de como o dia virou noite e a noite virou dia-e-noite

Download De Como o Dia Virou Noite e a Noite Virou Dia-E-Noite

If you can't read please download the document

Upload: franciscogick

Post on 05-Jan-2016

233 views

Category:

Documents


17 download

DESCRIPTION

De Como o Dia Virou Noite e a Noite Virou Dia-E-Noite de Lígia Maria Nacif Neaime

TRANSCRIPT

PEQUENOS BURGUESES

8

DE COMO O DIA VIROU NOITE E A NOITE VIROU DIA-E-NOITE

LGIA MARIA NACIF NEAIME

Apresentao

Atravs de um Aditamento ao Edital do Concurso Nacional de Dramaturgia Infantil do ano de 1977, estabeleceu-se uma premiao para o melhor texto de teatro para bonecos. O texto vencedor, Sonhos de um Corao Brejeiro Naufragado de Iluses, de Ernesto de Albuquerque Vieira Santos, foi, posteriormente, montado pela Companhia Dramtica Brasileira, tendo o espetculo percorrido vrios Estados e, no exterior, os Estados Unidos, Portugal, Uruguai e Argentina. Para o ano de 1978 o Servio Nacional de Teatro decidiu criar o I Concurso Nacional de Textos para Teatro de Bonecos, cuja Comisso Julgadora foi composta pela diretora, atriz e professora Luciana Maria Cherubin, e os diretores e atores lvaro Apocalypse e Manuel Kobachuck, com reunio final coordenada pelo assessor Humberto Braga. Pelo talento revelado anteriormente, no chegou a constituir surpresa a premiao, em 1. lugar, de Paixo, Amor e Castigo, de Ernesto de Albuquerque. Os demais premiados, Lus Carlos Saroldi (Fbula de Autompolis, 2.), Lgia Maria Nacif Neaime (De como o Dia virou Noite e a Noite virou Dia e Noite, 3.), Nilson Jos Moura Arruda (A Verdadeira Estria de Quentinho ou S Marica e a invocao de Satans) e Maria Luiza Lacerda (Mulher, mulher), Prmios de Publicao, vm contribuir, pela qualidade dos seus textos, para o desenvolvimento de uma dramaturgia especfica para o teatro de bonecos, rea de criao que tem apresentado uma positiva evoluo no panorama cnico do pas.

Orlando Miranda de CarvalhoDiretor

Para dar mais ritmo movimentao dos atores e maior dinmica s aparies dos bonecos, deve-se utilizar trs praticveis: um maior ao fundo, e dois menores laterais, mais frente. As rotundas devem estar dispostas de maneira que permitam diversas entradas de cena. Tudo deve estar pintado ou recoberto de preto para salientar as cores e os efeitos, e ainda dar o clima de eterna noite. A iluminao deve ser adequada para um espetculo de bonecos, isto , deve-se usar a tcnica do Bunrako ou luz negra.

Os bonecos devem ser bastante coloridos e confeccionados de maneira que fuja ao convencional (por exemplo, as quatro bruxas no devem ser caracterizadas com longos chapus bicudo pretos, nem com vassouras ou qualquer outro detalhe j demasiadamente conhecido do pblico). No se deve fixar a pea em alguma poca ou pais.

Os nicos personagens que podem ser feitos por atores so, TRUNTU. KLINCK e MILRII. Todos os demais devem ser representados utilizando-se as mais variadas tcnicas de manufatura de bonecos. Bonecos de mo, bonecos de vara, bonecos de fio, mscaras, mistura de boneco e ator, etc.

A trilha sonora, na medida do possvel, deve utilizar-se de sons naturais, sem esquecer que sua funo dar o clima necessrio cada seqncia (medo, ansiedade, alegria, perigo, etc).

A cena final deve conter uma mudana bastante grande. Uma imensa tela ir cobrir o cenrio anterior e se utilizar de outra tcnica de teatro: o teatro de sombras coloridas, no estilo javans. A msica tambm acompanhar esta mudana, imprimindo um ritmo bem forte e alegre.

CENA I

(EM VOLTA DE UMA FOGUEIRA, TRUNTU E KLINCK, DE CCORAS, FUMAM CACHIMBO QUE PASSAM DE UM PARA O OUTRO, ALTERNADAMENTE, ESQUERDA NO ALTO EST A LUA).

KLINCK Pai, h uma coisa que no entendo...

TRUNTU Fale, Klinck.

KLINCK sobre o Dia...

TRUNTU O Dia?

KLINCK , sobre o Dia... Ele existiu mesmo?TRUNTU Claro! Meu av, o velho Drandor, o viu.

KLINCK E com que ele era?

TRUNTU Feito de luz e calor.

KLINCK No precisava de fogueira para se aquecer no Dia?

TRUNTU No. O Dia aquecia as plantas, os animais, os homens, as guas...

KLINCK E como que ele conseguia fazer calor?

TRUNTU Ah, era por causa do Sol. Ele ficava pendurado l em cima... (APONTA) mais alto que a Lua que era a mulher dele.

KLINCK E como que era o Sol?

TRUNTU Era uma bola imensa de fogo. Brilhava mais que mil Luas, maior que todas as estrelas juntas.

KLINCK Pai, e a luz do Sol, me explica como era.

TRUNTU O Sol clareava tanto que dava pra ver tudo. Daqui onde estamos dava pra ver o alto dos montes l adiante, o bosque, a aldeia. No precisava de fasca nenhuma para achar as coisas, tudo era visvel. Fazia a gua brilhar e os peixes pularem para saud-lo. Fazia as flores se abrirem e os pssaros cantarem.

KLINCK Que lindo, pai!

TRUNTU O Dia era eterno.

KLINCK Eterno?

TRUNTU Eterno, Klinck, quer dizer que no acabava nunca. Era sempre Dia.

KLINCK Quer dizer que no havia Noite?

TRUNTU No. Era eternamente Dia, assim como agora s Noite.

KLINCK Mas, Truntu meu pai, por que que o Dia foi embora?

TRUNTU Ah, Klinck, uma histria meio longa...

KLINCK Conte, meu pai, conte.

TRUNTU E uma velha histria. No sei se recordo dela inteira...

KLINCK No faz mal, pai Truntu, conte.

TRUNTU Est bem. (PIGARREIA, AJEITA-SE MELHOR) H muito tempo atrs, o Sol resolveu se casar. Ele se sentia muito sozinho; e alm disso ele queria um herdeiro para ficar brilhando e aquecendo em seu lugar quando ele ficasse velho. A Lua soube desse desejo do Sol e prometeu que lhe daria muitos filhos, tantos que ele nem poderia contar. A Lua cumpriu sua promessa s que seus filhos no cresciam nunca. Passaram anos e anos e as crianas continuavam do mesmo tamanho.

KLINCK Por que, Pai?

TRUNTU No sei, Klinck. S sei que eles no cresciam; O Sol ficou muito triste e prometeu que daria pedras douradas, que brilhavam que nem ele prprio, para quem fizesse os filhos crescerem.

KLINCK Pedras douradas, pai?

TRUNTU . o ouro, Klinck.

KLINCK E o Sol que nem o ouro?

TRUNTU da mesma cor do ouro, s que brilha muito, muito mais. Dizem que o ouro nasceu de um raio de Sol que caiu na Terra. O raio se partiu em milhes de pedaos que se espalharam pelo mundo todo. Uns ficaram maiores, outros se esmigalharam e viraram p.

KLINCK E depois, pai, algum fez os filhos do Sol crescerem?

TRUNTU Por acaso existe algum que clareie como o Sol?

KLINCK No.

TRUNTU Pois ento quer dizer que ningum descobriu um remdio para faz-los crescer. Eles so as Estrelas, filhos.

KLINCK Quer dizer que as Estrelas so os filhos do Sol e da Lua?

TRUNTU So, Klinck. Mas deixe que eu continue a histria. Pois bem, o Sol prometeu pedras preciosas para quem fizesse os seus filhos crescerem. A Lua ficou triste. Foi procurar o Sol e disse que lhe dera filhos assim pequenos para nenhum sair mais bonito que o pai. E depois, se ele descobrisse um remdio que tornasse os filhos todos que nem ele, o calor ia ser tanto que iria queimar as flores, as matas, os bichos e tudo mais. E eles iam brilhar tanto que eles mesmos iam ficar cegos de tanta luz.

KLINCK Que horror!

TRUNTU O Sol tambm ficou horrorizado com a idia de acabar queimando tudo, e alm disso deixar os prprios filhos cegos. O Sol foi ficando triste, triste. Uma vez ele escutou um canto muito bonito. Ele, ento, comeou a procurar a pessoa que cantava assim to bonito. Procurou, procurou e encontrou. Era uma linda moa de cabelos verdes que nem as algas, de pele clara que nem as guas. Ela vivia embaixo das guas da Lagoa Branca, numa grande casa de marfim e conchas. O Sol se apaixonou por ela. Todas as vezes que a Tiare vinha tona se pentear ele ia v-la e ouvi-la cantar. Acontece que a Tiare fazia isso de propsito. Ela costumava vir tona e ficava cantando s para atrair os pescadores. Eles acabavam se apaixonando por ela e a seguiam at sua casa de marfim, embaixo das guas, onde eram aprisionados e se tornavam seus escravos.

KLINCK Coitados... E ningum fazia nada para salv-los?

TRUNTU De que jeito, Klinck? Todas as pessoas que se aproximavam de l acabavam se apaixonando pela Tiare e mergulhavam para sempre na Lagoa Branca.

KLINCK E o Sol acabou mergulhando tambm? TRUNTU Tambm. Ele no queria ir morar com ela no fundo da Lagoa porque no tinha nenhum herdeiro para ficar clareando o Dia. Mas a Tiare disse que ele no precisava se preocupar que ela daria um jeito. Ele quis saber que jeito era. Ela mandou o Sol voltar mais tarde que ela lhe mostraria um dos seus filhos j crescidos e pronto para ocupar o seu lugar. O Sol se foi muito feliz. Ela ento acalmou as guas, deixou-as to quietas, to quietas que dava para ver ao fundo a casa de marfim. Quando o Sol voltou, ela mandou-o ir se aproximando bem devagar, at ficar pertinho do cho. Ele se aproximou. Ela mandou, ento, que ele viesse espiar o fundo do lago. Quando ele se aproximou, o que ele viu?

