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Este Caderno Especial faz parte do Diário As Beiras de 19 de Março de 2016 e não pode ser vendido separadamente ex-líbris O Diário As Beiras completa 22 anos a olhar para Coimbra e para a região Centro. Como é hábito, a ocasião sugere a publicação de um caderno especial cuja temática versa a relevância regional. Neste ano de 2016, a opção incide na valorização dos ícones de referência dos diversos, e díspares, espaços regionais. São, ao todo, 22 autênticos ex-líbris de cada cidade, de cada comunidade, de cada sub-região. Todos eles assumem incontornável e inatacável notoriedade pública. Todos eles projetam a cidade, a comunidade e a região no plano nacional, e até internacional. São eles a Académica, o Portugal dos Pequenitos, a Rainha Santa Isabel e a Universidade, em Coimbra; o Museu de Conimbriga; a Praia da Claridade da Figueira da Foz; a Chanfana; o Leitão e o Vinho da Bairrada; os Ovos Moles de Aveiro; o Jardim do Paço de Castelo Branco; o Castelo de Leiria; os Mosteiros da Batalha e de Alcobaça; Fátima; as Aldeias de Xisto; a Serra da Estrela e o Queijo da Serra; a Sé da Guarda; a Feira de S. Mateus e o Museu Grão Vasco de Viseu; o Vinho do Dão centro da região

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Caderno do 22.º aniversário do Diário as Beiras publicado no dia 19 de março de 2016

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Este Caderno Especial faz parte do Diário As Beiras de 19 de Março de 2016 e não pode ser vendido separadamente

ex-líbris

O Diário As Beiras completa 22 anos a

olhar para Coimbra e para a região Centro.

Como é hábito, a ocasião sugere a publicação de

um caderno especial cuja temática versa a

relevância regional. Neste ano de 2016, a opção incide na valorização

dos ícones de referência dos diversos, e díspares,

espaços regionais. São, ao todo, 22 autênticos

ex-líbris de cada cidade, de cada comunidade,

de cada sub-região. Todos eles assumem

incontornável e inatacável notoriedade pública.

Todos eles projetam a cidade, a comunidade e a região no plano nacional,

e até internacional. São eles a Académica, o

Portugal dos Pequenitos, a Rainha Santa Isabel e a

Universidade, em Coimbra;o Museu de Conimbriga;

a Praia da Claridade da Figueira da Foz; a

Chanfana; o Leitão e o Vinho da Bairrada; os

Ovos Moles de Aveiro; o Jardim do Paço de Castelo

Branco; o Castelo de Leiria; os Mosteiros da Batalha

e de Alcobaça; Fátima; as Aldeias de Xisto; a Serra da Estrela e o Queijo da Serra;

a Sé da Guarda; a Feira de S. Mateus e o Museu Grão

Vasco de Viseu; o Vinho do Dão

centroda região

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2 | especial | 22 ex-líbris da região Centro

aniversário

A excelência de uma região marcada pela diversidade

Se Guimarães foi o início da nacio-nalidade, Coimbra e o Centro foi a região onde Portugal se construiu e solidificou, mesmo já depois de Lisboa ter sido conquistada aos mouros e os algarves terem sido incluídos no Portugal medieval.

Por isso a nossa região é vetusta e cheia de sinais dessa origem pri-meira da nacionalidade. Por isso a nossa região está cheia de ‘pérolas’, a que nesta edição chamamos de ex-líbris, pelos quais fazemos uma pequena viagem, neste caderno do 22.º aniversário do Diário As Beiras.

São eles a Académica, a academia mais antiga de Portugal que conta histórias desde 1887. Histórias de estudantes, de combates ao antigo regime, de futebol com algumas taças a marcar a força da sua exis-tência e 58 estruturas de âmbito cultural, desportivo, académico e organismos autónomos.

As Aldeias do Xisto, um conjunto de 27 aldeias que se recortam pe-los territórios das zonas do Açor, Zêzere e Tejo-Ocreza. Aldeias que oferecem a quem as visita um con-tacto íntimo entre a natureza e as tradições culturais.

