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DECIFRANDO UM ENIGMA CHAMADO BRASIL

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DECIFRANDO UM ENIGMA

CHAMADO BRASIL

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JOÃO GILBERTO PARENTI COUTO

DECIFRANDO UM ENIGMA

CHAMADO BRASIL

2ª edição revista e ampliada

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Copyright © 2005 by João Gilberto Parenti Couto2006 – 2. ed.

e-mail: [email protected] os direitos reservados

Diagramação e composição eletrônicaElizabeth Miranda

Revisão:Ana Emília de Carvalho

Capa:Marcus Vinicius

Proibida a reprodução total ou parcial.Os infratores serão processados na forma da lei.

Mazza Edições Ltda.Rua Bragança, 101 – Bairro Pompéia – Telefax: (31) 3481-0591

30280-410 Belo Horizonte – MGe-mail: [email protected]

Couto, João Gilberto Parenti.

Decifrando um enigma chamado Brasil / João Gilberto ParentiCouto. – 2. ed. rev. e ampl. Belo Horizonte : Mazza Edições,2006.

248 p.

Conteúdo: Livro I. Brasil, país do presente – O futuro chegou.Livro II. A revolução que Vargas não fez – a

implantação da Escola Pública de tempo integral.Livro III. Acorda Brasil – um alerta aos políticos e

governantes sobre a necessidade de um projeto nacional para opaís fazer face aos desafios do terceiro milênio.

1. Ensaios brasileiros. I. Título.

CDD : B869.43CDU : 869.0(81)-4

C 871d

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SSSSSUMÁRIOUMÁRIOUMÁRIOUMÁRIOUMÁRIO

Apresentação ................................................................. 11

LIVRO IBRASIL, PAÍS DO PRESENTE – O FUTURO CHEGOU

O DESTINO MANIFESTO E O SONHO DE DOM BOSCO

Prefácio ......................................................................... 29

PARTE I – O DESTINO MANIFESTO

1. A Revelação ............................................................... 33

2. A Consagração........................................................... 35

3. Enigmas ..................................................................... 39O eixo do poder ........................................................ 39A má notícia .............................................................. 41A fatalidade ............................................................... 43A vaquinha da Leopoldina ........................................... 44Os incêndios do Caraça e da Igreja do Carmo ............... 46O rito de passagem .................................................... 47O vendaval revolucionário ........................................... 47A pedra de tropeço .................................................... 48Os anos decisivos (2002/2003) .................................. 48

Parte II – O sonho de Dom BoscoNota explicativa .............................................................. 53

4. Um sonho de Dom Bosco ............................................ 55

5. Dom Bosco sonhou Brasília? ........................................ 59

6. A realização do sonho................................................. 64

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7. Posfácio ..................................................................... 69A Era Vargas .............................................................. 69O Testamento ............................................................ 74A Era Vargas em três tempos – Resumo ........................ 76

Referências Bibliográficas ................................................. 77

LIVRO IIA REVOLUÇÃO QUE VARGAS NÃO FEZ – A IMPLANTAÇÃO DA ESCOLA

PÚBLICA DE TEMPO INTEGRAL

Introdução ..................................................................... 81

PARTE I – AS CAUSAS DO FRACASSO DA ESCOLA PÚBLICA

1. Uma disputa de poder e prestígio ................................. 87

2. O poder da Igreja no Brasil .......................................... 92

3. O litígio ensino religioso x ensino leigo......................... 96

4. O combate à Escola Pública na República Velha e a criaçãoda Rede Particular de Ensino ........................................ 99

5. O advento da Revolução de 30 .................................. 104

6. Os colégios católicos ................................................ 107

PARTE II – A ESCOLA PÚBLICA DE TEMPO INTEGRAL

7. O exercício da cidadania ............................................ 111As atividades culturais e esportivas ............................. 112O ensino profissionalizante ....................................... 113O combate à fome .................................................... 114A recuperação de menores infratores ......................... 114

8. Os recursos necessários ............................................ 116O fim da hipocrisia assistencialista empresarial ............. 117A divisão de atribuições ............................................ 119

9. Os exemplos de Belo Horizonte ................................. 122A ação de um vereador ............................................. 122

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A ação de um grupo de professores ........................... 124Reflexão final ........................................................... 125

LIVRO IIIAcorda, Brasil – Um alerta aos políticos e governantessobre a necessidade de um projeto nacional para o país

fazer face aos desafios do terceiro milênioPrefácio ....................................................................... 129

1. O planejamento estratégico........................................ 131Sistema de Transportes – Trem de Grande Velocidade... 133A Ferrovia de Dom Bosco .......................................... 134A indústria do turismo e a geração de empregos .......... 138A Semana Inglesa e as Leis Trabalhistas ....................... 139Gerenciamento dos recursos naturais ......................... 142Recursos hídricos ..................................................... 143A defesa do meio ambiente ....................................... 145Os consórcios de reciclagem ..................................... 146As Regiões Metropolitanas ........................................ 147A defesa das matas ciliares e a proteção das nascentes . 149Recursos energéticos ................................................ 150A reestruturação do Estado brasileiro ......................... 152A revisão Constitucional ........................................... 152A reforma do Judiciário ............................................ 155O Ministério do Pessoal da União .............................. 158O Ministério dos Bens Imóveis da União .................... 160O Instituto Brasileiro de Seguro Social ........................ 161Uma nova divisão territorial da Federação ................... 164O resgate da dívida social .......................................... 165A Reforma Agrária .................................................... 166A Reforma Urbana .................................................... 172Favelas e cidadania .................................................... 175A renegociação da dívida externa ............................... 177Títulos do Tesouro Nacional ...................................... 179

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Selos de Autenticidade .............................................. 179O resgate da dívida pública........................................ 180A quebra de Contratos e a Bíblia................................ 182

2. A Geopolítica Continental ......................................... 183O fluxo migratório ................................................... 183O monitoramento das fronteiras ................................ 185A Guarda Nacional ................................................... 187A Polícia Federal ....................................................... 188O Ministério da Defesa ............................................. 188A Polícia Carcerária Federal ........................................ 189O Sistema Prisional e a dignidade do ser humano......... 190As Polícias Estaduais de Segurança Pública ................... 191A reestruturação das Forças Armadas ......................... 192A defesa do tríplice ecossistema sul-americano ............ 193O Instituto de Pesquisa do Tríplice Ecossistema ........... 195A liderança do Brasil na América do Sul ...................... 195A Área de Livre Comércio das Américas ..................... 197Interesses estratégicos .............................................. 198A Associação dos Países Sul-Americanos .................... 199A Farmacopéia Brasiliense e o futuro da Nação ............ 200A soberania dos países sul-americanos ....................... 203A estratégia de defesa da América do Sul .................... 205Energia nuclear ........................................................ 205Pequenas usinas nucleares ......................................... 207A doutrina Bush ....................................................... 210A doutrina do combate ao narcotráfico....................... 213O ato falho .............................................................. 214A paz ameaçada ....................................................... 218A estratégia do medo e a defesa da Amazônia ............. 221Os Estados predadores ............................................. 223

3. A guerra biológica .................................................... 228A guerra biológica na Antiguidade .............................. 228

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As sete pragas do Egito ............................................ 229A guerra biológica moderna....................................... 230O Instituto de Pesquisas Biológicas e Combate às Pragas

Exóticas .............................................................. 234A Síndrome do Sapo Fervido ..................................... 243

Referências Bibliográficas ............................................... 244

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AAAAAPRESENTPRESENTPRESENTPRESENTPRESENTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO

É com prazer que submeto ao leitor esta obra, na qualreuni num só volume três livros que publiquei em parceria com aMazza Edições de Belo Horizonte (todos já esgotados), tratandode aspectos ligados à realidade brasileira nesta virada de milênio.Estes livros, agora revistos e em alguns casos ampliados paramaior clareza dos textos e compreensão das mensagens que en-cerram, juntamente com outros dois, Projeto Brasil e OperaçãoSenzala, publicados também por essa editora, representam cercade nove anos de trabalho (1996/2005), aos quais me dediqueipara tentar decifrar esse enigma chamado Brasil, pois é impossí-vel ficar-se alheio ao caos social no qual o País está mergulhado.Nos livros Projeto Brasil e Operação Senzala, procurei abordar aquestão do resgate da dívida social, representada por quase qua-tro séculos de escravidão e mais de um século de exclusão socialdos brasileiros descendentes dos escravizados. Agora, com estelivro, a decodificação desse enigma chamado Brasil se completa.A chave para essa abertura começa com o Livro I – Brasil, paísdo presente – O futuro chegou, no qual o leitor tomará conhe-cimento do Destino Manifesto e o Sonho de Dom Bosco, visãoprofética de um porvir alvissareiro para a Terra Brasilis. No LivroII – A Revolução que Vargas não fez – A implantação da esco-la pública de tempo integral, estão expostas as causas do fra-casso da escola pública e os responsáveis pela situação calamito-sa do ensino no Brasil, fato que não só perpetua a exclusão socialde significativa parcela da população brasileira, como tambémcompromete a realização dos sonhos de Dom Bosco, e para com-pletar, no Livro III – Acorda, Brasil, é dado um alerta aos polí-ticos e governantes sobre a necessidade de um projeto nacionalpara o País fazer face aos desafios do terceiro milênio, entre osquais se destaca a pobreza que atinge significativa parcela da po-

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pulação brasileira, fruto de uma opção político-econômica equi-vocada.

Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Apli-cada (IPEA), publicados pelo Jornal Estado de Minas (2/6/2005,p. 10), o Brasil chegou ao fundo do poço da miserabilidade e,atolado na pobreza, disputa o último lugar com um paupérrimopaís africano:

Com um total de 53,9 milhões de pobres (31,7%), cerca de umterço da população brasileira, o Brasil aparece em penúltimo lu-gar numa lista de 130 países, no que se refere à distribuição derenda, só perdendo para Serra Leoa, na África. É o que mostraum estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)divulgado ontem pelo ministro do Planejamento, Orçamento eGestão, Paulo Bernardo. O Estudo Radar Social 2005 conside-rou pobres as pessoas que vivem com renda domiciliar per capitade até meio salário mínimo (R$ 120 em 2003, época do estu-do). Foram consideradas muito pobres ou indigentes as pessoascom renda de até um quarto (R$ 60) do salário mínimo de 2003.Nessas condições vivem 21,9 milhões de brasileiros. A pobrezano País também é maior entre a população negra. Segundo oIpea, 44,1% de negros viviam com renda inferior a meio saláriomínimo em 2003.

Para saber por que essa situação é mantida pelo atual go-verno, que se diz trabalhista, nada mais oportuno do que recapi-tular na forma de uma pequena história – A estrela que viroucometa – que a ascensão e queda do Partido dos Trabalhadores,e os descaminhos do governo Lula nos trinta meses transcorri-dos desde sua eleição em 2002, até a crise político-institucionalde junho de 2005, quando sua caminhada foi barrada por umamuralha de CPIs instaladas no Congresso Nacional. O trágiconeste processo é a insistência deste governo de lutar para que aeconomia “não sofra nenhum risco por conta da crise”, comodiscursou o Presidente Lula na 13ª reunião do CDES em25/8/2005, pois ela vai bem e por isso mesmo não pode serperturbada. Ora, se a economia vai bem, o mesmo não acontececom o povo, como já dizia há cerca de trinta anos o PresidenteMédice, cuja assertiva continua atualíssima. Este estado de coisasé mantido graças às “bases sólidas” na qual a economia brasileira

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está assentada desde o tempo do Império, ou seja, os excluídosda sociedade que naquela época viviam acorrentados nas senza-las e que agora se encontram confinados nas favelas. A razão,portanto, do “sucesso” da atual política econômica é que ela foiformatada para atender com exclusividade aos extratos superio-res da sociedade brasileira, ignorando solenemente essa massade miseráveis que, para sobreviver, têm de se contentar com asmigalhas dos programas assistencialistas governamentais ou pro-jetos “filantrópicos”das chamadas ONGs.

A obsessão de Lula em defender essa política econômica,herdada do governo FHC, é muito parecida com a postura dovilão do filme A Ponte do Rio Kway, que, ao se colocar ao lado doinimigo para construir essa ponte que serviria para combater seuscompatriotas, perdeu o senso das coisas e passou a defendê-la atodo custo, inclusive sacrificando seus camaradas de farda nessaobra insensata, chegando ao extremo de confrontá-los ao cons-tatar que estavam tentando destruí-la. Aliás, essa postura equi-vocada está bem representada na atividade de agiotagem que erapraticada até agora às escondidas, por ser considerada ilegal,mas que se tornou um negócio oficial com a autorização dadaaos bancos, pelo governo Lula, de descontarem das folhas depagamento os empréstimos concedidos aos funcionários públi-cos, operários e pensionistas do INSS. Esta é uma medida queatenta contra o mais sagrado direito do trabalhador: o de disporlivremente de seu salário para se manter, pagar suas dívidas ehonrar seus compromissos, sem as peias da servidão. Esta sujei-ção aos banqueiros-agiotas é uma repetição da prática dos arma-zéns cativos dos coronéis do passado, que foi ressuscitada (pas-mem!) por obra e graça de um Operário-Presidente.

Mas não é só. No auge da crise das CPIs, entre setembro eoutubro de 2005, o Presidente Lula, ao invés de dar uma satisfa-ção à sociedade sobre os fatos investigados, os descalabros deseu governo, esmerava-se em realçar os “sucessos” de sua polí-tica econômica, frisando que não faria nenhuma loucura comopretensos candidatos à sua sucessão iriam fazer no ano seguinte,o ano das eleições, mudando o rumo dessa política, que sabeinevitável. Era uma mensagem direta para a elite e os banqueiros,

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de que somente ele seria capaz de proteger seus interesses, namedida em que não mudaria nada, razão por que deveriam patro-cinar sua reeleição. Esta postura reflete o instinto de sobrevivên-cia do líder sindical, que, sem meios de levar aos operários umacordo satisfatório, fecha com os patrões um trato para salvar acúpula sindical, e seu próprio cargo, do fracasso de seu discurso.É a mesma traição imposta ao povo que lhe deu um mandato parapromover mudanças na sociedade, que prometera nos palanques,mas que, por conveniência, como FHC, ou por medo dos antigospatrões, cujo poder conhece muito bem, esqueceu o que disse,ou se faz de desentendido. É a suprema traição!

A Estrela que virou CometaSíntese de um ato falho

Esta é a história de uma estrela que surgiu no escurofirmamento da ditadura militar, enchendo de esperança osdesesperançados e alegrando a todos com seu faiscar, à medidaque as escuras nuvens da opressão se dissipavam do céu da pá-tria. Seu brilho, todavia, começou a ser ofuscado quando surgiuuma estranha cauda, evento que decepcionou os mais atentosobservadores de astros e estrelas, pois tal fato significava quenão se tratava de uma estrela guia como muitos leigos acredita-vam, mas sim de um simples cometa. Mas o que acabou conven-cendo os mais incrédulos desse engano foi o crescimento espan-toso dessa cauda, à medida que se aproximava do Poderoso Sol,o que por si só denunciava a natureza fugaz desse corpo celeste.Em que pesem essas evidências esclarecedoras, muitos dos cul-tores dessa “estrela” teimavam em dizer que tudo não passava deuma ilusão de ótica, mesmo tendo percebido que o rabo dessafalsa estrela ficara preso ao brilho dourado do Astro-Rei, nomomento em que mudou de lado, da esquerda para a direita, aoatingir seu zênite.

Essas lucubrações sintetizam as conseqüências nefastas donão cumprimento por parte de um partido político de seus com-promissos eleitorais. Esta traição ao eleitor é muito perigosa para

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a democracia, pois, além de trazer insegurança à sociedade, favo-rece a corrupção nos poderes constituídos, como denunciou odeputado Roberto Jéfferson em junho de 2005. É como se ospassageiros de um navio tomassem conhecimento, em alto-mar,de que o comandante resolveu mudar de rumo, seguindo paraoutro porto que não o combinado, e para convencer os tripulan-tes indecisos, mandou jogar ao mar os que se opunham a essamanobra desonesta. E como se isso não bastasse para intimidaros passageiros, muitos dos quais sufocados nos infectos porõesdessa nau de insensatos, mandou também atirar ao mar a própriabússola de navegação (às favas com escrúpulos ou esqueçam oque escrevi), passando a partir daí a confiar nos arautos que seaboletaram no cesto da gávea, de onde propalavam, aos quatroventos, que a rota era segura, embora o forte nevoeiro represen-tado por um trilhão de reais gotas douradas não lhes permitissemver sequer um palmo na frente do nariz.

As pegadas da traição

DEZEMBRO DE 2002A Escolha Certa

(Artigo de Bolívar Lamounier – Revista Exame, 25/12/2002,ed. 782, p. 14 – parcial)

Com a eleição de Lula, o Brasil demonstrou que está ma-duro para a alternância de partidos no poder, requisito essencialda moderna democracia representativa. E Lula, tanto na campa-nha como nesse período inicial de organização de seu governo,também tem dado mostras de amadurecimento e realismo. Oessencial, para Lula e o PT, era perceber que o Brasil tem hoje àsua frente dois caminhos claramente bifurcados: o da estabilida-de, que cria condições para a progressiva retomada do cresci-mento, em bases sustentáveis, e o do populismo, que não tarda-ria muito a colocar o país diante de uma crise de grandes propor-ções. O primeiro é o caminho do respeito aos contratos e acor-

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dos vigentes, da disciplina fiscal, da continuação e até doaprofundamento das reformas iniciadas por Fernando Henrique.A opção contrária, populista, seria a tentativa de dar imediatoatendimento a expectativas sociais acumuladas; expectativas quesoam legítimas no diapasão ético e social em que são vocalizadas,mas fantasiosas na proporção e no horizonte de tempo com quese configuram durante o recente processo eleitoral. Esse segun-do caminho levaria a uma bolha de crescimento seguida por umbelo desastre, com perda de boa parte do que o país conseguiudurante a última década em termos de estabilidade, reforma es-trutural e confiabilidade de seus parceiros internacionais. Zigue-zaguear entre essas duas alternativas, buscando um meio-termona referida bifurcação, é opção instável e arriscada, que apenasserviria para alimentar a inflação, trazer de volta a indexação esemear desconfiança ao longo de todo o espectro de interlocutoresrelevantes do governo – do mercado financeiro à própria base desustentação parlamentar do governo.

DEZEMBRO DE 2004OAB avalia Lula como um “Carbono” de FHC

(Artigo intitulado CRÍTICA – Jornal Estado de Minas,30/12/2004, p. 4)

BRASÍLIA – O presidente nacional da Ordem dos Advoga-dos do Brasil (OAB), Roberto Busato, e dirigentes das seccionaisestaduais da entidade avaliaram que o governo do presidente LuizInácio Lula da Silva é “sofrível” e um “carbono” da administra-ção Fernando Henrique Cardoso. Para Busato, ao elegerem umex-metalúrgico com a história de Lula como presidente, os brasi-leiros demonstraram que querem um novo modelo político, emespecial na área social. “Esse governo não conseguiu, ainda, tra-duzir em realidade qualquer um desses anseios da população”,afirmou. Segundo ele, o termômetro para essa insatisfação doseleitores foi a eleição municipal. “O erro maior desse governo éter destruído a crença e a esperança do povo brasileiro, queficou sem alternativas para melhorar de vida. Este governo é a

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cópia xerox do governo Fernando Henrique”, afirmou o presi-dente da OAB do Acre, Adherbal Maximiano Corrêa. No corode críticas, o presidente da OAB da Bahia, Dinailton Oliveira,disse que a população brasileira está frustrada com o governo.“Ele está sendo uma continuidade piorada do governo de FernandoHenrique Cardoso”, afirmou. Já a presidente da OAB do DistritoFederal, Estefânia Viveiros, observou que o desempenho da eco-nomia tem atendido e superado o que esperam os credores ex-ternos. “Mas internamente é outra coisa. Para o público que falaportuguês o que tivemos, até agora, foi muita promessa, o que élamentável”, disse.

DE NOVO?Nota de Batista Chagas de Almeida

(Jornal Estado de Minas, 28/12/2004, p. 2 –Coluna “Em Dia com a Política”)

Primeiro, vamos crescer o bolo. Só depois, quando estiverno ponto, poderá ser repartido com a população, dizia o entãotodo-poderoso da política econômica do governo do general-presidente Costa e Silva, ministro Delfim Neto. Hoje, a economiavai bem, deve crescer no ano que vem em torno de 5%. Estamospagando de juros externos uma montanha de dinheiro, bem maisdo que o acordado com o FMI. O bolo está crescendo, mas ogoverno do operário-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entendeque ainda não é a hora de reparti-lo com a população. A desi-gualdade social se mantém em alta e a renda do trabalhador con-tinua caindo, segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domi-cílios (Pnad).

A opção equivocada

O que a imprensa registra no final do segundo ano dogoverno Lula sintetiza as conseqüências nefastas de uma opçãoequivocada, feita por governantes acovardados que não têm a

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coragem de desafiar a elite, como fez Getúlio Vargas, nem a ou-sadia de enfrentar os tecnocratas do FMI, paus mandados dabanca internacional, como JK, para mudar as regras de um jogoque contraria os interesses do povo e da nação brasileira, masque é extremamente favorável a uma minoria de privilegiados.Para isso é necessário ter o caráter de um gaúcho forjado nosentreveros dos Pampas e a altivez de um mineiro cultivada nosilêncio das montanhas. Sem esse estofo moral, o que se vê sãogovernantes bitolados, como os militares, ou renegados, comoFernando Henrique Cardoso, que abjurou tudo o que escreveracomo sociólogo, para poder abraçar, sem constrangimentos, comoPresidente da República, a causa dos banqueiros. Este mesmoprocedimento foi adotado, prazerosamente, pelos elementos deproa do Partido dos Trabalhadores, os quais, segundo a senadoradissidente, Heloísa Helena, lambuzaram-se com as regalias dopoder tão logo se tornaram os poderosos do momento, esque-cendo assim todo um passado de lutas e promessas de mudançasno quadro social brasileiro, como bem frisaram os representan-tes da OAB.

Conseqüentemente o que se vê, ao findar-se o segundoano do “proletário” governo petista, é a continuidade da políticada “foca enganada” (aquela que persegue uma sardinha espetadanuma vara), ou seja, o tal “crescimento sustentado”, que seráalcançado “no próximo ano”, quimera que sustentou o discursodo Presidente FHC em seus dois mandatos e que agora é usadosem cerimônias pelo Presidente Lula. Essa política funciona comouma miragem, pois na virada de cada ano um fato novo remetepara o seguinte esse prêmio que parece estar ao alcance das mãose que mudará a sorte dos excluídos, os quais, enquanto tal fatonão acontece, devem contentar-se com os megaprojetosassistencialistas, como “Fome Zero” ou “Bolsa Família”, e outraspropostas varejistas de inclusão social, como o “ProgramaNacional de Biodiesel”, que, se não mudam o quadro de exclu-são, servem de anestésico social, como o famoso “pão e circo”dos romanos.

Este programa, inclusive, é um contra-senso, pois, ao in-vés de incentivar a produção de alimentos para combater a fome,ele foi projetado para alimentar a indústria automobilística. Isto é

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um absurdo! Nenhum país do mundo jamais se atreveu a destinarterras agricultáveis para produzir combustíveis, pois basta umsimples cálculo matemático, e a Petrobrás está apta a fazê-lo, parase ter a idéia da dimensão da área a ser plantada para substituiros combustíveis fósseis. A exceção, claro, é o nosso País, com ofamigerado projeto da ditadura militar, o Proálcool, que varreudo campo uma enormidade de pequenos e médios agricultoresque produziam alimentos, principalmente os produtores de fei-jão do Estado de São Paulo. A propósito, é bom lembrar que aONU calcula em 1 tonelada por habitante a produção de alimen-tos para que um país não passe fome. Quanto falta ainda aoBrasil para atingir esse patamar? Para refrescar a memória dosmais distraídos, é só recordar o que os economistas dizem sem-pre que se cogita aumentar o poder aquisitivo dos excluídos:“Vai haver desabastecimento, pois a produção de alimentos nãoé suficiente para atender ao aumento de consumo, e conseqüen-temente a volta da inflação”.

Uma comparação necessária

No dia 29 de abril de 2005, o Presidente Lula fez perantea imprensa um balanço de seus dois anos e quatro meses degoverno, quando reconheceu que nesse período cometeu apenastrês erros, nenhum dos quais relacionados com o resgate da dí-vida social, que sequer foi mencionada nessa entrevista. Diantedisso, como ficam a reforma agrária, a reforma urbana/o fim dasfavelas, a falência do sistema de saúde e a precariedade da educa-ção pública? Quais os acertos a serem comemorados nessas ques-tões vitais para o exercício da cidadania? E os 10 milhões deempregos prometidos na campanha eleitoral? Também devem sercomputados como “acertos”, ou tudo isso são erros escamotea-dos da opinião pública por assessores espertos, com a colabora-ção da mídia, para não empanar o “brilho” dessa coletiva? E oprojeto de transposição do Rio São Francisco, que ameaça trans-formar esse até agora tido como o rio da integração nacionalnum caudal de discórdia? Por que o Presidente Lula, ao invés deagir com prepotência nesta questão, não convoca os governado-

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res dos Estados doadores e receptores para buscarem juntos amelhor solução? O ex-Presidente Itamar Franco, quando recebeua Nação numa situação de conflito, procurou no Congresso Na-cional o consenso para governar o País sem traumas. Por que nãoagir da mesma forma no caso desse polêmico projeto?

A propósito da postura arrogante deste governo petista esuas parcas realizações, nada mais oportuno do que comparar oque fez o ex-Presidente Itamar Franco em menor tempo de gover-no (dois anos e três meses), ao receber o País em frangalhos e aauto-estima do povo em baixa. Neste mandato reduzido, ele co-locou, com apoio de todos os partidos políticos, a nação noseixos e devolveu ao povo a alegria de viver. Por que a mídia nãofaz comparação entre o governo Itamar e o governo Lula, quedisse que só se governa realmente a partir do segundo ano demandato, enquanto Itamar provou que nesse período se podefazer muito pelo País, desde que se tenha coragem e determina-ção? Estas qualidades de estadista, Itamar exercitou-as novamen-te como Governador de Minas Gerais, ao decretar a moratóriada dívida mineira, fato que tornou público a situação falimentardas finanças estaduais, pondo assim em xeque a política econô-mica do governo FHC, e ao colocar a Polícia Mineira na represade Furnas para barrar o processo de privatização do setor elétri-co brasileiro, que, se concretizado, teria levado o País ao caos.

A Lenda da Ponte Pênsil

Um Ermitão que vivia numa caverna no topo de uma mon-tanha revirava-se em seu catre numa noite de insônia, preocupa-do que estava com os ruídos que emanavam de um canteiro deobras de uma ponte pênsil, projetada para transpor um fossoprofundo que separava a montanha em que vivia de uma outra, amontanha mágica, onde, segundo uma lenda corrente entre po-vos subdesenvolvidos, estavam guardados, a sete chaves, os se-gredos que tornaram outros povos desenvolvidos, os chamadospaíses do Primeiro Mundo. Como era míope e ainda por cimapadecia de cegueira noturna, lançou mão de um binóculoinfravermelho, de última geração, para descobrir o que se passa-

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va, pois estava acostumado com a faina diária dos trabalhadoresque, calados e sem reclamar, esgotavam-se nessa obra aparente-mente sem fim. Havia quinhentos anos que seus antepassados sededicavam a esse mister e até aquele momento sem sucesso, poisessa ponte sobre o profundo fosso no qual corria o Rio Ipiranga,uma torrente de águas tormentosas, ainda não estava pronta eem condições de uso. Este insucesso, todavia, não era culpa dosobreiros, pois milhões de seus antepassados, índios e negros,foram, como eles estavam sendo, sacrificados para que tal objeti-vo fosse alcançado. Alguns êxitos desses heróis anônimos podi-am ser contabilizados, como a corda guia que já estava firmemen-te amarrada nas estacas de pau-brasil cravadas na montanha má-gica, o que teoricamente permitiria levar para lá outras cordaspara concluir a ponte e descobrir os tais segredos tão bem guar-dados.

A razão por que essa ponte pênsil ainda estava inconclusa,embora continuasse a exigir esforços sobre-humanos dos operá-rios, logo seria descoberta pelo ermitão. Assim que ajustou obinóculo, ele pôde ver com nitidez várias pessoas, em grupo ousozinhas, numa atividade frenética para dar nós nas cordas queno dia seguinte seriam estendidas através do fosso, para seremamarradas nas estacas de pau-brasil fixadas na montanha mágica.Estranhando tal fato, regulou o binóculo para examinar o porquêde tais nós e o que constatou o deixou estupefato. É que parareforçar as cordas, para evitar que rompessem pelo efeito dastensões a que seriam submetidas, foram introduzidos fios de ourona trama de cada uma delas. O que esses fantasmas noturnosestavam fazendo na calada da noite, enquanto todos dormiam emberços esplêndidos, era afanar os fios de ouro em várias seçõesdessas cordas e, para encobrir tais roubos, davam nós nesseslocais. O resultado dessa rapina noturna era que os diaristastrabalhavam em vão, pois não conseguiam estender as cordas atéos pontos de amarração nas estacas de pau-brasil, já que ficarammais curtas devido aos nós feitos pelos meliantes.

Assim, essa ponte, que tinha tudo para dar certo, uma vezque havia material suficiente para construí-la, pois o País era rico

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em recursos naturais, tornara-se ao longo do tempo num dosmaiores fracassos dos pontífices tupiniquins, responsáveis pelasua construção. O trágico nesse fracasso é que as cordas quedariam sustentação à ponte eram as mais atingidas pelos roubos,como as da educação, saúde, reforma agrária, e outras ligadas àcidadania, e o pior de tudo era o roubo praticado pelos própriosconstrutores da ponte, que da mesma forma surrupiavam fios deouro para, paradoxalmente, pagarem juros aos banqueiros quefinanciavam essa obra de vital importância para o País, a qual,segundo a lenda, serviria de acesso ao Primeiro Mundo.

O sonho do Ermitão

Após essas visões, o Ermitão retornou ao seu catre e ador-meceu, mas suas atribulações continuaram, agora na forma deum sonho. Neste sonho ele conversava com uma pessoa sobreuma greve, quando viu um rio caudaloso de águas vermelhas,barrentas como nas enchentes, porém ainda no seu leito, na mar-gem do qual vários instrumentos de garimpo estavam arrumados,porém inativos por falta de garimpeiros que estavam ausentes,menos um que descansava acocorado a uma certa distância. Di-ante desse quadro, veio-lhe à mente que, embora a produção deouro cessara, aquele caudal talvez portasse esse metal. Nova-mente desperto, interpretou o sonho como possível crise que seavizinhava, pois os elementos básicos do sonho não se harmoni-zavam, ou seja, o trabalho e o ouro. Além disso, águas vermelhasrepresentam sangue; barrentas e caudalosas, tormenta a montan-te... nas cabeceiras; ainda no leito, prestes a transbordar, aconte-cimentos próximos!

A Síndrome do Nazismo

De tudo isso cabe ainda uma reflexão sobre o momentopolítico em que vivemos e as sementes dessa crise que se avizi-nha. No final do mês de outubro de 2005, portanto um ano

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antes das eleições presidencias de 2006, um fato ocorrido emBrasília chama a atenção pela semelhança com outros aconteci-dos na Alemanha nazista. Segundo o Jornal Estado de Minas(28/10/2005, p. 2):

“A Escola de Formação de Trabalhadores em Informática (EFTI),que financiou os cartazes com a fotomontagem do presidentenacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), vestido de na-zista, funciona há anos como uma espécie de bunker do PT doDistrito Federal. A escola, localizada no Lago Norte, é utilizadacomo local de reuniões de parlamentares e sindicalistas ligadosao partido, depósito de material de propaganda para diretóriospetistas das cidades do Entorno de Brasília e centro informatizadode acompanhamento e fiscalização de eleições. [...] Depois deidentificar os autores dos cartazes com a fotomontagem do pre-sidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), vestido denazista, a 1a Delegacia de Polícia (Asa Sul) investiga se eles conta-ram com a estrutura de algum sindicato ou outra entidade traba-lhista para distribuir o material nas paradas de ônibus no PlanoPiloto. Foram impressos três mil cartazes. Os responsáveis preci-saram apenas de uma madrugada – da segunda-feira para terça –para fixá-los”.

A semelhança dos fatos ocorridos aqui no Brasil e na Ale-manha fica por conta da estrutura partidária e os meios paraconquistar e manter o poder, principalmente pela ação das basese das cúpulas. Estas, como mostrado no documentário daGlobosat Os Assessores de Hitler (Hitlers Helfer), são muitoparecidas, inclusive ambas tiveram suas noites dos longos pu-nhais, vivenciadas por Ernst Rohm e José Dirceu, alem, é claro,do apoio da classe empresarial ao seu líder máximo, para dissotirarem o melhor proveito. No caso alemão, deu no que deu.Aqui no Brasil, as águas barrentas ainda estão no seu leito, razãopor que ainda é possível evitar transbordamentos catastróficos.Esta perspectiva alvissareira liga-se ao fato de que se lá ReinhardHeydrich, o “jovem e terrível Deus da Morte”, ajeitou sorrateira-mente os ovos da serpente para que eclodissem no tempo preci-so, aqui Roberto Jefférson chutou a incubadeira de formaextemporânea, impedindo não só que o choco se completassecom também desnorteando os gestores serpentários.

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Balanço da situação

Em resumo, neste atribulado momento político em que vi-vemos, criado por um partido que em campanha eleitoral seproclamava reserva moral do País e marco regulador dos bonscostumes no trato da coisa pública, mas que, ao assumir o poder,perdeu o rumo e o prumo – como bem atestam as atitudes extre-madas de cidadãos desesperados com a insensibilidade degovernantes petistas, como a greve de fome de um religioso paradefender o Rio São Francisco e a auto-imolação pelo fogo de umativista ambiental para proteger o Pantanal Mato-Grossense, contraas investidas de ex-defensores do meio ambiente, o Presidenteda República e o Governador do Mato Grosso do Sul, que agoradesdenham seus antigos companheiros de caminhadas ecológicase de partido com visão amazônica – subsiste uma questão (osfundamentos da economia) que deve merecer uma reflexão maisaprofundada por parte dos governantes e da mídia, para que apolítica deixe o terreno das falsidades e recupere a credibilidadejunto dos cidadãos que ainda acreditam que, apesar dos pesares,um dia chegaremos lá.

Esse LÁ evidentemente não é Shangri-lá, uma terra de fan-tasia onde o principal objetivo é pagar juros, como propõe apolítica econômica gerida pelo Ministro Palocci e apoiada semrestrições pelo Presidente da República, em que pesem opiniõescontrárias de auxiliares seus, como informa o Jornal Estado deMinas (17/11/2005, p. 3) em matéria intitulada Ministro da Fa-zenda deixa claro que sua permanência representa a manutençãoda política econômica e diz que a Ministra da Casa Civil errou.Ao depor no Senado, nega todas as denúncias:

“Em entrevista na semana passada, Dilma qualificou de ‘rudi-mentar’ o plano em análise e afirmou que aumentar o superávitprimário (economia para pagar os juros da divida) sem reduzir ataxa de juros é ‘enxugar gelo’. (...) Pela primeira vez, ele reagiupublicamente às críticas da ministra. Apresentou-se como fiadordo ajuste fiscal, descrito por ele como a base dos ‘oito trimestresseguidos’ de um crescimento econômico que o presidente LuizInácio Lula da Silva repisa a todo momento nos discursos. (...) Acomposição da mesa que recebeu o ministro na CAE deu a medi-

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da do seu prestígio. Estavam ali o presidente do Senado, RenanCalheiros (PMDB-AL), e os ex-presidentes da Casa José Sarney(PMDB-AP) e Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA)”.

O crescimento vegetativo do País, fruto dessa política eco-nômica, classificada pela Ministra Dilma de enxuga-gelo, susten-tada pela classe empresarial e prestigiada por políticos oriundosem sua maioria do Nordeste, onde o ranço escravocrata e a he-rança do coronelismo ainda estão presentes e atuantes, não levaem conta, em seus cálculos matemáticos e dados estatísticos, ainserção dos excluídos na economia formal, sendo portanto umaobra mal calculada. Este tipo de ato falho está bem exemplificadona Bíblia:

De fato, se algum de vós quer construir uma torre, não se sentaprimeiro para calcular os gastos, para ver se tem o suficientepara terminar? Caso contrário, ele vai pôr o alicerce e não serácapaz de acabar. E todos os que virem isso começarão a zom-bar: “Este homem começou a construir e não foi capaz de aca-bar” (Lc 14, 28-30).

Diante de tudo isso, pergunta-se: por que, durante a expo-sição do ministro no Senado, nenhum dos presentes procurousaber qual o plano do governo para acabar com as favelas, com asfilas nos sistemas de saúde e de previdência e dotar as cidadesde saneamento básico? E mais: em que prazo isso seria feito e deonde sairiam os recursos financeiros para tal fim? Por que, aoinvés de ficarem “embevecidos” com a “performance” do Minis-tro Palocci, os senadores não se concentraram nas questões bási-cas de interesse da população, como moradia, escolas, hospitais,transportes e alimentação?

Que país imaginam que essa política econômica criará naspróximas décadas, se sua finalidade maior será pagar juros a qual-quer custo, mesmo que esse custo seja manter na miséria metadeda população brasileira? Não seria mais objetivo e racional serefletissem sobre isso e procurassem saber quando os brasileirosem sua totalidade poderão exercer seus direitos de cidadãos,acabando conseqüentemente com o assistencialismo farisaico re-presentado pelas “cestas básicas”, “bolsa família” e outras medi-das paliativas que humilham mais que dignificam os beneficiados?

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É preciso acabar com essa demagogia eleitoreira, a qual, como o“pão e circo” dos romanos, não resolve o problema da miséria,mas é utilizada pelos políticos como anestésico social para man-ter os excluídos no seu lugar, ou seja, nas favelas. É preciso res-gatar a cidadania desses milhões de brasileiros, principalmentedos descendentes dos escravizados, que até agora não tiveram ogosto de desfrutarem seus direitos assegurados na ConstituiçãoFederal, para eles uma mera alegoria política.

Já está na hora também de os integrantes da mídia, porintermédio de seus elementos de proa, tanto os que trabalhamnos bastidores como aqueles que se comunicam diretamente coma população, os formadores de opinião, de se conscientizaremde que não são meros leitores de pautas preparadas nas centraisde produção, mas cidadãos no exercício de uma profissão quetem uma responsabilidade social muito grande. Por que essesprofissionais não tentam questionar esse modelo econômico,formatado exclusivamente para atender a segmentos privilegia-dos da sociedade, a classe média e a elite, que tudo têm e quetudo podem, deixando de fora metade da população brasileiraque nada tem e nada pode. Para terminar, mais um questionamento.Por que essa briga toda com a Ministra Dilma Rousseff, se o queessa guerreira botocuda queria era apenas cavacos das toras dePau-brasil que, como seus antepassados, é obrigada a derrubartodos os dias para abarrotar as naus dos piratas internacionaisque lançaram ferros nas costas brasileiras?

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LLLLLIVROIVROIVROIVROIVRO I I I I I

BRASIL, PAÍS DO PRESENTE –O FUTURO CHEGOU

O DESTINO MANIFESTO E O SONHO DE DOM

BOSCO

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PPPPPREFÁCIOREFÁCIOREFÁCIOREFÁCIOREFÁCIO

Ante a falta de iniciativa dos governantes em propor umProjeto Nacional para que o Brasil possa enfrentar com êxito osdesafios do terceiro milênio, entre os quais se destacam a fome,a exclusão social e a degradação do meio ambiente, ouso aquilevantar alguns pontos para reflexão, a partir de eventos históri-cos que conferem ao Brasil uma posição ímpar no concerto dasnações, pois nenhuma outra, à exceção da bíblica Israel, nasceusob o signo da predestinação de servir de luzeiro para a humani-dade, em sua caminhada ascendente rumo à plena realização desuas potencialidades, do que a Terra Brasilis. Todavia, a incompe-tência generalizada que afeta a administração pública do País emtodos os seus níveis – federal, estadual e municipal – e esferas dopoder – Executivo, Legislativo e Judiciário – compromete essaperspectiva alvissareira, uma vez que se manifesta de forma dra-mática nos setores considerados essenciais para o bem-estar dapopulação, principalmente a mais carente, como educação, saú-de, habitação e transportes urbanos. Se essas deficiências estru-turais não forem corrigidas, todos os projetos e tentativas defazer do Brasil uma potência estarão fadados ao fracasso, pois,sem justiça social, o direito à cidadania estará comprometido e,com ele, o destino da nação.

A cidadania é um direito que não comporta limitações;caso contrário, prevalecerá o caos social como observado noPaís neste início de milênio. Esta situação só ocorre, porque acidadania no Brasil é um direito exercido em função do poderpolítico e econômico das pessoas e não como uma garantia cons-titucional. Essa exclusão social é o que retarda a realização dossonhos visionários de Dom Bosco de que “aparecerá aqui aterra prometida, que jorra leite e mel”. Urge, portanto, pôrum termo a essa situação, já que a hora da verdade da Terra

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Brasilis chegou e as elucubrações de Stefan Zweig (1960), de umBrasil país do futuro, são coisas do passado.

FIGURA 1GRÁFICO DA CIDADANIA NO BRASIL

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1. A R1. A R1. A R1. A R1. A REVELEVELEVELEVELEVELAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO

O Brasil, se levarmos em conta os fatos ligados à sua histó-ria, parece ser um país marcado para ser uma nova Canaã, terraonde mana leite e mel, pois, além da bíblica terra prometida, é oúnico território cuja ocupação foi precedida de sinais e procura-do por povos peregrinos que ansiavam por uma terra abençoadae cuja posse foi assegurada por promessas divinas. No caso daterra de Canaã, este compromisso está no livro do Gênesis (Gn12, 1-9), e no que diz respeito à Terra Brasilis, a partilha foireferendada pelo Tratado de Tordesilhas e sacramentada pela bulado Papa Júlio II, investido de poderes celestiais (Mt 16, 18-19).Em ambos os casos, os novos posseiros portavam bandeiras queos identificavam, como está registrado no livro dos Números(Nm 2) e nos anais da história do Brasil.

Do livro A Viagem do Descobrimento (BUENO, 1998),extraímos os seguintes trechos para que tal colocação seja bemcompreendida:

Os indígenas, com os quais Nicolau Coelho travou o primeirocontato, eram, se saberia mais tarde, da tribo tupiniquim. Perten-ciam à grande família Tupi-Guarani que, naquele início do séculoXVI, ocupava praticamente todo o litoral do Brasil. Os tupiniquinseram cerca de 85 mil e viviam em dois locais da costa brasileira:no sul da Bahia, da altura de Ilhéus até a foz do rio Doce (já noatual estado do Espírito Santo), e numa estreita faixa entre San-tos e Bertioga, no litoral norte de São Paulo. Como os demaistupis-guaranis, tinham chegado às praias do Brasil movidos nãoapenas por um impulso nômade, mas por seu envolvimento emuma ampla migração de fundo religioso. Partindo de algum pontoda bacia do rio Paraná, no território hoje ocupado pelo Paraguai(ainda que alguns estudiosos acreditem que o movimento talveztenha começado na Amazônia), os tupis-guaranis iniciaram umalonga marcha em busca da Terra Sem Males. Liderados por profe-

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tas – chamados de Caraíbas –, eles haviam chegado à costa brasi-leira ao redor do ano 1000 da Era Cristã (p. 91).

A ilha do Brasil, ou ilha de São Brandão, ou ainda Brasil de SãoBrandão, era uma das inúmeras ilhas que povoavam a imaginaçãoe a cartografia européias da Idade Média, desde o alvorecer doséculo IX. Também chamada de Hy Brazil, essa ilha mitológica,ressonante de sinos sobre o velho mar, se afastava no horizontesempre que os marujos se aproximavam dela. Era, portanto, umailha movediça, o que explica o fato de sua localização variar tantode mapa para mapa. Segundo a lenda, Hy Brazil teria sido desco-berta e colonizada por São Brandão, um monge irlandês que par-tiu da Irlanda para alto-mar no ano de 565. Como São Brandãonascera em 460, ele teria 105 anos quando iniciou sua viagem.O nome Brazil provém do celta bress, que deu origem ao verboinglês to bless (abençoar). Hy Brazil, portanto, significa TerraAbençoada. Desde 1351 até pelo menos 1721 o nome Hy Brazilpodia ser visto em mapas e globos europeus, sempre indicandouma ilha localiza no oceano Atlântico. Até 1624, expediçõesainda eram enviadas à sua procura (p. 13).

Mas para todos os efeitos legais, essa mitológica ilha jáhavia sido “achada” pelos portugueses em 1500, que a batiza-ram de “Ilha de Vera Cruz”, posteriormente rebatizada de “Terrade Santa Cruz”. Segundo Pero Vaz de Caminha, Cabral, ao avistá-la, chamara-a de Terra de Vera Cruz (TUFANO, 1999). O duplonome atribuído à nova terra tem ligação com sua dupla unçãobatismal, pois a primeira missa foi celebrada numa ilha (CoroaVermelha), no dia 26 de abril (domingo da Pascoela), e a segun-da, no continente no dia 1º de maio.

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2. A C2. A C2. A C2. A C2. A CONSAGRAÇÃOONSAGRAÇÃOONSAGRAÇÃOONSAGRAÇÃOONSAGRAÇÃO

O rito de sagração da nova terra está descrito em detalhesna carta que Pero Vaz de Caminha enviou ao rei de Portugal. Estedocumento, único na literatura universal, e que todo brasileirodeveria ter uma cópia, representa na verdade a Certidão de Nas-cimento do Brasil, pois foi lavrada por um funcionário público nodesempenho de suas funções. Nela é narrado, passo a passo,tudo o que se passou a partir de 21 de abril, quando se notou osprimeiros sinais de terra, as algas botelho e rabo-de-asno, até odia 1º de maio quando foi celebrada a missa no continente eencerrada a missão do “achamento”. Pelos trechos seguintes,extraídos dessa carta, pode-se notar o quanto o sagrado prevale-ceu sobre o profano nesses dias cerimoniosos, quando a deposi-ção de armas e o desarmamento de espíritos assinalaram o en-contro pacífico entre povos belicosos, prenunciando assim a vo-cação brasileira de integrar raças diferentes em um convívio har-monioso, no qual a miscigenação será seu traço mais marcante. Anarrativa da segunda missa exemplifica o espírito de paz e confi-ança mútua, reinantes nesse encontro entre povos de formação eorigens diferentes, e da própria humanidade com suas raízes. Narealidade, o que os portugueses encontraram foi o paraíso perdi-do, ainda intacto e habitado pelos filhos de Adão e Eva semvestígios da queda; portanto, um convite à miscigenação, a qualfoi praticada sem muita hesitação, tornando o Brasil um casosingular na história universal.

Narra Caminha (TUFANO, 1999]:

“Plantada a cruz, com as armas e a divisa de Vossa Alteza, queprimeiramente lhe pregaram, armaram um altar ao pé dela. Alidisse missa o padre frei Henrique, a qual foi cantada e oficiadapelos religiosos e sacerdotes. Ali na missa estiveram conoscocerca de cinqüenta ou sessenta deles, que ficaram de joelhos,

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assim como nós. E quando se chegou ao Evangelho, que noserguemos todos em pé, com as mão levantadas, eles se levanta-ram conosco e alçaram as mãos, ficando assim até que se acabas-se; e então tornaram-se a assentar como nós. E quando levanta-ram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram todosassim como nós estávamos, com as mãos levantadas e em talmaneira sossegados, que, certifico a Vossa Alteza, nos fez muitadevoção (...)” (p. 56).

“Acabada a pregação, como Nicolau Coelho trouxesse muitascruzes de estanho com crucifixos, que lhe ficaram ainda da outraviagem (alusão à viagem de Vasco da Gama às Índias, em 1498,da qual Nicolau Coelho participara), decidimos colocar uma nopescoço de cada um. Para isso, o padre frei Henrique se assentouao pé da cruz e ali passou a colocar no pescoço de cada um delesuma cruz atada em um fio, fazendo que primeiro a beijassem elevantassem as mãos. Muitos vieram e foram assim colocadastodas as cruzes, umas quarenta ou cinqüenta” (p. 58).

Pelo que se deduz dessa cerimônia, não só a nova terra foiconsagrada a Deus, mas seus habitantes também o foram, tudosob um céu onde uma grande cruz presidia esse ritual cheio designificado, a qual, nessa ocasião, fora batizada por Mestre João,o astrônomo da missão, como informa Bueno (1998, p.105):“De fato, naquela noite, ao observar as estrelas do HemisférioSul, Mestre João chamaria sua principal constelação de Cruzeirodo Sul”.

Tais acontecimentos sinalizam também que tanto o conti-nente como a plataforma continental brasileira foram abençoa-dos em nome de um Deus que presidiu a conquista dos portu-gueses, congregados que estavam na Ordem de Cristo, sob cujopavilhão e símbolo tomaram posse da nova terra, em uma ilha(Coroa Vermelha) situada na Faixa Dom Bosco (15/20ºS), ondefoi celebrada a primeira missa. De acordo com Pero Vaz de Cami-nha (TUFANO, 1999):

“No domingo da Pascoela, pela manhã, determinou o Capitão deir ouvir missa e pregação naquele ilhéu. Mandou a todos os capi-tães que se arranjassem nos batéis e o acompanhassem. E assimfoi feito [...] Naquele ilhéu, mandou armar um pavilhão e, dentrodele, um altar muito bem preparado. E ali, na presença de todos,mandou rezar missa, a qual foi rezada pelo padre frei Henrique,

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em voz entoada, e acompanhada com aquela mesma voz pelosoutros padres e sacerdotes. A missa segundo meu parecer, foiouvida por todos, com muito prazer e devoção. O Capitão esta-va com a bandeira da Ordem de Cristo, com a qual saiu de Belém.Ela esteve sempre levantada, da parte do Evangelho” (p. 38-39).

Contrastando com essa estada tranqüila e a perenidade dosímbolo que marcou o nascimento de uma nação predestinada, aconstelação do Cruzeiro do Sul, a continuação da viagem dosportugueses ao Oriente foi atribulada e assinalada pela fugaz pas-sagem de um cometa, como informa um dos tripulantes da es-quadra cabralina (relação do piloto anônimo): “Aos 12 dias dodito mês de maio, apareceu em nosso trajeto, rumando em dire-ção à Arábia, um cometa com uma cauda muito comprida, quenos acompanhou durante oito ou dez noites”.

A simbologia dos eventos que marcaram a rápida passagem(Páscoa) dos portugueses pela Terra Brasilis, que teve início noBairro de Belém em Lisboa, com um ritual de bênção da bandeirada Ordem de Cristo, e término nas costas brasileiras, após umajornada que durou toda uma quaresma (Tempo de penitência –quarenta dias que representam os 40 anos da travessia do deser-to pelos hebreus), pode ser resumida num ato singelo: a distri-buição aos nativos da nova terra das “muitas cruzes de estanhocom crucifixos” portadas por Nicolau Coelho. Se essas cruzessobraram no Oriente, onde não prosperaram, aqui, ao contrário,foram todas plantadas e produziram abundantes frutos, tornan-do o Brasil a maior nação cristã do mundo.

Concluindo, é bom lembrar que a primeira missa não foicelebrada no continente e sim no seu vestíbulo, o Ilhéu de CoroaVermelha, onde foi desfraldada a bandeira da Ordem de Cristo, ea segunda, no continente, onde foi plantada a Cruz de Cristo,reproduzindo assim o ritual de sagração da Terra de Canaã, ocor-rida por ocasião da viagem dos israelitas pelo deserto (Êxodo) ea parada que aí fizeram para serem purificados, antes de entraremnessa Terra Prometida. Este ritual está simbolizado nas duas ten-das erguidas no deserto (Hb 9, 1-5), onde um vestíbulo, “oSanto” (primeira tenda, onde se encontrava o candelabro), pre-cedia “o Santo dos Santos” (segunda tenda, abrigo da arca daaliança), e repetido com os mesmos detalhes no Templo de Jeru-

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salém e nas igrejas católicas. Esse duplo ritual de sagração serepetiu também por ocasião da construção de Brasília, quandoforam celebradas duas missas. A primeira, no “deserto”, a pedi-do de Bernardo Sayão (vide capítulo 5), e a segunda, “oficial”,na inauguração da cidade, a mando do seu construtor-mor, oPresidente Juscelino Kubitschek.

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3. E3. E3. E3. E3. ENIGMASNIGMASNIGMASNIGMASNIGMAS

No meio de tanto simbolismo, não de todo decodificado,que marcou a rápida passagem (Páscoa) dos portugueses pelaTerra Brasilis, e tendo em mente os sonhos visionários de DomBosco sobre o Brasil e Brasília, outros enigmas chamam nossaatenção – como O Eixo do Poder, A Má Notícia, A Fatalidade, AVaquinha da Leopoldina, Os incêndios do Caraça e da Igreja doCarmo, O Rito de Passagem, O Vendaval Revolucionário, A Pedrade Tropeço, Os Anos Decisivos (2002/2003) –, pois dizem res-peito aos interesses maiores da nação. Além disso, existem ou-tros fatos relacionados com a cidade de Brasília que tambémmerecem ser citados pelo simbolismo que encerram, como a datade sua inauguração, 21 de abril, a mesma da antevisão das terrasbrasileiras pelos descobridores e do sacrifício de Tiradentes, pre-lúdio da independência; a realização do projeto dos inconfiden-tes de interiorização da capital; a cruz que assinala, como ummarco de posse, seu plano urbanístico; o cruzamento em seusítio dos paralelos de Dom Bosco com o meridiano de Tordesilhas,formando uma grande cruz sobre a Terra Brasilis; meridiano esteque se posiciona como eixo de uma nova civilização, a civilizaçãomiscigenada do terceiro milênio, que tem neste ponto o seu cen-tro de gravidade.

O eixo do poder

A implantação do eixo do poder num determinado territó-rio é um fato marcante e cercado de toda uma liturgia e suaremoção implica em conseqüências nefastas, como bem exemplificaa transferência do eixo do poder do Palácio da Liberdade para oPalácio dos Despachos em 1967, evento que marcou a gestão do

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último governador de Minas Gerais eleito democraticamente einício do período de trevas dos interventores da ditadura militar.Além do mais, o Palácio da Liberdade tem forças que assustam osmenos avisados, enquanto outros as respeitam, como o ex-Go-vernador Itamar Franco, que disse aos jornalistas: “Pode ser queeles não existam, mas há uma força que faz bem a governantesque se sentam naquele lugar. Por isso, nunca quis despachar noPalácio dos Despachos. São espíritos bons, que estão no Paláciopara ajudar” (Estado de Minas, 18/12/2002, p. 5). Mas o me-lhor exemplo das conseqüências catastróficas que advêm da re-moção do eixo do poder de um lugar para outro é dado peloImpério Romano, pois a partir do momento em que Constantinotransferiu o eixo do poder de Roma, cravado em 700 AC, paraConstantinopla, no ano 330 DC, o milenar império entrou emdeclínio e desapareceu um século depois.

