decks floating, production, storage and offtake · de conservação de uso sustentável do...

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Fl.: _________ Proc. : 6831/08 Rubr.:______ MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS Diretoria de Licenciamento Ambiental – DILIC Coordenação Geral de Transportes, Mineração e Obras Civis – CGTMO Coordenação de Transportes – COTRA PARECER TÉCNICO Nº 042/2010–COTRA/CGTMO/DILIC/IBAMA Análise do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) referente ao licenciamento ambiental prévio do Polo da Industria Naval do Estado da Bahia (Estaleiro Enseada do Paraguaçu), proposto para área do município de Maragogipe, BA. Processo nº 02001.006831/2008-76. 1 INTRODUÇÃO Este parecer apresenta a análise do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) referente às obras de implantação do Pólo da Indústria Naval do Estado da Bahia (Estaleiro Enseada do Paraguaçu), proposto para o Município de Maragogipe, Bahia, sob responsabilidade da Superintendência de Desenvolvimento Industrial e Comercial do Estado da Bahia (SUDIC/BA). Na operação do estaleiro está prevista a construção de plataformas de exploração e produção de hidrocarbonetos e de embarcações de grande porte (navios) dos tipos cargueiro, tanque, conteineiro, gaseiro e militar (Figura 01). Adicionalmente, está prevista a construção e integração de módulos e decks de produção para navios de petróleo e gás natural do tipo FPSO’s (Floating, Production, Storage and Offtake). O projeto prevê, principalmente, a construção de (a) um dique seco com dimensões suficientes para acomodar as embarcações e plataformas previstas; (b) dois cais de acostagem para permitir a ancoragem de pelo menos dois navios na fase de acabamento e testes e (c) um skidway  para edificação em seco de cascos de embarcações, plataformas de E&P de petróleo. Na realização deste Parecer, além das informações contidas no EIA do empreendimento, foram consideradas as discussões e manifestações que ocorreram na Audiência Pública realizada no dia 18/01/2010 no município de Maragogipe/BA e, também, as vistorias técnicas realizadas nas áreas de influência. 2 HISTÓRICO DO PROCESSO Por meio da leitura do processo, foi possível traçar o seguinte histórico: 28/10/2008: o Governo do Estado da Bahia, através do Ofício nº 482/2008 da Secretaria da Industria, Comércio e Mineração protocolou, no IBAMA, pedido de agendamento de reunião para apresentação do empreendimento Pólo da Indústria Naval do Estado da Bahia. Página 1  de 26

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Proc.: 6831/08

Rubr.:______

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTEINSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS

Diretoria de Licenciamento Ambiental – DILICCoordenação Geral de Transportes, Mineração e Obras Civis – CGTMO

Coordenação de Transportes – COTRA

PARECER TÉCNICO Nº 042/2010–COTRA/CGTMO/DILIC/IBAMA

Análise do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) referente ao licenciamento ambiental prévio do Polo da Industria Naval   do   Estado   da   Bahia   (Estaleiro   Enseada   do Paraguaçu),   proposto   para   área   do   município   de Maragogipe, BA.Processo nº 02001.006831/2008­76.

1 INTRODUÇÃO

Este parecer apresenta a análise do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) referente às obras de implantação do Pólo da Indústria Naval do Estado da Bahia (Estaleiro Enseada do Paraguaçu),   proposto   para   o   Município   de   Maragogipe,   Bahia,   sob   responsabilidade   da Superintendência de Desenvolvimento Industrial e Comercial do Estado da Bahia (SUDIC/BA).

Na operação do estaleiro está prevista a construção de plataformas de exploração e produção de hidrocarbonetos e de embarcações de grande porte (navios) dos tipos cargueiro, tanque, conteineiro, gaseiro e militar (Figura 01). Adicionalmente, está prevista a construção e integração de módulos e decks de produção para navios de petróleo e gás natural do tipo FPSO’s (Floating, Production, Storage and Offtake). 

O   projeto   prevê,   principalmente,   a   construção   de   (a)   um   dique   seco   com dimensões suficientes para acomodar as embarcações e plataformas previstas; (b) dois cais de acostagem para permitir a ancoragem de pelo menos dois navios na fase de acabamento e testes e (c) um  skidway   para edificação em seco de cascos de embarcações, plataformas de E&P de petróleo.

Na   realização   deste   Parecer,   além   das   informações   contidas   no   EIA   do empreendimento, foram consideradas as discussões e manifestações que ocorreram na Audiência Pública realizada no dia 18/01/2010 no município de Maragogipe/BA e, também, as vistorias técnicas realizadas nas áreas de influência.

2 HISTÓRICO DO PROCESSO

Por meio da leitura do processo, foi possível traçar o seguinte histórico:

• 28/10/2008: o Governo do Estado da Bahia, através do Ofício nº 482/2008 da Secretaria da Industria, Comércio e Mineração protocolou, no IBAMA, pedido de agendamento de reunião para  apresentação do  empreendimento Pólo  da   Indústria  Naval  do Estado da Bahia.

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Figura 01 – Tipos de embarcações que se pretende construir durante a operação do empreendimento. Fonte: EIA.

• 03/11/2008:   foi   aberto   o   processo   de   licenciamento   ambiental   do   Projeto   Pólo   da Indústria Naval do Estado da Bahia;

• 28/11/2008:  realizou­se,   na   sede  do   IBAMA,   reunião   técnica   com  a  participação  de técnicos do Núcleo de Licenciamento Ambiental no Estado da Bahia (NLA/BA) na qual o empreendedor apresentou o projeto do Pólo que, à época, consistia na implantação de três   estaleiros   que   seriam   licenciados   em   conjunto   na   localidade   de   São   Roque   do Paraguaçu, município de Maragogipe/BA;

• 11/12/2008:  por   iniciativa  do  Ministério  Público  Federal   e  do  Ministério  Público  do Estado da Bahia, realizou­se, no município de Maragogipe/BA, Audiência Pública para avaliação e discussão do empreendimento na região. Em suas considerações finais, a ata 

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registra   o   posicionamento   do   Ministério   Público   de   que   “a   ausência   de   estudos  qualificados sobre a alternativa locacional implicarão na adoção de medidas judiciais  (...)”;

• 05/02/2009: a equipe técnica designada para análise do empreendimento realizou vistoria na área proposta para implantação do empreendimento;

• 27/02/2009: a DILIC/IBAMA encaminhou o Oficio nº 193/2009 ao Diretor de Unidades de Conservação de Uso Sustentável do Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade  (ICMBio),  solicitando manifestação acerca  da  compatibilidade  entre  o empreendimento em questão e os  objetivos  de  uma Unidade de Conservação de  Uso Sustentável   uma   vez   que   a   localização   inicial   encontrava­se   inserida   nos   limites   da RESEX Marinha Baía do Iguape;

• 18/03/2009: o IBAMA , através do Oficio nº156/09/GP – IBAMA, reiterou à presidência do ICMBio, os termos do Oficio anterior;

• 23/04/2009:   a   Secretaria   de   Indústria,   Comércio   e   Mineração   do   Estado   da   Bahia encaminhou, ao IBAMA, o Oficio nº 08/2009, no qual informa que o Estado da Bahia “realizará os atos necessários para revisar as poligonais nas áreas em que se postula a instalação   dos   empreendimentos   da   Indústria   Naval.”  Isto   ocorre   em   função   da sobreposição com a área da RESEX Baía do Iguape;

• 29/09/2009:  o   IBAMA   encaminhou,   através   do   Oficio   nº   253/2009   o   Termo   de Referência definitivo para elaboração do EIA/RIMA;

• 23/11/2009: o empreendedor apresentou o EIA/RIMA do empreendimento para a equipe do IBAMA que após realização de  Check­list,  elaborou a Nota Técnica nº 161/2009–COTRA/CGTMO/DILIC/IBAMA, na qual demanda alterações/complementações de uma série de itens relacionados ao meio biótico, além da adequação do RIMA, considerado extenso e com linguagem excessivamente técnica;

• 30/11/2009: o empreendedor protocolou nova versão de EIA/RIMA com as adequações solicitadas; encaminhou cópia dos ofícios comprobatórios do encaminhamento destes às Prefeituras das Áreas de Influência Direta e Indireta, bem como às Instituições Estaduais e Federais pertinentes e informou a disponibilidade para realização de Audiência Pública no dia 15 de janeiro de 2010;

• 02/12/2009: o IBAMA publicou no Diário Oficial  da União o edital  no qual  informa sobre o recebimento do EIA/RIMA e sobre a realização da Audiência Pública no dia 18/01/2010;

• 18/01/2010:   realizou­se,   no   município   de   Maragogipe,   Audiência   Pública   com   a participação de 1315 pessoas.

3 CARACTERIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO

Resumidamente, o Pólo da Indústria Naval, redenominado de Estaleiro Enseada do Paraguaçu, tem, como principal objetivo, atender parte da grande demanda por embarcações existentes   no   país   (em   especial,   por   aquelas   associadas   à   exploração   e   produção   de hidrocarbonetos em alto mar) ao passo que se dinamiza a economia do recôncavo baiano e se consolida a indústria naval no Estado da Bahia. 

3.1 ALTERNATIVAS TECNOLÓGICAS E LOCACIONAIS

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Segundo o EIA, para a definição das alternativas locionais, foram considerados os requisitos   mínimos   necessários   para   a   implantação   de   um   estaleiro   naval,   tais   como: características das embarcações a serem construídas (comprimento e calado), profundidade do canal de acesso e da bacia de evolução, largura mínima da bacia de evolução, comprimento total do dique seco,  etc.  O empreendimento proposto,  como já  colocado, objetiva,  principalmente, atender às necessidades da indústria petrolífera  offshore. Para tanto, torna­se necessário que o projeto contemple uma profundidade de, no mínimo, 12m no canal de acesso, uma largura maior que 680m na Bacia de Evolução e uma largura de 200m no canal de navegação. Neste sentido, avaliou­se que a Baía de Todos os Santos oferece condições para a implantação do projeto em função destes critérios e de outros, relativos à infraestrutura pré­existente.

Na Baía de Todos os Santos foram avaliadas quatro áreas: Salvador, Baía de Aratu, Madre de  Deus e  São Roque do Paraguaçu,   tendo­se definido  pela   localização nesta  última devido   à   existência   de   um   canal   de   navegação   profundo   e   de   áreas   relativamente   planas adjacentes ao canal. Esta área, no entanto, apresenta alta sensibilidade ambiental e se constitui em importante área de extrativismo por parte de comunidades tradicionais, abrigando inclusive, a Reserva Extrativista Marinha Baía do Iguape, além de populações Quilombolas.

