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1 DEMOCRACIA, PARTICIPAÇÃO E EMPODERAMENTO NO GOVERNO CHÁVEZ Kátia Alves Fukushima 1 RESUMO: O objetivo do presente artigo situa-se na análise da democracia venezuelana e sua relação com a dimensão de participação e a possibilidade de empoderamento da sociedade civil durante o governo Chávez (1999-2013). Desde o fim da década de 1990, com as crises políticas, econômicas e sociais acentuadas a partir da adoção de medidas neoliberais e a ascensão de Chávez ao poder, a Venezuela tem passado por importantes transformações, especialmente no que se refere à dimensão social e à participação. Busca-se mostrar a nova realidade da democracia venezuelana tendo como pano de fundo a especificidade do governo Chávez no processo de rupturas, estruturais ou não, com o modelo neoliberal adotado na região na década de 1990. Para tanto, o trabalho versará sobre os conceitos de participação e empoderamento a partir da base de dados do Latinobarómetro. PALAVRAS-CHAVE: Governo Chávez; Democracia; Participação; Empoderamento 1 Doutoranda em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq. ([email protected]).

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DEMOCRACIA, PARTICIPAÇÃO E EMPODERAMENTO NO

GOVERNO CHÁVEZ

Kátia Alves Fukushima1

RESUMO: O objetivo do presente artigo situa-se na análise da democracia venezuelana e sua relação com a dimensão de participação e a possibilidade de empoderamento da sociedade civil durante o governo Chávez (1999-2013). Desde o fim da década de 1990, com as crises políticas, econômicas e sociais acentuadas a partir da adoção de medidas neoliberais e a ascensão de Chávez ao poder, a Venezuela tem passado por importantes transformações, especialmente no que se refere à dimensão social e à participação. Busca-se mostrar a nova realidade da democracia venezuelana tendo como pano de fundo a especificidade do governo Chávez no processo de rupturas, estruturais ou não, com o modelo neoliberal adotado na região na década de 1990. Para tanto, o trabalho versará sobre os conceitos de participação e empoderamento a partir da base de dados do Latinobarómetro.

PALAVRAS-CHAVE: Governo Chávez; Democracia; Participação; Empoderamento

1 Doutoranda em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Bolsista

do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. ([email protected]).

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I. INTRODUÇÃO

A partir da década de 1990, a Venezuela passou por uma grave crise política,

econômica e social. A adoção de políticas neoliberais provocou o descontentamento

das massas marginalizadas. A demanda da população venezuelana situava em torno

da redistribuição de renda e da igualdade social, bem como, da inclusão e da

participação. No entanto, diante da crise, o grupo político que estava no poder não

conseguiu atender as demandas da população. Tal fato explica a rejeição por parte da

sociedade civil, através de manifestações nas ruas e do “voto castigo” a qualquer um

que representasse os atores políticos tradicionais.

O grupo hegemônico que governava o país desde 1958 a 1998 perdeu

respaldo da sociedade civil, o que gerou uma quebra da hegemonia, no sentido

gramsciano, favorecendo a eleição do presidente Chávez. Este por sua vez, conseguiu

se utilizar do aparelho estatal para difundir sua ideologia e criar uma nova hegemonia.

A partir de então, houve uma nova configuração nas relações de poder na Venezuela.

Com a vitória de Chávez nas eleições de 1998, uma nova visão política, econômica e

social passou ocupar espaço no país. Conceitos como democracia participativa,

sociedade civil, cidadania e direitos se tornaram proeminentes tanto nos discursos do

presidente como na literatura recente.

O marco da ruptura com o status quo vigente até então foi à promulgação da

Constituição de 1999 e com ela, o que Chávez denominou de “democracia

participativa e protagônica” (FUKUSHIMA, 2010). A nova Constituição se apresentou

não apenas como uma alteração institucional, mas também como algo mais profundo,

uma mudança da concepção de democracia, que apresenta como eixo a participação

e, logo, a ideia de cidadão-agente.

Todavia, seu governo foi caracterizado por um alto grau de estatismo, bem

como, pelo aumento do poder executivo, frente aos demais poderes. O fato é que

definir a democracia na era Chávez não constitui tarefa fácil, à medida que

percebemos na literatura uma infinidade de adjetivos (democracia iliberal, participativa,

delegativa, semidemocracia) para classifica-la (COLLIER e LEVITSKY, 1996). Tais

adjetivos acrescidos à democracia venezuelana explica-se pelas críticas ao governo

Chávez, principalmente no que se refere a essa centralização de poder no executivo.

As medidas adotadas pelo governo Chávez gerou forte polarização política e social

entre o chamado “chavismo” e a oposição. Esta, por sua vez, promoveu várias

tentativas para derrubar o presidente. Contudo, diante de uma oposição

desestruturada e fraca, Chávez saiu cada vez mais fortalecido, obtendo amplo apoio

das massas. A legitimidade de seu governo se acentuou, sobretudo, quando o mesmo

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criou as chamadas missões bolivarianas, políticas públicas com o objetivo de atender

a população que estava marginalizada no período anterior. O governo Chávez, neste

sentido, abriu caminhos para um novo cidadão, ou melhor, dizendo, um novo sujeito

político.

A partir deste cenário, o propósito deste artigo é analisar a democracia

venezuelana e sua relação com a dimensão de participação e a possibilidade de

empoderamento da sociedade civil durante o governo Chávez (1999-2013). Para

tanto, alguns conceitos são fundamentais: sociedade civil, participação e

empoderamento.

