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www.canalmoz.co.mz 30 Meticais Maputo, Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 2011 Director: Fernando Veloso | Ano 6- N.º 868 | Nº 127 Semanário de Moçambique de Moçambique publicidade publicidade publicidade Comissão Política da Frelimo “decidiu” no sábado página 03 Boato “assassina” Luísa Diogo Página 05 A Nação “cor-de-rosa” de Guebuza Aires Ali é aposta para 2014

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  • www.canalmoz.co.mz 30 Meticais

    Maputo, Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 2011

    Director: Fernando Veloso | Ano 6- N.º 868 | Nº 127 Semanário

    de Moçambiquede Moçambique

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    Comissão Política da Frelimo “decidiu” no sábado

    página 03

    Boato “assassina” Luísa DiogoP

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    a 0

    5

    A Nação“cor-de-rosa” de Guebuza

    Aires Alié aposta

    para 2014

  • Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 20112

    Destaques

    Aires Ali é visto como um candidato da continuidade

    Fernando Veloso e Borges Nhamirre

    O porta-voz do partido Fre-limo, Edson Macuácua, não confirmou a decisão da Comis-são Política de indigitar Aires Ali para candidato do partido Frelimo às eleições para Presi-dente da República, em 2014.

    Abordado pelo Canal de Moçambique esta terça-feira, Macuácua começou por ne-gar que tenha havido reunião da Comissão Política no sába-do, embora seja certo que os membros deste órgão reuni-ram-se efectivamente no sába-do antes de um almoço numa das residências particulares do chefe de Estado, Armando Guebuza, no bairro das Maho-tas, nos arredores de Maputo.

    “Primeiro: não houve en-contro da comissão política. Não tendo havido encontro, nenhuma decisão foi tomada. Ademais, não é a Comissão Política que elege o candida-to à Presidência da Repúbli-ca, mas, sim, o Comité Cen-tral”, disse o secretário para a Mobilização e Propaganda da Frelimo, Edson Macuácua.

    Entretanto, fontes seguras garantem que “no encontro de sábado foi decido que Ai-res Ali” será proposto pela

    Comissão Política ao Comité Central para ser o candidato da Frelimo às eleições para se encontrar o futuro inquilino do Palácio da Ponta Verme-lha, residência oficial do che-fe de Estado de Moçambique.

    A indicação de Aires Ali foi--nos ainda comentada por fon-tes das mais altas esferas da Frelimo como lógica tendo em conta que já é ele que tem apa-recido a inaugurar tudo e mais alguma coisa ultimamente.

    Aires Ali, o actual primeiro--ministro, é visto como um candidato da continuidade. Mas o Comité Central tem a última palavra embora cai-ba formalmente ao Congres-so legitimar a candidatura.

    O X Congresso do partido Frelimo está já marcado para ter lugar em Setembro de 2012, em Pemba, capital de Cabo Delgado.

    Entretanto, segundo as nossas fontes bem colocadas ao mais alto nível da Frelimo, há impor-tantes sectores que não se con-formam com a escolha de Aires Ali e poderão ainda tudo virem a tentar para alterar a decisão.

    Ainda no último sábado, o veterano Alberto Chipande, que se intitula o autor do primeiro tiro que marcou o início da luta armada contra o colonialismo português – embora tal louro seja contestado por outros anti-

    gos combatentes – foi citado a dizer que os grandes assuntos da Frelimo devem ser discu-tidos abertamente por todos.

    Chipande, em conversas so-bre o candidato a sucessor de Guebuza pela Frelimo na Pre-sidência da República, é fre-quentemente citado como inte-ressado em não abdicar dessa possibilidade. Quando referido, em contestação às suas ale-gadas intenções, que ele está incapaz de assumir tal candi-datura, várias fontes alegam que Chipande está doente. Mas também dizem que ele não quer abdicar de ser ele, pelo menos, a indicar o sucessor de Gue-buza, havendo duas versões a correr: uma que indica que Chi-pande se não for o candidato à Presidência da República quer pelo menos ver-se consagra-do como presidente do Partido na sua província natal, durante o X Congresso. Ou então que seja ele a indicar o candidato às eleições de 2014. Refere-se que as suas escolhas recaem em Raimundo Pachinuapa, outro veterano de origem Macinde, que entretanto também é dado como doente. Ou José Pache-co, um nome de Manica que se tornou “muito querido” em sectores da Frelimo, em Cabo Delgado, quando por lá passou como governador provincial.

    Há ainda, no entanto, uma “grande dúvida que paira” nos bastidores da discussão que está a pôr os nervos à flor da pele em todos os que se encontram acantonados no partido Freli-mo com aspirações a controlar a organização que tem estado no poder desde a independên-cia nacional. E essa questão não será simples de resolver, aparentemente, pois trata-se de mais uma inovação como a que fez do secretário-geral da Freli-mo o candidato às eleições em 2004 quando Joaquim Chissa-no foi literalmente empurrado e afastado quando se dizia que ele queria manter-se no cargo, pelo menos como presidente do Partido, facto que viria torneado ao servirem-lhe a frio apenas o título de Presidente Honorário. Armando “Guebuza quer pelo menos conseguir continuar como presidente da Frelimo”.

    Guebuza, ao indicar Aires Ali como seu delfim, prepara--se para no entanto não largar a presidência do partido. Daí aspira controlar a bancada na Assembleia da República de forma a tentar que lhe reste a possibilidade de provocar um “impichment” do PR caso não lhe obedeça, caso seja o “filho do Niassa” a escolha dos eleito-res entre outros candidatos que se perfilam para 2014, como

    seja – como tudo indica – Afon-so Dhlakama, pela Renamo, e Daviz Simango, pelo MDM.

    Entretanto, conhecido que é o ambiente de crispação na Frelimo, perante um velho ad-versário aparentemente esgo-tado e sem pernas para servir de factor aglutinador na casa dos velhos de Nachingweia – Afonso Dhlakama – outras informações, de várias fontes, indicam que Guebuza poderá estar a preparar lenha para se queimar, dado que há correntes fortes na Frelimo que apoiam a candidatura de Luísa Diogo, a candidata da Frelimo em 2014, como também há outras que apoiam Eduardo Mulémbwè.

    Diga-se, contudo, que tanto uma como outro, usam como trunfos o facto de não serem originários do Sul, um factor que Armando Guebuza não foi capaz de eliminar como precon-ceito na Frelimo ao apresentar--se em 2003 como natural de Nampula, pois sabe-se que cresceu e socializou-se como Ronga, de famílias do distrito mais ao Sul do País e que até em 1994 viria a criar com Salomão Moiane e outros uma associação evocativa dessa etnia do espec-tro de muitas outras que inte-gram a nacionalidade moçambi-cana. (Canal de Moçambique)

    Porta-voz da Frelimo recusa-se a admitir que isso foi decidido no último sábado, em Maputo

    Eleições para Presidente da República em 2014

    Aires Ali é o candidato da Frelimo

  • 3Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 2011

    Destaques

    Fernando Veloso e Borges Nhamirre

    No último sábado correu por diversas redacções em Maputo a informação que dava como certo o assassinato “há momentos de Luí-sa Diogo”, ex-primeira-ministra de Joaquim Chissano e de Armando Guebuza. Eram 14h30, sensivel-mente, quando começou a correr um boato por vários directores e editores de órgãos de comunicação social baseados em Maputo, dando conta de que tinha sido há momen-tos assassinada a membro daquele órgão e uma séria concorrente à sucessão de Guebuza, Luísa Diogo.

    Na sequência das nossas dili-gências para esclarecimento do assunto, Edson Macuácua acabou negando tudo, dizendo até que uma tal reunião da Comissão Po-

    lítica da Frelimo, onde Luísa Dio-go teria estado, não se realizou.

    Mas disseram-nos várias fontes que nessa reunião na sede nacio-nal da Frelimo, a que se seguiu um almoço numa casa particular de Armando Guebuza, ficou as-sente que este órgão irá propor Aires Ali como candidato pelo partido Frelimo às eleições para presidente da República de 2014, informação essa que o secretário do Comité Central para a Propa-ganda e Mobilização, Edson Ma-cuácua, também refutou, alegando mais uma vez que a reunião da CP não teve lugar e que a suceder a indicação de Aires Ali deverá ser uma decisão do Comité Central para depois o Congresso ratificar.

    Quando apurámos que efecti-vamente a ex-primeira-ministra Luísa Diogo, antecessora de Ai-

    res Ali, não sofreu qualquer aten-tado, estava assim confirmado que se tratara de uma falsa his-tória, um boato, que no entanto poderia ter alguma razão de ser.

    No processo que desde logo em-preendemos para apurar onde teria nascido a tal história macabra, uma fonte policial acabou por nos con-fidenciar que Luísa Diogo estava sã e salva a almoçar na quinta do presidente Armando Guebuza, nas Mahotas, e tinha estado até cerca das 12h30 numa reunião na sede na-cional do partido Frelimo, no poder.

    A partir daí foi então que nos in-formaram – várias fontes – que na referida reunião Luísa Diogo fora autorizada a aceitar o cargo de PCA do banco Barclays Moçambique. Várias fontes confirmaram-nos também que os PCAs dos bancos antes de serem autorizados a as-

    sumir os respectivos cargos pelo Banco de Moçambique, os casos devem ser analisados a nível da Comissão Política da Frelimo, o mais alto órgão deste partido entre duas sessões do Comité Central.

    Recorde-se que o Barclays nas-ceu da extinção do Banco Austral que depois da gestão desastrosa a cargo de malasianos e moçambica-nos, entrou em bancarrota e devido a uma carteira de crédito mal para-do exorbitante veio a ser extinto, obrigando o Estado a intervir atra-vés das finanças públicas. Na al-tura, Luísa Diogo era ministra das Finanças. No processo terá tomado conhecimento da lista de devedo-res e ao conhecer-se que não havia impedimento a que continuasse o seu processo de admissão como presidente do conselho de admi-nistração do banco, alguém terá

    posto a circular o “aviso” macabro.Fontes do próprio partido Fre-

    limo explicaram-nos que o tema das dívidas ao banco que herdou o passivo do Banco Austral con-tinua a ser um assunto muito sen-sível. Disseram-nos que algumas figuras conseguiram já saldar as suas dívidas, mas ainda há muitos da nomenklatura do partido no po-der que ainda não as amortizaram e ficam nervosos sempre que este tema é aflorado. Recorde-se que no Banco Austral estavam envol-vidos Nyimpine Chissano, filho já falecido de Joaquim Chissano, e Octávio Muthemba, este PCA até à altura da fraude e antecessor de Siba Siba Macuácua, que viria a ser barbaramente assassinado num processo que até hoje não termi-nou e cujos criminosos estão por acusar. (Canal de Moçambique)

    Na altura, ela estava a almoçar numa quinta privada do Presidente Armando Guebuza, depois de uma reunião na sede nacional da Frelimo. Edson Macuácua, porta-voz da Frelimo nega tudo

    Boato posto a circular no sábado dava Luísa Diogo como assassinada

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  • Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 20114

    Destaques

    Ficha TécnicaDIRECTOR / EDITORFernando Veloso | [email protected] Cel: (+258) 84 2120415 ou (+258) 82 8405012

    SUB-EDITORLuís Nhachote | [email protected]: (+258) 84 4703860 ou 82 4703860

    SUB-EDITOR E CHEFE DA REDACÇÃOBorges Nhamirre | [email protected]: (+258) 84 8866440 ou (+258) 82 3053189

    CONSELHO EDITORIAL: Director, Editor, Sub-Editores, Chefe da Redacção, Editores sectoriais e Matias Guente.