Em São Roque do Paraguaçu, inicialmente, foram selecionadas três áreas distintas localizadas ao longo do canal do Paraguaçu onde se distribuiriam as instalações pretendidas. Juntas, estas áreas totalizariam cerca de 670ha.

Na Ponta do Buri, onde se previa a instalação de um dos estaleiros, a existência de população quilombola, o fato da área estar incluída no polígono da Reserva Extrativista Marinha do   Iguape,   além   de   fatores   ligados   à   topografia   e   vegetação   fez   com   que   a   mesma   fosse descartada.

Da   mesma   maneira,   previa­se   a   instalação   de   um   empreendimento   na   área denominada Ponta do Seguro.  Nesta,  a existência de um conjunto de sítios arqueológicos de idades   pré­históricas   e   históricas,   afloramento   de   arenitos   ­   que   demandariam   obras   de derrocamento e a interferência com atividades pesqueiras e com mamíferos marinhos também acarretaram o descarte dessa opção.

Restou   a  área   denominada  Ponta   do  Corujão   (Figura  02),   terreno  vizinho   ao canteiro de São Roque de Paraguaçu operado pela Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobrás). Essa área tinha seus limites no interior da Reserva Extrativista Marinha da Baía do Iguape. A RESEX, no entanto, teve seus limites alterados pela Lei nº 12.058/09, ficando a área do Canteiro de São Roque de Paraguaçu e a área pretendida para o estaleiro fora da RESEX. Permanece, no entanto, em sua área de amortecimento e vizinha à comunidade de Enseada do Paraguaçu (quilombola). Outros aspectos (disponibilidade de terreno plano, canal de navegação profundo, proximidade com a estrutura do Canteiro de São Roque, etc), no entanto, favoreceram a escolha desta área para abrigar o empreendimento que teve que se readequar em função da redução da área.

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Figura 02 – Vista aérea da Ponta do Corujão. Fonte: EIA.3.2 LOCALIZAÇÃO, ESTRUTURAS E INSTALAÇÕES PREVISTAS

A área na qual se pretende implantar o Estaleiro do Paraguaçu situa­se à margem direita do rio Paraguaçu numa localidade denominada Ponta do Corujão. Corresponde a uma área de aproximadamente 164,85ha, dos quais 37,91ha serão destinados a área de Reserva Legal. Os 126,94ha restantes serão destinados à Planta Industrial, incluindo a área marítima aterrada de 15,72ha, onde se prevê a construção do cais de acostamento.

O   EIA   apresenta   as   estruturas   e   instalações   previstas   para   o   Estaleiro   do Paraguaçu, as quais se dividem em área administrativa, área de materiais, central de utilidades e área industrial que ocuparão uma área total de 289.644m2. 

Segundo   as   informações   constantes   do   EIA   no   item   “Caracterização   do Empreendimento”, o projeto do empreendimento terá as seguintes estruturas:

Estruturas e instalações previstas 

Edificações/Estruturas

Área Administrativa

Prédio   da   administração   central   (3000m2);   Escritórios   dos Armadores   (675m2);  Estacionamento de veículos   leves com capacidade  para   200   veículos;   Estacionamento  de   veículos pesados para 10 carretas; Portaria principal (100m2); Cozinha/refeitório   (2.000m2);   Vestiários/banheiros   para   4000 trabalhadores em dois turnos (7.000m2); Serviço médico (300 m2); Serviços gerais (400m2); Recrutamento e seleção, com salas   de   aula,   auditório,   etc;   Área   de   entretenimento (1000m2); Área verde e jardins.

Área de materiais

Administração  de  materiais   (300m2);  Almoxarifado coberto constituído por 2 galpões geminados e equipados com ponte rolante (6600m2); Pátio descoberto para materiais (15000m2); Pátio  descoberto para perfis  e   tubos constituído por  quatro linhas de pontes rolantes e com capacidade de estocagem para 32000   toneladas;   Administração   da   produção   (1200m2); Controle   de   qualidade   (600m2);   Oficinas   de   manutenção (2325m2);  Ferramentaria   constituída  por   unidades  portáteis distribuídas nos edifícios (1000m2).

Central de utilidades Subestações   compostas   por   cubículo   de   Alta   Tensão, subestação rebaixadora e  redes de distribuição;  Geração de emergência com gerador com capacidade de cerca de 1000 

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KVA; Centrais de gases composta por redes de distribuição de Oxigênio   líquido   e   GLP   e   estações   de   controle   junto   aos pontos   de   consumo;   Centrais   de   ar   comprimido   com capacidade estimada de 5000 ft 3/min 110psi; Água industrial e potável com caixas d'água com capacidade total de 2800m3; Estação de tratamento de esgotos; Coleta de água pluvial com rede   de   drenagem   para   coleta   e   tratamento;   Área   de armazenamento   de   resíduos   constituída   de   uma   baia   de armazenamento   de   cerca   de   800m2  onde   ocorrerão   as atividades   de   segregação,   reutilização   e   destinação   dos resíduos gerados.

Área Industrial

Montagem estrutural  de blocos,  com 4 edifícios   industriais geminados;   Linha   de   tratamento   superficial   de   chapas, composta  por   câmara  de  aquecimento,  unidade   fechada  de jateamento   automático   com   granalha   de   aço   e   câmara   de aplicação automática de  shop primer; Fábrica de acessórios de   aço   (Outfitings);  Fábrica  de  peças   de   tubulações   (Pipe shop);  Fábrica de webs e perfis  T; Fábrica de Módulos de Unidades   (Skids);   Oficina   de   instalação   de   acessórios; Jateamento e  pintura de blocos/depósito  de  tintas;  Área de montagem (Skidway); Dique seco; Cais de acabamento;

3.3 DEMANDAS DE TRANSPORTES E TIPOS DE CARGAS/MATERIAISO Estudo apresenta as demandas de transportes e os tipos de cargas que serão 

utilizados no Estaleiro. Estima­se que em sua maioria, estes materiais chegarão por via marítima, sem,   no   entanto,   provocar   grandes   interferências   na   circulação   de   embarcações   da   área   de influência direta do empreendimento. No que diz respeito aos acessos rodoviários, o EIA coloca que o Governo do Estado da Bahia se responsabilizará pela construção da Estrada de Rodagem pavimentada ligando Salinas da Margarida à entrada do Estaleiro, bem como da conexão com a rodovia que atende a Vila de São Roque e Maragogipe.

Os materiais a serem utilizados para concretagem de algumas das instalações do Estaleiro   (brita,   areia,   etc)   serão   provenientes   de   duas   jazidas   comerciais   devidamente licenciadas.

3.4 BOTA­FORASPrevê­se que a implantação do Estaleiro gerará dois tipos de bota­fora. O primeiro, 

decorrente das atividades de terraplanagem, receberá um volume previsto de 519243m3  e será transportado  para  o  Aterro  Sanitário  de  Santo  Antônio  de   Jesus.  O segundo,  decorrente  da dragagem de aprofundamento da bacia de atracação do empreendimento (para obtenção de uma cota de 10m) tem o volume estimado em 1283008m3  correspondendo a uma área dragada de 229518m2.   Seu   descarte   está   previsto   para   em   ponto   localizado   a   setenta   quilômetros   do empreendimento nas coordenadas 13o09'S e 38o25'W  apenas durante os períodos de início de maré vazante.

3.5 ATERRO HIDRÁULICO

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Está prevista, para a etapa de implantação do empreendimento, a execução de um aterro hidráulico, no volume de 802582m3 correspondendo a uma área de 15,72ha. Esta área está distribuída em uma parte do polígono em terra na cota 0, e uma parte no solo marinho que deverá atingir a cota de +5m (altura do piso da Planta Industrial do Estaleiro).

3.6 EFLUENTES LÍQUIDOSDurante   a   fase   de   implantação,   os   efluentes   líquidos   se   caracterizarão, 

basicamente, pelo esgoto sanitário do canteiro de obras. Para coleta, tratamento e destinação final desses efluentes,  prevê­se a contratação de empresa especializada.  Na fase de operação, esta coleta se fará através de sistema de tubulação de PVC com tratamento direcionado para ETE compacta. Antes do lançamento do esgoto na ETE, serão utilizados pré­tratamentos, como: caixa separadora  de  gordura   (despejo  do   refeitório)  e  caixa  separadora  de  óleos  e  graxas   (oficina mecânica). Quanto ao sistema ETE, este será composto pelos seguintes elementos: gradeamento, caixa   de   areia   e   medição   de   vazão,   elevatória   de   esgoto   bruto,   reator   aeróbico   de   fluxo ascendente, decantador secundário e dosagem química.

3.7 RESÍDUOS SÓLIDOSO  EIA   informa  que  na   etapa  de   implantação,   os   resíduos   sólidos  gerados   se 

constituirão,   basicamente   de   restos   vegetais   (desmatamento),   solo   removido   durante   a terraplanagem,  sobras  e   restos  de materiais  de construção,   lixo proveniente  dos   refeitórios  e escritórios e lixo ambulatorial. Para a etapa de operação, apresenta­se uma relação de vinte e nove itens com respectivas classificações,  forma de acondicionamento e destinação. Para sua destinação, o estudo afirma que será necessária a readequação da infraestrutura disponível para coleta e disposição dos resíduos sólidos no município de Maragogipe com a implantação de um Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos para a região, de ações de Educação Sócio­Ambiental e a adequação ou construção de Aterro Sanitário.

3.8 EMISSÕES ATMOSFÉRICAS As emissões atmosféricas referem­se a descargas de veículos que circularão na 

área, considerados como valores pequenos. Quanto às atividades de jateamento de chapas de aço, o estudo informa que estas serão realizadas em cabines isoladas com tecnologia que evitará a propagação das emissões para o meio externo. 

3.9 CONTRATAÇÃO DE MÃO DE OBRAPara   a   fase   de   implantação,   estima­se   a   criação  de   cerca   de   3600   postos   de 

trabalho para cargos com exigência de escolaridade variando entre ensino fundamental e médio, dependendo do cargo a ser preenchido. Na fase de operação, prevê­se a contratação de cerca de 4000   trabalhadores   durante   o   pico   da   produção.   Segundo   os   empreendedores,   dar­se­á preferência para trabalhadores da própria região, motivo pelo qual serão estabelecidos convênios com o SENAI e o PROMINP para assegurar o treinamento básico dos mesmos.

