isso. Como
soldados, cumprimos a lei.
Falei sobre o acordo.
Em relação aos tiros contra embarcação. Nós temos regras de engajamento,
normas de procedimento e condutas rígidas. Em caso de distorções ou desvios de
conduta, todos são apurados. Nós temos um procedimento para apurar essa
conduta e chegar à conclusão do que aconteceu. De maneira informal, a pessoa que
executou os disparos estava sendo cercada, envolvida por outras pessoas, e ela
sentiu a necessidade de realizar disparos. Vamos apurar o que aconteceu, pois as
nossas normas são muito rígidas.
Nós vamos completar 2 anos no mês de novembro. E o senhor está
registrando um incidente. Isso quer dizer que, em função do que ocorre na região,
do trânsito de pessoas na área, relativamente é um grau de pequena incidência. Por
outro lado, nós não abrimos mão de que um desvio de comportamento deixe de ser
apurado. Isso vai ser apurado, porque nós temos orgulho de dizer que nós
cumprimos as leis e as normas.
Com relação à passagem pelas matas, não cabe ao Exército abrir uma
alternativa pela Gran Roche. Como eu disse aqui na minha apresentação, o
afloramento rochoso, por força da natureza e pela lei que define o limite, passando
na linha de talvegue, o afloramento rochoso, que é a passagem natural na área,
ficou do lado francês. Qual foi a alternativa dos brasileiros? Com o bloqueio
realizado pela França — convido a Ministra para comentar isso —, a alternativa dos
brasileiros, que já passaram pelo nosso ponto de controle cerca de 1 quilômetro rio
abaixo, é passar pelo lado brasileiro, que é o lado mais fácil dentre todas as
alternativas. Não podemos entrar em território francês e dizer que os brasileiros
cadastrados têm de passar pela passagem natural.
Mas nós podemos conseguir isso pela via diplomática, conversando, de
maneira que os franceses autorizem a passagem aos brasileiros que já passaram
pelo nosso controle. Quer dizer, ao passar pelo nosso controle, nós julgamos que o
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material que está passando não se destina ao garimpo ilegal. Portanto, é um fato
interessante que nós podemos aperfeiçoar.
Já são duas questões fruto de nossa discussão.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Dalva Figueiredo) - Desculpe-me
interrompê-lo. É por isso que os critérios para definir o que pode e o que não pode,
embora pareçam assim tão pequenos, são importantes. É para que as pessoas
tenham claras e divulgadas as regras, a fim de que não seja o soldado que está na
fiscalização a definir o que pode e o que não pode.
O SR. MÁRIO LÚCIO ALVES DE ARAÚJO - Gostaria de fazer um
comentário, já que eu bati todos os pontos apresentados, sobre a operação. Em
outubro de 2008, a minha brigada saiu de Marabá para participar dessa operação.
Quando eu recebi a ordem de operações do escalão superior, entendi que era uma
operação muito simples para combater o garimpo ilegal. A questão estava em torno
do combustível. Ora, se eu controlar o combustível, de maneira a permitir que a
população que se encontra rio acima receba o seu combustível que não seja para o
garimpo ilegal, está resolvido o problema.
De lá para cá, além de iniciarmos o controle do combustível com essa
operação, nós passamos a fazer ampla divulgação do nosso trabalho. Eu não posso
concordar com essa não existência de comunicação, porque nós sempre
procuramos os representantes das populações do Oiapoque, de Vila Brasil, para
conversar. A alternativa mais adequada e mais barata, com duração de tempo, seria
controlar o combustível, para que a logística do garimpo automaticamente
diminuísse. Isso não está acontecendo como esperávamos. Nós levantamos, então,
várias alternativas. Uma delas é que o combustível está vindo de uma direção outra
que não seja pelo rio. Primeiro ponto. Outra alternativa é o trabalho de formiguinha.
O pessoal desbordando o nosso controle, durante a noite, atravessando na Rochelle
durante a noite, com muita dificuldade e risco, levando o combustível para o garimpo
ilegal. As pessoas cadastradas, que têm autorização pelo Instituto Chico Mendes,
passam de dia, submetem-se ao controle do Exército, e não acontece nada.
Observem que essa situação atual foi uma evolução. Por isso, fazemos
questão de frisar que as medidas que estão sendo tomadas hoje foram fruto de 2
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anos de trabalho. Por força legal, nós vamos continuar realizando o controle, por ser
obrigação legal do Exército.
Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Dalva Figueiredo) - Vou passar a palavra
aos demais convidados. Alerto para o fato de que nós estamos iniciando votação
nominal. Infelizmente, nós nos estendemos bastante.
