denuncia - caso yoki

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1 _______________________________________________________________ 052.12.003475-3 – Controle 569/12 – 5ª Vara do Juri – 4º Promotor de Justiça Elize Araújo Kitano Matsunaga EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA QUINTA VARA DO JÚRI DA CAPITAL – 052.12.003475-3 - Controle 569/12 - IP 1496/12 - DHPP O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO representado pelo Promotor de Justiça signatário, com base no procedimento inquisitório anexado, feito epigrafado, vem propor ação penal pública incondicionada, oferecendo denúncia em face da indiciada ELIZE ARAÚJO KITANO MATSUNAGA, portadora do RG 53.673.690-X-SP, qualificada a fls. 332, pela prática do crime de homicídio doloso , triplamente qualificado, pelo motivo torpe, recurso que impossibilitou a defesa do ofendida e meio cruel, além de destruição e ocultação de cadáver , contra a pessoa de MARCOS KITANO MATSUNAGA , fato ocorrido no dia no dia 19 de maio de 2012, pouco depois das 20h, no interior do apartamento nº 172-A do edifício localizado na Rua Carlos Weber, 1376, Vila Leopoldina, São Paulo.

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Page 1: Denuncia - Caso YOKI

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052.12.003475-3 – Controle 569/12 – 5ª Vara do Juri – 4º Promotor de Justiça

Elize Araújo Kitano Matsunaga

EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA

QUINTA VARA DO JÚRI DA CAPITAL –

052.12.003475-3 - Controle 569/12 - IP 1496/12 - DHPP

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE

SÃO PAULO representado pelo Promotor de Justiça

signatário, com base no procedimento inquisitório

anexado, feito epigrafado, vem propor ação penal

pública incondicionada, oferecendo denúncia em

face da indiciada ELIZE ARAÚJO KITANO MATSUNAGA,

portadora do RG 53.673.690-X-SP, qualificada a fls. 332,

pela prática do crime de homicídio doloso, triplamente

qualificado, pelo motivo torpe, recurso que

impossibilitou a defesa do ofendida e meio cruel, além

de destruição e ocultação de cadáver, contra a

pessoa de MARCOS KITANO MATSUNAGA, fato

ocorrido no dia no dia 19 de maio de 2012, pouco

depois das 20h, no interior do apartamento nº 172-A do

edifício localizado na Rua Carlos Weber, 1376, Vila

Leopoldina, São Paulo.

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052.12.003475-3 – Controle 569/12 – 5ª Vara do Juri – 4º Promotor de Justiça

Elize Araújo Kitano Matsunaga

OS FATOS

A indiciada ELIZE ARAÚJO KITANO

MATSUNAGA, que antes fora enfermeira, trabalhando

em centro cirúrgico, era “garota de programa” e se

apresentava como “acompanhante”, rótulo das

integrantes do site MClass, especializado nessa

atividade, quando conheceu a vítima MARCOS KITANO

MATSUNAGA, com quem passou a ter relações sexuais

mediante paga, no final do ano de 2004.

Marcos era casado e tinha uma filha, e

ante a frequência com que se relacionavam, se

tornaram amantes, por um período aproximado de três

anos, até que aquele se divorciou e decidiram se

casar, o que aconteceu no dia 8 de junho de 2009, sob

o regime da comunhão parcial de bens (fls. 253).

O casal Marcos-Elize já demonstrava

sinais de dificuldade no relacionamento, quando a

denunciada engravidou, posteriormente dando à luz a

criança , em 15 de abril de 2011, e seis meses

após, o relacionamento se deteriorou.

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Elize Araújo Kitano Matsunaga

As constantes brigas do casal, com

ofensas recíprocas e até agressão física por parte de

Elize, fez com que passassem a dormir em quartos

separados no mesmo imóvel. Convencida de que

Marcos estava tendo “um caso”, Elize procurou uma

agência de detetives, contratando seus serviços para

acompanhá-lo e comprovar o fato.

