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Demonstração dos Fluxos de Caixa – como instrumento da Governança ANTECEDENTES Na década de 80, no ambiente empresarial-societário dos Estados Unidos, uma das questões mais discutidas foi a da governança corporativa e o problema da motivação e controle dos gestores na busca pela maximização do valor para os acionistas. Do ponto de vista técnico e de métricas para medir os resultados do aumento de valor das organizações, o desempenho avaliado pelos lucros foi fortemente questionado. Danny DeVito, no filme Other People’s Money, retrata muito bem esta questão quando, numa assembléia de acionistas, afirma: “a menos que eu esteja enganado, a razão pela qual vocês se tornaram acionistas foi para ganhar dinheiro”. Assim, uma pergunta fundamental foi levantada pelos acionistas aos gestores contratados: “afinal de contas, o que vocês estão fazendo com o nosso dinheiro”? Em 1988, o Federal Accounting Standards Board, órgão máximo na determinação dos procedimentos contábeis naquele país, passou a exigir, a partir de 15.07.88, a emissão, junto com as demais demonstrações financeiras, da demonstração dos fluxos de caixa. Cabe lembrar, que a demonstração dos fluxos de caixa é uma ferramenta gerencial tradicional na área financeira. Ela é apresentada no texto “Administração Financeira”, de Robert W. Johnson, de 1.962. Na época, a denominação era fluxo de fundos ao invés de fluxo de caixa. No Brasil, desde 1989, as entidades ligadas ao mercado de capitais – a APIMEC–Associação dos Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais é uma delas - são defensoras da substituição da Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos pela Demonstração dos Fluxos de Caixa. No entanto, somente com o advento da Lei 11.638/07, a referida peça contábil se tornou obrigatória para as empresas de grande porte. A DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA - DFC A forma de apresentação foi disciplinada pelo Pronunciamento Técnico CPC 3, de 13 de junho de 2008, e integra o conjunto dos procedimentos contábeis que estão caminhando para

A Demonstração dos Fluxos de Caixa passou a fazer parte do conjunto das demonstrações financeiras obrigatórias, para ser um instrumento de controle para os acionistas, podendo ser considerada, desta forma, uma das ferramentas da Governança Corporativa

O CPC Comitê de Pronunciamentos foi criado em 2005, com o objetivo de realizar a convergência da contabilidade brasileira às normas internacionais de contabilidade

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convergência da contabilidade brasileira às normas internacionais de contabilidade. Para responder a pergunta chave - “afinal de contas, o que vocês (gestores) estão fazendo com o nosso dinheiro ?” – a DFC apresenta três fluxos que impactam o caixa:

• Das operações • Dos investimentos • Dos financiamentos

O resultado dos três fluxos impacta o saldo de caixa e equivalentes da empresa. Vejamos o caso de uma grande empresa do setor de embutidos, a partir de suas demonstrações financeiras de 31.12.08, encaminhadas à CVM Comissão de Valores Mobiliários: ------------------------------------------------------------------------------------- Saldo de caixa e equivalentes em 31.12.07 R$ 1.108.028 mil Saldo de caixa e equivalentes em 31.12.08 R$ 1.233.445 mil ------------------------------------------------------------------------------------- Neste caso, a DFC vai demonstrar, por intermédio dos três fluxos acima mencionados, de onde vieram os recursos para que o saldo de caixa da empresa aumentasse em R$ 125.417 mil. Fluxo de Caixa das Operações O fluxo de caixa das operações responde a uma das grandes perguntas levantadas pelos acionistas: “se a empresa está apresentando lucros, qual a razão do nosso fluxo de caixa operacional estar negativo ? Ou, “se a empresa está gerando prejuízos, como nosso fluxo de caixa operacional pode ser positivo” ? Para demonstrar esta situação, o lucro ou prejuízo líquido apresentado na DRE - Demonstração do Resultado do Exercício é ajustado por dois fatores:

• Receitas, custos e despesas que foram registradas na DRE, mas não movimentam recursos de caixa; e,

• Variação de contas do ativo e passivo que expressam

modificações nas políticas financeiras de curto prazo praticadas empresa, bem como alterações no nível de atividades.

