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Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Curso de Pós-Graduação em História Área de concentração: Arqueologia De Pedra em pedra: análise comparativa da Indústria lítica em três sítios da Tradição Humaitá no planalto do Rio Grande do Sul - Brasil Dissertação de Mestrado Sérgio Leite Porto Alegre 1999

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Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas

Curso de Pós-Graduação em História

Área de concentração: Arqueologia

De Pedra em pedra: análise comparativa da Indústria lítica em três

sítios da Tradição Humaitá no planalto do Rio Grande do Sul - Brasil

Dissertação de Mestrado

Sérgio Leite

Porto Alegre

1999

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de expressar minha gratidão para:

�� Meu orientador, Dr. Klaus Hilbert.

�� Meus familiares, que sempre me apoiaram.

�� Meus colegas de trabalho.

�� Meus colegas do CEPA/PUC.

�� Prof. Esp. Guilherme Naue, um exemplo a ser seguido.

�� Pessoal da secretaria e do xerox.

�� Meu filho, cujo sorriso me ilumina.

�� Meu pai, o qual acho que gostaria de estar me vendo agora.

A todos: pela paciência, incentivo, apoio e confiança, meu muito obrigado.

RESUMO

Esta dissertação de mestrado tem como passo inicial a análise do material oriundo de

três sítios arqueológicos, objetivando obter dados mensuráveis sobre as peças. Nosso intuito é

comparar os remanescentes líticos destes sítios, através de uma análise tecno-tipológica. Disto

resultou o estabelecimento de nove tipos líticos, que são aqui apresentados como marcos

delimitadores da tradição lítica Humaitá.

Justificamos esta dissertação pelo fato de que, se definirmos uma boa metodologia de

análise, teremos uma boa ferramenta de trabalho, caracterizada pelo estabelecimento de nove

tipos, que serão usados para a tradição Humaitá.

No capítulo I.1, fornecemos o suporte teórico que fundamentou nosso trabalho.

No capítulo I.2 e I.3 colocamos os objetivos a que nos propomos: associar o material

analisado a uma tradição cultural, ou seja, à tradição lítica Humaitá; definir uma metodologia

de análise; contribuir para o estabelecimento de uma terminologia lítica brasileira. Como

objetivos específicos, estamos nos propondo oferecer critérios para definir a tradição

Humaitá. Com isto, afirmamos que o estabelecimento de nove tipos são dados mensuráveis e,

portanto, válidos para definir uma tradição. Dito de outra forma, acreditamos que se um sítio

apresentar a maioria de suas peças passíveis de serem enquadradas em um destes nove tipos,

então estamos à frente de um sítio da tradição lítica Humaitá; organizar um conjunto de dados

que possam ser aplicados a outros sítios; oferecer condições para retomar sítios já analisados,

usando este enfoque tipológico e, finalmente, oferecer condições para retomar material

depositado em instituições culturais, agora privilegiando este enfoque.

No capítulo II.1 descrevemos os embaraços que limitaram nossa análise.

No capítulo II.2, que tem por título "os sítios analisados", relatamos um breve

histórico de cada um dos três sítios enfocados nesta dissertação.

No capítulo II.3 e II.4, descrevemos o material arqueológico encontrado bem como

as tabelas usadas para sua análise e o resultado final, ou seja, os nove tipos estabelecidos após

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a análise. Além disto, fornecemos um glossário enfocando os principais termos que aparecem

nesta dissertação.

No capítulo II.6, apresentamos as conclusões a que chegamos após a análise de todo

o material; fornecemos a bibliografia utilizada, bem como os anexos.

SUMÁRIO

Agradecimentos................................................................................................................2

Resumo .............................................................................................................................3

Introdução ........................................................................................................................6

Justificativa ......................................................................................................................8

Capítulo I

I.1 Considerações metodológicas .....................................................................................13

I.2 Objetivos ....................................................................................................................29

I.3 Objetivos gerais ..........................................................................................................29

I.4 Objetivos específicos ..................................................................................................31

Capítulo II

II.1 Limites do trabalho....................................................................................................33

II.2 Os sítios analisados ...................................................................................................34

II.3 O material arqueológico ............................................................................................36

II.4 Os tipos estabelecidos................................................................................................48

II.5 De Altoparanaense para Humaitá: Uma conexão total? ..............................................56

II.6 Conclusões ................................................................................................................73

Referências Bibliográficas .............................................................................................81

Anexos ............................................................................................................................86

INTRODUÇÃO

Com esta dissertação de Mestrado, desejamos retomar a análise de três sítios

arqueológicos do Rio Grande do Sul. Para isto, definimos a existência de nove "tipos" que

foram encontrados nestes sítios. Em função disto, propomos que estes nove tipos são válidos

para o estabelecimento da identificação de sítios arqueológicos dentro de uma perspectiva de

"tradição arqueológica".

Em decorrência disto, afirmamos que, cada vez que nos encontrarmos com este

conjunto de nove tipos, estamos em contato com material oriundo da "tradição lítica

Humaitá".

É nosso intuito, nesta dissertação, resgatar uma parcela da pré-história do Rio Grande

do Sul, temos a certeza que quanto mais conhecermos nosso passado, mais aptos estaremos

para construir nosso futuro. Escolhemos conhecer nosso passado usando o ponto-de-vista da

arqueologia.

Desejamos fazer este trabalho usando o método da tecno-tipologia lítica, assim

entendendo-se o estudo que resgata a técnica usada pelos artesãos pré-históricos ao realizarem

lascamentos em porções de rocha, objetivando conseguir instrumentos que eram

posteriormente agregados ao seu cotidiano, na medida em que eram manipulados por

elementos da comunidade, preenchendo um espaço dentro do contexto social. A metodologia

que usamos está assentada no estabelecimento de um consistente padrão tipológico, que ao

final redundou no fato de definirmos nove tipos dentro dos quais foram enquadradas todas as

peças líticas encontradas.

Para aplicar este método de análise, optamos por estudar os artefatos líticos de três

sítios arqueológicos do planalto rio-grandense e operar, através de uma análise tecno-

tipológica, atividades comparativas com os remanescentes líticos destas três ocupações. Nesta

perspectiva, resolvemos trabalhar com material já recolhido ao Centro de Estudos e Pesquisas

Arqueológicas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (CEPA/PUCRS).

Conscientemente resolvemos não realizar nenhuma escavação, para assim podermos

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privilegiar material já coletado. Parece-nos ser uma boa forma de reestudar o material já

depositado em instituições de pesquisa, onde trouxeram alguma contribuição científica e

agora jazem sem atividade. Imaginamos que, ao realizarmos uma leitura tecno-tipológica

destas peças líticas, ou seja, aplicando sobre elas o conceito de dividi-las em tipos

mensuráveis, estaremos aprofundando o conhecimento que temos da pré-história rio-

grandense.

JUSTIFICATIVA

É consenso entre os arqueólogos, por exemplo, SILVA (1989), que um determinado

material, após analisado, pode ser novamente manipulado e disto resultarão novos dados. O

que está subjacente a esta afirmação é o indiscutível fato que uma análise não esgota todo o

manancial de informações que uma peça apresenta. Assim, é comum arqueólogos retomarem

coleções já analisadas e submeterem-nas a novas análises. Uma determinada coleção pode ser

manipulada à luz de novos dados e/ou orientações metodológicas. Para dar um exemplo aqui

do sul do Brasil, lembramos o excelente trabalho que foi realizado pela equipe do Instituto

Anchietano de Pesquisas da UNISINOS, São Leopoldo, quando o material oriundo das

escavações do Pe. João Alfredo Rohr S. J. foi reanalisado e serviu de base para a dissertação

de mestrado de Sérgio Baptista da Silva, que fez uma releitura dos sepultamentos da praia da

Tapera (Florianópolis, SC). Além de representar um tributo ao trabalho daquele dedicado

jesuíta, na nossa opinião e a dissertação retomou antigos problemas agora com novo enfoque.

O ganho assim obtido é indiscutível.

Nossos elogios à UNISINOS prende-se ao fato de que retomar um conjunto de peças

é sempre gratificante. O passar dos tempos seguramente nos abre novas perspectivas.

É com o espírito de manipular material já analisado que nos propusemos a retomar a

análise do material arqueológico oriundo de três sítios pesquisados em fevereiro e outubro/73

e em novembro/74. Os sítios foram localizados por CARGNIN (sítio 134) e por CARGNIN e

NAUE (sítios 090 e 162). Acreditamos que ao escavar um sítio, o arqueólogo usa sempre as

mais modernas técnicas disponíveis naquele momento. Com o passar do tempo, surgem novos

métodos de escavação, novas preocupações, novos enfoques e novos critérios metodológicos

de análise dos componentes materiais dos sítios. Assim, quando se retoma a pesquisa com

algum material já analisado, pode-se fazer uma releitura das peças, o que sem dúvida

enriquece nosso conhecimento. Com esta disposição, retomamos um material já manipulado.

Pelas informações que dispomos, o material oriundo destes três sítios foi analisado durante os

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anos de 1974 e 1975 no Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Pontifícia

Universidade Católica do Rio Grande do Sul, mas os resultados não foram publicados.

Na perspectiva acima delineada, ou seja, que o tempo propicia novas análises, fica

bem clara a caracterização da arqueologia como ciência social. É o tempo — e cada novo

tempo é uma nova releitura — que dimensiona cada nova perspectiva de análise. Esta

dimensão traz uma carga muito grande, pois de ciência que procurava juntar porções da

cultura material de uma determinada sociedade e assim dar-lhe coerência, hoje a arqueologia

visualiza a realidade pela ótica do social, enquanto ciência de relação. Quando a arqueologia

era apenas um coletar e listar de peças, dizia-se:

“Uma exploração arqueológica é muito parecida com uma

investigação policial, baseada num conjunto de pressupostos. O

arqueólogo pode ser comparado a um inspetor de polícia que, do seu

escritório, após ter computado e dissecado os relatórios vindos dos

investigadores, das testemunhas e dos diversos serviços e laboratórios,

reflete, deduz e, pela acumulação progressiva, por vezes lenta, das

“provas”, chega a reconstruir logicamente um retalho da vida, uma

história temporal, um drama antigo, chega mesmo a colocá-los no

contexto, a incluí-los numa sucessão cronológica. Como num

inquérito policial bem conduzido, nenhum indício, por mínimo que

seja, deve ser negligenciado. Um caco de cerâmica, pedaço de madeira

carbonizada, um pouco de poeira, um fragmento qualquer, uma vez

analisado no laboratório, pode fornecer ao arqueólogo que estuda a

estação, indicações preciosíssimas. Só um conjunto denso de "provas"

poderá permitir ao investigador formar uma opinião válida e próxima

da verdade... Pode, pois, deduzir-se do homem do passado aquilo que

somos. Se eu gosto da arqueologia é porque nada do que é humano me

é indiferente e porque o maior tema de estudo (e de infinita admiração,

aliás) é para mim o homem” (FRÉDÉRIC, 1980: 13-14 e 21).

Hoje, o conceito que temos da ciência arqueológica é algo bem mais denso ...

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“Existe um consenso amplo sobre a noção de que a compreensão de

nosso atual contexto histórico, bem como as interpretações sobre o

processo global de desenvolvimento das sociedades humanas, só é

possível pela perspectiva diacrônica que se torna viável pelas

pesquisas arqueológicas e históricas do passado. Assim, as pesquisas

arqueológicas e históricas sobre o nosso passado indígena ou colonial

não devem ser vistas de maneira inconseqüente nem como

conhecimento inútil” (KERN, 1991: 11).

Seguindo esta linha de raciocínio, temos que admitir a arqueologia como uma ciência

com métodos, objetivos e variáveis próprias. O que se aprende em arqueologia diretamente

diz respeito à história do homem, à história da sociedade humana.

“A Arqueologia estuda, diretamente, a totalidade material apropriada

pelas sociedades humanas, como parte de uma cultura total, material e

imaterial, sem limitações de caráter cronológico ...

Por detrás do universo dos objetos, a cultura material busca o

universo dos homens e das suas relações sociais” (FUNARI, 1988: 11

e 12).

Assim, a arqueologia busca captar dos homens mais do que a simples prova material

do que foi confeccionado, capta o ser humano em seu sentido mais amplo, não limitado pela

barreira temporal.

O que a arqueologia nos mostra não é a confecção de peças do artesão “A” ou “B”,

mas nos mostra objetos feitos por um homem, homem enquanto ser construtor do seu próprio

destino.

Por isto, apesar de nascer no passado, a arqueologia aponta para o futuro. É com o

estudo das gerações que nos precederam que cimentamos o caminho para as gerações

seguintes. Estamos preocupados com o HOMEM no seu aspecto mais genérico, seja o que

existiu no passado, o que agora existe, ou o homem que existirá.

Portanto, compartilhamos com a idéia de COURBIN (1988), quando afirma:

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“Então, o esforço da arqueologia é o conhecimento do passado

humano, uma melhor compreensão do passado, e portanto, da própria

natureza do homem” (COURBIN, 1988: 151).

No concernente ao Rio Grande do Sul, sabemos que a presença humana pode ser

bastante recuada.

“A mais remota ocupação do atual território oriental da bacia platina

só pode ser compreendida como uma continuação histórica do

povoamento da América, durante e após a última glaciação. A datação

mais antiga que possuímos para a chegada dos primeiros caçadores-

coletores é de 12.770, mais ou menos 220 A.P.” (KERN, 1994: 32).

Concordamos com KERN (1994) quando afirma: Na região do planalto, os

indígenas...

“Deviam estar estabelecidos ali já antes de 6.000 A.P., ou seja, desde

a retomada do desenvolvimento das paisagens vegetais, após os

períodos secos do final da última glaciação” (KERN, 1994: 32 e 51).

Torna-se muito difícil colocarmos os três sítios dentro de uma mesma fase, pois um

deles está bem mais ao norte do que os outros dois.

O sítio 162, da calha do rio Uruguai, poderia encaixar-se na fase Caaguaçu

(MILLER, 1969a). Nesta fase, os sítios são caracterizados por bifaces em ângulo obtuso,

raspadores, percutores, mão-de-pilão, talhadores, etc.. Esta fase está datada em 4000 anos

A.P.

Segundo KERN, (1991a: 109), neste mesmo período (4000 a 2000 anos AP.), uma

floresta subtropical cobria o planalto do Rio Grande do Sul e se encaixava nos vales do rio

Jacuí, onde ocorriam vários sítios da Tradição Humaitá. Há fortes possibilidades de que os

sítios 121 e 134 pertençam à fase Canhemborá (BROCHADO, 1971: 25), embora nos sítios

não tenham sido encontrados artefatos semi-polidos nem petroglifos. Alertamos que o

chamado abrigo do Canhemborá, com arte rupestre, dista apenas 8 km dos sítios.

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Em outra perspectiva, justificamos nossa abordagem pela necessidade de padronizar

a metodologia de análise. A terminologia usada pelos arqueólogos nem sempre é precisa, há

momentos em que a mesma peça recebe dois nomes e há casos em que duas evidências

díspares são descritas sem que suas diferenças estruturais sejam explicitadas.

Assim, se pudermos oferecer uma metodologia de análise que auxilie a driblar as

lacunas acima, estaremos colaborando para uma melhor compreensão da pré-história gaúcha.

As tabelas usadas para a análise das lascas e dos implementos líticos, bem como o

estabelecimento dos nove (9) tipos definidores da Tradição Humaitá (ver anexos), tentam

resolver este problema. No momento em que estabelecemos estes nove tipos, vemos

maximizada a possibilidade de analisar mais sítios arqueológicos em outras latitudes, usando

sempre esta mesma hipótese, isto é, colocarmos os remanescentes líticos em nove tipos

estabelecidos. A possibilidade de realizarmos este enquadramento nos parece uma atitude

consistente dentro da preocupação de estabelecermos uma classificação tipológica, usando,

desta maneira, a mesma metodologia.

I.1. CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

A idéia de resgatar uma parcela da pré-história gaúcha passa por adequar o material

lítico de três sítios arqueológicos às tradições líticas já definidas.

Nesta perspectiva, não nos interessa discutir os limites das classificações existentes,

mas inserir o material arqueológico oriundo destes sítios em tradições já estabelecidas.

O raciocínio que nos impulsiona para a colocação destes sítios em uma tradição

determinada é o seguinte: queremos obter informações sobre o material lítico destes sítios e

adequar estas informações a um "corpos" teórico já conhecido. Em suma, queremos

classificar estes sítios dentro de limites já estabelecidos. O ato de classificar não é

exclusividade apenas da Arqueologia, é uma ação constante em todas as ciências. É através do

ato de classificar que ordenamos o aparente caos da realidade em categorias sistemáticas, cujo

comportamento pode ser observado, descrito e compreendido. Em qualquer campo científico,

a base da análise repousa na construção de uma boa classificação. Se bem feita, uma

classificação nos permite compreender melhor a origem, o desenvolvimento e relações

concernentes ao fenômeno que estamos pesquisando.

Se tomarmos, por exemplo, a química, notamos que os cientistas deste campo de

conhecimento observam o mundo decodificando-o nos diversos elementos constituintes, ou

seja, os elementos químicos. É da combinação destes elementos que se produzem todos os

milhões e milhões de objetos que fazem parte de nossa existência, desde uma ameba a um

cometa.

A aplicação universal de uma classificação e nomenclatura singulares é o que

permite o intercâmbio dos resultados. Sem uma classificação, um cientista não conseguiria

comparar os resultados de sua pesquisa — qualquer pesquisa — com os resultados do

trabalho de qualquer colega. Uma classificação está acima das barreiras representadas por

outra língua, outra nacionalidade, outro credo político ou outra localização geográfica.

Não é por acaso que as ciências fisicas foram as primeiras a desenvolver esquemas

classificatórios. Nós, seres humanos, ao olhamos o mundo que nos rodeia, usamos nesta

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intermediação os nossos sentidos. Esta busca de classificação nos leva a observar os

elementos químicos que, aos nossos sentidos, parecem comportar-se como categorias

mutuamente exclusivas e facilmente passíveis de descrição. Hoje em dia, sabemos que a

natureza não se comporta de uma forma tão linear e previsível assim, mas a complexidade que

a ciência moderna nos mostra não invalida a origem do processo, que apesar de ter sido

pensado de uma forma muito simples, sofreu apenas acréscimos, não alterações estruturais.

O final do século XVIII e parte do século XIX assistiu ao descobrimento de fósseis,

aos primeiros passos da genética e aos primeiros passos da teoria da evolução. Nesta

perspectiva, o naturalista LINEU encontrou um sistema para a classificação dos organismos

vivos usando categorias taxonômicas que funcionam num crescente: espécie, gênero, família,

ordem, classe e filo, cuja aplicabilidade prática é maior do que a simples descrição, pois

privilegia também aspectos cronológicos e evolutivos, ou seja, trata-se de uma idéia de

classificação incontestável.

Claro está que as coisas não são assim completamente imutáveis: as espécies variam

no decorrer do tempo e os processos de hibridização nem sempre são mensuráveis, pois não

podem ser observados em formas fósseis.

Dentro das espécies há também variações, algumas anuais e algumas em ritmos

irregulares com séculos de intervalos. Também do ponto de vista dos espaços ocupados, as

espécies apresentam variações geográficas distinguíveis.

Do ponto de vista da arqueologia, as "espécies" que classificamos geralmente são

implementos líticos e/ou cacos cerâmicos. Se tomarmos o exemplo da cerâmica, e tentarmos

abordá-la segundo uma classificação, teremos que tomar alguns cuidados: há diferenças de

função, de estilo, de variações na matéria-prima e de habilidade manual de cada ceramista

individualmente. Estas dificuldades tornam árduo o caminho até chegarmos a critérios

universalmente aceitáveis. Isto ocorre não somente se compararmos duas classificações

oriundas de locais diferentes, mas também entre aqueles arqueólogos que trabalham na

mesma área. Por isto, os procedimentos classificatórios nem sempre são completamente

comparáveis.

