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Page 1: DECISÃO INTERLOCUTÓRIA - mp.rn.gov.br£o Fundac (1).pdf · 007, todos de 2013 (fls. 1.838-1.880 e doc 05), e da Recomendação nº 005/2013 do PmJN (fls. 1.931-1.944) conforme deliberado

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE3ª VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DA COMARCA DE NATAL

Processo: 0108149-70.2014.8.20.0001Autor:Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte.Réu: Estado do Rio Grande do Norte e Fundação Estadual da Criança e doAdolescente - FUNDAC.

DECISÃO INTERLOCUTÓRIA

EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL EADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.REQUERIMENTO MINISTERIAL PARA INTERVENÇÃOJUDICIAL EM FUNDAÇÃO PÚBLICA. CARÁTER DEURGÊNCIA. AUSÊNCIA DE PREVISÃO EXPRESSA NOCÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. POSSIBILIDADE DECONCESSÃO FACE AO PRINCÍPIO CONSTITUCIONALDA INAFASTABILIDADE DO CONTROLEJURISDICIONAL. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DA LEI12.529/2011. PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOSDA TUTELA. CONSTATAÇÃO DO FUMUS BONI IURI EDO PERICULUN IN MORA. VEROSIMILHANÇA DODIREITO. DEFERIMENTO DA ANTECIPAÇÃO INAUDITAALTERA PARS. . 1 – Embora não haja previsão expressano Código de Processo Civil acerca da figura da IntervençãoJudicial em Órgão Público ou Fundação Pública, aConstituição Federal de 05 de outubro de 1988 preconiza emseu art. 5º, inciso XXXV que a lei não excluirá da apreciaçãodo Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito, sendo assim,o magistrado deve adotar medidas que assegurem asatisfação do direito postulado e o cumprimento dasdecisões proferidas. 2 – A aplicação subsidiária do art. 102Parágrafo Único da Lei nº 12.529/2011 ao presente casoconcreto é medida que se impõe, uma vez que a nomeaçãode interventor judicial na Fundação Estadual da Criança e doAdolescente é o único remédio jurídico eficaz capaz depermitir a execução das medidas socioeducativas em meiofechado e semiaberto, no que se refere a adolescentesvinculados ao sistema socioeducativo, bem como garantirsegurança à população Potiguar alvo da crescente violênciainfanto juvenil. 3 – Presentes os requisitos essenciais àconcessão da tutela de urgência, quais sejam, o fumus boniiuri, o periculun in mora e a verosimilhança do direito opedido in limini deve ser deferido, precipuamente em razãoda particularidade emergencial da presente demanda. 4 –Decreto de interdição deferido.

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Vistos et.

Trata-se de Ação Civil Pública, com pedido de tutela deurgência, intentada pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte, representadospor seus promotores de justiça que subscrevem a inicial, em face a FUNDAÇÃOESTADUAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – FUNDAC, qualificada, a serdemandada na pessoa de seu Diretor-Presidente JOSÉ EDILBERTO DE ALMEIDA etambém em desfavor ao ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, devidamentequalificado, a ser demandado na pessoa de seu Procurador Geral.

O Órgão Ministerial, discorreu acerca de toda a trajetóriapercorrida pelo sistema socioeducativo Potiguar, partindo de meados de 2010 (doismil e dez) até os dias atuais, procurando explicitar de maneira clara e precisa todas ascausas e motivos que ensejaram o quadro grave e caótico em que se apresenta aFundação responsável por administrar todo o sistema de aplicação de medidassocioeducativas de competência do Estado do Rio grande do Norte.

Restou alegado na exordial que a FUNDAC – FundaçãoEstadual da Criança e do Adolescente, encontra-se em "situação de completo caosadministrativo e gerencial", bem como que esta, não possui qualquer autonomiafinanceira e administrativa, uma vez que seu gerenciamento fica sempre adstrito adecisões "superiores" emanadas da Secretaria Estadual do Planejamento, fato quemotivou a deflagrarem a presente Ação Civil Pública, onde busca-se em sede detutela de urgência o seguinte:

"a) A concessão liminar de antecipação dos efeitos da tutela,no sentido de que, a partir da adoção de medidas amplasrelativas à gestão de recursos humanos, investimentos emestrutura física, aquisição de materiais, realização deatividades socioeducativas e contratação de empresa deconsultoria, seja promovido o completo reordenamentoinstitucional da FUNDAC de acordo com as diretrizes doSINASE, devendo, para tanto, nomear um interventorjudicial, pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias, prorrogávelpor iguais períodos, dotados de amplos poderes para gerir aentidade, em substituição ao atual gestor, e, se for o caso,fixando remuneração, a ser custeada pela própria FUNDAC,a fim de garantir o integral cumprimento das obrigaçõesestabelecidas por este Juízo, as quais devem passar,necessariamente, pelas realização das seguintesprovidências (dentre outras igualmente necessárias quepossam ser vislumbradas imediatamente por VossaExcelência).

