de pedra em pedra: análise comparativa da indústria lítica...
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Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Curso de Pós-Graduação em História
Área de concentração: Arqueologia
De Pedra em pedra: análise comparativa da Indústria lítica em três
sítios da Tradição Humaitá no planalto do Rio Grande do Sul - Brasil
Dissertação de Mestrado
Sérgio Leite
Porto Alegre
1999
AGRADECIMENTOS
Gostaria de expressar minha gratidão para:
�� Meu orientador, Dr. Klaus Hilbert.
�� Meus familiares, que sempre me apoiaram.
�� Meus colegas de trabalho.
�� Meus colegas do CEPA/PUC.
�� Prof. Esp. Guilherme Naue, um exemplo a ser seguido.
�� Pessoal da secretaria e do xerox.
�� Meu filho, cujo sorriso me ilumina.
�� Meu pai, o qual acho que gostaria de estar me vendo agora.
A todos: pela paciência, incentivo, apoio e confiança, meu muito obrigado.
RESUMO
Esta dissertação de mestrado tem como passo inicial a análise do material oriundo de
três sítios arqueológicos, objetivando obter dados mensuráveis sobre as peças. Nosso intuito é
comparar os remanescentes líticos destes sítios, através de uma análise tecno-tipológica. Disto
resultou o estabelecimento de nove tipos líticos, que são aqui apresentados como marcos
delimitadores da tradição lítica Humaitá.
Justificamos esta dissertação pelo fato de que, se definirmos uma boa metodologia de
análise, teremos uma boa ferramenta de trabalho, caracterizada pelo estabelecimento de nove
tipos, que serão usados para a tradição Humaitá.
No capítulo I.1, fornecemos o suporte teórico que fundamentou nosso trabalho.
No capítulo I.2 e I.3 colocamos os objetivos a que nos propomos: associar o material
analisado a uma tradição cultural, ou seja, à tradição lítica Humaitá; definir uma metodologia
de análise; contribuir para o estabelecimento de uma terminologia lítica brasileira. Como
objetivos específicos, estamos nos propondo oferecer critérios para definir a tradição
Humaitá. Com isto, afirmamos que o estabelecimento de nove tipos são dados mensuráveis e,
portanto, válidos para definir uma tradição. Dito de outra forma, acreditamos que se um sítio
apresentar a maioria de suas peças passíveis de serem enquadradas em um destes nove tipos,
então estamos à frente de um sítio da tradição lítica Humaitá; organizar um conjunto de dados
que possam ser aplicados a outros sítios; oferecer condições para retomar sítios já analisados,
usando este enfoque tipológico e, finalmente, oferecer condições para retomar material
depositado em instituições culturais, agora privilegiando este enfoque.
No capítulo II.1 descrevemos os embaraços que limitaram nossa análise.
No capítulo II.2, que tem por título "os sítios analisados", relatamos um breve
histórico de cada um dos três sítios enfocados nesta dissertação.
No capítulo II.3 e II.4, descrevemos o material arqueológico encontrado bem como
as tabelas usadas para sua análise e o resultado final, ou seja, os nove tipos estabelecidos após
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a análise. Além disto, fornecemos um glossário enfocando os principais termos que aparecem
nesta dissertação.
No capítulo II.6, apresentamos as conclusões a que chegamos após a análise de todo
o material; fornecemos a bibliografia utilizada, bem como os anexos.
SUMÁRIO
Agradecimentos................................................................................................................2
Resumo .............................................................................................................................3
Introdução ........................................................................................................................6
Justificativa ......................................................................................................................8
Capítulo I
I.1 Considerações metodológicas .....................................................................................13
I.2 Objetivos ....................................................................................................................29
I.3 Objetivos gerais ..........................................................................................................29
I.4 Objetivos específicos ..................................................................................................31
Capítulo II
II.1 Limites do trabalho....................................................................................................33
II.2 Os sítios analisados ...................................................................................................34
II.3 O material arqueológico ............................................................................................36
II.4 Os tipos estabelecidos................................................................................................48
II.5 De Altoparanaense para Humaitá: Uma conexão total? ..............................................56
II.6 Conclusões ................................................................................................................73
Referências Bibliográficas .............................................................................................81
Anexos ............................................................................................................................86
INTRODUÇÃO
Com esta dissertação de Mestrado, desejamos retomar a análise de três sítios
arqueológicos do Rio Grande do Sul. Para isto, definimos a existência de nove "tipos" que
foram encontrados nestes sítios. Em função disto, propomos que estes nove tipos são válidos
para o estabelecimento da identificação de sítios arqueológicos dentro de uma perspectiva de
"tradição arqueológica".
Em decorrência disto, afirmamos que, cada vez que nos encontrarmos com este
conjunto de nove tipos, estamos em contato com material oriundo da "tradição lítica
Humaitá".
É nosso intuito, nesta dissertação, resgatar uma parcela da pré-história do Rio Grande
do Sul, temos a certeza que quanto mais conhecermos nosso passado, mais aptos estaremos
para construir nosso futuro. Escolhemos conhecer nosso passado usando o ponto-de-vista da
arqueologia.
Desejamos fazer este trabalho usando o método da tecno-tipologia lítica, assim
entendendo-se o estudo que resgata a técnica usada pelos artesãos pré-históricos ao realizarem
lascamentos em porções de rocha, objetivando conseguir instrumentos que eram
posteriormente agregados ao seu cotidiano, na medida em que eram manipulados por
elementos da comunidade, preenchendo um espaço dentro do contexto social. A metodologia
que usamos está assentada no estabelecimento de um consistente padrão tipológico, que ao
final redundou no fato de definirmos nove tipos dentro dos quais foram enquadradas todas as
peças líticas encontradas.
Para aplicar este método de análise, optamos por estudar os artefatos líticos de três
sítios arqueológicos do planalto rio-grandense e operar, através de uma análise tecno-
tipológica, atividades comparativas com os remanescentes líticos destas três ocupações. Nesta
perspectiva, resolvemos trabalhar com material já recolhido ao Centro de Estudos e Pesquisas
Arqueológicas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (CEPA/PUCRS).
Conscientemente resolvemos não realizar nenhuma escavação, para assim podermos
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privilegiar material já coletado. Parece-nos ser uma boa forma de reestudar o material já
depositado em instituições de pesquisa, onde trouxeram alguma contribuição científica e
agora jazem sem atividade. Imaginamos que, ao realizarmos uma leitura tecno-tipológica
destas peças líticas, ou seja, aplicando sobre elas o conceito de dividi-las em tipos
mensuráveis, estaremos aprofundando o conhecimento que temos da pré-história rio-
grandense.
JUSTIFICATIVA
É consenso entre os arqueólogos, por exemplo, SILVA (1989), que um determinado
material, após analisado, pode ser novamente manipulado e disto resultarão novos dados. O
que está subjacente a esta afirmação é o indiscutível fato que uma análise não esgota todo o
manancial de informações que uma peça apresenta. Assim, é comum arqueólogos retomarem
coleções já analisadas e submeterem-nas a novas análises. Uma determinada coleção pode ser
manipulada à luz de novos dados e/ou orientações metodológicas. Para dar um exemplo aqui
do sul do Brasil, lembramos o excelente trabalho que foi realizado pela equipe do Instituto
Anchietano de Pesquisas da UNISINOS, São Leopoldo, quando o material oriundo das
escavações do Pe. João Alfredo Rohr S. J. foi reanalisado e serviu de base para a dissertação
de mestrado de Sérgio Baptista da Silva, que fez uma releitura dos sepultamentos da praia da
Tapera (Florianópolis, SC). Além de representar um tributo ao trabalho daquele dedicado
jesuíta, na nossa opinião e a dissertação retomou antigos problemas agora com novo enfoque.
O ganho assim obtido é indiscutível.
Nossos elogios à UNISINOS prende-se ao fato de que retomar um conjunto de peças
é sempre gratificante. O passar dos tempos seguramente nos abre novas perspectivas.
É com o espírito de manipular material já analisado que nos propusemos a retomar a
análise do material arqueológico oriundo de três sítios pesquisados em fevereiro e outubro/73
e em novembro/74. Os sítios foram localizados por CARGNIN (sítio 134) e por CARGNIN e
NAUE (sítios 090 e 162). Acreditamos que ao escavar um sítio, o arqueólogo usa sempre as
mais modernas técnicas disponíveis naquele momento. Com o passar do tempo, surgem novos
métodos de escavação, novas preocupações, novos enfoques e novos critérios metodológicos
de análise dos componentes materiais dos sítios. Assim, quando se retoma a pesquisa com
algum material já analisado, pode-se fazer uma releitura das peças, o que sem dúvida
enriquece nosso conhecimento. Com esta disposição, retomamos um material já manipulado.
Pelas informações que dispomos, o material oriundo destes três sítios foi analisado durante os
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anos de 1974 e 1975 no Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, mas os resultados não foram publicados.
Na perspectiva acima delineada, ou seja, que o tempo propicia novas análises, fica
bem clara a caracterização da arqueologia como ciência social. É o tempo — e cada novo
tempo é uma nova releitura — que dimensiona cada nova perspectiva de análise. Esta
dimensão traz uma carga muito grande, pois de ciência que procurava juntar porções da
cultura material de uma determinada sociedade e assim dar-lhe coerência, hoje a arqueologia
visualiza a realidade pela ótica do social, enquanto ciência de relação. Quando a arqueologia
era apenas um coletar e listar de peças, dizia-se:
“Uma exploração arqueológica é muito parecida com uma
investigação policial, baseada num conjunto de pressupostos. O
arqueólogo pode ser comparado a um inspetor de polícia que, do seu
escritório, após ter computado e dissecado os relatórios vindos dos
investigadores, das testemunhas e dos diversos serviços e laboratórios,
reflete, deduz e, pela acumulação progressiva, por vezes lenta, das
“provas”, chega a reconstruir logicamente um retalho da vida, uma
história temporal, um drama antigo, chega mesmo a colocá-los no
contexto, a incluí-los numa sucessão cronológica. Como num
inquérito policial bem conduzido, nenhum indício, por mínimo que
seja, deve ser negligenciado. Um caco de cerâmica, pedaço de madeira
carbonizada, um pouco de poeira, um fragmento qualquer, uma vez
analisado no laboratório, pode fornecer ao arqueólogo que estuda a
estação, indicações preciosíssimas. Só um conjunto denso de "provas"
poderá permitir ao investigador formar uma opinião válida e próxima
da verdade... Pode, pois, deduzir-se do homem do passado aquilo que
somos. Se eu gosto da arqueologia é porque nada do que é humano me
é indiferente e porque o maior tema de estudo (e de infinita admiração,
aliás) é para mim o homem” (FRÉDÉRIC, 1980: 13-14 e 21).
Hoje, o conceito que temos da ciência arqueológica é algo bem mais denso ...
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“Existe um consenso amplo sobre a noção de que a compreensão de
nosso atual contexto histórico, bem como as interpretações sobre o
processo global de desenvolvimento das sociedades humanas, só é
possível pela perspectiva diacrônica que se torna viável pelas
pesquisas arqueológicas e históricas do passado. Assim, as pesquisas
arqueológicas e históricas sobre o nosso passado indígena ou colonial
não devem ser vistas de maneira inconseqüente nem como
conhecimento inútil” (KERN, 1991: 11).
Seguindo esta linha de raciocínio, temos que admitir a arqueologia como uma ciência
com métodos, objetivos e variáveis próprias. O que se aprende em arqueologia diretamente
diz respeito à história do homem, à história da sociedade humana.
“A Arqueologia estuda, diretamente, a totalidade material apropriada
pelas sociedades humanas, como parte de uma cultura total, material e
imaterial, sem limitações de caráter cronológico ...
Por detrás do universo dos objetos, a cultura material busca o
universo dos homens e das suas relações sociais” (FUNARI, 1988: 11
e 12).
Assim, a arqueologia busca captar dos homens mais do que a simples prova material
do que foi confeccionado, capta o ser humano em seu sentido mais amplo, não limitado pela
barreira temporal.
O que a arqueologia nos mostra não é a confecção de peças do artesão “A” ou “B”,
mas nos mostra objetos feitos por um homem, homem enquanto ser construtor do seu próprio
destino.
Por isto, apesar de nascer no passado, a arqueologia aponta para o futuro. É com o
estudo das gerações que nos precederam que cimentamos o caminho para as gerações
seguintes. Estamos preocupados com o HOMEM no seu aspecto mais genérico, seja o que
existiu no passado, o que agora existe, ou o homem que existirá.
Portanto, compartilhamos com a idéia de COURBIN (1988), quando afirma:
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“Então, o esforço da arqueologia é o conhecimento do passado
humano, uma melhor compreensão do passado, e portanto, da própria
natureza do homem” (COURBIN, 1988: 151).
No concernente ao Rio Grande do Sul, sabemos que a presença humana pode ser
bastante recuada.
“A mais remota ocupação do atual território oriental da bacia platina
só pode ser compreendida como uma continuação histórica do
povoamento da América, durante e após a última glaciação. A datação
mais antiga que possuímos para a chegada dos primeiros caçadores-
coletores é de 12.770, mais ou menos 220 A.P.” (KERN, 1994: 32).
Concordamos com KERN (1994) quando afirma: Na região do planalto, os
indígenas...
“Deviam estar estabelecidos ali já antes de 6.000 A.P., ou seja, desde
a retomada do desenvolvimento das paisagens vegetais, após os
períodos secos do final da última glaciação” (KERN, 1994: 32 e 51).
Torna-se muito difícil colocarmos os três sítios dentro de uma mesma fase, pois um
deles está bem mais ao norte do que os outros dois.
O sítio 162, da calha do rio Uruguai, poderia encaixar-se na fase Caaguaçu
(MILLER, 1969a). Nesta fase, os sítios são caracterizados por bifaces em ângulo obtuso,
raspadores, percutores, mão-de-pilão, talhadores, etc.. Esta fase está datada em 4000 anos
A.P.
Segundo KERN, (1991a: 109), neste mesmo período (4000 a 2000 anos AP.), uma
floresta subtropical cobria o planalto do Rio Grande do Sul e se encaixava nos vales do rio
Jacuí, onde ocorriam vários sítios da Tradição Humaitá. Há fortes possibilidades de que os
sítios 121 e 134 pertençam à fase Canhemborá (BROCHADO, 1971: 25), embora nos sítios
não tenham sido encontrados artefatos semi-polidos nem petroglifos. Alertamos que o
chamado abrigo do Canhemborá, com arte rupestre, dista apenas 8 km dos sítios.
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Em outra perspectiva, justificamos nossa abordagem pela necessidade de padronizar
a metodologia de análise. A terminologia usada pelos arqueólogos nem sempre é precisa, há
momentos em que a mesma peça recebe dois nomes e há casos em que duas evidências
díspares são descritas sem que suas diferenças estruturais sejam explicitadas.
Assim, se pudermos oferecer uma metodologia de análise que auxilie a driblar as
lacunas acima, estaremos colaborando para uma melhor compreensão da pré-história gaúcha.
As tabelas usadas para a análise das lascas e dos implementos líticos, bem como o
estabelecimento dos nove (9) tipos definidores da Tradição Humaitá (ver anexos), tentam
resolver este problema. No momento em que estabelecemos estes nove tipos, vemos
maximizada a possibilidade de analisar mais sítios arqueológicos em outras latitudes, usando
sempre esta mesma hipótese, isto é, colocarmos os remanescentes líticos em nove tipos
estabelecidos. A possibilidade de realizarmos este enquadramento nos parece uma atitude
consistente dentro da preocupação de estabelecermos uma classificação tipológica, usando,
desta maneira, a mesma metodologia.
I.1. CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS
A idéia de resgatar uma parcela da pré-história gaúcha passa por adequar o material
lítico de três sítios arqueológicos às tradições líticas já definidas.
Nesta perspectiva, não nos interessa discutir os limites das classificações existentes,
mas inserir o material arqueológico oriundo destes sítios em tradições já estabelecidas.
O raciocínio que nos impulsiona para a colocação destes sítios em uma tradição
determinada é o seguinte: queremos obter informações sobre o material lítico destes sítios e
adequar estas informações a um "corpos" teórico já conhecido. Em suma, queremos
classificar estes sítios dentro de limites já estabelecidos. O ato de classificar não é
exclusividade apenas da Arqueologia, é uma ação constante em todas as ciências. É através do
ato de classificar que ordenamos o aparente caos da realidade em categorias sistemáticas, cujo
comportamento pode ser observado, descrito e compreendido. Em qualquer campo científico,
a base da análise repousa na construção de uma boa classificação. Se bem feita, uma
classificação nos permite compreender melhor a origem, o desenvolvimento e relações
concernentes ao fenômeno que estamos pesquisando.
Se tomarmos, por exemplo, a química, notamos que os cientistas deste campo de
conhecimento observam o mundo decodificando-o nos diversos elementos constituintes, ou
seja, os elementos químicos. É da combinação destes elementos que se produzem todos os
milhões e milhões de objetos que fazem parte de nossa existência, desde uma ameba a um
cometa.
A aplicação universal de uma classificação e nomenclatura singulares é o que
permite o intercâmbio dos resultados. Sem uma classificação, um cientista não conseguiria
comparar os resultados de sua pesquisa — qualquer pesquisa — com os resultados do
trabalho de qualquer colega. Uma classificação está acima das barreiras representadas por
outra língua, outra nacionalidade, outro credo político ou outra localização geográfica.
Não é por acaso que as ciências fisicas foram as primeiras a desenvolver esquemas
classificatórios. Nós, seres humanos, ao olhamos o mundo que nos rodeia, usamos nesta
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intermediação os nossos sentidos. Esta busca de classificação nos leva a observar os
elementos químicos que, aos nossos sentidos, parecem comportar-se como categorias
mutuamente exclusivas e facilmente passíveis de descrição. Hoje em dia, sabemos que a
natureza não se comporta de uma forma tão linear e previsível assim, mas a complexidade que
a ciência moderna nos mostra não invalida a origem do processo, que apesar de ter sido
pensado de uma forma muito simples, sofreu apenas acréscimos, não alterações estruturais.
O final do século XVIII e parte do século XIX assistiu ao descobrimento de fósseis,
aos primeiros passos da genética e aos primeiros passos da teoria da evolução. Nesta
perspectiva, o naturalista LINEU encontrou um sistema para a classificação dos organismos
vivos usando categorias taxonômicas que funcionam num crescente: espécie, gênero, família,
ordem, classe e filo, cuja aplicabilidade prática é maior do que a simples descrição, pois
privilegia também aspectos cronológicos e evolutivos, ou seja, trata-se de uma idéia de
classificação incontestável.
Claro está que as coisas não são assim completamente imutáveis: as espécies variam
no decorrer do tempo e os processos de hibridização nem sempre são mensuráveis, pois não
podem ser observados em formas fósseis.
Dentro das espécies há também variações, algumas anuais e algumas em ritmos
irregulares com séculos de intervalos. Também do ponto de vista dos espaços ocupados, as
espécies apresentam variações geográficas distinguíveis.
Do ponto de vista da arqueologia, as "espécies" que classificamos geralmente são
implementos líticos e/ou cacos cerâmicos. Se tomarmos o exemplo da cerâmica, e tentarmos
abordá-la segundo uma classificação, teremos que tomar alguns cuidados: há diferenças de
função, de estilo, de variações na matéria-prima e de habilidade manual de cada ceramista
individualmente. Estas dificuldades tornam árduo o caminho até chegarmos a critérios
universalmente aceitáveis. Isto ocorre não somente se compararmos duas classificações
oriundas de locais diferentes, mas também entre aqueles arqueólogos que trabalham na
mesma área. Por isto, os procedimentos classificatórios nem sempre são completamente
comparáveis.