Como sociedade civil, buscamos mostrar que esta se distinguiu diante do

contexto político nacional e até mesmo internacional, à medida que estes

influenciaram na constituição dos atores e dos valores que compõem a sociedade civil.

Como afirma Sorj (2007, p. 60), “toda sociedade civil, é um fenômeno histórico e,

portanto, deve ser analisada empiricamente – e não deduzida de uma especulação

filosófica, tendência ainda em voga nas ciências sociais”. Neste sentido, retomamos

três características apontadas por Sorj (apud, Jacome, 2007, p. 201) sobre a

sociedade civil: 1) não há um modelo universal de sociedade civil, pois ela é diversa e

dinâmica; 2) Está constituída por uma diversidade de grupos de atores ou indivíduos

que interagem em espaços públicos e que surgem como uma alternativa às formas

tradicionais de representação política; 3) Está sujeita a um processo em andamento

que se dirige para a construção de valores coletivos para que a cidadania possa influir

mais através de sua participação em espaços públicos.

O conceito de participação é apresentado como uma dimensão sine qua non à

qualidade da democracia, que nos permite verificar quem é a sociedade civil e sua

relação com o Estado, bem como, uma variável que promove o empoderamento dos

atores sociopolíticos. Neste sentido, a participação é vista para além do voto. A

participação constitui o espaço político e social de atuação dos cidadãos para influir

nas decisões políticas, econômicas e sociais,

“tomando parte na vida dos partidos políticos e organizações

da sociedade civil, na discussão de questões de política

publica, na comunicação e na cobrança de responsabilidade

por parte dos representantes eleitos, na monitoração da

conduta pública dos governantes e no engajamento direto com

as questões públicas em sua comunidade local” (MORLINO,

2010, p.37).

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Para a análise da participação neste artigo, utilizaremos dois indicadores

apresentados por Levine e Molina (2007) que estende a condição mínima de

participar, quais sejam: 1) Número de oportunidades de votação que a população há

tido em um período determinado; 2)Participação em partidos ou organizações sociais.

No que se refere ao conceito de empoderamento, termo recente na ciência

política, é adotado aqui no sentido inglês de empowerment2, entendido como o

processo de expansão das capacidades dos cidadãos, em especial, os menos

favorecidos, para decidir, negociar, influir, controlar e participar de forma a obter

instituições responsáveis. Assim, o conceito de empowement vai muito além da

concepção de “dar poder”. A complexidade do conceito é demonstrada pela variedade

de termos que estão associados à ideia de empoderamento, como ““força pessoal”,

“controle”, “poder pessoal”, “escolha”, e ideias como “vida digna de acordo com os

seus próprios valores pessoais”, “capacidade de lutar por seus próprios direitos”,

“independência”, “tomada de suas próprias decisões” e “ser livre”” (DELGADO, 2008).

Seguindo a análise de Horochovski e Meirelles (2007, p. 486), podemos

aproximar o conceito de empoderamento à noção de autonomia, “pois se refere à

capacidade de os indivíduos e grupos poderem decidir sobre as questões que lhes

dizem respeito” e decidir sobre o curso de sua vida. O empoderamento, desta forma,

pode ser “resultante de processos políticos no âmbito dos indivíduos e grupos”.

Seguindo a análise de Romano e Antunes (2002, p47) podemos colocar a ideia de

empoderamento a partir de uma perspectiva que coloca as pessoas excluídas dos

processos prevalecentes de desenvolvimento e do poder (sua distribuição e exercício)

no centro do processo de desenvolvimento. Ou seja, o processo que possibilita o

empoderamento consiste naquele que as instituições econômicas (mercados) e as

políticas (Estado) são colocadas a serviço das pessoas e grupos sociais que vivem na

pobreza ou são excluídos do processo de desenvolvimento.

Uma breve análise dos conceitos de sociedade civil, participação e

empoderamento demonstra que os três estão intimamente relacionados, e no limite,

implicam no desenvolvimento e até na concepção de democracia. A participação da

sociedade civil é o elemento constitutivo das estratégias para a criação de um meio

favorável ao empoderamento.

Posto isso, a proposta deste artigo é demonstrar que a análise do governo

Chávez sobre o arcabouço teórico da relação democracia e sociedade civil se revela

imprescindível.

2 A ideia de empowerment começou como um elemento central nas políticas sociais de saúde

na Europa, Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia a partir de 1980. Na década de 1990, o conceito passou a ser utilizado em outras áreas (ver DELGADO, 2008).

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O artigo está dividido em duas seções, além desta introdução e das

considerações finais. Na primeira apresentamos o cenário que culminou no processo

de ruptura com a democracia do Pacto Punto Fijo3 e a ascensão de Hugo Chávez no

poder. Na segunda seção ponderamos sobre a democracia participativa e protagónica

de Chávez a partir dos conceitos de sociedade civil, participação e empoderamento.

Em seguida apresentamos as considerações finais.

II. O PROCESSO DE RUPTURAS E A CONSTITUIÇÃO DE UMA NOVA

HEGEMONIA

Para entender o governo Chávez se faz necessário apreender a ascensão do

mesmo no processo de rupturas e de construção de uma nova hegemonia. Para tanto,

apresentamos um breve panorama do período anterior ao governo Chávez e os

fatores que o levaram a presidência como candidato contra-hegemônico.