    REDACÇÃOMatias Guente | [email protected] | Cel: 82 6040435Bernardo Álvaro | [email protected] | Cel: 82 6939477 ou 84 5285696Edwin Hounnou | [email protected] | Cel: 82 4657310 ou 848302730Raimundo Moiane | [email protected] | Cel: 82 4165943

    COLABORADORES (repórteres “free lancer”)Cláudio Saúte (Maputo) | [email protected] | Cel: 82 8079810Isac Naiene (Desporto) | Cel: 84 5103960 | [email protected]ício da Silva (Nampula) | Cel: 82 7095301 | [email protected]é Jeco (Manica) | Cel: 82 2452320 | [email protected]é Pantie (Tete) | Cel: 84 4389034 | [email protected]

    DELEGAÇÃO DA BEIRA E PROVÍNCIA DE SOFALAAdelino Timóteo (Delegado) | [email protected]: +258 82 8642810Noé Nhantumbo (Redactor, residente na Beira) | noe742 @hotmail.com | Cel: 82 5590700 ou 84 6432211

    FOTOGRAFIAJosé Matlhombe | Cel: 82 7732713Sérgio Ribé | Cel: 82 8246200

    REVISÃORui Manjate | [email protected]

    PAGINAÇÃO E MAQUETIZAÇÃODesign Habitat, Lda | [email protected] Taju | Cel: 82 4222222 ou 84 2111008Anselmo Joaquim | Cel: 84 2679410

    PUBLICIDADEÁlvaro Chovane | 82 3672025 | 82 7318463 | 84 [email protected]

    ASSINATURASJustina da Graça Lúcio | Cel: 823672025

    FACTURAÇÃOCláudio Nhantumbo | [email protected] | Cel: 82 3067787

    DISTRIBUIÇÃO E EXPANSÃO (REVENDEDORES / AGENTES)Dário Ramos Costa | Cel: (+258) 84 2111008

    CONTABILIDADEAníbal Chitchango | Cel: 82 5539900 ou 84 3007842 | [email protected]

    PROPRIEDADECANAL i, Lda * +258 823672025 * Av. Samora Machel, n.º 11 – Prédio Fonte Azul, 2ºAndar, Porta 4 * Maputo * Moçambique

    REGISTO: 001/GABINFO-DEC/2006

    IMPRESSÃO: SGRAPHICS, Lda, Matola

    Guebuza vai continuar a orientar reuniões partidárias durante visitas de Estado

    Borges Nhamirre

    O partido Frelimo não vê pro-blema nenhum quando Armando Guebuza, na qualidade de chefe de Estado, viaja para as pro-víncias e distritos e chegado lá orienta reuniões do seu partido.

    Apesar de ter viajado com meios e em missão do Estado, Armando Guebuza reúne com os membros do seu partido para encontros privados, reservando a eles a maior parte do tempo ig-norando muitas vezes cidadãos com preocupações que nada têm a ver com o partido Frelimo.

    Filipe Paúnde, secretário--geral do partido Frelimo, disse ao Canal de Moçam-bique que isso é normal.

    O secretário-geral da Freli-mo sustenta que os encontros partidários de Armando Gue-buza, que é também presidente do partido Frelimo, acontecem fora do horário normal do expe-diente, ou seja, no tempo livre que o chefe de Estado dispõe para outros afazeres. Não dis-se é que o Armando Guebu-za usa instalações do Estado

    e outros meios fora das tais horas normais de expediente.

    Você quando viaja não faz compras?

    “Você quando viaja para fazer serviços da sua empresa, depois de terminar as actividades não vai às compras? Não vai pas-sear? Significa que está a violar alguma recomendação da em-presa?”, perguntou Filipe Paún-de ao nosso repórter para depois dizer que é o mesmo que acon-tece com presidente Guebuza. “Ele é o mais alto funcionário público. Faz actividades até às 15h30 minutos. Depois vai às actividades do partido”, disse, procurando justificar a normali-dade deste tipo de procedimento.

    Balanço positivo

    Entretanto, a Frelimo convi-dou a Imprensa para anunciar que o ano de 2011 prestes a fin-dar foi positivo para o partido. Filipe Paúnde, secretário-geral do Partido Frelimo, disse que as realizações do partido, a to-

    dos os níveis, foram positivas, desde o aumento do número de membros, às acções do partido viradas a diferentes segmen-tos, nomeadamente das organi-zações sociais como a OMM, OJM, Associação dos Com-batentes de Libertação Nacio-nal e até as relações exteriores com os partidos libertadores da região e partidos comunis-tas da China, Vietname, Cuba.

    Nem a perda do município de Quelimane a favor do jo-vem Manuel de Araújo, que concorreu pelo MDM nas recentes eleições intercala-res, manchou o ano da Freli-mo, segundo Filipe Paúnde.

    “Prevaleceu a vontade dos eleitores”, disse para depois acrescentar que “daqui a dois anos haverá mais eleições e voltaremos a disputar aquele município (Quelimane)”. Ig-norou completamente o efei-to dominó que o sucesso do candidato do MDM na capital da Zambézia poderá suscitar no resto do País onde a opor-tunidade ainda não chegou. (Canal de Moçambique)

    Paúnde defende Guebuza

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  • 5Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 2011

    Guebuza foi ao Parlamento falar de um País que não tem problemas

    Torna-se cada vez mais inte-ressante e preocupante a forma como Guebuza é ovacionado pelos deputados da Frelimo

    na Assembleia da República. As fortes salvas de palmas eco-aram a cada pausa do “Grande Líder”. Aliás, quando Guebuza

    entrou teve direito a quase dois minutos de fortes aplausos. Era uma verdadeira exaltação à fi-gura do líder, como na Coreia onde esta semana a dinastia fa-miliar foi renovada com a morte súbita de Kim Sung Il. Aqui foi Verónica Macamo que materia-lizou os louvores e adoração à figura de Armando Guebuza.

    No seu discurso à presidente do Parlamento começou por “pa-rabenizar, com orgulho, e pela visão”, a direcção de Guebuza, “dos destinos da nação moçam-bicana, granjeando simpatia, es-tima, carinho, e reconhecimento nacional e internacional”. Foi com este pomposo e coreano

    elogio vindo da presidente da AR que aquele órgão se pros-trou perante o ilustre visitante.

    Verónica Macamo não parou por aí. A dado passo aproveitou a ocasião para “exaltar as qua-lidades de liderança, carisma e perseverança do nosso Querido Presidente, cidadão cujo espíri-to e alma foram forjados na ges-ta luta de libertação nacional”.

    Todos esses adjectivos ca-bem em Guebuza, na óp-tica de Verónica Macamo.

    Quando se pensava que as hossanas ao chefe de Estado haviam terminado, Verónica Macamo estava ainda no início da exibição do seu arcaboiço

    de elogios. Eis que Guebu-za também foi chamado de “Generoso, solidário, sempre atento ao clamor do seu povo, um cidadão sábio”. Mas ainda assim, Verónica Macamo não parou por aí. O melhor estava por vir: “o povo moçambica-no jamais se esquecerá, senhor Presidente, e a História regis-tará os seus feitos e ensina-mentos em páginas douradas”.

    Estava feito o retrato de Ar-mando Guebuza, presidente da Assembleia da República. O azar de Verónica foi que não conseguiu comover qualquer um! (Canal de Moçambique)

    Matias Guente

    Numa altura em que várias organizações de reputado mé-rito fazem uma avaliação ne-gativa do País – como o PNUD no seu relatório de Desenvolvi-mento Humano, em que classi-ficou o País como o quarto pior País para se viver no mundo –, o presidente da República, Aman-do Guebuza, foi esta terça-feira ao Parlamento trazer uma outra visão sobre o País. Guebuza foi ao Parlamento falar de um País que não tem problemas, de um País que só cresce com a “auto--estima” a ser o principal indi-cador. Guebuza não falou de um País onde o custo de vida tende a sufocar cada vez mais a po-pulação. Não falou de um País onde cresce a indignação e a fal-ta de esperança da esmagadora maioria. Não falou do País em que os governantes são servidos pelo povo! Nada disso! Arman-do Guebuza tem uma outra aná-lise. Diz que “O estado da Na-ção é bom”, que “Moçambique continua a crescer!”, que “Mo-çambique é uma nação cons-truindo o seu progresso e bem--estar, com a participação de todos!” Eis a avaliação pessoal do presidente da República!

    Num informe de 40 páginas e 123 pontos, gravitando em tor-no da “produção como desafio para aumento da produtivida-

    de”, Armando Guebuza apre-sentou, diga-se, o relatório das actividades do Governo durante o ano em curso. Evitou falar de questões críticas como o custo de vida, a corrupção e o resulta-do das medidas de austeridade.

    Os indicadores

    Para Guebuza, concorrem para “o progresso” os seguintes indicadores: (1) Consolidação da Unidade Nacional, da auto--estima, e da paz, (2) Reforço da democracia multipartidária, do diálogo da inclusão e da har-monia social. (3) Observância dos preceitos do Estado de Di-reito Democrático, (4) Garantia da estabilidade económica e (5) Consolidação e diversifica-ção das relações de amizades, solidariedade e cooperação com outros povos e Estado.

    Juventude

    Quando todos os discursos apontam para um tratamento diferente da juventude, sobre-tudo pela falta de esperança que caracteriza esta camada social, Guebuza reservou al-guns parágrafos para tratar do assunto. Disse que o Governo se centrou no apoio a maior produtividade dos jovens nos seus empreendimentos e ini-ciativas. “Assim, para além da

    formação em instituições de en-sino, através dos sete milhões e do fundo de apoio a iniciativas juvenis, promovemos e apoia-mos a criação de oportunidades para aplicação das suas habili-dades técnicas profissionais”.

    Saúde e Acção Social

    Crianças e idosos continuam a inundar os principais centros ur-banos atrás de esmola. Mas nes-te capítulo, Guebuza disse que o Governo prestou assistência a 280 mil crianças. Houve na opi-nião de chefe de Estado “pro-gressos na redução do impacto das grandes endemias tais como a cólera, diarreia, as parasitoses

    e a malária, cujos casos reduzi-ram em cerca de 8.1 porcento”.

