de taunay a nava

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44 De Taunay a Nava: grandes memorialistas da literatura brasileira Prof. Dr. Paulo BUNGART NETO (UFGD) RESUMO: O trabalho apresenta um panorama da produção de alguns dos principais memorialistas brasileiros, de românticos de fins do século XIX tais como Visconde de Taunay, Joaquim Nabuco e José de Alencar, até os modernistas da primeira metade do século XX (Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, José Lins do Rego, Erico Veríssimo, Murilo Mendes e Pedro Nava, dentre outros). Pretende-se demonstrar também de que maneira o gênero memorialístico aparece bem representado na atividade literária de escritores sul-mato- grossenses como Otávio Gonçalves Gomes, Ulisses Serra, Elpídio Reis e Manoel de Barros, através de crônicas, poemas, autobiografias e volumes de memórias que retratam, além da vida pessoal de seus autores, a inserção cultural e identitária do Mato Grosso do Sul como nova realidade fronteiriça. PALAVRAS-CHAVE: literatura brasileira, memórias, memorialismo modernista Introdução A produção memorialística é fenômeno relativamente recente na literatura brasileira. Se as crônicas e os registros históricos se iniciam já em 1500, com a Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel, e a poesia e o teatro brasileiros, com os poemas e autos de José de Anchieta, as primeiras obras do gênero memorialístico, entre nós, surgem apenas durante o Romantismo, no final do século XIX. Apesar de recentes, as obras autobiográficas e de memórias alcançaram, em apenas dois séculos de existência, um alto nível de realização formal e sobretudo estética, sendo muito bem representada por grandes escritores como Erico Veríssimo, Manuel Bandeira, José Lins do Rego e Graciliano Ramos. Ninguém menos que Graciliano Ramos e suas assombrosas, cruéis e sinceras Memórias do cárcere. O memorialismo brasileiro já deixou registrados o pavor e as atrocidades de uma guerra absurda (as Memórias, de Visconde de Taunay, sobre a Guerra do Paraguai ou Guerra da Tríplice Aliança), o ambiente inescrupulosamente pecaminoso dos internatos masculinos (tema das obras Balão cativo e Chão de ferro, de Pedro Nava, e do romance autobiográfico O Ateneu, de Raul Pompéia). Por falar em romance, simultaneamente ao início da prática regular de escrita memorialista por parte dos ficcionistas românticos, é através de um romance de “memórias” (as Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, publicadas em 1881) que a escola realista se impõe em nossas terras. Quase trinta anos depois, Machado ainda traz à lume o Memorial de Aires (1908), escrito na forma de diário pelo diplomata aposentado, o Conselheiro Aires. Além disso, é preciso evocar as lúdicas Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio

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De Taunay a Nava: grandes memorialistas da literatura brasileira

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    De Taunay a Nava: grandes memorialistas da literatura brasileira

    Prof. Dr. Paulo BUNGART NETO (UFGD)

    RESUMO: O trabalho apresenta um panorama da produo de alguns dos principais

    memorialistas brasileiros, de romnticos de fins do sculo XIX tais como Visconde de

    Taunay, Joaquim Nabuco e Jos de Alencar, at os modernistas da primeira metade do sculo

    XX (Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Jos Lins do Rego, Erico Verssimo, Murilo

    Mendes e Pedro Nava, dentre outros). Pretende-se demonstrar tambm de que maneira o

    gnero memorialstico aparece bem representado na atividade literria de escritores sul-mato-

    grossenses como Otvio Gonalves Gomes, Ulisses Serra, Elpdio Reis e Manoel de Barros,

    atravs de crnicas, poemas, autobiografias e volumes de memrias que retratam, alm da

    vida pessoal de seus autores, a insero cultural e identitria do Mato Grosso do Sul como

    nova realidade fronteiria.

    PALAVRAS-CHAVE: literatura brasileira, memrias, memorialismo modernista

    Introduo

    A produo memorialstica fenmeno relativamente recente na literatura brasileira.

    Se as crnicas e os registros histricos se iniciam j em 1500, com a Carta de Pero Vaz de

    Caminha ao rei D. Manuel, e a poesia e o teatro brasileiros, com os poemas e autos de Jos de

    Anchieta, as primeiras obras do gnero memorialstico, entre ns, surgem apenas durante o

    Romantismo, no final do sculo XIX.