a1) Adotar as medidas administrativas para a adequação daFUNDAC no que diz respeito aos recursos humanos,providenciando, no mínimo, o cumprimento dasRecomendações Conjuntas nº 001, 002, 003, 004, 005 006 e007, todos de 2013 (fls. 1.838-1.880 e doc 05), e daRecomendação nº 005/2013 do PmJN (fls. 1.931-1.944)conforme deliberado na Resolução 85 de 2013 do CONSEC,bem como o cumprimento do acordo firmado nos autos doprocesso nº 0126743-69.2013.8.20.0001, no sentido de lotarnas unidades de atendimento os servidores que foram

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devolvidos por outros órgãos, Poderes e Instituições, porforça do Decreto Governamental nº 23.724 de 26 de agostode 2013.

a2) Quanto aos investimentos em estrutura física, adotar asmedidas administrativas necessárias ao cumprimento dasdecisões proferidas, ou que vierem a ser proferidas, emtodas as Ações Civis Públicas relativas as reformas dasunidades de atendimento do Sistema SocioeducativoEstadual, devendo priorizar a reabertura do CEDUC Pitimbu,sem prejuízo de outras medidas que se apresentemnecessárias ao longo da intervenção;

a3) Quanto aos recursos materiais, adotar, dentre outras, asmedidas administrativas em cumprimento da decisãoprolatada aos autos da Ação Civil Pública nº0114634-23.2013.8.20.0001 (ACP CEDUC Nazaré), paraaquisição de materiais necessários ao funcionamento dasunidades de atendimento socioeducativo;

a4) Quanto as atividades socioeducativas, (re)elaborar oplano de atendimento socioeducativo de cada unidade,definindo as atividades educativas, esportivas, culturais eprofissionalizantes que serão desenvolvidas e promovendoas transformações necessárias para que, efetivamente, taisatividades sejam executadas;

a5) Avaliar a necessidade de contratação de uma consultoriapara elaboração de um plano de reordenamento institucionalda FUNDAC, à luz dos preceitos do SINASE, devendo, casoconstate essa necessidade, tomar todas as providênciasadministrativas para a identificação de uma capacitadas e orespectivo valor para a realização dessa contratação,devendo, ademais, se for o caso, no prazo do item a6,solicitar autorização judicial para realização dessaprovidência;

a6) A cada 30 (trinta) dias, o interventor judicial deveráapresentar um relatório, ainda que resumido, a respeito dasprovidências que fôrma adotadas em cumprimento de todasas obrigações definidas na decisão judicial, bem como asdificuldades (gargalos) encontradas para o atendimento dasprovidências determinadas, devendo, neste último caso,apontar as soluções para se superar esses obstáculos,informando também, de fôrma justificada, acerca da eventualnecessidade de profissionais para auxiliarem na conduçãoda intervenção;

a.7) Após a apresentação do relatório mencionado no item"a6", requer-se que este Juízo conceda vista dos autos àspartes, no sentido de serem discutidas e determinadas, apartir da colaboração das partes com o Poder Judiciário,novas providências de acordo com o que foi sugerido nodocumento;

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b) Caso a indicação de Kalina Leite Gonçalves comointerventora judicial venha a ser acatada por este órgãojurisdicional, requer-se que este Juízo determine ao Estadodo Rio Grande do Norte, no prazo de 10 (dez) dias, a adoçãode providências necessárias à nomeação dessa servidora,sem prejuízo de seus vencimentos como Delegada daPolícia Civil, para o exercício das funções à frente àFUNDAC, pelo prazo mínimo de 180 (cento e oitenta) dias,qual poderá ser prorrogado pelo prazo que se mostrarnecessário para cumprimento integral de todas asdeterminações estabelecidas;

b.1) Caso não seja cumprida a medida acima requerida,requer que este Juízo, suprimindo a omissão do Estado doRio Grande do Norte, determine, provisoriamente, nomeaçãoda servidora, sem prejuízo de seus vencimentos comoDelegada da Polícia Civil até que sejam tomadas asmedidas administrativas por parte do governo do Estado;

b.2) Já no caso de a indicação recair sobre as pessoas deTércio Bento da Silva ou Ludimilla Mirza da C. Moreira, quesejam tomadas as providências para a nomeação, bemcomo para afixação da correspondente remuneração;

c) Para fins de garantir autonomia financeira da FUNDAC,determinar que o ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTErealize o repasse financeiro mensal à entidade do montantede 1/12 (um doze avos) do total previsto no orçamento doEstado para a FUNDAC, de fôrma que seja cumprido à riscao seu orçamento, ressalvada a possibilidade de, em caso defrustração da receita devidamente comprovada, a serautorizada por este Juízo, a pedido do ESTADO DO RIOGRANDE DO NORTE, o repasse financeiroproporcionalmente menor. Tal medida deve ser cumpridasob pena de afastamento do Secretário de Estado doPlanejamento e das Finanças e/ou do recurso nãorepassado;

d) Para fins de garantir a autonomia administrativa daFUNDAC, autorizada judicialmente, a prática, diretamentepela intervenção, de todos os atos de gestão administrativa,por exemplo, nomeações, exonerações, contratações,publicações em diário oficial e outros atos de transparênciaadministrativa etc, proibindo ao ESTADO DO RIO GRANDEDO NORTE práticas que obstaculizem a gestãoadministrativa da FUNDAC;

e) A intimação dos entes réus para o cumprimento dadecisão de concessão da tutela de urgência requerida noitem "a" e seus desdobramentos;

