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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES CURSO DE PSICOMOTRICIDADE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A EFICIÊNCIA DA DANÇA NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE CRIANÇAS DE 2 A 6 ANOS. Ana Teresa Mendes Pinheiro da Silva Rio de Janeiro 2001

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

CURSO DE PSICOMOTRICIDADE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A EFICIÊNCIA DA DANÇA NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR

DE CRIANÇAS DE 2 A 6 ANOS.

Ana Teresa Mendes Pinheiro da Silva

Rio de Janeiro

2001

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II

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

CURSO DE PSICOMOTRICIDADE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A EFICIÊNCIA DA DANÇA NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR

DE CRIANÇAS DE 2 A 6 ANOS

OBJETIVOS:

X Apresentar a dança como peça fundamental na vida

das criança, tanto para sua formação artística, sua

integração social e para seu desenvolvimento

psicomotor.

X Mostrar que as atividades propostas visam o

desenvolvimento psicomotor como coordenação,

equilíbrio e flexibilidade. Trabalha também a

criatividade, musicalidade, socialização, percepção

do seu próprio corpo e o conhecimento da dança.

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III

AGRADECIMENTOS

A todos os autores, alunos e pessoas que, direta e

indiretamente contribuíram para confecção desta

monografia. Ao corpo docente e coordenação

deste curso de pós graduação da Universidade

Cândido Mendes.

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IV

DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia a minha família e as

minhas mestras que tanto colaboraram para sua

confecção.

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V

RESUMO

O presente estudo mostra a eficiência da dança no desenvolvimento

psicomotor das crianças de 2 a 6 anos de idade, que seria o período pré escolar.

Foi colocada a importância da dança de forma bem objetiva e clara.

O que é a dança? O que os professores devem fazer para trabalhar

este lado psicomotor da criança? Quais os estágios de desenvolvimento das

crianças de acordo com alguns autores? Como a criança lida com suas

descobertas e de que forma são feitas? O corpo da criança, o ritmo de cada um. A

importância da parte social da criança, a linguagem corporal.

Enfim, toda a parte teórica que é preciso saber para realizar uma boa

aula não só para o aluno, mas também para o professor.

A importância do movimento no desenvolvimento da criança, que está

diretamente relacionado ao seu crescimento, desenvolvimento e funções mentais.

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VI

METODOLOGIA

A metodologia é de acordo com o estágio feito em uma academia

especificamente de dança, que se preocupa com todo este processo de

desenvolvimento da criança.

Foi desta vivência que conseguiu-se o conteúdo prático, que ajudou na

elaboração da monografia.

As crianças, durante suas próprias aulas são submetidas a testes para

que nós, estagiários, possamos ter uma melhor observação da fase em que estão

no momento atual e como pode ser ruim extrapolar esta fase. A criança, muitas

vezes, desiste do que está fazendo.

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VII

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO 1

A dança no desenvolvimento psicomotor 09

CAPÍTULO II

A dança no desenvolvimento psicomotor 11

CAPÍTULO III

A dança , a criança e seu corpo 20

CAPÍTULO IV

A dança , caráter lúdico e dinâmico 30

BIBLIOGRAFIA 37

ANEXOS 38

ÍNDICE 42

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VIII

INTRODUÇÃO

Dançar é definido como uma manifestação instintiva do ser humano.

Antes de polir a pedra e construir abrigos, os homens já se movimentavam

ritmicamente para se aquecer e se comunicar.

Considerado a mais antiga das artes, a dança é também a única que

dispensa materiais e ferramentas. Ela só depende do corpo e da vitalidade

humana para cumprir sua função enquanto instrumento de afirmação dos

sentimentos e experiências subjetivas do homem.

O presente estudo irá mostrar que a dança ainda é importante na

vida das pessoas e é fundamental para o desenvolvimento futuro de criança de 2

a 6 anos, idade pré escolar, principalmente em sua formação artística, integração

social e desenvolvimento psicomotor e afetivo.

Com a dança, as crianças irão descobrir a alegria através da

exploração do próprio corpo e das qualidades de movimento, de forma lúdica e

dinâmica, fazendo com que a criança sempre tenha prazer.

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IX

CAPÍTULO I

A DANÇA

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X

HISTÓRIA DA DANÇA

Danza, dança, tans derivado da raiz tans que em sânscrito significa

fusão.

A dança é uma arte tão antiga quanto o homem enquanto forma de

linguagem.

A evolução da dança através da história, não é aleatória, segue

padrões sociais e econômicos ou nasce da necessidade do homem

expressar seus sentimentos e emoções, desejos, interesses, sonhos, etc.

A dança pode ser considerada a expressão da harmonia universal

em movimento.

O homem primitivo dançava para simbolizar sua força e vigor físico –

uma rudimentar tentativa de comunicação, só posteriormente a dança surge como

ritual.

Arquivos encontrados em escavações mostram gestos rítmicos,

repetitivo, às vezes levados ao paraxismo, retratam dança em torno de fogueiras

diante das cavernas ou parecem aquecer o corpo antes das atividades de caça ou

combate. Assim desde as mais remotas organizações sociais a dança se faz

presente como manifestação de expressão e comunicação e de celebrações tais

como: mudança de estações ou celebrações bélicas, antes ou após os combates.

Esta presente em todos os momentos solenes do homem: guerra e

paz, casamento, funerais, semeaduras e colheitas.

“ Dançar é vivenciar, é exprimir com o

máximo de intensidade e emoção, a relação do homem

com a natureza com a sociedade, com o futuro, com

seus deuses.” (Siva)

Das aldeias, as danças foram aos salões da aristocracia e passam a

ter requinte e códigos de comportamento da nobreza e sua corte.

