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DEFENSORIA REGIONAL DE DIREITOS HUMANOS NO ESPÍRITO SANTO Avenida César Hilal, nº 1293 – Bairro Santa Lúcia, CEP: 29.056-083 - Vitória / ES. Telefone: (27) 3145-5600/5615/5616. Plantão: (27) 98125-0036 1 de 17 SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) FEDERAL DA ___ VARA FEDERAL DE VITÓRIA – SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO (PAJ/DPU n. 2017/017-00667) Irrepetibilidade dos valores auferidos a título de benefício de aux.suplementar/acidente, posteriormente cessado sob o fundamento de ser inacumulável com qualquer espécie de aposentadoria, ante a patente boa-fé do segurado; Restituição dos valores já cobrados pelo INSS, sob tal fundamento, a título de recomposição ao Erário; Revisão dos benefícios remanescentes de aposentadoria, com fulcro no art. 31 da Lei 8.213/91, mediante inclusão, no Período Básico de Cálculo (PBC) deles, dos benefícios de aux. suplementar/acidente auferidos pelos segurados. DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, por seu órgão de execução, no exercício das suas funções constitucionais (CF/88, art. 134, caput) e legais (LC 80/94 e LC 132/09), na figura do Defensor Regional de Direitos Humanos, vem, perante Vossa Excelência, com base no art. 1º, IV e art. 5º, II da Lei 7.347/1985; art. 4º, VII da LC 80/94; art. 6º, art. 100, §1º e art. 201, I, da CF/88; art. 6º e art. 9º da Lei 6.367/76; art. 31 e art. 86 da lei 8.213/91, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA c/c Pedido de Tutela Provisória de Urgência em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL (INSS), autarquia previdenciária federal, situada na Rua Pedro Fonece, s/nº, Bairro Ilha de Monte Belo, Vitória/ES, CEP: 29.040-570, devidamente representada pela Advocacia-Geral da União, via Procuradoria Federal, pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos.

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DEFENSORIA REGIONAL DE DIREITOS HUMANOS NO ESPÍRITO SANTO

Avenida César Hilal, nº 1293 – Bairro Santa Lúcia, CEP: 29.056-083 - Vitória / ES. Telefone: (27) 3145-5600/5615/5616. Plantão:

(27) 98125-0036

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SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) FEDERAL DA ___ VARA FEDERAL DE VITÓRIA – SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

(PAJ/DPU n. 2017/017-00667) • Irrepetibilidade dos valores auferidos a título de benefício de aux.suplementar/acidente,

posteriormente cessado sob o fundamento de ser inacumulável com qualquer espécie de aposentadoria, ante a patente boa-fé do segurado;

• Restituição dos valores já cobrados pelo INSS, sob tal fundamento, a título de recomposição ao Erário; • Revisão dos benefícios remanescentes de aposentadoria, com fulcro no art. 31 da Lei 8.213/91,

mediante inclusão, no Período Básico de Cálculo (PBC) deles, dos benefícios de aux. suplementar/acidente auferidos pelos segurados.

DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, por seu órgão de execução, no exercício das suas

funções constitucionais (CF/88, art. 134, caput) e legais (LC 80/94 e LC 132/09), na figura do

Defensor Regional de Direitos Humanos, vem, perante Vossa Excelência, com base no art. 1º,

IV e art. 5º, II da Lei 7.347/1985; art. 4º, VII da LC 80/94; art. 6º, art. 100, §1º e art. 201, I, da

CF/88; art. 6º e art. 9º da Lei 6.367/76; art. 31 e art. 86 da lei 8.213/91, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA c/c Pedido de Tutela Provisória de Urgência

em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL (INSS), autarquia

previdenciária federal, situada na Rua Pedro Fonece, s/nº, Bairro Ilha de Monte Belo,

Vitória/ES, CEP: 29.040-570, devidamente representada pela Advocacia-Geral da União, via

Procuradoria Federal, pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos.

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I. RESUMO DOS FATOS A Defensoria Pública da União, legitimada constitucional e

infraconstitucionalmente à tutela coletiva de direitos (art. 134, caput, CF/88; art. 5º, II da Lei 7.347/1985; art. 4º, VII da LC 80/94), no desempenho de suas funções institucionais, deparou-se com diversos casos em que o INSS, com fundamento em uma posterior alteração – mais favorável à própria autarquia – do critério interpretativo até então aplicado sobre o art. 86, § 2º da Lei 8.213/91, passou a adotar um comportamento administrativo omissivo, contraditório e extremamente prejudicial a um extenso grupo de segurados da previdência social, composto basicamente por cidadãos que, além idosos (aposentados), também padecem de uma incapacidade parcial e permamente (fato gerador do aux. suplementar/acidente).

Explica-se melhor! Como já é de conhecimento de V. Exa., a cumulação do auxílio-

acidente/suplementar com qualquer espécie de aposentadoria era plenamente admitida no âmbito da própria AGU, desde que o fato gerador do 1º benefício fosse anterior a 10 de novembro de 1997, dia imediatamente anterior à entrada em vigor da Medida Provisória nº 1.596-14, convertida na Lei nº 9.528/97, que passou a vedar tal acumulação. A corroborar o exposto, segue transcrita redação anterior da súmula 44 daquela importante instituição, in verbis:

"É permitida a cumulação do benefício de auxílio-acidente com benefício de aposentadoria quando a consolidação das lesões decorrentes de acidentes de qualquer natureza, que resulte em sequelas definitivas, nos termos do art. 86 da Lei nº 8.213/91, tiver ocorrido até 10 de novembro de 1997, inclusive, dia imediatamente anterior à entrada em vigor da Medida Provisória nº 1.596-14, convertida na Lei nº 9.528/97, que passou a vedar tal acumulação".

Ocorre que, diante de posterior decisão do E.STJ (REsp 1.296.673-MG), mais

favorável ao INSS, a mesma AGU modificou a redação daquela mesma súmula 44, que passou a vigorar nos seguintes termos:

"Para a acumulação do auxílio-acidente com proventos de aposentadoria, a lesão incapacitante e a concessão da aposentadoria devem ser anteriores as alterações inseridas no art. 86 § 2º, da Lei 8.213/91, pela Medida Provisória nº 1.596-14, convertida na Lei nº 9.528/97".

Tal alteração do critério interpretativo, no âmbito judicial e posteriormente na seara

administrativa, passou a servir de fundamento para que o INSS, i) além de cessar abruptamente relações jurídicas (cumulação de benefícios) mantidas com pessoas idosas e doentes, que já perduravam anos – em inúmeros casos, até décadas –, em completo desrespeito aos postulados do ato jurídico perfeito, da segurança jurídica, da confiança e etc., ii) também começasse a promover cobranças a tais cidadãos (já tão vulneráveis) de tudo aquilo que eles haviam recebido “indevidamente” (?) nos últimos 5 anos, a título de uma cumulação que, pasmem, até pouco tempo era admitida e sumulada pela própria AGU.