Antes de efetuar uma viagem ao

Estado do Paraná, no dia 17 de maio, Elize fez o

pagamento de parte do valor ajustado com o detetive,

e enquanto estava ausente, conforme combinou com

a empregada, esta lhe informava a entrada e saída do

marido, e por telefone, monitorava o detetive, quando

teve conhecimento de que realmente Marcos estava

tendo um “caso” com uma garota de programa, e

que, por coincidência, era do mesmo site MClass que

antes pertenceu. O detetive forneceu os detalhes e os

locais onde o marido se encontrava com a nova

amante, inclusive realizando filmagens do romance em

locais públicos, fato que gerou o ódio incontido. Elize

retornou de viagem, no dia 19 de maio, com o plano

sórdido elaborado. E no mesmo dia o concretizaria.

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Elize Araújo Kitano Matsunaga

Oriunda de família pobre, auxiliar de

enfermagem e garota de programa, depois casada

com milionário, viu cair por terra o casamento e a vida

confortável. Beneficiária única de seguro de relevante

valor (fls. 84), ficando com a filha herdeira do enorme

patrimônio do pai, resolveu matá-lo. Conseguiria se

vingar e ficaria rica. Exímia atiradora, o executaria.

Marcos foi buscá-la no aeroporto,

junto com a filha e ao adentrarem no apartamento, a

denunciada Elize detalhou a este as investigações já

desenvolvidas e as provas materiais. Discutiram, com

uma pausa enquanto Marcos desceu à portaria para

buscar uma pizza, e retornando às 20h02m, conforme

consta das gravações de CFTV do elevador (fls. 443/444).

Nesse ínterim, armou-se de uma pistola

Imbel, calibre “380, nº 41655 (uma das quatro armas

registradas em seu nome) com carregador contendo 15

cartuchos e quando Marcos chegou com a pizza, Eliza

dele se aproximou e efetuou um único disparo, na

região da fronte esquerda, orientado de frente para

trás e de cima para baixo (fls. 456).

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Elize Araújo Kitano Matsunaga

Tinha que ser assim, pois Marcos, além

muito forte, bem mais alto, era lutador de artes marciais

o que inviabilizaria o confronto físico. Não poderia lhe

dar qualquer chance de se defender.

Enquanto a vítima Marcos agonizava,

com o mesmo ódio incontido, Eliza armou-se de uma

faca, se aproximou de seu pescoço e o seccionou,

conseguindo decapitá-lo.

Marcos veio a óbito, cuja causa mortis

deveu-se a choque traumático (traumatismo crâneo

encefálico por agente pérfuro-contundente –projétil de arma de

fogo (bala) e associado à asfixia respiratória por sangue

aspirado devido a decapitação, conforme evidenciado no

laudo de exame de corpo de delito (exame

necroscópico) constante de fls. 455/457.

Excelente atiradora e conhecedora de

armas, substituiu o cano da arma utilizada por um outro

que mantinha, de molde a inviabilizar definitivamente

eventual exame pericial de confronto do projétil com a

pistola, bem como comprovação de disparo recente.

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Elize Araújo Kitano Matsunaga

Perpetrado o crime, era o momento

de se livrar do indesejável cadáver, e para isso já tinha

também previamente desenvolvido um plano. Iria

esquartejá-lo e transportá-lo para local distante.

Dotada de conhecimento na área de

enfermagem, colocou-o em prática, dentro de um

quarto destinado aos hóspedes, para onde arrastou o

corpo. Por ter trabalhado em centro cirúrgico e

conhecedora da anatomia humana, em termos ósseos,

sabia onde realizar os cortes. Sabia que o joelho é

preso por cartilagem e ligamento, e assim cortou as

pernas. Cortou os braços, com antebraço e mão. Da

mesma forma cortou a barriga, na região da cintura,

separando a genitália e as coxas do tronco, conforme

comprovam as fotos de fls. 49/50 e 460/481.