Segundo MEGGERS & EVANS (1970: 1-11), vários conceitos usados na

classificação biológica podem ser aplicados, com quase nenhuma alteração, aos

procedimentos de análise da cerâmica arqueológica. Assim, quando os biólogos falam:

“Todas as populações variam, e a variação é parte essencial de sua natureza e

definição”, um arqueólogo diria: “Todos os tipos cerâmicos variam, e a variação é uma parte

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essencial de sua natureza e definição”; quando um biólogo fala “o verdadeiro objeto da

investigação, a população na natureza, pode raramente ser observado diretamente e como um

todo. Deve-se proceder por inferência a partir da amostra estatística”. O arqueólogo diria: "O

verdadeiro objeto da investigação, a cerâmica em seu contexto cultural, pode raramente ser

observada diretamente e como um todo. Deve-se proceder por inferência a partir da amostra

estatística"; quando um biólogo fala: “A construção de classificações formais de grupos

particulares é parte essencial e um útil resultado do esforço de taxonomia; mas não é o

objetivo total ou mesmo focal. O objetivo da taxonomia é compreender os agrupamentos e

relacionamentos dos organismos em termos biológicos”. O arqueólogo diria: “A construção

de classificações formais de complexos cerâmicos particulares é uma parte essencial e um útil

resultado do esforço da taxonomia; mas não é o objetivo total ou mesmo focal. O objetivo da

taxonomia é compreender os agrupamentos e relacionamentos das classes em termos

culturais”.

Quando um arqueólogo se vê frente a frente com um volume razoável de cacos

cerâmicos, ele procura as semelhanças, não as diferenças. É pelo critério de semelhança que

as peças são agrupadas. Uma peça inteira ou um fragmento atípico irá interessar r: menos que

a maioria dos cacos, os quais tenderão a agrupar-se em tomo de algumas variáveis. Esta

primeira separação deverá resultar num número relativamente pequeno de tipos, e deverão

restar poucos cacos que não se enquadram dentro do limite de variação de um dos tipos.

Quando um arqueólogo encontra um sítio, na verdade ele encontra os restos de um

local que já foi ocupado. Os artefatos — no nosso caso a cerâmica — encontram-se

distribuídos pela área em que existiu o acampamento ou a aldeia, de modo que o perímetro da

aldeia limita a área de ocorrência das peças cerâmicas. Quando um recipiente se quebra, a

maioria dos cacos conservam-se como um registro do que era feito e usado o te em que o sítio

era habitado. Portanto, o encontro destes cacos nos retrata os tipos mais comuns de artefatos

usados pelo grupo.

Segundo MEGGERS & EVANS:

... “A observação dos padrões de mudanças de popularidade dos

diferentes tipos cerâmicos fornece a base para a construção de uma

escala relativa de tempo que pode ser usada para estabelecer a relação

cronológica de qualquer sítio com todos os outros que apresentem o

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mesmo conjunto de tipos cerâmicos” (MEGGERS & EVANS, opus

sit, p. 10).

Apesar de usarmos exemplos da área de abrangência da cerâmica, sabemos que o uso

de procedimentos taxonômicos pode ser aplicado em vários tipos de artefatos, como pontas de

projétil e outros implementos líticos. O que se exige é que tenhamos um número significativo

de peças ou implementos — os biólogos falariam em indivíduos — para podermos ter

resultados dignos de confiança.

Adverte-se que devemos trabalhar sempre com mais de 100 cacos, para poder

manipulá-los estatisticamente. A cerâmica é o melhor instrumento para construirmos uma

cronologia, e a cronologia é o maior desiderato para todos os tipos de reconstrução e

interpretação que os arqueólogos buscam.

As idéias de “tradição” e “fase” são as adotadas pelo PRONAPA. Assim, por

tradição, entende-se o

... “Grupo de elementos ou técnicas que se distribuem com

persistência temporal” (CHMYZ, 1966: 20; 1976: 145).

A base desta definição encontra-se nos teóricos norte-americanos que forneceram a

base intelectual do citado PRONAPA. Assim, tradição é:

“Fundamentalmente, uma continuidade temporal representada por

configurações persistentes em tecnologias únicas ou outros sistemas

de formas relacionadas” (WILLEY & PHILLIPS, 1958: 37).

Por fase, compreende-se:

..."Qualquer complexo de cerâmica, lítico, padrão de habitação,

relacionado no tempo e no espaço, em um ou mais sítios" (CHMYZ,

1966: 14; 1976: 131).

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Segundo a definição clássica americana, fase é:

... “Uma unidade arqueológica que possui traços suficientemente

característicos para distinguí-la de todas as outras unidades

similarmente concebidas, seja da mesma ou de outras culturas ou

civilizações, especialmente limitada pela magnitude de uma localidade

ou região e cronologicamente limitada a um intervalo de tempo

relativamente breve” (WILLEY & PHILLIPS, 1958).

Sabemos, por outro lado, que conceitos como fase e tradição apenas representam um

artifício do arqueólogo, não correspondendo, de nenhuma maneira, a compartimentos

fechados e verdades imutáveis. Isto fica claro na afirmação abaixo:

“Os conceitos de fase e de tradição não são senão unidades

arqueológicas artificiais e não podem ser confundidas com culturas,

levando-se em conta que na maioria dos sítios arqueológicos pré-

cerâmicos as condições climáticas reduziram a cultura original dos

grupos caçadores a raros vestígios. Este quadro conceitual é uma

armadilha útil face à impossibilidade de utilização dos conceitos

europeus” (KERN, 1991a: 92).

As pesquisas arqueológicas no Brasil ocorrem há muito tempo, porém um verdadeiro

divisor de águas foi implantado quando do estabelecimento do "Programa Nacional de

Pesquisas Arqueológicas" (PRONAPA). O PRONAPA representou a primeira tentativa de

reunir um grupo de arqueólogos, com uma metodologia em comum, com uma mesma

coordenação e com os mesmos objetivos, que se propuseram a atuar no Brasil.

O coordenador do Centro de Ensino e Pesquisas em Arqueologia (CEPA) da

Universidade Federal do Paraná, José Loureiro Fernandes, conseguiu promover, em outubro

de 1964, a vinda de Betty J. Meggers e Clifford Evans, que realizaram um curso sobre análise

cerâmica e construção de cronologias relativas. O curso foi freqüentado por professores

brasileiros que já atuavam com arqueologia em diversas unidades da Federação. Foi a grande

oportunidade para estas pessoas reunirem-se e estabelecerem metas comuns.

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Após o encontro, MEGGERS e EVANS percorreram várias instituições brasileiras,

observando o trabalho desenvolvido por cada arqueólogo.

O programa começou em 1965, tendo por base o "Preliminary Draft of a Proposal

for a Program of Archaeological Survey and Testing in Brazil".

Segundo DIAS (1994):

... “O modelo proposto por Meggers e Evans consistia em um

desdobramento para o território brasileiro de suas pesquisas quanto às

rotas de migração e difusão cultural nas terras baixas da América do

Sul. Segundo os autores, (na proposta listada acima), o Brasil

apresentava grandes possibilidades de complementação à pesquisa que

ambos vinham desenvolvendo na instituição (a Smithsonian

Institution, onde ambos trabalhavam), pois suas fronteiras políticas

eram formadas pelos três maiores sistemas hidrográficos das terras

baixas, o Amazonas, o Orenoco e o Paraná. Sua linha de trabalho

baseava-se no pressuposto de que os povos movem-se principalmente

ao longo dos rios” (DIAS, 1994: 15).

Assim, o principal objetivo do PRONAPA seria

... “estabelecer um esquema cronológico de desenvolvimento cultural

no País, desde os primeiros indícios de ocupação humana até o

desaparecimento dos complexos culturais indígenas, após o contato

com o europeu” (Idem, ibidem, p. 16).

Segundo os manuais que ditaram o padrão de pesquisas do PRONAP A, os trabalhos

de campo objetivavam coletar amostras para traçar padrões cronológicos a partir de seriações.

De acordo com a proposta, seqüências seriadas semelhantes para uma mesma região seriam

reunidas em fases que, por sua vez, formariam tradições. Recomendava-se a coleta de todas as

peças líticas e de todos os cacos cerâmicos. Ansiava-se por coletas superiores a 100 cacos,

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para serem trabalhados estatisticamente recomendava-se também, se possível, a realização de

um ou dois cortes estratigráficos para a confecção de seqüências arqueológicas locais.

Com estes procedimentos, pouco a pouco foram descobertos milhares de sítios, e

hoje em dia temos condições de definir claramente as tradições arqueológicas brasileiras,

nestas incluindo-se a tradição Humaitá. Para a correta definição desta tradição, nos baseamos

em SCHMITZ, 1981; SCHMITZ & BROCHADO, 1981; HOELTZ, 1995 e KERN, 1984.

Possui, no dizer de SCHMITZ (1991), peças características como talhadores grandes,

chopping-tools, choppers, picões, raspadores grandes, raspadores plano-convexos, raspadores

laterais e perfuradores. Não é uma constante, mas em algumas fases aparecem bifaces ou

machados de mão com uma ou as duas extremidades ativas, ou bifaces com forma de

bumerangue. SCHMlTZ (1991) afirma, e nosso trabalho também aponta nesta direção, que

raramente os sítios Humaitá nos fornecem materiais com polimento, como moedores,

trituradores manuais, bolas com sulcos, discos grossos para moer. Não aparecem pontas de

projétil bifaciais líticas.

Sabemos que a tradição Humaitá continua nas áreas florestais de Missiones

(Argentina e Paraguai) com a denominação de tradição Altoparanaense. SCHMITZ, (1981 :

114-6) tem toda a razão quando afirma que esta tradição parece ter se desenvolvido como

resposta de grupos caçadores-coletores das partes altas da bacia dos rios Paraná e Uruguai e se

manteve, já que estes nichos ecológicos não foram ocupados por grupos mais desenvolvidos.

Em outro trabalho, SCHMITZ & BROCHADO (1981) detêm-se na descrição da

cobertura vegetal, nos informam que o planalto é o habitat da Araucária. Quando baixamos

de 500 m de altura, a selva de tipo subtropical começa a opor resistência e limita a presença

da Araucária. Os vales são ocupados por extensas matas de galerias e ~ o espaço entre os

vales por campos naturais. (SCHMITZ & BROCHADO, 1981: 140).

Sabemos que cada peça arqueológica significa um volume estático de informações,

que só se tornam disponíveis após a análise. Esta análise traz as sociedades pretéritas para o

nosso campo de visão, tornando-as algo vivo e compreensível. Concordamos com BINFORD

(1988) quando afirma:

“Asi pues, el desafio que la Arqueologia plantea consiste en la

transcripción, de manera literal, de Ia información estática contenida

en los restos materiales observables para reconstruir la dinámica de la

vida en el pasado y estudiar las condiciones que ham hecho posible

20

que estos materiales hayan sobrevivido y llegado hasta nosotros. Este

desafio, que sienten muchos .arqueólogos es enorme y nada fácil de

afrontar, porque exige de nosotros una mejor comprensión de nuestras

propias interacciones con el mundo material. Después de todo,

raramente pesamos atención a la manera en que nuestro

comportamiento puede modificar nuestro contexto material y dejar

huella sobre lo que sucede en nuestra vida cotidiana simplesmente, no

contemplamos el mundo desde esta perspectiva. Sin embargo, el

arqueólogo debe prepararse para hacerlo así. Debe llegar a interesarse

por asuntos bastante vulgares: cómo dispone la gente de su basura?

Cúando consideran que algo ya no es útil y debe ser sustituído o

reutilizado con etros fines? La información sobre estas decisiones,

decisiones que modifican la forma y ordenación de los objetos

materiales, es fundamental para los arqueólogos que (esperan ser

capaces de "descifrar" y "leer" el registro arqueológico en términos de

aquellos aspectos del pasado que les interesan” (BINFORD, 1988 :

24).

Pensamos na mesma direção: o arqueólogo é um agente do processo social, suas

ações apresentam ressonância na coletividade. Assim, nossas ações estão atreladas a um todo

social. Isto nos coloca na obrigação de olharmos a sociedade com "olhos de arqueólogo", ou

seja, devemos olhar o presente e estabelecer pontes com o passado. Nesta perspectiva, o

arqueólogo é o ser social responsável por uma ligação entre o passado e o presente. Esta

ligação é um caminho de duas vias. Se, por um lado nos cabe "ler" e "decifrar" os objetos do

passado, nos cabe também a obrigação de olharmos nossa sociedade e transportarmos nossas

vivências para a realidade que estamos escavando. Assim sendo,

... “Los arqueólogos estudian nas sociedades del pasado,

principalmente através de sus restos materiales — las construcciones,

útiles y demás artefactos que constituyen lo que se conoce como la

cuhura material dejada por aquéllas” (RENFREN & BAHN, 1993: 9).

21

Especificamente no que diz respeito às tradições arqueológicas brasileiras, a tradição

Humaitá é caracterizada ... “por sítios geralmente a céu aberto”... tratam-se de "sítios-

habitação e sítios acampamento"..., embora a diferença não seja, às vezes, perfeitamente

evidenciada. Localiza-se "à beira dos principais rios, riachos e arroios". "Todos os sítios da

tradição Humaitá são caracterizados por uma indústria talhada em meta-quartzito e em rochas

efusivas (basalto, diabásio, perfirito)" os materiais líticos desta tradição ... "são talhados, na

maioria dos casos, por percussão direta"... e ..."na aparência geral dos utensílios da tradição

Humaitá pode ser bastante tosca. As dimensões mais freqüentes são médios e grandes

talhadores" (KERN, 1981: 15).

Em recente trabalho, HOELTZ (1995) define claramente a tradição:

“A indústria dos caçadores-coletores da tradição Humaitá caracteriza-

se pelos artefatos bifaciais médios a grandes, confeccionados sobre

seixos, blocos e placas (desprovidos de retoques) cobertos mais de

dois terços por superfície natural” (HOELTZ, 1995: 182).

O grupo portador desta tradição é conhecido como “Altoparanaense” nos países de

língua espanhola. Assim,

... “Hay que aclarar que el Altoparanaense, o instrumientos

associables a el, se distribuyen por el sur de Brasil relacionándose con

la tradición Humaitá. En el Alto Uruguai, a partir el 10.000 A.C. e un

poco después, talvez por aumento de temperatura y de humedad,

parece empezar a aparecer el Altoparanaense en campamentos

ribereños, como consecuencia de una reducción de las áreas verdes y

consiquentemente en la cacería, y un incremento en la recolección de

moluscos de agua dulce. Hasta el 4.500 A.C. un aumento en la

temperatura y la humedad y un incremento en las áreas verdes habían

permitido una dispersión de los cazadores-recolectores de nódulos de

meláfiro, con instrumientos por percusión directa, sin puntas de

proyectil, de la tradición Humaitá Altoparanaense, por las selvas

22

subtropicales bacia Misiones y el este paraguayo" (CAGGIANO,

1984: 12).

Estes caçadores-coletores a que CAGGIANO (1984) se refere foram encontrados no

oeste de Santa Catarina e assim descritos.

Um outro autor nos diz:

“A ocupação inicial foi marcada por uma cultura muito antiga, datada

de 8.500 A.C. (...) Os sítios arqueológicos desta cultura apresentam-se

profundamente enterrados nas barrancas do rio Uruguai. A indústria

lítica caracteriza-se por instrumentos de pedra lascada apresentando

grandes núcleos com nítidas evidências de retiradas ocasionais, que

demonstram a falta de domínio da técnica de lascamento e o mau

aproveitamento da matéria prima pelos caçadores nômades da

época”... (ROHR 1966: 9 e 10).

Outro arqueólogo nos diz que:

“As indústrias líticas encontradas em sítios da tradição Humaitá são

lascadas por percussão direta, na quase totalidade dos sítios. Mesmo

em sítios não classificados como sítio-oficina são encontrados

percutores de pedra. Apenas na fase Pirajuí (PR) há referência a

alguns artefatos lascados por percussão bipolar. Esta técnica parece

ser muito comum em São Paulo (Rio Claro), mas não caracteriza a

tradição Humaitá. Nas indústrias desta, mesmo os retoques são feitos

por percussão direta, entretanto de maneira mais cuidadosa e

controlada, como se pode perceber nas facas, furadores e bifaces. São

um exemplo típico os retoques na extremidade distal dos bifaces

bumerangóides de Missiones (Argentina) e Itapiranga (SC). A

aparência geral das indústrias da tradição Humaitá é talvez um pouco

23

rudimentar, os utensílios são de tamanho avantajado e muitas vezes

pesados” (KERN, 1984: 208).

Diante desses dados, como trabalhar com os resultados obtidos?

“Para proceder cientificamente, o arqueólogo deveria sempre procurar

a documentação e questioná-la a partir de hipóteses específicas,

advindas do corpos teórico da Arqueologia (Antropologia), as quais,

para serem válidas, deveriam submeter-se a testes. Só assim seria

possível apresentar explicações dignas de fé e contribuir para a

formulação de leis genéricas do comportamento cultural: e é isto que a

tornaria então, uma ciência útil e relevante” (MENESES, s/d: 5).

Além disto, temos consciência que a realidade pré-histórica, como a nossa, era

profundamente dinâmica. Como não temos até agora ferramentas para atuar, levando-se em

conta este movimento, vamos imaginar uma realidade pré-histórica congelada, sem

movimentos, na qual os objetos resgatados pela pesquisa representam uma situação estática,

como se estivessem à espera de nossa análise. Fazemos esta afirmação:

... “Because hunter gatheres have changing densities and food

abundances ever time, we should expect their diets also to change

every time. These dietery changes never and since the hunter-gatherer

populations are predicted to have a stable limit cycle. This means that

the diet over exploited to extinction” (BELOVSKI, 1988 : 349).

A análise que neste momento fazemos da tradição Humaitá segue os parâmetros

definidos no PRONAP A, embora existam posições diferentes. HILBERT (1994) afirma:

... “Podemos inferir que estas culturas Pampa-Planalto (Umbu-

Humaitá) constituem uma única cultura de caçadores-coletores, que

utilizou diferentes ambientes em épocas distintas. Esta utilização

24

diferenciada dos respectivos ambientes (Pampa-Planalto) está

relacionada à localização dos sítios e composição e confecção dos

instrumentos líticos” (HILBERT, 1994: 13).

Portanto, embora não desconhecendo esta posição, optamos pela idéia mais

tradicional, ou seja, considerar a tradição Humaitá como algo à parte, para nos mantermos nos

limites do nosso trabalho.

Tendo em vista os interesses imediatos desta Dissertação de Mestrado, criamos nove

tipos para definir o material lítico dos sítios analisados. Um primeiro grupo de peças —

lascas, núcleos, peças com evidências de uso — foram analisadas de acordo com uma lista de

atributos específicos, que pode ser visto nos anexos do presente trabalho. Um segundo grupo

de peças — as não oriundas de lascas — foram analisadas de acordo com um programa que,

ao final de cada análise individual, a remeteu para um grupo específico. Isto foi feito na

perspectiva de aplicar uma classificação, isto é, uma análise com critérios definidos, sobre

material arqueológico.

Valendo-nos de um autor clássico, concordamos com a informação abaixo:

“Classer, c'est-à-dire, nommer les choses, est donc la premiere

condition de toute science collective et communicable, de toute

science pouvant progresser par le travail des générations successives.

C'est une condition, une necessité d'ordre pourl'esprit, mais c'est aussí

une occasion dérreurs, une cause fréquente et inévitable d'illusions à

laquelle aucun esprit n'echappe complètement. Il n'est pas un de nos

savants qui no soit plus ou moins la adupe de ces créations verbales;

pas une des branches du savoir, aujourd'hui si multiplliées et tant

subdivisées, qui n'ait, à diverges reprises, été entravée dons son

dévelopement par corte condition logique du savoir humain et pour

laquelle certe nécessité d'ordre ne soit devenue une cause de dèsordre

et d'arrêt momentané. De sorte que, souvent, un progres scientifique

est retardé par la seule difficulté qu'on éprouve substituer un mor à

autre et à briser lórdonnance des categories établies” (BRÉZILLON,

1971: 11).

