de outros musicais m nos pequenos detalhes. somente quando esses detalhes estiverem amarrados e...

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C4 Caderno 2 SEGUNDA-FEIRA, 30 DE JANEIRO DE 2017 O ESTADO DE S. PAULO Para que tudo seja feito da melhor maneira pos- sível, será melhor você assumir essas tarefas que, a princípio, você deixaria na mão de outras pessoas. É necessário fazer ajustes que só surgirão na mar- cha dos acontecimentos. www.coquetel.com.br © Revistas COQUETEL BANCO Estanca (?) dentária: identifica cadáveres Sistema de unidades de medida (Fís.) Espaço de repre- sentação teatral Mover- se em círculos Golpe com a ar- ticulação do braço Escritora da série de livros "Os Ins- trumentos Mortais" Reprovação em massa Grau do judô Instrumen- to natalino 500, em romanos Ensinar; explicar Grupo no- rueguês de rock Rica Criações do redator de humor Acusada A7 a nota musical Celular (abrev.) Doença que aco- mete digi- tadores Ratos e preás (?) coisa: isso Set (?), lis- ta das can- ções de um show Profundo, em inglês Famoso teatro de Milão, na Itália Que tem pressão atmosfé- rica igual (fem.) Efeitos da baixa umi- dade na garganta Tarzan (Cin.) Ponto cardeal do pôr do sol (?) Olivei- ra, atriz brasileira Viseira Psicologia (abrev.) Ente folclórico Expressão de nojo Previne Orígenes (?), autor de "O Fei- jão e o So- nho" (Lit.) 3/cgs — dan. 4/deep — list. 5/lessa — scala. 6/degola. 9/isobárica. 14/cassandra clare. C C O T O V E L A D A R O E D O R E S E S S A C G S L I S T P A O L A D E E P D A N A E A H A D S C A L A L E R I S O B A R I C A E C A P S I C L E S S A O L E V I T A C E N A C A R A C O L A R S A D A I P R E 1 9 4 8 4 3 1 5 8 2 3 9 8 1 6 9 4 1 5 3 8 7 9 6 6 8 5 1 Nível Fácil 612 954 387 493 287 165 785 613 429 371 592 648 548 176 293 926 348 571 154 769 832 837 421 956 269 835 714 6002466 SOLUÇÕES LEÃO 22-7 a 22-8 É importante você to- mar cuidado com as conversas que se desenvolvem no âmbito cotidiano, pois, as informações circulam de for- ma distorcida e isso pode atra- palhar seus planos. Mantenha a discrição e o silêncio. Para entender essa par- te da realidade que não vai deixar de acontecer, mes- mo provocando comoções em seu íntimo, você precisa, em primeiro lugar, parar de brigar com ela, aceitando-a como al- go que veio para ficar. TOURO 21-4 a 20-5 Coloque seus planos em andamento, mas procu- re, em primeiro lugar, se con- centrar nos pequenos detalhes. Somente quando esses detalhes estiverem amarrados e funcio- nando direito é que as grandes tacadas serão oportunas. Parece impossível sin- cronizar todas as pes- soas para que o resultado seja o benefício de, pelo menos, a maior parte delas. Porém, isso está em andamento, por isso, considere este momento um desafio que vale a pena. Ainda que pareça atrati- va a ideia de que assu- mindo riscos tudo progrediria com mais eficiência, seria me- lhor você refletir sobre essa ideia com mais tranquilidade. Não seria sábio se estressar nesta parte do caminho. O descontrole é tempo- rário, não poderia dei- xar de existir diante da mudan- ça de rumo que as coisas toma- ram e a necessidade de você inventar métodos diferentes para se aproximar à conquista de seus interesses. Antes de iniciar seus movimentos, procure enfrentar a desordem que afeta sua saúde financeira. Isso é ne- cessário e fundamental, pois, fará você colocar seus pés num novo caminho com mais segu- rança e boa administração. Nada consegue se esta- bilizar dentro da pers- pectiva que sua alma deseja conquistar e isso não acontece por mera casualidade. Há de se suspeitar que a mão misteriosa do destino esteja por trás des- ses acontecimentos. Ainda que houver moti- vo para você criticar a atuação de certas pessoas, nes- ta parte do caminho seria me- lhor não expressar nada nesse sentido. Há uma desordem que requer a contribuição de todo mundo para ser superada. Parta do princípio de que por ser, para você, tudo muito novo o que aconte- ce, que então é mais do que na- tural que você, em muitos mo- mentos, se sinta fora da realida- de e um pouco incapaz de do- minar a situação. Difícil coordenar a ativi- dade das pessoas que fazem parte do seu caminho neste momento, cada uma de- las tem sua própria opinião e ainda não se deu a oportunida- de nem a boa vontade delas pen- sarem no bem-estar do grupo. Quadrinhos ESCORPIÃO 23-10 a 21-11 AQUÁRIO 21-1 a 19-2 GÊMEOS 21-5 a 20-6 VIRGEM 23-8 a 22-9 SAGITÁRIO 22-11 a 21-12 PEIXES 20-2 a 20-3 ÁRIES 21-3 a 20-4 “Aprendi o silêncio com os faladores, a tolerância com os intolerantes, a bondade com os maldosos; e, por estranho que pareça, sou grato a esses professores” Khalil Gibran CÂNCER 21-6 a 21-7 CAPRICÓRNIO 22-12 a 20-1 LIBRA 23-9 a 22-10 A bandona a alegoria que durante milênios serviu de refe- rência para compreender a dinâmica do Universo, a len- dária luta entre o bem