Democracia Antiga e Democracia Moderna Moses FinleyTradio da Democracia Grega,de Vidal-NaquetA democracia ateniense no era mais, no sculo 5, nem violenta, nem ativista. da falta de conscincia cvica dos seus concidados, da sua passividade que reclama Demstenes.

O raciocnio que sustenta a anlise de Claude Lefort radicalmente oposto quele de J. Freund. Certamente nem tudo poltico, mas existem em todos os nveis uma presena do poltico e da deciso.

M. Finley reservado quanto ao uso que pode ser feito da antropologia das sociedades sem escrita no que diz respeito Grcia antiga, desde que esta se torna uma sociedade letrada, e de maneira mais forte a propsito das sociedades modernas, esta historiador trabalhou a eleiminar da histria antiga os modernismo vergonhosos ou confessados que se dissimulam sob a mascara da erudio. O atelie que tranalhava o pai de Demostenes no tinha nada que ver com uma empresa moderna

Desde o sculo XIX se considera como o episdio fundador da democracia ateniense a reforma de clistenes em 508 a.C., a criao das dez novas tribos substituindo as quatro tribos gentilicas num espao cvico inteiramente reconstrudo.

A instalao ao centro da histria grega da democracia ateniense do V sculo como democracia obra do liberalismo burgues da primeira metade do XIX sculo, e principalmente, para ser preciso, do radicalismo ingls. Fato caracterstico, a reforma de Clistenes se torna, no o que ele foi, o que ele era em Aristteles, mas o evento matriz da democracia.

Nas Suplicantes pela primeira vez, nos textos que dispomos, as duas palavras que mais tarde formaram a democracia, demos e kratos, povo e poder, potencia, se encontram reunidas. Dos escravos que asseguram a organizao material da assemblia do povo, no dito nada, e este silencia funda a possibilidade da palavra poltica.

Uma inveno grega: a democracia, de Vidal-NaquetFalar da Grecia antiga, e mais particularmente de Atenas, a propsito da inveno da democracia, no significa despreza algum por outras cidades frefas ou pelas democracias tribais. Porm, se buscaria em vao no mundo fencio, numa cidade fencia como Sidnia, para a qual os primeiros testemunhos remontam primeira metade do sculo XIV, o que quer que seja que se assemelhe a uma atividade poltica.

A cidade nasce sobre os escombros de um tipo de monarquia outrora chamada de asitica - que a Grcia conheceu de modo marginal, mas que, de toda forma, conheceu. vo buscar um agrupamento de cls ou de genes nas origens da cidade. Ao contrrio, a atividade comunitria poltica que produz a ideia da comunidade de sangue, tal como se exprime nas phyli, que chamamos erroneamente de tribos, e nas frtrias(phratrai) que s tem ancestrais comuns metaforicamente.

Cidade de Atenas evocando, por sua Constituio, no apenas seu presente, mas o seu futuro: esse ai (sempre) que, para alm dos cidados e magistrados de hoje, compromete os magistrados e os cidados de amanh. Assim como o rei medieval ou moderno, a cidade democrtica no suscetvel de morrer O rei est morto, viva o rei!

O demos ateniense se distingue do dmos lacedemonio em dois pontos: abrange, se no todos os camponeses, alguma parte deles; abrange se no todos os cidado, pelo menos alguns.

O que est em jogo em Atenas, entre Slon e Clstenes: I - ao classificar os atenienses segundo a fortuna, ao por frente da cidade os que colhem quinhentos mdimnoi de trigo, Slon permanece, seguramente, no quadro de uma sociedade agrria, mas rompe com o princpio de uma sociedade nobiliria. II Aps a seiskhteia, o alvio da erra, o repatriamento dos atenienses exilados e que haviam esquecido a tica, no mais possvel ser ateniense e viver na servido. Independentemente do modo como interpretemos o estatuto dos ektemrio( arrendatrios), inevitvel concluir que, depois de Slon, no h mais camponeses dependentes na tica. O segredo do sucesso de Atenas o campones livre, o campons cidado.

O arteso o heri secreto da histria grega, um heri secreto. Da medicina Acrpole de Atenas, todas as grandes realizaes da civilizao grega se devem a esses especialistas que os filsofos como Plato ou as cidades guerreiras como Esparta ou oligrquicas como Tebas fingiam desprezar e desqualificavam politicamente.