Em sede de pedido definitivo, pugnou pela confirmação datutela de urgência nos termos então requeridos, acrescentando o requerimento para a

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citação dos entes demandados, bem como protestou pela produção de todas asprovas em direito admitidas.

É o que importa relatar.

Após análise passo a decidir.

DECIDO.

2. Fundamentação

2.1 – Preliminarmente. Das Condições da Ação eCondições para o Provimento Jurisdicional.

Compulsando os autos, verifico que presentes estão ospressupostos processuais e as condições da ação, ou seja, condições para umprovimento jurisdicional.

Os demandados encontram-se devidamente qualificados eevidenciados, sendo estes partes legítimas à postularem em juízo, uma vez que, tantoa FUNDAC, como o ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, possuempersonalidade jurídica estando portanto aptos a figurarem no polo passivo da presentedemanda.

Por outro lado, o representante Ministerial possui atribuiçãopara propor a presente ação e também encontra-se devidamente investido.

Conforme análise minudente dos presentes autos, verifica-seque o objeto da presente demanda se amolda aos preceitos insculpidos no tipodescrito nos artigos 90, incisos VII e VIII e 148, incisos IV, todos da Lei nº 8.069/90,sendo assim, uma das Varas da Infância e Juventude da Comarca de Natal écompetente para conhecer e processar a presente ação, que no caso, recaiu à esteJuízo pelo critério de sorteio.

Assim sendo, estando presentes a possibilidade jurídica dopedido, legitimidade de partes e o interesse na via judicial, bem como não havendo –a priori - nulidades que possam ensejar algum vício processual, entendo que o feitoestá apto a receber uma decisão judicial – na forma de antecipação de tutela, diga-se de passagem - o que faço adentrando nas questões de mérito.

2.2 – Das questões de Fato e de Direito. PossibilidadeJurídica do Pedido. Atenção ao Princípio da Inafastabilidade de apreciação doPoder Judiciário.

Fator importante, e que no presente caso deve serconsiderado - antes mesmo de partir para qualquer decisão - é a supremacia dasnormas constitucionais ante todo o ordenamento jurídico pátrio. Não fosse assim,diversas questões desta magnitude passariam despercebidas perante a sociedade eo Poder Judiciário. Sendo isso verdade, o que precisa ser observado são os valoresprimordiais consagrados pelo nossa Carta Política de 1988.

Já no preâmbulo, a Constituição Federal de 1988 ditaalguns dos objetivos maiores almejados, quando da reunião daquela AssembleiaConstituinte originária, vejamos:

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Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em AssembléiaNacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado aassegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, asegurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiçacomo valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sempreconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordeminterna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias,promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DAREPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. (grifei).

Da simples leitura do texto podemos claramente perceberalgumas preocupações eminentes do legislador constituinte, sendo que destacamos"assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais a segurança e obem-estar". Sabemos que o preâmbulo não possui força dispositiva, contudo esterepresenta os ideais que nortearam os representantes do povo naquela ocasião e quepor certo, até os dias atuais, expressam os valores primordiais de nossa nação.

A doutrina mais aceita entende que os direitos individuaispossuem estreita ligação com o princípio da dignidade de pessoa humana, princípioeste tido como basilar em uma sociedade justa e solidária.

Não é por outra razão que nossa Constituição considera adignidade da pessoa humana como sendo um dos fundamentos da RepúblicaFederativa do Brasil, senão vejamos:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúveldos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em EstadoDemocrático de Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania;

II - a cidadania;

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V - o pluralismo político. (grifos nossos).

A palavra fundamento tem por significado, dentreoutros, a base, o alicerce, servindo de apoio ou pilar de sustentação para todauma estrutura, que no caso seria a estrutura de todo o ordenamento jurídico eextrajurídico de nosso País. Seria como se todos os atos dos Poderes da Uniãodevessem primar em sua excelência, pela dignidade da pessoa humana.

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1 ( Flórez-Valdés, Los principios generales del derecho y su formaciónconstitucional, p. 149).2 (CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria daConstituição, p. 225).

3 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil: processo de conhecimento. v. 2. SãoPaulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 217.MARINONI, Luiz Guilherme. A legitimidade da atuação do juiz a partir do direito fundamental à

tutela jurisdicional efetiva. Disponível em: <http://marinoni.adv.br/>. Acesso em: 10 março 2012.