    Apesar de recentes, as obras autobiogrficas e de memrias alcanaram, em apenas

    dois sculos de existncia, um alto nvel de realizao formal e sobretudo esttica, sendo

    muito bem representada por grandes escritores como Erico Verssimo, Manuel Bandeira, Jos

    Lins do Rego e Graciliano Ramos. Ningum menos que Graciliano Ramos e suas

    assombrosas, cruis e sinceras Memrias do crcere.

    O memorialismo brasileiro j deixou registrados o pavor e as atrocidades de uma

    guerra absurda (as Memrias, de Visconde de Taunay, sobre a Guerra do Paraguai ou Guerra

    da Trplice Aliana), o ambiente inescrupulosamente pecaminoso dos internatos masculinos

    (tema das obras Balo cativo e Cho de ferro, de Pedro Nava, e do romance autobiogrfico O

    Ateneu, de Raul Pompia). Por falar em romance, simultaneamente ao incio da prtica

    regular de escrita memorialista por parte dos ficcionistas romnticos, atravs de um

    romance de memrias (as Memrias pstumas de Brs Cubas, de Machado de Assis, publicadas em 1881) que a escola realista se impe em nossas terras. Quase trinta anos

    depois, Machado ainda traz lume o Memorial de Aires (1908), escrito na forma de dirio

    pelo diplomata aposentado, o Conselheiro Aires. Alm disso, preciso evocar as ldicas

    Memrias de um sargento de milcias, de Manuel Antnio

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    de Almeida, um dos primeiros romances escritos no Brasil, publicado originalmente em

    folhetim, como suplemento do Correio Mercantil, entre junho de 1852 e julho de 1853.

    O Romantismo , portanto, a primeira escola literria brasileira a produzir (bons e, s

    vezes, timos) textos de cunho memorialstico, como as obras Como e por que sou

    romancista, de Jos de Alencar; Minha vida: da infncia mocidade e o sugestivo Quando

    eu era vivo, de Jos Joaquim Medeiros e Albuquerque; e, sobretudo, as Memrias do

    Visconde de Taunay, sobre as quais me deterei um pouco mais adiante.

    Antes do boom do memorialismo no Modernismo brasileiro, consequncia natural do

    impacto sofrido com a leitura do romance Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust que,

    como veremos, comandou a cena da literatura autobiogrfica nacional, lida e digerida, no mais das vezes, diretamente no original francs, antes disso, dizia, preciso evocar a obra de

    Lima Barreto, sobretudo o romance Recordaes do escrivo Isaas Caminha e sua obra

    memorialstica O cemitrio dos vivos, ambas as obras repletas de confisses de traumas,

    dependncias qumicas e dificuldades de insero social e profissional. Rotuladas como pr-modernistas, as obras de Lima Barreto antecipam muitas das tcnicas modernistas, abrindo caminho para a consolidao de uma tradio confessional que marcou grande parte da

    literatura brasileira do sculo XX.

    Romantismo brasileiro: escola pioneira na crtica literria e no memorialismo

    A grosso modo, sabe-se que at o sculo XIX a literatura brasileira era composta

    apenas por cartas, relatos de viagem, sermes e poemas picos e lricos. Em poucas palavras,

    literatura informativa, literatura catequtica e uns laivos de lirismo e individualismo,

    principalmente no Barroco de Gregrio de Matos e no Arcadismo de Toms Antnio

    Gonzaga e Cludio Manuel da Costa.

    A partir do Romantismo, h um salto qualitativo em nossa literatura: na poesia,

    surgem a lrica nacionalista do exilado Gonalves Dias, o universalismo angustiante de lvares de Azevedo e o apelo social de revolta contra a escravido de Castro Alves; no

    teatro, a dramaturgia de Martins Pena; no romance, atinge-se um alto nvel de realizao

    esttica atravs de obras como Helena, de Machado de Assis, O cabeleira, de Franklin

    Tvora, Inocncia, de Visconde de Taunay, e sobretudo de obras paradigmticas de Jos de

    Alencar como Iracema, Senhora e O guarani, por exemplo.