4 DIAGNÓSTICO AMBIENTAL

4.1 ÁREAS DE INFLUÊNCIAA Área Diretamente Afetada (ADA) para o meio físico e biótico,  foi  definida 

como a área que sofrerá intervenções diretas das atividades, correspondente a 150,68ha da Ponta do  Corujão,   porém,   cerca  de     7,91ha   serão  área   de   reserva   legal,   o   que   limita   a  área   que 

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efetivamente sofrerá intervenção a cerca de 112,8ha. No ambiente aquático, foi definida uma área de   100m   ao   longo   do   trecho   de   937m   em   direção   ao   canal   do   Paraguaçu.   Ainda   foram consideradas a área de descarte nas coordenadas 13°  09'S e 38° 25'W, a rota de navegação a partir  da   foz  do   rio  Paraguaçu,  o  acesso   terrestre  abrangendo  a  estrada  que   liga  Salinas  da Margarida ao distrito de Enseada, a derivação da estrada BR­420 que contornará as nascentes do rio Baetantã, percurso da linha de 69kv desde a subestação de Muritiba pela Coelba, e o percurso da adutora entre o Rio Camarões e o empreendimento.

O estudo informa que a linha de transmissão e a adutora não foram consideradas como ADA pois possuem licenciamentos específicos.

A Área  de   Influência  Direta   (AID),   foi  definida  com base  em dois   critérios: hidrologia e aspectos ambientais do empreendimento. Com isso, a área definida no ambiente aquático   abrange   a   extensão   compreendida   entre   uma   linha   imaginária   situada   entre   as localidades de São Roque do Paraguaçu e a extremidade oeste da Ilha de Monte Cristo e outra linha imaginária na foz do Rio Paraguaçu entre a Ponta do Alambique e a Ponta do Belmiro, na margem oposta. No ambiente terrestre foi definida a distância de 1000m no entorno da poligonal do empreendimento e a bacia do Rio Baetantã foi considerada como AID por sua importância para as atividades extrativistas da região tanto em sua parte aquática como no trecho final da sua margem direita.

A Área de Influência Indireta (AII) foi definida no ambiente aquático como o trecho do Rio Paraguaçu a partir do Rio Subaúma, englobando a Baía de Iguape e estendendo­se até uma linha imaginária entre São Roque de Paraguaçu e a margem oeste da Ilha de Monte Cristo e o trecho de cerca de 4800m estendendo­se na direção Leste a partir da linha imaginária entre a Ponta do Alambique e a Ponta do Belmiro, na foz do Rio Paraguaçu com Baía de Todos os Santos.  Para o ambiente terrestre foi considerada uma distância de 500m no entorno dos contornos da AID do estaleiro. Ressalta-se que foi considerada, assim como a delimitação da AID, todo o percurso da Bacia do Rio Baetantã, abrangendo os manguezais e apicuns ao longo deste rio.

Para o meio socioeconômico, o estudo considerou, como AID, os municípios de Maragogipe, Salinas da Margarida e Saubara. Como AII, o EIA considerou os municípios de Cachoeira, São Félix e Itaparica. Entretanto, apesar de se referir aos impactos das atividades previstas para cada etapa do empreendimento sobre o meio socioeconômico, não se considerou, na definição das áreas de influência para este meio, as interferências resultantes destas atividades no ambiente marítimo (áreas de pesca e rotas de acesso aos pesqueiros, por exemplo). Do mesmo modo, usuários da RESEX Marinha Baía do Iguape, como as comunidades de São Francisco de Iguape e Santiago de Iguape, Nagé, Coqueiros entre outras, ficaram de fora da área de influência direta do empreendimento.

4.2 DIAGNÓSTICO DO MEIO FÍSICOA caracterização meteorológica foi   realizada por meio da análise  de dados de 

diversas   fontes:   Instituto   Nacional   de   Meteorologia   (INMET)   –   Estação   Meteorológica   de Salvador,   referentes  ao período entre  1931 e  2008;  estudos  científicos   realizados  na  Baia  de Todos os Santos e São Roque do Paraguaçu; medições realizadas em campo com a instalação de uma estação meteorológica  La Crosse, ressalta­se que os dados obtidos em campo são de um período de apenas 2 ou 3 dias, entre 09 e 11/03/2009.

A temperatura média anual na região do estuário do Rio Paraguaçu é de 24°C, com amplitude térmica anual de 5°C, sendo a média mensal mínima de 21°C e a máxima de 

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26°C. Os meses de Novembro a Março são os que apresentam maiores temperaturas e Julho e o mês de Agosto as menores. 

Quanto as precipitações, os valores máximos estão entre os meses de Abril a Julho para  ambos  os  períodos  e  os  valores  mínimos   foram registrados  nos  meses  de  Dezembro e Janeiro, o que interfere na umidade relativa do ar. No período chuvoso, delimitado neste trecho do EIA como sendo de abril a setembro, a umidade relativa atinge valores maiores que 78%, chegando ao máximo de 85% em julho, e no período seco, de Outubro a Março, com menos de 75%, baixando para o mínimo de 66% de Outubro a Fevereiro.

O estudo afirma que  o  vento   local  é   fortemente   influenciado  pela   topografia, fazendo com que os ventos locais não reflitam exatamente o padrão de circulação dos ventos regionais.  Esta  afirmação demonstra  que os dados apresentados  não são representativos para avaliar corretamente as dispersões atmosféricas, uma vez que os dados locais foram obtidos em apenas dois dias.

A caracterização geológica foi baseada na literatura e em trabalhos de campo e a fotointerpretação de uma imagem de satélite SPOT de 19/07/2006. Para as áreas submersas foram obtidas   amostragens   de   sedimentos   em   90   estações   com   draga  van   Veen  para   análises granulométricas e foram realizadas sondagens jet probe no canal de São Roque de Paraguaçu.

Os   sedimentos   mais   finos   estão   preferentemente   associados   aos   trechos   mais profundos do canal do Paraguaçu, bem como na desembocadura com a Baía de todos os Santos. As   características   geotécnicas   da   área   emersa,   que   apresenta   dominância   de   arenitos   com acamamento   horizontal   oferecendo   boas   condições   para   construções.   O   estudo   cita   o   risco potencial   de   queda   de   blocos   e   possibilidade   de   erosão.   O   próprio   estudo   recomenda   que investigações   geotécnicas   mais   detalhadas   sejam   conduzidas,   principalmente   quando   da ocupação das áreas exibindo as maiores declividades ou próximas a estas.

A caracterização dos  solos   foi   realizada  por  meio  de   levantamento  dos  dados existentes, levantamento de campo com 7 perfis e 16 vértices da porção amostrada as quais foram analisadas   conforme   os   parâmetros   do   Sistema   Brasileiro   de   Classificação   de   Solos   da EMBRAPA e Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos (SNCLCS).

Os   solos,   de   modo   geral,   são   do   tipo   Argissolo   Amarelo   e   Neossolos Quartzarênico, e que 55,29% apresentam de moderada a alta erodibilidade, devido à disposição dos solos em relevos suave ondulado, ondulado e forte ondulado, enquanto que o restante da área apresenta fraca susceptibilidade à erosão.

A   caracterização   geomorfológica   foi   realizada   com   a   utilização   dos   modelos numéricos SRTM (Shuttle Radar Topography Mission), gerados pela NASA.

Os principais processos atuantes responsáveis pelo modelado do terreno são as quedas de blocos, fluxo de detritos e voçorocas. A área submersa é caracterizada essencialmente pela presença do cânion, sendo que as profundidades diminuem rapidamente quando o canal atinge a Baía de Todos os Santos.

A   caracterização   do   regime   hídrico   foi   realizada   tomando   como   base   dados bibliográficos e consideram as vazões das sub­bacias contribuintes a jusante da barragem, os dados de descargas da barragem e vazões mensais  mensais dos rios Paraguaçu e Jacuípe. No que se refere aos usos da água foram utilizados dados do Instituto de Gestão das Águas e Clima – INGA.

As vazões da barragem de Pedra do Cavalo foram determinadas em função de séries   fluviométricas   longas   observadas   diretamente,   nas   sub­bacias   do   baixo   curso   do   rio Paraguaçu as vazões foram estimadas a partir de simulações chuva vazão, o que torna os dados menos confiáveis, considerados compatíveis com os objetivos deste trabalho.

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Para   a   caracterização   hidrogeológica   e   uso   dos   recursos   hídricos   da   área   de influência direta, foram realizados levantamentos de dados secundários, para a área diretamente afetada,   além   dos   dados   secundários   foram   montados   mapas   topográficos,   dos   furos   de sondagens,   potenciométricos e de sensibilidade dos aquíferos, este último com a metodologia GOD.

Na área diretamente afetada foram observados dois tipos de aquíferos, por meio das informações obtidas nos furos de sondagem, o aquífero livre e o aquífero Sergi. O primeiro é freático e  formado por  sedimentos arenosos,  é  alimentado diretamente pelas  precipitações,  e sujeito a influências das oscilações do nível do rio Paraguaçu, e de modo indireto, das marés. O Aquífero Sergi, formado pelas rochas da formação com o mesmo nome, e apresenta extensão regional.

A classificação da vulnerabilidade do aquífero foi definida por meio da aplicação da metodologia GOD (Foster & Hirata, 1991) a ADA apresentou índice de vulnerabilidade alto nas  áreas   mais   baixas   e   planas   do   terreno,   com  nível   de  água   subterrânea   mais   raso,   e   o moderado nas áreas elevadas do terreno, que apresentam nível de água mais profunda.

Não foi  identificado um programa de proteção dos aquíferos,  portanto deve­se incluir ações que evitem a contaminação dos aquíferos, além do monitoramento.

Foram  realizadas  duas   campanhas  para   a  qualidade  da  água  com uma  malha amostral de 14 estações na primeira campanha e 9 na segunda, em razão da alteração do projeto. Foram   realizadas   amostras   em   três   níveis   para   a   maioria   dos   parâmetros,   superfície, desaparecimento do disco de secchi e a 1 metro do fundo em três áreas do baixo curso do rio Paraguaçu   –   Baía   de   Iguape,   Canal   Central   e   Desembocadura.   Os   parâmetros   coliformes termotolerantes, enterococos e óleos e graxas foram determinados apenas na superfície, enquanto clorofila a foi feita na superfície e profundidade de secchi. Dez amostragens superficiais foram realizadas nas águas dos afluentes do rio Paraguaçu.

Para as águas doces, grande parte dos dados analisados apresentou valores em conformidade com os definidos para a classe 2 da Resolução CONAMA 344/04. Os parâmetros apresentaram resultados elevados em algumas amostras como Enterococcus, Escherichia coli, Óleos e graxas, Clorofila, Ferro dissolvido e Índice de Fenóis.