KLINCK A casa de marfim.

TRUNTU Ele viu sua imagem refletida nas guas e pensou que fosse o seu filho. De to contente, se atirou no lago para abraar o filho e a Tiare. S que na hora que ele entrou na gua tudo se apagou.

KLINCK Por que, pai?

TRUNTU Ora, Klinck, porque a gua apaga o fogo e o Sol feito de fogo.

KLINCK Que Tiare malvada!

TRUNTU Pois bem, o Sol ficou to envergonhado de ter sido enganado por ela que se escondeu ningum sabe onde.

KLINCK E depois?

TRUNTU Depois? Bem, depois ficou como est agora, a Lua alumia a Noite com sua pouca luz, as Estrelas ajudam como podem a indicar o caminho para as pessoas que se perdem na escurido das matas, todas as aldeias mantm sempre fogueiras acesas para se aquecerem e se lembrarem sempre do Sol que se foi.

KLINCK E a Tiare, o que aconteceu com ela?

TRUNTU Ela continua a cantar para atrair os pescadores para o fundo da Lagoa Branca, s que o mato cresceu tanto por l que ningum mais consegue chegar perto. E dizem que se um dia algum resistir ao seu canto, ela ficar com tanta raiva que explodir.

KLINCK Pai...

TRUNTU Pode dizer, Klinck.

KLINCK Pai... Ningum tentou encontrar o Sol?

TRUNTU Logo que ele apagou e fugiu, alguns homens se reuniram e tentaram encontr-lo. Procuraram muito tempo at que ouviram falar que ele estava escondido no meio da Floresta Gigante. Da os homens pararam para pensar se valia a pena procur-lo. Afinal ele estava apagado e nem ele mesmo sabia como fazer para brilhar de novo. Alm disso, todos que entravam naquela Floresta nunca mais voltavam. E os homens desistiram de procurar o Sol e voltaram para suas casas.

KLINCK Quer dizer que o Sol continua escondido l?

TRUNTU Pelo menos o que se pensa.KLINCK E se algum entrasse na Floresta Gigante, ser que o encontraria?

TRUNTU No sei, filho, muito perigoso, ningum sabe o que existe l. s vezes ouve-se gritos, assovios, rudos, troves. Dizem que no corao da Floresta h um monte, e em cima do monte h uma gruta e na gruta h uma cobra que devora todos que de la se aproximam.

KLINCK Pai...

TRUNTU Diga, meu filho.

KLINCK Eu vou achar o Sol. Voc deixa?

TRUNTU Pense bem, Klinck, nos perigos que existem. muito arriscado.

KLINCK J pensei, Truntu, eu quero ir. Quero conhecer o Sol e conhecer o Dia. Quero ver os pssaros cantarem, as flores se abrirem, as gua brilharem.

TRUNTU Voc quem sabe, Klinck. Mas no deixa de levar um pouco de fogo. H certos trechos onde o luar no penetra e tudo escuro. Se voc tiver fogo, no se perder e no perder tempo procurando o caminho.

KLINCK Pode deixar, eu levo.

TRUNTU Quando voc entrar na Floresta Gigante, v imediatamente procurar A, a Aranha-tecel. Ela o tratar mal princpio, mas depois, conhecedora como da Floresta, lhe indicar o que fazer.

KLINCK Obrigado, Truntu meu pai.

TRUNTU V, Klinck. Boa sorte.

O (BLACK-OUT)

CENA II

(KLINCK ENTRA NA FLORESTA COM UMA PEQUENA TOCHA NA MO. ANDA UM POUCO E OUVE RUDOS DE FOLHAS E GALHOS. PRA)

KLINCK Quem est a? (OUVE RUDOS DO OUTRO LADO. VIRA- SE). Tem algum a? (SILNCIO) Deve ser algum bicho indo para sua toca. (CONTINUA A ANDAR. NOVOS RUDOS E ASSOVIOS.) Quem que est a? Vamos, aparea. (ASSOVIOS) Voc est querendo me assustar? Pois no me assusta, fique o senhor sabendo. (UIVOS E RISOS) Pois bem, j que voc no quer aparecer, eu vou continuar meu caminho. Meu pai Truntu falou que eu no devo perder tempo. (CONTINUA A ANDAR. NOVOS RUDOS DE FOLHAS) Voc est me seguindo, no ? Eu no me incomodo.

ATS (FORA DE CENA. SUA VOZ SEMPRE PRODUZ ECO). Quem voc?

KLINCK Sou Klinck, filho de Truntu da aldeia de Ai. E voc quem ?

ATS E o que est fazendo por aqui?

KLINCK Ando a procura de A, a Aranha.

ATS E o que voc quer com ela?

KLINCK Quero que ela me ensine o caminho para achar o Sol.

ATS E o que voc quer com o Sol?

KLINCK Quero que ele brilhe outra vez para iluminar a Terra e aquecer as pessoas. E voc, quem ?

ATS Voc no vai matar os bichos da Floresta?

KLINCK No. Eu trouxe bastante comida aqui nesta bolsa, e no vou precisar comer os animais, se isso que voc quer saber.

ATS E no vai machucar as plantas e as rvores?

KLINCK E por que eu faria isso?

ATS Desculpe tantas perguntas, mas que eu preciso me prevenir. (ATS APARECE. UM VELHO COBERTO DE RAZES TRANADAS COM FOLHAS E UM GALHO SERVINDO DE BASTO) J estou ficando velho e no consigo mais proteger esta Floresta como antigamente.

KLINCK Quem voc?

ATS Sou Atserolf, o Gnio da Floresta.KLINCK Atserolf?

ATS Pode me chamar s de Ats. mais bonito. (RI)

KLINCK Voc sabe como que eu fao para encontrar A?

ATS A? Voc quer ir mesmo encontrar A?

KLINCK Se eu estou perguntando...

ATS Bom, bom, no fique irritado. Eu s perguntei porque A no gosta de visitas.

KLINCK Mas eu preciso falar com ela. a nica pessoa que pode me ajudar.

ATS Certo, certo. (RI) Eu tambm posso ajudar.

KLINCK Mesmo? Como?

ATS simples. A gosta muito de uma msica que o danado do corvo fez pra ela. Ele canta e a Aranha deixa que ele se aproxime para comer os bichos que ela enrolou com seus fios prateados.

KLINCK Ela enrola os bichos com fios prateados? Por qu?

ATS Ora, quer dizer que voc no sabia disso?

KLINCK Eu no!

ATS (BALANANDO A CABEA) Mais um trouxa que ia morrer empacotado.

KLINCK Mas por que ela faz isto?

ATS Porque, porque. Ora, porque quem, porque no gosta de receber visitas. Por isso, s por isso. (RI)

KLINCK E se eu cantar ela me deixa chegar perto?

ATS Bom, da ela vai perguntar o que voc deseja dela, etc, etc, etc...

KLINCK E da, o que eu fao?

ATS Que engraado! (RI) E eu que sei?

KLINCK Est bem. Ento me ensine a msica que devo cantar para ela.

ATS Certo, certo. assim: (CANTA)

A, minha avozinha, minha doce menina, Me deixa perto chegar pr com voc eu estar. A, minha avozinha, eu chego de mansinho no pego nos seus fios nem estrago sua teia.

KLINCK Obrigado. Ats, eu j vou indo.

ATS J vai indo? (RI) E por acaso voc sabe o caminho? (RI)

KLINCK E por acaso voc me explicou qual o caminho?

ATS Est bem, est bem. A culpa minha. Eu explico. Para se chegar na Floresta Gigante voc tem que ir seguindo o caminho formado pelas folhagens mais escuras.

KLINCK Quer dizer que eu ainda no estou na Floresta Gigante?

ATS Uai, uai, menino, voc estava achando que as plantas aqui so gigantes, ? Voc t cego, meu rapaz.

KLINCK Eu estava achando que quanto mais eu entrasse na mata, maior ela ia ficando.

ATS Pois no bem assim. Quer dizer, quase assim, ou melhor... Arre, voc t me atrapalhando inteiro. assim: voc vai ter que ir reparando quais so as rvores que tm a copa mais escura, quais as plantas que tm folhas mais escuras, mais grossas. Elas vo formar um caminho que leva uma cadeia de montanhas. Numa dessas montanhas h uma caverna. Essa caverna a passagem para a Floresta Gigante.

KLINCK Certo. Ento s atravessar essa caverna.

ATS S? (RI) S? (RI) Voc muito engraado.

KLINCK Ah, ? E voc pode me explicar por qu?

ATS Por que precisa ver se os Oiks deixam. s isso. Precisa ver se os Oiks deixam. (RI)

KLINCK Quem so os Oiks?

ATS S mais uma coisinha, meu jovem. Enquanto voc estiver na minha Floresta, na Floresta da Atserolf, pode pedir qualquer coisa aos meus amigos, animais ou plantas, que eles o ajudaro. (RI ENQUANTO SE RETIRA. OUVEM-SE RUDOS DE FOLHAS E ASSOVIOS)

KLINCK Ats, espere. Quem so os Oiks?

(UMA GRANDE GARGALHADA BLACK-OUT)

CENA III

(A LUA, ESQUERDA, J ESTA QUASE ENCOBERTA PELAS FOLHAGENS)

KLINCK Como est escuro aqui! Est cada vez pior. Acho que vou descansar um pouco antes de continuar caminhando. (SENTA-SE, APIA A TOCHA EM ALGUM LUGAR, LIMPA O SUOR DO ROSTO) Ser que falta muito para chegar at as montanhas? Estou curioso para conhecer os Oiks. (ABRE A BOLSA, TIRA ALGUMAS COISAS, ESPALHA-AS NO CHO) Deve ser gostoso viver dentro de uma caverna. (COMEA A COMER AS COISAS QUE COLOCOU NO CHO) Coitada da Lua, j esta quase totalmente coberta. Daqui a pouco no vai dar pra ver nadinha dela. (COME) Ainda bem que meu pai me mandou trazer fogo, seno eu no estava enxergando mais nada. (RUDOS DE VENTO) Minha gua est no fim. Vou deixar para tomar mais tarde. (AUMENTA O RUDO DE VENTO) Est ventando aqui por perto. Acho que vou embora antes que o vento me alcance. (COMEA A RECOLHER AS COISAS. A TOCHA APAGA. BLACK-OUT) Ei, quem fez isso? (RISINHOS. O RUDO DO VENTO DIMINUI COMO SE ESTIVESSE SE AFASTANDO) Ora, seu Vento danado, como que eu vou fazer para continuar meu caminho? Como que eu vou conseguir distinguir as folhagens claras das escuras, heim? (PAUSA) Ah, j sei: Atserolf! (GRITA) Ats, Ats, me ajude! O Vento apagou meu fogo! Eu no estou enxergando nada! Ats, ajude! Amigos de Ats, ser que ningum tem uma faisquinha para me dar? Alguma coisa que possa iluminar meu caminho? Amigos de Atserolf, eu preciso de vocs! (APARECEM UNS VINTE VAGALUMES BRILHANDO NO ESCURO. ILUMINA-SE A CENA) Que bonito! Quantas chamas! Quem so vocs?