    Tal salto qualitativo no se restringe evoluo da produo ficcional em verso e prosa. durante o Romantismo que aparece pela primeira vez certa conscincia nacional e a

    vontade de fazer uma literatura realmente brasileira, voltada para a discusso de aspectos

    concernentes identidade coletiva de nossa nao. Como consequncia, o surgimento e a

    consolidao da primeira gerao de crticos literrios, do porte de Slvio Romero, Jos

    Verssimo e Araripe Jr.

    Essa busca pioneira por uma espcie de autonomia cultural, por menor que fosse,

    refletiu diretamente na elaborao esttica dos escritores romnticos que, ao lado do esforo

    de compreenso ideolgica de nossa identidade mais complexa e profunda, voltaram-se

    tambm para a tentativa de entendimento individual de seu papel como intelectuais e como

    seres humanos, o que resultou no incio da atividade memorialista

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    entre ns, a exemplo dos j citados Como e por que sou romancista, de Alencar, e Quando eu

    era vivo, de Medeiros e Albuquerque.

    O maior exemplo de que o memorialismo romntico brasileiro procurou conciliar vida

    privada (recordaes de infncia) e pblica (atuao poltica) a obra Minha formao, do

    abolicionista e monarquista Joaquim Nabuco, publicado na ntegra em 1900. Em meio a

    lembranas de infncia, dos colgios nos quais estudou e das viagens feitas Europa, Nabuco

    discute relaes de poder e toma a defesa da Constituio Inglesa de Bagehot (fins do sculo

    XIX), que o levou a optar pelo sistema monrquico. A inteno do memorialista bem

    sintetizada no texto da orelha da edio de 1997, da Editora Edelbra:

    As necessidades de sua ptria, convergindo do Imprio para a Repblica,

    passando pela campanha difcil da abolio da escravatura, foram o nico

    norte a orientar as intenes de seu texto. Sua linguagem, entretanto, atendeu aos apelos de uma certa emoo lrica, e a musicalidade da frase,

    discreta porm audvel, entregou-se na docilidade do entendimento sem

    asperezas, exibiu-se amiga, generosa, comunicante e ao mesmo tempo plena de sugestes (1997).

    No entanto, a despeito da importncia da obra de Joaquim Nabuco, a grande obra do

    gnero no Romantismo brasileiro so as Memrias do tambm monarquista Visconde de

    Taunay. Apesar de semelhante posio poltica e privilgios de classe, as obras so bem

    diferentes, sendo a de Taunay de estilo bem mais leve e informal, focada na viso pessoal dos

    acontecimentos da vida do autor, e no em questes polticas. O que no o impede de retratar

    a intimidade da famlia imperial brasileira, com quem conviveu de perto devido amizade de

    seu pai com o Imperador D. Pedro II, e de ridicularizar a ento proclamada repblica (suas

    Memrias foram escritas entre 1890 e 1899, ano de sua morte) atravs da referncia irnica a

    nossa bandeira:

    Ao povo pouco se lhe deu. Preferiu continuar bestializado conforme se mostrou na frase de Aristides Lobo, por ocasio do levante de 15 de

    novembro de 1889 (...) que derrubou as organizaes monrquicas,

    interrompeu a marcha ascensional do Brasil e o fez retrogradar cem anos na

    senda do progresso e da ordem, apesar de todas as afirmaes da bandeira pseudocientfica da faixa e bola, casando as disparatadas cores verde,

    amarela e azul. (...) O pavilho imperial no era, decerto, harmonioso... Se

    ao menos tivessem os republicanos aproveitado o ensejo para nos dar bandeira mais bem organizada? Qual! Agravaram o feio (TAUNAY, 2004,

    p. 222).