Continuando o raciocínio, a mais respeitada doutrinaconsegue isolar - de forma brilhante - os valores a serem defendidos em umaconstituição moderna, senão vejamos:

"a dignidade da pessoa implica situar o ser humano no epicentro detodo o ordenamento jurídico" 1

"o Estado existe para o homem e não o homem para o Estado" 2

Voltando ao princípio da inafastabilidade do controlejurisdicional, podemos citar Luiz Guilherme MARINONI, qual sustenta que o art. 5,XXXV, da Constituição Federal, garante a todos o direito a prestação jurisdicionaladequada e efetiva quando dispõe que "a lei não excluirá da apreciação do PoderJudiciário lesão ou ameaça a direito".3

A par disso, o autor leciona que "a obrigação decompreender as normas processuais a partir do direito fundamental à tutelajurisdicional e, assim, considerando as várias necessidades de direito substancial, dáao juiz o poder-dever de encontrar a técnica processual idônea à proteção (ou àtutela) do direito material"3.

Por tais motivos, à luz da exigência de prestação efetiva detutela executiva, é que foi conferido ao magistrado, através dos Art. 461, §5, do CPCe Art. 84, do CDC, a prerrogativa de adotar meios executivos outros, que nãosomente aqueles tipificados pela lei processual civil, desde que sejam capazes de darefetividade aos provimentos jurisdicionais originados de diferentes casos concretos.

Pois bem, é cediço que a figura da intervenção judicial ementidades públicas ou privadas não vem predisposta na Constituição Federal ou noCódigo de Processo Civil, contudo, como se vê, a necessidade de tutelar-se direitosfundamentais, dando-se proteção integral ao jurisdicionado (art. 5º, XXXV da CF) epor força dos art. 461, §5, do CPC e Art. 84, do CDC, chega-se a inevitávelconclusão que o magistrado tem o poder dever, em caráter subsidiário e completar alei, de criar os meios executivos, de modo que nenhum direito fique sem umasatisfação integral.

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4 (TJ-PR - AI: 2190089 PR Agravo de Instrumento - 0219008-9, Relator:Edvino Bochnia, Data de Julgamento: 30/10/2003, Decima Câmara Cível(extinto TA), Data de Publicação: 14/11/2003 DJ: 6498, undefined)

Através desse rol aberto de medidas a serem instituídas pelojuiz diante do caso concreto, propõe-se a utilização da Técnica da IntervençãoJudicial como instrumento processual civil apto a atender um leque variado depeculiares situações de direito material e garantir, por consequente, o plenoatendimento ao direito fundamental a tutela jurisdicional efetiva, insculpido no art. 5,XXXV, da Constituição Federal.

Essa ferramenta executiva vem operacionalizada nas regrasde direito comercial, especialmente na Lei Antitruste (Lei n°. 8.844/1994, revogadapela Lei 12.529/2011), na legislação relativa à recuperação de empresas e falência(Lei N° 11.101/2005), nas normas atinentes a liquidação extrajudicial de instituiçõesfinanceiras (Lei 6.024/74) e nas regras societárias que disciplinam à dissoluçãoparcial de sociedades limitadas (Código Civil 2002).

Apesar de ter os contornos desenhados pelo direitocomercial, a intervenção pode ser utilizada nos processos executivos submetidos aoCPC e nas legislações às quais ele se aplica subsidiariamente, por força dos art. 461,§5°, do CPC e Art. 84, do CDC, que autorizam a aplicação de qualquer meioexecutivo adequada à execução do provimento jurisdicional, bem como em razão dodireito a tutela jurisdicional efetiva, que garante a utilização de qualquer medidajurisdicional para a completa e adequada tutela do direito material.

A jurisprudência vêm entendendo como possível aintervenção judicial em Fundações, desde que devidamente fundamentada, senãovejamos:

DE INSTRUMENTO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - FUNDAÇÃO -LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL -INTERVENÇÃO JUDICIAL - NECESSIDADE - RISCO À INTEGRIDADEDO PATRIMÔNIO SOCIAL DA FUNDAÇÃO - IMPROVIMENTO. 1.Compete ao Ministério Público zelar e velar pelo correto funcionamentodas fundações do Estado onde situadas, sempre visando defender osinteresses sociais indisponíveis. No caso em tela, não havendopossibilidade de cindir os dados contábeis do Instituto e da Fundação jáque indevidamente processados em conjunto, possui legitimidade oMinistério Público para demandar contra os ora agravantes, uma vez queatua visando defender os interesses da Fundação. 2. Havendo indíciosde que está em risco a integridade do patrimônio social da fundação, aintervenção judicial é medida que se impõe, quer pelo seu caráterpreventivo quer pelo caráter instrumental, já que somente com talmedida é que se pode evitar maiores comprometimentos ao patrimônioda fundação e, ao mesmo tempo, se pode buscar eventuais provas quese fazem necessárias. 4

Assim, inexistem impedimos para que o magistrado adote aintervenção judicial como mecanismo do direito processual civil quando esta semostrar o meio mais apto ao oferecimento de uma tutela executiva efetiva eadequada.