Como se vê, nobre julgador(a), se já não fosse o bastante, com base em mera

alteração de critério interpretativo, cessar um tipo de benefício tão importante, uma verba alimentar (auxílio-suplementar ou acidente), que vinha sendo auferida e, portanto, integrava o orçamento familiar de milhares de cidadãos idosos e doentes, o INSS ainda passou a cobrá-

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los e aplicar, sem dó nem piedade, descontos mensais sobre suas já parcas aposentadorias remanescentes!

Quanto à aludida cobrança, não se compreende por qual motivo não se aplicou (e

nem se aplica), no âmbito administrativo, o postulado jurídico da irrepetibilidade de verba alimentar auferida a título de boa-fé, a fim de impedir cobranças e descontos realizados contra milhares de pessoas que, pela idade e incapacidade (ainda que parcial), já se revelam tão vulneráveis, mormente pelo fato de tal entendimento já ser aplicado internamente em situações similares envolvendo servidores públicos (para esta hipótese, como se verá, há súmula da AGU, inclusive).

E pior que ainda não para por aí! A nobre autarquia, além de mutilar parte da renda do idoso e ainda cobrá-lo pela

manutenção de uma cumulação de benefícios que ela mesmo considerava devida até pouco tempo, nem ao menos vem promovendo a revisão da Renda Mensal Inicial (RMI) dos benefícios remanescentes de aposentadoria dos segurados, nos termos do art. 31 da Lei 8.213/91, mediante a inclusão e soma, no Período Básico de Cálculo (PBC) destes, dos salários auferidos por eles a título de auxílio-suplementar ou acidente.

Ora, tal revisão, que decorre de um imperativo legal, revela-se deveras importante

e, caso fosse realizada pelo INSS antes mesmo de efetuar as cobranças que vêm atormentando inúmeras pessoas idosas e doentes, ainda poderia evitar o constrangimento e sofrimento pelos quais tais pessoas vêm passando.

Isso, porque, a inclusão e soma dos valores auferidos pelos segurados a título de

auxílio-acidente/suplementar no PBC das aposentadorias remanescentes e o consequente/provável acréscimo da RMI destes benefícios, certamente também geraria um crédito aos aposentados no mesmo período base utilizado pela nobre autarquia para promover suas inúmeras cobranças retroativas. CONTUDO, como se vê, infelizmente, a LEI, apenas na parte em que beneficia o segurado, vem sendo sistematicamente ignorada justo por quem deveria zelar pelo seu cumprimento.

E além de descumprir o dever legal de revisão que lhe incumbe em relação ao

cômputo do auxílio-acidente no cálculo da RMI das aposentadorias remanescentes, no que tange especificamente ao auxílio-suplementar, o INSS ainda vem negando a aludida revisão com base em um outro fundamento, que apenas revela o quão parcial vem sendo sua atuação no campo administrativo.

Aduz-se isso, porque, a autarquia, ao interpretar o art. 86, §2º da Lei 8.213/1991,

tem considerado o auxílio-suplementar como equivalente ao auxílio-acidente e, por essa razão, sustentado a inacumulabilidade do auxílio-suplementar com benefícios de aposentadoria – inclusive com a cobrança administrativa retroativa (e INDEVIDA) de valores percebidos de boa-fé pelos beneficiários.

Porém, em sentido oposto, quando se trata de calcular a renda mensal dos

benefícios remanescentes de aposentadoria, tem negado ao auxílio-suplementar essa mesma equivalência interpretativa, visto que recusa sistematicamente, pela via

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administrativa, a revisão de benefício pautada na inclusão desse auxílio como integrante do salário-de-contribuição, nos termos do art. 31 da Lei 8.213/1991.

Ambas as situações, tanto a cobrança indevida de valores recebidos de boa-fé

pelos segurados, quanto a ausência de cômputo do auxílio-suplementar/acidente no cálculo da RMI das aposentadorias remanescentes, têm gerado a replicação de demandas individuais no seio da Defensoria Pública da União e afetam direitos de inúmeros segurados, principalmente daqueles que não tem condições de ingressar na justiça (onde a situação é, via de regra, diante de forte jurisprudência, revertida). Neste ponto, destaca-se a existência de entendimento favorável aos segurados no âmbito de todos os Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária de Vitória e da Subseção de Serra.

Destaca-se que a Defensoria Pública da União de Vitória/ES já oficiou o INSS

questionando sua postura frente às situações acima expostas, e até mesmo para se certificar especificamente acerca da inclusão, ou não, do auxílio-suplementar, no cálculo da RMI dos benefícios de qualquer aposentadoria. À guisa de corroboração, tem-se a resposta ao Oficio n° DPU/ES 28/2015 GAB 1° PREV-PAJ 2015/017-02659, de 18/09/2015, no qual o INSS informou que a revisão do benefício de aposentadoria, nos termos do art. 31 da Lei 8.213/91, não seria cabível porque o dispositivo legal citado trata, tão somente, da espécie de benefício denominado auxílio-acidente.

Ainda sobre a problemática aqui apresentada, e a título meramente exemplificativo,

sublinham-se os processos individuais de nº 0030504-17.2016.4.02.5050, 0004127-09.2016.4.02.5050 e 0133341-72.2015.4.02.5055 ajuizados pela Defensoria Pública da União de Vitória/ES e de Serra/ES (vide anexo).

Nesse contexto, tem-se que as situações acima narradas apresentam proporções

coletivas aptas a ensejar o manejo da referenciada Ação Civil Pública, fundamentando-se no art. 1º, IV da Lei 7.347/1985, marcadamente pelo fato de a reiterada conduta autárquica atingir e prejudicar um público alvo considerável formado, sobretudo, por cidadãos que, além idosos (aposentados), também padecem de uma incapacidade parcial e permamente (fato gerador do aux. Suplementar/acidente); o que se tornou imprescindível, diante da impossibilidade de

resolver a questão sem recurso ao Poder Judiciário. II. FUNDAMENTOS DOS PEDIDOS 1. O BENEFÍCIO DE AUXÍLIO-SUPLEMENTAR POR ACIDENTE DE

TRABALHO E O BENEFÍCIO DE AUXÍLIO-ACIDENTE No Brasil, sabe-se que a previdência social vem contemplada expressamente no art.

6º da Constituição Federal enquanto direito humano fundamental social, qualificando-se, essencialmente, como de segunda geração/dimensão e, portanto, positivo, no sentido de demandar prestações estatais. No mais, a sua predisposição à coletivização decorre do princípio da solidariedade afeto à seguridade social bem como pelo fato de, nos termos do art. 201, caput, da CF/88, a previdência social – organizada sob a forma de regime geral – caracterizar-se como contributiva e de filiação obrigatória.

