departamento de taquigrafia, revisÃo e redaÇÃo … · pela violência e quem quer impedi-la...

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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REVISÃO DE COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO ESPECIAL - PLP 167/00 - ESTATUTO DA TERRA EVENTO: Audiência Pública N°: 000954/01 DATA: 19/09/2001 INÍCIO: 15h09min TÉRMINO: 15h57min DURAÇÃO: 48min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 50min PÁGINAS: 20 QUARTOS: 10 REVISORES: ZILFA, ELIANA, MARLÚCIA, LUCIENE FLEURY, SILVIA SUPERVISÃO: MÁRCIA CONCATENAÇÃO: MÁRCIA DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO ENILSON SIMÕES DE MOURA — Presidente da Social Democracia Sindical. SUMÁRIO: Avaliação do Projeto de Lei Complementar nº 167, de 2000, sob a ótica da Social Democracia Sindical. OBSERVAÇÕES

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REVISÃO DE COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO ESPECIAL - PLP 167/00 - ESTATUTO DA TERRAEVENTO: Audiência Pública N°: 000954/01 DATA: 19/09/2001INÍCIO: 15h09min TÉRMINO: 15h57min DURAÇÃO: 48minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 50min PÁGINAS: 20 QUARTOS: 10REVISORES: ZILFA, ELIANA, MARLÚCIA, LUCIENE FLEURY, SILVIASUPERVISÃO: MÁRCIACONCATENAÇÃO: MÁRCIA

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃOENILSON SIMÕES DE MOURA — Presidente da Social Democracia Sindical.

SUMÁRIO: Avaliação do Projeto de Lei Complementar nº 167, de 2000, sob a ótica da SocialDemocracia Sindical.

OBSERVAÇÕES

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PLP 167/00 - Estatuto da TerraComissão Especial - PLP 167/00 - Estatuto da TerraNúmero: 000954/01 Data: 19/09/01

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Batata) - Declaro abertos os trabalhos

da 6ª Reunião desta Comissão Especial destinada a apreciar e proferir parecer ao

Projeto de Lei Complementar nº 167, de 2000 — Estatuto da Terra.

Realizaremos hoje audiência pública com os Srs. Enilson Simões de Moura,

Presidente da Social Democracia Sindical, e João Pedro de Moura, Coordenador-

Geral Sindical.

Tendo em vista a distribuição antecipada de cópias da ata da reunião anterior,

consulto o Plenário sobre a necessidade de sua leitura.

O SR. DEPUTADO XICO GRAZIANO - Sr. Presidente, a ata é de

conhecimento dos presentes, pois foi distribuída. Peço, então, a V.Exa. a dispensa

de sua leitura.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Batata) - Dispensada a leitura da ata.

Em discussão.

Não havendo quem queira discuti-la, em votação.

Os Deputados que a aprovam permaneçam como se encontram. (Pausa.)

Aprovada.

Passa-se à Ordem do Dia.

Para melhor andamento dos trabalhos, esclareço que adotaremos os

seguintes critérios: os convidados terão o tempo de trinta minutos para a sua

exposição, não podendo ser aparteados nesse período. Encerradas as exposições,

os Deputados interessados em interpelar os convidados deverão fazê-lo

estritamente sobre o assunto da exposição pelo prazo de três minutos, tendo os

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expositores igual tempo para responder. Serão facultadas a réplica e a tréplica pelo

prazo de três minutos.

Esclareço também que esta reunião está sendo gravada para posterior

transcrição, por isso é importante falar sempre ao microfone e proceder à

identificação.

Os Deputados que desejam participar dos debates deverão se inscrever junto

à Secretaria.

Convido a compor a Mesa o Sr. Enilson Simões de Moura, Presidente da

Social Democracia Sindical.

Esta Comissão tem grande interesse em ouvir a exposição dos

representantes dos diversos órgãos, associações, cooperativas e sindicatos ligados

ao setor. Obviamente cabe à Relatora, Deputada Kátia Abreu, aproveitar o máximo

possível. É nosso desejo que o novo Estatuto da Terra, que tem por base projeto de

lei de autoria do Deputado Xico Graziano, possa efetivamente ter o seu conteúdo

alastrado, para que, depois de mais de trinta anos, esteja realmente de acordo com

aquilo que pensa a sociedade brasileira.

Concedo a palavra ao Sr. Enilson Simões de Moura, Presidente da Social

Democracia Sindical.