    Descobertas de recursos e exclusão social

    Sobre as mais recentes des-cobertas de jazigos de recursos como o gás, o petróleo e miné-rios que fazem manchetes nos jornais a cada dia que passa, Guebuza disse que os mesmos “não devem distrair a nossa atenção da Unidade Nacional”.

    “A euforia induzida pela descoberta destes recursos e pelas referências elogiosas na Imprensa e nas bolsas de valo-res mundiais não deve retirar o enfoque na produtividade”.

    Há quem diga que esta apre-ciação do PR vem a-propósito de comentários dando conta que há muitos recursos que não estão a beneficiar a esmagado-ra maioria dos moçambicanos.

    É cada vez mais comum a ideia de que a “elite” ligada ao poder é que está a beneficiar dos recursos que deveriam ser de todos os moçambicanos. Já houve até chamadas de atenção no sentido de que se a situação prevalecer os excluídos pode-rão levantar-se numa rebelião contra o actual modus operandi, mas Guebuza procurou amor-tecer os impactos do enorme descontentamento que cresce.

    Juizo em causa própria

    A Nação de Guebuza “está a crescer rumo ao progresso”

    Verónica Macamo e “sua santidade” Guebuza

    Destaques

    Verónica Macamo escandaliza com elogios ao “grande líder”

    “Olhemos para cima louvar a sua santidade, Guebuza”

  • Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 20116

    Editorial

    A nação “cor-de-rosa” é um insulto à nossa dignidade

    Nesta altura do ano em que os abastados trocam presentes de Natal e de Ano Novo, os moçambicanos são brindados por discursos ilusórios e até certo ponto insultuosos à sua dignidade, baseados em números forjados em gabinetes da capital, sem se ter em conta a realidade do País na sua real extensão e amplitude.

    Dois altos dirigentes do Estado vieram a público, no iní-cio desta semana, apresentar relatórios “cor-de-rosa” de um Moçambique ideal, mas que na verdade não existe.

    Na segunda-feira já se tinha antecipado o governador do Banco Central, Ernesto Gove, no balanço do ano econó-mico 2011 e previsão do ano 2012, ao apresentar números que desenham um país próspero, que na verdade só pode ser equiparado ao bairro da Sommerschield e certos con-domínios de Maputo. Veio com números que ignoram os milhões de moçambicanos que só trabalham para comer, porque a palavra poupar, para eles, não existe. Isto quando se fala dos sortudos que ainda vão tendo trabalho. Se fa-larmos dos desempregados, a conversa ainda é mais aten-tatória à dignidade de milhões…

    Na terça-feira foi a vez do chefe de Estado ir ao Parla-mento falar de uma nação que objectivamente não existe.

    A nação de que foi falar o presidente da República no Parlamento, esta terça-feira, é simplesmente uma nação imaginária. É uma nação construída por assessores que só dizem aquilo que o chefe quer ouvir e descrita por um chefe que tem pavor de assumir as fraquezas e recusa-se a admitir os erros cometidos pelo seu Governo, erros esses que estão a deixar milhões de moçambicanos na penúria.

    Em todo seu discurso de 40 páginas no Parlamento, o chefe de Estado não conseguiu mencionar sequer uma coi-sa errada que acontece neste País. Será isto possível?

    As mulheres grávidas que morrem nas zonas rurais por falta de salas de parto e assistência médica elementar, as crianças que aos 12 anos abandonam a escola nos distritos em busca de emprego doméstico nos centros urbanos, as raparigas que se prostituem para ganhar a vida nos centros urbanos, em que nação vivem?

    O chefe de Estado não precisava de sair da capital para ver a outra nação moçambicana que não coube no seu dis-curso. Aqui mesmo na cintura da cidade de cimento, nos bairros de Maxaquene, Chamanculo, Mafalala, Mikhad-juine, são milhares as famílias moçambicanas que vivem em casas arrendadas, onde pais, filhos, noras e avós par-tilham o mesmo compartimento para dormir. A Imprensa cansou-se de reportar tais casos. Esta miséria, no entanto, na lógica do discurso “cor-de-rosa” do presidente Guebu-za, não afecta os moçambicanos. Isso é coisa que não exis-te. É coisa que não acontece nesta nação. É coisa que só

    Guebuza e seus assessores não vêem…As milhares de famílias que passam fome nas províncias

    de Manica, Zambézia, Gaza e vêem seus filhos internados em hospitais por subnutrição, não merecem a considera-ção do mais alto dirigente da nação. Estes não fizeram par-te do discurso à nação. Para Guebuza, esses não são desta nação.

    Não passa muito tempo que a Imprensa reportou casos de fome crónica no distrito de Chigubo, na província de Gaza, onde as pessoas se alimentam de raízes e frutos sil-vestres. Mas também estes não entram na nação que Gue-buza inventou.

    E os milhares de jovens, sem emprego, sem esperança, que pululam pelas grandes cidades, também não são da nação de Guebuza?

    É extrema hipocrisia um chefe de Estado que se preze ir ao Parlamento, à tal “Casa do Povo”, prestar um informe à nação que só diz o que lhe convém.

    Guebuza esquece-se que o povo de hoje já não se dei-xa adormecer e já não embarca em retóricas falsiosas de quem quer o poder para ir tratando dos seus negócios.

    O presidente da República não consegue ler a realidade com os seus próprios olhos?

    Não sabe que o seu discurso “cor-de-rosa” é um insulto à inteligência de qualquer ser humano?

    Como quer o senhor Guebuza fazer os moçambicanos acreditar que a sua vida está melhor, quando na realidade continuam a viver uma pobreza humilhante e revoltante?

    Não é com discursos falsos que se irá fazer os milhares de desempregados sentir-se com emprego.

    Não é com discursos mentirosos que se mata a fome de milhões de esfomeados. Eles não vão seguramente sentir--se saciados com as palavras de quem se atreve a fazer co-mentários sobre o seu próprio desempenho e do seu elenco.

    Os milhões de moçambicanos que sofrem nos hospitais públicos à espera de médicos que não existem, sentir-se--ão curado porque não fazem parte da nação do chefe de Estado que esteve esta terça-feira na “Casa do Povo” da 24 de Julho em Maputo?

    Mais uma vez, a ida de Guebuza ao Parlamento resumiu--se num exercício insultuoso para aqueles que dia-a-dia trabalham pela sua dignidade e pelo futuro dos seus filhos.

    Aparecer alguém bem nutrido para dizer, em directo, pe-las rádios e televisões que nesta nação está tudo bem, no mínimo é um exercício blasfémico para um povo sugado até à última gota de sangue pelos seus actuais dirigentes.

    Mas seja como for, um Natal e festa da família o mais feliz possível para todos os moçambicanos que lutam pela sua dignidade! (Canal de Moçambique)

  • Publicidade 7Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 2011

  • Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 20118

    Opinião

    O “complexo” encosta-se à estrada, claro. De caniço, acolhe os clientes em ampla esplanada coberta, anunciando uma sombra quase fresca, sedutora, e agora ainda mais de tão desejada que é. Só depois atentarei que a parte da pensão, lá nas traseiras, é feita de blocos, sinal de que o negócio vai bem. Ali fronteiro, na orla re-cortada do alcatrão, um pequeno bazar, meia dúzia de vendedo-ras, algum amendoim, bananas, peixe seco, coisas poucas, e ain-da um ou outro jovem com as tralhas Mcel, essas que enchem as ambições de norte a sul, es-tendidas quase na estrada em moldes de revenda ou reparação.

    O amigo que ali me conduz demora-se, com todos fala, aos parcos clientes e aos das vendas indaga das famílias, manda entre-gar saudações a alguns dos ausen-tes, quer novidades do negócio, e nisso tudo mostra-me, percebo-o bem. Está na sua terra, é a sua gente, está feliz, lindo no seu novo uniforme de régulo, o sol que ainda vai alto fere-me nos seus dourados, reluz-lhe a placa “auto-ridade comunitária”, e assim vem também vaidoso, que a farda e a bandeira acabaram de chegar, a bicicleta está prometida para bre-ve. Mais importante ainda, mui-to mais importante, finalmente chegou o reconhecimento, disso que nele sobrou de pai e tio-avô.

    Entramos na esplanada, re-pleta de mesas agora vazias pois apenas um casal por lá arrasta o entardecer. A mulher levanta-se para nos receber, sorriso aberto, lesta a levar-nos até à sua mesa. O chefe, jovial, eles os dois logo em gargalhadas cúmplices, apre-

    senta-nos “Josefina, a dona da casa” e eu adianto-me, ainda de pé, “somos xarás” e nisso quero--me um pouco cúmplice. Ela ri-se num típico “afinal!” e ficámos. É uma quarentona já avantajada mas nisso sem esconder toda a beleza passada, está ali com um amigo, que dono não é, percebo--o logo pelo modo como as pri-meiras cervejas são chamadas e ainda mais pela forma como não conduz a conversa. Se namorado, amante ou só amigo daquele dia não sei, nem pergunto, claro. É um tipo alto, robusto, quarentão de ar bem-parecido, e conserva-do. Destoa-lhe um pouco o ter os olhos já raiados, vão-se até se-micerrando, algo que ainda com-bate. Já tomou, está adiantado, e com ar de que não é só de hoje.

    As 2M chegam, e vêm quentes, naquele morno que logo me traz a azia e que, pior do que tudo, me rouba a euforia da bebedeira, aos primeiros golos sei que só ficarei pastoso, cabeceando em pequenos arrotos, sem aquele pique rebelde que me faz lesto após o escorrer das garrafas. Mas não me nego. Pedimos galinha, certo que levará tempo, que já não conseguirei co-mer bem quando chegar, mas é o pretexto para bebermos. O régulo explica, quem sou e o que aqui me traz. Fá-lo com detalhe e de modo a que as duas empregadas, uma que ele prende pela man-ga, o ouçam, pois também serão elas a divulgar. Algumas pessoas entraram para acompanhar, nis-so rodeando a mesa, e ele, mão espalmada no meu ombro, avisa que sou amigo de há muito, pro-fessor na universidade, aqui de novo a trabalhar sobre a região,

    a recolher a história, e também a actividade dele próprio, autori-dade comunitária. Cada um des-tes factos é acolhido por sons da anuência, é satisfatório o relató-rio, e acede-se à minha presença.