No que toca diretamente à celeuma em questão, vê-se que a Lei nº 6.367/1976

dispôs sobre o seguro de acidentes do trabalho a cargo do INPS e deu outras providências,

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contemplando, no seu art. 6º, §1º, o benefício de auxílio-acidente e, no caput, art. 9º, o benefício de auxílio-suplementar por acidente de trabalho. Seguem-se os dispositivos em comento:

Art. 6º – O acidentado do trabalho que, após a consolidação das lesões resultantes do acidente, permanecer incapacitado para o exercício de atividade que exercia habitualmente, na época do acidente, mas não para o exercício de outra, fará jus, a partir da cessação do auxílio-doença, a auxílio-acidente. § 1º O auxílio-acidente, mensal, vitalício e independente de qualquer remuneração ou outro benefício não relacionado ao mesmo acidente, será concedido, mantido e reajustado na forma do regime de previdência social do INPS e corresponderá a 40% (quarenta por cento) do valor de que trata o inciso II do Art. 5º desta lei, observado o disposto no § 4º do mesmo artigo. Art. 9º – O acidentado do trabalho que, após a consolidação das lesões resultantes do acidente, apresentar, como sequelas definitivas, perdas anatômicas ou redução da capacidade funcional, constantes de relação previamente elaborada pelo Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), as quais, embora não impedindo o desempenho da mesma atividade, demandem, permanentemente, maior esforço na realização do trabalho, fará jus, a partir da cessação do auxílio-doença, a um auxílio mensal que corresponderá a 20% (vinte por cento) do valor de que trata o inciso II do Artigo 5º desta lei, observando o disposto no § 4º do mesmo artigo.

No entanto, a Lei nº 8.213/1991, no seu art. 86, promoveu a unificação do

benefício de auxílio-acidente e do benefício de auxílio-suplementar por acidente de trabalho, cujo benefício passou a ter regramento único, relacionando-se, inicialmente, ao acidente de trabalho e, posteriormente, com o advento da Lei nº 9.528/97, voltou-se aos acidentes de qualquer natureza. Pelo exposto, destaca-se a redação originária do art. 86, Lei nº 8.213/91:

Art. 86, Lei 8.213/91 (redação originária) – O auxílio-acidente será concedido ao segurado quando, após a consolidação das lesões decorrentes do acidente do trabalho, resultar sequela que implique: I – redução da capacidade laborativa que exija maior esforço ou necessidade de adaptação para exercer a mesma atividade, independentemente de reabilitação profissional; II – redução da capacidade laborativa que impeça, por si só, o desempenho da atividade que exercia à época do acidente, porém, não o de outra, do mesmo nível de complexidade, após reabilitação profissional; ou III – redução da capacidade laborativa que impeça, por si só, o desempenho da atividade que exercia à época do acidente, porém não o de outra, de nível inferior de complexidade, após reabilitação profissional. § 1º O auxílio-acidente, mensal e vitalício, corresponderá, respectivamente às situações previstas nos incisos I, II e III deste artigo, a 30% (trinta por cento), 40% (quarenta por cento) ou 60% (sessenta por cento) do salário-de-contribuição do segurado vigente no dia do acidente, não podendo ser inferior a esse percentual do seu salário-de-benefício. § 2º O auxílio-acidente será devido a partir do dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença, independentemente de qualquer remuneração ou rendimento auferido pelo acidentado. § 3º O recebimento de salário ou concessão de outro benefício não prejudicará a continuidade do recebimento do auxílio-acidente. § 4º Quando o segurado falecer em gozo do auxílio-acidente, a metade do valor deste será incorporada ao valor da pensão se a morte não resultar do acidente do trabalho. § 5º Se o acidentado em gozo do auxílio-acidente falecer em consequência de outro acidente, o valor do auxílio-acidente será somado ao da pensão, não podendo a soma ultrapassar o limite máximo previsto no § 2º. do art. 29 desta lei.

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Assim, no contexto da Lei nº 6.367/1976, o auxílio-acidente era devido quando, após a estabilização das lesões resultantes do acidente, o indivíduo restasse incapacitado para o exercício de atividade que exercia habitualmente, na época do acidente, mas não para o exercício de outra.

Já o auxílio suplementar era concedido quando, após a estabilização das lesões

resultantes do acidente, o indivíduo, embora não estivesse totalmente incapacitado para a função que habitualmente exercia, porém dele decorressem sequelas definitivas, perdas anatômicas ou redução da capacidade funcional que demandassem, permanentemente, maior esforço para o exercício da atividade que anteriormente exercia.

Nessa conjuntura, por serem benefícios previdenciários de caráter indenizatório,

tanto o auxílio-acidente quanto o auxílio-suplementar caracterizavam-se como vitalícios, admitindo a cumulação com qualquer tipo de aposentadoria.

Por sua vez, no contexto da Lei nº 8.213/1991, os referenciados benefícios tiveram

regramento unificado no art. 86 sob a denominação única de auxílio-acidente englobando tanto as situações de incapacidade para o exercício da mesma atividade quanto as circunstâncias que impliquem em maior esforço para sua realização.

Desta feita, depreende-se que o auxílio-suplementar, enquanto benefício antecessor,

apenas foi incorporado e absorvido pelo contemporâneo auxílio-acidente, sendo este, atualmente, ainda mais abrangente. E tanto é verdade que, desde a vigência da Lei 8.213/1991, não se tem notícia da concessão de qualquer auxílio-suplementar, decorrente de lesões posteriores, mas, e tão somente, do auxílio-acidente conforme previsto na referida norma previdenciária.

Essa sucessão entre os dois benefícios, com a absorção do auxílio-suplementar pelo

novel auxílio-acidente é plenamente acolhida pela jurisprudência pátria, conforme se vê no julgado abaixo, da lavra do Superior Tribunal de Justiça, em sede de Recurso Especial Repetitivo:

RECURSO ESPECIAL REPETITIVO . PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-SUPLEMENTAR TRANSFORMADO EM AUXÍLIO-ACIDENTE . LEI Nº 8.213/91. MAJORAÇÃO DO PERCENTUAL. LEI Nº 9.032/95. INCIDÊNCIA IMEDIATA. PRECEDENTES. ENTENDIMENTO DO STF QUANTO À PENSÃO POR MORTE. INAPLICABILIDADE. EFEITO VINCULANTE. NÃO OCORRÊNCIA. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. O auxílio-suplementar, previsto na Lei nº 6.367/76, tinha percentual fixado no importe de 20% do salário-de-contribuição do segurado. Com o advento da Lei nº 8.213/91, na redação original, passou à denominação de auxílio-acidente, e teve alteração no percentual de concessão para 30%, 40% e 60%, ainda a incidir sobre o salário-de-contribuição do segurado, atribuído cada percentual conforme o grau de incapacidade laborativa do segurado. 2. Com o advento da Lei nº 9.032/95, esse percentual, além de ser unificado em 50% (cinquenta por cento), independente do grau de sequelas deixadas pelo acidente de trabalho, teve sua base de cálculo alterada para que passasse a incidir sobre o salário-de-benefício. 3. A Terceira Seção desta Corte de Justiça consolidou seu entendimento no sentido de que o art. 86, § 1º, da Lei 8.213/91, alterado pela Lei 9.032/95, tem aplicação imediatamente, atingindo todos os segurados que estiverem na mesma situação seja referente aos benefícios pendentes de concessão ou aos já concedidos, pois a questão encerra uma relação jurídica continuativa, sujeita a pedido de revisão quando modificado o estado de fato, passível de atingir efeitos futuros de atos constituídos no passado

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(retroatividade mínima das normas), sem que isso implique em ofensa ao ato jurídico perfeito e ao direito adquirido. 4. O fato de o Supremo Tribunal Federal ter posicionamento diverso do Superior Tribunal de Justiça não impede que essa Corte de Justiça adote orientação interpretativa que entender mais correta à norma infraconstitucional, embora contrária ao Pretório Excelso, na medida em as decisões proferidas em sede de agravo regimental não têm efeito vinculante aos demais órgãos do judiciário. Precedentes. [...]. (REsp 1096244/SC, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/04/2009, DJe 08/05/2009). (GRIFOS NOSSO).

