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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO ESPECIAL - PL 203/91 - POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS EVENTO: Audiência pública N°: 001232/01 DATA: 30/10/01 INÍCIO: 14h44min TÉRMINO: 17h49min DURAÇÃO: 03h05min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 03h08min PÁGINAS: 78 QUARTOS: 19 REVISORES: CONCEIÇÃO, ZILFA, ELIANA, WALDECÍRIA, PATRÍCIA MACIEL, TATIANA SUPERVISÃO: SEM SUPERVISÃO CONCATENAÇÃO: CLÁUDIA LUIZA DEPOENTE/CONVIDADO – QUALIFICAÇÃO SÉRGIO HABERFELD – Presidente da Associação Brasileira de Embalagens — ABRE. ANDRÉ VILHENA – Diretor-Executivo do Compromisso Empresarial para a Reciclagem — CEMPRE. JOSÉ ROBERTO GIOSA – Diretor de Reciclagem da Associação Brasileira de Alumínio — ABAL. WASHINGTON NOVAES – Jornalista do jornal O Estado de S.Paulo e da TV Cultura. SUMÁRIO: Debate sobre a reciclagem de embalagens e de resíduos sólidos. OBSERVAÇÕES Há exibição de imagens.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO ESPECIAL - PL 203/91 - POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOSEVENTO: Audiência pública N°: 001232/01 DATA: 30/10/01INÍCIO: 14h44min TÉRMINO: 17h49min DURAÇÃO: 03h05minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 03h08min PÁGINAS: 78 QUARTOS: 19REVISORES: CONCEIÇÃO, ZILFA, ELIANA, WALDECÍRIA, PATRÍCIA MACIEL, TATIANASUPERVISÃO: SEM SUPERVISÃOCONCATENAÇÃO: CLÁUDIA LUIZA

DEPOENTE/CONVIDADO – QUALIFICAÇÃOSÉRGIO HABERFELD – Presidente da Associação Brasileira de Embalagens — ABRE.ANDRÉ VILHENA – Diretor-Executivo do Compromisso Empresarial para a Reciclagem —CEMPRE.JOSÉ ROBERTO GIOSA – Diretor de Reciclagem da Associação Brasileira de Alumínio —ABAL.WASHINGTON NOVAES – Jornalista do jornal O Estado de S.Paulo e da TV Cultura.

SUMÁRIO: Debate sobre a reciclagem de embalagens e de resíduos sólidos.

OBSERVAÇÕESHá exibição de imagens.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 203/91 - Política Nacional de ResíduosCE - PL 203/91 - Resíduos de Serviços de SaúdeNúmero: 001232/01 Data: 30/10/01

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O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Havendo número regimental,

declaro abertos os trabalhos da presente reunião.

Como foi distribuída cópia da ata da 14ª Reunião Ordinária desta Comissão

Especial, realizada no dia 23 de outubro de 2001, indago dos Srs. Parlamentares se

há necessidade de leitura da ata.

O SR. DEPUTADO DR. BENEDITO DIAS – Sr. Presidente, solicito que seja

dispensada a leitura da ata.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Está dispensada a leitura.

Em discussão a ata. (Pausa.)

Não havendo quem queira discuti-la, coloco-a em votação.

Os Deputados que a aprovam permaneçam como se encontram.

Aprovada.

Expediente.

Comunico a V.Exas. o recebimento dos Ofícios nº 335/01, do Deputado

Rubens Furlan, justificando sua ausência desta reunião, e 355/01, da Chefia de

Gabinete do Deputado Marcos Afonso, justificando a ausência do Parlamentar no

período de 29 de outubro a 9 de novembro, devido à visita oficial que fará ao Estado

do Acre.

Ordem do Dia.

A presente reunião divide-se em duas partes: a primeira está destinada a

ouvir, em audiência pública, os Srs. Sérgio Haberfeld, Presidente da Associação

Brasileira de Embalagens — ABRE; André Vilhena, Diretor-Executivo do

Compromisso Empresarial para a Reciclagem — CEMPRE; João Bosco Silva,

Presidente da Associação Brasileira de Alumínio — ABAL, representado hoje pelo

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Sr. José Roberto Giosa, Diretor de Reciclagem; e o jornalista Washington Novaes,

do jornal O Estado de S.Paulo e da TV Cultura.

A segunda parte desta reunião se destina à apreciação dos requerimentos

pautados.

Neste momento, chamo os senhores convidados para comporem a Mesa, a

fim de darmos início à audiência pública.

Para o melhor andamento dos trabalhos, esclareço aos Srs. Deputados que

adotaremos os seguintes critérios: cada convidado disporá de vinte minutos para sua

exposição inicial, não podendo ser aparteado nessa fase. Encerrada a exposição, os

Deputados interessados em interpelar os convidados deverão fazê-lo estritamente

sobre o assunto da exposição, pelo prazo de três minutos, tendo cada convidado

igual tempo para responder. Aos Deputados são facultadas a réplica e a tréplica pelo

prazo de três minutos. Os Deputados que desejarem participar dos debates deverão

inscrever-se junto à Secretaria da Comissão.

Convido os Srs. Sérgio Haberfeld, André Vilhena, José Roberto Giosa e

Washington Novaes a comporem a Mesa.

Para dar início à audiência pública de hoje, concedo a palavra ao Sr. Sérgio

Haberfeld, Presidente da Associação Brasileira de Embalagens — ABRE.

O SR. SÉRGIO HABERFELD – Sr. Presidente, Deputado José Índio, Sr.

Relator, Deputado Emerson Kapaz, Sras. e Srs. Deputados, minhas senhoras e

meus senhores, é realmente uma honra participar desta reunião e falar um pouco

sobre a Comissão Especial de Resíduos Sólidos.

Antes de tudo, apresento-me de forma breve: sou Presidente do Conselho de

Administração da empresa Dixie Toga, considerada a maior fabricante de

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embalagens do País; também sou Presidente da Associação Brasileira de

Embalagens — CAABR; Presidente da União Latino-Americana de Embalagem e da

Organização Mundial de Embalagem. Portanto, embalagem é a área em que tenho

atuado desde 1965.

Inicialmente, mostrarei algumas transparências. Tenho feito apresentações

como esta em várias partes do mundo. Cheguei hoje pela manhã da Alemanha, e

um dos assuntos discutidos na reunião foi meio ambiente. Estive, na semana

anterior, em Istambul, na Turquia, onde também a questão ambiental foi abordada.

Então, o assunto está muito em voga. Nos países adiantados isso já ocorre há

algum tempo e nos países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos da África a

questão tem aparecido mais agora.

A todos os lugares aonde vou levo estas transparências. O ideal seria

imaginar o mundo sem fábricas, sem transportes, sem embalagens e, de

preferência, sem pessoas, porque tudo seria extremamente natural e não haveria

depredação nenhuma. Como isso não é possível, vou falar um pouco sobre

embalagens e qualidade de vida.

(Apresentação de transparências.)

O consumo per capita de embalagem no Japão é de 460 dólares por ano;

nos Estados Unidos é de 311; e, no Brasil, está em torno de 50 dólares. Estou

equalizando o dólar na base de 2,5 para 1, visando mostrar o potencial de

crescimento que ainda temos. Claro que nunca chegaremos à posição do Japão, por

exemplo, onde até ovo de galinha é embalado em caixa de cartolina, com janela de

filme plástico transparente para se dar de presente. Então, ainda temos muito a

evoluir, se tomarmos por base esses números.

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Se observarmos os países em desenvolvimento, verificaremos que mesmo aí

ainda temos como crescer. Tiraria daí a Argentina, porque o dólar naquele país, para

mim, é totalmente fictício. A Tailândia gasta 76 dólares per capita com embalagens;

a Coréia do Sul gasta 95 dólares. O Brasil ainda tem, ao menos, a possibilidade de

crescimento em direção a esses países.

Muitas vezes, devido à falta de conhecimento das pessoas, ouvimos dizerem

que a função da embalagem é proteger da luz, de gases, odores, sabores e

impactos físicos e aumentar a vida útil do produto. Sempre dou o exemplo de uma

cidade chamada Samara, que fica mil quilômetros ao sul de Moscou, considerada

desenvolvida. A cidade tem 1,5 milhão de habitantes e um supermercado apenas.

Toda a comercialização de alimentos é feita na periferia da cidade. O pessoal entra

na cidade, distribui os produtos na calçada, e os cidadãos levam para casa o que

conseguem embrulhar num pedaço de papel que levam consigo. No fim do dia, os

produtores vão embora e voltam no dia seguinte para a mesma rotina.

Então, proteção e facilidade de transporte do produto até a casa do

consumidor são as funções principais da embalagem. As outras são forma e

estrutura, maquinabilidade, armazenamento, manuseio e aproveitamento do

produto.

O que a embalagem faz? Acondiciona, transporta, vende, preserva, facilita o

manuseio, informa, mantém as propriedades físicas e naturais dos produtos e luta

contra o desperdício. O grande problema que ainda podemos ver no mundo inteiro

— e vou entrar nessa questão um pouco à frente —, inclusive no Brasil, é a

quantidade de alimentos que se perdem por falta de embalagem. Essa é uma

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constante nos países menos desenvolvidos, onde mais se perdem alimentos e

outros produtos por falta de embalagem.

Embalagem é parte de um produto, como os recursos naturais, ou seja,

consumo e energia. Também é sempre importante dizer que a embalagem é feita

sob encomenda, como um terno. Cada produto exige certas especificações para que

se mantenha fresco na prateleira e no transporte até atingir o consumidor.

Um dos pontos para o qual sempre chamo atenção — e esse aspecto fica

bastante claro em todos os lugares — é que a embalagem deve proporcionar

economia financeira e ambiental superior ao seu custo. É o mais importante. Não

adianta fazer embalagem de ouro para transportar algo que vale muito menos, já

que não há necessidade de gasto supérfluo.

Outra questão bastante discutida é o descarte difuso das embalagens. Não há

solução, a meu ver, para o meio ambiente, no que diz respeito às embalagens —

estou falando especificamente de embalagem e não de resíduos sólidos de

embalagem —, sem envolvimento da população, da esfera governamental e dos

empresários. O peso dos três é exatamente igual, como um banco de três pés. Se

um é mais curto ou mais comprido, o banco tomba.

Segundo a experiência de países ultradesenvolvidos como a Alemanha e a

Suíça, cada embalagem colocada separadamente num saco diferente, de cor

diferente, é recolhida pelo lixeiro, que é público, de forma separada. O dono da casa

pode pagar multa bem alta se misturar produtos e usar o saco de cor errada. Ele

paga por esse saco quando vai comprar o produto. Portanto, a população deve ser

educada para isso.

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No Brasil, com seus 8 milhões de quilômetros quadrados, 78% da população

estão concentrados em centros urbanos, e o transporte, na maior parte, é terrestre.

Destaco esse aspecto porque muitos abordam a questão da queima do lixo. Por

exemplo, a Dinamarca queima a maior parte do lixo e transforma a queima em

energia para aquecer domicílios e fazer fábricas funcionarem, mas é um país

minúsculo, com distâncias curtas e totalmente plano. Nesse caso, fica muito mais

fácil. Em países do tamanho do nosso, como Estados Unidos, Canadá e Rússia, são

necessários vários sistemas trabalhando paralelamente.

E as realidades regionais são distintas. Nos Estados do Sul, por exemplo,

Curitiba, Florianópolis e outras cidades têm sistemas perfeitos de coleta, reciclagem

e reutilização do lixo, que funcionam em países desenvolvidos. Por outro lado, em

regiões menos ricas, de realidades diferentes, o sistema funciona de outra forma. A

maioria dos Municípios nem tem coleta de lixo, que é colocado num buraco, em

qualquer lugar, ou queimado a céu aberto. Tendo o País de 20 milhões a 50 milhões

de miseráveis — os números são diferentes, dependendo de quem está tentando

vendê-los —, há problemas bastante complexos de recolhimento do lixo.

Segundo estudo feito pela FAO, Organização das Nações Unidas para a

Agricultura e Alimentação, cerca de 40% dos alimentos plantados são perdidos

antes de serem consumidos, por diversos problemas: transporte, distância e

embalagem.

No Brasil, treze milhões de reais em alimentos hortifrutícolas são perdidos no

supermercado, por ano, e mil toneladas de alimentos frescos são perdidas

diariamente nas feiras livres, sendo 80% reaproveitáveis.

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Quanto à indústria recicladora, temos a indústria de embalagens, as unidades

industriais independentes para reciclagem no mercado têxtil, automobilístico, de

utensílios domésticos e de peças injetadas. Todos esses produtos necessitam de

reciclagem. Alguns são reciclados nas áreas mais desenvolvidas; outros

simplesmente são jogados ou flutuam nos rios, enfim, perdem-se no espaço.

O que temos feito? A Associação Brasileira de Embalagem criou o Excess

Channel, canal extremamente moderno da Internet para reaproveitamento de

resíduos, por meio da comercialização desse material.

As empresas têm procurado copiar um pouco o que é feito no mundo. Por

exemplo, o ISO 14000, a produção limpa, a redução do consumo de energia e de

recursos naturais e a redução do peso das embalagens.

No Brasil, podemos verificar algo bastante interessante: podemos discutir por

horas os números e as porcentagens, como em todos lugares aonde vou; sempre

existem discussões sobre números, já que estão sendo freqüentemente

reestudados. O Japão está fazendo a reestruturação de todos os seus números. No

Brasil, a reciclagem do alumínio está em 73%; do papelão ondulado, 72%; de lata de

aço, 40%; de papel, 38%; de vidro, 38%; de plásticos em geral, 26%.

Há ainda aqui uma figura que só existe em áreas de desenvolvimento. Como

disse, há duas semanas estava em Istambul, na Turquia, onde vi grande quantidade

de catadores. São os famosos catadores que temos aqui. No meu tempo, eram

chamados garrafeiros ou retalheiros, enfim, são os que recolhem lixo. Hoje em dia

concentram a atividade, obviamente, nos produtos que têm maior valor unitário,

porque vivem disso e chegam a ganhar 500 e até 600 reais por mês, dinheiro com o

qual sustentam suas famílias. Segundo a Associação de Papel, há 300 mil

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catadores. Já ouvi falarem em um milhão de catadores. Defendo o número mais

conservador, de 300 mil, conforme pesquisa da indústria de papel.

Há novidade na Europa: a Alemanha deixou de lado a reciclagem, porque

teve um grande problema. Discuti sobre isso com um dos pais da reciclagem. O que

está acontecendo? Há material demais para reciclar e não há o que fazer com o

material já separado e entregue para ser reciclado. Estão tentando empurrar isso

para algum país que esteja disposto a aceitar. Já chegaram a empurrar para a

Indonésia e para países menos desenvolvidos, porque realmente havia excesso de

certos materiais recicláveis. Em outros casos, tentam importar material para reciclar,

caso típico, de que soube na semana passada, da Comunidade Européia em

relação ao PET. Ela tem excesso de produtos que usam PET reciclável, mas não

tem o produto em quantidade suficiente para usar nos produtos.

Agora, utilizam produtos com pesos menores: quanto menor o peso do

produto, melhor para o meio ambiente, porque será necessária menos energia para

criá-lo. Essa é a razão de estarem utilizando alumínio nas peças dos automóveis, o

que os torna extremamente leves. Menos energia é necessária para gerar produtos

mais leves.

No Brasil, já houve grande redução no peso de embalagens desde os anos

80. No peso dos plásticos houve redução de até 50%, com novas tecnologias; no

peso do vidro, 35%; do alumínio, 30%; das latas de aço, 27%; e do papelão, de até

12,5%.

Também é muito interessante chamar a atenção para as particularidades e

prioridades de cada país. Tendo em vista que na Europa e no Japão falta espaço,

dá-se muito valor ao que se faz com o lixo. Nos Estados Unidos, o grande problema

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são os poluentes da atmosfera. Então, para se montar uma fábrica de embalagem

no norte dos Estados Unidos não se paga pela fábrica ou pelas máquinas, mas por

uma cota de poluição da atmosfera. No entanto, nos Estados do sul, menos

desenvolvidos, como o Mississipi, é mais fácil instalar uma fábrica: não há restrição

quanto à poluição já que se quer atrair mão-de-obra. São aspectos diferentes,

dependendo da situação de cada país.

A prioridade brasileira tem sido a valorização do produto reciclado, o incentivo

à cadeia recicladora, o saneamento básico, a vontade política, a educação ambiental

e a responsabilidade compartilhada entre Poder Público, setor produtivo e

sociedade. Para mim, é o básico. Temos estudado, junto com vários órgãos, a

melhor maneira de difundir a necessidade de preservação do ambiente, fazendo um

trabalho conjunto. Inegavelmente, a indústria tem papel sério e tem que participar

ativamente, ajudando nesse trabalho e fazendo com que o produto seja reciclado,

reutilizado de acordo com as possibilidades. Sozinha, no entanto, não resolve o

problema.

