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Considerações sobre a Demanda e a Evasão Escolar na Universidade Federal de Juiz de Fora José Geraldo Teixeira* O PROBLEMA O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensáo - CEPE - da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF aprovou, atravh da Resolução NG 22/85, proposta da Comissão Permanente do Vestibular - COPEVE extinguindo a ohngatoriedade da Prova de Conhecimentos Gerais-Eiimi- natória do Vestibular para os cnmos de demanda inferior a 3 (três) candidatos por vaga. O objetivo desta medida foi o preenchimento de maior número de vagas destes cursos por alunos de primeira opção, evitando-sc a atual ociosidade de vagas gerada pela infreqü€ncia dos alunos que nelcs se matriculam em segunda ofião. Acredita-se que os alunos de segunda op<.áo, não se interessando pelo curso, matriculam-se nas disciplinas mas não freqüentam as aulas, congestionando os serviços administrativos e acarre- tando distorçóes nas estatísticas escolares. Parece-nos que a evasão evidente nas folhas de aproveitamento escolar das disciplinas dos cursos de baixa demanda merece uma análise mais aprofundada, não sendo adequado atribuir-se A segunda opção toda a responsabilidade na questão e muito menos a extinção da prova eliminatória do vestibular o caráter de solução para o fato em si. O SIGNIFICADO DA PROVA ELIMINATÓRIA A exist€ncia de prova eliminatúria no concurso vestibular visa a garantir que o estudante * Professor Adjunto da Faculdade de Educa$%% e do Instituto de Ciências Biol6gicas e Geociencias da UFJF. 149

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Considerações sobre a Demanda e a Evasão Escolar na Universidade Federal de Juiz de Fora

José Geraldo Teixeira*

O PROBLEMA

O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensáo - CEPE - da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF aprovou, atravh da Resolução NG 22/85, proposta da Comissão Permanente do Vestibular - COPEVE extinguindo a ohngatoriedade da Prova de Conhecimentos Gerais-Eiimi- natória do Vestibular para os cnmos de demanda inferior a 3 (três) candidatos por vaga.

O objetivo desta medida foi o preenchimento de maior número de vagas destes cursos por alunos de primeira opção, evitando-sc a atual ociosidade de vagas gerada pela infreqü€ncia dos alunos que nelcs se matriculam em segunda ofião.

Acredita-se que os alunos de segunda op<.áo, não se interessando pelo curso, matriculam-se nas disciplinas mas não freqüentam as aulas, congestionando os serviços administrativos e acarre- tando distorçóes nas estatísticas escolares.

Parece-nos que a evasão evidente nas folhas de aproveitamento escolar das disciplinas dos cursos de baixa demanda merece uma análise mais aprofundada, não sendo adequado atribuir-se A segunda opção toda a responsabilidade na questão e muito menos a extinção da prova eliminatória do vestibular o caráter de solução para o fato em si.

O SIGNIFICADO DA PROVA ELIMINATÓRIA

A exist€ncia de prova eliminatúria no concurso vestibular visa a garantir que o estudante

* Professor Adjunto da Faculdade de Educa$%% e do Instituto de Ciências Biol6gicas e Geociencias da UFJF.

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universitano tenha um nível mínimo de conhecimentos, adquirido ao longo dos seus estudos de 12 e 29 graus.

Apesar de não ser simpática a figura do vestibular como eixo central de todo o sistema edu- cacional bradeuo, não se pode deixar de reconhecer a enorme influência que exerce sobre currí- culos, programas, metodologias e cargas horárias das matérias do 29 grau.

Os colégios são forçados a organizar seus cursos de 29 grau de modo a oferecer condiçóes de aprovação no vestibular, sob pena de sucumbirem na concorrência com seus congêneres.

Bem ou mal, 6 o vestibular que atualmente garante a “qualidade” do ensino de 29 grau em uma sociedade que ainda coloca o ensino superior como meta principal de todo estudante.

Se o vestibular perder o caráter eliminatório, os reflexos desta medida a curto prazo deve- rão aparecer na rede de ensino de 29 grau, pois o ingresso na universidade exigirá tão Somente do candidato o esforço (?) único de obter nota diferente de zero nas provas classificatórias especffi- cas de cada área de estudos. Retroceder-se4 no tempo e no espaço, revivendo-se uma situação que já se revelou perniciosa há tempos atrás, devido ao ingresso no curso superior de estudantes mal preparados.

Nos cursos de baixa demanda 6 que os efeitos serão mais maléficos: bastará ao candidato inscrever-se no vestibular para, praticamente, ter garantido seu ingresso na universidade, já que o número de candidatos não estará muito distante do número de vagas. Nos demais cursos estes efeitos não ocorreriam porque com ou sem prova eliminatória o grande número de candidatos garante ao processo o cxáter de qualidade e de seleção dos mais preparados.

