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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO ESPECIAL - REFORMA DA PREVIDÊNCIAEVENTO: Audiência Pública N°: 353/2003 DATA: 24/4/2003INÍCIO: 10h7min TÉRMINO: 14h12min DURAÇÃO: 4h5minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 4h5min PÁGINAS: 75 QUARTOS: 49REVISÃO: Anna Augusta, Lia, Liz, Luciene Fleury, Maria Teresa, Odilon, Patrícia Maciel, VeigaSUPERVISÃO: Ana Maria, Débora, Graça, Miranda, Myrinha, Neusinha, ZuzuCONCATENAÇÃO: Débora
DEPOENTE/CONVIDADO – QUALIFICAÇÃOROBERTO NOGUEIRA – Representante da Confederação Nacional do Comércio (CNC).RODOLFO TAVARES - Vice-Presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil(CNA).JORGE GERDAU JOHANNPETER – Membro do Conselho Temático de Assuntos Legislativosda Confederação Nacional da Indústria (CNI).EDISON GUILHERME HAUBERT – Presidente em exercício do Movimento Nacional dosAposentados e Pensionistas (MOSAP).JOÃO RESENDE LIMA – Presidente da Confederação Brasileira dos Aposentados ePensionistas (COBAP).
SUMÁRIO: Debate sobre a proposta de reforma da Previdência Social.
OBSERVAÇÕES- Há expressão inaudível.- Há intervenções inaudíveis.- Há exibição de imagens.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Declaro aberta a quinta
reunião da Comissão Especial destinada a realizar estudos com vistas à reforma da
Previdência no Brasil.
Encontram-se à disposição dos Srs. Parlamentares cópias da ata da quarta
reunião.
Pergunto se há necessidade de leitura da referida ata. (Pausa.)
Não havendo quem queira discuti-la, passa-se à votação.
Os Srs. Deputados que a aprovam permaneçam como se encontram.
(Pausa.)
Aprovada.
A pauta de hoje prevê a realização de audiência pública com os Srs. Jorge
Gerdau Johannpeter, Roberto Nogueira, Rodolfo Tavares, Edison Guilherme
Haubert e João Resende Lima, representantes, respectivamente, das
Confederações Nacionais da Indústria, do Comércio, da Agricultura e Pecuária, do
MOSAP — Movimento Nacional dos Aposentados e Pensionistas, e da COBAP,
Confederação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas.
Convido os senhores para tomarem assento à mesa.
Cada convidado disporá de até vinte minutos, que não serão prorrogáveis,
devido ao acúmulo de exposições que concentramos na manhã de hoje e tendo em
vista que, na semana que vem, o Sr. Presidente da República deve apresentar ao
Congresso Nacional a proposta concreta de reforma da Previdência, a qual nos cabe
discutir e deliberar.
Não serão permitidos apartes durante a exposição e, finda a apresentação de
todos, iniciaremos o debate, para o qual passaremos uma lista de inscrição.
Concedo a palavra ao Sr. Roberto Nogueira, representante da Confederação
Nacional do Comércio. S.Exa. terá até vinte minutos para fazer a sua exposição.
O SR. ROBERTO NOGUEIRA – Bom dia Deputado Roberto Brant, demais
Deputados presentes, Deputado Custódio Mattos, amigo e conterrâneo de Juiz de
Fora, e demais senhores.
Serei breve na minha exposição e vou concentrar-me em alguns aspectos
conceituais e na proposta do Governo. Há três representantes do setor privado. Os
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expositores que falarão posteriormente farão apresentação com números, e não
vamos duplicar informação.
O problema da Previdência por si só é difícil. É socialmente complicado e,
politicamente, ainda mais difícil de se discutir, porque as óticas de análise variam
muito. Quando se analisa do ponto de vista pessoal, há um foco. Do ponto de vista
da corporação, há outro. E do ponto de vista macro, do País, obviamente há um foco
mais amplo, menos pessoal e às vezes pode ser considerado menos humano. O
problema da Previdência nos Estados e Municípios é grave.
A posição da Confederação Nacional do Comércio é institucional.
Entendemos que o passo que pode vir a ser dado neste momento pelo Congresso
Nacional, a partir da proposta enviada pelo Poder Executivo, vem certamente com
duas décadas de atraso. Trata-se de problema que discutimos há muito tempo.
O que está sendo colocado em discussão possui característica muito mais
conjuntural do que estrutural. Nesse sentido, pode resolver alguns problemas, mas
pode também conservar outros para estarmos discutindo daqui a duas décadas
novamente, talvez em situação um pouco mais dramática. E quando digo estrutural
estou-me referindo a questões conceituais importantes. Enquanto não nos
aprofundarmos nos conceitos em relação à travessia, que defendemos, de um
modelo de repartição para um modelo de capitalização, fica difícil, inclusive para
grande parte da sociedade, entender a necessidade de sua participação efetiva
nesse processo.
Mas ainda assim o que está sendo proposto é um passo importante, porque
apresenta efeitos direitos e indiretos não só na economia como um todo, mas
também nas finanças de Estados, de Municípios e da União. Desconheço problema
tão bem e largamente diagnosticado como o da Previdência. Há duas décadas
acompanhamos essa discussão e verificamos que, em certos momentos, há grande
grau de frustração não apenas da sociedade, mas também e especialmente dos
governantes, da classe política de um modo geral, porque não se consegue
encontrar uma fórmula que agrade a todos.
Quanto aos números, o que nos assusta é o ponto de vista macroeconômico.
Se olharmos o salário de cada um, serei obrigado a ter outro foco, ou seja, a
arrecadação do INSS menos os benefícios pagos gerou, em 2002, um déficit de 17
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bilhões de reais, aos quais devem ser somados mais 27 bilhões de déficit da
previdência pública federal. Quando somamos o déficit de Estados e Municípios,
chegamos a um número extraordinário da ordem de 70 bilhões de reais/ano.
Obviamente precisamos estudar esse déficit a partir da ótica desse número, ou seja,
é legítimo que se estude a partir da ótica do salário de cada um, mas é legítimo que
se estude também a partir da ótica do que um déficit dessa proporção e dessa
magnitude representa para o País. E há, no Brasil, uma convivência não isonômica
entre o regime geral de previdência e o regime que abrange toda a força de trabalho
privado, e o regime de previdência dos servidores públicos nos três níveis de
governo. Sempre que me refiro a servidor público, não me refiro apenas ao servidor
público da União, mas aos dos três níveis de governo.
No mundo inteiro há movimentação e uma forte discussão sobre mudanças
na previdência. A Espanha, a Grécia, a Itália, o México e parte dos Estados Unidos
ainda estão no antigo regime de servidores públicos federais, e a maioria dos
regimes estaduais têm um regime próprio de previdência para os servidores mais a
previdência complementar. Nos Estados Unidos, já no novo regime implantado
desde 1982, e em todos os regimes de servidores federais, como da Finlândia,
Holanda, Irlanda, Japão, Noruega, Reino Unido, Suíça e Suécia, vigora o regime
geral de previdência mais a previdência complementar. Os servidores recebem
benefícios e podem ou devem contribuir para a previdência complementar.
A Holanda tem um regime de previdência de benefício básico mais uma
contribuição compulsória para a previdência complementar com benefício definido:
aposentadoria de 70% do último ano, após 65 anos de idade e 40 anos de
contribuição. O Reino Unido tem um benefício básico do Estado com opção para a
previdência complementar de benefício definido ou planos individuais de
contribuição definida: 40 anos de contribuição, mínimo de 60 anos de idade e 50%
do último salário. A Suécia tem um regime unificado, com obrigatoriedade de
contribuição para a previdência complementar e benefício definido: aposentadoria de
65% da média dos últimos cinco anos, com 65 anos de idade e 30 anos de
contribuição.
A Alemanha possui regime próprio e a aposentadoria se dá com 65 anos de
idade: 75% da média de dois anos, salário-base de 40 anos de serviço público.
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Também está estudando mudança no regime geral, mesmo mantendo o regime
próprio dos servidores.
Na França existe o regime próprio e também se estuda passar para 40 anos a
contribuição calculada sob a média salarial dos últimos 25 anos, que é igual ao
prevalecente no setor privado francês.
Essa menção não é para fins comparativos, mas para registrar que não se
trata apenas do prazer de discutir, mas de um problema para o qual o mundo está
atento. Obviamente não é só o Poder Executivo, os Governadores e o Congresso
Nacional que estão discutindo essa questão. Esse problema vem afetando de modo
dramático os aposentados, os contribuintes, a União, os Estados e os Municípios.
Segundo a avaliação da CNC, se nada for feito, no fim desse túnel haverá um
impasse. Na realidade, é um “mico” para quem imagina continuar dentro desse
processo. Se esse risco for efetivado causará grande perda a todos.
Entre os países citados, o Brasil é o que ostenta maior desigualdade social,
tem a mais perversa distribuição de renda, o mais baixo nível de renda per capita, o
pior desempenho de finanças públicas e a economia mais suscetível aos rumores
externos. Temos uma situação que pode ser analisada tanto de um lado quanto de
outro.
Dessa forma, quando se constata a realidade nacional e a comparamos com
o esforço dos países muito mais ricos que o nosso, devemos nos estimular a estudar
mudanças estruturais e profundas para a questão previdenciária.
O sistema previdenciário é generoso para alguns servidores — não estou me
referindo a todos, obviamente —, o que significa uma transferência de renda às
avessas do trabalhador mais pobre para o mais rico.
Na minha análise e em todos os estudos feitos nesses países conclui-se que
há uma transferência de renda às avessas quando se mantém um regime de renda
da previdência. Quanto mais igual for a renda, mais forte é esse argumento. Nesse
quadro enquadra-se a moldura do caso brasileiro.
O nosso regime está baseado em promessas e apostas no futuro, o que gera
passivos atuariais regressivos e intergerações. É absolutamente desigual a
contrapartida contributiva do pequeno contingente de grandes beneficiários, ou
melhor, já não é tão pequeno assim, é grande.
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A aposta no futuro redunda numa geração atual que está sempre devendo à
geração futura e pagando a conta da geração passada. Em algum momento isso
será equacionado, porque a geração futura pode não ter como pagar, e o “mico” se
instalará definitivamente nesse processo.
Por isso a Confederação tem estudado esse assunto. Por que o empresário o
discute? Alguém me disse que uma das coisas que ele faz é pagar a conta, mas na
realidade não é paga por ele, ela recai sobre a sociedade e será transferida para o
preço final.
Defendemos regimes unificados que tenham custos menores em função da
economia de escala, que é uma expressão empresarial por excelência. Regras
iguais evidentemente reduzem pressões cooperativistas. Todos sabem que o
corporativismo tem horror a uma eficiência sistêmica e à transparência social. Quem
faz corporativismo deve ter consciência de que não gosta da transparência social e
tem horror a uma eficiência sistêmica.
Esta é a proposta que o Presidente Lula, pelo menos é o que está nos jornais,
vai encaminhar ao Congresso: idade mínima de 60 anos para homens e 55 para
mulheres para aposentadoria de servidores públicos; redução de 5% ao ano para
servidores que se aposentarem antes dessa idade, com regra de transição;
contribuição de 11% dos servidores inativos com rendimento acima de 1.058 reais —
isso não é novidade, já ocorre em diversos Estados, inclusive no meu, Minas Gerais,
onde os aposentados contribuem sobre o que percebem; fixação de teto tanto para o
setor público como para o privado; benefício para os servidores que trabalharam no
setor privado passam a ser proporcionais ao tempo de trabalho no setor público e,
finalmente, temos a proposta de fixação em 70% do valor do benefício da
aposentadoria.
Moro em Brasília há 23 anos, conheço “n” pessoas que ingressaram no setor
público, inclusive no Senado e na Câmara, já em final de carreira, com a vantagem
de terem acumulado maiores conhecimentos, trabalham cinco ou seis anos e se
aposentam com salário integral. Eles estão fazendo algo ilegal? Não. Isso deve ser
suportado por todo mundo? Onde está a justiça social quando isso acontece? É a
esse tipo de situação a que me refiro quando digo que há uma transferência de
renda às avessas entre pessoas do mesmo segmento.
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A posição da CNC é de apoio a essas medidas, apesar de elas estarem mais
no campo conjuntural do que estrutural. Devemos estudá-las mais profundamente
para evitar a transferência de problemas para daqui dez ou vinte anos. Por essa
mesma razão, defendemos que o PLP nº 09 deva ser aprovado, especialmente para
abrir espaço para a previdência complementar dos servidores.
Precisamos discutir conceitualmente o que isso representa, porque o medo às
vezes inibe a discussão e o aprofundamento do assunto. Dessa forma, perdemos
um enorme espaço de discussão sobre a passagem do regime de repartição para o
de capitalização, o que considero fundamental. Penso que ninguém deve ter medo
do regime de capitalização somado ao regime próprio, porque essa capitalização
pode ser feita pelo sindicato ou por outra entidade que crie o seu fundo.
Em síntese, defendemos que um novo sistema deva ser construído de modo
a não permitir que a Previdência seja instrumento de pressão e vantagem para
alguns grupos em detrimento do conjunto da sociedade. O princípio fundamental a
ser observado é o da isonomia, com igualdade de critérios, enquanto os regimes
persistirem isolados. Entendemos que devemos perseguir o conceito de
capitalização com contas individuais, descartando-se progressivamente o conceito
de repartição. Cada indivíduo deve ter a liberdade para escolher o gestor do seu
fundo, se será uma instituição pública, privada ou até mesmo um sindicato.
Acreditamos que se deva manter um sistema de repartição em nome de uma
previdência oficial básica, com benefício a ser suportado pelo Estado, pelos
trabalhadores e pelos empregadores, para atender exclusivamente ao cidadão com
baixa ou sem renda. Entendemos que os olhos do Estado devem estar
prioritariamente voltados para esses cidadãos.
Obviamente, não são poucos os obstáculos para uma tramitação política de
um tema tão polêmico e socialmente sensível, mas conseguimos localizar
perfeitamente as suas fontes. Geralmente, elas estão assentadas em conceito que a
sabedoria popular já transformou em sinônimo de privilégio ilegítimo.
Em alguns casos, o conceito de direito adquirido está sendo usado e abusado
e popularmente está sendo visto como um privilégio ilegítimo, quase uma afronta
social. Nos dicionários do futuro, certamente o direito adquirido será conceituado
como um bem pago pela sociedade para usufruto vitalício de alguém, que, em
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determinadas circunstâncias, consegue repassá-lo para seus descendentes, até a
exaustão, pela morte, se o sistema não morrer antes. Portanto, essa questão tem
que ser analisada sob o ponto de vista conceitual.
Acreditamos que o Presidente da República está disposto a assumir o ônus
político desses obstáculos, assim como há partidos políticos dispostos a caminhar
nesse processo, e a posição convergente dos empresários, a posição institucional
da nossa entidade é não perdermos a oportunidade de avançar um pouco mais
neste momento, já que perdemos inúmeras.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Muito obrigado, Dr. Roberto
Nogueira.
Passo a palavra ao Sr. Rodolfo Tavares, Vice-Presidente da Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil. S.Sa. tem vinte minutos para sua exposição.
O SR. RODOLFO TAVARES - Sr. Presidente, Deputado Roberto Brant; Srs.
Deputados; membros desta Mesa; senhoras e senhores, embora tenha trazido um
pequeno jogo de transparências, não pretendo recuperar todos os assuntos ligados
à Previdência Social. Vou procurar enfocar esta exposição exclusivamente no setor
agropecuário, lembrando que a transparência sobre os números da Previdência
Social no Brasil é um ponto de partida.
Permito-me aconselhar aos que ainda não tiveram contato com este livro, o
Livro Branco da Previdência Social, que o façam. Nele estão os relatórios produzidos
rotineiramente pela Previdência.
Para ganhar tempo, vou me ater apenas ao aspecto da previdência rural,
para, representando a classe rural brasileira, expor aqui as nossas peculiaridades, a
partir de um trabalho feito pelo Departamento Técnico da Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil — CNA, através do Dr. Luciano Carvalho, que está
presente no auditório. Depois, se for o caso, poderemos dar outras explicações.
A previdência rural tem características sui generis determinantes na fixação
de impostos e contribuições: a dependência do ciclo biológico; a produção a céu
aberto, diferentemente do fordismo/taylorismo; a sazonalidade da produção, a
estacionalidade de preços e a utilização intensiva de mão-de-obra temporária.
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Sobre os aspectos históricos, eles têm origem em 1975, com o início da
previdência rural, que tinha como incidência da contribuição o faturamento das
empresas e dos empregadores. Em 1991, as Leis nº 8.212 e nº 8.213 modificaram
essa forma de arrecadação, e retornamos à incidência das contribuições
previdenciárias nas folhas de pagamento. Foi uma experiência que não obteve
resultados positivos, tanto que esse regime durou apenas um ano. Em 1992, a Lei nº
8.540 retorna à incidência da contribuição do empregador, pessoa física ou jurídica,
sobre a comercialização. Mais recentemente, em 2001, a Lei nº 10.256, que trata da
agroindústria, mantém a contribuição sobre a comercialização, com exceção de
setores que utilizam com menos intensidade a mão-de-obra, como é o caso da
avicultura, da suinocultura, da piscicultura e da carcinicultura, que continuam
contribuindo sobre a folha de pagamento. Aparentemente, a vontade do Estado e do
contribuinte de manter a incidência sobre o faturamento, substituindo a incidência
sobre as folhas de salários, consulta os aspectos da tradição legal e normativa, a
potencialidade da arrecadação, a coerência com as peculiaridades do setor, não
compromete a empregabilidade e a tendência moderna de tributar.
Chamo a atenção para o seguinte: o caminho do progresso da agricultura
está na utilização de contingentes cada vez menores da população no setor
produtivo ou agropecuário. Isso aconteceu na Europa e na América do Norte. Por
exemplo, menos de 2% da população norte-americana está alocada no setor
econômico da agropecuária. A sociedade brasileira precisa definir com que rapidez
vai liberar contingentes de mão-de-obra do setor rural para o setor urbano e até que
ponto essa mão-de-obra poderá ser preparada para enfrentar o desafio do emprego
urbano. É preciso ter a cautela de manter a contribuição rural sobre o faturamento,
uma vez que, provavelmente, este será crescente e a utilização da mão-de-obra
decrescente — pelo menos assim apontam os últimos números disponíveis no IBGE
e outras fontes de consulta, como o Ministério do Trabalho, a partir da RAIS e do
CAGED.
Passamos, então, às contribuições cobradas pela Previdência Social
incidentes sobre a comercialização.
(Segue-se exibição de imagens.)
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Esse quadro mostra as contribuições previdenciárias rurais quanto à
seguridade social, que correspondem a 2% sobre o valor da produção agropecuária
comercializada, recolhidos pelo adquirente ou consignatário.
Nesse ponto, Srs. Parlamentares, Sr. Presidente, chamo a atenção para
algumas tentativas de setores do agronegócio de suprimir o instituto da sub-rogação,
alegando a elevada sonegação nesse setor. Creio que seja uma informação
equivocada, porque, em vez de controlar quase 5 milhões de estabelecimentos
rurais, poderemos controlar algumas dezenas de frigoríficos e outros agronegócios,
que seriam muito mais fáceis de serem fiscalizados pelo Estado. O contrário seria o
mesmo que recolher os impostos sobre combustíveis de cada posto de gasolina, em
vez de tributá-los nas próprias distribuidoras. No caso da indústria do fumo e tabaco,
seria o mesmo que transferir para os botequins, para as mercearias, para os
milhares de pontos de venda no País a responsabilidade pela arrecadação de
impostos.
O produtor rural pessoa física contribui com 2% sobre toda a comercialização
de sua produção, e o produtor rural pessoa jurídica, com 2,5% sobre a
comercialização, nesse caso recolhidos pela própria empresa. Apenas o produtor
rural pessoa física transfere para o primeiro adquirente, pessoa jurídica ou
consignatário, a responsabilidade do recolhimento. Há o seguro de acidente no
trabalho, 0,1%, e a contribuição para o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural,
que vem prestando a este País serviços relevantes. Nesse caso, a pessoa física
contribui com 0,2%, somando um total de 2,3% sobre a comercialização de seus
produtos, e a pessoa jurídica com 0,25%.
Vejo aqui Parlamentares do meu Estado, do Município de Barra do Piraí. O
Estado do Rio de Janeiro, que tem o menor índice de analfabetismo do País, foi
objeto de estudo num recente trabalho que fizemos sobre diagnóstico do mercado
de trabalho rural. Constatamos que 20% de nossa população rural é analfabeta e
25% cursou apenas até o terceiro ano do ensino fundamental. O trabalho de
formação profissional, o preparo do trabalhador para lidar com novos equipamentos
e tecnologias, tem sido fundamental para o inegável sucesso do setor mais produtivo
deste País, que vem apresentando resultados econômicos que são do conhecimento
de todos.