25

Quando analisamos nosso material lítico, chegamos ao estabelecimento de nove

tipos, mas esta perspectiva não nos impede de observarmos este mesmo material conforme a

ótica de outros autores, como COLLINS (1989/90) e outros. Desta maneira, usamos também

duas listas para a análise do material lítico em que este é examinado conforme variáveis que

são aplicadas em todas as peças. Esta análise nos permitiu transformar cada peça em um

conjunto de números na mesma seqüência, o que foi fundamental para conhecermos cada

detalhe, cada instrumento lítico. Não desconhecemos o importante papel que uma análise

tecno-tipológica pode fornecer, e assim conscientemente optamos por estabelecer estes tipos

definidores, que nos remetem a aceitar como válida a colocação destes três sítios dentro da

tradição arqueológica Humaitá, na perspectiva de não contestarmos este modelo de análise

que nos remete a uma tradição conhecida, embora tenhamos consciência que existem outras

formas de análise.

COLLINS (1989/90) descreve um modelo teórico em que o material lítico é

adquirido, passa por uma série de manipulações até ser usado e finalmente descartado.

O modelo está calcado em cinco passos:

1 - Obtenção da matéria prima;

2 - Preparação e redução inicial do núcleo;

3 - Lascamento primário, opcional;

4 - Lascamento secundário e formatação, opcional;

5 - Conservação.

Destes, com certeza, nossos instrumentos são testemunhas. Ao menos os passos de

número 1, 2, 4 e 5 são palpáveis. Isto não significa que, por exemplo, o passo 3 não tenha sido

executado, apenas não foi detectado. Além disto, várias outras manipulações podem ter sido

executadas, mas destas não temos as provas.

No dizer do autor,

... “De una cultura particular se puede esperar que talle sus objetos de

piedra usando sólo un conjunto limitado de combinaciones posibles de

técnicas y opciones. En otros términos, cualquier tecnología lítica

específica está estructurada en respuesta a las necessidades de la

cultura, elección, cualidad y conocimiento de los artesanos, así como

los factores clase, cantidad y calidad de la matéria prima” (COLLINS,

1989/90: 52).

26

Neste estudo, o autor discute a obtenção da matéria-prima, afirmando que os artesãos

se abastecem do material necessário para a produção de objetos líticos através da articulação

direta ou indireta com o ambiente físico.

Após isto, deve transformar a matéria-prima em uma forma apropriada para usar

como ferramenta ou então a encaminha para uma maior redução.

Os núcleos ou lascas resultantes da etapa anterior podem ser lascados antes de

usados, ou usados posteriormente. Nesta fase o que se quer mesmo é a formação, assim se

entendendo o momento em que a peça atinge um aspecto compatível com o que o grupo

sanciona como o padrão. No nosso caso específico, pensamos que o grupo prevê dois padrões

distintos:

a) formas bumerangóides, aqui se incluindo os tipos pré-bumerangóide,

bumerangóide semi-infletido e bumerangóide;

b) formas foliáceas, aqui se incluindo os tipos biface ovóide/piramidal, biface com

grandes lascamentos, bifaces com concentração de massa no equador e biface clássico.

Outras formas, por serem úteis, não serão descartadas (ex.: chopping-tools) e

poderão mesmo surgir após mais manipulações (ex.: lascas) mas nos parece que as duas

formas apresentadas acima representam o desiderato do grupo, por exemplo, as formas em

que há lascamentos em duas faces, como a ferramenta conhecida como "Chopping- too1" .

Na seqüência do processo, pode ocorrer o que COLLINS chama "formação

secundária", assim se entendendo a confecção de lascas, serrilhado, denticulado, bise lado e

afins. Nesta etapa, as peças já se encontram aptas para serem descartadas, após intenso uso.

Como última etapa, o objeto pode passar por uma modificação ou manutenção

opcional. Pode ser simplesmente uma restauração dos atributos originalmente desejados,

como por exemplo a intensidade do fio. Por outro lado, bifaces quebrados, após operações

simples, podem ser transformados em raspadores.

Segundo o autor,

“El sistema tecnológico lítico puede verse como un sistema total en el

cual la matéria prima es extraída del medio fisico, modificada,

retenida por un tiempo como parte de un sistema cultural y,

finalmente, depositada en un contexto arqueológico” (Idem, ibidem:

58).

27

A seqüência de operações que COLLINS descreve é compatível com a idéia de

tipologia que estamos trabalhando. Ambas as idéias (seqüência de operações e tipologia)

podem ser identificadas dentro do universo lítico dos três sítios que estamos abordando.

A citação acima, sem nenhum tipo de alteração, pode ser aplicada aos nossos sítios.

Outro trabalho que nos abriu vários horizontes foi o texto de TERRADAS (1991),

enfatizando a análise do material lítico sob o enfoque da interdisciplinariedade, pois somente

assim poderíamos conseguir o máximo de rendimento na interpretação dos distintos

elementos que constituem o registro arqueológico. No dizer do autor, a matéria prima

constituinte da peça arqueológica, não pode ser

"considerada exclusivamente como una masa pétrea, sino como parte

de un objeto que ha surtid toda una serie de procesos de trabalo que

son la busca, selecclón y transporte de Iamatéria prima, su

transformación en unos suportes sobre los que r se realizaram

instrumientos, su utilización, y Ia pérdida o abandono de los mismos"

(TERRADAS, 1991: 141).

O trabalho em pauta está baseado em três porções distintas: marcos conceituais,

técnicas analíticas e a aplicação prática destas teorias a um exemplo determinado.

A principal idéia no tocante a estas técnicas é obter um método válido para conhecer

a área de captação das matérias-primas exploradas na pré-história. Fundamenta-se em

critérios científicos não arbitrários e quantificáveis.

Há um conjunto de arqueólogos que utilizam a metodologia do estudo macroscópico

dos objetos. Estes autores tentam estabelecer a influência da matéria prima no registro

tecnológico das indústrias que estudam. Buscam relacionar o tipo de rocha usada e as

categorias necrológicas representadas no registro arqueológico. Elaboram um índice de

utilização da matéria-prima baseado no seu estado de transformação.

Outra concepção considera os restos líticos como instrumentos de trabalho e baseia-

se na reconstrução dos processos de trabalho que deram lugar a um tipo de registro lítico

determinado. A reconstrução deve realizar-se a partir de vários níveis de análise: o estado das

matérias-primas exploradas, a análise mono-técnica dos distintos restos dos lascamentos, seu

estudo traceológico e sua distribuição espacial. Estes distintos estudos não devem ser

28

considerados como análises isoladas e independente devem portanto, inter-relacionar-se entre

si e com as demais categorias representadas no registro arqueológico.

Do ponto de vista do marco interpretativo acredita-se que se possa distinguir três

etapas:

a) estudo analítico;

b) estudo descritivo;

c) estudo interpretativo.

A fase analítica acontece quando as distintas porções da matéria-prima são

submetidas às técnicas de análise. O resultado será o estabelecimento dos pontos de origem

donde procedem as distintas matérias-primas.

A fase seguinte corresponde à descrição dos resultados das análises realizadas.

Descreve-se os recursos líticos existentes, suas variedades, localização, etc. Unindo-se com

linhas as fontes de obtenção de matéria prima com a localização dos objetos, obteremos os

movimentos que foram efetuados por um determinado grupo para apropriar-se de um recurso

lítico. Agora pode-se estabelecer um índice de transformação da matéria-prima a partir da

percentagem da mesma, que foi transformada ou modificada de alguma maneira.

No estudo das distribuições espaciais podem-se localizar no solo de ocupação

distintas associações ou acumulações que podem refletir a espacialização das atividades ali

realizadas.

No tocante à aplicação prática das técnicas analíticas a uma situação específica, o

autor nos traz o exemplo de estudos realizados em materiais líticos dos Yamam da Terra do

Fogo (Argentina). Localizavam-se no estreito de Beagle e eram grupos de caçadores-coletores

adaptados aos recursos marinhos. Sua presença está documentada a partir do quinto milênio

A.C. e extinguiram-se a partir da chegada dos europeus.

Aplicando-se as análises anteriormente propostas, o autor consegue vários dados

importantes para o conhecimento deste grupo e, nesta mesma medida, para o conhecimento da

pré-história americana nenhuma.

29

OBJETIVOS

I.2. OBJETIVOS GERAIS

I.2.1. Queremos associar o material analisado a alguma tradição cultural: sabemos

que os materiais arqueológicos não existem soltos na natureza. Então, já que temos à nossa

disposição uma parcela de material oriundo de um sítio arqueológico, desejamos inserir

estas peças em uma realidade já conhecida. Ao identificarmos este material como

pertencente a alguma tradição, estaremos tornando mais clara a pré-história brasileira. Para

isto, propomos algumas variáveis, que foram aplicadas aos três sítios que escolhemos. Em

todos os casos, o resultado que obtivemos foi bastante claro e apontou para a exatidão das

variáveis.

I.2.2. Estabelecer uma metodologia de análise: os materiais arqueológicos que

foram objeto desta dissertação, foram analisados segundo uma metodologia definida. Cada

artefato passou pelo mesmo processo de análise através de uma ‘serie de atributos

qualitativos e quantitativos codificados (ver lista anexa) transformando-se ao final em um

grupo de números, que foram manipulados para formar um todo coerente, um tipo. A

metodologia de análise assim definida deverá ser aplicada em outros materiais, oriundos de

outros lugares.

I.2.3. Contribuir para o estabelecimento de uma terminologia lítica brasileira. A

metodologia definida no sub-ítem anterior apontou para uma regularidade muito

consistente, ou seja, afora “lascas” (definidas em lista de atributos própria) e porções de

matéria-prima com evidências de uso, todas as peças foram analisadas segundo uma lista de

atributos específica, esta análise serviu para agrupá-las em nove tipos característicos. Temos

a pretensão de sugerir que estes tipos sejam os definidores de uma terminologia compatível

com a tradição lítica Humaitá. Além de consultar a bibliografia concernente — onde eles se

encaixam bem, todas as peças dos sítios analisados no âmbito desta Dissertação, foram

30

agrupadas nos nove tipos, não restando que não tenha sido encaixada em algum tipo

estabelecido. Isto nos autoriza a oferecer a terminologia sugerida como parte do esforço de

dotar a arqueologia brasileira de uma terminologia unívoca, instrumento eficaz em qualquer

tipo de análise.

31

1.3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1.3.1. Estabelecer critérios mensuráveis para definir a tradição Humaitá. Se

obtivermos êxito neste objetivo, acreditamos ter em mãos uma boa ferramenta de trabalho.

1.3.2. Organizar um conjunto de dados que possam ser aplicados a outros sítios. Com

a definição destes nove tipos, acreditamos estar aptos a usá-los não só neste caso específico,

mas também em outros.

1.3.3. Retomar a pesquisa em sítios já analisados, agora com um enfoque tipológico

novo.

1.3.4. Retomar a análise do material depositado em instituições culturais, com a

finalidade de que os mesmos propiciem maior número de dados comparáveis.

Se estes objetivos forem alcançados, então poderemos testar uma hipótese: conforme

a literatura existente (especificamente nos referimos a KERN, 1984), há sete variáveis que

definem a tradição Humaitá. Ora, se os sítios aqui estudados enquadram-se dentro destas

variáveis (ao menos em sua maior parte), estaremos frente a material desta tradição.

Para testarmos estas variáveis, nós a aplicamos ao conjunto de materiais líticos

oriundos dos três sítios que estamos analisando. Além disto, procuramos nos socorrer da

documentação existente no CEPA/PUCRS. Embora não nos tenha fornecido muitas

explicações, ajudaram a compor o quadro final de informações. De posse destes dados,

aplicamos ao nosso material as sete variáveis propostas por KERN (1984). Assim, obtivemos

os seguintes dados:

- Primeira variável: Trata-se de sítio-acampamento, habitação ou oficina? Não temos

informação;

32

- Segunda variável: Os sítios de Tradição Humaitá estão sempre instalados junto às

margens dos rios e arroios das grandes bacias do sul do Brasil (Paraná, Uruguai e Jacuí) tanto

nas várzeas como nos terraços e colinas vizinhas. Confere com nosso material.

- Terceira variável: Presença de indústria lítica e óssea, sendo o material lítico

geralmente de arenito silicificado e/ou basalto. Confere com o nosso material;

- Quarta variável: Técnicas de lascamento e retoque: lascamento por percussão

direta, retoque também por percussão direta, porém mais controlado. Confere com o nosso

material;

- Quinta variável: Utensílios característicos. Confere com o nosso material;

- Sexta variável: Proporcionalidade entre os utensílios conforme a região. Não temos

informação;

- Sétima variável: Relação entre tradição e o meio ambiente. A tradição Humaitá é

adaptação cultural ao meio ambiente de beira de rios e às florestas subtropical e tropical.

Confere com o nosso material.

Das sete variáveis, não existe nenhuma em que o material em análise discorde

frontalmente. Temos dois tópicos (correspondentes à primeira e à sexta variáveis) em que não

temos dados para realizar qualquer tipo de afirmação; as restantes cinco variáveis estão

perfeitamente contempladas, o que nos garante estarmos em presença de material da tradição

Humaitá.

Por outro lado, este material lítico foi compartimentado em nove tipos; se esta

separação estiver correta, então estes tipos representam a tecnologia compatível com a

tradição Humaitá e teremos então, com o emprego destes tipos, uma nova variável para

analisarmos material oriundo de sítios da tradição Humaitá.

Nos itens acima, cada vez que afirmamos "confere com nosso material", queremos

dizer que não há discrepância entre o enunciado da variável e o material analisado.

33

11.1. LIMITES DO TRABALHO

Ao levantarmos a documentação referente aos sítios tratados, observamos que eles

não foram desenhados, não foram mapeados, não foram registrados em nenhum diário de

campo e não foram fotografados. Estas faltas funcionaram também como uma barreira para

nós. Se tivéssemos a oportunidade de visitar a área dos sítios, certamente teríamos mais

dados, o que sem dúvida iria refletir-se em um maior volume de dados que teríamos nesta

dissertação.

Por outro lado, entramos em contato com as três prefeituras envolvidas: apenas a de

Nova Palma nos respondeu, fornecendo-nos também um mapa municipal (ver anexo). Com

esta solicitação, era nosso intuito obter mais dados.

34

II.2. OS SÍTIOS ANALISADOS

Quando apresentamos a proposta de Dissertação de Mestrado, era nosso intuito

analisar comparativamente quatro sítios do planalto do Rio Grande do Sul, para desta forma

termos uma visão clara da tradição Humaitá.

Escolhemos os sítios 090, 121, 134 e 162, cujos materiais estavam depositados no

Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Pontifícia Universidade Católica do Rio

Grande do Sul.

Posteriormente, (com. pesq. 26/09/94), obtivemos a informação de Guilherme Naue

que os dois sítios localizados em Nova Palma (sítios 121 e 134) eram contínuos. Tratava-se,

na realidade, do mesmo sítio, atualmente a área estava dividida entre dois proprietários,

passando a cerca divisória sobre o sítio. Assim, optamos por não considerar a existência do

sítio 121. O catálogo 134 recebeu então os dois conjuntos de materiais. Do número 1 até o

número 190, trata-se do sítio 134 em si; do número 191 até o número 340, trata-se antigo sítio

121. Quem os localizou foi o padre Daniel Cargnin. Em um dos sítios, o material já tinha sido

recolhido pelo proprietário do terreno e estava depositado numa garagem. Quanto aos sítios

090 e 162, foram pesquisados por Guilherme Naue e Daniel Cargnin.

Ao consultarmos o fichário do CEPA/PUCRS, obtivemos os seguintes dados:

- Sítio 090: Localizado na margem da Sanga Meneguetti, município de Irm.

Proprietário: Danilo Meneguetti. Sítio visitado em 17/02/73.

- Sítio 121: Localizado em Nova Palma, linha Bugres, município de Canhemborá.

Proprietário: Alécio Faco. Sítio visitado em 13/10/73.

- Sítio 134: Localizado em Nova Palma, linha Bugres, município de Canhemborá,

localizado a 300 m do arroio Bugres. Proprietário: Perfeto Osmare. Sítio visitado em

13/10/73.

- Sítio 162: Localizado em Várzea Grande, município de Sobradinho. Proprietário:

Teobaldo Schaurich. Sítio visitado em 06/11/74.

35

Observação: Até 1987 o distrito de Canhemborá pertencia a Nova Palma. Após esta

data, emancipou-se.

II.2.1. Dados sobre os municípios (cfe FEE, 1981 & INCRA, 1972).

lraí - Desmembrado do município de Palmeira (em 15/08/1933). O início do

povoamento da sede ocorreu em 1896. Antigamente chamava-se Águas do Mel. Conforme o

censo de 1950, conta o município com 1.782 km2. Localiza-se na sub-região do Alto Uruguai.

É uma sub-região bem ao norte do Estado, úmida e quente, coberta no passado por

densa floresta latifoliada e contornada por pinheirais frondosos e exuberantes.

A sua altitude média decresce no sentido da bacia do rio Uruguai e é de 305 m. A

temperatura média anual é de 19º C e sua pluviosidade média anual é de 1.812 mm. A

insolação no ano é de 2.213 horas, o que corresponde a 50% sobre o máximo possível.

Nova Palma - Desmembrado do município de Júlio de Castilhos. O início do

povoamento ocorreu em 1901. Localiza-se na sub-região "bacia do Jacuí". A topografia é

relativamente acidentada. Sua altitude média é de 254 m e a pluviosidade média anual é de

1.851 mm. A temperatura média anual é de 19,2º C. A insolação é de 2.300 horas/ano.

Sobradinho - Desmembrado do município de Soledade. O início do povoamento da

sede ocorreu em 1901. A instalação do município ocorreu em 19/12/1927. Antigamente

chamou-se Sobradinho e após, Jacuí. Localiza-se na sub-região Bacia do Jacuí. A topografia é

relativamente acidentada. Sua altitude média é de 254 m e a pluviosidade média anual é de

19,2º C. A insolação é de 2.300 horas/ano.

36

II.3. O MATERIAL ARQUEOLÓGICO

Passos para a análise do material lítico:

Dos três sítios que foram usados para elaborarmos esta dissertação, nos restaram

somente as evidências líticas, ou porque não existiam outras, ou porque não foram coletadas.

Para trabalharmos com este volume de informações, optamos por uma abordagem

que privilegiasse a tecnologia, que pode ser caracterizada através dos diversos atributos

observáveis e mensuráveis nas etapas de produção do material lítico, conforme preconizado

por COLLINS (1989/90). Os produtos daí oriundos podem ser os resíduos de lascamento e os

produtos acabados.

Tendo em vista os interesses imediatos desta Dissertação de Mestrado, criamos

alguns tipos para definir o material lítico dos sítios analisados. Um primeiro grupo de peças

— lascas, núcleos, peças com evidências de uso — foram analisadas de acordo com uma lista

de atributos específicos, que podem ser vistos nos anexos do presente trabalho. Um segundo

grupo de peças — as não oriundas de lascas — foram analisadas de acordo com uma lista de

atributos que ao final de cada peça, a remeteu para um grupo específico. Isto foi feito na

perspectiva de aplicar uma classificação, isto é, uma análise com critérios definidos, sobre

material arqueológico.

Para efeitos de análise, adaptamos duas listas de ALBERT (1994) e DIAS &

HOELTZ (1997). As duas listas estão assim caracterizadas:

1 - Lista de atributos para análise de instrumentos lítico lascados. Esta lista foi usada

para caracterizar as seguintes evidências: choppers, chopping-tools, bifaces e bumerangóides

todas são genericamente tratadas como PEÇAS.

2 - Lista de atributos para instrumentos líticos lascados. Esta lista foi usada para

caracterizar as seguintes evidências: lascas, núcleos, seixos com picoteamento provocado pela

ação de percutir, peças com alguma evidência de uso. Todas são genericamente tratadas como

LASCAS.

37

3 - Peças que não foram colocadas em nenhuma lista: seixos, porções de basalto,

porções de geodo, fragmentos de cristal de rocha, porções de arenito silicificado e termóforos.

