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De Brasília - DF 2014 Brasília - DF Autor: Marcos Roberto Torres da Silveira Orientadora : Regina Barcellos CENTRO DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Lato Sensu em Arquitetura de Sistemas da Saúde Trabalho de Conclusão de Curso

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Brasília - DF

2014

Brasília - DF

2014

Autor: Marcos Roberto Torres da Silveira

Orientadora : Regina Barcellos

CENTRO DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO

CENTRO DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Lato Sensu em Arquitetura de Sistemas da Saúde

Trabalho de Conclusão de Curso

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Lato Sensu em Arquitetura de Sistemas da Saúde

Trabalho de Conclusão de Curso

MARCOS ROBERTO TORRES DA SILVEIRA

CENTRO DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO

Artigo apresentado ao Programa de Pós-

graduação Lato Sensu em Arquitetura de

Sistemas da Saúde da Universidade

Católica de Brasília como requisito parcial

para a obtenção do certificado de

Especialista em Arquitetura de Sistemas da

Saúde.

Orientadora: Regina Barcellos

Brasília – DF

2014

Artigo de autoria de Marcos Roberto Torres da Silveira, intitulado “CENTRO

DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO”, apresentado como requisito parcial para a

obtenção do grau de Especialista em Arquitetura de Sistemas da Saúde da Universidade

Católica de Brasília, em 10 de outubro de 2014, defendido e aprovado pela banca

examinadora abaixo assinada.

____________________________________________

Prof. (titulação). (nome do orientador)

Orientador

(curso/programa) – (sigla da instituição)

____________________________________________

Prof. (titulação). (nome do membro da banca)

Orientador

(curso/programa) – (sigla da instituição)

____________________________________________

Prof. (titulação). (nome do membro da banca)

Orientador

(curso/programa) – (sigla da instituição)

Brasília – DF

2014

DEDICATÓRIA

Ao amigo Régio Machado Bertoldo,

semeador de ideias e fomentador de sonhos

realizados. Empreendedor incansável.

AGRADECIMENTO

À minha família, pelo apoio e compreensão. À orientadora e aos demais

professores, pela dedicação no exercício do ensino. Aos colegas da turma, pelas muitas

contribuições durante o processo de aprendizado. À equipe do CME do Hospital das

Forças Armadas e à empresa Esterilav, pela imensa importância das informações

repassadas.

EPÍGRAFE

“Meu trabalho não tem importância, nem a arquitetura tem importância pra mim. Para mim o

importante é a vida, a gente se abraçar, conhecer as pessoas, haver solidariedade, pensar num

mundo melhor. O resto é conversa fiada.”

Oscar Niemeyer

CENTRO DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO

MARCOS ROBERTO TORRES DA SILVEIRA

RESUMO:

Este artigo apresenta o conceito de um centro de material e esterilização – CME e a

partir deste ponto destaca as diversas atividades desenvolvidas nesta importante unidade de

apoio aos serviços assistenciais de saúde. Por estar dirigido ao projeto de arquitetura do CME,

detalha todos os ambientes necessários para a execução das atividades e ao final analisa o

projeto proposto para o centro de material e esterilização do Pronto Socorro de Traumatologia

da Ceilândia, DF.

Palavras-chave: Esterilização. Centro de Material e Esterilização. CME. Arquitetura

hospitalar.

1. INTRODUÇÃO

Segundo a Resolução da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância

Sanitária – RDC/Anvisa número 15, de 15 de março de 2012, a qual dispõe sobre requisitos

de boas práticas para o processamento de produtos para saúde, o Centro de Material e

Esterilização – CME é uma “unidade funcional destinada ao processamento de produtos para

saúde dos serviços de saúde”. Já a RDC/Anvisa número 50, de 21 de fevereiro de 2002,

define o CME como “unidade destinada à recepção, expurgo, limpeza, descontaminação,

preparo, esterilização, guarda e distribuição dos materiais utilizados nas diversas unidades de

um estabelecimento de saúde. Pode se localizar dentro ou fora da edificação usuária dos

materiais”.