O SR. ENILSON SIMÕES DE MOURA - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, senhoras e senhores presentes, hoje pela manhã houve debate na

Comissão do Trabalho, Administração e Serviço Público sobre tema muito

importante para o País: a regulamentação das profissões. Observamos que essa

discussão se dava basicamente em função dos diplomas legais, da legislação que

orienta o mundo do trabalho e que hoje é absolutamente inadequada para a

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realidade que vivemos. A legislação, a lei sindical, o Direito do Trabalho, a Justiça do

Trabalho, que serviu muito bem à ditadura do General Médici e ao Governo

democrático do Presidente João Goulart, não servem mais para a sociedade

brasileira. Fazendo uma leitura desse material e vivendo um pouco disso no

cotidiano da Social Democracia Sindical, podemos ver que aqui também se trata da

mesma situação.

A legislação que orienta as questões agrícolas e fundiárias no nosso País

está incompatível com as exigências do tempo que vivemos e precisa ser modificada

com urgência. Estou certo de que, quanto mais urgência, menos problemas e

traumas vamos viver na ponta, onde se produz o alimento — no campo, na

agricultura.

A Social Democracia Sindical foi fundada há quatro anos. Nesse período, com

a dissidência do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, organizamos o

Movimento dos Agricultores Sem Terra. Não é simplesmente uma questão de

semântica. Basicamente não estávamos de acordo — como também não estavam

de acordo os companheiros que vieram para a SDS organizar o MAST, Movimento

dos Agricultores Sem Terra — que existisse aquele processo de visita às favelas de

São Paulo e aos grandes centros a fim de buscar pessoas para ocupar terras e

invadir fazendas no Pontal, como verificamos em muitas circunstâncias.

Pensamos que na agricultura, como na indústria, no comércio e no serviço

público, as pessoas têm de se especializar, têm de ser do ramo, têm de ser

vocacionadas. Muitos erros foram cometidos no processo de distribuição de terras,

que, muitas vezes, foram entregues a pessoas que efetivamente não sabiam

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trabalhar. Essas pessoas apenas viam a possibilidade de ter um patrimônio. E

sabemos o quanto é importante ter um patrimônio, ter terras.

Criamos o MAST e por isso estamos hoje aqui presentes. Temos, na região

do Pontal, em São Paulo, mais de 800 famílias assentadas. Cerca de 400 famílias

ainda estão debaixo das lonas pretas, à beira da estrada, aguardando o

assentamento.

Na verdade, ficamos com o osso, do ponto de vista do movimento social,

enquanto o MST ficou com o filé. O que possibilitava ganhar o prêmio oferecido pelo

Rei da Noruega e ser premiado na Europa basicamente era o processo de violência

enquanto instrumento para realizar os propósitos da invasão.

Havia violência dos dois lados: dos que queriam fazer a reforma agrária e dos

que queriam impedi-la. Essa política não é boa para o País.

Passamos a buscar uma forma de, pelo menos, tentar trazer alguma

dignidade para aquelas pessoas. Não havia mais sangue. Não havia mais confronto

e embate entre os que queriam e os que não queriam a reforma agrária. Pensamos

que devem ferver na mesma caldeira do inferno quem quer fazer reforma agrária

pela violência e quem quer impedi-la também por meio da violência.

A reforma agrária, no nosso entendimento, é um instrumento da civilização,

da economia de mercado e deve ser tratada nos fóruns civilizados e adequados.

Acreditamos que a situação pode ser resolvida por esses caminhos.

Portanto, chegamos a essa situação em grande parte pela absoluta

inadequação da legislação à realidade, o que ainda hoje patrocina situação que

permanece difícil.

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Por que dissemos que ficamos com o osso? Porque quando se obtinha o

resultado, que era a invasão da fazenda, o INCRA desapropriava e distribuía. Feito

isso, aquele povo ficava ali e recebia todos os benefícios: cesta básica, crédito para

insumos, crédito para equipamentos e outros. Eles ficavam a vida inteira à espera de

que viessem novos recursos. Na verdade, o que se criou em muitas situações no

País foi um lumpesinato rural, um funcionalismo público de terceiro, quarto escalão:

se o Governo der alguma coisa trabalha; se o Governo der a cesta básica faz

alguma coisa. Se não der, não faz.

Certamente os senhores vão fazer audiências públicas em outros Estados e

vão ver casos em que o mato nasce no meio de tratores e equipamentos

abandonados, comprados em algum momento e utilizados numa absoluta

inadequação entre a tecnologia e a terra que se queria trabalhar. Quer dizer, muitos

erros se cometeram, e ainda hoje isso acontece. Como aqui aponta de maneira

muito precisa o Deputado Xico Graziano — e queremos cumprimentá-lo pelo seu

extraordinário trabalho —, há inadequação na forma como se financiou e na forma

como foi feita a distribuição das terras. Parece que foi tudo agendado e feito — não

sei se esse é o termo adequado — com muito voluntarismo, sem um planejamento

mais adequado. O resultado certamente não é o esperado por todos quantos se

empenharam na promoção da justiça social no campo.