De tudo que até então fora exposto, trazendo para o casoconcreto, percebo que o pleito ministerial merece guarida, visto que o mesmo

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encontra amplo amparo em nossa "Lex Fundamentallis", sendo certo que os direitosque se buscam assegurar são inerentes aos direitos e garantias fundamentaisprevistos no 5º, caput da Constituição Federal, e em especial aos direitosfundamentais da criança e do adolescente, constitucional e estatutariamente previsto,respectivamente, nos artigo 227 da Constituição Federal e 4º, caput e parágrafo únicoc/c 124 da Lei nº 8.069/90.

A medidas socioeducativas privativas de liberdade tem comofinalidade precípua a ressocialização e a reeducação do adolescente infrator visandoque este quando egresso à sociedade possa integrar-se e contribuir para odesenvolvimento desta a partir do pleno exercício de sua cidadania. Para tanto, oEstatuto da Criança e do Adolescente prevê que tais medidas sejam executadas apartir de princípios e diretrizes, legalmente regulamentados pela Lei nº 12.594/12 queinstitui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE).

Princípios e diretrizes que vem sendo respeitados ecumpridos pelo Estado do Rio Grande do Norte e pela Fundação Estadual da Criançae do Adolescente – FUNDAC que reiteradamente omite-se diante das irregularidadesapresentadas no sistema socioeducativo estadual, mesmo nas situações em que jáexistem decisões judiciais determinado a regularização destas.

Entre os anos de 2010 e 2013 houve um aumento de63,59% de processos de apuração de ato infracional nesta 3ª Vara da Infância e daJuventude, sendo que dos atos infracionais apurados aumentaram aqueles praticadoscom emprego de violência ou grave ameaça a pessoa praticados por adolescentesreincidentes, do que se denota que as medidas socieducativas de internação esemiliberdade, de caráter excepcional, quando aplicadas pelo magistrado com intuitode oportunizar ao socioeducando sua reeducação e ressocialização quando nãoexecutas ou exetudas sem que sejam respeitados os preceitos do Estatuto da Criançae do Adolescente e do SINASE trazem repercussões perversas não só para oadolescente que inserido de neste círculo mórbido de violência como, também, paratoda a sociedade que se vê insegura ante a crescente violência que afronta a ordem ea paz social, perpetrada em muitos casos por esta população infanto-juvenil que serevela como vítima e algoz ante a omissão estatal.

2.3 – Da inexistência de Autonomia Financeira naFUNDAC. Necessidade de garantia do duodécimo para concretização dostrabalhos vinculados ao ente público fundacional.

É de conhecimento geral que a FUNDAC é uma fundaçãopública, criada por lei específica – Lei 6.682/94 - como entidade sucessora daFEBEM/RN, sendo vinculada à Secretaria de Estado do Trabalho e Ação Social –SETAS, cujo objetivo é atuar no processo de construção da cidadania de crianças eadolescentes.

Por tratar-se uma fundação pública deve ser dotada deautonomia administrativa e financeira, que são meios necessários à concretizaçãodos objetivos preconizados quando da sua constituição. Pelo menos é o que diz o art.1º do Decreto Estadual/RN nº 12.735/95 qual regulamentou a Lei nº 6.682/94, senãovejamos:

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"a Fundação Estadual da Criança e do Adolescente FUNDAC – novadenominação dada pela Lei nº 6.682 de 11 de agosto de 1994, àFundação Estadual do Bem Estar do Menor – FEBEM criada medianteautorização da Lei nº 4.941 de 20 de dezembro de 1979 regulamentadopleo Decreto nº 7.819 de 29 de janeiro de 1980 é uma entidade dotadade personalidade jurídica de direito público, na fôrma do artigo 7º, II, daLei nº 094 de 14 de maio de 1991 e vinculada a Secretaria do Trabalho eAção Social, gozando de autonomia administrativa, financeira epatrimonial no grau conveniente ao exercício de suas atividades regidapela referida lei e pelo presente Estatuto e normas legaisaplicáveis."(grifos no original).

Contudo, constata-se que na prática a FUNDAC nãoadministra seus próprios recursos, sendo que as despesas que implicam eminvestimento dependem da anuência do Secretário do Estado e Planejamento, fatoque desvirtua a natureza da instituição em testilha.