    Estou a ser mostrado, como é costume, e quase sempre deste modo ostensivo. É isto da es-tranheza de um branco, e até de cabelo branco, e português, professor vindo de Maputo, a interessar-se pelas coisas dos sí-tios. Serei motivo de conversas, assim vincando a importância de quem me acolhe. Por isso sou passeado, feito coisa exótica, um bem de prestígio. Bebo enquanto a conversa segue, pois ao régulo são perguntados detalhes sobre a minha estadia. Olho o garga-lo, e intervalo, a lembrar-me da-queles meus colegas, seniores antropólogos, sempre ávidos a fotografarem-se com os chefes locais, esses que até sacerdotes são, pois mediadores de espíritos, e assim mostrando-se nos seus torna-viagens, num “the chief and I”, por vezes até dizendo-se iniciados, curandeiros ou coisa assim. Sorrio, em esgar da tal azia, a esta ânsia do como se di-ferente, auto-engrandecedora. E que é recíproca, como aqui tor-no a notar entre-golos. E rio-me, sozinho, até assim deselegante, pois vem-me à cabeça que tudo isto nada mais é do que “exotic--dropping”. É o meu momento, pois percebo que estou a criar. O chefe acabou, os curiosos deban-dam, ficamos os quatro. O amigo da Josefina, nem-sei-o-nome mas foi dito, até então quase calado, diz que tem histórias para me contar, dele mesmo. Mas antes

    tem que ir fazer umas necessi-dades, já vira contar. E lá segue, já trôpego. Ficamos ali, como se dele à espera, a dona apresenta como está o “complexo”, a pen-são lá atrás, é agora que reparo. Saúdo, está grande e bonito. Ela vai sorrindo, olhar daqueles que entra mesmo. Sabe o que é, bo-nita, dona de si, mamas fartas, soltas, ancas largas, riso aberto, de boca e olhos, engordada, bra-ços roliços, a pele a luzir de trans-piração, não é provocação o que me faz, é sedução, estão ali os quartos, é só avançarmos. Deixo--me imaginar, reconheço os quar-tos, cubículos sob tecto de zinco, abafados, aquela cama estreita, o colchão de palha já esmagado, o balde de água, esta já cansada de tanta espera ali. O meu amigo vai falando das suas coisas e nós ouvimo-lo, encarando-nos em posição de sorriso, e enquanto bebo, trocamos cigarros, deixo--me pensar em nós dois se por lá, quarentões, os nossos corpos pesados, num juntos sem ânsias nem encantos mas divertidos, soltos. Tudo isto conversamos em olhares, mais os dela que os meus ou será o contrário?, e se a vida me fosse outra quem sabe?, sorrimo-nos, muito, percebemos.

    Nisto regressa o amigo dela, Vem para contar a sua história e mando vir mais cervejas. “Eu fui soldado da guarda de honra” diz--me, com orgulho. Narra com de-talhes, até oscilantes, que era sol-dado no início dos anos 80. Uns dias antes da assinatura do acordo de Nkomati o presidente Samora visitou o quartel e viu-o. E logo o mandou avançar. Enquanto ele fala Josefina supreendida, até ar-

    queando os olhos, na dúvida, e sorri-me, incrédula. Mas a histó-ria é séria, Samora chamou o nos-so conviva. “Achou-me bonito, disse que eu tinha uma boa figu-ra”, que precisava de homens as-sim e “mandou que me pusessem na guarda da honra”. Tudo para integrar a cerimónia lá com o pre-sidente dos boers. Josefina ri-se, o régulo também, ele abespinha-se, jura que é verdade, o presidente gostou da sua figura, insistiu, até lhe deram farda nova, foi transfe-rido para estar lá em Nkomati. É uma delícia, a história em si, mas mais do que tudo não posso deixar de contrapor aquele casal, ela ali, atrevida, dona, a enlear-me agres-siva, e ele, homem rijo, entusias-mado com a beleza própria, como se uma menina coquette. O opos-to do que costumamos esperar.

    De súbito, até incomodado com os risos dos outros, olha para mim, para minha t-shirt e pergunta-me, mudando a con-versa, fugindo à ironia alheia, “e o que quer dizer “habitat”, um qualquer dístico ecológico que eu trago ao peito, nesta roupa velha que trago para o campo. Hesito, na mudança de registo, e tento explicar, isto da protec-ção do meio ambiente, preservar animais e, mais ainda, as árvores.

    O régulo ri-se, corta-me a pala-vra, e dispara, cáustico “os bran-cos cortaram as árvores deles e querem que nós fiquemos com as nossas feras, é isso”. E ri-se mais. Todos se riem. Eu também me rio. E pago mais uma rodada. Porque nada, como é assim tão óbvio, é exótico. (José Pimen-tel Teixeira/www.ma-schamba.com/ Canal de Moçambique)

    Ao Balcão da Cantina (4)

    Ecologia e outras coisasPor José Pimentel Teixeira

    de Moçambique Assinaturas

    (*) Distribuição ao domicílio, em Maputo(**) Inclui porte. Pode ser pago em meticais ao cambio do dia

    Destino Período de Contrato Período de Contrato Período de Contrato

    3 Meses 6 Meses 12 Meses

    Todo País (*) 520,00 Mt 1.040,00 Mt 2.080,00 Mt

    Países da SADC (**) 400 R 800 R 1600 R

    Resto do Mundo(**) 171 USD / 143 € 343 USD / 286 € 400 €

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  • Publicidade 9Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 2011

  • Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 201110

    Nacional

    Maria Jonas, governadora da província de Maputo Arão Nhancale, presidente do Conselho Municipal da Matola

    Cláudio Saúte

    Os residentes dos quarteirões 27 no bairro 1º de Maio, e 11 no Intaka, no município de Matola, vão remeter esta semana uma carta-exposição aos gabinetes da governadora da província de Maputo, Maria Jonas, e do pre-sidente do município de Mato-la, Arão Nhancale, em protesto contra o que apelidam de “ex-clusão nos projectos de electrifi-cação” que tem vindo a decorrer naqueles bairros desde 2008.

    De acordo com a comissão e porta-vozes dos moradores dos quarteirões 27 (1º de Maio) e 11 (Intaka), respectivamen-te Júlio Samussone e Manuel Cumbane, aquando do primeiro parcelamento no 1º de Maio, em 2008, aquela parcela com cerca de 100 famílias foi exclu-ída alegando-se que pertencia ao bairro Intaka. Desde o mês passado, decorre um novo par-celamento que vem de Intaka, mas estas duas parcelas volta-ram a ser excluídas, alegando--se pertencerem ao 1º de Maio.

    “Queremos que a governa-

    dora da província de Maputo, Maria Jonas, e o presidente do Conselho Municipal da Mato-la, Arão Nhancale, digam-nos a que território pertencemos, pois o Intaka e 1º de Maio recusam--nos. Somos cidadãos e temos o direito de recorrer à admi-nistração pública, entanto que provedora de serviços básicos e elementares quando se sentem injustiçados”, disse, Samussone.

    Acrescentou que há três anos, o bairro 1º de Maio beneficiou de um projecto de montagem da rede eléctrica, mas uma parte do quarteirão 27 ficou excluído. Disse ainda que as autoridades administrativas a nível da base parece não dominarem bem os marcos que fazem limites.

    “Uma parte considerável de moradores ficou sem corrente e alguns moradores excluídos enveredaram por outras vias que foram esquemas como, por exemplo, compra de poste que depois trouxe problemas de remoção de postes e contado-res por ser ilegal”, denunciou.

    Ilhéus

    Armando Cumbane, falan-do em nome dos residentes do quarteirão 11 no bairro Intaka, diz que o projecto em curso dei-xa uma porção sem ser servida.

    “Somos ilhéus. Há dois anos, quando o projecto de 1º de Maio chegou disseram-nos que per-tencíamos ao Intaka. Agora vem do Intaka, dizem o mesmo. Esta-mos preocupados com a sonega-ção dos nossos direitos”, disse.

    Cumbane arrolou uma série de princípios que disse terem sido violados, nomeadamente o Princípio de Legalidade, do Decreto 30/2011, de 15 de Ou-tubro; Princípio da Prossecução do Interesse Público e Protecção dos Direitos e Interesses dos Ci-dadãos, artigo 5 do mesmo De-creto. Princípio de Igualdade e Proporcionado, artigo 14. Idem.

    “Será que a EDM não pode completar o espaço que falta? Não somos cidadãos? Porquê não há clareza por parte das es-truturas locais? Elas representam a actuação dos órgãos centrais a nível da base ou não”, questio-na. (Canal de Moçambique)

    Alegada exclusão nos projectos de electrificação dos bairros

    Residentes da Matola escrevem à governadora e presidente do município

  • Publicidade 11Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 2011

  • Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 201112

    Nacional

    Raimundo Moiane

    Esta é mais uma história que mostra que até na edilidade de Maputo a gestão de terra está a gerar conflitos e que ninguém está seguro da posse dos seus bens. A terra que por lei é do Estado e não deve ser vendida, na prática é um negócio que enriquece alguns senhores das ditas estruturas ou gera conflitos que deixam subjacente a ideia de que há “rato escondido com rabo de fora”. Desta vez, o Con-selho Municipal da Cidade de Maputo é acusado de ter atribuí-do uma parcela de terra a um ci-dadão e depois ter usurpado esse mesmo espaço para conceder ao Ministério da Educação para er-guer uma escola com seis salas. Está previsto na lei que quando se trata de beneficiar o inte-resse público isso se faça, mas não houve nenhuma explicação plausível ao lesado, segundo ele, se bem que a vereadora da área da ocorrência se explique. O prejudicado diz, no entanto, que recorreu mas o presidente do Município de Maputo, Da-vid Simango, não lhe responde.

    Trata-se de um terreno loca-lizado no bairro de Albasine, distrito Municipal de KaMa-vota, arredores da cidade de Maputo, na parcela 5617 ta-lhão 5-6 que foi atribuído pe-las autoridades municipais ao cidadão João Chirindza Júnior. Chirindza requereu o Direito de Uso e Aproveitamento da Terra (DUAT) do terreno em causa no longínquo ano de 1987, para

    fins de exploração pecuária, ten-do as autoridades municipais concedido a licença requerida.

    De seguida, conforme conta e documenta João Chirindza, construiu-se de seguida num dos talhões um aviário para criação de frangos. Só que o ano passado, ou seja, 15 anos depois, o cidadão em causa foi surpreendido com uma chama-da dos seus trabalhadores a in-formar que no seu terreno estava lá um grupo de pessoas a fazer escavações numa das parcelas.

    João Chirindza, depois de receber a informação, foi à esquadra policial de Albasi-ne comunicar o caso onde lhe disseram para ficar tranquilo, uma vez que a Polícia ia pro-curar descobrir os invasores.

    Depois de ter comunicado à Polícia, Chirindza disse à nossa Reportagem que começou a er-guer muro de vedação, uma vez que o terreno só estava vedado com espinhosas e ao mesmo tempo iniciou com as obras de construção de uma residência no terreno que estava a ser invadido.

    Só que durante as obras apa-receu a Polícia Municipal que lhe informou que devia parar com as obras, pois o terre-no tinha um outro dono e que tinha que contactar a admi-nistração do distrito munici-pal de KaMavota para saber quem era o novo proprietário.

    João Chirindza “fez-se” ao Distrito e apresentou o caso e lhe pediram que apresentasse documentos que comprovam que o terreno lhe pertencia.

    Apresentada a documenta-ção às autoridades municipais a nível do distrito de KaMa-vota, disseram ao cidadão em causa que ele podia continu-ar com as obras, porque es-tava tudo em ordem, conta.