    Trs quintos das Memrias de Taunay retratam sua participao na Guerra do

    Paraguai, acompanhando, como engenheiro militar, as tropas que partiram de Santos para o

    sangrento conflito. O fato de ser monarquista no o faz se esquivar de criticar a estratgia de

    guerra do governo imperial, denunciando a falta de planejamento e de viso de quem v o

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    combate de seu gabinete e no conhece o serto brasileiro: Todos os planos que partiam do Rio de Janeiro eram errados e s patenteavam a incompetncia dos que os formularam e o

    absoluto desconhecimento das vastssimas regies em que havia sido abandonada aos azares

    da sorte a nossa triste e resumida coluna (TAUNAY, 2004, p. 193). Por ser paisagista e gostar de desenho, herana do pai e do av, durante as horas de ociosidade da tropa, Taunay

    se dedicava a ilustrar as paisagens com as quais tomava contato no interior do Mato Grosso,

    hoje Mato Grosso do Sul, fato que confere maior realismo e exatido a seu relato. Assim, l-

    se, por exemplo, no captulo 22 da Terceira Parte (2004, p. 207-209), o quanto o memorialista

    aproveitou as pausas relacionadas ao avano e recuo das tropas para se dedicar ao estudo da

    fauna e da flora da regio, chegando a deter-se na observao de formigas e outros insetos.

    No captulo 13 dessa mesma Terceira Parte da obra, Taunay j confessara seu interesse

    singular e isolado:

    Com a educao artstica que recebera de meu pai, acostumado desde pequeno a v-lo extasiar-se diante dos esplendores da natureza brasileira,

    era eu o nico dentre os companheiros, e portanto de toda a fora

    expedicionria, que ia olhando para os encantos dos grandes quadros naturais e lhes dando o devido apreo. Como achei majestoso o Rio Grande,

    divisa de So Paulo e Minas, o copioso contingente do Paran! (TAUNAY,

    2004, p. 179).

    O episdio mais singelo e curioso descrito nas Memrias do Visconde de Taunay o

    que envolve a compra de uma ndia da tribo chooron, da nao Chan, chamada Antnia.

    Tratando diretamente com o pai da ndia, Taunay fecha o negcio recebendo a moa em troca de um saco de feijo, outro de milho, dois alqueires de arroz, uma vaca para corte e um boi de montaria (TAUNAY, 2004, p. 270). O desfecho da histria igualmente curioso e praticamente absurdo: impedida de seguir com as tropas, Antnia, mesmo tendo sido

    vendida, obrigada a permanecer em sua tribo, o que motiva Taunay a, algumas semanas depois, tomar uma atitude intempestiva e adolescente para com ela se encontrar, solicitando

    dispensa da tropa por um dia e se aventurando, sozinho, em terras inspitas para cumprir, a

    cavalo, um longo trajeto entre o acampamento das tropas e o tribo da ndia. Taunay fica com

    a ndia por algumas horas e retorna ao acampamento, l chegando exausto e febril. A

    desumanidade da compra , assim, em parte compensada pelo lirismo da aventura. Taunay

    deixa novamente a ndia na tribo e nunca mais a v, mas deixa eternizado em suas memrias

    um belo depoimento em sua homenagem, ele que conhecera belas mulheres no Rio de Janeiro

    e em Paris:

    No me olvidei, certamente, jamais, dessa graciosa criatura, e nisso cumpri

    a palavra; mas nunca mais lhe pus os olhos em cima. Sei, porm, que no foi

    de todo infeliz. Casou-se com um alferes e teve dois filhos. Enviuvando, tornou a casar, creio que com um oficial tambm. Vive hoje em Corumb ou

    Cuiab e deve ter quarenta e dois anos, o que significa que h de estar velha

    e feia mm, pois as ndias cedo, muito cedo, perdem todos os encantos e

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    regalias da mocidade. (...) Pobrezinha da Antnia! Em mim deixou

    indestrutvel lembrana de frescor, graa e elegncia, sentimento que jamais

    as filhas da civilizao, com todo o realce do luxo e da arte, podero destruir

    nem desprestigiar! (TAUNAY, 2004, p. 296).