Segundo MEGGERS & EVANS (1970: 1-11), vários conceitos usados na
classificação biológica podem ser aplicados, com quase nenhuma alteração, aos
procedimentos de análise da cerâmica arqueológica. Assim, quando os biólogos falam:
“Todas as populações variam, e a variação é parte essencial de sua natureza e
definição”, um arqueólogo diria: “Todos os tipos cerâmicos variam, e a variação é uma parte
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essencial de sua natureza e definição”; quando um biólogo fala “o verdadeiro objeto da
investigação, a população na natureza, pode raramente ser observado diretamente e como um
todo. Deve-se proceder por inferência a partir da amostra estatística”. O arqueólogo diria: "O
verdadeiro objeto da investigação, a cerâmica em seu contexto cultural, pode raramente ser
observada diretamente e como um todo. Deve-se proceder por inferência a partir da amostra
estatística"; quando um biólogo fala: “A construção de classificações formais de grupos
particulares é parte essencial e um útil resultado do esforço de taxonomia; mas não é o
objetivo total ou mesmo focal. O objetivo da taxonomia é compreender os agrupamentos e
relacionamentos dos organismos em termos biológicos”. O arqueólogo diria: “A construção
de classificações formais de complexos cerâmicos particulares é uma parte essencial e um útil
resultado do esforço da taxonomia; mas não é o objetivo total ou mesmo focal. O objetivo da
taxonomia é compreender os agrupamentos e relacionamentos das classes em termos
culturais”.
Quando um arqueólogo se vê frente a frente com um volume razoável de cacos
cerâmicos, ele procura as semelhanças, não as diferenças. É pelo critério de semelhança que
as peças são agrupadas. Uma peça inteira ou um fragmento atípico irá interessar r: menos que
a maioria dos cacos, os quais tenderão a agrupar-se em tomo de algumas variáveis. Esta
primeira separação deverá resultar num número relativamente pequeno de tipos, e deverão
restar poucos cacos que não se enquadram dentro do limite de variação de um dos tipos.
Quando um arqueólogo encontra um sítio, na verdade ele encontra os restos de um
local que já foi ocupado. Os artefatos — no nosso caso a cerâmica — encontram-se
distribuídos pela área em que existiu o acampamento ou a aldeia, de modo que o perímetro da
aldeia limita a área de ocorrência das peças cerâmicas. Quando um recipiente se quebra, a
maioria dos cacos conservam-se como um registro do que era feito e usado o te em que o sítio
era habitado. Portanto, o encontro destes cacos nos retrata os tipos mais comuns de artefatos
usados pelo grupo.
Segundo MEGGERS & EVANS:
... “A observação dos padrões de mudanças de popularidade dos
diferentes tipos cerâmicos fornece a base para a construção de uma
escala relativa de tempo que pode ser usada para estabelecer a relação
cronológica de qualquer sítio com todos os outros que apresentem o
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mesmo conjunto de tipos cerâmicos” (MEGGERS & EVANS, opus
sit, p. 10).
Apesar de usarmos exemplos da área de abrangência da cerâmica, sabemos que o uso
de procedimentos taxonômicos pode ser aplicado em vários tipos de artefatos, como pontas de
projétil e outros implementos líticos. O que se exige é que tenhamos um número significativo
de peças ou implementos — os biólogos falariam em indivíduos — para podermos ter
resultados dignos de confiança.
Adverte-se que devemos trabalhar sempre com mais de 100 cacos, para poder
manipulá-los estatisticamente. A cerâmica é o melhor instrumento para construirmos uma
cronologia, e a cronologia é o maior desiderato para todos os tipos de reconstrução e
interpretação que os arqueólogos buscam.
As idéias de “tradição” e “fase” são as adotadas pelo PRONAPA. Assim, por
tradição, entende-se o
... “Grupo de elementos ou técnicas que se distribuem com
persistência temporal” (CHMYZ, 1966: 20; 1976: 145).
A base desta definição encontra-se nos teóricos norte-americanos que forneceram a
base intelectual do citado PRONAPA. Assim, tradição é:
“Fundamentalmente, uma continuidade temporal representada por
configurações persistentes em tecnologias únicas ou outros sistemas
de formas relacionadas” (WILLEY & PHILLIPS, 1958: 37).
Por fase, compreende-se:
..."Qualquer complexo de cerâmica, lítico, padrão de habitação,
relacionado no tempo e no espaço, em um ou mais sítios" (CHMYZ,
1966: 14; 1976: 131).
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Segundo a definição clássica americana, fase é:
... “Uma unidade arqueológica que possui traços suficientemente
característicos para distinguí-la de todas as outras unidades
similarmente concebidas, seja da mesma ou de outras culturas ou
civilizações, especialmente limitada pela magnitude de uma localidade
ou região e cronologicamente limitada a um intervalo de tempo
relativamente breve” (WILLEY & PHILLIPS, 1958).
Sabemos, por outro lado, que conceitos como fase e tradição apenas representam um
artifício do arqueólogo, não correspondendo, de nenhuma maneira, a compartimentos
fechados e verdades imutáveis. Isto fica claro na afirmação abaixo:
“Os conceitos de fase e de tradição não são senão unidades
arqueológicas artificiais e não podem ser confundidas com culturas,
levando-se em conta que na maioria dos sítios arqueológicos pré-
cerâmicos as condições climáticas reduziram a cultura original dos
grupos caçadores a raros vestígios. Este quadro conceitual é uma
armadilha útil face à impossibilidade de utilização dos conceitos
europeus” (KERN, 1991a: 92).
As pesquisas arqueológicas no Brasil ocorrem há muito tempo, porém um verdadeiro
divisor de águas foi implantado quando do estabelecimento do "Programa Nacional de
Pesquisas Arqueológicas" (PRONAPA). O PRONAPA representou a primeira tentativa de
reunir um grupo de arqueólogos, com uma metodologia em comum, com uma mesma
coordenação e com os mesmos objetivos, que se propuseram a atuar no Brasil.
O coordenador do Centro de Ensino e Pesquisas em Arqueologia (CEPA) da
Universidade Federal do Paraná, José Loureiro Fernandes, conseguiu promover, em outubro
de 1964, a vinda de Betty J. Meggers e Clifford Evans, que realizaram um curso sobre análise
cerâmica e construção de cronologias relativas. O curso foi freqüentado por professores
brasileiros que já atuavam com arqueologia em diversas unidades da Federação. Foi a grande
oportunidade para estas pessoas reunirem-se e estabelecerem metas comuns.
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Após o encontro, MEGGERS e EVANS percorreram várias instituições brasileiras,
observando o trabalho desenvolvido por cada arqueólogo.
O programa começou em 1965, tendo por base o "Preliminary Draft of a Proposal
for a Program of Archaeological Survey and Testing in Brazil".
Segundo DIAS (1994):
... “O modelo proposto por Meggers e Evans consistia em um
desdobramento para o território brasileiro de suas pesquisas quanto às
rotas de migração e difusão cultural nas terras baixas da América do
Sul. Segundo os autores, (na proposta listada acima), o Brasil
apresentava grandes possibilidades de complementação à pesquisa que
ambos vinham desenvolvendo na instituição (a Smithsonian
Institution, onde ambos trabalhavam), pois suas fronteiras políticas
eram formadas pelos três maiores sistemas hidrográficos das terras
baixas, o Amazonas, o Orenoco e o Paraná. Sua linha de trabalho
baseava-se no pressuposto de que os povos movem-se principalmente
ao longo dos rios” (DIAS, 1994: 15).
Assim, o principal objetivo do PRONAPA seria
... “estabelecer um esquema cronológico de desenvolvimento cultural
no País, desde os primeiros indícios de ocupação humana até o
desaparecimento dos complexos culturais indígenas, após o contato
com o europeu” (Idem, ibidem, p. 16).
Segundo os manuais que ditaram o padrão de pesquisas do PRONAP A, os trabalhos
de campo objetivavam coletar amostras para traçar padrões cronológicos a partir de seriações.
De acordo com a proposta, seqüências seriadas semelhantes para uma mesma região seriam
reunidas em fases que, por sua vez, formariam tradições. Recomendava-se a coleta de todas as
peças líticas e de todos os cacos cerâmicos. Ansiava-se por coletas superiores a 100 cacos,
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para serem trabalhados estatisticamente recomendava-se também, se possível, a realização de
um ou dois cortes estratigráficos para a confecção de seqüências arqueológicas locais.
Com estes procedimentos, pouco a pouco foram descobertos milhares de sítios, e
hoje em dia temos condições de definir claramente as tradições arqueológicas brasileiras,
nestas incluindo-se a tradição Humaitá. Para a correta definição desta tradição, nos baseamos
em SCHMITZ, 1981; SCHMITZ & BROCHADO, 1981; HOELTZ, 1995 e KERN, 1984.
Possui, no dizer de SCHMITZ (1991), peças características como talhadores grandes,
chopping-tools, choppers, picões, raspadores grandes, raspadores plano-convexos, raspadores
laterais e perfuradores. Não é uma constante, mas em algumas fases aparecem bifaces ou
machados de mão com uma ou as duas extremidades ativas, ou bifaces com forma de
bumerangue. SCHMlTZ (1991) afirma, e nosso trabalho também aponta nesta direção, que
raramente os sítios Humaitá nos fornecem materiais com polimento, como moedores,
trituradores manuais, bolas com sulcos, discos grossos para moer. Não aparecem pontas de
projétil bifaciais líticas.
Sabemos que a tradição Humaitá continua nas áreas florestais de Missiones
(Argentina e Paraguai) com a denominação de tradição Altoparanaense. SCHMITZ, (1981 :
114-6) tem toda a razão quando afirma que esta tradição parece ter se desenvolvido como
resposta de grupos caçadores-coletores das partes altas da bacia dos rios Paraná e Uruguai e se
manteve, já que estes nichos ecológicos não foram ocupados por grupos mais desenvolvidos.
Em outro trabalho, SCHMITZ & BROCHADO (1981) detêm-se na descrição da
cobertura vegetal, nos informam que o planalto é o habitat da Araucária. Quando baixamos
de 500 m de altura, a selva de tipo subtropical começa a opor resistência e limita a presença
da Araucária. Os vales são ocupados por extensas matas de galerias e ~ o espaço entre os
vales por campos naturais. (SCHMITZ & BROCHADO, 1981: 140).
Sabemos que cada peça arqueológica significa um volume estático de informações,
que só se tornam disponíveis após a análise. Esta análise traz as sociedades pretéritas para o
nosso campo de visão, tornando-as algo vivo e compreensível. Concordamos com BINFORD
(1988) quando afirma:
“Asi pues, el desafio que la Arqueologia plantea consiste en la
transcripción, de manera literal, de Ia información estática contenida
en los restos materiales observables para reconstruir la dinámica de la
vida en el pasado y estudiar las condiciones que ham hecho posible
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que estos materiales hayan sobrevivido y llegado hasta nosotros. Este
desafio, que sienten muchos .arqueólogos es enorme y nada fácil de
afrontar, porque exige de nosotros una mejor comprensión de nuestras
propias interacciones con el mundo material. Después de todo,
raramente pesamos atención a la manera en que nuestro
comportamiento puede modificar nuestro contexto material y dejar
huella sobre lo que sucede en nuestra vida cotidiana simplesmente, no
contemplamos el mundo desde esta perspectiva. Sin embargo, el
arqueólogo debe prepararse para hacerlo así. Debe llegar a interesarse
por asuntos bastante vulgares: cómo dispone la gente de su basura?
Cúando consideran que algo ya no es útil y debe ser sustituído o
reutilizado con etros fines? La información sobre estas decisiones,
decisiones que modifican la forma y ordenación de los objetos
materiales, es fundamental para los arqueólogos que (esperan ser
capaces de "descifrar" y "leer" el registro arqueológico en términos de
aquellos aspectos del pasado que les interesan” (BINFORD, 1988 :
24).
Pensamos na mesma direção: o arqueólogo é um agente do processo social, suas
ações apresentam ressonância na coletividade. Assim, nossas ações estão atreladas a um todo
social. Isto nos coloca na obrigação de olharmos a sociedade com "olhos de arqueólogo", ou
seja, devemos olhar o presente e estabelecer pontes com o passado. Nesta perspectiva, o
arqueólogo é o ser social responsável por uma ligação entre o passado e o presente. Esta
ligação é um caminho de duas vias. Se, por um lado nos cabe "ler" e "decifrar" os objetos do
passado, nos cabe também a obrigação de olharmos nossa sociedade e transportarmos nossas
vivências para a realidade que estamos escavando. Assim sendo,
... “Los arqueólogos estudian nas sociedades del pasado,
principalmente através de sus restos materiales — las construcciones,
útiles y demás artefactos que constituyen lo que se conoce como la
cuhura material dejada por aquéllas” (RENFREN & BAHN, 1993: 9).
21
Especificamente no que diz respeito às tradições arqueológicas brasileiras, a tradição
Humaitá é caracterizada ... “por sítios geralmente a céu aberto”... tratam-se de "sítios-
habitação e sítios acampamento"..., embora a diferença não seja, às vezes, perfeitamente
evidenciada. Localiza-se "à beira dos principais rios, riachos e arroios". "Todos os sítios da
tradição Humaitá são caracterizados por uma indústria talhada em meta-quartzito e em rochas
efusivas (basalto, diabásio, perfirito)" os materiais líticos desta tradição ... "são talhados, na
maioria dos casos, por percussão direta"... e ..."na aparência geral dos utensílios da tradição
Humaitá pode ser bastante tosca. As dimensões mais freqüentes são médios e grandes
talhadores" (KERN, 1981: 15).
Em recente trabalho, HOELTZ (1995) define claramente a tradição:
“A indústria dos caçadores-coletores da tradição Humaitá caracteriza-
se pelos artefatos bifaciais médios a grandes, confeccionados sobre
seixos, blocos e placas (desprovidos de retoques) cobertos mais de
dois terços por superfície natural” (HOELTZ, 1995: 182).
O grupo portador desta tradição é conhecido como “Altoparanaense” nos países de
língua espanhola. Assim,
... “Hay que aclarar que el Altoparanaense, o instrumientos
associables a el, se distribuyen por el sur de Brasil relacionándose con
la tradición Humaitá. En el Alto Uruguai, a partir el 10.000 A.C. e un
poco después, talvez por aumento de temperatura y de humedad,
parece empezar a aparecer el Altoparanaense en campamentos
ribereños, como consecuencia de una reducción de las áreas verdes y
consiquentemente en la cacería, y un incremento en la recolección de
moluscos de agua dulce. Hasta el 4.500 A.C. un aumento en la
temperatura y la humedad y un incremento en las áreas verdes habían
permitido una dispersión de los cazadores-recolectores de nódulos de
meláfiro, con instrumientos por percusión directa, sin puntas de
proyectil, de la tradición Humaitá Altoparanaense, por las selvas
22
subtropicales bacia Misiones y el este paraguayo" (CAGGIANO,
1984: 12).
Estes caçadores-coletores a que CAGGIANO (1984) se refere foram encontrados no
oeste de Santa Catarina e assim descritos.
Um outro autor nos diz:
“A ocupação inicial foi marcada por uma cultura muito antiga, datada
de 8.500 A.C. (...) Os sítios arqueológicos desta cultura apresentam-se
profundamente enterrados nas barrancas do rio Uruguai. A indústria
lítica caracteriza-se por instrumentos de pedra lascada apresentando
grandes núcleos com nítidas evidências de retiradas ocasionais, que
demonstram a falta de domínio da técnica de lascamento e o mau
aproveitamento da matéria prima pelos caçadores nômades da
época”... (ROHR 1966: 9 e 10).
Outro arqueólogo nos diz que:
“As indústrias líticas encontradas em sítios da tradição Humaitá são
lascadas por percussão direta, na quase totalidade dos sítios. Mesmo
em sítios não classificados como sítio-oficina são encontrados
percutores de pedra. Apenas na fase Pirajuí (PR) há referência a
alguns artefatos lascados por percussão bipolar. Esta técnica parece
ser muito comum em São Paulo (Rio Claro), mas não caracteriza a
tradição Humaitá. Nas indústrias desta, mesmo os retoques são feitos
por percussão direta, entretanto de maneira mais cuidadosa e
controlada, como se pode perceber nas facas, furadores e bifaces. São
um exemplo típico os retoques na extremidade distal dos bifaces
bumerangóides de Missiones (Argentina) e Itapiranga (SC). A
aparência geral das indústrias da tradição Humaitá é talvez um pouco
23
rudimentar, os utensílios são de tamanho avantajado e muitas vezes
pesados” (KERN, 1984: 208).
Diante desses dados, como trabalhar com os resultados obtidos?
“Para proceder cientificamente, o arqueólogo deveria sempre procurar
a documentação e questioná-la a partir de hipóteses específicas,
advindas do corpos teórico da Arqueologia (Antropologia), as quais,
para serem válidas, deveriam submeter-se a testes. Só assim seria
possível apresentar explicações dignas de fé e contribuir para a
formulação de leis genéricas do comportamento cultural: e é isto que a
tornaria então, uma ciência útil e relevante” (MENESES, s/d: 5).
Além disto, temos consciência que a realidade pré-histórica, como a nossa, era
profundamente dinâmica. Como não temos até agora ferramentas para atuar, levando-se em
conta este movimento, vamos imaginar uma realidade pré-histórica congelada, sem
movimentos, na qual os objetos resgatados pela pesquisa representam uma situação estática,
como se estivessem à espera de nossa análise. Fazemos esta afirmação:
... “Because hunter gatheres have changing densities and food
abundances ever time, we should expect their diets also to change
every time. These dietery changes never and since the hunter-gatherer
populations are predicted to have a stable limit cycle. This means that
the diet over exploited to extinction” (BELOVSKI, 1988 : 349).
A análise que neste momento fazemos da tradição Humaitá segue os parâmetros
definidos no PRONAP A, embora existam posições diferentes. HILBERT (1994) afirma:
... “Podemos inferir que estas culturas Pampa-Planalto (Umbu-
Humaitá) constituem uma única cultura de caçadores-coletores, que
utilizou diferentes ambientes em épocas distintas. Esta utilização
24
diferenciada dos respectivos ambientes (Pampa-Planalto) está
relacionada à localização dos sítios e composição e confecção dos
instrumentos líticos” (HILBERT, 1994: 13).
Portanto, embora não desconhecendo esta posição, optamos pela idéia mais
tradicional, ou seja, considerar a tradição Humaitá como algo à parte, para nos mantermos nos
limites do nosso trabalho.
Tendo em vista os interesses imediatos desta Dissertação de Mestrado, criamos nove
tipos para definir o material lítico dos sítios analisados. Um primeiro grupo de peças —
lascas, núcleos, peças com evidências de uso — foram analisadas de acordo com uma lista de
atributos específicos, que pode ser visto nos anexos do presente trabalho. Um segundo grupo
de peças — as não oriundas de lascas — foram analisadas de acordo com um programa que,
ao final de cada análise individual, a remeteu para um grupo específico. Isto foi feito na
perspectiva de aplicar uma classificação, isto é, uma análise com critérios definidos, sobre
material arqueológico.
Valendo-nos de um autor clássico, concordamos com a informação abaixo:
“Classer, c'est-à-dire, nommer les choses, est donc la premiere
condition de toute science collective et communicable, de toute
science pouvant progresser par le travail des générations successives.
C'est une condition, une necessité d'ordre pourl'esprit, mais c'est aussí
une occasion dérreurs, une cause fréquente et inévitable d'illusions à
laquelle aucun esprit n'echappe complètement. Il n'est pas un de nos
savants qui no soit plus ou moins la adupe de ces créations verbales;
pas une des branches du savoir, aujourd'hui si multiplliées et tant
subdivisées, qui n'ait, à diverges reprises, été entravée dons son
dévelopement par corte condition logique du savoir humain et pour
laquelle certe nécessité d'ordre ne soit devenue une cause de dèsordre
et d'arrêt momentané. De sorte que, souvent, un progres scientifique
est retardé par la seule difficulté qu'on éprouve substituer un mor à
autre et à briser lórdonnance des categories établies” (BRÉZILLON,
1971: 11).