As análises de água salgada comprovaram o efeito de sazonalidade pela formação de gradientes espaciais entre a Baía de Iguape e a desembocadura. Foram encontrados indícios de contaminação por efluentes domésticos, particularmente pelo registro de números de colônias de Enterococcus acima do limite de Balneabilidade Imprópria da Resolução CONAMA 274/00 na campanha de Inverno. Foram detectados alguns resultados acima dos limites para cádmio (01 amostra), Níquel (03 amostras), cromo (04 amostras), Manganês (01 amostras) e ferro dissolvido (08 amostras),  nas amostras  superficiais.  Na profundidade de Secchi  foram detectados  cobre dissolvido (01 amostra)  e   ferro dissolvido (08 amostras),  e  no fundo mercúrio   (01 amostra), cádmio (01 amostra), chumbo (01 amostra), níquel (01 amostra), cromo (02 amostras), manganês (01 amostra), cobre dissolvido (01 amostra) e ferro dissolvido (10 amostras).

DRAGAGEMPara   a   viabilização   do   empreendimento   foi   estimada   uma   dragagem   de 

1.283.008,86m³ em uma área de    229.518,58m² considerando uma profundidade final de ­10m, com   uma   média   de   escavação   de   5,59m.   Para   a   caracterização   destes   sedimentos   foram realizadas coletas de 05 amostras superficiais no Canal do Paraguaçu, como também na ADA, através  da realização de 16 testemunhos de 1m de espessura,  dos quais  foram analisadas  28 amostras, totalizando um esforço amostral de 33 amostras.

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Segundo o   item 1 do  anexo 1  da Resolução Conama n°  344/2004,  o  número mínimo de amostras para a obtenção de uma caracterização representativa para um volume de 1.300.000m³   totalizaria cerca de 27 amostras.  Este   item ainda determina que as amostragens devem “caracterizar a seção horizontal e vertical da área de dragagem, a partir de coleta de  amostras de sedimentos que representem os materiais a serem dragados. A distribuição espacial  das amostras de sedimento deve ser representativa da dimensão da área e do volume a ser  dragado. As profundidades das coletas das amostras devem ser representativas do perfil (cota) a ser dragado.”

O   mapa   de   amostragens   (Anexo   5.1­2)   não   delimita   área   de   dragagem   do empreendimento, dificultando a análise da representatividade amostral, observa­se que apenas 20 destas 33 amostras estão localizadas na área diretamente afetada,  ou seja,  a área que sofrerá intervenções, o que, segundo a 344, é   insuficiente para caracterizar o volume a ser dragado. Comparando­se com o mapa das áreas de influência para os meios físico e biótico (Anexo 4­1) inferiu­se que todas as amostras de sedimentos estão localizadas na área de construção do píer, com algumas contemplando a área de construção do dique seco,  porém sem atingir  a  seção vertical a ser dragada, o que descumpre o disposto na Resolução Conama n° 344/04, uma vez que não permitem, minimamente, a avaliação dos sedimentos a serem dragados.

É   importante   esclarecer   que   durante   a   análise   de   abrangência   (check   list)   o empreendedor foi questionado quanto a provável falta de representatividade da caracterização dos sedimentos, porém, foi assegurado que devido a modificações no projeto a área de dragagem estaria limitada e teria sido devidamente caracterizada, o que não se confirmou em uma análise mais cuidadosa da questão. 

Embora   os   pontos   não   representem   os   sedimentos   a   serem   dragados,   cabe comentar que apenas o ponto superficial denominado Kit3, localizado no canal do Paraguaçu, apresentou concentrações de contaminantes que excederam os níveis de referência da Resolução Conama 344/2004. Nos sedimentos coletados neste ponto foram detectadas concentrações que excedem   os   níveis   de   referência   para   mercúrio   e   para   vários   hidrocarbonetos   policíclicos aromáticos ­ HPAs, com exceção do Benzo(a)antraceno, Dibenzo(a,h)antraceno e Fluoranteno. Foram detectadas concentrações elevadas de HPAs, atingindo valores várias vezes maiores que o valor de referência,  com um resultado de Acenafteno que foram quantificadas  concentrações mais de 12 vezes superiores.

O estudo aponta como prováveis causas para estes valores a maior profundidade deste ponto amostral  em relação aos demais,   inclusive o Kit4  localizado a apenas 50m, que causariam a ocorrência de uma área deposicional com maior predominância de sedimentos finos. Entendemos que a diferença entre os valores é muito elevada para que seja devida a uma causa natural, portanto deve­se considerar contaminação da amostra ou problemas analíticos.

Outro fato que chama a atenção é a aparente ausência de relação entre resultados encontrados nas análises de água, sobretudo para metais, e nos detectados nos sedimentos, uma vez que a presença de metais em suspensão ou solução indica que provavelmente estes devam ser encontrados nos sedimentos, ao menos nas áreas deposicionais.

A caracterização apresentada não atende ao disposto na Resolução CONAMA n° 344/04, uma vez que, de acordo com o projeto apresentado, não foi realizada caracterização nos sedimentos a serem dragados. Recomenda­se que sejam esclarecidas eventuais modificações no projeto e/ou realizada caracterização dos sedimentos em conformidade com a norma previamente a manifestação deste Instituto sobre a viabilidade do empreendimento. 

OCEANOGRAFIA FÍSICA

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A análise observacional da oceanografia física foi feita com base em coletas de campo e na tese de doutorado de Genz (2006) apresentada ao programa de pós­graduação em geologia da Universidade Federal da Bahia. 

Por meio dessas duas fontes, foram obtidos um perfil bidimensional de salinidade ao longo do estuário e do baixo curso do rio Paraguaçú e seções transversais de velocidades, salinidade, temperatura e sedimentos em suspensão na saída do estuário em duas seções fixas (Seções 1 e 2). Os dados referentes a Seção 1 (localizada a jusante da ADA) foram retirados de Genz (2006), enquanto que aqueles referentes à Seção 2 (localizada a montante da ADA), foram coletados em campo nos dias 10/03, 11/03 e 05/10 de 2009.

Nas duas seções, os dados de velocidade foram coletados durante ciclos completos de maré em tempos regulares através de ADCP de 600kHz configurado para adquirir dados a cada dois metros na vertical e a cada 6 metros na horizontal. As demais variáveis foram medidas através do lançamento de CTD, cuja metodologia de utilização só foi explicitada para o caso da Seção 2. 

Adicionalmente,   a   análise  observacional   foi   complementada  com a   revisão  de outras  publicações,  como a de Lessa et  al.   (2009).  Os principais  aspectos   levantados nessas publicações são:

• A hidrodinâmica no Estuário do Rio Paraguaçú é regida, basicamente, pela propagação da maré  e  pela descarga de água doce promovida por pequenos afluentes  e pelo Rio Paraguaçú ­ o qual, por sua vez, tem a vazão regulada pela barragem de Pedra do Cavalo;

• No   estuário   do   rio   Paraguaçú,   a   altura   média   em   sizígia   e   quadratura   é   de, aproximadamente, 2,7 e 1,4m respectivamente.

• À  medida em que penetra  na Baía de Todos os Santos (BTS),  a onda de maré  sofre amplificação e distorção significativas, atingindo o máximo desses fenômenos na Região da Baía de Iguape (pouco a montante da ADA). Como consequência, a altura de maré chega a ser 75cm maior na ADA que na entrada da BTS e as correntes de enchente apresentam velocidades consideravelmente mais baixas que as de vazante;

• A temperatura média da água ao longo do Canal do Paraguaçú chega a ser 2 °C mais fria no inverno, sendo que, em todo o ano, o gradiente vertical de temperatura aumenta de jusante para montante;

• Quando há baixa descarga na represa (10­15 m³.s­1), a coluna d'água se apresenta bem misturada ao longo de todo o estuário do Rio Paraguaçú com salinidades maiores que 30. À   medida   em   que   a   vazão   na   represa   aumenta,   a   coluna   aumenta   seu   grau   de estratificação,   tornando­se   estratificada   quando   submetida   a   vazões   médias   diárias maiores que 1000 m³.s­1;

A tese de Genz (2006), especificamente, observou:

• um valor máximo de velocidade igual a 1,18m.s­1, referente a um período de maré vazante de sizígia;

• uma coluna d'água mais misturada em períodos de maré de sizígia que de quadratura;• estrutura   de   correntes   residuais   unidirecional   (para   jusante)   em   marés   de   sizígia   e 

estratificada   em   marés   de   quadratura   –   quando   maiores   gradientes   longitudinais   de salinidade entre a BTS e a Baía de Iguape causados por uma menor penetração de sal induzem a formação de duas camadas de água de sentido oposto.

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Já os dados amostrados, no entender desta equipe, são pouco representativos, em termos temporais, quando comparados com os dados já presentes na bibliografia, servindo, para efeito de diagnóstico ambiental, apenas para complementar as informações já existentes.

4.3 DIAGNÓSTICO DO MEIO BIÓTICO As  análises   referentes  a   fauna do  meio  biótico  serão apresentadas  em Parecer 

Técnico à parte.O diagnóstico de flora do empreendimento em questão foi realizado com a

execução de levantamentos florísticos e fitossociológicos em sua Área Diretamente Afetada (ADA), localizada na Ponta do Corujão, no distrito de São Roque do Paraguaçu, município de Maragogipe – BA. Na área de estudo foram identificadas as seguintes fitofisionomias, representadas na tabela abaixo:

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Fitofisionomias da ADA ÁREA (ha) – Ponta do Corujão

Área Antropizada 18,4

Mata Paludosa 19,5

Floresta Ombrófila em estágio médio de regeneração

16,21

Mata de Restinga 14,41

Floresta Ombrófila em estágio inicial de regeneração

50,21

Floresta Ombrófila em estágio inicial a médio de regeneração

17,08

Manguezal 16

Solo Exposto 3,09

TOTAL 154,9

Ressalta-se que não foram consideradas na área de estudo a definição das vias de acesso ao empreendimento, que pode conter fragmentos de mata preservadas da região, além do diagnóstico incluindo as áreas de influência indireta (AII) e direta (AID) do empreendimento. Esta definições deverão ser apresentadas já nesta etapa de licenciamento.

Para a execução do levantamento florístico, a coleta dos dados primários foi feita através de caminhadas pelas trilhas já existentes na área e por amostragem. Quando necessário, foram coletados exemplares férteis para identificação botânica em herbário (Herbário CEPEC – Centro de Pesquisas do Cacau). Ressalta-se que também foi utilizada bibliografia específica e feita a classificação taxonômica.

Segundo o EIA, para o levantamento fitossociológico foram realizadas duas campanhas de campo considerando a sazonalidade (período seco e chuvoso), a fim de contemplar todas as variações apresentadas pela vegetação. Entretanto, não foi informado o período em que tais campanhas para flora foram realizadas.