e o mal não faz mais sentido al- gum e, pelo contrário, começa a confundir o entendimento que nossa humanidade precisa ter a respeito da vida. Não há pessoa que seja absolutamente boa nem tampouco ser humano total- mente malvado, o bem não é tão bonito como o pintam nem tampouco o mal é desprezível. Abandona essa referência o quanto antes, não tem mais utilidade. Agora compreende o se- guinte, há forças antagônicas, sim, se debatendo no infinitesi- mal e no infinito, é a luta entre o conhecimento e a ignorância. O conhecimento promove a percepção da realidade como ela é enquanto a ignorância distribui véus e distorções para evitar que a percepção seja clara. Bem pensado Cruzadas & Sudoku O melhor de Calvin Bill Watterson Recruta Zero Mort Walker Minduim Charles M. Schulz Frank & Ernest Bob Thaves Turma da Mônica Mauricio de Sousa QUIROGA [email protected] Os antagonistas Data estelar: Lua cresce em Peixes M inha mãe sempre gostou de musicais. Lembro da an- tena da nossa televisão dis- posta em ângulos bizarros, no pon- to exato onde a imagem ficava me- nos verde, e de nós duas na sala as- sistindo a algum filme como Um dia em Nova York (On the Town, 1949) ou Xanadu (1980), enquanto tentá- vamos entender se aquilo era um número de dança ou só um persona- gem de duas cabeças caminhando no parque. (A imagem era muito ruim mesmo.) Quando eu era menor, achava muito chatas as partes em que os personagens irrompiam a cantar, e aproveitava essas horas para ir ao banheiro. Os números de dança costu- mavam ser compridos, com platafor- mas giratórias e atrizes com vestidos esvoaçantes posando de modelos em seus chapéus elaborados. E rocambo- les na piscina: havia uma quantidade cansativa de cenas com pessoas na- dando em círculos de forma sincroni- zada e sendo erguidas por um guindas- te com uma vela de bolo na cabeça e um sorriso decididamente assusta- dor. Era nesse momento que eu para- va para fazer um lanche. Só a “parte da história” me interessava. Mais tarde, já na adolescência, co- mecei a entender qual era a graça da- quelas coreografias de dança com um cabide e reparei na letra das músicas que o mocinho cantava para sua ama- da, que até então ele odiava. Passei a esperar por esses momentos nos fil- mes, mesmo porque, àquela altura, a imagem da nossa televisão já estava bem melhor. Mas eu continuava prefe- rindo Gene Kelly a Fred Astaire por- que ele era mais acrobático e dava cam- balhotas vestido de pirata. (Com o amadurecimento veio a sabedoria.) O bom de falar de um gênero em extinção é que dá para dizer que você já viu quase tudo sem correr o risco de estar exagerando: desde os musicais mais consagrados como Cantando na Chuva (Singin’ in the Rain, 1952), Amor Sublime Amor (West Side Story, 1961), My Fair Lady (1964), A Noviça Rebelde (The Sound of Music, 1965), passando por alguns dos meus favoritos como Alta Sociedade (High Society, 1956) e Meias de Seda (Silk Stockings, 1957), até umas bombas tipo Bonita e Valente (An- nie Get Your Gun, 1950) e o já citado Xanadu, que até hoje é matéria de pesa- delos. Vejam: o principal componente de um musical é a tolice. Não há como conceber um mundo sério em que uma pessoa resolve dizer algo cantan- do – estou pensando em Fred Astaire ao pé da escadaria dizendo que nunca mais vai dançar se não for com Gin- ger Rogers, em Ritmo Louco (Swing Time, 1936), ou em Gene Kelly e Do- nald O’Connor torturando o fonoau- diólogo em Cantando na Chuva. Aliás, o sapateado em si já é um troço engra- çado. Dito isso, não dá para saber onde foi parar a tolice naquele momento preciso em que Astaire e Cyd Charis- se começam a dançar no Central Park, hesitantes, em Roda da Fortuna (The Band Wagon, 1953). Ou mesmo quando Richard Beymer, que aliás era meio dentuço, canta Somewhere para Natalie Wood em Amor Sublime Amor. Ou quando uma maltrapilha Audrey Hepburn em My Fair Lady diz como seria lindo ter as mãos e os pés quentes. Um musical pode ser predomi- nantemente tolo, mas há instan- tes de extrema beleza nos quais só a dança e a música fazem senti- do. Um dos mais tocantes aconte- ce num filme chamado A Alegre Divorciada ( The Gay Divorcee , 1934), quando Astaire pede que Rogers não vá embora porque ele tem “muitas coisas a dizer”, sen- do que essas coisas são a letra de Night and Day”, de Cole Porter. Neste século tivemos Moulin Rouge! (2001), Chicago (2002) e Os Miseráveis (Les Misérables , 2012), todos bonitos e tolos. Tudo isso para chegar em La La Land (2016), um musical que pro- meteu romance, vestidos colori- dos, sapateado, coreografias em cima de carros e um planetário. E ainda assim saí do cinema decep- cionada. * P.S.: A imagem pelo menos não estava verde. VANESSA BARBARA VANESSA BARBARA ESCREVE ÀS SEGUNDAS-FEIRAS De outros musicais Não há como conceber um mundo sério em que a pessoa resolve dizer algo cantando