2. O TRATAMENTO HISTÓRICO DO DIREITO DE CUMULAR O

AUXÍLIO-SUPLEMENTAR/ACIDENTE COM APOSENTADORIA NA ADMINISTRAÇÃO FEDERAL E NOS TRIBUNAIS.

A partir conversão da Medida Provisória nº 1.596-14/1997 na Lei nº 9.528/1997,

o art. 86 da Lei nº 8.213/1991 ganhou nova redação, razão pela qual o auxílio-acidente passou a ser devido aos segurados que tiveram redução em sua capacidade laborativa em decorrência de acidente de qualquer natureza e também foi vedada a sua percepção cumulativa com aposentadoria de qualquer espécie, termos em que se destaca:

Art. 86 – O auxílio-acidente será concedido, como indenização, ao segurado quando, após consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultarem seqüelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia. § 1º O auxílio-acidente mensal corresponderá a cinqüenta por cento do salário-de-benefício e será devido, observado o disposto no § 5º, até a véspera do início de qualquer aposentadoria ou até a data do óbito do segurado. § 2º O auxílio-acidente será devido a partir do dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença, independentemente de qualquer remuneração ou rendimento auferido pelo acidentado, vedada sua acumulação com qualquer aposentadoria. § 3º O recebimento de salário ou concessão de outro benefício, exceto de aposentadoria, observado o disposto no § 5º, não prejudicará a continuidade do recebimento do auxílio-acidente.

No entanto, antes da Lei nº 9.528/1997 não havia regra proibitiva da referenciada

cumulação que, por sua vez, era permitida como decorrência lógica do caráter vitalício e indenizatório dos benefícios de auxílio-suplementar por acidente de trabalho e de auxílio-acidente.

Como se disse alhures, a cumulação do auxílio-acidente com qualquer que seja a

aposentadoria era permitida inclusive por entendimento vinculante da Advocacia Geral da União (AGU), desde que o fato gerador do auxílio-acidente fosse anterior a 10 de novembro de 1997, dia imediatamente anterior à entrada em vigor da Medida Provisória nº 1.596-14, convertida na Lei nº 9.528/1997, que passou a vedar tal acumulação, por força da nova redação dada ao art. 86, §2º, Lei 8.213/1991. Neste sentido, destaca-se a Súmula 44 da AGU, de 14 de setembro de 2009, em sua redação originária:

Súmula 44 da AGU (redação originária) – É permitida a cumulação do benefício de auxílio-acidente com benefício de aposentadoria quando a consolidação das lesões decorrentes de acidentes de qualquer natureza, que resulte em sequelas definitivas, nos termos do art. 86 da Lei nº 8.213/91, tiver ocorrido até 10 de novembro de 1997, inclusive, dia imediatamente anterior à entrada em vigor da Medida Provisória nº 1.596-14, convertida na Lei nº 9.528/97, que passou a vedar tal acumulação.

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Entretanto, posterior decisão do Superior Tribunal de Justiça em sede do Recurso Especial Repetitivo nº 1.296.673/MG, fixou o entendimento de que a cumulação de auxílio-acidente com aposentadoria só seria possível se a eclosão da lesão incapacitante e o preenchimento dos requisitos legais da aposentadoria tivessem ocorrido antes de 11/11/1997.

RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA. MATÉRIA REPETITIVA. ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO STJ 8/2008. RECURSO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA . CUMULAÇÃO DE BENEFÍCIOS. AUXÍLIO-ACIDENTE E APOSENTADORIA . ART. 86, §§ 2º E 3º, DA LEI 8.213/1991, COM A REDAÇÃO DADA PELA MEDIDA PROVISÓRIA 1.596-14/1997, POSTERIORMENTE CONVERTIDA NA LEI 9.528/1997 . CRITÉRIO PARA RECEBIMENTO CONJUNTO. LESÃO INCAPACITANTE E APOSENTADORIA ANTERIORES À PUBLICAÇÃO DA CITADA MP (11.11.1997). DOENÇA PROFISSIONAL OU DO TRABALHO. DEFINIÇÃO DO MOMENTO DA LESÃO INCAPACITANTE. ART. 23 DA LEI 8.213/1991. CASO CONCRETO. INCAPACIDADE POSTERIOR AO MARCO LEGAL. CONCESSÃO DO AUXÍLIO-ACIDENTE. INVIABILIDADE. 1. Trata-se de Recurso Especial interposto pela autarquia previdenciária com intuito de indeferir a concessão do benefício de auxílio-acidente, pois a manifestação da lesão incapacitante ocorreu depois da alteração imposta pela Lei 9.528/1997 ao art. 86 da Lei de Benefícios, que vedou o recebimento conjunto do mencionado benefício com aposentadoria. 2. A solução integral da controvérsia, com fundamento suficiente, não caracteriza ofensa ao art. 535 do CPC. 3. A acumulação do auxílio-acidente com proventos de aposentadoria pressupõe que a eclosão da lesão incapacitante, ensejadora do direito ao auxílio-acidente, e o início da aposentadoria sejam anteriores à alteração do art. 86, §§ 2º e 3º, da Lei 8.213/1991 ("§ 2º O auxílio-acidente será devido a partir do dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença, independentemente de qualquer remuneração ou rendimento auferido pelo acidentado, vedada sua acumulação com qualquer aposentadoria ; § 3º O recebimento de salário ou concessão de outro benefício, exceto de aposentadoria , observado o disposto no § 5º, não prejudicará a continuidade do recebimento do auxílio-acidente."), promovida em 11.11.1997 pela Medida Provisória 1.596-14/1997, que posteriormente foi convertida na Lei 9.528/1997. [...] 6. Recurso Especial provido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução 8/2008 do STJ. (REsp 1.296.673/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, julgado em 22/08/2012). (GRIFOS NOSSO).

Assim, com respaldo no precedente acima referenciado, em 05 de julho de 2012, a

AGU modificou a redação da mencionada Súmula 44, que passou a vigorar nos seguintes termos:

Súmula 44 – Para a acumulação do auxílio-acidente com proventos de aposentadoria, a lesão incapacitante e a concessão da aposentadoria devem ser anteriores as alterações inseridas no art. 86 § 2º, da Lei 8.213/91, pela Medida Provisória nº 1.596-14, convertida na Lei nº 9.528-97.