Com a palavra o Sr. Christoph Bernhard Jaster, por 3 minutos. Eu sei que é
muito pouco, mas não vai faltar oportunidade de retomarmos esse debate importante
para nós.
O SR. CHRISTOPH BERNHARD JASTER - Vou falar rapidamente. É óbvio
que nós sempre vamos expor a situação sob a ótica do Parque Tumucumaque, pois
nós somos gestores da unidade de conservação. Eu concordo inteiramente com a
fala do general no sentido de que precisamos continuar estabelecendo esse
controle, porque a tática é justamente tentar desestimular e estrangular a prática do
garimpo ilegal na região. Essa é a nossa missão institucional como gestores do
Parque Nacional.
O garimpo não é praticado somente do lado da Guiana Francesa. Embora
seja em sua maior escala, existem incidências garimpeiras também no Parque
Tumucumaque — esse problema me atinge diretamente, como gestor do parque.
Nós havíamos identificado o combustível como elemento estratégico número um
sobre o qual poderia ser exercido um controle, de modo que surtissem melhores
resultados.
Mas o garimpeiro é uma raça extremamente esperta, incrivelmente adaptável,
tenaz, tem uma força física e uma persistência fora do comum. Eu declaro aqui a
minha maior admiração por esse segmento social, mas infelizmente eles estão numa
situação de ilegalidade. Cabe a nós tentar reverter essa situação.
Do ponto de vista da gestão do Parque Tumucumaque, nós vamos continuar
na nossa política socioambiental — eu chamaria —, porque a componente social
hoje na gestão do parque é muito forte. Nós estamos preocupados em tentar
estabelecer bons programas de educação ambiental, de uso público, de visitação.
No contexto da Vila Brasil, existe um potencial enorme para que isso seja realizado.
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Destaco ainda que estamos num divisor de águas com a recente aprovação do
Plano de Manejo. Até agora estivemos só embalando. A partir de agora, vamos
começar a deslanchar na implantação de programas específicos, como eu já citei.
Educação ambiental e visitação serão o carro-chefe dessa iniciativa. Temos a
população do Entorno, nessas ideias. Na carência de alguns serviços mais
especializados, buscamos ajuda de outros lugares. Essa política vem-se
reafirmando desde 2003. Acreditamos ser este o caminho certo.
A partir de agora, vamos intensificar nossa atividade no local, especialmente
também em função da construção do termo de compromisso, que é um processo
extremamente interessante.
Convido todos que estiverem interesses nesta matéria a participar de uma ou
outra reunião que promoveremos. No momento apropriado, vamos estender esses
convites formalmente para os senhores.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Dalva Figueiredo) - Dê preferência para as
segundas-feiras e as sextas-feiras.
O SR. CHRISTOPH BERNHARD JASTER - V.Exa. sabe que, para fazer
qualquer evento lá, há a necessidade de se fazer reserva com uma semana. V.Exa.
sabe bem disso.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Dalva Figueiredo) - Gostaríamos muito de
participar, mas terça-feira e quarta-feira é impossível para nós.
O SR. CHRISTOPH BERNHARD JASTER - Entendemos isso. Procuraremos
considerar essas dificuldades. Fazemos questão de dar visibilidade a todas essas
ideias que estamos tentando desenvolver no Tumucumaque.
Acredito que esta inserção do segmento social na gestão ambiental é uma
obrigação de que muito se fala, mas ainda não se verifica na prática. Temos essa
oportunidade de fazer isso acontecer, em função de toda essa conjuntura e toda
essa dinâmica que existe na região de fronteira, ainda mais com a participação
francesa, por meio de termos de cooperação de parceria, formais ou informais, seja
como for. Estamos num cenário extremamente promissor, do ponto de vista da
gestão socioambiental.
Obrigado.
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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Dalva Figueiredo) - Muito Obrigado, Sr.
Christoph, pela sua exposição.
Passo a palavra à Sra. Kelly Bonack.
A SRA. KELLY BONACK - Quero acrescentar alguns pontos em relação a
esses projetos alternativos para tentar fixar o brasileiro na nossa região do Amapá,
na área do Oiapoque, com outras atividades que sejam legais.