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Page 1: De outros musicais M nos pequenos detalhes. Somente quando esses detalhes estiverem amarrados e funcio-nando direito é que as grandes tacadas serão oportunas. Parece impossível

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C4 Caderno 2 SEGUNDA-FEIRA, 30 DE JANEIRO DE 2017 O ESTADO DE S. PAULO

Para que tudo seja feito da melhor maneira pos-

sível, será melhor você assumir essas tarefas que, a princípio, você deixaria na mão de outras pessoas. É necessário fazer ajustes que só surgirão na mar-cha dos acontecimentos.

www.coquetel.com.br © Revistas COQUETEL

BANCO 1

Estanca

(?)dentária:identificacadáveres

Sistema deunidades

de medida(Fís.)

Espaçode repre-sentaçãoteatral

Mover-se em

círculos

Golpecom a ar-ticulaçãodo braço

Escritora da sériede livros "Os Ins-

trumentos Mortais"Reprovação em massa

Grau dojudô

Instrumen-to natalino

500, emromanosEnsinar;explicar

Grupo no-rueguêsde rock

Rica

Criaçõesdo redatorde humorAcusada

A 7a notamusicalCelular(abrev.)

Doençaque aco-

mete digi-tadores

Ratos epreás

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Set (?), lis-ta das can-

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Itália

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(fem.)

Efeitos dabaixa umi-dade nagarganta

Tarzan(Cin.)

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(?) Olivei-ra, atriz

brasileira Viseira

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Entefolclórico

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Previne

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Nível Fácil

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SOLUÇÕES

LEÃO 22-7 a 22-8

É importante você to-mar cuidado com as

conversas que se desenvolvem no âmbito cotidiano, pois, as informações circulam de for-ma distorcida e isso pode atra-palhar seus planos. Mantenha a discrição e o silêncio.