25
Quando analisamos nosso material lítico, chegamos ao estabelecimento de nove
tipos, mas esta perspectiva não nos impede de observarmos este mesmo material conforme a
ótica de outros autores, como COLLINS (1989/90) e outros. Desta maneira, usamos também
duas listas para a análise do material lítico em que este é examinado conforme variáveis que
são aplicadas em todas as peças. Esta análise nos permitiu transformar cada peça em um
conjunto de números na mesma seqüência, o que foi fundamental para conhecermos cada
detalhe, cada instrumento lítico. Não desconhecemos o importante papel que uma análise
tecno-tipológica pode fornecer, e assim conscientemente optamos por estabelecer estes tipos
definidores, que nos remetem a aceitar como válida a colocação destes três sítios dentro da
tradição arqueológica Humaitá, na perspectiva de não contestarmos este modelo de análise
que nos remete a uma tradição conhecida, embora tenhamos consciência que existem outras
formas de análise.
COLLINS (1989/90) descreve um modelo teórico em que o material lítico é
adquirido, passa por uma série de manipulações até ser usado e finalmente descartado.
O modelo está calcado em cinco passos:
1 - Obtenção da matéria prima;
2 - Preparação e redução inicial do núcleo;
3 - Lascamento primário, opcional;
4 - Lascamento secundário e formatação, opcional;
5 - Conservação.
Destes, com certeza, nossos instrumentos são testemunhas. Ao menos os passos de
número 1, 2, 4 e 5 são palpáveis. Isto não significa que, por exemplo, o passo 3 não tenha sido
executado, apenas não foi detectado. Além disto, várias outras manipulações podem ter sido
executadas, mas destas não temos as provas.
No dizer do autor,
... “De una cultura particular se puede esperar que talle sus objetos de
piedra usando sólo un conjunto limitado de combinaciones posibles de
técnicas y opciones. En otros términos, cualquier tecnología lítica
específica está estructurada en respuesta a las necessidades de la
cultura, elección, cualidad y conocimiento de los artesanos, así como
los factores clase, cantidad y calidad de la matéria prima” (COLLINS,
1989/90: 52).
26
Neste estudo, o autor discute a obtenção da matéria-prima, afirmando que os artesãos
se abastecem do material necessário para a produção de objetos líticos através da articulação
direta ou indireta com o ambiente físico.
Após isto, deve transformar a matéria-prima em uma forma apropriada para usar
como ferramenta ou então a encaminha para uma maior redução.
Os núcleos ou lascas resultantes da etapa anterior podem ser lascados antes de
usados, ou usados posteriormente. Nesta fase o que se quer mesmo é a formação, assim se
entendendo o momento em que a peça atinge um aspecto compatível com o que o grupo
sanciona como o padrão. No nosso caso específico, pensamos que o grupo prevê dois padrões
distintos:
a) formas bumerangóides, aqui se incluindo os tipos pré-bumerangóide,
bumerangóide semi-infletido e bumerangóide;
b) formas foliáceas, aqui se incluindo os tipos biface ovóide/piramidal, biface com
grandes lascamentos, bifaces com concentração de massa no equador e biface clássico.
Outras formas, por serem úteis, não serão descartadas (ex.: chopping-tools) e
poderão mesmo surgir após mais manipulações (ex.: lascas) mas nos parece que as duas
formas apresentadas acima representam o desiderato do grupo, por exemplo, as formas em
que há lascamentos em duas faces, como a ferramenta conhecida como "Chopping- too1" .
Na seqüência do processo, pode ocorrer o que COLLINS chama "formação
secundária", assim se entendendo a confecção de lascas, serrilhado, denticulado, bise lado e
afins. Nesta etapa, as peças já se encontram aptas para serem descartadas, após intenso uso.
Como última etapa, o objeto pode passar por uma modificação ou manutenção
opcional. Pode ser simplesmente uma restauração dos atributos originalmente desejados,
como por exemplo a intensidade do fio. Por outro lado, bifaces quebrados, após operações
simples, podem ser transformados em raspadores.
Segundo o autor,
“El sistema tecnológico lítico puede verse como un sistema total en el
cual la matéria prima es extraída del medio fisico, modificada,
retenida por un tiempo como parte de un sistema cultural y,
finalmente, depositada en un contexto arqueológico” (Idem, ibidem:
58).
27
A seqüência de operações que COLLINS descreve é compatível com a idéia de
tipologia que estamos trabalhando. Ambas as idéias (seqüência de operações e tipologia)
podem ser identificadas dentro do universo lítico dos três sítios que estamos abordando.
A citação acima, sem nenhum tipo de alteração, pode ser aplicada aos nossos sítios.
Outro trabalho que nos abriu vários horizontes foi o texto de TERRADAS (1991),
enfatizando a análise do material lítico sob o enfoque da interdisciplinariedade, pois somente
assim poderíamos conseguir o máximo de rendimento na interpretação dos distintos
elementos que constituem o registro arqueológico. No dizer do autor, a matéria prima
constituinte da peça arqueológica, não pode ser
"considerada exclusivamente como una masa pétrea, sino como parte
de un objeto que ha surtid toda una serie de procesos de trabalo que
son la busca, selecclón y transporte de Iamatéria prima, su
transformación en unos suportes sobre los que r se realizaram
instrumientos, su utilización, y Ia pérdida o abandono de los mismos"
(TERRADAS, 1991: 141).
O trabalho em pauta está baseado em três porções distintas: marcos conceituais,
técnicas analíticas e a aplicação prática destas teorias a um exemplo determinado.
A principal idéia no tocante a estas técnicas é obter um método válido para conhecer
a área de captação das matérias-primas exploradas na pré-história. Fundamenta-se em
critérios científicos não arbitrários e quantificáveis.
Há um conjunto de arqueólogos que utilizam a metodologia do estudo macroscópico
dos objetos. Estes autores tentam estabelecer a influência da matéria prima no registro
tecnológico das indústrias que estudam. Buscam relacionar o tipo de rocha usada e as
categorias necrológicas representadas no registro arqueológico. Elaboram um índice de
utilização da matéria-prima baseado no seu estado de transformação.
Outra concepção considera os restos líticos como instrumentos de trabalho e baseia-
se na reconstrução dos processos de trabalho que deram lugar a um tipo de registro lítico
determinado. A reconstrução deve realizar-se a partir de vários níveis de análise: o estado das
matérias-primas exploradas, a análise mono-técnica dos distintos restos dos lascamentos, seu
estudo traceológico e sua distribuição espacial. Estes distintos estudos não devem ser
28
considerados como análises isoladas e independente devem portanto, inter-relacionar-se entre
si e com as demais categorias representadas no registro arqueológico.
Do ponto de vista do marco interpretativo acredita-se que se possa distinguir três
etapas:
a) estudo analítico;
b) estudo descritivo;
c) estudo interpretativo.
A fase analítica acontece quando as distintas porções da matéria-prima são
submetidas às técnicas de análise. O resultado será o estabelecimento dos pontos de origem
donde procedem as distintas matérias-primas.
A fase seguinte corresponde à descrição dos resultados das análises realizadas.
Descreve-se os recursos líticos existentes, suas variedades, localização, etc. Unindo-se com
linhas as fontes de obtenção de matéria prima com a localização dos objetos, obteremos os
movimentos que foram efetuados por um determinado grupo para apropriar-se de um recurso
lítico. Agora pode-se estabelecer um índice de transformação da matéria-prima a partir da
percentagem da mesma, que foi transformada ou modificada de alguma maneira.
No estudo das distribuições espaciais podem-se localizar no solo de ocupação
distintas associações ou acumulações que podem refletir a espacialização das atividades ali
realizadas.
No tocante à aplicação prática das técnicas analíticas a uma situação específica, o
autor nos traz o exemplo de estudos realizados em materiais líticos dos Yamam da Terra do
Fogo (Argentina). Localizavam-se no estreito de Beagle e eram grupos de caçadores-coletores
adaptados aos recursos marinhos. Sua presença está documentada a partir do quinto milênio
A.C. e extinguiram-se a partir da chegada dos europeus.
Aplicando-se as análises anteriormente propostas, o autor consegue vários dados
importantes para o conhecimento deste grupo e, nesta mesma medida, para o conhecimento da
pré-história americana nenhuma.
29
OBJETIVOS
I.2. OBJETIVOS GERAIS
I.2.1. Queremos associar o material analisado a alguma tradição cultural: sabemos
que os materiais arqueológicos não existem soltos na natureza. Então, já que temos à nossa
disposição uma parcela de material oriundo de um sítio arqueológico, desejamos inserir
estas peças em uma realidade já conhecida. Ao identificarmos este material como
pertencente a alguma tradição, estaremos tornando mais clara a pré-história brasileira. Para
isto, propomos algumas variáveis, que foram aplicadas aos três sítios que escolhemos. Em
todos os casos, o resultado que obtivemos foi bastante claro e apontou para a exatidão das
variáveis.
I.2.2. Estabelecer uma metodologia de análise: os materiais arqueológicos que
foram objeto desta dissertação, foram analisados segundo uma metodologia definida. Cada
artefato passou pelo mesmo processo de análise através de uma ‘serie de atributos
qualitativos e quantitativos codificados (ver lista anexa) transformando-se ao final em um
grupo de números, que foram manipulados para formar um todo coerente, um tipo. A
metodologia de análise assim definida deverá ser aplicada em outros materiais, oriundos de
outros lugares.
I.2.3. Contribuir para o estabelecimento de uma terminologia lítica brasileira. A
metodologia definida no sub-ítem anterior apontou para uma regularidade muito
consistente, ou seja, afora “lascas” (definidas em lista de atributos própria) e porções de
matéria-prima com evidências de uso, todas as peças foram analisadas segundo uma lista de
atributos específica, esta análise serviu para agrupá-las em nove tipos característicos. Temos
a pretensão de sugerir que estes tipos sejam os definidores de uma terminologia compatível
com a tradição lítica Humaitá. Além de consultar a bibliografia concernente — onde eles se
encaixam bem, todas as peças dos sítios analisados no âmbito desta Dissertação, foram
30
agrupadas nos nove tipos, não restando que não tenha sido encaixada em algum tipo
estabelecido. Isto nos autoriza a oferecer a terminologia sugerida como parte do esforço de
dotar a arqueologia brasileira de uma terminologia unívoca, instrumento eficaz em qualquer
tipo de análise.
31
1.3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1.3.1. Estabelecer critérios mensuráveis para definir a tradição Humaitá. Se
obtivermos êxito neste objetivo, acreditamos ter em mãos uma boa ferramenta de trabalho.
1.3.2. Organizar um conjunto de dados que possam ser aplicados a outros sítios. Com
a definição destes nove tipos, acreditamos estar aptos a usá-los não só neste caso específico,
mas também em outros.
1.3.3. Retomar a pesquisa em sítios já analisados, agora com um enfoque tipológico
novo.
1.3.4. Retomar a análise do material depositado em instituições culturais, com a
finalidade de que os mesmos propiciem maior número de dados comparáveis.
Se estes objetivos forem alcançados, então poderemos testar uma hipótese: conforme
a literatura existente (especificamente nos referimos a KERN, 1984), há sete variáveis que
definem a tradição Humaitá. Ora, se os sítios aqui estudados enquadram-se dentro destas
variáveis (ao menos em sua maior parte), estaremos frente a material desta tradição.
Para testarmos estas variáveis, nós a aplicamos ao conjunto de materiais líticos
oriundos dos três sítios que estamos analisando. Além disto, procuramos nos socorrer da
documentação existente no CEPA/PUCRS. Embora não nos tenha fornecido muitas
explicações, ajudaram a compor o quadro final de informações. De posse destes dados,
aplicamos ao nosso material as sete variáveis propostas por KERN (1984). Assim, obtivemos
os seguintes dados:
- Primeira variável: Trata-se de sítio-acampamento, habitação ou oficina? Não temos
informação;
32
- Segunda variável: Os sítios de Tradição Humaitá estão sempre instalados junto às
margens dos rios e arroios das grandes bacias do sul do Brasil (Paraná, Uruguai e Jacuí) tanto
nas várzeas como nos terraços e colinas vizinhas. Confere com nosso material.
- Terceira variável: Presença de indústria lítica e óssea, sendo o material lítico
geralmente de arenito silicificado e/ou basalto. Confere com o nosso material;
- Quarta variável: Técnicas de lascamento e retoque: lascamento por percussão
direta, retoque também por percussão direta, porém mais controlado. Confere com o nosso
material;
- Quinta variável: Utensílios característicos. Confere com o nosso material;
- Sexta variável: Proporcionalidade entre os utensílios conforme a região. Não temos
informação;
- Sétima variável: Relação entre tradição e o meio ambiente. A tradição Humaitá é
adaptação cultural ao meio ambiente de beira de rios e às florestas subtropical e tropical.
Confere com o nosso material.
Das sete variáveis, não existe nenhuma em que o material em análise discorde
frontalmente. Temos dois tópicos (correspondentes à primeira e à sexta variáveis) em que não
temos dados para realizar qualquer tipo de afirmação; as restantes cinco variáveis estão
perfeitamente contempladas, o que nos garante estarmos em presença de material da tradição
Humaitá.
Por outro lado, este material lítico foi compartimentado em nove tipos; se esta
separação estiver correta, então estes tipos representam a tecnologia compatível com a
tradição Humaitá e teremos então, com o emprego destes tipos, uma nova variável para
analisarmos material oriundo de sítios da tradição Humaitá.
Nos itens acima, cada vez que afirmamos "confere com nosso material", queremos
dizer que não há discrepância entre o enunciado da variável e o material analisado.
33
11.1. LIMITES DO TRABALHO
Ao levantarmos a documentação referente aos sítios tratados, observamos que eles
não foram desenhados, não foram mapeados, não foram registrados em nenhum diário de
campo e não foram fotografados. Estas faltas funcionaram também como uma barreira para
nós. Se tivéssemos a oportunidade de visitar a área dos sítios, certamente teríamos mais
dados, o que sem dúvida iria refletir-se em um maior volume de dados que teríamos nesta
dissertação.
Por outro lado, entramos em contato com as três prefeituras envolvidas: apenas a de
Nova Palma nos respondeu, fornecendo-nos também um mapa municipal (ver anexo). Com
esta solicitação, era nosso intuito obter mais dados.
34
II.2. OS SÍTIOS ANALISADOS
Quando apresentamos a proposta de Dissertação de Mestrado, era nosso intuito
analisar comparativamente quatro sítios do planalto do Rio Grande do Sul, para desta forma
termos uma visão clara da tradição Humaitá.
Escolhemos os sítios 090, 121, 134 e 162, cujos materiais estavam depositados no
Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul.
Posteriormente, (com. pesq. 26/09/94), obtivemos a informação de Guilherme Naue
que os dois sítios localizados em Nova Palma (sítios 121 e 134) eram contínuos. Tratava-se,
na realidade, do mesmo sítio, atualmente a área estava dividida entre dois proprietários,
passando a cerca divisória sobre o sítio. Assim, optamos por não considerar a existência do
sítio 121. O catálogo 134 recebeu então os dois conjuntos de materiais. Do número 1 até o
número 190, trata-se do sítio 134 em si; do número 191 até o número 340, trata-se antigo sítio
121. Quem os localizou foi o padre Daniel Cargnin. Em um dos sítios, o material já tinha sido
recolhido pelo proprietário do terreno e estava depositado numa garagem. Quanto aos sítios
090 e 162, foram pesquisados por Guilherme Naue e Daniel Cargnin.
Ao consultarmos o fichário do CEPA/PUCRS, obtivemos os seguintes dados:
- Sítio 090: Localizado na margem da Sanga Meneguetti, município de Irm.
Proprietário: Danilo Meneguetti. Sítio visitado em 17/02/73.
- Sítio 121: Localizado em Nova Palma, linha Bugres, município de Canhemborá.
Proprietário: Alécio Faco. Sítio visitado em 13/10/73.
- Sítio 134: Localizado em Nova Palma, linha Bugres, município de Canhemborá,
localizado a 300 m do arroio Bugres. Proprietário: Perfeto Osmare. Sítio visitado em
13/10/73.
- Sítio 162: Localizado em Várzea Grande, município de Sobradinho. Proprietário:
Teobaldo Schaurich. Sítio visitado em 06/11/74.
35
Observação: Até 1987 o distrito de Canhemborá pertencia a Nova Palma. Após esta
data, emancipou-se.
II.2.1. Dados sobre os municípios (cfe FEE, 1981 & INCRA, 1972).
lraí - Desmembrado do município de Palmeira (em 15/08/1933). O início do
povoamento da sede ocorreu em 1896. Antigamente chamava-se Águas do Mel. Conforme o
censo de 1950, conta o município com 1.782 km2. Localiza-se na sub-região do Alto Uruguai.
É uma sub-região bem ao norte do Estado, úmida e quente, coberta no passado por
densa floresta latifoliada e contornada por pinheirais frondosos e exuberantes.
A sua altitude média decresce no sentido da bacia do rio Uruguai e é de 305 m. A
temperatura média anual é de 19º C e sua pluviosidade média anual é de 1.812 mm. A
insolação no ano é de 2.213 horas, o que corresponde a 50% sobre o máximo possível.
Nova Palma - Desmembrado do município de Júlio de Castilhos. O início do
povoamento ocorreu em 1901. Localiza-se na sub-região "bacia do Jacuí". A topografia é
relativamente acidentada. Sua altitude média é de 254 m e a pluviosidade média anual é de
1.851 mm. A temperatura média anual é de 19,2º C. A insolação é de 2.300 horas/ano.
Sobradinho - Desmembrado do município de Soledade. O início do povoamento da
sede ocorreu em 1901. A instalação do município ocorreu em 19/12/1927. Antigamente
chamou-se Sobradinho e após, Jacuí. Localiza-se na sub-região Bacia do Jacuí. A topografia é
relativamente acidentada. Sua altitude média é de 254 m e a pluviosidade média anual é de
19,2º C. A insolação é de 2.300 horas/ano.
36
II.3. O MATERIAL ARQUEOLÓGICO
Passos para a análise do material lítico:
Dos três sítios que foram usados para elaborarmos esta dissertação, nos restaram
somente as evidências líticas, ou porque não existiam outras, ou porque não foram coletadas.
Para trabalharmos com este volume de informações, optamos por uma abordagem
que privilegiasse a tecnologia, que pode ser caracterizada através dos diversos atributos
observáveis e mensuráveis nas etapas de produção do material lítico, conforme preconizado
por COLLINS (1989/90). Os produtos daí oriundos podem ser os resíduos de lascamento e os
produtos acabados.
Tendo em vista os interesses imediatos desta Dissertação de Mestrado, criamos
alguns tipos para definir o material lítico dos sítios analisados. Um primeiro grupo de peças
— lascas, núcleos, peças com evidências de uso — foram analisadas de acordo com uma lista
de atributos específicos, que podem ser vistos nos anexos do presente trabalho. Um segundo
grupo de peças — as não oriundas de lascas — foram analisadas de acordo com uma lista de
atributos que ao final de cada peça, a remeteu para um grupo específico. Isto foi feito na
perspectiva de aplicar uma classificação, isto é, uma análise com critérios definidos, sobre
material arqueológico.
Para efeitos de análise, adaptamos duas listas de ALBERT (1994) e DIAS &
HOELTZ (1997). As duas listas estão assim caracterizadas:
1 - Lista de atributos para análise de instrumentos lítico lascados. Esta lista foi usada
para caracterizar as seguintes evidências: choppers, chopping-tools, bifaces e bumerangóides
todas são genericamente tratadas como PEÇAS.
2 - Lista de atributos para instrumentos líticos lascados. Esta lista foi usada para
caracterizar as seguintes evidências: lascas, núcleos, seixos com picoteamento provocado pela
ação de percutir, peças com alguma evidência de uso. Todas são genericamente tratadas como
LASCAS.
37
3 - Peças que não foram colocadas em nenhuma lista: seixos, porções de basalto,
porções de geodo, fragmentos de cristal de rocha, porções de arenito silicificado e termóforos.