Inclusive, nesse mesmo sentido, em 26 de março de 2014, o STJ aprovou a Súmula

507 nos seguintes termos: Súmula 507, STJ – A acumulação de auxílio-acidente com aposentadoria pressupõe que a lesão incapacitante e a aposentadoria sejam anteriores a 11/11/1997, observado o critério do art. 23 da Lei8.213/1991 para definição do momento da lesão nos casos de doença profissional ou do trabalho. Associe-se ao IBDP e tenha acesso a outras novidades.

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Semelhante entendimento foi aplicado pelo STJ quando versou sobre a possibilidade de cumulação do auxílio-suplementar por acidente de trabalho com qualquer aposentadoria. Conjuntura que ressalta a tese aqui defendida de que os benefícios são equiparáveis para todos os fins. Transcreve-se abaixo trecho da ementa do julgado:

PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-SUPLEMENTAR. CUMULAÇÃO COM APOSENTADORIA . CASO CONCRETO. POSSIBILIDADE. 1. O auxílio-suplementar, previsto na Lei 6.367/1976, foi incorporado pelo auxílio-acidente após o advento da Lei 8.213/1991. 2. No julgamento do Recurso Especial Repetitivo 1.296.673/MG de Relatoria do Ministro Herman Benjamin, a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça consolidou entendimento de que a cumulação de auxílio-acidente com aposentadoria é possível, desde que a eclosão da lesão incapacitante e a concessão da aposentadoria tenham ocorrido antes de 11/11/1997, data de edição da Medida Provisória 1.596-14/97, posteriormente convertida na Lei 9.528/1997. 3. Consoante se verifica do acórdão proferido pelo Tribunal a quo, a concessão da aposentadoria se deu em data anterior à edição da Lei 9.528/1997. 4. Agravo interno desprovido. (AgInt no REsp 1566876/SP, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 02/05/2017, DJe 16/06/2017). (GRIFOS NOSSO).

3. DA IRREPETIBILIDADE DOS VALORES PERCEBIDOS DE BOA-F É A TÍTULO DE AUXÍLIO-SUPLEMENTAR/ACIDENTE CUMULATIVA MENTE COM BENEFÍCIOS DE APOSENTADORIA E, VIA DE CONSEQUÊN CIA, DO DIREITO À RESTITUIÇÃO DOS VALORES JÁ COBRADOS/DESCO NTADOS INDEVIDADE PELO INSS

A autarquia previdenciária, ora requerida, tem efetuado a cessação da aludida

cumulação – com a cassação do benefício de auxílio-suplementar auferido há décadas, de boa-fé, por centenas de beneficiários, inclusive com a cobrança retroativa de tais valores. A referenciada medida é cientificada aos segurados através de ofícios encaminhados pelo INSS com fundamento na já aludida alteração do critério interpretativo sobre o art. 86, §2º da Lei 8.213/91.

A postura acima, contudo, revela-se indevida. Primeiramente, porque, como já foi dito, cessa de forma abrupta uma cumulação de

benefícios mantida de boa-fé, mesmo porque chegou a constar de súmula da AGU entre 2009 e 2012. Esses valores integraram-se durante anos a fio (a Lei alteradora é de 1997) ao orçamento dessas famílias, pautando a economia e o planejamento familiares. Um corte dessa natureza, sem respeito algum a uma expectativa de direito consolidada pelo tempo, já se apresentaria traumática por si só.

No entanto, vê-se que a autarquia previdenciária não se satisfez com o mero corte

desse acréscimo histórico nos benefícios – o que não será objeto da presente ACP, pois a postura autárquica encontra escopo na jurisprudência pacífica dos tribunais superiores. Ela também passou a cobrar administrativa e retroativamente os valores pagos no quinquênio imediatamente anterior a essa cessação. E pior: essa “reintegração” do patrimônio público veio a ser empreendida, até mesmo por meio de medidas unilaterais, como a consignação desses débitos diretamente no valor pago ao “devedor” a título de aposentadoria.

Esses valores atingem (atingiram) cota exorbitante, e certamente farão (fizeram)

enorme falta no orçamento familiar desses segurados, que, muitas vezes, possuem como única

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fonte de renda a aposentadoria. Insta frisar que muitos desses beneficiários encontram-se em situação de vulnerabilidade própria da idade avançada bem como de problemas de saúde a ela relacionados.

É possível depreender que o fundamento legal para a referenciada atuação do INSS,

no que tange os atos de cessação do benefício de auxílio-suplementar, encontra-se integralmente na legislação que versa sobre o auxílio-acidente. Isto é: (i) a vedação legal contida no art. 86, § 2º da Lei nº 8.213, alterada pela Lei nº 9.528/97; (ii) o precedente firmado pelo STJ em sede de Recurso Especial Repetitivo nº 1.296.673/MG; (iii) a Súmula 44 da AGU com redação alterada em 2012; e (iv) a Súmula 507 do STJ aprovada em 2014.

Em suma, o INSS não faz nenhuma distinção teórica ou diferenciação entre o

auxílio-suplementar e o auxílio-acidente para justificar a cessação do auxílio-suplementar percebido cumulativamente com aposentadoria. E, assim, porque parte do pressuposto de que o auxílio-suplementar é um proveito que restou, ao longo dos anos, absorvido pelo auxílio-acidente e, portanto, possuiria uma mesma finalidade e tratamento.

Dessa forma, ainda que se entenda que a administração tem sim o direito de efetivar

os cortes, por considerar indevida a cumulação dos benefícios em comento, por ausência do preenchimento dos requisitos firmados em orientações mais recentes da jurisprudência, revela-se indevida a cobrança retroativa de valores percebidos de boa-fé pelos segurados; seja por afronta à segurança jurídica, seja por desconsiderar que essa verba tem natureza alimentar e, portanto, é irrepetível!

Assim, mesmo que a cumulação tenha sido indevida com base nos parâmetros

contemporaneamente firmados, não significa que os valores pagos pelo INSS a título de auxílio-suplementar, percebidos de boa-fé pelos segurados, devam ser restituídos. Isso porque, a boa-fé verificada nos recebimentos, conjugada com o caráter alimentar das rubricas, são razões suficientes para que os valores percebidos não sejam devolvidos.