Nesse sentido, acreditamos correta a avaliação da lei quando diz que o

programa de reforma agrária foi eficiente no processo de distribuição de terra. É

correta a avaliação também quando critica o alto custo de aquisição dessas terras.

A estrutura baseada em módulos fiscais regionais gerou distorções, pois foi

lastreada em tamanho das áreas, desassociada dos avanços tecnológicos. Nisto, a

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lei também acerta. Hoje, o que determina a rentabilidade não é a extensão da área,

mas a correta definição da atividade, que deve respeitar as demandas do mercado,

associada ao uso da melhor tecnologia disponível para a sua exploração.

A lei propõe a substituição de um modelo extensivo de produção por um

intensivo. Ao definir a diminuição do módulo fiscal, ela estimula a utilização da mão-

de-obra familiar, em vez da contratação de mão-de-obra assalariada. Isso gera mais

eficiência e menor custo de produção. No entanto, é indispensável e vital que

mesmo no módulo familiar seja utilizada a melhor tecnologia disponível.

Segundo a lei, a equação ideal é tecnologia e mercado. No nosso entender,

ela esquece um elemento essencial: o emprego da mão-de-obra familiar que, devido

à sua eficiência, reduz custos de produção e, com isso, aumenta a competitividade,

seja em âmbito nacional, seja em âmbito externo.

Apesar da eficiência e do baixo custo na produção, o pequeno produtor,

sozinho, comercializa mal, pois não tem volume e continuidade na produção, o que o

impede de atingir diretamente os mercados. Se verificarmos, vamos ver como é

grande a quantidade de abacaxi, de acerola que apodrece, pois não consegue ter

acesso aos mercados. O pequeno produtor é presa fácil dos atravessadores:

centrais de abastecimento, CEASA. Antigamente chamávamos de atravessadores,

hoje chamamos de agente comercial aquele que se interpõe entre quem produz e

quem comercializa, entre o produtor e o mercado.

Nesse sentido, a organização dos pequenos produtores, através de

associações e cooperativas, é o único instrumento, no nosso entendimento, que

permite aos produtores ir ao mercado sem a interposição da figura do atravessador.

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Acreditamos igualmente que a lei esqueceu a agricultura familiar e o

associativismo/cooperativismo, embora esse não seja o principal problema.

Apesar de identificar a mudança do modelo, priorizando a tecnologia e a

agricultura intensiva, o que é correto, as medidas propostas na lei têm, a nosso ver,

em alguns aspectos, certo caráter paternalista. É preciso ter cuidado com a proposta

de renda rural mínima, para que ela não signifique golpe contra a eficiência e a

produtividade.

A lei identifica a ineficiência produtiva, a ineficácia nas condições de vida,

caracteriza os assentamentos como clientela de Estado e conclui afirmando que

apenas foi mudada a titularidade da pobreza, o que é correto. No nosso

entendimento, proposta de renda mínima rural pode acentuar esses defeitos e

aspectos negativos da atual política.

O pequeno produtor precisa de condições e orientação para produzir com

eficiência e garantir renda e melhores condições de vida. Isso deve ser obtido com

seu trabalho, não com donativos do Estado, pois os donativos podem incentivar a

ociosidade. É preciso ensinar a pescar, não entregar o peixe. Até a Bíblia traz esse

ensinamento. Pensamos ser inadequado o tratamento que a lei dá para responder à

origem de recursos para atender à renda mínima.

A Social Democracia Sindical sempre esteve...

A SRA. DEPUTADA KÁTIA ABREU – Sr. Enilson Simões de Moura, na

condição de Relatora, estou muito atenta às suas palavras, mas não estou

conseguindo acompanhar seu raciocínio. Agradeceria se V.Sa. falasse mais

pausadamente.

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O SR. ENILSON SIMÕES DE MOURA – Posso ficar à disposição de V.Exa.

depois, se eventualmente quiser fazer...

A SRA. DEPUTADA KÁTIA ABREU – Estamos à disposição agora.

O SR. ENILSON SIMÕES DE MOURA – Muito bem.