Durante o processo de elaboração de um projeto de CME alguns detalhes devem ser

cuidadosamente analisados. O posicionamento da unidade em relação às unidades

fornecedoras e às consumidoras, os fluxos de materiais e pessoas, o armazenamento e a

distribuição e a escolha dos materiais de acabamento da construção constituem parte da

pesquisa que deve ser feita para a concretização do projeto.

O estudo a que se propõe este artigo objetiva a análise do projeto do CME do

complexo do Pronto Socorro de Traumatologia da Ceilândia – PSTC. Ceilândia é uma cidade

satélite do Distrito Federal com altos índices de traumas. O referido projeto é apresentado ao

final deste artigo.

Para o presente estudo se fez necessária a adoção de uma metodologia. Foram feitas

visitas técnicas a unidades em funcionamento, sendo uma particular e uma pública, ambas

localizadas no Distrito Federal. As visitas aconteceram durante o mês de agosto de 2014. As

questões levantadas foram respondidas com clareza e a receptividade foi boa. Além disso, as

normas técnicas pertinentes ao CME foram pesquisadas, assim como parte da bibliografia

existente sobre o assunto. Os dados coletados foram registrados em anotações e

documentação fotográfica.

Para a elaboração de um projeto de CME devem ser observadas a RDC/Anvisa 15 de

2012, a RDC/Anvisa 50 de 2002 e outras normas que tratam de iluminação, segurança contra

incêndio, descargas elétricas, acústica, qualidade da água em autoclaves, a Portaria

Interministerial 482/1999 (Ministério da Saúde e Ministério do Trabalho e Emprego) e o

Manual de Processamento de Artigos e Superfícies em Estabelecimentos de Saúde, sendo

estes dois últimos indicados na RDC/Anvisa 50 de 2002.

Este artigo tem a pretensão de colaborar com os profissionais que planejam o CME.

Está dirigido principalmente a arquitetos dos sistemas de saúde do país, pois eles precisam se

dedicar cada vez mais ao desenvolvimento dos centros de material e esterilização para que os

projetos de arquitetura acompanhem este processo e ainda facilitem futuras alterações na

edificação.

O centro cirúrgico é um dos principais consumidores dos materiais processados no

CME. Foi com o avanço das técnicas cirúrgicas e também da edificação hospitalar e da

medicina de um modo geral que surgiu o aprimoramento do processamento de materiais e

roupas para utilização nos estabelecimentos de saúde.

Outro aspecto evolutivo que deve ser abordado é a centralização do CME. Inicialmente

cada unidade do hospital processava seus materiais. Para racionalizar o trabalho, os espaços

físicos e a utilização dos artigos, assim como também para seu controle, houve um

direcionamento para a concentração desta atividade em um espaço comum a todo o

estabelecimento de saúde.

2. O FUNCIONAMENTO DE UM CME

A RDC/Anvisa 15, de 2012, preconiza que o “O CME e a empresa processadora

devem possuir um Profissional Responsável de nível superior para a coordenação de todas as

atividades relacionadas ao processamento de produtos para a saúde, de acordo com

competências profissionais definidas em legislação especifica.

A mesma norma técnica, no seu artigo 29, determina que “os profissionais do CME e

da empresa processadora devem receber capacitação específica e periódica nos seguintes

temas:

I - classificação de produtos para saúde;

II - conceitos básicos de microbiologia;

III - transporte dos produtos contaminados;

IV - processo de limpeza, desinfecção, preparo, inspeção, acondicionamento, embalagens,

esterilização, funcionamento dos equipamentos existentes;

V - monitoramento de processos por indicadores químicos, biológicos e físicos;

VI - rastreabilidade, armazenamento e distribuição dos produtos para saúde;

VII - manutenção da esterilidade do produto.”