Inclusive, reconhecendo-se a IRREPETIBILIDADE dos valores recebidos de

BOA-FÉ, com respaldo no caráter ALIMENTAR do benefício e com fundamento na SEGURANÇA JURÍDICA , colacionam-se os seguintes precedentes do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PREVIDENCIÁRIO. CUMULAÇÃO DE AUXÍLIO SUPLEMENTAR COM APOSENTADORIA POR INVALIDEZ . VALORES RECEBIDOS DE BOA-FÉ. RESTITUIÇÃO . MATÉRIA COM REPERCUSSÃO GERAL REJEITADA PELO PLENÁRIO VIRTUAL NO JULGAMENTO DO AI N.º 841.473. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO A RESERVA DE PLENÁRIO. AUSÊNCIA DE DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE PELO TRIBUNAL A QUO. MATÉRIA DE ORDEM INFRACONSTITUCIONAL. 1. O dever do beneficiário de boa-fé em restituir aos cofres públicos os valores que lhe foram concedidos mediante decisão judicial ou pagos indevidamente pela Administração Pública, posto controvérsia de natureza infraconstitucional, não revelam repercussão geral apta a tornar o apelo extremo admissível, consoante decidido pelo Plenário Virtual do STF, na análise do AI n. 841.473–RG, Relator Min. Cezar Peluso, DJe de 31/8/2011. 2. O princípio da reserva de plenário resta indene nas hipóteses em que não há declaração de inconstitucionalidade por órgão fracionário do Tribunal de origem, mas apenas a interpretação da norma em sentido contrário aos interesses da parte. Precedentes: ARE 683001-AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, DJe 18/2/2013, ARE

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701.883-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, Segunda Turma, DJe de 12/11/2012, e ARE 701.883-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, Segunda Turma, DJe de 12/11/2012. 3. In casu, o acórdão recorrido assentou, in verbis: “AÇÃO ACIDENTÁRIA. IMPOSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DE AUXÍLIO SUPLEMENTAR COM APOSENTADORIA POR INVALIDEZ . COBRANÇA PELA AUTARQUIA DOS VALORES PAGOS INDEVIDAMENTE . IMPOSSIBILIDADE . Não se mostrava viável a cobrança dos valores pela Autarquia Federal, diante da ausência de má-fé por parte do segurado e do caráter alimentar do benefício previdenciário. O benefício não pode ser sancionado pelo erro cometido pela própria autarquia previdenciária que não constatou a impossibilidade de cumulação no momento em que deferira a aposentadoria por invalidez. APELAÇÃO DESPROVIDA”. 4. Agravo regimental DESPROVIDO. (ARE 653095 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 03/09/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-182 DIVULG 16-09-2013 PUBLIC 17-09-2013). (GRIFOS NOSSO). PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ABONO DE PERMANÊNCIA. SERVIDOR APOSENTADO. RESTITUIÇÃO DE VALORES PERCEBIDOS DE BOA-FÉ. I - A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça assenta ser desnecessária a devolução, pelo segurado, de parcelas recebidas a maior, de boa-fé, em atenção à natureza alimentar do benefício previdenciário e à condição de hipossuficiência da parte segurada (AgRg no REsp 1431725/RS, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 21/05/2014). Precedentes. II - Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1264742/PR, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 18/08/2015, DJe 03/09/2015). (GRIFOS NOSSO).

No mais, cumpre recordar que, segundo moderno entendimento, a restituição ao

patrimônio público não pode ocorrer quando o beneficiário pela verba alimentar não houver influído na decisão administrativa que redunda no indevido depósito. Ou seja, quando a parcela alimentar é entregue em virtude de interpretação errônea, má aplicação da lei ou erro da Administração.

Nessa linha, tem-se, como exemplo, o seguinte julgado:

PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. ABONO DE PERMANÊNCIA PAGO CONJUNTAMENTE COM APOSENTADORIA ESTATUTÁRIA. PAGAMENTO INDEVIDO. BOA-FÉ COMPROVADA. ERRO D A ADMINISTRAÇÃO. VERBA DE CARÁTER ALIMENTAR. RESTITUIÇÃO DE VALORES. IMPOSSIBILIDADE . REVISÃO DO CONTEXTO FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA 7/STJ. [...] 2. No presente caso, o Tribunal de origem consignou que, "embora correto o cancelamento de tal benefício, entendo indevida a referida devolução quando o próprio INSS comete o equívoco de emitir uma certidão de tempo de serviço sem apurar se tal tempo foi utilizado para um benefício concedido por ele mesmo, o qual foi pago por mais de 17 anos (...) Não há como responsabilizar o segurado, que percebeu os valores do benefício de boa-fé, e, portanto, não deve ser penalizado, com a sua devolução, por ter o INSS emitido equivocadamente certidão de tempo de serviço sem a devida apuração de que tal tempo já havia sido utilizado para a concessão de um outro benefício" (fl. 196, e-STJ). 3. A jurisprudência pacífica do STJ é no sentido da impossibilidade de devolução, em razão do caráter alimentar aliado à percepção de boa-fé, dos valores percebidos por beneficiário da Previdência Social, por erro da Administração, aplicando ao caso o princípio da irrepetibilidade dos alimentos [...] (REsp 1657394/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 28/03/2017, DJe 02/05/2017). (GRIFOS NOSSO).

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No sentido do que foi até agora exposto, destacam-se ainda a Súmula 249 do Tribunal de Contas da União e Súmula 34 da AGU:

Súmula 249, TCU – É dispensada a reposição de importâncias indevidamente percebidas, de boa-fé, por servidores ativos e inativos, e pensionistas, em virtude de erro escusável de interpretação de lei por parte do órgão/entidade, ou por parte de autoridade legalmente investida em função de orientação e supervisão, à vista da presunção de legalidade do ato administrativo e do caráter alimentar das parcelas salariais. Súmula 34, AGU – É incabível a restituição de valores de caráter alimentar percebidos de boa-fé, por servidor público, em virtude de interpretação errônea, má aplicação da lei ou erro da Administração.

Assim, o INSS, após mudar interpretação ou verificar o pagamento errôneo de

valores, até pode efetuar a correção do ato administrativo e suspender novos pagamentos, porém, não deve promover o desconto referente às importâncias alimentares indevidamente recebidas pelo beneficiário. Além disso, deve restituir os valores já cobrados/descontados indevidamente.

4. DA OBRIGAÇÃO DE FAZER DO INSS – REVISÃO DA RMI DA

APOSENTADORIA PREVIDENCIÁRIA REMANESCENTE, DESDE QU E MAIS VANTAJOSA AO MÍSERO, MEDIANT O CÔMPUTO E SOMA NO SE U PERÍODO BASE DE CÁLCULO (PBC) DOS SALÁRIOS AUFERIDOS PELO SEGURADO A TÍTULO DE BENEFÍCIO DE AUXÍLIO-SUPLEMENTAR/ACIDENTE - INTELIGÊNCIA DO ART. 31 DA LEI 8.213/91

Como visto nos itens acima, o INSS aplica todo o arcabouço normativo referente

ao auxílio-acidente no que toca à disciplina do auxílio-suplementar, na medida em que vislumbra no primeiro um sucessor deste segundo.

Ora, percebe-se que as alterações que a Lei nº 9.528/1997 promoveu nas relações

entre auxílio-acidente e aposentadorias buscaram por um lado estabelecer uma vedação de acúmulo (art. 86, §2º da Lei 8.213/1991) e, por outro (de maneira, compensatória) permitir que os valores usualmente percebidos pelo benefício acidentário fossem integrados no salário-de-contribuição para fins de cálculo de qualquer aposentadoria (art. 31 da Lei 8.213/1991).

Essa via de mão dupla instituída pelo legislador deve ser integralmente aplicada ao

auxílio-suplementar. Desta forma, na medida em que o INSS se vale da aludida equiparação entre as

prestações mencionadas quando imbuído da vontade de cessar a cumulação entre auxílio-suplementar e aposentadoria, deveria também realizar, no mesmo ato de cessação, a REVISÃO a que alude o art. 31 da Lei 8.213/1991. No entanto, para a tristeza e surpresa de muitos segurados, não é o que vem ocorrendo em diversos casos similares.