No Brasil não foi diferente, pois por duas vezes esse fatose repetiu e deixou suas marcas. Tudo começou com a transfe-rência do eixo do poder da cidade de Salvador para o Rio deJaneiro, fato que marca o início do fim do período colonial e oadvento do Império e o conseqüente declínio do Nordeste eascensão do Sudeste como centro gerador de riquezas. Esse pro-cesso encontrou seu termo quando o Rei de Portugal transferiuo eixo do poder de Portugal para o Brasil, evento que assinalatambém o crepúsculo deste império colonial e a ascensão deoutro, o Império Britânico. Igualmente a transferência do eixodo poder da cidade do Rio de Janeiro para Brasília, além dereferendar a queda do Império do Brasil e a consolidação daRepública brasileira, assinala também o fim dos domínios regio-nais litorâneos e o surgimento no planalto central de um centrode poder verdadeiramente nacional, pois passou a incorporarneste núcleo de decisões as regiões antes periféricas do Centro-Oeste e da Amazônica.

Em Minas Gerais, a história registra fato semelhante, poisa transferência do eixo do poder da colonial, clerical e maçônicaOuro Preto, para a republicana e positivista Belo Horizonte, mar-cou não só o fim do período escravocrata, como também onascimento de uma nova ordem social. Aqui também a dicotomiaqueda/ascensão acompanhou todo o processo, pois a velha ca-

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pital mineira acabou virando museu, enquanto a nova ampliavaos horizonte das gerais, que, ao transpor a muralha da Serra doCurral, deixou para trás as estreitas trilhas da Estrada Real epassou a caminhar pelas largas veredas do Grande Sertão, ondeseria plantado o novo centro de poder do Brasil: Brasília.

Em que pese esse passo importante rumo ao futuro, umoutro, em sentido contrário, ameaça essa caminhada. Trata-se doprojeto do Governador Aécio Neves, anunciado no início de seugoverno em 2003, de transferir o eixo do poder da Praça daLiberdade para outro local da cidade. Como todas as mudançasfeitas ao longo da história, esta também traz consigo conseqüên-cias nefastas, como ficou demonstrado pelas denúncias decorrupção feitas pelo deputado Roberto Jefferson, as quais, comoum terremoto, com epicentro na capital mineira, abalaram osalicerces do governo Lula, fazendo ruir toda estrutura petistamontada para sustentá-lo no poder, levando conseqüentementeo Brasil para uma crise institucional.

A má notícia

O exercício do poder, pela sua natureza efêmera, provocanos seus detentores uma sensibilidade ao desconhecido que oslevam, muitas vezes, a temer certos objetos, como acontece como quadro de Belmiro Almeida, intitulado A má notícia, que foiretirado do Palácio da Liberdade pelo receio de seus ocupantescom seus presumidos maus fluidos. Mas a ligação desse fetichecom os governantes parece que não foi exorcizado com essamedida, pois continua presente lá onde eles se encontram, mes-mo que seja em passagens subterrâneas, como se depreende deduas pequenas notas que aparecem no Jornal Estado de Minasde 19/12/2004.

A primeira delas, Detalhes (Caderno “Masculino & Femi-nino”, p. 3), dizia o seguinte:

O jantar oferecido pelo Governo de Minas aos integrantes dascomitivas participantes da Cúpula do Mercosul, na quinta-feira,foi mais uma prova de que a sofisticação mora mesmo é nos

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detalhes. Além do saboroso jantar, preparado pela competenteMaria Eny, do Maciellina, mereceu elogios a exposição Terra deMinas, com a curadoria de Rodrigo Faleiro, do Museu Mineiro.A pequena mostra, com 12 peças do acervo do próprio museu,foi montada no túnel que liga os dois prédios do Museu de Artese Ofícios, onde aconteceu o jantar. Entre as obras que encanta-ram os olhares, A má noticia, de Belmiro Almeida (1897), Pontade Umbu, de Inimá de Paula, Ponte do Rosário, de Celso Renato,e um desenho, sem título, de Amílcar de Castro, num belo pano-rama da arte mineira do último século.

A segunda nota, Diálogo no jantar (p.2), informava:

Foi logo na hora em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silvachegou ao Museu de Artes e Ofícios para o jantar da Cúpula doMercosul. Ele foi recebido pelo governador Aécio Neves e peloex-presidente Itamar Franco. O diálogo começou com Lula:– Ô Itamar, você esta querendo voltar?Ao que o ex-presidente respondeu:– Pois estou aqui pedindo emprego ao Aécio...O governador não perdeu a caminhada:– No meu governo, o Itamar tem o que quiser.Lula também não perdeu o rebolado: – No meu também, desde que não seja o meu cargo.

A respeito do mistério que cerca esse quadro, eis o queescreveu Walter Sebastião, no Caderno “Divirta-se” do JornalEstado de Minas (1º/7/2005, p. 22):

Um dos quadros mais cercados de lendas e crendices da históriada arte brasileira está, até 10 de julho, em exposição no segundopiso do Minas Shopping. Trata-se da tela A má notícia, de Belmirode Almeida (Serro, 1858; Paris, 1935). Pintura primorosa, decomposição ousada, luminosidade e atmosfera envolvente foiconsiderada tela azarenta até se tornar tesouro celebrado do acer-vo do Museu Mineiro. As andanças de A má notícia estão numdivertido texto chamado 100 anos de preconceito, do jornalistae prefeito de Ouro Preto Ângelo Oswaldo. A primeira vez que apintura veio a público foi em setembro de 1897, apresentada noLiceu de Artes e Ofícios de Ouro Preto. Três meses depois, em12 de dezembro, a capital do Estado era transferida para BeloHorizonte. Má notícia para os ouro-pretanos, segundo a lenda,os primeiros a conhecer o poder dos (maus) presságios trazidos

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pela peça que ficou alojada no Palácio da Liberdade. Há quematribua à praga jogada por velhas (que tiveram sua choupana de-molida para a construção do Palácio da Liberdade) as mortes demoradores do famoso endereço: Silviano Brandão (em 1901),João Pinheiro (em 1908), Raul Soares (em 1924) e até a deOlegário Maciel (em 1933). Mas existe quem garanta que tudose deve às más vibrações do quadro de Belmiro Almeida, queforam confirmadas por um vidente chamado Pascoal, como infor-ma Delso Renault, no livro Chão e alma de Minas (1988). Retira-da do Palácio da Liberdade, A má notícia perambula por reparti-ções (secretarias de Finanças, da Educação e Saúde, Palácio daJustiça, etc.) sempre acompanhada da suspeita de ser fonte deinfortúnios. Em junho de 1942, é entregue ao Arquivo Públicoque, dizem, viveu longo período de abandono e quase viu seuprédio ruir. Em maio de 1982, com a inauguração do MuseuMineiro, o quadro é transferido para o local. E, pouco depois, otelhado da instituição ameaçou desabar, sem falar que o própriomuseu (por culpa do quadro?) ainda não conseguiu desenvolvertodo seu potencial.

A fatalidade

As tragédias que se abateram sobre Tancredo Neves eTiradentes guardam entre si similitudes que as situam mais nocampo dos enigmas do que meras coincidências, a começar peladata de suas mortes, 21 de abril; o retalhamento de seus corposapós o desenlace fatal; a mesma região de nascimento, o vale dorio das Mortes, onde localiza-se o Capão da Traição que marcouprofundamente a história de Minas, e a luta de ambos pela liber-dade pela qual se sacrificaram.

Além disso, seu vice e sucessor, José Sarney, conhecidopelas ligações atávicas com Portugal e que erigiu um mausoléucomo coroamento de sua obra, tem origem no mesmo estado, oMaranhão, onde morreu e foi sepultado o responsável pela des-dita de Tiradentes e dos inconfidentes e da qual tirou o melhorproveito, o traidor Joaquim Silvério dos Reis Montenegro.

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A vaquinha da Leopoldina

Criada por artistas, essa figura bizarra, cheia de singulari-dades, é desde sua aparição em 1980, no Bairro Santo Antônioda capital mineira (Estado de Minas, 2/8/98, p. 41), uma refe-rência para os belo-horizontinos e alvo de manifestações extrava-gantes por parte de desconhecidos. Assim, vez por outra, essavaca enigmática aparece pintada de cores e padrões diferentes,caracterizando fatos marcantes que ocorrem em nosso país, oualternativamente ausência de cores com o mesmo propósito, comofoi o caso da desastrosa Copa do Mundo de futebol de 1998.

No governo do Presidente Sarney, por exemplo, para assi-nalar o fracasso do Plano Cruzado e as conseqüências negativasdaí advindas, ela apareceu pintada de negro e com seu esqueletodesenhado em cor branca, o que lhe dava um aspectofantasmagórico e faminto. No governo do Presidente Itamar Fran-co, como conseqüência dos êxitos do Plano Real, ela apareceucoberta de flores, expressando assim o sentimento de alívio ealegria do povo com o fim da inflação crônica e dos descalabrose escândalos do governo do Presidente Collor de Melo.

No primeiro governo do Presidente Fernando Henrique Car-doso, a cor escolhida foi o amarelo-ouro, reforçado pelo dese-nho de um lingote desse metal com a inscrição “18 quilates”.Sucedendo esse bezerro de ouro, que caracteriza muito bem asubmissão desse governo aos banqueiros e ao capital internacio-nal, apareceu, no final desse mandato e na passagem para seusegundo governo, uma vaca pintada de vermelho tendo em seudorso a inscrição “Coca-Cola”, prenunciando assim um períodosangrento (Sangue de Coca-Cola), conseqüência da opção dou-rada. Em que pesem esses presságios de mau agouro, um fatonovo surgido no mês março de 1999 quando Itamar Franco,como Governador de Minas, passou a controlar a situação dedesgoverno que recebeu de seu antecessor, parece indicar mu-danças na história dessa vaquinha simbólica. Até então as mensa-gens eram passadas na calada da noite, por anônimos pintores,mas nesse momento, à luz do dia, apareceu um grupo de jovensque meteu mãos à obra para modificar essa trajetória cheia designificados.

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Para que o leitor possa avaliar a atitude desses jovens erefletir sobre o seu significado, é transcito a seguir o artigo dajornalista Fabiana Lemos, intitulado Vaquinha da Leopoldina pas-sa por transformação, publicado no Jornal Estado de Minas de21/3/99 (p. 16):

A vaquinha da rua Leopoldina, patrimônio histórico e marco deBelo Horizonte, vai ganhar roupa nova. Com pelo menos 24 anosde idade – assim contam os moradores do bairro Santo Antônio– a obra do artista plástico paulista Marcelo Nitsche já vestiuvárias cores. E depois de uma votação dos moradores e da auto-rização da prefeitura, uma turma de nove amigos juntou argamas-sa, tinta e boa vontade para lembrar à cidade que ela sobreviveaos vândalos e ao esquecimento. A idéia de renovar a cara davaquinha foi do ex-morador do bairro, Alexandre Leite Batista,18 anos, que percebeu que na Copa do Mundo passada ninguémse habilitou a pintá-la de verde e amarelo, como de costume.Amigos de escola de Alexandre toparam a idéia e começaram apesquisar a história do monumento, o que acabou rendendo umapágina na Internet. A turma tomou o cuidado de colocar a novaroupagem em votação no Santo Antônio. Sugerimos vaca de pi-jama, o mapa da vaca, napolitana, vaca amarela, malhada e siste-ma circulatório, conta.O resultado foi a tradicional vaca malhada, em branco e marrom.Outra preocupação dos amigos foi consultar a prefeitura paraconseguir uma autorização, cuidado que o último pintor não teve.Ela estava toda de vermelho e tinha o símbolo da Coca-Cola.Alguns moradores rasparam a escrita, diz. Um fato polêmico,que acabou rendendo à vaca o título de patrimônio histórico, foio fato da construtora do edifício Princesa Leopoldina tentar der-rubar a vaca, localizada à porta do prédio. Alexandre Batista temum carinho especial pelo animal. Além de ter seis vacas miniaturasem seu quarto, os amigos costumam brincar que ele saía dasaulas no Dom Silvério e pegava o caminho mais longo só parapassar perto dela. O pai de Alexandre, Levi Leite, também ajudouno trabalho, levando argamassa para retocar a estrutura de ferroe concreto, que estava um pouco destruída por vândalos. En-quanto raspava a pintura, a turma pôde rever algumas roupagensantigas como a de esqueleto, verde e amarela, malhada em pretoe branco.

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Como a confirmar a vocação premonitória dessa vaca enig-mática, em junho de 2004, uma mão invisível pintou-a de azul-escuro, com cascos negros, dando-lhe um aspecto sombrio, re-fletindo assim o estado de espírito da sociedade com o governopetista, no momento em que a popularidade de Lula despencavaem Belo Horizonte e era vaiado e chamado de traidor no velóriodo indomável Brizola, de onde sairia direto para Nova Iorque,para aí confirmar sua sujeição à banca internacional. Essa situa-ção faz lembrar um pesadelo em que uma pequena nuvem brancase transforma numa gigantesca massa cambiante entre um azul-escuro e uma cor de chumbo de aspecto assustador.

Os incêndios do Caraça e daIgreja do Carmo

Para bem entender o significado da vaca ensangüentada queapareceu no governo FHC, é preciso recorrer a outros símbolosmineiros e os eventos associados que anunciam tempos nefastospara Minas e para o Brasil. Entre esses eventos premonitórios,destacam-se os incêndios que ocorreram no Colégio do Caraça,em maio de 1968, e na Igreja do Carmo de Mariana, em 1999.O incêndio que destruiu o Colégio do Caraça ocorreu quandoera maior o cerco da ditadura militar ao Governador Israel Pi-nheiro, que defendia as liberdades individuais e a autonomia doEstado, num quadro de adversidades que prenunciavam um perío-do de trevas para o País, materializado em dezembro daquele anocom a edição do Ato Institucional nº 5. Em janeiro de 1999, umoutro incêndio atingiu as raízes de Minas, desta vez um templosagrado – a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Mariana. Estefato aconteceu num momento muito parecido, quando o Gover-nador Itamar Franco lutava contra a tentativa do governo FHC de“sitiar” o Estado para esmagar sua autonomia, o que prenuncia-va tempos tenebrosos para o Brasil.

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O rito de passagem

Para ajudar a decifrar esse enigma chamado Brasil e traçarrumos para a nação brasileira, nada mais apropriado do que re-fletir sobre um fato que guarda um simbolismo todo especialpara Minas Gerais e para o País. Trata-se do fechamento da Minade Morro Velho, evento que marca, a um só tempo, o fim doCiclo do Ouro, que se desenvolveu desde o século XVII, e oinício da nova era (2003) profetizada por D. Bosco para a TerraBrasilis. Segundo o Jornal Estado de Minas (19/9/2002, p. 1-15), a Mina de Morro Velho será desativada em 2003. Sob otítulo Página virada, informa: “Depois de 168 anos, a mais antigaexploração de ouro em operação no mundo será desativada edará lugar a um empreendimento que inclui uma estrutura desti-nada ao turismo e lazer”.

O vendaval revolucionário

No mês de março de 2004, dois fatos, quase que simultâ-neos, ocorridos no sul do Brasil são premonitórios de um venda-val revolucionário que agitará o País, se se levar em conta o cos-tume de comparar-se política com nuvens, haja vista a instabilida-de de ambas. Trata-se da reunião de um grupo de políticos expul-sos do Partido dos Trabalhadores que, em Porto Alegre,anunciaram a criação de um partido socialista, e do ciclone oufuracão Catarina que varreu o terreno de luta de Anita Garibaldi.Este fenômeno natural, que os distraídos brasileiros classificaramde ciclone de ventos fracos e os atentos norte-americanos defuracão com ventos fortes, formou-se a partir de uma pequenanuvem que se despregou de uma massa maior que pairava sobreo Atlântico Sul, crescendo a partir daí de forma admirável a pon-to de varrer tudo em seu caminho. Foi como se aquela heroínaquisesse avisar suas colegas que lutavam para criar esse novopartido do vendaval que ele vai provocar no acomodado sistemapolítico brasileiro e, conseqüentemente, no trato das questõessociais em nosso país.

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A pedra de tropeço

Das águas tormentosas do nascente, por entre rochedosfrancamente perigosos, que sinaliza perigos à vista, a nau da es-perança, cantada em prosa e verso, portava a semente, apreciadapelos nobres ancestrais do continente, que, transportada do re-canto celestial e aclimatada no solo sagrado dos mineiros, flores-ce à sombra sinistra do templo da liberdade, mirando ao poentesua origem primeva, a meio caminho da qual completa seu ciclovital.

Os anos decisivos

(2002/2003)

Segundo Couto (2000), o Brasil deve repensar as crisespolíticas pelas quais passou desde que foi declarada sua Indepen-dência, para evitar a repetição de erros do passado e se posicionarcomo nação líder na defesa da democracia e dos interesses dospaíses sul-americanos. Como se pode ver na figura 2, a históriado Brasil independente é marcada por uma série de crises políti-cas que encontram seu termo em 2002 com a celebração de umnovo pacto social; previsão esta confirmada pela vitória dos tra-balhadores nas eleições desse ano. Além disso, a ascensão dostrabalhadores ao poder em 2003 coincide com o início da novaera profetizada por Dom Bosco para o Brasil, como será visto noscapítulos que se seguem (Parte II).

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FIGURA 2AS CRISES POLÍTICAS DO BRASIL INDEPENDENTE

(SEGUNDO COUTO, 2000)

7

6

5

4

3

2

1

CRISESCAUSAS

EFEITOS

AGENTESDO

PROCESSO

ATORESEXTERNOS

INTERVALOS

1792

1822

INCONFIDÊNCIAMINEIRA ELITE REVOLUÇÃO

FRANCESA

INDEPENDÊNCIA ELITE CORTEPORTUGUESA

66/67 ANOS

40/41 ANOS

24/34 ANOS

9/21 ANOS

7/9 ANOS

3/8 ANOS

1888

1889

ABOLIÇÃO

REPÚBLICA

ELITE

ELITE/MILITARES

1929

1930

BOLSA

REVOLUÇÃO

CRISE GLOBAL

ELITE DIVIDIDA/FACÇÕES MILITARES

ESPECULADORES

1954

1964

SUICÍDIODE VARGAS

ELITE/MILITARES

CAPITALESTRANGEIRO

DITADURAMILITAR

MILITARES/ELITECLASSE MÉDIA

GOVERNOAMERICANO

1973

1985

PETRÓLEO

REDEMOCRA-TIZAÇÃO

CRISE GLOBAL

ELITE/CLASSE MÉDIA

OPEP

1992

1994

IMPEACHMENTDE COLLOR

ELITE/CLASSE MÉDIA

CRIAÇÃODO REAL

ELITE/CLASSE MÉDIA

1997

2002

BOLSA CRISE GLOBAL ESPECULADORES

NOVO PACTOSOCIAL

CLASSE MÉDIA/EXCLUÍDOS

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PPPPPARARARARARTE IITE IITE IITE IITE II

O O O O O SONHOSONHOSONHOSONHOSONHO DEDEDEDEDE D D D D DOMOMOMOMOM B B B B BOSCOOSCOOSCOOSCOOSCO

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NNNNNOTOTOTOTOTAAAAA EXPLICEXPLICEXPLICEXPLICEXPLICAAAAATIVTIVTIVTIVTIVAAAAA

Quando se acende uma lâmpada, não é para pô-la debai-xo do alqueire, mas sobre a luminária, e ela brilha para todos

os que estão na casa (Mt 5,15).

Embora mais de um século se tenha passado desde a che-gada dos Salesianos ao Brasil e do sonho de Dom Bosco, no qualvaticinou um futuro brilhante para a congregação que fundou epara a terra que os acolheu, a Terra Brasilis, esta secular ordemreligiosa ainda não se dignou brindar o povo brasileiro com umaversão em português do texto integral desse sonho, anotado peloPadre Lemoyne e corrigido pelo próprio Dom Bosco. Na faltadesse texto, e como diz o dito popular quem não tem cão caçacom gato, vamos ao gato, no caso, o econômico artigo do PadreJosé de Vasconcellos, O Centenário de um Sonho, publicado noBoletim Salesiano (Edição brasileira, ano 33, n. 4, jul./ago. 1983,p. 6-11).

Neste artigo, com cinco capítulos e uma ilustração(reproduzida na contracapa, com acréscimos), o então Diretordo Centro Salesiano de Documentação e Pesquisa, de Barbacena-MG, dedica os três primeiros para analisar esse Sonho no con-texto dos Sonhos de Dom Bosco e os dois últimos para o Sonhopropriamente dito. Estes dois capítulos finais – Um Sonho deDom Bosco e Dom Bosco Sonhou Brasília? – estão reproduzidosna íntegra nos capítulos que se seguem (4 e 5), não só por seruma das poucas, e parciais, transcrições existentes em portuguêsdesse sonho, mas também para mostrar ao leitor o pouco casocom que a família salesiana trata desse assunto, tão caro ao santovisionário, e a desconsideração para com a sociedade brasileiraque a acolheu tão bem, mas que até agora não mereceu a distin-ção de conhecer em toda extensão um assunto que lhe diz respei-

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to. Ou seria, talvez, uma decisão do Vaticano, que baixou o véuda omertá sobre “os assuntos vários” tratados por muitas pes-soas num salão e reproduzidos “profusamente” pelo Santo. Afi-nal de contas, que “assuntos vários” são esses? Estaria aí outrosegredo guardado a sete chaves pela Igreja, como foram os deFátima?

Esperamos, pois, que neste início de milênio, quando secomemora os 500 anos da descoberta da Terra Brasilis, essesitalianos valorosos e dinâmicos quitem essa dívida com seu irmãomaior e com o povo brasileiro, publicando integralmente, emportuguês, o tão famoso Sonho, inclusive com as correções fei-tas por Dom Bosco, para que a sociedade tome conhecimentodaquilo que hoje é privilégio de uns poucos hermeneutas de ba-tina, como esclarece o Padre Vasconcellos no seu artigo. Estaprovidência, todavia, não pode tardar, pois, como é mostrado aseguir, as profecias de Dom Bosco, ao que tudo indica, já estãose tornando uma realidade, pois têm data marcada para iniciar: oano de 2003.

Dom Bosco – João Belchior Bosco – nasceu em Becchi(Castelnuevo d’Asti), norte da Itália, a 16 de agosto de 1815.Fundou a Ordem dos Salesianos (Sociedade Salesianos de DomBosco e Filhas de Maria Auxiliadora). Faleceu em Turim, a 31 dejaneiro de 1888, aos 72 anos. Foi canonizado em 1º de abril de1934, pelo Papa Pio XI.

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4. U4. U4. U4. U4. UMMMMM SONHOSONHOSONHOSONHOSONHO DEDEDEDEDE D D D D DOMOMOMOMOM B B B B BOSCOOSCOOSCOOSCOOSCO

“Na noite que precede a festa de Santa Rosa de Lima (30de agosto) tive um sonho”. Assim começa Dom Bosco a narrarum de seus sonhos mais famosos, tido em 1883, um mês e pou-co depois da chegada dos primeiros Salesianos ao Brasil.

Cecília ROMERO publicou, em 1978, esplêndido estudosobre “Os Sonhos de Dom Bosco”. Porque se tratava de ediçãocrítica, restringiu-se a estudar somente 10 sonhos, tidos entre1870 e 1887, porque deles poderia ter à mão versão manuscritaatribuível a Dom Bosco, por dois títulos: ou porque inteiramenteredigida de próprio punho, ou porque chegada até nós em ma-nuscritos de outrem, mas cuja revisão final é garantida por apos-tilas da mão de Dom Bosco.

Esse é exatamente o caso do sonho de 30 de agosto: ma-nuscrito do P. Lemoyne com correções do próprio punho deDom Bosco; e é sobre o texto crítico de Romero que nos basea-remos para a tradução de alguns trechos do sonho. Porque équase impossível publicá-lo aqui na íntegra; ele sozinho ocupariaboa parte deste Boletim Salesiano: são quase dez páginas dasMemórias Biográficas, formato 210 x 140 mm, tipo 6 com aslinhas não intercaladas (vol. XVI, p. 385-394).

Contou-o Dom Bosco numa reunião do Capítulo Geral daCongregação, no dia 4 de setembro daquele ano. O P. Lemoyne,que recolhia as memórias do Santo, transcreveu-o imediatamentee submeteu-o à correção de Dom Bosco.

“Percebi que estava dormindo e parecia-me, ao mesmo tem-po, correr a toda velocidade, a ponto de me sentir cansado decorrer. (...) Enquanto hesitava se se tratava de sonho ou de rea-lidade, pareceu-me entrar em um salão, onde se achavam muitaspessoas, falando de assuntos vários”.

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E o Santo reproduz profusamente o assunto da conversa.“Nesse ínterim, aproxima-se de mim um jovem de seus

dezesseis anos, amável e de beleza sobre-humana, todo radiantede viva luz, mais clara que a do sol”.

O misterioso guia o acompanhou durante toda a fantásticaviagem e se apresenta como amigo seu e dos Salesianos; vem, emnome de Deus, dar-lhe um pouco de trabalho.

“Vejamos de que se trata. Que trabalho é este?– Sente-se a esta mesa e puxe esta corda.No meio do salão havia uma mesa, sobre a qual estava

enrolada uma corda. Vi que a corda estava marcada com linhas enúmeros, como se fôra uma fita métrica. Percebi mais tarde que osalão estava situado na América do Sul, exatamente sobre a linhado Equador, correspondendo os números impressos na cordaaos graus geográficos de latitude”.

Segue a narração de uma vista de conjunto da América doSul, esclarecendo o Santo:

“Via tudo em conjunto, como em miniatura. Depois, comodirei, pude ver tudo em sua real grandeza e extensão. Foram osgraus marcados na corda, correspondentes exatamente aos grausgeográficos de latitude, que me permitiram gravar na memória ospontos sucessivos que visitei, viajando, na segunda parte do so-nho.

Meu jovem amigo continuava: Pois bem, estas montanhassão como balizas, são um limite. Entre elas e o mar está a messeoferecida aos Salesianos. São milhares, são milhões de habitantesque esperam o seu auxílio, aguardam a fé. Aquelas montanhaseram as cordilheiras da América do Sul e o mar era o OceanoAtlântico”.

Prossegue o sonho mostrando a Dom Bosco como conse-guiria guiar tantos povos ao rebanho de Cristo.

“Eu ia pensando: mas para se conseguir isso vai ser precisomuito tempo. Exclamei então em voz alta: não sei o que pensar.Porém o moço ajuntou, lendo em meus pensamentos:

– Isto acontecerá antes que passe a segunda geração.– E qual será a segunda geração, perguntei.– A presente não conta. Será uma outra, depois outra.– E quantos anos compreende cada geração?

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– Sessenta anos.– E depois?– Quer ver o que sucederá depois?Venha cá.E, sem saber como, encontrei-me numa estação ferroviá-

ria. Havia muita gente. Embarcamos.Perguntei onde estávamos. Respondeu o jovem:– Note Bem! Observe! Viajaremos ao longo da cordilhei-

ra. O sr. tem estrada aberta também para leste, até ao mar. Éoutro dom de N. Senhor. Assim dizendo, tirou do bolso ummapa, onde vi assinalada a diocese de Cartagena. Era o pontode partida.

Enquanto olhava o mapa, a máquina apitou e o comboio sepôs em movimento. Viajando, meu amigo falava muito, mas nemtudo eu podia entender, por causa do barulho do trem. Aprendi,no entanto, coisas belíssimas e inteiramente novas sobre astro-nomia, náutica, meteorologia, sobre a fauna, a flora e a topogra-fia daqueles lugares, que ele me explicava com precisão maravi-lhosa.

Ia olhando através das janelas do vagão e descortinavavariadas e estupendas regiões. Bosques, montanhas, planícies,rios tão grandes e majestosos que eu não era capaz de os crerassim tão caudalosos, longe que estavam da foz. Por mais de milmilhas, costeamos uma floresta virgem, inexplorada ainda agora.Meus olhos tinham uma potência visual surpreendente, não en-contrando óbice que os detivesse de estender-se por todas aque-las regiões. Não só as cordilheiras, mas também as cadeias demontanhas isoladas naquelas planuras intermináveis eram por mimcontempladas (o brasil?) [Sic: com ponto de interrogação e cominicial minúscula, no manuscrito original].

Tinha debaixo dos olhos as riquezas incomparáveis destesolo que um dia serão descobertas. Via numerosas minas de metaispreciosos, filões inexauríveis de carvão, depósitos de petróleotão abundantes como nunca se encontraram em outros lugares.

Mas não era ainda tudo. Entre o grau 15 e o 20 havia umaenseada bastante longa e bastante larga, que partia de um pontoonde se formava um lago. Disse então uma voz repetidamente:quando se vier cavar as minas escondidas no meio destes montes

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(desta enseada), aparecerá aqui a terra prometida, que jorra leitee mel. Será uma riqueza inconcebível”.

Continua a viagem, ao longo da cordilheira, rumo ao sul;continua a descrição das regiões da bacia do Prata, dos Pampas eda Patagônia, até Punta Arenas e o estreito de Magalhães. “Euolhava tudo. Descemos do trem”. Voltando-se para o jovem guia,Dom Bosco lhe diz:

“Já vi bastante. Agora leva-me a ver os meus Salesianos daPatagônia. Levou-me. Eu os vi. Eram muitos, mas eu não os co-nhecia e entre eles não havia nenhum dos meus antigos filhos.Todos me olhavam admirados e eu lhes dizia: “Não me conheceis?Não conheceis Dom Bosco?”.

– Oh Dom Bosco! Nós o conhecemos, mas só de retrato.Pessoalmente, é claro que não.

– E D. Fagnano, D. Lasagna, D. Costamagna, onde estão?– Não os conhecemos. São os que para cá vieram em tem-

pos passados, os primeiros Salesianos que vieram da Europa.Mas já morreram há muitos anos!

A esta resposta eu pensava cheio de espanto: – Mas isto éum sonho ou uma realidade? E batia as mãos uma contra a outra,tocava os braços, me sacudia todo, e ouvia o barulho das mãos esentia o meu corpo. Estava nesta agitação quando me pareceuque Quirino tocasse às Ave-Marias da manhã; mas tendo desper-tado, percebi que eram os sinos da paróquia de São Benigno. Osonho tinha durado a noite toda”.

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5. D5. D5. D5. D5. DOMOMOMOMOM B B B B BOSCOOSCOOSCOOSCOOSCO SONHOUSONHOUSONHOUSONHOUSONHOU B B B B BRASÍLIARASÍLIARASÍLIARASÍLIARASÍLIA?????

Como podemos observar, no que possa aplicar-se a Brasília,o sonho fixa, com clareza pouco freqüente, nas chamadas visõesimaginárias, três pontos: tempo, lugar, evento anunciado. Sópara o terceiro a linguagem é simbólica:

a) TempoRecordemos o diálogo do sonho:– Isto acontecerá antes que passe a segunda geração.– Qual será a segunda geração?– A presente não conta. Será uma outra, depois outra.(E Dom Bosco, querendo ainda mais clareza:)– Quantos anos compreende cada geração?– Sessenta anos.Se a primeira destas gerações começou em 1883, ano do

sonho, a segunda teve início sessenta anos depois, em 1943, ese estende até o ano 2003. A construção e consolidação deBrasília estão assim bem dentro do período anunciado: entre 1943e 2003.

b) LugarDom Bosco localizou o evento na faixa compreendida pe-

los paralelos 15 a 20, entre a Cordilheira dos Andes e o OceanoAtlântico. Exatamente onde foi instalada a nova Capital do Brasil.

c) Evento anunciadoEmbora o leit-motiv do sonho seja o futuro missionário

da Congregação na América do Sul, Dom Bosco viuincidentalmente também outras coisas, tanto rios caudalosos eflorestas imensas, como minas de ouro, de pedras preciosas,depósitos de petróleo. (Monteiro Lobato, a este propósito citao sonho numa de suas obras). Creio, pois, poder afirmar que eleviu, em 1883, o que hoje começamos a ver no Brasil.

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Reforça a convicção o teor mesmo do texto, embora emestilo simbólico; em nenhum outro ponto da referida faixa conti-nental um acontecimento como a construção de Brasília obteverepercussão maior no progresso e na riqueza de um país.

Convém, no entanto, recordar aqui, como elemento para aHistória, o nascedouro desta interpretação do sonho. Não é de-vida aos salesianos, como poderia parecer.

No início da construção da nova Capital, quando a proezaparecia estranha e temerária à maioria dos brasileiros, o Dr.Segismundo Mello, Procurador do Estado de Goiás, e residentehoje em Brasília, bateu à porta do Ateneu Dom Bosco de Goiâniacom uma dúvida e um pedido: era verdade que Dom Bosco, emsonho, havia antevisto Brasília? Onde obter o texto do sonho?

Nenhum salesiano do Ateneu sabia de nada!O fato é menos estranhável do que poderia parecer à pri-

meira vista: a biografia completa de Dom Bosco, com o título deMemorie Biografiche, tem 16.130 páginas e ocupa 19 alenta-dos volumes escritos em italiano; não há tradução portuguesa.Nada de admirar, portanto, se a maior parte dos atuais Salesianosnão a tenha lido nunca por inteiro, ou por falta de tempo ou (osdas gerações mais novas) por já não dominarem completamente alíngua. As pequenas biografias escritas em português não contamsenão um ou outro dos sonhos de Dom Bosco. Não este, que émuito grande.

Mas o Diretor do Ateneu, P. Cleto Caliman, pôs-se a vas-culhar nas Memórias Biográficas e lá encontrou, no vol. XVI, otexto integral do sonho de 1883. Nele, sob a guia de um jovemamigo já falecido, Luiz Colle, Dom Bosco fez a fantástica viagempela América do Sul, resumida no item 4 deste estudo.

Ao verificar que Brasília estava situada justamente entre osparalelos 15 e 20 e que o tempo coincidia com o previsto nosonho, os defensores de Brasília, com o Dr. Segismundo à frente,encheram-se de entusiasmo e de certezas. Bernardo Sayão, umdos pioneiros, logo arranjou ocasião e pretexto para uma Missa,que os salesianos do Ateneu celebraram, sem alarde, no desérticoplanalto entrevisto no sonho. Foi, na realidade, a primeira Missade Brasília.

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Israel Pinheiro que, por intermédio de um tio padre, Mons.Pinheiro, Cooperador Salesiano, tinha velhas afinidades com DomBosco, vibrou, e imediatamente comunicou a descoberta ao Pre-sidente Juscelino Kubitschek. Este, dramaticamente necessitadode apoios para sua obra grandiosa, tratou logo de fazer expor nasala principal do Catetinho o trecho do sonho possivelmentereferente a Brasília, emoldurado em quadro que ainda lá se acha eparece ter-se inspirado no texto para a frase famosa que se en-contra gravada no seu monumento da Praça dos Três Poderes:“Deste Planalto central...”.

A fim de colocar sob a proteção do Santo os trabalhos daconstrução da nova Capital, Israel Pinheiro fez questão de em-pregar o primeiro ferro e o primeiro cimento chegados ao cantei-ro de obras na construção de uma ermida votiva a Dom Bosco,desenhada por Niemeyer. Fê-la reproduzir, anos mais tarde, emescala menor, na sua residência oficial de Prefeito de Brasília, aGranja do Ipê. Bom mineiro, quis em seguida conferir, com ospróprios olhos, o manuscrito original do sonho, cuja cópia xeroxme fez requisitar à Casa Mãe dos Salesianos na Itália.

Como conseqüência de tudo isto, a cidade nasceu embala-da na certeza de ter sido sonhada por um Santo e é por isso quea devoção a Dom Bosco é tão popular entre os brasilienses.

Quando, em 1961, chegou a hora de escolher Patronolitúrgico para ela, a Autoridade eclesiástica local, com muito acerto,pensou em Nossa Senhora Aparecida. Mas, por coincidência (ou“elegância da Divina Providência”, como costumava dizer o PapaPio XI), nesta data, eram ex-alunos salesianos o Presidente daRepública, Jânio Quadros (ex-aluno do Colégio S. Joaquim, deLorena, SP), o Prefeito Paulo de Tarso (ex-aluno do Colégio DomBosco, do Araxá, MG) e o Presidente da Novacap Randall Espí-rito Santo Ferreira (ex-aluno do Ginásio Salesiano de Silvânia,GO). Os três ex-alunos, atendendo também a apelo unânime dapopulação, em minuta preparada por quem escreve este estudo,firmaram juntos petição à Santa Sé, para que S. João Bosco fossedeclarado Co-Patrono da Cidade, o que veio a acontecer.

Deste modo, no último domingo de agosto, dia festivo maispróximo à data do famoso sonho, os brasilienses, tendo à frente

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o seu Arcebispo, organizam, todos os anos, piedosa romaria àermida de Dom Bosco.

Em conclusão, se repetirmos aqui a pergunta: “Dom Boscosonhou Brasília?”, creio se possa responder:

1. É certo que o Santo, no “sonho” de 1883, pensou noBrasil: lá está explícita a alusão, embora em forma interrogativa,no manuscrito do sonho tido pelos entendidos como o maisautêntico. (Há vários outros)

2. É igualmente certo que o lugar e o tempo coincidemplenamente, sem qualquer ginástica exegética, com os da cons-trução de Brasília.

3. Quanto ao evento anunciado (grande riqueza, progres-so), estou atento à advertência da lógica escolástica sobre a falá-cia possível no argumento: “depois disto, logo, por causa dis-to”: Post hoc, ergo propter hoc. Mas há, inegavelmente, rela-ção de causa e efeito entre a transferência da Capital e o surto deprogresso que se deu no País a partir daquela realização, não sóna região Centro-Oeste, como seria de esperar, mas no Brasilcomo um todo. Só não o vêem os que não querem ver; os dadose as estatísticas estão aí, à vista de todos.

4. Seria indevido pedir maior clareza e mais especificaçãonum sonho-visão. Manifestações como esta, como as dos profe-tas da Escritura, são de sua natureza imaginárias, envoltas emexpressões ora obscuras, ora simbólicas, que se prestam a maisde uma interpretação. Mas ainda assim, sobre o essencial, comovimos, há mais clareza neste “sonho” do que em geral nas previ-sões deste tipo.

5. Convém ainda não esquecer que Dom Bosco nunca es-teve na América, não tinha maiores estudos de Geografia, e queos mapas da época, sobretudo os das regiões extra-européias,eram bastante incompletos e vagos.

Em tempo:

a) Os representantes mais altos da Congregação Salesianae seus melhores estudiosos jamais se pronunciaram sobre o as-sunto e a reação de seus Superiores Maiores a este respeito foi

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sempre de reticência. O escrito acima representa opinião estrita-mente pessoal.

b) Uma advertência aos angustiados com a situação atualdo País: – a segunda geração, preanunciada no sonho para oadvento de uma era de prosperidade e riqueza, só termina noano 2003. Até lá... nada se perde em esperar para conferir.

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6. A 6. A 6. A 6. A 6. A REALIZAÇÃOREALIZAÇÃOREALIZAÇÃOREALIZAÇÃOREALIZAÇÃO DODODODODO SONHOSONHOSONHOSONHOSONHO

Sobre Brasília eis o que diz Eduardo Bueno, em seu livroBrasil: uma história (BUENO, 2002, p. 352-353):

Era uma cidade longamente profetizada. Já em 1883, ela apare-cera, reluzente, nas visões do santo italiano João Bosco. Um sé-culo antes, fizera parte dos sonhos libertários dos inconfidentes,fulminados em 1789. Em 1813, o jornalista Hipólito José daCosta, redator do Correio Braziliense, editado em Londres, deunovo alento à idéia de transferir a capital do Brasil para o interior,“junto às cabeceiras do Rio São Francisco”. No início de 1822surgiria, em Lisboa, um livreto, redigido nas Cortes, determinan-do que, “no centro do Brasil, entre as nascentes dos confluentesdo Paraguai e do Amazonas fundar-se-á a capital do Brasil, com adenominação de Brasília”. No mesmo ano, após a Independên-cia, José Bonifácio defenderia, na Constituinte, a idéia de erguera nova capital ‘na latitude de 15o , em sítio sadio, ameno, fértil eregado por um rio navegável’. Em 1852, o historiador FranciscoAdolfo de Varnhagen tornou-se o principal defensor de Brasíliae, em 1877, seria o primeiro a viajar ao Planalto Central tentan-do demarcar o ponto ideal. Achou-o “no triângulo formado pe-las lagoas Formosa, Feia e Mestre d’Armas, pelo fato de fluírempara o Amazonas, o São Francisco e o Prata”. Proclamada a Re-pública, o artigo 3º da nova Constituição estabeleceu que a capi-tal de fato seria mudada para o Planalto Central, o cientista LuísCruls demarcou “um quadrilátero de 14.400 quilômetros paranele ser erguida a nova cidade”. Em 1922, o presidente EpitácioPessoa baixou um decreto determinando que no dia 7 de setem-bro daquele ano (centenário da Independência) fosse assentadaa pedra fundamental da nova capital, na cidade de Planaltina (GO),localizada no “quadrilátero Cruls”, hoje perímetro urbano deBrasília. A idéia de transferir a capital para os longínquos des-campados do cerrado seria mantida nas constituições de 1934 ede 1946. Mas só começou de fato a sair do papel no dia 4 deabril de 1955, num comício em Jataí (GO), quando o então

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candidato à Presidência Juscelino Kubitscheck decidiu fazer a maisóbvia das promessas de campanha: jurou que iria “cumprir aConstituição”. Então, como o próprio JK conta no livro Por queconstruí Brasília, algo de surpreendente aconteceu – e mudou osdestinos do Brasil. De acordo com JK, ao final do comício emJataí, “uma voz forte se impôs” e o interpelou. “O senhor disseque, se eleito, irá cumprir rigorosamente a Constituição. Desejosaber se pretende pôr em prática a mudança da capital federalpara o Planalto Central”. JK olhou para a platéia e identificou ointerpelante: era um certo Toquinho. Embora considerasse a per-gunta embaraçosa e já tivesse seu Plano de Metas pronto, JKrespondeu que construiria a nova capital. A partir daí, Brasíliavirou a “meta-síntese” de seu governo. Ao assumir a Presidên-cia, apresentou o projeto ao Congresso como fato consumado.Em setembro de 1956, foi aprovada a lei nº 2.874 que criou aCia. Urbanizadora da Nova Capital. As obras se iniciaram emfevereiro de 1957, com apenas 3 mil trabalhadores – batizadosde “candangos”. Os arquitetos Oscar Niemeyer e Lúcio Costaforam encarregados de projetar a cidade “futurista”.

As visões de Dom Bosco sobre a Terra Brasilis, a exemplode Brasília, parece que já se está tornando uma realidade, comoindicam as descobertas de gás de petróleo na Bacia do São Fran-cisco (MG/GO) e as “novas fronteiras exploratórias” doJequitinhonha visadas pela Petrobrás, além do maior reservatóriode água doce da América do Sul, na Bacia do Paraná, o AqüíferoGuarani. A jornalista Danielle Nogueira (Jornal do Brasil, 6/8/2000, p. 21) divulgou o seguinte:

Metade da água doce do planeta disponível para consumo – ape-nas 2,5% do total – se encontra em reservatórios subterrâneos.Um dos maiores do mundo está sob os pés de milhões de brasi-leiros e, a partir de 2001, estará sob os olhos atentos de repre-sentantes dos quatros países do Mercosul. No primeiro semes-tre do ano que vem, será implantado o Programa Guarani, proje-to que pretende proteger e promover a exploração racional dos45 quatrilhões de litros d’água armazenados no Aqüífero Guarani.Com 1.194.800 quilômetros quadrados de extensão, o AqüíferoGuarani abrange oito estados e parte do Paraguai, do Uruguai eda Argentina. Nos quatro países, a perfuração de poços tem sidoo meio mais recorrente de exploração da água, mas, segundo osecretário de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambien-

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te (MMA), Raimundo Garrido, muitas vezes essa exploração éfeita de forma incorreta. O objetivo do programa é orientar ouso da água para que o reservatório não se esgote nem estejasujeito à contaminação, disse Garrido, que discutiu o projeto no1º Congresso Integrado de Águas Subterrâneas, na semana pas-sada, em Fortaleza. De acordo com o geólogo Aldo Rebouças, doInstituto de Estudos Avançados da USP, a má qualidade técnicada perfuração e o abandono dos poços são as principais fontesde contaminação dos lençóis subterrâneos. O poço não é só umburaco, assim como uma cirurgia não é igual a uma facada. Algu-mas camadas do solo devem ser isoladas para que os lençóismais rasos, facilmente contaminados, não transfiram poluentespara as camadas mais profundas, de onde é retirada a água. Aagricultura e os lixões também são fontes poluidoras, pois osagrotóxicos e metais pesados se infiltram no solo com a água dachuva. A primeira etapa do Programa Guarani, que terá duraçãode quatro anos, será a identificação dos pontos do aqüífero maissujeitos à contaminação. Estes pontos costumam ser as áreas derecarga, por onde a água da chuva penetra no solo e abastece oaqüífero, disse Garrido. Estas são as áreas mais próximas dasuperfície. As mais profundas estão 1.700 metros abaixo do solo.Estima-se que o Aqüífero receba anualmente 166 trilhões delitros de água. Um quarto da recarga seria suficiente para abaste-cer 15 milhões de pessoas por ano. Garrido ressaltou, no entan-to, que o consumo das águas subterrâneas deve ser combinadocom o das águas superficiais – rios e lagos. Cada país integrantedo projeto vai cuidar da sua parte. Serão estabelecidas cotasmáximas do uso da água proveniente do Guarani para que nãohaja risco de esgotamento, disse o secretário. A preocupação deGarrido tem um porquê. Enquanto a água dos rios é renovadarapidamente, os aqüíferos demoram para serem reabastecidos,pois a velocidade de infiltração é baixa. Um problema que acabase tornando uma solução quando o assunto é qualidade da água.Como a água passa pelo solo muito devagar, ela é naturalmentefiltrada por ele. Os microorganismos presentes na terra e as ro-chas retém os poluentes, disse o secretário. O resultado é umaágua pronta para o consumo a custo zero. Só em São Paulo, ondese encontram 18,5% do total da área brasileira abrangida peloAqüífero, 47% dos 645 municípios do estado são abastecidossomente por água subterrânea, entre eles Ribeirão Preto. Issomostra que a água é um recurso econômico, disse Aldo Rebouças.

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O Aqüífero Guarani é estratégico, pois está localizado na partemais rica do Cone Sul. Por isso deve ser preservado, completou.Além de dispensarem tratamento, as águas do Aqüífero Guaranitambém não precisam ser aquecidas artificialmente, o que permi-te grande economia de energia. O líquido leva décadas para per-correr centenas de metros. A cada 30m que desce, a temperatu-ra da água é elevada em 1o C. Quando ela chega lá embaixo, estáfervendo. O Programa Guarani terá financiamento de US$25 mi-lhões, dos quais US$14 milhões virão do Global EnviromentFacility (GEF). O restante será repassado pelo Banco Mundial(Bird) e pelos quatro países envolvidos na proteção do mananci-al. Apesar de só agora os governos dos países, sob os quaisrepousa o Aqüífero Guarani, terem decidido implantar projetode proteção, a história do reservatório começa há 440 milhõesde anos, quando os continentes africano e americano estavam seseparando. A abertura do Oceano Atlântico resultou em depres-sões na superfície terrestre, contribuindo para o surgimento debacias sedimentares, terreno propício para formação de aqüíferos.Foi só na Era Mesozóica, no entanto, durante os períodos Triássico(entre 248 milhões e 213 milhões de anos atrás) e Jurássico(entre 200 milhões e 144 milhões de anos), que o Guarani,homenagem ao povo indígena que habitou a região onde hojeestá o reservatório, deu o primeiro sinal de vida. Naquela épocaforam formadas duas camadas de areia, porosas e permeáveis,que hoje armazenam 45 trilhões de litros d’água. Um derrame derochas vulcânicas alguns milhões de anos depois criou uma espé-cie de tampão que cobre 90% do aqüífero e que seria fundamen-tal para a boa qualidade de suas águas. O basalto é impermeável,protegendo o aqüífero da contaminação, explicou o geólogo AldoRebouças, da USP.

Quanto às ocorrências de gás de petróleo da Bacia do SãoFrancisco, transcrevemos a seguir alguns trechos de um artigo doex-Ministro de Minas e Energia, Paulino Cícero de Vasconcelos,publicado no Jornal Estado de Minas (4/6/2003, p. 9) sob otítulo O gás do São Francisco, que liga esse fato ao sonho deDom Bosco:

“Um dos maiores geólogos do País, Carlos Walter Marinho Cam-pos, que no ano passado recebeu, post-mortem, a medalhaEschwege do governo mineiro, foi o homem que levou a Petrobraspara o mar. (...) Quando assumi a Secretaria de Minas do gover-

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no Itamar, já aposentado da Petrobras, Carlos Walter, com minhapresença, instalou em Ouro Preto o Núcleo de Engenharia dePetróleo (Nupetro), que somava o notório potencial de duasrenomadas instituições: a Escola de Minas, na área de geologia, ea Escola Federal de Engenharia de Itajubá (Efei), em eletricidade emecânica. Neste dia, com a simplicidade que contrastava os títu-los tantos que acumulara no Brasil e no exterior, Carlos Walterme dizia que a bacia hidrográfica do São Francisco pode escon-der um oceano de gás. É uma unidade geotectônica proterozoica– dizia-me. Não deve ter óleo, mas certamente conterá muito gásnatural de petróleo, exatamente como ocorre na Sibéria e noMar Amarelo da China, que são, também, bacias proterozoicas,formada a mais de 500 milhões de anos. (...) É rezar para que ascoisas se apressem e aconteçam. Aliás, falando em rezar, isso melembra o jornalista Jorge Faria, como eu, ex-aluno salesiano. Elediz – e jura – que o verdadeiro sonho visionário de Dom Boscosobre o Centro-Oeste brasileiro não era Brasília. Era e é o gás doSão Francisco.”

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7. P7. P7. P7. P7. POSFÁCIOOSFÁCIOOSFÁCIOOSFÁCIOOSFÁCIO

Para encerrar este pequeno livro, gostaria de lembrar al-guns personagens de nossa história, cujo legado transformaram asociedade brasileira e direcionaram o País para realização de seugrande destino, cumprindo assim os desígnios de Deus. Essespersonagens foram os Inconfidentes que planejaram a transferên-cia da capital do País para o interior: Juscelino Kubitschek, querealizou esse projeto, e Getúlio Vargas, que lançou os alicercesde uma sociedade mais justa e igualitária. Todos eles pagaramcom a própria vida tais ousadias, mas suas obras prevaleceramsobre seus inimigos. A luta de Getúlio Vargas em favor dos ex-cluídos é um capítulo de nossa história que ainda está para serescrito em toda sua extensão e abrangência, pois foi ele o únicohomem público na história do Brasil que de fato se preocupoucom os trabalhadores e tentou virar o jogo em seu favor, pagan-do com isso com a própria vida. O legado desse estadista é vas-to, pois, para realizá-lo, teve de mudar a face escravocrata doPaís, o que só foi possível com as leis trabalhistas por ele implan-tadas, fato, aliás, lembrado em sua carta testamento.

A Era Vargas

Essa libertação foi feita por meio de um ciclo revolucioná-rio, mais tarde chamado Era Vargas, que se desdobrou em váriasfases desde outubro 1930, quando os gaúchos liderados porVargas deixaram os Pampas, passando pela malfadada Contra-Revolução Paulista de 32, pelos entreveros com os comunistasem 1935 e integralistas em 1937, pelos trágicos acontecimentos

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de agosto de 1954, quando se imolou em favor dos excluídos,até 1960, ano que marca a um só tempo o fechamento do ciclode mudanças estruturais revolucionárias e o término do governoJK, que colheu os frutos da única revolução que realmente mu-dou a face do Brasil.

O prelúdio desse movimento revolucionário foi um tempode conflitos, como a Revolta dos Tenentes em1922, a Marcha daColuna Prestes em 1924 e o colapso da elite escravocrata em1929. Já o fechamento desse ciclo foi um período de realizações,coroado pelas obras do governo do Presidente JuscelinoKubitscheck, sendo a principal delas a construção de Brasília,inaugurada em 1960. A partir da posse do sucessor de JK, emjaneiro de 1961, o que se observa são tentativas frustradas deuma elite retrógrada, ressentida e revanchista de anular as con-quistas sociais e pôr um fim à política social-nacionalista implan-tada na Era Vargas. Esse processo maniqueísta de demolição,cujas raízes remontam a 1932, começa com a renúncia de JânioQuadros à Presidência da República, oito meses após sua posse,e termina em 2002 com o fim do segundo mandato do Presiden-te Fernando Henrique Cardoso. Este presidente, inclusive, nosseus dois mandatos, tentou de todas as formas pôr um fim a EraVargas (talvez para vingar a memória de seu pai, um oficial doExército que lutou em 32 ao lado dos derrotados paulistas),fracassando, todavia, nesse intento, pois foi vencido pelos traba-lhadores nas eleições de 2002, os quais assumiram o poder em2003, resgatando assim os ideais de Vargas e dando início aosnovos tempos profetizados por Dom Bosco.

A chamada Era Vargas, como dito anteriormente, compor-ta várias e decisivas batalhas e com significados diferentes. A de1930, por exemplo, que deu início ao processo revolucionário,marca o fim da chamada República Velha, dominada que era pelosremanescentes da elite rural escravocrata, os chamados paulistasquatrocentões, e pelos elementos de proa da elite agroindustrialmineira que dominavam a política das Gerais. Mas o colapsototal dos remanescentes da elite escravocrata ocorrerá com aderrota da contra-revolução dita “constitucionalista” que agitou

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São Paulo, em 1932. O fim dessas elites decadentes está simbo-licamente representado pelos cavalos amarrados pelos gaúchosno obelisco da Avenida Central no Rio de Janeiro, onde encerra-ram uma jornada vitoriosa desde os pampas.

A marcha vitoriosa dos gaúchos, como um vento minuano,subiu do Rio Grande do Sul carregando consigo toda tradiçãopampeana de entreveros, varrendo com seu sopro renovadortodos os quadrantes do País, deixando atrás de si uma realidadenova, só se dissipando no planalto central em 1960 com a inau-guração de Brasília. Isso só foi possível porque “nas áreas menosbrasileiras – as fronteiras gaúchas”(sic) (no dizer de RobertoHipólito da Costa, em correspondência ao seu tio, o ex-Presi-dente Castello Branco, segundo narra o escritor Lira Neto, emseu livro Castello – A marcha para a ditadura, Editora Contexto,2004, p. 380) não medrou a escravidão e, conseqüentemente, oranço escravocrata ficou restrito às regiões Nordeste e Sudeste,a primeira de onde provém o senhores Hipólito e Castello, e asegunda onde os Barões do Café tinham seu ninho. Para levaravante essa empreitada, Getúlio Vargas aproveitou um momentode divisão das elites conservadoras mineiras e paulistas para in-troduzir nessa fratura uma cunha representada pelos militarespositivistas, corrente filosófica de forte influência em seu estadonatal e no Exército e que, por ocasião da Proclamação da Repú-blica, opuseram-se à maçonaria e à Igreja Católica para derrubara Coroa Imperial. É bom frisar que, graças à altivez e ao espíritolibertário dos gaúchos, embasados nessa ideologia de fundo po-lítico-religioso e caráter nacionalista e de forte conteúdo social,as elites republicanas emergentes, civis e militares, puderam con-duzir o Brasil com segurança pela estreita faixa que separava asduas ideologias que se digladiavam na primeira metade do séculoXX pelo poder mundial: o comunismo e o fascismo. A simbologiade todo esse processo está representada no centro da cidade doRio de Janeiro, sede da corte imperial e capital da República, pelotraçado de duas avenidas, a Avenida Rio Branco e a Avenida Pre-sidente Vargas, que se cortam formando uma cruz, encimada poruma igreja, a Igreja da Candelária.