Para entender essa par-te da realidade que não

vai deixar de acontecer, mes-mo provocando comoções em seu íntimo, você precisa, em primeiro lugar, parar de brigar com ela, aceitando-a como al-go que veio para ficar.

TOURO 21-4 a 20-5

Coloque seus planos em andamento, mas procu-

re, em primeiro lugar, se con-centrar nos pequenos detalhes. Somente quando esses detalhes estiverem amarrados e funcio-nando direito é que as grandes tacadas serão oportunas.

Parece impossível sin-cronizar todas as pes-

soas para que o resultado seja o benefício de, pelo menos, a maior parte delas. Porém, isso está em andamento, por isso, considere este momento um desafio que vale a pena.

Ainda que pareça atrati-va a ideia de que assu-

mindo riscos tudo progrediria com mais eficiência, seria me-lhor você refletir sobre essa ideia com mais tranquilidade. Não seria sábio se estressar nesta parte do caminho.

O descontrole é tempo-rário, não poderia dei-

xar de existir diante da mudan-ça de rumo que as coisas toma-ram e a necessidade de você inventar métodos diferentes para se aproximar à conquista de seus interesses.

Antes de iniciar seus movimentos, procure

enfrentar a desordem que afeta sua saúde financeira. Isso é ne-cessário e fundamental, pois, fará você colocar seus pés num novo caminho com mais segu-rança e boa administração.

Nada consegue se esta-bilizar dentro da pers-

pectiva que sua alma deseja conquistar e isso não acontece por mera casualidade. Há de se suspeitar que a mão misteriosa do destino esteja por trás des-ses acontecimentos.

Ainda que houver moti-vo para você criticar a

atuação de certas pessoas, nes-ta parte do caminho seria me-lhor não expressar nada nesse sentido. Há uma desordem que requer a contribuição de todo mundo para ser superada.

Parta do princípio de que por ser, para você,

tudo muito novo o que aconte-ce, que então é mais do que na-tural que você, em muitos mo-mentos, se sinta fora da realida-de e um pouco incapaz de do-minar a situação.

Difícil coordenar a ativi-dade das pessoas que

fazem parte do seu caminho neste momento, cada uma de-las tem sua própria opinião e ainda não se deu a oportunida-de nem a boa vontade delas pen-sarem no bem-estar do grupo.

Quadrinhos

ESCORPIÃO 23-10 a 21-11 AQUÁRIO 21-1 a 19-2

GÊMEOS 21-5 a 20-6 VIRGEM 23-8 a 22-9 SAGITÁRIO 22-11 a 21-12 PEIXES 20-2 a 20-3

ÁRIES 21-3 a 20-4

“Aprendi o silêncio com os faladores, a tolerância com os intolerantes, a bondade com os maldosos; e, por estranho que pareça, sou grato a esses professores” Khalil Gibran

CÂNCER 21-6 a 21-7 CAPRICÓRNIO 22-12 a 20-1LIBRA 23-9 a 22-10

Abandona a alegoria que durante milênios serviu de refe-rência para compreender a dinâmica do Universo, a len-dária luta entre o bem e o mal não faz mais sentido al-

gum e, pelo contrário, começa a confundir o entendimento que nossa humanidade precisa ter a respeito da vida. Não há pessoa que seja absolutamente boa nem tampouco ser humano total-mente malvado, o bem não é tão bonito como o pintam nem tampouco o mal é desprezível. Abandona essa referência o quanto antes, não tem mais utilidade. Agora compreende o se-guinte, há forças antagônicas, sim, se debatendo no infinitesi-mal e no infinito, é a luta entre o conhecimento e a ignorância. O conhecimento promove a percepção da realidade como ela é enquanto a ignorância distribui véus e distorções para evitar que a percepção seja clara.

Bem pensado

Cruzadas & Sudoku

O melhor de Calvin Bill Watterson

Recruta Zero Mort Walker

Minduim Charles M. Schulz

Frank & Ernest Bob Thaves

Turma da Mônica Mauricio de Sousa

[email protected]

Os antagonistas

Data estelar: Lua cresce em Peixes

M inha mãe sempre gostou de musicais. Lembro da an-tena da nossa televisão dis-

posta em ângulos bizarros, no pon-to exato onde a imagem ficava me-nos verde, e de nós duas na sala as-sistindo a algum filme como Um dia em Nova York (On the Town, 1949) ou Xanadu (1980), enquanto tentá-vamos entender se aquilo era um número de dança ou só um persona-gem de duas cabeças caminhando no parque. (A imagem era muito ruim mesmo.)