Durante o período que Huntington (1994) denominou de “Segunda Onda

Reversa” em que a maioria dos países Latino-americanos retornara ao autoritarismo4,

a Venezuela consolidava sua democracia. Esta, em conjunto com Colômbia e Costa

Rica, fora considerada um dos países mais institucionalizados da América Latina – um

exemplo de governabilidade democrática que conseguiu consolidar sua democracia

representativa.

A democracia venezuelana estava fundamentada no chamado “Pacto de Punto

Fijo” assinado em 1958 pelos partidos: Ação Democrática (AD), Comité de

Organización Política Electoral Independiente (COPEI) e Unión Republicana

Democrática (URD). O intuito era evitar possíveis golpes e insurreições tanto da

esquerda quanto da direita (O’DONNELL, 1988). Na concepção de Terry Karl (1988), a

estabilidade política venezuelana no período do pacto se deve ao modelo econômico

baseado nos ingressos fiscais petrolíferos do país5.

O fato é que a Venezuela constituiu o exemplo de “democracias pactuadas”,

em que as regras do jogo foram estabelecidas por um conjunto de compromissos

negociados por pactos entre os partidos, setores econômicos, alto comando militar e

setores da igreja. Os limites econômicos entre os setores público e privado foram

3 O pacto de Punto Fijo, conhecido também como período puntofijista ou IV República durou de

1958 quando da assinatura do pacto até 1998 com a eleição de Chávez. 4 Dentre os países que passaram por regimes ditatoriais nesse período de 1958-1975, destaca-

se o Peru em 1962; Brasil e Bolívia em 1964; Argentina em 1966, Equador em 1972; Chile e Uruguai em 1973. 5 O Petróleo constitui o principal produto da economia venezuelana, representando 75% das

exportações e da receita fiscal e em torno de 28% do Produto Interno Bruto (PIB). (Ver: CANO, 2002).

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institucionalizados, promovendo garantias para o capital privado e estabelecendo os

parâmetros da reforma socioeconômica (KARL, 1988).

De acordo com Rey (1998) o pacto puntofijista significou um “sistema populista

de conciliação de elites”, de representação semicorporativa que limitava o

“funcionamento dos mecanismos clássicos de participação e representação

democrática”, introduzindo “uma importante distorção em favor de grupos minoritários

e poderosos”. A Constituição de 1961, pilar da democracia desse período,

demonstrara que os cidadãos não possuíam responsabilidades, nem direito de

participar na orientação da vida pública e no processo de tomada de decisões

políticas. Isto porque o espaço público e a prática política pertenciam aos partidos

políticos, melhor dizendo, a dois partidos (AD e COPEI), os mediadores entre os

cidadãos e o Estado (GARCIA-GUADILLA, 2002).

Configurou-se durante o pacto um sistema bipartidarista entre AD e COPEI, os

quais apresentavam pouca mobilidade interna tanto dos partidos quanto das entidades

que se colocavam como representantes da sociedade civil, sem abrir espaço para a

participação6.

A análise do período da democracia pactuada na Venezuela demonstrou um

Estado elitista, pouco plural e pouco competitivo. A definição de O’Donnell sobre as

democracias pactuadas pode ser confirmada nos índices sociais venezuelanos do

período. De acordo com o autor,

la democracia pactada puede acrecentar las probabilidades de

que una comunidad determinada no vuelva a un gobierno

autoritario, pero tales logros no incongruentes parecen

tener serios costos en términos de equidad económica y

social (O’DONNELL, 1988, p. 24, grifo nosso).

Os valores e os fins da democracia venezuelana ficaram subordinados aos

acordos políticos de governabilidade e da conservação do sistema. Neste sentido, os

avanços sociais nunca se colocaram como prioridade nos governos puntofijista. A

democracia pactuada não apresentou como eixo a participação popular nos processos

decisórios. A ausência de mecanismos de participação popular constituiu, a nosso ver,

a raiz da sustentação do regime democrático no início dos anos 1960, como também

da crise do sistema político venezuelano no final da década de 1980 (FUKUSHIMA,

2010).

6 Vale lembrar que até 1989 não havia eleições para governadores. Estes eram escolhidos pelo

presidente. As eleições para prefeito não eram de forma direta e sim pelas próprias Câmaras Municipais (ver: GONZALEZ, 2008).

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Na década de 1980 a Venezuela, bem como, o restante da América Latina,

embora de maneiras distintas, sofreu profundamente os impactos do reordenamento

mundial e da globalização neoliberal.

Diante da crise econômica com a queda no preço do petróleo, o sistema

político começou mostrar suas falhas. Os lideres partidários perderam o mecanismo

utilitário – a renda do petróleo – que lhes permitia continuar mantendo pela via de

distribuição dos ingressos fiscais petrolíferos, um aparente consenso ao redor das

regras do jogo do sistema democrático (PENFOLD, 2001). Como a eficácia da política

do pacto de Punto Fijo estava intrinsecamente atrelada ao comportamento da

economia, este fato marcou o estopim para a crise política, econômica e social.

As reformas neoliberais que até então fora introduzida somente no Chile, Costa

Rica e Uruguai se generalizaram pelo continente sob o Consenso de Washington

(PACKER, 2003, P.86). Na Venezuela, não foi diferente, as políticas neoliberais foram

adotadas no segundo mandato de Carlos Andrés Peres em 1989, através do seu

programa “Agenda Venezuela” como forma de resolver as crises financeiras. Dentre

as medidas adotadas estava o ajuste fiscal, a privatização das empresas estatais, o

enxugamento da máquina administrativa do Estado, o aumento das tarifas dos

serviços públicos e redução dos subsídios. Tais medidas eram totalmente contrárias

ao apelo popular (VILLA, 2005, p. 156). Em um período de crise econômica, política e

social, a adoção de medidas neoliberais só fez aumentar o descontentamento de

quem mais sofria as consequências neoliberais: as massas.