A primeira lista, por abranger artefatos bifaciais, trata daqueles materiais que

sofreram lascamento em ambas as faces (dorsal e ventral) de uma mesma borda. Estes

artefatos correspondem ao grupo de produtos obtidos na terceira e na quarta etapa de

transformação de COLLINS (1989/90), ou seja, a etapa de lascamento primário e a etapa de

lascamento secundário e formatação. Sempre que existirem sinais de utilização, estes serão

descritos.

A segunda lista, além dos diversos tipos de lascas, inclui também os materiais líticos

lascados sem modificação. Trata-se de resíduos de lascamento que podem ser oriundos de

várias etapas, inclusive núcleos sem nenhum outro tipo de modificação. Esta lista aborda

também os materiais líticos lascados com modificação, cujos atributos caracterizam os

materiais que sofreram retoques ou apresentaram marcas de uso. Dentro das etapas de

classificação de COLLINS (1989/90), correspondem à segunda e terceira etapas, isto é,

núcleos e lascas utilizadas sem retoques, e núcleos e lascas retocados.

Nesta segunda lista contemplamos as lascas que não sofreram nenhum trabalho de

modificação, entendendo-se como marcas de retoques ou marcas de utilização. São lascas

oriundas do preparo de núcleos ou da confecção de artefatos. Algumas destas lascas foram

usadas e apresentaram marcas de retoque e/ou utilização e neste caso foram analisadas no

grupo de lascas com modificação.

Estas lascas são classificadas como "estilhas de lascamento" conforme LAMlNG-

EMPERAIRE (1967: 41). Trata-se de lascas nas quais não se observam nem retoques e nem

utilização, e foram descartadas após a fabricação de um objeto de lasca ou de um objeto de

bloco.

Nos trabalhos feitos no Brasil, muitas vezes os resíduos de lascamento não são

devidamente analisados. Não obstante, nos últimos 20 ou 30 anos, a maioria dos arqueólogos

desenvolve seus trabalhos a partir de uma perspectiva mais ampla, e neste sentido não só

peças, como também lascas e estilhas de lascamento são objeto de análise. Assim,

encontramos em RIBEIRO (1996):

... “Várias lascas mostraram retoques uni ou bifaciais e/ou sinais de

utilização, estes representados por bordos denteados ou com

microlascamentos (rasgar, cortar), formas irregulares e mais ou menos

38

quadrangulares, perfis convexos-triangulares, preparadas, isto é, sem

camada cortical, a maioria em arenito metamorfizado. As outras lascas

apresentam as mesmas características das anteriores” (RIBEIRO,

1996: 38).

Pensamos que isto ocorre porque os estudos tecnológicos de todos os implementos

de um sítio — e não só de instrumentos perfeitamente caracterizados -são ainda insuficientes.

Acreditamos que estes estudos são de substancial importância, pois podem nos trazer dados

sobre a confecção de certos artefatos. Segundo PROUS (1986/90):

... “É perfeitamente possível afirmar a existência ..., de peças bifaciais

ou de lâminas, apenas porque encontram-se resíduos característicos de

sua elaboração ... (e) ..., o estudo das lascas de refugo em geral

permite recompor os gestos técnicos da debitagem, os quais variam

freqüentemente de uma cultura para outra" (PROUS, 1986/90: 28).

Os atributos que foram identificados segundo as duas listas usadas, baseiam-se em

trabalhos de TIXIER et al. (1980), LAMING-EMPERAIRE (1967), BRÉZILLON (1977) e

MORAIS (1987). Os atributos identificados em cada peça lítica são os seguintes:

1 - Tipo de lista de atributos:

Informa-se qual lista que estamos usando:

1.1 - Básica - São as informações elementares para a identificação da peça;

1.2 -Modificação - São as demais informações sobre a peça;

2 - Número de catálogo: Número de código do sítio. Neste caso, pode ser número

162, 134 ou 90.

3 - Número individual - É o número seqüencial da peça dentro do universo do sítio.

4 - Forma da peça: triangular ou foliácea.

5 - Forma da peça: quadrangular ou bumerangóide.

39

Lista Básica

6 - Matéria-prima: A matéria-prima irá influenciar decididamente na forma e nas

técnicas de lascamento que foram empregadas. As matérias-primas foram identificadas

conforme DANA & HURLBUT (1976: 530-573) e SCHUMEM (1985: 50-52 e 114).

- Basalto: São as rochas vulcânicas, rochas ígneas de coloração escura e granulação

fina. Em alguns casos, apresentam cavidades vazias (vesículas) e também cavidades

preenchidas (amígdalas). Nestes casos, as oportunidades de se conseguir bons lascamentos

tornam-se menores. No caso de rochas ácidas, existem estruturas de fluxo ígneo que deixam

bem definidas as descontinuidades físicas, e assim proporcionam maior facilidade de

lascamento;

- Arenito metamorfizado: São rochas constituídas por partículas detríticas, do

tamanho de grãos de areia, composta principalmente por grãos de quartzo. Este quartzo

cristalizou-se em decorrência do aquecimento do pacote sedimentar pelo derrame de lava ou

por intrusões (silts e diques). Estas rochas apresentam um bom lascamento devido à

estratificação deposicional que a rocha apresenta quando de seu resfriamento, surgindo assim

planos de fraqueza que foram habilmente utilizados pelos artesãos pré-históricos.

7 - Superfície natural. Aqui informamos como se apresenta a camada externa da

peça; depende da duração em que ficou exposta ao intemperismo, das condições climáticas e

da natureza da matéria prima.

- Sem informação;

- Sem superfície natural - Quando não apresenta nenhuma porção de camada externa;

- superfície de seixo. Quando, pela observação da superfície natural, concluímos

estar diante de um seixo;

- Superfície de bloco - Quando, pela observação da superfície natural, concluímos

estar diante de uma porção de matéria-prima oriunda de um bloco de rocha.

8 - Alteração da forma básica

- Sem informação;

- Sem alteração - Quando a forma básica permanece perfeitamente indicável;

- Erosão - Quando, na superfície, há sinais de erosão e/ou percolação por minério de

ferro;

40

- Fratura térmica - Quando se observa a presença de ação do fogo. Quando a rocha

possui óxido de ferro, a fratura tem coloração avermelhada, em alguns casos, lascam de forma

irregular e apresentam uma superfície rugosa;

- Concreção - Forma-se uma camada avermelhada na superfície da rocha, pois o

óxido de ferro substitui alguns minerais;

- Fratura moderna - Quando a peça, após sua confecção, sofre uma quebra; -Marca

de arado -Quando o arado ou a enxada atingem a peça.

9 - Medidas - As dimensões foram tomadas nas três direções da peça e indicam seu

comprimento, largura e espessura. Em gramas, anotamos seu peso. O comprimento é a linha

maior da peça. A largura e a espessura são tomadas perpendicularmente ao comprimento, mas

em direções opostas.

10 - Estado de preservação - Indica qual a situação atual da peça.

- Sem informação;

- Completo;

- Comprimento incompleto;

- Largura incompleta;

- Comprimento e largura incompletos;

- Comprimento e espessura incompletos;

- Largura e espessura incompletos;

- Comprimento, largura e espessura incompletos.

11 -Base de redução inicial. Informa de onde a peça é oriunda.

- Sem informação;

- Lasca;

- Seixo;

- Bloco;

- Placa de basalto colunar.

12 - Quantidade de superfície natural. Olhando a peça pelos dois lados, informa-se

quanto ainda resta da superfície original da rocha.

- Sem superfície natural - lado dorsal;

41

- Superfície natural ocupa 1/4 do lado dorsal;

- Superfície natural ocupa 2/4 do lado dorsal;

- Superfície natural ocupa 3/4 do lado dorsal;

- Superfície natural ocupa 4/4 do lado dorsal;

- Sem superfície natural - lado ventral;

- Superfície natural ocupa 1/4 do lado ventral;

- Superfície natural ocupa 2/4 do lado ventral;

- Superfície natural ocupa 3/4 do lado ventral;

- Superfície natural ocupa 4/4 do lado ventral.

Lista de Modificação

6 - Modificação do canto 1, lado dorsal - Olhando a peça pelos dois lados, informa-se

as alterações sofridas por cada canto. Para isto, imagina-se a peça dividida em três ou quatro

cantos conforme sua forma, ou seja, três cantos se for uma peça triangular e quatro se for peça

foliácea, quadrangular ou bumerangóide.

- Sem informação;

- Superfície natural;

- Fratura;

- Negativo de redução completo;

- Negativo de redução incompleto;

- Alternante - Quando os batimentos retirarem porções de massa em uma face e, a

seguir, retirarem porções de massa da outra face, em situação contínua;

- Alterno - Quando os batimentos para a retirada da massa ocorrerem alternadamente,

um em uma face, outro na outra face, o terceiro na primeira face, quarto na segunda face, o

quinto na primeira face, e assim sucessivamente;

- Retoque completo;

- Retoque incompleto;

- Retoque alternante;

- Retoque alterno;

- Retoque macerado ou escalonado - Quando um retoque sobrepor-se de maneira

incompleta ou "morder" o retoque anterior;

42

- Retoque denticulado;

- Retoque irregular;

- Picotearnento;

- Arredondado e/ou gasto pelo uso.

7 - Seqüência das modificações do canto 1, dorsal. Aqui se analisa a possibilidade

das alterações ocorridas em um determinado canto da peça ultrapassarem este limite e

alcançarem outro canto qualquer.

- Sem informação;

- Canto 1 é canto 1. Quando se restringe apenas a este canto;

- Canto 1 corta 2;

- Canto 1 corta 3;

- Canto 1 corta 4.

8 - Extensão das modificações do canto 1, dorsal - Informa-se, em milímetros,

quanto da peça foi alterada.

9 - Ângulo do retoque - Mede-se o ângulo realizado.

10 - Modificação do canto 1, ventral - Procede-se da mesma maneira que no item 6.

11 - Seqüência das modificações do canto 1, ventral - Procede-se da mesma maneira

que no item 7.

12 - Extensão das modificações do canto 1, ventral - Procede-se da mesma maneira

que no item 8.

1 - Ângulo do retoque - Procede-se da mesma maneira que no item 9.

14 - Modificação do canto 2, dorsal - Procede-se da mesma maneira que no item 6.

15 - Seqüência das modificações do canto 2, dorsal - Procede-se da mesma maneira

que no item 7.

43

16 - Extensão das modificações do canto 2, dorsal - Procede-se da mesma maneira

que no item 8.

17 - Ângulo do retoque - Procede-se da mesma maneira que no item 9.

18 - Modificação do canto 2, ventral - Procede-se da mesma maneira que no item 6.

19 - Seqüência das modificações do canto 2, ventral - Procede-se da mesma maneira

que no item 7.

20 - Extensão das modificações do canto 2, ventral - Procede-se da mesma maneira

que no item 8.

21 - Ângulo do retoque - Procede-se da mesma maneira que no item 9.

22 - Modificação do canto 3, dorsal - Procede-se da mesma maneira que no item 6.

23 - Seqüência das modificações do canto 3, dorsal - Procede-se da mesma maneira

que no item 7.

24 - Extensão das modificações do canto 3, dorsal - Procede-se da mesma maneira

que no item 8.

25 - Ângulo do retoque - Procede-se a mesma maneira que no item.

26 - Modificação do canto 3, ventral - Procede-se da mesma maneira que no item 6.

27 - Seqüência das modificações do canto 3, ventral - Procede-se da mesma maneira

que no item 7.

28 - Extensão das modificações do canto 3, ventral - Procede-se da mesma maneira

que no item 8.

29 - Ângulo do retoque - Procede-se da mesma maneira que no item 9.

44

30 - Modificação do canto 4, dorsal - Procede-se da mesma maneira que no item 6.

31 - Seqüência das modificações do canto 4, dorsal - Procede-se da mesma maneira

que no item 7.

32 - Extensão das modificações do canto 4, dorsal -Procede-se da mesma maneira

que no item 8.

33 - Ângulo do retoque -Procede-se da mesma maneira que no item 9.

34 - Modificação o canto 4, ventral -Procede-se da mesma maneira que no 6 item .

35 - Seqüência das modificações do canto 4, ventral -Procede-se da mesma maneira

que no item 7.

36 - Extensão das modificações do canto 4, ventral -Procede-se da mesma maneira

que no item 8.

37 - Ângulo do retoque - Procede-se da mesma maneira que no item 9.

Para a análise do segundo universo de material lítico, que para facilitar chamamos

"lascas", utilizamos também uma listagem. Possui o nome de "Lista de atributos para

instrumentos líticos lascados" e apresenta os seguintes itens:

1 - Número de catálogo. Trata-se do número seqüencial da peça dentro de cada sítio.

2 - Forma básica.

- Lasca;

- Lasca unipolar;

- Lasca bipolar;

- Detrito de lasca;

- Núcleo;

- Com uma plataforma;

- Com duas plataformas opostas;

45

- Núcleos bifaciais;

- Núcleos com duas plataformas em ângulo;

- Núcleo poliédrico;

- Núcleo bipolar com uma plataforma;

- Núcleo bipolar com duas plataformas em ângulo;

- Núcleo bipolar com uma plataforma;

- Núcleo bipolar com duas plataformas em ângulo;

- Núcleo bipolar poliédrico;

- Fragmento de núcleo;

- Fragmento técnico;

- Seixo;

- Bloco;

- Geodo.

3 - Matéria-prima - Ver definição nas páginas anteriores.

4 - Superfície natural - Segue a mesma definição já usada para “peças”.

5 - Alteração da forma básica.

6 - Medidas.

7 - Estado de preservação.

Forma Básica - Lasca

8 - Medidas do plano de percussão - Trata-se da caracterização numérica das diversas

linhas que cobrem a superfície da face que recebeu o golpe de debitagem.

9 - Estado de preservação - Ver definição nas páginas anteriores.

10 - Tipo de plano de percussão. Idem acima.

46

11 - Canto ventral do plano de percussão. Idem.

12 - Canto dorsal do plano de percussão. Idem.

13 - Lado ventral - bulbo. Idem.

14 - Lado dorsal - negativos. Idem.

15 - Lado dorsal - quantidade de superfície natural. Idem.

16 - Canto distal. Idem.

Forma Básica - Núcleo

8 - Tipo de plataforma - Segundo Morais, 1987.

9 - Quantidade de superfície natural.

10 - Ponto de apoio - núcleo bipolar. Segundo LAMING-EMPERAIRE (1967).

Dados de Modificação

17 - Modificação.

18 - Modificação -retoque. Segundo TIXIER et alli. (1980).

19 - Modificação -marcas de uso. Idem. .

20 - Modificação -localização.

21 - Modificação -posição.

47

22 - Modificação -medidas.

23 - Estado de preservação.

a) Material com evidências de ação humana: núcleos, seixos com picoteamento

provocado pela ação de percutir, peças com alguma evidência de uso.

b) Lascas: conforme lista de atributos, a seguir.

Assim, obtivemos os seguintes números:

Sítio Mat. sem evidência

Mat. com evidência

Lascas Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3

090 2 0 25 2 5 2

134 91 0 60 28 60 6

162 15 9 12 3 22 3

Totais 108 9 97 33 87 11

48

II.4. OS TIPOS ESTABELECIDOS

Ao nos debruçarmos sobre a questão “tipo”, imediatamente três situações tornaram-

se claras:

a) Poderíamos usar o sistema de análise preconizado por COLLINS (1989/90);

b) Poderíamos usar uma lista de atributos;

c) Poderíamos escolher outro caminho.

Optamos pela terceira possibilidade, porque:

a) O sistema de COLLINS (1989/90), embora correto, necessitaria, para sua perfeita

aplicação, que conhecêssemos rotas de transporte de material, fontes de matéria-prima e

outros dados que não possuímos;

b) O sistema de usar uma lista de atributos mostrou-se um bom sistema, mas não

esgotou o assunto;

c) Assim, pelo próprio manuseio das peças, fomos estabelecendo critérios de

semelhança, o que nos levou aos tipos abaixo descritos. Em nenhum momento pretendemos

menosprezar as demais categorias analíticas, apenas o sistema que estamos propondo

mostrou-se lógico e serviu para "medir" todas as peças do nosso universo, por isto o levamos

avante.

Em função da análise do material lítico, estabeleceram-se nove tipos.

Para que isto ocorresse, executamos os seguintes passos:

a) Todas as ferramentas líticas obtidas nos três sítios foram distribuídas em uma

mesa de análise;

b) imaginamos criar dentro deste universo alguns grupos que, por semelhança de

aspecto, formassem unidades entre si;

c) começamos a separar todos os chopper que faziam parte da coleção;

d) retiramos os chopping-tool;

e) todas as peças que possuem a parte distal em forma ovóide ou piramidal foram

separadas;

49

f) separaram-se todas as ferramentas obtidas após grandes lascamentos;

g) retiramos os bifaces caracterizados por exibirem grande concentração de massa na

área central;

h) retiramos todos os bifaces clássicos;

i) retiramos todos os pré-bumerangóides;

j) foram isolados todos os bumerangóides semi-infletidos;

k) como passo final, constatou-se que só restavam os tipos bumerangóides sobre a

mesa.

Assim, usando um critério de seleção, fomos pouco a pouco, de forma controlada,

separando determinados tipos. Desta forma paulatina, percorremos toda a coleção, obtendo ao

final tantas subdivisões quantos foram os tipos estabelecidos. Dito de outra maneira, a

realidade das peças mostrou-nos que quase todo o material encontrado - exceção feita a

blocos sem evidência de uso, bloco com evidências de uso (ex. batedores), termóforos, lascas

e um caso no tipo 6, quase todas as peças encontradas nos três sítios foram classificadas em

algum dos nove tipos. Temos um caso em que isto não acontece: o tipo 6 não foi encontrado

no sítio 090. Como os limites entre cada tipo foram estabelecidos de forma aleatória e sendo

um tipo intermediário, algumas peças de tipo 6 poderiam ter sido anexadas a outro tipo.

Assim, tendo em vista o estabelecimento de variáveis para a definição da tradição Humaitá

(ver especialmente KERN, 1984), afirmamos que temos agora mais uma variável: material da

tradição Humaitá classifica-se em algum dos nove tipos propostos.

Nossa certeza advém do fato de que, em primeiro lugar, todos os três sítios

analisados enquadram-se dentro das variáveis propostas; em segundo lugar, quase todas as

peças foram agrupadas nos tipos, apenas em um caso houve fuga à regra. Estes tipos são

evidências de uma seqüência de operações, que começam com os mais simples, isto é,

choppers, até atingirmos os mais complexos, isto é, os bumerangóides. Isto não significa que

o grupo pretendeu sempre chegar às formas bumerangóides, na medida em que uma peça, em

estágio anterior, atingiu os objetivos propostos, o processo encerrava-se sem que se

pretendesse atingir os tipos mais complexos.

Pelo acima exposto, estabelecemos o que segue:

Tipo 1 - Denominação: Chopper

Descrição: Trata-se de instrumento obtido sobre porção de rocha, onde uma

superfície natural, geralmente em formato tendendo a aresta, é escolhida para receber,

50

lascamentos (um ou mais) em um só lado, melhorando desta forma o efeito do fio. Esta aresta

é escolhida por estar em oposição à porção da peça que mais facilita a empunhadura.

Tipo 2 - Denominação: Chopping-tool

Descrição: Trata-se de instrumento obtido sobre porção de rocha, onde uma

superfície natural, geralmente em formato tendendo a aresta é escolhida para receber

lascamentos em ambos os lados, melhorando desta forma o efeito do fio. Esta aresta é

escolhida por estar em oposição à porção da peça que mais facilita a empunhadura.

Tipo 3 - Denominação: Biface ovóide/piramidal

Descrição: Trata-se de instrumento obtido sob porção de rocha, onde duas superfícies

naturais, simetricamente opostas, em formato tendendo a aresta, são escolhidas para receber

lascamentos em ambos os lados, melhorando desta forma o efeito do fio. A porção distal da

peça tem forma ovóide, a parte proximal da peça tem forma piramidal, o que obriga às duas

arestas criadas a deixarem a posição de paralelas e a mudarem a sua direção, ambas tendem

para a parte proximal da peça, onde se encontram em ângulo. A face dorsal apresenta uma

aresta, que pode ser uma crista natural ou ter sido criada por ação de lascamentos.