A Social Democracia Sindical participou recentemente de debate sobre o

rombo do Fundo de Garantia. Na ocasião nos manifestamos diferentemente de

outros segmentos que se posicionaram no sentido de criar mais tributos, mais

encargos, mais ônus para a sociedade. Pensamos que isso não está correto. Não

que tenhamos visão piedosa do capital, mas porque pagamos um preço muito alto

com a criação de tributos. Quem paga somos nós. E hoje já está claro que vamos

pagar pelos tributos que serão criados para cobrir os rombos do Fundo de Garantia.

Por isso, éramos contrários à proposta naquele momento. Os novos tributos serão

assimilados pelas empresas, com a redução da folha de pagamento, com a

diminuição do número de seus trabalhadores.

Para responder sobre a origem de recursos que atenderão à proposta de

renda mínima, a lei indica o Tesouro Nacional, a criação e ampliação de impostos de

importação de produtos agropecuários. Tememos que isso, além de onerar a

sociedade, como já dissemos, gere também dificuldades no abastecimento interno,

sobretudo nas entressafras, ou em casos de frustração das safras. Além do mais,

como pensamos que essa lei não vai funcionar, haverá problemas. A criação de

tributos hoje, sobretudo na área da agricultura, seguramente vai ocasionar

problemas no âmbito da Organização Mundial de Comércio, da ALCA, do

MERCOSUL etc. Não se pode ignorar que nossa pauta de exportação é constituída

de produtos da agricultura e da pecuária. Portanto, essa medida poderia significar

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um tiro no próprio pé, pois a renda mínima facilitaria a improdutividade e dificultaria

aos que produzem atingir o mercado externo. Esta é uma preocupação.

Por fim, o tratamento dispensado ao crédito deve ser melhorado. A lei

considera que, com a implantação do PRONAF, foi dado tratamento que prioriza a

agricultura familiar. Isso é meia verdade. O PRONAF não conseguiu responder a

algumas questões: a inadimplência e os motivos que a geram, os desvios de

recursos da atividade produtiva, a aprovação de projetos inconsistentes, o caráter

exclusivamente fiscalizador da assistência técnica sem compromisso com a

eficiência na produção.

Acreditamos que a solução para o problema é a tomada coletiva de crédito,

com responsabilidade individual aliada à definição prévia de critérios básicos para o

acesso ao crédito. A tomada individual de crédito é o principal elemento facilitador

dos desvios de recursos da atividade produtiva individual. Crédito vira televisão,

antena parabólica, carro velho, arma de fogo, vira tudo, só não vira produção.

A tomada coletiva dificulta esse desvio pois possibilita e obriga, a aquisição

coletiva de insumos para produção, restando o repasse direto apenas da parcela

relativa à mão-de-obra e divididas em etapas durante o ciclo da cultura. Para

assegurar a ciência do processo produtivo, a liberação do crédito deve ser

condicionada, no nosso entendimento, a alguns critérios. A tomada de crédito

individual deve existir, mas dentro das regras do mercado financeiro. A tomada de

crédito coletivo deve ser incentivada com subsídios, desde que haja um pré-projeto

que defina a adequação do tipo da atividade de exploração, a capacitação dos

produtores de caráter específico para a atividade realizada por técnico capacitado e

o estudo de viabilidade de mercado para a atividade.

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A associação ou a cooperativa apresentaria o pré-projeto para o qual seriam

disponibilizados recursos para capacitação na atividade. Após a comprovação de

execução de todas as suas etapas; seria então liberada a principal parcela de

crédito.

Por fim, crédito é para ser pago. O projeto de lei estabelece apenas direito ao

crédito, deixando de prever as sanções para o mau uso do mesmo. Essas sanções

deveriam ter a natureza de impedimento para nova tomada, talvez com uma única

possibilidade de renegociação, chegando até a perda da posse da propriedade ou

da terra obtida com recursos públicos. Deve-se disciplinar essa atividade. O produtor

que recebe a terra deve ser tratado não com paternalismo, como se pretende, não

sem antes se verificar o que está acontecendo lá na ponta. Isso não pode continuar.

Trata-se de processo caro e necessário, pelo qual nós todos pagamos.

Portanto, a lei deve possibilitar, em todas as fases, o acompanhamento e a

verificação da eficiência do crédito. Recentemente em Pernambuco, um

companheiro afirmou que tentou obter crédito junto ao banco, mas não conseguiu.

Sequer foi recebido no início. Depois de muito tentar conseguiu ser recebido pelo

gerente do banco; a primeira coisa que este fez foi falar sobre garantias e que com

elas tudo estaria resolvido.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Batata) – Por favor, qual o banco?

O SR. ENILSON SIMÕES DE MOURA – Banco do Brasil.