O Castelo de Leiria que guarda

intactos oito séculos de história e se apresenta como um dos mo-numentos mais belos da região enquanto espaço de história, de cultura e de lazer.

A Chanfana é um dos sabores mais antigos e típicos da zona de Coim-bra fazendo, por isso, a diferença num distrito onde a gastronomia, tendo alguns pratos bastante apre-ciados, não é, no entanto, dos mais ricos do país.

O Santuário de Fátima e tudo o que ele representa no país e no mundo. Um local de culto que já prepara o centenário das aparições e a vinda do Papa Francisco. Um espaço que passou a integrar a região de Turis-mo do Centro garantindo-lhe uma resposta única no mundo ao nível do turismo religioso.

A Feira de São Mateus, em Viseu; é a mais antiga feira franca da Pe-nínsula Ibérica. E os números falam por si: 950 mil visitantes em 2015. Números que a organização quer ultrapassar na edição deste ano investindo em novas apostas para novos públicos.

O Jardim do Paço Episcopal de Castelo Branco, um monumento nacional que é um dos principais pontos de atração de visitantes à

cidade e região.O Leitão da Bairrada ou à Bairrada

porque é único no país e que se afirma na gastronomia da região integrando as quatro maravilhas (água, pão, vinho e leitão).

O Mosteiro da Batalha que todos os anos recebe milhares de visitantes e que é a jóia do estilo gótico em toda a Europa.

O Mosteiro de Alcobaça que, por entre muitas outras riquezas per-petua o amor de Pedro e Inês nas-cido em Coimbra.

Os Museu Monográfico de Conim-briga no coração das Ruínas Roma-nas que querem ser Património da Humanidade.

O Museu Grão Vasco que colocou Viseu no mapa dos museus nacio-nais mais visitados fora da capital.

Os incomparáveis Ovos moles de Aveiro, o primeiro doce conventual certificado na Europa.

O Portugal dos Pequenitos pen-sado por Bissaya Barreto que põe Portugal ao alcance da mão de uma criança.

A praia da Figueira da Foz, a Praia da Claridade é a rainha das praias de Portugal.

O Queijo Serra da Estrela que é uma das marcas únicas no país e

no mundo que conta histórias sa-borosas de pastores e queijeiras de mãos frias.

A Rainha Santa Isabel, que é a pri-meira santa de Portugal. Vinda de Espanha, “abençoou Coimbra” que a acolheu como sua padroeira.

A Sé da Guarda imponente e de porte austero, que sobressai numa das zonas mais altas e frias de Por-tugal.

A Serra da Estrela que “casa” a neve com uma riquíssima oferta ao nível do turismo de natureza.

A Universidade de Coimbra que continua a ser uma das mais an-tigas da Europa e que soube aliar tradição e modernidade, cativan-do estudantes de todo o mundo. Uma “mistura” que a ajudou na sua caminhada para Património da Humanidade.

O (mais que premiado) Vinho da Bairrada que marca, por exemplo, uma região responsável por 65 por cento da produção de todo o espu-mante do país.

A terminar, o Vinho do Dão, a mais antiga região demarcada de vinhos, que se assume como um dos setores mais importantes na economia agrária de 16 municípios que envolve.

Diretor Agostinho Franklin | SubDiretora Eduarda Macário | Chefe De reDação Dora Loureiro | CoorDenaDora Dep. GráfiCo Carla Fonseca

textoS: CoorDenação Eduarda Macário// Bruno Gonçalves (aCaDémiCa); José Armando Torres (alDeiaS De xiSto e JarDim Do paço); Dora Loureiro (CaStelo De leiria e moSteiro De alCobaça); Paulo Marques (Chanfana e Sé Da GuarDa);

António Rosado (fátima e ovoS moleS); Eduarda Macário (feira De S. mateuS e muSeu Grão vaSCo); Joana Santos (leitão Da bairraDa e vinho Da bairraDa); António Alves (moSteiro Da batalha); Lídia Pereira (muSeu De ConimbriGa e Serra Da eStrela);