Denominamos distal a parte da peça que possui a menor quantidade de lascamentos,

conseqüentemente, seu oposto, a parte proximal, apresenta maior quantidade de lascamentos.

Tipo 4 - Denominação: Biface com grandes lascamentos

Descrição: Trata-se de instrumento obtido sobre porção de rocha, onde duas

superfícies naturais, simetricamente opostas, em formato tendendo a aresta, são escolhidas

para receber grandes lascamentos, que nascem na aresta e se dirigem ao centro da peça, a

parte distal das duas arestas são geralmente batidos e paralelos, a proximal termina em

ângulo. A porção proximal da peça costuma manter a superfície cortical, enquanto a porção

distal forma uma ponta. Os ângulos médios da parte proximal costumam ser mais fechados

que os da parte distal, o que caracteriza este tipo é o número elevado (10, 12) de grandes

lascamentos.

51

Tipo 4 A -Denominação: Biface com concentração de massa

Descrição: Trata-se de peça muito semelhante à anteriormente descrita. A

especificidade reside na maior concentração de massa na região equatorial, dando à peça

geralmente um aspecto pesado.

Neste conjunto de bifaces, é comum encontrarmos a porção superior, dista com a

falta de uma porção de massa, falta esta oriunda de um ou dois grandes lascamentos cuja

finalidade, a nosso juízo, é facilitar a empunhadura da peça. Neste conjunto, é comum a

porção proximal apresentar lascamento formando uma linha em posição perpendicular às duas

maiores arestas da peça, o que lhe deixa com um aspecto típico, caracterizando um raspador.

Tipo 5 - Denominação: Biface clássico

- Descrição: Trata-se de instrumento obtido sobre porção de rocha

- Face dorsal: geralmente, grande área de massa cortical; porção proximal intacta.

Face ventral: geralmente, grande área de massa cortical; o hemisfério norte das duas

arestas estão rebaixados e esta parte das arestas costuma apresentar simetria, a parte proximal

das arestas dirigem-se ao ponto mais meridional da peça.

- Tipo 6 - Denominação: Pré-bumerangóide

Descrição: Biface de aspecto frágil, obtido mediante lascamentos muito regulares.

Geralmente, apresentam uma aresta na face dorsal.

Tipo 7 - Denominação: Bumerangóide semi-infletido

Descrição: Tal qual o anterior, trata-se de uma peça muito semelhante ao tipo que

será descrito como tipo 8. A especificidade reside no fato da peça apresentar duas arestas,

cujo ângulo de inflexão é muito aberto, sendo apenas sugerido em alguns casos.

Tipo 8 - Denominação: Bumerangóide Descrição: Peça lítica obtida por lascamentos

que, nascendo nas bordas, avançam em direção ao centro da peça.

Para melhor compreensão, imaginemos a peça como se fosse composta de duas

partes, unidas por um ângulo de 130 a 160°; se olharmos em corte, veremos que cada uma

destas partes é composta de dois troncos de pirâmide unidos por sua face mais ampla; isto cria

uma aresta baixa que percorre a peça em toda a linha hemisférica e ocupa o limite extremo

52

das faces mais amplas do tronco de pirâmide, ao mesmo tempo que cria uma aresta —

correspondendo ao bordo — mais afiada e que realiza o perímetro da peça.

Se olharmos a peça imaginando uma linha equatorial que a divida, então geralmente

uma das partes é menor que a outra, e esta parte menor possui a aresta perimetral com ângulos

mais abertos, embora esta regra nem sempre seja obedecida. Isto nos remete à sugestão de que

a parte menor possa ser a empunhadura da peça, em oposição à parte maior, que seria a área

ativa responsável pelo corte.

II.4.1. Análise do material arqueológico

Para a correta tipificação das peças arqueológicas, nós as submetemos a uma análise.

Para isto, usamos a listagem intitulada “Lista de atributos para análise de instrumentos líticos

lascados”. Esta listagem teve origem na similar, proposta por HOELTZ (1995). Recebeu

pequenas alterações para melhor adequar-se à nossa realidade, mas o espírito da abordagem

permanece o mesmo: deseja ser um instrumento para decodificar cada variável do material

lítico.

- Dentro do mesmo espírito, usamos uma lista de atributos para decodificar lascas.

Trata-se da mesma idéia, agora corporificada sobre esta classe especial de peças. Assim, as

listagens procuram identificar e quantificar cada variável da peça. As variáveis abordadas em

cada peça estão listadas nos anexos.

II.4.2. Glossário dos termos usados nesta dissertação:

Termos Gerais:

* Rocha: "Grande massa compacta de pedra muito dura; mineral; segundo sua

origem, as rochas pertencem a três tipos fundamentais: magmáticas (ou ígneas), sedimentares

e metamórficas" (BUENO, 1956, p. 185).

* Rocha vulcânica: Usa-se o termo para designar as rochas magmáticas.

* Lasca: É a porção de matéria-prima retirada de um núcleo. Diz-se "modificada"

quando a lasca sofreu algum tipo de alteração devido a ação humana.

- Lado ventral - É o lado da lasca que só é visualizado após o lascamento.

53

- Lado dorsal - É o lado da lasca que já é visível antes do lascamento, por ser o lado

oposto ao interno, isto é, o ventral.

* Lasca recente: Usa-se o termo para designar a retirada de matéria-prima ocorrida

após a ferramenta feita. Para identificar este tipo de lascamento, recorre-se à comparação com

os lascamentos mais antigos, e por contraste se especifica o recente.

* Seixo: O termo é usado para definir porções de rocha que, ao serem deslocadas de

suas matrizes, sofrem rolamento e, por isto, tendem à forma esférica. Geralmente são

encontradas à beira dos cursos d'água, o que explica o seu deslocamento. Foram um dos mais

importantes fornecedores de matéria-prima para nossos artesãos pré-históricos.

* Núcleo: Este termo é dado a porções de

... “matéria prima que serviam para fornecer lascas. São peças ... que

apresentam um bordo em forma de superfície plana, o plano de

lascamento, sobre o qual aplicam-se golpes de percussão para destacar

as lascas” (BRÉZILLON, 1971, p. 86.).

* Biface: Trata-se de instrumento lítico cujos

... “retoques cobrem completamente ou quase completamente as duas

faces (daí o termo), criando um instrumento de forma amidalóide ou

irregular ... geralmente são grosseiros, espessos com arestas muito

sinuosas e secção quadrangular ou triédrica” (BRÉZILLON, 1971, p.

156.).

* Placa: Porção de basalto oriundo de rachaduras retilíneas naturais (diaclases).

* Chopper: Ferramenta pré-histórica em que

... “o gume é determinado pelo desbaste de uma ou mais lascas a partir

de uma das faces do seixo” (BRÉZILLON, 1969, p. 78).

54

*Chopping-tool: Ferramenta pré-histórica em que "o gume é obtido por desbaste de

duas faces" (BRÉZILLON, idem, ibidem.).

Figuras geométricas

* Foliáceo: Peça bifacial cujo formato lembra uma folha, seu plano é composto por

dois arcos, unidos pela linha mais extensa. Geralmente a confecção deste tipo de peça cria

uma aresta mais volumosa no sentido vertical da mesma aresta que se repete, na mesma

posição, quando olhamos a outra face da peça.

* Triangular: Diz-se das

...“figuras geométricas, planas, de três lados, unidos por três

triângulos...” (CHAVES, s.d., p. 215.).

* Retangular: Diz-se das figuras geométricas planas, de quatro lados, em que a base

não é igual a altura.

* Quadrangular: Diz-se das figuras geométricas planas, de quatro lados, em que a

base é igual a altura.

* Bumerangóide: Peça arqueológica com o formato de um bumerangue.

* Superfície cortical: O termo designa a porção da rocha que apresenta marcas de

intemperismo (chuvas, ventos) por ser a camada externa, portanto sujeita aos elementos

atmosféricos.

* Borda: Usa-se este termo para a aresta formada pela linha de encontro de duas

faces de alguma ferramenta'lítica, com evidências de uso, podendo ser:

- quanto à continuidade:

1) Borda contínua: quando a evidência de uso ocupar um espaço consistente da peça;

2) Borda descontínua: quando a evidência de uso for interrompida mais de uma vez

por espaços sem evidência;

3) Macerada: quando a borda apresentar um conjunto de micro-lascamentos oriundos

de repetidos batimentos da peça;

55

4) De Secção arredondada: quando a borda, ao ser olhada em perfil, apresentar um

aspecto esférico, oriundo de ação contínua desgastante.

- quanto à orientação geométrica:

5) Retilínea: quando a borda apresentar um traçado por cima da menor distância

entre os pontos extremos;

6) Sinuosa: quando a borda apresentar um traçado que descreve um arco entre seus

pontos extremos.

Retoque

É a ação de percutir repetidas vezes uma superfície lítica, com o fim de reorientar

uma aresta, torná-la mais delgada ou rebaixá-la.

Os retoques podem ser dos seguintes tipos:

a) Retoque marginal: quando o retoque limita-se apenas à porção inicial da borda;

b) Retoque invasor: quando o retoque começa em um canto da peça e prolonga-se

para o canto seguinte;

c) Retoque envolvente: quando o retoque começa em uma face da peça e alastra-se

para a face seguinte.

56

II.5. DE ALTOPA RANAENSE PARA HUMAITÁ: UMA CONEXÃO

TOTAL?

Ao observarmos a pré-história do sul do Brasil, nossas primeiras impressões indicam

que os episódios de ocupação humana estão bem demarcados, com suas tradições e fases

mostrando-nos, claramente, esta faceta da ocupação americana. Porém, as coisas não ocorrem

assim. Os seres humanos parecem divertirem-se, ao comportarem-se à revelia dos esquemas

que os arqueólogos propõem. Em vários sítios da região do Alto Uruguai, por exemplo, nas

pesquisas de SCHMITZ et al. (1981) foram encontrados, junto com cerâmica Guarani,

implementos líticos que nenhum arqueólogo deixaria de reconhecer como elementos da

tradição Humaitá. Isto nos conduz ao centro do problema: de que maneira duas tradições, que

eram vistas como isoladas, co-habitam o mesmo espaço e ao mesmo tempo? Parece que as

coisas não aconteceram de uma forma simples. A idéia que tínhamos, que de uma indústria

Altoparanaense havia uma linha que conduzia diretamente a tradição Humaitá, precisa ser

discutida. Como caracterização mínima para a Altoparanaense, podemos dizer que:

... “Elle (a indústria lítica Altoparanaense) comporte un outillage très

caractéristique, taillé surtout sur nucléus. La matière première la plus

utilisée èst le diabase rouge, rarement la métaquartzite, le silex et

lágate. Le diabase rouge, de granulation très fine, est peu fréquent

dans la région. Son utilisation si répandue montre probablement le

choix cultural dúne metière première facile à tailler et qui donne de

très bons résultats lors du façonage des outuils. Les types les plus

caractéristiques de cette industrie sont: les bifaces longs droits, les

poites avec gros talon cortical, les bifaces longs courbes, les grattoires

(terminaux, latéraux, sous-circulaires), les petits bifaces et les éclats

retouchées. L’industrie lithique comporte aussi des chopping-tools,

des pics, des outils longs à section polyédrique, des perçoirs, des

57

éclats retouchés comme des couteaux, des éclats avec encoche, éclats

irréguliers, des nucléus et des fragments de nucléus. L'outillage pour

la pluparts d'outils fouisseurs out aillants ...” (KERN, 1981: 124).

Mais adiante, o mesmo autor afirma:

“Tous les sítes da la tradition Humaitá étudiés sont caractérisés par

une industrie taillée en métaquartzite et en roche effusive (basalte,

diabase, porphyre); cela est dû au fait que les dites sont installés sur la

zone de couverture basaltíque gréseuse du Plateau Méridional. Les

roches effusives en montant par des fentes, se sont coulées sur les lits

dègres en nappes sucessives. Ce grès soumis à de hautes températures

des coulées de lave, s'est transformé en métaquartzite, c'est-à-dire, un

grés silicifié de granulation très fine” (Idem, ibidem, ps. 173-174).

Se a idéia de que a tradição Altoparanaense é a porção mais antiga da tradição

Humaitá estiver corrente tão não se explica como o material Humaitá aparece junto com

cerâmica Guarani, pois estaríamos frente a uma tradição densa, com durabilidade temporal

para resistir, intacta, a situações de contato. Como, então, explicar esta situação? Podemos

sugerir algumas idéias, que no todo, ou em parte, podem solucionar o problema:

1 - Se a tradição Altoparanaense teve sua continuidade com a tradição Humaitá, esta

linha de encadeamento pode ser mostrada; de fato, as datações evidenciam isto;

2 - Acreditamos que a tradição lítica chamada "Humaitá" é uma continuação da

tradição "Altoparanaense".

Apesar desta origem comum, torna-se evidente que ambas as tradições seguem

caminhos paralelos. Assim fases mais recentes da Humaitá, como a fase Caaguaçu, podem

apresentar datações recentes, sem que isto altere a origem da tradição.

58

3 - A chegada da cultura Guarani ao sul do Brasil representou uma onda de

neolitízação importante, porque estes grupos possuíam uma cerâmica desenvolvida, plantação

com o método de coivara, agricultura como base alimentar, costumes e tradição

compartilhadas por dezenas de grupos, etc.;

4 - Do ponto de vista Guarani, dada sua organização, não deve ter sido difícil

dominar as populações de caçadores que foram encontradas no seu deslocamento, ao menos

as que, diretamente, entraram em contato;

5 - Sempre foi muito difícil caracterizar o material lítico Guarani, pois não é um

material tecnicamente bem definido;

6 - Finalmente, podemos aventar a seguinte hipótese: como o Guarani tem ênfase na

cerâmica, talvez não tivesse sido difícil para algumas parcialidades aceitar a r tecnologia dos

dominados, no sentido de, mantendo sua organização, sua cerâmica, suas r crenças, por que

não adotar técnicas de domínio de matéria-prima que não r descaracterizariam sua cultura?

Assim agindo, o grupo não deixaria de ser Guarani, mesmo com o aporte das técnicas de

lascamento lítico. Se admitirmos a hipótese de que as técnicas de confecção de material lítico

que rotulamos como “tradição Humaitá” são técnicas diretas e simples, passíveis de serem

aprendidas e executadas rapidamente, então poderemos admitir a seguinte cena: Um grupo

Guarani chega às margens do rio Uruguai, guerreia e vence a população de caçadores-

coletores local, instala-se na várzea e pouco a pouco começam os contatos amistosos com os

antigos habitantes. Estes não possuíam a cerâmica bem elaborada do grupo arrivista, mas

possuíam, por exemplo, uma tecnologia bem útil para a confecção de instrumentos líticos.

Ora, com matéria-prima abundante e uma tecnologia não sofisticada, poderiam estes grupos

Guarani elaborar e usar instrumentos até então estranhos à sua cultura. Este modelo de

relacionamento explicaria o porque da "mistura" observada, e ao mesmo tempo nos responde

à pergunta inicial: parece fora de dúvida que existe uma conexão entre tradição

Altoparanaense e tradição Humaitá. Porém, parece que esta conexão não foi total, devemos

estar preparados para encontrar material lítico Humaitá em sítios Guarani, quem sabe logo

encontraremos uma cerâmica imitando a Guarani (ou mesmo uma genuinamente Guarani) em

algum acampamento Humaitá? A capacidade de adaptação humana é enorme, e ela prevê

empréstimos culturais, adoções e adaptações de idéias, re-ocupação de espaços e outros

59

mecanismos implementados pelas populações, na consolidação da conquista de novos

territórios.

7 - Outra idéia, que novas pesquisas poderão demonstrar, é que o fato desta

coexistência pode ser explicada pela ação do arado, que é capaz de misturar camadas de

ocupação anteriormente separadas.

II.5.1. Humaitá, uma tradição arqueológica

Quando falamos da tradição Humaitá, alguns elementos aparecem claramente: em

HOEL TZ (1995), por exemplo, verifica-se que a maioria dos autores consultados são

unânimes em algumas afirmações: há consenso entre os autores, pelo menos em alguns

tópicos:

- A tradição compreende 20 fases, sendo:

- em Santa Catarina - 3 fases;

- no Paraná - 6 fases;

- em São Paulo - 2 fases;

- no Rio Grande do Sul - 9 fases.

- As datações aconteceram entre 1.130 AP e 8.700 AP;

- A tradição caracteriza-se por grandes artefatos bifaciais. As peças mais comuns são

lâminas de machado manual lascadas bifacialmente (bifaces), talhadores, picões, raspadores,

plainas, facas, furadores, pontas e lascas. Em alguns sítios, encontramos bifaces curvos de

formato bumerangóide;

- A tradição não apresenta pontas de projétil;

- O habitat ocupado era preferencialmente coberto por florestas subtropicais.

Estendia-se pelas encostas meridionais do planalto sul-brasileiro, vale do alto Uruguai e matas

de araucária do norte do Rio Grande do Sul;

- Os sítios desta tradição ocorrem geralmente a céu aberto. São superficiais e com

níveis de 20 a 30 cm. As dimensões variam de 400 a 10.000m2;

- Localizam-se nas margens de rios e arroios, tanto na várzea como nos terraços e

colinas vizinhas;

60

- Do ponto de vista da matéria-prima; encontramos o arenito silicificado e/ou basalto,

trabalhados por percussão direta, inclusive com retoques, controlados e cuidadosos.

Não obstante o aspecto consensual, há que ressaltar a fragilidade da definição, desta

e de outras tradições, quando a ênfase recai, como neste caso — sobre um "fóssil-guia".

A idéia de que a existência ou não de uma peça sirva para identificar uma tradição, é

uma idéia antiga. Ela deriva do fato que a partir da segunda metade do século XIX, começa a

surgir um diálogo entre a geologia, a biologia e a própria arqueologia. Assim, fica evidente

que,

... “En efecto si el método estratigráfico en Arqueologia es una

traducción a menor del método estratigráfico en Geologia, el valor de

los fóssiles (animales o plantas), para el paleontólogo se transladaa los

instrumientos y aun a los restos ósseos humanos. El concepto de

"fóssil cultural" explicitando o no, constituye en mi opinión el

resultado más evidente de la influencia ejercida por las Ciencias

Naturales en estas nuevas Humanidades que empiezan a ser los

estudios de Prehistória”... (FRANCH, 1989: 17).

No caso da tradição Humaitá a questão do "fóssil-guia", ou "fóssil diretor" funciona

do ponto de vista da negação, ou seja, cada vez que não temos pontas de projétil, estamos à

frente de material Humaitá. O caso positivo, a existência de pontas de projétil, nos leva em

outra direção, ou seja, tradição Umbu.

Quando estabelecemos esta dicotomia, de alguma forma, aprisionamos nosso

raciocínio. Esperamos que nosso trabalho contribua para trazer mais elementos à discussão e

ajude a colocá-la em outro patamar, mais privilegiado o estudo funcional das peças

arqueológicas.

Durante muito tempo, a maioria das análises de material arqueológico visava à

pergunta "Para que serviu esta peça?". Este enfoque está diretamente ligado à análise

funcional, ou seja, ao responder a pergunta, o arqueólogo estabelece a funcionalidade da peça,

estabelece seu papel dentro do todo cultural. Quando um arqueólogo afirmava: "Isto é um

machado", estava, na verdade, afirmando que aquela peça, dentro daquela cultura, tinha o fim

utilitário de abater árvores e rachar lenha. Ora, hoje em dia sabemos que as coisas não

61

acontecem dentro desta linearidade. Assim, sabemos hoje que uma peça, cuja forma de um

determinado objeto que, nesta cultura, tenha sido usado para outros fins. Trabalhos

etnográficos têm demonstrado que o "lógico" para nós, nem sempre é lógico para outra

cultura. Desta forma, resultam temerárias as tentativas de definição de funcionalidade em

função do visual de uma peça.