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XI

Mais tarde surgiu na França, o ballet (Catarina de medicis). Com o

primeiro ballet, surge a dança teatral.

Nesta época, a dança é a realização visual dos sonhos e anseios do

homem vazada pela realidade do mesmo de fugir à realidade. São os ballets

românticos que dão asas a fantasia e imaginação.

Hoje, a dança retrata as necessidades, idéias, necessidades e

interesses da nossa época, aliada a necessidade que o homem tem de extrapolar

a sua essência. Danças como o jazz, a dança moderna, o sapateado, o swing, a

dança contemporânea, o rock e outros são tendências da nossa presente

realidade.

O ensino da dança teve um enriquecimento, no decorrer de sua

existência, através de métodos modernos, usando o corpo como um todo, com

inúmeras possibilidades e infinitas combinações de formas e movimentos como

meio de expressão e comunicação.

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XII

CAPÍTULO II

A DANÇA NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR

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XIII

DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DA CRIANÇA

Ser criança é ser dinâmica com muitas habilidades e isto faz com

que utilize suas habilidades motoras para expandir teu ser.

O movimento é de vital importância no desenvolvimento da criança, e

está diretamente relacionado ao seu crescimento, desenvolvimento e funções

mentais.

Bayley (1936) mostra a correlação entre desenvolvimento mental e

motor. Ele percebeu que as mudanças rápidas de crescimento e

desenvolvimento se processam na primeira infância e que a coordenação motora

grossa desenvolve mais rápido que as funções mentais antes dos 2 anos de

idade.

Psicólogos, pesquisadores, professores de diversos campos

educacionais, particularmente a área de Educação Física , tem se voltado para o

aperfeiçoamento de atividades motoras na primeira infância.

O psicólogo Jersild, diz que o indivíduo tem uma visão de si próprio

influenciado pela percepção de seu corpo.

No momento em que a criança começa a desenvolver o

autoconceito, as atividades em dança deverão ser estruturadas a partir de

estratégias pedagógicas voltada para o desenvolvimento total da criança.

Deve-se respeitar o desenvolvimento psicogenético da criança. É ele

quem direciona o processo ensino aprendizagem.

1.1. Estágios De Desenvolvimento

De acordo com Piaget, a criança aos 2 anos, já adquiriu seu controle

sensório motor e entre 2 e 4 anos, é capaz de extrair conceitos de experiências.

Mostra a importância de experiências percepto motoras como facilitadoras do

desenvolvimento cognitivo bem como o desenvolvimento físico.

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XIV

A dimensão do desenvolvimento da criança nesta área depende do

tipo de programa, do profissional e da forma que é oferecido.

Proença (1989), em Criança e atividade física publicada na revista

brasileira de ciências e movimento 3, formula esquemas onde estabelece estas

dimensões que se ajustam de forma coerente as nossas propostas.

No esquema 1 (anexo1) aborda o esquema geral para o

desenvolvimento das atividades motoras; no esquema 2 (anexo 2), estabelece a

dimensão do desenvolvimento, as generalizações e suas necessidades e

habilidades; e no esquema 3 (anexo3), formula noção do espaço, tempo, objeto e

relações e suas subdivisões.

Estes estágios ajudam aos educadores na seleção das atividades de

dança. Geralmente na primeira fase do trabalho o educador deve generalizar os

objetivos, pois geralmente o grupo é heterogêneo, a reação de cada criança é

diferente e as respostas de aprendizagem também são diferentes.

O desenvolvimento básico de uma criança deve ser realizado através

de estímulos, desafios e motivação extrínsica do professor com atividades que

sejam prazerosas. A criança tem que estar gostando do que está fazendo.

O professor deve também, perceber o interior de cada aluno, como

ele é e como está naquele momento, sua ludicidade, agressividade e sexualidade.

Deve-se trabalhar a conscientização do corpo (das partes, lados,

costas, frente); conscientização do espaço (o corpo em relação aos objetos,

pessoas, direções, sentido); conscientização da força (esforço dos movimentos

rápidos, lentos, suaves, rígidos e diluídos); conscientização do interrelacionamento

(corpo em equilíbrio dinâmico, situações e encadeamento das seqüências de

movimento) e conscientização do tempo e suas dimensões.

Todo esse trabalho deve ser feito de formas naturais como: andar,

correr, saltar, saltitar, equilibrar, rodopiar, girar, rolar, trepar, pendurar, puxar,

empurrar, rastejar, galopar e lançar.

Tem que começar do simples para o complexo, de ações

espontâneas para construídas, grau de intensidade menor para maior, poucas

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repetições para o aumento gradativo das mesmas, tempo de duração curto para o

prolongado, ritmo mais lento e vai acelerando.

Flinchun, 1981, e Proença, 1989, estabeleceram os níveis de

movimento relacionados à taxionomia do domínio psicomotor.

Flinchun estabelece como elemento fundamental no

desenvolvimento motor, as ações reflexas dos movimentos reflexos para

estruturar os outros níveis, como os movimentos básicos, perceptivo motor,

habilidades físicas, movimentos especializados até os criativos.

Classificação Motora

X MOVIMENTOS REFLEXOS: são movimentos involuntários e é fundamental

para o desenvolvimento motor, pois o amadurecimento neuro muscular e o

desenvolvimento postural são básicos e precedem a ação motora de andar.

X Eles são: reflexos posturais, segmentares, de preensão, e intersegmentares,

supersegmentares externados pelas atividades de flexão, extensão,

alongamento e ajustamento postural.