Ao longo da década de 1990, a degradação social no país foi aumentando com

o aprofundamento das desigualdades e da pobreza (Gráfico 1), abrindo o espaço para

reações de diversos setores da sociedade venezuelana. A ampliação da pobreza foi

progredindo ao longo destes anos de crise chegando em 1999, a um total de 49,4%. A

taxa de indigência subiu de 14,4 em 1990, para 21,7% em 1999. Uma série de

protestos, por falta de água; aumento de passagens e problemas de infraestrutura

demonstrava a crise social. Os gastos sociais reduziram de 10,06% do PIB (Produto

Interno Bruto) em 1992, para 7,3% em 19967.

Segundo Contreras (2005), a década de 1990 foi marcada pelo agravamento

na conflitividade do político ao mesmo tempo em que se aprofundava a politização do

social.

7 Fonte: CEPAL – Base de dados sobre gasto social.

http://estadisticas.cepal.org/cepalstat/WEB_CEPALSTAT/perfilesNacionales.asp?idioma=e.

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Gráfico 1: População em Situação de Pobreza e Indigência em nível

nacional/Venezuela

Fonte: CEPAL (Informação revisada em 06/12/2012)

A representação do descontentamento dos venezuelanos com o sistema

político e, principalmente, com a adoção de medidas neoliberais foi à revolta

empreendida por setores pobres e médios, conhecida como Caracazo – ocorrida em

27 de fevereiro de 1989. De acordo com Lopez Maya,

A rebelião popular [...] foi um protesto violento e de massas,

perpetrada por uma sociedade que não contava com canais

idôneos para fazer-se ouvir e ser atendida pelas instâncias do

poder. Quando exteriorizou seu mal-estar contra a primeira

manifestação concreta do pacote macroeconômico ― ou seja,

o aumento das tarifas do transporte coletivo ― encontrou-se

em um espaço público sem controles. A multidão se voltou

então contra os estabelecimentos de comércio, como sempre

havia feito no passado ao ocorrer um vazio de autoridade

(LÓPEZ MAYA, 2009, p. 72).

A revolta foi duramente reprimida pela reação militar. Para Villa (2005), o

Caracazo foi o primeiro forte sintoma da instabilidade política do regime venezuelano

que tomou dimensões nacionais, constituindo o estopim para uma série de eventos

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que aprofundariam a crise política venezuelana, como a tentativa de golpe no início de

1992, protagonizada pelo então tenente-coronel Hugo Chávez. Diante da instabilidade

política, Carlos Andrés Pérez foi afastado do governo em 1993 sob a acusação de

corrupção. De acordo com Perry Anderson (1996), o fracasso neoliberal de Carlos

Andrés Perez pode ser explicado pelo fato de que a Venezuela, diferente da maioria

dos países latino-americanos, tinha uma democracia estável, ou seja, o país, dentre

poucos8, a escapar da ditadura da década de 1960. Neste sentido, diante de uma

cultura já democrática, não havia o medo do autoritarismo por parte da população

venezuelana, o que facilitou sua recusa às políticas neoliberais em busca de uma

política com um olhar mais social.

Frente a este cenário, a estabilidade democrática venezuelana se esvaiu. O

bipartidarismo entre AD e COPEI, que havia prevalecido durante a IV República,

perdeu sua legitimidade de tal forma que não mais conseguiram representatividade no

cenário político. Os resultados eleitorais, a partir de então, demonstravam o

denominado processo de desalineamiento eleitoral, isto é, o processo de quebra de

lealdades partidárias, também conhecido como processo de “voto castigo” (PENFOLD,

2001). Além disso, através dos índices de abstenção eleitoral verificava-se o

descrédito nas instituições. Em 19939, o percentual de abstenção foi de 39,84%,

demonstrando um aumento de 21,76% comparado ao pleito anterior de 1988. Tais

fatos, por sua vez, favoreceram a aparecimento de novas organizações partidárias e

dos denominados candidatos independentes.

O contexto não poderia ser mais favorável à ascensão daquele que já era

oposição desde 1992 aos atores puntofijista: Hugo Chávez. Segundo Wilson Cano

(2002, p.116), a “vitória de Chávez já era sintoma social de mudança da opinião

pública”.

Chávez conseguiu captar o contexto de seu país ao apresentar uma campanha

eleitoral com o que a maioria da população venezuelana queria ouvir. Com um

discurso de rupturas com a IV República e, logo, com os partidos tradicionais, bem

como, com a proposta de distribuição justa dos frutos do petróleo à população, Chávez

venceu as eleições de 1998 com 56,2% dos votos.

Ao assumir a presidência em 1999, Chávez através de Referendos convocou e

aprovou uma nova Constituição para o país. Esta, por sua vez, constituiu o marco de

ruptura com a democracia pactuada. A constituição de 1999 foi apresentada a

8 Colômbia e Costa Rica também não haviam passado por regimes ditatoriais neste período.

9 Vale lembrar que em 1993 foi abolido na Venezuela o voto obrigatório, o que explica

parcialmente o aumento da abstenção eleitoral neste ano.