A amostragem foi distribuída em 25 unidades amostrais de 100m2 cada, ao longo de 5 transectos, de forma que fossem contempladas todas as fitofisionomias do local. Cada transecto possui 200m de comprimento e as parcelas foram distribuídas com espaçamento de 50 metros entre si. Nas parcelas foram coletados os dados do número de indivíduos por espécie, o CAP (Circunferência à Altura do Peito) dos indivíduos que possuíam este maior ou igual a 15cm, e a altura estimada. Ressalta-se que a suficiência amostral foi comprovada pela apresentação da curva do coletor, por fitofisionomia, com tendência à estabilização.

Para a vegetação de mangue, foram amostradas adicionalmente mais 14 parcelas de área fixa 10 x 10m (100m2), dispostas aleatoriamente ao longo da área. Foram mensurados os indivíduos com CAP maior ou igual a 10cm, registrando as espécies encontradas e a sua altura estimada. Já para a fitofisionomia de apicum foram amostrados 250m2 de área, distribuídos em 8 sub-parcelas de 31,25m2 de área. Em cada sub-parcela foi feito o cálculo da cobertura das espécies na área, a partir da estimativa percentual da superfície do solo coberta pela porção aérea vegetal.

Os parâmetros fitossociológicos utilizados para a análise da estrutura horizontal das áreas amostradas foram a densidade, dominância e frequência das espécies, índice do valor de importância (IVI) e valor de cobertura (VC).

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LEVANTAMENTO FLORÍSTICOForam identificadas pelo estudo as fitofisionomias de Floresta Ombrófila Densa

(em estágio inicial, inicial a médio e médio de regeneração), Mata Paludosa e Restinga, e Manguezal. No levantamento florístico foram identificadas 114 espécies, pertencentes a 58 famílias. Entre as famílias identificadas, as mais representativas foram Melastomataceae (nove espécies), Clusiaceae e Cyperaceae (seis espécies), Arecaceae, Fabaceae e Mimosaceae (cinco espécies cada). Outras famílias registradas foram Anacardiaceae, Bromeliaceae, Myrtaceae e Poaceae, todas apresentando quatro espécies. A soma dessas famílias corresponde a 55,04% do total das espécies identificadas.

A presença em larga escala de espécies da família Cyperaceae associa-se com a ocorrência de grandes áreas alteradas em estágios pioneiros e iniciais de regeneração, em que é comum a presença de populações de Scleria spp. (capim navalha), de rápida propagação.

Através dos dados apresentados, foi citado no estudo o registro de espécies indicadoras de alteração ambiental, esta geralmente associada à intervenção humana. A alta densidade populacional de espécies pioneiras ou até mesmo espécies invasoras ratifica essa informação. Segundo o estudo, 67% das espécies identificadas encontram-se no grupo de sucessão ecológica pioneiro, dando uma idéia do estado geral de regeneração que a área se encontra.

Segundo o estudo e considerando a Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçada de Extinção, IN nº06, de 23/09/08, não foi encontrada nenhuma espécie enquadrada no rol das espécies ameaçadas. Entretanto, ressalta-se que foi registrada uma espécies constante (Attalea funifera) na referida lista, mas no ANEXO II, referente as espécies da flora brasileira com deficiência de dados.

Outro aspecto a ser melhorado diz respeito à correta identificação taxonômica das espécies botânicas presentes na AID e ADA. A identificação das espécies sem epítetos ou indeterminadas é importante na medida em que os projetos de plantio compensatório e de revegetação do local devem priorizar, por exemplo, a escolha de espécies nativas existentes na região, seguindo a reposição florestal citada no §1º do Art. 17 da Lei 11.428/2006, que dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica. Na fitofisionomia Floresta Ombrófila Densa em estágio médio de regeneração, por exemplo, a espécie “Indet. 01” apresentou um dos maiores índices de valor de importância (VI=71,66).

Tal solicitação baseia-se no fato de que, segundo a IN nº06, do MMA, a espécie Eugenia itacarensis, por exemplo, está na lista de espécies ameaçadas de extinção e na ADA do empreendimento foram registrados indivíduos do gênero Eugenia sp. A exigência da completa e correta identificação também é baseada em exigência legal expressa no Decreto Federal 6.660/2008, que regulamenta os dispositivos da Lei 11.428/2006, que traz em seu texto:

Capítulo XII - DA SUPRESSÃO DE ESPÉCIES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃOArt. 39(…)Parágrafo único. Nos termos do art. 11, inciso I, alínea a, da Lei

11.428, de 2006, é vedada a autorização de que trata o caput nos casos em que a intervenção, parcelamento ou empreendimento puserem em risco a sobrevivência in situ de espécies da flora ou fauna ameaçadas de extinção,tais como:

I – corte ou supressão de espécie ameaçada de extinção restrita à área de abrangência direta da intervenção, parcelamento ou empreendimento; ou

II – corte ou supressão de população vegetal com variabilidade genética exclusiva na área de abrangência direta da intervenção, parcelamento ou empreendimento.

Diante do exposto, faz-se necessária a identificação em nível específico ou na impossibilidade de tal procedimento pela qualidade do material coletado, a apresentação de um

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laudo assinado por botânico especialista no grupo taxonômico de interesse com a confirmação de que os indivíduos não identificados (indeterminados) ou classificados apenas até o nível de GÊNERO não pertencem à espécies endêmicas e/ou ameaçadas de extinção, conforme a legislação vigente.

LEVANTAMENTO FITOSSOCIOLÓGICOOs dados do levantamento fitossociológico foram apresentados por fitofisionomia,

demonstrando a suficiência amostral com a apresentação da curva de coletor estabilizada. Seguem abaixo os valores registrados:a) Floresta Ombrófila em estágio inicial de regeneração:

Nesta fisionomia foram amostradas 14 espécies, pertencentes a 9 famílias. Não foi identificada uma espécie (Indet 03) e outras quatro foram identificadas até gênero (Eugenia sp., Myrcia sp., Ocotea sp. e Psidium sp.). Merecem destaque na área as seguintes espécies, pelo VI (Valor de Importância) mais elevado: Vochysia pyramidalis (VI=75,26), Eugenia sp. (VI=56,58), Clusia hilariana (VI=49,72), Eschweilera ovata (VI=30,20) e Clusia nemorosa (VI=14,91). Ressalta-se que Vochysia pyramidalis apresentou a maior frequência (FR=19,23%), sendo registrada em todas as parcelas. b) Floresta Ombrófila em estágio inicial a médio de regeneração:

Representada por 14 espécies (pertencentes a 11 famílias), nesta fitofisionomia foram identificadas quatro espécies até gênero (Alibertia sp., Casearia sp., Eugenia sp e Myrcia sp.) . Utilizando como parâmetro o VI, as espécies de destaque são Vochysia pyramidalis (VI=101,39), Kielmeyera reticulata (VI=54,32), Clusia nemorosa (VI=48,15), Eugenia sp. (VI=19,56) e Curatella americana (VI=16,03). Entre estas espécies, ressalta-se que Clusia nemorosa encontrada em todas as parcelas desse trecho, apresentando a maior frequência relativa, 17,86%.

A equipe técnica desse instituto considera que não é condizente a amostragem de apenas 14 espécies para esta fitofisionomia, que tem como caraterística a alta taxa de diversidade florística.c) Floresta Ombrófila em estágio médio de regeneração:

Esta fitofisionomia foi representada pela identificação de 20 espécies, pertencentes a 13 famílias. Cinco espécies foram identificadas até gênero (Duguettia sp., Eugenia sp., Guapira sp., Myrcia e Ocotea sp.) e duas não foram identificadas (Indet 01 e 03). Utilizando o VI como parâmetro de referência, as espécies Caraipa densifolia (VI=88,18), Indet 01 (VI=71,66), Eschweilera ovata (VI=17,60), Symphonia globulifera (VI=13,71), e Eugenia sp. (VI=11,95) foram as de maior destaque nesta fisionomia.

A equipe técnica desse instituto considera que não é condizente a amostragem de apenas 20 espécies para esta fitofisionomia, que tem como caraterística a alta taxa de diversidade florística.d) Mata Paludosa

Foram identificadas 23 espécies (pertencentes a 13 famílias), sendo que três espécies não foram identificadas (Indet 01, Indet 02 e Indet 03) e quatro foram identificadas até gênero (Alibertia sp., Duguettia sp., Eugenia sp e Miconia sp). Considerando o VI, Symphonia globulifera é a espécie mais importante (VI=72,2), seguida de Caraipa densifolia (VI=38,58), Indet 01 (VI=25,12) e Escheweleira ovata (VI=24,4).

Segundo o estudo, a presença em grande número das espécies Symphonia globulifera e Caraipa densifolia, espécies típicas de ambientes alagados, reafirmam a condição de saturação hídrica do solo no local.

Ressalta-se que apesar do estudo informar que a curva do coletor apresenta uma tendência à estabilização, foi constatado que o gráfico apresentado (Figura 5.2.2.1-11) não confirma a suficiência amostral. Esta equipe técnica solicita a coleta adicional de dados sobre a região em questão, apresentando a curva de coletor estabilizada. Ademais, a equipe técnica desse

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instituto considera que não é condizente a amostragem de apenas 23 espécies para esta fitofisionomia, que tem como caraterística a alta taxa de diversidade.e) Mata de Restinga

Foram amostradas na região 15 espécies, distribuídas em 10 famílias, sendo que uma espécie não foi identificada (Indet 04) e outras três espécies até o nível de gênero (Alibertia sp., Eugenia sp e Myrcia sp.)

As espécies Clusia nemorosa (VI=120,71), Vochysia pyramidalis (VI=66,55), Clusia hilariana (VI=21,35), Tapirira guianensis (VI=16,03) e Eugenia sp. (VI=15,67) são as mais importantes no local. O elevado valor de importância de Clusia Nemorosa reflete na sua alta Dominância Relativa (DoR=93,17%), diferentemente da Clusia hilariana (DoR=4,57%) que possui baixa dominância relativa e alto VI. A espécie mais frequente na região é Vochysia pyramidalis (FR=17,86%).

A equipe técnica desse instituto considera que não é condizente a amostragem de apenas 15 espécies para esta fitofisionomia, que tem como caraterística a alta taxa de diversidade.f) Manguezal

Na fitofisionomia foram mensurados 239 indivíduos de 3 espécies (Avicennia shaueriana, Laguncularia racemosa e Rhizophora mangle) encontradas na ADA do empreendimento. O estudo ressalta a ocorrência de Dalbergia ecastophyllum e Acrostichum aureum nas áreas de transição com Restinga, além de indivíduos mortos “em pé”.

A espécie Laguncularia racemosa foi predominante no local, respondendo por 46,7% da frequência de indivíduos e 188,9 de Valor de Importância (VI), seguidas por Rhizophora mangle (FR=16,7 e VI=60,7), Avicennia shaueriana (FR=20 e VI=30,8) e indivíduos mortos (FR=16,7 e VI=19,61).