X MOVIMENTOS BÁSICOS: estão relacionados a padrões motores básicos:

locomotores – andar, correr, saltar, saltitar, deslizar, quadrupejar, trepar e rolar;

não locomotores – empurrar, puxar, balançar, girar, agachar, esticar, inclinar-

se e contorcer; e manipuladores – manipular, manusear, tocar, sustentar,

movimento de preensão dos dedos.

X MOVIMENTO PERCEPTIVO MOTOR: começa no estágio anterior e

acrescenta uma outra dimensão, a percepção que antecede a resposta motora.

A criança recebe a informação sensorial aferente e a interpreta antes de

responder o movimento. Aprendizagem simbólica e conceitual.

X HABILIDADES FÍSICAS: a execução do movimento é de forma especializada e

cresce a complexidade.

X MOVIMENTOS ESPECIALIZADOS: dependem do grau de habilidades físicas.

Combina-se a ação completa com alto grau de eficiência do movimento.

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XVI

X Flinchun classifica neste nível as habilidades aplicada à execução técnica e

performance da dança.

X MOVIMENTOS CRIATIVOS: comunicação não verbal através de movimentos

expressivos e interpretativos.

X MOVIMENTOS EXPRESSIVOS: planejados a partir de estímulos ambientais

da natureza em geral, ou podem ser conteúdos simbólicos (abstratos).

Os movimentos criativos podem ser motivados em associação com

outras formas de linguagens artísticas como desenho, artes plásticas, cênicas e

música.

A dança trabalha todos os movimentos descritos acima de uma

forma completa, fazendo com que as crianças aprendam com mais facilidade e

sem muita cobrança da perfeição. Com isso, passam por experiências de

comunicação e expressão que lhes permitam desenvolver sua criatividade e

interpretatividade e faz com que extravasam suas emoções reprimidas contidas no

seu mundo subjetivo.

O sucesso, a alegria, a excitação, a realização que as crianças

experimentam a partir da dança, permitirão as mesmas receber esforço positivo,

estruturando sua personalidade, pois reforçam o auto conceito, auto estima, auto

confiança e auto imagem.

A partir do momento que se percebe o sucesso da criança nas

habilidades físicas, vê-se uma melhora nas interrelações consigo, com o outro e

com o mundo.

Os movimentos básicos e habilidades motoras fundamentais e

especializados, devem ser desenvolvidos através do lúdico. Isso faz com que a

criança fique mais alegre e participa ativamente das atividades vividas, onde

aprende a liberar seus movimentos e expressar suas emoções pela exploração do

movimento.

Através da dança, a criança tem a possibilidade de estruturar e

reformular seu auto conceito combinados com a criatividade estimulada.

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XVII

As possibilidades de interdisciplinaridade pela integração da

aprendizagem como um todo, poderá também ser explorada.

O professor deve fazer com que a criança se sinta capaz de lidar

com o corpo em várias situações fazendo com suas aulas sejam recreativas e

estabelecendo um ambiente que estimule possibilidades de explorações e

experiências bem sucedidas, fazendo com que fique mais confiante.

Jogo Simbólico

De acordo com alguns autores e pesquisas dentro da

psicomotricidade, o conhecimento do nosso próprio corpo é filtrado pela

percepção do inconsciente – intuição, fonte imaginária da imagem corporal, com o

corpo imaginário.

O jogo simbólico torna o objeto consciente. Com isso, é através

deste que cada um revive a sua história.

Fala-se em jogo simbólico como uma manifestação simbólica, onde o

homem se expressa, se realiza, estabelecendo seus limites através da pele. A

pele é que estabelece a relação entre o interior do “eu” e o exterior, espaço do

objeto.

O espaço é muito importante, pois é nele que se passa os

acontecimentos concretos e as fantasias. A maior importância e dimensão do

espaço, é que ele uma vez estabelecido permite articular as relações de tempo. O

tempo portanto, está contido nos limites do espaço.

A dança possibilita os limites usando a sensibilização do “toque de

pele”. Com isso a criança começa a estruturar sua personalidade e a socialização

começa a acontecer melhor.

Neste momento a criança descobre o que ela é, sua relação com o

objeto a nível social e pessoal.

Na perspectiva simbólica há uma interação do sujeito consigo

mesmo, com os outros, com os objetos e com o mundo, através da perspectiva

física do corpo real veiculado pelas sensações.

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XVIII

Com o jogo a criança consegue, a partir do real, ir até o imaginário e

fecha o círculo com a volta ao real.

É o jogo simbólico o revelador do significado da vivência corporal,

deixando a criança agir mais com a emoção do que com a razão. É meio de

expressão da linguagem corporal que permite ao inconsciente se expressar sem

freios toda a dimensão histórica da subjetividade.

O tempo, o espaço, limites são importantes fatores na estruturação

das personalidades e possibilitam ao ser estabelecer esta dimensão.

A extensão do espaço corporal é dialético, pois depende da evolução

neurológica para extensão do seu potencial de ação. É este potencial que permite

a extensão e amplitude do movimento e a projeção deste em relação ao outro.

Nas várias vertentes expressas pelos psicanalistas, o espaço

(transicional – Winnicout; funcional – Lacan; acordo corporal – Montagner) é

estabelecido através do olhar (meio de penetrar o outro), da voz, da mímica

(expressão motora no rosto) e do objeto (por contato e movimento).

A dança sensibiliza através do “toque de pele”, faculta e promove o

estabelecimento dos limites, estruturando a personalidade através da dialética

espaço-temporal pela pulsão do movimento.