Temos batalhado isso, conforme a apresentação que eu fiz sobre o Cabo
Orange. Mesmo que os projetos sejam pequenos e estejam começando,
encontramos uma dificuldade muito grande no âmbito de município. Por exemplo,
estamos recebendo apoio do Ministério da Integração Nacional, no Município, para o
Projeto Faixa de Fronteira. Há recursos do Ministério para projetos de
desenvolvimento sustentável de áreas de fronteira, prevendo exatamente situações
como o garimpo clandestino e a questão de ponte. É uma iniciativa louvável do
Ministério da Integração, mas vou dizer o que está acontecendo na prática: temos
várias ideias de projetos bacanas para trabalhar com a população local. O ICMBio e
o Cabo Orange estão até pactuando alguns projetos com a Guiana Francesa e com
o Parque Natural na questão do turismo, etc., mas somos poucos analistas
ambientais. No Cabo Orange, somos três analistas para 619 mil hectares de área,
com toda a espécie de conflito e de sistema.
Tentamos repassar muita coisa para a Prefeitura: “Vamos fazer o projeto,
vamos tentar fazer o projeto!” Existe uma força local. Até o pessoal da Associação
Comercial do Oiapoque está tentando travar um trabalho com São Jorge para
manejo de lixo e reciclagem. Contudo, o grande gargalho é que não há pessoas
habilitadas e capacitadas para escrever os projetos e executá-los. Portanto, às
vezes, tudo recai sobre nós. Pede-se, muitas vezes: “Vamos fazer os projetos.” Às
vezes não temos mais tempo, não temos analista para ajudar a elaborar e
acompanhar os projetos junto com a população local. Eles me procuraram e dizem:
“Eu sei que vocês estão fazendo isso com a Guiana. Eu tenho esse projeto, vamos
fazê-lo.” Respondo: “É bacana, mas não temos pessoal. Temos apenas três
analistas em todo o parque. Escrever projeto para um município inteiro é difícil.”
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Portanto, há a necessidade de uma política que vise à capacitação para
elaboração e execução de projetos da população local e ao fortalecimento das
associações locais.
Esse projeto de turismo de base comunitária foi aprovado pelo Ministério do
Turismo. Tínhamos um recurso de 150 mil reais para implementar projetos junto com
a população local. Taparabu ia participar, a Colônia de Pesca do Oiapoque estava
envolvida, foi proponente do projeto junto ao Ministério. O que aconteceu no final? A
própria Colônia de Pesca não tinha as documentações necessárias, exigidas pelo
Ministério. E aquela colônia é uma das melhores, mais apropriadas do Oiapoque
para receber projetos neste ano, mas não estava preparada. Tínhamos uma parceria
bacana com a Colônia de Pesca, com o Sr. Júlio. Aquele fato foi triste: perdemos
150 mil reais e perdemos a oportunidade de trabalhar com a colônia.
As associações não estão preparadas para executar os projetos. O Município
não está preparado para elaborar e executar os projetos. E as associações não
estão preparadas para receber.
Precisamos trabalhar muito nesta base local do Município, é nossa
preocupação. O Cabo Orange está cheio de pequenos projetos, os quais os
parceiros poderiam realizar. Poderíamos ser articuladores, e não fazer os projetos.
Os projeto não vão para frente, por conta dessa questão.
Portanto, vimos pedir aos senhores que fortifiquem isso no Município. O
Município é carente, precisa dessas capacitações. É preciso preparar as
associações e fortificá-las.
Quanto aos analistas ambientais, somos poucos. Precisamos de políticas
públicas que nos valorizem. Desculpem-nos falar deste assunto, mas o trabalho é
árduo na fronteira. Viver em Oiapoque — V.Exa. é de lá — é complicado. O lugar é
longe, as estradas são ruins, não temos lazer. Muitas analistas estão em greve, e a
greve ocorre para que busquemos os nossos direitos. Hoje o nosso salário é o mais
baixo da carreira pública federal. Não temos incentivo algum para ficar em áreas
inóspitas, não existe incentivo. Os analistas vêm de longe, largam família, perdem o
contato familiar. Não há incentivo! O que fazem? Depois de dois anos ou três anos,
querem ir embora.
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A pressão é grande. Começamos esses projetos junto com a Guiana
Francesa, com os parceiros, com as comunidades locais, com o Poder Público local.
Mas o que ocorre com a continuidade do projeto? Nem a nossa continuidade na
região é firmada! Ela é muito frágil. Não temos uma política que nos ajude.
Nesse sentido, quero dar apoio aos nossos analistas do instituto que estão
lutando por essa melhoria. Vamos tentar fixar mais o analista ambiental na área de
fronteira, vamos tentar dar a ele oportunidade de desenvolver um trabalho legal e
ficar mais tempo.