VAGALUMES (TODOS FALAM JUNTOS) Somos as pequenas luzes da Floresta, os Vagalumes.

KLINCK Ser que vocs poderiam acender a minha tocha?

VAGALUMES Ah, isso impossvel para ns. Mas ns podemos acompanh-lo enquanto estiver na Floresta.

KLINCK Est timo. Bem, eu vou acabar de recolher minhas coisas para seguirmos viagem. Vocs conhecem bem esta Floresta?

VAGALUMES Sim. Lgico. Moramos aqui.

KLINCK E a,caverna dos Oiks, vocs conhecem?

VAGALUMES No, ns nunca vamos l.

KLINCK Por que?

VAGALUMES Ns nunca vamos l, nunca, nunca, nunca, nunca.

KLINCK Vocs tm medo?

VAGALUMES Ns? No, no, no.

KLINCK Pronto. Podemos ir. melhor vocs ficarem bem perto de mim para eu enxergar melhor. (RODEIAM KLINCK) Assim melhor. Vamos.

VAGALUMES Vamos para onde?

KLINCK Para a caverna dos Oiks.

VAGALUMES No, no, no, no, no. Vamos ver Milrii, vamos ver Milrii.

KLINCK Quem Milrii?

VAGALUMES Vamos ver Milrii. Vamos ver Milrii. Ela esta to-s, to-s. Vamos ver Milrii.

KLINCK Onde que ela est?

VAGALUMES Ela to sozinha. Ela to sozinha. To-s.

KLINCK Est bem. Mas onde que ela est?

VAGALUMES Com a Coruja. Ela mora com as Corujinhas. A me Clerui quem cuida delas.

KLINCK E quem me Clerui?

VAGALUMES a me das Corujinhas. Ela quem cuida de Milrii. Milrii no tem me.

KLINCK Ns podemos ver Milrii na volta. Agora tenho que atravessar a caverna dos Oiks e encontrar A na Floresta Gigante.

VAGALUMES No. Voc tem que ir pegar a Milrii. Ela to-s. No conhece ningum como ela, s plantas e animais. Ela pediu que ns lhe levssemos algum como ela. Ela chora tanto por no ter famlia igual a me Clerui e suas filhas, igual a rvore e seus brotos. Aqui na Floresta no tem ningum igual a ela. Voc tem que ir ver Milrii.

KLINCK muito longe daqui?

VAGALUMES No, aqui pertinho, pertinho. Vamos ver Milrii.

KLINCK Mas se ela ficou tanto tempo sem conhecer pessoas iguais a ela, pode esperar mais um pouco. Eu no posso mais ficar perdendo tempo. Vamos embora. (OS VAGALUMES O CERCAM IMPEDINDO SUA PASSAGEM) Ei, pr favor, deixe-me passar.

VAGALUMES Milrii, Milrii, Milrii, Milrii, Milrii, Milrii...

KLINCK Saiam de minha frente, por favor, seno eu vou acabar por machuc-los. Parem com isso, vamos.

VAGALUMES Milrii, Milrii, Milrii, Milrii, Milrii, Milrii...

KLINCK Parem com essa gritaria, vamos, parem com isso...

VAGALUMES Milrii, Milrii, Milrii, Milrii...

KLINCK Vocs esto me deixando louco, socorro...

VAGALUMES Milrii, Milrii...MILRII (ENTRANDO) Que foi? O que aconteceu? Por que vocs esto me chamando?

VAGALUMES Milrii, veja quem est aqui. Olhe, um igualzinho a voc. Olhe, Milrii, olhe. (SE AFASTAM UM POUCO DE KLINCK)

KLINCK Ah. voc que Milrii.

MILRII E voc quem ?

VAGALUMES um igual a voc, igualzinho, da mesma espcie.

MILRII Fiquem quietos, se acalmem um pouco, est bem?

VAGALUMES Ele igualzinho, Milrii...

MILRII Eu estou vendo. Muito obrigada, amigos.

KLINCK Quem bom que voc chegou. Eu no sabia o que fazer para eles pararem.

MILRII Quem voc?

KLINCK Sou Klinck, da aldeia de Ai. Essas pequenas chamas me contaram que voc no tem famlia, que vive com as corujas.

MILRII verdade. Me Clerui me criou desde que nasci. Ela no sabe como vim parar aqui no meio da Mata. Pai Ats foi quem me achou.

KLINCK Bem, eles queriam que voc me visse. J que nos conhecemos, eu vou seguir meu caminho. Eu tenho um pouco de pressa, sabe.

MILRII Onde que voc vai?

KLINCK Vou procurar a Caverna dos Oiks, para da eu poder entrar na Floresta Gigante, e assim poder conversar com A, que vai me ensinar como encontrar o Sol...

MILRII Voc vai encontrar o Sol? Para qu?

KLINCK Para pedir que ele volte a clarear o Dia como fazia antigamente.

MILRII Me Clerui me contou essa histria. Ela disse que depois que o Sol apagou, todos os bichos perderam a vontade de brincar, os pssaros quase no cantam, as flores no soltam mais perfume, e tudo ficou mais triste.

KLINCK Meu bisav Drandoc chegou a conhecer o Dia. Eu fiquei curioso para saber como que eram as coisas antes. Por isso vou falar com o Sol.

MILRII Voc me deixa ir junto?

KLINCK Voc no vai ficar com medo? Meu pai falou que perigoso.

MILRII Eu conheo muitas histrias de Floresta Gigante e da velha A. Eu posso ajud-lo.

KLINCK Est bem, vamos.

VAGALUMES Estamos to cansados, to cansados. Vamos dormir um pouquinho. Por favor, vamos dormir um pouquinho.

MILRII Eles so assim mesmo. Quando se agitam muito, logo ficam cansados e querem dormir. Eu vou buscar umas bolsinhas de fio de capim para coloc-los. Assim eles podem ir dormindo e clareando o caminho para ns.

KLINCK Est certo. Mas no demore.

(OS VAGALUMES VO DESCENDO AT O CHO. MILRII SAI CORRENDO. BLACK-OUT)

CENA IV

(CAVERNA DOS OIKS. APARECEM OS ROSTOS DE KLINCK E MILRII. CADA UM CARREGA UMA BOLSINHA COM OS VAGALUMES PRESA NO PULSO OU NA CINTURA)

MILRII aqui. A Caverna dos Oiks.

KLINCK Parece que no tem ningum.

MILRII . Vamos entrar?

KLINCK Voc no tem medo?

MILRII No. E voc?KLINCK No sei. Acho que estou com um pouquinho.

MILRII Voc, prefere voltar?

KLINCK No, de jeito nenhum. Vamos entrar. (ENTRAM LENTAMENTE) E agora, voc sabe por onde ir? Existem vrias entradas.

MILRII Pai Ats me falou uma vez que o caminho seria sempre o mais esquerda. (RUDOS DE VOZES) Deve ser por l.

KLINCK Voc est ouvindo uns rudos?

MILRII Estou. Parecem vozes...

KLINCK Acho melhor nos escondermos.

MILRII No acho melhor irmos ver o que .

KLINCK Os Oiks podem ser perigosos. Acho melhor nos escondermos atrs de alguma pedra.

MILRII Voc est enganado, Klinck. Os Oiks s so confusos. Eu nunca ouvi falar que eles tivessem atacado algum. (OS RUDOS SE APROXIMAM RAPIDAMENTE) Vamos falar com eles.

KLINCK Ainda acho melhor nos escondermos. Nunca se sabe. O velho Ats insinuou que eles no me deixariam atravessar a caverna.

MILRII Ora, pai Ats muito brincalho. Aposto como ele quer assustar.

OIK 1 (ENTRANDO. OS OIKS ANDAM DE CABEA PARA BAIXO,DE MODO QUE SUAS CABEAS FIQUEM DA ALTURA DA CABEA DOS ATORES. ANDAM PELOS TETOS E PAREDES DA CAVERNA) No vejo ningum aqui. No venham ver. Eu no vejo pessoas aqui. (ENTRAM OIK 2 e 3)

OIK 2 No estou indo. No vejo ningum.

OIK 3 No estou indo. No estou indo. Eu no quero ver pessoas.

OIK 1 No so estranhos. Eu os conheo.

KLINCK Eu sou Klinck e esta Milrii. Vocs so os Oiks?

OIK 2 Ns no somos os Oiks.OIK 3 No isso. Ns no somos os Oiks.

KLINCK Quem so vocs?

OIK 1 Ns no somos os Oiks.

KLINCK Mas se vocs no so os Oiks, quem so vocs?

OIK 1 Eu no falei. No somos os Oiks.

OIK 2 No somos os Oiks. E vocs, quem que vocs no so?

OIK 3 Eles no devem ser da Floresta.

KLINCK Milrii da Floresta, filha da Coruja Cleuri. Eu sou da Aldeia de Ai, l nas Montanhas.

OIK 2 Ah, eles so da Floresta.

OIK 3 No, eles no so da Floresta.

OIK 1 Eles so.

OIK 3 Voc entendeu. Eles no so da Floresta.

OIK 1 Eu no entendi. Eles so da Floresta.

OIK 2 No vamos parar com isso.

OIK 1 No est certo. No vamos parar com isso.

OIK 3 No est bem, no est bem. No vamos ver ento o que no querem eles.

OIK 2 O que vocs no querem? (SILNCIO) Ento, o que vocs no querem?

MILRII Klinck, eles esto falando com a gente.

KLINCK Eu percebi. S que ainda no entendi.