Linguagem Corporal

Linguagem e emoção estão sempre juntas. A emoção é indissociável

e deve ser vista dentro desta globalidade a nível pessoal e relacional. Permite uma

comunicação mais pessoal. Tentar separar o corpo racional do afetivo é fugir

desta afetividade e da emoção.

A dança, através desta linguagem, registra o real, o simbólico, o

imaginário, isto tudo através do movimento.

Segundo Le Boulch (1983) e Vayer (1986), o corpo é referencial

permanente, o eixo da percepção existencial do ser humano no mundo.

Existem três etapas de estruturação corporal fundamentais para

adaptação da criança ao mundo em seu espaço e tempo com uma dose de

harmonia e equilíbrio emocional.

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1. O período de elaboração se desenvolve através do jogo

simbólico.

2. O período de evolução é quando a criança começa a perceber

sua imagem corporal. É a vez dela perceber que não é outro, mas

diferente do outro. Tende a firmar sua própria personalidade.

3. O período de socialização, é onde a criança tem uma noção

global do esquema corporal, da integração dos vários segmentos e

das percepções favoráveis à sua orientação e situação no espaço.

Schilder (1934) apud Costa (1981), afirmam que o esquema corporal

é a imagem do próprio corpo que se projeta em cada pessoa ou o mundo como o

corpo se apresenta a cada um de nós.

Segundo Le Boulch (1983) e Staes (1984), as etapas de estruturação

do esquema corporal podem ser assim concebidos e discriminados da seguinte

forma:

• Até 3 anos – conexão direta com o comportamento global;

• De 3 a 7 anos – discriminação das partes do corpo;

• De 7 a 14 anos – orientação do corpo no espaço e no tempo, em

relação com o objeto, o outro e consigo mesmo.

Elementos Estruturais Da Consciência Corporal

A comunicação que existe no corpo é veículo de expressão do

inconsciente e filtra sem freios as emoções pelas metáforas.

O esquema corporal, a consciência, a imagem e o ego corporal,

possibilitam reconstruir e integrar os elementos estruturais e as interrelações

pessoais.

A estruturação do esquema corporal é a etapa pela qual a criança

vive o seu corpo pelo comportamento motor global, utiliza o corpo para

movimentar-se.

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Para Le Boulch, o esquema corporal é de fundamental importância

para a aquisição das noções do desenvolvimento psicomotor e as ações em geral

que a criança estabelece com relação ao mundo.

É a partir desta relação sujeito - mundo que ela estrutura sua

personalidade.

O conhecimento das partes do corpo realiza-se de forma interna pela

simbolização da imagem, quando a criança sente as partes do corpo do outro,

percebe o outro.

A consciência corporal é uma estrutura percepto motora, que tem por

base componentes internos como atenção visual, dimensão espacial, lateralidade

e outros; e componentes externos como direcionalidade, orientação espacial,

sentido do movimento total/parcial cinestésico, por exemplo.

É pela experiência vivida no movimento global que a criança

estabelece o primeiro esboço de sua imagem corporal. A medida em que a criança

percebe seu corpo, passa a perceber o ambiente e as pessoas, o que faz com que

se desenvolva plenamente.

O ego corporal é a percepção do corpo com qualidades e

características, é o corpo vivido. A imagem corporal representa o corpo na tela do

ego, sendo este mediador entre o indivíduo e o meio ambiente.

Pelo ego percebemos, coletamos, operamos e nos afirmamos em

nosso mundo interior e exterior.

Na dança é fundamental considerar a relação mundo – eu. Esta

relação emerge as singularidades e particularidades pessoais do ser. Com isso a

criança poderá potencializar e canalizar uma energia de forma positiva para o

encontro do ser com ele mesmo, com o mundo e o universo.

Movimento Humano

Relação de atitude interna com as formas externas transformando

símbolo de emoções (ação dramática, gesto e dança) em ações através de

padrões motores coordenados e ritmados com o universo.

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Tem a finalidade de desenvolver o vocabulário expressivo

estabelecer relações e utilizar a preparação para desenvolver estágio individual.

Seu principal objetivo é dar prazer a criança de viver seu corpo e

com ele estabelecer relação com o mundo pelo espaço, tempo, objetos e outros

através de situações espontâneas e naturais.

“O comportamento motor provoca crescimento

(mudanças anatômicas e diferenciações estruturais –

internas); desenvolvimento (progresso e facilidade de

funcionamento) e maturação (mudanças e facilidades

de funcionamento) “

(Herkowits, 1984)

Os fatores que desencadeiam grande variabilidade da aprendizagem

motora na fase inicial da criança são:

• Organização espacial;

• Estruturação espaço temporal;

• Coordenação óculo manual;

• Conhecimento do próprio corpo;

• Esquema imagem e ego corporal;

• Coordenação dinâmica;

• Estruturação ritmo dinâmica;

• Estruturação e controle corporal (equilíbrio)

(LeBoulch e Vayer)

A dança pode trabalhar e desenvolver todos esse fatores em todas

as crianças de uma forma lúdica e agradável.

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CAPÍTULO III

A DANÇA, A CRIANÇA E SEU CORPO

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XXIII

O CORPO

A dança analisa o corpo em relação ao indivíduo e ao ambiente,

dividindo o corpo em: individual e relacional.

O corpo individual é o corpo pela qual o ser se expressa e toma

consciência do mundo.

O corpo relacional é o corpo que possibilita trocas com o outro e o

ambiente através das relações de receptividade e doação. Nesta fase a criança

deve estar bem trabalhada para que não tenha, futuramente medo de se

relacionar com o mundo.