Patrícia Cruz Almeida (portuGal DoS pequenitoS e univerSiDaDe De Coimbra); Jot’Alves (praia Da ClariDaDe); Cláudia Trindade (queiJo Serra Da eStrela); Rute Melo (rainha Santa iSabel e vinho Do Dão);

fotoS: Carlos Jorge Monteiro e Luís Carregã

ContaCtoS: SeDe: Rua Abel Dias Urbano, n.º 4 - 2.º 3000-001 Coimbra, tel. 239 980 280, 239 980 290, Telem: 962 107 682 fax 239 980 288, [email protected]

reDação Tel. 239 980 280, Fax 239 983 574, [email protected]

publiCiDaDe tel. 239 980 287, fax 239 980 281, [email protected]

ClaSSifiCaDoS tel. 239 980 290, fax 239 980 281, [email protected] aSSinaturaS tel. 239 980 289, [email protected]

o meu jornal, a minha região

PROPRIEDADESojormedia Beiras SA

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Fundada em 1887, a Associação Académica de Coimbra/OAF é uma instituição centenária que alia a defesa de valores e ideais de uma cidade ao brio e carisma que a camisola negra ensina pelos vários relvados espalhados pelo País e pelo Mundo.

Dona de uma história singular, a Briosa, como também é conhecida, sempre se pautou por uma causa que passa, em muito, as quatro linhas do futebol. O losango que carrega a mística estudantil honra toda uma região que se orgulha dos feitos da sua Académica.

Académica De capa aos ombrosa escrever história(s) desde 1887

Nascida da fusão de duas associações, em 1987, a Associação Académica de Coimbra tem hoje 26 secções desportivas, 15 culturais, 10 grupos académicos e ainda sete organismos autónomos.O mais conhecido de todos é o de futebol, que antes de o ser até foi Académico. Até já se viram “duas Académicas”, em campo, mas, no fim de contas, ambas envergam uma das principais bandeiras do desporto na região e partilham uma história ímpar em Portugal

A Associação Académica de Coim-bra, Académica de Coimbra, AAC, Briosa, ou apenas Académica. To-dos sabem de quem se fala, um pouco por todo o mundo. E, mes-mos os mais desatentos, que di-zem “o Académica”, referindo-se à equipa de futebol, sabem de onde vem: Coimbra.

É preciso recuarmos até ao dia 3 de novembro de 1887 para co-meçar a contar a história de uma associação que teve como primeiro presidente António Luiz Gomes, um jovem estudante de direito, que um dia chegaria a reitor da Univer-sidade de Coimbra.

Uma e outra tornaram-se, desde

essa altura, indissimuláveis, e a ve-lhinha universidade ainda conti-nua a orgulhar-se de ouvir falar nos seus estudantes… dentro de campo.

E a entrada em campo, pelo me-nos no que se refere ao futebol, deu-se em janeiro de 1912, numa partida frente ao Ginásio Club de Coimbra, naquele que seria o pri-meiro campo da Briosa: a Ínsua dos Bentos (zona do Parque Verde do Mondego e o Parque Manuel Braga).

Na altura o “onze” titular foi com-posto por cinco estudantes de direi-to, três de medicina, um da Escola Agrícola e outro de matemática – a conta não bate certo, porque um

permanece incógnito. E foi de estu-dantes que a depois Secção de Fu-tebol da AAC viveu, pelo menos até ao 25 de Abril. Ou melhor, até 20 de junho de 1974, data em que, numa Assembleia Geral, a AAC extinguiu a secção, por entender que esta não cumpria os fundamentos amadores das restantes que a compunham.

Foi preciso vencer um verdadeiro contrarrelógio, com grande deter-minação dos adeptos, para con-seguir manter a Académica na 1.ª Divisão. Ou melhor… o Académico.

A AAC virou CAC, ou seja Clube Académico de Coimbra, forma encontrada para continuar a ter o representante dos estudantes –

mesmo que estes assim não achas-sem – entre o principal campeonato português.

Um regresso ao passado, já que a AAC tinha nascido da fusão entre a Nova Academia Dramática e o CAC, fundado em 1861.