O que justificaria tamanha contradição nos critérios interpretativos que pautam o

INSS? Qual a razão para o art. 86 da Lei 8.213/91, que trata apenas do auxílio-acidente, servir também para justificar a cessação do auxílio-suplementar, e, ao mesmo tempo e de modo paradoxal, o art. 31, da mesma lei, não servir para justificar a inclusão desse benefício no cálculo do salário-de-contribuição de qualquer aposentadoria?

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Percebe-se que a nobre autarquia vem fazendo uso das normas em comento como

se fossem verdadeiras tábulas rasas, aplicando-as somente da forma que melhor lhe convém, em detrimento a milhares de aposentados, muitos deles já idosos e debilitados. Se a cumulação não se revela mais possível, então que se promova a revisão do único benefício que ainda resta aos segurados, desde que, obviamente, tal revisão lhes seja mais favorável.

As alterações promovidas por normas posteriores serviram basicamente para

ampliar o campo de incidência do auxílio-suplementar, tanto no que diz respeito à cobertura, quanto no que concerne à alíquota aplicável para definição da sua RMI, com o único intuito de aperfeiçoá-lo e adequá-lo a uma nova realidade social.

Revela-se, portanto, imperiosa a contemplação do auxílio-suplementar como

integrante do salário-de-contribuição para fins de cálculo do salário-de-benefício de qualquer aposentadoria, ensejando-se a revisão dos benefícios de aposentadoria com fundamento no art. 31 da lei 8.213/91.

Assim, quando não presentes os requisitos para a cumulação do auxílio-suplementar

e da aposentadoria, conforme orientações mais recentes da jurisprudência e da própria administração pública – ou seja, o preenchimento dos requisitos legais tanto de ambos os benefícios antes do advento da Lei nº 9.528/1997 – impõe-se que, no momento da cessação administrativa do auxílio-suplementar, o INSS promova “de ofício” o cômputo desse benefício na renda mensal inicial da aposentadoria concedida. Isso porque, o disposto no art. 31 da Lei nº 8.213/91 é imperativo de lei, independe de qualquer manifestação prévia do segurado e se impõe ao INSS.

Em outras palavras, conquanto o segurado não tenha direito à percepção cumulativa

dos benefícios de auxílio-suplementar e de aposentadoria, a lei lhe assegura o direito à inclusão do valor mensal do auxílio-acidente nos salários-de-contribuição utilizados no período básico de cálculo da aposentadoria subsequente, para fins apuração do salário-de-benefício e cálculo da RMI.

Inclusive, destaca-se que é pacífico o entendimento jurisprudencial que acolhe

integralmente a argumentação acima, consoante se verifica dos julgados adiante transcritos: PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-SUPLEMENTAR . CÔMPUTO DO TEMPO CORRESPONDENTE PARA EFEITO DE APOSENTADORIA. IMPOSSIBILIDADE. BENEFÍCIO QUE INTEGRA, MAS NÃO SUBSTITUI, O SALÁRIO-DE-CONTRIBUIÇÃO. SEGURADO QUE NÃO CONTRIBUIU PARA A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO PERÍODO QUE PRETENDE COMPUTAR. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. 1. Por força do disposto no art. 55 da Lei n. 8.213/1991, no cálculo da aposentadoria por tempo de serviço, "é possível considerar o período em que o segurado esteve no gozo de benefício por incapacidade (auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez) para fins de carência, desde que intercalados com períodos contributivos" (AgRg no REsp 1.271.928/RS, Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, julgado em 16/10/2014; REsp 1.334.467/RS, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 28/05/2013; AgRg no Ag 1.103.831/MG, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, Quinta Turma, julgado em 03/12/2013). Nos termos do art. 31 da Lei n. 8.213/1991, o valor mensal do auxílio-acidente – e, por extensão, o valor do auxílio-suplementar, que foi absorvido por aquele (AgRg no REsp 1.347.167/RS, Rel. Ministro Ari Pargendler, Primeira Turma, julgado em 18/12/2012; AgRg no REsp 1.098.099/SP, Rel. Ministro Marco Aurélio

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Bellizze, Quinta Turma, julgado em 27/11/2012; AgRg no AREsp 116.980/SP, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 03/05/2012) – "integra o salário-de-contribuição" tão somente "para fins de cálculo do salário-de-benefício de qualquer aposentadoria". E "serão considerados para cálculo do salário-de-benefício os ganhos habituais do segurado empregado, a qualquer título, sob forma de moeda corrente ou de utilidades, sobre os quais tenha incidido contribuições previdenciárias, exceto o décimo-terceiro salário (gratificação natalina)" (art. 29, § 3º). De acordo com o art. 214 do Decreto n. 3.048/1999, não integram o salário-de-contribuição (§ 9º) os "benefícios da previdência social, nos termos e limites legais, ressalvado o disposto no § 2º" (inc. I), ressalva relacionada com o salário-maternidade. À luz desses preceptivos legais, é forçoso concluir que não pode ser computado como tempo de serviço para fins de qualquer aposentadoria o período em que o segurado percebeu apenas o auxílio-suplementar - salvo se no período contribuiu para a previdência social. 2. Recurso especial desprovido. (REsp 1247971/PR, Rel. Ministro NEWTON TRISOTTO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SC), QUINTA TURMA, julgado em 28/04/2015, DJe 15/05/2015). (GRIFOS NOSSOS). EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-SUPLEMENTAR. INCLUSÃO NO CÁLCULO DO SALÁRIO-DE-CONTRIBUIÇÃO DE APOSENTADORIA. POSSIBILIDADE. EMBARGOS ACOLHIDOS. 1. Afastada a acumulação, antecedendo o auxílio-suplementar à aposentadoria especial, o seu valor deve ser somado aos salários-de-contribuição formadores do salário-de-benefício da aposentadoria. (EREsp nº 197.037/SP, Relator Ministro Gilson Dipp, in DJ 29/5/2000). 2. Embargos de divergência acolhidos. EREsp: 501745 SP 2003/0222794-4, Relator: Ministro Hamilton Carvalhido, Data de Julgamento: 27/02/2008, S3 – Terceira Seção, Data de Publicação: DJe 30/06/2008). (GRIFOS NOSSO). PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO LEGAL. ART. 557 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. REVISÃO DE BENEFÍCIO. AUXÍLIO-SUPLEMENTAR. INCLUSÃ O NO SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO. POSSIBILIDADE. REDISCUSSÃO DA MATÉRIA. AGRAVO DESPROVIDO. - Adotadas as razões declinadas na decisão agravada. - O auxílio mensal ou suplementar constituía uma compensação financeira, de natureza indenizatória, ao segurado que teve diminuída sua capacidade laboral em razão de infortúnio. - No período em que se tratava de benefício vitalício, o auxílio mensal cessava com a aposentadoria e não se considerava pagamento em duplicidade ter seus valores computados no cálculo do salário de benefício. - Com vigência da Lei n. 8.213/91 o auxílio-suplementar foi absorvido pelo auxílio-acidente com característica vitalícia até o advento da Medida Provisória 1.596-14, de 10 de novembro de 1997, convertida na Lei n. 9.528, de 10 de dezembro de 1997. In casu, a aposentadoria por tempo de serviço foi concedida depois da Lei n. 8.213/91 e o auxílio-suplementar deveria receber o mesmo tratamento de vitaliciedade do auxílio-acidente, ou seja, ter seu pagamento cumulado com os proventos da aposentadoria. - A extinção do auxílio-suplementar juntamente com a concessão da aposentadoria, em momento posterior à Lei n. 8.213/1991, confere peculiaridade ao presente caso, pois deveria ter sido incluído no cálculo do salário de benefício da aposentadoria, conforme permitia o regramento original, mas isso não foi cumprido pela autarquia, sendo devida a revisão pleiteada. - Agravo legal a que se nega provimento. (TRF-3 - APELREEX: 2591 SP 0002591-97.2001.4.03.6104, Relator: Desembargador Federal Fausto de Sanctis, Data de Julgamento: 01/07/2013, Sétima Turma). (GRIFOS NOSSO).