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Passamos a outro quadro. A previdência rural, obrigações arrecadadas pela
Previdência Social incidentes sobre as folhas de salários: descontar e recolher as
contribuições dos empregados, variáveis entre 7,65 a 11% do salário; recolher 2,5%
para o salário-educação e 0,2% para o INCRA. A previdência rural, obrigações do
empregador rural para sua aposentadoria: recolhimento mensal de 20% sobre a
escala do salário-base pretendido.
Logo a seguir, a previdência rural, representados da CNA. A quem a
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil representa nesse contexto? A
pessoa física ou jurídica que, tendo empregado, empreende, a qualquer título,
atividade econômica rural; quem, proprietário ou não, e mesmo sem empregado, em
regime de economia familiar, explore imóvel rural que lhe absorva toda a força de
trabalho e lhe garanta a subsistência e o progresso social e econômico em área
superior a dois módulos rurais da respectiva região; os proprietários de mais de um
imóvel rural, desde que a soma de suas áreas seja superior a dois módulos rurais da
respectiva região.
Os segurados rurais e as representações sindicais. O empregador rural é
representado, como já disse, pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil.
No segmento do segurado especial, há representação tanto da CNA quanto da
CONTAG. O trabalhador rural é representado pela Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura.
Passo ao quadro da distribuição percentual da população economicamente
ativa por ramos de atividades econômicas. Esse quadro é de 1999 e totaliza 71,7
milhões de trabalhadores. Como os senhores podem verificar, o setor da
agropecuária é o maior empregador de nosso País, com 17,3 milhões de cidadãs e
cidadãos brasileiros, representando 24,2% do total da população economicamente
ativa do País.
Sobre a reforma da previdência rural, o que se deseja? Primeiro, manter a
incidência da contribuição previdenciária sobre o valor da produção comercializada,
proporcional ao volume de faturamento, porque este é crescente, como já pude
explicar, e a mão-de-obra empregada tende a ser decrescente. Segundo, instituir
alíquotas diferenciadas sobre o produto agropecuário em função do uso intensivo de
capital ou de mão-de-obra, para que haja justiça àquele que emprega grandes
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contingentes de trabalhadores e por eles se responsabiliza e possa haver uma forma
de amenizar o impacto do custo das contribuições previdenciárias sobre o
agronegócio, principalmente na agricultura e na pecuária.
Apenas como exemplificação do que está sendo dito, aqui temos um
comparativo entre folha de pagamento e faturamento. Na avicultura, por exemplo,
um galpão de mil metros quadrados tem uma produção anual de 75 mil frangos. O
valor dessa produção é de 120 mil reais e a folha anual de salários é de 6 mil reais.
A contribuição previdenciária sobre a folha, 20%, seria de 1.200 reais, e sobre o
faturamento, 2%, seria de 2.400 reais. Produção de soja, em propriedades médias
de 270 hectares, teria um rendimento de 10.900 sacas. O valor da produção anual,
120 mil reais, e a folha anual de salário, 10 mil reais. A contribuição de 20% sobre a
folha representaria 2 mil reais; e de 2% sobre o faturamento, 2.400 reais. No café, há
uma diferença. Em uma propriedade com 15 mil pés de café, haveria um rendimento
de mil sacas. O valor da plantação também seria de 120 mil reais. A folha anual de
salário seria de 48 mil reais, pelo uso intensivo da mão-de-obra. A contribuição sobre
a folha seria 9.600 reais; sobre o faturamento, 2.400.
A seguir, o que se deseja para a reforma da previdência rural: a manutenção
do instituto da sub-rogação do adquirente ou consignatário nos recolhimentos das
contribuições previdenciárias do produtor rural pessoa física, pelos motivos que
antecipei a V.Exas.
As vantagens da sub-rogação dos recolhimentos das contribuições. Qual a
forma mais eficiente de arrecadar e fiscalizar o recolhimento das contribuições para
o INSS? Um exemplo é o da pecuária de leite, do produto leite. Há 1 milhão, 810 mil
propriedades leiteiras no País; 816 mil comercializam a produção; temos 612
indústrias de laticínios, das quais 281 são cooperativas. O faturamento bruto desse
setor é de 6 bilhões, 140 milhões de reais. O potencial contributivo do leite, a 2,1%
sobre o valor da produção, representa 129 milhões de reais.
Agora, entramos num ponto sensível, o do segurado especial. Quem é esse
segurado especial? É o produtor rural em regime de economia familiar, sem
empregados permanentes. Sua importância economico-social, as características dos
benefícios: eles se aposentam cinco anos mais cedo, sem necessidade de
comprovação de recolhimentos; esse benefício é extensivo a todo o grupo familiar,
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sem necessidade de recolhimentos; não é exigida pré-inscrição. E a conclusão é
pela manutenção do segurado, aprimorando a concessão desses benefícios. É
preciso encontrar outros mecanismos que possam melhor identificar e controlar o
usufruto, o acesso a esses benefícios previdenciários, de maneira que esses
trabalhadores não fiquem a depender de provas testemunhais, de declarações de
terceiros ou mesmo de seu próprio sindicato para comprovar o tempo de serviço
prestado no setor.
A próxima tabela é sobre o segurado especial e as situações no âmbito do
subsídio. Há uma série de enquadramentos. Este trabalho ficará à disposição dos
senhores e provavelmente irá para a página da Internet também.
O fato, senhores, é que há necessidade de repensar o assunto, mesmo que
não seja neste primeiro momento da reforma previdenciária. Há, em nosso País, um
desestímulo à geração de emprego rural, em razão da forma como esses benefícios
previdenciários são concedidos. Aquele segurado especial que se enquadra como
não-empregador, a partir do momento em que gere um único emprego deixa de ser
um segurado especial, passando a ser um contribuinte obrigatório da Previdência
Social, tendo modificado completamente tanto o benefício de uma aposentadoria
mais precoce em cinco anos quanto até mesmo a obrigação de contribuir. É preciso
repensar isso. É preciso que a agricultura familiar seja vista, em nosso País, também
como uma forma de geração de emprego, de riqueza e de bem-estar, tanto para o
proprietário, o chefe do grupo familiar, como para toda a sociedade, usufruindo dos
produtos gerados por essa agricultura.
Em respeito a V.Exas. e ao Sr. Presidente, que já me sinalizou sobre esses
poucos minutos que ainda restam, encerro, dizendo que a Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil, através da Comissão Nacional de Relações do
Trabalho e Previdência Social, fará todo o possível para subsidiar os Parlamentares
com nossas preocupações e problemas, a fim de que, finalmente, a Casa do povo
brasileiro encontre uma solução para assunto tão delicado.
Não me constranjo em repetir o que já disse publicamente ao Ministro da
Previdência Social: certamente, dentre as reformas que o País se propõe a fazer, a
mais difícil, mais dolorosa, mais complexa, sem dúvida, é a da Previdência Social,
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porque toca direito de praticamente todas as famílias brasileiras. É um assunto
extremamente complexo.
Desejo que Deus ilumine os Srs. Parlamentares e a sociedade civil, que
participará desse processo intensamente, para que possamos encontrar soluções
aceitáveis pelo nosso povo, pelo funcionalismo público, pelas empresas privadas,
pelos trabalhadores. Que possamos encontrar um caminho de paz, mas,
principalmente, um caminho viável, para que as gerações futuras possam usufruir
dos mesmos benefícios que usufruímos neste momento em nosso Brasil.
Que Deus proteja a todos.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Muito obrigado, Sr. Rodolfo
Tavares, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil.
Passo a palavra agora ao Dr. Jorge Gerdau Johannpeter, que terá até vinte
minutos para sua exposição.
O SR. JORGE GERDAU JOHANNPETER – Sr. Presidente, Sra. e Srs.
Deputados, em primeiro lugar, gostaria de ressaltar que esta apresentação talvez
toque em pontos mais conceituais e estruturais do que um simples debate sobre
alguns números para mais ou para menos. Por que essa preocupação? Na
realidade, a partir do que se vê no cenário mundial e nos exemplos que temos, a
previdência não é apenas um fator para se fazer justiça social, mas é, na realidade,
o único instrumento para se estabelecer uma poupança.
Sabemos que o Brasil está há vinte anos sem poupança pública.
Conseqüentemente, sua taxa de crescimento tem se mantido em níveis
extremamente baixos, pois a poupança define o nível de crescimento de um país,
principalmente no caso dos mais pobres ou em crescimento, como o nosso. Se
tivemos um crescimento de apenas 2% a 2,5% nesses últimos anos, foi
essencialmente pela falta de poupança, e, dentro dos moldes atuais, conforme vem
sendo debatido e aprimorado no mundo, o fator da previdência talvez seja o único
instrumento (inaudível).
Embora historicamente tenha havido uma evolução importante, há uma
confusão entre o que é previdência e o que é assistência social. A saúde hoje já está
separada do sistema, mas, mesmo assim, há uma mistura de conceitos e de contas.
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Reputo esse fato extremamente importante, porque a falta de separação desses
elementos faz com que a previdência não seja gerenciada dentro de um conceito,
como um instrumento de política social e também como um instrumento potencial de
política econômica.
No meu entender, a proposta que está sendo encaminhada representa um
avanço importante em relação aos desequilíbrios que existem, mas é absolutamente
insuficiente para a realidade brasileira e mesmo para a expectativa de se construir
algum tipo de justiça social ou de crescimento econômico. Ela é muito importante
porque é um avanço, mas nós todos, sociedade brasileira e Congresso, temos esta
responsabilidade: estamos fugindo da realidade que significa legislar sobre
previdência.
Estabelecer um teto básico para o setor público e a não-acumulação de
aposentadoria é fundamental. Ninguém deveria receber mais que a maior
remuneração estabelecida para o setor público. As distorções que existem não
podem continuar, e o estabelecimento de um teto com valor apropriado favorece um
sistema socialmente mais justo. Toda previdência paga que não respeite a formação
de poupança leva a uma condição de onerosidade ao contribuinte de menor renda.
Comecei a trabalhar muito cedo e tenho uma relação pessoal com operários
aposentados. Vejo claramente que aqueles que contribuíram sobre dois, três
salários mínimos estão recebendo uma renda muito próxima a um salário mínimo.
Cito essas rendas mais baixas para mostrar o que ocorreu após todo esse processo.
O que isso significa? O empregado que contribuiu com 10%, no regime de
poupança, teoricamente, poderia estar tendo como aposentadoria uma remuneração
igual a 100% do seu salário, segundo os cálculos atuariais. A empresa pagou 20%.
Houve época em que a contribuição foi até maior. O que acontece é que, para
privilegiar as camadas mais altas, temos fatalmente só um caminho: achatar os
menores. Esse deslocamento é uma distribuição de renda inversa. Conforme o
IBGE, no Brasil só 5,6% da população ganha mais que 2.400 reais, e fatalmente
tudo que estamos dando, que não corresponde a uma poupança real, estamos
tirando do pessoal que ganha menos. A pergunta que deve ser lançada é: os
senhores vão legislar para os 5% acima citados ou para os 95%?
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Essa realidade não está sendo discutida. Aqueles que a conhecem sabem
que esse cenário é socialmente insustentável. Não haveria como o sistema garantir
ao segurado uma aposentadoria integral equivalente ao seu último salário, pois, em
geral, temos salários crescentes, e é extremamente difícil o trabalhador ter
condições de acumular uma poupança suficiente para tanto. Também não
poderíamos onerar as gerações futuras com esse custo.
O sistema de repartição tem provocado uma modificação significativa.
Tínhamos em 1991 uma relação de 1,8 de contribuinte por aposentado, e hoje essa
relação é de 1,2. Cada contribuinte teria que ceder quase a metade do seu salário
para sustentar um beneficiário. Como isso é inviável, o sistema tem achatado o
benefício dos mais pobres. Há 1,2 contribuinte para cada pessoa que recebe
benefícios, e essa curva tende a piorar, no meu entender, principalmente devido à
informalidade, que, quanto mais aumentamos os encargos sobre a folha de
pagamentos, mais cresce. Fora da informalidade, só dois ou três setores poderão
sobreviver: empresas de capital intensivo ou empresas que detêm monopólio
tecnológico ou algum privilégio estrutural mercadológico. Quem tem concorrente
informal não consegue permanecer na formalidade. Portanto, vamos legislar para
um sistema que cada vez mais vai fazer a informalidade crescer. Esse tema tem que
ser debatido e analisado com as reformulações que estão sendo discutidas.
Conseqüentemente, a injustiça do sistema, aliada ao crescimento da
expectativa de vida das pessoas, convida a que se trabalhe com um sistema de
contas individuais e com um regime de poupança, em que cada um receba o que
acumulou, sem distorções do sistema. Esse é o único modo de se evitar que em
campanhas eleitorais, por meio de promessas falsas, dêem-se privilégios a alguns,
achatando o benefício da maioria. Esse é o sistema em que estamos vivendo hoje.
Se não houver a conta individual, a conta de capitalização, e se for criada
alguma aposentadoria especial, o setor respectivo tem que pagar. Vamos tomar
como exemplo o setor de mineração de carvão. Talvez a aposentadoria tenha que
ser concedida aos trabalhadores desse setor não após 35 anos de trabalho ou com
60 anos de idade, mas com 50 anos ou algo parecido. Aquele grupo tem que pagar
por isso. Senão, até aquele que nem trabalho tem pagará, em forma de tributação
sobre a comida, esse buraco.
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É preciso reanalisar os conceitos desse processo que estamos decidindo. A
tendência nossa é considerar 2.500, 2.400 (ininteligível), porque essa é a vida real e
prática. Mas, agindo assim, não corrigiremos o sistema. E a minha obrigação, como
pessoa consciente desse processo, é mostrar a V.Exas. o quadro real. A decisão é
do País todo. Nós participamos desse processo, mas a decisão traz a conseqüência
que estamos vivendo hoje, em que 100% do déficit já está sendo pago pelo buraco
da Previdência Social, que tenderá a crescer cada vez mais.
Quanto ao fundo de aplicação, se deve ser público ou privado, digo que a
opção deve ser feita pelo Congresso Nacional ou pelo contribuinte. Eu deixaria para
o contribuinte. Para minimizar o risco, os recursos poderiam ser aplicados apenas
em fundos de renda fixa, em títulos públicos ou privados, exigindo-se ainda aval
bancário sobre a aplicação.
A discussão está sendo feita entre quem paga e quem recebe. A briga é entre
quem recebe e quem tem que pagar. Esse é o conflito. Dizem que estão inventando
um sistema de previdência por conta privada de capitalização para privatizá-la. Eu
não estou falando em privatizar a Previdência Social. Cada um que escolha o
sistema que quiser. Se quiserem que seja todo estatal, que assim seja, mas o
sistema tem que estar sadio. Nesse ponto, surge outra expectativa: pode ser
aplicado apenas em renda fixa. V.Exas. têm um exemplo muito bom no Brasil, o
BNDES, que financia pelo sistema bancário o FINAME para a pequena empresa. A
perda é de praticamente zero. Às vezes há um escândalo porque um banco vai à
falência, mas o sistema funciona praticamente com perda zero.
É preciso estabelecer-se que o rendimento da poupança é de 4%, que é o
número correto. Depois falarei um pouco desses número globais. Tem-se que fazer
a poupança em conta individual, e cada um receberá conforme o que tiver poupado.
Caso contrário, sempre se vai tirar de quem ganha menos. É o que está
acontecendo hoje, e, no meu entender, a situação vai agravar-se.
A necessidade cada vez maior de financiar o desbalanceamento entre
benefícios e contribuições à Previdência tem criado uma situação de injustiça social,
no sentido de que muitos trabalhadores não têm, na aposentadoria, acesso aos
valores descontados. Eu já mencionei esse aspecto e o relativo aos empregadores.
A contribuição do empregado e a que a empresa recolhe passam de 30%.
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Na realidade, os patamares de contribuição são bem inferiores a esses, mas
num sistema de capitalização seriam suficientes para garantir-se remuneração
relevante ao contribuinte aposentado. Com qualquer calculadora V.Exas. podem
fazer essa conta. Eu vou mencionar alguns exemplos: um indivíduo que ganha R$
1.000,00 por mês descontaria mensalmente 10% dessa remuneração, e sua conta
individual de poupança renderia 6% ao ano; com 33 anos de contribuição, ele
poderia aposentar-se recebendo aposentadoria integral durante 15 anos, que seria o
seu tempo de sobrevida. Esse número está fora da realidade brasileira; vamos,
então, estabelecer 35 anos de contribuição, com 20 anos de sobrevida. O
aposentado teria renda durante 20 anos de sobrevida.
O próximo exemplo: se, em vez de considerarmos o rendimento da poupança
de 6%, que hoje, dentro dos sistemas privados de auditoria, é inadequado,
utilizarmos a taxa de 4%, os valores serão outros. O que teríamos, neste caso? O
indivíduo poderia aposentar-se e receber 80% de sua remuneração durante 15 anos,
depois de 39 anos de contribuição, ou durante 20 anos, depois de 43 anos de
contribuição. Se a pessoa começasse a contribuir aos 20 e trabalhasse até os 65
anos, esses valores poderiam ser atingidos.
No mundo inteiro ninguém se aposenta com 100% dos rendimentos.
Normalmente, o valor da aposentadoria corresponde a 80% da remuneração do
trabalhador na ativa. Além disso, cada um tem que receber de acordo com o que
poupou.
No fundo, as pessoas perguntam se é problema delas a aposentadoria do
outro. Eu sou responsável e solidário absoluto pelo pagamento de uma
aposentadoria mínima àqueles que não têm condições de formar poupança. Esse
amparo deve ter o sentido de obrigação. De toda a Nação deve ser recolhido como
tributo, e não como contribuição ao sistema previdenciário. Isso é muito importante.
Por isso eu iniciei a palestra dizendo que temos que separar seguridade e
assistencialismo. Nós temos responsabilidades assistenciais, mas elas têm que ser
pagas com recursos provenientes de impostos, que, preferencialmente, deveriam
obedecer a critérios de progressividade, como o do Imposto de Renda, de modo que
os que ganhem mais paguem mais, e não ser pago por todos, como ocorre hoje no
nosso sistema.
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Deve-se criar uma consciência nacional de que previdência é um tema
individual e uma responsabilidade do empregado e dos empregadores. Assim, pode-
se discutir se o empregado tem que pagar 100% da sua contribuição ou se o
empregador deve pagar a metade. Há uma variante desse sistema, mas a
responsabilidade é um contrato entre o indivíduo e o seu empregador. Não interessa
se o empregador é o Estado, se é o Judiciário etc. Essa relação contratual
envolvendo a responsabilidade do indivíduo, a sua aposentadoria, dentro do
sistema, conforme a legislação, é o único caminho para evitar a demagogia no
processo eleitoral e deixar de contribuir para a criação de privilégios para sistemas
corporativos.
De resto, sempre será aprovada alguma lei que conceda algum privilégio.
Cada um tem o seu.
O amparo a quem não consegue fazer poupança é responsabilidade da
sociedade. Sinto-me responsável por quem não conseguiu, porque a economia do
nosso País não propiciou a esse indivíduo essa possibilidade. Para essas pessoas,
estabelece-se, eventualmente, a renda de um salário mínimo ou algo do gênero.
Há vinte anos praticamente inexiste no País poupança do setor público. Eu já
mencionei isso. O crescimento econômico, principalmente em países em
desenvolvimento, depende do nível de poupança sobre o PIB condicionado à sua
participação. Para citar números redondos, o setor privado tem poupado 14%; o
setor externo tem posto 4%, 5%; a poupança do setor público já esteve próxima a
15%, mas hoje é zero, ou mesmo negativa. Eu diria que não é negativa porque
considero poupança o investimento em educação.
Portanto, o investimento é extremamente pequeno. Ele é feito por meio de
contração de uma dívida, que paga outra dívida, vai-se rolando e paga-se o resto.
Portanto, o sistema de capitalização no País hoje é praticamente nulo.
Conseqüentemente, com a regra que temos hoje, estamos definindo uma crescente
diminuição de renda para nossos filhos e netos.
É essa a decisão que está na nossa mão. Sem poupar, não vamos crescer.
Isso vale para o indivíduo, para a família, para o Município, para o Estado e para a
União. Sem poupança pública, não vamos crescer, e os únicos instrumentos de
poupança disponíveis no mundo hoje são as companhias de seguro ou os fundos de
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previdência. Isso precisa ser visto como instrumento não apenas da Previdência,
mas como instrumento para a construção de um País gerador de empregos, para a
tentativa de melhorar a situação de injustiça social.
A solução do problema do sistema previdenciário brasileiro abre caminho para
a redução do Risco Brasil e das taxas de juros. Todo o processo de desenvolvimento
depende de um alto índice de poupança da economia, que possa fortalecer o
sistema financeiro e o mercado de capitais e, ao mesmo tempo, incentivar um
investimento que gere riqueza.