E durante 10 anos, a Académica foi o Académico, até que Ricardo Roque, presidente da AAC e Jorge Anjinho, seu homólogo do CAC, se sentaram à mesa para o regresso do futebol à academia, sob a for-ma atual, de organismo autónomo (AAC/OAF).

Ironicamente, este regresso à casa mãe nunca foi bem aceite por al-guns e ainda hoje se continua a

José Eduardo Simões, Presidente da Académica/OAF

testemunhos

Equipa vencedora da Taça de Portugal em 1939, no Cam-

po das Salésias

Apesar de ter perdido, a Briosa

fez história na final da Taça de 1969

Fotos cedidas por João Santana

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questionar qual é a “verdadeira Académica”, herdeira da conquista da primeira edição da Taça de Por-tugal, em 1939. Tudo porque, desde 1981 que a Secção de Futebol tinha sido novamente inscrita nos cam-peonatos distritais da Associação de Futebol de Coimbra (AFC).

Essa recuperou a “génese” estu-dantil, sendo composta maiorita-riamente por atletas estudantes, algo que há muito já não acontece na AAC/OAF e só na presente tem-porada conseguiu subir a equipa sénior masculina aos “nacionais”.

E deste 2008 que a coexistência entre estas “duas Académicas” se tornou ainda mais peculiar, já que

a Secção de Futebol inscreveu pela primeira vez equipas nos escalões de formação da AFC, o que resultou num inédito embate en-tre as duas.

Dois anos depois, foi a vez de o p a í s d a r , pela primei-ra vez, conta desta dupla identidade, no Campeonato Nacional de Iniciados.

EcletismoDo andebol ao xadrez, do radio-

modelismo à pesca despor-tiva, passando pelas lutas amadoras e até pelo base-bol, a AAC é considerada por muitos como o “clube” ou associação mais eclética do país.

São 26 as secções despor-tivas na AAC, a maior parte delas com múltiplas mo-dalidades e, todos os anos, são às centenas os títulos nacionais e internacionais conquistados pelos seus atletas. Isto, à parte do tal Organismo Autónomo de Futebol, que já teve também outras modalidades, como o futsal, mas que hoje vive ex-clusivamente para o futebol.

A estas, juntam-se ainda as 15 secções culturais, os 10 grupos académicos e ainda mais sete organismos au-tónomos culturais, todos a espalhar o nome da Associa-ção Académica de Coimbra pelo mundo fora.

Um losango no mundoTodos os anos, centenas

ou mesmo milhares de es-tudantes chegam a Coim-bra um pouco de todas as partes do globo. A inter-nacionalização é cada vez uma das maiores “bandei-

ras” da Universidade de Coimbra e, por isso, não

é de estranhar que haja adeptos, nem mesmo várias “académicas” por todo o mundo.

O presidente da AAC/OAF, José Edu-ardo Simões, refor-çou recentemente as

ligações da Académica com as várias filiais de

Cabo Verde. Mas tam-bém um pouco por todo

o mundo lusófono, como Moçambique, Angola, e não

só, existem filiais.| Bruno Gonçalves

22 ex-líbris da região Centro | especial | 5

Académica De capa aos ombrosa escrever história(s) desde 1887

Da Ínsua dos Bentos ao Cidade de Coimbra

Até 1922, a Ínsua dos Bentos foi a “casa” dos estudantes, que se mudaram para o Santa Cruz de 1922 a 1949. Foi na vira-gem para a segunda metade do século XX que nasceu o Estádio Municipal (“Calhabé”), que foi abaixo em 2002 para que nascesse o Cida-de de Coimbra, atu-al estádio da Briosa. Durante as obras, a Académica ainda jogou no Estádio Sérgio Conceição, em Taveiro.

Entre 1939e 2012

A Académica ven-ceu, em 1939, a pri-meira edição da Taça de Portugal e, em 2012, conseguiu a segunda Taça da sua história. Mas, entre estas duas conquis-tas, houve mais três finais – 1950/1951, frente ao Benfica; 1966/1967, com o V. Setúbal e 1968/1969, novamente com o Benfica. A última, em plena crise estu-dantil, perpetuou na história a imagem dos atletas de capa aos ombros.