A primeira lista, por abranger artefatos bifaciais, trata daqueles materiais que
sofreram lascamento em ambas as faces (dorsal e ventral) de uma mesma borda. Estes
artefatos correspondem ao grupo de produtos obtidos na terceira e na quarta etapa de
transformação de COLLINS (1989/90), ou seja, a etapa de lascamento primário e a etapa de
lascamento secundário e formatação. Sempre que existirem sinais de utilização, estes serão
descritos.
A segunda lista, além dos diversos tipos de lascas, inclui também os materiais líticos
lascados sem modificação. Trata-se de resíduos de lascamento que podem ser oriundos de
várias etapas, inclusive núcleos sem nenhum outro tipo de modificação. Esta lista aborda
também os materiais líticos lascados com modificação, cujos atributos caracterizam os
materiais que sofreram retoques ou apresentaram marcas de uso. Dentro das etapas de
classificação de COLLINS (1989/90), correspondem à segunda e terceira etapas, isto é,
núcleos e lascas utilizadas sem retoques, e núcleos e lascas retocados.
Nesta segunda lista contemplamos as lascas que não sofreram nenhum trabalho de
modificação, entendendo-se como marcas de retoques ou marcas de utilização. São lascas
oriundas do preparo de núcleos ou da confecção de artefatos. Algumas destas lascas foram
usadas e apresentaram marcas de retoque e/ou utilização e neste caso foram analisadas no
grupo de lascas com modificação.
Estas lascas são classificadas como "estilhas de lascamento" conforme LAMlNG-
EMPERAIRE (1967: 41). Trata-se de lascas nas quais não se observam nem retoques e nem
utilização, e foram descartadas após a fabricação de um objeto de lasca ou de um objeto de
bloco.
Nos trabalhos feitos no Brasil, muitas vezes os resíduos de lascamento não são
devidamente analisados. Não obstante, nos últimos 20 ou 30 anos, a maioria dos arqueólogos
desenvolve seus trabalhos a partir de uma perspectiva mais ampla, e neste sentido não só
peças, como também lascas e estilhas de lascamento são objeto de análise. Assim,
encontramos em RIBEIRO (1996):
... “Várias lascas mostraram retoques uni ou bifaciais e/ou sinais de
utilização, estes representados por bordos denteados ou com
microlascamentos (rasgar, cortar), formas irregulares e mais ou menos
38
quadrangulares, perfis convexos-triangulares, preparadas, isto é, sem
camada cortical, a maioria em arenito metamorfizado. As outras lascas
apresentam as mesmas características das anteriores” (RIBEIRO,
1996: 38).
Pensamos que isto ocorre porque os estudos tecnológicos de todos os implementos
de um sítio — e não só de instrumentos perfeitamente caracterizados -são ainda insuficientes.
Acreditamos que estes estudos são de substancial importância, pois podem nos trazer dados
sobre a confecção de certos artefatos. Segundo PROUS (1986/90):
... “É perfeitamente possível afirmar a existência ..., de peças bifaciais
ou de lâminas, apenas porque encontram-se resíduos característicos de
sua elaboração ... (e) ..., o estudo das lascas de refugo em geral
permite recompor os gestos técnicos da debitagem, os quais variam
freqüentemente de uma cultura para outra" (PROUS, 1986/90: 28).
Os atributos que foram identificados segundo as duas listas usadas, baseiam-se em
trabalhos de TIXIER et al. (1980), LAMING-EMPERAIRE (1967), BRÉZILLON (1977) e
MORAIS (1987). Os atributos identificados em cada peça lítica são os seguintes:
1 - Tipo de lista de atributos:
Informa-se qual lista que estamos usando:
1.1 - Básica - São as informações elementares para a identificação da peça;
1.2 -Modificação - São as demais informações sobre a peça;
2 - Número de catálogo: Número de código do sítio. Neste caso, pode ser número
162, 134 ou 90.
3 - Número individual - É o número seqüencial da peça dentro do universo do sítio.
4 - Forma da peça: triangular ou foliácea.
5 - Forma da peça: quadrangular ou bumerangóide.
39
Lista Básica
6 - Matéria-prima: A matéria-prima irá influenciar decididamente na forma e nas
técnicas de lascamento que foram empregadas. As matérias-primas foram identificadas
conforme DANA & HURLBUT (1976: 530-573) e SCHUMEM (1985: 50-52 e 114).
- Basalto: São as rochas vulcânicas, rochas ígneas de coloração escura e granulação
fina. Em alguns casos, apresentam cavidades vazias (vesículas) e também cavidades
preenchidas (amígdalas). Nestes casos, as oportunidades de se conseguir bons lascamentos
tornam-se menores. No caso de rochas ácidas, existem estruturas de fluxo ígneo que deixam
bem definidas as descontinuidades físicas, e assim proporcionam maior facilidade de
lascamento;
- Arenito metamorfizado: São rochas constituídas por partículas detríticas, do
tamanho de grãos de areia, composta principalmente por grãos de quartzo. Este quartzo
cristalizou-se em decorrência do aquecimento do pacote sedimentar pelo derrame de lava ou
por intrusões (silts e diques). Estas rochas apresentam um bom lascamento devido à
estratificação deposicional que a rocha apresenta quando de seu resfriamento, surgindo assim
planos de fraqueza que foram habilmente utilizados pelos artesãos pré-históricos.
7 - Superfície natural. Aqui informamos como se apresenta a camada externa da
peça; depende da duração em que ficou exposta ao intemperismo, das condições climáticas e
da natureza da matéria prima.
- Sem informação;
- Sem superfície natural - Quando não apresenta nenhuma porção de camada externa;
- superfície de seixo. Quando, pela observação da superfície natural, concluímos
estar diante de um seixo;
- Superfície de bloco - Quando, pela observação da superfície natural, concluímos
estar diante de uma porção de matéria-prima oriunda de um bloco de rocha.
8 - Alteração da forma básica
- Sem informação;
- Sem alteração - Quando a forma básica permanece perfeitamente indicável;
- Erosão - Quando, na superfície, há sinais de erosão e/ou percolação por minério de
ferro;
40
- Fratura térmica - Quando se observa a presença de ação do fogo. Quando a rocha
possui óxido de ferro, a fratura tem coloração avermelhada, em alguns casos, lascam de forma
irregular e apresentam uma superfície rugosa;
- Concreção - Forma-se uma camada avermelhada na superfície da rocha, pois o
óxido de ferro substitui alguns minerais;
- Fratura moderna - Quando a peça, após sua confecção, sofre uma quebra; -Marca
de arado -Quando o arado ou a enxada atingem a peça.
9 - Medidas - As dimensões foram tomadas nas três direções da peça e indicam seu
comprimento, largura e espessura. Em gramas, anotamos seu peso. O comprimento é a linha
maior da peça. A largura e a espessura são tomadas perpendicularmente ao comprimento, mas
em direções opostas.
10 - Estado de preservação - Indica qual a situação atual da peça.
- Sem informação;
- Completo;
- Comprimento incompleto;
- Largura incompleta;
- Comprimento e largura incompletos;
- Comprimento e espessura incompletos;
- Largura e espessura incompletos;
- Comprimento, largura e espessura incompletos.
11 -Base de redução inicial. Informa de onde a peça é oriunda.
- Sem informação;
- Lasca;
- Seixo;
- Bloco;
- Placa de basalto colunar.
12 - Quantidade de superfície natural. Olhando a peça pelos dois lados, informa-se
quanto ainda resta da superfície original da rocha.
- Sem superfície natural - lado dorsal;
41
- Superfície natural ocupa 1/4 do lado dorsal;
- Superfície natural ocupa 2/4 do lado dorsal;
- Superfície natural ocupa 3/4 do lado dorsal;
- Superfície natural ocupa 4/4 do lado dorsal;
- Sem superfície natural - lado ventral;
- Superfície natural ocupa 1/4 do lado ventral;
- Superfície natural ocupa 2/4 do lado ventral;
- Superfície natural ocupa 3/4 do lado ventral;
- Superfície natural ocupa 4/4 do lado ventral.
Lista de Modificação
6 - Modificação do canto 1, lado dorsal - Olhando a peça pelos dois lados, informa-se
as alterações sofridas por cada canto. Para isto, imagina-se a peça dividida em três ou quatro
cantos conforme sua forma, ou seja, três cantos se for uma peça triangular e quatro se for peça
foliácea, quadrangular ou bumerangóide.
- Sem informação;
- Superfície natural;
- Fratura;
- Negativo de redução completo;
- Negativo de redução incompleto;
- Alternante - Quando os batimentos retirarem porções de massa em uma face e, a
seguir, retirarem porções de massa da outra face, em situação contínua;
- Alterno - Quando os batimentos para a retirada da massa ocorrerem alternadamente,
um em uma face, outro na outra face, o terceiro na primeira face, quarto na segunda face, o
quinto na primeira face, e assim sucessivamente;
- Retoque completo;
- Retoque incompleto;
- Retoque alternante;
- Retoque alterno;
- Retoque macerado ou escalonado - Quando um retoque sobrepor-se de maneira
incompleta ou "morder" o retoque anterior;
42
- Retoque denticulado;
- Retoque irregular;
- Picotearnento;
- Arredondado e/ou gasto pelo uso.
7 - Seqüência das modificações do canto 1, dorsal. Aqui se analisa a possibilidade
das alterações ocorridas em um determinado canto da peça ultrapassarem este limite e
alcançarem outro canto qualquer.
- Sem informação;
- Canto 1 é canto 1. Quando se restringe apenas a este canto;
- Canto 1 corta 2;
- Canto 1 corta 3;
- Canto 1 corta 4.
8 - Extensão das modificações do canto 1, dorsal - Informa-se, em milímetros,
quanto da peça foi alterada.
9 - Ângulo do retoque - Mede-se o ângulo realizado.
10 - Modificação do canto 1, ventral - Procede-se da mesma maneira que no item 6.
11 - Seqüência das modificações do canto 1, ventral - Procede-se da mesma maneira
que no item 7.
12 - Extensão das modificações do canto 1, ventral - Procede-se da mesma maneira
que no item 8.
1 - Ângulo do retoque - Procede-se da mesma maneira que no item 9.
14 - Modificação do canto 2, dorsal - Procede-se da mesma maneira que no item 6.
15 - Seqüência das modificações do canto 2, dorsal - Procede-se da mesma maneira
que no item 7.
43
16 - Extensão das modificações do canto 2, dorsal - Procede-se da mesma maneira
que no item 8.
17 - Ângulo do retoque - Procede-se da mesma maneira que no item 9.
18 - Modificação do canto 2, ventral - Procede-se da mesma maneira que no item 6.
19 - Seqüência das modificações do canto 2, ventral - Procede-se da mesma maneira
que no item 7.
20 - Extensão das modificações do canto 2, ventral - Procede-se da mesma maneira
que no item 8.
21 - Ângulo do retoque - Procede-se da mesma maneira que no item 9.
22 - Modificação do canto 3, dorsal - Procede-se da mesma maneira que no item 6.
23 - Seqüência das modificações do canto 3, dorsal - Procede-se da mesma maneira
que no item 7.
24 - Extensão das modificações do canto 3, dorsal - Procede-se da mesma maneira
que no item 8.
25 - Ângulo do retoque - Procede-se a mesma maneira que no item.
26 - Modificação do canto 3, ventral - Procede-se da mesma maneira que no item 6.
27 - Seqüência das modificações do canto 3, ventral - Procede-se da mesma maneira
que no item 7.
28 - Extensão das modificações do canto 3, ventral - Procede-se da mesma maneira
que no item 8.
29 - Ângulo do retoque - Procede-se da mesma maneira que no item 9.
44
30 - Modificação do canto 4, dorsal - Procede-se da mesma maneira que no item 6.
31 - Seqüência das modificações do canto 4, dorsal - Procede-se da mesma maneira
que no item 7.
32 - Extensão das modificações do canto 4, dorsal -Procede-se da mesma maneira
que no item 8.
33 - Ângulo do retoque -Procede-se da mesma maneira que no item 9.
34 - Modificação o canto 4, ventral -Procede-se da mesma maneira que no 6 item .
35 - Seqüência das modificações do canto 4, ventral -Procede-se da mesma maneira
que no item 7.
36 - Extensão das modificações do canto 4, ventral -Procede-se da mesma maneira
que no item 8.
37 - Ângulo do retoque - Procede-se da mesma maneira que no item 9.
Para a análise do segundo universo de material lítico, que para facilitar chamamos
"lascas", utilizamos também uma listagem. Possui o nome de "Lista de atributos para
instrumentos líticos lascados" e apresenta os seguintes itens:
1 - Número de catálogo. Trata-se do número seqüencial da peça dentro de cada sítio.
2 - Forma básica.
- Lasca;
- Lasca unipolar;
- Lasca bipolar;
- Detrito de lasca;
- Núcleo;
- Com uma plataforma;
- Com duas plataformas opostas;
45
- Núcleos bifaciais;
- Núcleos com duas plataformas em ângulo;
- Núcleo poliédrico;
- Núcleo bipolar com uma plataforma;
- Núcleo bipolar com duas plataformas em ângulo;
- Núcleo bipolar com uma plataforma;
- Núcleo bipolar com duas plataformas em ângulo;
- Núcleo bipolar poliédrico;
- Fragmento de núcleo;
- Fragmento técnico;
- Seixo;
- Bloco;
- Geodo.
3 - Matéria-prima - Ver definição nas páginas anteriores.
4 - Superfície natural - Segue a mesma definição já usada para “peças”.
5 - Alteração da forma básica.
6 - Medidas.
7 - Estado de preservação.
Forma Básica - Lasca
8 - Medidas do plano de percussão - Trata-se da caracterização numérica das diversas
linhas que cobrem a superfície da face que recebeu o golpe de debitagem.
9 - Estado de preservação - Ver definição nas páginas anteriores.
10 - Tipo de plano de percussão. Idem acima.
46
11 - Canto ventral do plano de percussão. Idem.
12 - Canto dorsal do plano de percussão. Idem.
13 - Lado ventral - bulbo. Idem.
14 - Lado dorsal - negativos. Idem.
15 - Lado dorsal - quantidade de superfície natural. Idem.
16 - Canto distal. Idem.
Forma Básica - Núcleo
8 - Tipo de plataforma - Segundo Morais, 1987.
9 - Quantidade de superfície natural.
10 - Ponto de apoio - núcleo bipolar. Segundo LAMING-EMPERAIRE (1967).
Dados de Modificação
17 - Modificação.
18 - Modificação -retoque. Segundo TIXIER et alli. (1980).
19 - Modificação -marcas de uso. Idem. .
20 - Modificação -localização.
21 - Modificação -posição.
47
22 - Modificação -medidas.
23 - Estado de preservação.
a) Material com evidências de ação humana: núcleos, seixos com picoteamento
provocado pela ação de percutir, peças com alguma evidência de uso.
b) Lascas: conforme lista de atributos, a seguir.
Assim, obtivemos os seguintes números:
Sítio Mat. sem evidência
Mat. com evidência
Lascas Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3
090 2 0 25 2 5 2
134 91 0 60 28 60 6
162 15 9 12 3 22 3
Totais 108 9 97 33 87 11
48
II.4. OS TIPOS ESTABELECIDOS
Ao nos debruçarmos sobre a questão “tipo”, imediatamente três situações tornaram-
se claras:
a) Poderíamos usar o sistema de análise preconizado por COLLINS (1989/90);
b) Poderíamos usar uma lista de atributos;
c) Poderíamos escolher outro caminho.
Optamos pela terceira possibilidade, porque:
a) O sistema de COLLINS (1989/90), embora correto, necessitaria, para sua perfeita
aplicação, que conhecêssemos rotas de transporte de material, fontes de matéria-prima e
outros dados que não possuímos;
b) O sistema de usar uma lista de atributos mostrou-se um bom sistema, mas não
esgotou o assunto;
c) Assim, pelo próprio manuseio das peças, fomos estabelecendo critérios de
semelhança, o que nos levou aos tipos abaixo descritos. Em nenhum momento pretendemos
menosprezar as demais categorias analíticas, apenas o sistema que estamos propondo
mostrou-se lógico e serviu para "medir" todas as peças do nosso universo, por isto o levamos
avante.
Em função da análise do material lítico, estabeleceram-se nove tipos.
Para que isto ocorresse, executamos os seguintes passos:
a) Todas as ferramentas líticas obtidas nos três sítios foram distribuídas em uma
mesa de análise;
b) imaginamos criar dentro deste universo alguns grupos que, por semelhança de
aspecto, formassem unidades entre si;
c) começamos a separar todos os chopper que faziam parte da coleção;
d) retiramos os chopping-tool;
e) todas as peças que possuem a parte distal em forma ovóide ou piramidal foram
separadas;
49
f) separaram-se todas as ferramentas obtidas após grandes lascamentos;
g) retiramos os bifaces caracterizados por exibirem grande concentração de massa na
área central;
h) retiramos todos os bifaces clássicos;
i) retiramos todos os pré-bumerangóides;
j) foram isolados todos os bumerangóides semi-infletidos;
k) como passo final, constatou-se que só restavam os tipos bumerangóides sobre a
mesa.
Assim, usando um critério de seleção, fomos pouco a pouco, de forma controlada,
separando determinados tipos. Desta forma paulatina, percorremos toda a coleção, obtendo ao
final tantas subdivisões quantos foram os tipos estabelecidos. Dito de outra maneira, a
realidade das peças mostrou-nos que quase todo o material encontrado - exceção feita a
blocos sem evidência de uso, bloco com evidências de uso (ex. batedores), termóforos, lascas
e um caso no tipo 6, quase todas as peças encontradas nos três sítios foram classificadas em
algum dos nove tipos. Temos um caso em que isto não acontece: o tipo 6 não foi encontrado
no sítio 090. Como os limites entre cada tipo foram estabelecidos de forma aleatória e sendo
um tipo intermediário, algumas peças de tipo 6 poderiam ter sido anexadas a outro tipo.
Assim, tendo em vista o estabelecimento de variáveis para a definição da tradição Humaitá
(ver especialmente KERN, 1984), afirmamos que temos agora mais uma variável: material da
tradição Humaitá classifica-se em algum dos nove tipos propostos.
Nossa certeza advém do fato de que, em primeiro lugar, todos os três sítios
analisados enquadram-se dentro das variáveis propostas; em segundo lugar, quase todas as
peças foram agrupadas nos tipos, apenas em um caso houve fuga à regra. Estes tipos são
evidências de uma seqüência de operações, que começam com os mais simples, isto é,
choppers, até atingirmos os mais complexos, isto é, os bumerangóides. Isto não significa que
o grupo pretendeu sempre chegar às formas bumerangóides, na medida em que uma peça, em
estágio anterior, atingiu os objetivos propostos, o processo encerrava-se sem que se
pretendesse atingir os tipos mais complexos.
Pelo acima exposto, estabelecemos o que segue:
Tipo 1 - Denominação: Chopper
Descrição: Trata-se de instrumento obtido sobre porção de rocha, onde uma
superfície natural, geralmente em formato tendendo a aresta, é escolhida para receber,
50
lascamentos (um ou mais) em um só lado, melhorando desta forma o efeito do fio. Esta aresta
é escolhida por estar em oposição à porção da peça que mais facilita a empunhadura.
Tipo 2 - Denominação: Chopping-tool
Descrição: Trata-se de instrumento obtido sobre porção de rocha, onde uma
superfície natural, geralmente em formato tendendo a aresta é escolhida para receber
lascamentos em ambos os lados, melhorando desta forma o efeito do fio. Esta aresta é
escolhida por estar em oposição à porção da peça que mais facilita a empunhadura.
Tipo 3 - Denominação: Biface ovóide/piramidal
Descrição: Trata-se de instrumento obtido sob porção de rocha, onde duas superfícies
naturais, simetricamente opostas, em formato tendendo a aresta, são escolhidas para receber
lascamentos em ambos os lados, melhorando desta forma o efeito do fio. A porção distal da
peça tem forma ovóide, a parte proximal da peça tem forma piramidal, o que obriga às duas
arestas criadas a deixarem a posição de paralelas e a mudarem a sua direção, ambas tendem
para a parte proximal da peça, onde se encontram em ângulo. A face dorsal apresenta uma
aresta, que pode ser uma crista natural ou ter sido criada por ação de lascamentos.