O progresso na histria tem preo: se a constituio democrtica de Atenas um passo adiante em relao ao regime de Esparta ou Tebas, preciso dizer que este progresso foi pago ao preo da excluso das mulheres, dos estrangeiros, dos escravos, sem falar dos jovens, excludos provisoriamente. A constiuio da categoria dos cidados se fez s expensas dos estrangeiros e dos escravos. A liberdade e a escravido andaram de mos dadas. A constituio da escravido-mercadoria foi, sem dvida, o preo da libertao dos camponeses.

A integrao dos camponeses e dos artesos, do povo mido das cidades, implicou a constituio de um povo novo, repartido em dez phyli novos, misturando sabiamente gente da cidade, do interior e da costa.

O misthi, gratificaes de funo, concedidas sucessivamente aos magistrados, aos bouleuti aos juzes e aos simples cidados que assistiam s sees da ekklesa, foram as duas inovaes capitais da democracia atenienes.

O sistema democrtico significa deixar aos ricos as suas riquezas, mas de modo com que os ricos sustentem os pobres e que estes decisam em ltimo recurso.

Atenas, segundo Herdoto(V,78), logo aps a reforma de Clstenes, aparece em prosperidade no por conta da igualdade abstrata, mas da isegora, o direito legal palavra, esse par da isonomia, o direito legal elaborao e recepo da lei, que foram os primeiros nomes da democracia.

Lao fundamental entre a democracia e o imperialismo, que foi percebido pelos partidrios e pelos adversrios da democracia.

Dirigentes e Dirigidos:Fato contemporneo: indiferena e ignorancia da maioria dos eleitores das democracias ocidentais.

Os tericos polticos da antiguidade examinavam as diversas formas de governo de maneira normativa a fim de encontrar o justo, um fim moral na sociedade e a vida boa. Os modernos evitam os fins ideias colocando o acento sobre os meios, a eficcia do sistema poltica, seu poder de paz e de abertura.Os fins ideias so uma ameaa. Distino entre liberdade negativa e positiva. A positiva, segundo eles , ameaa todos os homens e se torna justificativa para coero de homens sobre outros.

Na antiguidade, os intelectuais desaprovavam majoritariamente a democracia e o governo popular. Na atualidade, seus homlogos majoritariamente a reconhecem como a melhor forma de governo, porm admitem que os principios pelos quais tradicionalmente ela foi justificada no so operatrios nos fatos e que no podemos deix-lo operarm se queremos que a democracia sobreviva teoria elitista foi desenvolvida na Inglaterra e nos EUA.

Democracia uma palavra grega. A segunda metade significa poder ou governo, assim a autocracia o governo de um s homem; aristocracia, dos aristoi,os melhores; a democracia, o governo do demos, o povo. Demos uma palavra de muitos significados: o povo em seu conjunto(o corpo dos cidados) e a plebe( as classes inferiores) e os debates tericos antigos muitas vezes os colocam voluntariamente de maneira ambgua.

O perigo inerente democracia, para Aristteles, era que o governo pelos pobres degenera em governo no interesse dos pobres para Aristteles um bom governo o que visa o bem geral.

Foram os gregos que descobriram a democracia, mas tambm a poltica: a arte de se tomar decises graas discusso publica, depois de obedecer a estas decises como condio necessaria para uma existncia social civilizada. Os gregos foram os primeiros a refletir sistematicamente sobre a realidade poltica, a observar, a descrever, a coment-la e a formular teorias politicas

Dois argumentos so alegados para dizer que a experiencia grega no tem nada que ver com hoje em dia:Complexidade maior da atividade governamental moderna, o que levaria necessidade de tcnicos governamentais ao invs de polticos Atenas utilizou tambm tcnicos e experts, mas as decises eram tomadas pelos dirigentes polticos.

O demos ateniense era uma elite minoritria da qual uma importante populao servil era excluda. Porm, estamos longe de dar conta da estrutura social de atenas por esta repartio

A populao ateniense ocupava um territrio de quase 2650 kilometros quadrados, o que daria praticamente o tamanho do gr-ducado de Luxemburgo. Em nenhum momento do 5 ou 4 sculo mais da metade desta populao foi urbana, dividida entre a cidade de Atenas e o porto de Pireu. Em realidade, cerca de 1/3 desta populao somente era urbana, o restante vivia em vilar como Acharnes, Maratona e leusis, no em fazendas isoladas.

O nmero de cidados adultos no ultrapassa 40 ou 45 mil, por volta do sculo V aC.