Quando eu era menor, achava muito chatas as partes em que os personagens irrompiam a cantar, e aproveitava essas horas para ir ao

banheiro. Os números de dança costu-mavam ser compridos, com platafor-mas giratórias e atrizes com vestidos esvoaçantes posando de modelos em seus chapéus elaborados. E rocambo-les na piscina: havia uma quantidade cansativa de cenas com pessoas na-dando em círculos de forma sincroni-zada e sendo erguidas por um guindas-te com uma vela de bolo na cabeça e um sorriso decididamente assusta-dor. Era nesse momento que eu para-va para fazer um lanche. Só a “parte da história” me interessava.

Mais tarde, já na adolescência, co-mecei a entender qual era a graça da-quelas coreografias de dança com um cabide e reparei na letra das músicas

que o mocinho cantava para sua ama-da, que até então ele odiava. Passei a esperar por esses momentos nos fil-mes, mesmo porque, àquela altura, a imagem da nossa televisão já estava bem melhor. Mas eu continuava prefe-rindo Gene Kelly a Fred Astaire por-que ele era mais acrobático e dava cam-balhotas vestido de pirata. (Com o amadurecimento veio a sabedoria.)

O bom de falar de um gênero em extinção é que dá para dizer que você já viu quase tudo sem correr o risco de

estar exagerando: desde os musicais mais consagrados como Cantando na Chuva (Singin’ in the Rain, 1952), Amor Sublime Amor (West Side Story, 1961), My Fair Lady (1964), A Noviça Rebelde (The Sound of Music, 1965), passando por alguns dos meus favoritos como Alta Sociedade (High Society, 1956) e Meias de Seda (Silk Stockings, 1957), até

umas bombas tipo Bonita e Valente (An-nie Get Your Gun, 1950) e o já citado Xanadu, que até hoje é matéria de pesa-delos.

Vejam: o principal componente de um musical é a tolice. Não há como conceber um mundo sério em que uma pessoa resolve dizer algo cantan-do – estou pensando em Fred Astaire ao pé da escadaria dizendo que nunca mais vai dançar se não for com Gin-ger Rogers, em Ritmo Louco (Swing Time, 1936), ou em Gene Kelly e Do-nald O’Connor torturando o fonoau-diólogo em Cantando na Chuva. Aliás, o sapateado em si já é um troço engra-çado.

Dito isso, não dá para saber onde foi parar a tolice naquele momento preciso em que Astaire e Cyd Charis-se começam a dançar no Central Park, hesitantes, em Roda da Fortuna (The Band Wagon, 1953). Ou mesmo quando Richard Beymer, que aliás era meio dentuço, canta Somewhere para Natalie Wood em Amor Sublime Amor. Ou quando uma maltrapilha Audrey Hepburn em My Fair Lady diz

como seria lindo ter as mãos e os pés quentes.

Um musical pode ser predomi-nantemente tolo, mas há instan-tes de extrema beleza nos quais só a dança e a música fazem senti-do. Um dos mais tocantes aconte-ce num filme chamado A Alegre Divorciada (The Gay Divorcee, 1934), quando Astaire pede que Rogers não vá embora porque ele tem “muitas coisas a dizer”, sen-do que essas coisas são a letra de “Night and Day”, de Cole Porter.

Neste século tivemos Moulin Rouge! (2001), Chicago (2002) e Os Miseráveis (Les Misérables, 2012), todos bonitos e tolos.

Tudo isso para chegar em La La Land (2016), um musical que pro-meteu romance, vestidos colori-dos, sapateado, coreografias em cima de carros e um planetário. E ainda assim saí do cinema decep-cionada.

*P.S.: A imagem pelo menos não

estava verde.

VANESSA BARBARA

VANESSA BARBARA

ESCREVE ÀS SEGUNDAS-FEIRAS

De outros musicais

Não há como conceber um mundo sério em que a pessoa resolve dizer algo cantando