A preocupação que tenho é sobre o que acontecerá no momento em que se

criar, por exemplo, novo imposto. Vinte por cento das empresas vão pagar e tentar,

de uma forma ou de outra, agir corretamente, mas os outros 80% entrarão na

informalidade, na ilegalidade, como hoje em dia ocorre, por necessidade de

sobrevivência. E isso não resolve o problema maior, que é realmente melhorar o

ambiente em que vivemos.

Para encerrar, ninguém duvida de que precisamos de embalagem. O Brasil

precisa delas para transportar e acondicionar os produtos, a fim de dar condições

melhores de higiene e limpeza aos alimentos. Por outro lado, também não podemos

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negar que precisamos participar ativamente de um processo de melhoria da

qualidade de vida, o que inclui o meio ambiente, para que não aconteça conosco o

que aconteceu com a Alemanha Oriental. Após a queda do Muro de Berlim,

verificaram-se os danos causados do outro lado do muro pelos comunistas, que

destruíram lagos, árvores, represas e queimaram carvão a céu aberto. Agora, o

custo de recuperação é muito maior do que se tivessem prevenido esses

acontecimentos.

Muitíssimo obrigado, mais uma vez, pela oportunidade.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Nós é que agradecemos, Sr.

Sérgio Haberfeld.

Agora, concedemos a palavra ao Sr. André Vilhena, Diretor-Executivo do

Compromisso Empresarial para a Reciclagem.

O SR. ANDRÉ VILHENA – Muito obrigado, Sr. Presidente, demais

companheiros da Mesa e da platéia, para nós é um prazer estar aqui falando sobre

resíduos sólidos. Nós que atuamos na área de resíduos sólidos no Brasil sabemos

quanto é importante a atividade desenvolvida por esta Casa. Esperamos trazer hoje

algumas contribuições e informações, que é basicamente nossa linha de atuação,

para que de alguma forma possamos abrir a discussão e ficar à disposição para tais

informações.

(Apresentação de slides.)

O CEMPRE — Compromisso Empresarial para a Reciclagem, é uma

associação empresarial. Somos mantidos por quinze empresas do setor privado e,

basicamente, nossa linha de atuação é pesquisa e difusão de informações sobre

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gerenciamento de resíduos sólidos e de lixo, incluídas a coleta seletiva e a

reciclagem.

A missão do CEMPRE é promover o conceito de gerenciamento integrado do

lixo sólido municipal — por favor, não se preocupem porque não vamos entrar em

detalhes técnicos sobre o gerenciamento integrado do lixo —; promover a

reciclagem pós-consumo, pois realizamos a reciclagem pós-industrial ou pré-

consumo, mas especialmente esta última; e, finalmente, difundir a teoria dos três

erres: redução, reutilização e reciclagem.

Somos conhecidos internacionalmente como uma entidade bastante

“ecumênica” — entre aspas —, pois temos representantes dos mais diversos

setores, o que, com certeza, enriquece muito o trabalho desenvolvido em pesquisa e

difusão de informações pela associação.

Dividimos nossa apresentação basicamente em duas etapas, pensando um

pouco no prognóstico e no diagnóstico que gostaríamos de ver no futuro, com a

melhoria contínua do gerenciamento dos resíduos sólidos no Brasil.

Com alguns dados, acredito, V.Exas. já estão familiarizados. Em relação à

geração de lixo no Brasil, por exemplo, a Grande São Paulo gera cerca de 15 mil

toneladas de lixo por dia, cinco vezes o que produz o Uruguai por dia. Isso dá uma

idéia da dificuldade de gerenciar resíduos sólidos nesses espaços relativamente

reduzidos.

A maior parte do lixo sólido urbano no Brasil é composto por matéria orgânica.

Muitos desconhecem isso. É claro que, ao se tirar a média em um país como o

Brasil, vários pontos ficam fora da curva, mas nunca abaixo de 50% e nunca acima

de 80%. A maior parte, em peso, dos resíduos sólidos urbanos do Brasil é composta

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por resíduo orgânico. Infelizmente, é aquele que tem menor aproveitamento, menor

índice de reciclagem, o que, no caso do Brasil, basicamente, é a compostagem.

Além disso, é aquele que emociona menos nas discussões de que temos

oportunidade de participar. Hoje, com certeza, o resíduo orgânico é o que gera maior

impacto ambiental entre todos os existentes, justamente por se decompor

rapidamente e ser muito rico em carga orgânica.

Temos exemplos clássicos no Brasil de contaminação de cursos d’água que

abastecem grandes centros urbanos, já prejudicados, já impactados justamente pela

decomposição acelerada de matéria orgânica existente nos famosos lixões, que se

acabam formando de forma clandestina e até como única opção existente.

O IBGE promete para o final deste ano dados atualizados sobre o destino do

lixo no Brasil. Esses, infelizmente, são os dados mais recentes que temos, do início

dos anos 90. Mas sabemos que mudaram: a expectativa é de que a quantidade de

resíduos sólidos urbanos pós-consumo que estejam indo para lixões ou vazadouros

a céu aberto ainda seja a maior parte, algo em torno de 60%. Vamos ver os números

do IBGE.

O setor de reciclagem, se é que podemos chamá-lo assim, considera que a

reciclagem evoluiu no Brasil, principalmente para alguns tipos de materiais, mais do

que outros, e que hoje estaríamos reciclando algo em torno de 4% dos resíduos

sólidos urbanos. Sabemos que é muito difícil obter esses números com precisão,

portanto, têm alta carga de aproximações.

Falando um pouco do destino final do lixo, este é o cenário do Brasil, na

maioria dos casos. Como bem expôs o Dr. Sérgio Haberfeld, alguns Municípios já

fazem o gerenciamento de forma correta, inclusive a destinação adequada dos

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resíduos sólidos pós-consumo, com depósito em aterros sanitários, controle

ambiental e jamais nestas áreas que estamos vendo por aí: os lixões.

Aqui temos impactos ambientais por contaminação de solo, lençol freático,

cursos d’água etc.; os impactos sociais, porque muitas pessoas se alimentam nos

lixões, vivem da separação dos materiais para serem vendidos à cadeia de

reciclagem com baixo valor agregado.

E justamente falando do valor agregado, temos os impactos econômicos

negativos. Por quê? Quando o lixo chega à fase em que deveria ser transformado

em matéria-prima e reintroduzido no ciclo produtivo, perde, por estar muito

misturado, valor agregado ou comercial. Quando falamos de papel e plástico, então,

a queda do valor é extremamente significativa devido a essa mistura em grandes

quantidades com resíduos orgânicos.

Quanto à conscientização da população, este é o cenário, infelizmente,

comum no Brasil e para o qual vale a pena chamar a atenção. Ao mencionarmos

política de resíduos sólidos, é importante, antes de destacar coleta seletiva e

reciclagem, darmos atenção ao gerenciamento do lixo no Brasil, que passa pela

disposição final, nunca em lixões e sempre em aterros sanitários, e também pela

coleta regular do lixo, pela conscientização da população de que o lixo tem de ir

primeiramente para a lata do lixo.

Este é um cenário típico. Encontramos nestas situações os mais diversos

tipos de materiais: plásticos, pneus, sofás-camas. Isso se deve ao baixo índice de

conscientização da população.

Esta transparência também mostra um problema associado: os esgotos. E

não vamos entrar em detalhes sobre isso. Muitas vezes, há mistura de canais

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pluviais com canais de esgoto, lixo e tudo, o que acaba, de alguma forma, sendo

impactante.

Estes dados mostram a diversidade do lixo no Brasil, em virtude das

características socioeconômicas e culturais da população brasileira. E já reforço aqui

o que o Dr. Sérgio Haberfeld falou em relação à necessidade de uma política

nacional e até mesmo de políticas estaduais que possibilitem soluções para o

gerenciamento do lixo, adequadas a peculiaridades locais e regionais. E que não

criemos mecanismo que venha a engessar e a dificultar as adaptações locais. A

política do setor em países continentais como o Brasil, o Canadá e os Estados

Unidos deve permitir esta flexibilização: adaptações a realidades locais.

Aqui há um dado sobre geração de lixo, relacionando o Brasil com países de

Primeiro Mundo. São índices utilizados pelas Nações Unidas até para medir o grau

de desenvolvimento de um país. Hoje, associa-se o grau de desenvolvimento de um

país à quantidade per capita de lixo gerado. Sabemos que essa tendência deve se

reverter, porque devemos dar atenção à redução da geração de lixo e de resíduos

no nosso dia-a-dia. Então, a tendência é que o país trabalhe para equacionar e

diminuir a geração dos resíduos na medida em que se desenvolve.

Este é um dado importante, também sobre as questões básicas do

gerenciamento do lixo. A maior parte do lixo sólido urbano do Brasil vai para lixões

— conforme já dissemos —, e cerca de 30% dos Municípios brasileiros não têm

nenhum sistema de limpeza urbana, ou seja, sua população não é atendida com

nenhum serviço de limpeza urbana. E mais de 65% dos Municípios brasileiros não

atendem 100% da população com o serviço básico de limpeza urbana e coleta

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regular de lixo. Sabemos o que acarreta a ausência da coleta regular de lixo para a

população.

Então, falaremos sobre o desperdício. O Dr. Sérgio Haberfeld já falou sobre

as causas do alto índice de desperdício no Brasil. Temos aí o exemplo clássico

estudado pelo CETEA, instituto de Campinas. Foi examinado o tomate, do qual há

desperdício muito grande, em função da utilização inadequada de embalagens ou

simplesmente pela falta delas. No caso do tomate, ainda se utiliza a embalagem tipo

“k”. Não é do meu tempo, mas parece que, na Segunda Guerra Mundial, era usada

para acondicionar querosene. Quer dizer, é uma situação completamente distorcida.

E isso preocupa porque, se temos, em muitas situações, déficit de utilização de

embalagens, significa que a tendência é de crescimento da utilização de

embalagens. E precisamos encontrar caminhos para dar melhor destino a esse tipo

de resíduo.

A coleta seletiva, ao contrário do que muitos imaginam, acontece no Brasil e

de forma bastante eficiente em alguns Municípios. A entrega voluntária, ou seja, a

utilização de contêineres em locais estratégicos é uma das dinâmicas, quando a

população é sensibilizada e conscientizada para, de forma voluntária, colaborar.

Sabemos que, quanto maior a participação voluntária da população em um

programa de coleta seletiva, menores são os custos totais.

Outra metodologia de coleta seletiva em curso no Brasil é a porta a porta.

Porto Alegre, Curitiba, São José dos Campos, Santo André e Jundiaí fazem a coleta

seletiva porta a porta com muita eficiência. E o grau de sensibilização da população

desses Municípios é extremamente elevado. Esse trabalho foi feito ao longo do

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tempo. Então, tempo é necessário nesse processo de mudança de hábitos e de

comportamento da população.

Não é possível falar em coleta seletiva, em Política Nacional de Resíduos

Sólidos sem contemplar a figura do catador, que também já foi mencionada. Hoje,

efetivamente, principalmente para os setores de alumínio e papelão, o catador é um

agente econômico. Além de existir o componente social, porque se gera

oportunidade de emprego, resgata-se a cidadania das pessoas que, muitas vezes,

estavam à margem da sociedade. Elas giram a economia e passam a se organizar

cada vez mais. Não defendemos, em hipótese alguma, catador de lixão, mas

somente catadores que trabalhem de forma organizada, em cooperativas, com

condições de segurança e higiene.

Trouxe aqui dois números sobre a quantidade atual de catadores de rua no

Brasil. São números que variam bastante. Em 1999, durante o Programa Brasileiro

de Reciclagem, foi feita uma pesquisa e identificou-se cerca de 200 mil catadores de

rua ou de cooperativas. Este ano ocorreu aqui em Brasília um seminário nacional de

catadores. E a estimativa da Cáritas — organização de cunho religioso — é de que

hoje existam cerca de 500 mil catadores de rua ou de cooperativas.

Fazemos, inclusive, um trabalho de apoio a essas cooperativas, para que se

tornem empreendimentos, para que o catador melhore a produtividade do seu

trabalho. E aqui está o exemplo de uma cooperativa que atingiu grau de maturidade

tal que já consegue comercializar plásticos em grande quantidade diretamente com

a indústria, auferindo, com isso, maiores lucros.

Aqui está o exemplo de uma cooperativa montada a partir do fechamento de

um lixão. Quando falamos em fechar um lixão, muitas vezes, isso significa impacto

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social, porque pessoas vivem da separação daqueles materiais. E, simplesmente,

corta-se aquela atividade, aquela fonte de sustento. Então, para que esse processo

seja feito de forma mais suave, sugerimos que sejam adotados procedimentos como

este que aí está, ou seja, removem-se as pessoas do lixão, constroem-se galpões

de triagem, enfim, uma estrutura logo ao lado que permita a eles trabalharem em

condições de segurança e de higiene mais favoráveis, mantendo ainda seu ofício,

que é trabalhar na separação de materiais.

É importante dizer inclusive que a Força Sindical possui números recentes

mostrando que eles tinham cem mil candidatos a uma vaga e não conseguiam

preenchê-las por problema de qualificação e ofertavam dez mil vagas que não eram

preenchidas porque não havia gente qualificada, infelizmente, para preenchê-las.

Então, a coleta seletiva aparece como uma oportunidade para uma parte da

população brasileira que infelizmente, por motivos históricos, acabou ficando com

dificuldade de inserção no mercado de trabalho, tal qual o conhecemos hoje.

Portanto, gostaria de chamar a atenção para isso.

Podemos ver nesta cooperativa como é uma atividade com mão-de-obra

intensiva, com geração de empregos e rendas para grande parte da população,

principalmente essa que tem dificuldade de inserção no mercado de trabalho. Aqui

outro exemplo. Podemos passar.

Temos uma atividade de pesquisa sobre programas de coleta seletiva no

Brasil. Acompanhamos dados técnicos, econômicos e sociais. Este ano estamos

compilando novos dados e esperamos, já no primeiro semestre de 2002, atualizar

essa pesquisa, que chamamos de Ciclosoft.

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Infelizmente, com a descontinuidade, muitas vezes com a mudança na

administração das prefeituras, temos situações do tipo: programas que estavam

sendo desenvolvidos simplesmente param; e, em outras situações, não tínhamos

nada e passamos a ter. Então, a descontinuidade administrativa, como dizia o

saudoso Vicente Matheus, “é uma faca de dois legumes”, tanto pode ser para bem

como para mal.

O fato é que, em 1994, tínhamos cerca de 81 Municípios no Brasil

desenvolvendo programas de coleta seletiva de uma forma razoavelmente

organizada. Em 1999, esse número foi de 435, ou seja, houve um crescimento em

torno de 60%, que pode ser um número animador, por um lado, mas por outro, se

considerarmos que temos 5.504 Municípios, é ainda um índice muito baixo. A nossa

expectativa é de que vamos fechar o ano de 2001 com algo em torno de 200

Municípios utilizando programas de coleta seletiva de forma organizada no Brasil.

Quando se fala de uma política estadual ou nacional de resíduos sólidos não

se pode desconsiderar também essa realidade atual do mercado de sucatas

estabelecido no Brasil. Então, temos a atuação dos catadores de forma autônoma;

em cooperativa, temos a atuação dos pequenos, médios e grandes sucateiros, que

hoje movimentam grandes quantidades também de materiais recicláveis; nos

grandes centros, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro, temos uma atividade

bastante intensa dessa classe. Por exemplo, no bairro residencial e comercial Itaim

Bibi, em São Paulo, onde moro, antes de passar o caminhão da Prefeitura de coleta

regular de lixo, observa-se nitidamente toda a atividade desenvolvida pelos

sucateiros. Então, é efetivamente uma realidade hoje no Brasil, e eles desviam

quantidades significativas que acabariam indo para os aterros.

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Finalmente, os projetos da indústria de reciclagem que aí existem. Apesar das

dificuldade com os números, esforçamo-nos bastante para consegui-los, e esses

números com certeza são os que se aproximam mais da realidade nacional. E aí

precisamos ter atenção, porque o viés da reciclagem no Brasil, apesar de, claro,

querermos que seja cada vez maior, de forma mais acentuada, é positivo. Então,

hoje temos alguns materiais, como papelão, alumínio, alguns tipos de plástico com

crescimento significativo de índice de reciclagem. A própria embalagem longa vida,

que até bem pouco tempo atrás era pouco reciclada ou quase nada, já atinge

patamares de 15% de índice de reciclagem. E observamos que, no caso do resíduo

orgânico, gerado em maior quantidade, que traz maior impacto ambiental, é o que

possui menor índice de recuperação, e, volto a dizer, é aquele menos citado em

discussões em qualquer fórum.

Um detalhe importante: hoje, na Europa, o índice de reciclagem de plásticos,

por exemplo, permanece estagnado em torno de 20%. Normalmente, os países que

consideram e apresentam índices maiores de reciclagem de plásticos incorporam a

reciclagem energética, mencionada anteriormente. No Brasil, hoje, ainda não temos

a recuperação energética do lixo para alguns tipos de materiais, o que, de alguma

forma, alavancaria índices de reciclagem, já que a recuperação energética é

considerada um tipo de reciclagem, para alguns tipos de materiais.