A Atenas antiga era o modelo de uma sociedade face-a-face, que nos familiar na comunidade universitria, mas nos desconhecida em escala nacional.

O mundo grego era um mundo da palavra, no da escritura. Era um mundo sem midia de massa e sem midia, por certo.

A democracia ateniense era direta: cada cidado era livre para assistir a assembleia soberana e no havia nem burocracia nem funcionarios, com exceo de alguns comissionados, escravos que o Estado possua, que conservavam os servios indispensveis, copias de tratados e leis, listas de contribuintes em dbito e documentos analogos.O governo era assim, restritivamente, um governo para o povo.

A assembleia decidia em ltima instncia a guerra e a paz, os tratados, as finanas, a legislao, as reformas publicas toda gama de atividades governamentais. Era uma grande reunio ao ar livre, constitudo por mais de mil cidados com mais de vinte anos. Reunia-se no minimo 40 vezes por ano e decidia sobre a ordem do dia em uma s jornada de debates, na qual, em princpio, todo homem tinha direito de palavra. A deciso era tomada por maioria simples dos presentes.

Isgoria direito para todos de falar na assembleia, era algumas vezes empregado por autores gregos como sinonimo de democracia

As tarefas governamentais, administrativas, eram repartidas em um grande numero de cargos anuais e um Conselho de 500 membros, escolhidos por sorteio e por uma durao limitada de um ou dois anos, excelo do Estado maior de dez generais e pequenas comisses ad hoc, como embaixadores.

A seleo por sorteio e o pagamento pela participao num cargo pblico foram os aspectos mais importantes do sistema. As eleies para os gregos, o exemplo Aristteles, so aristocrticas: introduzem um elemento de escolha deliberada, de seleo dos melhores cidados, os aristoi, no lugar do governo pelo povo.

Se os gregos, no caso de Pricles, reconheciam a necessidade de uma direo, eles no abandonam o seu poder de deciso. Por isso suas proposies eram votadas semana aps semana e a assembleia podia decidir abandonar a ele e a sua poltica.

O povo possua a eligibilidade necessria para ocupar os cargos e o direito de eleger os magistrados, mas tambm o direito de decidir em todos os domnios da poltica de Estado e o direito de julgar, constituir tribunal em todas as causas importantes, seja publica ou privada, civil ou militar. A concentrao da autoridade na assembleia, a fragmentao e o carater rotativo dos postos administrativos, a escolha por sorteio, a ausencia de burocracia paga, os juris populares, tudo isso contribuia a impedir a criao de um aparelho de partido e, por via de consequncia, uma elite poltica institucionalizada.

Dispositivos institucionaisOstracismo um homem que a influencia era julgada perigosamente excessiva podia ser exilado por dez anos sem perder seus bens ou status de cidado. Repousa sobre o temor da Tirania

Graph paranomon um homem podia ser acusado e julgado por haver proposto uma proposio ilegal assembleia. A soberania da Assembleia era sem limites: durante um breve lapso de tempo, ao fim da guerra do Peloponeso, a Assembleia foi levada votar a abolio da democracia mesmo. Porem, qualquer um que exercia seu direito fundamental de isegoria, corria o risco de uma condenao severa por uma proposio que ele tinha tido o direito de fazer,mesmo se a proposio tivesse sido adotada pela Assembleia. Esse instituto chegando a uma condenaao tinha por efeito a anulao de um voto positivo da assembleia graas ao veredito do Povo, no de um Tribunal constitucional, como nos dias de hoje. Se o nosso sistema protege a liberdade dos representantes graas aos privilgios parlamentares, estes protegem tambm a irresponsabilidade dos parlamentares. Nos gregos, o instituto protegia a liberdade da Assembleia em seu conjunto e aquela de seus membros tomados individualmente recusando a eles a imunidade.Suas funes:moderar a isegoria pela disciplina

dar ao povo a possibilidade de reconsiderar uma deciso tomada por ele mesmo.

Os gregos no desenvolveram uma teoria da democracia. Os filsofos a atacavam. Os democratas engajados respondia ignorando os ataques e se ocupando dos negcios governamentais e da poltica de maneira democrticas, sem escrever tratados sobre o assunto.

Segundo Finley, foi o senso de comunidade, fortificado pela religio de Estado, os mitos e as tradies, o responsvel principal do sucesso da democracia ateniense. O controle de si no corpo dos cidado para manter todos nos justos limites comportamentais. O que no se confunde com a apatia necessidade da Paideia para isso, educar o povo