    CMCM dá um “volte-face”

    Depois de continuar com as obras tanto do muro de veda-ção como da residência durante uma semana, conta Chirindza que apareceu de novo no terre-no um agente do Conselho Mu-nicipal a mandar parar as obras e com uma intimação para que João Chirindza se apresentas-se na administração do distrito.

    Surpreendentemente, diz ele, disseram-lhe que o terre-no em causa estava em lití-gio, porque existia um outro proprietário do terreno que era o Ministério da Educação.

    Na ocasião, as autoridades municipais explicaram ao cida-dão que o terreno em disputa foi atribuído ao Ministério da Educação, alegadamente por es-tar abandonado, o que, segundo ele, “não constitui a verdade, porquanto num dos terrenos tem um aviário onde João Chirindza está a criar frangos, actividade pelo qual ele requereu o espaço”.

    Nós entregamos o espaço ao MINED porque estava

    abandonado

    A nossa Reportagem des-locou-se à administração do distrito de KaMavota para

    apurar como é que as autori-dades municipais concederam ao Ministério da Educação um terreno que fora antes atri-buído a um cidadão singular.

    No local receberam-nos pela respectiva administradora, Es-trelinda Ndove, que nos expli-cou o que se passou: “Nós, o ano passado decidimos fazer um levantamos de quintas que esta-vam abandonadas pelos seus proprietários de modo a que as mesmas fossem divididas pelas pessoas retiradas na Avenida Mi-lagre Marcos Mabote, para dar lugar às obras de reabilitação e ampliação, e por outras famílias que foram retiradas no Bairro Luís Cabril, próximo do cemité-rio de Lhanguene. No total iden-tificámos 39 quintas e uma delas pertencia ao João Chirindza”.

    “Só que antes fazer a en-trega às pessoas que vinham transferidas e retiradas dos lo-cais referenciados, colocámos um aviso no jornal Notícias do dia cinco de Maio de 2010 para comunicar aos proprietá-rios dos terrenos em causa no sentido de os reclamar dentro de 60 dias e caso não o fizes-sem iriam reverter a favor do município”, conta a vereadora.

    “Foi nesse processo que o cidadão Chirindza e outros vi-sados como é o caso da União Geral das Cooperativas (UGC), cuja a presidente era Celina Cossa, uma das vereadoras no CMCM não apresentaram as suas reclamações dentro do pe-ríodo fixado pela lei, o que le-vou o município a reverter os

    terrenos a seu favor”, explica a vereadora Estrelinda Ndove.

    Dois pesos para a mesma medida

    Acontece, porém, que dias depois o município ter confis-cado os terrenos ditos “abando-nados”, o município devolveu os terrenos da UGC e de outros visados, mas, no entanto, João Chirindza não teve a mesma sorte “por razões pouco cla-ras e ainda não esclarecidas”.

    “Senti-me injustiçado pelo tratamento diferenciado. De-cidi recorrer através de uma exposição dirigida ao presi-dente do município, David Simango, datada de 16 de Se-tembro de 2010, mas até ao momento não tive resposta.

    MINED constrói escola num terreno em conflito

    Mesmo antes de se dirimir o conflito, o Ministério da Edu-cação está a prosseguir com a construção de salas de au-las no terreno em litígio. No terreno, a nossa Reportagem testemunhou que as obras es-tão a decorrer a cargo da em-presa “Custódio Construções”.

    Na chapa colocada pela em-presa que está a executar as obras não consta o número de licença, nem do alvará, nem a identificação da parcela do ter-reno tal como manda a lei. Ain-da não nos foi possível ouvir a versão do Ministério da Educa-ção. (Canal de Moçambique)

    Bairro de Albasine

    Outra história em que a posse de terra gera conflito

    Estrelinda Ndove João Chirindza

  • Publicidade 13Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 2011

  • Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 201114

    Nacional

    Tabela de preços (colocada na vitrina da conservatória)

    A desorganização e a troca de favores entre utentes e funcionários daquela conservatória, em troca de valores monetários para satisfazer suas necessidades pessoais, é o prato forte.

    Os funcionários chegam ao cúmulo de extraviar documentos para cobrar a sua entrega.

    António Frades

    Vive-se uma autêntica ban-dalheira na segunda conser-vatória da cidade de Maputo. A morosidade no processo de emissão de documentos, ex-torsão, suborno e longas filas de utentes à espera de levantar seus documentos fazem o per-fil daquela instituição públi-ca, agora transformada numa verdadeira pastagem pelos respectivos funcionários. A situação acontece há mais de dois (2) anos e está a preocu-par os utentes da mesma que a denunciaram ao Canal de Mo-çambique. A desorganização e a troca de favores entre uten-tes e funcionário daquela con-servatória, em troca de valo-res monetários para satisfazer suas necessidades pessoais, é o prato forte. Os funcionários chegam ao cúmulo de extraviar documentos para cobrar a sua entrega. Criam a “dificuldade” para venderem a “facilidade”.

    O esquema de suborno fun-ciona de tal maneira que até parece legal. Os utentes são obrigados a enveredar pelo suborno como forma de verem acelerada a tramitação dos seus documentos. Esta situa-ção foi denunciada por alguns utentes e confirmada in loco pelo Canal de Moçambique.

    Como funciona o esquema?

    Segundo constatou a nossa Reportagem, os funcionários envolvidos no esquema de

    suborno interceptam os uten-tes que pretendem requerer os documentos no guiché. Os mesmos propõem aos utentes a possibilidade de tratar ur-gente, acima da urgência esta-belecida, os seus documentos. Para tal exigem que os utentes paguem algum valor a mais do que está estipulado na tabela de serviços existente na vitri-na da conservatória. Recebi-dos os documentos das mãos dos utentes, facilitam rapida-mente a emissão dos mesmos documentos submetidos. Os utentes pagam a comissão exigida pelos funcionários e o dinheiro é entregue de forma quase que discreta ao funcio-nário. Nos valores normais a pagar estabelecidos na vitrina da conservatória, os utentes são obrigados a pagar valo-res acrescentados que variam de 150 a 200 meticais para a rapidez de tramitação dos do-cumentos. Por exemplo, nor-malmente o despacho de um documento em regime “nor-mal” dura 5 dias e em regime urgente leva três (3) dias. Mas subornando os funcionários o documento só leva alguns minutos para ser emitido.

    Portanto, dada a autenti-cidade dos documentos des-pachados pelos funcionários daquela conservatória tudo leva a crer que o esquema envolve muita gente, desde os funcionários que intercep-tam os clientes e recebem o expediente logo à entrada do guiché até aos carimbos e res-pectivas assinaturas de chefes.

    Utentes assumem suborno

    Por seu turno, alguns utentes sujeitos a estes procedimentos assumiram a sua responsabili-dade de suborno, alegando a necessidade urgente de terem os documentos para utilização imediata. Segundo revelaram ao Canal de Moçambique, os requerentes subornam os fun-cionários por medo de verem os seus processos de pedido de documentos demorarem ou até por vezes perderem-se por desleixo dos funcionários. Adriana Arlindo foi uma das utentes sujeitas ao esquema de suborno e disse que o fez porque queria evitar a buro-cracia excessiva que ali exis-te. “Aqui nesta conservatória é normal uma pessoa ser obri-gada a tratar mais de uma vez os mesmos documentos, ale-

    gadamente porque os funcio-nários extraviam documentos. Fazem isso para nos pressio-nar a usar outras vias ilegais, subornando, como forma de eles (funcionários) terem di-nheiro extra”, afirmou a fonte.

    Segundo a mesma senhora, um documento que normal-mente levaria um (1) ou dois (2) dias para ser despachado, pode, devido à morosidade pro-positada, levar mais de 3 dias.

    Outro utente abordado pela nossa Reportagem, Vlade-mir Ussene, pagou 500 me-ticais para tratar da certidão de casamento. A fonte referiu que se viu obrigado a pagar suborno porque já há muito tempo que os seus documen-tos não eram despachados.

    “Eu acredito que os funcio-nários fazem de propósito. Provocam a morosidade dos documentos, na expectativa

    de serem procurados pelos utentes para facilitarem os despachos dos expedientes e de facto é isso o que acon-tece”, desabafou Ussene.

    Direcção da conservatória indisponível para Imprensa

    A Reportagem do Canal de Moçambique tem estado a contactar com insistência (há mais de 2 semanas) a di-recção da 2ª conservatória para ouvir a sua posição em relação a esta situação que martiriza a vida dos utentes daquela instituição. Mas até ao fecho desta edição, ainda não tínhamos tido a respos-ta por parte da direcção da conservadora, alegadamente por “indisponibilidade” do conservador e da conserva-dora para falar sobre o assun-to. (Canal de Moçambique)

    Para emissão de documentos

    Funcionários da 2ª conservatória da cidade de Maputo “legalizam” corrupção

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  • 15Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 2011

    A inteligência policial está a identificar as empresas e os bancos que seriam alvos de burlas

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    Nacional

    Cláudio Saúte

    Um militar afecto no Ministé-rio da Defesa Nacional, que fazia parte de um grupo de “quatro burladores”, foi neutralizado a se-mana passada, quando por meio de um cheque falso, com valor facial de 39 mil meticais, queria burlar a Sociedade Moçambi-cana de Ferragens, SOMOFER na compra de 40 latas de tinta. O cheque levava o carimbo do Ministério da Defesa Nacional.

    O “grupo de burladores”, se-gundo a Polícia, era composto por Ismael Novela, 24 anos, Lázaro Mavai, 53, Alves Oitavo, 29, e Hermenegildo Joaquim Cheiro. A Polícia disse que um deles é militar, mas não especificou qual deles. Diz a Polícia que na sua posse foram encontrados 17 che-ques e um carimbo do Ministério da Defesa Nacional. “Já estavam preparados para burlar bancos e

    estabelecimentos comerciais”.O porta-voz da Polícia da Re-

    pública de Moçambique, a nível da cidade de Maputo, Arnaldo Chefo, disse que a detenção re-sultou da operação de esclare-cimento de burlas. Acrescentou que a inteligência policial ainda está a identificar as empresas e os bancos que seriam alvos.

    “Eles queriam burlar 40 litros de tintas a SOMAFER. Posterior-mente seriam revendidos. Uma vez detidos, na sua posse foi apre-endido um monitor de 24 polega-das, um DVD, carimbos do Mi-nistério da Defesa e 17 cheques preenchidos”, disse o porta-voz da PRM a nível do Comando da Cidade de Maputo. Recorde-se que um dos donos da SOMOFER foi recentemente raptado e teve de pagar um avultado resgate pela sua libertação. O caso cor-reu totalmente à margem da Po-lícia. (Canal de Moçambique)

    Militar neutralizado com 17 cheques falsos

  • Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 201116

    Centrais

    Um brinde ao sucesso da economia

    Borges Nhamirre

    O Banco de Moçambique fez esta semana, o balanço do ano financeiro/económico de 2011 e perspectivou um 2012 positivo para a economia nacional. Numa cerimónia realizada no edifício sede do Banco Central, dirigido pelo respectivo governador, Er-nesto Gove, com a presença de diversas personalidades, as esta-tísticas voltaram a desenhar um Moçambique óptimo, dissonante daquele que se vive no dia-a-dia.