Ele disse ao gerente que tinha um projeto, mostrou o projeto, falou da

viabilidade desse projeto, da possibilidade de comercialização da produção. Mas a

discussão ficou em torno da garantia. Perguntou o meu companheiro se, tendo a

garantia, qualquer projeto então serviria. E o gerente respondeu que sim.

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“Então, está bom. Um amigo meu tem uma fazenda. Vou pedir a ele a

fazenda e vou trazer para o senhor um projeto para desentortar banana. Quero ver

se o senhor aprova o crédito para fazermos banana reta, para facilitar sua

exportação, porque, sendo torta, é difícil para exportar.”

Então, Sr. Presidente, Sras e Srs. Deputados, a lei precisa tratar do acesso

ao crédito e daqueles que não são capazes de responder pelo crédito, de maneira

mais adequada.

Reitero minhas desculpas pelo jeito de falar, Deputado, mas coloco-me à

disposição para os esclarecimentos que eu puder, eventualmente, ajudar.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Batata) – A Presidência agradece ao

do companheiro Enilson a exposição. Com certeza, o Deputado Xico Graziano e a

Deputada Kátia Abreu aproveitarão bastante o que foi dito.

Antes de mais nada, passo a palavra à nobre Relatora para que levante suas

questões ao depoente.

A SRA. DEPUTADA KÁTIA ABREU – Gostaria de agradecer ao Sr. Enilson

Simões de Moura as válidas contribuições que trouxe. Além disso, solicito a V.Sa.

que me forneça cópia do documento que leu. Esse material será fundamental para

que possamos avaliar o assunto com calma. Seu cartão de visita também será

importante para que possamos contatá-lo outras vezes.

O projeto em questão tem urgência, mas não se trata de urgência

urgentíssima. Queremos formular um bom projeto, e isso somente pode ser feito

com calma, ouvindo vários setores e segmentos. Tenho certeza de que teremos

oportunidade de discutir várias vezes a seu respeito.

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Novamente, reitero o pedido para que V.Sa. me forneça o material que leu,

pois este será de grande importância.

O SR. ENILSON SIMÕES DE MOURA – Sra. Relatora, entrego o material

com todo o prazer. Entretanto, trata-se apenas de rascunho, e contém alguns

rabiscos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Batata) – Concedo a palavra ao

Deputado Xico Graziano.

O SR. DEPUTADO XICO GRAZIANO – Sr. Presidente e Sra. Relatora,

agradeço ao Sr. Enilson Simões de Moura a participação. Em nome da Social

Democracia Sindical, S.Sa. trouxe a esta Comissão Especial sua apreciação sobre o

projeto de lei do novo Estatuto da Terra.

Como praxe na Casa, a sistemática de trabalho prevê a coleta de sugestões e

críticas de todos os segmentos envolvidos. Posteriormente, a Relatoria preparará,

como deve ser feito, o relatório final.

Entre as várias considerações feitas pelo Sr. Enilson Simões de Moura, duas

questões me chamaram a atenção. A primeira delas se refere à renda rural mínima.

O Presidente da SDS de certa forma manifestou preocupação em relação à

possibilidade de esse benefício assumir caráter paternalista. Não sei o quanto esse

assunto ficou devidamente gravado e esclarecido, para que o Sr. Enilson pudesse

ter feito essa consideração. Afinal, a renda rural mínima é proposta exatamente para

os agricultores que não estão relacionados com o mercado. Essa é a idéia do

projeto de lei, ou seja, ele pretende contemplar os pequenos agricultores pobres,

que plantam para sua subsistência e que não são atingidos por políticas agrícolas.

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Em outras palavras, como autor do referido projeto de lei, assumo o caráter

paternalista da proposta. Estimo que, na mesma situação dos pequenos agricultores

pobres e de subsistência, existam aproximadamente 1,5 milhão de pessoas, que se

concentram especialmente na Região Nordeste do País. Não é possível atingir e

auxiliar tais pessoas com políticas de preço mínimo, de assistência técnica ou de

crédito. Isso é muito difícil e, além de tudo, precisamos pensar em mantê-los no

lugar em que se encontram. Existe numeroso grupo de agricultores que produzem,

relacionam-se com o mercado e enfrentam o problema dos preços.

Entendo o argumento de que a renda mínima poderia ser um prêmio à

ineficiência. Entretanto, de qualquer forma, trata-se de incentivo a que essas

pessoas permaneçam onde estão. Parece-me com o que a União Européia está

fazendo com o conceito de multifuncionalidade. Isto é, naqueles casos, o agricultor é

importante não tanto pelo que produz, mas pelo que faz ao ficar onde está —

gerando empregos e mantendo a paisagem rural, como dizem os próprios europeus.