    Memorialismo modernista no Brasil: antes e depois de Proust

    O memorialismo modernista brasileiro sofreu obviamente um grande impacto no

    incio do sculo XX devido publicao da obra A la recherche du temps perdu, de Marcel

    Proust, nas dcadas de 1920 e 1930. Lida em geral no original em francs (pois s foi

    publicada em edio brasileira a partir do final da dcada de 1940, pela Editora Globo de

    Porto Alegre), a histria de Marcel, a da lembrana involuntria a partir do bolinho molhado

    no ch, repercutiu, direta ou indiretamente, com maior ou menor intensidade, nas obras

    memorialsticas da literatura brasileira, que surgiram em profuso. Sem preocupao explcita

    de referir a data ( qual generalizo em torno de obras publicadas entre as dcadas de 30 e 80),

    cito alguns exemplos, para ficar apenas dentre os autores mais cannicos: Itinerrio de

    Psargada, de Manuel Bandeira; Um homem sem profisso: Sob as ordens de mame, de

    Oswald de Andrade; Meus verdes anos, de Jos Lins do Rego; Solo de clarineta, de Erico

    Verssimo; A idade do serrote, de Murilo Mendes; Viagem no tempo e no espao, de

    Cassiano Ricardo; Infncia e Memrias do crcere, de Graciliano Ramos; A menina do

    sobrado e Exploraes no tempo, de Cyro dos Anjos; e Memrias de um pobre homem, de

    Dyonelio Machado. Isso apenas em termos de grandes poetas e ficcionistas que deixaram

    memria ou autobiografia em prosa. Sem falar nos casos de memorialismo potico (como nas

    obras Boitempo, de Carlos Drummond de Andrade, e Memrias inventadas, de Manoel de

    Barros), de intelectuais que, no se notabilizando como ficcionistas, escreveram obras

    essenciais no gnero, como o jornalista Fernando Gabeira (O que isso, companheiro?) e os

    crticos literrios Augusto Meyer (Segredos da infncia e No tempo da flor), Gilberto Amado

    (Histria da minha infncia); Agripino Grieco (Memrias, em vrios volumes), Tristo de

    Athayde (Memrias improvisadas), Carlos Dantes de Moraes (Um solitrio procura da

    vida Fragmento de autobiografia) e Silviano Santiago (O falso mentiroso) e do caso mais paradigmtico e assombroso da memorialstica brasileira, a obra, em sete volumes (publicada

    entre o incio das dcadas de 1970 e de 1980), de Pedro Nava, mdico reumatologista, poeta

    bissexto e frequentador assduo das rodas literrias belo-horizontinas na companhia de

    Drummond, Emlio Moura, Rodrigo de Melo e Franco, etc.

    Como se pode perceber, o memorialismo brasileiro no sculo XX vastssimo, para

    ficarmos apenas nos exemplos citados acima. A grande maioria de inspirao proustiana, no

    apelo aos sentidos e na evocao de lembranas de um tempo e de um espao perdidos.

    Voltar... voltar enquanto tempo manh de nossas vidas, escreveria com amargura e melancolia Augusto Meyer em 1949, em Segredos da infncia. tarefa praticamente

    impossvel tentar sintetizar tantas obras em to pouco espao. Em comum, a confisso de

    tabus da infncia e da adolescncia (masturbao, perda da virgindade, sexo com animais, o primeiro cigarro, a primeira prostituta, etc) e o despertar do interesse cultural e literrio

    (livros, cinema, teatros, bares, restaurantes),

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    isto , a tentativa de entender a vida pessoal e comunitria a partir da realidade brasileira do

    sculo XX, sculo das guerras mundiais, da ditadura militar na maioria dos pases da Amrica

    do Sul, da guerra fria e da polarizao do mundo entre capitalismo e socialismo. Como no

    h espao para comentar todos, passo a resumir os mais representativos.

    exceo de O que isso, companheiro?, de Gabeira, e das Memrias do crcere, de

    Graciliano Ramos, depoimentos histricos de momentos precisos da histria do Brasil (o

    primeiro, do sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, em 1969, e o

    segundo, a respeito da priso do escritor alagoano durante o Estado Novo de Getlio Vargas,

    em 1937), todos os demais se compem do relato de episdios marcantes da infncia e/ou da

    adolescncia de seus autores.