É importante que trabalhadores de um CME tenham estes conhecimentos e que todos

os serviços sejam executados de acordo com os procedimentos técnicos adequados, pois

somente o projeto de arquitetura benfeito não garante a qualidade dos serviços porque o

comprometimento do trabalhador com o cumprimento das normas é fundamental para um

resultado aceitável.

De acordo com Moura, 1994, os principais objetivos de um CME são os seguintes:

a) Concentrar material, esterilizado ou não, tornando mais fácil seu controle,

sua conservação e sua manutenção;

b) Padronizar as técnicas de limpeza, preparo, empacotamento e esterilização,

assegurando economia de pessoal, de material e de tempo;

c) Treinar pessoal para as atividades específicas do setor, conferindo-lhe

maior produtividade;

d) Facilitar o controle do consumo, da qualidade do material e das técnicas de

esterilização, aumentando a segurança no uso;

e) Favorecer o ensino e o desenvolvimento de pesquisas;

f) Manter reserva de material a fim de atender prontamente à necessidade de

qualquer unidade do hospital.

Podemos acrescentar ainda que o CME é responsável pela distribuição do material

processado.

Apresenta-se a seguir o fluxograma de funcionamento de um CME.

Figura 01. Fluxograma de materiais processados no CME. Fonte: adaptado de Silva, 1996

apud SOBECC.

O centro de material e esterilização pode ser centralizado, semicentralizado ou

descentralizado. No primeiro caso os materiais de uma unidade assistencial de saúde são

totalmente processados no CME. No semicentralizado os materiais são preparados nas

diversas unidades e encaminhados ao CME para esterilização. No caso de um CME

descentralizado cada unidade executa todo o processe de esterilização de seus materiais.

O estabelecimento assistencial de saúde - EAS deve ter um serviço de esterilização de

seus materiais quando houver centro cirúrgico, obstétrico e/ou ambulatorial, hemodinâmica,

emergência de alta complexidade e urgência (BRASIL, 2002). A RCD/Anvisa 15 de 2012, no

seu artigo 5º, classifica o CME em Classe I e Classe II. O CME Classe I é aquele que realiza o

processamento de produtos para a saúde não-críticos, semicríticos e críticos de conformação

não complexa, passíveis de processamento. Já o CME Classe II realiza o processameto de

produtos para a saúde não-críticos, semicríticos e críticos de conformação complexa e não

complexa, passíveis de processamento (BRASIL 2012). De acordo com o conceito de CME,

podemos definir que o projeto de arquitetura deve contemplar áreas para as diversas

atividades desenvolvidas neste ambiente e garantir um fluxo de materiais que seja

unidirecional e contínuo para evitar que materiais sujos tenham contato com materiais limpos

e estéreis. De modo simples, o CME é dividido em área “suja” e área “limpa”. No projeto de

arquitetura, é importante a determinação de espaços na área “suja” para recebimento,

desinfecção, separação de materiais e expurgo. No caso de CME Classe II, deve haver uma

área exclusiva para recepção, conferência e devolução dos instrumentais cirúrgicos e dos

produtos consignados que são recebidos (RDC/Anvisa 15 de 2012, art. 50). Já na área

“limpa” o projeto de arquitetura deve proporcionar espaços para recebimento de roupa limpa,

preparo de materiais e roupas em pacotes, esterilização de materiais e roupas por meio de

métodos físicos (calor úmido, calor seco e ionização) e/ou químico (líquido e gás), controle

microbiológico e de validade de produtos esterilizados, armazemamento de materiais e roupas

esterilizados e finalmente para distribuição (BRASIL, 2002).

O dimensionamento do CME depende claramente da demanda que o EAS apresenta.

A relação da quantidade de artigos a processar com o tamanho da unidade é direta.

Um fator importante e que deve ser cuidadosamente verificado no projeto de

arquitetura é o posicionamento do responsável técnico - RT pela supervisão dos serviços. É

aconselhável que seja um local em que o RT tenha visão ampla de todas as áreas para que o

controle seja maior.