Aqui há alguns dados sobre o posicionamento do Brasil na reciclagem de

aparas de papel em relação ao mundo, mostrando que nós, em termos de país em

desenvolvimento, temos uma posição relativamente boa, enquanto reciclagem de

papel e papelão, podendo ainda melhorar.

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Aqui há alguns dados que certamente o Sr. José Roberto Giosa vai

apresentar, estou roubando um pouco da apresentação dele; são dados da ABAL

sobre a evolução da reciclagem de alumínio no Brasil, que hoje é um caso de

sucesso mundial, estando sempre nas posições de liderança até em relação a

países de Primeiro Mundo, dividindo com o Japão a posição de liderança.

Outro dia, inclusive falamos sobre isso, e chegou um fax de Hong Kong

dizendo: não, nós reciclamos 98% aqui em Hong Kong. Mas, enfim, é sempre um

dos primeiros.

A reciclagem de embalagem PET, no Brasil, também apresenta um viés de

crescimento. É claro que o PET sofre um pouco em relação ao crescimento do seu

índice de reciclagem em função do consumo aparente dele que tem crescido muito

no Brasil nos últimos anos. Como o índice de reciclagem é relativo, é relativo a quê?

Ao consumo aparente. Acaba que o índice de reciclagem, apesar de, em termos

totais, quantitativos, a reciclagem ter crescido significativamente, não cresce tão

rápido quanto gostaríamos.

Em relação à reciclagem de vidro, também percebemos uma evolução na

execução de diversos programas no âmbito municipal, executado por entidades de

diversos setores, que têm permitido se recuperar uma quantidade maior também de

vidro, com índice no patamar de 42%.

Esses dados são relacionados a espaços geográficos, índices muito difíceis

de ser obtidos, e explico por quê. Por exemplo, hoje o Estado que mais recicla

plástico PET no Brasil é o Rio de Janeiro, e não há nenhum reciclador instalado lá.

Então, há um movimento hoje muito grande de sucatas, inclusive no âmbito de

América Latina e para outros continentes.

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Estivemos, na semana passada, em Porto Alegre, que hoje está exportando

500 toneladas/mês de PET pós-consumo na forma de flakes ou fardos para a

Europa, China e Taiwan. Há também movimentação entre países latinos, e isso, do

ponto de vista da reciclagem, é muito saudável, porque começamos a perceber que

o lixo começa a ser valorizado, deixando de ser algo de valor desprezível e passa a

ser encarado como um insumo, como matéria-prima com um novo ciclo produtivo.

Aqui temos alguns dados sobre pneus — acredito que esse tema já foi

abordado nesta Comissão —, mas chamo a atenção para um aspecto que nos

preocupa. Temos visto com freqüência a tendência de se tratar o lixo de forma

segregada. Então, vamos criar uma lei ou uma resolução para pneus, pilhas,

embalagens, lâmpadas totalmente desconectadas de um todo. Isso, com certeza,

baseado em experiência internacional, do ponto de vista econômico e energético, é

totalmente desaconselhável. Já está comprovado, temos inclusive que trabalhar

essa questão do ponto de vista numérico, que o gerenciamento integrado de todas

as frações encontradas no lixo conjuntamente trazem maior benefício, não só

econômico, mas também ambiental. Vimos isso com freqüência.

Muitas vezes, em alguns debates, vamos falar sobre política nacional de

resíduos sólidos e, de repente, a discussão é sobre política nacional de embalagem.

Vamos num outro evento falar sobre política nacional de resíduos sólidos e a

discussão gira em torno da política nacional de pneus. Então, é muito importante

que uma política nacional de resíduos sólidos trabalhe todos os tipos de materiais

encontrados nos lixos de forma integrada. Do ponto de vista do mercado de sucata

— se tiver alguém presente do mercado de sucata, algum sucateiro ou reciclador,

sabe bem o que estou dizendo —, até para se trabalhar com folga e com certa

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serenidade no mercado, é fundamental se trabalhar com todos ou pelo menos com a

maior gama possível de materiais.

Aqui alguns dados da Associação Brasileira da Indústria Química sobre a

reciclagem de plásticos. Hoje, o Brasil está reciclando algo em torno de 15% —

voltando a lembrar que o Brasil só tem reciclagem mecânica de plástico.

Aqui um dado interessante sobre a coleta seletiva e o envolvimento do

catador. A prefeitura de Salvador fez um cômputo e divulgou que, só nos quatro dias

de Carnaval, em Salvador, registrou-se um movimento de 270 mil reais com coleta

de latinhas de alumínio, movimentando cerca de 150 toneladas. O Sr. José Roberto

Giosa pode me corrigir, se eu estiver errado, pois não tenho esse dado.

Aqui um índice da ABIVIDRO sobre o desperdício com a não-reciclagem de

vidro, hoje, na Grande São Paulo: algo em torno de 9 mil reais por dia. Aqui, outro

dado da Associação Brasileira da Indústria Química sobre desperdício de 330 mil

reais por dia. Essa questão do desperdício em relação ao lixo varia de 1,5 bilhão, e

já ouvi falar até em 10 bilhões de reais por ano.

Enfim, são dados também bastante discutidos, mas hoje, com certeza, o

Brasil, diferentemente do Uruguai e da Argentina, já possui escala para trabalhar a

reciclagem. Essa é uma vantagem muito grande que temos em relação a outros

países. Agora, quando falamos em escala, novamente ressaltamos a importância de

atender e respeitar as peculiaridades regionais do nosso País.

Então, vemos com freqüência, como bem citou o Dr. Sr. Sérgio Haberfeld,

menções de programas que funcionam bem na França, na Alemanha, na

Dinamarca, etc. Ótimo, são programas que, apesar de seus custos elevados — é

uma sociedade que está disposta a pagar — podem funcionar muito bem lá. Mas

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não acreditamos que uma política de resíduos sólidos que funcione na Finlândia

possa ser copiada e vá funcionar, na íntegra, num país como o Brasil. De cara,

existe a questão dos custos. Por exemplo, lá o programa alemão voltado para

embalagem custa 4 bilhões de dólares por ano, valor extremamente elevado.

Observamos alguns aspectos interessantes. Estivemos no Canadá no ano

passado apresentando o que é feito no Brasil no que se refere à coleta seletiva e à

reciclagem. Não sei se V.Exas. sabem, mas lá algumas províncias têm metodologias

diferenciadas de coleta seletiva. Por exemplo, algumas adotam o sistema de

cobrança de taxa para dar algum valor ao retorno da embalagem. As províncias que

adotaram esse sistema têm um índice de coleta seletiva inferior ao de Ontário, por

exemplo, que adota a coleta seletiva voluntária, com conscientização da população.

Como isso se traduz em números? Por exemplo, no caso da Província de

British Columbia, o que está acontecendo? Como a coleta seletiva baseada na taxa

é muito cara, eles estão com receio de que o número maior de consumidores leve de

volta sua embalagem, porque isso não inviabilizaria economicamente o programa

instalado de coletiva seletiva.

É um contra-senso, cria-se um mecanismo com boa intenção para incentivar

a coleta seletiva e agora está com medo de que aumente a participação da

população, o que inviabilizaria economicamente aquele sistema criado. Então, viram-

se hoje numa situação de sinuca de bico. Aí têm que retroceder e reconsiderar uma

série de aspectos. E hoje as províncias de Ontário e outras que não adotaram esse

sistema já estão muito na frente.

Terminando a apresentação, temos algumas propostas. Primeiro, sobre o

gerenciamento do lixo: ter muita atenção pois na política nacional é necessário

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contemplar antes da coleta seletiva e da reciclagem a coleta regular do lixo;

segundo, um projeto de reciclagem para funcionar tem que estar calcada neste

exemplo que estamos apresentando, essa correntinha aí. Então, todos os elos

dessa corrente têm de ser trabalhados na mesma hora e com a mesma intensidade,

para que não haja rompimento em nenhuma fase do processo.

Não adianta investir demais na coleta seletiva, na conscientização da

população, ter uma ultra-segregação de materiais reciclados, se não existe o

segundo elo da corrente: capacidade instalada, tecnologia para transformar aquilo

que sempre coletou e separou; e também o terceiro: mercado para inserção daquilo

que se transformou, o produto reciclado. Porque é justamente o desenvolvimento

desse mercado que vai viabilizar o investimento em tecnologia e capacidade

instalada, refletindo na coleta seletiva, aumentando o valor agregado, o que era lixo

passou a ser material reciclado.

Apresentamos a esta Comissão algumas propostas para alavancar a

reciclagem no Brasil. A questão do crédito, de financiamentos para as cooperativas

de sucateiros, recicladores. Hoje uma cooperativa com a aquisição de uma prensa

hidráulica de 15 toneladas deixa de ser inviável e passa a ser viável

economicamente. Mas muitas vezes ela tem dificuldade em adquirir esse

equipamento que custa cerca de 10 mil reais.

Criar linhas de crédito, de financiamento também para o pequeno e médio

reciclador; prazos de carências mais dilatados, taxas de juros mais acessíveis,

apesar de sabermos da complexidade desse tema. Enfim, dar tratamento

diferenciado à atividade de reciclagem. Parece que a Caixa Econômica Federal está

lançando linha de crédito para cooperativas de catadores.

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Eliminação dos incentivos fiscais. Hoje, sem exceção, todos os materiais

sofrem com esse problema. Do ponto de vista estadual, a questão do ICMS, do

ponto de vista federal, a questão do IPI — está aí o exemplo dos plásticos, a

bitributação baixou tudo para 5%, agora voltou para 15% o reciclado. E para cada

tipo de material existem hoje no Brasil gargalos. Precisamos eliminá-los e partir para

a criação de incentivos fiscais. Não podemos mais trabalhar pensando em criação

de taxas. Ninguém agüenta mais pagar taxa neste País. Então, por que não criar

outra linha de raciocínio: em vez de criarmos taxas, oferecermos incentivos

diferenciados para quem trabalhar em prol da reciclagem?

Investimento, pesquisa e desenvolvimento em diversos setores; capacitação

de mão de obra — isso é importantíssimo, precisamos de ações fortes em âmbito

nacional para capacitar tecnicamente todo o pessoal, principalmente aqueles que

trabalham com limpeza urbana municipal —; e a questão da educação ambiental

que, sem dúvida, é o maior gargalo.

Apresento uma sugestão. Quando reforçamos a importância das cooperativas

de catadores, frisamos sempre o seguinte: a coleta seletiva não vai ser feita só com

catadores, isso é impossível, é apenas uma parte do processo.

Também para o caso do reaproveitamento energético do lixo — até em

função da convergência hoje de opiniões de que nossa matriz energética é

deficitária e que, a curto prazo, a solução será as usinas termoelétricas, portanto,

vamos queimar gás —, por que não queimar uma pequena fração do lixo que tenha

poder calorífico para isso e recuperá-la do ponto de vista energético? Volto a repetir,

não é todo o lixo, apenas uma fração que seja economicamente interessante. Assim,

geraríamos energia elétrica, calefação.

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Aqui há alguns dados sobre o aproveitamento energético. Hoje, a indústria

açucareira já está trabalhando inclusive em coordenação com outros setores,

pensando, por exemplo, no reaproveitamento energético do bagaço da cana e tantos

outros resíduos gerados em quantidade no Brasil.

A questão dos aterros, em substituição aos lixões, com proteção de lençol

freático, proteção de solo etc. Voltando à questão da incineração com controle

ambiental, não adianta fazer a queima, poluir a atmosfera, jogar cinza no rio, no solo.

Tem de haver um controle ambiental rigoroso, e já existe tecnologia mundial para

isso.

Quanto à inovação tecnológica, temos uma série de sugestões, inclusive a

oportunidades de novos investimentos, novos negócios. Do ponto de vista

ambiental, já falamos sobre as vantagens da reciclagem: economia de energia, de

matéria-prima, making money, novas oportunidades de negócio, a questão social,

com exceção dos catadores, é muito importante. Uma política nacional de resíduos

sólidos deve contemplar essa questão social, hoje premente no Brasil.

Só acreditamos que podemos melhorar a questão do gerenciamento no Brasil

com uma ação articulada entre o poder público, o setor empresarial e principalmente

o cidadão. Por exemplo, existe hoje uma discussão sobre a taxa do lixo. É

importante separarmos o valor pago para o lixo em detrimento de outros tipos de

serviços oferecidos pelo Município. Agora, precisamos pensar também que qualquer

proposta de coleta seletiva, de programa de reciclagem só terá êxito se a população

estiver conscientizada de que deve participar por um motivo muito maior do que

custo, taxa, valores a ela impostos ou cobrados. Nós que trabalhamos com

informação sentimos isso no dia-a-dia: a necessidade de conscientizar, de mudar

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hábitos, de informar. O Poder Público e os setores empresarial e industrial podem ter

grande participação, mas se o cidadão não estiver conectado a tudo isso e motivado

a participar, qualquer proposta de coleta seletiva ou programa de reciclagem tenderá

ao fracasso. Aí teremos efetivamente uma lei muito boa no papel, mas que, na

prática, acabará não sendo cumprida, não porque não se queira, mas porque muitas

vezes simplesmente não se pode cumprir.

Os caminhos têm de estar baseados na sustentabilidade técnica, econômica

e social. Sustentabilidade econômica é muito importante. Muitas vezes observamos

com freqüência algumas pessoas da área que apresentam propostas, metodologias

sem base econômica. Elas apenas se apóiam numa proposta técnica com forte

conotação ambiental, e a solidez econômica acaba sendo desconsiderada ou tendo

uma importância inferior. Sabemos que para que a coleta seletiva e a reciclagem

possam avançar e ser perenes no Brasil só com sustentabilidade econômica. Todos

aqueles índices de reciclagem no Brasil que mostramos, necessariamente, apóiam-

se em realidade de mercado. Se ainda não foram os índices de muitas situações que

gostaríamos de alcançar, pelo menos até hoje conseguimos ir respeitando uma

realidade de mercado. Portanto, são índices que dificilmente jogamos para baixo. A

tendência é sempre ir para cima.

Se alguém ainda não conhece o CEMPRE e quiser saber um pouco mais

sobre a entidade ou sobre informações de que dispomos, esse é o nosso endereço

eletrônico.

Mais uma vez agradecemos a Comissão Especial o convite para fazer esta

apresentação. Mais uma vez, renovamos nossa predisposição em colaborar com

informações que estiverem ao nosso alcance e, mesmo que não, comprometemo-

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nos a ir buscá-las para que possamos, de alguma forma, apoiar o importantíssimo

trabalho desenvolvido por esta Comissão da Câmara dos Deputados.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Agradecemos ao Sr. André

Vilhena a participação e concedemos a palavra ao Sr. José Roberto Giosa,

representante da Associação Brasileira de Alumínio — ABAL.

O SR. JOSÉ ROBERTO GIOSA – Em primeiro lugar, gostaria de me

apresentar. Meu nome é José Roberto Giosa, sou Coordenador da Comissão de

Reciclagem da Associação Brasileira de Alumínio e também Diretor de uma empresa

de reciclagem.

O mais importante desta nossa reunião hoje, uma seqüência de várias outras,

é que, pela primeira vez, estamos discutindo de forma consistente neste País uma

política nacional. Assisti ao nascimento, ao féretro e velei o cadáver de três

programas brasileiros de reciclagem que o Governo Federal tentou lançar nos

últimos quatro anos. Nenhuma dessas iniciativas deram resultado porque

começaram de uma maneira extremamente burocrática e distante da realidade,

além, evidentemente, da falta de vontade política de levá-las adiante.

Esse assunto é por demais importante para ficar relegado a uma série solta

de projetos de lei muitíssimos bem-intencionados. Temos 10 anos de experiência em

programa de reciclagem. Acredito que esse é o único programa de reciclagem de

embalagem permanente neste País. Temos uma experiência muito rica que

certamente poderá ser aproveitada, envolvendo propostas que estão no relatório

preliminar do Sr. Relator, como a de remunerar na cadeia o esforço do consumidor e

a de educação. Damos uma média de 200 palestras em escolas de 1º, 2º e 3º

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Graus, além de fornecer material para tanto. Temos um telefone à disposição do

público que, em 1981, quando foi inaugurado, recebia duas ligações por dia. Hoje,

são 250 ligações gratuitas por dia. A esmagadora maioria não trata de reciclagem de

alumínio, mas, sim, de outros tipos de embalagem, de lixo urbano, até de

reclamações sobre o uso ou a expansão dos lixões, algo que hoje incomoda

terrivelmente a sociedade. Então, a oportunidade vem até um pouco atrasada, mas

antes tarde do que nunca.

(Apresentação de transparências.)

Darei um panorama da indústria, o que fazemos, tecerei alguns comentários

e, para não ficar só na crítica, no final, há sugestões da indústria para resolver o

problema.