Para a fitofisionomia em questão, a diversidade apresentada condiz com o padrão apresentado para as regiões de manguezais.g) Apicum

Na região de apicum a maioria das espécies vegetais encontradas são constituídas por indivíduos típicos de gêneros distribuídos em comunidades halofíticas. A espécie Soporobolus virginicus foi apresentada como a espécie de maior valor de cobertura relativa (32,96%), seguida de Xyris ciliata (14,31%) e Eleocharis geniculata (13,96%), amostrados em 250m2 de área. Estas 3 espécies respondem por 61,23% do valor total de cobertura relativa do local.

4.4 DIAGNÓSTICO DO MEIO SOCIOECONÔMICOO levantamento socioeconômico foi feito utilizando­se a metodologia clássica para pesquisas socioeconômicas utilizando­se dados secundários, pesquisa direta por amostragem e entrevistas em   profundidade.   No   levantamento   de   dados   secundários   foram   utilizadas   informações  do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE do Censo de 2000, da Pesquisa de Amostra por  Domicilio   –  PNAD e  da   contagem de  População  de  2007   e   de   Institutos   de  Pesquisa, Organizações Não Governamentais, Órgãos do Estado da Bahia e Instituições Federais como Fundação Palmares e Universidades federais, entre outros.

Na pesquisa direta foi realizada uma amostra estratificada por distritos com uma margem de  erro  de  5% e  Nível   de  Confiança  de  95,4%.  Não   se   informa,  na  descrição  da metodologia de pesquisa, a forma de seleção dos informantes nem qual a unidade da pesquisa que, subentende­se, tenha sido a unidade e nem o informante privilegiado.

A pesquisa foi complementada por entrevistas a lideranças formais de todas as comunidades de pesca, as entidades atuantes, os Conselhos da Reserva Extrativista Marinha Baía do   Iguape   e   da   Área   de   Proteção   Ambiental   da   Bahia   de   Todos   os   Santos.   Não   foram 

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entrevistados Representantes das Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), Reserva da Peninha e de São Joaquim da Cabonha.

Houve  um  segmento  da  pesquisa   direcionado  para  públicos   específicos   como policiais,   operadores   e   técnicos   de   empresas,   funcionários   públicos   e   lideranças   das comunidades. No estudo de percepção da população o empreendedor usou os dados do Relatório Final do “Projeto de Interação Social com Comunidades de Pesca”, realizado pela Secretaria de Agricultura e Pesca (SEAP) e Federação de Pesca do Estado da Bahia cuja tema foi a percepção da população pesqueira  dos  municípios de Maragogipe,  Salinas  da Margarida e  Saubara em relação ao empreendimento e as possibilidades de convivência.

Nesse estudo, feito por amostragem calculada a partir do número de pescadores cadastrados nas Colônias de pescadores, também não consta a forma de seleção dos informantes e   deixa   de   fora   um   grande   contingente   de   pescadores   e   marisqueiras   não   cadastrados   nas colônias. Não foi informado também o tipo de amostragem, se aleatória, estratificada, cotas ou mista.

Os dados de pesca conseguidos através de dados secundários, sendo os mais novos datados de 2006 e complementados com pesquisa de campo feito em duas saídas num total de 10 dias nas marés de sizígia e quadratura.

Na apuração dos dados da pesquisa direta, a tabela 5.3.2­1 sobre renda familiar (pag. 25 do volume 4) não oferece condições de análise. O cruzamento dos dados faixas de renda e município não indica qual a faixa predominante em cada município.

Não obstante a falta de informações sobre a forma de seleção de informantes nos dois levantamentos de campo, a época de coleta das informações e a utilização do universo de pescadores  cadastrados  nas  colônias  como base da  amostra,  o  estudo  fornece  um retrato da realidade dos municípios da área de influência direta.

Temos ainda a observar que estudos baseados em dados secundários realizados em anos próximos ao recenseamento como o ano de 2009 utilizam dados já defasados o que dificulta análises e comparações. No estudo para o Estaleiro do Paraguaçu observamos uma variedade muito grande de anos bases para os diversos setores da socioeconomia. Vimos dados de 1990, 2000, 2005, 2007 (contagem da população realizada pelo IBGE) e 2009 – dados da pesquisa direta, de saúde e criminalidade.

A necessidade de estudos socioambientais no licenciamento se justifica por, não somente   possibilitar   o   conhecimento   da   realidade   da   área   a   ser   afetada,   mas   por   fornecer parâmetros   que   permitam   mensurar   os   impactos   sociais   e   ambientais   causados   pelo empreendimento  em processo  de   licenciamento   ambiental   em  suas  diferentes   etapas.  Assim sendo, para cumprir o princípio que rege o licenciamento, se faz necessário o monitoramento desses parâmetros. 

Esses   parâmetros   deverão   ser   construídos   durante   o   período   da   implantação, discutidas com as comunidades afetadas e utilizando os dados censitários de 2010 como base.

5 PROGNÓSTICO AMBIENTAL

5.1 ANÁLISE INTEGRADAO prognóstico aponta alteração do curso de um córrego  intermitente na ADA 

podendo  impactar  na qualidade das águas  do estuário  do rio  Paraguaçu  tanto pela  atividade quanto na eventualidade de ocorrência de acidentes. Foi apontado ainda o risco de contaminação de aquíferos.

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5.2 AVALIAÇÃO DE IMPACTOSA metodologia utilizada para a avaliação de impactos foi baseada nos dados de 

caracterização do empreendimento, diagnóstico ambiental e modelagem matemática. As etapas descritas   foram:   Identificação   e   listagem   das   ações   componentes;     Identificação   das interferências;   Identificação,   descrição   e   valoração   dos   impactos;   Avaliação   sob   a   ótica   de conceitos ­ caráter  (positivo ou negativo), forma de incidência (direto ou indireto), tempo de incidência   (imediato  ou   retardado);  duração   (curto  prazo  ou  médio  e   longo prazo),  grau  de reversibilidade (reversível ou irreversível), probabilidade de ocorrência (baixa ou alta) e área de abrangência (local ou regional) ­ para os quais foram definidos valores numéricos de magnitude; Avaliação   em   relação   ao   contexto   visando  definir   a   importância   do   impacto;   Avaliação   do potencial cumulativo ou sinérgico de cada impacto; Avaliação da significância de cada impacto e; elaboração de uma matriz de impactos.

5.2.1 Impactos sobre o Meio FísicoForam   identificados  13   impactos   no  meio   físico,   os   quais,   de  modo  geral   se 

apresentam coerentes assim como as respectivas medidas mitigadoras e programas ambientais. O  impacto  A4  aponta   que  os   sedimentos  não  estão   contaminados,   porém,  na 

análise do diagnóstico depreendeu­se, pela interposição de mapas, que as amostras não estão localizadas   na   área   de   dragagem.   Caso   não   tenham   ocorrido   mudanças   no   projeto,   não especificadas neste estudo, não é possível expressar conclusões a respeito da dragagem, o que inviabiliza a identificação de impactos ambientais para a atividade. O impacto de aterramento do Rio da Fazenda (A6) descreve o curso d'água como itermitente baseado em dados secundários, no diagnóstico não foram encontradas informações a respeito deste curso d'água, e propõe sua retificação alterando uma extensão de cerca de 800m modificando a desembocadura atual que se dá no rio Baetantã para o Paraguaçu. Esta retificação de curso hidrico deve ser outorgada pelo Instituto de Gestão de Águas e Clima – INGA.

MODELAGEM DA HIDRODINÂMICA E DO TRANSPORTE DE SEDIMENTOSOs   efeitos   da   instalação   do   empreendimento   sobre   a   hidrodinâmica   e, 

consequentemente, na sedimentação local foram prognosticados através do sistema de modelos Dellft3D após diagnóstico da circulação costeira adjacente à BTS a partir de modelo derivado do Princeton Ocean Model (POM)

O POM foi desenvolvido na década de 1980 na Universidade de Princeton (EUA) e, desde então, tem sido utilizado globalmente no diagnóstico e prognóstico ambiental com fins científicos, governamentais e de engenharia. Tal modelo pode ser aplicado em até três dimensões e se baseia em equações primitivas não lineares que consideram as aproximações de Boussinesq e   hidrostática   (águas   rasas).   O   modelo   tem   como   características   ainda   (a)   o   sistema   de coordenada vertical sigma; (b) o submodelo de fechamento turbulento de Mellor e Yamada; (c) a separação   do  tempo   do   modo   externo   (barotrópico)   daquele   considerado   no   modo   interno (baroclínico); (d) a discretização com o método leapfrog (centrado no tempo e espaço) em grades do tipo Arakawa C e (e) o suporte às variáveis vazão fluvial, temperatura, salinidade, ventos, batimetria e fluxos de calor e sal nas condições iniciais e de contorno.

Trata­se de um modelo clássico e conhecido por representar consideravelmente bem a circulação sobre a plataforma continental. Dessa forma, a escolha desse para derivar a modelagem computacional da circulação adjacente foi considerada adequada.

Já o Delft3D, é um  software  voltado para a investigação de ambientes fluviais, costeiros e estuarinos que, através de múltiplos módulos, simula a circulação hidrodinâmica sob ação  de  diversas   forçantes  e  o   efeito  desta  no  balanço  de  sedimentos,  qualidade  da  água  e 

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geomorfologia de fundo. A batimetria do domínio é atualizada a cada passo de tempo em função dos processos de erosão/acresção e repassada a todos os módulos do sistema.

As   principais   características   do   módulo   hidrodinâmico   são   (a)   equações governantes não lineares (i.e., conservação de massa, conservação de quantidade de movimento e transporte de constituintes conservativos) escritas em coordenadas esféricas e que consideram as aproximações   de   Boussinesq   e   hidrostática   com   possibilidade   de   serem   feitas   simulações baroclínicas com a adição da equação de estado da água do mar em substituição à essa primeira aproximação; (b) discretização explícita na vertical; (c) sistema de coordenada vertical sigma; (d) curvatura da terra ignorada e parâmetro de Coriolis considerado uniforme e (e) formulação de segunda ordem aplicada ao cisalhamento no fundo.

Já o módulo geomorfológico (a) considera as características da carga suspensa e de fundo (e.g., textura e grau de coesividade) e a interação entre elas; (b) permite a incorporação das mudanças morfológicas do fundo no cálculo hidrodinâmico e (c) modela o transporte de sedimentos em suspensão de maneira análoga a outros constituintes conservativos (e.g.,  sal e calor) pela equação tridimensional de advecção­dispersão (balanço de massa).

A   escolha   do   sistema   Delft3D   foi   considerada   adequada   pela   descrição apresentada e pelo histórico de aplicações do mesmo já conhecido por esta equipe.