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A estreita Avenida Rio Branco (originalmente Avenida Cen-tral), por exemplo, representa um rompimento com o passadocolonial, pois, aberta na República Velha, não respeitou um tes-temunho daquela época, a velha igreja construída pelos portu-gueses no Morro do Castelo, que foi removido por se situar noseu traçado. Em contrapartida, a larga Avenida Presidente Vargas,construída em1943 (início da segunda geração no sonho de DomBosco) às custas da velha cidade imperial, representando assimum rompimento com o passado escravocrata, não destruiu a igrejaque situava em seu caminho, a Igreja da Candelária, mas, pelocontrário, manteve-a intacta. Este fato simboliza também orestabelecimento da aliança entre a Igreja e o Estado, rompidapelos positivistas quando da Proclamação da República. Este novorelacionamento foi sacramentado em 1934, quando GetúlioVargas formalizou seu casamento perante a Igreja Católica, antesregistrado apenas no civil (MATOS, 1990, p. 260). Com talgesto, essa igreja superou, a um só tempo, o ranço colonial quea imobilizava e a disputa com os positivistas que a envenenava.

Se considerarmos a existência de um plano superior regen-do os destinos da Terra Brasilis, é natural concluirmos que oadvento do Positivismo entre nós, num momento crucial para oPaís, quando estava mergulhado num beco sem saída do maras-mo e da estagnação de um império decadente, não foi casual.Essa corrente filosófica nascida na França no século XIX, só pros-perou no Brasil e, assim mesmo, por um curto período de tempoe de maneira efêmera, porém eficaz, na medida em que foi sufici-ente para detonar a tríplice aliança formada pela Monarquia,Maçonaria e Igreja Católica, que sufocava a sociedade brasileiracom seu atavismo escravocrata e conservadorismo paralisante.Ao pretender fundir num cadinho filosófico todo esse caldo cul-tural elitista, o Positivismo acabou gerando um movimento semlíderes e uma estrutura tão retrógrada quanto antes, a RepúblicaVelha, cuja divisa, Ordem e Progresso, seu único legado ideoló-

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gico, está estampada na bandeira nacional. Mas as sementes des-sa ideologia continuaram hibernando no estamento militar, re-nascendo em 1922 com o Movimento dos Tenentes, que acaboumorrendo nas areias de Copacabana como as ondas de um marrevolto que se quebra nas praias. O drama desses idealistas é oprelúdio de uma revolução que se avizinha e que agitará o País aolongo do século XX, promovendo profundas mudanças em suaestrutura política, econômica e social.

Para concluir e, como uma homenagem ao cinqüentenárioda morte do revolucionário Getúlio Vargas, transcrevo a seguir aCarta Testamento desse que foi o único presidente republicano etambém único homem público da história do Brasil que realmen-te se preocupou com a má sorte dos pobres, chegando ao extre-mo de sacrificar a própria vida para modificá-la. A morte de Ge-túlio Vargas, como a de Che Guevara e Tiradentes, não foi umaderrota diante de seus inimigos, mas, sim, uma vitória que otempo só fez aumentar e valorizar. O jogo sujo praticado pelaelite de perenizar a miséria no Brasil, para dela se locupletar,encontrou em Getúlio Vargas a pedra de tropeço, razão por queesse grupo sectário procura, de todas as formas, caracterizá-locomo um ditador e apagar da memória nacional suas realizações,inclusive tentando criar uma anti-Era Vargas, a tal Era FHC. Ledoengano. Como profetizou esse gaúcho de boa têmpera em suaCarta Testamento, ela está apenas começando, pois o que ele fezcom a Revolução de 30 foi atravessar o Rubicão e abrir novasperspectivas para a sociedade brasileira e, com sua morte, validarseu legado. É bom lembrar que todo esse processo revolucioná-rio agitou a nação, como se um vento minuano tivesse sido desa-tado no sul e varresse o País de cabo a rabo com seu soprorenovador, dissipando as pesadas nuvens carregadas de atrasoque sufocavam o Brasil desde que se tornara independente, eespantando para sempre as aves de rapina que, pousadas no te-lhado da sede do governo, o Palácio do Catete, espreitavam suapresa predileta – o povo brasileiro.

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O Testamento

Pois onde há testamento, é preciso que severifique a morte do testador. Um testamento só se torna

válido em caso de morte; não surte efeito enquanto otestador está vivo.

(Hb 9, 16-17)

24 de agosto de 1954 Palácio do Catete

Rio de Janeiro – Brasil

“Mais de uma vez, as forças e os interesses contra o povocoordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Nãome acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dãoo direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir aminha ação, para que eu não continue a defender, como sempredefendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destinoque me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliaçãodos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me che-fe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação einstaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Volteiao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dosgrupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltadoscontra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraor-dinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão dosalário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberda-de nacional na potencialização das nossas riquezas através daPetrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação seavoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não que-rem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo sejaindependente. Assumi o governo dentro da espiral inflacionáriaque destruía os valores de trabalho. Os lucros das empresas es-trangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valo-

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res do que importávamos existiam fraudes constatadas de maisde 100 milhões de dólares por ano.

Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produ-to. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violentapressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados aceder. Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindoa uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silên-cio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defendero povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos possodar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sanguede alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofe-reço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estarsempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha almasofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta,sentirei em vosso peito a energia para a luta por vós e vossosfilhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a for-ça para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nomeserá vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será umachama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagradapara a resistência. Ao ódio respondo com perdão. E aos quepensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Eraescravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas essepovo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém.Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue seráo preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Luteicontra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. Oódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos deia minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio.Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade esaio da Vida para entrar na História.”

Fonte: Ensaios de Opinião – Getúlio Vargas (p. 44).Documento levantado pelo Serviço de Atendimento ao Usuário da

Biblioteca do Senado Federal, a quem agradeço a gentileza da pesquisae remessa da cópia.

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A Era Vargas em três tempos

Resumo

1922/1929Prelúdio à Revolução

1922 – A Revolta dos Tenentes1924 – A Coluna Prestes1929 – O colapso da elite escravocrata

1930/1945Minuano, o vento renovador

1930/1932 – Os gaúchos em marcha1935/1937 – Entreveros1945/1950 – O repouso do guerreiro

1950/1960A consolidação da Revolução

1950 – A volta do guerreiro1954 – O sacrifício necessário1960 – Brasília, o coroamento da obra

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RRRRREFERÊNCIASEFERÊNCIASEFERÊNCIASEFERÊNCIASEFERÊNCIAS B B B B BIBLIOGRÁFICIBLIOGRÁFICIBLIOGRÁFICIBLIOGRÁFICIBLIOGRÁFICASASASASAS

A BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulinas, 1981.

BÍBLIA SAGRADA. Tradução da CNBB, 2001.

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TUFANO, Douglas. A carta de Pero Vaz de Caminha – Comentá-rios e notas de. São Paulo: Moderna, 1999.

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LLLLLIVROIVROIVROIVROIVRO II II II II II

A REVOLUÇÃOQUE VARGAS NÃO FEZ

A IMPLANTAÇÃO DA ESCOLA PÚBLICA

DE TEMPO INTEGRAL

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IIIIINTRODUÇÃONTRODUÇÃONTRODUÇÃONTRODUÇÃONTRODUÇÃO

Educação: o calcanhar-de-aquiles dasociedade brasileira

A perenização da miséria no Brasil é fruto de um processode exclusão social que tem na educação as raízes mais profundas.Esta tragédia coletiva é o resultado de um passado escravocrata eda opção da elite republicana de priorizar as questões econômi-cas em detrimento do social. A inversão dessa prioridade, colo-cando o resgate da dívida social e as necessidades básicas dapopulação em primeiro plano, é condição sine qua non para queo Brasil saia do atraso secular em que essa elite o meteu e que aparanóia econométrica dos economistas de plantão o mantémimobilizado no lodaçal da estagnação econômica e social. Aopriorizar o resgate da dívida social e o atendimento das necessi-dades básicas da população, toda a economia terá de realinhar-sea essa nova realidade, pois os recursos necessários para isso sãovultosos, a começar pelos investimentos em educação, em que sedestaca a Escola Pública de Tempo Integral. A não implantaçãodesta escola compromete todas as tentativas de fazer do Brasilum país desenvolvido, constituindo-se este fato no calcanhar-de-aquiles da sociedade brasileira, embora os governantes procuremignorá-lo. O passo decisivo, portanto, para que o Brasil promovao resgate da dívida social e saia da situação vergonhosa em que seencontra está na adoção da Escola Pública de Tempo Integral paracrianças e jovens de 3 a 18 anos, vale dizer, da pré-escola aotérmino do ensino médio, e de creches comunitárias para crian-ças com até 3 anos de idade.

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A Escola Pública de Tempo Integral não é novidade no se-tor educacional brasileiro, pois, na década de 1940, o educadorAnísio Teixeira chegou a implantá-la na Bahia, a Escola Parque deSalvador, e, em passado recente, o ex-Governador do Estado doRio de Janeiro, Leonel Brizola, tentou e fracassou na implantaçãodessa escola nos seus dois mandatos (83/86 e 91/94). Em 1999,o Governador Garotinho tentou ressuscitá-la, como informa oJornal do Brasil (10/10/99, p. 3):

Símbolo máximo do governo Brizola, os Cieps foram pratica-mente abandonados nos últimos quatro anos, durante o governoMarcello Alencar. Inspirados na idéia da escola de tempo integraldo educador Anísio Teixeira e implantados por Darcy Ribeiro, osCieps começaram a ser recuperados este ano, como projetoprioritário do governo Garotinho.

Esta iniciativa não prosperou, fracassando como as demais.Além de providências práticas como a do Governador Brizola,outras foram tomadas com igual objetivo, mas no campo teórico,como a dos deputados mineiros que elaboraram a Constituiçãode Minas Gerais de 1989. Reza essa Constituição, no seu artigo198: “A garantia de educação pelo Poder Público se dá mediante:I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, mesmo para osque não tiverem tido acesso a ele na idade própria, em períodode oito horas para o curso diurno”. Este ato também se reveloufalho, pois jamais passou da teoria para a prática.

Concluindo, é bom lembrar que a última reforma subs-tancial no ensino brasileiro ocorreu há mais de sessenta anos, noperíodo revolucionário de Vargas, com a Lei Capanema, quemudou o ensino no País, como informa Joaquim Panini (Cami-nhos Novos na Educação. São Paulo: FTD, 1995, p. 286):

Realmente, até 1940, praticamente qualquer pessoa podia ensi-nar, mesmo sem o credenciamento de títulos. O mesmo aconte-cendo com as escolas. Com a lei Capanema, publicada em 1942,– a primeira grande lei de ensino no Brasil – as coisas mudaramsubstancialmente. As escolas, e sobretudo os professores, tive-ram que legalizar sua situação frente às exigências da lei, o magis-tério deixou de ser considerado sacerdócio e passou a ser tidosomente como uma profissão, exigindo interesse, aptidão, e ha-bilitação legal.

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Os sabotadores da Escola Pública

Mas, se tão grande avanço ocorreu em 1942, por que aEscola Pública de Tempo Integral, gestada desde 1932 pelos pio-neiros da Escola Nova, foi abortada? A resposta está na lutasurda travada contra a escola pública pela elite conservadora li-derada pelo clero católico, como mostra o seguinte trecho extra-ído da obra Caminhos Novos na Educação (LIMA, 1995, p. 161):

Entendeu a AEC – Associação de Educação Católica, desde oprimeiro momento, que não basta ficar na oposição. Há necessi-dade de penetrar e atuar em todos os órgãos do poder. Fazerouvir a nossa voz, colaborando, honradamente, com a indepen-dência de opinião, de nossa filosofia e crença. Nasceram, assim,os chamados comandos no legislativo e no executivo. Era a es-tratégia que se impunha: estar presente, lá onde se decidiam asorientações políticas e administrativas do ensino nacional. Osprimeiro comandos tiveram, no Senado, o catarinense NereuRamos. Na Câmara, o deputado gaúcho, Tarso Dutra. Traço deunião entre os comandos, em caráter permanente, e a diretorianacional, foi naqueles 20 primeiros anos, o ex-constituinte de1934, dr. Carlos Thompson Flores. As reuniões eram, geral-mente, no palácio São Joaquim, sede do arcebispado do Rio.Havia também a colaboração da imprensa, como o conde PereiraCarneiro, no Jornal do Brasil, e o Dr. Roberto Marinho, em OGlobo. Rara era a semana em que não publicassem algum artigoelaborado na AEC. Outros jornais como o Diário de Notícias e oCorreio da Manhã, colaboraram, também. A AEC visava formaropinião. Não ouve o mesmo acolhimento, por parte de O Estadode São Paulo. Às repetidas audiências solicitadas pela AEC, acu-dia o Dr. Júlio de Mesquita Filho, declarando, com cortesia, quea linha do jornal era outra. O mentor, naquela época, era o dire-tor da Revista Anhembi, Anísio Teixeira, nada favorável à Igreja, eardoroso defensor do ensino estatal. Hoje – como mudam ostempos! – o Estado está publicando artigos na nossa linha. Oatual diretor, Júlio de Mesquita Neto, é antigo aluno do colégioSão Luís, de São Paulo.

Os fundamentos dessa conspiração contra a escola públicae a capitulação de Vargas, que trocou os ideais da Escola Novapela Lei Capanema, estão sintetizados na PARTE I, um mosaico

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formado com trechos selecionados das seguintes obras: Cami-nhos novos na educação, sob a coordenação de Irmã SeverinaAlves de Lima (São Paulo: FTD, 1995); Um estudo histórico so-bre o catolicismo militante em Minas, entre 1922 e 1936 , deFrei Henrique Cristiano José Matos (Belo Horizonte: O Lutador,1990); Introdução à história da Igreja, de Frei Henrique CristianoJosé Matos (Belo Horizonte: O Lutador, 1997, 5 ed., v. 1e 2); eOs Templários, de Piers Paul Read (Rio de Janeiro: Imago, 2001).Na PARTE II, são tecidas algumas considerações sobre a EscolaPública de Tempo Integral e as iniciativas, tardias (setenta anos deatraso) que visam a sua implantação em algumas escolas munici-pais de Belo Horizonte.

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1. U1. U1. U1. U1. UMAMAMAMAMA DISPUTDISPUTDISPUTDISPUTDISPUTAAAAA DEDEDEDEDE PODERPODERPODERPODERPODER EEEEE PRESTÍGIOPRESTÍGIOPRESTÍGIOPRESTÍGIOPRESTÍGIO

O nó górdio que mantém o Brasil atado à miséria e à igno-rância e que o impede de sair do atraso em que se encontra erealizar suas potencialidades se situa na escola pública. O fracas-so da escola pública no Brasil é o resultado de uma surda disputade poder e prestígio entre a Igreja Católica Apostólica Romana eo Estado brasileiro, tornada manifesta por ocasião da queda doImpério e conseqüente Proclamação da República, quando entãose processou a separação da Igreja do Estado. Essa disputa, Igre-ja/Estado, tem suas raízes nos primórdios do Cristianismo, porobra e graça do Imperador romano Constantino (306-337).

Constantino acreditava que havia chegado ao poder com a ajudado Deus dos cristãos. Às vésperas da crucial batalha com o impe-rador rival Maxêncio na Ponte Mílvio, junto dos muros de Roma,fora-lhe dito num sonho (ou possivelmente numa visão) que pin-tasse um monogramo cristão nos escudos de seus soldados comas palavras: In hoc signo vinces (Com este sinal vencerás). (READ,p. 39)

Constantino sucessivamente adotou outras medidas favoráveisaos cristãos, como se quisesse fazer da religião cristã um instru-mento de fortalecimento e unidade do Estado, que também pro-curava robustecer por outros meios (reforma da burocracia civile dos comandos militares; medidas econômicas e fiscais; etc.).Em particular, Constantino parece ter visto no monoteísmo umaforma de legitimar a monarquia: a um só Deus do universocorresponde um só soberano ou monarca para o Império. Tam-bém a transformação da antiga Bizâncio numa nova cidade,Constantinopla, inaugurada em 330, pareceu significar o aban-dono, por parte do imperador, da Roma pagã e a substituiçãopor uma nova Capital cristã. (MATOS, 1997, v. 1, p. 97)

Entre os atos de Constantino em favor da Igreja, podem ser cita-dos: + A concessão de imunidades ou isenção de obrigações

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pessoais para com o Estado (impostos etc.), tanto para os sa-cerdotes pagãos, como para o clero católico. + Reconhecimentojurídico das decisões episcopais: os bispos podem arbitrar cau-sas também de pagãos. + Abolição da crucificação e proibiçãodas lutas de gladiadores, que, no entanto, continuarão ainda porum século. + Permissão à Igreja de receber heranças e doação degrandes igrejas ou basílicas (Basílica do Latrão e de São Pedro,em Roma; Santo Sepulcro, em Jerusalém; Natividade, em Belém...).+ Reconhecimento do domingo como feriado e progressiva re-dução das festas pagãs. (MATOS, 1997, v. 1, p. 97-98)

A propósito deste período e de imperadores como Constantino,Constâncio e, mais tarde, Justiniano (527-565), falou-se emcesaropapismo. O termo é moderno e indica uma teoria segundoa qual o poder civil e o poder religioso se reuniriam numa sópessoa, a do imperador, que exerceria conjuntamente as funçõesde imperador e de papa. (MATOS, 1997, v. 1, p. 102-103)

“A Igreja assumiu mais do que as funções do extinto Império: erao Império Romano na mente do povo. Ser romano era ser cris-tão; ser cristão era ser romano. Depois de Justiniano, o mundomediterrâneo passou a considerar a si mesmo não mais comouma sociedade na qual o cristianismo era apenas a religião domi-nante, mas uma sociedade totalmente cristã. Os pagãos desapa-receram nas classes mais elevadas, e mesmo no campo (...) onão-cristão constatava que era um fora-da-lei num Estado unifi-cado. Num sentido real e consciente, os bispos da Igreja Católi-ca assumiram as responsabilidades da classe senatorial romana:essa foi a hipótese básica por trás da retórica e do cerimonial dopapado medieval”. (READ, p. 46)

Por volta de 1300, deu-se um desentendimento entre o PapaBonifácio VIII (1294-1303) e o rei Filipe IV, o Belo (1285-1314),da França. Conflitos semelhantes, surgidos, via de regra, pormotivos de delimitação de poderes, já haviam ocorrido em épo-cas anteriores, como conseqüência natural da fusão de compe-tências entre o poder espiritual e temporal. Por maiores que ti-vessem sido os choques, até então uma coisa ficara incontestá-vel: a união inquebrantável de Igreja e Estado, sob a dupla auto-ridade de papa e monarca. A novidade estava exatamente em nãomais se tratar de uma simples questão de rivalidade, mas de umprofundo questionamento sobre a origem do poder. Felipe sus-

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tentava que sua autoridade régia derivava diretamente de Deus e,conseqüentemente, não se submetia a nenhuma restrição por partedo Papa. Como monarca, era inteiramente independente e so-mente em questões de fé teria de obedecer ao pontífice. Em ou-tras palavras: o rei subtraiu toda vida política à direção da Igreja.(MATOS, 1997, v. 1. p. 286-287)

“O ano de 1300 marcou o ponto alto do pontificado de BonifácioVIII e na época pareceu o auge das reivindicações pontifícias àjurisdição universal. (...) O papa Bonifácio, exultante, apareceudiante dos peregrinos sentado no trono de Constantino, segu-rando espada, coroa e cetro e gritando: Eu sou César!”. (READ,p. 276-277)

“A morte de Bonifácio não pôs fim ao conflito entre o Papa e aFrança. (...) Finalmente, a escolha recaiu sobre Clemente V (1305-1314), arcebispo de Bordéus. Este se mantivera neutro na lutapartidária, sendo figura bem vista por Felipe. Não foi uma eleiçãomuito feliz. A fim de restabelecer a paz o mais breve possível, fezgrandes concessões a Felipe, que não seriam benéficas para aIgreja. Apoiou um processo contra a Ordem dos Templários, queo rei queria aniquilar, provavelmente para se apoderar de suasriquezas. O processo realizou-se de forma completamente arbi-trária e as atitudes autocráticas de Felipe provam que o prestígiodo Papa diminuíra notavelmente. Embora as acusações feitas nãofossem comprovadas, Clemente suspendeu a Instituição dosTemplários (1307). A vontade de Felipe prevaleceu”. (MATOS,1997, v. 1, p. 289)

Em Portugal, a Ordem do Templo, com permissão do papa, tinhasido reorganizada como Ordem de Cristo. Aí, também, era con-trolada pelos reis portugueses, que conseguiram instalar prínci-pes reais ou outros favoritos como mestres. Seus feitos maissignificativos se deram sob seu mestre, o príncipe Henrique, no-meado em 1418, o qual usou a riqueza da ordem para financiarexpedições exploratórias à costa da África, ao redor do cabo daBoa Esperança e por fim à Ásia. No século XVI, o controle dasordens passou para a Coroa, e, como as sucessivas bulas papaisatenuaram os votos de pobreza, castidade e obediência, a quali-dade de membro transformou-se meramente numa questão dehonra e prestígio. (READ, p. 338)

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A partir da segunda metade do século XV, Espanha e Portugalassumem, progressivamente, a hegemonia da expansão colonialeuropéia, sob a égide da incipiente política econômica domercantilismo. Dilatar a fé e o império, impor-se pela cruz e es-pada, são diferentes maneiras de exprimir a implantação dos im-périos ibéricos, ao mesmo tempo mercantis e salvacionista. (MA-TOS, 1997, v. 2, p. 89-90)

Na Península Ibérica existia a mentalidade, amplamente difundi-da, segundo a qual Portugal e Espanha foram escolhidos por Deuspara difundir a fé cristã nas novas terras já descobertas ou aserem conhecidas. Trata-se de um messianismo que ressoa, in-clusive, nas obras de Las Casas quando afirma que Deus haviaeleito o povo Espanhol como ministro da fé (As vinte razões).Também Antônio Vieira SJ (1608-1697) se faz porta-voz dessaconvicção, afirmando que nesses tempos surge um novo impé-rio, o reino de Cristo na terra, governado pelo Papa (poder espi-ritual) e pelo rei de Portugal (poder temporal). (MATOS, 1997,v. 2, p. 95 e 97)

Cinco séculos de luta contra os Mouros na Península Ibérica(c.750-1492), movimento conhecido como Reconquista Cristã,inculcou nos ibéricos um espírito de cruzada: usar a força dasarmas como meio legítimo na defesa da fé! Imbuídos desta mes-ma mentalidade os conquistadores declaram justa a guerra, casoos indígenas negarem a aceitar pacificamente a fé. O grito crê oumorre dos cruzados medievais recebe aqui uma nova aplicação.(MATOS, 1997, v. 2, p. 97)

Quanto à implantação da Igreja-Instituição e à organização ecle-siástica, constatamos que em 1511 foram criadas as três primei-ras sedes episcopais, entre elas a de Santo Domingo (arquidioceseem 1546). A Igreja no Brasil dependia inicialmente do Bispadode Funchal, nas Ilhas Açores. Em 1551 erigiu-se a diocese deSão Salvador da Bahia. De 1551 a 1676 houve um só bispo paratoda a América portuguesa e somente em 1707, com as Consti-tuições Primeiras do Arcebispo da Bahia, é que surge uma estru-tura eclesiástica mais definida. (MATOS, 1997, v. 2, p. 95)

Através de sucessivas concessões pontifícias que confiavam aosmonarcas ibéricos o cuidado da Igreja em terras ultramarinas,por eles descobertas e conquistadas, a evangelização da América

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Latina estava, de fato, nas mãos da Coroa, e, conseqüentemente,era integrada ao projeto colonial de dominação. Eram, de fato,os reis de Espanha e Portugal que enviavam os missionários e quetinham o direito de receber os dízimos, para financiar a catequesee o culto. Pertencia-lhes, igualmente, a faculdade de criar novasdioceses, nomear bispos e outros dignitários eclesiásticos. Todaa comunicação com Roma era sujeita ao controle do monarca. Ofuncionamento do padroado foi, igualmente, bem além da legis-lação escrita e o poder colonial chegou a dominar por completoa instituição eclesiástica, cerceando, de forma abusiva, sua vidainterna e seus representantes, entre eles particularmente as Or-dens Religiosas. Um dos aspectos práticos do padroado era queninguém podia tornar-se cristão sem, ao mesmo tempo, passar aser súdito do rei da Espanha ou de Portugal. Efetivamente, ex-pansão imperialista e conversão cristã caminhavam de mãos da-das! (MATOS, 1997, v. 2. p.100).

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2. O 2. O 2. O 2. O 2. O PODERPODERPODERPODERPODER DDDDDAAAAA I I I I IGREJGREJGREJGREJGREJAAAAA NONONONONO B B B B BRASILRASILRASILRASILRASIL

A colônia portuguesa nas Américas segue um itinerário sui generis.A 7 de setembro de 1822 um príncipe da casa real portuguesa,Dom Pedro I, rompe os laços políticos com a Metrópole, tornan-do o Brasil um país independente. É instituído o regimemonárquico e proclamado o Império do Brasil, com constituiçãooutorgada em 24 de fevereiro de 1824, na qual a religião católi-ca é declarada oficial (artigo 5º) e o Imperador considerado oprotetor natural da Igreja, com todas as prerrogativas do antigoPadroado luso (art. 102). (MATOS, 1997, v. 2, p. 119)

No Brasil verificamos, no período em questão, vários choquesentre o poder imperial e a Igreja por causa do regalismo. Após oposicionamento das autoridades políticas em relação ao direitoinalienável do padroado, ora transferido naturalmente para a pes-soa do Imperador (1827), e o episódio de quase ruptura comRoma (1833) devido às atitudes de Diogo Antônio Feijó (1784-1843), as tensões entre a Igreja e Estado não cessam. Assim, em1855 é proibida a admissão de noviços às antigas Ordens Religio-sas do Império, medida que provoca uma drástica diminuiçãonumérica desses institutos, levando-os à beira da extinção emfins do período monárquico. Famosa foi a Questão Religiosa(1872-1875), ligada à infiltração maçônica em irmandades deBelém e Olinda, cidades que viram seus bispos aprisionados econdenados a trabalhos forçados. (MATOS, 1997, v. 2, p. 123)

Proclamada a República, em 15 de novembro de 1889, logo aos7 de janeiro de 1890, o Governo Provisório publicou o Decretoda separação da Igreja e do Estado. Antes de chegar à publicaçãodesse revolucionário Estatuto, de tão decisiva importância só-cio-política, houve várias tentativas de impedi-lo ou, pelo me-nos, amenizar suas conseqüências. Os líderes católicos continua-vam a defender em tese o ideal de união entre Igreja e Estado,aceitando a separação como situação de fato, após a promulga-ção do Decreto nº 119-A, de 7 de janeiro de 1890. Obviamente

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ninguém desejava um simples retorno à política imperial referen-te à Igreja, aquela falsa união e escravizamento, aquele regime deprivilégios e subsídios com que se mascarava a opressão (Pe.Júlio Maria, CSSR), mas seria inaceitável confundir a separaçãocom a hostilidade ou com a indiferença. (MATOS, 1990, p. 12)

Não se pode negar que o documento de 7-1-1890 é sereno,discreto e preciso; não contém excessos e nem esconde ódios.Não deixa de ser a carta de alforria do catolicismo no Brasil,abolindo no art. 4º o padroado com todas as suas instituições,recursos e prerrogativas; proibindo no art. 1º ao governo federalleis, regulamentos ou atos administrativos sobre a religião; de-clarando no art. 2º o direito de todas as confissões religiosas aoexercício de seu culto, sem obstáculos aos seus atos particularesou públicos; assegurando no art. 3º a liberdade religiosa, não sóaos indivíduos isoladamente considerados, mas ainda às Igrejasque os unem numa mesma comunhão; estabelecendo no art. 5º apersonalidade jurídica para todas as Igrejas e comunhões religio-sas, e mantendo a cada uma o domínio de seus bens. (MATOS,1990, p. 13)

Apesar das intervenções e apelos da Hierarquia católica, a Cons-tituição republicana de 24 de fevereiro de 1891, adotou umafilosofia a-religiosa e nitidamente laicista, eliminando – como vi-mos – a evocação do nome de Deus na Carta Magna, proibindoo ensino religioso nas escolas públicas e não reconhecendo omatrimônio religioso para efeitos civis. Essa mesma política delaicização do Estado, no entanto, não foi seguida pelo Congres-so Constituinte de Minas Gerais que, no dia 15 de junho de1891, decretou e promulgou a Constituição Mineira em nomede Deus Todo Poderoso. Comenta Mons. Carlos de Vasconcellos,no seu discurso de instalação do 1o Congresso Catequístico Bra-sileiro de 1928: Minas repudiava assim a apostasia oficial daConstituição atéia da República Brasileira, inspirada pelopositivismo. Se esta não foi ainda batizada, como dizia Júlio Ma-ria, e conserva o pecado original de apostasia, o Estado de Mi-nas, desde o berço, recebeu ao menos a graça do batismo dedesejo! (MATOS, 1990, p. 16)

Apesar da separação oficial de Igreja e Estado no Brasil, consa-grada pelo Decreto 119-A, de 7 de janeiro de 1890, e incorpo-rada na constituição de 1891, assistimos, na Primeira República,

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a um curioso processo de reaproximação dos dois poderes. AIgreja não se conforma com uma posição secundária na vida na-cional, apelando aos sentimentos religiosos da absoluta maioriada população. Já nos primeiros anos da República os bispos mos-tram claramente que não aceitam a opinião que entre a Igreja e oEstado deve ter pouco ou quase nenhum contato, nenhuma coo-peração, em suma, legalmente têm que se ignorar mutuamente.Independência não quer dizer separação, afirma o Episcopadoem sua Carta Pastoral de 1890. (MATOS, 1990, p. 45)

“O processo de reaproximação entre a Igreja e Estado, nas pri-meiras quatro décadas do regime republicano, não é retilíneo econhece um vai-e-vem, que revela os interesses em jogo naquelaetapa histórica. (...) Em 1905 o Brasil foi agraciado com o pri-meiro cardinalato da América Latina, na pessoa de Dom JoaquimArcoverde de Albuquerque Cavalcanti (1897-1930), arcebispodo Rio de Janeiro. (...) Em 1919 a representação diplomáticajunto à Santa Sé foi elevada à categoria de Embaixada, enquanto,no Brasil, a Nunciatura recebeu o status de primeira classe. (...)Em maio de 1924 foi celebrado, com grandes festividades, ojubileu de ouro sacerdotal do Cardeal Arcoverde. Além da im-pressionante Missa Campal, especialmente organizada pelos nos-sos militares, em que tomaram parte mais de dez mil soldados deterra e mar e a comunhão dos intelectuais, quando das mãos deS. Ex. Rvdma., o Snr. D. Sebastião Leme, mais de 500 homens deletras, professores, cientistas, acadêmicos, artistas, etc. recebe-ram a Sagrada Comunhão, o que mais chamou a atenção foi ofato de o governo da República ter tomado parte conspícua nes-sas festividades. No dia 4 de maio de 1924, compareceu aoPalácio São Joaquim, no Rio de Janeiro, o próprio Presidente daRepública, Dr. Artur Bernardes (1922-1926), acompanhado doSr. Dr. Estácio Coimbra, vice-presidente, das casas civil e militare de todo o Ministério, para homenagear o purpurado. Era aprimeira vez, depois da separação da Igreja e do Estado, que umaautoridade eclesiástica recebia tais honras por parte do Chefe daNação. Houve 20 minutos de conversação amistosa. Trocaram-se discursos e foram tiradas fotografias, em que, ao lado do Car-deal e de outros prelados, aparecem o Presidente da República eseu séquito. Uma hora depois, Dom Arcoverde e todos os Bis-pos presentes foram agradecer a distinção do Governo brasilei-ro. À saudação de Dom Joaquim Silvério de Souza (1905-1933),Arcebispo de Diamantina, respondeu o Presidente com um dis-

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curso que foi uma verdadeira apologia da ação da Igreja Católicano Brasil. Mas o ponto alto constituiu, sem dúvida, do banqueteno Itamarati, oferecido à noite daquele dia 4 de maio, peloChanceler Félix Pacheco. Ainda muitos anos depois, este eventoserá lembrado pela imprensa católica como um manifesto con-graçamento da República com a consciência católica da universa-lidade dos brasileiros. Fala-se, na ocasião, de um verdadeiro ba-tismo da República no Brasil.” (MATOS, 1990, p. 47-49).

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3. O 3. O 3. O 3. O 3. O LITÍGIOLITÍGIOLITÍGIOLITÍGIOLITÍGIO ENSINOENSINOENSINOENSINOENSINO RELIGIOSORELIGIOSORELIGIOSORELIGIOSORELIGIOSO XXXXX ENSINOENSINOENSINOENSINOENSINO LEIGOLEIGOLEIGOLEIGOLEIGO

A proclamação da República, em novembro de 1889, trouxe comoconseqüência a abolição do Padroado, deixando o catolicismode ser religião oficial do estado. À semelhança do que já vinhaocorrendo na Europa, a constituição republicana decretou a im-plantação do estado leigo, com as respectivas conseqüências naárea da família e da educação. Com a mesma força de repúdio àlaicização do Estado e ao casamento civil, os bispos passaram acondenar o ensino leigo nas escolas. Segundo a hierarquia eclesi-ástica, a laicização do ensino era considerada como uma formaprática de ateísmo e causa de profundos males para o país. Já nareclamação feita pelo episcopado ao governo provisório, datadade 6 de agosto de 1890, existe uma condenação explícita doensino leigo; numa interpretação tendenciosa, afirma-se que ogoverno havia optado pelo ateísmo oficial: Que há de ser, dentrode poucos anos, quando as funestas doutrinas do ateísmo nasescolas públicas, houverem produzido entre nós os deploráveisfrutos de dissolução e imoralidade que a experiência de outrospaíses já deixou tristemente evidenciados? Nas pastorais coleti-vas de 1900, na comemoração do 4º centenário da descobertado Brasil, os bispos voltam a insistir nessa mesma posição, extre-mamente polêmica, com relação ao ensino leigo: Decretou-seque nossas escolas primárias e superiores fossem seminários deateísmo, onde nada se ensinasse de religião, nada de Deus. Estenome adorável poderão os mestres proferir para o insulto ounegar; não terão liberdade de infundir na inteligência e no cora-ção dos alunos conhecimento e amor de Deus criador deles e douniverso. É evidente que os bispos manipulam, em defesa de suatese, o próprio texto do decreto, estabelecendo uma equivalên-cia indébita entre ensino leigo e ensino ateu. O fato de se pres-cindir, nas escolas públicas, do ensino da fé católica, de formaalguma significava que houvesse na mente dos legisladores umaintenção declarada de promover o ateísmo entre a juventude. Oensino religioso, continuava a ser mantido livremente nas escolas

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confessionais das diferentes denominações religiosas. Apesar doclamor do episcopado, o governo republicano deixava plena li-berdade para que a instituição eclesiástica se expandisse e sefortalecesse nesse período, o que não ocorria na época imperial.A convite dos bispos e sob o estímulo da Santa Sé, inúmerosinstitutos religiosos europeus se estabeleceram no país nas pri-meiras décadas do regime republicano. A celebração do concílioplenário latino-americano, em Roma, em 1898, permitiu que acúria romana confirmasse de forma definitiva seu domínio sobreas Igrejas oriundas do colonialismo ibérico. O concílio foi elabo-rado e conduzido pelos peritos da Santa Sé, cabendo aos prela-dos apenas ratificar as diretrizes romanas. Um dos pontos maisenfatizados, pelo concílio, era a necessidade de promoção dasescolas católicas, como forma de se contrapor à perspectiva leigados estados modernos. Afim de levar avante esse projeto, reco-mendava-se que os prelados latino-americanos continuassem aobter a colaboração de religiosos da Europa. O tema escola ca-tólica passou a constituir um enfoque importante da conferênciados bispos do centro-sul do país, reunidos em São Paulo, em1910. A escola pública, desprovida do seu caráter sacral, eracondenada explicitamente pelos membros da hierarquia eclesiás-tica, afirmando que a Igreja Católica detesta e condena as escolasneutras, mistas e leigas, em que se suprime todo o ensino dadoutrina cristã. E acrescentavam em seguida, fiéis às orientaçõesdo concílio latino americano: Esforcem-se, portanto, os reveren-dos párocos, pregadores e catequistas, por dissuadir aos pais defamília, que não poderão prestar pior serviço aos filhos, à pátriae ao catolicismo, que colocar seus filhos em tais escolas, expos-tos a perigos tão grandes. O contraponto era a necessidade deescolas de confissão católica. O clero diocesano foi incentivadoa que patrocinasse essas fundações, no âmbito de suas paróqui-as: Nas circunstâncias em que se acha a Igreja diante do ensinoleigo, é de necessidade inadiável que em todas as paróquias, hajaescolas primárias católicas, a que chamam paroquiais, nas quais amocidade nascente encontre o pasto espiritual da doutrina cris-tã, e de outros conhecimentos para a vida prática. Ordenamos,portanto, aos reverendos párocos que envidem todos os esfor-ços para fundá-las o quanto antes, onde as não houver; e nãodescansem, enquanto não conseguirem, por si ou por outrem, arealização deste ideal, em suas paróquias, custe o que custar. Afinalidade básica da escola paroquial era oferecer aos meninosuma instrução elementar que lhes permitisse assimilar melhor os

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conceitos da doutrina católica, preparando-se assim de formaadequada para a recepção dos sacramentos da penitência e daeucaristia. Foi sobretudo nas regiões de imigração européia nosul do país onde esse apelo foi atendido de forma mais plena.Instalados no Rio Grande do Sul, em 1900, os Irmãos maristastornaram-se valiosos colaboradores dos páracos na promoçãodas escolas católicas. Em Santa Catarina, foi fundada em 1913 acongregação das Irmãs Catequistas Franciscanas, cuja finalidadeespecífica era o magistério nas escolas paroquiais. Não obstante,na medida em que se ampliava a rede escolar pública, muitasfamílias católicas passaram a optar por ela pelo aspecto dagratuidade, tanto mais que freqüentemente eram os mesmos pro-fessores que lecionavam tanto nas escolas municipais como nasescolas paroquiais. Nesse período, intensificou-se no país o en-sino secundário, e os religiosos passaram a ocupar lugar signifi-cativo nessa área, com a fundação de colégios, nas diversas regi-ões do país. Três razões principais podem ser indicadas para essaopção de atividade, dentro da Igreja do Brasil. Em primeiro lugar,a maioria das congregações européias, já se dedicava anterior-mente a esse tipo de atividade; o que fizeram foi simplesmentetransplantar para o país métodos e obras que já haviam dadobons resultados em outras regiões. Além disso, a fundação deescolas passou a constituir o meio principal de prover o sustentoeconômico das novas fundações religiosas, sobretudo quando ogoverno republicano, recém-instalado no Brasil, se negava a am-parar as obras de cunho religioso. Por último, a criação das esco-las católicas era uma das grandes metas do episcopado, sobretu-do após o decreto de separação entre a Igreja e Estado. (LIMA,p. 30-33).

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4. O 4. O 4. O 4. O 4. O COMBACOMBACOMBACOMBACOMBATETETETETE ÀÀÀÀÀ E E E E ESCOLSCOLSCOLSCOLSCOLAAAAA P P P P PÚBLICÚBLICÚBLICÚBLICÚBLICAAAAA NANANANANA

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Após a proclamação da República a Igreja iniciou um movimentode reação contra o novo regime, em vista do seu caráter leigo;havia ainda muitos prelados e clérigos saudosistas da época im-perial, quando a instituição eclesiástica gozava de uma série deprivilégios, por ser o catolicismo religião. A legitimação do go-verno republicano foi promovida sobretudo pelos positivistas,cuja doutrina teve grande aceitação no exército, através do in-centivo ao espírito cívico. A partir das comemorações do cente-nário da independência, registra-se uma mudança de estratégiapor parte da Igreja: a ênfase do discurso eclesiástico passa a sera união entre fé católica e pátria brasileira. Na concepção doepiscopado, era necessário recuperar a influência junto ao poderpolítico. De fato, a partir da década de 20, iniciou-se uma etapaque pode ser designada como Restauração católica ou neo-Cris-tandade brasileira. (LIMA, p. 37)

Diante desta situação a Igreja procura reforçar seus quadros in-ternos e também sua organização externa. Excluída da vida públi-ca, quer aumentar sua influência e prestígio na sociedade civil,mediante uma atuação mais destacada na educação (com colé-gios católicos, geralmente destinados à elite), nas obras sociais,na imprensa e nas pias associações de leigos. Nesta tarefa recebeenorme apoio de Congregações religiosas européias que afluem,em grande número, ao Continente. Interessante também é o in-gente esforço da hierarquia para conquistar um lugar para a Igrejana escola pública, com campanhas a favor do ensino religioso narede educacional oficial. (MATOS, 1997, v. 2, p. 125)

A escola neutra é uma calamidade, um sistema mentiroso, escre-via Leão XIII. Em face de Cristo, senhores, não há meio termo; a

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alternativa é a da estrada de Damasco: ou com Paulo se o segueou com Saulo se o persegue. A escola sem Deus é contra Deus.(MATOS, 1990, p. 76)

Na sua Carta Pastoral de 29-3-1912, já escrevera Dom SilvérioGomes Pimenta, Arcebispo de Mariana: Escolas chamadas neu-tras, ou atéias, são perniciosíssima invenção para arrancar docoração da infância, e depois da sociedade, a fé e os sentimentosreligiosos. Este nefando empenho se acoberta e se procura de-fender com a capa de liberdade de consciência, de civilização, deprogresso, quando na realidade não é senão uma guerra nutridacontra a fé católica, alvejada principalmente com tais medidas.Outros falam da monstruosidade perversa do ensino leigo e domais violento vírus que se possa inocular a uma nação paracorrompê-la. (MATOS, 1990, p.75)

A lição da história nos ensina que o grupo ou partido que tiver omonopólio da escola, cedo ou tarde, triunfará. É indispensávelque os católicos sinceros e esclarecidos, seguindo um plano bemtraçado, iniciem uma luta sem tréguas contra o princípio dalaicidade do ensino. Urge uma propaganda intensa, ardente, contraa violação odiosa da vontade popular pela imposição iníqua – aum povo inteiramente católico! – de um ensino que ele não quer.O grito de guerra de todo o exército católico deve ser: Quere-mos Deus nas escolas! As escolas são nossas, somos nós que aspagamos e sustentamos, não as queremos sem o ensino da Reli-gião! Fora o ensino leigo! Para nós, como para nossos irmãos decrença de todos os países não há escolher o campo de batalha:só poder ser o da salvação da infância e da mocidade pela des-truição do ensino leigo, ou ao menos pela subtração dos filhosdos católicos à sua mortífera influência. Unindo as imensas for-ças católicas em todo o território nacional, fazendo pressão so-bre as autoridades municipais, estaduais e federais, a Igreja con-seguirá, em breve, que Jesus Cristo e a Religião dos nossos an-cestrais voltem a ocupar, no ensino, o lugar de honra que lhecompete e que, só pela mais tirânica e criminosa imposição deuma ínfima minoria de falsos democratas lhes havia sido arranca-do. Desse recobrar de esforços pelo ensino religioso – afirmamos bispos da Província Eclesiástica de Mariana, no Apelo dirigidoao Clero, aos chefes de família e aos professores, Pouso Alegre,7 de maio de 1927 – há de surgir uma nova floração de energiase virtudes, a pontearem de esperanças os horizontes da Pátria e a

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atraírem sobre vós as mais preciosas recompensas do céu. (MA-TOS, 1990, p. 76-77)

“A campanha pelo ensino religioso teve em Minas contornos es-pecíficos. Aí a luta foi mais intensa e conseguiram-se vitórias,que serviram de estímulo para os católicos de outras regiões dopaís. (...) As coisas mudaram quando o Governador positivistaJoão Pinheiro da Silva e seu secretário do Interior, Carvalho Brito,em 1906, proibiram o ensino religioso na escola oficial, deixan-do, igualmente, de subvencionar os seminários católicos”. (MA-TOS,1990, p. 77-78)

“Já em 1890, na sua Carta Pastoral Coletiva, o episcopado bra-sileiro dizia: Nós vemos nas escolas, desde as ínfimas até as su-periores, erguerem-se cátedras de pestilência a exalar os seusmiasmas deletérios, e enquanto nesses santuários poluídos daciência os professores do ateísmo pervertem a incauta mocidadesedenta de saber... É convicção profunda entre os católicos es-clarecidos da época, que a escola neutra, ou seja, sem Deus, nãoeduca, porque não forma o caráter, nem o homem, cuja vidaespiritual não pode abstrair da religião. (...) Encontramos seme-lhante argumentação nas próprias diretrizes oficiais da Igreja, desdepronunciamentos pontifícios, posicionamentos do episcopadonacional e local, até simples orientações nas suas respectivas pa-róquias”. (MATOS, 1990, p. 88)

Um dos aspectos mais importantes na obra de recristianizaçãodo Brasil, durante o período da Primeira República, é, sem som-bra de dúvida, a campanha desenvolvida pela Igreja parareintroduzir o ensino religioso nas escolas da rede pública. (MA-TOS, 1990, p. 73).

A questão escolar no Brasil não é fenômeno isolado no conjuntoda Igreja Universal. Amplamente conhecidos são os ingentes es-forços, por exemplo, dos católicos franceses em defesa da escolacatólica, como demonstra, entre outros, o famoso discurso deCharles de Montalembert (1810-1870) perante a Chambre desPairs, em 1831. Particularmente instrutiva é também a ação doscatólicos holandeses quanto à escola confessional cristã, na qualse destaca a figura de Herman Schaepiman (1844-1903) queconseguiu a colaboração política do partido protestante, paragarantir o reconhecimento, e, mais tarde, a plena subvenção do

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ensino cristão particular (em 1920, já depois de sua morte).(MATOS, 1990, p. 75)

“As orientações de Roma a respeito da escola católica servem deestímulo e apoio aos católicos brasileiros em construir sua pró-pria rede particular de ensino. Em sua Pastoral Coletiva de 1922,os Bispos recordam aos fiéis a exortação de Leão XIII, quandoescrevem: Pelo que ao nosso país concerne, o Papa Leão XIII, naCarta ‘Litteras a vobis’ diz: ‘Estabeleçam-se também escolas parainstrução dos meninos, a fim de não suceder que, com grandedetrimento da fé e dos costumes, recorram, com sói acontecer,às escolas dos hereges ou freqüentem colégios onde não se fazmenção nenhuma da doutrina católica, exceto talvez para caluniá-lo’. Escusado é encarecer a importância das palavras pontifícias.À sua luz rasga-se o caminho que devemos trilhar, sob pena deperderem a fé verdadeira não poucos dos que têm a ventura denascer no generoso grêmio da Igreja. Pio XI – na sua encíclicaDivini Illius Magistri, de 1929, pondera: ...é indispensável quetodo o ensino e toda a organização da escola: mestres, progra-mas, livros, em todas as disciplinas, sejam regidos pelo espíritocristão, sob a direção e vigilância maternal da Igreja católica, demodo que a Religião seja verdadeiramente fundamento e coroade toda a instrução, em todos os graus, não só elementar, mastambém média e superior. Dom Leme já tocara o ideal da ‘escolaintegralmente católica’, na sua Pastoral de 1916: Nós queremosescolas francamente religiosas. Nesse intuito não mediremos tra-balhos (...) A escola – repete Dom Leme, citando Leão XIII – é ocampo de batalha em que se decide o caráter cristão da socieda-de”. (MATOS, 1990, p. 91)

Uma das maiores desgraças que atingiu o Brasil no período daPrimeira República é, segundo muitos católicos da época, a difu-são dos colégios protestantes ou americanos, na Terra de SantaCruz. Na sua Circular de 3-4-1906 o Arcebispo de Marianadeclara sem rodeios: Falo de meninos de ambos os sexos, que ospais não temem confiar a colégios e mestres protestantes, hete-rodoxos, ou ainda sem religião. Não vêem esses pais que comsemelhante procedimento impelem seus filhos para a apostasia,fazendo-os perder no colégio, ou nas aulas, as verdades católicasque aprenderam, ou deviam aprender em casa. Pais que assimtratam seus filhos são diante de Deus réus de um crime, que oApóstolo classifica de apostasia, mais grave que a mesma infide-

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lidade: “Si quis suorum máxime domesticorum curam non habet,fidem negativ, et est infideli deterior” (I Tim. 5,8). (MATOS,1990, p. 92-93)

CONCLUSÃO: Percorremos o longo e penoso caminho de umadas mais caras reivindicações dos católicos da Primeira Repúbli-ca, a menina dos olhos da Igreja neste período da história eclesi-ástica do Brasil. Sem educação religiosa da mocidade, não háfuturo para a Pátria. Não se duvidava disso. Com denodo e atéintransigência, o episcopado nacional se mete na luta pró-ensinoreligioso nos estabelecimentos educacionais públicos. Minas tomaa dianteira nesta campanha, liderada pelo Arcebispo de Belo Ho-rizonte, Dom Cabral. Neste terreno, o antístite da Capital Minei-ra não cede um milímetro. Leva a luta até conseguir a brilhantevitória de 1928. Mas não se satisfaz com a implantação do ensi-no do Catecismo na escola oficial. Empenha-se, igualmente, paradotar sua diocese com escolas confessionais integralmente cató-licas. Além de várias escolas paroquiais, são fundados, um pou-co em toda parte, colégios católicos, normalmente dirigidos porCongregações Religiosas, muitas destas provenientes da Europa.O combate ao colégio americano, protestante, é contínuo, sen-do esse visto não apenas como uma ameaça para o catolicismo,mas um sério perigo para a própria nacionalidade. A partir de1930, surgem as primeiras iniciativas tendo em vista a influênciano campo dos estudos superiores, germes das futuras Universi-dades Católicas no Brasil. (MATOS, 1990, p. 96-97).

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5. O 5. O 5. O 5. O 5. O ADADADADADVENTOVENTOVENTOVENTOVENTO DDDDDAAAAA R R R R REVOLEVOLEVOLEVOLEVOLUÇÃOUÇÃOUÇÃOUÇÃOUÇÃO DEDEDEDEDE 30 30 30 30 30

A partir da década de 20, portanto, a Igreja procura umareaproximação com o Estado, não em termos de subordinação,mas de colaboração. A hierarquia eclesiástica mostra-se dispostaa colaborar com o governo na manutenção da ordem pública,mas exige em troca que o Estado atenda às suas reivindicaçõesde ordem religiosa. Essa aliança passou a ser mantida após arevolução de 1930, com a ascensão dos novos líderes políticos.Para conquistar o apoio da Igreja, não faltaram concessões explí-citas do governo revolucionário, como a autorização para o ensi-no religioso nas escolas públicas. (LIMA, p. 38-39)

Getúlio Vargas (1883-1954), que dirigirá os destinos da Naçãoa partir da Revolução de 1930, primeiro como chefe do Gover-no Provisório (1930-1934), depois como Presidente Constitu-cional (1934-1937) e ditador (1937-1945), ficará eternamentegrato a Dom Leme, que evitou o derramamento de sangue nadeposição de Washington Luiz (1870-1957) como presidenteda República em 1930. Durante o Estado Novo (1937-1945) –na realidade o regime ditatorial de Vargas – realizar-se-á um pac-to moral entre a Igreja e o Estado, garantia de uma posição privi-legiada do catolicismo no Brasil. Notável foi a bem sucedida cam-panha da Igreja para conseguir a implantação do ensino religiosona escola pública, em nível regional (Minas Gerais, 1928) e,pouco depois, em nível nacional (Decreto do Governo Federalde 1931). (MATOS, 1997, v. 2, p. 129)

“Para José Oscar Bozzo 1935 é o ano chave da década de 30. ARevolução de 1930 permite o desbloqueio de inúmeras forçassociais que se radicalizam mais profundamente em 1935, quan-do começa a se fechar o espaço, para estas forças popularesemergentes, ocupado cada vez pelo reagrupamento das classesdominantes e pela intervenção do Estado. (...) Eliminada a influ-ência tenentista sobretudo a mais radical e consolidado seu po-

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der político, a burguesia e a oligarquia estão com as mãos livrespara utilizar todo o peso do Estado para combater a pequenaburguesia radical, a classe operária, o comunismo e restabelecera ordem. A igreja se adapta ao projeto populista de Vargas, apre-sentando-se como força moderadora nas tensões e conflitos so-ciais da época. Defende a ordem social vigente, agora batizadapela Carta Magna de 34, e o princípio de obediência à Autorida-de estabelecida. Vê no comunismo o grande inimigo a ser com-batido, devido à sua inspiração materialista e espírito revolucio-nário. Neste contexto nascem as simpatias de significativos seto-res da Igreja no Brasil pelo movimento integralista, que trazia emseu programa o tríplice lema: Deus, Pátria e Família, valores ex-tremamente caros ao catolicismo da época”. (MATOS, 1990, p.261)

Esse período é também marcado por importantes reformaseducativas promovidas tantos em nível federal como estadual.Esse interesse e entusiasmo pela educação foi provocado pelomovimento da Escola Nova, tendo como principais líderesFernando Azevedo, Sampaio Dória, Lourenço Filho e AnísioTeixeira. Alguns líderes católicos manifestaram-se, desde o iní-cio, favoráveis a esse movimento renovador da escola, como MárioCasasanta, Jôntas Serrano e Everardo Backheuser. Mário Casasantatinha colaborado com Francisco Campos, na reforma da educa-ção em Minas, quando se introduziu o ensino religioso nas esco-las públicas. Escreveu uma obra sobre Dom Bosco, ressaltandosua atividade educacional. Tendo sido subdiretor técnico da Ins-trução no Rio, no tempo da Administração de Fernando Azeve-do, Jônatas Serrano foi em seguida nomeado membro do Conse-lho Nacional de Educação. Já em 1932 publicava um volumecom o título Escola Nova onde declarava explicitamente: O mo-vimento renovador da escola, a cruzada pela escola nova pode edeve continuar (continuar e não começar, pois foi brilhantemen-te iniciado faz algum tempo), e com a colaboração de todas asforças vivas do nosso meio. Essa adesão ao movimento não im-pedia que esse intelectual católico fizesse restrições a algumasidéias propugnadas pelos renovadores da escola, como o mono-pólio da educação pelo Estado e a escola mista. Formado pelaescola Politécnica do Rio de Janeiro em engenharia, EverardoBackheuser foi em seguida professor nesse mesmo Instituto. Em1932, quando o movimento de renovação pedagógica concreti-zou-se no Manifesto dos pioneiros da escola nova, foi ele um

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dos signatários do documento. Mas a posição católica mais am-pla foi de reservas, quando não de franca oposição, destacando-se nessa linha Alceu de Amoroso Lima. Posteriormente, ele ex-plica essa postura reacionária nestes termos, datando equivoca-damente o manifesto num ano antes: Em 1931, quando foi lan-çado o Manifesto dos Pioneiros, vinha eu de minha recente con-versão, com todo o ímpeto de cristão, senão novo pelo menosrevertido às suas raízes. Daí certas posições extremadas dos meusDebates Pedagógicos. O mesmo sucedeu, mas em sentido opos-to, com dois ou mesmo três dos mais destacados líderes dessarevolução pedagógica, como Anísio Teixeira, Lourenço Filho emesmo Everardo Backheuser, pouco mais tarde convertido aocatolicismo. (LIMA, p. 41-42).