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população como um novo ordenamento jurídico que permitiria o funcionamento efetivo

de uma democracia social e participativa.

Dentre as principais mudanças contidas na nova Constituição estão:

i) a modificação no nome do país de República de Venezuela para República

Bolivariana de Venezuela. Um primeiro olhar não veria nada de significativo nesta

modificação. No entanto, uma análise minuciosa apontaria para uma estratégia do

presidente Chávez em resgatar o símbolo nacional do povo venezuelano – Simon

Bolívar – e dar unidade a nação;

ii) A criação do Poder Cidadão que se estabelece em um controle nas mãos do

cidadão para fiscalizar a administração pública (Artigos 273-291);

iii) a Criação do Poder Eleitoral, que é exercido pelo Conselho Nacional Eleitoral

(Artigos 292-298). Neste, a sociedade civil, passou a ter o poder de postular-se como

membros do Conselho Nacional Eleitoral (LACRUZ, 2006, p.165);

iv) a utilização de plebiscitos e referendos;

v) a possibilidade de revogação de mandato popular na metade de seu período

através de referendo10 (artigo 72, da Constituição);

vi) a garantia de participação popular no procedimento de seleção e designação de

juízes e juízas (artigo 255-265);

vii) a expansão do sufrágio aos militares e, logo, a incorporação destes às políticas de

desenvolvimento, com a finalidade de garantir o fim de sua exclusão da vida nacional

(Artigo 330)11.

Marta Sosa (2002) explicita muito bem quando afirma que a Constituição de

1999 se constrói sobre um alicerce revolucionário que substitui o consenso pelo

conflito redentor, o único que poderia dar origem a consolidação de uma

governabilidade hegemônica não pactuada.

Frente às mudanças empreendidas por Chávez, os primeiros anos de seu

governo foram marcados por intensos conflitos com a oposição partidária, empresarial,

setores da classe media alta, entre outros. Esta, buscando manter o status quo vigente

durante a democracia pactuada promoveram várias tentativas para derrubar o

presidente do poder, incitando golpes, greves, paralisações e boicotes as eleições.

10

Este mecanismo foi utilizado pela oposição ao governo Chávez, que coletou assinaturas necessárias para convocar um referendo revogatório do mandato de Chávez. O referendo ocorreu em 15 de agosto de 2004, cujo resultado, deu a possibilidade de Chávez – com 59,09% dos votos – continuar seu mandato. 11

Vale lembrar que não está permitido aos militares se candidatar a cargos públicos ou participar de atos de propaganda, proselitismo ou militância.

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Esse cenário demonstrou forte polarização política e social entre oposição e os

“chavistas”.

O fato é que a oposição ao governo estava visivelmente desestruturada. E a

cada ação de deslegitimar o governo era seguida de vitória expressiva do presidente,

como se pode verificar no resultado do referendo revogatório realizado em 2004 que

consultava sobre a permanência de Chávez no poder, obtendo 59,1% dos votos

favoráveis. Após o período mais conturbado com a oposição (1999 – 2004), a

popularidade de Chávez se tornou ainda mais evidente quando seu governo, através

das chamadas missões bolivarianas, apresentou uma série de políticas públicas que

privilegiavam as bases sociopolíticas.

A conclusão inicial sobre a ascensão de Chávez nos mostra que é inegável a

ruptura com a democracia pactuada. Hugo Chávez, através do que o mesmo

denominou de democracia participativa e protagónica, estabeleceu na sociedade

venezuelana uma nova hegemonia. Neste sentido, a ascensão de Chávez expressou

a passagem da democracia pactuada, caracterizada por um estado mínimo que se

isenta de seu papel garantidor de direitos, para a democracia participativa, cujo debate

sobre sociedade civil, participação e capacidade decisória dos cidadãos se tornou

central nos discursos presidenciais, no projeto político chavista e nas discussões

acadêmicas.

III. A DEMOCRACIA PARTICIPATIVA E PROTAGÓNICA: SOCIEDADE CIVIL,

PARTICIPAÇÃO EMPODERAMENTO

Na seção anterior explicitamos que a ascensão de Chávez em 1998

representou a construção de uma nova hegemonia. De acordo com a perspectiva

gramsciana a luta pela hegemonia ocorre através e pela sociedade civil. Para tanto,

esta deve ser conquistada antes, durante e depois da conquista do poder.

Chávez conseguiu entrar no imaginário dos venezuelanos, logo após o

fracasso do golpe que havia liderado em 1992, quando se pronunciou para que seus

companheiros depusessem as armas.

[...] Lamentablemente, por ahora, los objetivos que nos

planteamos no fueron logrados en la ciudad capital [...].

Compañeros: Oigan este mensaje solidario. Les agradezco su

lealtad, les agradezco su valentía, su desprendimiento, y yo,

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ante el país y ante ustedes, asumo la responsabilidad de

este movimiento militar bolivariano12.

Ao assumir a responsabilidade (“asumo la responsabilidad”) e mostrar que

ainda não havia desistido de lutar pelo poder (“por ahora”), Chávez demonstrou um

diferencial em relação aos atores tradicionais que não se responsabilizavam de seus

erros. O discurso de Chávez se tornou um referencial e ele ficou conhecido por toda

Venezuela como o líder da revolução bolivariana. Como afirma Garcia Marquez (2000)

o discurso da derrota constituiu o primeiro da campanha eleitoral à presidência de

1998. Não podemos negar que a comunicação de Chávez consistiu uma variável

significativa na relação com a sociedade venezuelana (FUKUSHIMA, 2008).