Os   resultados   obtidos   indicam   que,   devido   a   ação   do   sistema   Barragem   e Reservatório  de Pedra  do Cavalo,  que  retém grande parte  dos  sedimentos   trazidos  pelo  Rio Paraguaçú,   a   instalação   do   empreendimento   promoverá   alterações   pouco   significativas   nos padrões   de   erosão   e   acresção   locais,   sendo   as  mais   importantes   localizadas  na   foz  do  Rio Baentantã (até 3cm.ano­1 de variação), onde há a tendência de erosão na parte superior do talude com consequente acresção na parte baixa adjacente.

MODELAGEM DAS PLUMAS DE DRAGAGEMA  ferramenta  utilizada  neste   estudo,  Suspended  Sediment  Fate  (SSFATE),   foi 

desenvolvida pela ASA (empresa desenvolvedora do estudo) em parceria com o  United States  Army Corps  of  Engineers  (USACE).  Trata­se de um software composto por  um Sistema de Informações  Geográficas  acoplado a  um modelo  computacional  para  previsão  do  transporte, dispersão e deposição do material dragado.

O sistema SSFATE (a) permite a previsão da trajetória e destino de diferentes classes granulométricas (de argila a areia grossa); (b) modela tanto o sedimento ressuspendido, quanto o sedimento descartado; (c) suporta diversos tipos de draga (e.g.,  cutterhead,  hopper  e clamshell) e (d) permite a entrada dos campos de velocidade através da importação do output de um modelo hidrodinâmico ou da interpolação de dados coletados in situ. Observa­se ainda que os processos modelados são, basicamente, de campo distante – i.e.,  a estrutura promotora da ressuspensão pouco influencia na modelagem da pluma, a qual é, predominantemente, controlada pela hidrodinâmica local.

Para a realização de uma simulação, o usuário deve informar (a) a geomorfologia local; (b) a hidrodinâmica local; (c) as especificações da operação de dragagem a ser simulada (e.g., tipo de draga, período de simulação e trajetória da draga) e (d) as características do material a ser dragado.

Os resultados referentes à  modelagem da pluma de extração são mostrados na Tabela 01. Foram apresentadas as áreas máximas das plumas e a concentração máxima de sólidos em suspensão atingidas durante a operação da draga, mas não foram apresentadas estimativas dos tempos de restauração aos níveis comum de turbidez.

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Tabela 01: Resultados para os diferentes cenários simulados – modelagem da pluma de extração

Número de ciclosÁrea máxima (m²) Concentração máxima de sólidos em 

suspensão atingida (mg/L)

Verão Inverno Verão Inverno

1 0,46 0,46 1207,90 1207,90

2 0,82 0,66 1208,40 1207,90

3 1,30 1,56 1218,10 1213,20

Já os resultados referentes à pluma de descarte, são mostrados na Tabela 02.

Tabela 02: Resultados para os diferentes cenários simulados – modelagem da pluma de descarte Estação Alcance NE (km) Alcance SW 

(km)Área máxima (m²) Concentração máxima de sólidos 

em suspensão atingida (mg/L)

Inverno 9,7 22,4 367,8 386,9

Verão 17,7 17,9 429,9 386,9

5.2.1 Impactos sobre o Meio Biótico - FloraForam identificados para o Meio Biótico 20 impactos ambientais, de incidência

direta ou indireta, sendo que especificamente para a Flora pôde-se identificar 7 impactos. De maneira geral, considerou-se que os impactos identificados foram adequadamente abordados e relacionados com suas respectivas medidas mitigadoras. Entretanto, algumas questões relevantes a serem ressaltadas estão listadas abaixo:

• Perda de cobertura vegetal na implantação do empreendimento: o EIA aponta para este impacto a supressão de 90 hectares de vegetação, sendo cerca de 20 hectares em manguezais. Entretanto, em seu volume 3-A, página 70, foi apresentado quadro de áreas com o cálculo das áreas no interior do polígono previsto para a implantação do empreendimento, no qual se observa que a supressão de vegetação considerando todas as fitofisionomias será de aproximadamente 133,4 hectares, necessitando, portanto, de retificação desta informação.

• Os impactos decorrentes da pluma gerada nas dragagens de aprofundamento (implantação da obra) e de manutenção do empreendimento (operação) foram considerados por esta equipe como impactos de incidência indireta na flora aquática local, uma vez que esta pluma pode afetar a taxa fotossintética pelo aumento do nível de turbidez. Os programas de monitoramento propostos foram considerados adequados.

• O impacto identificado como perda de habitats na fauna silvestre deverá estar contemplado não apenas no Programa de Resgate de Fauna, mas também nos programas específicos de recuperação de áreas degradadas, revitalização de nascentes, entre outros programas que dispensam cuidados à proteção e recomposição da flora. As medidas mitigadoras foram consideradas adequadas, destacando que a criação da RPPN proposta deverá ser feita em área do mesmo habitat à da região diretamente afetada pelo empreendimento.

5.2.2 Impactos sobre o meio socioeconômicoO EIA apresenta, em seu Capitulo 7, uma avaliação dos impactos decorrentes do 

empreendimento e apresenta as medidas mitigadoras propostas. São relacionados 42 impactos (positivos e negativos) ao meio socioeconômico e as medidas mitigadoras previstas.  De uma maneira   geral,   considera­se   que   há   uma   adequação   das   medidas   propostas   em   relação   aos 

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impactos   identificados.   Entretanto,   chamamos   a   atenção   para   algumas   questões   que consideramos relevantes e que, a nosso ver não encontram, nas medidas mitigadoras propostas, as alternativas para seu equacionamento. 

Aponta­se, como impacto negativo, (C4) a possibilidade de que a implantação do empreendimento venha a gerar uma “concentração de habitações subnormais na periferia dos  centros urbanos, principalmente no entorno do distrito de São Roque do Paraguaçu e Enseada  (Maragogipe)   e   distrito   de   Cairu   em   Salinas   da   Margarida...”  Apresenta­se   como   medida mitigadora   a   contratação   de   mão   de   obra   local   e   a   implementação   dos   Programas   de Comunicação   Social   (que   informe   sobre   os   perfis   demandados   para   os   empregos)   e   de Valorização da produção local (na perspectiva de geração de empregos indiretos). De fato, é de se esperar que um empreendimento de tal porte venha gerar um processo de migração interna e consequente favelização das periferias urbanas, na medida em que o desemprego na região é um dado concreto de realidade. Alem do mais não se tem garantia de existência, na região, do tipo (e quantidade) de mão de obra que será demandado pelo empreendimento. Nesta perspectiva é que se avalia que as medidas propostas são insuficientes para fazer frente a esta situação, podendo, quando muito, minimizá­la. Neste sentido é importante que sejam definidas medidas concretas – além das já referidas – que, em conjunto com as diferentes instituições envolvidas com a questão do uso e ocupação do solo urbano, busquem a prevenção e equacionamento desta questão. 

Necessário também, que se avalie como se dará  o processo de desmobilização dessa mão de obra ao final da etapa de implantação do empreendimento. Sobre esta questão, o EIA aponta para a possibilidade de aumento do desemprego (impacto C17) ao final desta etapa, apresentando   como   medidas   mitigadoras   prováveis,   o   aproveitamento   de   pessoal   (quando possível)   na   operação   do   empreendimento,   a   reinserção   de   pessoal   em   outras   obras   e   o “treinamento de trabalhadores em empresariado e administração de pequenos negócios voltados  para setores de comércio e  serviços”.  Sobre esta última proposição, avaliamos que ainda que bem­intencionado, este tipo de intervenção não atende às reais necessidades e ao perfil da grande maioria  dos   trabalhadores   da  obra,  pois   a   transformação  desses   trabalhadores   em pequenos comerciantes depende de muitos outros fatores sobre os quais não se tem governabilidade. Nesta perspectiva, sugere­se que este e outros impactos relacionados à atuação dos trabalhadores e à sua desmobilização ao final desta etapa sejam tratados no contexto de um Programa de Educação Ambiental   para   os   Trabalhadores,   programa   este   construído   de   forma   participativa   e   que contemple   as   especificidades   e   demandas   dos   diferentes   grupos   e   trabalhadores   do empreendimento, sem prejuízo das demais proposições apontadas relativas ao reaproveitamento dos trabalhadores em outras atividades.

Sobre os impactos relacionados às atividades de pesca, sugere­se que, além das medidas mitigadoras previstas,  estes sejam também trabalhados no contexto do Programa de compensação da Atividade Pesqueira.

Outros impactos já identificados como, por exemplo, o aumento da prostituição, deverão ser trabalhados no contexto do programas de Educação Ambiental para os Trabalhadores sem prejuízo de outras ações.

Sobre o programa de educação ambiental para trabalhadoresO programa prevê um processo de educação continuada para os trabalhadores do 

estaleiro com o enfoque de “Construir com os trabalhadores do Estaleiro do Paraguaçu valores  sociais   e   ambientais,   conhecimentos,   habilidades,   atitudes   e   competências   voltadas   para   a  sustentabilidade do ambiente local e do Empreendimento, fortalecendo o compromisso com a Saúde Integral (pessoal/ ocupacional, social e ambiental), o respeito à cultura (desincentivo à  prostituição) e a Segurança e a Prevenção de Acidentes “  o que está em consonância com os princípios  básicos  da  Lei   9795/99.  Chamamos  a   atenção  que  o   respeito   a   cultura   deve   ser 

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considerada em toda a sua plenitude: no comportamento ético, no respeito às crenças religiosas, às manifestações populares.

Este projeto deverá ser reapresentado sob a forma de projeto executivo com metas, ações cronograma. As ações de capacitação deverão ser apresentadas com ementa, carga horária, número de participantes e data de realização. Todo o material instrucional deverá ser apresentado ao IBAMA para aprovação e deverá fazer referência ao fato de se constituir em condicionante de licença demandado pelo IBAMA.

Sobre o programa de comunicação socialO Programa de  Comunicação  Social   apresentado   tem os  objetivos  específicos 

condizentes com a necessidade de informar a população sobre o que é o empreendimento, os riscos  previstos  os  possíveis   impactos  e  benefícios  de   forma que a  população esteja   sempre informada sobre todas as fases da construção e operação.

O projeto executivo deverá ser apresentado com a proposta detalhada com metas e ações discriminadas, caracterizando­se o público a ser atingido e o tipo de mídia a ser utilizada para esse publico.

Sugerimos   que   na   fase   de   implantação   a   comunicação   se   faça   massiva   com informações sobre o estaleiro, os possíveis impactos ao meio ambiente e a sociedade do entorno e os cuidados que as populações residentes nas áreas mais atingidas devem ter.