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6. O6. O6. O6. O6. OSSSSS COLÉGIOSCOLÉGIOSCOLÉGIOSCOLÉGIOSCOLÉGIOS CCCCCAAAAATÓLICOSTÓLICOSTÓLICOSTÓLICOSTÓLICOS

O período de um século que antecede à fundação da AEC (As-sociação de Educação Católica) – 1844-1944 – é marcado inici-almente por um forte atrelamento da educação católica às dire-trizes eclesiásticas romanas, tendo como finalidade promoverprioritariamente o ensino da doutrina cristã. Essa postura auto-ritária e antiliberal da Igreja assumiu no Brasil a partir de 1844,quando Dom Antônio Ferreira Viçoso tomava posse da diocesede Mariana, iniciando o movimento dos Bispos reformadores ecom a fundação do colégio jesuíta, no Desterro, nesse mesmoano. A oficialização dos colégios nas primeiras décadas do sécu-lo XX aproximou paulatinamente a educação católica da realida-de brasileira, contribuindo também para isso a educação cívica eos exercícios militares prescritos pelo governo. Entre os princi-pais aspetos que caracterizam a educação nesse período podemser assinalados: a tônica espiritualizante, o rigorismo moral, amilitarização e o caráter autoritário da educação, a seriedade dis-ciplinar e a qualidade do ensino, bem como uma abertura paraeducação artística e esportiva. A ênfase na concepção da Igrejacomo sociedade destinada à salvação das almas, fez com quetambém a tarefa educativa fosse orientada para fazer dos alunoscatólicos praticantes, ou seja, comprometidos diretamente coma instituição eclesiástica. Simultaneamente, os jovens passam aconsiderar as pessoas vinculadas a outros credos religiosos comodestinados à perdição eterna. A prática dos exercícios militaresnos colégios reforçava nos alunos o espírito de ordem e discipli-na, limitando o estímulo à criatividade e à liberdade individual.Os desfiles, por sua vez, despertavam interesse e aplauso daspopulações urbanas pela educação católica, em conseqüência docunho patriótico que os envolvia. Um dos pontos que atraía muitasfamílias era a disciplina reinante nos colégios católicos, conside-rada por muitos pais como um elemento fundamental para a açãoeducativa. Mas é, sobretudo, a qualidade do ensino ministradonos colégios dirigidos por padres, freiras e irmãos religiosos, o

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aspecto explicativo do grande êxito da educação católica nesseperíodo e a multiplicação dos estabelecimentos católicos nas di-versas regiões do país, mesmo em cidades interioranas. A grandemeta da educação católica era a formação da classe dirigente dopaís. Por isso, a maioria dos colégios destinava-se tanto aos fi-lhos da tradicional aristocracia rural como da burguesia emer-gente. Foi muito grande nesse período a fundação de ginásios,iniciando-se nas últimas décadas o ensino superior e universitá-rio. A maior presença de professores leigos nos colégios católi-cos e o interesse do laicato pelo tema da educação marcam ofinal dessa etapa. A fundação da Conferência Católica Brasileirade Educação, realizando o primeiro congresso católico de edu-cação em 1944, pode ser considerada como o encerramentodesse ciclo. A derrocada dos regimes autoritários, ao final daSegunda Guerra Mundial, marca o início de uma nova era, abrin-do-se também a escola católica para as idéias da escola nova epara os novos projetos de uma sociedade liberal e democrática.Em 1945, com o término da Segunda Guerra Mundial, a tra-dicional perspectiva eclesiástica começou a ser abalada. O avan-ço das idéias democráticas na Europa, com profundas repercus-sões na política e na sociedade brasileira, obrigaram a Igreja arever suas posições. A Fundação da AEC, nesse mesmo ano,reflete ainda a mentalidade vigente anteriormente. (LIMA, p.21-23).

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A ESCOLA PÚBLICA DE TEMPO INTEGRAL

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7. O 7. O 7. O 7. O 7. O EXERCÍCIOEXERCÍCIOEXERCÍCIOEXERCÍCIOEXERCÍCIO DDDDDAAAAA CIDCIDCIDCIDCIDADADADADADANIAANIAANIAANIAANIA

Para que uma trama indecorosa e funesta como a conspira-ção contra a escola pública não volte mais a assombrar a socieda-de brasileira e a cidadania se torne realmente um direito univer-sal, é fundamental a implantação da Escola Pública de TempoIntegral, funcionando das 7 às 17 horas, abrangendo crechescomunitárias, pré-escola e ciclo básico infanto-juvenil (ensinofundamental e médio). Agregados às creches comunitárias, paracrianças com até 3 anos de idade, deve-se criar núcleos de apoioàs gestantes, dotados de toda infra-estrutura para atendimentopré-natal e acompanhamento dessas crianças e dos recém-nasci-dos. Esses espaços de cidadania, implantados prioritariamentenas favelas, contribuirão decisivamente para evitar que a gestaçãoe o nascimento no Brasil sejam considerados, entre os pobres,atividades de risco e o País continue apresentando altas taxas demortalidade materno-infantil. Neste particular é bom o Brasil ob-servar o que se passa em outros países, como a China comunistae a Coréia capitalista, por exemplo, que, para saírem do subde-senvolvimento, adotaram a mesma estratégia seguida pelos paísesdesenvolvidos, ou seja, investiram maciçamente na educação bá-sica e na assistência materno-infantil.

No setor educacional brasileiro a Escola Pública de TempoIntegral não é novidade, pois na década de 1940 o educadorAnísio Teixeira chegou a implantá-la no Estado da Bahia (EscolaParque de Salvador), seguindo experiência adquirida nos EstadosUnidos da América, e em passado recente o ex-Governador doEstado do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, tentou e fracassou naimplantação desse projeto nos seus dois mandatos (1983/86 e1991/94). Em Minas Gerais, a Constituição do Estado de 1989já prevê esse tipo de escola. Infelizmente essa disposição consti-tucional foi anulada na prática pelo ato das disposições consti-

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tucionais transitórias, que, no seu artigo 78, diz textualmente:“A implantação da jornada de ensino de oito horas, prevista noart. 198, I, dar-se-á de forma gradativa, conforme dispuser alei”. Apesar de sua importância, essa lei nunca foi elaborada.

A Escola Pública de Tempo Integral e creches comunitárias,funcionando das 7 às 17 horas, possibilitará a implantação deum currículo abrangente que contemple todos os aspectos ne-cessários à formação de cidadãos conscientes de seus direitos edeveres e com discernimento suficiente para contribuírem efeti-vamente no aperfeiçoamento da sociedade. Com esta medida,por-se-á fim ao genocídio infanto-juvenil praticado contra aque-les que não nasceram em berço de ouro e sim em favelas, onde,ou são estrangulados no nascedouro pela violência aí imperante,ou sufocados dentro desse ovo de miséria, pois são incapazes deromper sua dura casca – a ignorância –, a qual impede de eclodirempara a vida cidadã. Esse atentado à cidadania praticado pela elitecontra os excluídos está evidenciado na atual política educacio-nal que não visa dar aos brasileiros igual oportunidade de ensi-no, mas discriminá-los pelas suas origens e acentuar as diferen-ças entre as classes rica e pobre, ao permitir a existência de doistipos de escolas, uma pública e outra privada, diferenciadas entresi pela qualidade. Outra conseqüência imediata da adoção dohorário integral nas escolas, mesmo que de forma gradativa e noseu início prioritariamente implantada nas regiões metropolita-nas, onde o problema da infância e adolescência é mais agudo,será a retirada dos meninos e meninas que perambulam pelasruas de nossas cidades sem nenhuma perspectiva futura e utiliza-das como iscas para as mais variadas formas de “pilantropia” queproliferam pelo País.

As atividades culturais e esportivas

Ao lado dessa questão fundamental que é o aprendizadoda cidadania, outras questões não menos importantes para a for-mação da criança e do adolescente encontram espaço na EscolaPública de Tempo Integral. Neste caso estão as atividades cultu-rais, esportivas e profissionais, as quais hoje em dia são ofereci-

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das aos alunos das escolas públicas de uma maneira aleatória emuitas vezes dependentes do apoio das chamadas ONGs ou ini-ciativas de entidades empresariais, como os Amigos da Escola daRede Globo de Televisão. Todas essas iniciativas e outras maispodem, com propriedade, serem incorporadas ao currículo daEscola Pública de Tempo Integral, deixando o caráter assistencialistae pontual que as caracterizam, para tornarem-se matérias obriga-tórias e universais. A jornada plena ensejará ainda, ao lado deuma formação intelectual adequada, a implantação do ensinoprofissionalizante em todas as escolas do País, para atender àsnecessidades das comunidades onde o aluno vive, seja urbana ourural, e capacitá-los para disputarem o mercado de trabalho lo-cal, regional ou nacional e treiná-los em afazeres úteis no seu dia-a-dia.

O ensino profissionalizante

Nesse contexto, o Sistema S (SENAI, SESI, SENAC, SESC,etc.) joga um importante papel como modelo para implantaçãodos cursos profissionalizantes nessa escola, inclusive sendo porela absorvido e deixando de ser uma atividade isolada e fora daescola pública. Para se ter uma idéia do que representaria a incor-poração do Sistema S pela Escola Pública de Tempo Integral, bas-ta lembrar que o orçamento da Confederação Nacional da Indús-tria (CNI), que administra o SENAI e o SESI, é de cerca de R$ 4bilhões, valor equivalente à verba anual do Fundo de Erradicaçãoda Pobreza. Aqui cabe uma pergunta: por que o governo nãotoma essa providência? A resposta pode estar no corporativismodos empresários, como informa o Jornal Estado de Minas (29/7/2001, p. 6):

Além de ter um orçamento anual em torno de R$ 4 bilhões, aCNI também desperta o interesse do empresariado por ser umaentidade com grande poder de pressão sobre o Congresso Nacio-nal e, principalmente, junto ao governo Federal. Fundada na dé-cada de 30, por Getúlio Vargas, a Confederação é a responsávelpelo sistema “S”, que engloba o Serviço Social da Indústria (Sesi)e o Serviço Nacional de Aprendizado Industrial (Senai). Todo

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esse complexo é movido pelo desconto compulsório de 2,5%das folhas salariais das indústrias brasileiras e o superintendentedo Sesi e o diretor-geral do Senai são nomeados pelo presidenteda CNI.

O combate à fome

A absorção pela Escola Pública de Tempo Integral das di-versas atividades hoje existentes em entidades públicas e priva-das, para atendimento da infância e juventude, evitará a disper-são de recursos e esforços permitindo que sejam concentradosnum só objetivo. Então, será só uma questão de tempo, de bomsenso e planejamento para que essa escola cubra todas as neces-sidades da infância e da juventude, acabando conseqüentementecom o drama dos meninos e meninas de rua, com o trabalhoinfantil, com as questões relacionadas com drogas e criminalidadeinfanto-juvenil e, acima de tudo, permitirá que se lhes dê umaassistência médica e odontológica adequada e uma alimentaçãosadia e balanceada, própria para cada faixa etária, eliminandoassim a fome que assola significativa parcela dos escolares. Nesteparticular é bom lembrar que esse tipo de escola dispensa pro-gramas como o Fome Zero ou Bolsa Família do Governo Federal,pelos menos onde ela for instalada, pois é na faixa etária por elaabrangida que se concentra o maior problema da fome no País.

A recuperação de menores infratores

A Escola Pública de Tempo Integral, pelas suas caracterís-ticas, pode também contribuir de forma decisiva na recuperaçãodos chamados menores infratores, confinados pela sociedade nasFundações Estaduais de Bem-Estar do Menor ( FEBENs) e outrosmal afamados estabelecimentos de detenção, inclusive no sistemaprisional, onde vegetam à espera de retornarem à criminalidade,pois como diz o dito popular: “A ociosidade é a mãe de todos osvícios”. Com esta participação será possível estabelecer uma abor-

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dagem diferente daquela adotada até agora, ou seja, colocá-losem colégios profissionalizantes em vez de prisões disfarçadas em“centros de recuperação”. Uma solução, a curto prazo, nessesentido, está em se promover uma associação entre o Sistema S,os Colégios Militares e a Conferência Nacional dos Bispos doBrasil (CNBB), para a criação de Colégios Profissionalizantes, nosmoldes dos Colégios Militares, para recuperação de menores in-fratores de ambos os sexos. Dessa associação, o Sistema S, comsua vasta experiência no ensino profissionalizante, os ColégiosMilitares, famosos pela disciplina imposta aos seus alunos, e aIgreja Católica, com sua longa tradição na administração de inter-natos e externatos infanto-juvenis, muitos dos quais agoradesativados, poderá surgir uma escola modelo de tempo integral– os Colégios Profissionalizantes – capaz de recuperar os meno-res infratores para a vida cidadã.

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8. O8. O8. O8. O8. OSSSSS RECURSOSRECURSOSRECURSOSRECURSOSRECURSOS NECESNECESNECESNECESNECESSÁRIOSSÁRIOSSÁRIOSSÁRIOSSÁRIOS

Contudo, para que a Escola Pública de Tempo Integral setorne uma realidade, são necessários recursos financeiros consi-deráveis, pois além de sua implantação, já em si um grande desa-fio, tem-se também sua manutenção. Para atingir este objetivo, asprioridades orçamentárias da União, Estados e Municípios terãode ser revistas. Além disso é necessário a adoção de uma posturade austeridade que evite gastos em construções caras, como osCIEPS do Rio de Janeiro, que podem comprometer sua dissemi-nação. O que mais importa na Escola Pública de Tempo Integral éo currículo e a qualidade do corpo docente e não o espaço ondeserá instalada. Este pode ser até um galpão, desde que as premis-sas básicas sejam atendidas, ou seja, a qualidade do ensino e aquantidade desse tipo de escola. Para satisfazer estas demandas,deve-se lançar mão de todas as receitas extra-orçamentárias dis-poníveis, como os royalties oriundos da exploração petrolíferada plataforma continental, hoje apropriados pelos estados e mu-nicípios litorâneos. É bom frisar que este recurso natural perten-ce a toda nação e não deve servir a este ou aquele Estado e sermotivo de disputas judiciais, como ocorre no sul do País, dada aimprecisão dos limites geográficos dessas reservas.

Outra fonte de recursos extra-orçamentários para implan-tação e manutenção da Escola Pública de Tempo Integral são osCassinos, que o Governo Federal pode franquear em toda a Cos-ta do Sol, vale dizer, da cidade do Rio de Janeiro às capitaisnordestinas, para atrair turistas do mundo todo. A alternativadoméstica para esses Cassinos de Luxo, mais voltados para atrairturistas do exterior e divisas fortes, são os Cassinos Eletrônicos,os quais somente poderiam operar os chamados jogos eletrôni-cos e bingos com máquinas e equipamentos fabricados no País,pois sua finalidade maior será arrecadar impostos e gerar empre-

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gos. Para evitar a ação nefasta das “máfias”, a autorização parafuncionamento de cassinos seria privativa do Governo Federal.Outros recursos auferidos com jogos, como as loterias, tambémseriam direcionados para essa escola.

O fim da hipocrisiaassistencialista empresarial

Mas uma medida que realmente contribuirá para que hajarecursos financeiros suficientes para bancar a implantação e ma-nutenção da Escola Pública de Tempo Integral será a eliminaçãoda fraude fiscal e sua versão legal, a chamada elisão fiscal, eufe-mismo utilizado para sonegar impostos e, principalmente, o fimou, pelo menos, um maior controle das isenções e outros in-centivos fiscais concedidos a torto e a direita, sem se levar emconta as obrigações sociais do Estado. Neste particular, é neces-sária uma reavaliação do papel do chamado Sistema S como ins-trumento de justiça social, pois, fundado há mais de sessentaanos quando o processo de industrialização dava seus primeirospassos e os sindicatos começavam a aparecer, sua atuação nãomais responde às necessidades da sociedade atual que necessitade concentrar todos os esforços e recursos financeiros na recu-peração da escola pública, tornando-a capaz de ministrar um en-sino de qualidade, inclusive o profissionalizante. Nesse contex-to, o fim das contribuições compulsórias para o Sistema S, porparte da indústria, comércio, agricultura e sistema de transporterodoviário, é o caminho mais viável para sua reformulação, poiso montante desse imposto disfarçado cobrado pela própriainiciativa privada é muito grande, permitindo assim a existênciade um sistema corporativo de apropriação de tributo sobre oqual o Estado não tem nenhum poder de decisão. Esta liberdadepermite que esse “dízimo” seja utilizado como instrumento depressão sobre o próprio Estado para que o empresariado defen-da seus interesses corporativos, constituindo por isso mesmonuma fonte permanente de corrupção dos poderes constituídos.

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Com essa mesma filosofia moralizadora, é necessárioreavaliar também as isenções concedidas às igrejas de diversasconfissões; isenções estas que deveriam ser concedidas apenaspara obras assistenciais, taxando normalmente os recursos apli-cados no sistema financeiro ou em outros setores da economia.Além disso, um controle rigoroso deve ser estabelecido paramonitorar o fluxo de dinheiro proveniente dos chamados dízimos,que, por falta de regras claras, têm sido alvo de desconfiança porparte das autoridades, que se espantam com o volume de dinhei-ro arrecadado, duvidando inclusive de sua origem, como informao Jornal Estado de Minas (12/7/2005):

Com base em denúncia anônima, agentes da PF surpreenderamontem, no aeroporto de Brasília, o deputado federal João BatistaRamos da Silva (PFL-SP) com sete malas de dinheiro, em notas deR$100, R$50, R$20, R$10 e R$5. Bispo e presidente da IgrejaUniversal do Reino de Deus, ele tentava embarcar para Goiânianum jato executivo, com dois pastores e duas mulheres.

No dia seguinte (13/7/2005) esse mesmo jornal informava:

Onze malas com dinheiro e cheques foram interceptadas pelaPolícia Federal domingo no aeroporto da Pampulha. Elas eramtransportadas pelo deputado estadual Pastor George e o verea-dor de BH Pastor Carlos, ambos do PL e da Igreja Universal doReino de Deus.

Além dessas medidas, outras de caráter geral devem seradotadas, como a obrigatoriedade por parte dos bancos de for-necerem à Receita Federal, para cruzamento com as declaraçõesde rendimentos, extratos das movimentações financeiras de to-dos os correntistas, pessoas físicas e jurídicas. Esta simples me-dida acabaria com o grosso da sonegação fiscal, inclusive elimi-nando os chamados “laranjas” e empresas fantasmas que servemde biombo para todo tipo de falcatruas, e permitiria a eliminaçãodo CPMF, um imposto considerado necessário paramonitoramento das transações financeiras, mas que tem datamarcada para acabar.

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A divisão de atribuições

Além dessas medidas haverá também necessidade de umadivisão de atribuições, ficando os municípios responsáveis pelascreches comunitárias e o atendimento às gestantes, os estadosfederados pela Escola Pública de Tempo Integral cobrindo todo oensino básico (pré-escola, fundamental e médio) e o GovernoFederal pelo ensino universitário. Nesse novo modelo caberia aoGoverno Federal tão-somente o gerenciamento das universida-des públicas, transferidas do Ministério da Educação para o Mi-nistério de Ciência e Tecnologia, e aos municípios o encargo deadministrar as creches comunitárias, o Sistema Único de Saúde(SUS) e os Centros de Atendimento às Gestantes. Ao Ministérioda Educação caberia a tarefa de monitorar o ensino básico emtodo o País e dar suporte técnico e financeiro aos Estados ecobrar resultados, segundo uma programação previamenteestabelecida.

Com essas medidas, poder-se-á reordenar o sistema edu-cacional e acabar com a mixórdia em que meteram o ensino pú-blico do País, no qual a União, os Estados e os Municípios, parafugir às responsabilidades mal definidas, praticam um jogo deempurra em que os excluídos são as maiores vítimas. A seguintereportagem do Jornal Estado de Minas (4/2/2001, p. 29),intitulada Acesso proibido à educação, dá uma idéia dessa situa-ção caótica:

“A partir desta semana, 4,7 milhões de estudantes do ensinobásico (antigos pré-escola, 1º e 2º graus) retornam para a sala deaula das 18.505 escolas mineiras. (...) Então tudo corre às milmaravilhas no ensino público? Basta percorrer distritos da zonarural para descobrir a resposta: escola, professor, merenda e li-vros não são suficientes para garantir uma educação de qualida-de. Falta um tópico – garantido pela Constituição Federal, porémcarente de recursos – que está longe de ser um mero detalhe.Falta transporte escolar. Sem ele, não adianta ter a vaga. A crian-ça simplesmente não tem como chegar à sala de aula. De quem éa culpa? A Constituição garante, no artigo 208, o direito dosestudantes de ensino fundamental (antigo 1º grau) à alimenta-ção, livros didáticos, saúde e transporte, sem citar os responsá-

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veis pelo oferecimento dos benefícios. (...) Os municípios assu-miram o ônus do transporte de alunos por tabela. Nenhuma le-gislação delega a eles essa responsabilidade. Mas a Lei de Diretri-zes e Bases para a Educação Nacional (LDB) obrigou as prefeitu-ras a manter o ensino fundamental, e há sanções para quem nãogarantir toda a criança na escola. E garantir, não é apenas dar amatrícula, mas efetivamente levar os alunos para a sala de aula.(...) O transporte escolar não é o único patinho feio da educa-ção. Aliás, esse fato torna ainda mais dura a briga pelo financia-mento específico para a área. Com exceção do ensino fundamen-tal, financiado pelo Fundef (Fundo de Manutenção do EnsinoFundamental e Valorização do Magistério), nenhum outro nívelde educação tem verba garantida. Constitucionalmente, estadose municípios são obrigados a investir 25% das receitas em edu-cação, sendo que 15% devem ser investidos no Fundef. O di-nheiro do fundo é redistribuído entre os municípios e estadossegundo o número de crianças matriculadas no ensino funda-mental, mas não costuma ser suficiente para cobrir as despesasdo antigo 1º grau. Por isso, as prefeituras ainda recorrem aorestante do dinheiro da educação (10% das receitas municipais).Em nível federal, a briga é ainda mais acirrada. Os estados come-çam a exigir uma contra-partida para o ensino médio, atribuído aeles pela LDB. Esse nível de ensino cresce vertiginosamente emnúmero de matrículas, mas a demanda reprimida ainda é enorme.Como os estados contribuem para o Fundef mas recebem muitopouco, uma vez que têm um menor número de matrículas noensino fundamental, os secretários começam a exigir a transfor-mação do Fundef em Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Edu-cação Básica), para que os recursos possam ser aplicados noensino médio. Mas aí, o MEC deveria injetar mais recursos. Ossecretários municipais, entretanto, fazem pressão pela regulamen-tação. Eles se sentem duplamente penalizados, já que assumemos custos e a responsabilidade pelo transporte escolar dos alu-nos que estudam também nas escolas estaduais”.

Mas o descalabro da escola pública não pára por aí, comomostra a tese de doutorado da Profª Lívia Fraga Vieira comentadapelo Jornal Estado de Minas (9/8/2001, p. 6) em editorialintitulado Escândalo da pré-escola:

O que houve para o Estado de Minas ficar tão atrasado nesseimportante segmento do ensino? A doutoranda disse que o pro-

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cesso de municipalização do ensino de primeiro grau – carro-chefe do ministro Paulo Renato Souza – foi perverso em nossoEstado. Um processo que está sacrificando milhares de crianças,as mais pobres e carentes. A Minas que até os anos 60 era refe-rência educacional no setor público, com escolas como as doInstituto de Educação, Leon Renault e Bueno Brandão, e outrosem várias cidades, voltou à estaca zero. As reformas que vieramcom o Governo FHC sepultaram a tese dos pioneiros da EscolaNova (1932), que exigia escola pública gratuita e obrigatória,para que todas as crianças tivessem oportunidades iguais. Nopapel, tudo bem: a Carta Magna prescreve que educação é direi-to de todos, dever do Estado, promessa que se repete na Lei deDiretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), mas só para cons-tar. Em BH, 56 mil crianças, de 0 a seis anos, estão fora da pré-escola.

Diante de uma situação como essa, na qual os poderesconstituídos, federal, estadual e municipal, além de entidades par-ticulares, procuram, por meio de medidas pontuais e isoladas,intervir no ensino em todos os seus níveis para suprir defici-ências crônicas e falta de planejamento, a Escola Pública de Tem-po Integral se coloca como o instrumento adequado paraequacionar e solucionar os problemas existentes e proporcionaraos excluídos de todos os matizes o pleno exercício de sua cida-dania.

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9. O9. O9. O9. O9. OSSSSS EXEMPLOSEXEMPLOSEXEMPLOSEXEMPLOSEXEMPLOS DEDEDEDEDE B B B B BELOELOELOELOELO H H H H HORIZONTEORIZONTEORIZONTEORIZONTEORIZONTE

A ação de um vereador

Um exemplo desse tipo de ação isolada e pontual é repor-tado pelo Jornal Estado de Minas, em matéria intitulada Luta pelaescola integral (17/10/2002, p. 22):

A Câmara Municipal de Belo Horizonte aprecia amanhã o veto doprefeito Fernando Pimentel (PT) ao Projeto de Lei 51/2001, dovereador Arnaldo Godoy (PT), que estabelece a jornada em tem-po integral nas escolas municipais de ensino fundamental. O pro-jeto, aprovado por unanimidade em dois turnos, foi vetado peloprefeito em 2 de julho, sob alegação de falta de recursos. Atual-mente, a rede municipal de ensino de Belo Horizonte possui 180mil alunos em 182 escolas, abocanhando 32% do orçamento domunicípio. Para viabilizar a escola em tempo integral, seria neces-sário praticamente duplicar o número de professores e escolas, enão há cálculos do impacto sobre o orçamento. Mas o vereadorArnaldo Godoy está confiante na derrubada do veto, o que obri-garia a Secretaria Municipal da Educação a iniciar a extensão dajornada escolar já no próximo ano. Não sou irresponsável aoponto de propor a mudança da noite para o dia. Caberia aoExecutivo elaborar um projeto de expansão adequado à sua ca-pacidade financeira, priorizando sempre as comunidades maiscarentes, onde as crianças estão expostas a maior risco, explica.

Em 5/11/2002, esse mesmo jornal publicava a seguintenotícia (p. 26):

O Diário Oficial do Município publica, hoje, a lei que institui aescola integral em Belo Horizonte. Ontem, o presidente da Câ-mara, Sérgio Ferrara (PDT), promulgou a determinação, propos-

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ta pelo vereador Arnaldo Godoy (PT) e vetada pelo prefeitoFernando Pimentel (PT). Em outubro, os parlamentares derruba-ram o veto. Como o projeto de lei não foi sancionado pelo pre-feito, o presidente do Legislativo promulgou o texto, que aindapode ser alvo de recurso judicial por parte do Executivo.

Finalmente, em 10/11/2002, o Estado de Minas informa-va a vitória da Escola Integral (p. 23), fato que pode sinalizar aretomada de uma luta iniciada há setenta anos pelos pioneiros daEscola Nova:

A Escola Municipal Humberto Castelo Branco, no Fernão Dias,região Nordeste de Belo Horizonte, será a primeira instituiçãoem tempo integral do município. A decisão será oficializada nospróximos dias e é o primeiro passo para cumprir a lei, sanciona-da pela Câmara Municipal há 20 dias, que obriga a prefeitura agarantir nove horas diárias de escolarização para todos os alunosdo ensino fundamental, meta a ser cumprida em oito anos. Aescola em tempo integral do Fernando Dias deverá começar afuncionar em meados do próximo ano. Até lá, a EM HumbertoCastelo Branco vai ser desativada, os 500 alunos que atualmenteestudam no prédio devem ser transferidos para a Escola Munici-pal José Calazans e os professores remanejados. Precisamosreadaptar o prédio para o atendimento em tempo integral. É pre-ciso criar salas multiuso, uma boa quadra e uma cozinha apta aservir refeições e não apenas merenda, explica a secretária muni-cipal da Educação, Maria do Pilar Lacerda. Antes de definir pelatransformação da EM Humberto Castelo Branco em educandáriode tempo integral, a prefeitura cogitou impetrar uma Ação Diretade Inconstitucionalidade (Adin) contra a lei, de autoria do ve-reador Arnaldo Godói (PT), alegando que não há recursos para aproposta. Segundo a secretária, embora a falta de previsão derecursos justificasse a Adin, a prefeitura preferiu não apelar parao instrumento. A prefeitura sempre teve intenção de expandir otempo de permanência das crianças nas escolas, porque o Brasiltem uma das menores jornadas escolares do mundo. Mas, ape-nas com recursos dos municípios isso não é possível. Mesmoassim, em vez de impetrar a Adin, resolvemos criar uma escolamodelo, para começarmos a oferecer a educação em tempo inte-gral e com isso termos como planejar o atendimento e a expan-são, explicou.

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A ação de um grupo de professores

Para comprovar a importância e a urgente necessidade dese implantar a Escola Pública de Tempo Integral para resolver osgraves problemas sociais do País, basta recorrer à reportagem deTacyana Arce, do Jornal Estado de Minas (9/4/2003, p. 18),intitulada Escola integral sai do papel na raça:

A escola em tempo integral, garantida em lei desde o início doano em Belo Horizonte, mas ainda longe de virar realidade narede municipal, começa a sair do papel na base da raça e dacoragem. Cansados de ver o aluno chegar ao quinto ano de es-colaridade sem dominar a leitura e a escrita, professores das es-colas municipais Francisco Magalhães Gomes e Acadêmico VivaldiMoreira resolveram bancar, por conta própria, a dupla jornadapara cerca de 100 criança. O número de alunos atendidos é irri-sório diante do total de 180 mil matriculados na rede municipal,mas é o início de um movimento que pretende garantir educaçãode qualidade à população. Não adianta fechar os olhos. Algumasde nossas crianças, em função da situação social, precisam de umtempo maior na escola para aprender. Ou a gente enfrenta issoou vamos continuar vendo um monte de adolescentes sem saberler, afirma o vice-diretor da EM Francisco Magalhães, José Mau-rício Diniz. Para manter duas turmas em regime integral, a escolamobilizou todos os professores. Eles aceitaram diminuir o nú-mero de horas destinadas à elaboração dos projetos pedagógi-cos para passar mais tempo em sala de aula, cobrindo os ho-rários que caberiam aos professores Márcia Maria Araújo eRonaldo dos Santos, que foram remanejados para lecionar paraas turmas especiais. Antes de optar pelo regime integral, tenta-mos fazer um atendimento individualizado durante o próprio tur-no do aluno, mas não deu certo. Com dois meses de aulas, játemos vários progressos. Mas a situação ainda é precária. Preci-samos de professores de música, teatro e artes para tornar aescola atrativa para os alunos. Boa vontade tem limite, avaliaMárcia. Em apenas dois meses de trabalho, os resultados come-çam a ser visíveis. O caso de Rafael Yuri dos Santos, de 8 anos,emociona os professores. No início do ano, o garoto passavamal na escola todos os dias, tamanho era o pavor dos estudos.Ele recusava-se a tentar escrever. Tinha colocado na cabeça queisso era a coisa mais difícil e penosa do mundo, lembra Ronaldo.

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Hoje, Rafael adora mostrar para todos os visitantes as históriasque escreve. Ainda não é possível compreender o que os traçosdizem, mas, segundo o educador, decifrar as letras será uma ques-tão de tempo. Ele já quer escrever e já elabora as histórias nacabeça. Esse é o primeiro passo, avalia. Mãe de Lucas Gonçalves,de 9, a vendedora Denise Matos Gonçalves, de 30, chora todasas vezes que fala do passado escolar do filho. Eu sabia que elenão estava aprendendo e ficava desesperada. O que ia ser domeu filho? Eu não sabia como ajudar, xinguei, bati, mas ele nãoaprendia. Quando me falaram que ele ia ficar o tempo inteiro, deigraças a Deus, mas não esperava resultado tão rápido. A primeiravez que ele leu, eu chorei. E choro todas as vezes que perceboque ele aprendeu mais, conta.

Reflexão final

Para concluir, uma homenagem aos sonhadores da EscolaNova na pessoa de Anísio Teixeira, que conseguiu, embora demaneira fugaz, implantar a Escola Integral na Bahia; ao Governa-dor Leonel Brizola e Darcy Ribeiro pelas duas tentativas, fracassa-das, de realizá-la no Rio de Janeiro, e aos idealistas de Belo Ho-rizonte por persistirem nesse caminho, a única via pacífica parapromover o resgate da dívida social e formar cidadãos para oBrasil do terceiro milênio. Tudo isso nos leva a crer que é chega-da a hora de se fazer a revolução que Vargas não fez, pois se ativesse feito há setenta anos nossa realidade hoje seria bem dife-rente, evidentemente para melhor. Portanto, senhores políticos egovernantes, mãos à obra, pois não há mais tempo a perder.

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LLLLLIVROIVROIVROIVROIVRO III III III III III

ACORDA, BRASIL

UM ALERTA AOS POLÍTICOS E GOVERNANTES

SOBRE A NECESSIDADE DE UM PROJETO NACIONAL

PARA O PAÍS FAZER FACE AOS DESAFIOS DO

TERCEIRO MILÊNIO

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PPPPPREFÁCIOREFÁCIOREFÁCIOREFÁCIOREFÁCIO

A história registra um impasse – a lenda do “Nó Górdio” –que retrata a situação atual do Brasil, que patina no subdesenvol-vimento por falta de um projeto nacional que fixe diretrizes paradesenvolver todas as suas potencialidades e superar os obstácu-los que travam o seu desenvolvimento econômico e social. Esseestado de coisas é o resultado da tibiez de uma classe políticaque coloca seus interesses acima dos da nação e a ação inconse-qüente de governantes falastrões que, ao invés de agirem de for-ma inovadora e radical na solução dos problemas do País, vivemfazendo discursos vazios como se a retórica resolvesse algumacoisa.

Segundo a Enciclopédia Delta Larousse,

“na mitologia grega, tornada universal no mundo romano, a vidaera o fio que Cloto fiava, Láquesis dobava e Átropo cortava. Nofio da vida o nó representa a interrupção, o obstáculo. [...] Foino templo de Zeus, localizado em Górdios, às margens do rioSangário, que Alexandre cortou com golpe de espada o ‘nógórdio’, do qual dizia um oráculo que quem o desatasse se tor-naria o senhor da Ásia”.

O jornalista Mário Fontana, em sua coluna no Jornal Esta-do de Minas (4/4/2001, p. 1), esclarece essa questão:

A história é a seguinte. No ano 333 antes de Cristo, Alexandre,o Grande, na sua marcha para o Oriente, chega à cidade deGordium, na Anatólia, capital da Frigia. Lá o rei Midas lhe apre-senta o carro de guerra do rei Gordius (pai de Midas), em quehavia uma lança presa ao carro por um nó que ninguém conse-guia desatar: o nó górdio. Dizia a profecia que quem conseguissedesatar o nó conquistaria a Ásia. Alexandre tenta por diversasvezes desatar o nó, mas não consegue. Vendo que era tarefaimpossível, arranca de sua espada e corta o nó ao meio, dizendo:Está desatado. E parte em conquista da Ásia.

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São muitos os “nós” que mantêm o Brasil atado à miséria eà opressão e identificá-los e “desatá-los” é tarefa de todos osbrasileiros que querem construir um país mais justo e fraterno,principalmente os políticos e governantes que foram eleitos paraisso. Um bom começo seria implantar a Escola Pública de Tem-po Integral, um nó que, se desatado, acabaria de vez com apilantropia praticada pela elite, por intermédio das chamadasOrganizações Não-Governamentais e toda sorte de expedientescaritativos voltados para a infância e juventude carentes. Esta pos-tura assistencialista e hipócrita, que no passado era financiadapor eventos beneficentes patrocinados pelas socialites, comobingos e jantares, e que tinha um caráter meramente social, agoravirou um negócio empresarial bastante rentável, verdadeiramenteuma festa, pois descobriram uma fonte inesgotável para financiá-la, o dinheiro público, via deduções do Imposto de Renda. Éfazer cortesia com dinheiro alheio aproveitando-se da omissãodo poder público no cumprimento de suas obrigações, no caso,a escola pública. Outro “nó” que precisa ser desatado é a refor-ma do Judiciário, que só se tornará efetiva se for feita uma revi-são da Constituição para acabar com as chamadas cláusulaspétreas, eufemismo que protege toda sorte de privilégios dessearrogante poder. Este assunto é tratado neste livro, que começacom uma abordagem do Planejamento Estratégico, seguida dealguns comentários sobre a Geopolítica Continental, e termi-nando com reflexões sobre a Guerra Biológica, discussões estasque têm a finalidade de incentivar a classe política a pensar eformular um Projeto Nacional para o Brasil do século XXI.

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1. O 1. O 1. O 1. O 1. O PLPLPLPLPLANEJANEJANEJANEJANEJAMENTOAMENTOAMENTOAMENTOAMENTO ESTRAESTRAESTRAESTRAESTRATÉGICOTÉGICOTÉGICOTÉGICOTÉGICO

O planejamento estratégico é a arte de se construir o ama-nhã, transformando a natureza das coisas presentes. Em outrostermos, planejamento estratégico é o instrumento que osgovernantes têm para realizar os objetivos maiores da nação eevitar obstáculos à sua execução, assim como a bússola é o ins-trumento de orientação dos navegantes, para atingirem com se-gurança os portos de seus destinos e evitarem acidentes de per-curso. As lições de planejamento estratégico deixadas pelos gran-des impérios são como balizas para sinalizar os caminhos a serempercorridos por sociedades que pretendem ser fortes e podero-sas. Um dos pilares de sustentação do Império Romano, porexemplo, que prosperou por mais de mil anos, era a extensa redede estradas planejada para ligar Roma aos seus domínios. NaAmérica do Sul, um outro império também prosperou duranteséculos, e como o Império Romano, construiu uma eficiente redede estradas que ligava os seus pontos mais distantes ao centro decomando. Trata-se do Império Inca, cujo legado em estradas ser-ve às populações andinas até os dias de hoje. O Império Britâni-co, na Índia, é outro exemplo da importância de um planejamen-to para atingir objetivos estratégicos. Este império, que tomou oImpério Romano como modelo, prosperou e se firmou graças auma extensa malha ferroviária que cobria todo o continente indi-ano, a qual garantiu não só uma eficiente exploração desses do-mínios, como também seu efetivo controle. Mas não são só essescasos que merecem ser citados, pois o melhor exemplo de plane-jamento estratégico no passado foram as descobertas levadas acabo por Portugal ao longo dos séculos XV e XVI, as quais nãosó lhes trouxeram ganhos significativos, como mudaram os ru-mos da civilização.

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Na atualidade o melhor exemplo de planejamento estraté-gico é dado pela China comunista, que, em menos de trinta anos,não só erradicou a fome milenar de seu povo, como também seposiciona para ocupar a liderança das potências do Terceiro Mi-lênio, fato que pode ser avaliado pelos seguintes comentários dojornalista Antônio Machado, em sua Coluna “Brasil S/A”, no Jor-nal Estado de Minas (9/11/2005, p. 15):

“Graças às reformas aplicadas desde 1978 pela ditadura comu-nista chinesa para modernizar a economia, o PIB chinês cresce auma média anual acima de 9% ao ano – dois pontos de percenta-gem maior que o crescimento brasileiro de 1950 a 1980. É umacoincidência, mas emblemática do tempo perdido: a China acor-dou quando o Brasil se prostou. [...] Que a China passasse acrescer a 8% ao ano, e não a 9,5% como nos últimos 27 anos,e a renda per capita, hoje de US$ 5.300, dobrará a cada noveanos. Em 2031, com população projetada em 1,45 bilhão, arenda per capita chegará a US$38 mil, a mesma dos EUA, comseus 297 milhões de habitantes, no ano passado. A ser mantidoo padrão de consumo verificado nos EUA – segundo estudo doEarth Policy Institute, ONG criada pelo respeitado pensador eeconomista Lester Brown, em Washington –, o mundo entraránuma série crise. O colapso de recursos naturais se tornaria ine-vitável, segundo Lester Brown, que não é discípulo de ThomasMalthus, economista inglês do século 19, considerado o primei-ro professor de economia política da história. Malthus acreditavaque havia um limite para o crescimento da população e da rique-za. Brown trabalha com dados objetivos. Exemplo: mesmo consi-derando ganhos de produtividade, o suprimento do consumo degrãos pela China, mantido o padrão atual, exigiria a derrubadatotal da floresta amazônica. Hoje, o consumo chinês de grãos éde 382 milhões de toneladas, contra 278 milhões nos EUA. Em2031, a China consumiria 67% da produção mundial, que seriade 2 bilhões, deixando quase nada para o resto. Das cincocommodities básicas – grãos, carne, carvão, aço e óleo – o con-sumo chinês só não eclipsou o dos EUA, o maior do mundo, nocaso de petróleo. Impressiona a velocidade do crescimento. Àépoca da Revolução Cultural, anos 70, houve casos de canibalis-mo. Carne estava fora do cardápio chinês até 1974. Hoje, con-some 64 milhões de toneladas, contra 38 milhões nos EUA,pátria do hambúrguer. De petróleo, queima 7 milhões de barris

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por dia; os EUA, maior consumidor mundial, 20 milhões. NosEUA há três carros para quatro habitantes num total de 226milhões de veículos. Na China, apenas 24 milhões. Mas as ven-das dobram a cada dois anos. Nesse ritmo, em 2031 terá 1,1bilhão de carros e queimará 99 milhões de barris/dia de óleo, 20milhões mais que a produção mundial. Sozinho, o país respon-derá por toda a atual emissão de carbono do mundo. Exemplosdesse tipo têm para todo gosto. China produz e consome maiscelulares, geladeiras e televisores que qualquer país. Só em PCsestá atrasada, mas o número dobra a cada 28 meses. A Índia vaina mesma trilha: o PIB cresce a 7% ao ano e sua população pas-sará a da China em 2030. Haverá oferta para tanta gente? Corterápido para o Brasil: o que se faz aqui frente a tais transforma-ções, afora discutir o mensalão?”.

Sistema de TransportesTrem de Grande Velocidade

O Brasil, pela sua dimensão territorial e pelas condiçõesextremamente favoráveis da topografia, deve eleger como objeti-vo estratégico para exploração racional de seus recursos naturaise a ocupação planejada de seu território a implantação de umextenso e eficiente sistema de transportes de cargas e passagei-ros, no qual as ferrovias ocupem um lugar de destaque, utilizan-do para isso dos mais avançados recursos tecnológicos existen-tes. Como suporte desse sistema, deve-se investir no transportemarítimo e rodoviário, limitando-se à utilização das hidrovias aoRio Amazonas e alguns de seus afluentes, pois os danos ao meioambiente nesse tipo de transporte são irreversíveis. Um exemplodesta ameaça é o que ocorre no Rio Paraguai com o transporte desoja e outras cargas, como informa a Revista Época (n. 155, 7/5/2001, p. 55):

“Até 1998, as barcaças de soja faziam estragos nos cursos d’água.Desciam empurradas por um barco só e, incapazes de manobrarnas curvas apertadas do rio, batiam nos barrancos. As colisõesarrancavam nacos de terra, com árvores e ninhos de aves. [...]Segundo cientistas, obras na hidrovia podem quebrar esse siste-

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ma complexo e delicado. A retificação do rio aumentaria a velo-cidade de escoamento da água, reduziria as cheias e secaria 40%do Pantanal”.

Num planejamento estratégico para implantação de ferro-vias, a utilização de Trens de Grande Velocidade (TGV) deveocupar um lugar de destaque e os seguintes sistemas considera-dos prioritários: ligação Rio de Janeiro-São Paulo; Rio de Janei-ro-Belo Horizonte; Belo Horizonte-São Paulo, Vitória-Cuiabá e aTranslitorânea cortando a Costa do Sol, do Rio de Janeiro àscapitais nordestinas. Um trecho que se destaca nessas priorida-des é a ligação São Paulo-Rio de Janeiro-Salvador, pelo impactopositivo na economia do País, particularmente na indústria doturismo. Para completar esses sistemas, seria criada a Ferrovia doMercosul, com dois trajetos: São Paulo-Buenos Aires, via Uru-guai, e outro de Curitiba-Buenos Aires, via Assunção do Paraguai.

A Ferrovia de Dom Bosco

A interligação desses sistemas ferroviários com os dos de-mais países sul-americanos trará benefícios de toda ordem, a co-meçar pelo incremento do turismo e fortalecimento dos vínculoseconômicos. Quando esses objetivos forem alcançados, será pos-sível realizar o sonho de Dom Bosco, que em uma de suas visõesembarcou numa estação ferroviária em Cartagena, na Colômbia,e viajou até Punta Arenas, no Estreito de Magalhães, passandopela hinterlândia brasileira, a Bacia do Prata, os Pampas e aPatagônia. Esta ferrovia, inclusive, pode ser a solução para ligaressa vasta região com os mercados asiáticos, particularmente ochinês, evitando assim a muralha andina, que, no dizer do miste-rioso guia de Dom Bosco, “são como balizas, são um limite”.

Se tal acontecer, o atual quadro de distanciamento entre ospaíses sul-americanos, evidenciado na seguinte notícia do JornalEstado de Minas, intitulada Uribe Visita Brasil (13/7/2002, p.16), será superado e a integração continental tornar-se-á umarealidade:

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O presidente eleito da Colômbia, Álvaro Uribe, visitará o Brasilem 21 deste mês para um jantar privado com o presidente brasi-leiro, Fernando Henrique Cardoso. Trata-se de um esforço parainaugurar nova fase nas relações bilaterais, sempre amistosas,mas pouco fluidas, informaram, ontem, fontes diplomáticas emBrasília. Uribe manteve recentemente contatos com autoridadesbrasileiras, quando manifestou o desejo de aproximação com oBrasil. As fontes diplomáticas lembraram que, apesar da disposi-ção do governo Fernando Henrique em colaborar mais com oprocesso de paz na Colômbia, o país vizinho sempre preferiuuma relação preferencial com os Estados Unidos, além dos paí-ses europeus, México e Canadá, limitando nosso raio de ação.

Para dar início à implantação dessa estratégica ferrovia – aFerrovia de Dom Bosco (vide contracapa) –, os governos doBrasil e da Venezuela poderão construir, numa primeira etapa, otrecho Caracas-Boa Vista-Manaus e, ao mesmo tempo, o gover-no brasileiro se encarregaria do trecho Manaus-Porto Velho-Cuiabá-Campo Grande. Paralelamente os governos da Venezuelae da Colômbia se encarregariam do trecho Caracas-Cartagena.Quanto ao restante do segmento sul, Campo Grande-Punta Are-nas, sua construção seria objeto de entendimentos do Brasil comos países do Cone Sul, pois existe uma alternativa pronta quedeve ser considerada: a ligação Campo Grande-São Paulo-PortoAlegre-Uruguaiana-Paso de los Libres, a qual poderá ser comple-tada com a ligação Porto Alegre-Montevidéu, de alto significadoeconômico e turístico. Todavia, a melhor opção para integraçãodesse bloco com a economia do Brasil e dos demais países sul-americanos seria a ligação Campo Grande-Asunción-Buenos Aires-Punta Arenas. Esta ligação abriria um vasto mercado para oParaguai, Argentina e Chile, viabilizando o tão discutido Mercosul,pois a ligação Buenos Aires-Cuiabá, outrora feita através do RioParaguai, agora seria ampliada atingindo o Mar das Caraíbas e oCanal do Panamá por uma rota segura, mesmo em tempo de guerra,ocasião em que os oceanos se tornam campos minados para anavegação. Contudo, para abrir essa rota a esses países, é neces-sário que antes seja feito um tratado de defesa mútua, para evitarque países alienígenas instalem bases militares na região, comoos norte-americanos estão fazendo no Paraguai.

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Ao todo, a Ferrovia de Dom Bosco cortará cerca de 10.777km de terras férteis, superando a famosa Transiberiana com seusgelados e desérticos 9.000 km (de Moscou a Vladivostok), e teráainda à sua disposição um combustível não poluente – o gás depetróleo –, abundante em todo seu trajeto, ou seja, do Mar dasCaraíbas, a norte, ao Estreito de Magalhães, ao sul. Esse combus-tível, inclusive, poderá dar o suporte energético para todas as ati-vidades econômicas dessa vasta região, que pela sua vocação agrí-cola será, como previu Dom Bosco, o celeiro do mundo, e por issomesmo fadada a ser a mais desenvolvida das Américas, superandode longe o que foi o meio-oeste para os norte-americanos. Con-seqüentemente, cada quilômetro dessa ferrovia deve ser valoriza-do ao máximo, para tirar de sua construção o melhor proveito emtermos econômicos e sociais, inclusive tomando-a como modelopara reestruturação de todo sistema ferroviário sul-americano, emsua maior parte sucateado, principalmente o do Brasil.

Com tais objetivos em mente, deve-se ter como metaprioritária na implantação da Ferrovia de Dom Bosco a criaçãode colônias agrícolas ao longo de seu percurso, numa faixa de100 km de cada lado, para aí assentar os sem-terra e todos osexcluídos da sociedade que lotam as favelas dos países por ondepassa. Essas colônias devem ser concebidas como cooperativasagrícolas de produção, para maximizar o aproveitamento econô-mico das potencialidades regionais, de tal forma que se tornemeconomicamente auto-sustentáveis. Com esta medida, poder-se-á implantar as reformas agrária e urbana como preconizadas nes-te capítulo. Além disso, a construção dessa ferrovia poderá aju-dar a resolver outro impasse que pesa sobre a economia brasilei-ra e dos demais paises por ela beneficiados, ou seja, a renegociaçãoda dívida externa, assunto discutido no final deste capítulo. Nes-te caso a solução viria pela utilização dos Títulos do TesouroNacional como capital para financiar a construção da ferrovia einstalação das colônias agrícolas, tornando assim possível um res-gate antecipado de tais títulos.

Finalmente é bom frisar que, com a implantação da Ferro-via de Dom Bosco, ocorrerá a última etapa da chamada “marchapara o oeste”, iniciada no governo Vargas e que teve em BernardoSaião um líder destemido. Se este processo, ou seja, a ocupação

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desse vasto território desbravado por Raposo Tavares e outrosbandeirantes, não for planejado em seus mínimos detalhes, ocaos será inevitável; razão por que deve-se confiar às Forças Ar-madas o monitoramento de todas as fases da construção dessaferrovia e da ocupação territorial, criando-se para isso um bancode dados a ser operado pelo Ministério da Defesa. Com basenesse banco de dados, este ministério poderá elaborar modeloscomputadorizados de todas as fases de implantação desse mega-projeto e as conseqüências daí advindas, como a intervenção nomeio ambiente e a chegada maciça de migrantes do Brasil e deoutros paises rumo a esse novo Eldorado. Nestes casos haveránecessidade de se estabelecer parâmetros de ocupação territorialpara evitar não só uma migração descontrolada de populações deoutras regiões do País e dos países vizinhos, como também achegada de pessoas oriundas de zonas de conflitosextracontinentais, como o Oriente Médio, por exemplo.

Nesta parte do planeta, árabes e israelenses porfiam-se numaguerra sem trégua, levando consigo, para onde vão, as sementesdas discórdias que os envenenam, como acontece atualmente coma tríplice fronteira. Nesta região os naturais desses países já es-tão criando quistos sociais, à medida que repetem o mesmo errodos imigrantes alemães do século XIX, e que obrigou o Presiden-te Vargas a agir com firmeza, ou seja, manter seus costumes elínguas, inclusive escolas segregadas, deixando para segundo pla-no a integração com os brasileiros. Esta postura já está criandopara o Brasil problemas que nada têm que ver com nossa realida-de, como o terrorismo, desculpa usada pelos Estados Unidos daAmérica para instalar bases militares no Paraguai. Aliás, com estepaís e com os demais da América do Sul, para evitar este tipo deproblema, o Brasil deve estabelecer uma política comum de imi-gração, para evitar não só a entrada de imigrantes indesejáveis,como também conter fluxos migratórios de países com excessode população, como os asiáticos, onde esse estopim da TerceiraGuerra Mundial já está aceso. Diante disso, é só imaginar quaisos problemas que a imigração árabe-israelense acarretará para oPaís, se seus naturais se instalarem no coração da América doSul, repetindo em escala maior as tensões raciais da tríplice fron-teira. Com certeza, os norte-americanos não se contentarão so-

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mente com uma base, mas partirão para uma intervenção militarde fato, pois será nesse Eldorado que se decidirá o futuro dahumanidade, não só pelas riquezas aí existentes, como profetizouDom Bosco, mas também pela presença do maior patrimônio dacultura brasileira, a tolerância racial, base da civilização do tercei-ro milênio, que prevalecerá sobre as hoje existentes no mundotodo, as quais tenderão a desaparecer por força de conflitos in-solúveis de caráter político-religioso e territorial.

Quanto à intervenção no meio ambiente, o Ministério daDefesa franqueará às universidades do Brasil e dos países da Amé-rica do Sul o uso do Banco de Dados para que, em convênio comesse ministério, elaborem estudos sobre o impacto ambiental eos modelos de ocupação mais indicados para preservar abiodiversidade e a base do sistema ecológico local, regional econtinental. Essas universidades e institutos de pesquisas, prin-cipalmente os situados na área de influência da ferrovia, devemser estimulados a desenvolver projetos abordando todas as mu-danças que advirão com esse Megaprojeto Continental, a Cons-trução da Ferrovia de Dom Bosco, que mudará para sempre a faceprimeva desse paraíso natural até agora mantido praticamenteintacto.

A indústria do turismo e ageração de empregos

Para viabilizar economicamente a Translitorânea, uma fer-rovia turística por excelência, pois corta a Costa do Sol em todaa sua extensão, vale dizer, da cidade do Rio de Janeiro até ascapitais nordestinas, o Governo Federal deverá abrir essa privile-giada região aos cassinos e hotéis de luxo para atrair turistas domundo todo, principalmente europeus e americanos, e conse-qüentemente gerar empregos e oportunidades de negócios numaregião deprimida economicamente e com desemprego crônico.Essa ferrovia, pelas características especiais de seu traçado, umarota com inúmeros centros turísticos de primeira ordem, ofereceuma alternativa mais econômica e barata do que o sistema TGV,

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ou seja, o uso do monotrilho, o qual além de permitir paradasmais freqüentes, pois sua operacionalização é mais simples, podeser implantado mais rapidamente. Quanto à permissão para fun-cionamento de Cassinos de Luxo no Brasil, o procedimento maisadequado seria que as autorizações fossem dadas exclusivamentepelo Governo Federal. Com essa medida, além de evitar-se a pro-liferação dessas casas pelo país afora, vulgarizando um tipo deempreendimento que deve ser seletivamente instalado em sítiosprivilegiados, como suporte ao turismo e geração de empregos,ter-se-á também um controle efetivo da arrecadação de impos-tos, evitando-se conseqüentemente a sonegação fiscal e outrostipos de falcatruas.