Para que a criança chegue neste estágio de corpo relacional deve

ser bem trabalhada em termos psicomotores, pois de acordo com Piaget a criança

entre dois e seis anos passa por duas fases de desenvolvimento: a pré operatória

e a intuitiva. Com isso seu amadurecimento vai desde o aparecimento da função

simbólica (capacidade de representar), onde começa a acontecer a estruturação

da linguagem e onde a criança não consegue fazer abstrações, até a fase onde

todas as respostas passam a ser intuitivas, e a manifestação do egocentrismo é

maior. A criança nesta última fase tem a tendência de centrar-se no seu próprio

ponto de vista.

Significado Do Corpo

A dança faz com que a criança perceba o mundo em dois

aspectos: capacidade de assimilar, apreender e reavaliar o meio a sua volta

e pelo relacionamento com ele pela capacidade afetiva de estabelecer

contato com o mesmo em harmoniosa integração.

O equilíbrio entre os dois, harmoniza a apreensão do mundo e

integração do homem consigo mesmo através da associação de diferentes corpos.

• Corpo físico

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XXIV

• Corpo mental

• Corpo emocional

• Corpo social

• Corpo político idealógico.

O professor deve ensinar a dança voltada para o trabalho das

dimensões corporais e suas relações afetivas.

O CORPO – INSTRUMENTO REAL TÁTIL: presente pela

consciência corporal como um todo (objetos, tempo, espaço), é o corpo do “aqui e

agora”.

O CORPO IMAGINÁRIO: significado simbólico (inconsciente) através

de experi6encias do corpo em relação consigo mesmo, com o objeto transicional e

com o outro. É através desta elaboração que a criança se busca.

O CORPO EMOCIONAL: (sensório perceptivo): não funciona só o

racional (consciente), é também um local de prazer e desprazer, reservatório das

pulsões, meio de expressão dos fantasmas individuais e coletivos da sociedade.

Estrutura Do Corpo Individual

O corpo é dividido em:

• Partes do corpo: Cabeça

Tronco

Membros

• Partes específicas: Segmentos do todo

Segmentos de membros

Segmentos de segmentos

Tudo isso junto delineia a FORMA CORPORAL, que é o contorno do

todo ou parte do todo em seu contorno de massa.

A FORMA possibilita a variedade e diversidade de combinações e

sequências de movimentos aliados as transferências, locomoções e

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XXV

deslocamentos. É a relação do corpo no espaço em diferentes situações e

diferentes fases do movimento estabelecidos por desenhos nas relações e

espaciais do corpo no solo ou partes destes, através de suas linhas ou apoios no

solo.

O corpo age e reage em função das famílias da dança, que são:

- transferências – mudanças do peso do corpo da posição inicial para inicial.

- Deslocamentos – andar, correr, saltar, saltitar, girar, voltear, elevar-se e

cair, são executados com os apoios dos pés.

- Locomoções – movimentos realizados no solo com partes do corpo.

A forma corporal deve ser muito bem trabalhada e desenvolvida nas

crianças, durante as aulas de dança.

A dança trabalha com formas e movimento que ao desenvolverem no

espaço as mensagens concebidas são projetadas exteriormente pelo educando,

permitindo ao mesmo vazar suas emoções, anseios, suas expectativas.

Quando o professor percebe tudo isso, poderá trabalhar as

possibilidades e todo o potencial do aluno de forma mais afetiva.

Portanto, a postura corporal trabalhada na dança, permite à criança

resgatar ou formar sua identidade, afastando – as dos modelos, de códigos

representados ou rituais estabelecidos para os corpos padronizados fisicamente,

politicamente, socialmente ou ideologicamente.

Corpo E Movimento

Corpo e movimento não podem ser vistos separadamente.

Os movimentos em dança se constituem das características reais e

integrais do corpo ou partes do mesmo numa ação espontânea e de concentração

a partir da consciência corporal.

Esta consciência permite que a criança perceba o corpo em sua

unidade e as partes em sua diversidade, em seus segmentos e partes de

segmentos demonstrando que suas possibilidades de combinações, sequências e

progressões em dança são ilimitadas

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XXVI

A Importância Da Consciência Corporal Na Dança

“O homem se insere no universo e atua como síntese

deste. Ao desvendar meu próprio universo estarei

conhecendo a humanidade e sob uma dimensão maior

o próprio universo. Quanto mais me perceber, quanto

mais estiver presente em mim, mais estarei consciente

do mundo.” (Viana,1990)

A dança, ao proporcionar uma consciência corporal, preserva e

garante uma boa relação de equilíbrio com o espaço exterior.

A partir do contato consciente com o nosso “eu” interior, criamos a

capacidade de um verdadeiro diálogo do “eu” interior com o exterior, com o

mundo, com o universo.

Existem vários estágios que trabalham a consciência corporal:

1° estágio – percepção das partes do corpo.

Através de exercícios lúdicos, deve-se trabalhar a observação e a

percepção consciente dos movimentos parciais sem obsessiva

racionalização.

2° estágio – percepção dos grupos musculares, articulações,

ligamentos.

3° estágio – fluxos energéticos, emanados principalmente do externo

pelo solar.

O fluxo energético é algo cuja dimensão transcede a própria

materialidade.

O processo criativo da dança é uma forma efetiva de

potencializar e canalizar essa energia.

4° estágio – concentração, produção, dinâmica do movimento pela

ação dos fluxos musculares.

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XXVII

A Importância Do Espaço Na Consciência Corporal

A vida em movimento é a expressão do espaço interior através de

emoções.