Denominamos distal a parte da peça que possui a menor quantidade de lascamentos,
conseqüentemente, seu oposto, a parte proximal, apresenta maior quantidade de lascamentos.
Tipo 4 - Denominação: Biface com grandes lascamentos
Descrição: Trata-se de instrumento obtido sobre porção de rocha, onde duas
superfícies naturais, simetricamente opostas, em formato tendendo a aresta, são escolhidas
para receber grandes lascamentos, que nascem na aresta e se dirigem ao centro da peça, a
parte distal das duas arestas são geralmente batidos e paralelos, a proximal termina em
ângulo. A porção proximal da peça costuma manter a superfície cortical, enquanto a porção
distal forma uma ponta. Os ângulos médios da parte proximal costumam ser mais fechados
que os da parte distal, o que caracteriza este tipo é o número elevado (10, 12) de grandes
lascamentos.
51
Tipo 4 A -Denominação: Biface com concentração de massa
Descrição: Trata-se de peça muito semelhante à anteriormente descrita. A
especificidade reside na maior concentração de massa na região equatorial, dando à peça
geralmente um aspecto pesado.
Neste conjunto de bifaces, é comum encontrarmos a porção superior, dista com a
falta de uma porção de massa, falta esta oriunda de um ou dois grandes lascamentos cuja
finalidade, a nosso juízo, é facilitar a empunhadura da peça. Neste conjunto, é comum a
porção proximal apresentar lascamento formando uma linha em posição perpendicular às duas
maiores arestas da peça, o que lhe deixa com um aspecto típico, caracterizando um raspador.
Tipo 5 - Denominação: Biface clássico
- Descrição: Trata-se de instrumento obtido sobre porção de rocha
- Face dorsal: geralmente, grande área de massa cortical; porção proximal intacta.
Face ventral: geralmente, grande área de massa cortical; o hemisfério norte das duas
arestas estão rebaixados e esta parte das arestas costuma apresentar simetria, a parte proximal
das arestas dirigem-se ao ponto mais meridional da peça.
- Tipo 6 - Denominação: Pré-bumerangóide
Descrição: Biface de aspecto frágil, obtido mediante lascamentos muito regulares.
Geralmente, apresentam uma aresta na face dorsal.
Tipo 7 - Denominação: Bumerangóide semi-infletido
Descrição: Tal qual o anterior, trata-se de uma peça muito semelhante ao tipo que
será descrito como tipo 8. A especificidade reside no fato da peça apresentar duas arestas,
cujo ângulo de inflexão é muito aberto, sendo apenas sugerido em alguns casos.
Tipo 8 - Denominação: Bumerangóide Descrição: Peça lítica obtida por lascamentos
que, nascendo nas bordas, avançam em direção ao centro da peça.
Para melhor compreensão, imaginemos a peça como se fosse composta de duas
partes, unidas por um ângulo de 130 a 160°; se olharmos em corte, veremos que cada uma
destas partes é composta de dois troncos de pirâmide unidos por sua face mais ampla; isto cria
uma aresta baixa que percorre a peça em toda a linha hemisférica e ocupa o limite extremo
52
das faces mais amplas do tronco de pirâmide, ao mesmo tempo que cria uma aresta —
correspondendo ao bordo — mais afiada e que realiza o perímetro da peça.
Se olharmos a peça imaginando uma linha equatorial que a divida, então geralmente
uma das partes é menor que a outra, e esta parte menor possui a aresta perimetral com ângulos
mais abertos, embora esta regra nem sempre seja obedecida. Isto nos remete à sugestão de que
a parte menor possa ser a empunhadura da peça, em oposição à parte maior, que seria a área
ativa responsável pelo corte.
II.4.1. Análise do material arqueológico
Para a correta tipificação das peças arqueológicas, nós as submetemos a uma análise.
Para isto, usamos a listagem intitulada “Lista de atributos para análise de instrumentos líticos
lascados”. Esta listagem teve origem na similar, proposta por HOELTZ (1995). Recebeu
pequenas alterações para melhor adequar-se à nossa realidade, mas o espírito da abordagem
permanece o mesmo: deseja ser um instrumento para decodificar cada variável do material
lítico.
- Dentro do mesmo espírito, usamos uma lista de atributos para decodificar lascas.
Trata-se da mesma idéia, agora corporificada sobre esta classe especial de peças. Assim, as
listagens procuram identificar e quantificar cada variável da peça. As variáveis abordadas em
cada peça estão listadas nos anexos.
II.4.2. Glossário dos termos usados nesta dissertação:
Termos Gerais:
* Rocha: "Grande massa compacta de pedra muito dura; mineral; segundo sua
origem, as rochas pertencem a três tipos fundamentais: magmáticas (ou ígneas), sedimentares
e metamórficas" (BUENO, 1956, p. 185).
* Rocha vulcânica: Usa-se o termo para designar as rochas magmáticas.
* Lasca: É a porção de matéria-prima retirada de um núcleo. Diz-se "modificada"
quando a lasca sofreu algum tipo de alteração devido a ação humana.
- Lado ventral - É o lado da lasca que só é visualizado após o lascamento.
53
- Lado dorsal - É o lado da lasca que já é visível antes do lascamento, por ser o lado
oposto ao interno, isto é, o ventral.
* Lasca recente: Usa-se o termo para designar a retirada de matéria-prima ocorrida
após a ferramenta feita. Para identificar este tipo de lascamento, recorre-se à comparação com
os lascamentos mais antigos, e por contraste se especifica o recente.
* Seixo: O termo é usado para definir porções de rocha que, ao serem deslocadas de
suas matrizes, sofrem rolamento e, por isto, tendem à forma esférica. Geralmente são
encontradas à beira dos cursos d'água, o que explica o seu deslocamento. Foram um dos mais
importantes fornecedores de matéria-prima para nossos artesãos pré-históricos.
* Núcleo: Este termo é dado a porções de
... “matéria prima que serviam para fornecer lascas. São peças ... que
apresentam um bordo em forma de superfície plana, o plano de
lascamento, sobre o qual aplicam-se golpes de percussão para destacar
as lascas” (BRÉZILLON, 1971, p. 86.).
* Biface: Trata-se de instrumento lítico cujos
... “retoques cobrem completamente ou quase completamente as duas
faces (daí o termo), criando um instrumento de forma amidalóide ou
irregular ... geralmente são grosseiros, espessos com arestas muito
sinuosas e secção quadrangular ou triédrica” (BRÉZILLON, 1971, p.
156.).
* Placa: Porção de basalto oriundo de rachaduras retilíneas naturais (diaclases).
* Chopper: Ferramenta pré-histórica em que
... “o gume é determinado pelo desbaste de uma ou mais lascas a partir
de uma das faces do seixo” (BRÉZILLON, 1969, p. 78).
54
*Chopping-tool: Ferramenta pré-histórica em que "o gume é obtido por desbaste de
duas faces" (BRÉZILLON, idem, ibidem.).
Figuras geométricas
* Foliáceo: Peça bifacial cujo formato lembra uma folha, seu plano é composto por
dois arcos, unidos pela linha mais extensa. Geralmente a confecção deste tipo de peça cria
uma aresta mais volumosa no sentido vertical da mesma aresta que se repete, na mesma
posição, quando olhamos a outra face da peça.
* Triangular: Diz-se das
...“figuras geométricas, planas, de três lados, unidos por três
triângulos...” (CHAVES, s.d., p. 215.).
* Retangular: Diz-se das figuras geométricas planas, de quatro lados, em que a base
não é igual a altura.
* Quadrangular: Diz-se das figuras geométricas planas, de quatro lados, em que a
base é igual a altura.
* Bumerangóide: Peça arqueológica com o formato de um bumerangue.
* Superfície cortical: O termo designa a porção da rocha que apresenta marcas de
intemperismo (chuvas, ventos) por ser a camada externa, portanto sujeita aos elementos
atmosféricos.
* Borda: Usa-se este termo para a aresta formada pela linha de encontro de duas
faces de alguma ferramenta'lítica, com evidências de uso, podendo ser:
- quanto à continuidade:
1) Borda contínua: quando a evidência de uso ocupar um espaço consistente da peça;
2) Borda descontínua: quando a evidência de uso for interrompida mais de uma vez
por espaços sem evidência;
3) Macerada: quando a borda apresentar um conjunto de micro-lascamentos oriundos
de repetidos batimentos da peça;
55
4) De Secção arredondada: quando a borda, ao ser olhada em perfil, apresentar um
aspecto esférico, oriundo de ação contínua desgastante.
- quanto à orientação geométrica:
5) Retilínea: quando a borda apresentar um traçado por cima da menor distância
entre os pontos extremos;
6) Sinuosa: quando a borda apresentar um traçado que descreve um arco entre seus
pontos extremos.
Retoque
É a ação de percutir repetidas vezes uma superfície lítica, com o fim de reorientar
uma aresta, torná-la mais delgada ou rebaixá-la.
Os retoques podem ser dos seguintes tipos:
a) Retoque marginal: quando o retoque limita-se apenas à porção inicial da borda;
b) Retoque invasor: quando o retoque começa em um canto da peça e prolonga-se
para o canto seguinte;
c) Retoque envolvente: quando o retoque começa em uma face da peça e alastra-se
para a face seguinte.
56
II.5. DE ALTOPA RANAENSE PARA HUMAITÁ: UMA CONEXÃO
TOTAL?
Ao observarmos a pré-história do sul do Brasil, nossas primeiras impressões indicam
que os episódios de ocupação humana estão bem demarcados, com suas tradições e fases
mostrando-nos, claramente, esta faceta da ocupação americana. Porém, as coisas não ocorrem
assim. Os seres humanos parecem divertirem-se, ao comportarem-se à revelia dos esquemas
que os arqueólogos propõem. Em vários sítios da região do Alto Uruguai, por exemplo, nas
pesquisas de SCHMITZ et al. (1981) foram encontrados, junto com cerâmica Guarani,
implementos líticos que nenhum arqueólogo deixaria de reconhecer como elementos da
tradição Humaitá. Isto nos conduz ao centro do problema: de que maneira duas tradições, que
eram vistas como isoladas, co-habitam o mesmo espaço e ao mesmo tempo? Parece que as
coisas não aconteceram de uma forma simples. A idéia que tínhamos, que de uma indústria
Altoparanaense havia uma linha que conduzia diretamente a tradição Humaitá, precisa ser
discutida. Como caracterização mínima para a Altoparanaense, podemos dizer que:
... “Elle (a indústria lítica Altoparanaense) comporte un outillage très
caractéristique, taillé surtout sur nucléus. La matière première la plus
utilisée èst le diabase rouge, rarement la métaquartzite, le silex et
lágate. Le diabase rouge, de granulation très fine, est peu fréquent
dans la région. Son utilisation si répandue montre probablement le
choix cultural dúne metière première facile à tailler et qui donne de
très bons résultats lors du façonage des outuils. Les types les plus
caractéristiques de cette industrie sont: les bifaces longs droits, les
poites avec gros talon cortical, les bifaces longs courbes, les grattoires
(terminaux, latéraux, sous-circulaires), les petits bifaces et les éclats
retouchées. L’industrie lithique comporte aussi des chopping-tools,
des pics, des outils longs à section polyédrique, des perçoirs, des
57
éclats retouchés comme des couteaux, des éclats avec encoche, éclats
irréguliers, des nucléus et des fragments de nucléus. L'outillage pour
la pluparts d'outils fouisseurs out aillants ...” (KERN, 1981: 124).
Mais adiante, o mesmo autor afirma:
“Tous les sítes da la tradition Humaitá étudiés sont caractérisés par
une industrie taillée en métaquartzite et en roche effusive (basalte,
diabase, porphyre); cela est dû au fait que les dites sont installés sur la
zone de couverture basaltíque gréseuse du Plateau Méridional. Les
roches effusives en montant par des fentes, se sont coulées sur les lits
dègres en nappes sucessives. Ce grès soumis à de hautes températures
des coulées de lave, s'est transformé en métaquartzite, c'est-à-dire, un
grés silicifié de granulation très fine” (Idem, ibidem, ps. 173-174).
Se a idéia de que a tradição Altoparanaense é a porção mais antiga da tradição
Humaitá estiver corrente tão não se explica como o material Humaitá aparece junto com
cerâmica Guarani, pois estaríamos frente a uma tradição densa, com durabilidade temporal
para resistir, intacta, a situações de contato. Como, então, explicar esta situação? Podemos
sugerir algumas idéias, que no todo, ou em parte, podem solucionar o problema:
1 - Se a tradição Altoparanaense teve sua continuidade com a tradição Humaitá, esta
linha de encadeamento pode ser mostrada; de fato, as datações evidenciam isto;
2 - Acreditamos que a tradição lítica chamada "Humaitá" é uma continuação da
tradição "Altoparanaense".
Apesar desta origem comum, torna-se evidente que ambas as tradições seguem
caminhos paralelos. Assim fases mais recentes da Humaitá, como a fase Caaguaçu, podem
apresentar datações recentes, sem que isto altere a origem da tradição.
58
3 - A chegada da cultura Guarani ao sul do Brasil representou uma onda de
neolitízação importante, porque estes grupos possuíam uma cerâmica desenvolvida, plantação
com o método de coivara, agricultura como base alimentar, costumes e tradição
compartilhadas por dezenas de grupos, etc.;
4 - Do ponto de vista Guarani, dada sua organização, não deve ter sido difícil
dominar as populações de caçadores que foram encontradas no seu deslocamento, ao menos
as que, diretamente, entraram em contato;
5 - Sempre foi muito difícil caracterizar o material lítico Guarani, pois não é um
material tecnicamente bem definido;
6 - Finalmente, podemos aventar a seguinte hipótese: como o Guarani tem ênfase na
cerâmica, talvez não tivesse sido difícil para algumas parcialidades aceitar a r tecnologia dos
dominados, no sentido de, mantendo sua organização, sua cerâmica, suas r crenças, por que
não adotar técnicas de domínio de matéria-prima que não r descaracterizariam sua cultura?
Assim agindo, o grupo não deixaria de ser Guarani, mesmo com o aporte das técnicas de
lascamento lítico. Se admitirmos a hipótese de que as técnicas de confecção de material lítico
que rotulamos como “tradição Humaitá” são técnicas diretas e simples, passíveis de serem
aprendidas e executadas rapidamente, então poderemos admitir a seguinte cena: Um grupo
Guarani chega às margens do rio Uruguai, guerreia e vence a população de caçadores-
coletores local, instala-se na várzea e pouco a pouco começam os contatos amistosos com os
antigos habitantes. Estes não possuíam a cerâmica bem elaborada do grupo arrivista, mas
possuíam, por exemplo, uma tecnologia bem útil para a confecção de instrumentos líticos.
Ora, com matéria-prima abundante e uma tecnologia não sofisticada, poderiam estes grupos
Guarani elaborar e usar instrumentos até então estranhos à sua cultura. Este modelo de
relacionamento explicaria o porque da "mistura" observada, e ao mesmo tempo nos responde
à pergunta inicial: parece fora de dúvida que existe uma conexão entre tradição
Altoparanaense e tradição Humaitá. Porém, parece que esta conexão não foi total, devemos
estar preparados para encontrar material lítico Humaitá em sítios Guarani, quem sabe logo
encontraremos uma cerâmica imitando a Guarani (ou mesmo uma genuinamente Guarani) em
algum acampamento Humaitá? A capacidade de adaptação humana é enorme, e ela prevê
empréstimos culturais, adoções e adaptações de idéias, re-ocupação de espaços e outros
59
mecanismos implementados pelas populações, na consolidação da conquista de novos
territórios.
7 - Outra idéia, que novas pesquisas poderão demonstrar, é que o fato desta
coexistência pode ser explicada pela ação do arado, que é capaz de misturar camadas de
ocupação anteriormente separadas.
II.5.1. Humaitá, uma tradição arqueológica
Quando falamos da tradição Humaitá, alguns elementos aparecem claramente: em
HOEL TZ (1995), por exemplo, verifica-se que a maioria dos autores consultados são
unânimes em algumas afirmações: há consenso entre os autores, pelo menos em alguns
tópicos:
- A tradição compreende 20 fases, sendo:
- em Santa Catarina - 3 fases;
- no Paraná - 6 fases;
- em São Paulo - 2 fases;
- no Rio Grande do Sul - 9 fases.
- As datações aconteceram entre 1.130 AP e 8.700 AP;
- A tradição caracteriza-se por grandes artefatos bifaciais. As peças mais comuns são
lâminas de machado manual lascadas bifacialmente (bifaces), talhadores, picões, raspadores,
plainas, facas, furadores, pontas e lascas. Em alguns sítios, encontramos bifaces curvos de
formato bumerangóide;
- A tradição não apresenta pontas de projétil;
- O habitat ocupado era preferencialmente coberto por florestas subtropicais.
Estendia-se pelas encostas meridionais do planalto sul-brasileiro, vale do alto Uruguai e matas
de araucária do norte do Rio Grande do Sul;
- Os sítios desta tradição ocorrem geralmente a céu aberto. São superficiais e com
níveis de 20 a 30 cm. As dimensões variam de 400 a 10.000m2;
- Localizam-se nas margens de rios e arroios, tanto na várzea como nos terraços e
colinas vizinhas;
60
- Do ponto de vista da matéria-prima; encontramos o arenito silicificado e/ou basalto,
trabalhados por percussão direta, inclusive com retoques, controlados e cuidadosos.
Não obstante o aspecto consensual, há que ressaltar a fragilidade da definição, desta
e de outras tradições, quando a ênfase recai, como neste caso — sobre um "fóssil-guia".
A idéia de que a existência ou não de uma peça sirva para identificar uma tradição, é
uma idéia antiga. Ela deriva do fato que a partir da segunda metade do século XIX, começa a
surgir um diálogo entre a geologia, a biologia e a própria arqueologia. Assim, fica evidente
que,
... “En efecto si el método estratigráfico en Arqueologia es una
traducción a menor del método estratigráfico en Geologia, el valor de
los fóssiles (animales o plantas), para el paleontólogo se transladaa los
instrumientos y aun a los restos ósseos humanos. El concepto de
"fóssil cultural" explicitando o no, constituye en mi opinión el
resultado más evidente de la influencia ejercida por las Ciencias
Naturales en estas nuevas Humanidades que empiezan a ser los
estudios de Prehistória”... (FRANCH, 1989: 17).
No caso da tradição Humaitá a questão do "fóssil-guia", ou "fóssil diretor" funciona
do ponto de vista da negação, ou seja, cada vez que não temos pontas de projétil, estamos à
frente de material Humaitá. O caso positivo, a existência de pontas de projétil, nos leva em
outra direção, ou seja, tradição Umbu.
Quando estabelecemos esta dicotomia, de alguma forma, aprisionamos nosso
raciocínio. Esperamos que nosso trabalho contribua para trazer mais elementos à discussão e
ajude a colocá-la em outro patamar, mais privilegiado o estudo funcional das peças
arqueológicas.
Durante muito tempo, a maioria das análises de material arqueológico visava à
pergunta "Para que serviu esta peça?". Este enfoque está diretamente ligado à análise
funcional, ou seja, ao responder a pergunta, o arqueólogo estabelece a funcionalidade da peça,
estabelece seu papel dentro do todo cultural. Quando um arqueólogo afirmava: "Isto é um
machado", estava, na verdade, afirmando que aquela peça, dentro daquela cultura, tinha o fim
utilitário de abater árvores e rachar lenha. Ora, hoje em dia sabemos que as coisas não
61
acontecem dentro desta linearidade. Assim, sabemos hoje que uma peça, cuja forma de um
determinado objeto que, nesta cultura, tenha sido usado para outros fins. Trabalhos
etnográficos têm demonstrado que o "lógico" para nós, nem sempre é lógico para outra
cultura. Desta forma, resultam temerárias as tentativas de definição de funcionalidade em
função do visual de uma peça.