Estou lá há 5 anos, entrei em 2005. É difícil ficar! Eu não tenho família. Minha
família são os amigos que estão lá, as famílias com as quais fiz amizade. Mas a
situação é difícil e árdua. Estamos lutando por isso. Portanto, afirmo que um apoio
nesse sentido é interessante.
Obrigada.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Dalva Figueiredo) - Muito obrigada pela
contribuição.
Vou passar a palavra à Ministra Luiza Lopes para sua conclusão.
A SRA. LUIZA LOPES DA SILVA - Como conclusão, eu gostaria de
parabenizar o trabalho da Comissão da Amazônia, na pessoa da Presidenta. Esta é
uma excelente iniciativa.
O nosso grupo interministerial terá uma interface muito importante. Desses
debates com a Fundação Chico Mendes e com alguns Deputados ficou claro que o
desafio, talvez um dos principais, seja encontrar alternativas econômicas viáveis
para as comunidades, alternativas sustentáveis. Essa é uma tarefa de grande
magnitude, que necessita de uma série de parcerias.
Portanto, colocamo-nos à disposição para, talvez em algum momento,
incorporá-los em alguns dos nossos grupos de trabalho, para que relatem tudo que
já existe, para o nosso inventário de projetos.
Era apenas isso que eu tinha a dizer.
Muito obrigada.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Dalva Figueiredo) - Muito obrigada pela
contribuição e pela presença.
Concedo a palavra o Deputado Estadual Paulo José.
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O SR. PAULO JOSÉ DA SILVA RAMOS - Ministra, há dois meses o Governo
do Estado criou a Secretaria Extraordinária de Migração e Assuntos de Fronteira.
Ela não foi instalada. Quero aproveitar a oportunidade para pedir a V.Exa. que, na
sua agenda ou dentro dela, possamos discutir a aplicabilidade dessa secretaria, a
fim de que possa ser inserida nesses programas que foram criados recentemente
pelo Itamaraty.
Quero também agradecer ao Sr. Christoph e à Sra. Kelly e nos colocar
absolutamente à disposição na Assembleia Legislativa do Estado. Faço questão de
que este debate seja levado para lá também, até porque a população precisa ouvi-
los. A contribuição do Instituto Chico Mendes é demasiadamente importante neste
instante por que passa o Amapá.
Parabenizo o General, mais uma vez, pelo trabalho que o Exército está
cumprindo no Amapá.
Parabenizo também a Profa. Dalva Figueiredo pela iniciativa de nos chamar
para prestar contas do nosso trabalho.
Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Dalva Figueiredo) - Muito obrigado,
Deputado.
Antes de concluir a nossa audiência pública, informo que recebi um
manifesto. Não o lerei na íntegra, porque o tempo não o permite e porque a Sra.
Kelly já fez o registro. Vou citar um parágrafo do documento, que é do SINDSEP.
São servidores do Ministério do Meio Ambiente, do IBAMA e do Instituto
Chico Mendes que pedem aos Srs. Parlamentares e às Sras. Parlamentares apoio
para as reivindicações dos servidores com relação à recomposição salarial, à
criação de gratificação de atividade ambiental e à criação do adicional de
qualificação, além da transposição de cargos e do plano especial de cargos e
salários do meio ambiente.
Os servidores solicitam apoio aos Parlamentares junto à Presidência da
República, à Casa Civil e ao Ministério do Planejamento pela aprovação da Proposta
nº 238/2009, do Ministério do Meio Ambiente, solução que busca fortalecer a política
nacional do Meio Ambiente, assegurar a qualidade e a continuidade dos serviços
oferecidos e os bons resultados alcançados na área ambiental.
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Atenciosamente, Comando de Greve do Distrito
Federal.
O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA - Quero dar apenas uma
informação ao General e aos demais palestrantes. Há uma cópia de indicação que
fiz ao Presidente Lula, numa pasta que meu assessor distribuiu, em que há muitas
propostas de diálogo com o Governo, no sentido de encontrar alternativas
econômicas para o Município do Oiapoque. Peço a devida atenção, para que
possam ler e interagir, para discutirmos outras alternativas.
Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Dalva Figueiredo) - Obrigada, Deputado.
Agradeço a valiosa contribuição e os esclarecimentos prestados, a presença
dos colegas Deputados e de todos aqueles que contribuíram para o nosso evento.
Nada mais havendo a tratar, declaro encerrada a presente reunião, antes
convocando todos os membros desta Comissão para participarem de reunião
deliberativa que será realizada amanhã, quarta-feira, dia 14, às 10h, neste plenário.
Muito obrigada.
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