E o Estado, por meio do orçamento público, mantém essas pessoas no campo.

Ao custo médio de mil reais por família ao ano, o projeto custará cerca de 1,5

bilhão de reais. E isso é muito menos do que os bilhões de reais que jogamos fora

nos projetos que pretensamente não são paternalistas. Então, que ocorra o

paternalismo explícito.

Nesse sentido, assumo a paternidade dessa proposta paternalista.

Evidentemente, temos de considerar muito o que foi dito pelo Presidente da SDS.

A segunda questão refere-se ao fato de que considerei muito interessante o

que foi dito a respeito de crédito. A Deputada Kátia Abreu, o Deputado Ronaldo

Caiado e eu discutimos hoje pela manhã a questão do endividamento rural. Em

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parte, esse problema ocorre porque o crédito rural não é bem aplicado no que se

refere à geração de receita suficiente para isso.

Proponho, no art. 55 do meu projeto de lei, que a concessão de crédito rural

seja condicionada à efetiva assistência técnica. Como bem disse V.Sa. não basta

haver o crédito. É preciso que o dinheiro seja bem aplicado.

Não sei se os Deputados Carlos Batata e Kátia Abreu já conheciam a

proposta, que já existe nas normas do PRONAF.

Poderíamos melhorar no projeto de lei do novo Estatuto da Terra essa

modalidade de financiamento. Nele há lacunas no que diz respeito ao financiamento

de grupos de agricultores, quer por associações ou mesmo por cooperativas.

O projeto de lei fala do crédito cooperativo, mas não do coletivo. Há um ponto

nas normas do PRONAF no qual devemos pensar.

A SRA. DEPUTADA KÁTIA ABREU – Há nos fundos constitucionais — pelo

menos no FNO e em alguns outros — crédito para associação de pequenos

produtores de no mínimo vinte pessoas, com juros mais baixos e rebate maior. Se o

produtor estiver fora da associação, os juros são maiores.

Há uma questão que me preocupa: e se esse crédito coletivo obrigar as

pessoas a comprarem de determinada forma para serem beneficiadas com o crédito

rural? Ninguém quer saber de imposição.

Os fundos constitucionais não podem obrigá-las a participar de associações

para terem acesso a juros mais baixos. Isso seria deseducá-las. O ideal seria

estimulá-las a participar de cooperativas e associações, mostrando-lhes as

vantagens. E uma delas, naturalmente, é o juro mais baixo.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PLP 167/00 - Estatuto da TerraComissão Especial - PLP 167/00 - Estatuto da TerraNúmero: 000954/01 Data: 19/09/01

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Na minha opinião, o crédito coletivo obriga os produtores a comprarem juntos

o mesmo produto e no mesmo lugar. É assim que a coisa funciona nos fundos

constitucionais.

O SR. ENILSON SIMÕES DE MOURA – Nobre Deputada, a Social

Democracia Sindical está trabalhando na questão da renda rural mínima, além de

outras tarefas que desenvolve com os índios pataxós da Bahia, que vivem da

agricultura e da pesca, assim como os carajás e os tucanos em Pernambuco.

Aprendemos ao longo desse período a ter muito cuidado com o dinheiro. Quando se

dá um recurso e não se impõe uma exigência, cria-se perigosa situação.

Temos de estudar a questão da renda mínima. Ela não pode ser paternalista.

É claro que há os casos de perda de lavoura por causa dos fenômenos climáticos.

Aí, sim, temos a obrigação de proteger o agricultor.

Em alguns assentamentos foram aplicados recursos públicos. As pessoas

acomodaram-se e ficaram esperando receber cada vez mais benefícios, como

cestas básicas etc. Resultado: pararam de trabalhar.

De vez em quando alguém deixa o assentamento e vai trabalhar como bóia-

fria, especialmente nas plantações de cana-de-açúcar. O dinheiro que a pessoa

recebe nessa ocupação não é suficiente para estimulá-la a plantar.

No crédito individual, a pessoa recebe o dinheiro e compra o que quiser. O

agricultor que busca esse crédito sabe que o risco é apenas dele. Compra se quiser.

No crédito coletivo todos correm o mesmo risco juntos.

A SRA. DEPUTADA KÁTIA ABREU – É há um projeto?

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O SR. ENILSON SIMÕES DE MOURA – Sim. Contudo, muitas vezes as

coisas não acontecem exatamente assim. Há muito crédito que não é aplicado na

produção.