Existem várias dimensões do espaço estabelecido por fases do

movimento no solo:

I- fase de germinação ( essência inicial do movimento) – se

inicia quando se descobre o contato íntimo do meu corpo com o solo.

II- Fase da descoberta da gravidade – o movimento estabelece

vínculo profundo com o espaço a partir do contato íntimo do corpo

com o solo em exercícios de locomoção e deslocamento.

III- Fase da resistência – exercícios de deslocamentos usados na

percpção do movimento darão a idéia de esforço e peso

característicos desta fase.

IV- Fase de tensão energética

V- Fase de divisão espacial do corpo pelas trajetórias, sentido e

direções.

VI- Fase da consciência das fronteiras das ações espaciais

interiores relacionadas a ações exteriores.

VII- Fase da consciência dos limites e da relação com os objetos.

VIII- Fase das sensações e emoções.

IX- Fase da construção de imagem corporal pela elaboração do

jogo simbólico, através da ludicidade (alegria), sexualidade (prazer) e

agressividade (energia).

X- Fase da expansão do universo interior das estruturação das

dimensões subjetivas e suas relações afetivas.

É pela dança que se inicia o conhecimento dos processos internos,

estes estimulam o descobrimento, a compreensão da essência do mundo.

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XXVIII

O Corpo E O Espaço

O corpo da criança é moldado pelas condições sociais do espaço, os

movimentos são ajustados de acordo com os limites do espaço em que a criança

vive.

A dança deve fazer com que a criança explore o espaço de forma

espontânea e lúdica, trabalhando o alto – baixo, longe – perto, presença –

ausência, grande – pequeno através do movimento.

Ampliar o espaço da criança é simbolicamente aumentar suas

expectativas e perspectivas, possibilitando a visão do horizonte amplamente

afetivo e efetivo.

O espaço é a distância entre pessoas e objetos.

Normalmente buscamos uma proximidade com o objeto ou pessoas

que preencham nossas necessidades do momento para sentirmos seguros. E ao

mesmo tempo nos afastamos de objetos ou pessoas que não atendem nossos

anseios.

No espaço coreográfico, o espaço seria o intervalo entre a execução

e a projeção.

Os limites aceitáveis da proximidade variam em função do espaço

ocupado em relação ao número de elementos. Sabe-se que toda aproximação

física gera tensão, porque todo encontro humano resulta em mútua interação

emocional.

No processo coreográfico, devemos estabelecer uma coerência de

acordo com o tema estabelecido. Se formos representar fuga, temos que aumenta

a distância entre os corpos, já se formos representar interação, temos que

aproximar seus corpos, entrelaçando-os.

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XXIX

CAPÍTULO IV

A DANÇA, CARÁTER LÚDICO E DINÂMICO

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XXX

JOGO RÍTMICO

É fundamental para as aulas de dança, principalmente para

iniciantes.

Bater palmas com sons diferentes, manusear instrumentos musicais

também diferentes, palavras ritmadas, sons orais e batidas dos pés, são formas

estimulantes de trabalhar o jogo rítmico.

Diversos fatores influenciam o senso rítmico na fase de iniciação à

dança para as criança:

• Fatores anatômicos, fisiológicos e neurológicos, tais como:

peso, altura e complementos a serem deslocados; pontos de

inserção dos ligamentos e articulações a serem mobilizados;

potência muscular e seu grau de elasticidade a atuar no movimento;

maior ou menor predominância estática de cada um a serem

solicitados; velocidade da condução neural aferente e o retorno

neural eferente da resposta tempo/reação, e sua relação com arco-

reflexo.

• Fatores psicológicos ligados à assimilação, acomodação,

adaptação e ajustes do professor.

• Fatores positivos, como: força de vontade, motivação; auto-

domínio, audácia, coragem; auto-confiança, auto-conceito; energia,

destreza; atenção, agressividade.

• Fatores negativos como: stress, depressão; pouca ou

nenhuma motivação; menor grau de sensibilização; necessidade;

desajustes, conflitos interiores.

• Fatores técnicos do movimento: respeitando ao processo de

crescimento e desenvolvimento; níveis de desenvolvimento na

aquisição de vocabulário formal e habilidades, destrezas e

performance; respeito aos estágios evolutivos; metodologia com

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XXXI

progressões pedagógicas coerentes, adequadas aos fatores acima

relacionados.

O ritmo é uma necessidade essencial do ser humano, pois integra os

processos naturais da vida: batimentos cardíacos, respiração, ritmo do trabalho,

etc.

Em aulas de dança e na execução de sequências de movimentos e

coreografias, o professor faz aguçar as coordenações neuro musculares pelas

sensações que este causa e como consequêcia, perceber o sentido estético do

movimento enobrecendo, personificando, dando um significado.

Quando um professor propuser uma associação, composição ou jogo

de movimento, deverá que cada aluno movimente dentro de seu próprio ritmo para

a tomada de consciência do mesmo.

A dinâmica na dança varia de acordo com a necessidade da força do

trabalho muscular e da intensidade emocional que se quer privilegiar esta força.

Se manifesta no movimento em potencial e liberado pela distribuição das linhas e

contornos corporais ou pela distribuição das formas no espaço em suas várias

nuances rítmicas.

A coreografia, na dança, procura transmitir um estado de espírito,

uma maneira de se ver ou de ver o mundo, enfim, expressar-se e comunicar-se

pela linguagem corporal.

A dança, além de transmitir valores estéticos, inerentes ao trabalho

coreográfico, é adequada para transmitir emoções, idéias, sentimentos, etc.