O alumínio está presente na vida de todos nós, das mais diversas maneiras

possíveis, da lata até o caixilho de janela. A lata teve o grande mérito principalmente

de democratizar o mercado de sucata, porque acabou o controle de matéria-prima.

Um resumo da indústria: só em empregos diretos, gera 48 mil empregos, fatura 6,7

bilhões e tem participação no PIB nacional de 1%. É extremamente positiva na sua

relação comercial. O Brasil produz aproximadamente 1 milhão e 400 mil toneladas

de alumínio primário e exporta cerca de 800 mil toneladas por ano. Então, a previsão

este ano entre importações e exportações é fechar com 1 bilhão e meio de dólares a

balança comercial deste ano contra 1 bilhão e 200 milhões ano passado. Somos

3,6% da pauta de exportações do País. Onde está esse alumínio? Reparem ali que

os 29% do que é produzido vão para embalagens. A grande participação em

embalagens são das latas de alumínio muito usadas em cerveja, refrigerantes,

sucos. Eletricidade, 10%. A maioria dos cabos de transmissão de energia elétrica é

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confeccionada com alumínio. A indústria de transportes, 20%. Por exemplo, toda

arquitetura do metrô é feita de alumínio, caminhões, ônibus, elevadores, construção

civil, que é um grande usuário, os caixeiros de alumínio, forrações, portas, janelas,

etc.

Quantos somos? Somos a única entidade de classe no Brasil que tem uma

Comissão de Reciclagem montada há dez anos para tirar uma radiografia do setor.

O número é bastante expressivo porque começamos com duas indústrias, em 1991,

e hoje temos 32, das quais 27 estão operando em padrões ambientais acima das

exigências básicas. Por exemplo, em Pindamonhangaba, São Paulo, temos três

grandes indústrias que operam acima dos padrões de exigência da CETESP?

São 2 mil empresas de pequeno, médio e grande porte e cooperativas

envolvidas na cadeia de reciclagem de alumínio. Não estou falando só de lata. Um

bloco de motor, por exemplo, é feito de alumínio. A Fiat usa em seus motores 23%

de alumínio. Por isso, quando você liga um carro da Fiat, sente aquele cheiro de

cerveja, pois 23% provêm de latas de alumínio. (Risos.)

Em relação às pessoas envolvidas na cadeia de reciclagem, o Sr. André

Vilhena lembrou que há uma “chutometria” feroz, uma briga de dados com a

realidade. De onde tiramos os 150 mil? Há seis anos fazemos um mapeamento de

onde estão os catadores, quem são, qual o perfil socioeconômico deles.

Trabalhamos também em cooperação com algumas prefeituras. Com a COMLURB,

por exemplo, em 1996 e 1997, montamos as quatro primeiras cooperativas da

cidade. Hoje há cerca de 150 mil pessoas espalhadas no País que recebem entre

dois e quatro salários mínimos mensais apenas na atividade de coleta. Temos hoje

inscritos no nosso programa de reciclagem 16 mil instituições — escolas públicas,

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igrejas, Exército, Marinha, Aeronáutica, os Dragões da Independência, que, aqui em

Brasília, são grandes recicladores, para quem não sabe.

Trocamos as embalagens de alumínio e uma das nossas indústrias

associadas, desde março, além do alumínio, coleta também a embalagem PET, com

números muito interessantes. Já trocamos, por exemplo, 64 mil equipamentos, que

vão de uma bola de futebol até uma máquina copiadora de mesa. Só de

microcomputadores foram 14 mil, o dobro do que o Estado e o Município no Rio de

Janeiro já fizeram até hoje pelas escolas, notadamente as públicas. Somos hoje o

segundo maior comprador de ventilador de teto do Brasil. Perdemos para a Casa e

Vídeo, mas acho que neste verão vamos superá-la, trocando ventilador por

embalagem.

Em 1991, o Brasil coletou 4 mil toneladas de latinhas de alumínio e, no ano

passado, 104 mil toneladas. O faturamento desta indústria é hoje de 300 milhões de

dólares por ano.

Como estamos em relação aos outros países, considerando sucata, de modo

geral, descaracterizando apenas a lata? A média mundial é de 34%. O Brasil

registrou, no ano passado, quase a meta mundial. Reparem que estamos acima de

países como o Canadá, que tem um índice tão baixo porque é a energia elétrica

mais barata do mundo e como o alumínio é eletrointensivo a energia elétrica é um

grande fio condutor desta capacidade de reciclagem. Reparem também que, nos

Estados Unidos, pioneiros na produção de alumínio em larga escala, a taxa de

reciclagem de sucata é bastante alta. São cerca de 8 mil empresas nos Estados

Unidos dedicando-se à reciclagem.

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Aí está um comparativo entre Brasil, Estados Unidos e Japão, desde 1991.

No ano passado, por exemplo, chegamos a 78%, que é o índice oficial. O índice não

oficial é de 87%. O que chamamos de não oficial? Aquelas fundações de fundo de

quintal que coletam latas de alumínio para fazer, por exemplo, utensílios domésticos

como garfos, conchas, alguns tipos de pratos e aquela lança para fazer portão

fazem parte do chamado consumo informal da economia subterrânea na aquisição.

Os Estados Unidos, pioneiros mundiais em reciclagens de latas de alumínio

— foram eles que inventaram a lata, em 1963, e que começaram a reciclagem, em

1968 — têm 62%. O Japão, que hoje tem a liderança entre os países que não

possuem leis específicas obrigatórias para reciclagem, tem 81%.

Quanto ao consumo de energia, no ano passado, em 2000, para produzir 229

mil toneladas de alumínio secundário, também chamado de reciclado, houve

economia de 3.962 gigawatts de energia elétrica. O que significa isso, traduzindo em

números? Essa economia proporcionada pela reciclagem é suficiente para manter

uma cidade de 1,5 milhão de habitantes, como Campinas, por exemplo, durante um

ano, considerando o consumo de uma residência média com 4 pessoas.

O alumínio primário consome 14,7 megawatts ou 14 mil e 700 quilowatts de

energia para se fazer uma tonelada de alumínio primário. O que é isso? O minério

chamado bauxita, de onde se extrai a alumina, vira alumínio, que é transformado em

produto final. A reciclagem desta mesma tonelada de um produto final de alumínio

gasta de 500 a 700 quilowatts de energia, o que significa uma economia direta de

95%, fato reconhecido.

Quando teve início o racionamento de energia, por exemplo, o Governo

Federal, por meio do Comitê de Gestão, em dez dias liberou a indústria recicladora

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de alumínio das cotas de um racionamento, porque é um absoluto contra-senso

punir a indústria primária, por exemplo, que é eletrointensiva e, juntamente, punir a

indústria secundária, que economiza muita energia elétrica. Então, em duas

semanas, o Governo concedeu isenção do racionamento a doze grandes indústrias

que tinham medidas confiáveis de consumo de energia. Com isso, a produção neste

período aumentou 10%.

Em termos de participação no consumo, na geração de energia no Brasil, o

alumínio primário consome 4,5% de toda energia gerada no País, e o alumínio

secundário menos de 0,5%.

Falando do principal usuário de alumínio no País, que é a indústria de latas,

ela tem hoje quatro grandes indústrias instaladas no Brasil. Com sete fábricas, tem

uma capacidade instalada de 11,9 bilhões de latas por ano. No ano passado, a

produção foi de 9 bilhões de latas. O consumo per capita no Brasil é de 54 latas por

habitante, com um detalhe: o Brasil é o terceiro mercado mundial de refrigerantes,

atrás dos Estados Unidos e do México, e é o quarto mercado mundial de cervejas.

Temos 2 mil empregos diretos nessas indústrias. Elas faturam acima de 800 milhões

de dólares por ano. Os investimentos, em onze anos que a lata existe no Brasil,

chegam a quase 1 bilhão de dólares.

Para onde vai esse alumínio? No mercado de bebidas, por exemplo, a cerveja

é o grande mercado da lata e deve fechar este ano com 28% do total. O vidro

retornável representa 67,5%, saindo de uma participação, em 1995, de 88%; em

1999, de 72%. A participação tem sido decrescente. O vidro one way tem-se

mantido praticamente estável.

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Este é o retrato da utilização final. Reparem, lá em cima, em milhões de litros

por ano. O brasileiro bebe 9 bilhões de litros de cerveja por ano. O número citado

pelo André, 150 toneladas, referia-se ao carnaval de 11 dias, em Salvador, e não de

4 dias.

A Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, por exemplo, é a segunda maior

do mundo, perdendo apenas para a de Las Vegas. Lá, bebe-se 1 milhão e 800 mil

latas durante uma semana de festa. Quando a Prefeitura nos chamou para montar

uma coleta especial para aquele evento, numa área de 54 alqueires, instalamos

quatro touros mecânicos. Quem quisesse montar no touro deveria contribuir com 5

latinhas. Como metade dos participantes da festa está bêbada e a outra metade a

caminho de ficar bêbada, ejeta-se um infeliz no touro mecânico a cada dois

segundos e ele sai para coletar mais cinco latas. (Risos.) Todas as latas foram

trocadas em Barretos por 22 cadeiras de rodas, que, ao final do evento, foram

doadas pelo clube organizador para o asilo da cidade e para o Educandário São

Benedito.

O Brasil consome, por ano, 12 bilhões e 300 milhões de litros de refrigerante.

O grande mercado de embalagens é de PET, que tem 75%. Reparem que esse

percentual tem-se mantido quase estável de 1999 para cá, mas em 1994 o PET

tinha 4% do mercado de refrigerante e ganhou a preferência do consumidor.

Nós costumamos dizer que o PET não é uma embalagem perfeita.

Dependendo de quem olhar e do prisma por que analisar a embalagem, será

considerada melhor ou pior.

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As latas representam 11% do mercado, porcentagem praticamente estável; o

vidro retornável, 10%; e outros tipos de embalagens de bebida, entre as quais se

inclui, por exemplo, a Tetra Pak, 3,7%.

Especificamente sobre a Política Nacional de Resíduos, devo dizer algo

importante: a indústria pratica a política dos três erres — redução, reaproveitamento

e reciclagem — há muito tempo, por uma questão de economia.

Em 1976, por exemplo, com um quilo de alumínio faziam-se 45 latinhas; em

2000, com a mesma quantidade de alumínio faziam-se 76 latinhas. Houve um ganho

de produtividade de 69%. Por quê? Porque a indústria tem que ser competitiva. Há

uma absoluta necessidade da competição pela preferência do consumidor, e a

indústria tem que se tornar cada vez mais competitiva, e o mais importante, ao final

do seu ciclo de vida, tem que ter, na relação custo/benefício, um real benefício para

a sociedade, e não para as empresas que produzem a lata, o alumínio ou o perfil de

alumínio.

Qual é a nossa posição? É de absoluto apoio à implementação de uma

política efetivamente nacional que respeite, como disseram os Srs. Sérgio e André,

as peculiaridades do País.

Nós, por exemplo, coletamos latas no interior do Piauí. A Prefeitura leva

essas latas até Teresina; uma transportadora as leva, de graça, até Recife, e outra

transportadora as leva até São Paulo, onde está a fundição. Em locais onde há uma

rede de coleta organizada, por menor que seja, nós incentivamos a coleta. Onde há

uma cooperativa, como no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, nós até passamos a

tecnologia, sem a obrigação de que aquela cooperativa venda o produto do seu

esforço para a empresa.

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Darei a V.Exas. um exemplo interessantíssimo: hoje o preço da sucata de

alumínio é absolutamente transparente. Há um preço de rua, de Norte a Sul do País,

e o fato de ele ser intensamente divulgado evita a exploração das cooperativas pelas

grandes sucateiras. A esmagadora maioria das grandes sucateiras é grande

sonegadora também. Então, a indústria não pode concorrer com quem sonega diária

e diretamente.

No mês passado, numa investigação rápida, nós descobrimos, por exemplo,

seis grandes quadrilhas atuando com notas frias. O dono de uma dessas empresas

disse com a maior tranqüilidade: “Tudo frio, não. A empresa é quente; o resto é frio.

A nota é fria, a guia do imposto é fria”.

Por que isso existe? Por causa da bitributação em toda a cadeia de sucata.

Não estou me referindo de novo só ao alumínio. A nossa contribuição, em dez anos,

trouxe alguns ensinamentos preciosos. Nessa área não faltam iniciativas, mas

“acabativas”, ações que tenham começo, meio e fim. Há dez anos nós fazemos

palestras em escolas, o que é fundamental.

O nosso primeiro objetivo deve ser convencer as pessoas de que elas devem

fazer aquilo. Eu ouvi de uma freira, no interior de São Paulo, quando nós fomos

entregar uns equipamentos, algo importante: “A palavra comove, mas o exemplo

arrasta”. Então, em vez de gastarmos tinta e papel fazendo seminários sobre os

benefícios e as vantagens da reciclagem, nós aprendemos fazendo. Erramos muito

nesses dez anos, mas a nossa experiência é extremamente valiosa.

A palavra reciclagem apareceu no dicionário pela primeira vez em 1979, no

Webster. No Brasil ela começou a ser utilizada a partir de 1993, logo depois da Eco

92. Quem se lembra da Eco 92? Poucas pessoas. Qual foi o resultado prático do

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compromisso assumido pelo Brasil naquela época? Nenhum. Qual foi o resultado

visível disso? É algo que se perdeu no tempo; ficou na memória de alguém.

A implantação de uma política de resíduos não é obrigação apenas da

indústria, do Poder Público ou da população. É uma obrigação conjunta de todos os

envolvidos na cadeia. Nós, o Sr. André e o Sr. Sérgio estamos em perfeita sintonia

com relação a isso.

Segundo aspecto: esta política deve respeitar a liberdade de escolha do

general mercado. Quem escolhe o que é melhor para si é o consumidor; não é uma

ordem de cima ou um conchavo de escritórios ou de laboratórios que traz a definição

do que o consumidor prefere. Ele tem que ser soberano para escolher o que achar

melhor, e a indústria tem que estar capacitada para encantar o consumidor e atender

às suas necessidades.

Os resíduos derivados de embalagens estão classificados no relatório

preliminar como resíduos especiais. Na verdade, nós entendemos que eles deveriam

ser considerados resíduos urbanos. Afinal de contas, as embalagens representam

menos de 1% de todo o lixo doméstico recolhido no País. Se for criada uma

categoria especial, alguém vai pagar a conta. Quem? Todos nós nesta sala e o

restante da população brasileira.

Os resíduos sólidos urbanos coletados e passíveis de reciclagem devem ser

tratados da forma adequada, não é transformar a miséria em sucata suja prensada.

Isso deve ser tratado adequadamente. A esse respeito, há um dado importante: se o

percentual de coleta de qualquer sucata de alumínio fosse de 100%, a indústria teria

condições de absorver todos os 100%. Existe capacidade instalada para isso.

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Darei um exemplo interessante para os senhores: até 1996 havia, no Brasil,

cinco prensas específicas para a reciclagem de latas, todas importadas. Hoje

existem 220, aproximadamente. Três indústrias da região de Ribeirão Preto, em São

Paulo, uma delas em concordata, que produzia grade para arado de trator, mudou o

seu perfil, aproveitando que tinha uma ferramentaria, uma dobradora de chapas. Ela

mudou a sua composição e hoje produz prensas hidráulicas com um comando

numérico melhor do que a importada, por um terço do valor.

Até hoje nós entregamos amassadores de latas para as escolas. Elas se

inscrevem pelo telefone e recebem, em troca de uma fita virgem, uma fita de vídeo e

um amassador de latas. Quando o amassador quebra, a escola é obrigada a

devolver o quebrado para ganhar um novo. O saco onde a lata volta também é

reciclado. Até o material usado no transporte vira lenha e é utilizado para gerar

energia na olaria e na indústria de ferro gusa. Portanto, o exemplo é fundamental.

Mas por que esse programa deu certo? Porque ele é permanente. Por que as

campanhas de trânsito não dão certo no Brasil? Porque não adianta mostrar um

sujeito saindo da geladeira durante quinze dias. Isso agride as pessoas e chama a

atenção da população naquele momento. E depois? E o day after?

Quem sabe qual é a real importância de se contaminar o lençol freático? Nós

só aprendemos, no Brasil, da pior forma possível. Estamos vendo o exemplo

daquela multinacional de derivados de petróleo na região de Paulínea, Campinas.

Aquilo é um absurdo gigantesco. Qualquer pessoa ligada a essa questão sabia que

aquilo existia.

Qual é o cuidado que se tem com as embalagens de herbicida? Nenhum.

Está nos jornais de hoje que a Secretaria de Agricultura de São Paulo interditou 40

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fazendas no Vale do Paraíba porque as vacas estão com varíola, que é uma

zoonose transmitida para a mão de quem faz a ordenha. Há 600 pessoas com

varíola numa das áreas mais desenvolvidas do maior Estado da Federação.

Portanto, informação nunca é demais. O exemplo da informação permanece

se for sustentado por uma educação continuada. Não existem fórmulas mágicas

para tratar desse assunto. Existe um trabalho de base contínuo, permanente e

retificador.