Esse conceito de poupança, senhores, no meu entender, tem ainda um
aspecto importante: o sistema, ao estabelecer essa poupança e, conseqüentemente,
gerar empregos, envolve a necessidade de que haja poupança e também de que ela
seja bem aplicada. O Brasil já teve regimes de poupança próximos aos 30%, mas
fez aplicações ruins, pagou caro demais etc. É necessário poupar e aplicar com
eficiência esses recursos para que gerem a riqueza necessária.
Darei agora um número importante para V.Exas.: a situação da nossa
empresa. Hoje tenho uma folha global no Brasil de 263 milhões de reais, o que dá
uma média salarial de 1.700 reais por pessoa. Os empregados recolhem 6,5 milhões
de reais sobre essa folha — é o teto de 10%, o recolhimento em nome dos
empregados. A empresa, ao recolher os 20%, recolhe 79 milhões de reais. É muito
importante os senhores compreenderem o que isso significa. Isso quase leva àquele
raciocínio: para pagar um aposentado, o outro está pagando meio salário. Aqui há
uma relação de 4,6. Se hoje o aposentado privado tem um teto de 1.500 reais,
descontam-se dele 10% e quando vai aposentar-se ele recebe uns 1.300 reais,
nessa relação já temos um certo equilíbrio. É por isso que o setor privado está
razoavelmente equilibrado. Mas vamos tomar, eventualmente, uma decisão para
desequilibrá-lo.
O que acontece? Hoje tenho uma relação de 6 milhões de reais, em que a
empresa paga 4,6%, porque faz os que ganham mais pagarem. Na realidade,
quando recolho da empresa, a pessoa diz que a empresa está pagando, mas a
empresa não paga nada. Quem paga é o consumidor. Ou alguém tem dúvida sobre
isso? A empresa só paga o Imposto de Renda. O resto repassa para o preço do
produto. Então, o consumidor está pagando esses 20% adicionais; ou seja,
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novamente são os 95% da população brasileira. Estamos legislando para os 5%, ou
estamos legislando para os 95%?
Os senhores desculpem minha ênfase, mas na realidade estamos discutindo
o problema, no meu entender, com superficialidade, porque qual é a próxima
conseqüência? Estamos recebendo uma proposta inteligente de estabelecer um teto
único. É importantíssimo haver um teto único no País, porque, se houver duas ou
três regras, vai haver uma quarta e uma quinta, e teremos dez ou cinqüenta tetos
progressivos, como sempre aconteceu no País, com as diversas promessas
eleitorais. Então, isso é para haver justiça e evitar um achatamento grande demais.
Na realidade, hoje o meu consumidor e o meu operário já estão quase
pagando 50% dessa relação, considerando que têm uma relação de 4,6 e a
poupança é zero. No momento em que estou elevando o teto de 1.500 reais para
2.400 reais, vamos ter, no curto prazo, uma arrecadação a mais sobre os 900 reais,
mas estamos repetindo a história de como nasceu a nossa Previdência, sem
poupança; estamos empurrando para nossos filhos e nossos netos o pagamento do
buraco que fizemos por toda a vida.
Tenho a convicção absoluta de que o regime tem de ser de poupança. A
transição é dificílima, mas, se é difícil hoje, vai ser cada vez mais difícil, ou nos
levará à inviabilidade. Conseqüentemente, quanto mais baixo o teto, menor é a
injustiça social.
O segundo ponto é o seguinte: se subirmos de 1.500 reais para 2.400 reais,
vamos arrecadar mais no começo — como no início da Previdência, quando
tínhamos 31 contribuintes para um aposentado —, mas vamos empurrar o problema
para a frente, e ele vai voltar a acontecer daqui a vinte ou trinta anos. Provavelmente
não vamos estar por aí para discutir esse problema, ou, se estivermos, já estaremos
na passividade.
Na realidade, o sistema tem uma dimensão política e social talvez maior do
que a que está sendo debatida. Ao tratar desse problema conceitual, permitam-me
dar mais um exemplo. Não estou discutindo privatização ou não-privatização. Pode-
se fazer um fundo todo estatal, obedecendo a uma regra, com aplicações de títulos
etc. Prefiro, como cidadão, ter o livre arbítrio de escolher se quem vai administrar
esse fundo vai ser meu sindicato, minha igreja ou minha empresa. Deixem o
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indivíduo escolher! Não vamos tirar a liberdade, porque a tendência é pôr todo o
dinheiro no BNDES ou no Banco do Brasil. A opção melhor é de títulos de renda
fixa. Talvez a reserva adicional pudesse ser aplicada em títulos de renda variável.
Com relação aos 4%, mostrei aos senhores que uma pessoa contribuindo por
37 ou 38 anos com 10% — pode eventualmente ir para 12%, mas é um detalhe em
que não quero entrar demais —, que teoricamente comece a contribuir aos 20
anos... Nesses dias, um líder sindical disse-me que na realidade não se começa aos
20 anos, mas aos 14 anos. Então, que ele se aposente depois de uma poupança,
porque provavelmente esse indivíduo também não vai ter uma sobrevida tão longa,
devido a uma condição social pior. Talvez não venha a ter uma sobrevida de 20
anos, embora esse crescimento da sobrevida seja uma coisa impressionante. Por
isso o sistema não fecha.
Vou citar um exemplo do Rio Grande do Sul, que é fantástico. Tenho um
amigo da Brigada Militar que se aposentou com 47 anos. Essa pessoa,
pacificamente, vai ter uma sobrevida de 30 anos. Leva uma vida saudável, de
exercícios etc. Portanto, ele poderá chegar a um patamar de terem que ser pagos 30
anos de benefícios. Por isso, pergunto: como cidadão, devo cuidar da previdência
dele? Se fosse um bombeiro, já se aposentaria cinco anos mais cedo. Como, no
final, pega um cargo de confiança em um gabinete qualquer, ganha uns 20%
adicionais. Então, a sociedade está pagando por algo por que o indivíduo não
contribuiu. Um cidadão desse nível tem que ser um problema, num país em que a
maioria absoluta é pobre? No meu entender, voltamos à pergunta: os senhores vão
legislar para os 5% ou para os 95%? Essa é a pergunta.
Dou mais um exemplo, agora sobre a importância da capitalização. Não estou
discutindo estatização ou não. Pessoalmente, estou convicto que um fundo gerado
privadamente provavelmente vai ser menor, até porque não corre o risco de
acrescentarem os 2% de custo de aval. No FINAME, uma empresa menor paga
menos de 2% dessa intermediação; 2% é o teto. Fala-se muito do exemplo do Chile.
Qual é a soma dos fundos de pensão do Chile hoje? Trinta e cinco bilhões de
dólares. A economia do Chile é semelhante à do Estado do Rio Grande do Sul. Para
trazermos uma General Motors para lá, para conseguir 1 bilhão de dólares de
investimentos, entregamos tudo. Começamos a ter retorno, com pagamento de
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impostos, geração de empregos etc., ou seja, temos benefícios. Não quero discutir
se foi bom ou ruim, porque é um tema complexo. Então, para conseguirmos 1 bilhão
de dólares no Rio Grande do Sul, fizemos o diabo, assim como a Bahia, para
conseguir todo o sistema. Se o Rio Grande do Sul tivesse hoje fundos de pensão
com 35 bilhões de dólares e tivéssemos começado como eles há 20, 25 anos, qual
seria o número de empregos ou de impostos que estaríamos gerando com esse
valor? Se transferíssemos isso para o Brasil, diria o seguinte: o País hoje teria 350
bilhões de dólares aplicados em geração de emprego, gerando mais impostos.
Como estamos neste conflito de não ter crescimento acima de 2,5%,
senhores, digo-lhes: o problema tem dimensões maiores. A tendência é evitar esse
quadro de desajuste dos direitos adquiridos, que é um tema complexo. Para mim, o
único direito adquirido seria aquele em que a pessoa poupou ou a entidade que a
emprega tenha poupado esse dinheiro; o resto é um sistema de benefícios e
privilégios. Acho que o teto tem que ser estabelecido dentro do que foi conceituado,
não pode haver três ou quatro aposentadorias, ou um modelo em que a pessoa
entra, fica alguns anos no setor público, leva os benefícios de todo o sistema e não
contribui em proporção. Por isso, a conta individual é importante: é o único modo de
evitar os privilégios.
Com esse exemplo de poupança, de geração de emprego, não estamos
discutindo Previdência só no aspecto de justiça. Há correção de injustiças, mas, ao
irmos de 1.500 reais para 2.400 reais, aumentamos o buraco. Ao estabelecermos
isso, não estamos estabelecendo poupança. E vou dar mais uma visão prática. O
Brasil, graças ao esforço que o Governo está fazendo para gerar superávit, está
conseguindo a confiança do mercado financeiro internacional. Pessoalmente, digo
que, se o dólar está caindo, está bom. Com as exportações preocupamo-nos, mas
na realidade estamos potencialmente abrindo o Brasil para o fluxo de entrada de
capitais. Digo o seguinte: só quero capitais estrangeiros programados; não quero
que entrem e saiam. Quero que entrem aqui e tenham que ficar um tempo certo,
porque senão a qualquer tosse — e tivemos quatro ou cinco tosses durante os
Governos passados — a garganta aperta e o dinheiro foge do Brasil.
Sem poupança interna não se vence. Cada um dos senhores sabe o que
significa poupança interna, pessoal; é um sacrifício, mas, se não conseguirmos sair
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da nossa poupança dos 14% privados mais 4% de estrangeiros, vamos chamar mais
poupança externa. Vamos fazer poupança interna, porque senão qualquer tosse
externa nos atinge. E só teremos geração de empregos, impostos e formalidade se
criarmos conta individual de poupança. É uma transição difícil, mas nem que
façamos só um pedaço, se não iniciarmos esse processo, no meu entender,
estaremos apenas empurrando um buraco maior para o futuro.
A decisão é politicamente inteligente, porque rompe os privilégios, mas cria
um setor privado... Hoje o setor privado paga 20% nessa relação de 4,6. Quando
formos a 2.400 reais, os 20% vão ficar os mesmos, ou vão aumentar? Vamos tirar
mais ainda? Vamos aumentar os 20% para tapar o buraco que vamos criar? De
onde vamos tirar a diferença?
Na realidade, os Srs. Congressistas têm que tomar uma decisão que envolve
todos nós, porque estaremos decidindo o futuro das próximas gerações. É lógico
que existe um conflito de interesses entre os que estão pagando e os que estão
recebendo. Quem está recebendo não quer abrir mão; não lhes interessa se foi um
privilégio.
Temos que estabelecer a justiça social, e só se conseguirá isso, no meu
entender, com um sistema de poupança.
Muito obrigado, Presidente. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) - Muito obrigado, Dr. Jorge
Gerdau Johannpeter.
O próximo conferencista, a quem concedo a palavra, é o Sr. Edison
Guilherme Haubert, Presidente em exercício do Instituto MOSAP — Movimento dos
Servidores Aposentados e Pensionistas. S.Sa. tem a palavra por até 20 minutos.
O SR. EDISON GUILHERME HAUBERT - Sr. Presidente, membros da Mesa,
Sr. Relator, Deputado Pimentel, demais conferencistas, Sras. e Srs. Deputados,
senhores e senhoras, inicialmente, quero justificar a ausência do Presidente do
MOSAP, que não pôde comparecer por motivo de saúde. O Dr. Domingos Travesso,
nosso Presidente, é um homem de 77 anos, que deu início a este movimento em
1991 porque logo que se aposentou, ao receber seus proventos, notava que eles
sempre diminuíam. Então, iniciou este movimento, primeiro entre os servidores da
Receita Federal do Estado de São Paulo, depois com os servidores da Receita
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Federal em todo o Brasil e, em 1992, fundou o movimento com todos os servidores
públicos do País.
Quero trazer uma saudação do Presidente a todos os senhores e dizer da
nossa satisfação por estarmos aqui. Ouvimos com muita atenção os
pronunciamentos dos capitães da indústria, do comércio e da agricultura. Tudo o
que foi dito é verdadeiro. Concordamos. Tem de ser assim mesmo, embora nós,
servidores públicos deste País, a partir de 1991, tenhamos sido escolhidos para
bode expiatório de tudo o que acontece de dificuldades na Previdência Social.
É claro que sabemos que há dificuldades. É claro que entendemos que
existem diferenças de caixa, o propalado déficit da Previdência pública, mas também
sabemos que esse déficit não é verdadeiro. Não vou entrar em detalhes nem em
números porque eles já foram exaustivamente discutidos nesta Comissão e em
todos os fóruns que se estão realizando por este Brasil afora.
Temos como certo que a Previdência não é deficitária. Ela é superavitária. O
problema está na forma como se define que o Estado é responsável por todos os
servidores públicos, sejam eles da União, dos Estados ou dos Municípios.
Quando o cidadão se apresenta para fazer um concurso público, ele o faz
cumprindo rigorosamente os preceitos contidos no edital. Não modifica nada depois
do edital. Ele concorre com todos os seus concidadãos que se inscreveram para o
mesmo concurso. Portanto, se passar e assumir a função, não estará usurpando
nada, nem buscando privilégios, mas apenas recebendo aquilo que o próprio Poder
Público lhe colocou à disposição para que possa ser um servidor público dedicado,
exemplar, como todos são, e, sobretudo, cumpridor da função de bem atender a
toda a sociedade.
O servidor público escolhido como bode expiatório — assim nos parece —
sente-se preocupado, está amargurado. Temos a impressão de não ter mais
segurança nenhuma em nossas atividades, como se nosso salário, nossas
aposentadorias e nossas pensões fossem uma usurpação. Não entendemos assim,
e a própria Constituição Federal nos dá a guarida legal necessária para o
desempenho das nossas funções.
Portanto, não aceitamos a pecha de que somos privilegiados. O único
privilégio que talvez tenhamos é a coragem de nos preparar para os concursos
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públicos e de assumir o ônus da nossa função, muitas vezes ganhando pouco, mas
com aquela idéia de que teremos uma segurança relativa durante longo período de
nossas vidas.
Começo afirmando que não nos sentimos privilegiados, a não ser no aspecto
de que falei há pouco. A Constituição, em seu art. 40, garante aos servidores
públicos aposentados e pensionistas as prerrogativas da paridade de vencimentos e
da integralidade das pensões. E a mesma Constituição garante a não-contribuição
de servidores inativos.
É difícil para nós, servidores públicos, discutir com os capitães da indústria,
do comércio e da agricultura, porque eles têm razão em tudo o que afirmam.
Sabemos que a capitalização é desejável para todos. Se tivéssemos saldos dos
nossos salários para aplicar em sistemas de capitalização, certamente o faríamos.
Quem não gostaria de ter uma capitalização? Quem não gostaria de ter uma
poupança interessante, para não mais ter de se preocupar com o dia-a-dia ou com
encargos de família, de saúde, de educação e assim por diante, com seus próprios
encargos de dignidade de vida, como servidor público ativo, aposentado ou
pensionista? É a própria Constituição que nos garante as prerrogativas em que
estamos investidos.
É lógico, queremos participar da reforma, queremos participar da construção
deste Brasil. Sempre quisemos. Todos os servidores públicos deste País,
principalmente enquanto estão na atividade, preocupam-se em construir este Brasil
com dignidade, desempenhando bem o seu papel. Assim, as carreiras, por exemplo,
dos auditores fiscais da Receita Federal, dos auditores fiscais da Previdência, dos
auditores do Ministério do Trabalho, da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária
Federal, do Judiciário, do Legislativo e todas as demais carreiras do Executivo. Não
achamos que estamos usurpando nenhum tipo de privilégio, até porque estamos
amparados pela lei.
Vimos discutindo, desde a campanha política passada, a necessidade de se
construir um Brasil novo, porque nos últimos anos o que se viu foi a venda do
patrimônio nacional, que muitos dizem que não ocorreu; dizem que na verdade
houve uma doação para os grande capitais, internacionais ou brasileiros, não
importa. Hoje, o País não tem mais patrimônio. As telefonias são todas ou da
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Espanha ou de Portugal. As companhias de eletricidade também não são nossas. O
que se vê é o Governo tendo de subsidiá-las ou de emprestar-lhes dinheiro. Assim
como no passado emprestou para a compra, agora terá de emprestar para que elas
não saiam do País ou para que não quebrem aqui dentro.
Não somos os únicos responsáveis por todas as mazelas que houve. Dizem
que o servidor público nunca contribuiu. Contribuiu sim. Nos antigos regimes, de
1938 a 1951, os servidores contribuíram para o Instituto de Previdência e
Assistência dos Servidores do Estado (IPASE) com aplicação de alíquotas de 4% a
7% sobre o total de sua remuneração. De 1952 até 1973, passaram a contribuir com
7,2%. Em 1974, 80% dos servidores foram transferidos para o regime geral,
contribuindo com 8% a 10% sobre o teto de vinte salários mínimos. Em 1977, o
IPASE foi incorporado ao Sistema Integrado de Previdência e Assistência Social
(SINPAS), e o fundo do IPASE desapareceu. Em 1988, os servidores foram
enquadrados no regime jurídico único, e mais uma vez os fundos de previdência dos
servidores públicos desapareceram. Em 1993, a contribuição dos servidores passou
a representar de 9% a 11% sobre a remuneração total de seus vencimentos, ou de
seus proventos.
Os servidores públicos sempre contribuíram para a Previdência Social. No
entanto, os recursos de cinqüenta anos dessa contribuição simplesmente
desapareceram, foram desviados para outras finalidades, e o Governo nunca
cumpriu sua obrigação de depositar a parte patronal. Ora, se o Estado, durante todo
o período em que a previdência do servidor público era altamente superavitária, não
cuidou de criar um fundo e destinou toda a receita das contribuições dos servidores
para a realização de obras e outros fins, não é justo agora que exija que apenas os
servidores em atividade arquem com toda a despesa das aposentadorias.
O Estado passou por um enxugamento drástico de pessoal nos últimos anos,
conforme tabelas já largamente difundidas da Secretaria de Recursos Humanos, que
demonstram como a despesa com pessoal vem diminuindo comparativamente à
receita corrente líquida da União. A queda drástica, de 54,5, em 1995, para 36,7 em
2002, prova que as dificuldades financeiras do Estado não decorrem de gastos com
os servidores.
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Dessa forma, entendemos que não há déficit público da Previdência e
também que nós, servidores públicos ativos, aposentados e pensionistas, não
podemos aceitar essa duríssima carga que querem nos impor. Por que não se pensa
em outros setores? Não ouvi ninguém falar nos problemas que há com as entidades
filantrópicas, nos desvios enormes de receita da própria Previdência, na sonegação,
na dívida da União, dos Estados e de muitos Municípios para com a Previdência.
Existe dívida? Claro que sim. Por que não se fala nisso? Por que não se fala
em taxar, talvez, bens supérfluos? Por que não se tenta discutir a possibilidade de
descontar para a Previdência sobre viagens ao exterior de turistas bem abastados?
Porque servidor público não está fazendo essas viagens, não pode, não tem
dinheiro, não tem dólares para gastar.
Como essas, há muitas outras possibilidades para resolver parte do problema
da Previdência. Não estamos rejeitando a possibilidade de que os servidores que
queiram, facultativamente, ingressem em sistemas de fundos. O que não podemos é
aceitar a pecha, em voga nos últimos dias, nos últimos meses, de que os servidores
do Legislativo, do Judiciário e do Ministério Público são os grandes responsáveis
pelo déficit.
Ora, se 5% da população brasileira fossem responsáveis por isso,
representariam muito pouco no PIB e muito pouco nas despesas globais. Também
muito pouco em relação às dívidas externa e interna brasileiras, que certamente não
decorrem desses aspectos da Previdência, porque os servidores públicos federais
ganham “x” ou “y” e descontam 11% sobre a totalidade de seus ganhos.
A Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso XXXVl, estabelece que a lei não
prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Nós,
servidores públicos, tanto federais quanto estaduais e municipais, aposentados ou
pensionistas, temos sim o direito adquirido, garantido pela Constituição Federal, e
entendemos que o direito adquirido de aposentados, um deles o de não contribuir
para a Previdência Social, está embasado na cláusula pétrea do art. 60 da
Constituição Federal, § 4º, inciso lV:
“Art. 60.
.............................................................................
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§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de
emenda tendente a abolir:
IV - os direitos e garantias individuais. “
Portanto, para instituir ou mesmo modificar a contribuição para a Previdência
por parte dos servidores aposentados e pensionistas, é necessária uma nova
Constituinte brasileira originária, porque os atuais Parlamentares no Congresso
Nacional não são originários, mas derivados desta Constituição.
Temos de acreditar nesta promessa feita pelo hoje Presidente Lula, ontem
candidato, quando, entre outras coisas, agradecia ao povo brasileiro o apoio no
primeiro turno da caminhada pela construção de um Brasil decente e reiterava os
compromissos com a justa valorização de todos os profissionais do serviço público:
“Somamos, portanto, a nossa admiração, a nossa
esperança e a nossa solidariedade a cada um e a cada
uma de vocês que, em seu esforço de luta quotidiana,
mesmo com todas as adversidades impostas pelo atual
Governo FHC, continuam abnegados na prestação de
serviços de qualidade à população do Brasil. Nesse
segundo turno, contamos com vocês para conseguirmos
os votos necessários a nossa eleição.