O fato é que a partir do cenário político, econômico e social da Venezuela,

Chávez através de um discurso de rupturas constituiu na força necessária para a

solução da crise no país e com isso podemos afirmar que o mesmo já havia

conquistado a sociedade civil antes mesmo das eleições. Quando Chávez assumiu o

poder em 1999 com um discurso de proximidade com os cidadãos venezuelanos e se

utilizando do aparelho estatal, conseguiu difundir sua ideologia bolivariana, ampliando

o apoio das massas e consolidando a hegemonia chavista.

No entanto, é importante ressaltar que a sociedade civil conquistada por

Chávez não é a mesma da IV República, melhor dizendo, a concepção de sociedade

civil existente no governo Chávez se distingue daquela presente no período do pacto

de Punto Fijo.

No período anterior ao governo Chávez a concepção de sociedade civil era

restrita tendo uma relação semicorporativa com o estado. Esta, chamada de

“sociedade civil organizada” se colocava como representante da população. No

entanto, sua configuração aproximava-se da definição de sociedade civil do período

neoliberal como sinônimo de Organizações não governamentais (ONGs) e do Terceiro

Setor que atuavam muitas vezes junto ao governo, a exemplo da CTV (Central de

Trabalhadores da Venezuela) que estava vinculada ao partido Ação Democrática. Sua

participação, utilizando as palavras de Dagnino (2004) quando discorre sobre a

sociedade civil do período neoliberal, era reduzida à ideia de gestão. E o “direito a ter

direito” reduzido ao assistencialismo. Nesta visão, “tornar-se cidadão” significava “a

integração individual ao mercado, como consumidor e como produtor” (DAGNINO,

2005, p58).

Todavia, no final da década de 1980, com a crise política e econômica, surgiu

uma série de atores políticos e sociais, organizações e movimentos com demandas

12

Palavras do Tenente-coronel Hugo Chávez em 04 de fevereiro de 1992 pela televisão. Disponível em: http://www.analitica.com/Bitblio/hchavez/4f.asp

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13

por maior participação cidadã. As manifestações por parte desses novos atores

demonstraram a ausência de canais de participação. A relação entre Estado e

sociedade “apenas por meio dos mecanismos corporativos, fez com que grande parte

desta encontrasse apenas na chamada “política de calle” os mecanismos para se

expressar” (FUKUSHIMA, 2010, p. 54).

Com a ascensão de Chávez, podemos afirmar que houve uma resignificação

da sociedade civil na ideia de povo. Ou seja, esta passou a ser entendida, não só a

partir das ONGs e de alguns setores que se convencionou chamar de sociedade civil

organizada na democracia pactuada, mas sim pela pluralidade da população

venezuelana, à medida que os atores sociais que a compõe não necessitavam

demonstrar suas bases de representação, senão seus argumentos no debate sobre

políticas públicas.

A sociedade civil, na concepção chavista se contrapõe a ideia de sociedade

civil como uma forma em que os cidadãos (isolado no civil e no político pela

concepção liberal de cidadania) elevam a demanda e a realização plena de seus

direitos, ou como núcleos de demandas pela reinterpretação dos direitos, com o

objetivo de resignificar a relação entre estado, mercado e cidadão. (GÓMEZ

CALCAÑO, 2005). No discurso do governo Chávez, a sociedade civil é apresentada

como o povo soberano, composta por sujeitos ativos e não puramente por indivíduos

determinados pela necessidade representada no mercado. Segundo a tipologia de

Gómez Calcaño (2005: 320), a sociedade civil venezuelana da era Chávez se

enquadraria no tipo “cívico-política”, “que querem trabalhar a partir do público e por

interesses coletivos”.

Chávez a partir da Constituição de 1999 conferiu à sociedade civil o papel de

protagonista da democracia, à medida que a participação ganhou caráter popular.

Mecanismos de participação, como participar de cargos públicos; de referendos; de

consultas populares; de revogação de mandatos; de iniciativas legislativas,

constitucionais e assembleias de cidadãos estavam inseridos no texto constitucional

de 1999. A própria convocação da Assembleia Constituinte foi através de consulta

popular. Esse reconhecimento jurídico foi de fundamental importância “desde a

perspectiva do direito à legítima autonomia frente ao Estado e frente aos poderes

econômicos” (ESPAÑA e PONCE, 2007, p. 443).

De acordo com a análise de España e Ponce, boa parte da população

venezuelana confirmou que o governo Chávez ativou a participação.

61% opina que es a partir de la llegada de Chávez al poder que

la participación aumentó y 47% considera que hoy se participa

más que en el pasado. Pero además, al ubicar a los

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14

entrevistados en prospectiva, la mayoría aprecia que este

proceso de participación va a continuar de cara al futuro,

vislumbrándose la posibilidad de lograr cierta independencia

con respecto a la figura presidencial, quien sin duda lo ha

impulsado. (ESPAÑA e PONCE, 2007, p. 445-446)

A Constituição de 1999 consolidou, dessa forma, uma nova democracia, cujo

sujeito é a sociedade civil em seu sentido plural, composta por cidadãos – agentes13,

ou seja, por sujeitos políticos portadores de capacidade decisória. “Os cidadãos e a

sociedade civil enquanto tais influem com base na deliberação e na decisão, na

direção do Estado” (PERAZA, 2008).