Agora alguns exemplos para esclarecer o que foi dito acima:

Os grandes saltos são movimentos de ousadia, coragem, de avanço,

nunca de desânimo; de alegria, nunca de timidez ou retraimento. Aos pequenos

saltos associa - se a graça, leveza e alegria. As posições de equilíbrio denotam

expectativas. As torções do dorso podem descrever situações emocionais de dor,

desespero ou simulações.

Os braços são muito importantes e fundamentais na linguagem do

corpo. Podem ser o impulso para os saltos, fonte de equilíbrio para os passos.

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XXXII

Podem expressar uma linha entre a terra , o infinito; asas para os grandes saltos e

círculo de equilíbrio e segurança.

Hoje a postura do corpo, é o primeiro elemento trabalhado na dança.

Esta postura é ereta e alongada, e exige equilíbrio. Este equilíbrio pode ser

transportado para o aspecto psicológico das pessoas, se houver um equilíbrio

entre cabeça, tórax e abdomem, isto poderá denotar equilíbrio da personalidade.

No ballet clássico os braços arredondados são resquícios da origem

aristocrática: coroas e molduras para o rosto. Hoje os braço se tornaram um

elemento significativo na comunicação e expressão de um conteúdo.

O olhar é outro elemento essencial e de forte expressão. Cria uma

relação de proximidade ou afastamento entre este e o público. A criança no dia a

dia, com um simples olhar fala tudo o que ela está sentindo, por isso que o

professor deve estar sempre atento às suas expressões.

Trabalhar com crianças entre dois e seis anos todas as formas de

expressões que já foram relacionadas aqui neste capítulo, é de fundamental

importância para que posteriormente elas possam saber se expressar sem ter que

se reprimir.

Criatividade

A dança, dentre outras coisas que foram relacionadas, trabalha muito

com a criatividade.

A criatividade é um processo de descobertas que permite ao ser

humano, a partir de dados conhecidos, chegar aos desconhecidos através da

exploração. Observar, questionar e explorar faz com que a criança esteja

desenvolvendo seu lado criativo. A imaginação é a fonte de criação.

O professor de dança deve entrar, explorar e ajudar a desenvolver a

fantasia infantil. Deve fazer a criança pensar, perceber, e concretizar tudo o que

estiver a seu alcance. A partir daí o lado psicomotor da criança também estará

sendo desenvolvido, pois a criança vai ficando cada vez mais madura e mais

independente em todos os sentidos.

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XXXIII

A dança junto com a psicomotricidade, pode ser a melhor forma que

um professor tem para desenvolver a criança por completo.

Ritmo

Dança é movimento configurado pelo ritmo.

O homem primitivo deveria ter a consciência de que para

conseguirem seus objetivos, tinham que executar seus movimentos dentro

de certas regras e medidas, fazendo com que ficasse homogêneo.

Desde os primórdios, percebeu-se que o ritmo, a divisão e a duração

do tempo distribuídos em determinados intervalos, seria fator indispensável para

que a atividade corporal se configurasse como dança.

A predominância do ritmo externo orientando os movimentos não é o

único responsável pela dança, mas cada criança tem o seu ritmo interno que

também é responsável o para a transformação do movimento em arte de dançar.

A dança nasceu do ritmo e ritmo é algo que temos desde a latência.

Cada um tem o seu. Ele pode ser visto em vários movimentos diferentes:

. andamento – velocidade (rápido, lento, normal)

. duração – número de vezes que os movimentos serão executados.

. intensidade – movimentos energéticos e suaves.

Pesquisas mostram que o corpo humano dança continuadamente

conforme o compasso do próprio discurso verbal.

No diálogo entre duas pessoas, há sincronia, pois o corpo segue o

ritmo da própria fala.

O ritmo se estrutura como um todo hamônico, pois a música é a

ordem do movimento do corpo.

Numa coreografia, o ritmo é determinado pela música.

Ritmos são organizações dos fenômenos temporais sendo ele

periódico ou não.

CONCLUSÃO

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XXXIV

Após todos os aspectos vistos na monografia, pode-se afirmar o

quanto a dança é completa para ajudar a desenvolver uma criança, tanto

psicologicamente, quanto no sentido motor.

Como foi o objetivo da monografia, foi mostrado a dança como peça

fundamental na vida das crianças, e como as atividades propostas visam

desenvolver a coordenação, equilíbrio e flexibilidade, a criatividade, musicalidade,

socialização, percepção de seu próprio corpo e o conhecimento da dança em si.

Conhecer a história da dança, como ela faz parte da vida do homem

desde os primórdios e saber que antes de ser teatral era utilizada como forma de

agradecimento, cultos e em outros momentos de nossa vida, é de extrema

importância.

Conseguiu-se mostrar a importância da dança na vida social da

criança, principalmente em momentos de contatos, tanto visuais como táteis. Isto

faz com que a criança vá aos poucos se conhecendo e perdendo um pouco de

seus medos e fantasmas.

Falou-se em conhecimento do próprio corpo. Aos poucos a criança

vai amadurecendo, obedecendo seu momento. Não se pode desrespeitar o

desenvolvimento psicogenético da criança, pois é ele quem direciona o processo

ensino aprendizagem.

O professor deve estar atento e tomar cuidado em não atropelar os

estágios de cada criança.

Como já foi dito, é importante prestar atenção em começar atividades

do mais simples para o mais complexo, do espontâneo para o construído, do curto

para o longo.

O mais importante de tudo o que foi colocado, é que a alegria, o

sucesso e realização que as crianças experimentam a partir da dança, permitirão

as mesmas receber esforço positivo, estruturando sua personalidade, pois

reforçam o auto conceito, auto estima, auto confiança e auto imagem.