Quanto a autonomia administrativa e financeira conferida àsfundações públicas, o Superior Tribunal de Justiça proferiu esclarecedor aresto,vejamos:

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.PROCESSUAL CIVIL. DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDORAPÚBLICA ESTADUAL. INATIVA. REENQUADRAMENTO. ART. 7º LEIESTADUAL 3.983/2002. FUNDAÇÃO PARA A INFÂNCIA EADOLESCÊNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. AUTONOMIAJURÍDICA, ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA. ILEGITIMIDADEPASSIVA AD CAUSAM DO GOVERNADOR DE ESTADO. TEORIA DAENCAMPAÇÃO. NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO. 1. Possuilegitimidade para figurar como autoridade coatora em sede de açãomandamental, aquela que ordena ou pratica o ato comissivo ou omissivoimpugnado. 2. As fundações públicas possuem autonomia jurídica,administrativa e financeira. Em conseqüência, seus dirigentes detêmlegitimidade passiva ad causam para figurar na ação mandamental. 3. "Ateoria da encampação apenas é admitida quando a impetração é dirigidacontra a autoridade hierarquicamente superior. As autarquias, criadascom o escopo de descentralizar a administração pública, possuemautonomia de gestão para a persecução de sua destinação específica,as quais, segundo o escólio de Hely Lopes Meirelles,"não se achamintegradas na estrutura orgânica do Executivo, nem hierarquizadas aqualquer chefia, mas tão-somente vinculadas à Administração direta,compondo, separadamente, a Administração indireta do Estado comoutras entidades autônomas", razão pela qual"o controle autárquico só éadmissível nos estritos limites e para os fins que a lei o estabelecer."(RMS 19338, Relatora Min. Denise Arruda, julg. 4/10/2005). 4. In casu,não se revela possível a aplicação da teoria da encampação, porquantoo Governador do Estado não goza de legitimatio ad causam uma vezque, consoante dispõe o art. 3º da Lei Estadual 3.983/2002, o serviço decontrole, implantação e coordenação dos vencimentos dos servidores daFundação para a Infância e Adolescência do Estado do Rio de Janeiro éatribuição exclusiva da própria instituição, compondo, assim, aautoridade coatora, os quadros de pessoa jurídica de direito públicopertencente à administração indireta do Estado. Recurso ordinário a quese nega provimento. (STJ - RMS: 23442 RJ 2007/0003720-9, Relator:MIN. CARLOS FERNANDO MATHIAS (JUIZ CONVOCADO DO TRF,Data de Julgamento: 27/09/2007, T6 - SEXTA TURMA, Data dePublicação: DJ 15/10/2007 p. 355, undefined). (grifos nossos).

Ineficaz seria determinar a intervenção judicial na FUNDACsem que restasse conferido ao possível interventor os recursos necessários à

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consecução das atividades para qual a referida fundação fora instituída.

A jurisprudência pátria é remansosa no sentido de conferirobrigatoriedade ao repasse duodecimal, senão vejamos:

"A norma inscrita no art. 168 da Constituição reveste-se de carátertutelar, concebida que foi para impedir o Executivo de causar, emdesfavor do Judiciário, do Legislativo e do Ministério Público, um estadode subordinação financeira que comprometesse, pela gestão arbitráriado orçamento – ou, até mesmo, pela injusta recusa de liberar osrecursos nele consignados –, a própria independência político-jurídicadaquelas instituições" (RTJ 159/455)

"Repasse duodecimal. Garantia de independência, que não está sujeitaà programação financeira e ao fluxo da arrecadação. Trata-se de umaordem de distribuição prioritária de satisfação das dotações consignadasao Poder Judiciário" (RDA 189/307).

Desta forma entendo como plausível e necessário odeferimento do pedido Ministerial para que se determine ao Estado do Rio Grande doNorte, realiza o repasse financeiro mensal à Fundação em comento, sendo nomontante de 1/12 (um doze avos) do total previsto no orçamento do Estado para talmister.

2..4 – Da Concessão da Tutela de Urgência.Possibilidade. Constatada a presença do Fumus boni iuri e o periculum in mora.

Conforme supra explicitado, o representante Ministerial, nobojo da presente Ação Civil Pública, pugnou pela concessão da tutela de urgência, oumelhor seria, pela antecipação dos efeitos da tutela.

O Código de Processo Civil trata das hipóteses em queserão cabíveis a antecipação dos efeitos da tutela, sendo estes:

Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ouparcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial,desde que, existindo prova inequívoca, se convença daverossimilhança da alegação e: (Redação dada pela Lei nº 8.952, de13.12.1994)

I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação;ou (Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)

II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifestopropósito protelatório do réu. (Incluído pela Lei nº 8.952, de13.12.1994)

Também dispõe - o referido diploma – acerca de detalhesda eventual decisão, vejamos:

§ 1o Na decisão que antecipar a tutela, o juiz indicará, de modo claro epreciso, as razões do seu convencimento. (Incluído pela Lei nº 8.952,

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de 13.12.1994)

§ 2o Não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigode irreversibilidade do provimento antecipado. (Incluído pela Lei nº8.952, de 13.12.1994)

§ 3o A efetivação da tutela antecipada observará, no que couber econforme sua natureza, as normas previstas nos arts. 588, 461, §§ 4o e5o, e 461-A

Analisando o caso em testilha, resta explicito que presenteestão os requisitos exigidos para a antecipação dos efeitos da tutela, sendo estes"fumus boni iuri" e "periculum in mora".