Lula Presidente, pois assim seremos reais
parceiros de trabalho, seremos companheiros e
companheiras comprometidos com a promoção da paz e
da justiça social em nosso País. No art. 13, item 10, Lula
menciona, entre os direitos que diz que não vai mexer:
retorno de paridade entre ativos, aposentados e
pensionistas.”
Portanto, está reafirmando o princípio da própria Constituição Federal,
respeitando os direitos adquiridos.
O próprio Ministro da Previdência, em reuniões que tivemos oportunidade de
realizar, aconselhou-nos a não perder tempo com o problema do direito adquirido,
uma vez que ele será respeitado. E até acreditávamos. Mas hoje, infelizmente,
houve negociação e pressão dos Governadores para que a proposta do Governo
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Federal taxasse os inativos, sob pena de não haver acerto com relação ao ICMS ser
descontado nos Estados produtores ou nos de consumo. Então, tratou-se de clara
imposição dos Governadores.
Sr. Presidente, o direito adquirido precisa ser respeitado de acordo com a
Constituição Federal vigente, e não por meio de emendas constitucionais. O direito
adquirido precisa ser respeitado tanto para os aposentados e pensionistas —
aposentadoria integral, pensão integral, paridade, isenção de contribuição —, como
para os servidores em atividade, permitindo-se que se aposentem com base na
Carta Magna, segundo as mesmas regras estabelecidas para os que já se
aposentaram.
Faço minhas as palavras do então candidato e hoje Presidente Luiz Inácio
Lula da Silva:
“Ninguém pode chegar aqui e dizer que vai fazer a
reforma da Previdência, que ela será universalizada, que
teremos um único sistema de previdência, público e
privado, e tudo estará resolvido”.
Está mentido quem diz isso, porque o servidor público concursado tem direito
adquirido constitucionalmente, e há decisão do Supremo Tribunal Federal nesse
sentido. Portanto, podemos fazer a reforma da Previdência, mas ela vigorará para os
que entrarem no serviço público e não para os que já estão. Lutei a vida inteira pelos
direitos adquiridos dos trabalhadores e não vou querer tirar direito adquirido de
ninguém.
Por isso, quero crer que não é verdadeira a intenção do Governo Lula de
encaminhar proposta de emenda constitucional que taxe aposentados e
pensionistas, retire outros direitos, quebre a paridade e institua 70% da pensão,
como se isso dependesse apenas de decisão pessoal. A decisão é de Deus. A
pensão pode ser decorrente tanto de dois ou três anos de efetivo exercício do
servidor quanto de trinta ou quarenta anos. Não depende de nós. Então, que
aposentados e pensionistas, servidores públicos da ativa — e até mesmo os que
ingressarem porventura no serviço público — trabalhem com tranqüilidade para que,
quando aposentados, tenham a vida digna que merecem, que o País lhes
proporcionou, o que não é privilégio de ninguém, muito pelo contrário, é o estrito
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cumprimento da Constituição Federal e das leis subseqüentes. A Constituição e as
leis foram feitas por Parlamentares e não pelos servidores.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Advirto que, de acordo com
o Regimento Interno, não são permitidas manifestações do público, mas apenas dos
Parlamentares.
(Intervenção inaudível.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Nem a favor, nem contra.
Minha posição é totalmente neutra. Os aplausos ao conferencista anterior, como
percebi, foram feitos pelos Srs. Parlamentares, livres para fazer qualquer
manifestação.
(Intervenção inaudível.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Mas, na maioria, por
Parlamentares. Todos são testemunhas de que as manifestações foram de
Parlamentares. Por isso não fiz essa advertência.
(Intervenção inaudível.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) - Pois é, mas estarão nos
Anais para quem não esteve presente.
Concedo a palavra ao último conferencista, Sr. João Resende Lima,
Presidente da Confederação Brasileira dos Aposentados e Pensionista — COBAP.
S.Sa. terá vinte minutos para fazer sua exposição.
O SR. JOÃO RESENDE LIMA – Sr. Presidente, Deputado Roberto Brant, Sr.
Relator, Deputado José Pimentel, Srs. Parlamentares, senhoras e senhores, há
muitos anos o Movimento Nacional dos Aposentados e Pensionistas vem se
posicionando, discutindo com os demais setores interessados da sociedade.
Pequenas variações foram acrescentadas ou corrigidas no processo. Hoje, temos
clara visão do arcabouço capaz de corrigir distorções e injustiças, assegurar uma
previdência pública voltada para os que vivem do trabalho, para a camada de
trabalhadores menos remunerada.
Defendemos uma previdência básica, obrigatória, social, pública, solidária e
universal que integre a totalidade dos que vivem do trabalho até o teto de dez
salários mínimos — ou até aquele teto que já pagamos, de vinte salários mínimos —
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sem artifícios ou exceções, incluindo desde o Presidente da República até o mais
modesto trabalhador informal; do setor público ou do setor privado; da cidade ou do
campo; civil ou militar; federal, estadual ou municipal; do Executivo, do Legislativo ou
do Judiciário.
Esse é o apelo dos trabalhadores aos Srs. Parlamentares: Previdência única
para todos os brasileiros. Pode haver categorias específicas, como juízes, militares,
mas que se estabeleça essa base. Se houver algum privilégio, que o Governo
conceda por meio de lei complementar. Mas é preciso haver uma só Previdência
para toda a população brasileira — aí, sim, teremos distribuição de renda —, com
obrigatoriedade semelhante àquela do cadastro de pessoas físicas, o CPF, do
Ministério da Fazenda, podendo os que vivem de capital integrar-se a ela
facultativamente; controlada por uma entidade autônoma, pode ser o INSS; com
personalidade jurídica e economia própria, independente do Tesouro Nacional;
financiada pelas contribuições dos associados e das empresas e por tributos
específicos; administrada e fiscalizada por um sistema colegiado quadripartite —
trabalhador da ativa, aposentado, empresário e Governo.
O melhor exemplo histórico dessa forma de administração pode ser
encontrado no período entre 1960 e 1964, na Lei Orgânica da Previdência Social,
com o ente público e o empregador respondendo como patrão pelas mesmas
responsabilidades e obrigações contributivas das empresas privadas. Acima desse
limite, a instituição e o estímulo à participação, em caráter facultativo, de Fundos de
Pensão não lucrativos, que também poderão ter fixado um teto de contribuição e
benefício.
Defendemos a instituição obrigatória de um fundo complementar público, com
baixo custo de administração, que poderá ser instituído pelo próprio INSS, porém,
com a economia totalmente separada da Previdência básica, e que possibilite, de
forma eclética, a adesão e participação de trabalhadores autônomos ou informais,
de empregados de pequenas e médias empresas que não tenham acesso a fundos
fechados.
Para a previdência básica, não vemos possibilidade de outro sistema
financeiro a não ser o atual, de repartição simples. Para a previdência
complementar, apoiamos o sistema de capitalização. Entretanto, há que se atentar
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para sua finalidade principal: garantir o pagamento de complementação à
aposentadoria básica. A responsabilidade maior deve ser do administrador do
Fundo. Portanto, teremos de encontrar uma forma de capitalização que, não sendo
estritamente individual, guarde correspondência com os aportes feitos. Ou seja, nem
só benefícios definidos, nem tampouco só contribuição definida.
Para tanto, os recursos do fundo deverão ser direcionados a aplicações
conservadoras, de preferência com finalidade social, com o máximo de segurança,
evitando-se investimentos de alto risco — já que a finalidade não é o lucro, mas a
complementação das aposentadorias.
O calcanhar-de-aquiles dessa ou de qualquer reforma é sua instituição inicial.
Devemos começar do marco zero, respeitando as situações individuais existentes,
sem tabelas de adaptação e outros recursos e truques que apenas mascaram a
supressão dos direitos já adquiridos ou potenciais. Temos de debater com a
sociedade, principalmente com os setores diretamente interessados, com os pés no
chão, sem sonhos mirabolantes — afastados da realidade — e sem receio de
perseverar no sentido de garantir melhor futuro aos que se aposentam,
possibilitando a implementação pacífica, sem protesto ou recursos judiciais, que
dificultam e entravam o processo.
Precisamos ter consciência de que uma reforma social tão profunda, que visa
corrigir mazelas, erros e injustiças, não acontecerá com o toque de uma vara de
condão. Ela terá de ser efetivada a médio e longo prazo. O importante é começar
garantindo a eqüidade de tratamento e eliminando privilégios, forçando, por meio de
incentivos, de convencimento, a migração daqueles que não tenham sido atingidos
pela nova Previdência. Temos de marcar esse processo com transparência e ética
nos procedimentos, eliminando obstáculos atuais da informalidade, da sonegação,
da inadimplência, do desvio de verbas e das fraudes.
Trata-se de trabalhosa mudança, mas perfeitamente viável. Por isso
oferecemos ao Governo essas idéias, debatidas com aposentados e trabalhadores
ligados a organismos de previdência social em funcionamento. A Previdência Social
que desejamos irá proporcionar futuro mais justo e tranqüilo para os que
construíram, com seu trabalho, a riqueza deste País.
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Fala-se muito em déficit. Nós, trabalhadores brasileiros, que contribuímos
honrosamente com esta Nação, já levamos um calote. Será que agora querem
preparar outro?
O ex-Ministro da Previdência e Assistência Social, Reinhold Stephanes, já
dizia que o superávit da Previdência era de 157 bilhões de reais. Em 2002, a
arrecadação da seguridade social foi de 157 bilhões e 400 milhões; despesa com
aposentados, 124 bilhões e 440 milhões, um saldo positivo de 32 bilhões e 960
milhões; arrecadação dos funcionários públicos, 171 bilhões 660 milhões, para um
custo de 156 bilhões e 670 milhões. Mesmo pagando os militares, os funcionários
públicos e nós, do INSS, o superávit é de 15 bilhões e 90 milhões de reais.
Muitos se baseiam nesses 157 bilhões por ano para transferir os recursos e
achatar os benefícios dos aposentados. Para onde foi esse dinheiro? Esta Casa
criou setenta e cinco leis. De 1999 para cá, foram gastos com o Palácio do Planalto
e com o FAT 23 bilhões, 430 milhões, 767 reais e 84 centavos.
Os aposentados me fazem lembrar um mito nordestino, Miguel Arraes,
quando dizia que o Brasil era o único País em que o empregado financiava o patrão.
Hoje, além de financiarem os patrões, financiam o Palácio do Planalto, a Câmara
dos Deputados, o Senado Federal, o FAT, o Judiciário e os territórios. Já entreguei
esses números ao Presidente desta Comissão.
No Brasil, em vez de se questionar a idade de aposentadoria, fala-se,
primeiro, que a ciência na Holanda e no Japão avançou. A média de vida do
nordestino é de 56 anos. Em se concedendo uma aposentadoria com 65 ou 70 anos,
é melhor criar uns duzentos Lampiões e matar os trabalhadores nordestinos. Só se
compara com a Europa as coisas boas. Por que não conceder para o Brasil o salário
mínimo da Holanda, de dois mil dólares?
Em 2001, nós pagamos aos trabalhadores rurais 13 bilhões e 500 milhões de
reais; para a renda mensal vitalícia, 1 bilhão e 636 milhões; para a LOAS, 2 bilhões,
687 milhões, perfazendo um total de 17 bilhões, 823 milhões. O que mais me
impressiona é o Ministro da Previdência dizer que houve um déficit de 17 bilhões na
Previdência. Na verdade, houve um superávit.
Eles dizem que há dois trabalhadores para um aposentado. Os Constituintes
de 1988 foram sábios ao criarem as rubricas necessárias para cobrir com a
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Previdência Social. Mas para que foi criada a COFINS e todas as outras rubricas?
Temos que fazer uma reforma para melhorar, como se faz a reforma de uma casa
ou de um automóvel, mas não se podem fazer reformas para tirar direitos de
trabalhadores, e com mentiras. Então, o que a nossa entidade pede? que se faça
uma auditoria.
Não podem dar o cano! Já perdoamos aquilo que frisado pelo Ministro
Reinhold Stephanes, mas a partir daquele cano para cá, vamos saber onde está o
dinheiro da seguridade social, para onde ele foi, onde foi empregado. Não se pode
transformar os 35 anos de contribuição do cidadão em 32. Não adianta! O que
resolve é mostrar para a sociedade os verdadeiros números da seguridade social. Aperspectiva de vida do brasileiro não pode ser comparada com a do Japão, a da
Holanda, a da Itália ou a da Alemanha. No Brasil, a média de vida do homem é de
65 anos – no Nordeste, 56 ou 58 – e da mulher é de 72. Ela precisa desses cinco
anos, porque tem três atividades, tem de trabalhar, cuidar do marido, das crianças e
da casa. E lhes digo sinceramente: se não fossem essas mulheres, eu não
trabalhava para nenhum homem no mundo! Se me dessem roupa, eu rasgava, e
não pensava em aposentadoria.
Para encerrar, eu gostaria de dizer o que nós aposentados já ganhamos na
Justiça o pagamento dos 147%. Mas o que está acontecendo hoje é vergonhoso. A
Constituição, no seu art. 58, garante a quantidade de salários mínimos na data da
aposentaria. Passamos a receber quando ganhamos a questão; mas, de lá para cá,
estamos “comendo pelas beiradas”.
O salário mínimo hoje é de 240 reais, mas consta no rodapé do documento do
INSS que eu tenho direito a dez salários mínimos. Vejam quanto eu estou
recebendo: apenas 140.73 reais, uma defasagem de 70.54%. Como posso sustentar
a minha família, dar educação ao meu filho e aos meus netos com essa
barbaridade?
O Ministro da Previdência garantiu que corrigiria essa questão concedendo ao
aposentado o INPC e outros benefícios. Fernando Henrique Cardoso fez isso nos
primeiros três anos: em 1995, ele deu 42,86 reais para o salário mínimo e para nós
que ganhávamos acima de um salário; em 1996, deu 12 reais para os que
ganhavam salário mínimo e 15 reais para nós; em 1997, 7,14 reais para os que
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ganhavam salário mínimo e 7,76 reais para nós. Nesses três anos, nós até
acreditamos que iríamos recuperar o que tínhamos perdido. Em 1998, quando
reeleito, ele deu 8,33 reais para os que ganhavam salário mínimo e 4,81 reais para
nós; em 1999, deu 4,61 reais para os dois; em 2000, 11,03 reais para os que
ganhavam salário mínimo e 5,81 reais para nós; em 2001, 19,21 reais para os que
ganhavam salário mínimo e 7,66 reais para nós; em 2002, 11,11 reais para os que
ganhavam salário mínimo e 9,20 reais para nós.
Senhores, o salário mínimo do Brasil é um dos piores do mundo, mas no
Governo de Fernando Henrique ele chegou a 112 dólares. Hoje, de 240 reais, chega
a 80 dólares. Nós, que ganhamos menos de um salário mínimo, tendo uma
defasagem de 70.54%, só temos um caminho: apelar para a consciência dos
senhores. Se isso não é possível, temos uma outra saída: pedir aos cientistas que
façam a clonagem não só dos seres vivos, mas também dos ossos, mandar clonar
Lampião e os conselheiros e colocar vinte deles em cada Estado com arma e
munição, pois se é para morrermos de fome, é melhor morrermos lutando.
Muito obrigado, Sr. Presidente. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Muito obrigado pela reação
moderada. (Risos.)
Iniciaremos agora os debates.
Ouviremos cinco Parlamentares em cada turno, que terão um tempo de três
minutos, a fim de que todos se manifestem.
Espero que todos se contenham nesse limite, pois se alguém se estender, os
Deputados subseqüentes serão prejudicados. Serão quinze minutos para perguntas,
cada expositor disporá de dez minutos para as respostas.
O SR. DEPUTADO DURVAL ORLATO – Sr. Presidente, peço a palavra para
uma questão de ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) - Tem V.Exa. a palavra.
O SR. DEPUTADO DURVAL ORLATO – Sr. Presidente, para resgatar um
pouco o sentido da audiência, peço encarecidamente, nas próximas reuniões, a
presença de no máximo dois expositores.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Três.
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O SR. DEPUTADO DURVAL ORLATO – No máximo dois. Sendo mais, não
dá tempo, na réplica e na tréplica, de formarmos uma opinião frente às
concordâncias ou discordâncias. Uma vez que o tempo é curto, partiremos do
pressuposto de que estamos aqui mais para ouvi-los do que para nos ouvir.
Meu apelo é que façamos somente as perguntas para que possamos formar
nossas opiniões.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Há oito pessoas listadas.
Sugiro ouvirmos três, uma vez que haverá extensa fase de discussão do relatório.
Não limitarei o tempo, pois não tenho nenhuma pressa para concluir os trabalhos
desta Comissão. Quem tem pressa, parece, é o Presidente da República.
O SR. DEPUTADO IVAN VALENTE – Eu também não.
Sr. Presidente, quero fazer uma proposta nessa direção. V.Exa. me permite?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Pois não.
O SR. DEPUTADO IVAN VALENTE – Sr. Presidente, temos participado de
todas as audiências. Sem dúvida, a preocupação do Deputado Durval Orlato é
absolutamente justa. Não é possível entender se chamar, para sofrimento da Mesa,
dos convidados e do Plenário, seis debatedores e os Deputados terem três minutos
para fazer perguntas. Não há discussão.
Se aceitarmos a sugestão de S.Exa., os convidados serão chamados
novamente, quando a proposta de reforma da Previdência chegar aqui
concretamente, na segunda rodada. Deve haver debate com os expositores.
O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN – Pela ordem, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Vou responder ao
Deputado Ivan Valente.
Não tenho nenhuma pressa no trabalho da Comissão. Quem parece ter é o
Presidente da República e seu partido, majoritário. Vou seguir o que for mais
conveniente para as Lideranças. Vamos ouvir o PT, o PDT, o PCdoB, o PSDB, o
PFL. Tudo vai ser decidido sempre pela maioria.
O SR. DEPUTADO IVAN VALENTE – Mas as Comissões são soberanas.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Sim, mas vai ser decidido...
O SR. DEPUTADO IVAN VALENTE – E o Presidente também tem soberania,
sim, para, ao discutir com a Comissão, encontrar o melhor caminho para tirar mais
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proveito das audiências públicas, a fim de que haja um debate profundo e sério.
Essa é a prioridade zero.
Sr. Presidente, obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Vamos iniciar a fase de
debates, com a recomendação aos Srs. Parlamentares de que observem os três
minutos de tempo, que são regimentais.
Vamos ouvir o primeiro inscrito, Deputado Alberto Goldman.
O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN – Sr. Presidente, na próxima
quarta-feira, dia 30, o Presidente da República já anunciou que vai descer a rampa
do Palácio do Planalto, atravessar a Praça dos Três Poderes e entregar as
propostas de reformas previdenciária e tributária ao Congresso Nacional.
Portanto, nossa próxima reunião, se ocorrer, já se dará com, aí, sim, uma
proposta de emenda constitucional em tramitação. Então se criará nova Comissão,
ou se manterá a mesma, e se indicarão Presidente e Relator, que também poderão
ser os mesmos, tudo vai depender das Lideranças. E teremos, enfim, um documento
em mão. Neste momento, estamos aprofundando um pouco nosso conhecimento.
Este é um momento para ouvir mais.
Sinto-me satisfeito com as posições aqui expostas. Já tinha conhecimento
delas, até porque venho trabalhando nessas questões há muito tempo. Quando ouvi
os Drs. Roberto Nogueira e Jorge Gerdau Johannpeter há pouco, lembrei-me de que
muitas frases que disseram eu disse, em 1988, sentado à mesa, ao lado do ex-
Senador Mário Covas, Líder do PMDB — e eu não era Constituinte, mas Secretário
da Administração de São Paulo —, que me pediu: “Traga essas questões todas à
esta Mesa de Lideranças”. E eu as levei. É como se estivesse assistindo a tudo
novamente. Eu dizia: “Vamos levar este País à explosão em dez, quinze ou vinte
anos”. Não sei exatamente em quanto tempo, mas não há condições de se
responder àquilo que se está inserindo na Constituição. O Brasil não vai agüentar.
Mário Covas convenceu-se disso, mas não conseguiu persuadir as Lideranças nem
o Plenário e foi derrotado em todas as suas posições a respeito da matéria, é bom
que se diga, na Constituinte de 1988.
De lá para cá, venho discutindo, acompanhando e vivendo a matéria e tenho
posições muito consolidadas a respeito dela. Não quer dizer que não sejam
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mutáveis, em virtude até de uma nova realidade política. Nós, do PSDB, queremos
ter princípios para discutir. Não queremos entrar no varejo desta ou daquela
questão. Alguns princípios são básicos.