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XXXV

BIBLIOGRAFIA

- ACHAR, Dalal. Ballet, Arte Técnica, Interpretação. Cia Brasileira de Artes

gráficas. Rio de Janeiro. 1980.

- CAMPOS, D.M.S. Criatividade. Rio de Janeiro: Sprint, 1987.

- CARVALHO, Edméa. O Ballet no Brasil. São Paulo, Pongetti.

- CUNHA, R.M. Criatividade e Processos Cognitivos. Petrópolis: Vozes, 1977.

- FLINCHUM. Betty M. Desenvolvimento Motor da Criança; supervisão e

tradução do Darcymires do Rêgo, Barros e Daisy Regina Pinto Barros. Rio

de Janeiro: Interamericana, 1981.

- FONSECA, Vitor da. Psicomotricidade. São Paulo: Martins Fontes. 1983.

- GAGNER, R. M. Como se realiza a aprendizagem. Rio de Janeiro: Livros

técnicos e científicos. 1976.

- LE BOULCH, Jean. O Desenvolvimento Psicomotor: do Nascimento aos 6

anos. Trad. Ana Buardilla Brozolara. Porto Alegre: Artes médicas. 1982.

- OSSANA, Paulina. A Educação pela Dança. Trad. Norberto Abreu e Silva Neto.

São Paulo: Sumus Editorial, 1988.

- PIAGET, Jean. Experiências Básicas para utilização pelo Professor. 3a Edição.

Petrópolis: Vozes, 1983.

- PORTINARI, Maribel. História da Dança. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

- VAYER, Pierre. Diálogo corporal. São Paulo: Manole, 1984.

- WINNICOTT, D. W. O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: Imbao, 1975.

ANEXO 1

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XXXVI

ESQUEMA N° 1

ANEXO 2

CRIANÇA

DESENVOLVIMENTO AFETIVO

DESENVOLVIMENTO MOTOR FASES

MOVIMENTOS REFLEXIVOS MOVIMENTOS RUDIMENTARES MOVIMENTOS

DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

CATEGORIAS DE

LOCOMOTOR

MANIPULATIVO

ESTABILIDAD

ATIVIDADES DE AUTO TESTAGEM

ATIVIDADES RÍTMICAS

PRINCÍPIOS

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XXXVII

ESQUEMA N° 2

CRIANÇA

DESENVOLVIMENTO MOTOR OBJETIVOS

. DESENVOLVER OSMOVIMENTOS FUNDAMENTAIS . MELHORAR A COORDENAÇÃODOS PEQUENOS E GRANDESGRUPOS MUSCULARES . AMPLIAR O NÍVEL DE APTIDÃOMOTORA . DESENVOLVER E AMPLIAR OESTADO DE CONSCIÊNCIA DO

DESENVOLVIMENTO AFETIVO

OBJETIVOS

DESENVOLVIMENTO COGNITIVO OBJETIVOS

. AJUDAR A CRIANÇA A SENTIR-SE FELIZ . DESENVOLVER UM AUTOCONHECIMENTO POSITIVO EESTÁVEL . DESENVOLVER O RESPEITOPELOS DIREITOS E IDÉIASPESSOAIS . FORMAR UMA VISÃO

. AJUDAR A CRIANÇA ADESENVOLVER UMPENSAMENTO QUESTIONADOR . ENCORAJAR A CRIANÇA ADESENVOLVER A CAPACIDADEDE SOLUCIONAR PROBLEMAS . DESPERTÁ-LO PARA OSDESAFIOS INTELECTUAIS

ESTIMULAR A

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XXXVIII

ANEXO 3

ESQUEMA N° 3

Proença, José Elias (1989)

Revista Brasileira de Ciências e Movimento, 2 (2), 1989

HABILIDADE MOTORA

TEMPO OBJETOS

RÁPIDO LENTO ACELERADO DESACELERA

CORDA BOLA ARCO JORNA ETC

ESPAÇO RELAÇÕES

DIREÇÕES: FRENTE, ATRÁS, LADO, SUBINDO E DESCENDO. NÍVEIS: ALTO, MÉDIO E BAIXO. PLANOS: SAGITAL, FRONTAL, HORIZONTAL

PARTES DO CORPO GRUPO APARELHOS

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XXXIX

Esquema 1, pág 46, esquema 2, pág 41, esquema 3, pág. 44

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XL

ÍNDICE

Introdução 08

Capítulo I

A dança no desenvolvimento psicomotor 09

1.1 - História da Dança 10

Capítulo II

A dança no desenvolvimento psicomotor 12

2.1 – Desenvolvimento Psicomotor da Criança 13

2.2 – Estágios de desenvolvimento 13

2.3 – Classificação Motora 15

2.4 – Jogo Simbólico 17

2.5 – Linguagem Corporal 18

2.6 – Elementos Estruturais da Consciência Corporal 19

2.7 – Movimento Humano 21

Capítulo III

A Dança, A criança e seu corpo 22

3.1 – O corpo 23

3.2 – Significado do Corpo 23

3.3 – Estrutura do Corpo individual 24

3.4 – Corpo e Movimento 25

3.5 – A importância da Consciência Corporal na Dança 26

3.6 – A importância do espaço na Consciência corporal 27

3.7 – O Corpo e o Espaço 28

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XLI

Capítulo IV

A Dança, Caráter Lúdico e Dinâmico 30

4.1 – Jogo Rítmico 31

4.2 – Criatividade 33

4.3 – Ritmo 34

Conclusão 35

Bibliografia 37

Anexo 1 38

Anexo 2 39

Anexo 3 40