A alternativa doméstica para os Cassinos de Luxo, estemais voltado para atrair turistas do exterior e divisas fortes, sãoos Cassinos Eletrônicos, nos quais somente poderiam operaros chamados jogos eletrônicos, bingos, caça-níqueis, etc., commáquinas e equipamentos fabricados no País, pois sua finalidademaior será a de gerar empregos em todos os seus segmentos.Para evitar a ação nefasta das “máfias”, a autorização para o fun-cionamento desse tipo de cassino também seria privativa do Go-verno Federal.

A Semana Inglesa e as Leis Trabalhistas

Para estimular a oferta de empregos por parte das empre-sas ligadas ao turismo, em função do incremento proporcionadopelos cassinos, tanto na Costa do Sol quanto no restante do País,e levando-se em conta que o governo eleito em 2002 tem comometa a implantação da Semana Inglesa, a qual fatalmente estimu-lará o turismo de fim de semana, seria de bom alvitre modificar asleis trabalhistas para permitir a contratação de mão-de-obra tem-porária sem vínculo empregatício. Esta sugestão tem como obje-tivo facilitar a contratação de pessoal para atendimento sazonais,pois o turismo não é constante ao longo do ano, mas sim variá-vel, e livrar as empresas da burocracia e dos encargos sociais eoutros tributos que normalmente acompanham os mais diversostipos de contrato de trabalho. Indo mais além, na direção de

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amenizar o desemprego atualmente existente no País e simplificaros contratos de trabalho para atendimento de situações passa-geiras, o ideal seria que esse tipo de contrato fosse estendido àindústria do turismo como um todo, aí compreendidos hotéis,bares, restaurantes, atividades culturais e esportivas, eventos comoo Natal, Reveillon, carnaval e festas regionais como a Octoberfest,evitando assim que muitas das contratações temporárias havidasem tais ocasiões sejam feitas à margem da lei por falta de umalegislação adequada.

Para facilitar a implantação e operacionalização desse tipode contrato de trabalho temporário, é fundamental que seja cria-do pelo Ministério do Trabalho, a exemplo do que ocorre com adeclaração do Imposto de Renda, um contrato padrão que possaser acessado e preenchido pelos empregadores e empregadosnos terminais eletrônicos do Banco do Brasil, ou via Internet,retendo cada um desses contratantes uma cópia assinada paratodos os fins de direito e fiscalização. Com essa medida serápossível ao Ministério do Trabalho repassar eletronicamente es-ses contratos para a Receita Federal, para que esta possa checaros registros das empresas (Cadastro Geral de Contribuinte-CGC,etc.) e dos empregados (Cadastro de Pessoas Físicas-CPF, etc.) edetectar possíveis fraudes fiscais; aos Estados e Municípios, paracontrole da legislação pertinente, e aos sindicatos paramonitorarem se os pagamentos efetuados estão dentro da lei eobedecem aos acordos setoriais existentes.

Para estimular a adoção desse contrato especial por partedos empregadores e empregados, a lei deve estabelecer que, noseu preenchimento, seja mencionado o número da Carteira deTrabalho do empregado, da qual passará a fazer parte, para queassim fiquem assegurados todos os direitos e obrigações traba-lhistas previstos em lei, como a contagem de tempo para a apo-sentadoria, no caso dos empregados, ou do seguro de acidentede trabalho, no caso dos empregadores. Com a mesma finalida-de, deve-se isentar esses contratos de quaisquer tributos na fon-te, inclusive o Imposto de Renda, para assim livrar os emprega-dos e empregadores da burocracia dos recolhimentos.

Como o objetivo maior desse tipo de contrato é facilitar acontratação de mão-de-obra temporária e, de quebra, possibili-

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tar que a meta proposta pelo governo Lula de gerar 10 milhõesde empregos em seu mandato seja alcançada, esse contrato deveser estendido também ao comércio que depende dos turistas parasua sobrevivência, permitindo assim o seu funcionamento nosfins de semana, sem a necessidade do pagamento de horas extrasaos seus funcionários, as quais, de resto, o novo governo querrestringir, como informou o Jornal Estado de Minas (17/11/2002,p. 1): “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve reduzir a jor-nada de trabalho semanal de 44 horas para 40, sem diminuir ossalários, além de coibir a hora extra”.

Como essas promessas não foram cumpridas até agora,fica claro que não será fácil a implantação da Semana Inglesa ouimpor restrições às Horas Extras, como já o fazem de longa dataos países desenvolvidos, pois são fundamentais para gerar em-pregos e salários, base das economias de mercado. No Brasil aSemana Inglesa existe de forma discriminatória, premiando certascategorias profissionais, como bancários e funcionários públi-cos. Por que não estender essa regalia a todos os trabalhadores,deixando de ser um privilégio de uns poucos para se transformarnum direito trabalhista universal? Esta medida, de alto significa-do social, deve ser acompanhada de outras de caráter econômi-co, como a transferência para sábados e domingos, de todos osferiados, dias-santos federais, estaduais e municipais, datas co-memorativas, como o “Dia do Funcionário Público” e o fim dogazeteiro “ponto facultativo”, decretado pelos governantes parabeneficiar o funcionalismo estatal, excluindo dessa benesse to-dos os outros trabalhadores. Com tais medidas, a produtividadedo País terá ganhos significativos, na medida em que eliminará os“feriados prolongados” e outros expedientes faltosos que aca-bam prejudicando a economia do País.

Para ser ter idéia dos abusos dos ocupantes de cargos pú-blicos com essa questão, basta atentar para o seguinte trecho dereportagem do Jornal Estado de Minas (1º/11/2005, p. 8),intitulada Cinco dias de portas fechadas:

Executivo, Legislativo e Judiciário, além do Tribunal de Contas edo Ministério Público Estadual, transformaram o Dia de Finados,amanhã, em um feriadão de cinco dias. A tradicional folga do Diado Funcionário Público, na sexta-feira passada, foi transferida

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para ontem. Por conseqüência, esta terça-feira foi “enforcada”,com a decretação de ponto facultativo no estado e no município.Os servidores públicos só retornarão a rotina depois de amanhã.

Gerenciamento dos recursos naturais

Mas não são somente as questões ligadas aos transportese à indústria do turismo que devem ocupar um lugar de destaquenum planejamento estratégico. Há necessidade também de sereformular a estrutura de gerenciamento dos recursos naturaispara que sejam racionalmente utilizados. Neste caso destacam-seos recursos hídricos e energéticos que devem merecer uma es-trutura operacional própria para evitar o caos, como aconteceuem maio de 2001, quando o principal sistema energético brasi-leiro entrou em colapso por falta de planejamento, imprevidênciano manejo das águas e má gestão da coisa pública.

Conforme divulgou a Revista Época (n. 156, 14/5/2001,p. 83-84):

Certeza absoluta é que o apagão tornou-se inevitável. Porimprevidência. A crise foi prevista em incontáveis estudos técni-cos oficiais sobre o abastecimento de energia nos últimos cincoanos. Nenhuma autoridade se levantou da poltrona para buscaruma solução. A octanagem da crise aumentou com os cortes dosinvestimentos em infra-estrutura. As duas dezenas de bilhões dedólares arrecadadas na venda das estatais do setor elétrico, des-de 1990, foram usadas para abater dívidas. Sempre com a preo-cupação em manter equilibrado o caixa do governo federal. Ogoverno optou por cortes sucessivos no orçamento das estataisde energia, para cumprir compromissos com o Fundo MonetárioInternacional (FMI). O ministro da Fazenda Pedro Malan, porexemplo, vetou o projeto de investimento de R$1 bilhão (US$454 milhões) para construir uma linha de transmissão ligando aregião Norte ao Sul do país. Esse tronco permitiria a importaçãode energia da Venezuela e de usinas amazônicas como Tucuruípara abastecer o Sudeste em situações críticas. Agora, o própriogoverno calcula perdas de até US$ 3 bilhões na arrecadação deimpostos em conseqüência do racionamento. Conclusão: o cor-te deu prejuízo. Trocou-se o equilíbrio fiscal pela escuridão.

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Recursos hídricos

A importância do planejamento para utilização racionaldos recursos hídricos vem sendo enfatizada de longa data pordiversos pesquisadores. Em 1987, por exemplo, Barth, juntocom outros autores, abriu o prefácio da obra Modelos paragerenciamento de recursos hídricos, com as seguintes obser-vações:

Alguns dos principais desafios que o Brasil deverá enfrentar naspróximas décadas estão relacionados com o aproveitamento econtrole dos recursos hídricos. De fato, o País deverá resolver,nesse campo, problemas fundamentais para o seu desenvolvi-mento econômico e social, dentre os quais se destacam: Gera-ção de energia elétrica, mediante a construção de usinas hidrelé-tricas para a exploração de um potencial hoje estimado em213.000 MW; Saneamento básico, com abastecimento de água,coleta e tratamento de esgotos urbanos de população próximade 150 milhões de habitantes; Combate a secas no semi-áridonordestino, como uma das formas de superação do grave subde-senvolvimento regional; Irrigação artificial de culturas agrícolasno Nordeste e no restante do País, para elevações da produtivi-dade e da produção, abrangendo alguns milhões de hectares;Controle da poluição das águas, de origem urbana, industrial eagrícola, em especial nas regiões Sul e Sudeste; Controle de cheiase prevenção de inundações, notadamente em áreas urbanas;desenvolvimento dos potenciais de navegação, na Amazônia eem bacias hidrográficas em que serão implantadas hidrelétricas;Aproveitamento de reservatórios existentes e a implantar, parafins de piscicultura, recreação e turismo.

A importância estratégica dos recursos hídricos no limiar doterceiro milênio está muito bem sintetizada em um artigo publicadona Revista COPASA – 2001 (“Especial sobre as águas”), intituladoÁguas tormentosas – o poço tem fundo e pode secar (p. 2):

Água é o elemento mais marcante na composição da Terra. Doisterços da superfície do planeta estão cobertos de água, mas suadistribuição não é animadora. A maior parte, cerca de 97% detoda a água, está nos mares. De água doce, só 3%. Para piorar,os recursos hídricos efetivamente ao alcance da humanidade sãoescassos, 0,7% do total. O resto? Geleiras milenares e águas

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muito bem enterradas nas profundezas, tão distantes quanto oinferno de Dante. E este quase um por cento está em vias desecar, caso não se proceda imediatamente a uma revisão sobrecomo a humanidade vem tratando a verdadeira fonte de toda vidaconhecida. No Oriente Médio, a captação está chegando ao fun-do do poço. Numa estimativa superficial, entidades ligadas à pre-servação e ao saneamento básico não dão mais 20 anos para queacabe a água potável. Com a guerra entre a OTAN e o Iraque, apoluição por urânio fracamente enriquecido tornou-se uma novarealidade. Na Ásia Central, o panorama é mais terrível, pois jáexistem depósitos considerados clinicamente mortos, como oslagos Baikal e Balkash, completamente envenenados pelo despejode resíduos tóxicos e poluentes, ao longo dos planos de indus-trialização e econômicos de Stálin e Krutschev. O consumo exa-gerado também está contribuindo para o processo de seca. Opreço da água em Los Angeles é mais alto que em Ryad, na ArábiaSaudita. Quem viu ChinaTown pôde assistir ao investigador JackNicholson às voltas com um caso envolvendo corrupção no de-partamento de águas da atual megalópole, fato corriqueiro nosanos 30, quando já faltava água naquela parte da Califórnia – aterra prometida. Quanto às terras não prometidas, estas são 29.Este é o número de países, entre os 217 existentes, afetados porcarência de água ou por sua falta de qualidade. O porcentualdeve chegar aos 20% nos próximos dez anos, principalmente noExtremo Oriente, onde as madeireiras vêm devastando as matasque conseguiram escapar ao agente laranja, lançadoindiscriminadamente pelas forças armadas norte-americanas, embombardeios aéreos equivalentes a 50 toneladas, despejadas deoito em oito minutos, diariamente, durante uma década e meia.Atentados como este continuam a ser cometidos por países dePrimeiro Mundo, responsáveis por 60% dos poluentes despeja-dos diariamente no ar, na água e no meio ambiente do planeta.

Mais adiante, sob o título O ouro do Brasil (p. 6-7), essamesma revista, publicada pela Companhia de Saneamento de MinasGerais – COPASA, uma das mais conceituadas empresas de sa-neamento básico do país, divulgou:

“O Brasil é uma potência de primeiro escalão quando o assuntoé água. No território do país estão 53% dos recursos hídricosdo continente sul-americano e 12% do total mundial. Também

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está no Brasil a maior bacia fluvial do mundo, a do Amazonas.Situam-se em nossos limites duas das dez maiores bacias do mun-do que cortam apenas um país – a do São Francisco e a doTocantins-Araguaia. Se os recursos são tão fantásticos, mais fan-tástica ainda é a taxa de desperdício de todo este material, quefica em torno de 40%. [...] Outra coisa que incomoda saber éque 87 milhões de brasileiros não dispõem de saneamento bási-co, 75 milhões não têm coleta de lixo e 70 milhões não têmacesso ao chamado precioso líquido, segundo levantamento fei-to pelo engenheiro sanitarista Abelardo de Oliveira Filho, diretorda Federação Nacional dos Urbanitários. A colonização predató-ria e a falta de planejamento também fazem seus depósitos naconta do incômodo: 94% dos esgotos no Brasil não são trata-dos e 80% das doenças endêmicas entre a população são decor-rentes da falta de saneamento básico. Pelos últimos números co-nhecidos, 63% dos entulhos e depósitos de lixo estão nos cor-pos d’água. Os produtores rurais fazem despejo de agrotóxicosnos ribeirões e córregos que cortam a propriedade, inviabilizandoassim bacias inteiras que poderiam ser aproveitadas como ma-nanciais. Se na área rural o panorama é esse, a área urbana nãofaz por menos. O lixo doméstico, os poluentes físicos e os me-tais pesados liberados pela indústria estão obrigando as empre-sas de saneamento a manterem a logística da captação de águapara produção numa expansão geométrica, indo cada vez maislonge para recolher água pura”.

A defesa do meio ambiente

Em face da degradação do meio ambiente observada noBrasil e para preservar a qualidade de vida da população, deve-sefazer um balanço da situação atual e da legislação existente, parasubsidiar projetos de preservação e recuperação das matas ciliares,reflorestamento das nascentes, despoluição das baciashidrográficas e saneamento básico dos centros urbanos, com aconstrução de estações de tratamento de água, esgoto e lixos,principalmente hospitalares, e combate às enchentes nas regiõesmetropolitanas, notadamente na Grande São Paulo, onde a si-tuação é de calamidade pública.

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Os consórcios de reciclagem

Outra medida necessária para mudar uma situação fora decontrole e que afeta diretamente o meio ambiente e a saúde dapopulação é a criação de consórcios de reciclagem de pneusvelhos, garrafas plásticas, pilhas de lanternas e celulares, lixoindustrial e vasilhames de agrotóxicos, formados pelas indús-trias produtoras desses materiais, as quais também seriam res-ponsáveis pela instalação e administração de postos de coleta emtodo o comércio varejista, de tal forma que nenhum desses pro-dutos venha a ser descartado como lixo comum. Como medidaadicional, deve-se também proibir a importação de pneus usadose controlar com rigor a reciclagem desse material, atividade queseria exercida com exclusividade pelos consórcios de reciclagem,que ficariam também responsáveis por quaisquer danos ao meioambiente.

Além disso, deve-se também implementar outras medidaspráticas, como a criação pelas indústrias da construção civil eautomobilística de consórcios de reciclagem. As primeiras paraprocessarem os rejeitos das demolições e demais construçõesque geram os chamados “entulhos”, que são despejados em ter-renos baldios ou na periferia das cidades de forma desordenada,prejudicando seriamente o meio ambiente. Quanto à indústriaautomobilística, os consórcios a serem formados destinam-se aordenar a atividade de desmanche de veículos automotores quehoje é praticada sem nenhuma restrição, o que, além de favorecero roubo de carros e caminhões, contribuem também para poluiro meio ambiente. Para tornar viável a implementação desses con-sórcios, deve-se proibir o comércio de peças usadas e sucatas,medida que não só contribuiria para aumentar a segurança dosveículos em uso, como também para incrementar a produção daindústria automobilística e conseqüentemente de empregos.

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As Regiões Metropolitanas

Um dos problemas mais preocupantes com a defesa domeio ambiente situa-se nas regiões metropolitanas onde a pres-são demográfica e degradação do meio ambiente caminham jun-tas. Para fazer face a esta situação, foram criadas as chamadas“Áreas de Proteção Ambiental (APA)”, muitas das quais aindanão se firmaram, como é o caso da Área de Proteção AmbientalSul – Região Metropolitana de Belo Horizonte (APA-SUL-RMBH),cujos problemas servem para ilustrar um quadro comum a ou-tras metrópoles. Para que esta APA deixe de ser apenas um pro-jeto de boas intenções e atinja os objetivos para os quais foicriada, ou seja, a proteção do meio ambiente da Região Metro-politana de Belo Horizonte, é necessário que seja institucionalizadacomo um órgão executivo com poderes para centralizar, coorde-nar e monitorar a execução dos planos diretores de cada municí-pio que a compõe, a partir dos quais elaborará um plano diretorcomum a ser observado por todos esses municípios. Para isso épreciso uma legislação própria que normatize e padronize as açõesdos municípios que integram essa área de proteção ambiental,para que não haja discrepâncias e conflitos entre eles em ques-tões fundamentais como o controle da expansão urbana, a prote-ção dos mananciais, a construção de estações de tratamento deágua, esgoto e lixo, a abertura de estradas e, principalmente, apolítica ambiental adotada por cada um. Com essas medidas le-gais, será possível conter abusos de toda ordem praticados poraqueles que se aproveitam das falhas da legislação e da ausênciade um poder regulador para praticar toda sorte de atentadoscontra o meio ambiente ou se omitirem de suas obrigações empreservá-lo.

São muitos os exemplos desse procedimento, mas algunsdevem ser destacados pelas lições que encerram, como a açãonociva dos motoqueiros que transformaram suas máquinas es-portivas em verdadeiras motoserras, as quais, à semelhança da-quelas que mutilam as florestas, rasgam o solo da Região Metro-politana de Belo Horizonte, com a complacência dos proprietári-os, abrindo chagas que não cicatrizam e que continuam crescen-do após sua passagem até que exponha os ossos representados

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pelas rochas nuas. Este fato, tão chocante, levou tempos atrásum artista, talvez tocado por esse drama da natureza, a costurarsimbolicamente essas feridas.

Para pôr fim a essa prática esportiva extremamente danosaao meio ambiente, deve-se responsabilizar criminalmente osmotoqueiros, os fabricantes das motos e dos pneus especiaiscom que são equipadas, e os meios de comunicação que incenti-vam esse tipo de esporte. Além disso deve-se proibir essa ativi-dade em campo aberto e nas montanhas, onde a erosão provocaestragos consideráveis, limitando a prática desse esporte em lo-cais restritos e previamente autorizados pelas autoridades com-petentes. Além de agressões como essas, outras não menos im-portantes ocorrem com freqüência nessa região de proteçãoambiental, como a ação das pequenas mineradoras que abando-nam as lavras ao esgotá-las, deixando para a sociedade um passi-vo ambiental difícil de ser administrado e danos ao meio ambien-te irreparáveis.

Para que seja feita uma avaliação permanente da situaçãodo meio ambiente nessa região, que concentra a maior parte dosrecursos minerais do Estado e onde o turismo ecológico poderáter um vasto campo de atuação, é necessário a implantação eoperação de um banco de dados informatizado que, utilizando astécnicas do geoprocessamento e imagens de satélite, supra dedados todos os agentes envolvidos no processo, os quais assimpoderão contar com uma fonte oficial para planejar suas açõesambientais, como os planos diretores, no caso dos municípios, eos RIMA, pelas mineradoras. Se todos os abusos que vêm sendopraticados na APA-SUL-RMBH não forem contidos e não forestabelecida uma política ambiental a ser seguida por todos osmunicípios que a compõe e pelas entidades públicas e privadasque aí atuam, as próximas gerações irão amargar a perda desseparaíso, por obra e graça da atual que se omitiu num momentocrucial em que poderia mudar as regras do jogo e não o fez.

Essa situação preocupante já está acontecendo, como in-forma o Jornal Estado de Minas (8/9/2005, p. 25) em matériaintitulada Loteamentos tomam áreas verdes e de lazer – Novoscondomínios fecham acesso ao público a antigos recantos depreservação da Região Metropolitana de BH:

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A paisagem de Nova Lima, na Grande BH, vem mudando com aocupação crescente de suas encostas por condomínios de luxo.A chamada “segunda fase da exploração do ouro” – mais dametade da área do município pertence a mineradoras – atende ademanda crescente da classe média alta belo-horizontina, em buscade sossego e qualidade de vida. Entretanto, os empreendimentosisolam a população, que assiste à depredação do patrimônioambiental e cada vez mais é proibida de freqüentar as áreas ver-des. Segundo a Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM),são quase 100 os loteamentos sem licença ambiental. O planodiretor, fundamental para estabelecer as diretrizes do município,ainda não foi elaborado. A prefeitura informa que até junho de2006 o documento estará pronto e que vai analisar os impactosdos condomínios na vida da cidade.

A defesa das matas ciliares e aproteção das nascentes

Mas não é só na Região Metropolitana de Belo Horizonteque uma legislação específica se faz necessária para a defesa domeio ambiente, essa é uma demanda nacional, principalmente nocaso das matas ciliares e cobertura florestal das nascentes dosrios brasileiros. Para evitar a destruição desses estratos arbóreos,é necessário dar incentivos aos proprietários rurais para conser-varem os existentes e recuperarem as áreas degradadas e, emcaso contrário, puni-los severamente.

Além disso é preciso que os órgãos governamentais res-ponsáveis pelo meio ambiente encarem com mais objetividadeesse problema e parem de distribuir ao léu algumas mudas deespécies nativas e árvores frutíferas para minimizar a devastaçãodessas franjas de vida; é preciso muito mais, é imperativo que sefaça uma legislação que obrigue os proprietários a cuidarem elesmesmos desse patrimônio coletivo. Essa legislação coercitiva devecontemplar dois aspectos fundamentais: Incentivo e Punição.No caso de incentivo, deve-se isentar de impostos todas as áreasde matas ciliares e de proteção das nascentes. Estas áreas seriamdemarcadas em mapas e declaradas áreas de proteção ambiental e

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monitoradas pelos órgãos ambientais. A punição extrema, emcaso de transgressão, seria a perda da propriedade, que poderiaser confiscada pelo governo, sem nenhum pagamento, para serusada na reforma agrária. Para recompor as áreas já degradadas,os proprietários teriam prazo adequado e apoio técnico e finan-ceiro do Governo Federal. Com essa lei, a recomposição e con-servação dessas matas tornar-se-iam uma realidade e deixariamde ser objeto de encontros, fóruns, simpósios, etc., nos quais sefala muito e resolve-se pouco.

Recursos energéticos

A submissão ao capital internacional e a política miúda dogoverno FHC foram, em última análise, as grandes responsáveispela crise energética que se abateu sobre o país em 2001, comoinformou o Jornal Estado de Minas (18/5/2001, p. 10) em arti-go de Bianca Giannini:

“Falta de planejamento, investimentos em geração de energia emdescompasso com o crescimento da economia, compromissosfirmados com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e nomea-ções com base em interesses políticos no Ministério de Minas eEnergia são os principais causadores da crise energética. [...] Ocoordenador do Programa de Pós-Graduação de Engenharia(Coope) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Luiz PinguelliRosa, diz que além da falta de atenção do governo com o setorenergético, em parte por falta de visão dos últimos ministros deMinas e Energia, o acordo do Brasil com o FMI é fatordeterminante do atual cenário. Embora o governo tente colocarna diminuição do volume de chuvas a culpa do problema, essasituação se deve à falta de investimentos em geração, com a cons-trução de usinas e ampliação de redes de transmissão. Esses in-vestimentos não ocorreram, segundo especialistas do setor e tam-bém membros do próprio governo federal, porque empresas es-tatais que entram na lista de privatização não podem investir semautorização prévia do Conselho Nacional de Desestatização(CND). De acordo com as bases do empréstimo de US$41,5bilhões liberados pelo FMI ao Brasil, que resultou no Programade Ajuste Fiscal, os investimentos nas estatais entram como des-

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pesa nas contas públicas. Para não aumentar a dívida interna, oMinistério da Fazenda não os autoriza”.

Enquanto aqui no Brasil não se investe no aproveitamentodos recursos naturais, por força de acordo com potências es-trangeiras, nos Estados Unidos da América, o Presidente Bushfaz o contrário e parte para investimentos maciços nesse setor,sejam de que tipo forem e onde estiverem tais recursos em seuterritório, mesmo que em áreas de proteção ambiental, pois oque está em jogo são os interesses do povo americano, comoveiculou o Jornal Estado de Minas, em artigo intitulado Bushapresenta um plano sem milagres (18/5/2001, p. 15):

“O presidente dos Estados Unidos, George Walker Bush, anun-ciou o programa de energia de sua administração em um encon-tro com empresários, em St. Paul, dizendo para eles e para anação que os norte-americanos devem conservar mais, produzirmais e construir mais. E advertiu: Se falharmos nas ações, en-frentaremos mais e mais blecautes. Se falharmos em agir, nossopaís se tornará dependente do petróleo estrangeiro, colocandonossa segurança em termos de energia nas mãos de nações es-trangeiras, algumas das quais não partilham nossos interesses.[...] E pediu a construção de 1.300 a 1.900 novas geradoras deenergia elétrica, alimentadas não só por carvão ou gás, mas tam-bém por energia nuclear”.

Se lá, na própria terra deles, os americanos não perdoamnem mesmo o meio ambiente, pois uma das áreas a serem libera-das para a exploração de petróleo é nada mais nada menos doque o famoso Refúgio Nacional de Vida Selvagem no Ártico, situadono Alasca, imaginem o que acontecerá quando esses recursosescassearem e se virem obrigados a buscá-los no exterior paramanterem seu padrão de vida. Esta hipótese não está longe de seconcretizar, dada a voracidade com que consomem os recursosnaturais, e os alvos preferenciais nessa empreitada fatalmente serãoa América do Sul e a Antártica, os dois últimos continentes comriquezas naturais quase que intactas. Nessa rapinagem, a Américado Sul será alvo privilegiado, pois embora esta região tenha sidosaqueada pelas potências coloniais européias durante séculos, obotim para pilhagem ainda é imenso e o Brasil um alvo cobiçadopela grandeza de suas reservas em recursos naturais. Daí a neces-

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sidade de o Brasil e os demais países sul-americanos se unirem nadefesa das riquezas da América do Sul e do continente Antárticoe partirem para aproveitá-las o mais rapidamente possível embenefício de suas populações, antes que os predadores do G-7,que têm nos Estados Unidos da América seu maior parceiro, ofaçam, por bem ou por mal, como é de seu costume histórico ebem exemplifica a tragédia do Iraque, bola da vez da cobiça nor-te-americana.

A reestruturação do Estado brasileiro

Para racionalizar o uso dos recursos naturais e evitar errosgrosseiros como a desastrosa crise energética que quase parou oPaís em maio de 2001, é necessário uma reestruturação do siste-ma operacional do Estado brasileiro, a começar pela criação deuma secretaria especial – a Secretaria de Planejamento Estraté-gico da Presidência da República –, já que entre nós planeja-mento significa apenas cuidar do orçamento do Estado. Para estecaso, o mais indicado seria uma Secretaria ou Ministério do Or-çamento e Gestão Financeira. Mas só essas providências não bas-tam, pois outras providencias se impõem para que o Brasil semodernize e se posicione como nação líder no terceiro milênio.O primeiro passo nesse sentido é rever a atual Constituição.

A revisão Constitucional

A revisão da atual Constituição se impõe não só para pos-sibilitar uma reestruturação do Estado brasileiro, mas tambémpara derrubar tabus que inviabilizam a modernização da adminis-tração pública, como as chamadas cláusulas pétreas, e eliminartoda sorte de privilégios desfrutados pelos servidores públicos,principalmente aqueles pertencentes ao Poder Judiciário e às fun-ções ditas essenciais à Justiça. A erradicação dos privilégios quepermeiam os três poderes da República somente será possível sea atual Constituição sofrer uma revisão na sua forma e conteúdo.

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Para isto, basta simplificar o texto constitucional transferindo parao Estatuto do Funcionalismo Público os pontos de interesse dacategoria e para o domínio das Leis Ordinárias as questões maisdinâmicas que afetam a sociedade, deixando para o texto consti-tucional os conceitos fundamentais do Estado Democrático deDireito.

A alegação de que a oportunidade de se fazer a revisão daConstituição de 1988 já passou, em função do cumprimento doartigo 3º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e,portanto, nada mais é possível fazer além de pregar-lhe algunsremendos, vai de encontro não só com o parágrafo único doartigo 1º, como também contraria a opinião de especialistas emdireito, como a do Prof. José Afonso da Silva, que disse textual-mente na obra Curso de Direito Constitucional Positivo (1997,p. 46):

A estabilidade das constituições não deve ser absoluta, não podesignificar imutabilidade. Não há constituição imutável diante darealidade social cambiante, pois não é ela apenas um instrumentode ordem, mas deverá sê-lo, também, de progresso social. Deve-se assegurar certa estabilidade constitucional, certa permanênciae durabilidade das instituições, mas sem prejuízo da constante,tanto quanto possível, perfeita adaptação das constituições àsexigências do progresso, da evolução e do bem-estar social. Arigidez relativa constitui técnica capaz de atender a ambas as exi-gências, permitindo emendas, reformas e revisões, para adaptaras normas constitucionais às novas necessidades sociais, masimpondo processo especial e mais difícil para essas modificaçõesformais, que o admitido para a alteração da legislação ordinária(Cf. J. H. Meirelles Teixeira).

Numa revisão constitucional, dois pontos devem mereceratenção especial. Trata-se do artigo 3º do Ato das DisposiçõesConstitucionais Transitórias (ADCT), que tenta engessar a Cons-tituição de 1988, e o parágrafo primeiro do Art. 45, que tornouos brasileiros desiguais entre si. A este respeito, eis o que afir-mou o Prof. Silva (op.cit., p. 483-484):

A Constituição não fixa o número total de Deputados Federais,deixando isso e a representação por Estado e pelo Distrito Fede-ral para serem estabelecidos por lei complementar, que terá de

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fazê-lo em proporção à população, determinando reajustes pelaJustiça Eleitoral, em cada ano anterior às eleições, de modo quenenhuma daquelas unidades da Federação tenha menos de oitoou mais de setenta Deputados. Essa regra que consta do art. 45,parágrafo primeiro, é fonte de graves distorções do sistema derepresentação proporcional nele mesmo previsto para a eleiçãode Deputados Federais, porque, com a fixação de um mínimo deoito Deputados e o máximo de setenta, não se encontrará meiode fazer uma proporção que atenda o princípio do voto comvalor igual para todos, consubstanciado no art. 14, que é aplica-ção particular do princípio democrático da igualdade em direitosde todos perante a lei. É fácil ver que um Estado com quatrocen-tos mil habitantes terá oito representantes enquanto um de trintamilhões terá apenas setenta, o que significa um Deputado paracada cinqüenta mil habitantes (1: 50.000) para o primeiro e umpara quatrocentos e vinte e oito mil e quinhentos e setenta e umhabitantes para o segundo (1: 428.571). Em qualquer matemá-tica, isso não é proporção; mas brutal desproporção, tal fatoconstitui verdadeiro atentado ao princípio da representação pro-porcional. A Câmara deve ser o espelho fiel das forçasdemográficas de um povo; nada justifica que, a pretexto de exis-tirem grandes e pequenos Estados, os grandes sejam tolhidos esacrificados em direitos fundamentais de representação (Cf. MiguelReale).Aqui é bom lembrar que essa aberração foi introduzida nas

constituições que vigoraram durante a ditadura militar, para queos generais-presidentes pudessem ter maioria no Congresso Na-cional, com base nos votos da retrógrada bancada nordestina, efoi mantido na Constituição de 1988, graças a políticos oriun-dos dos Estados beneficiados e que dispunham de posição demando, como o amazonense Bernardo Cabral, relator geral daAssembléia Nacional Constituinte, e o maranhense José Sarney,Presidente da República. Estes políticos, além de trabalharem emcausa própria, o primeiro como jurista e o segundo para esticarseu mandato em mais um ano, compactuaram com a elite nesseatentado aos direitos dos cidadãos. Afinal de contas, por que oSupremo Tribunal Federal, guardião da Constituição, e toda essagigantesca estrutura estatal que cuida de aplicar as leis neste paíse a poderosa Ordem dos Advogados do Brasil não se manifesta-

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ram sobre a inconstitucionalidade desse parágrafo espúrio e nãotomaram medidas práticas e eficazes para eliminá-lo do texto cons-titucional?

Fatos como esses mais que justificam uma revisão da atualConstituição, mas outras questões devem também ser considera-das, como a substituição das Constituições Estaduais por LeisOrgânicas, a exemplo do que ocorre com os municípios, quesão organizados e regidos constitucionalmente por Leis Orgâni-cas próprias, uma espécie de constituição municipal. No passadoos Estados federados já tiveram até presidentes e hoje são admi-nistrados por governadores, sem que essa mudança tenha abala-do os poderes constituídos. Por que não proceder da mesmaforma com as constituições estaduais? O atual modelo constitu-cional foi copiado dos Estados Unidos da América, onde cadaEstado possuía uma constituição própria, antes de se unirem numafederação. Aqui no Brasil, não. A nossa formação foi sempreunitária e, portanto, não há necessidade de fragmentá-lo só parase encaixar em modelos importados. Neste particular é ridícula acomparação entre o texto de uma Constituição Estadual, como ade Minas Gerais, por exemplo, com a Federal. Trata-se de umacópia mal alinhavada que não acrescenta nada de substancial ànossa Carta Magna e todo seu conjunto pode, com muito maispropriedade, compor uma Lei Orgânica Estadual do que umaverdadeira Constituição.

A reforma do Judiciário

Uma outra questão que deve ser considerada ao se proce-der a revisão da atual Constituição, diz respeito à atuação dosintegrantes do Judiciário, responsáveis maiores pela morosidadeda Justiça, a impunidade dos culpados e a corrupção dos costu-mes, desvios de comportamento que acabam anulando os direi-tos de cidadania, razão da existência desse poder. O primeiropasso para mudar esse quadro deverá ser a eliminação da chama-da “indústria das liminares”, providência que poderá ser feitapela retirada do direito de um juiz, isoladamente, poder concedê-

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la, transferindo essa competência para uma Junta de Juízes naqual não exista o “voto de Minerva”, evitando assim a depen-dência decisória de um único magistrado. Além disso, essas Jun-tas de Juízes também passariam a ser responsáveis pela conces-são de habeas-corpus, para evitar a ação de juízes inescrupulososou decisões polêmicas que acabam gerando prejuízos para o Es-tado, como aconteceu com certo marginal, que beneficiado poresse direito, escapou ileso de seus crimes fugindo para outropaís.

Além dessas atribuições, outras mais poderão ser confia-das às Juntas de Juízes, se se fixar prazos para que os processossejam julgados por um só juiz. Uma vez esgotado esse prazo semuma decisão, o Juiz encarregado do processo seria obrigado,num prazo estabelecido em lei, a fazer um relatório de seus tra-balhos e entregar o processo para uma Junta de Juízes que profe-rirá a sentença final, obedecendo também a um prazo máximo.Com esta medida, a Justiça será mais ágil e respeitada. Mas paraque este sistema funcione realmente, é necessário acabar comoutra praga que emperra o andamento dos processos. Trata-sedas medidas protelatórias representadas pelas ações recorrentesàs instâncias superiores. Neste caso a solução está em se restrin-gir esse direito a uma só instância, sem efeito suspensivo auto-mático, cuja sentença final deverá ser proferida por uma Junta deJuízes da Corte Superior, num prazo também estabelecido em lei,não cabendo a partir daí outras apelações.

Já atuando dentro desse novo enfoque, Juntas de Juízesextraordinárias seriam criadas para julgar todos os processos quese encontram na Justiça há mais de dois anos, de tal forma quenum prazo máximo de cinco anos todas as pendências e julga-mentos encontrem seu termo, limpando a pauta de todas asinstancias em nível federal ou estadual. Para alcançar este objeti-vo, duas providências adicionais serão necessárias: a) afederalização de todos os Sistemas Judiciários Estaduais, passan-do a partir daí a existir no País um só sistema, o Sistema JudiciárioFederal; b) a reforma do sistema dos concursos públicos paraadmissão de novos juízes. Hoje em dia, o Sistema Judiciário “amar-ra” as contratações desses especialistas na elaboração das pro-vas, tornando-as verdadeiras muralhas instransponíveis para a

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maioria dos candidatos, fazendo com que sempre faltem juízespara agilizar a Justiça. Para remover essa pedra de tropeço e de-mocratizar esse processo elitista e acabar com a desculpa de quea Justiça não anda por falta de juízes, deve-se confiar às Universi-dades Federais a competência de elaborar e aplicar as provas,segundo padrão básico estabelecido pelo Judiciário. Para elabo-rar a matriz desse padrão, para substituir as normas atuais, seriafeito uma prova-teste para ser aplicada aos integrantes do PoderJudiciário, inclusive os das Cortes Superiores, que assim teriamcondições de aprimorar esse teste e torná-lo universal para to-dos os concursos a partir de sua adoção.

Com essas medidas, será possível evitar casos de impuni-dade, como o dos “Anões do Orçamento”, que se arrasta naJustiça desde o século passado. Segundo o Jornal Estado de Mi-nas (5/9/2005, p. 6):

o ex-deputado federal José Geraldo Ribeiro, um dos seis anõescassados pela CPI do Orçamento, em 1994, continua na ativa,além de não ter sido até hoje punido pela Justiça. O inquéritoque tramita contra ele no Supremo Tribunal Federal por crimecontra a administração pública sequer foi transformado em ação.

Sob o título Inquérito aberto em 94 ainda não foi concluí-do, a jornalista Patrícia Aranha, autora desta matéria, acrescentaas seguintes informações:

Dezesseis volumes e 92 documentos anexados, um deles com 17volumes, outros com apenas dois. Esse é o resultado da denún-cia crime de improbidade administrativa feita pelo MinistérioPúblico Federal contra o ex-deputado José Geraldo Ribeiro, cas-sado pela Câmara em 15 de junho de 1994. Onze anos depois,o inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) ainda nãoacabou. A demora é tanta que o relator do processo que acom-panhou os trabalhos desde 1994 acabou se aposentando. Noúltimo dia 1º de julho, o ex-ministro Maurício Correa foi substi-tuído na relatoria pelo ministro Eros Grau. Como ainda se tratade uma investigação, nada do que foi apurado pode vir a público.Foram dezenas de diligências feitas pela Polícia Federal, pela Jus-tiça Federal em Minas e pelos ministérios públicos federal e esta-dual, mas por enquanto o inquérito 891 assusta mais pelo volu-me do que pelos resultados. Até agora, nem mesmo decisão

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liminar foi tomada. Como o inquérito não teve fim, José GeraldoRibeiro não teve que devolver os milhões que desviou do Orça-mento, nem amargou qualquer período na prisão. Além disso,desde 1998 pode concorrer novamente a um cargo eletivo.

Para pôr termo à morosidade da Justiça e fazê-la mais efi-caz, é necessário, portanto, uma reforma radical do Judiciário, aqual deve incluir, também, o direito do povo de escolher osmembros das Cortes Superiores pelo voto, com ocorre com oSenado, ou seja, mandato eletivo de 8 anos e 3 representantespor Estado, e não cargo vitalício, de livre escolha de outro podercomo atualmente. Este procedimento torna o Poder Judiciárioum poder menor, na medida em que, ao depender de outro po-der para nomear os membros das Cortes Superiores, fica a elesubordinado, queiram ou não seus integrantes, o que de restoreflete um pecado original: a não unção pelo voto popular deseus mandatos, pois, como consta na Constituição no seu artigo1º, Parágrafo único: “Todo o poder emana do povo, que o exercepor meio de representantes eleitos ou diretamente”.

O Ministério do Pessoal da União

Com uma nova Constituição, será possível acabar com mui-tos privilégios, inclusive a praga do nepotismo, e transformar oTesouro Nacional em agente moralizador dos gastos da Uniãocom o funcionalismo dos três poderes, sejam eles da ativa oupensionistas, militares ou civis, inclusive com políticos ocupan-tes de cargos eletivos. Para pagamento do pessoal da União, porexemplo, seria criado no Tesouro Nacional o Caixa Único doPessoal da União, controlado por um Banco de Dados a ser ope-rado pelo Banco do Brasil. Ao delegar ao Banco do Brasil a res-ponsabilidade de montar e operar esse Banco de Dados, o Tesou-ro Nacional estaria evitando a criação de uma estrutura operacionalcara e ao mesmo tempo aproveitando uma já existente de âmbitonacional e de confiabilidade e experiência comprovadas. Com acriação do Caixa Único do Pessoal da União, no Tesouro Nacio-nal, será possível saber-se com segurança a natureza e o histórico

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de cada pagamento efetuado, evitando-se, conseqüentemente,quaisquer tipos de irregularidades, inclusive o não cumprimentode tetos salariais fixados em lei.

Paralelamente à criação do Caixa Único do Pessoal da Uniãoe do Banco de Dados, no Tesouro Nacional, seria criado comoseu suplemento o Cadastro Geral do Funcionalismo Público, con-trolado por um Banco de Dados a ser operado por um novoministério, o Ministério do Pessoal da União, que passaria acentralizar e gerenciar todo o funcionalismo hoje administradode maneira autônoma pelos três poderes. Os dois bancos dedados criados para controlar o pessoal da União – o do Tesouroe o do Ministério – teriam a mesma base de dados, mas ope-rariam de maneira diferente. O primeiro teria por finalidade con-trolar os gastos, enquanto o segundo os aspectos administrati-vos, como admissão, demissão, transferência e, principalmente,quantos são e onde trabalha cada funcionário dos três poderes.Com essas medidas haveria um maior controle do funcionalismopúblico, já que, como disse um ministro de certo Tribunal deContas, este tribunal, pela sua proverbial omissão, mais pareceum tribunal de faz-de-conta.

A partir da implantação dessa nova estrutura administrati-va, os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário passariam a re-quisitar ao Ministério do Pessoal da União os funcionários deque necessitassem para seu funcionamento, acabando conseqüen-temente com o atual sistema em que cada um deles tem seu pró-prio quadro de pessoal, com regras próprias, que muitas vezesacabam despertando ciúmes e ambições de funcionários de ou-tros poderes, que passam então a exigir “isonomias” de todaordem. Neste novo modelo, a admissão, demissão e transferên-cia do pessoal civil da União, inclusive a realização de concursospara preenchimento de novas vagas, passariam a ser de compe-tência exclusiva desse novo ministério, eliminando-se, conseqüen-temente, neste particular, a autonomia dos três poderes, já quetodos os funcionários públicos são pagos pelo Tesouro Nacio-nal. Esse mesmo princípio centralizador e moralizador pode seraplicado também nos Estados federados, onde o abuso dos po-deres constituídos na fixação dos salários de seus servidores nãoé menos escandaloso. Tais medidas, além de permitir uma maior

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racionalização dos serviços públicos e uma redução substancialdo quadro de pessoal, que poderá ser compensada por umamassiva informatização dos serviços públicos, possibilitará tam-bém uma redução do custo da máquina estatal, que já está com-prometendo a prestação de serviços básicos à população.

O Ministério dos Bens Imóveis da União

Seguindo o mesmo princípio centralizador sugerido paramoralizar o gerenciamento do pessoal da União e dos Estados,pode-se, com o mesmo objetivo, atribuir-se ao Tesouro Nacionala responsabilidade de construir e administrar os bens imóveis daUnião, de uso dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.Hoje em dia a construção e administração desses bens imóveissão feitos por cada um desses poderes, de forma autônoma eindependente, embora todos esses imóveis pertençam à União,pois foram construídos e são administrados com recursos doTesouro Nacional. Ora, se os recursos financeiros para bancaresses empreendimentos provêem do Tesouro Nacional, por quenão centralizar nesse órgão patrocinador todos os procedimen-tos pertinentes, não só para racionalizar seu uso, como tambémpara evitar desperdícios de dinheiro público e impropriedades detoda a ordem praticados pelos três poderes, bem exemplificadasnas construções suntuosas ou superfaturadas do Judiciário, comoo prédio inacabado do Fórum Trabalhista de São Paulo, o qualsegundo o Jornal do Brasil (23/7/2000, p. 4), consumiu verbasde R$235 milhões de reais. Para disciplinar e moralizar a cons-trução e administração dos bens da União para uso dos trêspoderes da República, seria criado no Tesouro Nacional o CaixaÚnico dos Bens Imóveis da União, controlado por um Banco deDados, a ser operado pela Caixa Econômica Federal. Ao delegara essa instituição o encargo de operar esse banco de dados, aexemplo do que é sugerido em relação ao Banco do Brasil nocaso do pessoal da União, atingir-se-á os mesmos objetivos, ouseja, evitar a criação de uma estrutura operacional cara e, aomesmo tempo, aproveitar uma já existente de âmbito nacional.Paralelamente à criação do Caixa Único dos Bens Imóveis da União

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e do Banco de Dados, no Tesouro Nacional, seria criado, comoseu complemento, o Cadastro Geral dos Bens Imóveis da União,controlado por um Banco de Dados a ser operado por um novoministério, o Ministério dos Bens Imóveis da União, que pas-saria a centralizar com exclusividade todas as construções egerenciamento dos bens imóveis da União, para uso dos trêspoderes, hoje de competência de cada um deles. Os dois bancosde dados criados para controlar os bens imóveis da União – o doTesouro e o do Ministério – operariam da mesma forma comosugerido para controlar o pessoal da União, isto é, teriam a mes-ma base de dados, mas operariam de maneira diferente: o primei-ro teria por finalidade controlar a parte financeira, enquanto osegundo, os aspectos administrativos.

O Instituto Brasileiro de Seguro Social

Outra questão que requer medidas radicais para moralizaro trato da coisa pública e racionalizar a máquina administrativado Estado é a da aposentadoria dos servidores públicos, civis emilitares, federais, estaduais e municipais, pertencentes ao trêspoderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). Para este caso, asugestão é a fusão de todos os institutos de aposentadoria queatendem a esses segmentos da administração pública com o Ins-tituto Nacional do Seguro Social (INSS), surgindo daí uma novainstituição: o Instituto Brasileiro de Seguro Social (IBSS). Comtais medidas será possível estabelecer um teto máximo para asaposentadorias tanto do setor público como do privado, evitan-do-se conseqüentemente as distorções hoje observadas.

Para viabilizar financeiramente esse novo instituto, após afusão, cada beneficiário poderia receber tantas aposentadoriasquantas tivesse direito, desde que o somatório de seus valoresnão ultrapassasse o teto máximo fixado em lei; teto este quepoderia ser variável em função dos recursos disponíveis, acimado qual nenhum valor poderia ser pago, sob quaisquer pretextos.

Para que o IBSS passe a funcionar de forma eficiente e semfraudes, deverá ser vinculado ao Tesouro Nacional, que delegariaao Banco do Brasil sua administração, criando-se para isso um

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Banco de Dados para cruzar informações com o Cadastro Geraldo Funcionalismo Público da União, dos Estados e dos Muni-cípios. Esta medida, inclusive, poria fim a situações escandalosascomo a denunciada pelo Jornal Estado de Minas (13/10/2002,p. 1):

O desempenho da área de cobrança da Previdência Social estáagonizando, sendo alvo de críticas de especialistas e até do Tri-bunal de Contas da União (TCU), órgão fiscalizador das contasfederais. De 1995 até o mês passado, os débitos das empresasjunto ao INSS saltaram de R$20 bilhões para R$87 bilhões. Des-se montante, apenas R$4,2 bilhões entraram no caixaprevidenciário no mesmo período. Do estoque total da dívidaativa, o governo resgatou somente 0,4% no ano passado, de-sempenho pior aos já inexpressivos 2% conseguidos em 1998.A média internacional, porém, é muito superior, chegando a 60%.O TCU constatou que a Previdência encaminhou à Justiça apenasum terço dos débitos inscritos a cada ano na dívida ativa da União.Ou seja, do estoque de R$87 bilhões, apenas R$48 bilhões es-tão sendo cobrados judicialmente. O restante, para sorte dosdevedores, descansa nas gavetas do INSS.

Para possibilitar ao Tesouro Nacional assumir os encargosfinanceiros com as aposentadorias hoje de responsabilidade dosEstados e municípios, que redirecionariam esses recursos na im-plantação da Escola Pública de Tempo Integral e no Sistema Úni-co de Saúde (SUS), respectivamente, os fundos de pensão dasempresas estatais e outros órgãos federais da administração dire-ta ou indireta que os possuem seriam obrigados a liquidar seusativos financeiros e aplicarem estes recursos na compra de Títu-los do Tesouro Nacional, especialmente emitidos para esse fim,cujos rendimentos seriam utilizados por essas instituições parahonrar seus compromissos. No caso de superávits, as sobrasseriam reaplicadas na compra de novos títulos do Tesouro, únicaaplicação permitida aos fundos, para evitar prejuízos causadospela má gestão de seu patrimônio. Essa troca de ativos será bené-fica tanto para moralizar as contas públicas, como pelo reforçode caixa que representará para o Tesouro esse substancial aportede dinheiro novo. Além disso, essa medida proporcionará maior

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segurança e transparência para os fundos, na administração deseus bens, evitando prejuízos aos associados, às patrocinadorase aos cofres públicos, como informou a jornalista Bianca Giannini,em reportagem intitulada Dinheiro do Contribuinte – União des-peja R$18,4 bi em cinco fundos de pensão (Estado de Minas,12/5/2002, “Economia”):

“Cercados por denúncias de corrupção, uso político de recursose distorções na aplicação do dinheiro arrecadado, os fundos depensão das empresas estatais têm representado um alto custopara as finanças do País. Apenas os cinco maiores fundos deestatais federais conseguiram fechar nos últimos quatro anos acor-dos com suas patrocinadoras, numa sangria de R$18,4 bilhõesdos cofres públicos. Elas são donas de uma fortuna de R$ 72,4bilhões. Para se ter idéia do poder de fogo do grupo, toda aindústria de fundos de pensão, que reúne 363 entidades, movi-menta R$155 bilhões de mais de 360 entidades, públicas e pri-vadas. [...] Alguns fundos de pensão colocam sobre o fraco de-sempenho das bolsas de valores no último ano e as dívidas pen-dentes das empresas patrocinadoras a responsabilidade pelodesequilíbrio atuarial que vêm apresentando. Relatórios de fisca-lização da Secretaria de Previdência Complementar (SPC), noentanto, mostram que muito dinheiro foi escoado pelo ralo pormá administração de recursos. [...] Os prejuízos foram obtidosno decorrer dos anos por meio de aplicações em ações, debên-tures, imóveis, investimentos imobiliários e até empréstimos aospróprios participantes. São vários os exemplos de negócios queresultaram em perdas financeiras para os fundos”.

Para que não haja uma desvalorização massiva dos ativosdos fundos e um colapso da Bolsa de Valores, pois esses fundossão seus maiores aplicadores, a liquidação desses ativos seriafeita dentro do contexto da renegociação da dívida pública, comosugerida no final deste capítulo. Para isso seria permitido o res-gate antecipado dos Títulos do Tesouro Nacional, das Séries Ver-de e Azul, aos portadores que os utilizassem na compra dosativos dos fundos de pensão, por intermédio de leilões na Bolsade Valores.

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Uma nova divisão territorial da Federação

A reestruturação do Estado Brasileiro envolve também su-peração de conflitos envolvendo os Estados entre si e o GovernoFederal. Esta medida passa necessariamente por um novo pactofederativo, no âmbito de uma nova Constituição, na qual umaredivisão territorial da federação se coloca como um ponto es-sencial. Essa nova face do Brasil pode comportar, entre outras, asseguintes divisões: o Estado do Pará seria divido em três novosestados, ou seja, um estado compreendendo a região situada aonorte do Rio Amazonas (Trombetas); um segundo, abrangendo amesopotâmia Xingu/Tapajós (Tapajós); e um terceiro, formadocom as terras remanescentes do atual Estado (Pará). Da mesmaforma é necessário, para o equilíbro da federação, que o Estadodo Amazonas seja dividido em pelo menos mais dois novos esta-dos, a saber: um estado compreendendo a mesopotâmia Tapajós/Purus (Madeira); um segundo compreendendo a região sul doRio Solimões, desde a foz do Rio Purus até a divisa com o Peru(Solimões). Tais divisões devem incluir o Estado do Acre, queserá aumentado avançando seus limites até o Rio Solimões nadivisa com o Peru. Nesta nova divisão, o Estado do Amazonascompreenderia seus domínios a norte dos rios Amazonas eSolimões. Nessa nova divisão do território brasileiro, a fusão deEstados pequenos com outros com melhor potencial econômicoé uma necessidade imperiosa. Neste contexto, a Bahia poderiaunir-se ao Sergipe, Pernambuco com Alagoas e a Paraíba com oRio Grande do Norte, ensejando assim o aparecimento de novosestados capazes de promoverem um desenvolvimento auto-sus-tentado, livres, portanto, da dependência do Governo Federal.

Com essas modificações territoriais, as grandes regiões dopaís ficariam assim constituídas: a Região Nordeste excluiria oEstado do Maranhão, que passaria a integrar uma nova regiãodenominada de Amazônia Oriental, que compreenderia os Es-tados do Amapá, Maranhão, Pará, Tapajós, Tocantins, Trombe-tas, e a região a leste do Rio Teles Pires no Estado de MatoGrosso. Uma segunda região amazônica, a Amazônia Ociden-tal, compreenderia os Estados do Acre, Amazonas, Rondônia,

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Roraima, Madeira, Solimões e a região oeste do Rio Teles Piresno Estado de Mato Grosso. A região Centro-Oeste compreen-deria, além do Distrito Federal, os Estados de Mato Grosso doSul, Goiás e a parte sul do Estado do Mato Grosso pertencenteà Bacia do Prata. As demais regiões, Sul e Sudeste continuariamcom seus limites inalterados.

Para completar essa reformulação territorial da federação,seria necessário ainda a criação de um novo território, o Territó-rio Federal das Ilhas Oceânicas, para administrar todas as ilhasoceânicas, as quais seriam transformadas em reservas ecológicase bases para pesquisas oceânicas, e colocadas sob responsabili-dade da Marinha de Guerra, e a transformação de Brasília, oDistrito Federal, em um Município Neutro. Esta é uma medidaque se impõe para corrigir uma das maiores anomalias existentesno sistema federativo do Brasil, ou seja, o pseudo-estado repre-sentado por Brasília, a capital federal, que só foi criado pela má-fé de políticos desonestos, pois a opção natural para essa cidadeseria o estatuto de município. Neste particular é bom lembrarque o atual modelo federativo foi copiado dos Estados Unidosda América, inclusive o conceito de Distrito Federal para a capitalfederal, que agora assume ares de unidade federativa, com carac-terísticas ao mesmo tempo de Município e Estado, e com tudo oque este tem de penduricalhos, ou seja, deputados, senadores,Judiciário, polícia, etc. Afinal de contas, para que criar uma es-trutura complexa e cara como essa? Apenas para atender a ques-tões administrativas de um município? No Império, a capital dopaís gozava o status de Município Neutro, passando a denomi-nar-se Distrito Federal com a Constituição Republicana de 1891.Por que não reativá-lo ao invés de copiar o modelo americanoque nada tem que ver conosco?