    No seu discurso de 16 pági-nas, Ernesto Gove falou de um crescimento do PIB de 7,4% em 2011 e que deverá atingir 7,5% em 2012. Falou de uma infla-ção média anual satisfatória de 7,74% no ano findo, devendo continuar a baixar para 7,20% no próximo ano. Disse que as reservas internacionais líquidas continuam a aumentar (prevê-se saldo de 2.279 biliões em 2012, contra 2.200 milhões de dólares em 2011), cobrindo despesas de importações durante 4,6 meses. Referiu ainda que o crédito para

    a economia está a aumentar e há cada vez mais bancos em Moçambique, atingindo agora o número de 18 bancos diferentes.

    Gove mencionou que há mais ATM’s e a moeda nacional está estável. Falou também de crédi-to mal parado em todo o sistema bancário, que “está abaixo de 3%”, dentro do recomendável.

    Em suma, os números apre-sentados pelo governador do Banco Central mostram um Moçambique óptimo, com esta-bilidade económica e financeira. Mas esse mesmo Moçambique que nos números produzidos pelo Banco Central e pelo go-verno são encantadores não só não coincidem com os núme-ros de diversas instituições que avaliam não só Moçambique como também não espelham a realidade escravizante a que está sujeita a maioria esma-gadora dos moçambicanos.

    O contraste aqui ao lado

    A conferência de Imprensa no edifício do Banco Central teve

    lugar num espaço requintado. Debaixo de ar condicionado regulado ao pormenor, seguido de um cocktail com as mais ca-ras bebidas que há no mundo.

    Mas a menos de 500 metros de onde decorria a conferência, encontra-se o outro lado de Mo-çambique. Na maior paragem de “chapa 100” da baixa da cidade de Maputo, na Avenida Guerra Popular, vê-se multidão de gen-te, desde jovens de 12 anos até velhos acima de 50 anos, de um lado para o outro a correrem com produtos nas mãos, na cabeça, ou sentados na berma da estrada a vender para garantir o jantar. Amanhã há que voltar para aqui. É o desemprego que leva as pessoas a refugiarem-se em ac-tividades tantas vezes indignas e reveladoras do estado de de-gradação social que não corres-ponde aos números oficiais com que os instalados pretendem dourar um País onde a fronteira para uma revolta sem preceden-tes está no fio de uma navalha.

    Na estrada esburacada, senho-ras com bebés ao colo correm

    atrás do transporte (“chapa”) que se recusa a carregar passageiros que vão à Praça dos Combaten-tes, porque tenciona encurtar a rota, carregando para a Praça dos Heróis, ou seja, a meio do caminho para onde está licen-ciado a carregar passageiros.

    Seguindo um pouco a rua em direcção ao terminal de “cha-pas” para a África do Sul, jovens cansados e com calhamaços de dinheiro nas mãos estão a almo-çar com arroz e feijão, confec-cionados nas bermas da estrada. São vendedores informais e ile-gais da moeda externa. Agentes da Polícia estão ali bem ao lado, mas fingem que não vêem esta actividade ilícita. Na verdade, o intuito dos agentes é estar ali para caçar quem vem com-prar a moeda externa no mer-cado negro e lhe cobrar algum.

    Esta é apenas uma minúscula parte do outro lado de Moçam-bique mesmo na sua capital – a sempre disponível montra do “bem-estar” ainda que seja só de alguns, que os números apresen-tados pelo governador do Ban-

    co Central não leva em conta.A parábola do es-

    pelho e da fotografiaUm jornalista questionou

    na Conferencia de Impren-sa ao governador do Banco Central sobre este contraste entre os números por si apre-sentado e a realidade em que vive a maioria dos moçambi-canos. Em resposta, Ernesto Gove contou uma parábola.

    “Imagina alguém que vai ao espelho todos os dias para olhar para a sua cara. Certamente não consegue ver que está a enve-lhecer, mas se a pessoa compa-rar duas fotografias suas, tiradas num intervalo de 10 anos, vai conseguir ver as diferenças”.

    O governador do Banco Cen-tral contou esta parábola para explicar que o crescimento hoje espelhado nos números será visível a longo prazo, o tal tão apregoado “futuro me-lhor” em que muitos acredi-taram e agora dizem estarem convencidos que não passou de conversa para boi adormecer.

    … Estatísticas do Banco Central traçam um Moçambique óptimo

    Os números da ilusão

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  • 17Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 2011

    Centrais

    Banco Central preocupado com a clonagem

    O governador do Banco de Moçambique pronunciou--se finalmente acerca da clo-nagem de cartões de crédito/débito que tomou o sistema bancário em Moçambique, es-

    pecificamente na capital do país onde ocorreram os casos já conhecidos. Ernesto Gove, respondendo a uma questão do Canal de Moçambique, dis-se que o Banco Central está

    “muito preocupado” com os casos encontrados em Mapu-to de objectos de clonagem de cartões instalados em ATM’s e garantiu que neste momento o Banco “está a trabalhar com

    os parceiros” para criar con-dições e “equipar as ATM’s com dispositivos que contra-riem os chips de clonagem”.

    O governador do Banco Cen-tral, Ernesto Gove, não disse em que fase está esse trabalho de instalação de chips pro-tectores de objectos de clo-nagens, referindo que é um trabalho que está em curso.

    Como primeira medida to-mada pelo Banco Central para combater a fraude por via da clonagem de cartões de crédito e débito, o governador do Ban-co de Moçambique disse que a instituição que dirige tratou de “informar o cidadão sobre o que está a acontecer”. Porém, esta afirmação não correspon-de à verdade, uma vez que o Banco de Moçambique ficou a sonegar informação sobre este perigo, até que a Imprensa, es-pecificamente este semanário, publicou uma notícia com pro-vas inequívocas de que certos ATM’s de bancos comerciais tinham sido tomados por “gan-gs” de clonagens de cartões. Só então o Banco apareceu em

    certos órgãos de comunicação social com anúncios publici-tários a assumir esse perigo. Passavam quase duas semanas após o Canal de Moçambique ter relatado este perigo. E ain-da de salientar que apesar das nossas tentativas de ouvirmos o Banco de Moçambique, a direcção de Comunicação e Imagem do banco remeteu--se sempre ao silêncio pro-curando esconder o assunto.

    Durante o mês de Novembro findo, foram encontrados em Maputo dois dispositivos de clonagem de cartões de crédito e de débito instalados em ATM de dois bancos comerciais dife-rentes. Ainda não há relatos de alguém em concreto que tenha perdido o seu dinheiro vítima da fraude de clonagem de car-tões, mas o perigo está anuncia-do e agora assumido pelo ban-co emissor. Há porém um caso que estamos a investigar que nos poderá levar à evidência de um cliente do sistema bancário prejudicado pela clonagem do seu cartão num banco da pra-ça. (Canal de Moçambique)

    A fricção entre os doado-res e o Governo, no início de 2010, que ficou conhecida em largos sectores da sociedade como “greve dos doadores”, foi um dos motivos aponta-dos pelo governador do Ban-co Central, como causa da depreciação do Metical, que durante o segundo semestre do mesmo ano chegou a atingir o valor de 40 meticais por cada dólar americano. Hoje um dó-lar custa cerca de 27 meticais.

    Ernesto Gove explicou que a incerteza que pairou na al-tura sobre se os doadores iriam ou não disponibilizar recursos para financiar o Or-çamento do Estado de 2010, assustou o mercado e fez dis-parar a moeda externa. Com a estabilização das relações entre o Governo e os doa-dores – explicou Gove – “o Metical voltou a estabilizar”.

    Esta é apenas uma das te-ses do governador do Banco Central para explicar o mo-

    tivo da actual robustez do Me-tical face às principais moedas de troca (Dólar, Rand e Euro).

    A outra tese sustentada pelo governador do Banco de Moçambique é de que “há grande fluxo de divisas” des-tinados ao investimento no sector energético (gás, car-vão, electricidade), o que está a aumentar a oferta da moeda externa e consequentemente a reduzir o seu valor de transacção.

    Sobre até quando a moeda nacional irá manter-se forte perante as principais moedas de troca, Gove disse que tudo depende das leis do mercado, recordando que “Moçambi-que usa uma taxa de câmbio flexível”, o que quer dizer que o Metical se está a apreciar e não está a ser valorizado.

    Resposta às críticas

    Tem havido críticas de alguns economistas que consideram que o fortalecimento do Metical

    está a prejudicar os produtores e exportadores nacionais, pois os produtos nacionais perdem competitividade no mercado nacional e externo devido ao seu elevado valor comercial, ou seja, de transacção. Ernesto

    Gove respondeu a essas críti-cas alegando que o Banco de Moçambique está atento às preocupações tanto dos expor-tadores como dos importado-res nacionais e está a monitor a variação cambial do Metical.

    Assim, deixou nas entreli-nhas a mensagem de que os exportadores perdem com a robustez do Metical, mas os importadores ganham com isso. Recorde-se que o país importa mais do que exporta.

    - Garante Gove

    Greve dos doadores foi atentado à estabilidade do Metical

    ATM’s serão equipadas com detectores de chips de clonagem de cartões

    Metical continua a apreciar face ao dólar, rand e euro

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  • Publicidade Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 201118

    Moçambicanas e Moçambicanos,Caros concidadãos

    Dentro de escassos dias comemora-se o Natal, Dia da Família, e também o Fim-do-Ano e a entrada no Ano Novo de 2012. Não poderíamos deixar de Vos dirigir umas palavras de apreço.

    O Natal é o dia que assinala o nascimento em Belém, de Jesus Cristo. Esta data ilumina o Povo Moçambicano Cristão e reacende a esperança de Paz.

    25 de Dezembro é também o Dia da Família em Moçambique. Neste dia se reúnem todos numa festa ecuménica em harmonia e fraternidade.

    É um grande momento de reflexão sobre a vida da humilde Família mo-çambicana, que comporta no seu seio, meninos, jovens, homens e mulheres, à imagem de Jesus Cristo, filhos de Deus.

    O 25 de Dezembro é uma data que une os moçambicanos que trabalham de forma abnegada pelo desenvolvimento, progresso, reconciliação, democracia e Paz.

    Moçambicanas e Moçambicanos,Caros concidadãos,

    Enfrentámos vários momentos de sobressalto no ano prestes a terminar. Por isso apelamos para que no ano que se avizinha sejamos melhor.

    Que Deus nos ilumine a servir o País com transparência e inclusão. Fruto da desesperança que nos tem sido servida por um conjunto de seres

    empenhados em dividir esta nossa nobre Nação, no ano prestes a terminar vi-mos a nossa auto-estima e dignidade ferida pela exposição e classificação da Família Moçambicana como das mais pobres do mundo, embora haja no País condições para que a pobreza possa passar à História.