2.1. Sala de recepção e limpeza

Os materiais a serem processados entram em um CME pela sala de recepção e

limpeza. É aí que o maior potencial de contaminação em um CME se concentra. Para entrar e

sair deste ambiente o trabalhador passa por um vestiário de barreira, onde realiza a

paramentação.

Os materiais são recebido por um guichê e levados a uma bancada para serem conferidos e

separados para que cada um deles seja submetido ao processo adequado. As sujidades são

retiradas com técnicas de escovação, quando o material permite. Materiais tubulares devem

ser submetidos a lavadoras ultrassônicas para melhor remoção de resíduos. Já os materiais que

não sofrem com calor intenso podem passar por uma termodesinfectora antes de entrar na área

de preparo.

Na recepção e limpeza deve haver disponibilidade de água quente e água fria. Neste

caso, a qualidade a água deve ser potável, segundo o artigo 68 da RDC/Anvisa 15 de 2012.

Somente para registrar aqui, o mesmo artigo define que a água para enxágue final de produtos

para saúde críticos utilizados em cirurgias de implantes ortopédicos, oftalmológicos, cirurgias

cardíacas e neurológicas deve ser purificada. A rigor, a água livre de quaisquer outras

substâncias que não sejam o hidrogênio e o oxigênio é uma água pura. A água potável é

aquela que o ser humano pode consumir e que não possui materiais tóxicos e

microorganismos. A área de recepção e limpeza deve dispor de ar comprimido medicinal, gás

inerte ou ar filtrado, seco e isento de óleo, para a secagem de materiais (artigos 69 e 70 da

RDC/Anvisa 15 de 2012).

A pia de expurgo é diferenciada, devendo possuir válvula de descarga para a

eliminação de resíduos. Neste ambiente os artigos têm as sujidades removidas. Mas a garantia

da eliminação de patógenos se dá somente por processos de esterilização.

Uma peculiaridade importante desta área é que o sistema de climatização deve ter

pressão negativa.

2.1.1. Área de preparo

Os materiais e roupas a serem esterilizados devem ser inspecionados para a

verificação de sua conservação, do seu funcionamento e também para a certificação de que

não há sujidades. Uma iluminação adequada é necessária para que este processo ocorra de

forma satisfatória, pois os trabalhador que executa este serviço utiliza lupas e outros

equipamenos de aumento de imagem para a referida verificação. Este processo é conhecido

como Controle de Qualidade e ocorre logo após o material entrar na área de preparo. Deve

haver uma área para que o material aguarde a preparação para a esterilização e uma outra

para a referida preparação, que é o empacotamento e identificação dos materiais antes que

eles sejam esterilizados.

O CME pode ter vários equipamentos de autoclave, os quais podem ser instalados

numa configuração de barreira entre a área de preparo e a área limpa e, em outros casos, com

autoclaves que não se configuram como de barreira entre estas duas áreas. Na segunda

hipótese, é necessária uma área para manutenção destes equipamentos. Esta área geralmente

tem acesso pela área externa do CME, o que proporciona a vantagem de não ser necessário

que um técnico entre no CME para fazer qualquer reparo nas máquinas.

Após passarem por uma autoclave, os materias entram na sala de armazenagem e

distribuição. Os materiais termosensíveis passam por processo com baixo nível de calor,

como é o caso da esterilização em autoclave por plasma de peróxido de hidrogênio.

Há diversos outros processos que podem ser utilizados para o fim de eliminação de

formas microbianas (vírus, fungos e bactérias na forma vegetativa e esporulada). Os métodos

podem ser físicos, químicos e físico-químicos.

Segundo Possari, 2010, há vários tipos de esterilização com autoclaves (gravidade,

alto vácuo, vácuo pulsátil, ultrarrápida, plasma de peróxido de hidrogênio, radiação gama,

óxido de etileno, vapor de baixa temperatura e formaldeído). Cada uma delas guarda

pecualiridades que certamente são refletidas nos projetos de arquitetura, obrigando o

projetista a adotar espaços adequados para cada tipo de técnica.