A SRA. DEPUTADA KÁTIA ABREU – Qual a garantia que teria o individual?

Que garantias teria o coletivo? O coletivo teria garantia de executar o projeto, o

individual não?

O SR. ENILSON SIMÕES DE MOURA – Não. O individual pode cometer

eventuais erros, porque está tomando recursos no mercado. É isso que estamos

dizendo. O crédito tomado coletivamente é subsidiado. A sociedade é quem paga o

subsídio.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Batata) – Se a nobre Deputada e o

Deputado Xico não têm mais observações a fazer, quero fazer algumas observações

sobre a renda mínima rural, e o farei na condição de Parlamentar, não de

Presidente da Comissão.

Vou reportar-me às observações do Deputado Xico Graziano e do Sr. Enilson.

No Nordeste, assim como em outras regiões do País, muitos produtores rurais

sequer têm acesso à informação, à tecnologia e ao crédito. Eles não foram

consultados se o País deveria ou não ser globalizado, tampouco estão preparados

para comercializar nesse tipo de situação. Temos de incentivá-los. É muito melhor

os produtores ficarem no campo em vez de irem para as cidades. Lá, o gasto com

habitação, saneamento, educação, saúde e até com segurança pública é dez vezes

maior.

Não seria melhor os setores da sociedade contribuírem com alguma coisa

em prol da fixação do homem no campo?

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Caberia ao Governo educar esse pessoal. Ele não pode apenas ser

paternalista. A renda mínima deve passar por minucioso critério. Temos de evitar a

todo custo os especuladores, os espertos. Temos de rapidamente encontrar uma

solução para o problema do êxodo rural, que vem assustadoramente acontecendo

no País.

A princípio, o Governo deve ser paternalista para manter o homem no campo.

Não deve, contudo, se esquecer de orientá-lo, informá-lo, educá-lo, para que ele

transmita esses conhecimentos às gerações futuras. Estas, bem educadas,

conquistarão com certeza espaço no mercado.

Queria fazer apenas essa observação sobre a renda rural mínima e ao

financiamento.

O SR. DEPUTADO XICO GRAZIANO – Permite-me V.Exa. complementá-lo,

Deputado Carlos Batata?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Batata) – Pois não.

O SR. DEPUTADO XICO GRAZIANO – O fator condicionante da renda rural

mínima é exatamente a educação das crianças, que não pode ser separada da idéia

aplicada na cidade. É garantida a renda rural mínima para os agricultores, desde

que coloquem seus filhos na escola. Estamos querendo não só ajudá-los com uma

renda complementar mínima no campo, como estimulá-los a colocar seus filhos na

escola. Assim, será possível garantir o rompimento do círculo vicioso de pobreza em

tantas áreas, especialmente do Nordeste. Além do paternalismo, há estímulo à

educação, à idéia moderna do Bolsa-Escola e do Renda Mínima na cidade. O que

está sendo proposto é um mecanismo para o campo.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Batata) – Com relação ao Banco do

Brasil, é preciso retomar a forma de fomento e investimento. É uma grande verdade

o que acabou de ser dito aqui. Não sei se no Tocantins ocorre o mesmo, mas em

meu Estado a situação é absurda. Há grande preocupação em vender cartão de

crédito, promissórias e cheque especial, mas não existe capacidade para entender

que, por intermédio do fomento e incremento da produção rural e da economia de

base local, o dinheiro retorna à agência bancária. Se há financiamento do cartão de

crédito, o dinheiro vai para a corretora de cartão de crédito. Se há financiamento de

seguro ou duplicata, o dinheiro sai dos pequenos Municípios e vai para os grandes

centros, ao contrário do que ocorre se houver financiamento da economia de base

local, como milho, feijão, algodão, pequeno comércio. No Banco do Brasil, há

desinformação em relação à economia.

O assunto é sério. Esta Casa e o setor de agricultura, como um todo,

deveriam repensar a forma com que o Banco do Brasil atua no fomento não só da

agricultura, mas da atividade produtiva brasileira.

Era o que tinha a dizer.

A SRA. DEPUTADA KÁTIA ABREU – Se V.Exa. me permite uma

consideração, Sr. Presidente, aproveito a oportunidade para dizer que, ontem, o

superintendente do Banco do Brasil em meu Estado, telefonou-me em meu

gabinete, pedindo ajuda, porque o PRONAF normal não foi aberto em lugar nenhum

do Brasil.

O SR. ENILSON SIMÕES DE MOURA – É verdade.