O princípio político é fundamental. Virá o projeto, o Relator será do PT, que
apresentará à Comissão a conclusão das suas negociações políticas, pressupõe-se
que constituirá base majoritária, e nós, da Oposição, teremos de dizer se estaremos
juntos ou não, até porque já temos posições conhecidas e reconhecidas. Nossa
postura se firmará em função do relatório apresentado. Iremos nos basear em
princípios.
Não aceitamos essas reformas como instrumento de elevação de carga fiscal.
Ou seja, relação carga fiscal/PIB, naquele momento pelo menos. É claro que, no
futuro, com a melhoria do aparelho, nova base tributária, será possível ter aumento
da carga fiscal. Mas neste momento, tem de ser neutra. Aliás, a base principal da
discussão de todas essas reformas, de oito anos para cá, era esta: tem de ser
neutra.
Tem de haver distribuição de renda. Chega de dar os tais 5% neste País
pobre, os 95% pagarem os 5%. Não é possível, não vamos aceitar, eu não vou
aceitar caminhar nessa direção. Não é possível fazer mais isso. Essas reformas têm
de diminuir as desigualdades regionais, macro e até micro, que tanto existem.
Ouvi as opiniões. A partir da semana que vem, o mundo será novo, pois o
projeto virá e teremos nova etapa de trabalho.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Muito obrigado, Deputado
Alberto Goldman.
Ouviremos agora a palavra sempre brilhante do Deputado Alceu Collares.
O SR. DEPUTADO ALCEU COLLARES – Sr. Presidente, agradeço a forma
generosa com que V.Exa. se dirige a este modesto trabalhador do Parlamento
brasileiro.
Discordo quase plenamente do que foi dito, à exceção do Dr. Jorge Gerdau
Johannpeter, que não ouvi. Tive de pronunciar discurso sobre os índios — na minha
formação genética há sangue índio, negro, é uma mistura —, escalado que fui para
ser o orador em nome do PDT, quando fomos prestar homenagem a Juruna, que
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pode ter sofrido toda forma de críticas, mas foi Juruna. E há um dado sobre ele
muito interessante: gravava tudo, pois não confiava no branco. Achava que o branco
era safado. Mas é problema de índio, temos de levar em consideração.
Bem, estamos patinando sobre o óbvio, no que decorre hoje desse rombo,
que não é verdadeiro, não é real. A primeira providência desta Comissão é fazer
auditorias sobre essas contas, tanto as do Sr. Ministro quanto as que o companheiro
apresentou. Confio muito no amigo, mas vou pedir todos os dados e estudá-los.
As concepções mostradas por muitos amigos são demonstração de que
estamos trabalhando com efeitos, não estamos buscando as causas. Estamos
trabalhando com as conseqüências. Efeitos e causas de algum déficit é a falta de
crescimento econômico. Quando o mundo tinha um crescimento econômico da
ordem de 7%, como hoje a Ásia, a Índia e a China têm, não havia problema na
Previdência Social, ela era sempre superavitária.
Não ouvi nenhum dos oradores falar em rombo, em sonegação. Brasília foi
construída com dinheiro da Previdência Social, a ponte Rio—Niterói também, Itaipu
e outras grandes obras meteram a mão na Previdência Social. O Estado brasileiro,
se quer corrigir isso, tem de pagar a dívida que tem com os trabalhadores públicos e
privados, porque esse era um dinheiro nosso, dos trabalhadores.
Ninguém pode descurar e partir de debate que não seja a tentativa de
crescimento econômico. Se estivermos com este crescimento de 1,7% a 2,5%,
nunca teremos superávit de nenhum tipo, de poupança ou de arrecadação.
Então, vamos discutir as causas. E, lamentavelmente, se não for o Governo
do Lula, que merece confiabilidade.... Até porque já ando muito desconfiado quando
colocam um Meirelles, que não sei de onde vem. Não é PT; o Meirelles não se criou
na juventude do PT, não era do PT. E o Palocci está mais Malan do que o Pedro,
muito mais, e com o nosso dinheiro, com a Nação, com o nosso País. Não pode um
homem nos tratar dessa forma.
Estou imaginando que aí haja uma cortina de fumaça para cobrir o
continuísmo do modelo econômico, a não ser que se diga aqui, cientificamente, que
não há outra alternativa, tem de ser essa de dar mais dinheiro. Aliás, o Lula, em Belo
Horizonte, fez um belo discurso no primeiro turno da campanha eleitoral. S.Exa.
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disse: “Temos de parar este País, que está cada vez dando mais juros aos
banqueiros e menos salário aos trabalhadores”.
Mas agora não é assim. Esses cem dias não foram assim. Esse rumo que
está sendo tomado não é para isso. E este problema da Previdência Social é uma
cortina de fumaça que está sendo lançada sobre a consciência da Nação brasileira,
que tanta esperança depositou no Lula. Ainda não me considero decepcionado, mas
estou caminhando para lá a uma velocidade inusitada.
Agora o companheiro Roberto Nogueira fez todas as comparações. Aliás, o
companheiro lá já respondeu que não dá para comparar gente de vila com gente
que mora na metrópole. Vivemos em um mundo que não tem as condições da
Suíça, de Londres. Agora V.Sas. sabem que todas as alterações da Previdência
Social no Brasil se deram exatamente pelo sistema criado no Consenso de
Washington. Só não sabe quem não lê ou quem quer esconder a realidade. E esse
Consenso de Washington preconizou a implantação do neoliberalismo no mundo, à
exceção da Índia, da China, do Leste Asiático, que estão crescendo a mais de 7%.
O problema de uma nação é crescimento econômico.
Não se pode promover crescimento econômico dependendo do capital
financeiro internacional especulativo. Só os idiotas admitem que se pode crescer
com a entrada de recursos financeiros externos.
Vamos tratar, como dizia Maria da Conceição Tavares, dessa massa de
assalariados brasileiros que é capaz de, com a nossa indústria e com a nossa
agricultura, transformar este País e retomar o caminho do desenvolvimento
econômico. Crescimento econômico e redistribuição de renda são duas faces da
mesma moeda. Temos de crescer não para os ricos e para fora, mas para os pobres
e para dentro.
Justiça social se faz com Previdência Social; não tem de haver essa
preocupação de todos que ficam dizendo: “Ah, o atuarial! Aliás, não confio em
nenhum dado desses, nem nos seus, não me leve a mal. Vou mandar analisar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Deputado...
O SR. DEPUTADO ALCEU COLLARES – Já vou terminar. A esperança do
Presidente é que cada um termine mesmo sua intervenção em três minutos. E tenho
certeza de que vou terminar, porque sou disciplinado.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Aliás, é uma esperança
sempre frustrada.
O SR. DEPUTADO ALCEU COLLARES – Sou um homem disciplinado, vou
terminar.
Cada um dos empresários que estão aqui pode ter assessorias capazes de
aprofundar esses estudos. O que se está discutindo é a rama, é a superfície,
pegando o trabalhador público como vilão.
Os dados apresentados pelo Ministro Ricardo Berzoini estão, naturalmente,
desgastando o Presidente Lula, que vai à TV baseado naqueles estudos que não
são certos. Não vou dizer que as pessoas que os elaborou são mentirosas, porque
estão exercendo uma função público, mas estão equivocados. Não vou dizer que
são desonestos, mas não são corretos.
E por que comparar o regime geral de previdência social, no qual há dois
contribuintes, os empresários — com 22% —, e os trabalhadores — com 11% —,
com o regime próprio da Previdência Social, dos servidores públicos da União, dos
Estados e dos Municípios, das autarquias e das fundações? Como se vai comparar
se aí só há um dado que pode ser estatisticamente comprovado, que é a
contribuição do trabalhador público? Onde vamos retirar os dados desses gastos?
Qual é a confiabilidade se o Estado não participa, se não tem nenhuma
contribuição? Não há contribuição do Estado, do Município ou da União. Eles não
têm nenhuma contribuição. Se tivessem de contribuir paritariamente como
contribuem os empregadores brasileiros, não haveria nenhum déficit na Previdência
Social.
Por isso, quero encerrar, em respeito ao Presidente. Um dos males deste
País é que extinguiram — o Collor extinguiu — a Secretaria de Estatística e Atuária,
que estava realizando um trabalho muito incipiente no campo dos quantitativos. Não
vou dizer que todos esses dados são mentirosos, mas não são honestos. Não se
pode transformar o servidor público em bode expiatório. Respeitem as criaturas
humanas que fizeram um contrato com o Estado.
Quando fiz concurso para telegrafista, disse à minha mulher: “Olha, vamos ter
um salário razoável, nunca vamos ser ricos”. A não ser que roubasse, mas não
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tenho essa vocação. Nesta encarnação, graças a Deus, não tenho; na outra, até vou
pensar, porque há tanta gente se dando bem. (Risos.)
Por falar nisso, a corrupção na Previdência Social não foi até hoje.... Não vi o
Jorge. Trato como Jorge porque foi meu amigo, companheiro. Aliás, tenho o
privilégio de dizer que foi meu colega de turma. Éramos os únicos que trabalhavam.
Ele porque a família, desde os avós, tinha uma concepção filosófica, tinha começado
a fábrica do chão, e eu por uma diferença muito grande, por necessidade. (Risos.)
Era a única diferença.
Por isso, quero dizer aos companheiros: vamos aprofundar esse estudo, não
vamos nos deixar levar por essa cortina de fumaça pela qual o Lula está sendo
levado, equivocadamente. Ora, pelo amor de Deus, dar um aumento de 1% para os
trabalhadores do serviço público?! Nunca! Desde a República, quando implantada,
nem no Império, nem na Colônia, nenhum Governador foi capaz de cuspir no rosto
dos trabalhadores públicos dando 1% de reajuste. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Muito obrigado,
Governador.
Com a palavra a Deputada Luciana Genro.
A SRA. DEPUTADA LUCIANA GENRO – Boa tarde a todos, aos convidados.
Evidentemente, sendo o tempo curto, temos de optar sobre o que falar e com
quem debater na Mesa. Vou escolher o Dr. Jorge Gerdau Johannpeter, pela
importância que tem, por ser meu conterrâneo, embora não seja meu amigo nem
companheiro, mas um empresário que admiro e que, diferente de outros que
compõem o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, não é um devedor
da Previdência Social e abordou questões importantes no debate.
O Dr. Gerdau disse-nos que hoje se dá privilégio a alguns, achatando a
maioria. Isso é uma verdade tanto no serviço público como na iniciativa privada. Sua
empresa, por exemplo, uma das maiores do País e uma das maiores multinacionais,
talvez a única do Brasil, no ano passado teve um lucro líquido de mais de 800
milhões de reais. V.Sa. mesmo disse que a média salarial dos empregados é de
1.700 reais.
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Então, a realidade da iniciativa privada também é de apropriação de muito
dinheiro por parte de poucos e de socialização da miséria com a imensa maioria dos
trabalhadores.
V.Sa. nos disse que quanto mais baixo for o teto, menor é a injustiça social.
Quem sabe se baixássemos o teto dos lucros das empresas também pudéssemos
reduzir a injustiça social.
Acho que a questão do teto e dos privilégios que se dá a poucos, achatando a
maioria, precisa ser vista sob uma ótica mais ampla. Os servidores públicos como
um todo têm seus salários achatados em benefício de uma minoria, que está na
cúpula do Poder Executivo, do Poder Judiciário, do Poder Legislativo e das Forças
Armadas.
Para combater essa distorção, precisamos, em primeiro lugar, discutir o teto
salarial, único meio que pode realmente acabar com as distorções.
O teto salarial reproduz a injustiça nas aposentadorias, pois permite que os
altos salários continuem e faz com que o aposentado-marajá, que ganha 20 ou 30
mil reais, deixe de contribuir sobre a integralidade do seu alto salário.
Por exemplo, quem ganha 20 mil contribui com cerca de 2 mil reais. Se não
houver teto salarial, continuará ganhando 20 mil e, quando se aposentar, em vez de
contribuir com 2 mil reais, contribuirá, se o limite passar para 2 mil reais, com 200
reais.
Então, baixaremos o nível de contribuições para a previdência pública, ao
instituir o teto para as aposentadorias. O Estado continuará pagando as
aposentadorias integrais aos já aposentados e ainda terá de contribuir para os
fundos de pensão, que exigirão contribuição não só do empregado, mas também do
seu empregador, o Estado. Aumentará a despesa com as aposentadorias.
Em um artigo, o Prof. Wilson Kano, da UNICAMP, cita dados do IPEA que
apontam que o Estado gastará com o teto das aposentadorias 2,6 bilhões de reais a
mais ao ano. Esse número vai variar de acordo com o tamanho do teto. Quanto
menor o teto e mais servidores públicos aderirem à previdência complementar, maior
será o prejuízo do Erário. O teto não resolve o problema se for restrito às
aposentadorias.
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Quanto à poupança nacional a que o senhor se refere, acho que, sim,
precisamos nos livrar da dependência do capital financeiro externo especulativo.
Com isso estou de pleno acordo. O Brasil tem produzido poupança. O superávit
primário é uma enorme poupança que tem sido feita à custa dos investimentos
públicos na saúde, na educação, no salário dos servidores. Este ano a poupança
nacional será de 40 bilhões de reais. E ela está indo para onde? Para pagar os juros
de dívida. O problema da Previdência, da necessidade de se fazer justiça social
reside essencialmente na política econômica do País, que ou produz
desenvolvimento econômico, ou produz superávit primário para atender aos
interesses dos banqueiros e especuladores.
Foi essa lógica que nós, do PT, sempre denunciamos. Por isso, causou
muitíssima estranheza o documento divulgado pelo Ministério da Fazenda que critica
Governos anteriores por não terem produzido superávit primário maior para poder
pagar mais juros da dívida. Evidentemente, isso está em absoluto desacordo com a
idéia pregada pelo PT de que precisamos de desenvolvimento econômico.
Essa confiança dos mercados que está gerando a queda do dólar e do Risco
Brasil só me preocupa. O Risco Brasil não mede o desemprego e o nível salarial do
País, mas a vontade e a capacidade de o Governo pagar a dívida aos
especuladores que inventaram tal índice. Então, preocupa-me muito que estejam
tranqüilos, pois temos de ficar intranqüilos.
Com essa reforma da Previdência, estamos absolutamente intranqüilos,
porque, na realidade, mais uma vez fará os servidores pagarem a conta. E nós não
aceitaremos isso, Sr. Presidente. Não aceitaremos que a classe trabalhadora, que
foi massacrada nos últimos oito anos, que perdeu direitos e teve seu salário
arrochado, seja mais uma vez chamada a pagar a conta. É possível que exista uma
ou outra questão a ser modificada na previdência dos servidores, mas este não é o
momento para discutirmos isso. Primeiro, devemos valorizar o servidor, pagar seus
salários dignamente e parar de mandar dinheiro para banqueiros e especuladores.
Aí, sim, poderemos discutir como fazer mais justiça social também na previdência
pública dos servidores.
Muito obrigada. (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Tem a palavra o Deputado
Henrique Fontana, do PT do...
O SR. DEPUTADO HENRIQUE FONTANA – Do PT de onde, Sr. Presidente?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Do PT do Governo.
O SR. DEPUTADO HENRIQUE FONTANA – Do PT do Rio Grande do Sul.
Pensei que V.Exa. referia-se à definição estadual, tivesse se enganado e dito PT do
Acre, o que seria também uma honra para mim. O importante é que todos nós
somos do PT.
Sr. Presidente, se V.Exa. me permite — e descontando esse tempo para
nosso diálogo —, quero destacar exatamente a capacidade do PT de conviver com
todas as opiniões, o que fez com que nosso partido tivesse merecido essa grande
confiança dos principais partidos aliados e do povo brasileiro para neste momento
ter a responsabilidade de governar o Brasil.
Neste nosso debate, abordo um tema que tem relação com a questão
previdenciária. Não é o centro da discussão, mas tem sido muito debatido. Por isso,
optei por usar meus três minutos para abordá-lo. Acho que há grande convergência
de opinião no PT, em nosso campo aliado — o PDT, o PSB, o PCdoB e demais
partidos — e talvez, inclusive, ampla maioria no Brasil inteiro, que consolidou uma
visão crítica a respeito da política econômica extremamente nefasta aplicada em
nosso País ao longo dos últimos dez anos.
Vamos examinar apenas um dado, o grande garrote que o País tem de
administrar hoje. O Brasil tinha uma dívida que representava 30% do seu PIB. Ao
longo dos oito anos do Governo anterior, ela chegou a bater na marca de 63,5%, ou
seja, mais do que duplicou. Diversos motivos levaram a esses números, e não quero
simplificá-los num debate de três minutos. Mas dentre eles há um que vou destacar:
a irresponsabilidade de se ter congelado o valor da moeda brasileira e feito uma
grande propaganda sobre isso. Ouvimos várias pessoas repetirem a cantilena de
que aquela política econômica de que um real devia valer o mesmo que um dólar era
um grande benefício. Isso durou mais de quatro anos, aliás, permitam-me a
necessária ironia, durou até que se passasse um novo processo eleitoral. E isso, de
fato, trouxe prejuízos brutais.
(Intervenção ininteligível.)
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O SR. DEPUTADO HENRIQUE FONTANA – Exatamente, 0,82. O Deputado
Alceu Collares está me ajudando.
A propaganda era tão intensa que se dizia que a moeda brasileira poderia,
por decreto, algo absolutamente fora de mecanismo de mercado, inclusive, valer
mais do que o dólar. Isso custou muito caro e ocasionou um rombo na economia
brasileira. Mais do que esse rombo, trouxe um passivo brutal para os trabalhadores
públicos e privados do nosso País. A dívida social brasileira vai demorar muito
tempo para ser paga, pois é muito grande.
Quando se fala na preocupação — e concordo com a do Deputado Alceu
Collares — de que o reajuste do servidor público brasileiro foi de apenas 1,8 a 13%,
só quero dizer uma coisa: duvido que o Presidente Lula tenha menos vontade do
que o Deputado Alceu Collares de elevar esse índice. Duvido muito, pela história do
Presidente Lula e pelo compromisso do partido que ajudou a construir. No entanto,
há um problema: as amarras constituídas por essa política equivocada têm um preço
alto. E existem, sim, infelizmente, por conta de uma lógica hegemônica que
incentivou uma série de mecanismos, muitos até positivos, por exemplo, que as
inter-relações entre os países cresçam. Mas a brutal desregulamentação por que
passaram diversos mercados, dentre eles o financeiro, causa hoje o
enfraquecimento dos Estados. E quem produz justiça social e garante efetivamente
um ambiente que aponte para um equilíbrio é, sim, uma iniciativa privada atuante,
mas, acima disso, um Estado democrático que corrija as distorções que esses
mecanismos de mercado acumulam ao longo da história.
Hoje vivemos a chamada ditadura dos mercados. E, para enfrentá-la, que é o
papel de um País que se quer nação —, espero que tenhamos grande unidade no
Congresso Nacional a fim de nos colocar como Nação que quer discutir com outras
nações. Não podemos ser ingênuos e dizer: “Vamos para a mesa de negociação
discutir a ALCA com os Estados Unidos”. Achar tudo ótimo e ouvir vantagens de
todos os lados. Não. A história da humanidade mostra que foi nas relações
comerciais entre nações que os mais poderosos impuseram condições negativas
aos mais pobres. É preciso alterar essa lógica. É preciso sair dessa armadilha.
Quanto à preocupação do Deputado Alceu Collares, aliado do atual Governo,
posso dizer que ela é de todos nós. Como sairemos dessa armadilha? Com
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decisões coerentes que apontem para que o Brasil vença a posição de
vulnerabilidade em que se encontra hoje. É evidente que temos de baixar a taxa de
juros. Tenho convicção de que o Governo Lula irá fazê-lo ao longo dos próximos
meses. No entanto, não podemos tomar medidas que não estejam baseadas na
situação real do nosso País.
Mantenho na minha fala uma crítica muito clara e contundente à política
econômica adotada ao longo dos últimos anos. Caminhamos para mudá-la de forma
responsável e sustentável, pois aí, sim, vamos efetivamente fazer o resgate da
dívida social que todos queremos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Vou ouvir mais dois
Deputados, já são quase 13h.
Tem a palavra o Deputado Custódio Mattos e, em seguida, o Deputado Ivan
Valente.
O SR. DEPUTADO CUSTÓDIO MATTOS - Sr. Presidente, voltando ao tema
da Previdência Social e economizando tempo, quero apenas explorar a excelente,
concisa e cirúrgica intervenção do Sr. Jorge Gerdau. Chamo a atenção
principalmente do Relator, que tem a enorme responsabilidade de processar todas
as informações de um tema extremamente difícil e importante para o futuro do Brasil.
Na reunião passada, fiz uma intervenção em que procurava redimensionar a
lógica da discussão da crise da Previdência e da sua solução. Tentei mostrar que a
discussão sobre o déficit da Previdência é totalmente bizantina. Sem considerar a
maneira como a Previdência é financiada, nunca chegaremos a uma conclusão —
foi o que o Sr. Jorge procurou salientar — sobre quem está pagando a conta e quem
está recebendo seu retorno.