Obter-se a mesma linguagem em uma ciência é um desiderato complicado. A
situação torna-se mais difícil ainda se tentarmos estabelecer esta linguagem comum em um
país de dimensões continentais e no âmbito de uma ciência em vias de implantação. Para os
fatos aqui tratados, cabe mencionar que o PRONAPA conseguiu esta uniformidade graças ao
estabelecimento de encontros nacionais onde os pesquisadores envolvidos no Programa
explicitaram sua metodologia e conceitos. Estes encontros criaram determinadas normas —
por exemplo, foi editado uma "Terminologia Arqueológica Brasileira para a Cerâmica" —
(CHMYZ, 1966), que normatizou a linguagem e a ação dos arqueólogos envolvidos no
Programa. Nesta mesma perspectiva, a análise de material lítico também foi balizada por estes
parâmetros.
Para os efeitos de nosso trabalho, vamos adotar a seguinte definição de tradição:
Tradição é "Uma seqüência de estilos ou de culturas que se desenvolvem no tempo, partindo
uns dos outros, e formando uma continuidade cronológica (SOUZA, 1997: 124).
II.5.2. A Questão Tecnológica
Segundo COLLINS (1989/90),
... “A tecnologia está marcada pelas limitações impostas pelo
comportamento da fratura conchoidal, da natureza das rochas e
minerais possuidoras de propriedades para o lascamento e da
capacidade das culturas primitivas para executar e controlar as forças.
(...) Qualquer tecnologia lítica específica está estruturada em resposta
às necessidades da cultura, escolha, qualidade e conhecimento dos
artesãos, assim como os fatores, classe, quantidade e qualidade e da
matéria-prima. Quando o acesso à matéria-prima ou as necessidades
62
culturais trocam, se produzirão trocas na tecnologia” (COLLINS,
1989/90: 51-52).
Se analisarmos o texto acima, veremos que poderá ser decomposto em alguns
tópicos:
Primeiramente, aborda-se os limites que são estabelecidos pela questão material (a
rocha e suas propriedades físicas); este limite está bem claro na escolha feita pelo artesão. Um
exemplo desta escolha é a análise do gráfico 9.B.2, onde fica explicitada a escolha da matéria-
prima nos sítios que dão respaldo a esta dissertação.
Logo após, é abordada a questão do lascamento enquanto fator de ordem cultural.
Sem sombra de dúvida, lascar era uma ação sancionada pelo grupo, cujas regras definiam
como exercer a técnica de debitagem, segundo um padrão socialmente aceito.
O texto encerra enfatizando a questão que, se existirem câmbios na esfera social,
acredita-se que a tecnologia irá alterar-se.
Na continuidade do discurso, COLLINS deixa claro que quando o artesão pré-
histórico confecciona uma peça, este procedimento pode ser dividido em etapas. Muito
embora este fracionamento nem sempre seja excludente, pois nem todas as etapas são
completamente distintas umas das outras, há condições de individualizá-las. Assim, estas
etapas são chamadas por COLLINS de "grupo de produtos", e cada grupo possui
características próprias. As características de cada etapa dependem do rendimento da etapa
anterior. Nesta perspectiva, COLLINS cria cinco etapas que, exceto a primeira, deixam sobrar
sempre duas classes de materiais, os produtos de dejetos, ou seja, os resíduos de lascamento, e
os objetos destinados a receber mais redução ou diretos para o uso.
11.5.3. As etapas propostas são as seguintes:
- Primeira etapa: obtenção da matéria-prima. Para executar esta etapa, o ponto
fundamental é a relação dos recursos disponíveis, tendo em vista o fim proposto. Para obter a
matéria-prima, geralmente o artesão coleta a rocha. Eventualmente, poderá explorar algum
afloramento, se a matéria-prima superficial não for de boa qualidade. Em alguns casos,
podemos supor algum tipo de importação, quando no local não existir a matéria-prima
63
desejada. Nos casos em que o afloramento ocorre, por exemplo, numa cascalheira, o trabalho
de obtenção resume-se á coleta seletiva.
Após a obtenção da matéria-prima, ou o artesão dá início ali mesmo ao processo de
redução inicial ou então transporta o material in totum para outro local, onde dará início ao
processo de produção do artefato.
- Segunda etapa: preparação e redução inicial de núcleos. Neste momento, cabe ao
artesão realizar uma escolha, que pode acontecer em três direções:
* Pode formatar o núcleo, que será a base para a produção de uma peça, descartando todas as
lascas;
* Pode incidir sua ação na retirada das lascas, que servirão de base para a produção de peça, o
que implica, no final, no descarte do núcleo esgotado;
* Pode incidir sua ação tanto sobre o núcleo como sobre as lascas retiradas. Assim tais lascas
serão usadas sem sofrerem retoques. De acordo com DIAS (1994:90), os resíduos de
lascamento que resultam desta etapa são as lascas primárias, também chamadas corticais, que
apresentam a face externa e/ou o talão total ou parcialmente cortical;
- Terceira etapa: lascamento primário opcional. Também chamado de modificação
primária, caracteriza-se pelo fato das lascas dos núcleos oriundos da atividade anterior
receberem lascamentos antes de serem introduzidos na sua "vida útil". Podem ser reduzidos
ainda mais. Esta modificação primária de núcleos e lascas produz resíduos de lascamento.
Quando acontece a retirada de novas lascas sobre as cicatrizes das primeiras retiradas, são
obtidas lascas sem córtex, apresentando cicatrizes de lascamento sobre a face externa e/ou
sobre o talão. Ainda de acordo com DIAS, as peças sobre núcleos ou lascas, nesta fase, são
peças bifaciais ou unifaciais. Esta categoria de artefatos pode ser uma etapa que antecede à
produção de pré-formas de artefatos com funcionalidade variada. Estas pré-formas podem ser
o ponto de partida para a elaboração de peças com maior complexidade.
- Quarta etapa: lascamento secundário e formatação opcional. Também chamada
modificação secundária, nasce nas pré-formas da terceira etapa. Recebem lascamento bifacial
e, ao final, transformam-se no produto acabado. Pontas de projétil são exemplos desta etapa;
64
- Quinta etapa: conservação ou modificação opcional das peças desgastadas pelo uso.
A palavra chave nesta etapa é reciclagem. Artefatos com bordas desgastadas podem ser, aqui,
reativadas para voltarem às suas antigas funções. Outra opção é, ao reciclar a peça desgastada,
modificar totalmente suas função, fazendo com que a nova peça retome à "vida útil" agora
sob nova função.
Se observarmos as peças arqueológicas do ponto de vista do enfoque tecno-tipo
lógico, concordamos com VIALOU (1980), quando afirma:
... “A tecno-tipologia é o estudo raciocinado: em primeiro lugar do
lascamento e do talhe da matéria-prima; em segundo, dos retoques
intencionais, transformando os produtos de lascamento em utensílios;
em terceiro, das marcas deixadas pelas utilizações; e, em quarto, dos
utensílios numa perspectiva de classificação” (VIALOU, 1980: 6).
A linha de raciocínio expressada acima parte da mesma premissa de COLLINS, isto
é, o início da análise começa pela matéria-prima e os reflexos que nela deixam as questões
que envolvem os diferentes lascamentos. Na linha de análise da autora, será com a realização
dos retoques que as peças transformam-se de simples produtos de lascamento em utensílio.
Nesta perspectiva, é o retoque que garante à peça o status de utensílio. Concordamos
inteiramente com a autora, principalmente se levarmos em conta que o universo por ela
abordado — o sítio Almeida, em São Paulo — apresenta um elevado percentual de peças com
retoque. Em seguida, é lembrada a questão das marcas de utilização. Dentro de uma
perspectiva ideal, acreditamos que se uma peça for recolhida com cuidado e for devidamente
acondicionada, então uma análise laboratorial mostrará os sinais originais do uso da peça.
65
II.5.4. A tradição Humaitá no Rio Grande do Sul
As fases atribuídas à tradição Humaitá, no RS, são as seguintes:
FASE AUTOR DATAÇÃO
Antas Miller (1971) 6.620 ± 175 – A. P.
Jacuí Brochado (1971) 5.000 a 3.000 – A. P.
Caaguaçu Miller (1969a) Desde 4.000 – A. P.
Cará Miller (1971) 1920 ± 50 – A. P.
Canhemborá Brochado (1971) 2.945 ± 85 e 1.165 ± 35 – A. P.
Camboatá Miller (1976) Contemporânea da Cará
Humaitá Miller (1967) 400 – A. P.
Paiquerê Miller (1967) = recente que Humaitá e Antas
Pinhal Ribeiro et al. (1977) Recente1
No Brasil, a primeira ação concreta no sentido de analisar material arqueológico,
segundo uma metodologia definida, aconteceu quando da realização do PRONAPA. Em outro
momento deste trabalho discutiu-se o embasamento teórico desta metodologia. Do ponto de
vista prático, já nos primeiros trabalhos de campo, aqui no Rio Grande do Sul, observa-se que
os arqueólogos que participavam do Programa possuem a mesma linguagem.
O estabelecimento de uma nomenclatura e uma metodologia comum a todos os
pesquisadores fica muito claro nos pressupostos do PRONAPA. Nesta perspectiva, vale a
pena citar um texto da "introdução", da publicação referente ao primeiro ano do Programa.
... “descrevemos, especialmente, o tipo de catálogo a ser usado no
campo e no laboratório, o método de coletar informações, como fazer
1 Ao usar o termo “recente, estou falando comparativamente, referindo-me às fases mais antigas, como Antas e
Jacuí.
66
croquis de sítios arqueológicos e de aspectos geográficos próximos, o
sistema de cortes estratigráficos e como fazer coleções sistemáticas de
superfície de todos os sítios, em vez de escavações intensivas em
apenas alguns. É importante insistir no valor das coleções sistemáticas
de superfície. Experiências têm demonstrado que vários sítios com
cerâmica e alguns pré-cerâmicos no Brasil não possuem suficiente
espessura de refugo para escavações estratigráficas Neste caso, a
coleção indiscriminada de fragmentos de cerâmica ou de líticos será
essencial para a construção de seqüências seriadas dos sítios. Coleções
contendo apenas os maiores fragmentos de cerâmica ou de artefatos,
os mais bem confeccionados ou melhor decorados, não servirão para
tal finalidade. É muito importante também, nos sítios com apreciável
espessura de refugo, utilizar o sistema de um ou dois cortes
estratigráficos, (...) variando suas dimensões de 1x1, 1,5x1,5 ou 2x2m
e escavados em níveis artificiais de 10cm.
Várias outras vantagens desta abordagem de campo podem ser
mencionadas. Se em vez da escavação de grandes trincheiras, ou da
escavação total do sítio, limitarmo-nos apenas a proceder em cada
sítio um ou dois cortes estratigráficos, ou ainda, naqueles com cacos
superficiais, a coleta sistemática de amostragem de superfície, um
número bem maior de sítios será estudado no mesmo tempo previsto
para o trabalho de campo. Os dados fornecidos por diversos sítios
darão uma idéia muito melhor da área, do que aquela proporcionada
por um único sítio. Devemos insistir que em qualquer área pesquisada,
o arqueólogo de campo é obrigado a recolher informações e fazer
coleções de todos os sítios, não obstante serem estes simples estações
líticas com apenas lascas de pedras superficiais, sítios pré-cerâmicos
superficiais, cavernas, abrigos-sob-rocha, sítios-habitações ou
cemitérios de culturas ceramistas, ou ainda sambaquis. Em outras
palavras, ao concluir seu trabalho de campo na região, deverá estar o
pesquisador de posse de uma amostragem bem representativa da
mesma, evitando assim revisar a área para ampliar a amostragem.
Escavações intensivas e detalhadas, caso necessárias, serão reservadas
67
para o futuro, após a análise e seriação de todo material coletado. O
trabalho em cada região -prevê ainda a hipótese de não ser encontrada
evidência desocupação por culturas ceramistas ou de sítios pré-
cerâmicos. Neste caso serão anotados todos os aspectos geográficos
que permitam, sobretudo, interpretações ecológicas da região. Sem
esta abordagem sistemática é o pesquisador, por vezes, atraído a um
sítio e ali permanecer trabalhando por longo tempo, simplesmente
porque o mesmo produz muito material ou ainda porque oferece
aspectos ambientais e culturais mais favoráveis. Resulta daí não dispor
de mais tempo, ignorando outros sítios superficiais próximos ou que à
primeira vista pareciam de somenos importância. Acresce que, sendo
o trabalho de campo padronizado, a análise e classificação da
cerâmica, dos líticos e de outros artefatos deverão também seguir uma
padronização. Para tal, Evans & Meggers dispenderam os meses de
junho a agosto de 1966 no Brasil, permanecendo de 5 a 10 dias com
cada participante do programa, para rever os resultados do primeiro
ano de pesquisa, auxiliá-los em qualquer problema de classificação e
assegurar a padronização e comparabilidade dos dados obtidos”
(EVANS, 1967: 11-12).
O texto acima, de autoria de EVANS, um dos arqueólogos responsáveis pela
instalação do PRONAPA no Brasil, deixa claro que os procedimentos listados representam
normas de conduta que deverão ser seguidas por todos os pesquisadores do Programa.
MILLER (1967) define pela primeira vez a fase Humaitá, da seguinte maneira:
... “é uma fase pré-cerâmica representada por dois sítios, caracterizada
por artefatos líticos lascados por percussão e confeccionados a partir
de lascões destacados de grandes blocos de basalto, conservando
porções da crosta natural. (...) A única evidência que temos até o
momento, para comparação relativa de antigüidade, é o
adiantadíssimo estado de oxidação dos implementos aí existentes. (...)
68
Os artefatos estão, em grande parte, trabalhados pela face externa dos
lascões e quase .irreconhecíveis pelo efeito da decomposição. Os
talhadores ("choppers"), lascões discóides unifaciais grandes,
representam mais de 50% dos artefatos. Encontram-se ainda: biface,
talhador unifacial alongado, talhado bifacial com ponta e fio, talhador
com talão e numerosíssimas lascas de grandes proporções” (MILLER,
1967: 17-18).
Na mesma publicação, aparece mais uma fase. Assim se expressa o autor:
... “Fase Camboatá. Define uma fase pré-cerâmica representada por
centenas de sítios arqueológicos caracterizados por artefatos em pedra
lascada e alguns em pedra polida, menos oxidados do que nas fases
precedentes. ...Os artefatos compõem-se quase que exclusivamente de
líticos lascados grosseiramente e a partir de núcleos de basalto,
encontradiços sobre e sob o solo argiloso da encosta do planalto”
(Idem, ibidem: 19).
A próxima referência que encontramos sobre o material lítico que posteriormente
será batizado como "Tradição Humaitá", encontra-se em BROCHADO, (19699a). Ao
descrever o material obtido em seu levantamento no vale do rio Ijuí, o autor informa ter
descoberto 5 sítios líticos, cujo material é descrito; porém a fase não recebe nome. Neste
momento o material não recebe denominação, embora a sua descrição não permita dúvidas.
Trata-se de material da tradição Humaitá.
Ainda na publicação acima citada, encontramos um trabalho (MILLER 1969a) em
que é criada a fase Caaguaçu e a fase Amandaú. Da primeira fase, o autor diz ser ela
associada ao "complexo lítico Altoparanaense". A segunda fase, Amandaú, não foi associada
69
ao Altoparanaense por apresentar pontas de projétil pedunculadas e apedunculadas. Ainda
neste momento a fase não foi filiada à tradição.
Em outro relatório do PRONAPA (1969), aparece outra fase. Trata-se da fase Jacuí,
onde pela descrição do material verifica-se que se trata de material Humaitá. Sob o título
"Outras evidências líticas", BROCHADO (1969b) descreve também material lítico
encontrado na várzea de um dos afluentes do rio Jacuí, o rio dos MeIo ou do Guarda-Mor.
Segundo o autor,
... “tipologicamente são idênticos aos encontrados nas prospecções de
1966-67, tendo sido classificados como: unifaciais, Choppers ou
talhadores, bifaciais (chopping-tools), e i triédricos” (BROCHADO,
1965: 5, 1969b).
Na página 51 do texto acima citado, o autor apresenta um gráfico, no qual a fase
Jacuí é identificada como fruto de influências externas (levando-se em conta os vales do Ijuí e
do Jacuí) especificamente “Complexo lítico Altoparanaense”.
Em uma publicação do PRONAPA, de 1969, o que seria chamada de Tradição
Humaitá" é assim descrito:
“Nos sítios pré-cerâmicos do interior predominam também talhadores,
trituradores, raspadores e facas talhadas por percussão e centenas
destes sítios descobertos no Rio Grande do Sul (onde parecem ser
mais comuns), Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Bahia. Um número
de fases e complexos foi experimentalmente reconhecido resultando
na divisão dos mesmos em duas classes gerais. A maioria dos sítios
provavelmente os mais antigos —produzem apenas pesados núcleos e
utensílios talhados por percussão. Um complexo desta classe
caracteriza-se por um biface bumerangóide, tipo de utensílio
anteriormente identificado no complexo Altoparanaense da província
70
de Misiones, na Argentina (BÓRMIDA, 1965: 10 e fig. 7)
(BROCHADO et al., 1969: 8).
No texto acima, dois eventos chamam a atenção:
a) Os autores falam em duas "classes" gerais. O decorrer da pesquisa arqueológica irá
denominá-las como "Tradição Humaitá" e "Tradição Umbu";
b) A descrição da primeira classe contemplada no parágrafo acima, além de não ser
ainda denominada como uma tradição, é caracterizada como muito próxima, ou igual, ao
complexo Altoparanaense. Observamos que os relatórios do PRONAPA entre 1965 e 1970
apresentavam sempre uma série de capítulos onde cada autor descrevia o que fizera no ano
anterior. Na publicação em epígrafe há apenas um texto em que todos os participantes
assumem conjuntamente a autoria da obra. Isto dá a ela uma especial característica de resumo
de visão geral.
Em uma publicação posterior a tradição está completamente consolidada. Trata-se de
um trabalho básico na literatura arqueológica gaúcha, notadamente por representar uma
síntese do que existia à época. Por seu caráter lapidar, decidimos transcrever todo o tópico:
“Tradición litica de talladores y bifaces: tradición Humaitá.
Se trata de sítios abiertos, muy raramente ocupación de abrigos,
predominantemente en áreas selvàticas, en el sur también en monte
mixto, muy raramente en campos.
Las altitudes varían desde el nível del mar hasta los 1.200 metros.
El asentamiento se realizó cerca de arroyos o ríos, as veces cerca de
bañados, raramente cerca de lagunas o del mar. Las capas
arqueológicas son de pocos decímetros de potencia, las dimensiones
desde 20X20 metros hasta 200 X 200 metros. Los más antíguos estàn
profundamente enterrados, hasta 8 metros for debajo de la superficie
actual.
71
Implementos característicos son talladores alargados, choping-too/s,
Choppers, picos, raederas alargadas, raspadores plano convexos,
raspadores con escotadura, raspadores laterales, perforadores; en
algunas fases aparecen bifaces o hachas de mano con una o dos
extremidades activas, o bifaces con forma de bumerangue: Raramente
los sitios brindan materiales pulidos o semipulidos, como hachas,
trituradores o manos, bolas con surcos, discos gruesos para moler. No
aparecen puntas de proyectil.
Si comparamos las distintas fases de la tradición observamos
diferencias bastante acentuadas en los artefactos y las técnicas de
producción, resultantes de diferencias en tiempo, espacio, ecologia.
Los demás elementos de la cultura no han podido ser recuperados por
las características mismas de los yacimientos y del ambiente.
El limite entre esa tradición y la que tiene puntas de proyectil (Umbu)
está marcado en el sur, en tiempos recientes, por una especie de
indústria de transición, que puede reflejar una ecologia de transición.
Por otro lado, en esas mismas localidades, aparecen sítios de la
tradición Humaitá con zoolitos, que son los elementos más
característicos de los recolectores litoráneos, 10 que inplicaría en
algún tipo de relación entre los grupos 1itoráneos y los del interior.