A correção desse histórico equívoco no agir administrativo do INSS depende, contudo, não apenas de uma mudança de postura pró-futuro, mas também da correção, mediante a realização de uma revisão geral administrativa, da RMI de todos os benefícios remanescentes de aposentadoria daqueles segurados que tiveram seus benefícios de aux. suplementar/acidente cessados.

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III. PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA Nos termos do art. 300 do Código de Processo Civil, a tutela de urgência será

concedida quando existirem elementos da probabilidade do direito alegado e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo.

Como visto anteriormente, o INSS tem:

a) efetuado o cancelamento dos benefícios de auxílio-suplementar/acidente percebidos cumulativamente com aposentadoria quando não preenchidos os requisitos ditados pela jurisprudência contemporânea e, no mesmo ato, cobrado retroativa e INDEVIDAMENTE os valores percebidos de boa-fé pelos segurados, inclusive com a consignação no benefício de aposentadoria remanescente;

b) se omitido quanto à revisão da RMI da aposentadoria previdenciária remanescente, mediante o cômputo e soma no seu período base de cálculo (PBC) dos salários auferidos pelo segurado a título de benefício de auxílio-suplementar/acidente, nos termos do art. 31 da lei 8.213/91;

As situações descritas configuram indubitável perigo de dano, haja vista que privam

de verba alimentar insubstituível milhares de segurados da previdência social. Por outro lado, vislumbra-se que a probabilidade do direito alegado reside no fato

de que há entendimento jurisprudencial consolidado no sentido de que:

a) os valores percebidos de boa-fé pelos segurados são IRREPETÍVEIS, com respaldo no caráter alimentar dos benefícios previdenciários, bem como na segurança jurídica, visto que foram recebidos com base em interpretação administrativa que, posteriormente, foi reconhecida equivocada;

b) nos termos o art. 31, Lei 8.213/19991, tanto o auxílio-acidente quanto, por extensão, o auxílio-suplementar, devem integrar o salário-de-contribuição para fins de cálculo do salário-de-benefício de qualquer aposentadoria, admitindo-se, portanto, a REVISÃO dos benefícios remanescentes de aposentadoria concedidos sem a observância dessa regra.

Portanto, a DPU pugna pela concessão da tutela antecipada de urgência a fim de

obrigar o INSS a:

i. ABSTER-SE de promover, até a decisão final do processo, qualquer cobrança, a título de recomposição ao Erário, dos valores pagos como auxílio-suplementar/acidente, ainda que cumulados com alguma aposentadoria, antes da alteração interpretativa consolidada nas Súmulas 44 da AGU e 507 do STJ;

ii. REVISAR (desde que tal revisão seja mais vantajosa aos segurados) a RMI dos benefícios remanescentes de aposentadoria, nos termos do art. 31 da Lei 8.213/1991, mediante a inclusão e soma, no PBC destas, dos valores

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auferidos como auxílio-suplementar/acidente pelos segurados, tendo como termo a quo a DIB daqueles benefícios ou da data da própria cessação da cumulação operada no âmbito administrativo.

IV. PEDIDOS E REQUERIMENTOS Ante todo o exposto, a Defensoria Pública da União requer:

a) A citação do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL, na figura da Procuradoria Federal Especializada para, querendo, responder a presente Ação Civil Pública (art. 242, §3º, CPC);

b) A intimação do Ministério Público Federal (art. 5º, §1º, Lei 7347/1985);

c) A concessão da tutela antecipada de urgência, nos moldes em que requerida;

d) A procedência do pedido para condenar o INSS a:

i. ABSTER-SE de realizar a cobrança retroativa dos valores percebidos cumulativamente e de boa-fé pelos segurados aposentados a título de auxílio-suplementar/acidente, em razão da alteração interpretativa decorrente das súmulas 44 da AGU e 507 do STJ, com a consequente DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA de todas as cobranças realizadas sob tal fundamento;

ii. RESTITUIR/DEVOLVER aos segurados as quantias indevidamente

cobradas/descontadas/consignadas, a título de recomposição do erário público, nos moldes do item acima, com juros e correção monetária;

iii. REVISAR (desde que tal revisão seja mais vantajosa aos segurados) a RMI dos benefícios remanescentes de aposentadoria dos segurados, nos termos do art. 31 da Lei 8.213/91, mediante o cômputo e soma, no PBC destas, dos salários auferidos a título de benefício de auxílio-suplementar/acidente, com efeitos financeiros e pagamentos de eventuais atrasados a partir da DIB daqueles benefícios ou da data da própria cessação da cumulação operada no âmbito administrativo, com juros e correção monetária;

e) A imposição de multa diária de R$ 500,00 (quinhentos reais), em caso de

descumprimento da tutela proferida, com base no art. 11, Lei 7.347/1985, cujo valor deverá ser pago aos segurados ou, subsidiariamente, ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos de que trata a lei 7.347/1985;

f) A condenação do INSS, nos termos de decisão proferida pelo Plenário do

STF (STF. Plenário. AR 1937 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 30/06/2017, Acórdão Eletrônico DJe-175 DIVULG 08-08-2017 PUBLIC 09-08-2017), ao pagamento de todas as custas e despesas processuais e de honorários para

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a DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO (CNPJ 00.375.114/0001-16), na Caixa Econômica Federal (Conta Governo 10.0000-5, Agência 002, Operação 006). Outrossim, protesta-se por todos os meios de provas admitidos em Direito. Dá-se a causa o valor simbólico de R$ 1.000,00, sem prejuízo do quantum a ser

avaliado concretamente nos autos.

Vitória/ES, 27 de outubro de 2017.

JOÃO MARCOS MATTOS MARIANO Defensor Público Federal

RICARDO FIGUEIREDO GIORI Defensor Público Federal

LETÍCIA RAYANE DOURADO PINTO Advogada Voluntária

OAB/RJ 198.197

JAQUELINE FARIAS DOS SANTOS Acadêmica de Direito