A idéia de que contribuímos e temos uma relação atuarial com a Previdência
é totalmente falsa, no caso do Brasil. Eu dizia naquele momento, sem precisar os
números, que de cada 100 reais que a Previdência Social gasta, no máximo, 20
reais saem do segurado. Os outros 80 saem dos contribuintes brasileiros
disseminados na sociedade, dos quais metade sequer é beneficiada pela
Previdência. O dado da realidade é mais grave. VSa. disse que metade do salário
sai do assalariado. Não é a metade, mas muito mais, porque muitos pagam e não
levam nada, ou seja, metade da população brasileira. É surpreendente, irônico,
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paradoxal, dramático que vejamos a Esquerda defendendo soluções que prejudicam
os pobres do Brasil.
E esse é um aspecto factual da Previdência brasileira que está dramatizado
no dado sobre o grupo de empresa que V.Sa. preside.
De todo o dinheiro que as empresas recolhem para a Previdência, 6,5 milhões
são descontados sobre o empregado, 79 milhões são recursos que a empresa
recolhe, como V.Sa. bem disse — e eu agradeço —, porque muitos empresários
dizem que é contribuição da empresa. Não é contribuição da empresa, mas de quem
compra seu produto; portanto, contribuição do conjunto da sociedade.
Comparemos: 6,5 milhões são descontados dos salários; 79 milhões são de
tributo indireto, que está embutido no preço, e o pobre, quando compra arroz, fubá,
café e açúcar, está pagando 79 milhões — e aço, no caso concreto.
Como uma das pessoas que estará aqui para discutir esse assunto,
desqualifico inteiramente, por razões opostas, a questão do déficit. Não é isso que
estamos discutindo. Temos de discutir quem paga a Previdência no Brasil, quem
dela se beneficia e qual a vontade da sociedade brasileira que isso seja mantido,
agravada a regressividade, que é enorme, ou avançando a progressividade. Nesse
contexto entra a discussão sobre qual contrato social a sociedade brasileira quer
fazer com seus servidores públicos, por exemplo.
O SR. JORGE GERDAU JOHANNPETER– A relação que existe é de 4.6. Na
realidade, recolhemos como impostos 79 milhões, mas na parte dos empregados
são 17 milhões, o que corresponde a 10%, mas sobre a folha total são 6,5%.
Desculpe-me, porque confundi, são 17 milhões contra 79 milhões.
O SR. DEPUTADO CUSTÓDIO MATTOS - Mas, mesmo assim. V.Sa está se
referindo à contribuição do empregador? Mas há várias outras contribuições
recolhidas pela empresa para a seguridade social que se acoplam a isso.
O SR. JORGE GERDAU JOHANNPETER– Estou falando só o que vai para...
O SR. DEPUTADO CUSTÓDIO MATTOS - Na realidade, a relação final será
essa original até por acaso, porque há outras contribuições que repercutem sobre o
preço. Acho que temos de discutir a tarefa dificílima do Relator, que vai balizar a
discussão. Ele, que é uma pessoa de enorme sensibilidade social e quer mudar para
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melhor, vai apresentar uma proposta que leve em consideração esse fato
fundamental para a Previdência Social no Brasil.
Para encerrar minha intervenção, quero dizer que me preocupa
profundamente o que foi relatado como sendo a proposta do Governo e aproveito
para abrir um parêntese. Não é verdade que a contribuição dos inativos vem por
pressão dos Governadores, é uma proposta do Governo, com a qual os
Governadores estão solidários pelas mesmas razões.
Por razões profissionais, já estudei as crises anteriores da Previdência e a
origem do seu agravamento — cada vez é maior em proporção ao PIB na sua
gravidade —: sempre se adota a solução mais fácil, que é aumentar a receita, que
só fere o interesse do pobre, que não percebe o que está pagando.
E agora o Governo vem com uma lógica não exclusiva, mas extremamente
preocupante. Qual o dimensionamento, como V.Sa. disse, o grau de regressividade,
de injustiça social da Previdência? Está na dimensão do teto. Quanto menor o teto
— como V.Sa. disse muito bem — da previdência social pública e universal, menor o
grau de regressividade, porque o pobre estará pagando menos para o remediado e
para o rico.
O Governo vem com uma lógica de caixa e não de previdência social. A
contribuição dos inativos e o aumento de teto não têm nada a ver com a lógica da
previdência social, mas com a lógica de caixa. Isso é para encaixar mais dinheiro no
curtíssimo prazo, para aumentar o financiamento do setor público, e agrava
sobremaneira não o caso dos aposentados, mas o aumento do teto, o grau de
regressividade e a crise da Previdência no futuro.
Vejo este assunto com muita preocupação. A Deputada Luciana Genro falou
em teto, mas não li nada sobre teto na proposta do Governo, infelizmente. Eu vi que
vai ser líquido, ou seja, integral, menos 11%, mas a proposta não fala em teto, nem
do ativo nem para efeito de aposentadoria.
(Intervenções inaudíveis.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Permita-me fazer uma
intervenção técnica. O teto já existe por dispositivo constitucional. Só depende de
uma resolução a ser assinada pelos Presidentes da República, da Câmara, do
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Senado, do Supremo Tribunal Federal. O Congresso já votou o teto há três anos. Os
Presidentes dos Poderes não foram capazes de se entender sobre esse valor.
O SR. DEPUTADO CUSTÓDIO MATTOS – O Presidente está se referindo ao
teto da atividade. Estou dizendo que o projeto do Governo, tal como anunciado na
mídia, não menciona que haverá um teto de valor de benefícios. O servidor vai se
aposentar com salário integral menos 11%, é o que está no projeto até agora. Foi
isso que eu quis dizer.
Sr. Presidente, cumprimento mais uma vez V.Exa. e o Sr. Relator pelo grau
de precisão na composição das Mesas, o que tem sido muito esclarecedor para a
discussão.
O SR. DEPUTADO FÉLIX MENDONÇA – Sr. Presidente, peço a palavra pela
ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – V.Exa. está com a palavra.
O SR. DEPUTADO FÉLIX MENDONÇA – Sr. Presidente, sugiro a V.Exa e à
Comissão que continuemos ouvindo todos os Parlamentares.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – O Plenário é soberano. Se
o Plenário estiver de acordo com esta proposta, permaneça como está.
Aprovado.
É o Plenário quem decide e não o Presidente.
Com a palavra o Deputado Ivan Valente.
O SR. DEPUTADO IVAN VALENTE – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,
senhores convidados, nesse pouco tempo de que disponho, volto a sugerir que
refaçamos os debates, agora que a proposta foi apresentada. Como foi dito, não há
nem proposta de teto. Como vamos discutir? Temos de ouvir a sociedade.
Ouvimos diversos setores — trabalhadores, empresários, aposentados etc. —
mas, infelizmente, a discussão começa pelo varejo e não pelo atacado. A
Previdência Social mexe com a vida de todos os cidadãos brasileiros, então temos
que saber por que se quer uma reforma da Previdência. Isso atinge todo o povo
brasileiro e está embutido no modelo econômico e na realidade brasileira. Vamos
trazer a realidade da Itália para cá? Aquele país levou quinze anos para discutir a
reforma da Previdência, consultou setores, fez costuras com a sociedade, fez
acordos, mas no Brasil todas as vezes em que um novo Governo assume, diz ser
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prioritária a reforma da Previdência. Lembram-se do Presidente Fernando Henrique
Cardoso? Não foi assim em 1994? Isso está se repetindo agora por causa do déficit
público, que vamos analisar.
Ele cresceu. Não é verdade que o Governo Fernando Henrique Cardoso não
tirou direitos dos trabalhadores e não arrecadou mais. Ele arrecadou mais, sim.
Aprovou duas emendas constitucionais aqui. Não fez tudo o que queria, mas fez. E
mais do que isso, vendeu patrimônio estatal à beça, mais de 80 bilhões. Cadê o
dinheiro? Foi tudo para pagar a dívida, que aumentou, multiplicou-se.
Então, digo o seguinte aos senhores, particularmente ao Dr. Jorge Gerdau,
que é do setor produtivo: não é verdade que não há poupança no Brasil. Concordo
que podemos ter uma poupança maior, tirando a arrecadação brutal que se paga
para o superávit primário para pagar a dívida. E digo mais: criou-se não uma cultura
produtiva, mas uma cultura especulativa. Onde está a poupança da classe média?
Nos fundos DI, na especulação da própria dívida pública. É aí que está a poupança,
ou seja, na especulação, que rende mais que o capital produtivo e não gera
emprego. Isso é um problema para o País.
Temos de discutir esse aspecto, e acho que aqueles empresários que querem
investir produtivamente e gerar emprego poderiam ser aliados nessa questão. Para
isso, temos de ir diretamente ao ponto: a elite brasileira tem de tomar posição sobre
a hegemonia do capital financeiro, que representava, em 1994, em relação ao
capital produtivo, 3,5%, no Governo Fernando Henrique Cardoso, e foi para 15%, e
agora é de 35%.
Temos de tomar posição sobre a taxação e sobre o controle de fluxo do
capital financeiro. Tem de ser uma decisão que, ao invés de pressionar o Governo a
tirar do pobre, pressione-o a mudar o modelo econômico e a tomar uma atitude
contra a lógica do Fundo Monetário Internacional. É isso que temos de fazer no
Brasil. Mas a idéia que passa é a seguinte: quanto mais baixo o teto, menor a
injustiça social. Só que isso é jogar o pobre contra o remediado, não distribui renda,
não gera economia dinâmica.
O maior plano de distribuição social deste País ainda foi trazer o trabalhador
rural para a Previdência, e isso foi feito sem capitalização, sem coisa alguma. Hoje é
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na cidade do interior que está o dinheiro para se gastar e dinamizar o comércio,
gerar empregos. Isso é que é plano de distribuição de renda.
Não podemos fazer uma reforma previdenciária para jogar o pobre contra o
remediado. Temos de atacar o problema. A reforma da Previdência deve ser feita
sem pressa, buscando-se acordos. Há, sim, distorções, como os tetos não
estabelecidos. Há, por exemplo, que se esticar o tempo no setor público e no cargo
etc., mas não essa lógica de se criar uma previdência complementar com base em
um teto baixo, para que o mercado financeiro se alegre, a bolsa suba e o Risco
Brasil caia. O mercado está louco para que isso aconteça. E esse dinheiro vai para
onde? Para a especulação financeira de novo, porque na hora em que se aprovar a
previdência complementar, não tenho dúvidas de que eles não permitirão que ela
seja pública. O mercado ficará nervoso, irascível, lá fora. O FMI virá aqui dizer que
não pode ser pública.
Mas mesmo os fundos públicos têm problemas. A PREVI não foi utilizada
para viabilizar as privatizações com corrupção? E o BNDES, que é uma fonte de
estímulo ao desenvolvimento econômico, onde está o dinheiro que a AES puxou e
agora não vai pagar? Vai buscar nas ilhas Cayman?
E não é só o problema dos fundos, a questão é saber como administrá-los,
priorizá-los e ter um projeto nacional.
O debatedor da CNC, Roberto Nogueira, falou sobre o PL nº 9. Se o
aplicássemos agora, o Estado teria de entrar com mais dinheiro, haveria mais
gastos e não ajuste fiscal, por três motivos: primeiro, porque o Estado não contribui e
com o PL nº 9 ele passa a contribuir. Então ele entra com uma parte. Segundo, os
servidores hoje contribuem além do teto dos trabalhadores da iniciativa privada, que
pagam até R$ 171,00. Terceiro, como já pagaram por mais ou menos 20 anos, a
aposentadoria seria uma retribuição pelo que já pagaram.
Como vêem, a situação não é simples, não é fácil de ser resolvida. Aí está a
questão: caminharmos para uma mudança de modelo econômico. E aí quero dizer
ao nosso companheiro Henrique o seguinte: vamos dizer publicamente que é uma
herança maldita, vamos trazê-la à baila todo dia e a toda hora. Mas a herança é da
inércia do modelo, da hegemonia do capital financeiro, das pressões diárias, dos
elogios constantes da FEBRABAN, do Secretário do Tesouro Americano, John
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Snow, e, finalmente, daqueles que querem que continue a abertura econômica —
não é isso que vieram pedir aqui? —, porém, que o gasto entre na previdência
complementar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Conclua, Deputado Ivan
Valente.
O SR. DEPUTADO IVAN VALENTE - Sr. Presidente, Deputado Roberto
Brant, peço aos nossos debatedores que voltemos a esse debate. Peço, inclusive, a
V.Exa. que refaça os convites, para que aprofundemos o debate em cima do projeto
concreto. Certamente todos somos contrários a privilégios. Temos de encarar essa
discussão de frente. Quanto a isso, não há problema. Mas, pelo amor de Deus,
afirmar que uma professora que ganha 1 mil e 200 reais de aposentadoria está em
situação privilegiada, não dá para agüentar. Realmente, o professor do setor público
que se aposenta com 2 mil reais, ganha dez vezes mais do que o do setor privado,
que ganha 200 reais. É lógico que ganha dez vezes mais. Assim como pode haver
aposentadoria de 1 milhão de reais, enquanto outros nada têm. A questão é saber o
que é público e o que é privado. É preciso que haja Estado neste País. Mas não há
Estado que sirva ao conjunto da sociedade se não oferecer remuneração digna. No
caso, é um Estado depauperado.
Agradeço a todos os Deputados pela atenção. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado José Pimentel) – Tem a palavra o nobre
Deputado Félix Mendonça.
O SR. DEPUTADO FÉLIX MENDONÇA – Sr. Presidente, senhores
debatedores, como disseram anteriormente os nobres Deputados Alceu Collares e
Henrique Fontana, dependemos muito do crescimento, que é importantíssimo para
termos uma previdência e para que nossos trabalhadores sejam bem pagos — os da
ativa e os inativos. Sem crescimento e sem visão macro do problema não podemos
nos desenvolver.
No País, temos duas dívidas: a interna e a externa, sendo que a interna é
maior que a externa. Foram destinados, no Orçamento de 2002, 60 bilhões de reais
para pagamento de juros, mas chegamos a 91 bilhões de reais. Para 2003 foi
previsto 94 bilhões de reais de juros, mas somente em dois meses, janeiro e
fevereiro, pagamos 32 bilhões, o equivalente a todo o déficit da previdência pública.
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Projetamos para o ano de 2003 192 bilhões de reais de juros. Nenhuma economia
pode crescer com essa estrutura de débito. Teremos de reestudar essa dívida e a
forma como o País deve crescer para pagá-la.
A visão do Banco Central é no sentido de que os superávits primários que
surgem evitarão que o País tome mais recurso. Hoje quem toma dinheiro do banco é
o Governo. Se não o fizer, terá de emprestá-lo ao sistema produtivo.
Conseqüentemente, o sistema produtivo acionará o crescimento do emprego,
porque o crescimento do produto equilibra a inflação, diminuindo o desemprego, que
é outro grande problema. E no instante em que gerar mais emprego, o Regime Geral
da Previdência começará a melhorar.
No Regime Geral da Previdência Social temos: previdência pública e
previdência complementar. A previdência complementar subdivide-se em
previdência complementar pública e previdência complementar privada.
Na previdência complementar o Regime Geral da Previdência Social está
equilibrado. O que se pode dizer é que o aposentado está recebendo mal, e não há
poupança, como disse o Dr. Gerdau. Acontece que os 78 bilhões de reais
arrecadados dariam para pagar os aposentados de hoje. O restante, conforme disse
anteriormente o Sr. Jorge Gerdau, é assistência social. E é verdade. Estão previstos
também não só assistência social, mas renúncias previdenciárias. Ou seja, não há
problema quanto ao Regime Geral da Previdência. Apenas se o crescimento ocorrer,
poderá pagar melhor ao aposentado e até fazer a poupança citada por S.Sa.
O problema maior está no regime da previdência pública. Aí há uma visão
distorcida. O cidadão, ao ser aprovado em concurso público, passa a ser empregado
do Estado, e em determinado instante passará a ser inativo. Mas pressupõe-se que
ele foi empregado público durante toda sua vida. Neste caso a lei ajuda. Até a Lei nº
8.112, de dezembro de 1990, os servidores estatutários eram regidos pela Lei nº
1.711, de 29 de outubro de 1952, e recolhiam contribuição apenas para o
pagamento das pensões. O Estado admitia que o salário do funcionário não era só o
da ativa; era o da ativa e mais uma parte para quando ele se tornasse inativo.
Mudou-se então para o sistema de contribuições, e novos mecanismos foram
criados.
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Tem razão o funcionário público quando diz que a Previdência era um
sistema em que o Estado se dispunha a pagar o funcionário a partir do dia em que
ele entrava no órgão público até o dia que se aposentava. Essa era a visão.
Hoje temos um déficit de 28 bilhões na Previdência, que tem de ser
examinada sob muitos aspectos. Na verdade, há distorções terríveis entre o
funcionário público em geral e os funcionários privilegiados. Mas isso é um caso à
parte.
Tanto a previdência complementar pública quanto a previdência
complementar privada geram poupanças fantásticas. Teríamos até quatro BNDES
atuando no sistema produtivo. A visão global é essa. Então é preciso enxergar o
macro para o crescimento da economia. Não se pode gerar a utopia da sociedade
contemplativa, de que nos falam os utópicos, segundo a qual toda produção poderia
manter-se, como, aliás, está acontecendo no Kuwait, que mantém toda a população
com a sociedade. Neste caso, é uma expressão máxima e não a nossa realidade.
Vamos fazer o País crescer, porém, sem olhar para trás ou adiante, apenas
analisando os mecanismos desse crescimento. Isso é que é importante.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Antes de passar a palavra
ao nobre Deputado Lindberg Farias, chamo a atenção para o seguinte: são treze
oradores inscritos. Peço a V.Exas. que respeitem o tempo de três minutos, ainda
teremos a rodada de resposta.
O SR. DEPUTADO FÉLIX MENDONÇA – Eu me excedi muito, Sr.
Presidente?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Não, Excelência. Foi um
excesso médio.
Com a palavra o nobre Deputado Lindberg Farias.
O SR. DEPUTADO LINDBERG FARIAS - Sr. Presidente, na intervenção do
empresário Jorge Gerdau surgiu uma pérola. Sempre desconfiamos que isso
acontecesse. Estamos ouvindo, na Câmara dos Deputados, o depoimento do
Presidente da Confederação Nacional da Indústria. Pedirei, inclusive, as notas
taquigráficas, porque o empresário Jorge Gerdau foi bem explícito ao dizer que as
empresas não pagam, quem paga são os consumidores. São palavras do
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Presidente Nacional da Indústria. Peço que o Relator fique atento a essas palavras,
porque isso deve ser o centro das nossas preocupações.
Como pode, após essa afirmação, o Dr. Jorge Gerdau falar de injustiça social,
de privilégios? São 5% contra 95%. Vamos ao concreto: os 5% representam os
professores universitários, são servidores públicos que ganham pouco mais de 2 mil
reais.
A Deputada Luciana Genro citou o lucro líqüido da empresa de V.Sa., que é
algo em torno de 800 milhões. Pois bem, a discussão aqui é de modelo. E o
Deputado Custódio Mattos fez a seguinte intervenção: são 5% que ganham entre 2
mil a 4 mil reais, que devem ser os prejudicados, ou são os 95%, que são os
grandes empresários e banqueiros, que têm de pagar e dar a sua verdadeira
contribuição ao País? Estou inclusive com a lista dos maiores devedores da
Previdência, que representa uma dívida ativa de 150 bilhões. Dentre eles, estão
relacionados os maiores bancos e as maiores empresas, como a Companhia Vale
do Rio Doce, e por aí vai.
A discussão tem de ser nesse sentido, Sr. Relator: como fazer com que os
grandes empresários, as grandes fortunas deste País e o sistema financeiro
paguem? Tivemos aqui a confissão pública do Presidente Nacional da Indústria de
que as empresas não pagam, quem paga é quem consome. Quantos consumidores,
para dar esse lucro de 800 milhões, devem ter pago, devem ter suado a camisa?
Quanto à questão da poupança, Dr. Jorge Gerdau, o Deputado Ivan Valente
disse muito bem que o problema não é de poupança nacional. Como explicar que
nos últimos quinze anos o PIB, relativamente à participação dos bancos, subiu de
6% para 26%? O lucro líquido dos dez maiores bancos do País subiu, em 2002, de 3
bilhões, 794 milhões reais, para 8 bilhões e 700 milhões reais. Enquanto isso, a
carga tributária diminuiu, em 1994, de 3,2 bilhões de reais para 1,6 milhões de reais.
Existe uma grande poupança nacional. O problema é que ela está na especulação
financeira, conforme disse muito bem o Deputado Ivan Valente.