OIK 1 (COM UMA MORINGA NA MO) Vocs no querem beber?

KLINCK Como no? Estou com uma sede daquelas.MILRII Eu tambm quero.

OIK 1 (INDO EMBORA TRISTE) Eles esto com sede. Eles querem beber.

OIK 2 Eles esto com sede.

OIK 3 Eles querem beber.

OIK 1 Eles querem beber. Ser que eles no querem comer?

OIK 2 Acho que eles no querem comer. Eles no esto com cara de fome.

OIK 3 Eles no esto com fome. Eu no tenho certeza.

OIK 2 (OFERECENDO COMIDA E FRUTAS) Vocs no querem comer?

MILRII Obrigada. Eu no estou com fome.

OIK 3 (GRITANDO E PULANDO) Ela no est com fome. Ela no est com fome. (OS TRS TENTAM COLOCAR COMIDA NA BOCA DE MILRII. KLINCK TENTA AJUD-LA, EMPURRANDO OS OIKS PARA OS LADOS) Eu no tinha certeza. Eu no tinha certeza. Eu no tinha falado. Ela no quer comer.

OIK 2 Ela no quer comer. Ela no quer comer.

OIK 3 No vamos dar-lhe comida. No vamos.

MILRII Por favor, eu no quero comer. Eu estou com sede, eu queria gua.

KLINCK Se afastem dela. Saiam da. Ela quer beber, s isso.

OIK 3 Ele no est nos empurrando. Ele gosta de ns. Eu no gosto s dela.

MILRII Ns s queremos gua. Por que vocs no nos do gua?

OIK 2 Eu no estou triste com ele. (AFASTA-SE. OS OUTROS OIKS O SEGUEM)

OIK 1 Ele no empurrou a gente.

OIK 2 Ele gosta de ns. Eu gosto dele.

OIK 3 Eu vou falar com ele.

OIK 1 Eu tambm vou falar com ele. (VIRAM-SE DE COSTAS PARA KLINCK)

OIK 2 Eu tambm, Eu no estou triste, no estou.

KLINCK Escutem. Eu acho que houve algum mal-entendido.

OIK 3 Ns vamos falar com voc. (AFASTAM-SE MAIS)

KLINCK Calma. Vamos fazer o seguinte: vamos esquecer o que se passou, est bem? Eu no quero brigar com vocs, por favor.

OIK 1 Ele no quer brigar conosco!

OIK 2 Ele no quer brigar.

OIK 3 Ns no vamos brigar com ele.

OIK 1 Eu acho que devemos brigar.

KLINCK Olhem, eu estou falando que no quero brigar com vocs. Vamos fazer as pazes.

OIK 2 Ele no quer brigar. Ele no falou. Ele no falou.

OIK 3 Ele no quer brigar. Agora eu no quero brigar.

OIK 2 Eu tambm no quero brigar.

OIK 1 No est bem. No vamos brigar. (AVANAM PARA KLINCK. COMEAM A FAZER CCEGAS)

KLINCK (RINDO) Parem com isso. Ai, no.

MILRII (RINDO) Klinck, diga que voc quer brigar que eles param.

KLINCK Mas eu no quero brigar, Milrii. Ai, ui.

MILRII Mas s assim eles vo parar. Voc precisa dizer o contrrio do que voc quer.

VAGALUMES (ACORDANDO) Onde estamos?

MILRII Eles acordaram. Logo agora.

VAGALUMES Socorro. Queremos ir embora. Milrii, tire a gente daqui. Milrii, Milrii, ajude a gente.

MILRII Por favor, amigos Oiks. O Klincks no quer parar de brigar com vocs. Ele quer brigar.

KLINCK Milrii, que que voc est dizendo?

MILRII Deixe comigo, Klinck.

OIK 1 Ele no quer parar de brigar?

OIK 1 Eu tambm no quero parar de brigar.

OIK 2 Ele quer brigar?

OIK 3 Voc no quer parar de brigar?

MILRII Ele quer brigar. Por favor, no parem.

OIK 2 Eu tambm, eu tambm no quero parar.

OIK 3 Eu quero brigar. Eu no estou cansado. (OS TRS OIKS PARAM)

KLINCK Que bom, obrigado, Milrii. Como que voc conseguiu?

MILRII E que eu percebi que eles negam tudo o que querem, e afirmam tudo o que eles no querem.

KLINCK Como que ?

MILRII Repare na conversa deles.

OIK 1 Eu tambm no estou cansado.

OIK 2 Eu tambm no quero dormir.

OIK 3 No est certo. No vamos dormir. (CADA UM DELES SE PENDURA NUM LUGAR DA CAVERNA E DORMEM COMO MORCEGOS)

MILRII Voc entendeu?

KLINCK Como gozado. Que modo estranho de falar as coisas.

MILRII No era toa que ningum gostava de entrar aqui.

KLINCK . Acabavam ficando zonzos com a confuso.

VAGALUMES Milrii, onde estamos? No conhecemos este lugar.

MILRII a Caverna dos Oiks.

VAGALUMES A Caverna dos Oiks? A Caverna dos Oiks? Milrii, estamos com medo, vamos embora.

KLINCK Ora, pequenas luzes, no se assustem. Eles esto dormindo.

VAGALUMES Temos medo, queremos ir embora.

KLINCK Bom, ento vamos seguir caminho.

MILRII Ns devamos ter perguntado aos Oiks.

KLINCK A gente podia ir por ali, conforme o Ats falou.

VAGALUMES Para onde estamos indo? Para onde?

MILRII Para a Floresta Gigante. Mas fiquem quietos.

VAGALUMES No queremos ir para a Floresta Gigante. Milrii. No queremos ir para a Floresta Gigante. Temos medo. Por favor.

MILRII Por favor peo eu. Vocs querem ficar quietos?

VAGALUMES No queremos ir para a Floresta Gigante. No queremos ir para a Floresta Gigante. No queremos ir para a Floresta Gigante...

OIK 1 (ACORDANDO) Eles no querem ir para a Floresta Gigante.

OIK 2 Eles no querem ir para a Floresta Gigante. Eu no ensino o caminho.OIK 3 Eu que no vou ensinar o caminho para eles.

OIK 2 Eu que no vou. Eu que no vou.

OIK 1 No est bem. Ento no vamos os trs ensinar o caminho para eles.

OIK 2 No venham por aqui. No venham por aqui.

OIK 3 No por aqui. No venham.

VAGALUMES Ns no queremos ir para a Floresta Gigante. Ns temos medo.

MILRII Precisamos ter uma conversinha, senhores Vagalumes. Ns precisamos de suas luzes mas no gostamos dessa gritaria.

OIK 1 No por aqui. Eu no vou ensinar o caminho.

VAGALUMES Milrii, ns temos que ir mesmo para a Floresta Gigante?

OIK 2 No me sigam, no me sigam.

MILRII Se vocs pararem com essa gritaria eu explico porque temos que ir l.

OIK 3 No por aqui o caminho. No me sigam. No venham por aqui.

KLINCK No estamos indo, amigos Oiks. No vamos seguir vocs. No mostrem o caminho.

OIK 1 No est bem. No mostraremos. No por aqui. (SAEM TODOS SEGUINDO OS OIKS. BLACK-OUT)

CENA V

(FLORESTA GIGANTE, ENTRE DUAS IMENSAS FOLHAS DE ANTRIO EST, A TEIA PRATEADA DE A, A ARANHA TECEL GIGANTE. DE VEZ EM QUANDO, OUVE-SE BARULHOS ESTRANHOS)

KLINCK Olhem, l est A.

VAGALUMES Nossa, como grande.

MILRII Vamos cantar aquela msica. (COMEA A CANTAR E SE APROXIMAR DE A. KLINCK A IMITA)

A, minha avozinha, minha doce menina, me deixa perto chegar pr com voc eu estar. A, minha avozinha, eu chego de mansinho, no pego nos seus fios nem estrago sua teia.

A (CANTANDO)

Quem que nesta Floresta tem coragem de entrar? Quem que nesta hora vem aqui me importunar?

KLINCK (CANTANDO)

Sou Klinck, seu netinho,mas no vim atrapalhar.S quero avozinha,Uma coisa perguntar.

A (CANTANDO)

J que esto aquitenham coragem de falar.

KLINCK E agora, Milrii? Como que eu continuo?

MILRII Pode deixar, desta vez eu explico para ela.

(CANTA)A, minha querida,acontece um problema:soubemos por acaso de uma histria muito triste. O Sol casou com a Lua e tiveram muitos filhos mas nenhum com seu tamanho, seu calor e sua luz. Procurando um remdio pr dar pros pobrezinhos,o Sol viu a Tiare e por ela apaixonou-se Tanto fez a tal Tiare que o Sol pulou na gua e apagado e envergonhado se escondeu aqui no mato. S queremos que a avozinha nos ensine o caminho para achar o Rei do Dia e de novo ele brilhar.

A (CANTANDO)

E vocs pensam que fcilir atrs do astro-rei?Ele triste e envergonhadoa Tata pediu ajudae no alto da montanhanum buraco se meteu.No conheo neste mundoquem consiga convenc-loa sair de sua tocae no alto cu brilhar.

MILRII Parece que vai ser difcil, Klinck.

KLINCK E, mas eu no vou desistir agora.

(CANTA)

Mesmo assim disposto estou at a toca chegar, com a permisso de Tata, com o Sol vou conversar.

A (CANTANDO)

Se voc est disposto ento vou lhe contar como que se chega aonde o Sol est. As Flores do Abre-e-fecha voc vai procurar, e perguntando a trilha elas vo lhe indicar. At a no h problema, o pior vem depois;do sop da montanha ao seu pico escalar, se cair pode morrer, se subir no vai escapar. Tata uma cobra muito grande, muito escura, no tempo do Dilvio na Arca no entrou. Para no se afogarnas guas que caam na montanha subiu e num buraco se trancou. Depois de muito temposaiu para espiar,viu tudo muito seco,j podia passear.Ento ela reparouque de no escuro ficarsumiu sua cor e luz,ningum queria olhar. Muito negra e muito feia passou a se enfeitar. De todo bicho que aproxima. os olhos h de roubar.

KLINCK Ento isso! Ela mata os bichos para tirar seus olhos.

MILRII E depois se enfeita com eles.

VAGALUMES Ela vai querer roubar nossos olhos. Ela vai querer roubar nossos olhos. Milrii, no queremos ir.