    Não fora a degradação de valores a que nos têm lançado a ponto de fazerem de Moçambique um dos países mais corruptos do universo das nações, esta-ríamos certamente noutro patamar. Cientes, contudo, das virtudes de todo um Povo que não podem ser confundidas com o comportamento de um punhado de traidores, renovemos nesta quadra festiva 2011/2012 a nossa esperança de um Moçambique melhor para todos.

    O nosso partido pugna por um MOÇAMBIQUE PARA TODOS, indepen-dentemente do credo dos cidadãos, raça, tribo e condição social.

    Entendemos por isso urgente que a humilhante condição a que Família mo-çambicana foi e está sujeita, seja corrigida.

    O centralismo que não permite que imensas iniciativas possam ser concreti-zadas; o tráfico de influências; a anarquia reinante promovida no Aparelho do Estado pelo partido que tem estado no poder, são hábitos que já se provou que levam a que Moçambique acabe classificado da pior forma nos vários “rankin-gs” mundiais de avaliação.

    Moçambique não pode continuar refém do partido que estando no poder des-de a Independência Nacional transformou o País no “saco azul” de uns quantos seus dirigentes que se recusam a respeitar o mérito da alternância e não respei-tam o direito inalienável de todos poderem contribuir para o Progresso do país.

    É urgente que se corrijam as políticas que levaram a esmagadora maioria dos cidadãos moçambicanos à humilhante pobreza que se observa na realidade e vai muito para além da mentira que tem sido construída através de estatísticas falsas, produzidas pelos próprios que vêm enriquecendo sem mérito.

    O nosso Aparelho do Estado foi transformado num aparelho de extorsão em vez de ser o que preconiza a nossa Constituição da República.

    Os cidadãos são massacrados diariamente por esse mesmo Aparelho de Esta-do onde quem lá trabalha é mal pago e obrigado a adoptar práticas moralmente condenáveis para sobreviver enquanto os seus superiores hierárquicos se ban-queteiam com regalias que melhor distribuídas permitiriam que se devolvesse dignidade aos funcionários públicos e passasse a haver respeito pelos cidadãos.

    A elite do partido que tem estado no poder condenou os cidadãos à miséria e à indigência crescente e só um movimento decidido poderá permitir mudar Moçambique e devolver ao País a sua característica histórica de país de gentes de bons costumes.

    As constantes violações dos Direitos Humanos a vários níveis, a arrogância, a repressão contra os que tentam arrancar o País do sufoco faz com que a Paz esteja ameaçada pelo que temos de fazer tudo para evitar que se imagine que não há outra alternativa que não seja violenta e brutal.

    Precisamos de viver o presente, hoje, agora, com dignidade. As nossas riquezas não podem continuar a servir apenas para enriquecerem

    um punhado enquanto a esmagadora maioria dos cidadãos vive sem as condi-ções essenciais.

    Não se combate a pobreza com discursos.O partido ainda no poder esgotou a sua missão. Já não se renova, por isso

    TODOS OS MOÇAMBICANOS têm a tarefa e a missão nobre de contribuir para libertar Moçambique.

    Quem tem estado a dirigir Moçambique não tem tempo para se dedicar a resolver os problemas reais do País. Transformados numa oligarquia que se espanta com os indicadores e as percepções de instituições credíveis sobre a pobreza e corrupção, a elite no poder transformou-se numa oligarquia preo-cupada em multiplicar a sua riqueza individual sem a menor preocupação de organizar o País para que a pobreza chocante que nos rodeia seja reduzida até desaparecer.

    A oligarquia míope que passa os dias a chamar aos moçambicanos “maravi-lhoso Povo” tem de deixar de nos ameaçar. Temos de por termo à hipocrisia e ao cinismo.

    O POVO não pode continuar a permitir que em Moçambique exista um go-verno que antes de se preocupar com segurança alimentar se preocupa em com-prar armas e a gastar fortunas em repressão para assegurar o luxo em que vive.

    O POVO não pode continuar a permitir que os agentes do Estado que querem contribuir para que o nosso País se torne um País digno, sejam barbaramente assassinados e não se encontrem os verdadeiros autores e respectivos mandan-tes dos crimes.

    As reprovações nas escolas, sem procedentes, são fruto de um ensino de-ficiente em que mais do que ensinar a preocupação tem estado virada para construir escolas sem condições pedagógicas e sem professores suficientes e devidamente habilitados.

    A Educação não pode continuar a ser a farsa que tem sido.Entretanto, os que acabam de se formar não podem continuar em casa de-

    sempregados porque o governo antes de criar emprego preocupa-se em gastar o dinheiro a rodear a “elite” de meios supérfluos e de ostentação.

    As fragilidades das nossas fronteiras, a crescente e descarada partidarização das instituições públicas, têm de acabar.

    Os funcionários públicos têm de passar a ser pagos para que possam levar uma vida condigna e livre da corrupção.

    O governo tem de deixar-se de fingir que paga aos funcionários públicos. Os funcionários públicos devem ter salários mais dignos e menos benesses.

    As benesses são apenas uma forma do governo subornar os funcionários. As benesses são um exercício de corrupção. Os próprios funcionários devem ver o valor das benesses incorporado nos seus salários para que os valores sejam considerados nas suas pensões de reforma.

    Temos também de rever a política de emprego e habitação dos jovens. Os jovens não podem continuar a estudar para ficarem desempregados.

    Os anos passam e não se vislumbram soluções para os problemas dos cida-dãos que se acumulam de ano para ano. E tudo isto tem de mudar. É preciso fazer mudar mesmo sem nos deixarmos enganar por slogans de quem tem por objectivo adormecer todo um Povo.

    Moçambicanas e Moçambicanos,Caros cidadãos,

    A oligarquia no Poder representa uma ameaça concreta ao desenvolvimento

    (Continua na página seguinte)

    Movimento Democrático de MoçambiqueMensagem do Presidente Daviz Simango por ocasião

    do Natal e do Ano Novo

  • Publicidade 19Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 2011

    sustentável, ao futuro dos nossos filhos e das próximas gerações. Por isso se impõe a TODOS OS MOÇAMBICANOS uma luta sem tréguas para a mudan-ça, para a reestruturação do Aparelho do Estado, contando com os jovens de níveis básico, médio e universitário, que hoje vemos deambulando pelas ruas pelo simples facto de não alinharem com esta nova burguesia opressora do POVO.

    Burguesia que se preze não se comporta como a que protegida pelo partido ainda no Poder continua a esgotar os recursos do Estado em acções que em nada ajudam o País a desenvolver-se.

    A nossa luta continuará a ser assente nos valores da legalidade e justiça so-cial, pelo progresso democrático.

    Alertamos a TODOS MOÇAMBICANOS para que continuem atentos às manobras do partido Frelimo tendentes à mudança da Constituição da Repú-blica. Querem fazer crer que é o Povo que quer mudanças na Constituição, mas isso é falso. O Povo quer pão. O Povo quer emprego. O povo quer igualdade. O Povo não quer continuar a assistir ao uso e abuso dos bens do Estado por uma minoria sem escrúpulos.

    O MDM – MOVIMENTO DEMOCRÁTICO DE MOÇAMBIQUE é um partido cuja visão assenta na recuperação dos valores societários e humanos, na recuperação do tecido social afectado pelo monopartidarismo e pela bipar-tidarização de MOÇAMBIQUE.

    O MDM é um partido comprometido com colocar a Economia ao serviço dos moçambicanos e não de uma minoria apenas.

    Um pequeno punhado de pessoas converteu-se numa “elite” depravada e sem o mínimo respeito pela esmagadora maioria do Povo Moçambicano e é preciso que o Povo se organize para pôr termo aos abusos persistentes a que estamos a assistir.

    A dota “elite” que usa o governo como um escudo para as suas aspirações pessoais, sufoca a liberdade, asfixia a economia e impede que no país se adop-tem políticas para que o bem comum sirva a todos os MOÇAMBICANOS com justiça.

    Moçambicanas e Moçambicanos,Caros concidadãos,

    Enquanto certas autoridades viajam de helicóptero gastando quantias enor-mes de dinheiro, as estradas do País continuam intransitáveis ou em muito mau estado.

    As Estradas Nacionais entre Niassa e Nampula; Cabo-Delgado e Niassa; In-chope-Beira; Dondo-Inhaminga-Inhamitanga-Marromeu; Mocuba-Nampula; Gurúè-Cuamba; Maputo-Ponta de Outo, Pemba-Bilibiza, Maxixe-Homoine, entre muitas outras, são estradas que consideramos vitais para que se alavan-que a economia permitindo-se que o país se desenvolva por iniciativa dos cida-dãos e não tenha de ficar à espera das esmolas dos governantes do dia.

    É impossível reivindicarmos ganhos económicos com o lastimável estado das nossas vias de comunicação.

    É impossível reivindicarmos ganhos económicos perante a fraca qualidade de energia eléctrica que abastece as cidades moçambicanas, a falta de gás do-méstico, a deficiente funcionalidade das comunicações.

    O país precisa de ter a certeza que a energia eléctrica chega a todos, todos os dias, sem oscilações de tensão.

    O país precisa de comunicações fiáveis.O país precisa de boas estradas antes de mansões e carrões para os dirigentes

    e para a “elite” que vive pendurada no Poder e nas hierarquias das instituições públicas e empresas públicas.

    É preciso pôr-se termo à delapidação das florestas nacionais e à consequente exportação de madeira em toro, que para além de contrariar a legislação em vigor no país não trás qualquer benefício ao Estado.

    As nossas crianças e jovens continuam a estudar sentados no chão enquanto a nossa madeira é exportada sem que se crie um único posto de trabalho in-dustrial. Depois ainda temos de importar cadeiras produzidas no estrangeiro às tantas com a nossa própria madeira. Só um governo sem respeito pelos seus concidadãos pode continuar a permitir que isto aconteça. Por isso devemos todos preparar-nos para mudar Moçambique.

    Moçambicanas e Moçambicanos,Caros concidadãos,

    O modelo político e económico definido pelo partido ainda no poder é a cau-sa da pobreza e do atraso de Moçambique.

    Queremos reiterar a nossa convicção de que MOÇAMBIQUE PARA TO-DOS significa a devolução efectiva da gestão aos cidadãos que vivem nas ci-dades e vilas de todo o país.

    Não se pode admitir que se continue a insistir em manter as cidades e vilas apenas sob aparente autonomia.

    É preciso que às autarquias seja permitido o que está preconizado na lei. É

    (Continuação da página anterior) intolerável que a nível central se manipule o sistema administrativo do País para impedir a descentralização efectiva.

    A riqueza produzida localmente deve beneficiar em primeira instância quem a produz sem obviamente se prejudicar o País no seu todo.

    Deve-se evitar manter o sistema que está instalado em que a grande fatia dos rendimentos vai para quem pouco ou nada faz e aos que efectivamente produ-zem se redistribuem as migalhas.