Os materiais de divulgação deverão ser apresentados ao Ibama para aprovação e deve constar o nome do Ibama e a informação de que o programa trata de do cumprimento de uma condicionante do processo de licenciamento.

No caso de se  ter  pensado em capacitações  o  projeto  do  curso  deve  conter  a ementa, tipo de público, objetivo, carga horária e material de apoio.

Chamamos   a   atenção   que   o   programa   de   comunicação   social   deve   ter   como público preferencial as populações das comunidades do entorno do empreendimento. 

Sobre o programa de educação ambiental O Programa de  Educação Ambiental  –  PEA apresenta  como objetivo geral,  o 

disposto   na   Lei   9795/99   que   dispõe   sobre   a   Política   Nacional   de   Educação   Ambiental. Apresenta,   ainda,   três  objetivos   específicos,   a   saber:  1­  “Desenvolver  projetos  de  Educação Ambiental junto às escolas da região (...); 2­ Desenvolver projetos de Educação Ambiental junto  às associações  locais,  comunidades tradicionais e prefeituras (...);  3­ Promover a Educação  Ambiental   Difusa,   fundamentada   nos   princípios   da   Educomunicação,   envolvendo comunicadores   locais  e  os  meios  de  comunicação existentes  na região (...)”  Para cada  uma dessas linhas, propõe­se a trabalhar com os seguintes grupos: Comunidade escolar, Comunidades locais,   Organizações   Não   Governamentais   ambientalistas,   Técnicos   e   Gestores   Públicos, Comunicadores   atuantes   na   região   e   jovens   comunicadores   espontâneos.   Apresenta   alguns princípios teóricos e metodológicos coerentes com objetivos que se propõe alcançar.

A nosso ver o PEA apresenta­se bem estruturado e com fundamentação teórica e metodológica  adequada  a  um Programa de  caráter  geral  voltado  a  um público  mais   amplo. Lembramos, no entanto, que a exigência pela formulação de Programas de educação Ambiental no contexto do licenciamento ambiental deve­se, fundamentalmente à necessidade de viabilizar aos  grupos   sociais   afetados   pelos   empreendimentos  as   condições   necessárias   (os   valores sociais,   conhecimentos,   habilidades,   atitudes   e   competências   de   que   trata   o   Art.1º   da   Lei 9795/99) a uma participação qualificada nos processos decisórios acerca do uso/apropriação dos recursos ambientais, bem como nas decisões que afetam sua qualidade de vida. Se considerarmos ainda, as imensas assimetrias materiais, cognitivas, instrumentais e organizativas existentes na sociedade  brasileira   e   a   necessidade  de   sua   superação   (ou  minimização),   avaliamos  que  os processos educativos devem ser diferenciados em função dos diferentes contextos vivenciados 

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por esses grupos. Neste sentido, consideramos que o foco das ações educativas deve se voltar para os grupos afetados em situação de maior vulnerabilidade socioambiental. 

Nesta  perspectiva,   torna­se evidente  que a   formulação desses  programas deve, necessariamente,   considerar   as   características   do   empreendimento,   os   impactos   ­   efetivos   e potenciais ­ sobre as populações locais, o mapeamento dos principais atores sociais afetados, os problemas/conflitos   socioambientais   existentes   nas   localidades,   alem   de   inúmeras   outras questões. Ou seja: não há um modelo ou projeto de EA que atenda a toda e qualquer situação e a todo   e   qualquer   público.   Por   este   motivo   orienta­se   que   o   Programa   utilize   metodologia participativa,   construindo   coletivamente   as   alternativas   de   equacionamento   dos problemas/conflitos   socioambientais   vivenciados   instituindo,   desta   maneira,   processos educativos diferenciados para grupos sociais diferenciados.

Assim é que o processo de Educação Ambiental para o Estaleiro do Paraguaçu deve   focar   as   suas   atividades   na   população   mais   afetada   pelo   empreendimento   e   os   seus conteúdos   sejam   aqueles   que   dizem   respeito   aos   impactos   causados   pelo   empreendimento. Quanto à linhas de ação voltadas à comunidade escolar, não há óbices à sua manutenção, desde que   construída   em   consonância   com   as   diretrizes   e   orientações   da   Secretaria   Estadual   de Educação uma vez que se trata de uma outra esfera de competência e gestão.

Quanto ao objetivo relativo à promoção da Educação Ambiental Difusa, sugere­se que este passe a compor o Programa de Comunicação Social uma vez que, a nosso ver, trata­se muito  mais   de  uma   estratégia   de   ambientalização   da   comunidade   através   de   estratégias   de comunicação, o que em nenhuma hipótese, desmerece tal proposição. 

Por   fim,   sugere­se   que  o  programa  de  educação   ambiental   se   articule   com o programa de de compensação da atividade pesqueira,  dando o apoio de organização aquelas comunidades que sem sombra de dúvida se constituirão em um dos sujeitos da ação educativa. 

6 SOBRE A AUDIÊNCIA PÚBLICA

A   audiência   pública,   normatizada   pela   Resolução   CONAMA   nº   09/1987, aconteceu no dia 18 de janeiro de 2010 na Associação Atlética Maragogipana tendo início as 18:30 e sendo encerrada as 2 horas da manhã do dia 19 de janeiro. A audiência foi conduzida pelo Coordenador de Mineração e Obras Civis do IBAMA, Jorge Luiz Britto Cunha Reis, e teve a   participação   de   1313   (um   mil   trezentos   e   treze)   pessoas.   Após   a   exposição   feita   pelo empreendedor, foi dado aos participantes, um tempo para que formulassem perguntas ou para que fizessem a inscrição para manifestação oral.

As intervenções, em 87% (oitenta e sete por cento) dos casos, versaram sobre os impactos   sociais  do   empreendimento.  Destes,  cerca  de  40%,   relacionavam­se   a   questões  de emprego, capacitação da mão de obra e programa de primeiro emprego para os jovens, o que demonstra a grande preocupação da comunidade com essa questão. Algumas perguntas fizeram referência aos impactos sobre a população ocasionados pela grande massa de trabalhadores a se instalar nos locais. Como era de se esperar, cerca de 10% dos questionamentos referiam­se aos impactos   sobre   o   meio   físico   e   biótico.   Houveram   muitas   manifestações   de   apoio   ao empreendimento e questões sobre o aproveitamento da mão de obra local nas várias fases do empreendimento. Foi detectada, na audiência, uma preocupação com a capacitação da população local para que os mesmos possam acessar um dos benefícios mais importantes para a população que   é   o   emprego.   Além   disso,   foram   feitas   referências   ao   acompanhamento   das   medidas compensatórias   e   mitigadoras.   Os   3%   restantes   se   referem   a   manifestações   não   afetas   aos impactos do empreendimento.

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7 CONCLUSÕES

No que se refere ao meio físico o Estudo foi realizado com baixa representatividade de dados, com ênfase para a ausência de caracterização dos sedimentos a serem dragados, o que contraria a Resolução Conama nº 344/2004 e impede posicionamento conclusivo quanto a viabilidade ambiental do empreendimento.

Ao término da análise do diagnóstico de flora, conclui­se que o estudo de impacto ambiental das obras de implantação do terminal portuário de Paraguaçu apresenta falhas, erros e falta  de dados que comprometem a determinação da viabilidade ou não do empreendimento sendo que para embasar qualquer decisão nesse sentido faz­se necessária a apresentação de:• Avaliação da flora na AII e AID do empreendimento com apresentação de mapa de vegetação 

para a AID, ressaltando­se que o TR exigia dados primários da AID e não apenas da ADA.• Levantamento florístico complementar em todas as fitofisionomias, abrangendo plantas de 

todos  os   hábitos,   evitando­se   ao  máximo  a   apresentação  de   espécies   indeterminadas  ou identificadas até o nível de gênero. No caso de se manter a impossibilidade da identificação a nível   específico  de   algum   táxon,   deve   ser   apresentado  um   laudo   assinado  por   botânico especialista  no  grupo  em análise,   atestando  que  a   amostra  não pertence  a  nenhuma das espécies consideradas ameaçadas de extinção. 

• Ampliação   do   levantamento   fitossociológico   de   forma   que   a   curva   do   coletor   para fitofisionomia,   montada   a   partir   dos   dados   de   cada   parcela,   apresente   real   tendência   à estabilização. 

No que diz respeito ao diagnóstico do meio socioeconômico considera­se que, apesar de alguns problemas relacionados à coletas de informações, bem como à defasagem de algumas das informações utilizadas, o Estudo permite que se tenha um retrato da realidade local. Da mesma maneira, o EIA informa sobre os principais impactos ao meio socioeconômico, dentre os   quais,   destacamos   a   possibilidade   concreta   de   atração   de   um   grande   contingente   de trabalhadores para a região e consequente pressão sobre a infraestrutura de serviços públicos (moradia,   saúde,   educação),   além de  outras   consequências   de  caráter   econômico,   cultural   e social. Apesar do EIA identificar estes impactos e propor a implementação de alguns programas enquanto medida  mitigadora,  esta  equipe  avalia  que,   tomadas   isoladamente,   tais  proposições carecem de efetividade. Neste sentido é necessário que sejam implementadas, em comum acordo com   os   demais   entes   públicos   envolvidos,   ações   que   monitorem   e   previnam   processos   de ocupação desordenada de áreas (que poderão ocorrer em função da atração de mão de obra para a região).  É  necessário  também que se avalie como se dará  a desmobilização da mão de obra temporária.

Diante do que foi exposto ao longo deste parecer,  esta equipe entende não ser possível   atestar   a   viabilidade   ambiental   do   empreendimento   em   função   da   ausência   de informações fundamentais para o posicionamento técnico, quais sejam:

1. Caracterização dos  sedimentos  a   serem dragados em conformidade com a  Resolução Conama n° 344/04.

2. Avaliação   da   flora   nas   áreas   de   influência   do   empreendimento,   tendo   em   vista   as especificidades do Termo de Referência emitido, levantamento florístico complementar com a identificação taxonômica específica e ampliação do levantamento fitossociológico comprovando a sua suficiência amostral.

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Fl.: _________

Proc.: 6831/08

Rubr.:______

Desta forma, recomenda­se que seja enviado ao empreendedor ofício solicitando a entrega de estudos complementares e adequações detalhadas ao longo deste parecer, para que se procedam as análises pertinentes.

É o Parecer.

Brasília, 15 de março de 2010

CIOMARA PAIM COUTOAnalista Ambiental 

ELIZABETH ERIKO UEMAAnalista Ambiental

FERNANDO GABRIEL VIEIRAAnalista Ambiental 

IGOR LUNA MOURAAnalista Ambiental 

LEANDRO HARTLEBEN CORDEIROAnalista Ambiental 

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