Nós, por exemplo, cometemos, no início, o erro de chamar o lixo de sucata. É

material reciclável. Ele era acondicionado em sacos pretos utilizados para o lixo

doméstico urbano.

O PET recebe muitas críticas. Nós iniciamos, há cinco meses, a coleta nos

supermercados do Rio de Janeiro, num projeto-piloto, quase sem publicidade. Um

dos postos está instalado num supermercado na Tijuca. Quando nós abrimos o

posto, recebíamos mil latinhas de alumínio e 400 garrafas PET por dia. Dois meses

depois passamos a receber, por dia, 11 mil garrafas PET. Isso derruba outro mito: o

de que o brasileiro não liga para essas coisas. Liga, sim. Dê a ele um canal confiável

de participação, com credibilidade, que ele adere. O brasileiro morre de medo de ser

enganado, embora perca dinheiro num show não realizado ou com um carro de

segunda mão sem garantia. Dizemos a ele que algo funciona e continuará

funcionando e, se tiver dúvida, poderá ligar para o telefone tal. O mais importante é

que até agora isso foi feito sem um centavo de incentivo fiscal e de subsídio de

qualquer espécie.

A gestão compartilhada e integrada dos resíduos sólidos deve ser local. A

realidade da Prefeitura de Tambaú, no Nordeste, é muito diferente da de Frederico

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Westphalen, no interior do Rio Grande do Sul. Este País é continental. Existem

vários brasis num só.

Quais são as nossas recomendações finais? O Poder Público e a iniciativa

privada devem estimular a reciclagem através de educação ambiental para todos,

não só para criança. A educação ambiental tem que ser dada nas universidades. Se

você pedir uma definição de meio ambiente aos estudantes universitários, poucos

saberão fazê-lo de forma adequada.

As Prefeituras têm pouquíssima ou nenhuma informação sobre isso. Esta é a

grande verdade. Não existe vontade política de investir recursos na esmagadora

maioria das Prefeituras. Ando mais do que notícia ruim, visito muitas Prefeituras,

isso demora, como todo processo de mudança de hábito. Além disso, essa política

tem que ser continuada. Não adianta fazer uma coisa mágica, aprovar na Câmara

dos Vereadores um projeto instituindo a coleta seletiva. Cadê o mercado para essa

coleta seletiva na seqüência? Se não houver condições de se sustentar sozinho, não

adianta, vira paternalismo puro e simples. Tem que haver uma economia na cadeia

que permita a sustentação do projeto.

Incentivos fiscais e isenção tributária. Se a lata de alumínio é vendida como

um produto e já paga IPI, por que a sucata tem que pagar ICMS e IPI de novo? Não

só latas, outras embalagens também. Hoje, a tendência é reduzir o peso das

embalagens, trabalhando-se com monomaterial. Algum incentivo deveria ser dado

não só para a indústria, mas também para as cooperativas e para as indústrias de

reciclados. Não estou falando só das produtoras de embalagens. Existe uma forte

capacidade empreendedora neste País. Somos empreendedores por natureza.

Existe informação técnica adequada para isso. Existem fontes de informações

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confiáveis e acessíveis, o que falta é o estímulo. Se parte do dinheiro jogado fora

com o desperdício fosse canalizado para tornar mais eficiente a atividade

econômica, geraríamos mais empregos.

Critica-se que há mais de 150 mil pessoas que vivem de catar lata. Graças a

Deus, existe uma fonte de geração de renda. Na maioria das vezes não é emprego

formal, mas geração de renda. Essa indústria que começa gerando renda em baixo

traz emprego direto em cima. Como disse, são 104 mil toneladas de latas, cerca de

220 mil toneladas de alumínio recicladas por ano. A escala é o primeiro fator que

garante a sustentabilidade, quando existem cinco toneladas não adianta.

Há um outro exemplo claro de escala. Quando começamos a utilizar o

amassador de latas, importávamos de Taiwan por 14 dólares cada um. Hoje é feito

em Catanduva, no interior de São Paulo, com plástico reciclado e custa 4 reais. A

indústria contratou 30 empregados novos apenas para fazer a produção desse

material.

O desenvolvimento de novas tecnologia. O IPT, em São Paulo, junto com a

Politécnica está desenvolvendo um trabalho de reciclagem de alumínio com uso de

plasma muito interessante, tecnologia totalmente nova. Sabe qual é o financiamento

que eles recebem? Trinta e cinco mil reais por ano. Estou falando da Politécnica. Se

falarmos da Universidade Estadual do Ceará ou do Rio Grande do Norte,

sentaríamos e choraríamos.

Esses números foram recebidos por nós na sexta-feira. A sexta edição do

Seminário Internacional de Reciclagem registrou números muito interessantes. Por

exemplo, a diretiva européia para embalagens e resíduos possui metas em peso: o

reaproveitamento tem que ser maior do que 50% e menor do que 65%, em três

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anos. Reciclagem de materiais de modo geral: maior do que 25% e menor do que

45%; reciclagem por material; do plástico, 15%. Quanto a papel, metais e vidro,

vamos ver como se comportaram na prática, em 1998, quando houve a última

medição.

Reparem as metas da Europa: eram 15% para alumínio e aço; a Bélgica

reciclou 66%, a Alemanha, 83%; a Itália, 7%; a Holanda, 79%; e o Reino Unido,

23%. Vidro: 15% de meta, todos superaram. Existe um mercado estabelecido para

esses materiais há mais de 10 anos. Além do que é uma mistura de lei obrigando as

indústrias a fazerem alguma coisa e consciência. Na Europa, por não haver uma

forma clara do melhor reaproveitamento do plástico, grande parte ainda é exportado

ou queimado. A Alemanha é um exemplo, pela legislação; a Bélgica está dentro

também; os outros estão bastante abaixo. Transportar essa tecnologia para cá,

esquece. Temos de pegar lá o que pode ser adaptado aqui.

Dou um exemplo interessante: implantamos o Programa de Reciclagem no

Brasil, na Argentina e no Chile em 1996. Tivemos de fazer uma total readaptação,

em Santiago do Chile. Os alcaides são uma espécie de entendentes municipais que

concentram um grande poder de arregimentação, em que se misturam delegacia de

polícia, Igreja, juizado de menores e ouvidoria. Em vez de trabalhar com as escolas,

trabalhamos com os alcaides. O resultado foi muito bom.

Na Argentina, ao contrário, para trabalhar com as escolas passava-se por

uma burocracia típica peronista, justicialista, como eles dizem lá. Algo inacreditável.

É uma desfaçatez total. Para fazer alguma coisa com a escola teria que se pagar

quatro pedágios. Conclusão: tangenciamos o problema e fizemos com a Cáritas. A

Igreja Católica, na Argentina, é um poder muito forte, muito mobilizado, tem uma

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rede beneficente espalhada em todo o país, e o que é mais importante, tem a

credibilidade da população. A Cáritas é quem encaminha as pessoas que têm

problemas legais, atende ao pobre e ao miserável. Lá, trocamos lata por fralda, leite

em pó, comida de bebê. Por que não?

Na verdade, o que fazemos é bancar o banco central da lata e agora do PET.

Damos conversibilidade para esses materiais. Estranhamos quando chegam pedidos

de cadeiras de rodas. Por que as escolas querem cadeiras de rodas? Percebemos

que o perfil havia mudado. Havia muito mais entidades beneficentes envolvidas

nisso. Ficamos com receio, sem divulgar, começamos a trocar. No primeiro mês

foram mais de 200 cadeiras de rodas. Conclusão: o fabricante também vende. É

aquela história, a palavra e o exemplo. Hoje eles nos dão desconto de 45%. Não dá

esse desconto, por exemplo, quando um órgão do Governo compra essa cadeira de

rodas. Ele dá o desconto e ainda faz cadeiras especiais, quando é o caso, com a

roda maior, com assento menor, etc.

Conseguimos envolver outras indústrias nesse projeto não só porque é uma

maneira de escoar o produto mas também porque a causa é nobre. Se posso trocar

o que se chama de lixo por alguma coisa de utilidade muito grande, por que não

fazê-lo? Muitas vezes há uma visão caolha de que o Estado deveria prover isso.

Concordo plenamente. Haja vista que o Estado não provê por n razões. Então, por

que não transformar o lixo em algo muito mais útil?

As nossas propostas para incrementar: aplicação da taxa de reciclagem do

produto como fator progressivo de redução de impostos. Seria nomeada uma

entidade independente para avaliar, por exemplo, qual a quantidade de matéria

plástica reciclável na garrafa de refrigerante de plástico. O imposto seria

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decrescente, quanto maior for o uso do material reciclado, sem coibir o caráter

voluntário da coleta e reciclagem.

No posto de troca de lata e PET da Barra da Tijuca, 60% dos vales são

doados. É a maior incidência de pessoas com o menor número de embalagens.

Cada pessoa leva em média, a cada vez que vai lá, cinco embalagens, lata ou

garrafa PET, que é o consumo doméstico. A pessoa vai porque está consciente de

que aquilo é importante. Num bairro de classe média alta, a pessoa não pega o vale

de 5 ou 10 centavos, coloca-o numa urna e, no final do mês, é doado para uma

instituição de caridade da região, para se beneficiar duplamente. E prestam-se

contas.

Outra coisa que esse negócio nos ensinou: a maior malandragem do Brasil é

ser honesto, porque não tem concorrência. É triste mas isso é verdadeiro. A primeira

coisa que aprendemos no depósito é ter uma balança honesta. Para quê vamos

roubar um miserável? Se nosso negócio só é bom se roubarmos o miserável, então,

o negócio não presta. Pronto, acabou. A credibilidade é como cristal: trincou, joga

fora. E hoje o País precisa acreditar nas coisas.

Segundo ponto: isenção de ICMS para sucata em âmbito nacional acaba com

toda essa ciranda de sonegação de impostos. Todos perdem com a sonegação de

impostos. A Secretaria da Fazenda do Estado e o Estado perdem arrecadação, e a

sociedade também.

Criação de linha de financiamento específica para as empresas de reciclagem

através do BNDES. Esse assunto é tratado há seis anos com o BNDES e até hoje

nem resposta tivemos. O assunto é sempre considerado muito importante, mas

resultado prático não há nenhum. Falo um pouco em tom de desabafo porque estou

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nisso há dez anos e meio. Já vi cobra bater palma, elefante voar, mas não vi

acontecerem as coisas mais elementares. Existem ótimas idéias espalhadas no País

sobre tratamento, coleta e disposição de resíduos urbanos, assim como existem

muitas experiências adaptadas para a realidade de cada lugar que são um grande

sucesso. Em vez de ser coibido, isso deveria ser estimulado. Quanto não se

economiza, por exemplo, com uma experiência bem sucedida de coleta seletiva ou

com tratamento adequado de aterros sanitários?

Muito obrigado pela atenção. Desculpem-me o tom de desabafo, mas a

platéia me impeliu a isso. A primeira vez que fui chamado para falar sobre

reciclagem no Rio de Janeiro, numa conhecida universidade, em abril de 1991, havia

apenas uma pessoa na platéia. Como o cachê era alto, fiz a palestra, fui aplaudido

de pé e, na hora de sair, o sujeito disse: “O senhor não pode ir embora agora porque

sou o próximo palestrante”. (Risos.) Hoje temos aqui um público seleto, o que me

deixa muito mais gratificado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Agradeço ao Dr. José Roberto

Giosa a participação.

Concedo a palavra ao jornalista Washington Novaes, a quem esta Comissão

agradece a presença.

O SR. WASHINGTON NOVAES – Boa tarde a todos. Agradeço ao Presidente

da Comissão, Deputado José Índio, ao Deputado Emerson Kapaz, Relator deste

projeto, e à Comissão de Política Nacional de Resíduos Sólidos o convite.

Suponho que esse convite deva-se ao fato de, na qualidade de jornalista,

estar há muitos anos trabalhando nessa questão e também pelo fato de haver

tratado mais diretamente da questão de resíduos como Secretário de Meio Ambiente

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do Distrito Federal, em 1991 e 1992, e por haver dirigido um instituto em Goiânia,

que criou um projeto de desenvolvimento comunitário que inclui coleta seletiva,

implantação de uma usina de reciclagem e transformação de materiais, dirigido por

uma cooperativa de moradores.

Inicialmente, creio que é preciso afirmar bastante categoricamente que o

projeto que está em discussão tem muitos méritos porque cria uma base de

discussão para esse grave problema que o Brasil enfrenta na questão de resíduos

sólidos. É evidente que se pode avançar ainda mais nesse projeto, dependendo das

discussões que a sociedade levar adiante e dos pactos que for capaz de fechar.

Peço-lhes desculpas por não ter trazido um material mais preparado, mas fui

avisado com muito pouco tempo de antecedência e os compromissos não

permitiram isso. Quero iniciar lembrando que a situação brasileira em matéria de

resíduos sólidos é muito grave. Como já foi dito, as estatísticas brasileiras, embora

precárias, nos falam em 130 mil toneladas de resíduos por dia, considerando apenas

os chamados resíduos domiciliares. Há algumas estimativas que indicam que pelo

menos 20% dos resíduos brasileiros sequer são coletados. Eles vão degradar as

periferias das grandes cidades, comprometer as áreas de proteção permanente e

degradar a bacia hidrográfica.

A situação brasileira só não é muito mais grave porque temos essas centenas

de milhares de catadores, carrilheiros, qualquer que seja a dominação que se dê,

que exercem um papel altamente meritório e importante para a sociedade, embora

seja uma categoria que não tem proteção legal alguma, não tem registro, plano de

saúde, nada. É absolutamente desprotegida e vive de sua própria vontade. Mesmo

nas cidades brasileiras que mais avançaram em matéria de coleta seletiva, os

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catadores têm uma função importantíssima. Quero lembrar, por exemplo, que em

Curitiba, apresentada como a Capital brasileira da reciclagem, a Prefeitura coleta

apenas 20% dos materiais coletados na coleta seletiva, os 80% restantes são

coletados por catadores e não pelo sistema público.

O projeto em discussão nesta Comissão, como disse, tem muitos méritos, a

começar pelo de obrigar os Municípios brasileiros a terem planos de gerenciamento

de resíduos urbanos e resíduos especiais. Na verdade, são raríssimos os Municípios

brasileiros que hoje têm alguma coisa nessa direção, a tal ponto que para aterros

realmente adequados, segundo estatísticas do Ministério do Meio Ambiente, apenas

11% do total dos resíduos domiciliares são encaminhados.

Um segundo ponto fundamental do projeto parece ser a obrigatoriedade do

retorno de certos tipos de embalagens e produtos, como bebidas, pneus,

agrotóxicos, produtos tecnológicos e resíduos perigosos. Também importante é o

aspecto de consagrar o princípio do poluidor pagador, embora o faça em parte ou

com algumas restrições, assim como a possibilidade de cobrar taxas pela coleta e

gerenciamento de resíduos, embora isso implique a resolução de um conflito com o

Judiciário. O Judiciário brasileiro, até hoje, só tem permitido a cobrança de taxa ou

de tarifa por serviço medido, ou seja, caso se meça a quantidade de lixo produzida

pelo cidadão, pela indústria, pelo escritório ou por quem quer que seja.

O sistema público brasileiro não tem sido capaz de medir a quantidade de lixo

produzida em cada origem. Mais grave ainda, com a generalização da tendência de

privatização dos serviços de coleta e disposição do lixo, independentemente de ser

a favor ou contra a privatização, os sistemas de informações sobre a coleta e a

geração de lixo estão gradativamente fugindo ao serviço público. O serviço público

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não tem mais informações. Essas informações estão nas mãos das empresas que

gerenciam e executam a coleta e a disposição do lixo. Essas empresas, na verdade,

não têm interesse no que deveria ser o primeiro objetivo de uma política de resíduos

sólidos: a redução da quantidade dos resíduos produzidos, a redução do lixo. E não

têm interesse porque todas ganham por tonelada recolhida, então não há interesse

em que haja redução do lixo.

Outro ponto importante do projeto parece ser o que cria fundos municipais

com recursos orçamentários, taxas ou tarifas, empréstimos e também cria um fundo

federal, ao qual destina 5% das verbas do setor de saneamento. Talvez seja

discutível a origem desse recurso, na medida em que o setor de saneamento tem

carências tão ou mais graves que o setor de resíduos no Brasil. Neste momento está

em discussão no Congresso um projeto nacional de saneamento. As estatísticas

nessa área são terríveis, basta lembrar que 50% da população brasileira não são

servidos por rede de esgoto, e dos esgotos coletados no Brasil, no máximo 10%

recebem alguma forma de tratamento. Portanto, dos 50% que são coletados só 5%

desses esgotos do Brasil recebem alguma forma de tratamento. A situação é

dramática, com reflexos gravíssimos em várias áreas, principalmente na área de

saúde.