MILRII Calma, estamos pensando no que fazer. Ela tambm vai querer roubar os meus olhos e eu no vou deixar.

VAGALUMES Milrii, no queremos ir.

A (CANTANDO)

Essas luzes que falam vocs no vo levar, seu caminho vo seguir com os mantos que teci.

(OS JOVENS PROCURAM OS MANTOS E VO COLOCANDO-OS ENQUANTO A ARANHA CONTINUA SEU CANTO. PENDURAM OS VAGALUMES NAS FOLHAGENS)

Esses mantos prateados iluminam seu caminho e no deixam a Grande Cobra de vocs se aproximar, porque seno os seus enfeites em vocs iro grudar.

KLINCK Muito obrigado, A. Muito obrigado. Vamos indo, Milrii.

VAGALUMES Milrii, voc vai nos deixar aqui?

MILRII Mas vocs no queriam ir. Alis, nem podem.

VAGALUMES Milrii, ns queremos voltar para casa.

MILRII Vocs quem sabem. Se quiserem ir s sair pelos buraquinhos da bolsa. E cuidado para no se perderem.

VAGALUMES Milrii, Milrii, tchau. Cuidado para no se perder... (KLINCK E MILRII SAEM: BLACK-OUT)

CENA VI

(FLORESTA GIGANTE. OS JOVENS PROCURAM AS FLORES DO ABRE-E-FECHA. SO FLORES GRANDES QUE SE MOVIMENTAM QUANDO FALAM. BARULHOS ESTRANHOS SO FREQENTEMENTE OUVIDOS)

KLINCK (ALTO) Flores do Abre-e-fecha, qual a trilha mais certa?

FLORES Por aqui, por aqui, por aqui.MILRII O som veio dali. Olhe, l esto algumas flores. (CAMINHAM)

KLINCK Vamos. Flores do Abre-e-fecha, qual a trilha mais certa?

FLORES Por aqui, por aqui, por aqui.

MILRII Olhe, l esto outras flores. (CAMINHAM)

KLINCK Que caminho mais estranho. Tenho a impresso de que estamos dando voltas, que este caminho no vai a lugar nenhum.

MILRII A falou que s as Flores poderiam indicar o caminho.

KLINCK Se elas estiverem brincando com a gente, estamos perdidos.

MILRII Bom, o jeito agora continuar.

KLINCK Flores do Abre-e-fecha, qual a trilha mais certa?

FLORES Por aqui, por aqui, por aqui. (CAMINHAM EM DIREO S FLORES)

KLINCK Milrii, veja aquilo! (Atrs das flores quatro Bruxinhas ao redor de um caldeiro)

MILRII O que aquilo? O que so?

KLINCK No sei, Milrii, vamos escutar o que elas falam.

BRUXAS Filhas de rquen, do Reino de rquen, da Terra de rquen, Nunca Mais.

BRUXA 1 Me de rquen, diga quem vir.

BRUXAS Filhas de rquen, do Reino de rquen, do Fogo de rquen, do Nunca Mais.

BRUXA 2 Pai de rquen, diga quem vir.

BRUXAS Filhas de rquen, do Reino de rquen, da gua de rquen, do Nunca Mais.

BRUXA 3 Cabea de rquen, diga quem vir.

BRUXAS Filhas de rquen, do Reino de rquen, do Ar de rquen, do Nunca Mais.

BRUXA 4 Corao de rquen, diga quem vir.

BRUXA 1 Mas no possvel! (OLHANDO NO CALDEIRO)

BRUXA 2 O que foi?

BRUXA 1 Eles j chegaram.

BRUXA 3 No possvel. Ns no vimos nada.

BRUXA 1 Mas eu estou vendo aqui. Eles j chegaram.

BRUXA 2 Eu quero ver tambm. (TODAS RODEIAM O CALDEIRO)

BRUXA 4 Bem, ento vamos procur-los.

BRUXA 1 Eu vou para o Norte.

BRUXA 3 Eu vou para o Sul.

BRUXA 2 Eu vou para o Leste.

BRUXA 4 Eu vou para o Oeste.

KLINCK Eu acho que elas esto nos procurando.

MILRII Se assim, ento vamos facilitar. (VAI EM DIREO S BRUXAS)

KLINCK Milrii, espere um pouco.

MILRII Ol, ns estamos aqui.

BRUXAS Ns sabamos que vocs j tinham chegado.

BRUXA 4 Quer dizer que vocs querem ir at Tata.

MILRII Exato.

BRUXA 3 Para qu?

MILRII Para falar com o Sol, pedir que ele volte a brilhar.

BRUXA 2 Sabia que isso no bom para ns?

MILRII Por qu?

BRUXA 1 Porque no gostamos da luz do Dia. Ficamos at muito felizes quando o Sol desapareceu.

BRUXA 2 . Trabalhamos melhor Noite.

BRUXA 3 quando fazemos nossos filtros.

BRUXA 4 E quando nossos feitios surtem efeito.

MILRII Eu no sabia disso.

KLINCK Nem eu. Mas para ns, da Aldeia de Ai, para os animais e rvores da Floresta, para os peixes do rio, para flores do campo, para tudo isso o Sol importante.

BRUXA 4 Mas para ns, Filhos de rquen, isso detestvel.

BRUXA 3 No gostamos do perfume das flores.

BRUXA 2 No gostamos da correria dos animais.

BRUXA 1 No gostamos do brilho das guas.

KLINCK Bem, ento as coisas ficam difceis. No creio que exista uma soluo.

BRUXA 2 Eu tambm acho.

BRUXA 4 Eu tambm acho.

BRUXA 3 Eu tambm acho.

BRUXA 1 Eu tambm acho.

MILRII Pois eu no acho.

BRUXA 3 E por que voc no acha?

MILRII Eu no sei, mas acho que pode haver uma soluo. Afinal, tem muitos que gostam do Dia e muitos que gostam da Noite. Me Clerui prefere a Noite, por exemplo.

BRUXA 1 Me Clerui? Ah, a Coruja.

KLINCK Eu no sabia que a Coruja preferia a Noite.

BRUXA 4 Pois prefere. Assim como os Leopardos.

BRUXA 2 E mesmo as flores, como a Dama-da-Noite.

KLINCK Muito bem, mas muitos preferem o Dia.

BRUXA 2 (RINDO) Mas muitos nem conhecem o Dia.

BRUXA 3 (RINDO) Como vocs, por exemplo.

BRUXA 1 E ainda dizem que preferem o Dia.

BRUXA 4 (RINDO) Vocs so muito engraados.

KLINCK Bem, mas...

BRUXA 1 (INTERROMPENDO) Chega. Se vocs querem falar com o Sol, muito bem. Mas lembrem-se: ns no gostamos disso.

BRUXA 4 E diga-lhe bem claro: as Filhas de rquen gostam da Noite.

BRUXA 2 Ns vamos emprestar-lhes Zyw, que os guiar at Tata.

(APARECE UMA GRANDE BORBOLETA AMARELA)

BRUXA 3 Agora podem ir. E no apaream mais. (OS JOVENS SEGUEM A BORBOLETA)

MILRII Ser que elas faro alguma coisa contra ns?

KLINCK No sei, Milrii, mas isso me deixou preocupado.

MILRII De qualquer modo elas nos emprestaram Zyw.

KLINCK Mas veja, Milrii, se elas no gostam do Dia e ns estamos justamente procurando o Sol para convenc-lo a brilhar outra vez, por que elas nos ajudariam?

MILRII , isso estranho.

KLINCK Estou meio desconfiado.

MILRII De qu?

KLINCK No sei. Acho que elas vo aprontar qualquer coisa para ns.

ZYW No se preocupem com isso. Elas no faro nada.

KLINCK Voc tem certeza?

ZYW Tenho, no se preocupem.

KLINCK Vou tentar.

MILRII Klinck, eu estou cansada. Vamos parar um pouquinho?

KLINCK Voc se incomoda de parar um pouco, Zyw?

ZYW Podem descansar vontade. Eu fico vigiando.

MILRII Obrigada Zyw. Eu j estou com as pernas doloridas de andar.

KLINCK Eu tambm. (SENTAM-SE) Veja! A Lua est aparecendo l em cima. (UM PEDAO DE LUA COMEA A APARECER ENTRE AS FOLHAGENS)

MILRII Que bonita. Isso quer dizer que a Floresta Gigante aqui menos densa.

KLINCK Assim nosso caminho fica mais claro.

MILRII Estou com um sono... Voc no est?

KLINCK Um pouco s. Quer dormir?

MILRII Quero.

KLINCK Encoste aqui, ento. (ELA SE ENCOSTA NO OMBRO DELE E AMBOS DORMEM).

ZYW Psssssiu... Ei, vocs esto dormindo? (PAUSA) Ei....Ei! (PAUSA.) Acho que esto dormindo. (VIRANDO PARA O OUTRO LADO). Amigos podem vir. (CAUTELOSAMENTE ENTRAM UM LEO E UMA SERPENTE)

LEO So eles?

ZYW So.

LEO Que coragem.

SERPENTE Nem tanto. Que sorte.

LEO Com a proteo de A at eu arriscaria falar com o Sol.

SERPENTE Voc? Eu duvido.

ZYW Bem, bem, vocs no vo comear a discutir agora. Eles podem acordar.

SERPENTE Est bem, Zyw. Conte-me um coisa: aquelas bruxas horrveis vo deixar que eles falem com o Sol? (OUVE-SE BATER DE ASAS)

ZYW Espere. Algum se aproxima.

GUIA (ENTRANDO) Sou eu. No se assustem. Eu soube dos jovens que querem subir a Montanha Negra, at a toca de Tata. So eles?

LEO So. Mas no faa tanto barulho seno eles acordam.

GUIA Hum, jovens demais para o meu gosto.

SERPENTE Mas diga, Zyw, e aquelas Bruxas?

ZYW Elas no vo fazer nada. Tm medo da velha A.

LEO Nadinha mesmo?

ZYW Elas esto contando com Tata. Elas acham que ele no vai deixar que eles falem com o Sol.

GUIA Tata s tem tamanho. Garanto que na ltima hora ela arreda p.

SERPENTE Depois tem outra coisa. Ningum sabe como fazer o Sol brilhar outra vez.ZYW com isso que contam tambm os Filhos de rquen.