O que se quer com a discussão desse modelo da reforma da Previdência é
tirar mais de setores médios, que já estão extremamente apenados pela política do
último período. Afinal, quando se fala de servidor público federal, é bom lembrar que
são oito anos sem reajuste de salários, com redução violenta de salário.
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Volto a dizer que não é privilégio algum professor universitário ganhar de 2 mil
reais a 3 mil e quinhentos reais. Ou seja, retiram recursos dessa parcela para
continuar alimentando a especulação financeira. Esse centro do modelo é que está
em discussão aqui.
Concordo, inclusive, com a intervenção do Deputado Félix Mendonça, que
levantou a discussão sobre pagamento de juros dessa dívida. Toda a lógica que
está presidindo a discussão da reforma da Previdência é a do ajuste fiscal. O
documento lançado recentemente pelo Ministério da Fazenda coloca o tema reforma
da Previdência como central nessa discussão do ajuste fiscal. Há que se discutir,
sim, a tese do rombo da Previdência e da seguridade social.
Talvez o empresário Jorge Gerdau não saiba, mas ao se discutir seguridade
social, como está expresso na nossa Constituição, descobre-se que no ano passado
tivemos superávit de 36 bilhões. O problema é que há itens das receitas, como
COFINS, CPMF, Contribuição Social sobre Lucro Líquido, em que o dinheiro saí,
porém, constitui-se outro superávit, no caso o primário.
Hoje vários Ministros ocupam espaços nos jornais para reclamar por mais
orçamentos, porque se não mudarmos esse superávit primário de 4,25% do PIB não
há como retomar o caminho do crescimento econômico, melhorar aspectos
importantes em relação às políticas sociais. O problema está aí, no desvio de
recursos. Deputado Félix Mendonça, sabemos que no Orçamento deste ano está
registrado: 93 bilhões para pagamento de juros.
Agora temos de refazer esses cálculos, porque com a contribuição dos
inativos elimina-se a faixa de 1 mil e 50 reais. Isso deve representar — não sei ao
certo quanto a valores; o nobre Relator deve saber, inclusive de cabeça — pouco
mais de 1 bilhão. Sabemos que se aumentar meio por cento na taxa de juros a
dívida sobe mais do que isso. Qualquer variação cambial acarretará aumento da
dívida também maior do que esse, uma vez que metade da nossa dívida está
vinculada ao dólar.
Que lógica é essa? Mesmo sob o argumento desse ajuste fiscal há que se
perguntar: como querem que nós, Parlamentares, olhemos na cara, nos olhos de
cada aposentado deste País digamos: você vai ter que contribuir. Empresário Jorge
Gerdau, como o senhor chama de privilegiados os que ganham 2 mil reais, o senhor
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que tem lucro líqüido de mais de 800 milhões por ano? Como pode V.Sa. vir aqui
dizer isso, com seus colegas devendo a Previdência? Como dizer ao aposentado
que ele vai ter de contribuir agora, depois de haver contribuído durante toda a vida?
E não se tem coragem de olhar para os banqueiros e para o sistema financeiro,
quando, só de juros da dívida, temos que pagar mais de 93 bilhões este ano.
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Com a palavra o Deputado
Serafim Venzon.
O SR. DEPUTADO SERAFIM VENZON – Sr. Presidente, Deputado Roberto
Brant, Deputado José Pimentel, Senhores Convidados, preocupa-me o fato de que
os projetos das reformas que o Governo está encaminhando, na minha opinião,
estejam começando errado, se é que os outros começaram errados anteriormente.
Vejam, por exemplo, que a primeira discussão do Presidente sobre a reforma
tributária, discussão prolongada, foi com quem? Com quem não vota na Câmara,
mas que, presume-se, manda no voto dos Deputados. A discussão sobre a
Previdência ocorreu, em uma reunião longa também, para se decidir o que vai se
colocar no projeto da Previdência com aqueles que não votam na Câmara, mas que
mandam no voto da Câmara, como mandam no do Senado.
Veja, por exemplo, Sr. Presidente, que a chamada reforma tributária presume
que vai encaminhar simplesmente a equalização do ICMS em todos os Estados do
Brasil. Todos vão cobrar a mesma taxa. Há o entendimento de que isso vai gerar
equilíbrio social. Ao contrário, os Estados pobres do Brasil, que hoje cobram menos
ICMS, conseguem pelo menos vender seu produto e empregar mão-de-obra. É
verdade que com salários baixos, mas conseguem. Na hora em que o ICMS for
equalizado nem motorista de caminhão vai ganhar dinheiro, porque cada Estado vai
comprar do vizinho ou de si próprio, haja vista que o ICMS é o mesmo. O ICMS, que
é o maior imposto do Brasil, é o mais injusto que existe.
Talvez os Srs. Deputados não tenham atentado para este fato: o ICMS é
dividido mais ou menos da seguinte forma: 85% é dividido na mesma proporção que
é arrecadado; os 15% restantes são divididos igualitariamente para todas as
cidades, independente do seu tamanho em cada Estado. Isso significa que se uma
cidade é rica, ela recebe mais dinheiro, damos mais dinheiro a ela. E da cidade
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pobre — porque compra da cidade do lado, porque trabalha na cidade ao lado —,
dessa vamos tirar, vamos dar menos a ela. Esse é o princípio.
Ora, se na reforma tributária se prevê esse estímulo ao desequilíbrio, a
Previdência está sendo olhada meramente do ponto de vista atuarial, e mais, de
forma injusta. Vejam: a metade do dinheiro usado para pagar salário dos
aposentados não vem da contribuição, vem de outras fontes, que todos pagam. Ora,
se a metade do dinheiro para pagar o salário dos aposentados vem de fontes que
todos pagam, como é que há pessoas que não se aposentam porque não pagaram
a Previdência? Não existe construção civil que não pague a Previdência. Então,
como é que o pedreiro não se aposenta, se ele construiu a casa? Não, mas ele não
pagou a previdência, dizem. Mas eu paguei, aquele que construiu o prédio pagou.
Como é que há marceneiros, vidraceiros, eletricistas, encanadores que não se
aposentam? Onde é que eles trabalharam? Não construíram prédios e casas? Se
todos pagam, se a contribuição não é calculada pela folha dele, é calculada pelo
tamanho do prédio, por metro quadrado, pelo que está construído. Por isso, então,
até do ponto de vista atuarial, está havendo sacanagem.
Sr. Presidente, já vi que quando um candidato assume o cargo de Presidente
da República acaba desempenhando um papel diferente daquele que prometia nos
seus discursos. E a prova está aí: o atual Presidente recebe elogios das mesmas
pessoas que elogiavam os Presidentes anteriores: o governo americano, o FMI. E
daqui a pouco receberá até os mesmos prêmios. Concluímos que, se são as
mesmas pessoas que estão ficando contentes, o modelo talvez não seja muito
diferente.
Então, se a Câmara quiser fazer uma reforma, teremos que levantar nossa
auto-estima e dizer que quem faz a reforma tributária é a Câmara, e não o Governo
Federal. O Governo vai obedecer à lei feita pela Câmara. Quem faz a reforma da
Previdência é a Câmara e o Senado, e não o Presidente da República, ou os
Governadores — estes fariam de um jeito que lhes permitisse melhor aparecer e
lhes possibilitasse realizar mais obras nos seus Estados.
Por isso, Sr. Presidente, se quisermos de fato uma reforma, teremos que
começar a fazê-la esquecendo os atuais trabalhadores e aposentados. Vamos
deixá-los sob a lei atual e criar um projeto bonito, ideal para os que vierem a
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ingressar no mercado de trabalho. E com um detalhe: não pode haver ninguém que
fique fora da Previdência, a menos que esta Casa consiga explicar que todo o
dinheiro da Previdência está diretamente ligado à contribuição. Ou seja, se cada
um receber de volta aquilo que contribuiu para a Previdência, ainda tem uma
explicação, mas do jeito que está agora... Todo mundo paga a Previdência. Quem
está do lado de fora pagou, e não tem nada. Se corrigirmos essa injustiça, já
faremos muito. Mas para isso não podemos encará-la do ponto de vista atuarial
como ela está sendo encaminhada no projeto. Pelo menos é o que temos ouvido
dizer.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Com a palavra o Deputado
Durval Orlato.
O SR. DEPUTADO DURVAL ORLATO – Sr. Presidente, senhores membros
da Mesa, demais Deputados, gostaria de fazer rápida intervenção dizendo que é
tática muito comum elogiar o Presidente e bater no Ministro, elogiar o Governador e
bater no Secretário. Só que esquecemos que estamos num regime presidencialista,
e, ao que eu saiba, o Ministro Antonio Palocci não faz nada em desacordo com o
Presidente Lula. Então, ao bater no Ministro, automaticamente se atinge o Governo
Luiz Inácio Lula da Silva e todos os seus aliados.
Na última audiência que tive com o Ministro Antonio Palocci, juntamente com
vários outros Deputados, S.Exa. fez uma oferta generosa: quem encontrar a
solução para baixar os juros sem que o dinheiro seja retirado do mercado e sem
gerar inflação e desemprego pode apresentá-la, que será acatada na hora. Ao que
eu saiba, S.Exa. está esperando até agora, ninguém apresentou tal fórmula.
O SR. DEPUTADO LINDBERG FARIAS – Eu levo cem economistas.
O SR. DEPUTADO DURVAL ORLATO – Economistas todo mundo leva. Na
verdade, ouvi muitas considerações sobre problemas e nenhuma proposta concreta.
Ouvimos dizer que quem vai pagar à Previdência acaba sendo o consumidor, e o
consumidor mais pobre acaba pagando mais. Ora, não podemos aplicar essa lógica
somente sobre a contribuição previdenciária. Quem paga ICMS? Quem paga IPI,
IPTU? Ah, esses são os empresários, dizem. À Previdência, só o trabalhador paga?
Claro que não, tudo é repassado aos preços e tudo é pago pelo conjunto dos
cidadãos. E os consumidores mais abastados logicamente sentem menos do que os
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demais. Ora, não há dúvida nenhuma de que todos os impostos, tudo o que é
colocado sobre um produto é repassado a todos os trabalhadores, isso não é
privilégio só da contribuição previdenciária. Essa é a lógica capitalista. Se essa é a
lógica que vivemos, e ainda não vamos mudá-la na reforma da Previdência nem na
reforma tributária, temos que tirar essa situação da mesa. Não concordo com ela,
mas é a lógica atual. Então, todos os trabalhadores pagarão tudo, e qualquer tipo de
imposto que houver sobre um produto.
A outra situação é relativa à demonização de servidores públicos. Não tenho
visto isso com tanta ênfase. Tenho percebido que, às vezes, os servidores públicos
acabam assumindo o papel de vítimas, quando, na verdade, não se falam de todos
os servidores públicos. É bem verdade, as altas aposentadorias, até exorbitantes,
ocorrem somente no serviço público. No Regime Geral de Previdência não ouço
falar que haja altas aposentadorias. Então, é natural que se fale de um setor que
apresenta distorções. Se também houvesse distorções no Regime Geral de
Previdência elas seriam denunciados pela imprensa. É uma questão meramente de
foco: onde há as distorções? No regime próprio dos servidores. Então, é natural que
se acabe falando sobre ele. Mas não vejo, por parte de pessoas do Governo, esse
desrespeito ou o não-reconhecimento da importância do servidor público.
Para haver um Brasil decente, pressupõe-se que haja mudanças,
transformações; para haver um Brasil decente — para apimentarmos mais a
discussão — pressupõe-se que antes ele era indecente. Podemos levar para esse
lado, se quisermos. Mas, para haver um Brasil melhor, precisamos de reformas, e
toda reforma mexe com a cultura, com posições acomodadas — as pessoas que já
se acomodaram a determinada cadeira tendem a reclamar quando se fala em trocar
a cadeira.
Perdoem-me os Deputados Roberto Brant e José Pimentel, mas tenho
repetido que a Previdência não foi feita para garantir o padrão de vida de ninguém;
foi feita para garantir uma aposentadoria digna. Previdência não existe para garantir
aposentadorias de 12 mil reais ou de 15 mil reais. Com esses valores se garante
padrão de vida, e esse não é o papel do Estado. Qual o teto para garantir
aposentadorias dignas, que não caracterize manter padrão elevado? Seria de 2 mil e
400 reais? Seria de 3 mil reais ou 3 mil e 500 reais? Com certeza não seria de 8 mil
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ou 10 mil reais. Qual é o ponto a que temos que chegar para o Estado garantir
paridade a todos os cidadãos e garantir que esses cidadãos tenham sua
aposentadoria digna?
Defendo o seguinte: vamos elevar o piso. Gostaria muito que a diferença
entre o piso e o teto fosse apenas o dobro, ou o triplo. Gostaria que o teto fosse de 2
mil e 400 reais e o piso, de 1 mil e 200 reais. Nos países modernos não há diferença
tão grande entre o teto e o piso. Prefiro pensar em subir cada vez mais o piso e
garantir um teto que possa dar condições de vida a todos, deixando os que não têm
dignidade em suas aposentadorias mais próximos de um teto aceitável. Acho que
com isso se faz distribuição mais justa.
Para finalizar, farei duas perguntas rápidas. Queria saber dos Srs. Jorge
Gerdau e Roberto Nogueira a respeito da contribuição para a Previdência,
relativamente ao faturamento. Existe uma tendência muito grande nesse sentido, e
os senhores não a mencionaram. Não assisti a toda a palestra do Sr. Roberto
Nogueira e gostaria de saber a opinião dos senhores sobre isso.
Queria também saber a opinião dos senhores sobre uma questão a que
poucos respondem, porque é um calcanhar-de-aquiles: qual o valor que cada um
dos senhores acha que seria o teto ideal, para torná-lo digno a todos os
trabalhadores, sem que seja exorbitante? Porque para nós, Deputados, a escalação
do time da Seleção Brasileira e palpites sobre a Previdência têm o mesmo grau de
convergência. Todos achavam que o técnico tinha que ser outro e não o Zagallo,
mas o Zagallo foi lá, fez acontecer e trouxe o caneco, mesmo com todas as
divergências. Da mesma maneira, sempre queremos dizer qual a melhor solução
para a Previdência. Se fosse simples, até acredito que os Governos passados a
teriam feito. Mas agora estamos encarando o problema, o Governo está dando a
cara a bater em certos aspectos que às vezes não eram devidamente explicitados.
Gostaríamos de saber a opinião de vocês. Qual seria o teto razoável para todos os
trabalhadores, públicos e privados? Gostaria que os senhores citassem valores. Na
reunião anterior — até pedi que ficasse registrado — nenhum dos representantes
das centrais sindicais e das confederações citou valores, e vou cobrar deles depois.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Com a palavra o Deputado
Dr. Francisco Gonçalves.
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O SR. DEPUTADO DR. FRANCISCO GONÇALVES – Sr. Presidente, Sr.
Relator José Pimentel, sou Parlamentar de primeira legislatura e mineiro. Penso que
mineiro não deve sempre ficar calado; apesar de observar bastante, às vezes deve
proferir algumas palavras.
Sou de Divinópolis e testemunho o esforço do Sr. Jorge Gerdau em relação
ao social dentro da minha cidade. Posso dizer que sou amigo do Dr. Luiz Morsoleto
e do Dr. Duílio, e vejo sua preocupação com o social. Queria que o senhor tivesse
não 800 milhões de lucro, mas 1 milhão e 600 mil, porque o senhor iria aplicá-los,
reinvestir na geração de empregos, como o vejo fazer na minha cidade. A própria
Deputada Luciana Genro falou que o senhor está em dia com suas obrigações junto
ao Fisco. Isso é prova de que o senhor é uma pessoa correta e boa.
Sou testemunha, na minha cidade, da sua preocupação com o meio ambiente
e com o social. Tenho visto recursos e mais recursos serem aplicados para
preservar os mananciais de água. Vejo sua preocupação com a poluição, sempre
dando importância muito grande aos filtros da minha cidade. Pude até caminhar por
dentro desses filtros, juntamente com um grande amigo, o Luiz Morsoleto.
Em meu nome — não sei se é permitido —, peço desculpas por palavras tão
ásperas que o senhor não é obrigado a ouvir dentro deste recinto. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Com a palavra o último
debatedor, Deputado Carlos Mota.
O SR. DEPUTADO CARLOS MOTA – Srs. Presidente, tentarei cumprir o
tempo. Quero, em primeiro lugar, cumprimentar meus colegas desta Comissão.
Há anos, no Brasil, trava-se esta polêmica discussão: alguns dizem que a
Previdência Social é deficitária; outros, que é superavitária. Com quem está a
verdade? Há dez anos o Brasil discute se é deficitária ou superavitária a
Previdência. Ou melhor, a quem interessa não desnudar esses dados, aos
servidores públicos, aos trabalhadores ou ao próprio Governo?
Segundo a dialética de Aristóteles, o confronto de duas teses só é possível
justamente porque de antemão nenhuma delas é provavelmente verdadeira. Essa é
uma questão dialética. Acho que talvez tivéssemos de chamar aqui algum filósofo,
para ver até que ponto tudo o que se diz é retórica ou é verdade.
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O Governo detém todos os elementos para colocar à prova esta questão, se a
Previdência é ou não deficitária. E por que o Governo não apresenta a prova que
nos sustenta? Eu sou servidor público e coloco-me nesta situação. Temos facilidade
de acesso a esses elementos dentro do Governo, aqueles que podemos manusear
livremente sem quebra de sigilo, e somos desqualificados nas conclusões que
tiramos. Então, não nos interessa se é ou não verdadeira a questão do déficit da
Previdência.
Esta Comissão talvez prestasse grande serviço se chamasse auditores e
quem mais for necessário para colocar essa questão à prova, a fim de não ficarmos
nessa chamada dialética erística, que é a arte de convencer num debate sem
precisar ter razão. É isso que temos percebido no Brasil.
Arthur Schopenhauer escreveu um livro em que descreve 39 técnicas que se
pode utilizar para induzir alguém. São técnicas o uso de premissa falsa, argumentos
sofísticos, falsa alegação e manipulação semântica, que podem ser usados de um
lado ou de outro.
Com todo o respeito que tenho por esse grande empresário que é o Jorge
Gerdau, digo que utiliza manipulação semântica quando diz que quanto mais baixo o
teto, mais se atingirá a justiça social. Lembro a lógica do Franco Montoro a respeito
do equilíbrio. Se é verdadeira essa afirmação de que quanto mais baixo o teto, mais
se faz a justiça social, vamos estipular o teto de um centavo, que resolveremos
todos os problemas sociais do Brasil.
Fica registrada minha participação.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) - Vou conceder a palavra aos
debatedores na ordem inversa a que foram chamados para expor. Cada um disporá
de dois minutos, infelizmente, para fazer uma síntese. Na verdade, houve muito
pouco questionamento, salvo o do Deputado Durval Orlato. Cada um aproveitou a
oportunidade para manifestar suas opiniões, o que é próprio do Parlamento.
Em primeiro lugar, concedo a palavra ao Sr. João Resende Lima, da COBAP.
O SR. JOÃO RESENDE LIMA – Sr. Presidente, acredito que valeu a pena,
para início. Participei também do Conselho do Lula e espero que S.Exa. envie seu
projeto. Vamos sentar à mesa e começar uma nova discussão. Pelo menos o debate
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é bom. Acho que faz parte da democracia escutar todos e daí se tomar uma decisão
correta, a fim de não se fazer injustiça com ninguém.
Um país só pode ser bom com os seus filhos. Não se pode deixar meia dúzia
com a maior parte da riqueza da Nação e a maioria na miséria, como é o caso do
Brasil. Pagamos sobre vinte e hoje estamos recebendo quatro. Nós é que
construímos esta Nação, juntamente com nossos antepassados, nossos avós,
nossos bisavós.
Com relação à questão de repartição, nossa previdência é a mais moderna do
mundo. A arrecadação está aí desde o começo. Esse dinheiro que começa a entrar
agora, que fique capitalizado ali, procurando incentivar o trabalhador. É um
investimento conservador para que se paguem os estudos dos nossos filhos, dos
nossos netos. Mas nós construímos, nós pagamos. Os recursos existem, os
números estão aí.
Agora, se tiraram, se roubaram, se desviaram... Se o juiz do Rio de Janeiro
tirou ou roubou um pouquinho... Na nossa opinião, quem foi o ladrão da Previdência
Social foi o próprio Governo em todos esses tempos, nos 80 anos da Previdência
Social.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Muito obrigado, Sr. João
Resende Lima.
Com a palavra o Sr. Edison Guilherme Haubert para suas conclusões.
O SR. EDISON GUILHERME HAUBERT – Serei breve. Reafirmo o que disse
antes: nós, servidores aposentados e pensionistas, não abriremos mão das nossas
conquistas legais e não privilegiadas. Propugnamos por um serviço público de
qualidade. E para que se tenha um serviço público de qualidade, necessitamos de
servidores públicos devidamente considerados dentro das circunstâncias que
merecem.