É notório que o governo Chávez caminhou com o aprofundamento da

participação, não só através dos mecanismos constitucionais, mas também através de

seu poder de convocatória à participação. No período de 2002 a 2004, a partir de um

cenário de conflito e polarização entre o governo e a oposição, produziu-se a

politização da sociedade e uma intensa mobilização dos cidadãos. A polarização se

estendeu para o social configurando uma sociedade civil “chavista” e outra “não-

chavista”. Segundo Gomes Calcaño, a diferença fundamental entre as duas está no

processo organizacional.

Si la primera [sociedade civil “chavista”] muestra un rápido

crescimiento, basado en la indudable popularidad del

presidente y las esperanzas que despierta, amén de los

considerables recursos que le proporciona el presupuesto

público, parece no haber encontrado aún sus formas maduras

de organización y articulación, como muestra la proliferación de

ensayos organizacionales en los más diversos espacios: lo

electoral, lo cultural, lo territorial, lo social, lo productivo, lo

comunicacional y hasta lo militar. La segunda [sociedade civil

“não-chavista”], claramente minoritaria desde el punto de vista

cuantitativo, tiene a su favor la experiencia de funcionar como

red de organizaciones institucionalizadas, algunas con varias

décadas de acción continua, sin depender de un gobierno en

particular (GOMEZ CALCAÑO, 2005: 332-333).

13

A ideia de cidadão-agente é descrita por O’DONNELL (2011).

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15

Com o aparecimento de novos grupos desenvolveu-se um alto grau de

participação no debate político. Como mostra os dados do Latinobarómetro (Tabela 2),

verificamos que a política passou a ser discutida por um maior número de

venezuelanos, comparado ao período anterior.

Tabela 2: Frequência com que fala de política

Frequência

com que se

fala de política 1995 1996 1997 1998 2000 2003 2005 2006 2007

Muito

frequentemente 4,0% 5,2% 8,0% 18,3% 8,9% 17,5% 12,8% 21,8% 13,0%

Frequentemente 19,6% 22,9% 19,2% 26,5% 27,8% 21,2% 20,4% 27,1% 34,4%

Quase nunca 35,9% 42,7% 40,5% 33,2% 36,8% 34,4% 32,2% 24,8% 37,5%

Nunca 35,9% 42,7% 40,5% 33,2% 36,8% 34,4% 32,2% 24,8% 37,5%

Fonte: Latinobarómetro

Neste período, surgiram os fenômenos das marchas: de um lado, a oposição

composta por partidos e setores da classe média marchava contra o governo. Do outro

lado, encontravam-se as marchas dos chavistas, que procuravam mostrar força e

defender a revolução bolivariana (JÁCOME, 2007, p203). A partir de então as marchas

pró e contra o governo foram vistas pela maioria dos venezuelanos como normais à

democracia. De acordo com a base de dados do Latinobarometro14 de 2008, 69,30%

dos entrevistados consideravam as marchas, bem como protestos e manifestações

nas ruas, indispensáveis para que as demandas fossem ouvidas. De acordo com o

informe de 2013 do Latinobarómetro15, a média da América Latina no que se refere ao

interesse pela política é de 28%. No entanto, quando se observa os países latino-

americanos vê-se que o interesse se distribui desigualmente, sendo 49% na

Venezuela (taxa mais alta) e 17% no Chile (taxa mais baixa). O que mostra que o

interesse pela política é mais intenso na Venezuela do que no restante dos países

latino-americanos.

O governo, ao implementar as missões bolivarianas, programas sociais que

atendiam as classes marginalizadas, ampliou ainda mais seu apoio popular. Em 2006

o governo chavista criou o “Parlamento de Calle”, com a finalidade de promover a

discussão de projetos de lei em assembleias organizadas pela Assembleia Nacional.

14

Fonte: http://www.latinobarometro.org/latino/LATAnalizeQuestion.jsp. 15

http://www.latinobarometro.org/documentos/LATBD_INFORME_LB_2013.pdf

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16

No caso venezuelano, a partir da Lei dos Conselhos Comunais

de 2006 foram criadas unidades políticas menores que os

municípios, compostos por pelo menos 10 famílias em áreas

indígenas, 20 em áreas rurais ou entre 200 e 400 em áreas

urbanas e que recebem recursos orçamentários próprios e

devem decidir em assembleias cidadãs abertas a destinação

de recursos, a execução de obras e a gestão comunal

(FLORES et al, 2010).

Segundo Chávez (2006), o parlamento de calle facilitou “la catalización de la

comunidad, y la comunidad participativa, no la comunidad objeto sino la comunidad

sujeto”.

As experiências, através da adoção de mecanismos de democracia

participativa16 por parte dos novos governos latino-americanos, parafraseando

Dagnino (2004), “expressam e contribuem para reforçar a existência de cidadãos-

sujeitos e de uma cultura de direitos que inclui o direito a ser co-participante em

governos locais”. Podemos observar que a participação da população venezuelana em

reuniões comunais ou em grêmios aumentou de 23,2% em 2002 para 37% em 200817,

demonstrando a percepção dos cidadãos quanto à importância de sua participação

para a resolução dos problemas em suas comunidades.

No que se refere ao número de oportunidades de votação que a população

venezuelana há tido durante o governo Chávez, podemos afirmar que pela quantidade

de processos eleitorais as oportunidades para participação nos processos decisórios

foram intensas. Dentre o período de 1999 a 2012 foram em média 15 processos

eleitorais (entre eleições presidenciais, parlamentares, regionais e municipais), e seis

referendos nacionais, além da realização de referendos locais, primárias no Partido

Socialista Unido de Venezuela (PSUV) e eleições para eleger candidaturas locais e

regionais (2008) na aliança de oposição Mesa de Unidad Democrática (MUD).