GUIA por isso que elas no esto fazendo nada para impedir. Bom, eu j vou indo. Vou ficar no pico da Montanha vigiando. Se acontecer alguma coisa eu grito.

ZYW Muito obrigada.

GUIA Eu no vou deixar que nada impea o caminho desses dois. Eu tambm estou curiosa para conhecer o Sol.

SERPENTE Alis, eu acho que a Floresta inteira. Todos iro ajudar se for preciso.

GUIA S mais uma coisa, Zyw. Diga a eles para usarem a cabea. S isso. (SAI VOANDO)

LEO Pois eu acho que eles deviam usar o corao. atravs dos sentimentos que se descobre o caminho.

SERPENTE Pois eu acho que eles deviam casar e ter muitos filhos. Bem, eu vou espalhar a notcia por a. Depois vou tomar um banho no rio a esperar o Sol nascer. Tchauzinho. (SAI)

ZYW Ela no toma jeito mesmo.

LEO No ligue para ela, Zyw.

ZYW Eu acho que voc tambm devia ir embora. Eles podem acordar.

LEO Est bem. Estarei sempre por perto. E s chamar.

ZYW Obrigada, eu chamarei.

LEO Eu gostei deles. Acho que eles vo conseguir. At mais. (SAI. PAUSA GRANDE, RUDO DE VENTO)

ZYW Cuidado. Assim voc me derruba.

VENTO (ENTRANDO) Desculpe, que eu vim correndo. Ssssssshshsh sssssiiiiiisssuuuuuu. Pronto, j estou mais calmo. verdade o que me contaram?

ZYW . verdade.

VENTO timo. Vou correndo avisar todo mundo.

ZYW Acho que no precisa. A Serpente ficou de avisar a todos. Fofoqueira como eu duvido que ainda exista quem no saiba da novidade.

VENTO Sssshshshuuu. Ento vou preparar uma festa.

ZYW Festa? Para qu?

VENTO Para saudar o Sol! Lgico.

ZYW Me desculpe, senhor Noroeste, mas acho muito cedo para se pensar nisso.

VENTO Ora, por qu?

ZYW Porque, por enquanto, estamos todos preocupados com a segurana deles; estamos preocupados com a possibilidade de no conseguirem falar com o Sol, ou mesmo de no conseguirem acend-lo outra vez.

VENTO Shshshshssss. Eu no havia pensado nisso.

MACACO (ENTRANDO) Eu ouvi algum falar em festa?

VENTO Sssssaaaahhhhh. Ento voc estava ouvindo nossa conversa.

MACACO A culpa do leo. Ele me falou pra chegar bem devagarinho. sem fazer barulho para no acordar o rapaz e a moa.

ZYW E o senhor ento aproveitou para ouvir nossa conversa.

MACACO Ora, e no foi bom? Assim eu fiquei sabendo da festa.

VENTO Sssssiii. Zyw no quer festas.

ZYW Eu no falei isso. Falei que ainda muito cedo para festejar um coisa que ningum sabe se vai acontecer.

MACACO Mas claro que vai. Todos os bichos esto dispostos a ajudar. A anta, o gamb, o coelho, o esquilo, a tartaruga, o tico-tico, o sabi, a galinha dAngola, o tatu, o tamandu e nem sei quem mais, todos, esto vindo c.

ZYW Nossa! Para fazer o qu?

MACACO Ora, para ver os dois... e ajudar.

ZYW Pois esto todos ficando loucos. Eu s deixei o Leo e a Serpente se aproximarem porque eu percebi que eles estavam nos seguindo. S por isso. Eu no vou deixar ningum mais chegar perto deles.

MACACO E por que no?

ZYW Porque as Filhas de rquen no querem.

MACACO Deixe de ser boba, Zyw. Ningum vai fazer nada a eles.

VENTO E ainda mais que eles esto com as mantas prateadas de A.

MACACO isso mesmo. Mas como estvamos conversando antes, caro Vento Noroeste, como que vai ser esta festa?

VENTO Shshshshaaaa... Isso eu ainda no sei. Vou falar com irmo Sudeste. Ele era timo pra essas coisas.

MACACO Excelente. melhor voc ir se apressando, seno no vai tempo de todo mundo se preparar.

VENTO Sssssssuuuuuuuu... Voc tem razo. Adeusssss. (SAI)

ZYW Ai! Ele quase me derruba outra vez. (MACACO CAI NA GARGALHADA) Senhor Macaco. Precisamos ter uma conversa muito sria.

MACACO Eu no me oponho. Mas vai ter de ser depois que o Sol brilhar.

ZYW Espere. Aonde voc vai indo?

MACACO Ora, falar com os outros. Tchau.

ZYW Macaco!... Avise a todos que pra ningum chegar perto.

MACACO Isso, Zyw, os bichos que vo decidir. Mas eu dou seu recado. (SAI)

ZYW Esses bichos vo acabar me deixando louca. Por que as Filhas de rquen foram escolher logo a mim para vigi-los? (PAUSA) Eles bem que iam acordar... (PAUSA. APARECE A CABEA DE UM COELHO)

COELHO Zyw, Zyw...ZYW O que que voc quer?

COELHO Podemos v-los?

ZYW Quem mais est a com voc?

COELHO O primo Esquilo. (APARECE A CABEA DO ESQUILO) Mas os outros j esto vindo.

ESQUILO que a Tartaruga anda muito devagar e no quer vir sozinha.

COELHO Por isso viemos na frente.

ESQUILO Olha como so bonitos. A Serpente tinha razo. (POUSA UMA POMBA)

ZYW Mais um. Parece que a Floresta inteira est vindo aqui.

POMBA Mas claro! Todos querem ver quem que teve a coragem de chegar at aqui sem ser molestado pelas Bruxas.

ESQUILO E ainda mais que eles querem trazer o Dia de volta.

COELHO . Isso jamais tinha acontecido antes.

POMBA Olhem, eles esto acordando.

ZYW Por favor, vo embora. E peam para os outros no se aproximarem porque as Filhas de rquen podem castigar a todos.

COELHO Bobagem, Zyw, no se preocupe com isso. Os animais sabem se cuidar. (SAEM TODOS)

MILRII (ESPREGUIANDO) Que bom dormir!

KLINCK Podemos continuar nosso caminho?

MILRII Lgico. Tudo tranqilo, Zyw?

ZYW Tudo bem. Est tudo calmo. (COMEAM A ANDAR)

KLINCK Estou curioso para conhecer o brilho do Sol.

MILRII. Eu tambm. Eu no consigo imaginar como o Dia.KLINCK . difcil mesmo.

MILRII Zyw, demora muito para chegarmos at a Montanha?

ZYW No, estamos perto. a montanha mais alta daqui.

MILRII muito difcil subirmos nela?

ZYW . A Montanha Negra coberta de Nuvens. Toda vez que algum comea a escalada, elas comeam a chover s para atrapalhar. As pedras ficam escorregadias e muitos escorregam e caem no abismo.

MILRII Que horror!

KLINCK Bem que A disse: se cair pode morrer, se subir no vai escapar.

MILRII Acho que no adianta ficar pensando nisso. S vai servir para deixar a gente nervoso.

KLINCK Tambm acho... s que no d pra no pensar no que vai acontecer.

ZYW Eu vou contar um segredo para vocs: todos os animais da Floresta Gigante prometeram ajudar vocs.

MILRII Que coisa maravilhosa!

KLINCK Como que voc sabe disso, Zyw?

ZYW Eu sei e s. No faam perguntas.

KLINCK Est bem. Mas foi bom voc ter contado.

MILRII A gente se sente mais seguro com isso. (A LUA COMEA A DESCER)

LUA Posso falar com vocs um momentinho?

MILRII Nossa! A Lua est descendo!

KLINCK Pode falar, Lua. O que voc quer de ns?...

LUA (CHORAMINGANDO) Por favor, no faam isso...KLINCK Isso o qu?

LUA Isso que vocs vo fazer.

MILRII Falar com o Sol?

LUA . No faam isso. (APARECE A CABEA DO COELHO. LOGO SOME)

KLINCK Por qu?

LUA Porque da ningum mais vai gostar de mim, ningum mais vai olhar para mim e nem para minhas filhas.

KLINCK Ora, e por que no? Todos gostam de voc e das Estrelas, no se preocupe com isso (APARECE A CABEA DO ESQUILO. LOGO SOME)

LUA Mas que o Sol vai ofuscar o meu brilho. As minhas filhas, ento, ningum vai nem saber que elas existem. O brilho dele to intenso que todos os outros brilhos desaparecem. No existe nenhuma luz que possa competir com ele.

MILRII Sabe o que acontece, Lua? que muitos bichos, plantas e pessoas esto com saudades do Dia.

KLINCK verdade que a gente nem chegou a conhecer o Dia, mas ouvimos falar muito dele.

MILRII Ele muito importante para todos, voc entende?

LUA Eu s sei que se o Dia voltar, eu vou desaparecer. Por favor, no faam isso. (APARECE A CABEA DO COELHO. LOGO SOME)

MILRII Ns vamos pensar numa soluo que satisfaa a todos.

KLINCK , no se preocupe com isso.

LUA Por favor, pensem nisso. Se ele voltar eu e minhas filhas iremos desaparecer. Isso ser a nossa morte. Adeus. (SOBE. ELES CAMINHAM)

MILRII As coisas esto complicadas, Klinck.

KLINCK Tambm acho. Ns vamos trazer a infelicidade para muitos.

MILRII Precisamos achar alguma sada. No podemos deixar que a Lua desaparea.

ZYW Vejam. Ali est a Montanha Negra (BLACK-OUT)

CENA VIII

(MONTANHA NEGRA. TROVES E RAIOS. CLIMA ATERRADOR)

MILRII Klinck...

KLINCK O que ?

MILRII Acho que vai chover.

ZYW No parem para conversar. Rpido, rpido antes que a chuva caia.

(BLACK-OUT. OS TRS REAPARECEM EM OUTRO PONTO DO PALCO)

KLINCK Ai!

ZYW O que foi?

KLINCK Eu me cortei nas pedras. (UM PSSARO ENTRA VOANDO E LOGO SAI)

MILRII Embrulhe a mo nesse pano. Assim pra de sangrar.