O resgate da dívida social

O resgate da dívida social, a eliminação da pobreza e o fimda exclusão social são objetivos prioritários de um projeto na-cional, os quais só serão alcançados se forem tomadas medidas

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radicais na distribuição da renda nacional. Isto poderá ser feitorapidamente a partir de uma reforma agrária que transfirapatrimônio para os excluídos, uma reforma urbana que lhes dêuma moradia digna desse nome e uma mudança de mentalidadepor parte da elite para viabilização dessas reformas. Além disso,será necessário também uma renegociação da dívida externa parapôr fim à política maniqueísta de pagar juros a qualquer custo,mesmo sabendo que essa dívida é impagável e que bloqueia todasas iniciativas do poder público e da iniciativa privada no sentidode construir um país mais justo e fraterno, baseado numa econo-mia de mercado sem distorções que a inviabiliza.

A Reforma Agrária

O primeiro passo no sentido de viabilizar a reforma agráriafoi dado pelo Governo Federal ao cancelar o cadastro com in-dícios de grilagem, como informou o Jornal Estado de Minas(18/7/2000, p. 7):

O Ministério do Desenvolvimento Agrário cancelou ontem o ca-dastro de 1.899 grandes latifúndios em todo o país, que juntossomam 62,5 milhões de hectares. A área corresponde a quasetrês vezes ao território de São Paulo e 2,5 vezes as terras que ogoverno destinou para assentamento de produtores nos últimoscinco anos.

No livro Projeto Brasil (COUTO, 2000), abordei a ques-tão da reforma agrária e, considerando que nada de substancialfoi feito até agora, retorno a discussão desse assunto.

Uma reforma agrária como instrumento de resgate da dívi-da social representa para o Brasil, neste momento histórico, umaoportunidade única para se corrigir pacificamente erros do pas-sado e abrir novas perspectivas para a sociedade. Por isso mes-mo, não deve resumir-se apenas em dar terra a uns poucos gru-pos organizados que lutam por um pedaço de chão, mas simcontemplar um universo muito maior, no qual todos os excluídosdeste País tenham a chance de começar uma vida nova, a partir deum patrimônio particular. Todavia, para que uma medida repara-

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dora como essa se concretize, é necessário conter a ação nefastada elite, que procura de todas as maneiras retardar ou impedir arealização de uma verdadeira reforma agrária, lançando mão paraisso de toda uma série de expedientes protelatórios, como fize-ram no passado para retardar e impedir a abolição da escravatu-ra. Entre tais manobras irracionais e perniciosas, destacam-se aLei de Terras de 1850, que, segundo Caldeira et. al. (1997),tinha como objetivo impedir o acesso à terra de todos os quenão faziam parte da elite, em especial os pobres e colonos euro-peus, e sua versão mais recente, o artigo 185 da Constituição de1988, que amarrou a reforma agrária ao conceito de proprieda-de produtiva, o que na prática a inviabilizou. O conceito de pro-priedade produtiva, além de ser subjetivo, é de natureza técnica eligado à ação fiscal do Estado e foi maliciosamente inserido naConstituição com o claro objetivo de impedir e retardar a execu-ção de uma verdadeira reforma agrária, assunto eminentementepolítico.

Mas as artimanhas da elite contra a reforma agrária nãoficam somente neste tipo de expediente subjetivo. Como tentoufazer no passado com a questão da abolição, ela agora procuratambém transformar a reforma agrária num grande negócio como dinheiro público. Naquela ocasião, quando o fim da escravidãoera inevitável, a elite tratou de induzir o governo a contratar vul-toso empréstimo no exterior para cobrir os gastos das indeniza-ções que exigia para libertar seus escravos, o que só não se con-cretizou porque o processo libertário foi mais rápido e abortouessa tramóia indecorosa. Agora a elite volta à carga tentandoaplicar o mesmo golpe na sociedade, desta vez precavendo-se dainevitabilidade da reforma agrária. O procedimento é o mesmo,ou seja, a contratação pelo governo de um empréstimo no exte-rior, neste caso com o Banco Mundial, para financiar um arreme-do de reforma agrária, o chamado Programa Cédula da Terra,destinado à aquisição descentralizada de terra para fins de refor-ma agrária. Segundo os objetivos desse programa, as própriasfamílias dos sem-terra vão identificar os terrenos desejados, apre-sentar projetos e receber os recursos para compra da proprieda-de. O prazo de financiamento é de vinte anos. Além de ser umprograma claramente concebido para dividir e esvaziar os movi-

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mentos organizados que lutam por uma autêntica reforma agrá-ria, ele abre as portas para todo tipo de falcatruas, inclusive arealização do malfadado golpe abolicionista que a elite tentousem sucesso no século passado, agora reforçado pela criação dochamado Banco da Terra.

Uma reforma agrária como instrumento de justiça socialdeve ser feita no bojo de um movimento que mude radicalmentea política de uso e ocupação do solo, a começar pela substituiçãodo conceito de propriedade produtiva para o de área máximapara discriminar as propriedades rurais insuscetíveis de desapro-priação para fins de reforma agrária, como reza a Constituição.Esta área máxima pode ser definida como uma função com trêsvariáveis: a) a densidade demográfica de cada Estado da federa-ção; b) a aptidão do solo onde a propriedade estiver situada; e c)a preservação do meio ambiente. Esta proposição não deve serentendida como uma equação matemática, mas sim, como umpostulado político. Seguindo essa lógica, temos que:

a) quanto maior a densidade demográfica de um Estado,menor deverá ser a área máxima, pois aí o espaço a ser dividido émenor. Por exemplo, as propriedades situadas nos estados doNordeste deverão ter área máxima menor do que aquelas situa-das no Centro-Oeste;

b) levando-se em conta a aptidão do solo, a área máximaserá maior nos estados onde essa característica favoreça culturasextensivas, como a de soja, por exemplo. Neste caso, a área má-xima da região Sul será maior do que a da região Nordeste emenor do que a da região Centro-Oeste, devido à densidadedemográfica;

c) no caso da preservação do meio ambiente, a área máxi-ma será fixada observando-se características regionais especiais,ou sua vocação para determinadas atividades econômicas, comoo pantanal mato-grossense, por exemplo. Nesta região, a pecuá-ria é praticada em harmonia com o meio ambiente, o que permitefixar a área máxima para esta atividade maior do que para outrasfinalidades. Este mesmo princípio preservacionista pode ser apli-cado na Amazônia legal, com as chamadas reservas extrativistas,e na Ilha de Marajó, com a criação de búfalos. Ainda para favore-

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cer a preservação do meio ambiente e recuperar áreas degrada-das, deve-se retirar do cálculo da área máxima as matas ciliares ea cobertura florestal das nascentes. Além disso, como prêmioadicional, essas áreas, se respeitadas, ficarão isentas de impos-tos; caso contrário, além do pagamento desse encargo e das mul-tas legais, serão incluídas no cálculo da área máxima.

Para simplificar o processo de fixação das áreas máximas,válidas para todo o Brasil e respeitando as três variáveis dessafunção, o primeiro passo é tomar como base a divisão geográficado País e fazer os ajustes necessários para que o modelo a seradotado seja aceito sem maiores contestações ou demandas judi-ciais. Seguindo esse modelo, a divisão do território brasileiro,para efeito de reforma agrária, seria a seguinte:

a) Região Sul;b) Região Sudeste;c) Região Centro-Oeste;d) Região Nordeste (exclusive o Estado do Maranhão);e) Amazônia Ocidental;f) Amazônia Oriental (inclusive o Estado do Maranhão); eg) Áreas de Proteção Ambiental.Para flexibilizar a aplicação da nova lei agrária, cada Estado

poderá criar até três subdivisões da área máxima regional, semultrapassar seu teto, para atender diferenças físicas e políticas emseu território. Assim, por exemplo, o Estado de Minas Geraispoderá estabelecer uma área máxima para o Triângulo Mineiro,outra para a Bacia Geológica do São Francisco e uma terceirapara o restante do Estado. Quanto às áreas de proteção ambiental,as áreas máximas serão fixadas por critérios próprios estabeleci-dos em lei, desvinculando-se, portanto, dos parâmetros regio-nais onde se situarem, como é o caso do Pantanal Mato-Grossense, das reservas extrativistas da Amazônia e da Ilha deMarajó, para ficar nos casos citados. Tais medidas,complementadas pela limitação do número de propriedades porparte das pessoas físicas e jurídicas, são o meio mais prático deviabilizar a reforma agrária e garantir o direito de propriedade,sem necessidade de demandas judiciais, e acabar de vez com oslatifúndios e a inaceitável concentração fundiária hoje existenteno país, onde, segundo dados do INCRA (1996), 2% dos pro-

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prietários rurais possuem 50% das terras cadastradas (Estado deMinas, 12/9/1996).

Uma reforma agrária visando ao resgate da dívida socialatenderá a esses objetivos e evitará casos absurdos, como o ocor-rido com o Estado do Tocantins, o qual foi criado apenas paraatender às ambições de um político. Em nenhum momento noprocesso de criação desse Estado, falou-se em distribuir suasterras para os miseráveis deste País, que passam fome a vida toda,mas bastou naquela oportunidade uma pequena greve de fomepor parte desse personagem folclórico para que ganhasse de seuspares, no Congresso Nacional, não um pedaço de chão paraatender às suas necessidades, mas um vasto território para im-plantar sua capitania hereditária.

O que precisa ficar claro nesse jogo capitalista é que nin-guém no Brasil pode alegar ter direito natural sobre a posse daterra e, por via de conseqüência, tentar impedir a realização deuma reforma agrária com fins sociais. Todos os que vivem nestailha continente chamada América, de norte a sul, brasileiros ounão, são emigrantes de outros continentes e que aqui começa-ram a chegar nos últimos milênios: dez, segundo alguns pesqui-sadores, ou no máximo cinqüenta, segundo outros. Portanto sãotodos imigrantes, índios, brancos, pretos ou amarelos que aquise fixaram, sejam quais foram os motivos que forçaram seus mo-vimentos migratórios. A posse da terra entre nós é assim frutode regras diversas, estabelecidas ao longo do tempo por imigran-tes de variadas origens que aqui chegaram em épocas diferentes ede acordo com a evolução histórica de cada grupo. Assim sendo,estas regras podem ser mudadas sempre que os interesses dasociedade assim o exigir, como ensina nossa história, pois o pri-meiro grupo a definir regras para ocupação da Terra Brasilis fo-ram os portugueses com as Capitanias Hereditárias.

Segundo Bueno (1999, p. 9-15),

“a divisão do Brasil em capitanias hereditárias não seria apenas aprimeira tentativa oficial de colonização portuguesa na América.Aquela estava destinada a ser também a primeira vez que os eu-ropeus iriam se lançar no ousado projeto de transplantar seumodelo civilizatório para as vastidões continentais do NovoMundo. [...] O modelo de colonização utilizado no Brasil já era

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bem conhecido pelos portugueses e fora testado anteriormente:não só nas ilhas do Atlântico, mas, quase dois séculos antes, nopróprio território luso, especificamente no Alentejo e no Algarve,após essas regiões do sul de Portugal terem sido tomadas aosmouros durante a Reconquista cristã. Como aconteceu nos doiscasos anteriores, o Brasil foi dividido em vastas áreas chamadasde donatorias, ou capitanias hereditárias. Na América, esses lo-tes eram enormes: tinham cerca de 350 km de largura cada, pro-longando-se, em extensão, até a linha estabelecida pelo Tratadode Tordesilhas, em algum lugar no interior ainda desconhecidodo continente. As capitanias brasileiras possuíam, dessa forma,dimensões similares às das maiores nações européias. [...] Cercade dez anos depois de as capitanias terem sido criadas, as desor-dens internas, as lutas contra os nativos e a ameaçadora presençados franceses acabaram provocando o colapso do sistema que orei e seus conselheiros tinham optado por aplicar no Brasil. [...]O fracasso do projeto como um todo não impediu que o legadodas capitanias hereditárias fosse duradouro. A estrutura fundiáriado futuro país, a expansão da grande lavoura canavieira, a estru-tura social excludente, o tráfico de escravos em larga escala, omassacre dos indígenas: tudo isso se incorporou à história doBrasil após o desembarque dos donatários. Alguns dos grandeslatifúndios brasileiros de fato tiveram origem nas vastas sesmariasconcedidas aos colonos de estirpe mais nobre (chamavam-sesesmarias os lotes de terra virgem distribuídos pelos donatáriosa seus colonos)”.

Todos os modelos de posse das terras públicas, inventa-dos pela elite ao longo dos cinco séculos de nossa história (capi-tanias, sesmarias, comodatos, grilagens), são na verdade exem-plos de reforma agrária que fez em seu próprio beneficio, nãohavendo portanto razão alguma para agora se opor a que se façao mesmo em benefício daqueles que não pertencem a este seletogrupo: os excluídos de todos os matizes. Hoje a realidade socialimpõe novas regras para a posse da terra, seja para produziralimentos para todos, seja para promover o resgate da dívidasocial e varrer deste país todas as favelas que sitiam os grandescentros urbanos, aterrorizando sua população. A propósito daposse da terra, eis o que disse o Senhor a Moisés no Monte Sinai(Lv 25,23-24): “As terras não se venderão a título definitivo,porque a terra é minha, e vós sois estrangeiros e meus agregados.

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Portanto, a qualquer terra que possuirdes, concedereis o direitode resgate”.

A Reforma Urbana

Simultaneamente com a reforma agrária, deve-se cuidar tam-bém de sua irmã siamesa, a reforma urbana, pois o caos socialque atinge as cidades brasileiras, principalmente as regiões me-tropolitanas, tem raízes comuns: o êxodo rural e a proliferaçãode favelas.

O resultado desse caos urbano e social, somado à falta deplanejamento que leve em conta as necessidades básicas da po-pulação, inclusive a preservação do meio ambiente, pode ser vis-to na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, cujos governantesassistem inertes à favelização das matas que cobrem as monta-nhas que permeiam seu perímetro urbano sem reagir com umplano urbanístico que harmonize os interesses em jogo. Estamedida já está prevista na Constituição Federal, que em seu arti-go 182, determina a obrigatoriedade de um plano diretor comoinstrumento básico da política de desenvolvimento e de expan-são urbana para as cidades com mais de 25 mil habitantes. Combase nesse dispositivo constitucional e visando a reduzir os des-níveis sociais, além de dar às populações urbanas marginalizadasuma boa qualidade de vida e promover o uso racional dos recur-sos naturais e preservação do meio ambiente, é que se impõe acriação de novos bairros para receber as populações faveladas, jáque nos guetos onde vivem é impossível proporcionar-lhes pa-drões habitacionais que respeitem os direitos dos cidadãos.

Para agilizar o processo de inserção desses excluídos nasociedade, dada a urgência que este assunto requer, o poderpúblico deve desapropriar áreas específicas nas regiões metropo-litanas, preferencialmente localizadas ao longo das principais ro-dovias e ferrovias, para assim facilitar a implantação de transpor-tes urbanos e locomoção de seus moradores. Escolhidas essasáreas, imediatamente deverá ser providenciada a infra-estruturabásica necessária para sua efetivação, como ruas pavimentadas,

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meios-fios, redes de água tratada, esgoto sanitário, luz elétrica,telefone, hospitais, escolas e segurança pública. Terminada estaetapa básica, os lotes deverão ser doados ou vendidos aos futu-ros moradores, os quais, de posse dos certificados de proprie-dade, definitivo ou provisório, poderão, a seu critério, construirsuas casas em caráter emergencial, aproveitando o material reti-rado de seus antigos barracos nas favelas, ou definitiva, se assimo desejarem, com recursos próprios ou financiadas pelo gover-no. Para facilitar ainda mais esse processo, o Governo Federal,com apoio das Forças Armadas, poderá instalar para esses assen-tados barracas de campanha com dimensões apropriadas paraabrigá-los até que as construções definitivas estejam prontas.

Além dessas medidas emergenciais de curto prazo, é ne-cessário repensar as regiões metropolitanas do País, a médio elongo prazos, inclusive a legislação existente, pois, num planeja-mento estratégico, as questões básicas como abastecimento deágua, esgoto, lixo urbano, industrial e hospitalar, áreas de prote-ção ambiental, infra-estrutura de energia, transporte, etc., só po-dem ser equacionadas se forem levados em conta os aspectosregionais em jogo, os quais, quase sempre, extrapolam os limitesmunicipais e, em alguns casos, até estaduais. Neste caso, umexemplo preocupante é o que está acontecendo com o eixo Riode Janeiro-São Paulo, onde se prevê, para este século, o surgimentode uma megalópole pela união das regiões metropolitanas dessasduas cidades. Este assunto é gravíssimo e está a requerer umestudo detalhado desse eixo metropolitano, para que essa privi-legiada região não venha a ser tornar, por imprevidência dosgovernantes, numa favela descomunal, incontrolável, ameaçan-do, conseqüentemente, a existência do Estado organizado e dacivilização brasileira.

O primeiro passo num planejamento estratégico para or-denar o caos urbano e social existente nas regiões metropolita-nas do Rio de Janeiro e São Paulo está em se considerar a expan-são dessas metrópoles ao longo desse eixo e tratar este conjuntocomo uma megalópole em fase de acelerado crescimento. Umavez definido os limites dessa megalópole e os municípios ali exis-tentes, deve-se elaborar modelos dinâmicos dessa região, con-templando o estado atual e projeções futuras, por meio do

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geoprocessamento, técnica que utiliza imagens de satélites e re-cursos da informática para a criação desses modelos, e que per-mite também armazenar e processar todos os dados necessáriose suficientes para embasar as decisões a serem tomadas em nívelmunicipal, estadual ou federal. Essas informações constituem,por si só, um banco de dados que, pelas suas características,deve ser operado pelo Ministério da Defesa, que necessita dessasinformações para uso das Forças Armadas, as quais inclusive po-dem participar desse planejamento por meio de suas estruturasoperacionais e instituições de ensino e pesquisa, como o IME,INPE, etc. A Marinha, por exemplo, pode centralizar os estudose acompanhar os projetos relativos à despoluição da Baía daGuanabara e da orla marítima dessa megalópole, além de monitorara preservação do meio ambiente nessa região; o Exército poderáparticipar da elaboração, execução ou acompanhamento de gran-des projetos de engenharia, como acabar com as enchentes daRegião Metropolitana de São Paulo; e a Aeronáutica, por sua vez,participar dos levantamentos aéreos necessários para suporte dostrabalhos.

Considerando todos os aspectos em jogo num planeja-mento estratégico de uma importante região como essa, amegalópole Rio-São Paulo, e o envolvimento das Forças Arma-das, a operacionalização do Banco de Dados pelo Ministério daDefesa é de vital importância para evitar a perda e desatualizaçãode dados, que poderiam ocorrer se tal atribuição fosse confiadaa outra instituição pública ou privada, pelo risco dedescontinuidade administrativa que estão sujeitas, o que não ocor-re com as Forças Armadas, que são instituições permanentes.Além disso, uma empreitada como essa requer uma basecartográfica diversificada, que as Forças Armadas estão capacita-das a executá-la, a qual, associada ao geoprocessamento, poderáfornecer produtos informatizados aos diversos atores do pro-cesso, inclusive universidades, como a Universidade Federal doRio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade de São Paulo (USP), quejogarão importante papel nesse megaprojeto de planejamentourbano.

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Favelas e cidadania

No final de 2003, publiquei um pequeno livro intituladoOs 7 Pecados da Capital, no qual procurei sensibilizar a socieda-de mineira para os problemas da capital, principalmente os rela-cionados com o projeto do Governador Aécio Neves de transfe-rir o centro do poder da Praça da Liberdade para o AeroportoCarlos Prates. Como este projeto está em vias de concretizar-se,conforme noticiou o Jornal Estado de Minas, de 18/3/2005,resolvi alertar a classe política, por meio de carta, da insensatezdessa iniciativa, que só pode ter como mentor alguém que vivenum mundo cor-de-rosa e desdenha o drama das favelas quesitiam a cidade, numa repetição da alienação do reinado de LuizXVI que levou a França à Revolução. É inadmissível que, em faceda dura realidade dos favelados, marca indelével da capital dosmineiros, o Governador do Estado priorize um assunto que se-quer foi submetido à consideração da sociedade e que a afetarádiretamente, inclusive na sua auto-estima.

Por que transformar a Praça da Liberdade, que foi concebi-da para ser o centro do poder do Estado, num feudo artísticoonde os desocupados da elite se vão aboletar? Estes parasitasvivem à cata de imóveis vazios para criarem os chamados “espa-ços culturais”, eufemismo que utilizam para se apropriarem detodos os bens tornados inativos pela incúria administrativa demaus governantes, ou pelo desinteresse de particulares. Para seter idéia do que pretendem fazer com os imóveis da Praça daLiberdade e como vão ocupar este espaço até agora público, bas-ta consultar a referida edição do Jornal Estado de Minas e areportagem desse mesmo jornal (14/4/2005) sobre um tal Festi-val Minas Cult. É um verdadeiro delírio elitista que só pode serexplicado pela origem escravocrata da sociedade brasileira, quese lixa solenemente pelo que se passa na senzala, desde que hajafartura e festa na Casa-Grande e os capitães do mato estejam àpostos para colocarem no tronco a negrada rebelada.

Para mudar esse quadro é preciso que a sociedade mineiraliberte-se desse ranço escravocrata, encarando com mais serie-dade as questões sociais, e reaja contra essa tentativa de criar umfato consumado à sua revelia, que é a criação de um novo centro

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administrativo (projetado por Oscar Niemeyer), exigindo doGoverno do Estado um referendum para decidir essa questão.

Cidadania é um direito que tem de ser respeitado e umassunto de tamanha importância como esse, e os gastos perdulá-rios para viabilizá-lo, não pode ser decidido solitariamente porum governador, pois todo esse processo está ligado à história deMinas e dos mineiros, que plantaram nesse local um marco dis-tintivo de seu caráter libertário – o Palácio da Liberdade – e desua austeridade no trato da coisa pública – a singela praça que oenvolve. Se no caso dos imóveis da Praça da Liberdade for neces-sário ocupá-los, por que então não utilizá-los como Postos deSaúde, tão raros na cidade, ou creches e escolas públicas, poismuitos dos favelados e moradores dos bairros periféricos, quetrabalham no centro da Capital, não têm onde deixar seus filhos.

Afinal de contas, por que o arquiteto Oscar Niemeyer, umcomunista de carteirinha, não projetou até agora um conjuntohabitacional para os favelados? Neste caso não haveria falta dedinheiro para sua manutenção, como não falta para suas obras naPampulha, como informa o Jornal Estado de Minas (15/4/2005,p.23):

“Próximo à igreja, uma casa, também projetada por Niemeyer,serviria de abrigo para o então prefeito Juscelino, que morouapenas um ano na orla da Pampulha. [...] Atualmente, o imóvelestá fechado e é de propriedade particular. Porém, a prefeituraestuda a desapropriação, para transformá-lo em espaço cultural.[...] No espaço projetado para ser o cassino da cidade, doisnovos projetos estão em curso. O Museu de Arte passa porreformas na parte interna e, no segundo semestre, será iniciada aconstrução de um ponto de apoio ao museu. O anexo será ergui-do em frente ao prédio assinado por Niemeyer e vai abrigar partedo acervo do museu. [...] Outra proposta de expansão do mu-seu ainda está em estudo. No ano passado, Niemeyer entregouao prefeito Fernando Pimentel (PT) o projeto de um novo pré-dio, que seria construído ao lado do ex-cassino. A estrutura se-ria erguida como se estivesse saindo da água”.

Tanto interesse com cultura e arte contrasta com o descasocom que é tratada a questão da dívida social, assunto que certospolíticos preferem choramingar em terras africanas a encarar de

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frente a triste realidade dos descendentes dos escravizados nasfavelas brasileiras. Já está mais do que na hora de mudar esseenfoque elitista, trocando o circo pelo pão e respeitando os di-reitos dos cidadãos. Um bom começo seria mudar esse enfoquetambém na abordagem da questão da despoluição da Lagoa, naverdade um grande tanque de decantação de esgotos, que setornou um sorvedouro de verbas públicas, sempre disponíveis,pois se trata de um recanto da elite, mas que faltam para o sanea-mento das favelas. Segundo informa o Jornal Estado de Minas(10/9/2005, p. 19), em matéria intitulada Obra Interminável,são estas as cifras:

“Mais R$21 milhões para as obras de desassoreamento da Lagoada Pampulha. O anúncio foi feito pelo prefeito Fernando Pimentel,que esteve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terça-feira,em Brasília, e conseguiu R$17 milhões por meio de emendas dabancada mineira no Congresso. Os R$4 milhões restantes sãode contrapartida da prefeitura. (...) A prefeitura informa que desde2001 foram removidos mais de 1 milhão de metros cúbicos desedimentos e 800 toneladas de lixo. (...) ‘No ano passado, fo-ram gastos R$ 7,5 milhões para desassorear a lagoa de ondeforam retirados 1,5 mil metros cúbicos de terra e está tudo lá denovo. As garças conseguem ficar de pé no meio da areia’, diz opresidente da APAM, Flávio Marcus. Em 37 anos – de 1958 a1995 – a barragem perdeu 40% do espelho d’água e, segundoambientalistas, a lagoa estará completamente assoreada em 2020,se nada for feito”.

A renegociação da dívida externa

A renegociação da dívida externa é um desafio que se colo-ca aos governantes do País, muito parecido com aquele enfrenta-do por Alexandre no Templo de Zeus, pois só uma atitude radicale inovadora desatará esse nó, abrindo conseqüentemente cami-nho para o tão desejado desenvolvimento econômico e social. Apropósito é bom lembrar que a Conferência Nacional dos Bisposdo Brasil (CNBB) e mais 50 entidades civis organizaram, em se-

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tembro de 2000, um Plebiscito sobre a Dívida Externa, semque o governo de então tomasse qualquer atitude a respeito e,pelo andar da carruagem, nem o atual.

O primeiro passo para romper esse impasse é pesquisarcomo nossos principais credores agiram no passado quando seviram sufocados por dívidas impagáveis, como ocorre hoje como Brasil. Nos anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial,por exemplo, a sociedade americana estava contra a entrada dosEstado Unidos nesse conflito, sob a alegação, entre outras, deque tanto a Grã-Bretanha como a França e outros aliados nãohaviam pago suas dívidas contraídas durante a Primeira GuerraMundial. Neste caso ninguém falou em calote. Calote é, pois,coisa de país pobre ou subdesenvolvido, ou, pelo menos, paraos testas-de-ferro do sistema financeiro internacional.

Um outro exemplo de “calote internacional” por partede países desenvolvidos, e que a elite brasileira não comenta, foidado pelos principais países europeus logo após a Segunda GuerraMundial, quando estavam virtualmente quebrados e sem condi-ções de pagar seus credores, entre os quais se encontrava o Bra-sil. Nessa ocasião, mesmo recebendo ajuda dos norte-america-nos para recuperarem suas economias, por intermédio do PlanoMarshall, o que fizeram para pagar suas dívidas foi simplesmenteoferecer os artigos que produziam e não os que desejavam seuscredores. Era pegar ou largar.

O caminho menos traumático para promover a renegociaçãoda nossa dívida financeira está em se cumprir o que determina aConstituição de 1988, ou seja, a realização de uma AuditoriaPública da Dívida Externa. Para ordenar esse processo, inclusivepromovendo uma reavaliação global das dívidas públicas e priva-das, será necessário emitir Títulos do Tesouro nacional, paracobrir a dívida financeira pública, e Selos de Autenticidade, pararevalidar as dívidas privadas, contraídas no exterior por empre-sas nacionais e multinacionais. Esta é uma atitude de precaução ede bom senso, pois nenhuma nação subsistirá se não calcularcom precisão os meios que dispõe para enfrentar os desafios quese colocam em seu caminho. A própria Bíblia chama a atençãopara esta questão:

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De fato, se algum de vós quer construir uma torre, não se sentaprimeiro para calcular os gastos, para ver se tem o suficientepara terminar? Caso contrário, ele vai pôr o alicerce e não serácapaz de acabar. E todos os que virem isso começarão a zombar:“Este homem começou a construir e não foi capaz de acabar!”(Lc 14,28-30).

Títulos do Tesouro Nacional

Para possibilitar o cumprimento das exigências constitu-cionais, os Títulos do Tesouro Nacional seriam emitidos em qua-tro categorias, a saber:

1ª – Série Vermelha: Títulos emitidos para cobrir toda adívida financeira. Não resgatáveis ou negociáveis, servindo ape-nas para consolidar a dívida pública dos governos federal, esta-duais e municípais e identificar origens e favorecidos, para assimserem examinadas nos termos da Constituição de 1988 (audito-ria pública). Cumprida esta etapa, seriam trocados por títulosdas séries Amarela ou Verde, conforme o caso;

2ª – Série Amarela: Títulos emitidos para substituírem osda Série Vermelha, relativamente às dívidas já enquadradas nostermos da Constituição de 1988, porém não resgatáveis ou ne-gociáveis, em função de restrições pendentes;

3ª – Série Verde: Títulos emitidos para substituírem ostítulos das séries Vermelha ou Amarela, relativamente às dívidasliberadas para serem resgatadas em datas pré-fixadas. Negociá-veis, porém não incluídos no orçamento da União; e

4ª – Série Azul: Títulos emitidos para substituírem os daSérie Verde. Resgatáveis e negociáveis, já incluídos no orçamentoanual da união.

Selos de Autenticidade

Para facilitar a auditoria das dívidas financeiras do setorprivado contraídas no exterior e permitir o seu resgate, seriamcriados Selos de Autenticidade, também em quatro séries:

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1ª – Selo Vermelho: aplicado em todos os contratos dasdívidas financeiras do setor privado, os quais ficariam suspensosaté que fossem submetidos a uma auditoria, após o que recebe-riam os selos amarelo ou verde, conforme o caso;

2ª – Selo Amarelo: aplicado aos contratos com selo ver-melho, parcialmente liberados, mas necessitando de revisão nosseus termos, em função de restrições levantadas pela auditoria;

3ª – Selo Verde: aplicado aos contratos com selos verme-lho ou amarelo, já totalmente liberados em seus termos pela au-ditoria, porém ainda pendentes de enquadramento no cronogramageral de resgate;

4ª – Selo Azul: aplicado aos contratos de Selo Verde en-quadrados no cronograma geral de resgate.

O resgate da dívida pública

Para complementar essas medidas saneadoras das finançasdo País e criar uma relação racional com o sistema financeiro,seria proibido o pagamento das chamadas “taxas de riscos”, ouquaisquer outras, sobre os empréstimos contraídos pelo setorpúblico ou privado, sendo permitido apenas o pagamento dejuros com taxa equivalente àquela paga pelo tesouro dos EstadosUnidos da América para seus títulos; isto enquanto o dólar ame-ricano mantiver seu padrão e a economia desse país continuarsustentável, caso contrário, o governo brasileiro deverá estabele-cer critérios próprios de remuneração para tais empréstimos.

Uma vez cumpridas as etapas da Auditoria Pública das dívi-das e fixadas as condições e prazos para os resgates, o governobaixaria normas para possibilitar o resgate antecipado, se taisrecursos forem aplicados em projetos de infra-estrutura, como aFerrovia de Dom Bosco, ou no saneamento financeiro, como aliquidação dos ativos dos fundos de pensão, medidas estassugeridas anteriormente neste capítulo. Com estas providênciasacautelatórias, evitar-se-á o pânico no sistema financeiro e mora-lizará as relações do governo com a banca internacional,recolocando num patamar civilizado as regras de financiamento etaxas de juros.

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Para que o leitor tenha uma idéia da urgência dessa medida,basta atentar para os seguintes trechos de um artigo publicado naprimeira página do Caderno “Economia” do Jornal Estado deMinas de 24/7/2005, intitulado O Maior Escândalo:

“O maior escândalo do Brasil é legal e não precisa de uma CPIpara investigá-lo. De acordo com os últimos dados do BancoCentral, a despesa do governo com juros da sua dívida já atingiua astronômica cifra de R$1,01 trilhão desde 1994, ano inaugu-ral do Plano Real. A decisão do BC de manter a taxa básica (SELIC)no alto patamar de 19,75% ao ano, quarta-feira, reforçou aindamais a pressão desse gasto sobre as contas públicas. (...) ‘É omaior escândalo do Brasil’, resume, categórico, o especialistaAndré Araújo, autor de vários livros sobre os bancos centrais emtodo o mundo. ‘Se juntarmos todos os escândalos financeirosque envolveram corrupção com o dinheiro público não dá ummês do que pagamos em juros da dívida pública’. Para quem pen-sa que é um exagero, basta fazer uma conta simples. No anopassado, o governo pagou R$128,3 bilhões em serviços da dívi-da. Dá uma média de R$350 milhões por dia, ou R$ 10,5 bi-lhões por mês. (...) Por que os gastos com os serviços da dívidasão escandalosos? A resposta não é tão simples, mas pode serresumida. Antes de tudo, deve-se saber que o governo brasileiroprecisa de dinheiro para pagar suas despesas correntes e futuras.Para isso, ele vende papéis ao mercado financeiro, também co-nhecidos como títulos públicos – é assim no Brasil e em qualquerlugar do mundo capitalista. Para vendê-los, estabelece uma taxade juros, que será a remuneração que o comprador do papelreceberá (no Brasil, mais da metade dos títulos públicos tem comoíndice de correção a taxa básica de juros, definida todo mês peloBC). Se esse prêmio do investidor for pequeno, o governo terádificuldade de vender seus títulos. Se for em bom tamanho, ambasas partes ficam satisfeitas. Mas se for maior do que o necessário,o governo paga mais do que precisava e o gasto com juros explo-de. Segundo a maioria dos economistas, o Brasil se enquadra noúltimo caso. (...) Os números parecem dar razão a esses argu-mentos. A taxa de juros aqui é hoje a maior do mundo. Os19,75% do Brasil superam os 17% da Venezuela (segunda colo-cada) e os 14,3% anuais da Turquia. Para os investidores, po-rém, o indicador mais importante é o juro real, já que ele des-conta, da taxa básica, a inflação do período. Nessa comparação,o Brasil ganha disparado, com um juro real de 14,1%. A Hungria,

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vice-campeã, paga uma taxa (descontada a inflação) de 5,1% aoano. ‘Só linguagem de corridas de cavalo explica o que ocorre naeconomia brasileira. O País ganha com três corpos de vantagemda Hungria’, resume o economista e ex-ministro da Fazenda LuizCarlos Bresser-Pereira”.

A quebra de Contratos e a Bíblia

Para libertar o Brasil dessa incomoda posição de Prometeudo sistema financeiro internacional, acorrentado que está à mon-tanha dessa dívida e vendo todos os dias a Águia da agiotagemcomer-lhe o fígado, é necessário que seja decretada a moratóriadessa carga descomunal. Com isso será possível retirar esse far-do colocado pela elite nos ombros do povo, que se dobra parasustentá-lo, e que ela mesma se recusa a carregá-lo. É como disseJesus às multidões e aos discípulos (Mt 23,1.4): “Amarram far-dos pesados e insuportáveis e os põem nos ombros dos outros,mas eles mesmos não querem movê-los, nem sequer com umdedo”.

Depois Jesus falou ainda aos discípulos: Um homem rico tinhaum administrador que foi acusado de esbanjar os seus bens. Eleo chamou e lhe disse: “Que ouço dizer a teu respeito? Prestaconta da tua administração, pois já não podes mais administrarmeus bens”. O administrador, então, começou a refletir: “Meusenhor vai me tirar a administração. Que devo fazer? Cavar, nãotenho forças; mendigar, tenho vergonha. Ah! Já sei o que fazer,para que alguém me receba em sua casa quando eu for afastadoda administração”. Então chamou cada um dos que estavam de-vendo ao seu senhor. E perguntou ao primeiro: “Quanto devesao meu senhor?” Ele respondeu: “Cem barris de óleo!” O admi-nistrador disse: “Pega a tua conta, senta-te, depressa, e escreve:cinqüenta!” Depois perguntou a outro: “E tu, quanto deves?”Ele respondeu: “Cem sacas de trigo”. O administrador disse:“Pega tua conta e escreve: oitenta”. E o senhor elogiou o admi-nistrador desonesto, porque agiu em esperteza. De fato, os fi-lhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que osfilhos da luz (Lucas 16, 1-8).

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2. A G2. A G2. A G2. A G2. A GEOPOLÍTICEOPOLÍTICEOPOLÍTICEOPOLÍTICEOPOLÍTICAAAAA C C C C CONTINENTONTINENTONTINENTONTINENTONTINENTALALALALAL

A situação geográfica do Brasil na América do Sul, ondeocupa quase a metade de sua superfície, cerca de 47,3%, e cujoslimites com 10 dos 12 países do continente somam 15.719 kmde fronteiras abertas, confere à sociedade brasileira e dos demaispaíses sul-americanos um caráter globalizante, cujas conseqüên-cias nas correntes migratórias são imprevisíveis, se não foremtomadas medidas apropriadas para discipliná-las.

O fluxo migratório

Nesta virada de milênio, o fluxo migratório entre os paísessul-americanos está paralisado e contido pela estagnação econô-mica que afeta todos sem distinção. Esta situação, todavia, é pas-sageira, pois bastará que um país da região se destaque economi-camente perante os demais, para atrair sobre si migrantes que,sem emprego em seus países de origem, buscarão nos vizinhosmais desenvolvidos os meios para sobreviverem. Um exemploclássico dessa situação é a atração irresistível que os EstadosUnidos da América exercem sobre seu vizinho paupérrimo, oMéxico, cujos nativos procuram invadir em massa o territórioamericano, onde são contidos por cercas, muralhas, torres devigia e outros obstáculos artificiais, pois as barreiras naturais sãoimpotentes para detê-los.

No caso do Brasil, a permeabilidade de sua extensa fron-teira com os países vizinhos enseja um fluxo não previsto peloneoliberalismo, ou seja, o livre trânsito de pessoas de um paíspara outro, à revelia das autoridades e fora do controle dos ser-viços de imigração. Em passado recente, um movimento migrató-rio espontâneo levou milhares de brasileiros a cruzarem a fron-

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teira com o Paraguai em busca de terras para plantar, já que noBrasil estas lhes eram negadas, embora nosso país possua maisterras devolutas que a soma de toda as terras agricultáveis dopaís vizinho. A conseqüência desse movimento migratório foi oaparecimento de um novo cidadão sul-americano, de dupla nacio-nalidade, o Brasiguaio.

Exemplos dessa atração exercida pelos centros mais desen-volvidos sobre povos de zonas deprimidas economicamente estãopor toda a parte, inclusive na Europa, onde os europeus do Lesteestão invadindo em massa os países do Oeste, além de imigrantesdo mundo todo, como veiculou o Jornal Estado de Minas, emmatéria intitulada Nômades do século XXI (30/6/2002, p. 22):

Líderes dos 15 países que integram a União Européia reuniram-se em Sevilha, na Espanha, há 10 dias, para discutir o que fazerdiante da avalanche de populações maltrapilhas, procedentes detodos os cantos da Terra, que desembarcam em portos e aero-portos do continente, em busca de emprego e de uma vida me-lhor. A preocupação é grande, entre os atuais governantes. In-dignados com a invasão de gente de cultura e costume diferen-tes, os europeus começam a sufragar políticos da extrema direi-ta, que se comprometem, se eleitos, não só a fechar as portasaos imigrantes, de qualquer nacionalidade, mas a expulsar de seuspaíses os estrangeiros incômodos, conforme prometeu o francêsLe Pen.

No Brasil existem exemplos semelhantes, como a RegiãoSudeste que atrai migrantes de todas as regiões do país, especial-mente da Região Nordeste, a menos desenvolvida delas. Nestecaso não há fronteiras para barrar o fluxo migratório e o resulta-do pode ser visto nas favelas que sufocam os grandes centrosmetropolitanos como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.Com esses exemplos é fácil imaginar o que acontecerá na Améri-ca do Sul quando o desenvolvimento econômico de um país criarzonas de atração em frente dos demais. Esta situação acarretaráum problema gigantesco não só para o Brasil, como também paraos seus vizinhos, pois a mobilidade da população brasileira temraízes em sua formação histórica e estão aí, para confirmar, arevogação na prática do Tratado de Tordesilhas e, em temposmais recentes, a questão do Acre.

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A solução para tais problemas está no fortalecimento doMercado Comum Sul-Americano (Mercosul) e a adoção de umapolítica de desenvolvimento que evite os desequilíbrios regionaise a criação de centros dinâmicos ao lado de zonas deprimidaseconomicamente. O caminho para que tal objetivo seja alcançadojá começa a ser trilhado com a criação do Mercosul. O fortaleci-mento deste mercado e a ampliação de sua abrangência, paraincorporar todos os países sul-americanos num só bloco econô-mico, facilitarão a adoção de uma série de medidas que tornarãoas fronteiras mero limite cartográfico, como já está ocorrendocom os países que hoje formam a União Européia.

O primeiro passo concreto nessa direção foi dado em se-tembro de 2000 com a reunião em Brasília dos presidentes detodos os países sul-americanos, à exceção da colônia francesadas Guianas, como noticiou o Jornal do Brasil (2/9/2000, p. 1):

A primeira reunião de cúpula dos presidentes dos 12 países daAmérica do Sul terminou ontem com o compromisso de criar até2002 uma área de livre comércio reunindo os integrantes doMercosul aos da Comunidade Andina das Nações. Se concreti-zado, o novo espaço econômico abarcaria 340 milhões de habi-tantes e um PIB de US$1,3 trilhão.

O monitoramento das fronteiras

Caso tal união não aconteça, é bom que o Brasil e seusvizinhos sul-americanos se preparem com tecnologia avançada,inclusive com o emprego de sensores instalados em satélites, paramonitorarem suas fronteiras, pois os exemplos dos Estados Uni-dos da América e da Europa Ocidental não deixam dúvidas deque o problema é grave e complexo, constituindo-se este assun-to num dos maiores desafios para a sociedade globalizada doséculo XXI. No caso do Brasil, dada a extensão de suas fronteirase sua vulnerabilidade, a criação de zonas de exclusão com cam-pos minados é uma opção que as Forças Armadas brasileiras e ospaíses vizinhos terão de estudar, pelo menos para as regiõesfronteiriças com o Uruguai, Paraguai e Bolívia, onde o contraban-

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do, especialmente de gado e veículos, e o narcotráfico são facili-tados pela natureza do terreno.

Segundo o Jornal Estado de Minas (31/10/2005, p. 4):

as investigações da Polícia Federal brasileira na fronteira de Brasile Paraguai demonstraram que, além da região de Salto Guayrá,no departamento de Canindeyú, onde existem indícios de cen-tros de treinamento das Farc nas cidades de Pindoty Porá, Itanarãe La Paloma, os departamentos de Concepción, Amambay e SanPedro, todas fronteiriças com os estados de Mato Grosso do Sule Paraná, exigem atenção especial, por estar sendo usadas pelasgrandes organizações criminosas especializadas no tráfico de dro-gas e armas, o que cria terreno fértil para expansão da guerrilhacolombiana em território nacional. De acordo com a Polícia Fede-ral, 80% da produção de 18 mil toneladas de maconha, produzi-das no vizinho Paraguai, têm como destino os mercados consu-midores do Brasil, com importante área de cultivo em Amambaye San Pedro. Esta porta que se abre para a maconha tambémserve para a exportação da rentável cocaína colombiana.

Para enfrentar situações como essas, inclusive desastressanitários como a febre aftosa que atacou os rebanhos bovinosna fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, no segundosemestre de 2005, causando sérios prejuízos à economia do País,o Brasil já tem uma estrutura básica definida em lei, que pode sertransformada num cinturão de segurança contra infiltrações di-versas e em um cordão sanitário para proteger o territórionacional de todo tipo de invasão biológica, assunto que arremataeste livro. Trata-se da faixa fronteiriça dos 150 km, consideradaárea de segurança nacional. Para cumprir a função de cordão sa-nitário, por exemplo, essa faixa deve ser dividida em três seções,cada uma delas com 50 km de largura. Na primeira delas, a faixaexterna ou fronteiriça propriamente dita, considerada FAIXAVERMELHA, não seria permitida a criação animal de espécie al-guma. Na faixa central, a FAIXA ROSA, seria permitida a criaçãode animais não vacinados para detectar possíveis focos de doen-ças e suas origens. Na faixa interna, a FAIXA AMARELA, osanimais seriam vacinados sobre controle rigoroso, para evitarpossíveis falhas operacionais.

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Para reforçar essas medidas de caráter profilático, seria proi-bido a todos os proprietários de terras nessas faixas a posse, sobqualquer título, de propriedades rurais nos países vizinhos, evi-tando assim o intercâmbio animal entre suas propriedades ou deterceiros. Além disso, para fechar o território nacional a todosos tipos de invasões, seria construída uma cerca metálica ao lon-go da fronteira, acompanhada de uma faixa de exclusão de 3 kmde profundidade, onde as Forças Armadas colocariam todo tipode armadilhas para impedir sua violação. A vigilância ao longodessa cerca seria feita conjuntamente com a Guarda Nacional,assunto tratado a seguir, a Receita e a Polícia Federal. O intercâm-bio com os países vizinhos somente seria permitido através decorredores especiais devidamente vigiados e monitorados poressas forças de segurança.

Todavia, essas medidas isoladamente não serão suficientespara garantir a segurança interna do País, mas se inseridas numamplo programa de reestruturação das Forças Armadas e daspolícias federais e estaduais, bem como do sistema carcerário,elas poderão não só garantir a segurança da nação, como tam-bém contribuir de maneira eficaz na defesa continental e no com-bate à imigração clandestina, ao narcotráfico e a todas as formasde contrabando e agressões ao meio ambiente.

A Guarda Nacional

Para isso é necessário que seja criada, com militares daativa e reserva oriundos das Forças Armadas (Exército, Marinhae Aeronáutica), a Guarda Nacional, a fim de auxiliar o Exércitono controle das fronteiras terrestres (faixa dos 150 km) e a Ma-rinha na zona costeira, e controlar os postos alfandegários, por-tos e aeroportos. Esta nova unidade militar, de caráter policial,subordinada ao Ministério da Defesa, substituiria também as po-lícias militares estaduais como força auxiliar de segurança internae no policiamento da capital federal. Além disso, ficaria encarre-gada do policiamento das reservas indígenas, parques florestais ereservas ecológicas federais, e também de outros patrimônios daUnião.

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Para evitar superposição de funções, a Guarda Nacionalatuaria sob a supervisão das Forças Armadas, que teria o contro-le total sobre suas ações, pois se trata de uma força auxiliar cria-da para se ocupar de uma missão que para os exércitos regularesé secundária, mas para a nação é de vital importância: a vigilânciapolicial. No exercício desta função, os militares da ativa do Exér-cito, da Marinha e da Aeronáutica teriam oportunidade de colo-car em prática seus treinamentos para enfrentamento de situa-ções bélicas reais, tirando daí o melhor proveito para sua forma-ção profissional. A temporada dos militares da ativa das ForçasArmadas na Guarda Nacional seria considerada como um estágioobrigatório para avaliação de desempenho em situações de riscose pré-requisito para eventuais promoções.

A Polícia Federal

Nesse novo contexto, a Polícia Federal absorveria todas asoutras polícias federais, como a Rodoviária, Ferroviária, Portuá-ria, etc., passando a atuar como uma polícia investigativa, reser-vada, não uniformizada, como o FBI norte-americano. Esta novapolícia passaria a emitir, em conjunto com as Forças Armadas, asCarteiras de Identidade, hoje a cargo das polícias estaduais, alémdos passaportes que normalmente já emite.

O Ministério da Defesa

A emissão de Carteiras de Identidade pela Polícia Federal,em conjunto com as Forças Armadas, visa acabar com as falsifica-ções e outros tipos de delitos, além de permitir a criação de umbanco de dados informatizado com essa finalidade, a ser geridoem parceria com o Ministério da Defesa, que seria o depositárioe guardião dos dados originais e o único autorizado a operaresse banco de dados para incluir novos elementos, quaisquerque sejam. Esse banco de dados seria criado pelo Ministério daDefesa com os dados pessoais dos reservistas das Forças Arma-

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das, os quais passariam a receber a nova Carteira de Identidadeem lugar do atual Certificado de Reservista. Neste novo modelo,todos os jovens, de ambos os sexos, ao completarem 18 anos,passariam pelos exames de seleção, dos quais inclusive se deter-minaria o DNA como forma de se evitar falsificações, e cujo aces-so somente poderia ser obtido, no banco de dados operado peloMinistério da Defesa, por decisão judicial e por intermédio daPolícia Federal. Essa nova Carteira de Identidade somente seriafornecida aos jovens que completassem 18 anos a partir da im-plantação do Banco de Dados do Ministério da Defesa.

Além disso, todos os reservistas passariam por um examemédico detalhado, inclusive exames de sangue, urina e fezes, paradeterminar o estado de saúde deles, avaliando conseqüentemen-te as condições físicas e mentais da juventude num momentocrucial de seu desenvolvimento orgânico. Este exame seguiria umpadrão estabelecido de comum acordo com o Ministério da Saú-de, visando a um só tempo avaliar as políticas de saúde publicapara a infância e juventude e fornecer às Forças Armadasparâmetros para seleção de jovens conscritos para o serviço mi-litar.

A Polícia Carcerária Federal

Paralelamente a essas medidas, todo sistema carcerário se-ria federalizado e seu controle entregue a uma nova polícia – aPolícia Carcerária Federal –, acabando conseqüentemente com oatual sistema no qual quem prende também guarda o elementopreso, facilitando assim toda sorte de arbitrariedades ao arrepioda lei. Nesse novo modelo, as polícias estaduais e federal pren-deriam os infratores e os colocariam à disposição da Justiça sobguarda da Polícia Carcerária Federal, que a partir daí ficaria res-ponsável pela integridade física e psicológica dos detentos. Parao cumprimento deste encargo, os interrogatórios dos prisionei-ros por parte das polícias estaduais e federal seriam feitos sob asupervisão dessa Polícia Carcerária e com a presença de um re-presentante do Poder Judiciário.

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O Sistema Prisional e adignidade do ser humano

Além disso, todas as instalações carcerárias do País sofreri-am modificações para evitar a promiscuidade entre os presos e oenvolvimento criminoso com os carcereiros, o que acaba geran-do a violência entre detentos, inclusive assassinatos de desafetos,rebeliões, fugas e captura de reféns. Outra medida que contri-buiria para dar mais dignidade ao Sistema Prisional, seria a ado-ção de uniformes tanto para os presos como para os policiais,como fazem os países civilizados. Para atingir esses objetivos, oprimeiro passo está em se visitar as prisões de países onde osdireitos humanos são respeitados, como a Inglaterra, França, Ale-manha e até mesmo os Estados Unidos da América, onde, apesardos pesares, o Sistema Prisional é bastante seguro e tem um per-fil peculiar.

Mas quaisquer que sejam as medidas a serem tomadas, umanorma deve ser rigorosamente respeitada: uma cela para cadapreso. Com esta medida será possível eliminar um dos maioresatentados à cidadania existente entre nós, a chamada “prisão es-pecial”. Este privilégio, reservado para os cidadãos consideradosde primeira classe, os de “nível superior”, além de ser um rançoescravocrata, pois perpetua a senzala, é o grande responsávelpela situação degradante das prisões brasileiras, uma mancha queenvergonha qualquer cidadão deste País com um mínimo de dig-nidade e senso de cidadania. Para ser ter uma idéia a que pontochegamos nessa questão, que revolta até os próprios carcereiros,levando-os a tomar medidas desesperadas, basta atentar para aseguinte notícia publicada pelo Jornal Estado de Minas (29/9/2005, p. 26), sob o título Delegado punido por soltar preso:

O delegado Jorge de Souza Filho, lotado no plantão da 11ª Dele-gacia Distrital, na Savassi, região Sul de Belo Horizonte, foi colo-cado à disposição da Corregedoria-geral da Polícia Civil, por terliberado um criminoso confesso na noite de terça-feira, alegandofalta de cela para colocá-lo. Hoje, ele deve ser apresentar àcorregedoria para explicar o caso e pode ser processado. Mês

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passado, o delegado Renato Queiroz de Matos, lotado no 10ºDistrito, no bairro Serra, também na zona Sul, já havia sido afas-tado do cargo por ter liberado Gilberto Eustáquio Pereira, de 29anos, acusado de assalto a ônibus, alegando falta de cela, devidoà superlotação.

Enquanto a sociedade brasileira não resolver essa questão,pois é dever do Estado garantir a todo cidadão, sem distinção, odireito à privacidade e a integridade física e psicológica, mesmosendo um condenado pela Justiça, não será possível mudar oquadro de injustiça social que aí está, pois revela que não estápreparada para encarar de frente o cerne de todo processocivilizatório: a dignidade do ser humano.

As Polícias Estaduais de Segurança Pública

As Polícias Estaduais de Segurança Pública, criadas pela fu-são das polícias civis e militares, uma vez desvinculadas da funçãode guardar presos e emitir Carteiras de Identidade assumirão asatribuições das polícias rodoviárias federal e estadual, que serãoextintas, passando assim a ser a única força policial em cada Esta-do. Para que o aparelho militar estatal passe a atuar como instru-mento de fortalecimento da democracia e não atente contra ela, énecessário que o ingresso nas escolas de formação de oficiais, dasPolícias Estaduais e das Forças Armadas, seja feito por meio devestibulares, como os que regulam a entrada nas universidades.Essa medida propiciará uma democratização do acesso aos qua-dros superiores dessas instituições militares, acabando conseqüen-temente com as elitistas escolas preparatórias de cadetes, colégiosmilitares e outros privilégios que transformaram as Forças Arma-das numa oligarquia familiar (de acordo com a imprensa, 60% daoficialidade tem laços de parentesco entre si).

Como medida adicional para valorização da cidadania, todoo quadro das corporações militares, praças e oficiais da União,Estados e Municípios, obrigatoriamente, seria formado eqüitati-vamente por homens e mulheres, ou seja, 50% de cada sexo.

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Esta medida, além de reforçar a igualdade de direitos, irá contri-buir de forma decisiva para acabar com os chamados “esqua-drões da morte” que infestam as Polícias Estaduais, pois compatrulhas mistas será muito difícil para esses assassinos encon-trarem parceiros para seus crimes ou mantê-los ocultos.

A reestruturação das Forças Armadas

Como conseqüência dessas providências, as Forças Arma-das ficarão mais livres para se dedicarem a sua finalidade maior,ou seja, a defesa da nação contra as agressões externas. Contu-do, para que tal objetivo seja alcançado, é necessário umareestruturação das Forças Armadas e uma nova divisão de atri-buições do aparelho estatal de segurança. Neste novo modelo, oMinistério da Defesa comandaria as Forças Armadas e a GuardaNacional; o Ministério do Interior (a ser criado), a GuardaCarcerária Federal e as Polícias Estaduais de Segurança Pública; eo Ministério da Justiça, a Polícia Federal.