2.1.2. Sala de armazenagem e distribuição

Neste ambiente todos os materiais esterilizados são armazenados em estantes, quando

estão prontos para a distribuição às diversas unidades consumidoras do estabelecimento de

saúde.

Na armazenagem e distribuição, ao contrário da recepção e limpeza, a pressão do

sistema de climatização é positiva e deve haver controle de temperatura e umidade relativa do

ar. O ideal é que a temperatura esteja sempre por volta dos 20ºC e que a umidade não seja

menor que 35% e nem maior que 70%. Deve ser garantida uma vazão mínima de ar total de

12,00 m³/h/m².

2.1.3. Vestiários de barreira

Os vestiários configuram-se como áreas de muita importância para um CME, pois

nestes ambientes os trabalhadores paramentam-se, preparando-se para o início dos trabalhos.

Ao final de cada turno, cada trabalhador deve passar novamente pelo vestiário de barreira

para descartar os paramentos e realizar os processos de assepsia corporal.

É interessante que o CME possua vestiários de barreira para a área suja e para a área

limpa, embora isto não seja obrigatório. No caso de vestiários comuns às duas áreas, deve

haver sinalização clara de identificação nos acessos.

3. CONTROLE DO PROCESSO DE ESTERILIZAÇÃO

No CMe são adotados vários tipos de execução de controle de qualidade dos processos

de esterilização para que estejam sempre dentro dos parâmetros exigidos pelas normas

pertinentes. Eles são feitos periodicamente.

Os controles físicos são aqueles em que se verificam os estados de conservação e

funcionamento dos equipamentos do CME e dos materiais processados.

Os controles químicos são indispensáveis para o monitoramento de falhas no processo

de esterilização. Seguem a Norma International Organization for Standardization – ISO

11140-1/5 (Possari, 2010).

Por último, há os controles biológicos. Neste processo, uma carga de esporos é

submetida ao processo de esterilização juntamente com a carga de material colocado nas

autoclaves e os resultados são comparados com os parâmetros aceitáveis, sendo assim

avaliado todo o processo.

A RDC/Anvisa 15 de 2012 determina no seu artigo 100 que deve haver uma área para

monitoramento do processamento de produtos para a saúde com sistema para guarda dos

registros dos monitoramentos. Pode ser utilizada uma bancada ao lado das autoclaves para

este fim.

4. ESTUDOS DE CASOS

Foram visitadas duas unidades de Centro de Material e Esterilização para a elaboração

deste artigo, sendo uma pública e uma privada.

No primeiro caso foi realizada uma visita técnica à unidade de CME do Hospital das

Forças Armadas – HFA, o qual está localizado no Distrito Federal. Este CME estava em

reforma na área de preparo de materiais e roupas limpas, mas os serviços não estavam

prejudicando o funcionamento da unidade.

De uma maneira geral os ambientes são bem distribuídos e o CME do HFA funciona

bem, atendendo de maneira satisfatória à demanda do complexo hospitalar. Todas as unidades

do CME estão localizadas em um mesmo andar. A planta da edificação quase obriga a

existência de um fluxo unidirecional e contínuo dos artigos, pois tem um formato retangular,

sendo o comprimento muito maior que a largura. Desta forma, todos os artigos entram no

CME por um guichê e seguem o fluxo até a outra extremidade, quando são acondicionados na

área de armazenagem e distribuição.

As atividades estão de acordo com o padrão de atividades de um CME e não há

nenhum diferencial que possa classificá-lo como uma unidade especial em algum sentido.

Somente é possível destacar que os materiais termossensíveis são submetidos, no caso

do CME do HFA, a esterilizadores que operam a baixa temperatura utilizando plasma de

peróxido de hidrogênio.