Creio que se pode fazer também algumas observações sobre o projeto, com a

intenção de colaborar no avanço dessas discussões e na incorporação de outros

pontos. Creio que falta ênfase no que deva ser o primeiro ponto de uma política

nacional de resíduos sólidos, que é a redução dos resíduos. Não podemos deixar de

pensar que é necessário reduzir os resíduos e que há caminhos para isso. Aliás,

vamos falar sobre esses caminhos mais adiante.

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Segundo: parece-me que o projeto não generaliza a questão do poluidor-

pagador. Há setores que ficam fora dessa obrigação de ser responsabilizado pela

destinação dos resíduos que produz.

A questão das taxas ou tarifas já mencionei. É preciso resolver o conflito com

o Judiciário ou então equipar os sistemas públicos para que eles sejam capazes de

trabalhar pelo sistema de volume medido de resíduos. Caso contrário, o Judiciário

vai derrubar essa taxa, como tem feito sistematicamente ao longo dos últimos anos,

exatamente porque não se tem a avaliação do volume por gerador de resíduos.

Creio que também se deveria pensar muito na questão da incineração que é

contemplada em alguns lugares do projeto. A incineração tem uma primeira

contradição, que é exatamente a sua contradição com o objetivo de reduzir o lixo e

evitar o desperdício. Se vai incinerar, vão ser desperdiçados materiais. Em segundo

lugar, o sistema de incineração, pode gerar contradições sérias, como gera na

Alemanha, por exemplo. A Alemanha instalou um grande sistema de incineração de

lixo, e hoje não tem lixo suficiente para movimentar todo o sistema. Então, há um

estímulo indireto à criação de mais resíduos para que eles possam movimentar as

usinas de incineração.

Creio que também seria preciso definir com mais clareza no projeto a

obrigatoriedade de responsabilizar o gerador de resíduos hospitalares e

semelhantes pela sua destinação, assim como os resíduos da construção civil, os

resíduos do comércio e os resíduos da indústria, como se faz em quase todo o

mundo.

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Também se poderia perguntar por que é que os fundos mencionados no

projeto só devam ter recursos públicos, e não deveria ser. Deveria ser aberto a

outras fontes de financiamento também.

Creio que é preciso maior rigor com os resíduos de origem rural,

principalmente da pecuária em geral, da suinocultura e da avicultura. Eles são um

grave problema no mundo todo. O mundo todo está adotando políticas

extremamente sérias. O Brasil já enfrenta alguns problemas muitos graves nessa

área, principalmente nos Estados do Sul, em especial em Santa Catarina. É

exatamente por causa da legislação menos severa que estão se transferindo para o

Brasil grandes empreendimentos nesta área e que significam uma possibilidade

muito forte de degradação do solo e de recursos hídricos.

Gostaria de lembrar aqui algumas observações que têm sido feitas por um

dos grandes especialistas nesta área, que é o Dr. Cícero Leite, que trabalha muito

com essa questão. Um porco em idade adulta gera quatro vezes mais fezes do que

um ser humano e com uma demanda bioquímica de oxigênio 25 vezes mais alta,

porque uma grande parte desses resíduos saem praticamente intactos, porque ele é

alimentado durante muito tempo.

Então, projetos como esses, que estão sendo instalados no Brasil, de 500 mil,

700 mil porcos por ano, gera resíduos equivalentes ao de uma cidade de 3 milhões

de habitantes. Se não houver pré-tratamento disso, haverá graves conseqüências

para o solo e para as bacias hidrográficas.

Em relação à legislação sobre matéria de resíduos, o Brasil está muito atrás

da maioria dos países europeus e da América do Norte. Uma das razões pelas quais

fui chamado aqui, suponho que seja o fato de haver feito recentemente para a TV

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Cultura de São Paulo cinco documentários, de uma hora cada, sobre a questão dos

resíduos em sete países europeus, Estados Unidos, Canadá e em alguns Estados

brasileiros.

Vou mencionar algumas das coisas que estão sendo feitas em vários países,

sem significar exatamente que isso signifique afirmar que seja possível transplantar

simplesmente a experiência, mas ela precisa ser considerada.

A primeira delas é que o Brasil deveria olhar com atenção o que está

acontecendo no mundo, em função do esgotamento de aterro sanitários e da

dificuldade de encontrar outras áreas para implantar aterros.

Citarei um exemplo aqui e dois de fora. O Município de São Paulo, que está

produzindo 14 mil toneladas de lixo por dia, está ameaçado: dentro de dois a três

anos não terá mais onde depositar resíduos. Um dos aterros se esgota este ano e o

outro tem mais dois ou três anos de vida, porque vai ter que receber os resíduos que

vão para o primeiro também. Isso provavelmente significará um custo brutal, porque

teremos que encontrar uma outra área, certamente muito longe de São Paulo, o que

exigirá tempo de implantação. Implantar um aterro é tarefa muito difícil, importa

custos econômicos brutais.

Nos Estados Unidos, o grande aterro de Nova Iorque está sendo fechado este

ano. Ele recebe 12 mil toneladas por dia. O lixo, já no ano passado, quando

estivemos lá para documentar, começava a ser transportado para um local a 600

quilômetros de distância. O transporte era feito por caminhão, a um custo de 30

dólares por tonelada, mais 30 dólares por tonelada para a deposição; portanto, 60

dólares por tonelada. Se Nova Iorque tiver que transportar todo o seu lixo nessas

condições, haverá acréscimo de despesa perto de 300 milhões de dólares por ano.

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Toronto tem um aterro que recebe 2,8 milhões de toneladas por ano e que

está sendo fechado também. Toronto só encontrou solução levando o lixo para um

local a 800 quilômetros de distância, para depositar nos fundos de uma antiga mina

de ouro abandonada. Para isso, precisará criar um comboio ferroviário que viajará

800 quilômetros todos os dias para levar e para trazer. O custo também será brutal,

cerca de 100 milhões de dólares por ano.

Hoje se falou muito aqui em coleta seletiva. É possível ver o que e como está

sendo feito em vários lugares, porque os caminhos são bastante diferenciados. Nos

Estados Unidos, a cidade que mais recicla resíduos é São Francisco: 42,5% dos

resíduos domiciliares que produz. A separação dos resíduos nas residências e nos

escritórios é obrigatória. Segundo a Prefeitura de São Francisco, exatamente pelos

custos implicados, porque cada família paga cerca de 14 dólares por mês pela coleta

seletiva, há tendência para a economia, que tem significado para cada família uma

redução de cerca de 2 mil dólares por ano no seu gasto com embalagem.

Chicago recicla 35% e proibiu a incineração por causa dos problemas

ambientais, não consegue resolver os problemas. Para a incineração, a separação

total do lixo orgânico é obrigatória, pela dificuldade de manter a temperatura mínima

exigida, para que não se emitam dioxinas nem furanos, que são altamente tóxicos, e

a mistura com o lixo orgânico sempre impede que se atinja essa temperatura. As

tecnologias capazes de garantir essas temperaturas são bastante caras. Então,

Chicago proíbe a incineração e recicla 35% dos seus resíduos domiciliares.

Exemplo interessante pode ser o de uma cidade norte-americana que tem

cerca de 200 mil habitantes. Charlotesville implantou uma usina de compostagem

que produz um fertilizante para a agricultura, misturando lodo de estações de

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tratamento de esgoto com restos de poda. E é uma cidade que consegue grande

aceitação para esse composto, que é disputado pelos agricultores, porque há um

controle absoluto quanto à não-presença de mercúrio nos lodos das estações de

tratamento. E isso é feito porque a cidade só tem cinco indústrias que utilizam metais

pesados, e elas têm um controle rigoroso.

Nova Iorque tem um exemplo a que o Brasil deveria prestar atenção,

relativamente à questão de lixo hospitalar. Não temos ainda, praticamente no Brasil

inteiro, a coleta seletiva prévia nos estabelecimentos hospitalares e semelhantes.

Tudo é considerado lixo hospitalar, tudo é misturado e tudo é incinerado, quando a

ciência já diz, há muito tempo, que realmente perigoso no lixo hospitalar é o material

de quimioterapia e os materiais perfurocortantes, capazes de produzir uma via de

entrada na pele para patógenos que possam existir. O hospital Beth Israel, em Nova

Iorque, separa todo o lixo de cozinha e todo o lixo administrativo, reduzindo seu lixo

hospitalar propriamente dito a pouco mais de 10% do total. Também separa o lixo

hospitalar em 5 modalidades diferentes, dando a ele destinação diversa. Com isso, o

hospital conseguiu economizar, a partir da introdução desse sistema, 1 milhão de

dólares por ano na administração do seu lixo.

No Canadá, uma cidade chamada Guelph poderia ser um bom exemplo para

as cidades brasileiras. Tem 200 mil habitantes e coleta, de forma seletiva, todo o seu

lixo domiciliar e comercial. A usina para a qual vai o lixo depois de separado custou

36 milhões de dólares canadenses. Ela recicla 350 toneladas de lixo seco por dia e

mais 170 toneladas de lixo úmido, além de gerar energia a partir da queima dos

gases que vêm da parte aterrada.

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O Canadá tem uma política extremamente interessante de subsídio à

produção industrial do que eles chamam de composteira. São recipientes de plástico

nos quais é possível fazer a compostagem do lixo orgânico e do lixo de jardim das

residências. Em média, cada composteira recicla pelo menos 200 quilos de lixo por

ano. Por isso, essas composteiras recebem subsídio. O preço de mercado delas,

que seria de 100 dólares canadenses, cai até para 20 dólares e, em certos casos,

até para 12 dólares. A economia que elas produzem é enorme. Elas economizam

400 mil toneladas de lixo por ano, que deixam de ir para aterro ou para usinas de

compostagem.

A Europa toda tem várias legislações regendo a matéria de resíduos: a

legislação da Comunidade Européia, a legislação nacional de cada país, a legislação

provincial dentro de cada país e a legislação local. Isso gera situações diferentes em

cada país, mas todas elas, como alguns daqueles números mostraram aqui,

bastante à frente da nossa situação.

Vamos falar, por exemplo, de Berlim, um dos exemplos mais citados por

causa do dual system ou do ponto verde, como é chamado o sistema de

separação. O usuário doméstico paga pelo lixo indiferenciado, que é o lixo não-

separado, pelo lixo orgânico, pelo papel e pelo papelão que ele gera como resíduo.

Ele paga, em média, em Berlim, cerca de 100 marcos alemães por mês, ou seja,

cerca de 125 reais por mês para dar destinação a esse lixo. O restante é pago por

um sistema nacional das empresas produtoras de embalagem, que criaram uma

associação e um fundo nacional, ao qual estão vinculadas 18 mil empresas alemãs.

A informação que me foi dada — já foi mencionado aqui um número diferente

— é de que a arrecadação no ano passado foi de 4,1 bilhões de marcos. Desse

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total, 3,9 bilhões foram aplicados na coleta dos materiais pelos quais esse fundo é

responsável em toda a Alemanha e 200 milhões de marcos foram aplicados em

educação ambiental.

Cada empresa paga, de acordo com o número, o volume e o peso das suas

embalagens. Isso já as levou a reduzir significativamente tanto as dimensões quanto

o peso das suas embalagens, a ponto de que, desde 1991, quando o sistema foi

implantado, a redução nas embalagens na Alemanha ter atingido 15%, o que

significa 1,3 milhão de toneladas por ano. Ao todo esse sistema promove a

reciclagem de 6 milhões de toneladas: 75% de vidro; 70% de papel, papelão e

metais; 60% de plásticos.

A partir de 2005, na Alemanha, não será permitido enviar nenhum tipo de lixo

para aterro sem pré-tratamento. Nenhum tipo. Hoje, dois terços do lixo orgânico vão

para a compostagem e aterro. E as 53 usinas de incineração queimam 14 milhões

de toneladas por ano. Berlim também instalou um sistema de reciclagem de entulhos

da construção civil. Há uma destinação obrigatória, criada por lei, e as empresas são

obrigadas a encaminhá-lo e pagam por esse trabalho. A usina que funciona em

Berlim reciclou ano passado cem mil toneladas e custou 15 milhões de marcos para

ser implantada.

Talvez o país que mais tenha avançado na questão de resíduos seja a

Dinamarca, que pela conjugação de população e território tem uma situação

bastante difícil. É o país com políticas mais atuantes em matéria de redução de lixo,

a ponto de proibir a utilização de embalagens metálicas para cerveja, refrigerante e

embalagem de plástico para leite. Em todos esses casos há o retorno às

embalagens de vidro, que podem ser reutilizadas em média trinta vezes e podem ser

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recicladas em média durante setenta anos. O consumo de matérias-primas na

Dinamarca para embalagem, em função disso, caiu 25% em uma década.

Hoje, Copenhague, que aterrava 80% dos seus entulhos há dez anos, recicla

90%. Vinte e cinco por cento dos materiais de construção na Dinamarca são

reciclados.

A Suécia tem um sistema exemplar de reciclagem de sucatas de carros, que

no Brasil estão se transformando em grave problema degradador de paisagem. Na

Suécia, é obrigatória a reciclagem de, pelo menos, 85% do peso de cada veículo.

Em 2015, a obrigatoriedade chegará a 95%.

A Holanda enfrenta com maior rigor a questão de resíduos rurais. Tem mais

porcos do que habitantes. Tem 14 milhões de porcos para aproximadamente dez

milhões de habitantes. A Holanda até o ano que vem reduz em 25% o seu plantel de

porcos. Isso será obrigatório através de legislação que reduz a área mínima em cada

propriedade por animal e a área que cria outras exigências.

Temos de fazer no Brasil como em todos os lugares do mundo um sério

esforço para reduzir o uso de materiais. Queria relembrar aqui o relatório do

Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, publicado no início deste ano,

intitulado “The Living Earth Report 2000”, que nos diz o seguinte: “Considerando

apenas o consumo de alimentos, de energia e de recursos naturais, já estamos

excedendo a capacidade de reposição da biosfera em 42,5%. Esse déficit aumenta

2,5% ao ano”.

Lembra o relatório que, se cada habitante da Terra consumir no mesmo nível

de norte-americanos ou de europeus, precisaremos de três planetas como o nosso e

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não de apenas um. Já estamos em situação extremamente difícil e temos de

trabalhar para que ela situação não se agrave.

Então, é preciso reduzir a utilização de recursos. É preciso reutilizar. É

preciso reciclar. É preciso economizar. Uma política nacional de resíduos sólidos

tem uma influência decisiva nesse sentido. Além disso, se o Brasil for capaz de fazer

políticas competentes e articular a questão dos resíduos com a questão social, de

forma a gerar postos de trabalho para que as pessoas que já trabalham na coleta de

materiais trabalhem também na reciclagem, será possível dar grande avanço em

matéria de políticas sociais e de geração de renda. Já há países como o Senegal,

em que quase 30% dos postos de trabalho vêm da área de reciclagem e da

reutilização de materiais.

Agradeço mais uma vez ao Sr. Presidente o convite para aqui comparecer. E

evidentemente continuo à sua disposição.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – O jornalista Washington

Novaes deu uma demonstração da dimensão do problema que compete a esta

Comissão solucionar. Portanto, ao Relator passo a palavra.

O SR. DEPUTADO EMERSON KAPAZ – Sr. Presidente, senhores

expositores, demais membros da Comissão, vou fazer algumas observações sobre

as exposições feitas, para aproveitarmos não só a presença dos expositores, mas

também a contribuição e a experiência do jornalista Washington Novaes, acumulada

ao longo de tantos anos e tantas viagens.

Quem não teve oportunidade de ver seus documentários, exibidos pela TV

Cultura, deveria solicitá-los porque são de excelente qualidade e servem para nos

orientarmos neste Brasil.

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Minha primeira observação acerca das exposições diz respeito à grande

preocupação dos expositores em particularizar os problemas do Brasil em relação ao

resto do mundo, que é diferente, pois há políticas direcionadas à reciclagem de

resíduos. Nossa realidade é outra. O jornalista Washington Novaes mostrou

claramente a distância que estamos dos outros países. Portanto, talvez não

precisemos ter receio de conseguir implementar no Brasil o que está sendo feito lá

fora.

A distância é muito grande, mas temos de nos preocupar em avançar de

forma organizada. É óbvio que uma lei não vai resolver tudo e que não vamos

conseguir solucionar os problemas onde o mercado ou o sistema econômico não

opere. Seria importante receber mais algumas sugestões.

Como o Dr. Sérgio Haberfeld tem vasta experiência internacional, gostaria

que ele nos desse algumas explicações adicionais sobre o funcionamento do setor

de embalagens e sobre as restrições que ele sofre na Europa e nos Estados Unidos.

Sabemos que em alguns países a restrição serve mais como contribuição ao setor.

Há algum fundo ou mecanismo de parceria estabelecido entre o setor de

embalagens e o sistema de coleta?