Los fechados más antíguos son del noveno milenio antes del presente,
los más tardios de poros siglos atrás, indicando una gran perduración
de las industrias sin puntas dentro de una ecologia hasta un cierto
punto estable. Las fechas más antíguas están en Ia selva del alto curso
del Uruguai, otro núcleo antíguo está en las selvas del rio Ivaí (PR) y
otro en una región de ecología variada en el noreste de Rio Grande do
Sul.
En la mitad del siglo de nuestra era aparece en el Panalto de Rio
Grande do Sul Ia tradición a1farera Taquara, asociada a casas-pozo,
que utiliza una indústria similar a la de los anteriores grupos
precerâmicos. El ambiente que explota es el de los montes mixtos,
donde bay abundancia de piñones, y tardiamente también la selva.
72
Mientras tanto en la selva siguen viviendo grupos precerámicos de la
tradición Humaitá por lo menos hasta el siglo XIV de nuestra era.
La tradición Humaitá continúa en las áreas selváticas de Misiones
Argentinas y Paraguayas con la denominación de tradición
Altoparanaense y otros nombres más locales.
Parece una indústria desarrolada como respuesta de grupos de
cazadores-recolectores de las altas cuencas de los ríos Paraná y
Uruguay y se conserva mientras Ia misma ecología no es requerida
por grupos más desarrollados” (SCHMITZ, 1978: 110-111).
Em outro momento, KERN (1981) segue a mesma linha de raciocínio ao insistir com
a necessidade de resultados específicos, ou seja, de estudos detalhados de cada a traduzir:
“É mais fácil explicar as diferenças entre as diversas tradições líticas,
adaptadas a meio-ambientes diversos, que as variações internas de
uma mesma tradição. Três séries de fatores devem ser completados
por procedimentos diversos para estimular assim (o aparecimento de)
suas diferenças internas: o tempo, o espaço e o meio-ambiente. Em
uma tradição que perdurou mais de 6.000 anos e que estendeu-se por
uma superfície de 800x700 km, estes três fatores permitiram
numerosas variações regionais que encontram-se mais ou menos
explicitadas nas diversas fases” (KERN, 1981: 188).
II.6. CONCLUSÕES
Os nove tipos de artefatos bifaciais estabelecidos nesta pesquisa apareceram em
quase todos os sítios, com uma exceção. Isto demonstra para nós que as variáveis que estamos
propondo para a definição de tipos funcionam bem. Dito de outra forma, nos parece evidente
que estes nove tipos de artefatos, se somados com os já consagrados pela bibliografia
arqueológica, representam uma boa ferramenta para detectarmos sítios da tradição Humaitá.
Há necessidade de incluir futuramente outros sítios, usando os nove tipos, para desta
forma alargarmos os horizontes de abrangência da tipologia aqui proposta.
Temos certeza de que este é o caminho, só teremos uma tradição arqueológica bem
clara quando seu estabelecimento for produto da aplicação de variáveis bem mensuradas e
claramente estabelecidas.
O ideal seria se os nove tipos elencados fossem encontrados em todos os sítios
eleitos para a amostragem. Ocorre que, como estamos trabalhando com materiais depositados
em museus — portanto, não nos permitimos escavar, apenas manipulamos o que já foi
recolhido — temos de nos contentar com este universo, que neste sentido é restrito. Nossa
perspectiva é que estes tipos definidos possam ser aplicados em outros sítios e em outras
coleções já museografadas.
Para análise do material encontrado, constata-se que a redução inicial, em todos os
casos analisados, ocorreu em outros locais que não os próprios sítios, nas fontes de origem da
matéria prima, pois o número das lascas corticais são baixos. Esta realidade nos sugere que
apenas as peças maiores teriam sido transportadas para os sítios.
Analisando só os tipos de artefatos presentes, supomos que as atividades de redução
primária e secundária ocorreram fora dos locais de assentamento, por encontrarmos poucas
lascas corticais. Entretanto, há a hipótese de que tais reduções tivessem ocorrido nos sítios, o
que nos reportaria a uma situação de "escolha" na coleta do material. A falta de documentação
do trabalho de campo nos deixa esta dúvida. Temos certeza que o limite a nós imposto pelo
fato de trabalharmos com material que não escavamos, é uma barreira consistente. Por outro
74
lado, a escolha de usarmos este tipo de material apresenta a vantagem de se ampliarmos nosso
estudo em outras coleções museológicas, então poderemos obter destas coleções — que só em
nosso Estado representam um enorme número de peças — uma série de dados, cujo acesso
estava vedado. Se pudermos "dar voz" a estas coleções, então com certeza estaremos trazendo
um conjunto amplo de dados à arqueologia gaúcha.
O que definimos como sinais de utilização, são bordas maceradas e/ou arredondadas.
Este efeito pode ser conseguido através da utilização contínua, ou pode ser a resultante de
uma ação para o rebaixamento de uma aresta viva, neste caso, apontando para facilitação da
empunhadura ou encabamento da peça.
Os artefatos foliáceos, triangulares e os quadrangulares apresentam um padrão de
produção bem característico: primeiramente se realizam os lascamentos e/ou retoques do lado
dorsal e, após, do lado ventral da peça.
Observando-se o material analisado, constata-se uma indústria pesada, tosca, oriunda
de grandes lascamentos, realizados em blocos volumosos. Há vários casos em que uma aresta
natural foi mantida, tornando-se útil para empunhar ou encabar a peça. Em outros casos, a
aresta pode apresentar um rebaixamento obtido por uma ação de picoteamento sobre a linha
de encontro das duas faces.
Quando olhamos um canto, geralmente observamos que os tipos de modificação
efetuados em uma face (negativo de redução completo, picoteamento, etc.), bem como a sua
extensão, coincidem nas faces ventral e dorsal.
Há vários bifaces cujas arestas trabalhadas, em sua parte distal apresentam um
rebaixamento, o que favorece a empunhadura ou encabamento. Em sua parte proximal, os
lascamentos criaram uma região com um ângulo mais fechado, o que favorece seu uso como
bordo ativo. Da mesma forma, nos tipos 6, 7 e 8 pré e bumerangóides — geralmente o ângulo
da parte distal é menor que na parte proximal da peça.
Quando um artefato foliáceo apresenta uma aresta cortical, então geralmente a aresta
que está em oposição é toda picoteada. Isto gera a impressão de que a peça foi usada de modo
atravessado conforme a linha maior do corpo humano, não para furar, mas para seccionar.
Se observarmos os nove tipos de artefatos estabelecidos, dentro da ordem proposta,
nota-se que há uma "linha evolutiva", que percorre os diversos tipos, mas isto não quer dizer
que o processo de produção não possa ser interrompido no caminho e a peça não possa ser
usada quando ainda fizer parte de um tipo intermediário.
75
A maioria das peças mostra erosão, o que nos indica a procura de fontes espalhadas
na superfície da terra ou beira de rios, sem mineração nos núcleos.
Nas peças foliáceas, geralmente a extensão dos cantos 1 e 4 são maiores que a
extensão dos cantos 2 e 3. Isto acontece porque, via de regra, os cantos 2 e 3 são atuantes, e os
cantos 1 e 4 são de empunhadura ou encabamento.
Torna-se muito difícil encontrar uma peça com um lado completamente cortical, as
peças são geralmente trabalhadas bifacialmente.
Sítio 162
Ao efetuarmos os gráficos dos percentuais obtidos, vemos que 82,42% das formas
analisadas pertencem às formas "triangular" e "foliácea" sendo que as demais formas
estabelecidas "quadrangular" e "bumerangóide" estão menos presentes. Outrossim,
observamos que todas as formas aparecem em todos os sítios, com uma só exceção, o que
comprova o acerto de nossa escolha ao estabelecermos as formas.
No concernente ao item "matéria-prima", o basalto desponta como primeira escolha,
ocupando 96,30% da preferência (135 peças). A distribuição das peças por tipo nos indica o
seguinte:
A soma dos tipos 2 22 peças
4 29
4a 31
5 32
representam a maior parte do material (114 peças,81,42%)
Ora, isso nos indica que esses quatro tipos (Chopping-tool, bifaces oriundos de
grandes lascamentos, bifaces com muita massa no equador e bifaces clássicos) concentram a
maior parte do total. Com exceção dos chopping-tool que podem ser muito trabalhados ou
não, os demais representam um tipo de material arqueológico para cuja execução solicita-se
muitos lascamentos; o que aponta para uma indústria bastante elaborada, oriunda de uma
tecnologia muito desenvolvida. O critério que usamos para rotular como "desenvolvida" a
indústria Humaitá, está alicerçado no fato de que grande parte dos instrumentos, para serem
confeccionados, exigiram uma série de lascamentos. Por contraste, estamos comparando, por
exemplo, os bifaces com artefatos de confecção simples, como por exemplo um chopper.
76
Analisando-se a base de redução inicial, concluímos que a maior parte das peças
(137 - 97,84%) são oriundas de placas de basalto, de rochas da qual não temos informações e
de seixos basálticos, nesta ordem.
O item "alteração da forma básica", nos mostra que 107 peças (76,42%) apresentam
evidências de erosão. Isto se deve a dois fatores:
a) A maioria das peças foi recolhida em cursos d'água, e,
b) a erosão é marcante porque estamos falando de sítios a céu aberto.
Ao analisarmos as alterações sofridas pela matéria-prima, fica claro que em 41,55%
das peças analisadas a alteração detectada corresponde a evidências de erosão.
Fraturas modernas correspondem a 5,75% e marcas de arado a 2,55%. A informação
sobre alteração não está presente em 7,66% das peças, além disto, em número pouco
representativo, há peças que apresentam duas destas particularidades, como, por exemplo,
marca de arado e fratura térmica.
Se observarmos as peças do ponto de vista de quanto da superfície natural ainda
perdura, e trabalharmos este dado levando em conta as faces dorsal e ventral da peça,
obteremos os seguintes totais:
Sup. Nat. cobre 3/4 face dorsal 3/4 face ventral: peças, 15%
2/4 3/4 15 10%
1/4 1/4 14 10%
2/4 1/4 13 9%
Total: 63 45%
Isto demonstra, em primeiro lugar, que o artesão pré-histórico escolhia livremente
quanto da superfície natural iria continuar na peça: além disto, nos revela que, mesmo
permanecendo uma boa quantidade da superfície natural, o artesão realiza uma operação de
desbaste no fio da peça, onde a retirada de superfície natural é completa. Isto nos mostra que
após realizar a primeira série de retirada, o artesão concentrava sua atuação no fio da peça,
que recebia mais uma série de golpes até obter o fio desejado.
77
Ao sítio 134 correspondem 190 peças, destas apenas 144 foram computadas nas
tabelas. As demais são lascas, seixos sem evidência de ação humana e seixos com evidência
de ação de fogo.
Ao observarmos o item “forma”, veremos que 68 peças (47,22%) correspondem a
formas triangulares, ao passo que 76 peças (52,77%) são possuidoras de quatro lados.
O item “matéria-prima” nos indica que 131 peças (90,97%) são oriundas de basalto,
ao passo que 13 peças (9,02%) são oriundas do arenito.
A distribuição das peças por tipo, nos revela quase as mesmas escolhas do sítio 162.
A soma dos tipos 2 44 peças 30,55%
3 6 4,16%
4 29 20,13%
5 31 21,52%
6 6 4,16%
representam a maior parte do material: 116 peças, 80, 62°%.
Isto nos informa que os tipos chopping-tool, ovóides/piramidais, bifaces oriundos de
grandes lascamentos, bifaces clássicos e pré-bumerangóides concentram a maior parte do
material. Excetuando-se os chopping-tool, que podem ser confeccionados com poucos
lascamentos, os demais tipos representam material arqueológico que necessitam muitos
lascamentos; isto nos aponta para o fato de uma indústria com instrumentos líticos muito
elaborados.
Se observarmos o item "base de redução inicial", veremos que a maior parte das
peças (116 – 80,62%) são oriundas de seixos. Para 28 peças (19,44%) não temos esta
informação.
No tocante a "alteração da forma básica" 106 peças (73,61%) apresentam erosão. As
demais probabilidades (fratura moderna, polimento, etc.), estão pouco representadas.
Se observarmos peças do ponto de vista de quanto da superfície natural ainda
perdura, e trabalharmos este dado levando em conta as faces dorsal e ventral das peças,
obteremos os seguintes totais:
78
Sup. nat. Cobre 3/4 na face dorsal face ventral: 37 peças 25,69%
1/4 1/4 13 9,02%
não existe não existe 12 7,63%
1/4 2/4 10 6,94%
1/4 3/4 10 6,94%
Isto nos mostra; como no sítio anterior, que o artesão escolhia quanto da superfície
natural iria continuar na peça. Nos revela também que, mesmo permanecendo muita
superfície natural, realizava-se uma operação de desbaste no fio da peça, que recebia mais
uma série de golpes até obter o fio desejado, geralmente não restando neste nada de superfície
natural.
Ao sítio 90 correspondem 56 peças. Destas, apenas 29 foram computadas nestas
tabelas. As demais 27 são lascas, seixos com evidência da ação do fogo ou porções de matéria
prima sem nenhuma ação humana.
O item "forma" nos indica que as peças "triangulares" e "foliáceas" somam 19
(65,51%), ao passo que as outras formas "quadrangulares" e "bumerangóides" ocorrem em 10
peças (34,48%).
Se este item "forma" for observado em outra perspectiva; veremos que 8 peças
(27,41%) são possuidoras de quatro lados.
Se estivermos interessados em analisar a matéria-prima, veremos que todas as peças
deste sítio (29 - 100%) foram obtidas a partir do basalto.
Se observarmos as peças do ponto de vista dos tipos, veremos a seguinte
composição:
tipos 2, 4 e 5 ........................................................ 5 peças cada
tipo 8 ................................................................... 4 peças
tipos 4a e 7 ......................................................... 3 peças cada
Ora, isto soma 25 peças (86,20%), ou seja, a maior parte do material. Assim sendo,
os tipos chopping-tool, bifaces oriundos de grandes lascamentos, bifaces clássicos e
bumerangóides clássicos concentram a maior parte do material. Se considerarmos os
79
chopping-tool, que podem ser obtidos com poucos lascamentos, todos os demais tipos
somente são obtidos após muitos lascamentos, ou seja, não é uma indústria simples.
O item "base de redução inicial", não é decisivo para este sítio, pois para a maioria
das peças (16 - 55,17%) não possuímos tal informação.
Para a "alteração da forma básica", obtivemos a informação que a maioria das peças
(17 - 58,12%) apresenta erosão. As demais possibilidades estão pouco representadas.
Se observarmos as peças do ponto de vista de quanto da superfície natural ainda
perdura e trabalharmos este dado levando em conta as faces dorsal e ventral da peça,
obteremos os seguintes totais:
Sup. nat. não existe na face dorsal não existe na face ventral: 8 peças 27,58%
1/4 1/4 6 20,68%
3/4 3/4 6 20,68%
1/4 não existe 2 6,89%
3/4 não existe 2 6,89%
Isto demonstra, como nos sítios anteriormente discutidos, que o artesão escolhia
quanto da superfície natural iria continuar na peça. A tecnologia disponível permitia ao
artesão retirar uma porção maior de superfície cortical. Não o fazer era sua escolha.
Finalizando, gostaríamos de propor trabalhos complementares — por exemplo,
refinando a análise, utilizando material oriundo de outros sítios, escavando em detalhe novos
sítios.
Estas indagações deverão ser respondidas ao longo do tempo, com mais trabalhos de
campo e/ou laboratório.
Dada nossa situação de funcionário de carreira, lotado no Museu Antropológico do
Rio Grande do Sul, um órgão de Secretaria de Estado da Cultura, é nosso interesse continuar a
realizar trabalhos de campo, bem como realizar trabalhos de laboratório, quer em nossa
Instituição, quer em qualquer outra que possua peças arqueológicas. Move-nos o interesse de
fazer uma releitura das peças já coletadas, para que, usando a mesma metodologia,
consigamos obter mais dados.
80
Aliado aos fatos aludidos, cremos também ser importante marcar nosso interesse em
realizarmos experimentações controladas, o que nos irá permitir a reprodução, em laboratório,
das peças que hoje são encontradas nos sítios arqueológicos. Isto nos fará avançar bastante no
conhecimento das práticas tecnológicas dos grupos pré-históricos. Se computarmos todas as
peças analisadas, obteremos os seguintes números:
Sítios Peças
090 140
134 190
162 140
Total 470
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ANEXOS
1 - Mapa Parcial Geográfico do Estado do Rio Grande do Sul na escala de 1:1.800.000,
1983. Destacando a localização dos sítios nos municípios de Iraí, Sobradinho e Nova
Palma .........................................................................................................................87
2 - Mapa Parcial do Município de Nova Palma. Escala 1: 100.000, 1993 .........................88
3 - Lista de atributos para análise de instrumentos líticos lascados ...................................89
4 - Lista de atributos para lascas e alguns outros tipos de instrumentos líticos lascados ..101
5 - Gráfico da análise do material - Superfície Natural/Matéria Prima ............................111
6 - Gráfico da análise do; material - Forma / Tipo ..........................................................112
7 - Desenhos das peças líticas mais significativas...........................................................113
8 -Listagem das peças obtidas conforme a aplicação da "Lista de atributos para análise de
instrumentos líticos lascados", bem como sua divisão conforme a matéria prima,
alterações apresentadas e áreas de evidência de uso ..................................................143
9 - Resumo da listagem: "Lascas" ..................................................................................149
ANEXO 1
Mapa Parcial Geográfico do Estado do Rio Grande do Sul na escala de 1:1.800.000, 1983.
Destacando a localização dos sítios nos municípios de Irai, Sobradinho e Nova Palma
ANEXO 3
LISTA DE ATRIBUTOS PARA ANÁLISE DE INSTRUMENTOS LÍTICOS
LASCADOS
* Adaptado por Sérgio Leite de Hilbert & Hoeltz, dez. 1994.