Obter-se a mesma linguagem em uma ciência é um desiderato complicado. A

situação torna-se mais difícil ainda se tentarmos estabelecer esta linguagem comum em um

país de dimensões continentais e no âmbito de uma ciência em vias de implantação. Para os

fatos aqui tratados, cabe mencionar que o PRONAPA conseguiu esta uniformidade graças ao

estabelecimento de encontros nacionais onde os pesquisadores envolvidos no Programa

explicitaram sua metodologia e conceitos. Estes encontros criaram determinadas normas —

por exemplo, foi editado uma "Terminologia Arqueológica Brasileira para a Cerâmica" —

(CHMYZ, 1966), que normatizou a linguagem e a ação dos arqueólogos envolvidos no

Programa. Nesta mesma perspectiva, a análise de material lítico também foi balizada por estes

parâmetros.

Para os efeitos de nosso trabalho, vamos adotar a seguinte definição de tradição:

Tradição é "Uma seqüência de estilos ou de culturas que se desenvolvem no tempo, partindo

uns dos outros, e formando uma continuidade cronológica (SOUZA, 1997: 124).

II.5.2. A Questão Tecnológica

Segundo COLLINS (1989/90),

... “A tecnologia está marcada pelas limitações impostas pelo

comportamento da fratura conchoidal, da natureza das rochas e

minerais possuidoras de propriedades para o lascamento e da

capacidade das culturas primitivas para executar e controlar as forças.

(...) Qualquer tecnologia lítica específica está estruturada em resposta

às necessidades da cultura, escolha, qualidade e conhecimento dos

artesãos, assim como os fatores, classe, quantidade e qualidade e da

matéria-prima. Quando o acesso à matéria-prima ou as necessidades

62

culturais trocam, se produzirão trocas na tecnologia” (COLLINS,

1989/90: 51-52).

Se analisarmos o texto acima, veremos que poderá ser decomposto em alguns

tópicos:

Primeiramente, aborda-se os limites que são estabelecidos pela questão material (a

rocha e suas propriedades físicas); este limite está bem claro na escolha feita pelo artesão. Um

exemplo desta escolha é a análise do gráfico 9.B.2, onde fica explicitada a escolha da matéria-

prima nos sítios que dão respaldo a esta dissertação.

Logo após, é abordada a questão do lascamento enquanto fator de ordem cultural.

Sem sombra de dúvida, lascar era uma ação sancionada pelo grupo, cujas regras definiam

como exercer a técnica de debitagem, segundo um padrão socialmente aceito.

O texto encerra enfatizando a questão que, se existirem câmbios na esfera social,

acredita-se que a tecnologia irá alterar-se.

Na continuidade do discurso, COLLINS deixa claro que quando o artesão pré-

histórico confecciona uma peça, este procedimento pode ser dividido em etapas. Muito

embora este fracionamento nem sempre seja excludente, pois nem todas as etapas são

completamente distintas umas das outras, há condições de individualizá-las. Assim, estas

etapas são chamadas por COLLINS de "grupo de produtos", e cada grupo possui

características próprias. As características de cada etapa dependem do rendimento da etapa

anterior. Nesta perspectiva, COLLINS cria cinco etapas que, exceto a primeira, deixam sobrar

sempre duas classes de materiais, os produtos de dejetos, ou seja, os resíduos de lascamento, e

os objetos destinados a receber mais redução ou diretos para o uso.

11.5.3. As etapas propostas são as seguintes:

- Primeira etapa: obtenção da matéria-prima. Para executar esta etapa, o ponto

fundamental é a relação dos recursos disponíveis, tendo em vista o fim proposto. Para obter a

matéria-prima, geralmente o artesão coleta a rocha. Eventualmente, poderá explorar algum

afloramento, se a matéria-prima superficial não for de boa qualidade. Em alguns casos,

podemos supor algum tipo de importação, quando no local não existir a matéria-prima

63

desejada. Nos casos em que o afloramento ocorre, por exemplo, numa cascalheira, o trabalho

de obtenção resume-se á coleta seletiva.

Após a obtenção da matéria-prima, ou o artesão dá início ali mesmo ao processo de

redução inicial ou então transporta o material in totum para outro local, onde dará início ao

processo de produção do artefato.

- Segunda etapa: preparação e redução inicial de núcleos. Neste momento, cabe ao

artesão realizar uma escolha, que pode acontecer em três direções:

* Pode formatar o núcleo, que será a base para a produção de uma peça, descartando todas as

lascas;

* Pode incidir sua ação na retirada das lascas, que servirão de base para a produção de peça, o

que implica, no final, no descarte do núcleo esgotado;

* Pode incidir sua ação tanto sobre o núcleo como sobre as lascas retiradas. Assim tais lascas

serão usadas sem sofrerem retoques. De acordo com DIAS (1994:90), os resíduos de

lascamento que resultam desta etapa são as lascas primárias, também chamadas corticais, que

apresentam a face externa e/ou o talão total ou parcialmente cortical;

- Terceira etapa: lascamento primário opcional. Também chamado de modificação

primária, caracteriza-se pelo fato das lascas dos núcleos oriundos da atividade anterior

receberem lascamentos antes de serem introduzidos na sua "vida útil". Podem ser reduzidos

ainda mais. Esta modificação primária de núcleos e lascas produz resíduos de lascamento.

Quando acontece a retirada de novas lascas sobre as cicatrizes das primeiras retiradas, são

obtidas lascas sem córtex, apresentando cicatrizes de lascamento sobre a face externa e/ou

sobre o talão. Ainda de acordo com DIAS, as peças sobre núcleos ou lascas, nesta fase, são

peças bifaciais ou unifaciais. Esta categoria de artefatos pode ser uma etapa que antecede à

produção de pré-formas de artefatos com funcionalidade variada. Estas pré-formas podem ser

o ponto de partida para a elaboração de peças com maior complexidade.

- Quarta etapa: lascamento secundário e formatação opcional. Também chamada

modificação secundária, nasce nas pré-formas da terceira etapa. Recebem lascamento bifacial

e, ao final, transformam-se no produto acabado. Pontas de projétil são exemplos desta etapa;

64

- Quinta etapa: conservação ou modificação opcional das peças desgastadas pelo uso.

A palavra chave nesta etapa é reciclagem. Artefatos com bordas desgastadas podem ser, aqui,

reativadas para voltarem às suas antigas funções. Outra opção é, ao reciclar a peça desgastada,

modificar totalmente suas função, fazendo com que a nova peça retome à "vida útil" agora

sob nova função.

Se observarmos as peças arqueológicas do ponto de vista do enfoque tecno-tipo

lógico, concordamos com VIALOU (1980), quando afirma:

... “A tecno-tipologia é o estudo raciocinado: em primeiro lugar do

lascamento e do talhe da matéria-prima; em segundo, dos retoques

intencionais, transformando os produtos de lascamento em utensílios;

em terceiro, das marcas deixadas pelas utilizações; e, em quarto, dos

utensílios numa perspectiva de classificação” (VIALOU, 1980: 6).

A linha de raciocínio expressada acima parte da mesma premissa de COLLINS, isto

é, o início da análise começa pela matéria-prima e os reflexos que nela deixam as questões

que envolvem os diferentes lascamentos. Na linha de análise da autora, será com a realização

dos retoques que as peças transformam-se de simples produtos de lascamento em utensílio.

Nesta perspectiva, é o retoque que garante à peça o status de utensílio. Concordamos

inteiramente com a autora, principalmente se levarmos em conta que o universo por ela

abordado — o sítio Almeida, em São Paulo — apresenta um elevado percentual de peças com

retoque. Em seguida, é lembrada a questão das marcas de utilização. Dentro de uma

perspectiva ideal, acreditamos que se uma peça for recolhida com cuidado e for devidamente

acondicionada, então uma análise laboratorial mostrará os sinais originais do uso da peça.

65

II.5.4. A tradição Humaitá no Rio Grande do Sul

As fases atribuídas à tradição Humaitá, no RS, são as seguintes:

FASE AUTOR DATAÇÃO

Antas Miller (1971) 6.620 ± 175 – A. P.

Jacuí Brochado (1971) 5.000 a 3.000 – A. P.

Caaguaçu Miller (1969a) Desde 4.000 – A. P.

Cará Miller (1971) 1920 ± 50 – A. P.

Canhemborá Brochado (1971) 2.945 ± 85 e 1.165 ± 35 – A. P.

Camboatá Miller (1976) Contemporânea da Cará

Humaitá Miller (1967) 400 – A. P.

Paiquerê Miller (1967) = recente que Humaitá e Antas

Pinhal Ribeiro et al. (1977) Recente1

No Brasil, a primeira ação concreta no sentido de analisar material arqueológico,

segundo uma metodologia definida, aconteceu quando da realização do PRONAPA. Em outro

momento deste trabalho discutiu-se o embasamento teórico desta metodologia. Do ponto de

vista prático, já nos primeiros trabalhos de campo, aqui no Rio Grande do Sul, observa-se que

os arqueólogos que participavam do Programa possuem a mesma linguagem.

O estabelecimento de uma nomenclatura e uma metodologia comum a todos os

pesquisadores fica muito claro nos pressupostos do PRONAPA. Nesta perspectiva, vale a

pena citar um texto da "introdução", da publicação referente ao primeiro ano do Programa.

... “descrevemos, especialmente, o tipo de catálogo a ser usado no

campo e no laboratório, o método de coletar informações, como fazer

1 Ao usar o termo “recente, estou falando comparativamente, referindo-me às fases mais antigas, como Antas e

Jacuí.

66

croquis de sítios arqueológicos e de aspectos geográficos próximos, o

sistema de cortes estratigráficos e como fazer coleções sistemáticas de

superfície de todos os sítios, em vez de escavações intensivas em

apenas alguns. É importante insistir no valor das coleções sistemáticas

de superfície. Experiências têm demonstrado que vários sítios com

cerâmica e alguns pré-cerâmicos no Brasil não possuem suficiente

espessura de refugo para escavações estratigráficas Neste caso, a

coleção indiscriminada de fragmentos de cerâmica ou de líticos será

essencial para a construção de seqüências seriadas dos sítios. Coleções

contendo apenas os maiores fragmentos de cerâmica ou de artefatos,

os mais bem confeccionados ou melhor decorados, não servirão para

tal finalidade. É muito importante também, nos sítios com apreciável

espessura de refugo, utilizar o sistema de um ou dois cortes

estratigráficos, (...) variando suas dimensões de 1x1, 1,5x1,5 ou 2x2m

e escavados em níveis artificiais de 10cm.

Várias outras vantagens desta abordagem de campo podem ser

mencionadas. Se em vez da escavação de grandes trincheiras, ou da

escavação total do sítio, limitarmo-nos apenas a proceder em cada

sítio um ou dois cortes estratigráficos, ou ainda, naqueles com cacos

superficiais, a coleta sistemática de amostragem de superfície, um

número bem maior de sítios será estudado no mesmo tempo previsto

para o trabalho de campo. Os dados fornecidos por diversos sítios

darão uma idéia muito melhor da área, do que aquela proporcionada

por um único sítio. Devemos insistir que em qualquer área pesquisada,

o arqueólogo de campo é obrigado a recolher informações e fazer

coleções de todos os sítios, não obstante serem estes simples estações

líticas com apenas lascas de pedras superficiais, sítios pré-cerâmicos

superficiais, cavernas, abrigos-sob-rocha, sítios-habitações ou

cemitérios de culturas ceramistas, ou ainda sambaquis. Em outras

palavras, ao concluir seu trabalho de campo na região, deverá estar o

pesquisador de posse de uma amostragem bem representativa da

mesma, evitando assim revisar a área para ampliar a amostragem.

Escavações intensivas e detalhadas, caso necessárias, serão reservadas

67

para o futuro, após a análise e seriação de todo material coletado. O

trabalho em cada região -prevê ainda a hipótese de não ser encontrada

evidência desocupação por culturas ceramistas ou de sítios pré-

cerâmicos. Neste caso serão anotados todos os aspectos geográficos

que permitam, sobretudo, interpretações ecológicas da região. Sem

esta abordagem sistemática é o pesquisador, por vezes, atraído a um

sítio e ali permanecer trabalhando por longo tempo, simplesmente

porque o mesmo produz muito material ou ainda porque oferece

aspectos ambientais e culturais mais favoráveis. Resulta daí não dispor

de mais tempo, ignorando outros sítios superficiais próximos ou que à

primeira vista pareciam de somenos importância. Acresce que, sendo

o trabalho de campo padronizado, a análise e classificação da

cerâmica, dos líticos e de outros artefatos deverão também seguir uma

padronização. Para tal, Evans & Meggers dispenderam os meses de

junho a agosto de 1966 no Brasil, permanecendo de 5 a 10 dias com

cada participante do programa, para rever os resultados do primeiro

ano de pesquisa, auxiliá-los em qualquer problema de classificação e

assegurar a padronização e comparabilidade dos dados obtidos”

(EVANS, 1967: 11-12).

O texto acima, de autoria de EVANS, um dos arqueólogos responsáveis pela

instalação do PRONAPA no Brasil, deixa claro que os procedimentos listados representam

normas de conduta que deverão ser seguidas por todos os pesquisadores do Programa.

MILLER (1967) define pela primeira vez a fase Humaitá, da seguinte maneira:

... “é uma fase pré-cerâmica representada por dois sítios, caracterizada

por artefatos líticos lascados por percussão e confeccionados a partir

de lascões destacados de grandes blocos de basalto, conservando

porções da crosta natural. (...) A única evidência que temos até o

momento, para comparação relativa de antigüidade, é o

adiantadíssimo estado de oxidação dos implementos aí existentes. (...)

68

Os artefatos estão, em grande parte, trabalhados pela face externa dos

lascões e quase .irreconhecíveis pelo efeito da decomposição. Os

talhadores ("choppers"), lascões discóides unifaciais grandes,

representam mais de 50% dos artefatos. Encontram-se ainda: biface,

talhador unifacial alongado, talhado bifacial com ponta e fio, talhador

com talão e numerosíssimas lascas de grandes proporções” (MILLER,

1967: 17-18).

Na mesma publicação, aparece mais uma fase. Assim se expressa o autor:

... “Fase Camboatá. Define uma fase pré-cerâmica representada por

centenas de sítios arqueológicos caracterizados por artefatos em pedra

lascada e alguns em pedra polida, menos oxidados do que nas fases

precedentes. ...Os artefatos compõem-se quase que exclusivamente de

líticos lascados grosseiramente e a partir de núcleos de basalto,

encontradiços sobre e sob o solo argiloso da encosta do planalto”

(Idem, ibidem: 19).

A próxima referência que encontramos sobre o material lítico que posteriormente

será batizado como "Tradição Humaitá", encontra-se em BROCHADO, (19699a). Ao

descrever o material obtido em seu levantamento no vale do rio Ijuí, o autor informa ter

descoberto 5 sítios líticos, cujo material é descrito; porém a fase não recebe nome. Neste

momento o material não recebe denominação, embora a sua descrição não permita dúvidas.

Trata-se de material da tradição Humaitá.

Ainda na publicação acima citada, encontramos um trabalho (MILLER 1969a) em

que é criada a fase Caaguaçu e a fase Amandaú. Da primeira fase, o autor diz ser ela

associada ao "complexo lítico Altoparanaense". A segunda fase, Amandaú, não foi associada

69

ao Altoparanaense por apresentar pontas de projétil pedunculadas e apedunculadas. Ainda

neste momento a fase não foi filiada à tradição.

Em outro relatório do PRONAPA (1969), aparece outra fase. Trata-se da fase Jacuí,

onde pela descrição do material verifica-se que se trata de material Humaitá. Sob o título

"Outras evidências líticas", BROCHADO (1969b) descreve também material lítico

encontrado na várzea de um dos afluentes do rio Jacuí, o rio dos MeIo ou do Guarda-Mor.

Segundo o autor,

... “tipologicamente são idênticos aos encontrados nas prospecções de

1966-67, tendo sido classificados como: unifaciais, Choppers ou

talhadores, bifaciais (chopping-tools), e i triédricos” (BROCHADO,

1965: 5, 1969b).

Na página 51 do texto acima citado, o autor apresenta um gráfico, no qual a fase

Jacuí é identificada como fruto de influências externas (levando-se em conta os vales do Ijuí e

do Jacuí) especificamente “Complexo lítico Altoparanaense”.

Em uma publicação do PRONAPA, de 1969, o que seria chamada de Tradição

Humaitá" é assim descrito:

“Nos sítios pré-cerâmicos do interior predominam também talhadores,

trituradores, raspadores e facas talhadas por percussão e centenas

destes sítios descobertos no Rio Grande do Sul (onde parecem ser

mais comuns), Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Bahia. Um número

de fases e complexos foi experimentalmente reconhecido resultando

na divisão dos mesmos em duas classes gerais. A maioria dos sítios

provavelmente os mais antigos —produzem apenas pesados núcleos e

utensílios talhados por percussão. Um complexo desta classe

caracteriza-se por um biface bumerangóide, tipo de utensílio

anteriormente identificado no complexo Altoparanaense da província

70

de Misiones, na Argentina (BÓRMIDA, 1965: 10 e fig. 7)

(BROCHADO et al., 1969: 8).

No texto acima, dois eventos chamam a atenção:

a) Os autores falam em duas "classes" gerais. O decorrer da pesquisa arqueológica irá

denominá-las como "Tradição Humaitá" e "Tradição Umbu";

b) A descrição da primeira classe contemplada no parágrafo acima, além de não ser

ainda denominada como uma tradição, é caracterizada como muito próxima, ou igual, ao

complexo Altoparanaense. Observamos que os relatórios do PRONAPA entre 1965 e 1970

apresentavam sempre uma série de capítulos onde cada autor descrevia o que fizera no ano

anterior. Na publicação em epígrafe há apenas um texto em que todos os participantes

assumem conjuntamente a autoria da obra. Isto dá a ela uma especial característica de resumo

de visão geral.

Em uma publicação posterior a tradição está completamente consolidada. Trata-se de

um trabalho básico na literatura arqueológica gaúcha, notadamente por representar uma

síntese do que existia à época. Por seu caráter lapidar, decidimos transcrever todo o tópico:

“Tradición litica de talladores y bifaces: tradición Humaitá.

Se trata de sítios abiertos, muy raramente ocupación de abrigos,

predominantemente en áreas selvàticas, en el sur también en monte

mixto, muy raramente en campos.

Las altitudes varían desde el nível del mar hasta los 1.200 metros.

El asentamiento se realizó cerca de arroyos o ríos, as veces cerca de

bañados, raramente cerca de lagunas o del mar. Las capas

arqueológicas son de pocos decímetros de potencia, las dimensiones

desde 20X20 metros hasta 200 X 200 metros. Los más antíguos estàn

profundamente enterrados, hasta 8 metros for debajo de la superficie

actual.

71

Implementos característicos son talladores alargados, choping-too/s,

Choppers, picos, raederas alargadas, raspadores plano convexos,

raspadores con escotadura, raspadores laterales, perforadores; en

algunas fases aparecen bifaces o hachas de mano con una o dos

extremidades activas, o bifaces con forma de bumerangue: Raramente

los sitios brindan materiales pulidos o semipulidos, como hachas,

trituradores o manos, bolas con surcos, discos gruesos para moler. No

aparecen puntas de proyectil.

Si comparamos las distintas fases de la tradición observamos

diferencias bastante acentuadas en los artefactos y las técnicas de

producción, resultantes de diferencias en tiempo, espacio, ecologia.

Los demás elementos de la cultura no han podido ser recuperados por

las características mismas de los yacimientos y del ambiente.

El limite entre esa tradición y la que tiene puntas de proyectil (Umbu)

está marcado en el sur, en tiempos recientes, por una especie de

indústria de transición, que puede reflejar una ecologia de transición.

Por otro lado, en esas mismas localidades, aparecen sítios de la

tradición Humaitá con zoolitos, que son los elementos más

característicos de los recolectores litoráneos, 10 que inplicaría en

algún tipo de relación entre los grupos 1itoráneos y los del interior.