Deste modo, adotada a alteração proposta pela COPEVE e aprovada pelo CEPE da UFJF, os cursos de licenciaturas, tradicionalmente de baixa demanda, poderão Sofrer conseqüências de- sastrosas. Também o ensino de 29 grau sofrerá alterações, com redução da carga hor&ia de Ma- temática, Física, Química e Biologia para os que pretenderem ingressar nas licenciaturas, já que estas matirias não compõem a fase classificatória desta &a de estudos. A discriminação entre candidatos a área de Ciências Humanas e candidatos 3s áreas de Saúde e Tecnologia justificará a volta de turmas especiais nos colégios, deturpando o objetivo de formação gemi do estudante e relegando a nível secundário o preparo do futuro professor, como se o mesmo não necessitasse de maior apuro na aquisição de conhecimentos.

A NATUREZA DA SEGUNDA OPÇÁO

A segunda opção (ou opção “a posteriori”) foi implantada na UFJF com o objetivo de ocu- par as vagas dos cursos que, face ao pequeno número de candidatos ou ao alto índice de reprova- ção no vestibular, não são totalmente preenchidas pelos pretendentes de primeira opção. Elas são, então, oferecidas aos candidatos excedentes dos demais cursos, aprovados M fase eliminat6ria, mas com classificação insuficiente para o ingresso no curso desejado.

Este procedimento tem gerado polêmica nos diversos colegiados de cursos na UFJF, não sendo poucos os que o questionam, imputando-lhe a má qualidade e a desmotivaçáo que dizem existir em seus alunos, levantando ainda dúvidas quanto capacidade profissional dos que se gra- duarem mediante este artiffcio.

Por outro lado, há professores que defendem esta alternativa de ingresso na universidade, partindo da premissa de que estes alunos se matriculam por livre vontade, não sendo justo, pre- viamente, atribuir-lhes falta de condições de aproveitamento nas disciplinas do curso ou desfavo- rável prognbstico de sucesso na profissão escolhida.

Parece-nos que no m6rito desta questão há que se incluir a discusSá0 do problema da voca- ção. Será correto acreditar na exist@ncia de opção vocacional firme, d e f d a , inflexível em qual- quer estudante que, terminada a 3z série do 29 grau, se matricula no vestibular para um curso su- perior? Quantos estudantes pleiteiam a mudança de curso na UFJF para atender a um apeio voca- cional mais forte surgido após o vestibular? Quantai pessoas w m bem mais de 17/18 anos não se deslocam de sua profBsão original, em busca de atividades mais compatíveis com seus interesses e aptidóes?

A nosso ver, a universidade deve abrir todas as oportunidades para a auto-descoberta, o

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real conhecimento de si próprio, o atendimento às aspirações naturais de cada um e € no rol de medidas que atendem a estes objetivos que consideramos incluída a segunda op@o do vestibular.

AS CAUSAS DE EVASÃO N O S CURSOS DE BAIXA DEMANDA

Uma anáiise mais apurada das causas de evasão nos cursos da UFJF sugere algo diferente da propalada existência da segunda opção, decorrente da exigência de prova eüminat6ria do vesti- bular para os cursos de baixa demanda: ao que parac, a causa real reside M realização de 2 (dois) concursos vestibulares anuais para estes cursos, um em dezembroljaneiro e outro em junholjuiho. O vestibular de meio de ano para ingresso nas licenciaturas abre a oportunidade de inscrição para estuübtes que, de antemão, visam apenas a adqnirir experiência no concurso ou a usufruir vanta- gens, como o acesso ao restaurante universitário.

A prop6sit0, eis o que diz o Senhor Diretor do Departamento de Assuntos e Registros Aw- dêmiws - DARA da UFJF em documento dirigido recentemente ao Senhor Presidente da COPEVE:

“Os cursos de Ciêmias Bioldgicas e de Enfermaxem e Obstelrícia, e as Licenciamras em ge- ral têm wna demanda muito grande no segundo concurso vestibulnr. Estapletora Pfictícia, uma vez que o uluno M o estó pemwnecendo no curso. Evade logo no primeiroperíodo de sua vida acadêmica.“

Comprovando esta afirmativa, o DARA fornece um minucioso e bem elaborado levanta- mento da evasão escolar dos alunos ingressantes na UFJF, desde o primeiro semestre de 1982 at6 o primeiro semestre de 1985 (Quadro Anexo). Neste levantamento foram computados os alunos que, ingressando na UFJF, trancaram matrícula ou foram reprovados por infreqüência em todas as disciplinas do primeiro período de seus cursos.

Percebe-se nitidamente que é muito maior a evasão nos alunos que ingressam no segundo semestre, especialmente nos cursos de Enfermagem e Obstetrícia e de Ciências Biológicas (de- manda desviada do curso de Medicina, que não realiza vestibular no meio do ano) e nas Licencia- turas de um modo geral (demanda viciada, destjnada provavelmente a fornecer aos interessados as citadas vantagens concedidas aos estudantes da UFJF). Estes alunos seguramente t&m a intenção de fazer o vestibular “para valer” no princípio do ano seguinte.