    Comento brevemente alguns deles, para fornecer um panorama das principais

    caractersticas do memorialismo modernista brasileiro, de claro influxo proustiano, sobretudo

    nas recordaes de Augusto Meyer, Pedro Nava e Jos Lins do Rego. A obra deste ltimo,

    ento, Meus verdes anos, aproxima-se de Proust no somente no estilo e nos temas, mas at

    mesmo nas coincidncias biogrficas, dolorosamente confessadas: a sade frgil, a asma, os

    mimos dos pais aristocrticos, a descoberta do sexo por vias outras (em Proust, a descrio sobretudo do homossexualismo feminino, mas tambm masculino; em Lins do

    Rego, a descrio do sexo com prostitutas e com animais).

    Mas nem todas as recordaes da memorialstica brasileira so proustianamente

    nostlgicas. Em alguns casos, so freudianas, no sentido de se valer das memrias para confessar (e tentar se livrar) de traumas da infncia. Refiro-me a Graciliano Ramos e suas

    tristes e amarguradas obras Infncia e as j citadas Memrias do crcere (1953). Publicada

    em 1945, Infncia se compe do traumtico relato dos maus tratos sofridos por Graciliano,

    em sua infncia, durante o processo de alfabetizao. Seu pai, a duras penas, ensinava ao

    menino o abecedrio de palmatria em punho, espera de qualquer deslize. Aps a leitura da

    obra, fica em todos ns um aflito questionamento: como um garoto to torturado e humilhado

    conseguiu se tornar um dos maiores escritores do sculo XX? Por mais cruel que parea,

    Infncia uma prova cabal de que a literatura possibilita a superao de imensos traumas,

    feridas s cicatrizadas atravs da confisso memorialstica.

    Em Itinerrio de Pasrgada (1954), Manuel Bandeira revela ao leitor recordaes

    pessoais entremeadas a lembranas relacionadas a seu despertar potico e ao aprendizado da

    versificao, alm de seus primeiros interesses por leitura, de sua passagem por sanatrios do

    estado de So Paulo e da Sua para se curar de tuberculose e de sua convivncia com poetas

    e escritores de sua gerao.

    No mesmo ano de 1954, instado por Antonio Candido a escrever suas memrias,

    Oswald de Andrade publica Um homem sem profisso: Sob as ordens de mame, nico

    volume memorialstico de um projeto que conteria, no total, quatro obras (as outras intitular-

    se-iam: O salo e a selva, a respeito de sua participao no movimento modernista; O solo

    das catacumbas, sobre sua experincia poltica; e Para l do trapzio sem rede, sobre a

    metade final de sua vida). Infelizmente, Oswald no viveu tempo suficiente para completar

    seu projeto memorialstico, e sua coleo de recordaes se limita portanto a esse primeiro

    volume, no qual relata sua infncia,

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    adolescncia, viagens ao Rio e Europa e algumas de suas experincias amorosas. O

    primeiro episdio evocado remete aos seus trs anos de idade e possui bvias conotaes

    sexuais, relacionado lembrana de sua primeira masturbao:

    A mais longnqua lembrana que tenho de vida pessoal, destacada do clido

    forro materno que me envolveu at os vinte anos, foi de carter fsico

    sexual, evidentemente precoce. Est ela ligada casa em que morvamos na Rua Baro de Itapetininga, de jardinzinho ao lado. Sentando-me porta da

    entrada e apertando as pernas, senti um prazer estranho que vinha das

    virilhas. Que idade teria? Trs ou quatro anos no mximo. (...) Acontece terem as crianas ereo no primeiro ms de vida e iniciarem um intil

    perodo de masturbao, enquanto homens de quarenta anos e menos

    perdem estupidamente a potncia para viver dezenas de anos como cadveres. Obra de Deus querem os padres e as comadres. O limite, o tabu dos primitivos. A adversidade metafsica. O malefcio eterno e presente que

    todas as religies procuram totemizar. (...) Assim, cedo mergulhava eu nesse

    maravilhoso universo da bronha onde permaneci virgem at quase a maioridade (ANDRADE, 2002, p. 37).