1- Tipo de Programa (coluna A)
Programa básico.................................................................................................................1
Programa modificação .......................................................................................................2
2- Númeio de catálogo (coluna B)
3- Númeio individual (coluna C)
4- Forma (coluna D)
Triangular .........................................................................................................................1
Foliácea .............................................................................................................................2
Quadrangular .....................................................................................................................3
Bumerangóide....................................................................................................................4
PROGRAMA BÁSICO
6- Matéria-prima (coluna E)
Basalto...............................................................................................................................1
Arenito metamorfisado ......................................................................................................2
90
7- Superfície natural (coluna F)
Sem informação ................................................................................................................0
Sem superfície natural........................................................................................................1
Superfície de seixo.............................................................................................................2
Superfície de bloco ............................................................................................................3
Superfície de placa de basalto ............................................................................................4
8- Alteração da forma básica (coluna G)
Sem informação.................................................................................................................0
Sem alteração ....................................................................................................................1
Erosão e/ou percolação por min Fe ....................................................................................2
Fratura térmica ..................................................................................................................3
Concreção .........................................................................................................................4
Fratura moderna ................................................................................................................5
Marca de Arado ................................................................................................................6
Polimento em uma aresta ..................................................................................................7
9- Medidas (coluna H/K)
Comprimento ....................................................................................................Coluna H
Largura ................................................................................................................ Coluna I
Espessura .............................................................................................................Coluna J
Peso .....................................................................................................................Coluna K
10- Estado de preservação (coluna L)
Sem informação ................................................................................................................0
Completo ..........................................................................................................................1
Comprimento incompleto ..................................................................................................2
91
Largura incompleta ...........................................................................................................3
Comprimento e largura incompleta ...................................................................................4
Comprimento e espessura incompleta ...............................................................................5
Largura e espessura incompletos .......................................................................................6
Comprimento, largura e espessura incompletos ..................................................................7
11- Base de redução inicial (coluna M)
Sem informação.................................................................................................................0
Lasca .................................................................................................................................1
Seixo .................................................................................................................................2
Bloco .................................................................................................................................3
Placa de basalto coluna R...................................................................................................4
12- Quantidade de superfície natural (coluna N)
Sem superfície natural, lado dorsal.....................................................................................0
Superfície naturalocupa 1/4 lado dorsal..............................................................................1
Sem superfície natural ocupa 2/4 lado dorsal......................................................................2
Sem superfície natural ocupa 3/4 lado dorsal......................................................................3
Sem superfície natural ocupa 4/4 lado dorsal......................................................................4
Sem superfície natural, lado ventral ...................................................................................5
Superfície natural 1/4 lado ventral .....................................................................................6
Superfície natural 2/4 lado ventral......................................................................................7
Superfície natural 3/4 lado ventral......................................................................................8
Superfície natural 4/4 lado ventral......................................................................................9
92
PROGRAMAÇÃO MODIFICAÇÃO
6- Modificação do canto 1, dorsal (coluna E)
Sem informação.................................................................................................................0
Superfície natural...............................................................................................................1
Fratura ...............................................................................................................................2
Negativo de redução completo ...........................................................................................3
Negativo de redução incompleto ........................................................................................4
Alternante ..........................................................................................................................5
Alterno...............................................................................................................................6
Retoque completo ..............................................................................................................7
Retoque incompleto ...........................................................................................................8
Retoque alternante .............................................................................................................9
Retoque alterno................................................................................................................10
Retoque marcerado, escalonado .......................................................................................11
Retoque denticulado.........................................................................................................12
Retoque irregular .............................................................................................................13
Picoteamento ...................................................................................................................14
Arredondado, gasto pelo uso ............................................................................................15
Polido ..............................................................................................................................16
7- Seqüência das modificações do canto 1, dorsal (coluna F)
Sem informação/sem modificação......................................................................................0
Canto 1 é canto 1 ...............................................................................................................1
Canto 1 corta 2...................................................................................................................2
Canto 1 corta 3...................................................................................................................3
Canto 1 corta 4...................................................................................................................4
93
8- Extensão das modificações, canto 1, dorsal (coluna G)
9- Ângulo do retoque (coluna H)
10- Modificação do canto 1, ventral (coluna I)
Sem informação.................................................................................................................0
Superfície natural...............................................................................................................1
Fratura ...............................................................................................................................2
Negativo de redução completo ...........................................................................................3
Negativo de redução incompleto ........................................................................................4
Alternante ..........................................................................................................................5
Alterno...............................................................................................................................6
Retoque completo ..............................................................................................................7
Retoque incompleto ...........................................................................................................8
Retoque alternante .............................................................................................................9
Retoque alterno................................................................................................................10
Retoque marcerado, escalonado .......................................................................................11
Retoque denticulado.........................................................................................................12
Retoque irregular .............................................................................................................13
Picoteamento para facilitar empunhadura.........................................................................14
Arredondado, gasto pelo uso ............................................................................................15
11- Seqüência das modificações do canto 1, ventral (coluna J)
Sem informação/sem modificação......................................................................................0
Canto 1 é canto 1 ...............................................................................................................1
Canto 1 corta 2...................................................................................................................2
Canto 1 corta 3...................................................................................................................3
Canto 1 corta 4...................................................................................................................4
94
12- Extensão das modificações, canto 1, ventral (coluna K)
13- Ângulo do retoque (coluna L)
14- Modificação do canto 2, dorsal (coluna M)
Sem informação.................................................................................................................0
Superfície natural...............................................................................................................1
Fratura ...............................................................................................................................2
Negativo de redução completo ...........................................................................................3
Negativo de redução incompleto ........................................................................................4
Alternante ..........................................................................................................................5
Alterno...............................................................................................................................6
Retoque completo ..............................................................................................................7
Retoque incompleto ...........................................................................................................8
Retoque alternante .............................................................................................................9
Retoque alterno................................................................................................................10
Retoque marcerado, escalonado .......................................................................................11
Retoque denticulado.........................................................................................................12
Picoteamento ...................................................................................................................14
Arredondado, gasto pelo uso ............................................................................................15
15- Seqüência das modificações do canto 2, dorsal (coluna N)
Sem informação/sem modificação......................................................................................0
Canto 2 é canto 1 ...............................................................................................................1
Canto 2 corta 2...................................................................................................................2
Canto 2 corta 3...................................................................................................................3
Canto 2 corta 4...................................................................................................................4
95
16- Extensão das modificações, canto 2, dorsal (coluna O)
17- Ângulo do retoque (coluna P)
18- Modificação do canto 2, ventral (coluna Q)
Sem informação.................................................................................................................0
Superfície natural...............................................................................................................1
Fratura ...............................................................................................................................2
Negativo de redução completo ...........................................................................................3
Negativo de redução incompleto ........................................................................................4
Alternante ..........................................................................................................................5
Alterno...............................................................................................................................6
Retoque completo ..............................................................................................................7
Retoque incompleto ...........................................................................................................8
Retoque alternante .............................................................................................................9
Retoque alterno................................................................................................................10
Retoque marcerado, escalonado .......................................................................................11
Retoque denticulado.........................................................................................................12
Picoteamento ...................................................................................................................14
Arredondado, gasto pelo uso ............................................................................................15
19- Seqüência das modificações do canto 2, ventral (coluna R)
Sem informação/sem modificação......................................................................................0
Canto 2 é canto 1 ...............................................................................................................1
Canto 2 corta 2...................................................................................................................2
Canto 2 corta 3...................................................................................................................3
Canto 2 corta 4...................................................................................................................4
96
20- Extensão das modificações, canto 2, ventral (coluna S)
21- Ângulo do retoque (coluna T)
22- Modificação do canto 3, dorsal (coluna U)
Sem informação.................................................................................................................0
Superfície natural...............................................................................................................1
Fratura ...............................................................................................................................2
Negativo de redução completo ...........................................................................................3
Negativo de redução incompleto ........................................................................................4
Alternante ..........................................................................................................................5
Alterno...............................................................................................................................6
Retoque completo ..............................................................................................................7
Retoque incompleto ...........................................................................................................8
Retoque alternante .............................................................................................................9
Retoque alterno................................................................................................................10
Retoque marcerado, escalonado .......................................................................................11
Retoque denticulado.........................................................................................................12
Picoteamento ...................................................................................................................14
Arredondado, gasto pelo uso ............................................................................................15
23- Seqüência das modificações do canto 2, dorsal (coluna V)
Sem informação.................................................................................................................0
Canto 3 é canto 1 ...............................................................................................................1
Canto 3 corta 2...................................................................................................................2
Canto 3 é corta 3 ................................................................................................................3
Canto 3 corta 4...................................................................................................................4
97
24- Extensão das modificações, canto 3, dorsal (coluna W)
25- Ângulo do retoque (coluna X)
26- Modificação do canto 3, ventral (coluna Y)
Sem informação.................................................................................................................0
Superfície natural...............................................................................................................1
Fratura ...............................................................................................................................2
Negativo de redução completo ...........................................................................................3
Negativo de redução incompleto ........................................................................................4
Alternante ..........................................................................................................................5
Alterno...............................................................................................................................6
Retoque completo ..............................................................................................................7
Retoque incompleto ...........................................................................................................8
Retoque alternante .............................................................................................................9
Retoque alterno................................................................................................................10
Retoque marcerado, escalonado .......................................................................................11
Retoque denticulado.........................................................................................................12
Picoteamento ...................................................................................................................14
Arredondado, gasto pelo uso ............................................................................................15
27- Seqüência das modificações do canto 3, ventral (coluna Z)
Sem informação.................................................................................................................0
Canto 3, corta 1..................................................................................................................1
Canto 3, corta 2..................................................................................................................2
Canto 3 é canto 3 ...............................................................................................................3
Canto 3 corta 4...................................................................................................................4
98
28- Extensão das modificações, canto 3, ventral (coluna AA)
29- Ângulo do retoque (coluna AB)
30- Modificação do canto 4, dorsal (coluna AC)
Sem informação.................................................................................................................0
Superfície natural...............................................................................................................1
Fratura ...............................................................................................................................2
Negativo de redução completo ...........................................................................................3
Negativo de redução incompleto ........................................................................................4
Alternante ..........................................................................................................................5
Alterno...............................................................................................................................6
Retoque completo ..............................................................................................................7
Retoque incompleto ...........................................................................................................8
Retoque alternante .............................................................................................................9
Retoque alterno................................................................................................................10
Retoque marcerado, escalonado .......................................................................................11
Retoque denticulado.........................................................................................................12
Picoteamento ...................................................................................................................14
Arredondado, gasto pelo uso ............................................................................................15
31- Seqüência das modificações do canto 4, dorsal (coluna AD)
Sem informação.................................................................................................................0
Canto 4, corta 1..................................................................................................................1
Canto 4, corta 2..................................................................................................................2
Canto 4 corta 3...................................................................................................................3
Canto 4 é canto 4 ...............................................................................................................4
99
32- Extensão das modificações, canto 4, dorsal (coluna AE)
33- Ângulo do retoque (coluna AF)
34- Modificação do canto 4, ventral (coluna AG)
Sem informação.................................................................................................................0
Superfície natural...............................................................................................................1
Fratura ...............................................................................................................................2
Negativo de redução completo ...........................................................................................3
Negativo de redução incompleto ........................................................................................4
Alternante ..........................................................................................................................5
Alterno...............................................................................................................................6
Retoque completo ..............................................................................................................7
Retoque incompleto ...........................................................................................................8
Retoque alternante .............................................................................................................9
Retoque alterno................................................................................................................10
Retoque marcerado, escalonado .......................................................................................11
Retoque denticulado.........................................................................................................12
Picoteamento ...................................................................................................................14
Arredondado, gasto pelo uso ............................................................................................15
35- Seqüência das modificações do canto 4, dorsal (coluna AH)
Sem informação.................................................................................................................0
Canto 4 corta 1...................................................................................................................1
Canto 4 corta 2...................................................................................................................2
Canto 4 corta 3...................................................................................................................3
Canto 4 é canto 4 ...............................................................................................................4
100
36- Extensão das modificações, canto 4, ventral (coluna AI)
37- Ângulo do retoque (coluna AJ)
38- Tipo de peça (coluna AK)
Chopper .............................................................................................................................1
Chopping-tool....................................................................................................................2
Ovóide/piramidal ...............................................................................................................3
Biface grande.....................................................................................................................4
Biface grande muita massa equador ................................................................................4A
Biface clássico ...................................................................................................................5
Pré-bumerangóide..............................................................................................................6
Bumerangóide semi-infletido .............................................................................................7
Bumerangóide clássico ......................................................................................................8
ANEXO 4
LISTA DE ATRIBUTOS PARA LASCAS E ALGUNS OUTROS TIPOS DE
INSTRUMENTOS LÍTICOS LASCADOS
Adaptado por Sérgio Leite de HILBERT, 1994.
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
1- Número de catálogo (coluna A)
DADOS BÁSICOS
2- Forma básica (coluna B)
Lasca unipolar....................................................................................................................1
Lasca bipolar .....................................................................................................................2
Detrito de lasca ..................................................................................................................3
Núcleo com uma plataforma ..............................................................................................4
Núcleo com duas plataformas opostas ................................................................................5
Núcleo com duas plataformas em ângulo ...........................................................................7
Núcleo poliédrico...............................................................................................................8
Núcleo bipolsar com uma plataforma.................................................................................9
Núcleo com duas plataformas em ângulo .........................................................................10
Núcleo bipolar poliédrico.................................................................................................11
Fragmentos de núcleo ......................................................................................................12
Fragmento térmico...........................................................................................................13
Seixo ...............................................................................................................................14
Bloco ...............................................................................................................................15
Geodo ..............................................................................................................................16
102
3- Matéria-prima (coluna C)
Basalto...............................................................................................................................1
Arenito silicificado ............................................................................................................2
Arenito ..............................................................................................................................3
Calcedônia .........................................................................................................................4
Ágata .................................................................................................................................5
Quartzo leitoso...................................................................................................................6
Quartzo hialino ..................................................................................................................7
Hematita ............................................................................................................................8
Riolito................................................................................................................................9
4) Superfície natural (coluna D)
Sem superfície natural........................................................................................................0
Superfície natural de seixo .................................................................................................1
Superfície natural de geodo................................................................................................2
Superfície natural de bloco.................................................................................................3
Sem informação.................................................................................................................4
Marca de batimento ...........................................................................................................5
Marca de polimento ...........................................................................................................6
5- Alteração da forma básica (coluna E)
Sem alteração.....................................................................................................................0
Arredondado (ação d’água) ...............................................................................................1
Fraturas térmicas................................................................................................................2
Coloração térmica ..............................................................................................................3
Fratura e coloração térmica ................................................................................................4
Concreção..........................................................................................................................5
Erosão................................................................................................................................6
103
Fratura recente ...................................................................................................................7
Sem informação.................................................................................................................8
6- Medidas (coluna F/I)
Comprimento .................................................................................................... Coluna F
Largura ................................................................................................................Coluna G
Espessura .............................................................................................................Coluna H
Peso ...................................................................................................................... Coluna I
7- Estado de preservação (coluna J)
Completo ...........................................................................................................................1
Comprimento incompleto...................................................................................................2
Largura incompleta ............................................................................................................3
Espessura incompleta.........................................................................................................4
Comprimento e largura incompletos ..................................................................................5
Comprimento e espessura incompletos ..............................................................................6
Largura e espessura incompletas .......................................................................................7
Comprimento, largura e espessura incompletos, sem informação .......................................8
FORMA BÁSICA - LASCA
8) Medidas do plano de percussão (coluna K/M)
Sem parte proximal............................................................................................................0
Largura .................................................................................................................Coluna K
Espessura.............................................................................................................. Coluna L
Ângulo.................................................................................................................Coluna M
104
9) Estado de preservação do plano de percussão (coluna N)
Sem parte proximal............................................................................................................0
Completo ...........................................................................................................................1
Largura incompleta ............................................................................................................2
Largura incompleta (Siret) .................................................................................................3
Espessura incompleta.........................................................................................................4
Largura e espessura incompletas .......................................................................................5
Sem informação.................................................................................................................7
10) Tipo de percurssão (coluna O)
Sem parte proximal............................................................................................................0
Completo ...........................................................................................................................1
Largura incompleta ............................................................................................................2
Largura incompleta (Siret) .................................................................................................3
Espessura incompleta.........................................................................................................4
Largura e espessura incompletas .......................................................................................5
Sem informação.................................................................................................................6
11) Canto ventral do plano de percussão (coluna P)
Sem parte proximal............................................................................................................0
Sem formação de lábio.......................................................................................................1
Com informação de lábio ..................................................................................................2
Sem informação.................................................................................................................3
12) Canto dorsal do plano de percussão (coluna Q)
Sem parte proximal............................................................................................................0
105
Sem redução dorsal ............................................................................................................1
Redução escalonada ...........................................................................................................2
Redução arredondada.........................................................................................................3
Sem informação.................................................................................................................4
13) Lado ventral Bulbo (coluna R)
Sem parte proximal............................................................................................................0
Bulbo sem cicatriz .............................................................................................................1
Bulbo com cicatriz .............................................................................................................2
Cone com cicatriz ..............................................................................................................3
Cone sem cicatriz...............................................................................................................4
Sem bulbo, sem cone .........................................................................................................5
Sem informação.................................................................................................................6
14) Lado dorsal – negativos (coluna S)
Sem negativos (lasca cortical) ...........................................................................................0
Negativo sem direção de lascamento..................................................................................1
Negativos transversal .........................................................................................................2
Negativos diagonal ............................................................................................................3
Negativos opostos ..............................................................................................................4
Negativos em várias direções .............................................................................................5
Sem informação.................................................................................................................6
15) Lado dorsal – quantidade de superfície natural (coluna T)
Sem superfície natural........................................................................................................0
1/3 superfície natural..........................................................................................................1
1/2 superfície natural..........................................................................................................2
106
2/3 superfície natural..........................................................................................................3
Superfície natural total .......................................................................................................4
Sem informação ................................................................................................................5
16) Canto distal (coluna D)
Sem parte distal .................................................................................................................0
Afinado..............................................................................................................................1
Escalonado.........................................................................................................................2
Arredondado......................................................................................................................3
Inflexo ...............................................................................................................................4
Estilhaçado ........................................................................................................................5
Macerado...........................................................................................................................6
Sem informação.................................................................................................................7
Retocado............................................................................................................................8
FORMA BÁSICA - NÚCLEO
8) Tipo de plataforma (coluna K)
Liso ...................................................................................................................................0
Facetado primário ..............................................................................................................2
Facetado secundário...........................................................................................................3
Linear ................................................................................................................................4
Puntiforme.........................................................................................................................5
Superfície natural...............................................................................................................6
Sem informação.................................................................................................................7
107
9) Quantidade de superfície natural (coluna L)
Sem superfície natural........................................................................................................0
1/3 superfície natural..........................................................................................................1
1/2 superfície natural..........................................................................................................2
2/3 superfície natural..........................................................................................................3
Sem informação ................................................................................................................4
19) Ponto de apoio – núcleo bipolar (coluna M)
Sem ponto de apoio............................................................................................................1
Ponto de apoio macerado ...................................................................................................2
Ponto de apoio estilhaçado.................................................................................................3
Ponto de apoio macerado e estilhaçado ..............................................................................4
Sem informação ................................................................................................................5
DADOS DE MODIFICAÇÃO
17) Modificação (coluna V)
Sem modificação ...............................................................................................................0
Retoque .............................................................................................................................1
Marcas de uso ....................................................................................................................2
Retoque e marcas de uso ....................................................................................................3
Fratura intencional .............................................................................................................4
108
18) Modificação – Retoque (coluna W)
Retoque .............................................................................................................................0
Denticulado .......................................................................................................................1
Retoque bifacial .................................................................................................................2
Retoque abrupto.................................................................................................................3
Retoque regular..................................................................................................................4
Retoque irregular ...............................................................................................................5
Entalhe...............................................................................................................................6
19) Modificação – Marcas de uso (coluna X)
Sem marcas de uso.............................................................................................................0
Micro fraturas ....................................................................................................................1
Arredondado......................................................................................................................2
Arredondado e com micro-fraturas.....................................................................................3
Polido (brilho) ...................................................................................................................4
Micro-fraturas e polimento.................................................................................................5
Micro-fraturas, arredondado e polido .................................................................................6
Arredondado e polido ........................................................................................................7
Picoteado ...........................................................................................................................8
Macerado...........................................................................................................................9
Quebrado .........................................................................................................................10
20) Modificação – Localização (coluna Y)
Sem informação.................................................................................................................0
Lateral ...............................................................................................................................1
Distal .................................................................................................................................2
Proximal ............................................................................................................................3
Lateral, distal .....................................................................................................................4
109
Lateral, proximal................................................................................................................5
Lateral, proxima, distal ......................................................................................................6
Proximal, distal ..................................................................................................................7
Perímetro ...........................................................................................................................8
Na aresta dorsal da plataforma de impacto .........................................................................9
Na aresta ventral da plataforma de impacto ......................................................................10
Na face dorsal ..................................................................................................................11
Na face ventral.................................................................................................................12
21) Modificação – Posição (coluna Z)
Dorsal ................................................................................................................................1
Ventral...............................................................................................................................2
Dorsal, ventral, alterno.......................................................................................................3
Dorsal, ventral, alternante ..................................................................................................4
Dorsal, ventral, Biface .......................................................................................................5
Sem informação.................................................................................................................6
Aresta dorsal da plataforma de impacto..............................................................................7
Aresta ventral da plataforma de impacto ............................................................................8
Na faixa equatorial da peça ................................................................................................9
22) Modificação – Medidas – (coluna AA/AC)
Comprimento.....................................................................................................Coluna AA
Largura ..............................................................................................................Coluna AB
Ângulo...............................................................................................................Coluna AC
23) Estado de preservação da modificação (coluna AD)
Completo ...........................................................................................................................1
Comprimento incompleto...................................................................................................2
110
Largura incompleta ............................................................................................................3
Comprimento e largura incompletos ..................................................................................4
Sem informação.................................................................................................................5
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