De acordo com a análise de Levine e Molina (2012), ao comparar a

participação em organizações políticas no ano de 2005 e de 2010, se observou um

aumento de 4,7%. Também se observou uma melhoria no comparecimento às urnas

neste mesmo período. Com base nas eleições presidenciais de 2000 o

comparecimento foi de 56,3% e em 2010 foi de 69,1%. Os autores afirmam que esse

aumento reflete a mobilização por parte do governo nacional, a partir de 2004, para

16

Citamos como mecanismos de democracia participativa os Conselhos Populares, o Orçamento Participativo – no caso do Brasil e, a utilização de referendos e plebiscitos. 17

Dados do Latinobarómetro.

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17

incorporar novos eleitores no registro eleitoral e aumentar a participação eleitoral dos

setores economicamente desfavorecidos.

O governo Chávez, tanto no discurso como no projeto político, se caracterizou

pela reivindicação da participação popular como elemento da democracia. “A

democracia para esta perspectiva se define em primeira instancia por seus fins, no

sentido de perseguir a igualdade entre todos os membros de uma sociedade. Tal

igualdade requer participação de todos”. (PERAZA, 2007, p. 442). A ênfase do

governo no âmbito social, através das missões bolivarianas, promovendo justiça

social, bem como, na criação de canais de participação nos permite apontar que as

consequências dessas políticas, mesmo que em muitas delas se questione a

cooptação de movimentos e organizações sociais por parte do governo, caminham

para a possibilidade de empoderamento dos cidadãos venezuelanos.

De acordo com Horochovski e Meirelles (2007, p. 486-487), o empoderamento

dos cidadãos depende “da promoção de direitos de cidadania que propiciem,

principalmente, aos estratos de menor status socioeconômico a ampliação do que Sen

(2000) denomina liberdades substantivas”. Nesta mesma linha de pensamento,

O’Donnell (2011: 218) assevera que:

(...) sejam quais forem os direitos civis obtidos, podem converter-se

em apoio importante para uma democratização mais completa, [...].

Os direitos civis não só protegem, mas também empoderam ao dar

oportunidades para a obtenção de outros direitos. Os direitos civis

tornam possível (mas reconheço, apenas possível) para diversos

atores coletivos e individuais definir autonomamente sua identidade e

interesses, ajudados pelos direitos e liberdades que um regime

sanciona.

Neste sentido, democracia da era Chávez, ao promover um governo com

equidade, atendendo especialmente às bases sociais, antes marginalizadas, e

estimulando a participação popular nos processos decisórios apresentou a

possibilidade de empoderamento da sociedade civil venezuelana. Como afirma

Briceño (2007, p. 461), “es irreversible el empoderamiento de amplios grupos

poblacionales que a través de lo formal o informal, de lo simbólico o racional, dejaran

de ser súbditos para ser rectores de su propio destino”.

O fato é que os canais de participação criados pelo governo Chávez cria

possibilidades de empoderamento dos cidadãos. Estes empoderados se tornam

verdadeiros cidadãos-agentes, o que os coloca na posição de sujeitos da democracia.

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IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A democracia participativa e protagónica de Hugo Chávez, respaldada na

Constituição de 1999, teve como pano de fundo a especificidade de sua participação

em um processo de rupturas com a democracia pactuada do denominado período do

Pacto de Punto Fijo. Neste sentido, a democracia chavista representou a construção

de uma nova hegemonia, em que o principio de participação foi consagrado.

Para além das críticas a centralização de poder na figura do presidente, é

inegável a relevância dada pelo projeto político do governo chavista à dimensão social

e participativa. Entendemos que o governo Chávez estimulou a constituição de

espaços de participação e deliberação para sociedade civil. Neste sentido, é possível

afirmar que a esfera pública comunicacional, vem se constituindo como categoria

relevante para o estudo da democracia na era Chávez.

Ao promover uma democracia mais social e participativa, o governo Chávez

reposicionou o debate em torno de três conceitos essenciais para o entendimento da

democracia, quais sejam: sociedade civil, participação e empoderamento. A sociedade

civil venezuelana foi resignificada na ideia de cidadãos-agentes, protagonista da

história social, econômica, cultural e política. A participação em um sentido plural ou

popular se tornou o eixo da democracia. Como consequência desta resignificação,

podemos afirmar que o governo Chávez criou condições favoráveis para o processo

de empoderamento dos cidadãos venezuelanos. Isto porque entendemos que o

processo de empoderamento dos cidadãos está diretamente vinculado a promoção de

equidade e participação.

Embora, conceito de empoderamento tenha sido pouco utilizado na ciência

política como uma dimensão de análise, a partir deste estudo, verificou-se a

necessidade de estudos que verifiquem a possibilidade de se medir o grau de

empoderamento da sociedade civil nas democracias contemporâneas. Santos e

Avritzer (2002) afirmam que a democracia participativa constitui uma das principais

formas por meio das quais a emancipação social está sendo reinventada no inicio do

século XXI. Complementando a análise de Avritzer, a nosso ver, a democracia da era

Chávez, constitui em um dos casos mais paradigmáticos para pensar e avaliar os

conceitos de participação e empoderamento da sociedade civil.

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