"fumus boni iuri": conforme tudo o que até aqui fora exposto, afumaça do bom direito encontra-se mais que evidenciada. A legislação pátriaassegura a utilização da figura do interventor no intuito de conferir efetividade aosprovimentos emanados pelo Poder Judiciário.

"Periculum in mora": o perigo na demora consiste na atual situaçãocalamitosa em que se encontra o sistema socioeducativo em meio semiaberto efechado do Estado do Rio Grande do Norte. Não é segredo que adolescentes de altapericulosidade estão sendo liberados dos Centros de Internação por ausência devagas, fato que ocasiona sensação de insegurança total na população Potiguar.Procrastinar uma decisão de tamanha urgência seria conferir mais um dia desofrimentos às famílias norte-rio-grandenses.

Quanto a este pedido de tutela de urgência trago à lume os dispositivosque dispõem acerca de tutela específica, vejamos, a priori, o que dispõe o art. 461,do CPC, a seguir transcrito:

“Art. -461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigaçãode fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica daobrigação, ou, se procedente o pedido, determinará providências queassegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento”.

§ 3o Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificadoreceio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder atutela liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o réumedida liminar poderá ser revogada ou modificada, a qualquer tempo,em decisão fundamentada.

§ 4o O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença,impor multa diária ao réu, independente de pedido do autor, se forsuficiente ou compatível com a obrigação, fixando-lhe prazo razoávelpara o cumprimento do preceito."

Conforme outrora salientado o art. 461 e parágrafos do Código deProcesso Civil trouxe inúmeras inovações em nosso ordenamento pátrio, sendomuito festejado pela doutrina hodierna. Trazendo para o caso concreto entendo que odispositivo em comento embasa, de forma satisfatória, a presente decisão, uma vez

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que, o cerne da questão que ora se examina é a nomeação e um interventor naFUNDAC.

De nada adiantaria a adoção de outras providências que não seja anomeação de um interventor para atuar como "longa manus" do juiz. Tal afirmaçãopode ser comprovada pelo patente descumprimento de outras decisões judiciaisproferidas em diversas Ações Civis Públicas.

Ora, o descaso e desrespeito com os comandos emitidos pelo PoderJudiciário encontram-se escandalosamente evidenciados. Resta claro e incontesteque não existe inclinação, por parte da diretoria da FUNDAC, em cumprir asdeterminações judiciais, o que é comprovado pelas inúmeras determinação para quefossem realizadas reformas em unidades, inclusive, assegurados através de bloqueiode valores do Estado, contudo, os agentes responsáveis permanecem inertes.

Assim sendo, não vislumbro outra alternativa viável a não ser oacolhimento "in totun" do requerimento intentado de forma fundamentada pelosrepresentantes Ministeriais.

3. Dispositivo

ISTO POSTO, e o mais que dos autos consta, com fundamento noartigo 5º, inciso XXXV da Constituição Federal de 05 de outubro de 1988, c/c273, incisos I, II, III § 1º, 2º, 3º e 461 §§ 3º e 4º do Código de Processo Civil, bemcomo aplicação subsidiária do art. 102, parágrafo único da Lei nº 12.529/2011,DECIDO conceder, inaudita altera pars, a liminar de antecipação da tutela deurgência, para:

Determinar que a Governadora do Estado do Rio Grande do Norte,ROSALBA CIARLINI, proceda, no prazo de 10 (dez) dias, a nomeação da Dra.KALINA LEITE GONÇALVES, Interventora Judicial, a ser lotada na Presidência daFundação Estadual da Criança e do Adolescente - FUNDAC, e, consequentementedeterminar a pronta exoneração do atual Presidente JOSÉ EDILBERTO DEALMEIDA, fixando a pena de multa diária pelo descumprimento em R$ 10.000,00(dez mil reais), além da impetração do crime de desobediência previsto noartigo 330, do Código Penal, acrescido de outras penalidades previstas noordenamento jurídico.

A Interventora Judicial deverá ser nomeada pelo prazo de 180 (centoe oitenta) dias, prorrogável por iguais períodos, se necessário, e de estar dotada deamplos poderes para gerir a entidade, em substituição ao atual gestor, e, senecessário deverá, a partir da adoção de medidas amplas relativas à gestão derecursos humanos, investimentos em estrutura física, aquisição de materiais,realização de atividades socioeducativas e contratação de empresa de consultoria,promover o completo reordenamento institucional da FUNDAC de acordo com asdiretrizes do SINASE.

O ato de nomeação a ser expedido pela excelentíssima Governadorado Estado do Rio Grande do Norte, deverá garantir que seja fixado remuneração dasobredita Interventora Judicial referente ao cargo comissionado de Presidente daFUNDAC, a ser custeada pela própria FUNDAC, sem qualquer prejuízo de seusvencimentos como Delegada da Polícia Civil e de contagem de tempo em sua

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atividade fim, com intuito de garantir o integral cumprimento das obrigaçõesestabelecidas por este Juízo.