Los fechados más antíguos son del noveno milenio antes del presente,

los más tardios de poros siglos atrás, indicando una gran perduración

de las industrias sin puntas dentro de una ecologia hasta un cierto

punto estable. Las fechas más antíguas están en Ia selva del alto curso

del Uruguai, otro núcleo antíguo está en las selvas del rio Ivaí (PR) y

otro en una región de ecología variada en el noreste de Rio Grande do

Sul.

En la mitad del siglo de nuestra era aparece en el Panalto de Rio

Grande do Sul Ia tradición a1farera Taquara, asociada a casas-pozo,

que utiliza una indústria similar a la de los anteriores grupos

precerâmicos. El ambiente que explota es el de los montes mixtos,

donde bay abundancia de piñones, y tardiamente también la selva.

72

Mientras tanto en la selva siguen viviendo grupos precerámicos de la

tradición Humaitá por lo menos hasta el siglo XIV de nuestra era.

La tradición Humaitá continúa en las áreas selváticas de Misiones

Argentinas y Paraguayas con la denominación de tradición

Altoparanaense y otros nombres más locales.

Parece una indústria desarrolada como respuesta de grupos de

cazadores-recolectores de las altas cuencas de los ríos Paraná y

Uruguay y se conserva mientras Ia misma ecología no es requerida

por grupos más desarrollados” (SCHMITZ, 1978: 110-111).

Em outro momento, KERN (1981) segue a mesma linha de raciocínio ao insistir com

a necessidade de resultados específicos, ou seja, de estudos detalhados de cada a traduzir:

“É mais fácil explicar as diferenças entre as diversas tradições líticas,

adaptadas a meio-ambientes diversos, que as variações internas de

uma mesma tradição. Três séries de fatores devem ser completados

por procedimentos diversos para estimular assim (o aparecimento de)

suas diferenças internas: o tempo, o espaço e o meio-ambiente. Em

uma tradição que perdurou mais de 6.000 anos e que estendeu-se por

uma superfície de 800x700 km, estes três fatores permitiram

numerosas variações regionais que encontram-se mais ou menos

explicitadas nas diversas fases” (KERN, 1981: 188).

II.6. CONCLUSÕES

Os nove tipos de artefatos bifaciais estabelecidos nesta pesquisa apareceram em

quase todos os sítios, com uma exceção. Isto demonstra para nós que as variáveis que estamos

propondo para a definição de tipos funcionam bem. Dito de outra forma, nos parece evidente

que estes nove tipos de artefatos, se somados com os já consagrados pela bibliografia

arqueológica, representam uma boa ferramenta para detectarmos sítios da tradição Humaitá.

Há necessidade de incluir futuramente outros sítios, usando os nove tipos, para desta

forma alargarmos os horizontes de abrangência da tipologia aqui proposta.

Temos certeza de que este é o caminho, só teremos uma tradição arqueológica bem

clara quando seu estabelecimento for produto da aplicação de variáveis bem mensuradas e

claramente estabelecidas.

O ideal seria se os nove tipos elencados fossem encontrados em todos os sítios

eleitos para a amostragem. Ocorre que, como estamos trabalhando com materiais depositados

em museus — portanto, não nos permitimos escavar, apenas manipulamos o que já foi

recolhido — temos de nos contentar com este universo, que neste sentido é restrito. Nossa

perspectiva é que estes tipos definidos possam ser aplicados em outros sítios e em outras

coleções já museografadas.

Para análise do material encontrado, constata-se que a redução inicial, em todos os

casos analisados, ocorreu em outros locais que não os próprios sítios, nas fontes de origem da

matéria prima, pois o número das lascas corticais são baixos. Esta realidade nos sugere que

apenas as peças maiores teriam sido transportadas para os sítios.

Analisando só os tipos de artefatos presentes, supomos que as atividades de redução

primária e secundária ocorreram fora dos locais de assentamento, por encontrarmos poucas

lascas corticais. Entretanto, há a hipótese de que tais reduções tivessem ocorrido nos sítios, o

que nos reportaria a uma situação de "escolha" na coleta do material. A falta de documentação

do trabalho de campo nos deixa esta dúvida. Temos certeza que o limite a nós imposto pelo

fato de trabalharmos com material que não escavamos, é uma barreira consistente. Por outro

74

lado, a escolha de usarmos este tipo de material apresenta a vantagem de se ampliarmos nosso

estudo em outras coleções museológicas, então poderemos obter destas coleções — que só em

nosso Estado representam um enorme número de peças — uma série de dados, cujo acesso

estava vedado. Se pudermos "dar voz" a estas coleções, então com certeza estaremos trazendo

um conjunto amplo de dados à arqueologia gaúcha.

O que definimos como sinais de utilização, são bordas maceradas e/ou arredondadas.

Este efeito pode ser conseguido através da utilização contínua, ou pode ser a resultante de

uma ação para o rebaixamento de uma aresta viva, neste caso, apontando para facilitação da

empunhadura ou encabamento da peça.

Os artefatos foliáceos, triangulares e os quadrangulares apresentam um padrão de

produção bem característico: primeiramente se realizam os lascamentos e/ou retoques do lado

dorsal e, após, do lado ventral da peça.

Observando-se o material analisado, constata-se uma indústria pesada, tosca, oriunda

de grandes lascamentos, realizados em blocos volumosos. Há vários casos em que uma aresta

natural foi mantida, tornando-se útil para empunhar ou encabar a peça. Em outros casos, a

aresta pode apresentar um rebaixamento obtido por uma ação de picoteamento sobre a linha

de encontro das duas faces.

Quando olhamos um canto, geralmente observamos que os tipos de modificação

efetuados em uma face (negativo de redução completo, picoteamento, etc.), bem como a sua

extensão, coincidem nas faces ventral e dorsal.

Há vários bifaces cujas arestas trabalhadas, em sua parte distal apresentam um

rebaixamento, o que favorece a empunhadura ou encabamento. Em sua parte proximal, os

lascamentos criaram uma região com um ângulo mais fechado, o que favorece seu uso como

bordo ativo. Da mesma forma, nos tipos 6, 7 e 8 pré e bumerangóides — geralmente o ângulo

da parte distal é menor que na parte proximal da peça.

Quando um artefato foliáceo apresenta uma aresta cortical, então geralmente a aresta

que está em oposição é toda picoteada. Isto gera a impressão de que a peça foi usada de modo

atravessado conforme a linha maior do corpo humano, não para furar, mas para seccionar.

Se observarmos os nove tipos de artefatos estabelecidos, dentro da ordem proposta,

nota-se que há uma "linha evolutiva", que percorre os diversos tipos, mas isto não quer dizer

que o processo de produção não possa ser interrompido no caminho e a peça não possa ser

usada quando ainda fizer parte de um tipo intermediário.

75

A maioria das peças mostra erosão, o que nos indica a procura de fontes espalhadas

na superfície da terra ou beira de rios, sem mineração nos núcleos.

Nas peças foliáceas, geralmente a extensão dos cantos 1 e 4 são maiores que a

extensão dos cantos 2 e 3. Isto acontece porque, via de regra, os cantos 2 e 3 são atuantes, e os

cantos 1 e 4 são de empunhadura ou encabamento.

Torna-se muito difícil encontrar uma peça com um lado completamente cortical, as

peças são geralmente trabalhadas bifacialmente.

Sítio 162

Ao efetuarmos os gráficos dos percentuais obtidos, vemos que 82,42% das formas

analisadas pertencem às formas "triangular" e "foliácea" sendo que as demais formas

estabelecidas "quadrangular" e "bumerangóide" estão menos presentes. Outrossim,

observamos que todas as formas aparecem em todos os sítios, com uma só exceção, o que

comprova o acerto de nossa escolha ao estabelecermos as formas.

No concernente ao item "matéria-prima", o basalto desponta como primeira escolha,

ocupando 96,30% da preferência (135 peças). A distribuição das peças por tipo nos indica o

seguinte:

A soma dos tipos 2 22 peças

4 29

4a 31

5 32

representam a maior parte do material (114 peças,81,42%)

Ora, isso nos indica que esses quatro tipos (Chopping-tool, bifaces oriundos de

grandes lascamentos, bifaces com muita massa no equador e bifaces clássicos) concentram a

maior parte do total. Com exceção dos chopping-tool que podem ser muito trabalhados ou

não, os demais representam um tipo de material arqueológico para cuja execução solicita-se

muitos lascamentos; o que aponta para uma indústria bastante elaborada, oriunda de uma

tecnologia muito desenvolvida. O critério que usamos para rotular como "desenvolvida" a

indústria Humaitá, está alicerçado no fato de que grande parte dos instrumentos, para serem

confeccionados, exigiram uma série de lascamentos. Por contraste, estamos comparando, por

exemplo, os bifaces com artefatos de confecção simples, como por exemplo um chopper.

76

Analisando-se a base de redução inicial, concluímos que a maior parte das peças

(137 - 97,84%) são oriundas de placas de basalto, de rochas da qual não temos informações e

de seixos basálticos, nesta ordem.

O item "alteração da forma básica", nos mostra que 107 peças (76,42%) apresentam

evidências de erosão. Isto se deve a dois fatores:

a) A maioria das peças foi recolhida em cursos d'água, e,

b) a erosão é marcante porque estamos falando de sítios a céu aberto.

Ao analisarmos as alterações sofridas pela matéria-prima, fica claro que em 41,55%

das peças analisadas a alteração detectada corresponde a evidências de erosão.

Fraturas modernas correspondem a 5,75% e marcas de arado a 2,55%. A informação

sobre alteração não está presente em 7,66% das peças, além disto, em número pouco

representativo, há peças que apresentam duas destas particularidades, como, por exemplo,

marca de arado e fratura térmica.

Se observarmos as peças do ponto de vista de quanto da superfície natural ainda

perdura, e trabalharmos este dado levando em conta as faces dorsal e ventral da peça,

obteremos os seguintes totais:

Sup. Nat. cobre 3/4 face dorsal 3/4 face ventral: peças, 15%

2/4 3/4 15 10%

1/4 1/4 14 10%

2/4 1/4 13 9%

Total: 63 45%

Isto demonstra, em primeiro lugar, que o artesão pré-histórico escolhia livremente

quanto da superfície natural iria continuar na peça: além disto, nos revela que, mesmo

permanecendo uma boa quantidade da superfície natural, o artesão realiza uma operação de

desbaste no fio da peça, onde a retirada de superfície natural é completa. Isto nos mostra que

após realizar a primeira série de retirada, o artesão concentrava sua atuação no fio da peça,

que recebia mais uma série de golpes até obter o fio desejado.

77

Ao sítio 134 correspondem 190 peças, destas apenas 144 foram computadas nas

tabelas. As demais são lascas, seixos sem evidência de ação humana e seixos com evidência

de ação de fogo.

Ao observarmos o item “forma”, veremos que 68 peças (47,22%) correspondem a

formas triangulares, ao passo que 76 peças (52,77%) são possuidoras de quatro lados.

O item “matéria-prima” nos indica que 131 peças (90,97%) são oriundas de basalto,

ao passo que 13 peças (9,02%) são oriundas do arenito.

A distribuição das peças por tipo, nos revela quase as mesmas escolhas do sítio 162.

A soma dos tipos 2 44 peças 30,55%

3 6 4,16%

4 29 20,13%

5 31 21,52%

6 6 4,16%

representam a maior parte do material: 116 peças, 80, 62°%.

Isto nos informa que os tipos chopping-tool, ovóides/piramidais, bifaces oriundos de

grandes lascamentos, bifaces clássicos e pré-bumerangóides concentram a maior parte do

material. Excetuando-se os chopping-tool, que podem ser confeccionados com poucos

lascamentos, os demais tipos representam material arqueológico que necessitam muitos

lascamentos; isto nos aponta para o fato de uma indústria com instrumentos líticos muito

elaborados.

Se observarmos o item "base de redução inicial", veremos que a maior parte das

peças (116 – 80,62%) são oriundas de seixos. Para 28 peças (19,44%) não temos esta

informação.

No tocante a "alteração da forma básica" 106 peças (73,61%) apresentam erosão. As

demais probabilidades (fratura moderna, polimento, etc.), estão pouco representadas.

Se observarmos peças do ponto de vista de quanto da superfície natural ainda

perdura, e trabalharmos este dado levando em conta as faces dorsal e ventral das peças,

obteremos os seguintes totais:

78

Sup. nat. Cobre 3/4 na face dorsal face ventral: 37 peças 25,69%

1/4 1/4 13 9,02%

não existe não existe 12 7,63%

1/4 2/4 10 6,94%

1/4 3/4 10 6,94%

Isto nos mostra; como no sítio anterior, que o artesão escolhia quanto da superfície

natural iria continuar na peça. Nos revela também que, mesmo permanecendo muita

superfície natural, realizava-se uma operação de desbaste no fio da peça, que recebia mais

uma série de golpes até obter o fio desejado, geralmente não restando neste nada de superfície

natural.

Ao sítio 90 correspondem 56 peças. Destas, apenas 29 foram computadas nestas

tabelas. As demais 27 são lascas, seixos com evidência da ação do fogo ou porções de matéria

prima sem nenhuma ação humana.

O item "forma" nos indica que as peças "triangulares" e "foliáceas" somam 19

(65,51%), ao passo que as outras formas "quadrangulares" e "bumerangóides" ocorrem em 10

peças (34,48%).

Se este item "forma" for observado em outra perspectiva; veremos que 8 peças

(27,41%) são possuidoras de quatro lados.

Se estivermos interessados em analisar a matéria-prima, veremos que todas as peças

deste sítio (29 - 100%) foram obtidas a partir do basalto.

Se observarmos as peças do ponto de vista dos tipos, veremos a seguinte

composição:

tipos 2, 4 e 5 ........................................................ 5 peças cada

tipo 8 ................................................................... 4 peças

tipos 4a e 7 ......................................................... 3 peças cada

Ora, isto soma 25 peças (86,20%), ou seja, a maior parte do material. Assim sendo,

os tipos chopping-tool, bifaces oriundos de grandes lascamentos, bifaces clássicos e

bumerangóides clássicos concentram a maior parte do material. Se considerarmos os

79

chopping-tool, que podem ser obtidos com poucos lascamentos, todos os demais tipos

somente são obtidos após muitos lascamentos, ou seja, não é uma indústria simples.

O item "base de redução inicial", não é decisivo para este sítio, pois para a maioria

das peças (16 - 55,17%) não possuímos tal informação.

Para a "alteração da forma básica", obtivemos a informação que a maioria das peças

(17 - 58,12%) apresenta erosão. As demais possibilidades estão pouco representadas.

Se observarmos as peças do ponto de vista de quanto da superfície natural ainda

perdura e trabalharmos este dado levando em conta as faces dorsal e ventral da peça,

obteremos os seguintes totais:

Sup. nat. não existe na face dorsal não existe na face ventral: 8 peças 27,58%

1/4 1/4 6 20,68%

3/4 3/4 6 20,68%

1/4 não existe 2 6,89%

3/4 não existe 2 6,89%

Isto demonstra, como nos sítios anteriormente discutidos, que o artesão escolhia

quanto da superfície natural iria continuar na peça. A tecnologia disponível permitia ao

artesão retirar uma porção maior de superfície cortical. Não o fazer era sua escolha.

Finalizando, gostaríamos de propor trabalhos complementares — por exemplo,

refinando a análise, utilizando material oriundo de outros sítios, escavando em detalhe novos

sítios.

Estas indagações deverão ser respondidas ao longo do tempo, com mais trabalhos de

campo e/ou laboratório.

Dada nossa situação de funcionário de carreira, lotado no Museu Antropológico do

Rio Grande do Sul, um órgão de Secretaria de Estado da Cultura, é nosso interesse continuar a

realizar trabalhos de campo, bem como realizar trabalhos de laboratório, quer em nossa

Instituição, quer em qualquer outra que possua peças arqueológicas. Move-nos o interesse de

fazer uma releitura das peças já coletadas, para que, usando a mesma metodologia,

consigamos obter mais dados.

80

Aliado aos fatos aludidos, cremos também ser importante marcar nosso interesse em

realizarmos experimentações controladas, o que nos irá permitir a reprodução, em laboratório,

das peças que hoje são encontradas nos sítios arqueológicos. Isto nos fará avançar bastante no

conhecimento das práticas tecnológicas dos grupos pré-históricos. Se computarmos todas as

peças analisadas, obteremos os seguintes números:

Sítios Peças

090 140

134 190

162 140

Total 470

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ANEXOS

1 - Mapa Parcial Geográfico do Estado do Rio Grande do Sul na escala de 1:1.800.000,

1983. Destacando a localização dos sítios nos municípios de Iraí, Sobradinho e Nova

Palma .........................................................................................................................87

2 - Mapa Parcial do Município de Nova Palma. Escala 1: 100.000, 1993 .........................88

3 - Lista de atributos para análise de instrumentos líticos lascados ...................................89

4 - Lista de atributos para lascas e alguns outros tipos de instrumentos líticos lascados ..101

5 - Gráfico da análise do material - Superfície Natural/Matéria Prima ............................111

6 - Gráfico da análise do; material - Forma / Tipo ..........................................................112

7 - Desenhos das peças líticas mais significativas...........................................................113

8 -Listagem das peças obtidas conforme a aplicação da "Lista de atributos para análise de

instrumentos líticos lascados", bem como sua divisão conforme a matéria prima,

alterações apresentadas e áreas de evidência de uso ..................................................143

9 - Resumo da listagem: "Lascas" ..................................................................................149

ANEXO 1

Mapa Parcial Geográfico do Estado do Rio Grande do Sul na escala de 1:1.800.000, 1983.

Destacando a localização dos sítios nos municípios de Irai, Sobradinho e Nova Palma

ANEXO 2

Mapa Parcial do Município de Nova Palma. Escala 1.100.000, 1993.

ANEXO 3

LISTA DE ATRIBUTOS PARA ANÁLISE DE INSTRUMENTOS LÍTICOS

LASCADOS

* Adaptado por Sérgio Leite de Hilbert & Hoeltz, dez. 1994.