No Brasil — o jornalista Washington Novaes levantou essa preocupação —, o

Fundo Federal que se pretende criar, provavelmente, receberá recursos do Banco

Mundial ou do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Em várias palestras e

debates dos quais tenho participado sempre perguntam se o Fundo Federal não

poderia receber também recursos da iniciativa privada, por meio de alguns

mecanismos para que, de uma forma ou de outra, pudesse também financiar

treinamento, preparação de mão-de-obra, parceria com coletas seletivas,

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estabelecer mecanismos de parceria entre Prefeituras e cooperativas, desde que

estivessem aliadas ao processo seletivo do lixo. Ou seja, poderiam ser criadas

muitas alternativas, desde que se permitisse algum tipo de contribuição. Isso é

viável? Se for feito de forma que não seja viável, o preço final do produto aumentará.

O setor tem estudado alternativas? Talvez pudéssemos aprofundar esse debate com

representantes do próprio setor de embalagens, considerando a sua grande

responsabilidade e, ao mesmo tempo, porque tem demonstrado vontade de

contribuir. Seria interessante discutir o assunto.

Outra pergunta ao Dr. José Roberto Giosa: como o setor de embalagem,

tanto de alumínio quanto a ABRE, vêem o já arraigado conceito de retornabilidade

na Europa?

No Brasil falamos demais em reciclagem, mas sabemos que muitos setores

não dão o mesmo exemplo dado pela área do alumínio. Como é visto o conceito de

retornabilidade? Ele pode ser trabalhado? No nosso relatório falamos muito em

algumas cadeias específicas de distribuição e em valorizar a retornabilidade versus

a reciclagem. Como o setor e a ABRE vêem essa questão?

Quero ainda fazer algumas perguntas sobre o setor de alumínio. Reitero que

para nós ele é grande exemplo, além de ser muito interessante. Todo o alumínio

resultante de reciclagem de latas é usado somente para produzir latas? Existe

alguma possibilidade de esse alumínio ser usado em outras finalidades ou só na de

reciclagem de latas? Se não fosse a reciclagem, o preço da embalagem de alumínio

seria competitivo? Considerando o gasto de energia e todo o envolvimento no

processamento, a competitividade da lata de alumínio está hoje diretamente ligada

ao alto índice de reciclagem no Brasil? Vocês têm algum tipo de medição de

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reciclagem nas embalagens tipo Tetra Pak flexíveis ou multicamadas? É feita

reciclagem dessas embalagens? Vocês consideram a energia envolvida no balanço

ambiental? Analisam o ciclo de vida da embalagem de alumínio? Sabemos que uma

coisa é produção, outra é ciclo de vida.

Quero expor algumas idéias ao Dr. Washington Novaes e também lhe fazer

perguntas: na Dinamarca é proibido o uso de embalagens metálicas para bebida;

naquele país é considerado o efeito que provoca o combustível gasto na busca do

material? Há alguma possibilidade de usarem embalagens metálicas ou recicláveis,

ou apenas embalagens retornáveis? Se analisarmos o ciclo de vida do material

empregado, teremos de contar com o gasto de combustível que a retornabilidade

provoca. Deve-se fazer essa avaliação. Existe esse tipo de estudo nos países onde

a retornabilidade é maior? Pela sua experiência, jornalista Washington Novaes, esse

gasto é considerado nesses países?

Tenho ainda algumas observações a fazer em defesa do relatório. Trata-se de

relatório preliminar, mas estamos aprofundando o debate para lançar provavelmente

uma versão mais atualizada que inclua todas as propostas aqui apresentadas.

O jornalista Washington Novaes levantou algumas preocupações que já

fazem parte da nossa avaliação. Quanto ao princípio poluidor e pagador, temos

tomado cuidado de estabelecer onde e como aplicá-lo, pois ele não pode ser

generalizado. Gostaríamos de receber sugestões para poder amplia-lo.

Com relação à incineração, fui visitar uma usina de compostagem de cimento

para aprender como se faz o aproveitamento dos resíduos sólidos nas fábricas de

cimento no Brasil. Como elas são regionais e só usam resíduos perigosos, podemos

estabelecer um mecanismo somente para reaproveitamento de resíduos perigosos,

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não para os passíveis de reciclagem. Já estamos tentando introduzir esse

mecanismo no relatório.

A responsabilidade sobre os resíduos dos serviços de saúde também está

sendo estudada.

No que concerne aos resíduos sólidos das áreas rurais, o relatório está fraco,

vamos ter de melhorá-lo. Existem exemplos de tratamento de embalagem de

agrotóxicos no Brasil que queremos aproveitar e colocar no relatório.

De forma geral, é importante que se entenda que estamos recebendo

sugestões e desenvolvendo-as. Insisto que é muito importante para nós que os

palestrantes que vêm à Comissão tragam permanentemente propostas, porque

estamos trabalhando nesse relatório tempo integral. Quando as audiências públicas

terminarem, teremos condições de preparar nova versão ou — quem sabe?— o

substitutivo final.

Sr. Presidente, eram essas as minhas observações.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Os Deputados Fernando

Gabeira e Ronaldo Vasconcellos também gostariam de fazer indagações.

Concedo a palavra ao Deputado Fernando Gabeira.

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Sr. Presidente, muito obrigado.

Não participo desta Comissão, mas, dada a importância dos palestrantes e o meu

interesse pelo tema, pedi ao Partido dos Trabalhadores que me indicasse como

suplente para que dessa forma pudesse contribuir com as outras Comissões em que

trabalho.

Sr. Presidente, parece que há consenso de que não se deve tratar

separadamente os resíduos sólidos e que é necessária uma política geral para o

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setor. Só tratamos esse assunto separadamente porque tivemos de correr do

prejuízo. No caso dos pneus, tivemos de enfrentar não só um lobby muito poderoso

como uma importação violentíssima. No caso do PET, minha intenção era levantar a

questão e mostrar que o PET não reciclado traz muitos problemas nas grandes

cidades, não só do Rio de Janeiro e São Paulo, durante as enchentes. O ideal seria

que o projeto retivesse o espírito da responsabilidade por todo o ciclo do produto.

Algumas questões muito importantes foram abordadas, uma delas pelo Dr.

José Roberto Giosa. Como vamos trabalhar a visão de liberdade no mercado, de

liberdade do consumidor de maneira adequada? Acredito que é necessário garantir

a liberdade do consumidor. E nós já derrubamos vários projetos que já surgiram na

Comissão de Meio Ambiente. Mas eles reaparecem e projetos que definem cotas,

são problemáticos. Teríamos de reexaminar essa questão.

Se vamos manter liberdade do mercado e do consumidor das latinhas de

alumínio, vamos ter de rever a estrutura tarifária da energia no Brasil. Não é possível

falar de liberdade de mercado para o consumidor da latinha se o grande produtor do

alumínio desfruta de tarifas inferiores, às vezes, à tarifa paga pelo consumidor

domiciliar. Teremos que fazer um estudo nesse sentido para podermos precisar um

pouco mais tudo isso. Eu sou contra a idéia de cotas.

Ficou pendente uma questão: são as embalagens resíduos especiais ou não?

qual o choque de conceito que há entre o relatório e a afirmação de S.Sa.

O SR. DEPUTADO EMERSON KAPAZ – Permite-me V.Exa. fazer um

comentário importante a esse respeito?

Essa questão deixou margem à dúvida no relatório preliminar porque

destacamos resíduos urbanos e resíduos especiais, incluindo embalagens como

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resíduos especiais. O relatório deixa entender que, como é feita coleta somente de

lixo urbano e de resíduos urbanos, a coleta de outros resíduos, considerados

especiais, como as embalagens, por exemplo, não seria feita pela Prefeitura local,

mas por terceiros. Essa dúvida já está sendo esclarecida no relatório. Resíduo

especial não significa resíduo perigoso. As embalagens de alumínio seriam um

resíduo especial diferente do resíduo urbano.

O relatório faz duas classificações: resíduos urbanos e especiais, ou seja,

resíduos de mineração, industriais, tóxicos, tecnológicos, rurais e de embalagem. A

dúvida que será esclarecida é esta: a da embalagem. A coleta da embalagem, que

faz parte do lixo comum do usuário, será feita pela Prefeitura, através da coleta

normal.

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Vou prosseguir, Sr. Relator,

depois discutiremos mais. A questão do lixo hospitalar já foi abordada. Tive

oportunidade de trazer dois cientistas de Niterói, que trabalham especificamente com

essa matéria. Fomos ao Ministro da Saúde, na época o Ministro Dr. Adib Jatene,

para mostrar que o lixo hospitalar não é tão perigoso quanto se pensa. Podemos

desmistificar o lixo hospitalar. Uma das possibilidades de faze-lo é determinar a

coleta seletiva, selecionada com precisão.

O problema do lixo hospitalar foi impulsionado pelo lobby dos incineradores

na Câmara dos Deputados. Tramitou aqui projeto que obrigava todas as cidades

com determinado número de habitantes a ter um incinerador de grande dimensão.

Isso foi desfeito com o tempo. Esse debate que agora está se revelando sempre foi

muito delicado nesta Casa, porque envolveu uma série de interesses que vamos ter

de abordar.

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Foi muito importante termos avançado no estudo da questão dos resíduos da

área rural, especificamente onde há criação de suínos. Tive oportunidade de ver em

Santa Catarina o estrago que algumas áreas sofreram. Não sei se há um relatório de

impacto ambiental para instalação de criatório de suínos. Tenho a impressão que

não há, mas vamos ter que implementar isso. Não é possível criar suínos sem antes

fazer o relatório de impacto ambiental. Encontraremos grande pressão na Comissão

de Agricultura porque a idéia dos seus membros é aumentar a criação, a

produtividade, a área, mas não é possível deixarmos que se comprometa o lençol

freático. É um problema coletivo. Teríamos que nos deter um pouco, talvez fazer

uma viagem a Santa Catarina para examinar a situação in loco e depreender o

estudo da situação, com algumas coordenadas para fortalecer o Relatório.

Outro aspecto muito importante, que se depreende das informações trazidas

pelo Sr. Washington Novaes, é a necessidade de regulamentar a produção do

catador. Tenho projeto em gestação que regulamenta a profissão de prostituta. É

importante, foi aprovado agora na Alemanha. São funções sociais desmerecidas,

mas temos de avançar e decidir encara-las.

Acredito que para se definir toda a política num só relatório vai precisar

envolver múltiplas dimensões. Mas não devemos recuar diante disso. Se há essa

oportunidade, por que não fazer? Temos de propor para o País uma política com

essas dimensões e que, no meu entender, tem de passar pela redução de resíduos.

Hoje há consumidores educados na Europa, ou nos Estados Unidos, que rejeitam o

excesso de embalagem em suas compras. Eles não aceitam muita embalagem. O

próprio consumidor faz pressão e exige que a embalagem seja adequada ao produto

que ele vai utilizar.

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Se, de um lado, existem problemas relativos aos temas que apresento, de

outro, é necessário termos a preocupação de não privilegiarmos nenhum setor da

produção, termos de ter uma visão eqüidistante desses setores, temos de tratá-los

com absoluta justiça.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Concedo a palavra ao

Deputado Ronaldo Vasconcellos.

O SR. DEPUTADO RONALDO VASCONCELLOS – Sr. Presidente, quero

tentar entender melhor a questão levantada pelo Deputado Fernando Gabeira sobre

tema abordado pelo Dr. Giosa.

Particularmente, não concordo com isso. Entendi, ao analisar o Relatório

preliminar do Deputado Emerson Kapaz, que os resíduos industriais seriam de

responsabilidade de quem os produz, os fabricantes, e também dos importadores.

Entendi também que quem pariu Mateus que o embale. Quero ouvir explanações do

nobre Deputado, pois estamos aqui num debate que espero seja produtivo.

O Relator, Deputado Emerson Kapaz, pode nos esclarecer sobre o processo

de degradação, ou sobre a cadeia de degradação, ou disposição de quem produz

cadeiras, geladeiras, móveis, sem entrar no tema das embalagens. Não estou

falando, Deputado Emerson Kapaz, das embalagens, mas de produtos que

utilizamos no dia-a-dia: cadeiras, mesas, estofados, entre outros.

Gostaria de saber a posição do Dr. Giosa, Diretor da ABAL, e também do

Deputado Emerson Kapaz. A priori, fico com a posição do Relator.

Faço um apelo ao ilustre jornalista Washington Novaes, que tanto nos ajudou

quando fizemos a definição da ANA — Agência Nacional de Água, juntamente com o

Professor Paulo Afonso Leme Machado, para que participe conosco dos trabalhos

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desta Comissão, que talvez se encerre daqui a dois meses, quando o Relator

entregará o seu relatório, dando suas idéias, suas sugestões, mesmo que sejam

pontuais e, às vezes, não contextualizadas como vimos hoje.

Assisti a pelo menos dois vídeos elucidativos e educativos da TV Cultura

sobre esse tema e gostaria de solicitar ao Presidente José Índio que, se possível,

obtenha-os para podermos estudar mais o assunto focalizado. O Relator Emerson

Kapaz fez o mesmo pedido.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Já requisitamos à TV Cultura

as fitas e, naturalmente, teremos que repassá-las a todos, para que tenham a

oportunidade de se aprofundar no seu teor.

Deveria passar de imediato a palavra aos expositores, para que eles

respondam aos questionamentos dos Deputados, mas também gostaria de fazer

uma pergunta ao jornalista Washington Novaes, quanto ao seu artigo “Aqüífero

Guarani”. S.Sa. afirmou que havia possibilidade de contaminação dessas bacias

hidrográficas a qualquer momento. Mas, numa decisão gratificante, no decorrer da

discussão do Orçamento, a bancada paulista votou, com muita sabedoria, dentro

daquilo que podiam propor alguns poucos os recursos destinados aos comitês de

bacias, que devem ser olhadas com tanta preocupação quanto a que temos com

relação ao resíduos, problema tratado por esta Comissão.

Não há muita conscientização, principalmente, por parte dos nossos

Governantes da dimensão do problema, mas, graças a Deus, atualmente, sentimos

que esse assunto tem preocupado a um número cada vez maior de pessoas. Neste

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sentido, congratulamo-nos por esta Casa ter criado esta Comissão Especial e por

verificarmos que muita gente se interessa por esses problemas.

Acredito que, em determinado momento, outro tema, o saneamento, vai se

juntar ao que ora discutimos, pois se trata também de problema abrangente, objeto

de outra Comissão Especial nesta Casa, que está em plena evolução. A minha

expectativa é a de que cheguemos a um entendimento para que as duas Comissões

façam um relatório mais completo.

Concedo a palavra aos senhores expositores. Inicialmente, ao Sr. Sérgio

Haberfeld.

O SR. SÉRGIO HABERFELD – Serei bastante breve e objetivo. Em primeiro

lugar, respondendo à pergunta do Deputado Emerson Kapaz, a indústria tem

interesse em colaborar no trabalho de diminuição de resíduos, de ser pró-ativa. Não

tenho dúvidas. Em nome da Associação Brasileira de Embalagens e da maior parte

dos setores ligados a nós, é importante que tudo caminhe positivamente. Tenho

viajado pelo mundo inteiro, da mesma forma que o jornalista Washington Novaes,

para aprender sobre o conheço o assunto.

Tornei-me amigo pessoal de um homem que participou da criação da ASD,

Duo System Deutschland, hoje com 76 anos. Estive em sua casa, em Berlim,

falando de pontos hoje considerados negativos, a fim de não repeti-los. Hoje, eles

vêem os erros que cometeram.

Acreditamos que a indústria tem de ter uma participação efetiva na solução do

problema e luto a favor disso. É claro que quanto mais sofisticado for o sistema

maiores serão as exigências. Por exemplo, na Alemanha, existem estudos sobre

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modificações de embalagens que não estragam o meio ambiente, mas há um custo

para o consumidor. Não tenho agora os valores, mas posso consegui-los.

Antes da queda do Muro de Berlim, o consumidor alemão ocidental tinha a

vida mais fácil, não tinha o desembolso de caixa para trazer o Leste para dentro do

país. Estava disposto a pagar mais por melhor qualidade de vida, queria respirar ar

melhor; queria viver sem nenhum lixo na rua; queria que a pasta de dente, por

exemplo, não tivesse a caixinha de papelão, só a embalagem primária. Enfim, tudo

isso tem um custo. Fora algumas exceções, as embalagens tem uma finalidade.

Obviamente, para mudar isso, haverá um custo que o consumidor acabará pagando,

querendo ou não. Mesmo que a empresa diga que pode absorver tal custo, sabemos

que, quando ele ocorre, acaba sendo repassado para o consumidor. Há estudos

sobre eles na Alemanha e na Suíça, ou seja, onde a pessoas estão dispostas a

pagar por melhor qualidade de vida melhor. Não há dúvida de que no Brasil, onde

esse processo se inicia, existe interesse da indústria, que está disposta a colaborar e

temos certeza de que colaborará porque essa é uma necessidade do País, o povo

quer melhor qualidade de vida.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Na seqüência, concedo a

palavra ao Sr. André Vilhena.

O SR. ANDRÉ VILHENA – Não foi feita nenhuma pergunta específica a nós.