O segundo CME visitado foi a Esterilav Lavanderia e Esterilização. Trata-se de uma

empresa privada localizada no Distrito Federal e que funciona em sede própria para o

atendimento a vários estabelecimentos assistenciais de saúde.

Os serviços prestados pela empresa são os de processamento de roupas e artigos

hospitalares.

As instalações da empresa estão em bom estado de conservação e não foram

verificados problemas quanto ao funcionamento.

A empresa está instalada em uma edificação que possui um pavimento térreo e um

primeiro pavimento. Isso levou o autor do projeto a encontrar uma solução adequada para que

o fluxo contínuo e unidirecional fosse mantido. Foram instalados dois monta-cargas que

ligam a área de recepção, lavagem e desinfecção à área de preparo de roupas e artigos limpos.

Com o uso dos referidos monta-cargas, foi necessária a instalação de um tanque para lavagem

das caixas utilizadas no transporte dos artigos.

O material chega ao estacionamento do prédio da empresa em veículos prórios e são

encaminhados à área de recepção e limpeza, a qual está situada bem próxima da entrada da

edificação.

5. PROJETO DO CENTRO DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO DO PRONTO

SOCORRO DE TRAUMATOLOGIA DA CEILÂNDIA – CME PSTC

5.1. Programa de necessidades

A RDC 50 de 2002 apresenta um programa de necessidades para CME, o qual é

apresentado a seguir.

UNIDADE/AMBIENTE QUANTIFICAÇÃO

MÍNIMA DIMENSÃO MÍNIMA

Sala composta de:

Área para recepção, descontaminação

e separação de materiais 1

0,08m² por leito com área mínima de 8,0m²

Área para lavagem de materiais 1

Sala composta de:

Área para recepção de roupa limpa 1 4,0m²

Área para preparo de materiais e roupa

limpa 1 0,25m² por leito com área mínima de 12,0m²

Área para esterilização física 1 A depender do equipamento utilizado.

Distância mínima entre as autoclaves=20cm Área para esterilização química 1

Sala de armazenagem e distribuição

de materiais e roupas esterilizados 1 0,2m² por leito com o mínimo de 10,0m²

Área para armazenamento e

distribuição de materiais esterilizados

descartáveis

1 25% da área de armazenagem de material

esterilizado.

Obs.: não foram considerados aqui os itens do programa de necessidades para esterilização química gasosa e

nem de centro de material esterilizado simplificado.

Tabela 01. Programa de necessidades de CME. Fonte: adaptado de Brasil, 2002.

Além dos ambientes apresentados na tabela 01, a RDC 50 de 2002 mostra uma lista de

ambientes de apoio do CME. São eles:

1. Sanitários com vestiário para funcionários (barreira para as áreas de recepão de roupa

limpa, preparo de materiais, esterilização e sala/área de armazenagem e distribuição –

área limpa);

2. Sanitário para funcionários (área suja – recepção, descontaminação, separação e

lavagem de materiais). Não se constitui necessáriamente em barreira à área suja. Os

sanitários com vestiários poderão ser comuns às áreas suja e limpa, desde que

necessariamente estes se constituam em uma barreira à área limpa e o acesso à área

suja não seja feito através de nenhum ambiente da área limpa;

3. Depósito(s) de material de limpeza (pode ser comum para as suja e limpa, desde que

seu acesso seja externo a essas);

4. Sala administrativa;

5. Área para manutenção dos equipamentos de esterilização física (exceto quando de

barreira).

O programa de necessidades do CME do PSTC contém, além dos itens exigidos pela

RDC 50 de 2002, uma sala para esterilização com plasma de peróxido de hidrogênio.

Inicialmente, a área total estimada do CME do PSTC seria de 545, 37m², de acordo

com o programa elaborado para o início do projeto e com base nos dados coletados da Região

Administraviva da Ceilândia – DF. Após a conclusão do projeto a CME ficou com uma área

de 409,80m². O cálculo inicial da área julgada ideal mostrou-se inadequado, pois algumas

unidades do CME não necessitariam de espaços tão amplos para seu bom funcionamento.