Após o esquartejamento - atividade

que lhe consumiu a noite toda - , inseriu as partes, junto

com a cabeça e as roupas que Marcos usava, em

sacos plásticos apropriados para lixo, e acondiciou-os

em três malas de viagem, dividindo o peso, o que lhe

facilitaria o transporte.

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Elize Araújo Kitano Matsunaga

Realizada a difícil tarefa, passou a

limpar todo o local, com panos e água. Enquanto a

babá ficava em casa com a criança do casal, desceu

com as três malas pelo elevador de serviço (no dia 20

de maio de 2012, domingo às 1h30m), conforme

comprovam as filmagens de CFTV (fls. 444/445),

colocou-as no seu veículo Mitsubishi Pajero, placas

EQC-4141 para jogar em local bem distante.

Saiu com destino ao Estado do Paraná

seguindo pela Rodovia Raposo Tavares, mas desistiu da

empreitada, retornando para a região da Grande São

Paulo, onde conhecia bem. Aliás, muito bem.

Assim, livrou-se dos pedaços do corpo.

Na Estrada dos Pires, próximo à igreja, foram

encontradas as mangas da camisa. Na mesma Estrada

dos Pires até a Rua Bragança (1,3 km após), foram

encontradas mãos e braços. Um pouco mais à frente

(1 km) estava uma perna e um pé. Mais adiante (100 m)

estava a cabeça. Mais à frente (600 m) estava a outra

perna. Continuando na Estrada dos Pires, sentido

Caucaia do Alto (2,5 km) estavam o tronco e o quadril.

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Elize Araújo Kitano Matsunaga

As partes foram sendo jogadas em

beira de estrada, em uma distância percorrida de 4,2

km, conforme comprova o laudo de fls. 395 e os BOs.

de fls. 13, 22, 63, 67.

Após toda essa jornada, quando foi

fiscalizada e autuada pela Polícia Rodoviária por estar

com o licenciamento do auto vencido (fls. 321/323), e

ainda com as malas e partes do cadáver, Elize retornou

ao apartamento apenas às 22h48m (fls. 446).

No dia 21de maio (segunda-feira) foi

até a agência de detetives retirar as filmagens feitas

com Marcos e a amante, e as levou aos pais dele, cuja

mostra visava concretizar a parte final de seu plano, de

que a vítima saíra de casa porque tinha outra mulher.

Enquanto a família procurava Marcos,

com a mesma finalidade de fugir à eventual suspeita

de autoria, apanhou um notebook da vítima, e como

conhecia sua senha, encaminhou emails para a

empresa de sua propriedade, supostamente sendo do

falecido, informando que estava tudo bem (fls. 36/39).

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Elize Araújo Kitano Matsunaga

Assim ocorrendo, a indiciada ELIZE

ARAÚJO KITANO MATSUNAGA praticou um crime de

homicídio triplamente qualificado.

Agiu impelida por motivo torpe,

vingando-se da traição do marido, para evitar que a

outra amante fosse a causa da separação e lhe

causasse prejuízos sociais e materiais, e com objetivo

de ficar com o valor do seguro de vida e a

administração dos bens a serem herdados pela filha.

Para a prática do crime, utilizou de

recurso que impossibilitou a defesa da vítima, com o

tiro sendo disparado à curta distância, conforme prova

a perícia (fls. 456), que evidenciou zona de tatuagem e

queimadura nas margens do ferimento, e em situação

de altura superior, pois mesmo sendo de estatura maior,

Marcos recebeu o projétil de cima para baixo, o que

seria impossível de acontecer, caso ambos estivessem

em pé (fls. 455/457).

A morte foi produzida por meio cruel,

pela tentativa de segmentar o corpo em vida.

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Elize Araújo Kitano Matsunaga

Conforme conclusão pericial, a vítima

ainda estava viva quando sofreu asfixia respiratória por

sangue aspirado devido à decapitação. (fls. 457).