Tomemos, por exemplo, o curso de L c t r ~ :

Semestre de ingresso do aluno Indice de evasão

Primeiro semestre de 1982 Segundo semestre de 1982 Primeiro semestre de 1983 Segundo semestre de 1983 Primeiro semestre de 1984 Segundo semestre de 1984 Primeiro semestre de 1985

18% 44% 16% 53%

16% 60% 07%

Esta situação se repete com pequenas alteraçóes em todos os cursos de baixa demandaque têm vestibular no meio do ano, comprovando a tese de que não 6 a existência de prova eüminató- ria ou a possibilidade de segunda opçá0 a causa mais rclevante de evasão escolar nos primeiros

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períodos: motivo mais convincente € a realuaçio de dois vestibulares por ano. A oscilação semestral das taxas de evasão escolar na UFJF caracteriza o que se poderia

chamar de “efeito balança”, passlvel de ser corrigido atraves da suspensão do vestibular do meio de ano, com o retorno A antiga prática de um único vestibular anual, mantida a prova eluninatbria e a segunda o~ção.

ANEXO

EVASÃO ESCOLAR DOS ALUNOS INGRESSANTES NA U.F.J.F. (12 Semestre de 1982 ao 10 Semestre de 1985)

NG CURSO 1982/10 1982120 1983/10 1983/20 1984/10 1984122 1985/10

O1 C. Biológicas 02 C. ixon8micas 03 C. Sociais 04 Comunicação O5 Direito ( + j

06 Ed. Artfstica 07 Educ. Flsica O8 Enfermagem (+)

O9 Eng. Civil 10 Eng.El€trica 11 F. Bioquímica 12 Filosofia 13 Geografia 14 História 15 Letras 16 Matemática 17 Medicina 18 Odontologia I9 Pedagogia 20 Q u h c a 21 Sem. Social 22 Física

28% 07% 10% 08% 13% 16% 08% 20% 07% 07% 10% 33% 32% 20% 18% 60% 03% 00% 13% 60% 00% 48%

70% 02% 55% 16% 08% 33% 38% 20% 21% 00% 08% 67% 83% 72% 44% 29% 07% 00% 41% 44% 16% 68%

12% 02% 25% 08% 03% 17% 05% i 6% 11% 20% 08% 14% 20% 16% 16% 17% 00% 00% 20% 61% 00% 50%

88% 09% 40% 08% 05% 55% 28% 11% 23% 10% 15% 73% 60% 50% 53% 48% 03% 02% 5096 75% 04% 79%

04% 07% 25% 08% 05% 17% 10% 14% 20% 10% 08% 20% 00% 32% 16% 37% 03% 03% 15% 29% 08% 26%

57% 16% 30% 12% 28% 25% 28% 68% 24% 23% 10% 47% 60% 32% 60% 81% 07% 05% 20% 75% 12% 74%

28% 04% 35% 20% 05% 16% 05% 16% 20% 13% 10% 27% 52% 04% 07% 44% 00% 00% 15% 68% 08% 60%

TOTAL 15% 26% 12% 27% 12% 30% 16%

hrea de Saúde 07% 08% OS% 07% 06% 11% 05% Licenciaturas 26% 52% 21% 53% 18% 45% 27%

FONTE Departamento de Assuntos e Regismos Acadêmicos da UFIF NOTA Oscursosmarcadoscomosinal(+)passaramaterdois vestibularesanuaisaparilrdoanode 1984.

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Diagramatão, Composição. Fotolito. Impressão e Acabamento FundaGão Sistema Estadual de Análise de Dados- ÇEADE

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INSTRUÇÕES A COLABORADORES

1. EDUCAÇÁO E SELEÇÁO publica trabalhos originais diretamente relacionados com a Sele- ção de Recursos Humanos, apresentados sob a forma de pesquisas, artigos teóricos, revisóes críticas e resenhas.

2. Os trabalhos enviados são apreciados pela Comissão Editorial e por especialistas.

3. A revista permite-se fazer pequenas aiteraçóes no texto; no caso de modificaçóes substan- ciais, elas serão sugendas ao Autor, que fará a devida revisão.

4. Os trabalhos devem ser enviados L? Editora Executiva de EDUCAÇÁO e SELEÇÁO em duas vias datilografadas.

5. O título do trabalho e o nome do autor, acompanhado de indicaçáo da instituição a que está filiado, devem ser colocados em págha de rosto separado do corpo do trabalho.

6. Quadros, tabelas, gráficos e ilustrações devem ser apresentados no originai e em folha sepa- rada. Sua localização desejável deve ser indicada no texto, entre dois traços horizontais.

7. As referêucias bibliograficas completa devem ser relacionadas no final do artigo, em ordem alfab8tica.

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