5.2. O projeto do CME

O posisionamento do CME no hospital foi determinado pela proximidade e pelo fácil

acesso às principais unidades consumidoras. A unidade está localizada no pavimento térreo da

edificação onde fica o Centro Cirúrgico e o CTI (UTI Pediátrica, UTI Cirúrgica e UTI Geral),

sendo que a UTI Pediátrica fica no mesmo nível e as demais no primeiro pavimento. As

unidades de Urgência e Emergência localizam-se no prédio ao lado. A unidade de

Imagenologia também está relativamente próxima do CME. Todos os prédios do hospital são

ligados por uma passarela coberta. Ao longo desta passarela há acessos também cobertos para

as várias edificações.

Figura 02. Localização do CME no complexo hospitalar proposto. Fonte: o autor.

A edificação que abriga o CME foi projetada de forma a facilitar o acesso das

unidades de Urgência e Emergência ao Centro Cirúrgico. Com essa definição, optou-se por

projetar o CME nas proximidades do Centro Cirúrgico, pois este é o maior consumidor dos

materiais processados.

A figura 03 mostra o posicionamento do CME em relação às demais unidades da

edificação.

Figura 03. Posição do CME em relação às demais

unidades do pavimento térro. Fonte: o autor.

Para facilitar o envio de materiais utilizados no Centro Cirúrgico para o CME, há um

guichê exclusivo ligando as duas unidades.

O material sujo do restante das unidades do hospital entram por um guichê de uso

geral localizado na circulação de serviço.

Foi projetada apenas uma expedição de materiais e roupas esterilizados no CME. Por

meio de um guichê é feita a distribuição para todo o hospital. Foi possível posicionar a

recepção de artigos do Centro Cirúrgico bem próximo desta expedição para facilitar a

integração entre as duas unidades.

A figura 04 (a seguir) mostra o layout do CME do PSTC. Os vestiários de barreira

foram posicionados de uma forma que os acessos tanto à área suja quanto à área limpa fossem

facilitados. A área de recepção, lavagem e desinfecção de materiais está em uma localização

que permite o acesso direto do Centro Cirúrgico e de um corredor de serviço de acesso restrito

aos trabalhadores do hospital. As entregas de materiais sujos são sempre feitas por meio de

guichês. Quando chegam, os materiais passam por uma lavagem em pia de expurgo e, depois

de separados, por lavadoras ultrassônicas (artigos tubulares e outros que possuam cavidades).

São submetidos então a termodesinfectoras, entrando assim na área de preparo de artigos.

Aqueles materiais sensíveis ao calor passam por guichê e são encaminhados ao tratamento em

esterilizadoras que operam com baixa temperatura utilizando plasma de peróxido de

hidrogênio.

Figura 04. Layout do CME com zoneamento das áreas de atividades. Fonte: o autor.

Adjascente à área de desinfeção está o setor de preparo de materiais limpos. Neste

local, os artigos são acondicionados em pacotes e identificados para serem submetidos ao

processo de esterilização, quando são colocados em autoclaves de barreira ou nos submetidos

ao peróxido de hidrogênio.

Entrando na área de guarda e distribuição de materiais estéreis, os artigos são

colocados em estantes para que posteriormente sejam distribuídos às unidades consumidoras.

A área administrativa, onde trabalha o responsável técnico pelo CME, está localizada

na área de preparo de materiais e roupas limpas. O ideal é que este ambiente tenha ligação

com todas as áreas do CME e ainda tenha um guichê para contato com os trabalhadores das

outras unidades do hospital. Como a área do CME do PSTC é muito grande, não foi possível

proporcionar esta relação e ainda permitir que o responsável técnico tenha acesso visual direto

para a área suja. Desta forma, o controle das atividades da área suja se dará por painel de

vidro e interfone instalados entre esta área e a área de preparo de materiais limpos.

Quanto aos fluxos de artigos e pessoas, temos a definição representada na seguinte

figura.