A indiciada ELIZE ARAÚJO KITANO

MATSUNAGA também praticou o crime de destruição

e ocultação de cadáver, ao esquartejá-lo e depois

lançar as partes em local ermo, onde possivelmente

seriam devoradas por animais. Por final, a conduta de

ainda deverá ser agravada genericamente pela

condição de cônjuge da vítima.

Ex positis, adequando a conduta da

indiciada ao tipo penal descrito como homicídio

qualificado pelo motivo torpe, meio cruel e utilizando

recurso que impossibilitou a defesa da vítima, além da

destruição e ocultação de cadáver, agravada pela

condição de cônjuge da vítima, denuncio ELIZE

ARAÚJO KITANO MATSUNAGA, portadora do RG

53.673.690-X-SP, como incursa no artigo 121, § 2º, incisos

I, III e IV, artigo 211 e artigo 61, inciso II, letra “e” , in fine,

todos do Código Penal Brasileiro.

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Elize Araújo Kitano Matsunaga

REQUERIMENTO

Ante todo o exposto, adequada a

conduta aos tipos penais correspondentes, requer-se,

recebida e autuada a presente, observando-se o

disposto no artigo 406 do Código de Processo Penal,

com as alterações trazidas pela Lei nº 11.689, de 9 de

junho de 2008, seja a ré citada para responder a

acusação por escrito.

Não sendo hipótese de absolvição

sumária, em audiência de instrução prevista no artigo

411 do mesmo dispositivo, seja procedida à inquirição

das testemunhas abaixo arroladas, as do juízo e as que

eventualmente sejam indicadas pela acusada.

Excedido o rol de testemunhas (art. 406,

§ 2º do CPP), ante a complexidade do caso e

necessidade de ouvida do médico legista, do perito

legal e da ilustre autoridade policial que desenvolveu a

investigação, requeiro que sejam estas ouvidas como

testemunhas do juízo (art. 209 do CPP).

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Elize Araújo Kitano Matsunaga

Após, seja interrogada a acusada, e

com o encerramento da instrução e realizado o

debate final ou juntada de memoriais, para, ao final,

ser proferida sentença de pronúncia para submeter

ELIZE ARAÚJO KITANO MATSUNAGA a julgamento pelo

Egrégio Tribunal do Júri, juízo natural dos crimes dolosos

contra a vida, até final condenação.

São Paulo, 19 de junho de 2012

JOSÉ CARLOS COSENZO

Promotor de Justiça

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Elize Araújo Kitano Matsunaga

ROL DE TESTEMUNHAS

1 – Mauro Kitano Matsunaga – fls. 26/145/196/239

2 – Willian Coelho de Oliveira – fls. 162

3 – Valter Sérgio de Abreu -fls. 172 (requisitar)

4 – René Henrique Gotz Licht – fls. 199

5 – Horácio Rubem D’Abramo – fls.399

6 – Luiz Carlos Lózio – fls. 30/149/193

7 – Nathalia Vila Real Lima - fls. 363

8 – Amonir Hercilia dos Santos – fls. 234

TESTEMUNHAS DO JUÍZO

1 – Dr Mauro Gomes Dias – fls. 514 (requisitar)

2 – Dr Jorge Pereira de Oliveira – fls. 455/457 (requisitar)

3 – Ricardo Salada – Perito DHPP - requisitar

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Elize Araújo Kitano Matsunaga

V TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DA CAPITAL

052.12.003475-3 – Controle 569/12 – DHPP

Denunciada – ELIZE ARAÚJO KITANO MATSUNAGA

Meritíssimo Juiz:

1. Ofereço, em separado, denúncia

contra a indiciada ELIZE ARAÚJO KITANO

MATSUNAGA, em treze laudas, dentro do prazo legal,

seja pelo recebimento do procedimento em razão da

prisão, seja porque há custódia cautelar, via prisão

temporária, cujo vencimento dar-se-á no dia 20 de junho

de 2012.