No caso da empresa que estamos acompanhando temos a seguinte situação:

“Os equivalentes de caixa são mantidos com a finalidade de atender a compromissos de caixa de curto prazo e não para investimento ou outros fins. Para ser considerada equivalente de caixa, uma aplicação financeira deve ter conversibilidade imediata em um montante conhecido de caixa e estar sujeita a um insignificante risco de mudança de valor”.

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---------------------------------------------------------------------------------- Resultado Líquido do Exercício – 2008 R$ 54.372 mil Caixa Líquido das Atividades Operacionais R$ 634.610 mil ---------------------------------------------------------------------------------- Neste caso a questão a ser respondida é: como a empresa apresentou um lucro líquido, na última linha, de R$ 54.372 mil, e pode ter gerado um fluxo de caixa decorrente das atividades operacionais da ordem de R$ 634.610 mil ? Vejamos a resposta na Demonstração dos Fluxos de Caixa apresentada à CVM pela empresa, no que se refere ao Caixa Líquido das Atividades Operacionais: Quadro 1 – Demonstração dos Fluxos de Caixa (2008 – R$ mil) Caixa Líquido das Atividades Operacionais 4.01 Caixa Líquido Atividades Operacionais 634.6104.01.01 Resultado Líquido do Exercício 54.3724.01.02 Variações nos Ativos e Passivos (748.021)4.01.02.01 Contas a Receber de Clientes (194.932)4.01.02.02 Estoques (464.528)4.01.02.03 Fornecedores 255.7714.01.02.04 Pagamento de Contingencias (26.993)4.01.02.05 Salarios/Obrigações Sociais/Outros (317.339)4.01.03 Outros 1.328.2594.01.03.01 Participações de Acionistas não Control. 3854.01.03.02 Depreciação/Amortização/Exaustão 448.5654.01.03.03 Amortização de Ágio 152.9964.01.03.04 Resultado na Alienação do Permanente 35.6584.01.03.05 Imposto sobre a Renda Diferidos (291.084)4.01.03.06 Provisão/Reversão de Contingencias (34.071)4.01.03.07 Outras Provisões 7.7634.01.03.08 Juros e Variações Cambiais 998.4004.01.03.09 Reconhecimento do Efeito do Plano Verão 04.01.03.10 Efeito da lei 11.638/07 9.647 Como pode ser observado, o Resultado Líquido do Exercício foi ajustado por dois valores: ----------------------------------------------------------------------------- Resultado Líquido do Exercício R$ 54.372 mil Variação de Ativos e Passivos (R$ 748.021) mil Outros R$ 1.328.259 mil

------------------------ Caixa Líquido das Ativ.Operacionais R$ 634.610 mil -----------------------------------------------------------------------------

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A variação nos ativos e passivos representa o impacto no fluxo de caixa decorrente das modificações nas políticas financeiras de curto prazo, dentre elas, as políticas de crédito, as políticas de manutenção de níveis de estoques e as políticas pagamento das compras. No caso acima, representou um impacto negativo no fluxo de caixa da empresa, sendo os principais o aumento nos investimentos em estoques e a redução substancial provocada na linha de salários/obrigações sociais e outros. As perguntas relevantes seriam:

• Quais as alterações na política de estoques ? • Quais as causas da redução da linha salários/obrigações ?

Além disso, em proporção menor, a empresa obteve um aumento do financiamento de fornecedores (negociação ou prorrogações ?) e um aumento no investimento em contas a receber de clientes (alteração de prazos, inadimplência ou aumento nas vendas ?). Note-se que este impacto de R$ 748.021 mil negativos é relevante para uma empresa que faturou, no ano, R$ 13,1 bilhões: representa aproximadamente 6% do faturamento. O segundo ajuste – outros (que expressam valores que foram lançados como despesa e receita na DRE e não movimentam caixa) – foi positivo. Ou seja, foram registradas despesas de caráter econômico e contábil, mas que não saíram do caixa. Como pode ser observado, duas delas representam a maior parte do valor: ------------------------------------------------------------------------- Depreciação/amortização/exaustão R$ 448.565 mil Juros e variações cambiais R$ 998.400 mil ------------------------------------------------------------------------- A depreciação representa a recuperação dos investimentos no ativo permanente que a empresa está realizando na precificação dos produtos e os juros e variações cambiais foram capitalizados nos saldos dos empréstimos e financiamentos. Fluxo de Caixa dos Investimentos Na DFC da empresa que estamos acompanhando, o Caixa Líquido das Atividades de Investimentos foi um investimento de R$ 1.627.560 mil. O quadro 2 abaixo apresenta este segundo grupo da DFC da referida empresa:

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Quadro 2 – Demonstração dos Fluxos de Caixa (2008 – R$ mil) Caixa Líquido das Atividades de Investimentos 4.02 Caixa Líquido Atividades de Investimento (1.627.560)4.02.01 Aplicações Financeiras (2.733.029)4.02.02 Resgate de Aplicações Financeiras 2.829.8994.02.03 Aplicações no Imobilizado (634.511)4.02.04 Aquisições /Formação de Matrizes (208.334)4.02.05 Alienação do Imobilizado 13.0474.02.06 Aquisição de empresas, Liquido do Caixa (796.132)4.02.07 Aplicações no Diferido (98.493)4.02.08 Outros Investimentos Liquidos (7) Pelo quadro podem ser identificados os principais investimentos (ou desinvestimentos). O valor de R$ 1.617.560 mil, investido pela empresa, foi principalmente em: ------------------------------------------------------------------------- No imobilizado R$ 634.511 mil Aquisição e formação de matrizes R$ 208.334 mil Aquisição de empresas R$ 795.132 mil ------------------------------------------------------------------------- São valores expressivos (estamos sempre pensando no faturamento da empresa, no valor de R$ 13,1 bilhões no referido ano) e que refletem a política de investimentos da empresa. Fluxo de Caixa dos Financiamentos Na DFC da empresa que estamos acompanhando, o Caixa Líquido das Atividades de Financiamentos indica um fluxo positivo de R$ 1.118.377 mil. O quadro 3 abaixo apresenta este terceiro grupo da DFC encaminhada à CVM pela referida empresa: Quadro 3 – Demonstração dos Fluxos de Caixa (2008 – R$ mil) Caixa Líquido das Atividades de Financiamentos 4.03 Caixa Líquido Atividades Financiamento 1.118.3774.03.01 Tomada de Financiamento 3.247.9704.03.02 Pagamento de Financiamento (2.048.750)4.03.03 Aumento de Capital 33.4894.03.04 Dividendos/Juros do Capital Próprio pgto (114.332)

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Pelo quadro acima, podemos observar que o impacto positivo no fluxo de caixa da empresa, decorrente das atividades de financiamentos, foi causado da tomada líquida de financiamentos no valor de R$ 1.199.220 mil. Infelizmente, a DFC, neste grupo, não indica se os financiamentos tomados são de longo ou de curto prazos. Se quisermos identificar o prazo, precisamos recorrer aos dados do Balanço. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta breve apresentação, o objetivo foi levantar os principais fatores de gestão expressos na Demonstração dos Fluxos de Caixa das empresas. Todas as considerações feitas, partiram da leitura da referida demonstração, sem a preocupação de análise. Seja como membro do conselho de administração, seja como participante do conselho fiscal, o exame das demonstrações financeiras deve ser feito sempre em conjunto, levando em conta o Relatório da Administração, o Balanço, a Demonstração de Resultados do Exercício, a Demonstração dos Fluxos de Caixa, a Demonstração das Mutações Patrimoniais, as Notas Explicativas e o Parecer dos Auditores. AUTOR: Armando de Santi Filho, membro suplente do Conselho Fiscal da JEREISSATI PARTICIPAÇÕES S.A. Foi Superintende Adjunto do Banco do Brasil no estado de São Paulo e Diretor Executivo da Trevisan Escola de Negócios. É consultor financeiro e coordenador de cursos de pós-graduação.