A Interventora Judicial – Dra. Kalina Leite Gonlaves – nodesempenho de suas funções, deverá observar e cumprir com primazia as seguintesdeterminações:

a) Adotar as medidas administrativas para a adequação da FUNDACno que diz respeito aos recursos humanos, providenciando, no mínimo, ocumprimento das Recomendações Conjuntas nº 001, 002, 003, 004, 005 006 e 007,todos de 2013 (fls. 1.838-1.880 e doc 05), e da Recomendação nº 005/2013 do PmJN(fls. 1.931-1.944) conforme deliberado na Resolução 85 de 2013 do CONSEC, bemcomo o cumprimento do acordo firmado nos autos do processo nº0126743-69.2013.8.20.0001, no sentido de lotar nas unidades de atendimento osservidores que foram devolvidos por outros órgãos, Poderes e Instituições, por forçado Decreto Governamental nº 23.724 de 26 de agosto de 2013;

b) Quanto aos investimentos em estrutura física, deverá adotar asmedidas administrativas necessárias ao cumprimento das decisões proferidas, ou quevierem a ser proferidas, em todas as Ações Civis Públicas relativas as reformas dasunidades de atendimento do Sistema Socioeducativo Estadual, devendo priorizar areabertura do CEDUC Pitimbu, sem prejuízo de outras medidas que se apresentemnecessárias ao longo da intervenção;

c) Quanto aos recursos materiais, adotar, dentre outras, as medidasadministrativas em cumprimento da decisão prolatada aos autos da Ação Civil Públicanº 0114634-23.2013.8.20.0001 (ACP CEDUC Nazaré), para aquisição de materiaisnecessários ao funcionamento das unidades de atendimento socioeducativo;

d) Quanto as atividades socioeducativas, (re)elaborar o plano deatendimento socioeducativo de cada unidade, definindo as atividades educativas,esportivas, culturais e profissionalizantes que serão desenvolvidas e promovendo astransformações necessárias para que, efetivamente, tais atividades sejamexecutadas;

e) Deverá, também, avaliar a necessidade de contratação de umaauditoria externa e/ou consultoria para elaboração de um plano de reordenamentoinstitucional da FUNDAC, à luz dos preceitos do SINASE, devendo, caso constateessa necessidade, tomar todas as providências administrativas para a identificação deuma ou mais empresas capacitadas e o respectivo valor para a realização dessacontratação, devendo, ademais, se for o caso, solicitar autorização judicial pararealização dessa providência;

f) A cada 30 (trinta) dias, a interventora judicial deverá apresentarum relatório, ainda que resumido, a respeito das providências que foram adotadas emcumprimento de todas as obrigações definidas na decisão judicial, bem como asdificuldades (gargalos) encontradas para o atendimento das providênciasdeterminadas, devendo, neste último caso, apontar as soluções para se superaresses obstáculos, informando também, de forma justificada, acerca da eventualnecessidade de profissionais para auxiliarem na condução da intervenção;

g) Após a apresentação do relatório mencionado no item "f", seráconferida vista dos autos às partes, no sentido de serem discutidas e determinadas, apartir da colaboração das partes com o Poder Judiciário, novas providências de

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acordo com o que foi sugerido no documento;

Para fins de garantir autonomia financeira da FUNDAC, DETERMINOque o ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE realize o repasse financeiro mensal àentidade do montante de 1/12 (um doze avos) do total previsto no orçamento doEstado para a FUNDAC, de forma que seja cumprido à risca o seu orçamento,ressalvada a possibilidade de, em caso de frustração da receita devidametnecomprovada, a ser autorizada por este Juízo, a pedido do ESTADO DO RIOGRANDE DO NORTE, o repasse financeiro proporcionalmente menor. Tal medidadeve ser cumprida sob pena de afastamento do Secretário de Estado doPlanejamento e das Finanças e/ou do recurso não repassado, multa diária pelodescumprimento, que estabeleço em R$ 10.000,00 (dez mil reais), crime previsto noartigo 330, do Código Penal, além de outras penalidades previstas, a pessoa física doSecretário de Estado;

Para fins de garantir a autonomia administrativa da FUNDAC, restaautorizada judicialmente, a prática, diretamente pela intervenção, de todos os atos degestão administrativa, por exemplo, nomeações, exonerações, contratações,publicações em diário oficial e outros atos de transparência administrativa etc,estando proibido ao ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE práticas queobstaculizem a gestão administrativa da FUNDAC;

Proceda-se a intimação pessoal dos entes réus para o cumprimentoimediato da presente decisão de concessão da tutela de urgência então requerida.

Cite-se conforme requerido.

P.R.I. e Cumpra-se.

Natal/RN, 12 de março de 2014

Homero Lechner de AlbuquerqueJuiz de Direito da 3ª Vara da Infância e Juventude5

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