A reestruturação das Forças Armadas compreenderia aindaa criação de sete comandos unificados (Exército, Marinha e Ae-ronáutica): 1º Comando Regional (CR) Sul, 2º CR Sudeste, 3ºCR Centro-Oeste, 4º CR Nordeste, 5º CR Amazônia Ocidental,6º CR Amazônia Oriental, 7º CC Brasília. Cada uma dessasregiões militares seria autônoma e prestaria contas diretamenteao Ministério da Defesa, que traçaria as diretrizes básicas para oseu funcionamento. Nas respectivas áreas de atuação, cada co-mando criaria um Banco de Dados informatizado para coletarinformações sobre a infra-estrutura operacional e o contextosocioecônomico regional, para embasar não só as decisões dasForças Armadas sobre seu comando, como também informar oMinistério da Defesa da real situação de sua área de atuação. Oacesso às informações de cada comando regional somente seriapossível por intermédio do Ministério da Defesa, que asdisponibilizaria, a seu critério.

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Além dessa reestruturação no seu sistema operacional, asForças Armadas devem também se ocupar com a defesa do trípliceecossistema sul-americano e com os oceanos adjacentes, tendoem vista sua influência nas condições climáticas do Brasil e daAmérica do Sul, no seu meio ambiente e na biodiversidade con-tinental. Para isso é necessário que haja uma distribuição de tare-fas: a Marinha centralizaria e coordenaria as pesquisas científicasexecutadas no Brasil e no exterior, relativas à calota polar e aosoceanos adjacentes; o Exército, àquelas relacionadas com o conti-nente sul-americano; e a Força Aérea, com as do espaço exterior.Todas as informações assim obtidas seriam armazenadas num únicobanco de dados controlado pelo Ministério da Defesa, que asdisponibilizaria para terceiros segundo critérios estabelecidos emlei. Além dessas informações, este banco de dados armazenariatambém, para cruzamento, outros elementos considerados estra-tégicos para a defesa do País e do Continente Sul-americano,como produção de alimentos, estado geral da população, vias detransportes, etc.

A defesa do trípliceecossistema sul-americano

A defesa do tríplice ecossistema sul-americano, formadopela América do Sul, Antártica e oceanos adjacentes – Atlântico,Pacífico e Polar –, é de vital importância para a prosperidade nasnações do continente e do bem-estar de sua população, pois aexploração dos recursos naturais (minerais, hídricos e energéticos)e da biodiversidade desses que são os últimos continentes prati-camente intocados, e dos oceanos que os cercam, requer a uniãodos governantes sul-americanos em sua defesa, já que outrospovos, de outros continentes, com o esgotamento de seus recur-sos naturais, tudo farão para saquear esse patrimônio e dele tiraro melhor proveito.

Dentro desse tríplice ecossistema, e visceralmente a ele inter-ligados e dele dependentes para manutenção do clima e dabiodiversidade, existem outros com suas próprias particularidades,

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como a Bacia Amazônica, a Cordilheira dos Andes, a calota polar eos oceanos adjacentes. A não preservação e controle dessesecossitemas irão provocar danos irreparáveis ao meio ambiente daAmérica do Sul, com conseqüências desastrosas para sua popula-ção. Para o Brasil, esses temas, além de prioritários, são tambémestratégicos, principalmente os relacionados com a defesa da BaciaAmazônica, em função das renovadas ameaças de internacionalizá-lafeitas sob os mais diferentes pretextos e disfarces.

Uma dessas ameaças foi denunciada pelos jornalistas ame-ricanos Gerard Colby e Charllote Dennet em um livro intituladoSeja Feita a Vossa Vontade - A conquista da amazônia: NelsonRockefeller e o evangelismo da idade do petróleo, como infor-mou o Jornal Estado de Minas (13/11/2000, p. 5):

“Fruto de uma extensa pesquisa que chegou até a arquivos secre-tos do milionário Nelson Rockefeller, o livro esclarece a estraté-gia imperialista para conquistar a Amazônia. [...] Já na leitura dostextos de apresentação do livro fica claro que Rockefeller nãoagiu sozinho. O líder protestante Cameron Towsend teve papeldefinitivo nesta trama cinematográfica, que por vezes parece en-redo de filme de espionagem. Townsend era o braço de Rockefellerpara evangelização das populações indígenas, uma das táticas uti-lizadas para tentar barrar o avanço do comunismo na AméricaLatina. Por trás do esforço de ambos formou-se uma rede deinteresses políticos e econômicos que resultou num dos casosmais escandalosos da política imperialista americana, com ata-ques à natureza, patrocínio de ditaduras, genocídios, exploraçãoindevida de riquezas naturais e espionagem, ressaltam as notasintrodutórias do livro”.

Na atualidade outros tipos de interesses, com o mesmoobjetivo, rondam nossas riquezas e ameaçam o meio ambiente daAmérica do Sul, como informou o Jornal Estado de Minas (“EM-Ecológico”, 7/5/2001, p. 1): “Somos o maior poluidor do mun-do. Mas, se for preciso, vamos poluir ainda mais para evitar umarecessão na economia americana”. (Frase dita por George W.Bush em seu primeiro encontro com o Presidente FHC, em Wa-shington). Se esse prepotente presidente americano não tem ne-nhum escrúpulo em atentar contra a natureza de seu própriopaís, imagine o que fará fora de seus limites territoriais.

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O Instituto de Pesquisa do Tríplice Ecossistema

Para dar suporte aos países sul-americanos, com vistas àproteção do seu patrimônio natural, ante as ameaças alienígenas,é necessário que se crie o Instituto de Pesquisa do TrípliceEcossistema (IPTEc) para, juntamente com o Instituto Nacionalde Pesquisa da Amazônia (INPA) e o Instituto Nacional de Pes-quisas Espaciais (INPE), desenvolver projetos de cooperação ci-entífica e tecnológica com as universidades e centros de pesqui-sas do País e da América do Sul. Para se ter uma idéia da grandezado potencial econômico da biodiversidade sul-americana e o ta-manho do prejuízo para o Brasil da não existência de um diplomalegal para regulamentar sua exploração de maneira racional e evi-tar a biopirataria, basta atentar para os seguintes dados citadospelo Jornal Estado de Minas:

É muito difícil dimensionar o prejuízo ou quanto o Brasil deixa deganhar com a biodiversidade da Amazônia Legal. Em recentepesquisa da revista científica Nature, o valor dos serviços propor-cionados pela biodiversidade mundial alcança a fabulosa cifra deUS$33 trilhões, quase o dobro do PIB mundial. O consultor doMinistério do Meio Ambiente, Mário Miranda Santos, através deum detalhado relatório ao qual o ESTADO DE MINAS teve aces-so, revela o enorme potencial econômico, caso sejamimplementados investimentos. Com planejamento, investimento epesquisa, o Brasil pode morder uma grande fatia do bolo de 800bilhões aferidos atualmente pela biotecnologia nas áreas de saúdehumana e animal, produção agrícola e industrial. Ele cita dois exem-plos: o controle biológico da lagarta da soja, por meio de baculovirusanticarsia, gera economia anual de US$200 milhões aos plantadoresbrasileiros. Outros US$100 milhões de economia referem-se aocontrole da cigarrinha da cana-de-açúcar com o uso de parasitóides.As duas pesquisas foram conduzidas por cientistas brasileiros evão gerar receitas através de royalties.

A liderança do Brasil na América do Sul

Na falta de uma liderança política e econômica do Brasil naAmérica do Sul, as intromissões dos Estados Unidos nas ques-

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tões internas dos países sul-americanos neste início de milêniosão feitas às claras, não só no plano econômico, mas também nopolítico, como está acontecendo na Venezuela de Hugo Chávez,na guerra civil colombiana, onde grupos guerrilheiros atuam emvárias frentes, em países fragilizados economicamente como aArgentina e a Bolívia, isso sem contar o próprio Brasil. A conse-qüência dessa perda de soberania pode ser vista no noticiário daimprensa, que registra as várias facetas da intervenção americanana América do Sul e o apelo de líderes políticos sul-americanospara que o Brasil assuma a liderança que lhe cabe como maiorpaís do continente.

A propósito da crise venezuelana e o papel do Brasil nesseprocesso, eis o que escreveram, na Coluna “Brasil S/A” do JornalEstado de Minas (14/7/2002, p. 7), os jornalistas Nirlando Beirãoe Antônio Machado:

Chávez vestiu a camisa – Não deve estar fácil a vida de HugoChávez, presidente da Venezuela. Três meses depois de sobrevi-ver a uma frustrada tentativa de golpe, volta a ter à sua volta ainsatisfação da elite criolla e da classe média de olho posto emMiami. A um graduado funcionário do Itamaraty que andou porCaracas, Chávez acenou com um pedido ansioso de amparo po-lítico por parte do Brasil. O argumento é que foi meio esquisitopelos padrões da diplomacia: o venezuelano lembrou que, detodos os dirigentes do mundo, ele foi o único que, no domingodo penta, vestiu em público a camisa canarinho. É a mais puraverdade. Nem FHC chegou a tanto.

Outro apelo ainda mais direto, e de forte conteúdo simbó-lico, para que o Brasil assuma a liderança política do continente,envolveu a espada libertadora de Simón Bolívar, como informouo Jornal Folha de São Paulo, em matéria intitulada Chávez mandaespada de Bolívar como presente (8/10/2002, Caderno “Elei-ções 2002”, p. 4):

Como presente pelo aniversário de 57 anos comemorado ante-ontem e por sua votação no primeiro turno, o presidente daVenezuela, Hugo Chávez , mandou para o petista Luiz Inácio Lulada Silva uma réplica da “espada da revolução bolivariana”. É umapeça mítica para os venezuelanos. A original, mantida desde 1974no cofre do Banco Central do país, pertenceu ao militar revolucio-

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nário Simón Bolívar (1783-1830), que liderou a independênciada Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. Lula recebeu opresente de parlamentares venezuelanos. A réplica veio acompa-nhada de uma mensagem pessoal de Chávez ao petista: “No Bra-sil, a revolução será iniciada por meio da eleição de Lula”, afirmao texto. Anteotem, Chávez já havia usado seu programa em ca-deia nacional de televisão na Venezuela, chamado “Alô, Presi-dente”, para enviar mensagem de aniversário a Lula, lembrandoque a data coincidia com as eleições: “Milhões de brasileirosdevem estar votando em suas esperanças, em suas idéias, pacifi-camente e na democracia. Boa sorte e o povo decidirá quem deveser o próximo presidente do Brasil. Brasil e Venezuela vão emdireção a um futuro comum no século 21”.

Mais adiante a reportagem informa:

As relações entre Lula e Chávez estão no centro das preocupa-ções dos Estados Unidos. Foi um dos principais temas questio-nados pelo embaixador Richard Haass, diretor do Escritório dePlanejamento de Políticas do Departamento de Estado dos EUA(assessor do secretário de Estado, Colin Powell), durante reu-nião com petistas no final de agosto.

Para harmonizar os interesses em jogo e preservar a sobe-rania dos países sul-americanos e o fortalecimento do Mercosul,é necessário um planejamento estratégico que contemple proje-tos de desenvolvimento econômico e social do continente, a cur-to, médio e longo prazos, antes de se atender às necessidades deoutros continentes ou de criação de outros blocos econômicoscomo a Alca, por exemplo.

A Área de Livre Comércio das Américas

A esse respeito nada mais oportuno do que transcrever,mesmo que parcialmente, a seguinte entrevista de Moniz Bandei-ra à jornalista Bertha Maakaroun (Estado de Minas, 22/7/2002,p. 8):

O governo norte-americano pretende anexar toda a América La-tina a seu espaço econômico e subordiná-la a seu mando políti-co-militar, por meio da Área de Livre Comércio das Américas

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(Alca). A Alca é nociva aos interesses do País e já passa da horade o Brasil suspender as negociações com os Estados Unidos. Aopinião é do professor titular aposentado da UNB, Luiz AlbertoVianna de Moniz Bandeira, doutor em Ciência Política, conside-rado um dos maiores especialistas brasileiros sobre as relaçõesinternacionais do Brasil em sua perspectiva histórica. Para ele, háa hipótese de que os Estados Unidos tenham abandonado a Ar-gentina para, indiretamente, debilitar o Brasil e o Mercosul, pavi-mentando o caminho da Alca. Apesar das dificuldadesconjunturais, o Mercosul não irá morrer, prevê. Vai sofrer atra-sos, poder até ser modificado, mas subsistirá porque há interes-ses muito grandes, há tratados firmados, considera. O cientistapolítico defende, desde 1990, que a proposta do Mercosul sejaestendida à África do Sul, a porta de entrada para a África negra.O Brasil também deve partir para um entendimento de maiorprofundidade com a Índia, a Rússia e, sobretudo, a China. Nachina é que está o futuro, acrescenta. Moniz Bandeira, que vivena Alemanha, tem mais de 20 obras publicadas e prepara-se parao lançamento de um novo livro pela editora Revan: A TrípliceAliança e o Mercosul.

Interesses estratégicos

O ano de 2003 desponta como marco inicial de uma novaordem econômica e social para o Brasil e a América do Sul, eassinala também que finalmente o Brasil acordou do secular sono“esplêndido” para a realidade continental, como informou o Jor-nal Estado de Minas (22/6/2003, p. 3):

“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu receber umsinal verde para seu projeto de liderança na América do Sul dequem mais poderia se preocupar com as investidas de um gover-no de centro-esquerda pela região. Em uma conversa reservadade 30 minutos com o presidente dos Estados Unidos, GeorgeW. Bush, sexta-feira, em Washington, Lula enfatizou como aintegração econômica e comercial pode trazer crescimento e es-tabilidade política para a região, com o cuidado de indicar a seuparceiro o quanto esse projeto pode se converter em um bomnegócio para as companhias americanas. [...] Mergulharam nas

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dificuldades enfrentadas pela Colômbia e Venezuela e, além daAmérica do Sul, conversaram sobre o processo de paz no Orien-te Médio. Bush, entretanto, mostrou-se particularmente interes-sado em conhecer a iniciativa do Brasil de estreitar suas relaçõescom a África e de montar um clube com os demais países mons-tros – as economias em desenvolvimento com população e terri-tórios imensos e boa parcela de influência nas suas regiões e noplano internacional, como África do Sul, Índia, China e Rússia,com os quais o Brasil pretende montar o Grupo dos Cinco. OBrasil não quer manter uma relação hegemônica, mas de genero-sidade com os parceiros mais fracos, afirmou Lula, logo depoisdas reuniões e do almoço com Bush, na Casa Branca”.

Em que pese a importância que o Brasil atribui a esse en-contro, o mesmo parece não acontecer do lado americano, comomostra a seguinte nota que acompanha a mesma reportagem:

O encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presi-dente dos EUA, George W. Bush, foi praticamente ignorado pelagrande imprensa americana ontem. Apenas o Jornal WashingtonPost publicou uma pequena nota, na seção Washington in brief,sobre a reunião realizada anteontem na Casa Branca. Já o TheNew York Times, em sua edição veiculada em Washington, nãotrouxe qualquer referência ao encontro. O USA Today tambémnão mencionou a reunião em sua edição de ontem.

A Associação dos Países Sul-Americanos

Nesse contexto é uma prioridade para os países da Améri-ca do Sul criarem a Associação dos Países Sul-Americanos(APASUL) para fazerem valer seus interesses, que, em muitosaspectos, diferem dos da América do Norte, particularmente nocontrole e exploração da biodiversidade da América do Sul e porextensão do Tríplice Ecossistema. Neste aspecto é bom lembrarque esse distanciamento reflete uma particularidade do substratotelúrico que condiciona essa divisão, pois a Placa Tectônica daAmérica do Sul é separada da Placa Tectônica da América doNorte pela zona de instabilidade do Caribe, formando assim am-

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bientes geológicos distintos. Essa proteção natural do continen-te sul-americano, em sua porção Norte, é reforçada por outroselementos, como a Cordilheira dos Andes, a oeste, que, segun-do o guia de Dom Bosco, “são como balizas, são um limite”, acalota polar, ao sul, e os oceanos Atlântico e Pacífico, que, jun-tos, formam um excepcional e formidável cinturão de defesa daAmérica do Sul contra agressões vindas de todos os quadrantesdo globo.

Mas para que a APASUL seja um instrumento de defesacontinental, ela deve ser concebida como um foro especial noqual somente os presidentes sul-americanos tenham assento e naqual possam discutir livremente os problemas do continente e osrelacionados a cada país, mas que direta ou indiretamente inte-ressam aos demais, sem a rigidez do protocolo internacional.Essa estrutura tem a finalidade de preparar a agenda dos assun-tos a serem tratados em foros especiais como a OEA, a ONU e,mesmo, com o MERCOSUL, pois cada uma dessas instituiçõestem suas finalidades próprias e são regidas por tratados interna-cionais e, portanto, engessadas burocraticamente.

A Farmacopéia Brasiliense e ofuturo da Nação

A defesa dos recursos naturais da Terra Brasilis, e por ex-tensão da América do Sul, contra a exploração alienígena está aexigir da sociedade brasileira e sul-americana uma tomada deposição para defesa de um patrimônio que é comum a todos,especialmente por parte dos brasileiros, sob pena de o Brasilcontinuar sendo apenas “o país do futuro”. O alerta contra essaespoliação foi dado pelo Jornal Estado de Minas em matériaintitulada Amazônia invadida por piratas internacionais (15/9/2002, p. 1,14-15):

O Brasil perde, anualmente, US$5,4 bilhões com a biopiratariana Amazônia. Supostos cientistas, missionários e ambientalistas,a serviço de empresas multinacionais, retiram de animais e plan-tas da região a matéria-prima para a produção de remédios e

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cosméticos. Os piratas pagam apenas US$1 por um quilo defolhas de jaborandi, que transforma-se em uma substância vendi-da por US$1,7 mil o quilo, no mercado internacional. O Ibamaadmite não ter condições de conter o tráfico.

Nessa mesma edição, em editorial (p.16), esse jornal alertouser a reportagem Piratas da Amazônia

“[...] um cartaz gritante contra a incapacidade dos governos eomissões das elites acadêmicas, políticas e da própria cidadania.Cálculos feitos por especialistas falam de um tesouro avaliado emUS$2 trilhões – riqueza esta representada pela flora e fauna daAmazônia –, alvo de saques por piratas a soldo de interessesalienígenas. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) cons-tata que pelo menos 3 mil ‘cientistas’ e ‘pesquisadores’ invadi-ram a Amazônia brasileira, em evidente trabalho de coleta dematerial para estudos científicos. Os fiscais dizem que não hácomo calcular o número e volume de espécies animais e vegetaiscontrabandeados. Um laboratório alemão já patenteou um remé-dio extraído da folha do jaborandi. E sabe-se que uma cobracoral – de cujo veneno se retira poderoso anestésico – é vendidano mercado internacional por US$ 31 mil, mas aqui é compradapor apenas R$200”.

Um caso notório, segundo Wagner Seixas, autor dessa re-portagem,

“foi a recente descoberta da fantástica propriedade anestésicaretirada do veneno do sapo epipedobates tricolor, encontradosó na Amazônia. O analgésico é muito mais potente do que amorfina e sem seus efeitos colaterais. A comunidade científica,diante do achado, crê numa nova era para a medicina cirúrgica.O Laboratório Abbott (EUA) apropriou-se da ‘fórmula’, paten-teou seu princípio ativo e o Brasil não recebe um centavo deroyalties. Se quiser usar o produto, terá de pagar muito caro, diza senadora Marina Silva (PT/AC), autora de uma lei aprovada noSenado e que se arrasta na Câmara Federal.[...] Embora signatário com outros 181 países da Convenção deBiodiversidade (CDB) – os EUA não assinaram –, o Brasil tentacom este acordo barrar a ação dos piratas. As leis são tímidas ebrandas. A fiscalização é ineficiente e a fórmula mais eficaz en-contrada até agora pelo governo é gerar desconforto burocráti-

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co. Porém, nada que evite a biopirataria, diz a senadora MarinaSilva”.

A solução para uma situação explosiva como essa passanecessariamente pela criação da Farmacopéia Brasiliense, umaentidade jurídica de direito público, vinculada ao Tesouro Nacio-nal, depositário fiel de todo patrimônio natural da nação brasilei-ra. A essa instituição federal seria atribuída, constitucionalmen-te, todos os direitos sobre a exploração da biodiversidade queocorre em todo o território brasileiro (no continente, na plata-forma continental e em suas águas territoriais). Para explorar es-ses recursos naturais, quaisquer que sejam suas origens e finali-dades, todo interessado, pessoa física ou jurídica, nacional ouestrangeira, teria de solicitar uma autorização à FarmacopéiaBrasiliense, a qual seria concedida mediante o pagamento deroyalties, fixados em lei ordinária, e com a condição de que todasas pesquisas fossem feitas em território brasileiro, cabendo aoGoverno Federal, por meio de seus órgãos próprios, expedir aspatentes solicitadas.

Para incentivar as pesquisas e a industrialização dessabiodiversidade em território brasileiro, o Governo Federal isen-taria de impostos todas as pessoas físicas e jurídicas, nacionaisou estrangeiras, que se enquadrassem nas normas da FarmacopéiaBrasiliense. Para fazer valer esses instrumentos legais, o governobrasileiro não reconheceria nenhuma patente sobre abiodiversidade natural do País que não fosse aqui registrada, ereconheceria como nacional todas as registradas no Brasil, mes-mo que as pesquisas fossem desenvolvidas no exterior ou ali pa-tenteadas, bastando para isso que quaisquer pessoas físicas oujurídicas as solicitassem. Assim sendo, todas as entidades, nacio-nais ou estrangeiras, que desrespeitassem essas leis e insistissemem patentear no exterior e fazer valer eventuais direitos sobrequaisquer elementos da biodiversidade brasileira teriam quebra-do, como represália comercial, suas patentes em todo o territó-rio nacional, declarando o Governo Federal seus produtos dedomínio público para todos os fins.

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A soberania dos países sul-americanos

Para preservar a soberania dos países sul-americanos nãobasta somente discursos, é necessário que os países da Américado Sul, além de criarem a APASUL, dominem também o ciclo doátomo e conquistem o espaço exterior, pois numa sociedadeglobalizada em que países miseráveis e populosos da Ásia já atin-giram esse estágio tecnológico, a soberania dos povos deste con-tinente já está seriamente comprometida. O caminho para supe-rar esse atraso está em rever os acordos que manietam os paísessul-americanos, seguindo assim o exemplo dos Estados Unidosda América, que, para satisfazer seus interesses estratégicos, es-tão denunciando tratados militares firmados com a Rússia e serecusando a ratificar o Protocolo de Kyoto, consenso internacio-nal que visa a minimizar o aquecimento climático por meio daredução das emissões dos gases-estufa.

Segundo editorial do Jornal Folha de São Paulo (28/7/2001,p. A-2),

os EUA sob George W. Bush não cessam de surpreender o mun-do. Primeiro foram a retirada unilateral do Protocolo de Kyoto ea ameaça de ignorar, também por conta própria, o Tratado deMísseis Antibalísticos (TAB), a pedra angular do controle de ar-mas nucleares. Mais recentemente vieram a negativa em partici-par de um acordo sob os auspícios das Nações Unidas para coi-bir o tráfico internacional de armas e, agora, a recusa em assinarum protocolo para implementar a proibição das armas biológi-cas.

E tem mais (p. A-10):

Os EUA ameaçam boicotar a conferência da ONU sobre racis-mo, que será realizada em Durban, na África do Sul, de 31 deagosto a 7 de setembro deste ano, porque o governo americanose opõe a dois itens que podem estar na pauta do encontro: asreparações pela escravidão e as tentativas de ligar o sionismo(movimento político e religioso judaico iniciado no século 19que visava à criação de um Estado judaico) ao racismo contraárabes.

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Aliás, nessa questão de tratados e assemelhados, os norte-americanos são mestres em mudar as regras do jogo sempre queisso favoreça seus interesses, como bem o sabem os índios da-quele país.

Outros fatos decorrentes da política externa norte-ameri-cana, como os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001,reforçam a necessidade de os países sul-americanos adotaremuma política de defesa autônoma e estabelecerem um mercadocomum, independentemente dos acordos firmados sob a égideda OEA e dos planos de criação da Alca. A propósito, eis o queescreveu John Edwin Mein, no Jornal Folha de São Paulo (29/9/2001, p. A3):

Não se pode ignorar que a negociação para a constituição daAlca é agora mais difícil. A terrível agressão sofrida pelos EUAmudou a doutrina de segurança nacional americana, e, portanto,a lógica das negociações políticas. A lógica que levou os america-nos a propor a integração hemisférica surgiu no início da décadade 1990 como resultado da necessidade de uma nova doutrinade segurança nacional. Com o fim da Guerra Fria, a doutrina decontenção do comunismo já não servia como doutrina de segu-rança nacional. Foi então desenvolvida a doutrina de segurançavia força da economia. Seu principal instrumento seria o comér-cio internacional. Essa nova doutrina levou ao surgimento doNafta, assim como das teses do então vice-ministro do Comér-cio, Jeffrey Gartner, sobre a atenção especial que os EUA deveri-am dedicar aos dez países emergentes (entre eles o Brasil).

Essa doutrina, juntamente com a globalização, está agorasujeita à revisão, inclusive a segurança das fronteiras, como in-formou Stephen Roach, em artigo publicado neste mesmo jornal,no dia 30 de setembro de 2001 (Folha de São Paulo, p. B5):

“As pegadas da globalização deixaram uma trilha óbvia na paisa-gem mundial ao longo da década passada. Mas os ataques terro-ristas de 11 de setembro e suas conseqüências podem causar ofim delas. Na esfera econômica e financeira, a globalização envol-ve basicamente uma maior conectividade entre as fronteiras. [...]Mas a regras do jogo mudaram. O terrorismo sabotou as engre-nagens da conectividade internacional, e o mundo da globalização,onde as fricções vinham diminuindo, está sob ameaça. Os aconte-

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cimentos trágicos do dia 11 de setembro na verdade impuseramum novo tributo a esses fluxos. A segurança das fronteiras nacio-nais terá de ser reforçada, agora uma empreitada custosa. Issoafetará mais que os aeroportos e portos. As porosas fronteirasdos EUA com Canadá e México, que conduziam os elos do Naftaaparentemente sem nenhum obstáculo, também terão controlesmais severos”.

A estratégia de defesa da América do Sul

Para fazer face à nova estratégia globalizante das potênciasdominantes, particularmente dos Estados Unidos da América, ese colocarem como atores ativos desse processo e não merosfigurantes, os países sul-americanos devem se unir num blococoeso para formularem uma estratégia de defesa da América doSul e assim garantirem um lugar ao sol no concerto das nações.Do ato de prepotência que foi a recolonização do Iraque pelosBushs (pai e filho), ficou uma contundente lição para o Brasil edemais países sul-americanos: a de que não devem apoiar-se naONU e nem se fiarem em tratados para manter sua soberania edefender suas riquezas e integridade territorial. Para isso, sãonecessários meios próprios de dissuasão, como bem exemplificaa minúscula Coréia do Norte com seu poder nuclear e o desen-volvimento, em curso, da miniaturização de bombas atômicas,precursoras do ATOMITO, a dinamite nuclear do terceiro milê-nio, o qual, além de tornar absoleta toda a parafernália antimísseisdas superpotências, nivelará, por baixo, o poderio bélico dasnações.

Energia nuclear

Nesse contexto uma nova política de energia nuclear deveser adotada, principalmente no que diz respeito à construção eoperacionalização de usinas atômicas. Estas usinas, monopólioestatal gerido pela Eletronuclear, devem ser implantadas prefe-rencialmente no Polígono das Secas, que compreende a maior

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parte da Região Nordeste do País e o Norte de Minas Gerais.Nessa vasta área deverão também ser construídos depósitos deresíduos nucleares, as indústrias químicas, bioquímicas e nuclea-res, as quais por motivos de segurança evitam regiões povoadas eprocuram locais isolados para se instalarem. A localização dessesempreendimentos em áreas inóspitas e de baixa densidadedemográfica, portanto longe dos centros urbanos, facilitará nãosó o controle de quaisquer tipos de acidentes, como também aremoção das pessoas para zonas de segurança, fora dos limitesdessas instalações.

Para que todo esse processo seja feito com a máxima segu-rança, o Polígono das Secas deverá ser declarado Área de Segu-rança Nacional e colocada sob jurisdição do Ministério da Defe-sa, para que este controle todas as atividades ali existentes. Combase nesse diploma legal, esse ministério poderá selecionar, pormeio de satélites especializados e outros mecanismos existentes,áreas próprias para cada atividade, levando-se em conta condi-ções climáticas, geográficas, hidrogeológicas, aptidão dos solose preservação do meio ambiente. Para essa ampla e sofrida re-gião, a descoberta dessa nova vocação poderá libertá-la do dra-ma da seca, que não é apenas um fenômeno eventual, mas umacaracterística permanente, regulada que é por fatoresmeteorológicos de âmbito mundial. Outra opção que poderá re-forçar essa vocação para instalação de atividades que requeremisolamento é a construção de presídios federais de segurançamáxima, destinados a acolher indivíduos perigosos para o Estadoe para as comunidades onde vivem. Estes estabelecimentos pe-nais seriam construídos dentro de uma nova concepção, ondecampos minados os cercariam impedindo quaisquer possibilida-des de fugas ou tentativas de assalto para libertar prisioneiros.Estas áreas de exclusão seriam controladas pelas Forças Arma-das, que as usariam para treinamento de tropas de assalto e tes-tes de novas armadilhas. Além dessas atividades, o Ministério daDefesa transferiria para o Polígono das Secas os campos de testesde armamentos, manobras militares e exercícios das tropas, hojeespalhados pelo País.

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Pequenas usinas nucleares

Para maior confiabilidade no sistema nuclear do País, deve-se investir no desenvolvimento de pequenas usinas, inclusive deTório, com tecnologia nacional, e espalhá-las pela região doPolígono das Secas, evitando-se concentrá-las numa determinadaárea, como em Angra dos Reis, por exemplo. Simultaneamentecom essas medidas, deve-se sustar a construção das usinas degrande porte de tecnologia importada, como as usinas Angra 1,2 e 3 e reprogramá-las para utilizarem gás de petróleo, abundan-te nessa região, a começar por Angra 3, cujos equipamentos, jápagos, encontram-se armazenados à espera de uma definição sobresua construção. A propósito dessa sugestão de construir peque-nas usinas nucleares, transcrevo abaixo duas notícias publicadaspelo Jornal Estado de Minas, as quais, se analisadas em conjunto,podem indicar o caminho para a concretização desse objetivo,num prazo relativamente curto.

A primeira trata-se de uma reportagem de Maurício Atahyde,intitulada Submarinos russos para atacar o racionamento (Estadode Minas, 8/6/2001, p. 9):

Cerca de 80 submarinos nucleares russos poderão ser usadosnum verdadeiro ataque ao apagão brasileiro. A proposta foi feitaà Câmara de Gestão da Crise de Energia (CGCE) pelo deputadoAntônio Cambraia (PSDB-CE), presidente da recém-criada Co-missão Mista do Congresso para a Crise Energética. Segundo oparlamentar, com uma pequena adaptação, os submarinos milita-res poderiam ser usados como usinas atômicas de energia.Cambraia disse que levou a proposta aos membros da CGCE,que ficaram de analisar a sugestão. Segundo ele, cerca de 80submarinos russos, construídos entre 1990 e 1995, estão pra-ticamente encostados em bases militares sem participar de ne-nhuma operação por falta de recursos. Esses equipamentos es-tão recebendo apenas manutenção periódica, mas não estão sen-do usados em nenhuma operação militar e poderiam ser arrenda-dos pelo governo brasileiro para serem transformados em usi-nas, disse ele. Pela proposta de Cambraia, o governo brasileiropoderia propor à Rússia um aluguel dos submarinos. Cambraiadisse que os de menor porte são capazes de fornecer energiapara um município de até 200 mil habitantes e os maiores po-

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dem atender cidades de até 700 mil habitantes. O deputado afir-mou ainda que essas adaptações já estão sendo feitas na própriaRússia. Segundo Cambraia, a cidade de Petrogrado tem parte desua energia fornecida por um desses submarinos e algumasregiões da Sibéria são quase que totalmente abastecidas por es-ses equipamentos adaptados. É claro que essa operação no Brasilseria feita com todo o cuidado, principalmente no que diz respei-to à segurança nacional e ao meio ambiente, afirmou Cambraia.Ele ressaltou ainda que sua proposta não seria a utilização per-manente desses submarinos. O uso desses equipamentos seriaapenas durante esse período emergencial que estamos passando,disse, referindo-se à crise de energia.

A segunda foi publicada no Estado de Minas de 23/6/2001, p. 10:

Na maior moita, como deve ser nesta seara, o Brasil está muitoperto de dominar o ciclo completo de fabricação de urânio emescala industrial, ingressando num clube fechadíssimo do qualfazem parte apenas as grandes potências e países com históricode conflitos regionais como Índia, Paquistão, Israel, Coréia doNorte e Iraque. O último passo foi selado pelo Ministério dasMinas e Energia com o consórcio EBE, do grupo que reúne asempreiteiras Carioca Engenharia e Engevix, para a construção dainfra-estrutura e instalação de equipamentos na fábrica das In-dústrias Nucleares Brasileiras em Resende, Estado do Rio. A obradeve estar concluída até o início de 2002, com início de opera-ções em meados do ano. A INB passará a produzir no Brasil 94%de todo o ciclo para enriquecimento de urânio, garantindo ofornecimento praticamente sem dependência externa das duascentrais nucleares de Angra dos Reis e do primeiro submarinonuclear brasileiro a cargo da Marinha. Para fechar o processo,falta apenas a transformação da massa enriquecida de urânio,chamada de yellow cake, em gás, que ainda continuará processa-da no exterior. A produção inicial será de 20.000 toneladas,pulando para 120.000 quatro anos depois.

Contudo uma nova política de energia nuclear não devecontemplar somente esses aspectos fundamentais, é necessário irmuito mais longe e investir pesado em pesquisas científicas etecnológicas para que o País não fique para trás na corrida pelocompleto domínio desse tipo de energia. Para se ter idéia do

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quanto o Brasil está atrasado nas pesquisas nucleares, basta aten-tar para a seguinte notícia publicada no Jornal Estado de Minas(29/6/2005, p. 20):

A fusão nuclear controlada, a ser pesquisada no ReatorTermonuclear Internacional Experimental (Iter), no Sul da França,representa a última aventura dos físicos para dotar o mundo deuma energia mais limpa e ilimitada. A fusão termonuclear, quepretende imitar o que acontece no interior do Sol, é objeto deprofundas pesquisas há anos. Os cientistas tentam fazer com queos núcleos de dois isótopos de hidrogênio se unam para formarhélio, gerando uma grande quantidade de energia. Enquanto afissão nuclear, ou seja, a fragmentação do átomo para obter ener-gia, é perfeitamente controlada há décadas, a fusão é uma técnicaque não se domina em absoluto. Para isso, o programa Iter, quereúne como sócios União Européia, Rússia, China, Japão, Esta-dos Unidos e Coréia do Sul, conta com um orçamento de 10bilhões de euros para um prazo de 30 anos. A escolha deCadarache, cidade do sul da França, como sede do projeto foianunciada ontem, depois de meses de negociações. Várias déca-das serão necessárias para a execução de numerosos experimen-tos e a produção de energia por essa técnica. Há 46 anos,Cadarache participa ativamente das pesquisas internacionais so-bre energia nuclear. No total, 4,3 mil pessoas trabalham na cen-tral, implantada desde 1959 na cidade francesa de Saint-Paul-les-Durance, a 70 quilômetros de Marselha”.Mas para nosso País nem tudo está perdido nessa história,

como informa esse mesmo jornal, em sua edição do dia 30/6/2005, p. 22:

O Brasil poderá envolver-se com o projeto do Reator Experimen-tal Termonuclear Internacional (Iter), que vai ser montado no Sulda França, por decisão dos seus patrocinadores – Estados Uni-dos, União Européia, Rússia, Japão, Coréia e China –, e terácomo meta mostrar que a fusão nuclear é capaz de fornecer ele-tricidade de forma limpa e com poucos resíduos radioativos. Aparticipação brasileira seria graças à reserva de nióbio localizadaem Minas Gerais – a maior do mundo, correspondente a cercade dois terços do total existente no planeta. O metal, um pode-roso condutor, será usado para construir molas gigantes e gerarum campo magnético para conduzir o processo de fusão nuclear

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dentro do reator. Segundo o principal conselheiro científico daGrã-Bretanha, sir David King, quando o projeto for posto emprática, haverá um grande mercado para o nióbio. King tambémlembra que há cerca de cem pesquisadores brasileiros com PhDtrabalhando no campo da fusão nuclear, que podem dar umagrande contribuição ao projeto.

A doutrina Bush

Além do domínio completo do ciclo do átomo e da energianuclear, o Brasil, no resguardo de seus interesses e da comunida-de sul-americana, deve cuidar também para que as Forças Arma-das da América do Sul se integrem numa organização autônomacapaz de fazer face às ameaças externas. Atrelar cegamente ospaíses do continente à OEA, por exemplo, significa não somentefraqueza, como também ausência de planejamento estratégico queleve em conta seus próprios interesses e evite subordinações àspotências alienígenas cuja geopolítica obedece a critérios própri-os, como bem exemplifica a “doutrina Bush”.

A “doutrina Bush”, que na prática revoga a ordem mundialvigente, baseada na autodeterminação dos povos e no respeitoaos tratados internacionais, está contida no documento intituladoA Estratégia de Segurança Nacional do Estados Unidos, apresen-tado pelo Presidente George W. Bush ao Congresso daquele país.Segundo o Jornal Folha de São Paulo (21/9/2002, p. A1-14), a“nova doutrina americana diz que país deve ser forte o suficientepara dissuadir adversários de tentar igualar poderio”. A reporta-gem, sob o título Bush quer EUA sem rival militar, veiculou oseguinte:

O governo dos EUA divulgou um documento afirmando que opaís não pretende nunca mais permitir que sua supremacia mili-tar seja desafiada. O texto consolida a “doutrina Bush” ao enfatizara estratégia militar de agir preventiva e antecipadamente contraEstados hostis e grupos terroristas. No documento, George W.Bush afirma que “o presidente não pretende permitir que nenhu-ma potência estrangeira diminua a enorme dianteira militar assu-mida pelos EUA desde a queda da URSS”. “Nossas forças serão

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suficientemente fortes”, diz o documento, “para dissuadir po-tenciais adversários de buscar desenvolvimento militar na espe-rança de ultrapassar, ou igualar, o poder dos EUA”. Pelo docu-mento, não existe outra forma de conter aqueles que “odeiam osEUA e tudo o que eles representam”. O documento trata aindade como a diplomacia, a assistência a outros países, o FMI e oBanco Mundial podem ser usados para vencer valores e idéiasconcorrentes.

A nova doutrina americana é assim resumida pelo referidojornal:

1) Ataque unilateral - “Ao mesmo tempo em que os EUA semprese esforçarão para conquistar o apoio internacional, não vamoshesitar em agir sozinhos, se necessário, para exercer o nossodireito de autodefesa agindo de forma preventiva”;2) Ataque preventivo – “Em vista dos objetivos de Estados de-linqüentes e terroristas, os EUA não podem mais depender so-mente de uma postura relativa como no passado [...] Para evitaratos hostis de nossos adversários, os EUA vão, se necessário,agir preventivamente”;3) Poderio militar - “Nossas forças serão suficientemente fortespara dissuadir potenciais adversários de buscar desenvolvimentomilitar na esperança de ultrapassar, ou igualar, o poder dos Esta-dos Unidos”.

Essa matéria, de David E. Sanger, do The New York Times,informou o seguinte:

“Um documento divulgado ontem pelo governo americano ma-terializa a ‘doutrina Bush’, isto é, enfatiza a estratégia militar deações preventivas e antecipadas contra Estados hostis e gruposterroristas. O documento também afirma, pela primeira vez, queos EUA não pretendem nunca mais permitir que sua supremaciamilitar seja desafiada. [...] O texto apresenta uma abordagemmuito mais agressiva em relação à segurança nacional do qual-quer outro desde a era Reagan. Ele inclui o fim da maioria dostratados de não-proliferação nuclear em favor da‘contraproliferação’, referência a tudo, desde defesa antimísseisaté o desmantelamento forçado de armas ou seus componentes.Declara que as estratégias de contenção, elementos básicos dapolítica americana desde a década de 40, deixaram de existir.Não há outra forma, neste mundo transformado, diz o documen-

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to, de conter aqueles que ‘odeiam os Estados Unidos e tudo oque eles representam’. [...] A doutrina parece visar potências emascensão, como a China. Boa parte do documento trata de comoa diplomacia pública, o uso da assistência a outros países e mu-danças no FMI e no Banco Mundial podem ser usadas para ven-cer o que o texto descreve como uma batalha em torno de valo-res e idéias concorrentes – incluído a ‘batalha pelo futuro domundo muçulmano’. [...] A nova estratégia representa uma mu-dança significativa em relação à última, de Bill Clinton, no final de1999. Enquanto Clinton se baseava em grande medida naimplementação ou emenda de uma série de tratados internacio-nais, Bush simplesmente deixa de lado a maioria desses esfor-ços”.

Sob o título Documento tenta preencher vácuo pós-guerrafria, o jornalista Marcelo Starobinas, da Folha de São Paulo, co-mentou nessa mesma edição:

A nova estratégia de segurança nacional revela uma tentativa dosEUA de inaugurar uma nova era nas relações internacionais. Des-de o fim da Guerra Fria, os governos americanos buscam umadoutrina capaz de substituir a da “contenção”, que colocavaWashington como responsável por proteger o “mundo livre” daexpansão do comunismo soviético. O colapso da URSS (1991)deixou os americanos órfãos de uma ideologia que, ao mesmotempo, definisse a “missão” dos EUA no mundo e norteasse asua política externa. O 11 de setembro forneceu ao alto escalãoda Casa Branca o elemento que faltava para a consolidação deuma doutrina capaz de preencher esse vácuo. Assim como naluta anticomunista, a “cruzada” antiterrorista preconizada nodocumento obedece à seguinte premissa: o mundo é cheio deperigos; só os EUA, com seu poderio militar e ideais democráti-cos e de livre mercado, podem salvar a “civilização” das “amea-ças”. Não há meio-termo, afirma Washington: vocês estãoconosco ou com os fanáticos e os “Estados delinqüentes” queos apóiam. “Os aliados do terror são os inimigos da civilização”,diz Bush. Ao mesmo tempo, a doutrina Bush tenta enterrar al-guns dos pilares geopolíticos do século 20 – como o conceito da“destruição mútua assegurada”, que ajudou a evitar a hecatombenuclear. Os formuladores da política externa americana dizemcom todas a letras: vamos “dissuadir potenciais adversários debuscar desenvolvimento militar na esperança de ultrapassar, ou

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igualar, o poder dos EUA”. Ou seja, se depender de seus esfor-ços, o mundo unipolar pós-Guerra Fria continuará unipolar, comuma só superpotência. Outro ponto a ser destacado: Bush tentalegitimar os “ataques preventivos” contra inimigos detentoresde armas de destruição em massa. Dado o momento histórico,parece ser mero casuísmo: uma justificativa para derrubar o regi-me do Iraque. O princípio, porém, sobreviverá a Saddam Hussein.E poderá ser usado a cada vez que os EUA entenderem que ouso da força seja melhor opção para a defesa de seu interesse.

A doutrina do combate ao narcotráfico

Para o Brasil e demais países sul-americanos, essa novadoutrina – posta em prática pelos Estados Unidos em março de2003, quando atacou o Iraque sem o aval das Nações Unidas,afrontando inclusive a opinião pública mundial – livrou o conti-nente de uma doutrina mais perigosa ainda e que estava em ges-tação quando ocorreu o ataque ao World Trade Center: a doutri-na de combate ao narcotráfico. No dia em que ocorreu esse fatí-dico atentado, 11 de setembro de 2001, o Secretário de Estadodos EUA, Colin Powell, estava na capital do Peru com a missão deinstrumentalizar essa doutrina quando teve de interromper suasconfabulações e regressar às pressas para Washington. A partir daío combate ao narcotráfico, que parecia ser a prioridade númeroum da política externa dos EUA, passou para segundo plano, e aplanejada intervenção na Colômbia, abortada. Com isso, os pre-sidentes sul-americanos puderam respirar aliviados, mas, com osurgimento da “doutrina Bush”, devem novamente se preocupar,pois trata-se da mais nova versão da velha política do big stick,desta vez em escala mundial. A esse respeito, eis a opinião daescritora norte-americana Susan Sontag, segundo matéria da jor-nalista Juliana Leão Coelho, do Jornal Estado de Minas (2/12/2002, p. 4):

NOVO IMPÉRIO ROMANO – Os atentados do 11 de setembroforam a desculpa ideal para o nascimento de um imperialismomuito mais ativo e perigoso. Quando a União Soviética suicidou-

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se, os EUA precisavam de outro inimigo internacional. Primeirofoi uma cruzada contra os cartéis das drogas, mas não era uminimigo suficientemente grande. Com o 11 de setembro toparamcom algo grande de verdade: o terrorismo internacional. É umaespécie de conspiração virtual e a guerra durará eternamente.Mas os EUA não querem salvar o mundo, não se enganem. Oque eles querem é dominar o mundo. Começarão pelo Iraque, enão só pelo petróleo, como muita gente acha. Trata-se de verda-deiros objetivos coloniais. Dizem que a equipe do presidente,liderada por Donald Rumsfeld, tem um plano de ação no OrienteMédio para os próximos 50 anos. E não se trata de influir indire-tamente, querem mandar gente para governar, apesar de que háuma elite militar, entre eles Colin Powel, que não está de acordocom um exército colonial. Meu filho conhece gente do governo esoube que há exercícios virtuais sobre como ser prefeito de Basora(Basra, cidade do Sul do Iraque). Estou realmente pessimista.

O ato falho

Ao optar por concentrar sua atenção e recursos humanose financeiros nessa política colonial e priorizar seu relacionamen-to com Israel em detrimento dos países árabes, os Estados Uni-dos da América comprometeram seu futuro como superpotên-cia, pois aí não vão perder apenas a batalha pela liderança noséculo XXI, mas a supremacia das nações no terceiro milênio.Este lugar será ocupado por dois blocos emergentes, bloco sul-americano liderado pelo Brasil e o bloco asiático liderado pelaChina, os quais, aproveitando esse momento em que os america-nos colocaram a América do Sul em segundo plano e se meteramno lodaçal do Oriente Médio, criado pela diáspora judia ao levarpara essa região o eixo belicista que desestabilizou a Europa porséculos, traçaram políticas próprias de desenvolvimento quemudarão os rumos da história, pois a prioridade da China sãoalimentos, os quais o Brasil terá em abundância, como profetizouDom Bosco.

Dentro da linha belicista adotada pelos americanos eisraelitas no Oriente Médio, que mistura economia com religião,

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destacam-se as atitudes de George W. Bush contra o Iraque, que,segundo Gore Vidal, “está engajado numa Guerra Santa”, comodisse em entrevista à jornalista Tina Evaristo ao Estado de Minas,sob o título Prenúncio do Armagedom (número especial, 6/4/2003, p. 6):

Direto, provocador e polêmico. Essas são algumas característicasde Gore Vidal, de 77 anos, um dos maiores escritores norte-americanos da atualidade e crítico do expansionismo de seu país.Depois das eleições de 2000, não hesitou em declarar que GeorgeW. Bush roubou o assento na Casa Branca e transformou o go-verno da nação mais poderosa do mundo numa junta de merce-nários belicosos, cujo principal objetivo é roubar o petróleo doOriente Médio a qualquer custo. A guerra ao terrorismo e a caçaa Bin Laden, afirma, não passaram de pretextos para as invasõesdo Afeganistão e do Iraque. Dono de uma fina ironia, Vidal des-taca que Bush também está engajado numa Guerra Santa. Navisão do escritor, o conflito pelo petróleo é também uma guerrapor Jesus. Ele diz que a “Junta Bush” – assim batizada por ele – éintegrada por fanáticos religiosos que, além do petróleo, buscamo Armagedon. Numa mistura de referências políticas e religiosas– quase sempre presentes em suas obras –, o escritor passa aidéia de que o presidente dos Estados Unidos quer antecipar abatalha Final dos Tempos por se considerar, ele próprio, o exér-cito de Jesus. “Bush não está interessado no futuro do planetaporque sua crença lhe dá a certeza de que, se destruir o mundo,ganhará a plenitude celestial”, disse Vidal, que não descarta ahipótese de que a “Junta” tenha intenções de dominar o mundo,mas antecipa que esses planos serão frustrados por falta de re-cursos financeiros, já que o presidente e seus aliados estão con-duzindo o país à falência.

Para compreender essa postura de Bush, é necessário re-correr ao profeta Isaías (Is 5, 19-22): “Dizem ‘que Deus andedepressa! Faça logo o que tem a fazer, para que a gente possa ver!E comecem logo a se realizar os planos do Santo de Israel, para agente ficar sabendo!’” .

Mas as profecias e as lições da história nem sempre sãobem compreendidas pelos atores do processo, haja vista a reali-dade do Estado de Israel onde os israelitas ainda lutam com osantigos habitantes da Terra Prometida pelo espaço vital – igno-

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rando que agora o que está em jogo é a mensagem messiânicaque encerra e não mais territórios –, apoiados no poderio ame-ricano, como divulgou o Jornal Estado de Minas (23/10/2003,p.18), sob o título Israel ignora ordem da ONU:

Perguntado na Rádio de Israel se a construção (do muro de segu-rança) iria ser suspensa, Olmert (vice-primeiro-ministro) debo-chou e riu. “Você tem senso de humor”, respondeu ele ao apre-sentador. E, logo em seguida, complementando a resposta, eledisse: “Tudo relacionado a Israel consegue uma maioria automá-tica. Temos de nos preocupar com a segurança de Israel e nãoagir de acordo com as instruções de uma maioria automáticahostil. Se todo o mundo está de um lado e os Estados Unidos eIsrael estão do outro, tenho orgulho de estar do lado norte-americano” .

Aqui novamente Isaías adverte (Is 30, 1-5):

Ai de vós, filhos rebeldes – oráculo do Senhor –: fazeis planosque não vêm de mim, fechais acordos sem minha inspiração, acu-mulando erros sobre erros. Tomais o caminho para descer aoEgito, sem pedir o meu conselho; pedis proteção ao faraó e àsombra do Egito quereis vos abrigar. Mas a proteção do faraóserá a vossa decepção, o abrigar-se à sombra do Egito será ovosso fracasso. Mesmo que os embaixadores estejam em Tânis,e os delegados tenham chegado a Hanes, serão todos enganadospor um povo que lhes será inútil. Não haverá ajuda ou qualquerproveito, apenas decepção e fracasso.

Afinal de contas, diante desse quadro apocalíptico, qual aexplicação racional para a atitude dos norte-americanos e israe-lenses de se meterem nessa enrascada de forçar o Armagedonpara dele tirar o melhor proveito, os primeiros para aumentaremsua riqueza material e seu poderio militar e os segundos pararetomarem a posse da Terra Prometida e com isso prepararem avinda do Messias, que os conduzirá, como crêem, ao domínio domundo, embora os Cristãos afirmem que esse Messias já veio e oretorno da diáspora judia à palestina não é nenhuma novidade,pois já ocorreu mais de uma vez ao longo da história? Se se levarem conta a atitude dos judeus da atualidade, que se esmeram emdestruir tudo o que pertence aos palestinos, inclusive os pró-prios, para em seu lugar reconstruírem um passado cheio de

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promessas, as quais desprezaram por um ato falho – o não re-conhecimento no tempo certo da chegada do prometido Messias–, a explicação para esse questionamento talvez possa estar nomaniqueísmo catastrófico que persegue a humanidade desde oberço, ou seja, que, após um período de destruição, a noite,sucede um tempo de reconstrução, o dia, quando tudo será re-novado.

Se a essas considerações adicionarmos o fator místico, comoa vinda de um novo Messias, como esperam os judeus modernose certos cristãos norte-americanos, a situação no Oriente Médiosó tende a piorar, pois, como se diz, a história não se repete,senão como farsa. Neste caso a destruição que se processa naTerra Prometida está apenas começando e, levando-se em conta afúria demolidora dos israelenses, esse processo ultrapassará delonge aquela levada a cabo pelas legiões romanas, a qual, apesarde radical, ainda deixou intactas algumas raízes, como os alicer-ces do segundo Templo e um resto que sobreviveu, apesar dospesares. Se dos escombros da destruição ocorrida há dois milanos surgiu a civilização cristã, fundamentada na revogação peloMessias da Lei de Talião (Mt 6,38-42), o que sucederá com aque está em marcha, na medida em que as partes em conflitos –israelenses e palestinos – reativaram essa lei e a aplicam semvacilação?

Como se isso não bastasse, os judeus estão deixando trans-bordar as comportas dos ressentimentos contra a civilização oci-dental, acumuladas ao longo desse tempo todo, fazendo comque suas águas amargosas se espalhem pela comunidade interna-cional envenenando e gerando desconfianças e antagonismo nasrelações cotidianas de comunidades até agora tidas como pacífi-cas, como a inglesa, inclusive provocando tragédias como a queafetou uma família de Gonzaga, pequena cidade mineira, que teveum de seus filhos executados pela polícia de Londres, tensionadaque estava pelos atos terroristas provocados por elementos oriun-dos das áreas de conflito do Oriente Médio. Segundo a impren-sa, a forma como foi brutalmente assassinado o brasileiro JeanCharles de Menezes, sete tiros na cabeça e um no corpo, seguiu

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um padrão adotado pelas forças de segurança de Israel, que, naperseguição a terroristas palestinos, procuram acertar a cabeçado suspeito antes que este tenha tempo de acionar suas bombas.

Essa tecnologia de ponta os especialistas israelenses estãoespalhando pelo mundo, principalmente nos Estados Unidos daAmérica e na Inglaterra, onde em julho de 2005 foi posta emprática de maneira desastrosa, ao abater um inocente que nadatinha que haver com tais atentados, o jovem Jean Charles, de 27anos. É uma filosofia que espalha o ódio ao invés do amor, con-trariando assim o que Ele disse (Mateus 22, 37-40):

Ele respondeu: “Amarás o senhor, teu Deus, com todo o teucoração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento!”Esse é o maior e o primeiro mandamento. Ora, o segundo lhe ésemelhante: “Amarás teu próximo como a ti mesmo”. Toda a Leie os Profetas dependem desses dois mandamentos.

Para se ter uma idéia dessa obsessão dos israelitas de espa-lhar o ódio como arma de defesa, basta atentar para os seguintescomentários de um programa de televisão (“Sem Fronteiras” –Globo News – 29/30 jul. 2005):

Policiais de 5 cidades americanas – Nova York, Boston, Seatle,Los Angeles e Washington –, estão indo para Israel para recebertreinamento específico para enfrentar os ataques suicidas. As vi-agens são pagas por uma organização judaica.

A paz ameaçada

É bom que a humanidade reflita sobre isso, pois, graças àrevogação da Lei de Talião, foi possível no século XX a criação daONU, uma organização voltada para a paz, talvez por isso mes-mo ignorada tanto pelos prepotentes norte-americanos quantopelos rancorosos israelenses que, como dinossauros revividos,querem repetir em escala mundial o drama de seus antepassados,que foram varridos da Judéia pelos seus aliados de então, osromanos, por causa de seu caráter belicoso e irracional, fato de-nunciado por Flávio Josefo (A Guerra dos Judeus), testemunha

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ocular dessa catástrofe nacional que acarretou a destruição deJerusalém e do segundo templo. Aqui cabe um dito popular quesintetiza essa situação e que serve de advertência para o aliadomais fraco: “É o cachorro que abana o rabo e não o contrário”.Essa postura belicista dos americanos e israelenses deve ser com-batida com rigor, inclusive com isolamento ou expulsão dessesmembros daquela organização, pois, ao se colocarem à margemda lei internacional, essas nações põem em risco a paz mundial,fato que merece atenção especial do Brasil e demais países daAmérica do Sul, um continente pacífico e desarmado, com exce-ção da Guiana Francesa, uma extensão territorial de uma potên-cia nuclear.