2. Conforme requerimento posto na

parte final da inicial da ação penal proposta, aqui se

apura um crime gravíssimo, praticado pela denunciada

contra o marido, cuja repercussão, seja pelo status social,

seja pela forma de cometimento, causou verdadeira

comoção social em São Paulo.

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Elize Araújo Kitano Matsunaga

As investigações que se iniciaram pelo

desaparecimento da vítima Marcos Kitano Matsunaga,

culminaram pelo conhecimento – e confissão – da autoria

pela própria esposa, no interior do seu lar.

Apesar da confissão, a dinâmica dos

fatos e forma didática para se descrever as lesões, bem

como a situação em que foi encontrado o cadáver, ou

partes dele, espalhadas por estradas de terra, e

fundamentalmente a causa mortis, somente poderão ser

melhor informadas ao juízo pelo Delegado de Polícia que

realizou a brilhante investigação, pelo perito legal que

realizou as perícias de coletas de materiais, além de

efetuar a reconstituição, e o médico legista que elaborou

um laudo de fôlego, conseguindo juntas todas as peças,

ou melhor, as partes do corpo da vítima.

Assim, uma vez que o número limite (8

testemunhas, nos termos do art 406, § 2º do CPP) foi

preenchido, requeiro que tais profissionais, relacionados

na denúncia, pela fundamental importância para o desate

da questão, e certamente para supedanear o eminente

Magistrado quando da decisão interlocutória, sejam

ouvidas como testemunhas do juízo (art. 209 do CPP).

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Elize Araújo Kitano Matsunaga

3. Requeiro a vinda de Folha de

Antecedentes criminais e extração de certidões do que

nela vier constando, inclusive do Estado do Paraná.

PRISÃO PREVENTIVA

Requeiro neste ato, com a propositura

de ação penal pública incondicionada, através da

denúncia, que seja decretada a Prisão Preventiva da

denunciada ELIZE ARAÚJO KITANO MATSUNAGA.

Despiciendo dizer que se trata de um

dos crimes de maior repercussão na história desta terra,

não apenas pelo status social da vítima, já antes

mencionado, mas pelo requinte de crueldade, nunca

experimentado, sequer pelos legistas.

Pessoa dissimulada, a acusada de forma

vil, ignóbil, nojenta, repugnante, antiga garota de

programa e amante da vítima quando ainda era este

casado com outra, e que assumiu o posto de esposa ao

se desfazer aquele matrimônio, viu o mesmo filme ser

projetado para si.

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Elize Araújo Kitano Matsunaga

Após pouco tempo de casados, as brigas

se iniciaram e a situação se tornou insustentável.

Extraindo dos fatos concretos que

poderia perder o posto de esposa, para a nova amante do

marido, perder o status de milionária, perder os bens

materiais, o apartamento dúplex, carros, compras,

empregadas, contratou um detetive para acompanhar as

aventuras do marido. Estava no Estado do Paraná e fez

tudo aquilo que idealizou em detalhes.

Exímia atiradora, conhecedora de armas

e enfermeira com conhecimento de anatomia humana,

viu na morte do marido a sua independência. Ficaria com

a guarda natural da filha e receberia um seguro de vida

de grande valor (R$ 600.000,00 – fls. 64).

Chegou de viagem, com tudo pronto, na

cabeça e condições materiais. Enquanto o marido, sem a

menor noção do risco, do perigo, desceu pelo elevador

para receber uma pizza, ela se armou com uma pistola

calibre “380, carregada, e dele se aproximou, desferindo

um tiro na fronte. Ele era alto e lutador de artes marciais,

e ela miúda, mulher, frágil fisicamente. Isso, todavia, não

afetou sua obstinada sede de vingança.

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Elize Araújo Kitano Matsunaga

Questão de nenhuma complexidade para

o desate a qualquer infante: como uma mulher mais

baixa que o marido, poderia desferir um tiro, de cima

para baixo? E houve lesões e queimaduras próximo à

entrada do projétil, próprio de quase “queima-roupa”.