A SRA. DEPUTADA KÁTIA ABREU – E o PRONAF rural rápido, aquele de 5

mil reais, que funciona como cartão de crédito ou cheque especial, está fechado

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para os novos produtores; só atende os que foram contemplados ano passado. E

para o PRONAF normal é preciso fazer proposta, encaminhar, preparar...

O SR. ENILSON SIMÕES DE MOURA – É por isso que se precisa do Renda

Mínima, Deputada.

A SRA. DEPUTADA KÁTIA ABREU - Não foi aberto ainda.

O SR. ENILSON SIMÕES DE MOURA – V.Exa. está vendo, as instituições

não funcionam.

A SRA. DEPUTADA KÁTIA ABREU – Não tenho opinião totalmente formada

quanto ao Renda Mínima, mas gosto da idéia. Preocupa-me um pouco a questão da

escola. Acho que o Bolsa-Escola existe para garantir a criança na escola, e estende

também a...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Batata) – Mas o Bolsa-Escola é

amplo.

A SRA. DEPUTADA KÁTIA ABREU – Sim, mas um dos objetivos do

programa é garantir a criança na escola. É preciso estudar os programas. Preocupo-

me muito com o fato de as pessoas se acostumarem com a situação e criarem

dependência que talvez não seja saudável. Temos de pensar um pouco a respeito

disso, mas gosto da idéia.

O SR. ENILSON SIMÕES DE MOURA – Deputado Carlos Batata, V.Exa. me

permite fazer uma consideração? Se um observador apressado passar por Catende,

dirá que lá só existe o Renda Mínima. Passamos alguns dias na região e vimos que

a situação é diferente. É preciso que haja assistência técnica e política que não leve

à ociosidade. O povo plantava inhame, que não chegou a Recife, porque a safra foi

perdida. Plantou-se melancia, a safra também foi perdida. Colocamos na Internet a

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foto de um trabalhador segurando melancia de quase 22 quilos, mandamos a foto

para o Ministro do Desenvolvimento Agrário, solicitando alguma forma de assistência

técnica para aquele povo. Se não houver assistência técnica ou política que

promova o desenvolvimento, é preciso falar em paternalismo.

A nossa preocupação é no sentido de que a política de renda mínima não

substitua necessárias políticas indutoras do desenvolvimento. O homem do campo

deve sentir-se cidadão, participante do progresso do País, e não viver como se fosse

mendigo, recebendo esmolas. Não é bom para o homem viver com o sentimento de

humilhação.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Batata) – Antes de encerrar a reunião,

faço mais algumas considerações. Acredito que a filosofia do Renda Rural Mínima

não se resume a dar esmola, mas, sobretudo, à concepção de que o homem é

importante no campo e de que será, para o País como um todo, agente de menos

despesa para o Governo Federal.

O Bolsa-Escola, programa bonito, bom, espetacular, inovador e reconhecido

no mundo inteiro, é dirigido à educação, tem em sua filosofia o princípio de educar a

criança, dando-lhe melhores condições na escola. O Programa Renda Rural Mínima

tem filosofia que vai além da fixação do homem ao campo.

O SR. ENILSON SIMÕES DE MOURA – Sr. Presidente, V.Exa. me permite

fazer uma consideração?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Batata) – Pois não.

O SR. ENILSON SIMÕES DE MOURA – A lei trata bem de fixar o homem no

campo. O Deputado Xico Graziano está de parabéns. E o homem é fixado no campo

com a presença do Estado na região, com a criação de hospitais, escolas e meios

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de escoar a produção. O homem vai para a cidade sobretudo porque não tem onde

educar o filho, porque, se adoecer no campo, morre, porque planta e não tem o que

fazer com a safra. A lei trata do aspecto de levar o Estado a fazer com que o homem

do campo tenha cidadania.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Batata) - A Presidência agradece ao

Sr. Enilson Simões de Moura a participação nesta audiência pública. Tenho certeza

de que o autor do projeto, Deputado Xico Graziano, e a Relatora, Deputada Kátia

Abreu, aproveitarão bastante o que aqui foi exposto.

A Presidência tem a certeza de que a Força Sindical, que foi convidada para

ser ouvida com relação ao projeto, mas não compareceu, obviamente encontrará

outra maneira de se fazer ouvir, se de fato tiver compromisso com o homem do

campo e com o Estatuto da Terra.

Convoco a próxima reunião para o dia 26, quarta-feira, às 14h30min, ocasião

em que ouviremos o Sr. Luiz Marcos Suplicy Hafers, Presidente da Organização das

Cooperativas do Brasil.

Esta encerrada a reunião.