Diante desse contexto, os países sul-americanos devem re-ver seus conceitos de defesa para garantirem sua soberania, nummundo cada vez mais caótico, onde os tratados internacionaissão desrespeitados ou ignorados ou, alternativamente, criaremuma nova organização mundial na qual as decisões sejam toma-das por consenso e respeitadas por todos os estados membros,nenhum dos quais com direito a veto, ou que misture políticacom religião, como fazem, por exemplo, a Arábia Saudita e Israel,ignorando o que Ele disse: “A César o que é de César e a Deus oque é de Deus” (Lc 20,25). A conseqüência desta postura éque nesses dois países há restrições à liberdade religiosa e, emIsrael, além disso, ocorrem conflitos de difíceis soluções, onde,inclusive, existe uma bomba armada, o complexo Templo/Mes-quita, que muitos querem detonar para provocar o Armagedone, com isso, apressar a vinda do Messias, pois, segundo os ju-deus, isto acontecerá quando o Templo for reconstruído, mas,para isso, terão que remover a mesquita, logo...

Neste particular, é bom ter em mente que esses eventos jáse realizaram, pois Herodes Magno reconstruiu esse templo, fatoque marcou a vinda do Cristo, o qual profetizou sua destruiçãodefinitiva (Mt 24, 1-2):

Jesus saiu do tempo e foi caminhando. Os discípulos se aproxi-maram para lhe mostrar as construções do templo. Ele entãodeclarou: “Não estais vendo tudo isto? Em verdade vos digo:não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”.

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Portanto, não faz sentido falar em uma terceira reconstru-ção e outra vinda do Messias, pois seria um fato repetitivo; alémdisso, é bem provável que essa mesquita foi colocada sobre asruínas do segundo templo como uma pedra para encerrar o as-sunto, uma pedra de tropeço para os mais afoitos.

Deve-se recordar, ainda, de que o reino universal prometi-do pelo Messias se tornou uma realidade para a humanidadedesde o momento em que os romanos se tornaram herdeirosdessa promessa, como profetizou o próprio Cristo (Mateus 21,33-46), e dela tomaram posse no ano 70, ao transformarem aJudéia em província imperial, confiada ao legado da décima le-gião, aquartelada em Jerusalém. Aqui é bom lembrar que essesventos foram profetizados também por Flávio Josefo (Op. cit),sacerdote judeu e filho de sacerdote de Jerusalém, Governadorda Galiléia e líder guerreiro, que revelou seus sonhos proféticosaos romanos quando foi aprisionado, razão por que foi poupadoe prestigiado por seus captores, servindo assim de testemunhadessa posse.

Insistir nessa expectativa de um terceiro templo, correndoatrás do prejuízo, é o consolo da sinagoga estéril, aquela que nãofaz prosélitos e vive voltada para si mesmo, recordando as glóriasde um passado que não volta mais e um Messias que já se fezpresente há muito tempo. Essa expectativa e a postura isolacionistaimpedem que os judeus se integrem nas comunidades onde vivem,criando com isso, problemas de toda ordem para os povos que osacolhem, como os romanos nos primórdios do Cristianismo, ouos europeus, que viram com alívio seu retorno para a Palestinaapós a Segunda Guerra Mundial e o drama dos nativos desse ter-ritório, que passaram a viver num verdadeiros inferno com suachegada, como aconteceu com seus antepassados há cerca de 3.200anos. Essa situação é a repetição de uma saga que não tem fim, ouseja, estrangeiros tentando se apossar de um território que nãolhes pertence e a luta dos nativos para defendê-lo.

A maioria dos povos peregrinos, ao longo da história dahumanidade, um dia assentaram-se numa região e aí criaram raízespela miscigenação com os naturais da terra, o que não aconteceucom os filhos de Abraão, que, para preservarem seu grupo tribal

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dessa mistura, inventaram o mito da “pureza racial”, veneno queacabaram experimentando tragicamente na Europa nazista. Poroportuno, é bom lembrar que, após a expulsão dos judeus daEspanha e de Portugal, no final da Idade Média, por conta daInquisição, esses povos ibéricos alcançaram seu apogeu com aschamadas descobertas, da qual a diáspora judia foi mantida àdistância, fato que se repetiu com a segunda Inquisição, oholocausto nazista, responsável pela fuga em massa desse povoperegrino da Europa, a qual coincidentemente marca o segundorenascimento europeu, ora em seu melhor momento. Esse drama– acolhimento/expulsão/fuga – é uma sina que persegue os hebreusdesde os primórdios de sua história, quando, num momento dedesespero, foram acolhidos pelo Faraó do Egito (Gn 47), deonde fugiram, sorrateiramente, às pressas, sem deixar rastros,como narra a lenda do êxodo.

Em resumo, essas histórias todas fazem lembrar um ditopopular italiano, segundo o qual seixo que muito rola não crialimo. E mais do que isso, o fato de qualquer grupamento huma-no, não necessariamente israelita, isolar-se da comunidade ondevive provocará desconfianças e medidas de retaliações contra talmodo de vida, pois esta atitude nada mais é do que um mecanis-mo de defesa da sociedade estabelecida, que se vê ameaçada pelaformação de quistos sociais em seu meio. É semelhante ao queocorre com os transplantes de órgãos, em que a rejeição docorpo estranho funciona como um mecanismo de defesa do or-ganismo.

A estratégia do medoe a defesa da Amazônia

Dizem os estrategistas militares que o exército que se colo-ca em posição defensiva já é um exército derrotado, pois a me-lhor defesa é o ataque, fato que os franceses comprovaram amar-gamente na Segunda Guerra Mundial, com sua malfadada linha

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Maginot. Conforme narrado no documentário The World at War(Globosat), naquela época “o pensamento militar francês tor-nou-se só defensivo, esquecendo-se da máxima de Napoleão: ‘Olado que permanece dentro das fortificações já está vencido’”.Diz o dito popular que o preço da liberdade é a eterna vigilância,mas, neste início de milênio, um outro deve ser lembrado comocomplemento natural: Se desejas a paz, prepare-se para a guerra.

Essas considerações são feitas a propósito dos treinamen-tos militares levados a efeito na Amazônia, como informa o Jor-nal Estado de Minas (10/10/2004, p. 15-17), em artigo intituladoGuerra na Selva – militares brasileiros treinam táticas de guerrilhapara evitar invasão da Amazônia:

“Diante do risco praticamente inexistente de um conflito com osvizinhos sul-americanos, as Forças Armadas brasileiras resolve-ram concentrar sua preparação em uma hipótese encarada cadavez mais com seriedade: a de uma invasão da Amazônia por tro-pas de uma país militarmente muito mais forte, que, embora nãoadmitido oficialmente, seriam os EUA. (...) O inimigo potencial,os EUA, possui ‘uma força militar superior’, segundo diretrizesda Operação Ajuricaba. A possível estratégia dos EUA na inva-são da Amazônia compreenderia um ‘combate ofensivo, com gran-de ímpeto, buscando a decisão do conflito em curto espaço detempo, com um mínimo de perdas’. (...) No exercício de guerra,as tropas norte-americanas (chamadas de ‘Partido Vermelho’) co-meçam o ataque lançando pára-quedistas em Boa Vista,Manacapuru e São Gabriel da Cachoeira. A partir dessas trêslocalidades, os ‘invasores’ começam a escalada para controlartrês dos principais pontos da Amazônia brasileira: Roraima,Manaus e a região conhecida como Cabeça do Cachorro, na di-visa com a Colômbia e Venezuela. (...) Adeptos da estratégia dedissuasão, os militares brasileiros acreditam que, quanto maispreparados para repelir o inimigo, menos provável será a guerra.A cobiça pela Amazônia, no entanto, é o fator que leva as ForçasArmadas a estarem alertas para repelir qualquer intento de inva-são da região”.

Essa estratégia, que cobre a região ocidental da Amazônia,deixa a descoberto a parte oriental, a mais vulnerável a uma inva-são por mar, a partir dos EUA, ou por terra, por intermédio dasua aliada na OTAN, a França, que tem nessa região uma cabeça

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de ponte cravada no território sul-americano e a cavaleiro da fozdo Rio Amazonas: a colônia das Guianas, cuja fronteira com oBrasil é considerada a mais extensa da república francesa, comodisse o Presidente Jacques Chirac ao Presidente Lula. A propósi-to, é bom lembrar a assertiva de que quem controla a foz de umrio domina toda sua bacia, razão porque essa estratégica região édefendida com unhas e dentes por quem a domina, como fizeramcom muita competência e determinação os luso-brasileiros noséculo XVII, contra as tentativas de invasão da Amazônia, porparte de britânicos e holandeses, fechando, inclusive, essa regiãoaos estrangeiros até 1808, construindo para isso uma série defortes e fortalezas em pontos estratégicos, muitos dos quais atéhoje ajudam a defendê-la. Quanto à estratégia de defesa de umdeterminado alvo contra inimigos em potencial, é simbólico oque aconteceu com Cingapura na Segunda Guerra Mundial, quan-do os britânicos fortificaram esse domínio esperando um ataquepor mar e, para surpresa de seus defensores, os japoneses vierampor terra, levando Churchil a dizer que jamais poderia pensar emtal deficiência, pois seria o mesmo que lançar ao mar um naviosem o fundo.

Os Estados predadores

Para que a defesa da Amazônia seja efetiva e, por extensão,da América do Sul como um todo, deve-se levar em conta não sóo tamanho da empreitada e os meios disponíveis para executá-la,como também os objetivos estratégicos que norteiam os estadospredadores, como informa o jornalista Dídimo Paiva, do JornalEstado de Minas (2/11/2004, p. 16), em artigo intitulado BigStick na América, ao comentar a reeleição do Presidente Bush:

“George W. Bush ou John Kerry não é o mais importante nestadramática eleição norte-americana. Prefiro começar com uma fraseque ilustra bem o caráter belicista dos pais fundadores da Amé-rica e seus sucessores nesse terceiro milênio. Foi escrita porTheodore Roosevelt (antecessor de Woodrow Wilson), o ianquepresidente do big stick (política do porrete): ‘Nenhuma conquis-ta da paz vale a metade das glórias da guerra’. (...) Pode-se dizer

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que o complexo militar-industrial manobrou como quis para ga-rantir a vitória nas eleições de hoje. Está em jogo uma tese que opolonês-norte-americano Zibgniew Brzezinski (assessor para as-suntos de Segurança Nacional do governo Jimmy Carter) traçouem 1997: os EUA devem controlar a rota do petróleo, especial-mente as repúblicas soviéticas da Ásia Central, chamadas de ‘re-públicas do stão’: Turcomenistão, Tadjiquistão, Uzbequistão eQuirguistão, argumentando que elas são ambicionadas pela Rússia,Turquia e Irã, sem esquecer a China. Bush encampou a velha teserevivida por Brzezinski desde a criação do Clube de Roma (1970):quem tiver domínio do petróleo e do gás do Mar Cáspio manda-rá no mundo. O grupo Bush/Cheney/Rumsfeld/Wolfowitz afirmaque, desde que os continentes começaram a interagir (há 500anos), a Eurásia tem sido o centro do poder mundial”.

A propósito dessas considerações, transcrevo, paracomplementá-las, os seguintes trechos extraídos das notasintrodutórias do livro de Luiz Alberto Moniz Bandeira (Civiliza-ção Brasileira), intitulado As relações perigosas: Brasil-EstadosUnidos (De Collor a Lula, 1990-2004):

“Os Estados Unidos surgiram como república presidencialista eforam, desde o começo, um país moderno e burguês, fundadopor pequenos-burgueses, que fugiram do feudalismo europeupara construir uma sociedade puramente burguesa, conformeFriedrich Engels ressaltou em 1893. (...) Porém, da mesma for-ma que os puritanos, cujas virtudes eram determinadas peloutilitarismo, assimilaram o espírito mercantilista e usurário dosjudeus, como Benjamin Franklin tão bem evidenciou, ao ensinarna Advice to a Young Tradesman que ganhar dinheiro constituía,na vida, um fim em si, os judeus que emigraram para a Américaabsorveram também as práticas e a experiência dos puritanos,com as quais o “Paria-Kapitalismus” se mesclou. Por volta de1850, os Estados Unidos já ocupavam o quinto lugar no mundo,como potência manufatureira, o que lhes exacerbava o ímpeto deexpansão, em busca tanto de mais terras quanto de mercados efontes de matérias-primas. A tendência para o messianismo nacio-nal, a idéia do povo eleito por Deus que o judaísmo legou aospuritanos, atualizou-se, americanizou-se e assumiu o nome dedestino manifesto, movimento com que os Estados Unidos, nametade do século XIX, expandiram suas fronteiras até o OceanoPacífico e, através de expedições de flibusteiros, tentaram apode-

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rar-se da América Central e das ilhas do Caribe, bem como daAmazônia brasileira. O Brasil, diferentemente dos Estados Uni-dos, dilatara suas fronteiras ainda quando colônia, mormenteentre fins do século XVI e primeira metade do século XVIII, econformou-se como um desdobramento do Estado Português naAmérica do Sul, onde se desenvolveu, refletindo a ambivalênciadas relações de Portugal com a Inglaterra, à qual a Corte de Lis-boa tinha de prestar vassalagem e pagar alto preço, desde 1661.(...) Na primeira metade do século XIX, quando os Estados Uni-dos expandiam seu território e o Brasil se consolidava como es-tado-império, Hegel, pouco tempo antes de falecer, em 1831,afirmou que a América era a terra do futuro (Land der Zukunft) epreviu que, em tempos vindouros, ocorreria um contenda(Streite)entre a América do Norte e a América do Sul, na qual a impor-tância da história mundial deveria manifestar-se. Que tipo decontenda, ele não explicou. Apenas indicou que a América doSul era católica, enquanto a América do Norte, uma terra deseitas, era protestante, e o comércio constituía o principal prin-cípio, um princípio muito simples, dos Estados Unidos, aindaque não fosse tão firme como o inglês. As raízes da contenda,porém, encontram-se nas origens desses dois Estados nacionais,Estados Unidos e Brasil, nas forças profundas que conduziram asua formação, como instâncias superiores de organização e co-mando de processos produtivos, bem como expressão do espíri-to do povo (der Geist des Volkes), ou seja, da cultura da nação,acumulada ao longo da história”.

A seguinte notícia publicada pela Revista Isto É, sob o títu-lo Os Marines Vêm Aí (13/7/2005, n. 1865, p. 87), pareceindicar que essa profecia já começa a realizar-se, pois os america-nos estão cutucando a onça com a vara curta, ao tentarem seposicionar no “baixo ventre” da América do Sul, esquecendo-sede que o Brasil tem condições estratégicas mais favoráveis paralancetar essa parte vulnerável de seu próprio território, o Golfodo México, protegido que está pelos Andes, a Floresta Amazôni-ca e o Escudo das Guianas e, dentro de pouco tempo, munidoda longa lança para esse golpe certeiro: a Ferrovia de Dom Bosco.A mesma revista ainda publicou:

A notícia caiu como uma bomba nos Estados-Maiores do Brasil eda Argentina: o Paraguai autorizou o estacionamento de tropas

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dos Estados Unidos no país, cerca de 400 militares americanosque receberiam imunidade e status diplomático para realizar trei-namentos. A decisão do Paraguai de autorizar a entrada dosmarines teria ocorrido logo depois da renúncia do presidenteboliviano, Carlos Mesa, e da derrota da exigência americana, naAssembléia da Organização dos Estados Americanos (OEA), decriar um órgão para “monitorar a democracia” na América doSul. “Washington deve formalizar agora a criação de uma basemilitar no Paraguai – onde, há anos, os EUA mantêm um aero-porto semiclandestino em Mariscal Estigarribia, povoado da re-gião do Chaco, a 250 quilômetros da fronteira com a Bolívia,onde podem aterrissar as superfortalezas voadoras B-52 e Galaxys,capazes de transportar grande quantidade de tropas e armamen-tos”, diz Luiz Bilbao, correspondente argentino do jornal francêsLe Monde Diplomatique. Segundo alguns analistas, o objetivodos militares americanos seria a região da Tríplice Fronteira (divi-sa entre o Brasil, a Argentina e o Paraguai). Nessa região, além dasuposta rede terrorista árabe-palestina denunciada pelos EUA,localiza-se a usina hidrelétrica de Itaipu, a maior do mundo, decuja energia depende todo o Paraguai e parte do Brasil. Outros,entretanto, acreditam que Washington está de olho no combateao narcotráfico e, principalmente, no controle doshidrocarbonetos da Bolívia.

Todavia, essa base americana, juntamente com outras espa-lhadas pela América do Sul, sob diversos pretextos, constitui-sena verdade em mais um ponto de amarração de uma extensa teiaestratégica que cobre todo o continente, formatada para intimi-dar os governos do continente e neutralizar as forças armadaslocais em caso de intervenção. Para que o Brasil não se deixeintimidar e esteja pronto para desarmar essas armadilhas, é ne-cessário que encare o problema com naturalidade e estabeleçacom os demais países sul-americanos um pacto de defesa conti-nental, inclusive para tratar militarmente da questão das Malvinase da Guiana Francesa, resquícios de uma era colonial. Para viabilizaresse pacto, é necessário que toda a filosofia de trabalho paraimplantação do Mercosul seja modificada, pois antes que essaassociação se torne realidade é necessário que o Brasil firme tra-tados bilaterais com todos os países sul-americanos, abrangendonão só os aspectos comerciais, mas também os de cunho político

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e militares. Estes tratados somente seriam firmados com as na-ções que não adotem posições hostis ao nosso País e não permi-tam a intromissão de potências alienígenas nos assuntos internosdo continente.

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3. A 3. A 3. A 3. A 3. A GUERRAGUERRAGUERRAGUERRAGUERRA BIOLÓGICBIOLÓGICBIOLÓGICBIOLÓGICBIOLÓGICAAAAA

Para completar as considerações feitas neste livro sobre adefesa do Brasil e da América do Sul, é tratada a seguir a questãoda guerra biológica, pois certos fatos que vêm ocorrendo emnosso país, acrescidos da recusa dos Estados Unidos da Américade assinar o tratado de proibição dessas armas, mais que justifi-cam o alerta ACORDA, BRASIL!

A guerra biológica na Antiguidade

A primeira guerra biológica que a história da humanidaderegistra ocorreu na terra dos faraós por volta de 1250 aC paralibertar Israel da escravidão. Foram sete as pragas biológicas queatingiram o Egito naquela ocasião. Embora a saga dos israelitastenha sido escrita logo depois do exílio babilônico, por volta de500 aC, portanto 750 após o suposto êxodo do Egito, e muitoprovavelmente condensando numa epopéia eventos diversos ocor-ridos em tempos e circunstâncias diferentes, pois o processoadotado na sua elaboração foi o de colher tradições orais devários povos e sintetizá-las com o objetivo de aglutinar os judeusem torno da mística de “povo eleito por Deus”, essa narrativarepresenta na verdade um refinado manual de instrução para de-sencadear uma guerra biológica de desgaste para minar as forçasde um oponente mais forte e poderoso.

Essa estratégia fica evidente ao se analisar os meios empre-gados por Moisés para dobrar o Faraó e obter os resultadosdesejados, já que não possuía armas nem exército para confrontá-lo. Seguindo uma dinâmica belicista gradativa, de ultimatos acom-panhados de represálias biológicas e eventos cósmicos para com-pletar o processo, inclusive com o genocídio de primogênitos,ele não só conseguiu imobilizar o Faraó como também manter ainiciativa de ataque, culminando por afogar todo seu exército,

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que não teve sequer a oportunidade de retesar seus arcos paraabater os fugitivos. Assim, uma massa de maltrapilhos desarma-dos conseguiu saquear o Egito levando como despojos suas ri-quezas, utilizando para isso apenas dos conhecimentos apropria-dos de seus senhores e manipulados com competência.

As sete pragas do Egito

Águas transformadas em sangue (Ex 7, 20-21)

Moisés e Aarão fizeram como o Senhor lhes tinha ordenado.Erguendo a vara, Aarão feriu as águas do Nilo à vista do faraó ede todos os seus ministros, e toda a água do rio virou sangue.Morreram os peixes que havia no rio, e o rio ficou poluído, demodo que os egípcios não podiam beber de sua água, e houvesangue em toda a terra do Egito.

Rãs (Ex 8, 1-2)

Então o Senhor disse a Moisés: “Dize a Aarão: Estende com amão a vara sobre os rios, os canais e os pântanos, e faze as rãsinvadir o Egito”. Aarão estendeu a mão sobre as águas do Egito,e as rãs saíram e cobriram o Egito.

Mosquitos (Ex 8, 13)

Assim o fizeram. Aarão estendeu a vara com a mão e golpeou opó do chão, e vieram mosquitos sobre homens e animais. Toda apoeira do chão, no Egito inteiro, transformou-se em mosquitos.

Moscas varejeiras (Ex 8,20)

E assim o Senhor fez: nuvens de moscas-varejeiras invadiram opalácio do faraó, as casas dos ministros e todo o território doEgito. O país ficou infectado por causa das moscas-varejeiras.

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Peste dos animais (Ex 9, 2-3.6)

“Se te recusares a deixá-los partir, persistindo em detê-los, amão do Senhor se fará sentir sobre teus rebanhos que estão noscampos, sobre os cavalos, jumentos, camelos, bois e ovelhas,como uma peste mortífera. (...) De fato, o Senhor assim fez nodia seguinte. Pereceram todos os rebanhos dos egípcios, masnão morreu um só animal dos rebanhos israelitas.”

Tumores (Ex 9, 10)

Eles recolheram fuligem de forno e pararam na frente do faraó.Moisés atirou a fuligem para o céu, provocando tumores e pústulasnas pessoas e nos animais.

Gafanhotos (Ex 10, 13.15)

“Moisés estendeu a vara sobre o Egito, e o Senhor fez soprar ovento oriental sobre o país durante o dia todo e a noite inteira.De manhã, o vento oriental tinha trazido os gafanhotos. (...) En-cobriram de tal modo a superfície do solo que escureceu. Devo-raram toda a vegetação do país, os frutos das árvores e tudo queo granizo havia deixado. Em todo o Egito não ficou nada deverde nas árvores e nas pastagens.”

A guerra biológica moderna

Esses eventos lendários permitem uma leitura atualizada ebem compreensível, na medida em que a tecnologia de pontausada naquela época, a vara de Moisés, equivale a engenhariagenética da atualidade e ambas com poderes mágicos que unspoucos iniciados dominam, como os preceptores de Moisés, ossacerdotes do Faraó, e os cientistas modernos, os quais tanto nopassado como no presente usaram e usam de seus conhecimen-tos para disseminar agentes biológicos aos quatro ventos paraobtenção de fins os mais variados, desde os de cunho pacífico

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até os de caráter bélico. Tais fatos, analisados à luz da realidadepresente na qual o domínio da ciência e tecnologia é utilizadopor certos países para buscarem o poder hegemônico numa lutasem quartel e na qual todos os meios são empregados, inclusivea guerra biológica, serve de alerta para certo país que vive deita-do eternamente em berço esplêndido e que deve acordar e refle-tir sobre o estado atual de seu estágio científico e tecnológico,pois esse ataque se faz silenciosamente ao longo do tempo, mui-tas vezes por gerações, até que consiga minar a vontade e o po-derio das nações.

No caso do Brasil, o bicho já está solto, ou melhor, osbichos já estão soltos, como a invasão de caramujos africanosque estão se espalhando pelo País e devastando plantações, semque o poder público e a sociedade se dêem conta da gravidade dasituação e tomem providências para erradicá-los. Afinal de con-tas, quem é o responsável pelo controle e eliminação dessa pra-ga? Existe no País algum órgão estatal responsável pelomonitoramento de agentes biológicos alienígenas? Existem nor-mas ou leis específicas para evitar que uma espécie indesejávelinvada o País, propositadamente, como parece ser o caso doscaramujos africanos, que, segundo a imprensa, foram importa-dos para concorrer na culinária com o escargot francês ou, poracaso, com os mexilhões asiáticos, supostamente trazidos noscascos de navios e que estão proliferando de forma incontrolávelpelos rios do País, inclusive pondo em risco o funcionamento deusinas hidrelétricas? No caso dos caramujos africanos, um fatonoticiado pela mídia ilustra bem o descaso das autoridades notrato dessa questão. Segundo um programa de televisão, a res-ponsável pela disseminação dessa praga no leste de Minas Geraisfoi uma senhora, que na entrevista disse ter trazido de São Pauloalguns exemplares e os deixou soltos em seu terreiro e daí seespalharam pela cidade em que mora e por toda a região. Nestecaso nenhuma providência foi tomada para isolar a região eerradicar essa praga.

Mas outros casos ilustram essa situação de descontrolepor parte das autoridades competentes (quais?, quem são elas?),como informa o Jornal Estado de Minas (7/7/2005, p. 27):

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“Moradores de Santa Luzia, na Região Metropolitana de BeloHorizonte, declararam guerra ao caramujo-gigante-africano, queataca plantações e pode transmitir doenças. A comunidade dobairro Pinhões, a sete quilômetros do centro da cidade histórica,fez ontem um mutirão para acabar com a praga, que vem se alas-trando na área rural dos municípios mineiros. O esforço termi-nou com a coleta de mais de 500 moluscos, que serão incinera-dos pela prefeitura. Até dezembro, técnicos das diretorias deSaúde, Zoonoses, Meio Ambiente e Obras vão repetir a opera-ção, a cada 15 dias, para impedir que a espécie invasora continuea se multiplicar. (...) A tarefa de recolher os caracóis não foisegredo nem novidade para a maioria dos moradores, que convi-vem com a praga há bastante tempo. A dona de casa Nelica Ferreirada Silva, de 30 anos, percebeu a presença dos moluscos enor-mes, de conchas listradas de marrom, em julho do ano passado.‘No princípio, achava-os tão bonitinhos que levava para casa epintava de esmalte. Cheguei a colecionar alguns no guarda-rou-pa. Mas eles cresceram muito rápido e comem até os pés demamão’, conta ela dizendo que, agora, tudo o que sobra dashortaliças do quintal é dado para as galinhas. O jeito tem sidocomprar os alimentos fora. ‘Gasto R$ 50, por mês, na feira’, dizo marido, Guerino Aparecido Pereira, de 44.

Sob o título Ibama quer campanha de erradicação, essamesma reportagem informa:

O molusco que devora plantações e pode transmitir perigosasverminoses já ataca propriedades rurais de 15 estados brasilei-ros. Desde a chegada do caramujo-gigante-africano ao País, nadécada de 80, nada menos que 130 municípios registraram apresença do animal, segundo dados do Ibama. Pesquisadoresdefendem a adoção de uma campanha nacional, patrocinada peloMinistério da Saúde, para evitar que a praga continue se alastran-do.

Para evitar que atitudes de pessoas descuidadas ou mal in-formadas ponham em risco a economia e o ecossistema do País,além da saúde da população, é preciso uma conscientizaçãomassiva para alertar a sociedade dos perigos que certos agentesbiológicos representam, se manipulados descuidadamente. Estaatitude pode provocar danos irreparáveis, como bem exemplificamas plantas ornamentais levadas por turistas americanos para a

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Flórida, e descartadas sem nenhum cuidado, as quais acabaramproliferando pelos pântanos dessa região, transformando-se numproblema ecológico de difícil solução.

Aqui no Brasil temos outros exemplos, como os das abe-lhas africanas e das cochonilhas que foram introduzidas no Paíspor cientistas, os quais acabaram perdendo o controle da situa-ção transferindo para a sociedade esse passivo ecológico quevem somar-se a outros, como os pardais que, trazidos de Portu-gal para combater mosquitos na cidade do Rio de Janeiro, acaba-ram por eliminar muitas espécies de pássaros nativos. Voltandoao caso das cochonilhas, é bom frisar que esta praga, trazida doMéxico, está proliferando pelas plantações de palmas do Nor-deste, o único alimento do gado nos períodos de seca, causandosérios prejuízos aos fazendeiros da região. Mas para se ter idéiada amplitude do problema representado pelas pragas exóticas, ea displicência como esse assunto está sendo tratado entre nós,basta recorrer ao programa de televisão Série Espécies Invasorasapresentado pelo Globo Rural, na primeira quinzena de junho de2005. Neste documentário são reportadas, como no Egito, setepragas:

a) Caramujo africano: chegou ao Brasil na década de 1980,pelo Paraná, trazido da África por fazendeiros;

b) Tucunaré: peixe da Amazônia que está provocandodesequilíbrio biológico na Bacia do Rio Doce em Minas Gerais;

c) Amarelinho: nativo do norte do México e Estados Uni-dos, chegou ao Brasil como planta ornamental, mas se espalhoucom facilidade e hoje é catalogado como espécie invasora, umapraga de pastagem. As primeiras mudas do amarelinho foramimportadas para São Paulo no começo do século XIX;

d) Mexilhão dourado: molusco originário da China. Che-gou à Argentina no início da década de 1990 trazidos por naviosque subiam o Rio da Prata e a partir daí infestou o Brasil pelo RioParaguai, já tendo chegado às suas cabeceiras, em Cáceres, Esta-do de Mato Grosso, portanto próximo do divisor de águas daBacia do Amazonas;

e) Tartaruga tigre d’água: conhecida também como Tarta-ruga Dourada ou Americana, veio dos Estados Unidos na década

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de 1970 e hoje é considerada praga em vários lugares do mundo.Os primeiros filhotes foram importados por lojas de animais doRio de Janeiro e São Paulo e acabaram se espalhando por todo opaís;

f) Braquiara: chegou ao Brasil vinda da África e hoje é oprincipal capim de pastagens do país. É rústico, resistente, espa-lha-se com facilidade e é de difícil controle, por isso mesmo cata-logada pelo IBAMA como espécie invasora na agricultura e comopraga nas reservas ambientais, onde vence a competição porespaço com as espécies nativas; e

g) Javali europeu: foi trazido das florestas européias nocomeço do século passado com a finalidade de servir de caçapara as pessoas ricas do Uruguai e Argentina. No começo dadécada de 1990, entrou no Rio Grande do Sul e se espalhoupelo Estado devastando plantações e cruzando com porcos do-mésticos gerando o Javaporco. O único controle considerado omais eficaz tem sido a caça, mas praticada de forma aleatória esem nenhum controle de resultado.

O Instituto de Pesquisas Biológicas eCombate às Pragas Exóticas

Os casos citados são os mais conhecidos, mas somenteuma instituição encarregada de fazer um levantamento completode todas as espécies alienígenas disseminadas pelo País poderáfornecer um quadro real da situação e propor medidas práticas eefetivas para o monitoramento de todas elas e a eliminação dasindesejáveis. O Instituto de Pesquisas Biológicas e Combateàs Pragas Exóticas (IPBCPE) deve ser criado e mantido peloMinistério da Defesa por se tratar de assunto de segurança nacio-nal, inclusive um banco de dados – o Banco de Dados Biológico- para centralizar e processar, de forma sigilosa, todas as infor-mações coletadas no Brasil e no exterior. Este instituto, o IPBCPE,ficará também encarregado de monitorar todo o processo ado-tado pelos órgãos competentes para erradicar pragas, como,por exemplo, a que se está disseminando pelas plantações de

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soja do País num padrão aleatório que deixa dúvidas sobre suaorigem. Aqui é bom recordar que há pouco tempo foi detido nasplantações de soja da Bahia um pesquisador de uma universidadeestrangeira, justamente pela desconfiança de que sua presençaextrapolava o mero interesse científico.

Contudo as dúvidas não ficam por aí, pois existem outroscasos inexplicados, como a peste suína que devastou a criaçãonacional de porcos tempos atrás, presumivelmente trazida porrestos de alimentos descartados pelos aviões vindo do exterior eo chamado cancro cítrico. A respeito desta praga, eis o que in-forma o Jornal Estado de Minas (8/6/2005, p. 20):

“A bactéria Xanthomonas axonopodis foi introduzida no Brasilem 1957, na região de Presidente Prudente, interior de São Pau-lo. É de fácil disseminação e um de seus vetores é o própriohomem, que leva as bactérias de um lugar para outro nos materi-ais de colheita, em veículos, máquinas e implementos, ou mesmopor meio do transporte de folhas, ramos e frutos. (...) MaurícioBento conta que ‘no Brasil, a praga foi constatada pela primeiravez no interior de São Paulo, mas não se sabe ao certo como ominador-dos-citros entrou no País’. As galerias formadas pelapraga nas folhas tornam mais fácil a penetração da bactéria docancro”.

O estranho nesses casos é que ocorrem sempre que o Paíspassa a disputar o mercado internacional, como foi no passadocom a carne de porco e o suco de laranja, e agora a soja. A essescasos se deve acrescentar a Praga da Mosca do Chifre que atacaprincipalmente bovinos, trazendo grandes prejuízos aos criado-res, e diversos outros animais, inclusive o homem, a qual foidetectada pela primeira vez no Brasil em 1980 pelos pecuaristasde Roraima. Esta praga, proveniente da América do Norte e Cen-tral, desconhecida no País até essa data, provavelmente penetrouno Estado de Roraima pela Guiana ou Venezuela, embora anteri-ormente já fossem registrados casos na Colômbia e no Chile (da-dos disponíveis na Internet).

Outras atribuições devem ser confiadas ao IPBCPE, comoacompanhar e avaliar os procedimentos para erradicar doençasendêmicas no País, como a febre aftosa, esquistossomose, doen-ça de chagas, febre amarela, dengue, malária, aids, antavírus, e

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prevenir a chegada de muitas outras causadas por agentes bioló-gicos, como a temida febre do Nilo, a gripe do frango, os vírusebola e marburg, etc., algumas das quais podem ser manipuladaspara fins militares. Além disso, o monitoramento de doenças quejá deveriam ter sido erradicadas do território brasileiro, como alepra e tuberculose, devem merecer destaque especial na atuaçãodesse instituto, pois o seu objetivo maior deverá ser o de prote-ger a saúde da população na paz e na guerra e, por extensão, adefesa do meio ambiente e da biodiversidade. Para isso seu cam-po de ação deve abranger não só o território brasileiro, mastambém o Tríplice Ecossistema Sul-Americano, inclusive o espa-ço aéreo comum. Esta abrangência se justifica não só pelo perigorepresentado pelo fluxo de nutrientes que as correntes aéreastrazem dos desertos africanos e despejam na Bacia Amazônica, comotambém pela ameaça de contaminação através de pássaros migrató-rios.

Para ilustrar o perigo dessas contaminações, nada maisoportuno do que transcrever a seguinte notícia publicada peloJornal Estado de Minas (3/8/2005, p. 22), sob o título Gripeaviária põe em risco toda Europa:

“MOSCOU – Uma linhagem da gripe aviária perigosa para hu-manos pode atingir partes da União Européia a partir da Sibéria,disse uma importante autoridade veterinária da Rússia, que nãoquer ter seu nome divulgado. Segundo ele, há chances ‘muitograndes’ de que o vírus encontrado na região de Novosibirsk seespalhe para outras partes da região. ‘Também há uma possibili-dade de que a gripe aviária atinja a União Européia, pois avesselvagens infectadas na China podem ter tido contato na Rússiacom aves que voam para a Holanda, a França e outros lugares.Tampouco a América do Norte está segura, pois algumas aves daRússia voam para lá também’. O mesmo funcionário disse tersido confirmado, sexta-feira, que aves da região de Novosibirskestão contaminadas com o vírus H5N1 da gripe aviária, que éperigoso para humanos, e não com o H5N2, como se imaginavaanteriormente. (...) Ele afirmou que o vizinho Cazaquistão, emcuja região de Pavlodar (Norte) foram registradas mortes de avesdomésticas e selvagens, também pode ter uma cepa da gripe aviáriasemelhante à que foi registrada, no mês passado, na Rússia. ‘Es-tivemos em contato com os cazaques. A probabilidade de que

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eles tenham o mesmo tipo de vírus é muito alta, pois algumasaves voam da China para a Rússia através do Cazaquistão. Masisso levará algum tempo para se confirmar’, afirmou”.

O alerta mundial sobre a alta periculosidade desse vírus foidado na abertura da 60ª Assembléia Geral da ONU, como infor-ma o Jornal Estado de Minas (19/9/2005, p. 18):

“Líderes mundiais, começando pelo presidente dos Estados Uni-dos, George W. Bush, começaram a advertir para os riscos deuma epidemia mundial de gripe das aves, vírus que já deixou 61mortos no Sudeste Asiático desde 2003. (...) ‘Se não fizermosnada, poderemos provocar a primeira pandemia (epidemia mun-dial) do século XXI’, advertiu Bush na 60ª Assembléia Geral daONU. ‘A magnitude dessa ameaça nos obriga a reagir sem demo-ra’, pediu, por sua vez, o primeiro-ministro francês, Dominiquede Villepin, instando a ‘afastar o risco de uma pandemia’. (...)‘As previsões mais prudentes estimam que haverá entre 7 mi-lhões e 10 milhões de mortos, mas o máximo poderia ser de 50milhões e no pior dos casos, de 100 milhões’, advertiu, em no-vembro de 2004, o diretor regional da OMS, Shigeru Omi”.

No dia seguinte, 20/9/2005, esse mesmo jornal informava(p. 22), sob o título Pandemia:

“O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), LeeJong-Wook, voltou a pedir aos governantes de todo o mundo,ontem, que adotem medidas apropriadas e se preparem para umapandemia de gripe aviária, porque a complacência pode significartrabalho redobrado e muito sofrimento no futuro. (...) Jong-Wooktambém lembrou que a OMS havia assinado um acordo com ogrupo farmacêutico Roche para o fornecimento de 30 milhões dedoses de antivirais, que permitiriam tratar 3 milhões de pessoas.(...) Os Estados Unidos pretendem fazer ao laboratório suíçoRoche uma encomenda sem precedentes do Tamiflu, medicamen-to antiviral contra a gripe aviária, no valor aproximado de US$1bilhão, informou a edição de ontem do diário britânico FinancialTimes. (...) Os Estados Unidos, conforme anunciou o presidenteBush, estão tomando providências para enfrentar uma eventualpandemia da gripe, sobretudo em sua variação aviária. O labora-tório francês Sanofi-Aventis anunciou, semana passada, um con-trato de US$100 milhões com o Departamento de Saúde Públicanorte-americano para a produção de uma vacina pré-pandêmica”.

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Para agravar essa situação, o Jornal Estado de Minas de7/10/2005, p. 22, divulgava o seguinte:

O vírus da gripe espanhola, que matou 50 milhões de pessoasem 1918/1919, provavelmente surgiu nos pássaros, de acordocom um estudo americano publicado na revista Nature. Os auto-res descobriram que o vírus tem semelhanças genéticas com ovírus que circula atualmente na Ásia. Eles dizem que a descobertaressalta que o atual vírus representa uma ameaça para os sereshumanos mundialmente. Em outro trabalho científico sobre adoença, publicado na revista Science, uma equipe norte-america-na conseguiu recriar, em ratos, um vírus igual ao de 1918. Ovírus foi recriado a partir de amostras dos restos mortais dasvítimas da pandemia do século passado, por uma equipe do Ins-tituto de Patologia das Forças Armadas dos EUA, e está armaze-nado no Centro para Controle de Doenças e Prevenções, emAtlanta, sob estritas condições de segurança.

A vigilância contra pragas e doenças exóticas, tanto do Brasilcomo nos demais países da América do Sul, deve, pela sua im-portância estratégica, ser executada de maneira integrada, for-mando um cordão sanitário em torno do continente, pois trata-se de um único ecossistema, o Tríplice Ecossistema Sul-America-no, e, conseqüentemente, o que afetar um país da região ameaça-rá a todos. Um exemplo que ilustra esse tipo de situação é o queestá ocorrendo no Mar Mediterrâneo, onde um tipo de algaalienígena está proliferando numa escala que em pouco tempopode eliminar toda atividade pesqueira daquela bacia, o que re-presentará uma verdadeira catástrofe para os países daquela re-gião. Outros vetores suscetíveis de manipulação ou de difícil con-trole, como pneus usados, um dos principais vetores da dengue,e navios, devem também receber atenção especial. Segundo oPrograma Globo Ecologia (20/8/2002), 80% do comércio inter-nacional é feito por meio de transporte marítimo, considerado omaior responsável pela bioinvasão em escala planetária. Os prin-cipais vetores neste caso são os cascos dos navios e a água delastro.

Nesse contexto, um país continental como o Brasil não sepode dar ao luxo de ficar deitado eternamente em berço esplên-

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dido, mas manter-se alerta e precavido, inclusive ante o potencialperigo representado pelas conquistas espaciais e o terrorismointernacional, o que, por si só, já justificaria a criação do IPBCPE.Esse estado de prontidão já está em vigor em países envolvidoscom a guerra biológica, como informa o Jornal Estado de Minas(16/6/2005, p. 18), em matéria sobre o terrorismo internacio-nal:

Os Estados Unidos têm armazenadas doses de medicamentoscontra a varíola em número bem acima do total de seus habitan-tes, informou ontem aos congressistas um funcionário do Insti-tuto Nacional de Saúde Pública (NIH), durante debate sobre oque vem sendo feito para proteger os norte-americanos de umpossível ataque biológico. “Temos agora mais de 300 milhões dedoses antivariólicas” , informou à Câmara de Representantes odiretor do Instituto de Alergias e Doenças Infecciosas no NIH,Anthony Fauci.

Mas o que justifica, sem sombra de dúvidas, a criação doIPBCPE é o largo espectro dos ataques biológicos em escalamundial e a freqüência com que estão ocorrendo, como noticia aimprensa. Somente nos três primeiros dias do mês de outubrode 2005, por exemplo, o Jornal Estado de Minas deu destaqueàs seguintes ameaças biológicas:

Varíola Bovina (1/10/2005, p. 23): “Profissionais de saúde deMariana, a 115 quilômetros de Belo Horizonte, na região Cen-tral de Minas, vão visitar fazendas para alertar pecuaristas sobreo surto de varíola bovina. (...) A varíola bovina se manifesta emferidas e bolhas no animal, provocadas pelo poxvírus, que seespalha pelas tetas, e pode ser transmitida ao homem durante aordenha. (...) A varíola bovina é notificada em Minas desde 1999”.

Mutação – Vírus da dengue evoluiu (2/10/2005, p. 20): “Ovírus que causa a dengue parece ter sofrido uma mutação e for-mado um tipo mais resistente, o que teria provocado uma explo-são da doença no mundo, disseram ontem especialistas reunidosem Cingapura. (...) Outra causa aparente do avanço da doença éa capacidade de o mosquito transmissor Aedes aegypti se adap-tar a ambientes urbanos e apresentar imunidade aos métodostradicionais de controle com aerossóis”.

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Bactéria deixa país em alerta (3/10/2005, p. 18): “Uma bac-téria potencialmente mortal foi descoberta em Washington du-rante uma manifestação contra a guerra no Iraque, que reuniudezenas de milhares de pessoas, revelou na tarde de sábado umalto representante de Saúde Pública norte-americano. Rastros dabactéria Francisella ruralensis, que pode propagar a tularemia,foram descobertos em 24 e 25 de setembro no Mall (amplaexplanada no Centro da Cidade), informou o diretor sanitário dacapital federal do Estados Unidos, Gregg Pane. (...) A tuleremiaé uma doença infecciosa que afeta principalmente as lebres, mastambém outras espécies de mamíferos. Os humanos podem con-trair a doença principalmente depois de manter contato com umalebre infectada”.

Contaminação avança (Caderno “Agropecuário”, 3/10/2005,p. 5): “O Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) pediu oapoio do Ministério da Agricultura para o controle do greeningnos pomares de cítricos de São Paulo e Minas Gerais. (...) Desdejunho do ano passado – quando o greening foi identificado nospomares brasileiros – mais de 260 mil plantas doentes forameliminadas. (...) O greening é causado por uma bactéria e trans-mitido por um inseto vetor (o psilídeo Diaphorina citri). Afetatodas a variedades cítricas e é considerada a doença de citrosmais importante do mundo”.

Diante dos exemplos citados, o que deve ficar bem claro éque não basta um controle burocrático de pragas exóticas, oupesquisas científicas acadêmicas, é preciso mais, muito mais, comobem exemplifica a invasão biológica do Porto de Santos pelomolusco Isognomon Bicolor, o qual, segundo a Agência Nacionalde Vigilância Sanitária (ANVISA), pode carregar a bactéria dacólera. Esses moluscos, trazidos por navios em seus tanques deágua de lastro, já tomaram de assalto, segundo o Programa Glo-bo Ecologia (20/8/2005), os paredões rochosos próximos aocanal principal desse porto, que responde por cerca de 27% dabalança comercial do País e onde 98% dos navios aportados sãoestrangeiros. Além disso já se espalharam pelos costões do lito-ral santista, inclusive eliminando espécies nativas, cumprindo as-sim a primeira etapa de uma guerra biológica, ou seja, estabele-

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cer-se no campo inimigo. A segunda etapa consiste na introdu-ção de espécies contaminadas, o que poderá ser feito por meiode águas de lastros ou por outros meios quaisquer.

Ante tal situação, não basta constatar sua existência, comojá foi feito, é preciso eliminá-lo a qualquer custo, pois representauma ameaça à saúde pública e à segurança nacional, já que pode-rá ser utilizado em caso de guerra ou ameaça terrorista. Outrosdetalhes mostrados nesse programa de televisão, dedicado àbioinvasão, também reforçam essa necessidade. Trata-se do pa-pel desempenhado pelas universidades e instituições de pesqui-sa, entidades que enfocam seus trabalhos mais no campo cientí-fico, e pelo que foi observado nessa reportagem, totalmentedesvinculadas de uma política de combate às espécies invasorasno contexto de uma Guerra Biológica. Afinal de contas, como foiintroduzida no Brasil o greening e seu vetor? Foi obra da nature-za ou alguém está por trás disso? Já nos esquecemos da GuerraBiológica praticada pelos Portugueses para eliminar e dominar asnações indígenas que habitavam a Terra Brasilis, quando dissemi-navam a varíola entre os nativos por meio de roupas contamina-das, deixadas de presente como fizeram os gregos com o Cavalode Tróia?

Para responder a questões como esta, é que se propõe acriação do IPBCPE, um órgão vinculado ao Ministério da Defesae destinado a centralizar, orientar e monitorar as pesquisas detudo o que diz respeito à Guerra Biológica. Esta vinculação seimpõe não só por questões estratégicas, mas também pela pere-nidade da estrutura militar, que, de forma diferente das institui-ções civis, não sofre descontinuidade administrativa, nem estásujeita a pressões para colocar políticos ou apadrinhados na che-fia de cargos técnicos. Para cumprir com suas atribuições, oIPBCPE poderá firmar convênios com universidades e institutosde pesquisas para desenvolver projetos que julgar conveniente.O que deve executar com exclusividade é a formatação eoperacionalização do Banco de Dados Biológicos, o qual seráfranqueado aos Ministérios da Saúde, da Agricultura e Pecuária,

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da Pesca, do Meio Ambiente, e de Ciência e Tecnologia, segundoo perfil de atuação de cada um e dos órgãos a eles vinculados.Estes ministérios, os órgãos a eles vinculados e as instituições deensino e pesquisa, por sua vez, devem criar seus próprios bancosde dados para receber e processar as informações de sua área deatuação. Todos esses bancos de dados funcionariam num sistemade rede fechada sob a supervisão do Ministério da Defesa, poistrata-se de informações vitais para a segurança nacional. Conclu-indo, é bom lembrar que a bioinvasão não afeta apenas o conti-nente, mas atinge também as ilhas oceânicas, como a de Trinda-de, por exemplo, onde porcos e cabras ali deixados constituemuma ameaça não só ao meio ambiente da ilha, onde devastam aparca cobertura vegetal ali existente, como também a vida mari-nha, já que o alimento preferido pelos porcos são os ovos detartarugas depositados nas areias das praias.

Para encerrar todas essas considerações sobre a guerra bio-lógica, alguns comentários adicionais devem ser feitos sobre aorigem asiática das principais pandemias que ameaçam a humani-dade desde o século XIV (a peste negra) até o presente (a gripeaviária). O traço comum entre elas é que se originam em paísessuperpopulosos, sujeitos a estresse permanente, dado o ajunta-mento em que vivem, o qual se estende aos animais, principal-mente as aves domésticas que são criadas em condições deconfinamento extremos e condições sanitárias precaríssimas, comomostrado nos noticiários de televisão. Esse estado de coisas pro-voca uma redução da defesa dos organismos dos seres humanose demais animais, e, conseqüentemente, o aparecimento de todotipo de viroses que acabam se espalhando pelo mundo. Esse modusvivendi dos asiáticos acabará por provocar tensões nos seus vizi-nhos, principalmente os europeus, pois, como no passado, atendência será buscarem mais espaço para sobreviverem. Estaluta pela sobrevivência será o estopim da Terceira Guerra Mundi-al, a qual provocará uma hecatombe nunca vista, o tal harmagedondos profetas bíblicos, pois, entre as armas a serem utilizadas, abiológica terá um papel de destaque.

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A Síndrome do Sapo Fervido

(Revista Tecnologia e Treinamento, n. 31, p. 45)

Vários estudos biológicos provaram que um sapo colocado numrecipiente com a mesma água de sua lagoa fica estático durantetodo o tempo em que aquecemos a água, até que ela ferva. Osapo não reage ao gradual aumento da temperatura (mudançasdo ambiente) e morre quando a água ferve. Inchadinho e feliz.No entanto, outro sapo, jogado nesse mesmo recipiente já comágua fervendo, salta imediatamente para fora, meio chamuscado,porém, vivo!

Existem pessoas que têm comportamento similar ao do SAPOFERVIDO. Não percebem as mudanças, acham que está tudo bem,que vai passar, que é só dar um tempo... e, muitas vezes, fazemum grande estrago em si mesmas, “morrendo” inchadinhas efelizes, sem, ao menos, ter percebido as mudanças. Outras, aoserem confrontadas com as transformações, pulam, saltam, emações para implementar as mudanças necessárias. Encorajam-sediante dos desafios, buscam a melhor saída para a solução dosproblemas, tomam atitudes.

Há muitos “sapos fervidos” que não percebem a constante mu-dança do ambiente a sua volta e se acomodam, à espera de quealguém resolva tudo por eles; esquecem-se de que mudar é pre-ciso, principalmente se essa mudança beneficia toda uma coleti-vidade. Essa teoria se encaixa em todas as situações de nossavida: pessoal, afetiva e profissional.

Devemos ter a consciência de que, além de sermos eficientes(fazer certo as coisas), precisamos ser eficazes (fazer as coisascertas), criando espaços para o diálogo, o compartilhamento, oplanejamento, o espírito de equipe, delegando, sabendo ouvir,favorecendo o nosso próprio crescimento e o daqueles com quemconvivemos, seja na família, no trabalho ou na comunidade emgeral.

O desafio maior, nesse mundo de mudanças constantes, está nahumildade de atuar de forma coletiva. Precisamos estar atentospara que não sejamos como os Sapos Fervidos. Pulemos fora,antes que a água ferva. O mundo precisa de nós, meio chamusca-dos, mas vivos, abertos para mudanças e prontos para agir.

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RRRRREFERÊNCIASEFERÊNCIASEFERÊNCIASEFERÊNCIASEFERÊNCIAS B B B B BIBLIOGRÁFICIBLIOGRÁFICIBLIOGRÁFICIBLIOGRÁFICIBLIOGRÁFICASASASASAS

BARTH, Flávio Terra et. al. Modelos para gerenciamento de re-cursos hídricos. São Paulo: Nobel: ABRH, 1987.

BÍBLIA SAGRADA. Trad. CNBB, 2001.

BUENO, Eduardo. Capitães do Brasil – A saga dos primeiroscolonizadores. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999.

CALDEIRA, Jorge et. al. Viagem pela História do Brasil. São Pau-lo: Companhia das Letras, 1997.

COUTO, João Gilberto Parenti. Projeto Brasil – O resgate dadívida social e a situação do negro do Brasil. Belo Horizonte:Mazza Edições, 2000.

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positi-vo.13. ed. rev. São Paulo: Malheiros, 1997.

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O AO AO AO AO AUTORUTORUTORUTORUTOR

O autor nasceu em Pedrão, município de Maria da Fé-MG,em 1o de maio de 1937. Formou-se em Geologia pela Universi-dade Federal do Rio de Janeiro (UFR) em 1971, passando entãoa trabalhar na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais(CPRM), onde integrou equipes de mapeamento geológico nosestados de Mato Grosso e Minas Gerais. Em 1975, transferiu-separa a empresa Metais de Minas Gerais (METAMIG), dedican-do-se à prospecção e pesquisa mineral. Em 1978, participou deviagem de estudo à África do Sul e Zâmbia, com a finalidade deestabelecer critérios litoestratigráficos e metalogenéticos de com-paração Brasil-África. Freqüentou entre 1983/84 o curso doCentre d’Enseignement Supérieur en Exploration et Valorisationdes Ressources Minerales (CESEV ), em Nancy, França. A partirde 1991, passou a prestar serviços na Secretaria de Estado deRecursos Minerais, Hídricos e Energéticos de Minas Gerais(SEME), como Diretor de Geologia e Recursos Minerais. Em ju-lho de 1994, foi designado representante da SEME na ComissãoTécnica Intergovernamental encarregada de elaborar a propostade zoneamento ecológico-econômico e o sistema de gestãocolegiado da Área de Proteção Ambiental Sul – Região Metropo-litana de Belo Horizonte (APA-SUL-RMBH). Em maio de 1995,aposentou-se.

Possui cinco artigos publicados em periódicosespecializados, oito trabalhos apresentados em congressos esimpósios de Geologia e uma tese defendida no exterior. Fora docampo da geologia, publicou em 1996 uma edição do livro Pro-jeto Brasil e, no ano de 2000, a versão revista e ampliada (Proje-to Brasil – O resgate da dívida social e a situação do negro doBrasil), sob o patrocínio da Mazza Edições e o apoio do Ministé-rio da Cultura por intermédio da Lei de Incentivo à Cultura. Pela

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mesma editora, publicou ainda as seguintes obras: Os 7 Pecadosda Capital (2003), A Revolução que Vargas não fez, OperaçãoSenzala, Brasil país do presente – O futuro chegou e Acorda,Brasil (2004) e, em 2005, a primeira edição deste livro.

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Este livro foi composto em tipologiaFlareserif821 LtBt e impresso em papelOffset 70g/m2 (miolo) e Cartão Royal

250g/m2 (capa).

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<a rel=”license” href=”http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/br/”><img alt=”Creative CommonsLicense” style=”border-width:0" src=”http://i.creativecommons.org/l/by-nc-nd/2.5/br/88x31.png” /></a><br /><span xmlns:dc=”http://purl.org/dc/elements/1.1/” href=”http://purl.org/dc/dcmitype/Text”property=”dc:title” rel=”dc:type”>Decifrando um enigmachamado Brasil</span> is licensed under a <a rel=”license”href=”http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/br/”>Creative Commons Atribui&#231;&#227;o-UsoN&#227;o-Comercial-Vedada a Cria&#231;&#227;o deObras Derivadas 2.5 Brasil License</a>.

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