ZYW Rpido com isso. No podemos parar agora seno a chuva nos pega. (BLACK-OUT. OS TRS REAPARECEM EM OUTRO PONTO DO PALCO)

MILRII Klinck, eu estou com medo.

KLINCK Calma, Milrii, j estamos quase chegando.

MILRII Est muito difcil. Est muito escorregadio.

ZYW Vamos com isso menino. No podemos parar agora.

KLINCK Vamos, Milrii.

MILRII Olhem, o que aquilo?ZYW o Vento Noroeste. Ele est afastando as Nuvens.

KLINCK Vamos aproveitar. Milrii. O Vento est nos ajudando.

MILRII Est bem, vamos continuar.

(BLACK-OUT. OS TRS REAPARECEM EM OUTRO PONTO DO PALCO)

ZYW J estamos quase chegando ao pico.

MILRII Vejam. O Vento est afastando a ltima Nuvem.

KLINCK Assim no tem mais perigo de chover. (BARULHO DE ASAS) Escutem.

GUIA (DESCENDO) Vamos l, enquanto as Nuvens esto longe.

MILRII Mais um amigo querendo nos ajudar.

GUIA Vo subindo que eu vou atrs. Se vocs, por acaso, escorregarem nas pedras eu as seguro com as minhas asas.

(BLACK-OUT. OS QUATRO REAPARECEM EM OUTRO PONTO DO PALCO)

KLINCK J estou vendo a entrada da toca de Tata.

MILRII Eu tambm estou vendo. J estamos chegando. Finalmente.

GUIA Agora falta pouco. Vamos.

(BLACK-OUT. OS QUATRO REAPARECEM EM FRENTE A TOCA DE TATA. A GUIA E A BORBOLETA FICAM MAIS DISTANCIADAS)

ZYW aqui. (SILNCIO)

KLINCK E agora? (SILNCIO)

MILRII Acho que deveramos entrar... (SILENCIO. DE REPENTE APARECE TATA. CABEA DE DRAGO, CORPO DE COBRA DELIMITADO SOMENTE POR PEQUENOS OLHOS QUE BRILHAM NO ESCURO. SOLTA FUMAA PELAS NARINAS E EMITE SILVOS E RUGIDOS. D UMA VOLTA PELO PALCO, ASSUSTANDO A BORBOLETA E A GUIA).

TATA Quem so vocs? O que vocs querem nos meus domnios?

MILRII Que bicho lindo!... Que beleza!...

KLINCK Sou Klinck, da Aldeia da Ai, e esta Milrii, filha da Coruja Cleuri.

MILRII Viemos falar com o Sol.

TATA Com o Sol? (RI) Quem que vocs pensam que so para falar com o Sol?

MILRII Ns precisamos falar com ele.

TATA (RI) E vocs no tem medo de mim? No ouviram falar da terrvel Tata?

MILRII Ns ouvimos, mas mesmo assim viemos. muito importante falar com o Sol.

TATA E no tem medo que eu coma seus olhos?

KLINCK No. A falou que voc no faria isso.

TATA ? E por que no? (RI)

KLINCK Porque se voc tocar em ns, todos os olhos que voc roubou dos animais grudariam nos nossos mantos. Voc no vai querer perder todos esses olhos, vai?

TATA Vocs foram muito espertos falando com A. Eu no vou fazer nada a vocs. Mas quero os olhos daqueles dois. (AVANA PARA ZYW E A GUIA. ESTES FOGEM)

MILRII Ento vai nos deixar falar com o Sol?

TATA (RI) E por que que haveria de deixar?

KLINCK E por que no?

TATA Porque eu no sei onde o Sol est. (RI)

MILRII No, mesmo?

TATA No!

MILRII (ABRAANDO KLINCK) E agora. Klinck? O que que ns podemos fazer?

KLINCK (PARA TATA) Existe algum que sabe onde ele se esconde?

TATA Ningum.

GUIA Mentira. Voc sabe sim.

TATA Ah, ento voc voltou, heim, sua intrometida?

GUIA (SE ESCONDENDO ATRS DOS JOVENS) Todo mundo sabe que o Sol se esconde a nessa caverna. Voc uma mentirosa.

TATA E voc no tem nada que vir aqui se intrometer na conversa. Eu vou comer seus olhos.

ZYW Tata, as Filhas de rquen, deixaram-nos atravessar a Fio Gigante para vir at aqui. Voc tambm tem que deix-los falar com o Sol.

TATA Tenho? E quem me obriga?

ZYW Todos os bichos da Floresta. O Vento cuidar das Nuvens modo que todos eles possam subir at aqui e atacar voc.

TATA At o Vento est contra mim, ento.

ZYW No, ningum est contra voc. Todos s querem conhecer o Sol.

TATA Bom, eu no tenho nada a ver com isso. Se o Sol quiser receber vocs, o problema dele.

MILRII Ento podemos entrar?

TATA No! Eu chamo o Sol aqui. Esperem. (SAI)

GUIA (SUSPIRANDO) Pensei que ela ia me comer.

ZYW Eu tambm.

MILRII verdade isso que voc falou sobre os bichos?

ZYW Mais ou menos. Eu arrisquei. De qualquer modo muitos dos bichos prometeram ajudar. E muitos querem conhecer o Dia.

SOL (VOZ OFF) Quem deseja falar comigo?

MILRII Somos ns. (FAZ MENO DE ENTRAR)

SOL Parem a. Fiquem onde esto. No quero ser visto por ningum.

MILRII Senhor Sol, justamente sobre isso que queramos lhe falar.

KLINCK As pessoas, os animais, os insetos, as flores, as matas, os rios, todos querem conhec-lo.

MILRII Viemos aqui, lhe pedir que volta a brilhar outra vez, que volta a iluminar o Dia.

SOL (EMOCIONADO) verdade o que vocs esto me dizendo? Todos querem mesmo me ver outra vez? Ningum est com raiva de mim?

KLINCK verdade, sim. Todos ns j ouvimos falar de voc e gostamos de conhec-lo.

SOL E verdade, ento? Todos querem que eu brilhe de novo?

MILRII Para dizer a verdade, Sol, nem todos. Mas garanto que muitos querem.

SOL (TRISTE) Eu sabia. Muitos ainda tm raiva de mim. Todos guardam rancor pelo que fiz.

KLINCK Voc est enganado.

MILRII Quem no deseja sua volta so as Bruxas, Filhas de rquen. Elas dizem que seus feitios s tem efeito no escuro, na Noite.

SOL S elas? S as Bruxas e mais ningum?

KLINCK No. Tem tambm uns bichos que preferem a Noite. Dizem enxergam melhor, sei l. Tem uma flor que disse que s comeou a exalar perfume depois que voc se foi.

SOL S alguns bichos e uma flor? Ningum mais?

MILRII No. Sol. Tem... tem a Lua... Ela tem medo que voc volte a brilhar porque ir apagar o brilho dela e de suas filhas Estrelas.

SOL S a Lua e as Estrelas? S?

KLINCK . Eu acho que e s.

SOL S as Bruxas, uns bichos, uma flor, a Lua e as Estrelas. E muita gente que no deseja a minha volta. Eles ainda tem raiva de mim.

KLINCK Mas tem muito mais gente que quer conhec-lo.

SOL E se depois de me conhecer eles preferirem a Noite? O que iria ser de mim ento?

MILRII Eu estava pensando, senhor Sol, que poderamos contentar a todos.

SOL Como assim?

ZYW Como, Milrii, como?

MILRII No sei direito. Mas o Sol podia brilhar um pouco e ficar apagado um pouco. Assim quem gostasse do Dia ia ficar feliz e quem gostasse da Noite, tambm.

KLINCK Excelente, Milrii.

GUIA Que tima idia.

SOL Ser que todos iriam concordar com isso?

ZYW Eu tenho certeza que sim.

GUIA Eu tambm posso garantir.

MILRII Assim voc j pode voltar a brilhar, no mesmo?

SOL (TRISTE) No bem assim.

KLINCK O que que foi agora?

MILRII Aconteceu alguma coisa?

SOL que eu preciso de uma fasca para me acender.

KLINCK Ah, isso fcil de arranjar. Todas as Aldeias tem uma fogueira sempre ardendo.

SOL Mas no qualquer fogo que me acende.

KLINCK No?

MILRII Qual ento?

SOL s uma fasca do meu prprio fogo.

MILRII Mas voc est apagado. Como que conseguiramos seu prprio fogo outra vez?

SOL Com a Tiare.

GUIA Com a Tiare?

ZYW Com a Tiare?

KLINCK Com a Tiare?

SOL Exatamente. Quando eu pulei na gua, eu no apaguei totalmente. A Tiare, ento, me roubou as ltimas chamas e guardou dentro de si.

MILRII Dentro dela? E ento ns teramos que abri-la?

SOL Mais ou menos. Vocs vo precisar explodi-la.

KLINCK Eu sei como se faz isso. Meu pai Truntu me contou.

SOL Bem, depois que ela explodir, s pegar uma pequena chama, trazer aqui e eu brilharei no cu como antes.

KLINCK Muito bem, ento vamos embora.

MILRII At logo. Sol, logo estaremos de volta.

(APARECE TATA QUE D UM TREMENDO RUGIDO. TODOS SAEM CORRENDO. BLACK-OUT)CENA VIII

( CAMINHO DA LAGOA BRANCA. LUA ESQUERDA. SOMENTE OS JOVENS E ZYW)

ZYW O caminho da Lagoa Branca por aqui. Tomem cuidado que tem muito espinho.

KLINCK Aqui o mato baixo. melhor para andar.

MILRII Klinck, voc ainda no contou como que faz pra explodir a Tiare.

KLINCK simples. s ficar indiferente aos cantos dela. Da ela fica com raiva e explode.

MILRII Ai.

ZYW Que foi?

MILRII Me arranhei nos espinhos.

ZYW Eu j falei pra tomarem cuidado.

MILRII Mas Klinck, se to fcil explodir a Tiare, por que ningum fez isso antes?

KLINCK mesmo. E pensar que existem dezenas de pescadores presos no fundo da Lagoa, na casa de marfim. (RUDOS DE PASSOS)

ZYW Escutem. Algum se aproxima. (PAUSA. APARECEM O LEO E A POMBA)

LEO (OFEGANTE) Viemos... correndo... para avisar.. que na Floresta...

POMBA (POUSADA NA JUBA DO LEO) que na Floresta est dando uma briga daquelas.