Figura 05. Fluxos de artigos e de pessoas. Fonte: o autor.

O acesso de trabalhadores se dá por meio de um vestiário de barreira que serve para a

área suja e para a área limpa. Os trabalhadores da área suja dispõem de um vestiário exclusivo

para ter acesso à área suja. Já aqueles que trabalham na área limpa têm dois propés à

disposição para maior conforto. Um dos propés dá acesso à área de preparo de materiais e

roupas limpas e o outro dá acesso à área de guarda e distribuição de material estéril, ambos na

área limpa do CME.

Há dois guichês para entrada de material sujo. Um deles é de uso exclusivo do Centro

Cirúrgico e o outro, com acesso por um corredor de serviço, é de uso das outras unidades do

hospital.

Na área de preparo de materiais e roupas limpas há um outro guichê para recebimento

de roupa limpa.

Há ainda dois depósitos de material de limpeza – DML. Um está localizado dentro da

área suja e outro dentro da área limpa.

6. CONCLUSÃO

Os processos de funcionamento de um CME são muito complexos. Há diversas

peculiaridades que devem ser observadas durante o funcionamento de um CME que precisam

ser de conhecimento do profissional que pretende projetar uma unidade tão específica como

essa.

Com o CME do PSTC implantado praticamente no centro das atividades mais

importantes desenvolvidas neste hospital (Urgência e Emergência, CTI, Centro Cirúrgico,

Imagenologia etc), foi quase impossível não escolher o desenvolvimento desta unidade para

estudo.

É preciso notar que o projeto de arquitetura deve propiciar tanto quanto possível o

atendimento aos procedimentos operacionais padrão a que todos os trabalhadores de um CME

devem seguir.

Desde a escolha da localização da unidade, passando pela determinação de

zoneamentos internos e fluxos de artigos e pessoas e chegando até a especificação de materias

de acabamento adequados para cada ambiente, tudo deve ser cuidadosamente analisado para

que o resultado final seja satisfatório.

A pesquisa junto aos profissionais da área de centro de materiais e esterilização para a

formulação do programa de necessidades, para a elaboração do projeto e para o seu

detalhamento é importantíssima. Há ainda as normas que devem ser levadas em consideração

para que o projeto não traga inadequações que impossibilitem a sua concretização.

Elaborar um projeto de arquitetura de um CME sem dúvida é uma atividade de grande

responsabilidade, pois percebe-se que o arquiteto tem a clara chance de proporcionar

melhores condições de realização das difíceis atividades desenvolvidas neste tipo de

ambiente.

7. REFERÊNCIAS

_______. RDC n° 50, de 21 de fevereiro de 2002. Dispõe sobre o Regulamento Técnico para

planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos

assistenciais de saúde. Disponível em:

http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/2002/50_02rdc.pdf. Acesso em 01 de out. 2014.

_______. RDC n° 15, de 15 de março de 2012. Dispõe sobre os requisitos de boas práticas

para o processamento de produtos para a saúde e dá outras providências. Disponível em:

http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/2012/15_15rdc.pdf. Acesso em 01 de out. 2014.

BICALHO, Flávio de Castro. A arquitetura e a engenharia no controle de infecções. Rio

de Janeiro: Rio Books, 2010.

KAVANAGH, Cristina Moreda Gallet. Elaboração do manual de procedimentos em

central de materiais e esterilização. São Paulo: Ed. Atheneu, 2007.

CARVALHO, Antônio Pedro Alves. (Org.). 2006. Quem tem medo da arquitetura

hospitalar? Salvador: Quarteto Editora.

MOURA, Maria Lúcia Pimentel de A. Enfermagem em centro de material e esterilização.

10 ed. São Paulo, 1994.

POSSARI, João Francisco. Centro de material e esterilização. São Paulo: Iátria, 2010.

SOBECC – Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico, Recuperação

Anestésica e Centro de Material e Esterilização. São Paulo, 2009.