Então, faço duas observações: a responsabilidade pelo resíduo industrial, prevista

na nossa legislação, é da indústria. Hoje, a indústria que tem posicionamento pró-

ativo em relação ao meio ambiente desenvolve sistema de gestão ambiental

trabalhando a destinação correta do resíduo que gera sua produção.

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Quanto ao ponto verde, a Fundação Getúlio Vargas fez uma avaliação

preliminar do custo no Brasil, do sistema alemão, respeitadas nossas características,

obviamente muito diferentes de um país como a Alemanha. A estimativa inicial é de

que o custo seria de 9 bilhões de reais por ano para desenvolver programa parecido

com o desenvolvido na Alemanha. Não sei se a Fundação Getúlio Vargas foi

convidada para expor nesta Comissão, mas podemos inclusive indicar pessoas que

possam dar mais informações sobre isso.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Concedo a palavra ao Sr. José

Roberto Giosa.

O SR. JOSÉ ROBERTO GIOSA – Aproveitando a honrosa presença do 3º

Vice-Presidente da Comissão, Deputado Dr. Benedito Dias; do Deputado Celso

Russomanno e do jornalista Washington Novaes, procurarei responder às perguntas

feitas pelo Sr. Relator.

Em primeiro lugar, quanto à indagação a respeito do alumínio reciclado, se o

metal serve somente para latas, a resposta é não. Hoje, do total reciclado 60%

voltam para as latas e 40% aproximadamente vão para outras aplicações. Por

exemplo, os desoxidantes, gotas de alumínio indispensáveis na produção de aço,

servem para acalmar o banho de aço. É indispensável jogar essas gotas, que pesam

300 gramas cada uma, nos altos fornos das siderúrgicas. Elas contribuem não só

para desoxidar, tirar o excesso de oxigênio da produção de aço, mas também para

proteger o banho de aço, sobretudo em relação a possíveis explosões, para

segurança do trabalho.

Essa sucata é muito utilizada também para produzir ligas automotivas. Como

eu disse, os blocos de motores da Fiat são compostos em até 25% com sucata de

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lata. O eixo do caminhão Ford Cargo tem 15% de alumínio. O resfriador, trocador de

calor dos caminhões turbo, esses em que vemos escrito a palavra intercooler,

também há alumínio. Rodas de ônibus, e principalmente de caminhões, também têm

até 10% dessa liga de alumínio.

Mede-se o sistema de reciclagem, de embalagens multicamadas? Não.

Quando se referiu a embalagens multicamadas, creio que o Deputado estava se

referindo às do tipo Tetra Pak, a única que é composta por três materiais: alumínio

plástico e papel. Há um sistema tecnologicamente aprovado, para fazer a

recuperação desses materiais. Não se mede nem o percentual do que é recuperado,

nem o percentual do que é reciclado, segundo a própria Tetra Pak.

Também temos multicamadas no caso do PET. Há algumas embalagens que

têm, externamente ao contato com o produto, duas ou três camadas de PET

reciclado, e uma camada interna de resina virgem. Isso é regulado por lei, uma vez

que há uma portaria da vigilância sanitária que proíbe o uso de PET reciclado em

contato com o produto.

Outra pergunta: o ciclo de vida da embalagem é positivo no resultado final?

Sem dúvida. O CETEA, do Instituto de Tecnologia de Alimentos de Campinas, está

terminando um trabalho a respeito. Não haveria sentido em se estimular a

reciclagem de um produto se, no final das contas, a relação custo/benefício fosse

negativa. O resultado é positivo, e não só quanto à economia de energia elétrica,

que, como disse, é de 95% em relação ao produto primário. Isso paga a conta e

ainda sobra um bom troco, principalmente neste momento. Portanto, no balanço do

ciclo de vida, a reciclagem ainda é altamente positiva. Esse estudo está sendo

terminado agora pelo CETEA, contratado pelo setor.

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Se o preço da embalagem da lata de alumínio seria competitivo se não fosse

a reciclagem. Sem dúvida. Citei, como exemplo, o fato de que até 1976, com um

quilo de alumínio, faziam-se 42 latas; hoje, fazem-se 76 latas. Em dólares, o preço

do milheiro da lata vendida para a indústria caiu 37% de 1990 a 1999. Hoje, o Brasil

pratica o preço um dólar acima do preço internacional. Quando falo preço

internacional, refiro-me ao mercado americano, que consome, por ano, 101 bilhões

de latas. Agora, com o recente aumento do produto feito pelo produtor americano

sobre o milheiro de latas, até o próximo carnaval o milheiro de latas de alumínio no

Brasil estará sendo vendido ao produtor de bebida pelo mesmo preço do milheiro de

latas do produtor americano. A reciclagem só acentua a competitividade da lata,

porque o produtor de lata ou de qualquer outro produto de alumínio sabe que se não

houver competitividade ele está fora do mercado. A lei do mercado é a lei da selva:

fica quem tem mais condições de competir.

Voltando à questão da embalagem retornável, digo que é muito interessante a

observação feito. Participo da atividade há alguns anos, e por isso, permito-me um

comentário: em 1997 e começo de 1998, foi apresentado o Projeto de Lei nº 2.272,

do então Deputado José Carlos Vieira, de Santa Catarina, que propunha, com todas

as letras, uma reserva de mercado para embalagem retornável. Aqui, vamos ser

francos. Qual é a única embalagem retornável que existe para cerveja e

refrigerante? É o vidro. Por esse projeto de lei, propunha-se, naquela época, uma

reserva de mercado, ou seja, 80% de todas as embalagens, para cervejas, sucos,

chás, isotônicos, leite, água benta e pinga, teriam que ser de vidro. E de onde saiu

esse percentual? Na época, a lata de alumínio tinha exatamente 20% do mercado

de cerveja. As emendas apresentadas a esse projeto de lei foram redigidas com a

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visível intenção de colocar toda a tropa de bode na sala para, depois, tirar e ficar a

embalagem de cerveja. O vidro tinha 96% do mercado de cerveja; hoje, tem 75%.

Sempre vai existir o vidro no mercado de cerveja, assim como de refrigerante.

Sempre! É uma embalagem que o consumidor gosta e aprecia. O que acontece é

que o perfil do consumidor e do ponto de venda mudou. Hoje, 62% de toda a cerveja

e refrigerante vendidos no País são vendidos através do auto-serviço.

O Deputado Fernando Gabeira observou muito bem: será que o consumidor

quer, pelo menos nos grandes centros, voltar a usar o engradado de cerveja, descer

do carro e levar ao mercado? Quem assume, no final das contas, o custo do

depósito, do manuseio, da quebra e da armazenagem dessa garrafa? E tem ocorrido

outra coisa. Recentemente, três grandes empresas foram condenadas em quatro

ações cíveis, porque as garrafas estouraram na mão do consumidor. Um ficou cego,

outro cortou a mão. Por quê? Quem é que fiscaliza o número de viagens retornáveis

que a garrafa pode dar? Ninguém fiscaliza. Há outras prioridades. E o cisalhamento,

o desgaste ocorrido na dobra da garrafa, pelo contato físico de uma garrafa com

outra, com as estradas maravilhosas que temos — o Ministro Eliseu Padilha que me

perdoe —, reduz o tempo de vida útil da embalagem. Quem viaja pelo interior repara

que, em bares e restaurantes afastados dos grandes centros, há uma marca enorme

na garrafa, no ponto de contato entre as embalagens, o que as torna extremamente

vulneráveis.

Não somos contra embalagem de vidro, porque o consumidor é a favor, mas

sim contra uma reserva de quota. Agora, no art. 115 do relatório preliminar, aparece

um percentual de retornabilidade, que está em branco. O Deputado fez da maneira

correta, no meu ponto de vista, ou seja, deixou em branco, para ser decidido. Mas,

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por que reservar uma quota? E o que é retornabilidade? A lata de alumínio ou a

garrafa PET podem ser retornáveis para a reciclagem. O conceito de retornabilidade

teria que ser explicitado. Claro que o relatório é preliminar, e o Relator vai,

certamente, traçar algumas definições importantes.

Outra coisa importante: há uma vaga idéia de que a embalagem retornável é

extremamente mais eficiente e mais econômica. Para lavar cada litro de produto

retornável embalado gastam-se seis litros de água, com soda cáustica; para cada

litro de produto embalado em embalagem descartável gastam-se três litros de água,

sem soda cáustica. Claro que se trata apenas de um dado. Estou lembrando da

água, porque hoje o ponto fraco de todos nós na discussão cotidiana é a água, o

recurso mais importante da Terra, porque se vai esgotar em pouco tempo, e nós, no

Brasil, somos privilegiados em tê-lo. Será que há definição adequada para essa

soda cáustica? Não há. Sabemos que não há, por uma série de razões, o que não

elimina as características positivas desta ou daquela embalagem, de que o

consumidor gosta. Por que o consumidor hoje prefere o PET? Quem dá festa em

casa, por exemplo, leva uma garrafa PET. O preço é conveniente, e a sonegação

torna o preço mais conveniente ainda para o consumidor final. Agora, trata-se de

embalagem apropriada para determinado uso. A última pesquisa nacional de análise

de domicílio feita pelo IBGE mostrou que o número de singles, pessoas que moram

sozinhas, cresceu, no Rio e em São Paulo, 39% em quatro anos. O consumidor que

mora sozinho, que vai, em média, quatro vezes por mês ao supermercado, não faz

compra de mês, mas sim a sua dose necessária. Reparem que hoje há presunto e

queijo fatiados, em dose individual. O que come essa consumidor? Ele não leva para

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casa uma garrafa de PET de dois litros, mas, sim, uma lata. Mas quando ele

encontra com os amigos num bar ou em outra ocasião, prefere uma garrafa.

Então, há mercado para tudo. Somos escancaradamente a favor da

concorrência. É um princípio da indústria, e as indústrias que estão aqui

representadas também adoram. Acho que quem deve decidir é o consumidor, e, se

for estabelecida uma quota, que se faça um balanço, uma análise do ciclo de vida de

cada embalagem e suas vantagens.

O Sr. Washington Novaes lembrou bem o caso da Dinamarca, país sui

generis. Portugal também foi aqui citado como exemplo de mercado de bebida. O

tamanho do mercado português de cerveja é menor que o de Campinas. Entre 1997

e 1999 foram fixados índices de retornabilidade para o mercado português. Nenhum

foi cumprido; nenhum foi sequer aferido. Portanto, país com aquela dimensão

geográfica não serve como exemplo quando comparado com o Brasil.

O Deputado Fernando Gabeira, referendo-se à tarifa do alumínio primário,

disse que o produto não deve ser subsidiado. Concordamos com ele. Por isso é que

a indústria está investindo pesadamente, com atraso, em autogeração. Esse é o

caminho da indústria. Para atender à produção de alumínio primário, foi estabelecido

um subsídio, para as Regiões Norte e Nordeste, as mais pobres, como uma

tentativa, primeiro, de internalizar a industrialização do País, entre Maranhão e Piauí.

Hoje, a ALBRAS têm um subsídio que é decrescente a cada ano, porque ela tem

que ser competitiva. O Brasil tem a terceira maior reserva mundial de bauxita.

Vamos ser um grande player nesse mercado. E além da tarifa tem que ser

considerado o outro lado da história. Mostrei o balanço da indústria — 1,5 bilhão de

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dólares positivo. Vamos tirar daí o percentual da produção de 1 milhão e 400 mil

toneladas, que são 370 mil com tarifas subsidiadas, e não o total.

O nobre Deputado Ronaldo Vasconcellos, de Minas Gerais, falou a respeito

da responsabilidade na cadeia. O Sr. Sérgio foi claro e repiso a sua posição: todos

têm que pagar. A indústria de bebida tem que ser responsabilizada; o produtor da

embalagem tem que ser responsabilizado, e, mais ainda, o produtor do insumo da

embalagem, ou seja, a indústria que produz a chapa de alumínio, a indústria que

produz a barrilha, a indústria que produz a resina PET. E o varejo, também. Todos

têm que dar sua contribuição. Tem que haver distribuição equânime, porque, afinal

de contas, como o próprio nome diz, trata-se de uma cadeia. Para o bem ou para o

mal, estamos todos amarrados. A nossa posição, como indústria de alumínio, é

absolutamente clara: toda a cadeia produtiva de qualquer tipo de produto que gere

alguma embalagem tem de ser responsável. Tem de haver uma responsabilidade

solidária nessa cadeia. E, principalmente, temos de criar mercado para a reciclagem.

Não basta obrigar o consumidor a reciclar.

Reparem que estou em campanha. Tenho até um slogan: “Se você é bonita e

gostosa, vote em Giosa”. Vou me lançar candidato.

Finalmente, abordo a questão do resíduo especial ou perigoso. O resíduo

pode ser, segundo o texto do Relator — e isso precisa ser clarificado —, especial e

perigoso. Um dos pontos que determina que o resíduo é perigoso é a sua

inflamabilidade. Por esse critério, uma embalagem Tetra Pak, além de ser especial,

pode ser perigosa. A embalagem de PET, por exemplo, além de ser especial, pode

ser perigosa por causa da toxidade e da inflamabilidade. Essas coisas tem de ficar

mais claras. Embalagem é eminentemente um resíduo urbano. Se passar a ser um

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resíduo especial, vamos fazer a delícia das empresas de coleta de lixo, que, aliás, é

um setor que tradicionalmente não cheira muito bem. E, afinal de contas, se houver

uma taxa para resíduo especial, quem vai pagar a conta, cara pálida? Todos nós?

Ou a Prefeitura vai ter uma fonte alternativa de receita, que não vai para o seu cofre,

mas, sim, para o cofre das empresas que fazem a limpeza pública? E mais: quem

vai medir quanto de embalagem foi reciclado? Se as Prefeituras não conseguem

controlar nem quantos metros de rua são varridos, como vão controlar o que é

depositado como embalagem?

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Com a palavra o jornalista

Washington Novaes.

O SR. WASHINGTON NOVAES – Respondendo ao Deputado Emerson

Kapaz, não conheço esses estudos sobre a influência do combustível, no retorno, e

que resultado poderia produzir. Mas acho que há fatores dos dois lados. Por

exemplo, se na lata o retorno pode ser menor, porque o vidro é mais pesado, em

compensação o vidro tem maior dimensão. Em geral, a embalagem de vidro carrega

maior volume e, portanto, deve produzir número menor de retorno. Mas não conheço

esse estudo.

Isso me leva a entrar um pouco na questão dos custos ambientais,

insistentemente abordados aqui. Acho que não só na questão de resíduos, mas em

todas as questões, no Brasil, é preciso introduzir a questão dos custos ambientais,

sejam eles quais forem, para que o cidadão, o consumidor, possa decidir. Ele

precisa saber quanto custa cada coisa. Na verdade, direta ou indiretamente ele já

está pagando essa conta, mas ele precisa saber quanto custa, para que possa

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tomar decisões adequadas ao seu bolso, à sua vida, ao seu meio ambiente e ao seu

País de um modo geral.

Foi mencionado que os custos de promoção de um sistema de coleta seletiva

igual ao da Alemanha chegariam a 9 bilhões ao ano. Não ponho isso em dúvida,

mas fico me perguntando porque tenho ouvido com insistência que a produção do

setor de embalagens representa 1% do PIB brasileiro. Quer dizer, o retorno custaria

quase mais que a produção. Mas não tenho essa informação.

Quanto aos suínos, precisamos lembrar o seguinte: é preciso cuidado nessa

regulamentação, porque o problema não está só na instalação industrial do

frigorífico. Vamos pegar o exemplo dos grandes projetos que estão sendo instalados

no Brasil. Em geral, eles têm uma instalação central, industrial, de transformação.

Agora, cada instalação dessas trabalha com centenas de granjas produtoras. Então,

a poluição é difusa, diluída, e é preciso encontrar um sistema capaz de controlar isso

em todas as fases do processo e não apenas no final, na produção industrial.

Também quero fazer uma observação que me escapou ao longo da minha

exposição. Estranhei um pouco que no projeto se mencione apenas a coleta seletiva

para cidades com mais de 100 mil habitantes. E me pergunto qual seria a razão

disso e se tal seria legalmente possível, ou seja, se é possível discriminar-se entre

cidadãos e direitos. Pergunto-me por que não se estabelecer um sistema geral.

Finalmente, quanto ao apelo que foi feito, na medida em que for possível, com

as minhas atribuições, estou à disposição da Comissão.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Índio) – Gostaria de agradecer aos

senhores expositores, aos Parlamentares e a todos a presença. Realmente houve

um aproveitamento muito bom do que aqui foi abordado.

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Dado o adiantado da hora e o início da Ordem do Dia no plenário da Câmara

dos Deputados, vamos encerrar nossos trabalhos. Temos ainda alguns

requerimentos a apreciar, mas até por falta de quorum não poderemos colocá-los

em votação.

Declaro encerrados os trabalhos de hoje, antes convocando a próxima

reunião para o dia 20 de novembro, às 14h30min, uma vez que 15 de novembro é

feriado e que dificilmente no dia 13, véspera de feriado, haveria quorum suficiente

para a reunião.

Está encerrada a reunião.