ZYW Briga? Mas, por qu?

POMBA Porque a Serpente comeou a falar pra Coruja que ela ia ficar quase cega se o Sol voltasse. Da o Tigre escutou e achou que o Dia no ia ser muito bom pra ele caar, porque os animais o veriam logo e fugiriam. O Besouro ento entrou na conversa e disse que ele sentia muito frio e queria o Dia pra se esquentar. Da chegou o Urso e falou que ele por sua vez sentia calor. Depois chegou a Abelha e falou que pra ela era melhor o Dia porque as flores ficavam mais abertas e era mais fcil colher o mel. O Urso no gostou do que a Abelha disse e falou que ela no tinha sido convidada para a conversa. Ento a Abelha se enfezou e deu uma ferroada no Urso. A Tartaruga ento quis defender a Abelha mas levou uma rasteira do Macaco que tava ali s pra se divertir. Da, bem, da comeou toda a confuso.

ZYW Ah, esse Macaco. Se eu o pego...

KLINCK E depois? O que aconteceu?

POMBA Bom, da a Coruja mandou todos irem pra suas casas para se acalmarem um pouco e marcou uma reunio de toda a mata depois do segundo canto do Galo.

ZYW E vai demorar muito pra comear a reunio?

POMBA No. Daqui a pouco vai comear.

LEO Eles vo se reunir na clareira do lado do riacho. Ali perto da queda dgua.

POMBA As Formigas ficaram de avisar todo mundo. Elas falaram que elas tanto faz o Dia ou a Noite, o Sol ou a Lua, que elas vo continuar trabalhando do mesmo jeito.

LEO E por isso que todos acharam que era melhor elas avisarem o resto. Assim no ia dar mais nenhuma briga at a hora da reunio.

KLINCK E o que que vai ser discutido nessa reunio?

LEO Eles vo decidir se eles querem ou no que o Sol retorne.

ZYW Bem, ento ns temos uma novidade.

KLINCK . O Sol concordou em brilhar um pouco e depois ficar apagado um pouco. Assim todos tero o Dia e todos tero a Noite.

POMBA Ento eu vou voando pra contar a novidade pra todo mundo. Quem sabe assim elas param de brigar.

LEO Eu vou depois. Estou muito cansado.

POMBA Boa sorte. (SAI VOANDO)

MILRII Klinck, eu continuo preocupada. Como que ns vamos fazer para a Tiare no enfeitiar a gente?

KLINCK No sei, Milrii.

MILRII Se a gente ouvir o canto dela a gente fica enfeitiada e pula na gua. Da adeus. No adiantou nada o que fizemos at agora. (ZYW PRA PREOCUPADA)

KLINCK Que foi, Zyw?

ZYW Eu sinto muito.

KLINCK O que?

ZYW Eu estou perdida. No sei como foi acontecer. Eu simplesmente no consigo me lembrar do caminho.

LEO Voc tem que lembrar, Zyw. Voc a nica que tem permisso das Bruxas para percorrer a Floresta inteira. Voc a nica que conhece o caminho. Voc tem que lembrar, Zyw.

ZYW Voc quer parar com isso? Ficar nervoso no adianta nada.

KLINCK Ela tem razo, Leo. Vamos sentar um pouco e tentar achar uma soluo.

MILRII Ser que no tem algum sinal no caminho, alguma flor diferente, algum tipo de pedra, alguma coisa que voc possa identificar?

ZYW Eu no me lembro, eu no me lembro... (CHORA) Foram aquelas Bruxas que me fizeram esquecer. Eu tenho certeza. Foram elas.

LEO Voc tinha garantido que elas no iam fazer nada.

ZYW Eu no podia imaginar que elas iam me tirar a memria.

MILRII Bem, agora no adianta ficar chorando. Vamos pensar como fazer para achar a Tiare.

KLINCK E s a gente ir andando. Quando ela comear a contar a gente segue a voz dela.MILRII Pssima idia. A ns j estaramos todos enfeitiados.

KLINCK Eu tinha me esquecido disso.

LEO Eu tenho uma idia. E s vocs cortarem os cabelos de minha juba e taparem as orelhas. Assim no vo escutar nada.

MILRII uma boa idia.

KLINCK S que ainda no descobrimos como que vamos chegar at a Lagoa.

LUA (DESCENDO) Eu ouvi a conversa de vocs. Permitam-me ajud-los.

MILRII Lua! Voc j soube da novidade? Que o Sol vai acender e apagar.

LUA J soube. Eu escutei vocs falando Pomba.

KLINCK E isso a satisfaz, no mesmo? Foi a nica soluo que encontramos.

LUA E por isso mesmo que eu vou ajud-los. As minhas filhas, as 7 Estrelas, esto acostumadas a ajudar as pessoas a se orientarem no escuro. Elas formam desenhos no cu e assim d para saber para que lado se quer ir.

MILRII S que ns no sabemos para que lado devemos ir.

LUA Eu sei. Mas as minhas filhas, de tanto ajudarem a homens, j conhecem o mundo inteiro. Elas sabem onde encontrar a Tiare.

MILRII Ai, que bom, dona Lua. Pea para elas nos ajudarem.

LUA Eu vou pedir para alguma constelao descer at aqui e ir indicando o caminho. Assim est bem?

ZYW Est timo. Est muito bom mesmo. (LUA SOBE)

]LEO Eu acho que eu vou voltando para a mata. Assim eu posso ir contando aos bichos o que aconteceu.

ZYW Eu vou junto. No tenho mais nada a fazer aqui.

KLINCK No tique triste, Zyw. Voc nos foi muito til.ZYW Mas podia ser mais. (KLINCK CORTA UNS PEDAOS DA JUBA DO LEO)

LEO At mais, pessoal.

MILRII Tchau. (SAEM ZYW E O LEO)

KLINCK Metade para voc. Coloque no ouvido.

MILRII Est bem.

(COLOCAM OS PEDAOS DE JUBA NO OUVIDO. APARECE A CONSTELAO. SO UMA PORO DE ESTRELAS PRATEADAS QUE SE COLOCAM NA ALTURA DOS JOELHOS DOS JOVENS DE AMBOS OS LADOS, FORMANDO UMA TRILHA QUE SE MOVIMENTA RAPIDAMENTE. KLINCK E MILRII. DE MOS DADAS, ACOMPANHAM A CONSTELAO DURANTE ALGUM TEMPO. COMEA A SE ESCUTAR A VOZ DE TIARE, QUE VAI CRESCENDO AT QUE ESTA APARECE EM CENA. EST SOBRE AS GUAS DA LAGOA BRANCA PENTEANDO SEUS CABELOS DE ALGAS. SUA PELE AZUL BEM CLARO, COMO A LAGOA, E SEUS OLHOS BRILHAM. QUANDO V OS JOVENS COMEA A CANTAR PARA ELES, TENTANDO ATRA-LOS. ESTES SENTAM E FICAM OBSERVANDO-A DURANTE BASTANTE TEMPO. O CANTO DE TIARE, SEMELHANTE A UMA FLAUTA, COMEA A FICAR MAIS ANGUSTIADO, MAIS DESESPERADO, MAIS AGUDO, AT QUE SE D UM GRANDE ESTRONDO. TIARE DESAPARECE, O LAGO FICA ESCURO E AGITADO. OS JOVENS SAEM CORRENDO E PEGAM UMA FAGULHA QUE MOSTRAM AO PBLICO. BLACK-OUT)

CENA XIX

(TOCA DE TATA. OS JOVENS CHEGAM OFEGANTES E GRITANDO)

KLINCK Ns conseguimos. Sol, Sol, ns conseguimos.

MILRII Sol, cad voc? Sol, Sol...

TATA (ENTRA RUGINDO) Vocs de novo? O que vocs querem agora?

MILRII Ns conseguimos! Olhe s a fagulha que trouxemos.KLINCK V chamar o Sol, precisamos dar isso a ele.

TATA Muito bem, vocs conseguiram. Parabns. (GRUNHE)

MILRII Por favor, v chamar o Sol.

KLINCK Se voc no for, ns entramos ai.

TATA J vou indo. No precisa me apressar. J vou indo. (GRUNHE)

KLINCK Ento v.

TATA (SAINDO) Ah. deixem essa chama ali nas pedras. L melhor, mais fcil pra ele pegar.

KLINCK Est bem. (COLOCA. SILNCIO) Ser que ele via demorar? (SILNCIO)

MILRII No precisa ficar nervoso. (PEGANDO-LHE A MO) Deu tudo certo. Logo conheceremos o Sol.

KLINCK E veremos o Dia. (A PEQUENA CHAMA RETIRADA COMO SE POR MOS INVISVEIS E DESAPARECE DENTRO DA TOCA)

MILRII Ei, quem est pegando nosso fogo?

KLINCK Ser que o Sol?

(UMA PEQUENA LUZ COMEA A SER VISTA DE DENTRO. LOGO VAI CRESCENDO, DE MODO QUE OFUSQUE OS OLHOS DO PBLICO. OS JOVENS COMEAM A GRITAI EUFRICOS) o Sol! o Sol! Eu sabia!

MILRII Que maravilha! O Sol! Veja, ele est crescendo!

(DESCE UMA GRANDE TELA BRANCA QUE COBRE TODO CENRIO NEGRO. ATRS. COM SOMBRAS COLORIDAS REPRODUZ-SE CENAS DA FESTA NA FLORESTA; APARECEM TODOS OS BICHOS, MACACQ EO. COELHO, POMBA, ONA, TATU. ETC. QUE BRINCAM, PULAM, CANTAM E SE DIVERTEM PELA VOLTA DO SOL)

TODOS (CANTANDO)

O Sol casou com a Luae tiveram muitos filhosmas nenhum com seu tamanho,seu calor e sua luz.Procurando um remdio pra dar pros pobrezinhos.o Sol viu a Tiare e por ela apaixonou-se.Tanto fez a tal Tiare que o Sol pulou na gua e apagado e envergonhado se escondeu aqui no mato.Klinck, Muni e muitos bichosresolveram o Sol ajudar. explodindo a m Tiare o Sol pde iluminar.Dia e Noite, Noite e Dia todos iro conhecer,o Sol, a Lua e as Estrelas BIStodos poderemos ver.

(ILUMINA-SE A PLATIA)

FIM