Queremos também dizer que muitas soluções existem para a própria
Previdência. Diria que bem poderiam os bancos, que tanto dinheiro arrecadaram,
inclusive dos servidores públicos ativos e aposentados, porque todos gastam, todos
fazem compras, todos gastam e compram na agricultura, todos compram carro,
todos se utilizam da indústria... Então, o que quero dizer é que nós, servidores
públicos aposentados e pensionistas, vamos fazer cumprir a palavra do Presidente
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Luiz Inácio Lula da Silva. Vamos cumprir a Constituição. É só isso que queremos. O
Presidente tem dito que não vai transgredir leis, que não vai violentar a Constituição.
É isso que queremos.
Quanto ao teto razoável, achamos que é aquele que dê condições de vida
digna a todos os trabalhadores e servidores públicos. Não vou quantificar para não
causar estranheza a algumas pessoas.
Cumprimento os demais expositores, principalmente o Dr. Gerdau. Sou do Sul
e desde pequeno uso os seus pregos. Portanto, compro da sua empresa no Rio
Grande do Sul e aqui também, com muita honra. Ele é um grande empresário, e nós,
do Sul, temos orgulho de tê-lo.
Muito obrigado a todos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Com a palavra o Dr. Jorge
Gerdau Johannpeter.
O SR. JORGE GERDAU JOHANNPETER – Gostaria primeiro de fazer uma
observação que merece meditação, com relação ao problema do brasileiro.
No aspecto regional o problema da Previdência é pacífico. Se para a Região
Sul resolvermos adotar um regime seria necessário o mesmo para o Nordeste. Se
não vamos privilegiar pessoas, e outros terão de pagar uma conta muito cara, o
inverso se aplica também.
Acho que este é um problema não só da Previdência, mas que merece
análise no sistema de balanceamento, porque realmente é um tema tremendamente
complexo.
Gostaria de dar um depoimento. Senti aqui, por parte da maioria dos
Deputados, a preocupação com o crescimento. Só há crescimento se houver
poupança.
Hoje, a China está com uma poupança que varia de 36 a 37% sobre o PIB,
mesmo tendo problemas de injustiça social. Conseqüentemente, ela começa a ter
taxas de crescimento extremamente elevadas, mesmo com outros problemas
políticos e globais. Ressalto isso.
Foi mencionado que há poupança no Brasil. Há uma poupança privada de
15%, que é considerada elevada. Essa poupança vai para todos os lugares,
inclusive, se tiver chance, para o mercado especulativo. Mas também há muita
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poupança que, cada dia, entra para produzir uma tonelada a mais de aço ou de
pregos.
Nesse sentido, é importante ressaltar que o setor público, que no mundo
inteiro tem uma poupança normalmente igual ao setor privado, está atualmente com
uma poupança zerada. Se nós não voltarmos a ter uma poupança de 26% a 27%
sobre o PIB, não vamos ter crescimento. E a Previdência seria teoricamente um
instrumento para buscar esse caminho.
Eu gostaria de fazer uma observação para o debate. Por causa de algumas
distorções que ocorrem no setor público, que são poucas, mas que ofendem, passa-
se para o funcionário público em geral as exceções. Então, todos nós temos de
tomar um cuidado enorme com isso. Devido a alguns privilégios — há pessoas com
três ou quatro aposentadorias, há pessoas que têm aposentadorias elevadíssimas
—, procura-se atingir o setor público como um todo.
Eu, indiscutivelmente, penso que as aposentadorias gerais do setor público,
ainda mais não havendo correção de salários, não podem ser desrespeitadas ou
havidas como privilégios. De forma alguma, pode o debate ser conduzido dessa
forma.
Volto ao problema dos 5,6%, acima do tal teto de 2 mil e 400 reais, em
relação ao teto atual de 1 mil e 500 reais. Eu fico tremendamente chocado de ter de
fazer uma afirmativa igual a que eu fiz, porque ela é agressiva e ofensiva. Mas
vamos à verdade. Hoje, o que acontece no setor privado, o que acontece com a
previdência geral, que não é a do setor público? O teto de contribuição gira em torno
dos 1 mil e 500 reais, os empregados colaboram com 10% e o empregador paga
sobre a folha geral 20%, sem teto — aí, chegamos nesses dois números que eu
mencionei. Convertendo isso para uma visão prática, na realidade, a relação
aposentados/empregados tem um custo de aposentadoria praticamente igual a dos
que estão pagando, contribuindo. Então, indiretamente, se eu considerar que todas
as pessoas que trabalham contribuem com 10%, eles estão pagando, indiretamente,
via mercadoria, igual a metade do salário deles, o teto baixo. O que acontece? Toda
vez que se tem aposentadorias maiores, o teto é achatado. Basta dizer que para se
conseguir isso, como a arrecadação dos 20% não é suficiente para atingir o teto dos
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1 mil e 500 reais, na prática, ninguém recebe muito mais do que 1 mil e 300 reais.
Eu já tiro quase que 20% desse sistema.
Agora, vamos transferir esse problema para o setor público. O funcionário
público contribui com uma parcela até maior do que a do empregado privado —
11%, se não me engano. Agora, quem é que paga a outra parte dos 20%? É a
sociedade. Quem é a sociedade? São os 95% que pagam via PIS, COFINS, outros
impostos. Aí é que surge a reação e a discussão no sentido de que se no setor
privado foi estabelecido, via imposto, que todos pagam — e o próprio empregado
paga sua parte, 10%, mas tem um teto baixo de 1 mil e 500 —, no setor público,
como não há teto, embora devesse haver, ainda há alguns casos de injustiça. O que
acontece? O funcionário público paga sua contribuição de 11%, agora o restante da
contribuição é paga pela população em geral, porque 95% ganha mais que 2 mil e
400 reais. Neste instante é que surge a pergunta: será que esses 95% têm de pagar
isso? Qual é a relação? Por isso é que eu mencionei que o teto, quanto mais baixo
for, evita a injustiça para os que ganham menos de 2 mil e 400 reais, que estão
pagando essa diferença, porque é a população em geral que paga.
Assim, o tema é tremendamente complexo. Hoje, é 1 mil e 500 reais, mas se
for a 2 mil e 400 reais, nós vamos estar criando um buraco no futuro. Ora, no setor
privado, 79 milhões sustentam os 6,5 na sua conjugação, para buscar o pleno
pagamento dos 1 mil e 300. Agora, quando chega no setor público, não há o teto de
contribuição, conseqüentemente a diferença, que é de quatro vezes a contribuição
do funcionário público. E quem é que paga? Quem paga menos. Essa é a análise
que tem de ser feita, com profundidade, para se entender esse balanceamento.
Então, na realidade, para evitar as discussões sobre quem paga mais e quem
paga menos, o sistema de capitalização resolve o problema, porque, aí, cada um
paga sua parcela, seja o beneficiário, seja seu empregador. Não interessa se é
Judiciário ou Governo Municipal, Estadual, Federal; empregador privado ou a
entidade de assistência social. Essa é a lógica do sistema que tem de ser analisada,
que é extremamente complexa.
Mais duas observações. O resultado do grupo Gerdau é um número
expressivo, mas ele é 8% sobre os investimentos em dólares. O grupo tem mais de
100 anos de existência e foi construído poupando-se, dia e noite, tostão por tostão.
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Além disso, temos 90 mil acionistas. Agora, só para terem uma idéia, o imposto que
nós recolhemos representa três vezes esse valor, são 2 bilhões, 380 milhões em
relação aos oitocentos.
Esses números, jogados dessa forma, preocupam-me. Lógico que eu aceito,
como debate de dialética, se as empresas devem ter lucro ou não. Eu penso que
empresas privadas ou pública têm de ter superávit. Você pode trabalhar com
superávit de duas ou três formas. Agora, empresa que não tem lucro, não paga
dívida, não paga o funcionário, demite, não investe, não cresce para pagar os
investimentos necessários ao crescimento da demanda, e este País tem um
crescimento muito grande.
Dessa forma, esse debate é tremendamente interessante. O número, penso
que é expressivo. Eu luto desesperadamente para buscar isso, mas invisto no
homem, no social. Só para terem uma idéia, nós investimos mais de cem horas de
treinamento em capacitação, todos os anos, sobre todas as pessoas. Nós estamos
quase atingindo a meta de que todas as pessoas tenham o 1º grau. E todos que têm
o 1º grau estão atingindo o 2º grau. Além disso, temos um programa assistencial e
social enorme.
Portanto, estou muito tranqüilo. Sei que com os 90 mil acionistas eu tenho de
buscar resultados. Eu tenho de buscar a maximização do resultados, mas esses são
limitados pelo mercado, porque o teto da importação, o teto da concorrência
estabelece que eu só tenho uma solução para ganhar dinheiro: não é subindo o
preço, é melhorando a competitividade, porque tenho de obedecer a padrões
internacionais. E graças a essas cem horas de investimento nas pessoas, hoje,
nosso grupo, em grande parte das operações, tem produtividade igual ou até mesmo
maiores que as melhores empresas do mundo. Isso é conquistado com um trabalho
árduo, respeito ao homem e investimento no homem.
Eu diria que quando se discute se eu estou pagando muito ou pouco, digo
que eu tenho uma fila de candidatos para trabalhar, só porque eu pago no mínimo
de 20 a 30% a mais do que o mercado. Mas também eu solicito e espero dos
colaboradores de 20 a 30% a mais de eficiência e produtividade. Cada um dentro
dessa lógica busca seu caminho. Mas dentro das regras que trabalhamos, eu diria
que estou razoavelmente tranqüilo de como estamos conduzindo o processo.
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E basta dizer que hoje nossa empresa é cotada no mundo com suas ações e,
no ranking mundial, entre os 15 itens de avaliação, sobressai em competência
social, tecnologia e produtividade. Somos considerados por especialistas a quarta
melhor empresa do mundo em siderurgia. Isso não vem de graça. São gerações e
gerações. Sou a quarta geração trabalhando, a quinta está encaminhada, com alto
profissionalismo, e, provavelmente, temos 12 ou 14 horas de trabalho por dia.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) - Concedo a palavra ao Sr.
Rodolfo Tavares.
O SR. RODOLFO TAVARES – Sr. Presidente Deputado Roberto Brant, Srs.
Deputados, membros da Mesa, senhoras e senhores, foi um privilégio muito grande
poder estar aqui debatendo assuntos do nosso País, de interesse da nossa
sociedade.
A agricultura tem uma grande preocupação neste momento: incluir produtores
e trabalhadores rurais que neste momento estão fora do sistema previdenciário por
uma série de circunstâncias que o tempo já não permitiria mais abordar.
A nossa luta é no Parlamento, para que possamos encontrar mecanismos
legislativos que viabilizem a inclusão desses cidadãos, tanto produtores quanto
trabalhadores, no sistema previdenciário, para garantir o mínimo de direitos que
essa população, que esse povo do interior, da roça do nosso País merece e tem
direito.
Finalmente, Sr. Presidente, não posso deixar de registrar a honra de estar ao
lado de um dos maiores empresários deste País, com a certeza de que suas
trefilarias e seus laminadores não se levam nas costas, não se colocam no bolso
como dólar, diamante ou ouro. Estão fincados na terra brasileira, assim como nossas
propriedades rurais, nossas terras também não se transferem por contas de Internet
para países do exterior. Desbravamos e conquistamos essas terras, e também por
elas nos responsabilizamos através de inúmeras gerações.
Lamentavelmente, as pessoas olham o lucro de uma maneira muito
pejorativa. Temos, evidente e democraticamente, de compreender essas opiniões.
Geralmente são de jovens idealistas que, talvez, nunca tenham tido descontada uma
duplicata no banco ou tenham devolvido alguns cheques sem fundo, porque algum
cliente seu não pagou a conta.
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O SR. DEPUTADO LINDBERG FARIAS – O senhor me respeite.
Sr. Presidente, exijo respeito.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Deputado, cada um é livre
para expor suas opiniões. Sugiro a todos moderar o tom. Nosso objetivo é
chegarmos a acordos possíveis sobre a reforma da Previdência.
O SR. RODOLFO TAVARES – Sr. Presidente, agradeço mais uma vez poder
ter participado deste debate. Não quero mais tomar o tempo de S. Exas.
Muito obrigado. Que Deus proteja a todos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) – Muito obrigado, Sr. Rodolfo
Tavares, da CNA, por ter contribuído com sua presença nesta reunião.
Passo a palavra para concluir ao Sr. Roberto Nogueira, representante da
CNC. Com isso, vamos concluir essa fase da sessão.
O SR. ROBERTO NOGUEIRA - Sr. Presidente, o Deputado Alceu Collares,
que prezo muito e, inclusive, com quem tenho muita identificação do ponto de vista
político, fez um comentário sobre o que falei.
Na minha fala, citei alguns exemplos internacionais, mas não para servir de
comparação, porque minha inteligência não chega a esse grau tão baixo. Fiz
citações internacionais apenas para dizer que o mundo inteiro está discutindo o
problema, não é só o Brasil. Esse é um reparo que até já fiz pessoalmente, mas
gostaria de deixar registrado.
Na minha fala, também fiz questão de deixar claro que iria abordar um
problema de ordem conjuntural, muito embora o desejo era de discutir assunto de
ordem estrutural, debater um pouco mais a questão de conceitos. Mas tendo em
vista que temos uma proposta muito mais conjuntural do que estrutural, tive de ficar
fazendo comentários dentro desse contexto.
Neste momento, não é conveniente citar exemplos pessoais, mas o Dr. Jorge
Gerdau fez uma citação sobre uma questão empresarial.
Gostaria de fazer duas confissões, e a primeira não é de culpa.
Há 20 anos estou no setor empresarial e votando no Partido dos
Trabalhadores, defendendo todo seu trabalho. Não vejo nenhum constrangimento ou
qualquer problema nisso. Penso que é uma questão de concepção e de idéia
política. Nesse contexto quero dizer que não tenho nenhum problema com relação
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ao funcionário público, porque todos temos uma história de funcionário público na
família ou até diretamente.
Minha mãe varreu escola por 20 anos para poder educar cinco filhos e ter
uma aposentadoria de um salário mínimo. Dois filhos fizeram concurso público. Um
ficou 35 anos na carreira de fiscal, aposentou-se, acumulou aqueles benefícios
legais, tem uma aposentadoria absolutamente alta em relação ao que é a realidade
nacional e que considero injusta, embora legal. O outro trabalhou 12 anos no setor
público e chegou ao teto do que poderia chegar e há 20 anos está no setor privado,
que sou eu. Considero absolutamente injusto, até imoral, que legislações
subconstitucionais vão agregando fatores ao salário do indivíduo. Não tenho culpa
se não trabalhei 35 anos no setor público.
O Deputado Félix Mendonça deu um depoimento correto e perguntou qual é o
conceito de servidor público do ponto de vista de aposentadoria. Aquele que ficou 35
anos deve levar integralmente? E aquele que ficou cinco ou aquele que está
entrando por concurso com cinco anos? Esse é que está distorcendo o mercado.
Na Câmara, falei no meu depoimento, há vários casos desses. Um indivíduo
fica 30, 40 anos na iniciativa privada, faz um ótimo concurso, e, depois, o Estado vai
bancar uma aposentadoria altíssima, em prejuízo da aposentadoria do servidor
público que fica 30, 35 anos.
São essas distorções de que estou querendo falar. Não é justo e não
considero correto que uma legislação da Assembléia mineira passe o qüinqüênio,
que era 1% ao ano para 2% ao ano, o sujeito passa um qüinqüênio, vai para 10%,
mais 5%, chega a 30%, mais uma trintenária, e sem estar trabalhando, porque a
legislação permite que o indivíduo some o tempo do setor privado ao setor público,
como há vários casos.
Só para concluir, quero dizer que as injustiças estão centradas nesse
patamar.
O Deputado Lindberg Farias, do Rio de Janeiro, citou um exemplo muito
interessante. Existem legislações tão pejorativas e negativas para a sociedade que
obrigam um profissional de alto nível a fraudar um exame de ouvido para agregar
20% ao seu salário. Quem vai pagar essa conta? Foi o que o Sr. Jorge Gerdau disse
e o que o setor empresarial sempre disse: estamos dispostos a pagar, penso que a
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sociedade tem obrigação de pagar uma previdência oficial básica para os de baixa
renda e os sem renda. Mas, a partir daí, o Deputado perguntou se vai haver um teto.
A proposta governamental é um teto de 2 mil e 400 reais. Se dá para viver ou não é
outra questão. Quem quiser ter mais do que os 2 mil 400 reais vai pagar uma
previdência complementar.
Por isso, Deputado Ivan Valente, penso que temos que chegar a uma
discussão mais profunda sobre questão do PLP nº 9. Sei que vai gerar custos para o
Estado, mas temos que abrir a discussão. Os servidores públicos deviam iniciar a
discussão sobre a questão dos fundos. Não que se vá colocar algo em prática
agora, mas apenas para discussão. Se o Estado bancar 2 mil e 400 reais e o
indivíduo quer receber 10 mil reais, não é o Estado que tem que pagar. É essa
minha posição.
Há uma pergunta objetiva, Deputado Roberto Brant, que foi feita pelo
Deputado Durval Orlato, sobre a questão de se tirar da folha de pagamento a
contribuição patronal. A proposta que o Governo colocou em discussão, e que debati
na ESAF, está dividida em duas partes: tira-se a contribuição patronal da folha de
pagamento e joga-se ou para o faturamento ou para o valor agregado. É evidente
que para o faturamento seria uma contradição, no momento em que estamos
acabando com todas as contribuições cumulativas. Portanto, teria que ser sobre o
valor agregado. O Governo está propondo fazer essa mexida: ou integralmente, em
que seria preciso ter uma alíquota de 5,3% sobre o valor agregado, ou 50% disso
passaria à folha e os outros 50% ao valor agregado, com uma contribuição de 2,
65%.
Do ponto de vista da Confederação, baseado em tudo o que já foi estudado, a
lógica da contribuição é a folha de pagamento, pois é com base nela que se faz a
relação de entrada e saída do indivíduo, seja ele público, seja ele privado, dentro do
setor. No momento em que se está jogando para o faturamento, a única lógica
existente chama-se caixa. Não existe outra lógica. Todas as pessoas que
participaram do grupo técnico que debateu esse assunto, aqueles que mais
entendem de questão tributária, sempre souberam que o racional é a folha, onde
está a lógica de entrada e saída. Agora, devido ao déficit, à falta de recursos, volta-
se para a questão do caixa. Nós, empresários — estou aqui representando o setor
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comercial —, certamente vamos ter de suportar mais esse problema. Para
desespero nosso, quem vai pagar é o consumidor, se for possível repassar. Se não
for, pagamos, reduzimos, fechamos o negócio, etc.
Para encerrar, gostaria de dizer que os exemplos isolados são muito difíceis.
Conheço o Sr. Jorge Gerdau há muitos anos, sei que ele fica cerca de 15 horas
trabalhando e dedica grande respeito a qualquer pessoa. Por isso, sinto-me muito à
vontade para dizer que, às vezes, deve passar pela cabeça dele que é melhor fechar
tudo e desempregar as 16 mil pessoas que emprega, etc. Precisamos realmente ter
muito cuidado com certas observações.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) - Agradeço aos
conferencistas e aos Deputados a presença. Passaram por esta reunião 42
Deputados. Isso demonstra o interesse de todos.
Convido as Sras. e Srs. Deputados para reunião de audiência pública a se
realizar no próximo dia 8, às 9h, atendendo predominantemente às observações dos
Deputados Ivan Valente e Durval Orlato.
O SR. DEPUTADO LINDBERG FARIAS - Sr. Presidente, quero fazer uma
ponderação a respeito da data dessa audiência.
O projeto do Governo vai chegar a esta Casa dia 30. Não haveria como esta
Comissão se reunir em caráter emergencial na própria noite do dia 30? Sei que dia 2
de maio é sexta-feira.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) - Deputado, o projeto não
chega a esta Comissão dia 30. Primeiro, ele vai ser enviado à Mesa da Câmara dos
Deputados, que o enviará à Comissão de Constituição e Justiça e de Redação, onde
ele terá prazo para recebimento de emendas, discussão e deliberação. Apenas
depois disso o projeto chegará aqui. Portanto, haverá muitas sessões entre o dia 30
e o momento em que esta Comissão o receber.
O SR. DEPUTADO LINDBERG FARIAS - Entendo e concordo. Minha
argumentação é de que o projeto será público quando chegar a esta Casa no dia 30.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Brant) - Informo aos Deputados as
entidades que estarão presentes na próxima audiência pública: o Secretário da
Secretaria de Previdência Complementar do Ministério da Previdência Social, o
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma da PrevidênciaComissão Especial - Reforma da PrevidênciaNúmero: 0353/03 Data: 24/04/03
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Superintendente da SUSEPE e o representante da Associação Brasileira de
Entidades Fechadas de Previdência Privada — ABRAPE.
Nada mais havendo a tratar, declaro encerrada a sessão.
Muito obrigado a todos.
Está encerrada a sessão.