    Na dcada de 1970, dois memorialistas brasileiros merecem destaque. O primeiro,

    mais pela importncia de sua obra ficcional do que propriamente pelos dois volumes

    memorialsticos deixados falo de Erico Verssimo e seu Solo de clarineta: o 1 volume, de 1973, e o 2, pstumo, publicado em 1976. Nestas duas interessantes obras, Verssimo

    descreve sua infncia em Cruz Alta, interior do Rio Grande do Sul, e sua juventude e

    maturidade em Porto Alegre, trabalhando como editor e tradutor da Editora Globo. Um dos

    episdios mais singelos aquele no qual relata sua participao, como editor, da traduo

    brasileira de Em busca do tempo perdido negcio considerado, poca (entre 1948 e 1956), de alto risco do ponto de vista comercial , traduo feita por Mario Quintana (os quatro primeiros volumes), Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Lourdes Sousa de

    Alencar e Lucia Miguel Pereira. No primeiro volume de Solo de clarineta, Erico Verssimo

    fala tambm do mtodo de composio de seus principais romances e da recepo do pblico.

    No segundo volume, os assuntos principais se referem s diversas viagens feitas pelo escritor

    aos EUA e a sua famlia.

    O segundo grande memorialista da dcada de 1970, no possuindo o mesmo talento

    como romancista do autor de O tempo e o vento, notabilizou-se justamente pela redao de

    suas volumosas memrias, ou melhor, ficcionalizando suas memrias como se inveno

    fossem: Pedro Nava, mdico aposentado, poeta fortuito, passou a dcada produzindo a srie

    memorialstica considerada por muitos crticos a mais importante da literatura brasileira. De

    um total de catorze ttulos projetados para dar conta de todas as suas recordaes (como

    estudante de medicina, como profissional e como intelectual parceiro de Drummond e Mrio

    de Andrade), Pedro Nava redigiu seis volumes, e faleceu no incio do stimo. Os ttulos das

    iconoclastas e geniais obras deixadas pelo escritor mineiro, da mesma Juiz de Fora de Murilo

    Mendes, so: Ba de ossos (1972);

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    Balo cativo (1973); Cho de ferro (1976); Beira-mar (1978); Galo das trevas (1981); O

    crio perfeito (1983); e, finalmente, Cera das almas (1984), este ltimo incompleto.

    praticamente impossvel sintetizar aqui, no espao de pouqussimas pginas, a

    magnitude das ideias e temas abordados na obra memorialstica de Nava, e a quantidade de

    estudos acadmicos contemporneos a respeito dela (artigos, dissertaes, teses, etc,

    sobretudo em Minas Gerais e no Rio de Janeiro), por si s, j demonstram sua importncia e

    amplitude para nossa literatura. Bastaria apenas evocar a opinio de Otto Lara Resende,

    reproduzida na orelha de alguns desses volumes, segundo a qual a primeira obra, Ba de

    ossos, sozinha, funda toda uma cultura. Resende se refere obra inaugural do memorialismo naviano, que reconstitui a histria de sua famlia e mergulha no inconsciente

    coletivo e imemorial brasileiro. Para Francisco de Assis Barbosa, Ba de ossos um

    verdadeiro (...) monumento literrio, desses raros monumentos que se levantam de cem em cem anos (ver orelha da 7 edio da obra, citada nas referncias bibliogrficas).

    Balo cativo e Cho de ferro tratam da experincia de Pedro Nava, durante sua

    infncia, como aluno interno do colgio Anglo-Mineiro, em Belo Horizonte, e D. Pedro II, no

    Rio de Janeiro. Confisses dodas e ferinas, o repugnante ambiente de podrido moral de

    garotos obrigados a levar a srio regras s quais se submetem sem concordar relembra em

    muito o clima pesado do romance O Ateneu, de Raul Pompia, sobre praticamente o mesmo

    assunto e escrito aproximadamente cem anos antes, o que nos d uma ideia da rotina vivida

    nestas instituies opressoras. J Beira-mar bem mais leve, ao eleger como tema a juventude do memorialista e sua vida como acadmico de Medicina na Belo Horizonte dos

    anos 30, onde foi colega de classe de Juscelino Kubitschek e companheiro de rodas literrias

    e bomias ao lado de Carlos Drummond de Andrade, Emlio Moura, Abgar Renault e outros

    intelectuais e escritores mineiros. Os trs ltimos volumes tematizam sobretudo sua prtica

    mdica, como clnico geral e posteriormente como reumatologista, em hospitais de Minas,

    Rio de Janeiro e interior de So Paulo. Sua obra inteira impressionante em vrios sentidos,

    sendo que principalmente os quatro primeiros volumes so (ou deveriam ser, se houvesse

    mais divulgao) referncia obrigatria para o leitor contemporneo brasileiro.