Se estava ruim para a vítima, o laudo

diz que piorou: caída no chão, em razão do tiro próximo,

ainda em vida, agonizando, não teve a acusada a menor

piedade, decapitando-a. A causa mortis decorreu do tiro

recebido e asfixia do sangue decorrente da decapitação.

Depois de tudo isso, retalhou o corpo

como se estivesse na faina diária de açougueiro, e ainda

fez as pessoas saírem à procura da vítima, cujas partes

jogou a animais e urubus. Mandou email do próprio

notebook da vítima, usando a senha que descobriu,

deixando familiares em desespero, imaginando sequestro.

Dissimulada, foi parada pela Policia

Rodoviária por estar com documentação vencida, recebeu

a multa, assinou e saiu, tudo isso, estando as malas com

as partes do corpo da vítima consigo. Não satisfeita com

a vingança, ainda foi buscar os vídeos onde o falecido

estava com outra.

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Elize Araújo Kitano Matsunaga

De posse destes, foi exibi-los à família

da vítima. Pegou o computador que usou para a falsa

mensagem e o destruiu, lançando no lixo de um shopping

e a faca usada em outro. Retirou o cano da arma que

usou e o substituiu por outro, de molde a impossibilitar

uma perícia que a prejudicasse.

Depois, ainda foi a outro shopping, onde

adquiriu uma bolsa que é objeto de desejo da mulherada,

sem remorso, sem sofrimento. Era o tempo passar, não

ser incriminada e ficar rica, com a filha. Dançou!

Fez um monte de bobagens, digna de

bandidos sem escrúpulos, mas sem qualificação.

Testemunhas temem-na. Aquela que

saía com seu marido, disse na polícia que morre de medo

dela.

Há diligências ainda em andamento,

para posterior envio a este juízo, e com ela em liberdade,

certamente vai inviabilizá-las.

Foi decretada sua prisão temporária,

depois prorrogada, com vencimento para amanhã, dia 20.

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Elize Araújo Kitano Matsunaga

Para decretação da PRISÃO

PREVENTIVA, trago, primeiramente, como fundamento a

conveniência da instrução criminal, posto que existe

comprovação nos autos que poderá intimidar

testemunhas, como a rival, um vizinho, o pastor e a

empregada. Só quatro!

Há necessidade de várias diligências

como o reconhecimento e eventual acareação. Muitas

diligências em andamento, como buscas, documentos em

bancos, e que poderão ser prejudicados

Para garantia da ordem pública, nem

é necessário aprofundar-se em argumentação, pois se

trata de um crime bárbaro, hediondo, que provocou

repulsa na sociedade. Em entrevista, o médico legista

declarou quem em 35 anos de servidor, nunca viu uma

atuação símile, principalmente ao cortar a vítima pelo

meio, pela barriga.

A revolta da sociedade poderá impor a

tentativa de “justiça a manu militari”. A sociedade não

pode aceitar que assassinas, covardes como essa,

respondam em liberdade a acusação. Até, por paradoxo,

para garantir a própria integridade física e a vida da ré.

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Elize Araújo Kitano Matsunaga

Para a efetiva aplicação da lei penal,

basta, também, dizer que após a soltura, certamente

desaparecerá.

Sabe-se, à saciedade, a dificuldade de

se instruir um processo criminal em uma megalópole

como São Paulo, notadamente aqueles com o rito

diferenciado conferido à apuração dos crimes dolosos

contra a vida. Ainda que seja feita cautelarmente, o

tempo se encarrega de impedir a localização das

testemunhas, em manifesto favorecimento ao criminoso e

triunfo da impunidade.

Assim, como em liberdade a ré vulnera a

aplicação da lei penal e impede a regular instrução

criminal, transcende que é de rigor seu segregamento

provisório nos termos dos artigos 311 e seguintes do

Código de Processo Penal. Com base nesse fundamento

legal, assim o requeiro.

São Paulo, 19 de junho de 2012

José Carlos Cosenzo

Promotor de Justiça