    O País não pode ser de uma maioria de escravos a servir uma “elite” preda-dora e sem princípios morais e cívicos à altura das exigências de Moçambique.

    O Estado presentemente favorece um punhado de cidadãos que se servem do Estado para manipularem o sistema em seu benefício próprio.

    O Estado não pode continuar a servir interesses de alguns pois isso é negar-se a própria essência do Estado.

    A modernização do País tem de ser feita por igual e não pode continuar a beneficiar sempre os mesmos. Não pode um País todo continuar a servir uma “elite” instalada na sua capital rodeada inclusivamente por uma periferia em-pobrecida e esquecida.

    Somos um País de mais de vinte milhões de cidadãos à espera que Moçam-bique seja para todos.

    A estratégia actual do governo já provou ser centralizadora e concentrado-ra. O fomento pecuário, o fomento do emprego, do abastecimento de água, a criação de postos de saúde, a formação de qualidade, exige-se que tenha em conta o cidadão e não os interesses de algumas famílias que se julgam donas de Moçambique.

    Moçambicanas e Moçambicanos,Caros concidadãos,

    O desafio é a preparação dos pleitos eleitorais que se avizinham para se al-terar o quadro actual.

    As recentes eleições autárquicas em Quelimane provaram que o MDM sendo ainda um partido recem constituído está capaz de merecer a confiança dos jo-vens, adultos e velhos, e vencer. Diziam que nada andávamos a fazer mas pro-vámos também em Cuamba e Pemba que não precisamos de fazer espalhafato para nos fazermos notar. Na hora da verdade existimos e conseguimos provar que os nossos objectivos podem ser atingidos se o Povo estiver do lado certo da luta que é necessário que todos se convençam que temos ainda de travar para acabar com os abusos de uma “elite” depravada que se instalou a comer-nos a carne e se prepara para nos comer os ossos, se nada fizermos.

    De onze capitais provinciais presidimos agora a duas, sendo uma a capital da província de Sofala – a segunda cidade mais importante do País – e a outra a capital da Zambézia – província com grande potencial apesar de empobrecida por sucessivos governos sem inspiração para promover o seu desenvolvimento.

    Moçambicanas e Moçambicanos,Caros concidadãos,

    Façamos de 2012 um ano de consolidação das vitórias e de preparação das eleições autárquicas de 2013 e presidenciais e legislativas de 2014.

    O País não pode continuar refém daqueles que perderam a perspectiva do que Moçambique necessita para se desenvolver.

    O MDM tem a convicção, e por isso se está a afirmar, de que só num qua-dro de MOÇAMBIQUE PARA TODOS poderemos ressurgir no mundo global como um Estado prestigiado e deixarmos definitivamente de sermos um Esta-do de pedintes.

    Os Moçambicanos não podem resignar-se perante quem se estruturou para lhe negar a liberdade. Quelimane já está libertada. É preciso que todos saibam seguir o exemplo das suas gentes.

    Por isso Vos peço que se juntem todos para que possamos vencer a fome, a miséria e a ignorância, invertermos a marcha para o abismo e voltarmos a elevar o bom nome de Moçambique.

    Permitam-me, a terminar, que em meu nome pessoal e do Movimento Demo-crático de Moçambique (MDM) deseje a todos, Moçambicanos e expatriados, bem como aos representantes da Comunidade Internacional, diplomatas, suas excelentíssimas Famílias e dirigentes de todos os Estados Amigos, um Natal Feliz, um Dia da Família alegre, e um Ano Novo cheio de Paz, Amor, Saúde, Amizade e Repleto de Esperança e prosperidade.

    Que Deus abençoe a Família Moçambicana e nos ilumine nas tarefas que ainda temos pela frente para elevarmos esta grande Nação ao patamar que de-sejamos.

    Bem haja Moçambique e todos os seus.

    TRANSFORMEMOS MOÇAMBIQUE NUM MOÇAMBIQUE PARA TODOS

    Daviz Mbepo Simango, Eng° Civil(Presidente do MDM – Movimento Democrático de Moçambique)

  • Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 201120

    Nacionalpublicidade

    Metical cada vez mais robusto

    – alerta o economista da USAID, António Franco

    Raimundo Moiane

    A constante valorização da moeda nacional, o metical, face às moedas estrangeiras mais transaccionadas nos mercados cambial e comercial em Mo-çambique, nomeadamente o rand sul-africano, o dólar ame-ricano, e o euro, está a tornar a economia nacional menos competitiva a nível interno e internacional, segundo resul-tados de um estudo feito pelo conceituado economista Antó-nio Franco, divulgado na última sexta-feira em Maputo duran-te um debate sobre “Desafios da Economia moçambicana”.

    A valorização desenfreada do metical, segundo o estu-do, está a encarecer os custos de produção a nível nacional, provocando, deste modo, al-tos preços dos produtos na-cionais tanto a nível interno como internacionalmente.

    A sobrevalorização do me-tical está também a provocar a redução significativa das exportações de Moçambique, uma vez que os produtos na-cionais se tornaram muito ca-ros no mercado internacional.

    Apesar de não haver dados estatísticos que comprovam esta tese, o estudo refere que nos últimos meses, por exemplo, é vantajoso importar produtos básicos alimentar como batata, óleo alimentar, tomate e cebola

    da África do Sul, uma vez que o rand tem neste momento uma cotação muito baixa no merca-do cambial nacional, ou seja, um rand custa neste momento 3,3 meticais, o que torna os re-feridos produtos menos caros em Moçambique em relação aos produzidos a nível nacional.

    Face a esta situação, os pro-dutores nacionais estão a ficar penalizados pela falta de com-petitividade dos seus produtos, o que poderá, a curto, médio e longo prazo, acelerar o processo de liquidação das poucas activi-dades produtivas que existem, contribuir para a extinção de mais postos de trabalho e tornar o país mais importador do que exportador, perpetuando, deste modo, a balança comercial ne-gativa com os principais países.

    A explicação do economista para a grande valorização do metical é que o país tem vindo a tornar-se destino de mega--projectos na área de exploração do carvão mineral, gás natural e de outros recursos energéticos.

    Esses projectos, segundo o es-tudo, estão a provocar um gran-de fluxo de moedas estrangeiras no país, e isso leva, consequen-temente, à apreciação real do metical, derivado do excesso de oferta da moeda externa, provocando o efeito de substi-tuição da produção nacional por importação de produtos acaba-dos. (Canal de Moçambique)

    Valorização do metical tem efeitos devastadores na economia nacional

  • Publicidade 21Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 2011

  • Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 201122

    “Os secretários dos bairros de nome Machava e Cumaio receberam dinheiro e venderam as nossas machambas. Nem as campas dos meus pais escaparam”

    “As máquinas pisaram e arrasaram tudo que tinha na minha machamba. Perdi cana-de-açúcar, cebola, mandioca, batata-doce e bananeiras. Os secretários de bairros

    estão metidos em negociatas de terra. Eu quero minhas culturas de volta” – Mariamo Pelembe, agricultor de Boane

    “Os nossos terrenos estão a ser evadidos por exploradores de areia grossa, que é muito usada para a construção de casas. Eles têm dinheiro e quando chegam aqui corrompem

    os secretários de bairros e até campas dos meus defuntos foram vendidos” – Rute Alberto Manhiça, agricultora de Boane

    No distrito de Boane

    Exploração de areia deixa camponeses sem terra para agricultura

    Cláudio Saúte

    Camponeses integrados em diversas associações de agri-cultores dos distritos de Boane, província de Maputo, queixam--se de estarem a perder as suas machambas por os areeiros a cada dia que passa estarem a es-cavá-las. Dizem que a crescente procura de areia grossa para as construções nos municípios de Maputo, Matola, província de Maputo, está a provocar a pro-cura desenfreada de areia grossa e isso está na origem da usurpa-ção de terras em Boane com a conivência das estruturas ad-

    ministrativas locais do Estado.Os camponeses falavam no

    início de Dezembro, à mar-gem de um seminário or-ganizado pela MUGEDE (Mulher Género e Desenvol-vimento) para a divulgação de protocolos nacionais, regionais e internacionais sobre o “em-poderamento” da Mulher nos distritos de Boane e Moamba.

    Mais uma vez se prova que enquanto se insiste em proi-bir a venda livre de terra, os agentes do Estado continuam a beneficiar das prerrogativas que a lei lhes concede como autoridades locais, para se

    envolverem em negociatas. Os “grandes chefes”, até por

    vezes procuradores e juízes, fi-cam com grandes porções de terra para eles, a aguardar para especularem quando surgem as grandes corporações interes-sadas. Os “pequenos chefes”, secretários dos bairros e líderes tradicionais, entretanto, porque assistem o jogo dos “grandes” do Governo outras instituições do Estado, e os protegem, fa-zem ao seu nível os negócios de ocasião. É o que dá a terra ainda ser constitucionalmen-te do Estado e proibir-se a sua venda livre. Só ganham os que

    estão no aparelho do Estado e no poder. Aos outros cidadãos só lhes resta trabalhar para en-cher os bolsos dos chupistas.

    As vítimas na primeira pessoa

    Rute Alberto Manhiça dis-se que apesar de conhecer a lei da terra, viu machambas dos seus pais usurpadas in-cluindo campas de familiares que foram invadidos por má-quinas que abriram areeiros.

    “O nosso terreno não está vedado. Os secretários de no-mes Machava e Cumaio rece-

    beram dinheiro e venderam as nossas machambas. Nem as campas dos meus pais escapa-ram. Depois da invasão, fiz re-querimento por uma questão de formalidade porque sei que as machambas são minhas”, acres-centou Rute Alberto Manhiça.

    Por seu turno, Sara Muan-ga, do bairro Gueguegue, dis-se que “as suas machambas foram vendidas por um líder tradicional de nome Gimo”.

    Ela conta que levou o caso ao círculo e durante o contra-ditório o régulo disse que não vendeu, mas, sim, emprestou o espaço para que famílias

    Participantes acompanhando a divulgação de protocolos nacionais, regionais e internacionais sobre o “empoderamento” da Mulher

    Nacional

  • 23Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 2011

    Mariamo Pelembe denunciando a usurpação das suas machambas

    A vice-presidente da Asso-ciação das Mulheres do Posto Administrativo de Ressano

    Garcia, AMARG, Sofia Mabu-za, queixou-se de estar a sofrer isolamento mesmo em progra-

    mas organizados pelo governo. Denuncia que muitas vezes não lhe é dado espaço no posto para

    falar dos problemas que afligem as mulheres. “Sou membro de honra a nível do posto admi-nistrativo, mas não sou querida. Acusam-me de desorganizar lares quando apelo as mulhe-res nas localidades e povoados para conhecerem a convenção sobre a eliminação de todas for-mas de discriminação contra a mulher, declaração universal dos direitos humanos, política nacional do género, plano na-cional de acção para o avanço da mulher, entre outros instru-mentos legais que defendem a mulher”, disse Sofia Mabuza