    Consideraes finais: Um rpido painel do memorialismo sul-mato-grossense

    A literatura sul-mato-grossense no ficou indiferente ao crescente interesse pelo

    gnero memorialstico ao longo do sculo XX. Os primeiros ttulos que evocam o incio do

    povoamento, civilizao e transculturao da regio so, obviamente, anteriores diviso do

    estado do Mato Grosso, realizada em 1979. Alm das j comentadas Memrias do Visconde

    de Taunay, pioneiro do memorialismo sul-mato-grossense, necessrio citar as obras de Jos

    Melo e Silva (Fronteiras guaranis, de 1939, e Cana do Oeste Sul de Mato Grosso, de 1947), abordagens dos mais diferentes aspectos da regio poltico, social, antropolgico, geomorfolgico, histrico, etc -, pertencente, portanto, ao registro da construo da noo de

    territrio e de identidade local; de Ulisses Serra (Camalotes e guavirais, 1971),

    interessantssima coletnea das crnicas publicadas por Serra no jornal Correio do Estado, de Campo Grande, nas quais aborda

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    aspectos de Corumb, sua cidade natal, e do povoamento e colonizao de Campo Grande,

    hoje capital do estado de Mato Grosso do Sul; e de Otvio Gonalves Gomes (Onde cantam

    as seriemas, 1975), nico volume de memrias editado pelo poeta nascido em Ribas do Rio

    Pardo, e que elege em sua evocao alguns dos principais marcos culturais do estado, tais

    como a seriema, o sabi, os rios da regio e a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, ligao

    entre Mato Grosso do Sul e So Paulo.

    Logo aps a criao do estado do Mato Grosso do Sul, a obra do poltico

    Demosthenes Martins (A poeira da jornada Memrias, 1980), avulta como o maior smbolo literrio do perodo de transio da diviso poltica do estado. Nascido em Pernambuco,

    Demosthenes criou razes no Mato Grosso do Sul, onde foi prefeito de Nioque e de Campo

    Grande, e um dos principais adversrios polticos de Pedro Pedrossian, ex-governador dos

    dois estados (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), e que em 2008 tambm deixou seu

    depoimento memorialstico atravs da obra O pescador de sonhos.

    Em 1993, o ex-presidente da Academia Sul-mato-grossense de Letras, o

    pontaporanense Elpdio Reis, tambm registrou, na obra S as doces... uns causos por a, suas principais recordaes da infncia passada na fronteira Brasil-Paraguai e da vida adulta

    no Rio de Janeiro, onde exerceu uma srie de diferentes atividades profissionais, tendo sido

    advogado, professor, censor da Embrafilme, assistente social na LBA e radialista. Autor de

    uma obra verstil, na qual constam obras de poesia, contos, romances, biografias, etc, Elpdio

    dedica grande parte de suas memrias a relatar tais atividades profissionais e literrias,

    chegando a transcrever trechos de seus principais poemas e textos ficcionais.

    Para finalizar, no poderia deixar de mencionar as obras de memrias do grande

    expoente da literatura sul-mato-grossense, o poeta pantaneiro Manoel de Barros e suas Memrias inventadas, escritas em versos. Trata-se de uma trilogia com os seguintes

    subttulos: A infncia (2003); A segunda infncia (2006); e Terceira infncia (2008), alm do

    volume Memrias inventadas para crianas, publicado em 2010. Neles o grande poeta

    pretende relembrar (ou inventar, como ele faz questo de ressaltar) sua infncia a partir do expediente de se imaginar criana novamente, algo complicado para a maioria de ns mas

    desafiador para um poeta com a imaginao manoelina, afinal, como ele afirma em Tempo, Eu no amava que botassem data na minha existncia. / A gente usava mais era encher o tempo (2006). Encher o tempo... desafio para memorialistas e demais nostlgicos inconformados com a rpida passagem do tempo, que deixa na memria marcas indelveis

    como pegadas que jamais se apagaro.

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