1- Tipo de Programa (coluna A)

Programa básico.................................................................................................................1

Programa modificação .......................................................................................................2

2- Númeio de catálogo (coluna B)

3- Númeio individual (coluna C)

4- Forma (coluna D)

Triangular .........................................................................................................................1

Foliácea .............................................................................................................................2

Quadrangular .....................................................................................................................3

Bumerangóide....................................................................................................................4

PROGRAMA BÁSICO

6- Matéria-prima (coluna E)

Basalto...............................................................................................................................1

Arenito metamorfisado ......................................................................................................2

90

7- Superfície natural (coluna F)

Sem informação ................................................................................................................0

Sem superfície natural........................................................................................................1

Superfície de seixo.............................................................................................................2

Superfície de bloco ............................................................................................................3

Superfície de placa de basalto ............................................................................................4

8- Alteração da forma básica (coluna G)

Sem informação.................................................................................................................0

Sem alteração ....................................................................................................................1

Erosão e/ou percolação por min Fe ....................................................................................2

Fratura térmica ..................................................................................................................3

Concreção .........................................................................................................................4

Fratura moderna ................................................................................................................5

Marca de Arado ................................................................................................................6

Polimento em uma aresta ..................................................................................................7

9- Medidas (coluna H/K)

Comprimento ....................................................................................................Coluna H

Largura ................................................................................................................ Coluna I

Espessura .............................................................................................................Coluna J

Peso .....................................................................................................................Coluna K

10- Estado de preservação (coluna L)

Sem informação ................................................................................................................0

Completo ..........................................................................................................................1

Comprimento incompleto ..................................................................................................2

91

Largura incompleta ...........................................................................................................3

Comprimento e largura incompleta ...................................................................................4

Comprimento e espessura incompleta ...............................................................................5

Largura e espessura incompletos .......................................................................................6

Comprimento, largura e espessura incompletos ..................................................................7

11- Base de redução inicial (coluna M)

Sem informação.................................................................................................................0

Lasca .................................................................................................................................1

Seixo .................................................................................................................................2

Bloco .................................................................................................................................3

Placa de basalto coluna R...................................................................................................4

12- Quantidade de superfície natural (coluna N)

Sem superfície natural, lado dorsal.....................................................................................0

Superfície naturalocupa 1/4 lado dorsal..............................................................................1

Sem superfície natural ocupa 2/4 lado dorsal......................................................................2

Sem superfície natural ocupa 3/4 lado dorsal......................................................................3

Sem superfície natural ocupa 4/4 lado dorsal......................................................................4

Sem superfície natural, lado ventral ...................................................................................5

Superfície natural 1/4 lado ventral .....................................................................................6

Superfície natural 2/4 lado ventral......................................................................................7

Superfície natural 3/4 lado ventral......................................................................................8

Superfície natural 4/4 lado ventral......................................................................................9

92

PROGRAMAÇÃO MODIFICAÇÃO

6- Modificação do canto 1, dorsal (coluna E)

Sem informação.................................................................................................................0

Superfície natural...............................................................................................................1

Fratura ...............................................................................................................................2

Negativo de redução completo ...........................................................................................3

Negativo de redução incompleto ........................................................................................4

Alternante ..........................................................................................................................5

Alterno...............................................................................................................................6

Retoque completo ..............................................................................................................7

Retoque incompleto ...........................................................................................................8

Retoque alternante .............................................................................................................9

Retoque alterno................................................................................................................10

Retoque marcerado, escalonado .......................................................................................11

Retoque denticulado.........................................................................................................12

Retoque irregular .............................................................................................................13

Picoteamento ...................................................................................................................14

Arredondado, gasto pelo uso ............................................................................................15

Polido ..............................................................................................................................16

7- Seqüência das modificações do canto 1, dorsal (coluna F)

Sem informação/sem modificação......................................................................................0

Canto 1 é canto 1 ...............................................................................................................1

Canto 1 corta 2...................................................................................................................2

Canto 1 corta 3...................................................................................................................3

Canto 1 corta 4...................................................................................................................4

93

8- Extensão das modificações, canto 1, dorsal (coluna G)

9- Ângulo do retoque (coluna H)

10- Modificação do canto 1, ventral (coluna I)

Sem informação.................................................................................................................0

Superfície natural...............................................................................................................1

Fratura ...............................................................................................................................2

Negativo de redução completo ...........................................................................................3

Negativo de redução incompleto ........................................................................................4

Alternante ..........................................................................................................................5

Alterno...............................................................................................................................6

Retoque completo ..............................................................................................................7

Retoque incompleto ...........................................................................................................8

Retoque alternante .............................................................................................................9

Retoque alterno................................................................................................................10

Retoque marcerado, escalonado .......................................................................................11

Retoque denticulado.........................................................................................................12

Retoque irregular .............................................................................................................13

Picoteamento para facilitar empunhadura.........................................................................14

Arredondado, gasto pelo uso ............................................................................................15

11- Seqüência das modificações do canto 1, ventral (coluna J)

Sem informação/sem modificação......................................................................................0

Canto 1 é canto 1 ...............................................................................................................1

Canto 1 corta 2...................................................................................................................2

Canto 1 corta 3...................................................................................................................3

Canto 1 corta 4...................................................................................................................4

94

12- Extensão das modificações, canto 1, ventral (coluna K)

13- Ângulo do retoque (coluna L)

14- Modificação do canto 2, dorsal (coluna M)

Sem informação.................................................................................................................0

Superfície natural...............................................................................................................1

Fratura ...............................................................................................................................2

Negativo de redução completo ...........................................................................................3

Negativo de redução incompleto ........................................................................................4

Alternante ..........................................................................................................................5

Alterno...............................................................................................................................6

Retoque completo ..............................................................................................................7

Retoque incompleto ...........................................................................................................8

Retoque alternante .............................................................................................................9

Retoque alterno................................................................................................................10

Retoque marcerado, escalonado .......................................................................................11

Retoque denticulado.........................................................................................................12

Picoteamento ...................................................................................................................14

Arredondado, gasto pelo uso ............................................................................................15

15- Seqüência das modificações do canto 2, dorsal (coluna N)

Sem informação/sem modificação......................................................................................0

Canto 2 é canto 1 ...............................................................................................................1

Canto 2 corta 2...................................................................................................................2

Canto 2 corta 3...................................................................................................................3

Canto 2 corta 4...................................................................................................................4

95

16- Extensão das modificações, canto 2, dorsal (coluna O)

17- Ângulo do retoque (coluna P)

18- Modificação do canto 2, ventral (coluna Q)

Sem informação.................................................................................................................0

Superfície natural...............................................................................................................1

Fratura ...............................................................................................................................2

Negativo de redução completo ...........................................................................................3

Negativo de redução incompleto ........................................................................................4

Alternante ..........................................................................................................................5

Alterno...............................................................................................................................6

Retoque completo ..............................................................................................................7

Retoque incompleto ...........................................................................................................8

Retoque alternante .............................................................................................................9

Retoque alterno................................................................................................................10

Retoque marcerado, escalonado .......................................................................................11

Retoque denticulado.........................................................................................................12

Picoteamento ...................................................................................................................14

Arredondado, gasto pelo uso ............................................................................................15

19- Seqüência das modificações do canto 2, ventral (coluna R)

Sem informação/sem modificação......................................................................................0

Canto 2 é canto 1 ...............................................................................................................1

Canto 2 corta 2...................................................................................................................2

Canto 2 corta 3...................................................................................................................3

Canto 2 corta 4...................................................................................................................4

96

20- Extensão das modificações, canto 2, ventral (coluna S)

21- Ângulo do retoque (coluna T)

22- Modificação do canto 3, dorsal (coluna U)

Sem informação.................................................................................................................0

Superfície natural...............................................................................................................1

Fratura ...............................................................................................................................2

Negativo de redução completo ...........................................................................................3

Negativo de redução incompleto ........................................................................................4

Alternante ..........................................................................................................................5

Alterno...............................................................................................................................6

Retoque completo ..............................................................................................................7

Retoque incompleto ...........................................................................................................8

Retoque alternante .............................................................................................................9

Retoque alterno................................................................................................................10

Retoque marcerado, escalonado .......................................................................................11

Retoque denticulado.........................................................................................................12

Picoteamento ...................................................................................................................14

Arredondado, gasto pelo uso ............................................................................................15

23- Seqüência das modificações do canto 2, dorsal (coluna V)

Sem informação.................................................................................................................0

Canto 3 é canto 1 ...............................................................................................................1

Canto 3 corta 2...................................................................................................................2

Canto 3 é corta 3 ................................................................................................................3

Canto 3 corta 4...................................................................................................................4

97

24- Extensão das modificações, canto 3, dorsal (coluna W)

25- Ângulo do retoque (coluna X)

26- Modificação do canto 3, ventral (coluna Y)

Sem informação.................................................................................................................0

Superfície natural...............................................................................................................1

Fratura ...............................................................................................................................2

Negativo de redução completo ...........................................................................................3

Negativo de redução incompleto ........................................................................................4

Alternante ..........................................................................................................................5

Alterno...............................................................................................................................6

Retoque completo ..............................................................................................................7

Retoque incompleto ...........................................................................................................8

Retoque alternante .............................................................................................................9

Retoque alterno................................................................................................................10

Retoque marcerado, escalonado .......................................................................................11

Retoque denticulado.........................................................................................................12

Picoteamento ...................................................................................................................14

Arredondado, gasto pelo uso ............................................................................................15

27- Seqüência das modificações do canto 3, ventral (coluna Z)

Sem informação.................................................................................................................0

Canto 3, corta 1..................................................................................................................1

Canto 3, corta 2..................................................................................................................2

Canto 3 é canto 3 ...............................................................................................................3

Canto 3 corta 4...................................................................................................................4

98

28- Extensão das modificações, canto 3, ventral (coluna AA)

29- Ângulo do retoque (coluna AB)

30- Modificação do canto 4, dorsal (coluna AC)

Sem informação.................................................................................................................0

Superfície natural...............................................................................................................1

Fratura ...............................................................................................................................2

Negativo de redução completo ...........................................................................................3

Negativo de redução incompleto ........................................................................................4

Alternante ..........................................................................................................................5

Alterno...............................................................................................................................6

Retoque completo ..............................................................................................................7

Retoque incompleto ...........................................................................................................8

Retoque alternante .............................................................................................................9

Retoque alterno................................................................................................................10

Retoque marcerado, escalonado .......................................................................................11

Retoque denticulado.........................................................................................................12

Picoteamento ...................................................................................................................14

Arredondado, gasto pelo uso ............................................................................................15

31- Seqüência das modificações do canto 4, dorsal (coluna AD)

Sem informação.................................................................................................................0

Canto 4, corta 1..................................................................................................................1

Canto 4, corta 2..................................................................................................................2

Canto 4 corta 3...................................................................................................................3

Canto 4 é canto 4 ...............................................................................................................4

99

32- Extensão das modificações, canto 4, dorsal (coluna AE)

33- Ângulo do retoque (coluna AF)

34- Modificação do canto 4, ventral (coluna AG)

Sem informação.................................................................................................................0

Superfície natural...............................................................................................................1

Fratura ...............................................................................................................................2

Negativo de redução completo ...........................................................................................3

Negativo de redução incompleto ........................................................................................4

Alternante ..........................................................................................................................5

Alterno...............................................................................................................................6

Retoque completo ..............................................................................................................7

Retoque incompleto ...........................................................................................................8

Retoque alternante .............................................................................................................9

Retoque alterno................................................................................................................10

Retoque marcerado, escalonado .......................................................................................11

Retoque denticulado.........................................................................................................12

Picoteamento ...................................................................................................................14

Arredondado, gasto pelo uso ............................................................................................15

35- Seqüência das modificações do canto 4, dorsal (coluna AH)

Sem informação.................................................................................................................0

Canto 4 corta 1...................................................................................................................1

Canto 4 corta 2...................................................................................................................2

Canto 4 corta 3...................................................................................................................3

Canto 4 é canto 4 ...............................................................................................................4

100

36- Extensão das modificações, canto 4, ventral (coluna AI)

37- Ângulo do retoque (coluna AJ)

38- Tipo de peça (coluna AK)

Chopper .............................................................................................................................1

Chopping-tool....................................................................................................................2

Ovóide/piramidal ...............................................................................................................3

Biface grande.....................................................................................................................4

Biface grande muita massa equador ................................................................................4A

Biface clássico ...................................................................................................................5

Pré-bumerangóide..............................................................................................................6

Bumerangóide semi-infletido .............................................................................................7

Bumerangóide clássico ......................................................................................................8

ANEXO 4

LISTA DE ATRIBUTOS PARA LASCAS E ALGUNS OUTROS TIPOS DE

INSTRUMENTOS LÍTICOS LASCADOS

Adaptado por Sérgio Leite de HILBERT, 1994.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

1- Número de catálogo (coluna A)

DADOS BÁSICOS

2- Forma básica (coluna B)

Lasca unipolar....................................................................................................................1

Lasca bipolar .....................................................................................................................2

Detrito de lasca ..................................................................................................................3

Núcleo com uma plataforma ..............................................................................................4

Núcleo com duas plataformas opostas ................................................................................5

Núcleo com duas plataformas em ângulo ...........................................................................7

Núcleo poliédrico...............................................................................................................8

Núcleo bipolsar com uma plataforma.................................................................................9

Núcleo com duas plataformas em ângulo .........................................................................10

Núcleo bipolar poliédrico.................................................................................................11

Fragmentos de núcleo ......................................................................................................12

Fragmento térmico...........................................................................................................13

Seixo ...............................................................................................................................14

Bloco ...............................................................................................................................15

Geodo ..............................................................................................................................16

102

3- Matéria-prima (coluna C)

Basalto...............................................................................................................................1

Arenito silicificado ............................................................................................................2

Arenito ..............................................................................................................................3

Calcedônia .........................................................................................................................4

Ágata .................................................................................................................................5

Quartzo leitoso...................................................................................................................6

Quartzo hialino ..................................................................................................................7

Hematita ............................................................................................................................8

Riolito................................................................................................................................9

4) Superfície natural (coluna D)

Sem superfície natural........................................................................................................0

Superfície natural de seixo .................................................................................................1

Superfície natural de geodo................................................................................................2

Superfície natural de bloco.................................................................................................3

Sem informação.................................................................................................................4

Marca de batimento ...........................................................................................................5

Marca de polimento ...........................................................................................................6

5- Alteração da forma básica (coluna E)

Sem alteração.....................................................................................................................0

Arredondado (ação d’água) ...............................................................................................1

Fraturas térmicas................................................................................................................2

Coloração térmica ..............................................................................................................3

Fratura e coloração térmica ................................................................................................4

Concreção..........................................................................................................................5

Erosão................................................................................................................................6

103

Fratura recente ...................................................................................................................7

Sem informação.................................................................................................................8

6- Medidas (coluna F/I)

Comprimento .................................................................................................... Coluna F

Largura ................................................................................................................Coluna G

Espessura .............................................................................................................Coluna H

Peso ...................................................................................................................... Coluna I

7- Estado de preservação (coluna J)

Completo ...........................................................................................................................1

Comprimento incompleto...................................................................................................2

Largura incompleta ............................................................................................................3

Espessura incompleta.........................................................................................................4

Comprimento e largura incompletos ..................................................................................5

Comprimento e espessura incompletos ..............................................................................6

Largura e espessura incompletas .......................................................................................7

Comprimento, largura e espessura incompletos, sem informação .......................................8

FORMA BÁSICA - LASCA

8) Medidas do plano de percussão (coluna K/M)

Sem parte proximal............................................................................................................0

Largura .................................................................................................................Coluna K

Espessura.............................................................................................................. Coluna L

Ângulo.................................................................................................................Coluna M

104

9) Estado de preservação do plano de percussão (coluna N)

Sem parte proximal............................................................................................................0

Completo ...........................................................................................................................1

Largura incompleta ............................................................................................................2

Largura incompleta (Siret) .................................................................................................3

Espessura incompleta.........................................................................................................4

Largura e espessura incompletas .......................................................................................5

Sem informação.................................................................................................................7

10) Tipo de percurssão (coluna O)

Sem parte proximal............................................................................................................0

Completo ...........................................................................................................................1

Largura incompleta ............................................................................................................2

Largura incompleta (Siret) .................................................................................................3

Espessura incompleta.........................................................................................................4

Largura e espessura incompletas .......................................................................................5

Sem informação.................................................................................................................6

11) Canto ventral do plano de percussão (coluna P)

Sem parte proximal............................................................................................................0

Sem formação de lábio.......................................................................................................1

Com informação de lábio ..................................................................................................2

Sem informação.................................................................................................................3

12) Canto dorsal do plano de percussão (coluna Q)

Sem parte proximal............................................................................................................0

105

Sem redução dorsal ............................................................................................................1

Redução escalonada ...........................................................................................................2

Redução arredondada.........................................................................................................3

Sem informação.................................................................................................................4

13) Lado ventral Bulbo (coluna R)

Sem parte proximal............................................................................................................0

Bulbo sem cicatriz .............................................................................................................1

Bulbo com cicatriz .............................................................................................................2

Cone com cicatriz ..............................................................................................................3

Cone sem cicatriz...............................................................................................................4

Sem bulbo, sem cone .........................................................................................................5

Sem informação.................................................................................................................6

14) Lado dorsal – negativos (coluna S)

Sem negativos (lasca cortical) ...........................................................................................0

Negativo sem direção de lascamento..................................................................................1

Negativos transversal .........................................................................................................2

Negativos diagonal ............................................................................................................3

Negativos opostos ..............................................................................................................4

Negativos em várias direções .............................................................................................5

Sem informação.................................................................................................................6

15) Lado dorsal – quantidade de superfície natural (coluna T)

Sem superfície natural........................................................................................................0

1/3 superfície natural..........................................................................................................1

1/2 superfície natural..........................................................................................................2

106

2/3 superfície natural..........................................................................................................3

Superfície natural total .......................................................................................................4

Sem informação ................................................................................................................5

16) Canto distal (coluna D)

Sem parte distal .................................................................................................................0

Afinado..............................................................................................................................1

Escalonado.........................................................................................................................2

Arredondado......................................................................................................................3

Inflexo ...............................................................................................................................4

Estilhaçado ........................................................................................................................5

Macerado...........................................................................................................................6

Sem informação.................................................................................................................7

Retocado............................................................................................................................8

FORMA BÁSICA - NÚCLEO

8) Tipo de plataforma (coluna K)

Liso ...................................................................................................................................0

Facetado primário ..............................................................................................................2

Facetado secundário...........................................................................................................3

Linear ................................................................................................................................4

Puntiforme.........................................................................................................................5

Superfície natural...............................................................................................................6

Sem informação.................................................................................................................7

107

9) Quantidade de superfície natural (coluna L)

Sem superfície natural........................................................................................................0

1/3 superfície natural..........................................................................................................1

1/2 superfície natural..........................................................................................................2

2/3 superfície natural..........................................................................................................3

Sem informação ................................................................................................................4

19) Ponto de apoio – núcleo bipolar (coluna M)

Sem ponto de apoio............................................................................................................1

Ponto de apoio macerado ...................................................................................................2

Ponto de apoio estilhaçado.................................................................................................3

Ponto de apoio macerado e estilhaçado ..............................................................................4

Sem informação ................................................................................................................5

DADOS DE MODIFICAÇÃO

17) Modificação (coluna V)

Sem modificação ...............................................................................................................0

Retoque .............................................................................................................................1

Marcas de uso ....................................................................................................................2

Retoque e marcas de uso ....................................................................................................3

Fratura intencional .............................................................................................................4

108

18) Modificação – Retoque (coluna W)

Retoque .............................................................................................................................0

Denticulado .......................................................................................................................1

Retoque bifacial .................................................................................................................2

Retoque abrupto.................................................................................................................3

Retoque regular..................................................................................................................4

Retoque irregular ...............................................................................................................5

Entalhe...............................................................................................................................6

19) Modificação – Marcas de uso (coluna X)

Sem marcas de uso.............................................................................................................0

Micro fraturas ....................................................................................................................1

Arredondado......................................................................................................................2

Arredondado e com micro-fraturas.....................................................................................3

Polido (brilho) ...................................................................................................................4

Micro-fraturas e polimento.................................................................................................5

Micro-fraturas, arredondado e polido .................................................................................6

Arredondado e polido ........................................................................................................7

Picoteado ...........................................................................................................................8

Macerado...........................................................................................................................9

Quebrado .........................................................................................................................10

20) Modificação – Localização (coluna Y)

Sem informação.................................................................................................................0

Lateral ...............................................................................................................................1

Distal .................................................................................................................................2

Proximal ............................................................................................................................3

Lateral, distal .....................................................................................................................4

109

Lateral, proximal................................................................................................................5

Lateral, proxima, distal ......................................................................................................6

Proximal, distal ..................................................................................................................7

Perímetro ...........................................................................................................................8

Na aresta dorsal da plataforma de impacto .........................................................................9

Na aresta ventral da plataforma de impacto ......................................................................10

Na face dorsal ..................................................................................................................11

Na face ventral.................................................................................................................12

21) Modificação – Posição (coluna Z)

Dorsal ................................................................................................................................1

Ventral...............................................................................................................................2

Dorsal, ventral, alterno.......................................................................................................3

Dorsal, ventral, alternante ..................................................................................................4

Dorsal, ventral, Biface .......................................................................................................5

Sem informação.................................................................................................................6

Aresta dorsal da plataforma de impacto..............................................................................7

Aresta ventral da plataforma de impacto ............................................................................8

Na faixa equatorial da peça ................................................................................................9

22) Modificação – Medidas – (coluna AA/AC)

Comprimento.....................................................................................................Coluna AA

Largura ..............................................................................................................Coluna AB

Ângulo...............................................................................................................Coluna AC

23) Estado de preservação da modificação (coluna AD)

Completo ...........................................................................................................................1

Comprimento incompleto...................................................................................................2

110

Largura incompleta ............................................................................................................3

Comprimento e largura incompletos ..................................................................................4

Sem informação.................................................................................................................5

111

ANEXO 5

112

ANEXO 6

113

ANEXO 7

DESENHOS

114

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