Campeõesdo mundo

Corria do ano de 1 9 9 2 q u a n d o s e festejou no seio da Académica o título mundial... de Pesca Desportiva. O troféu foi conquistado em Merida (Espanha).Em 2015 a AAC con-seguiu outro cam-peão mundial, agora no boxe. Paulo Silva foi o melhor na cate-goria K1 de -63,5 kg.

A AAC produz um impacto significativo a nível local, na-cional e internacional. Na primeira vertente, é um autên-tico motor de cultura e desporto, através das suas quinze secções culturais, vinte e seis secções desportivas e sete organismos autónomos. A nível nacional é uma grande

promotora de mudança de políticas, principalmente nas áreas da educação e do emprego. E, relativamente à parte internacional, permanece a sua influência nas grandes políticas desportivas e educativas junto das instituições europeias de relevo.

José Dias, presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra

curiosidades

a Secção de Futebol inscreveu pela primeira vez equipas nos escalões de formação

ra vez, conta desta dupla identidade, no Campeonato

Do andebol ao xadrez, do radio-

ou mesmo milhares de estudantes chegam a Coimbra um pouco de todas as partes do globo. A internacionalização é cada vez uma das maiores “bandei

ras” da Universidade de Coimbra e, por isso, não

é de estranhar que haja adeptos, nem mesmo várias “académicas” por todo o mundo.

çou recentemente as ligações da Académica

com as várias filiais de Cabo Verde. Mas tam

bém um pouco por todo o mundo lusófono, como

Moçambique, Angola, e não só, existem filiais.

| Bruno Gonçalves

à volta

EstádioSérgio Conceição

Campo deSanta Cruz

Ínsua dos Bentos

Estádio Municipal de Coimbra

DB-Luís Carregã

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8 | especial | 22 ex-líbris da região Centro

São a concretização de uma vontade deste território em mostrar-se ao país e ao mundo, carregado de potencial e capacidades. Trata-se de um conjunto de aldeias que são verdadeiras células vivas, que atraem capacidades positivas e que funcionam como referencial de boas práticas em termos de desenvolvimento regional.

Aldeias do Xisto Contacto íntimocom a natureza e as tradições culturais

As Aldeias do Xisto são hoje um importante polo turístico na região Centro, distribuídas pelas zonas das serras da Lousã e Açor, Zêzere e Tejo-Ocreza. Ao todo, são 27 os locais onde a tradição se alia à paisagem natural e a gastronomia oferecendo momentos ímpares de tranquilidade e rara beleza. A cor da pedra impõe-se, num ambiente marca-damente rural, longe da rotina das cidades. Sítios onde a história do passado se perpetua agora e no futuro.

Depois da desertificação verificada em meados do século XX, as Aldeias do Xisto “renasceram” e atravessam hoje um processo de regeneração, com a chegada de novos residen-tes, que devolveram a vida a este vasto território. Os primeiros ves-tígios da presença humana nestas paragens remontam à pré-história, como atualmente documentam as gravuras rupestres ou os vestígios arqueológicos encontrados.

Numa zona de rara beleza, sur-gem então 27 aldeias, distribuídas pelas zonas das serras da Lousã e Açor, Zêzere e Tejo-Ocreza, situa-das no Pinhal Interior, zona vasta e homogénea, marcada pela floresta, montanha e forte rede hidrográfica.

Na serra lousanense situa-se o maior núcleo – 12 povoações –, dis-tribuídas pelos concelhos da Lousã (Candal, Casal Novo, Cerdeira, Chi-queiro e Talasnal), Góis (Aigra Nova, Aigra Velha, Comareira e Pena), Mi-randa do Corvo (Gondramaz), Pene-la (Ferraria de S. João) e Figueiró dos Vinhos (Casal de S. Simão).

Seguem-se os núcleos de Zêzere (Álvaro, Barroca, Janeiro de Baixo, Janeiro de Cima, Mosteiro e Pedró-gão Pequeno), Serra do Açor (Aldeia das Dez, Benfeita, Fajão, Sobral de São Miguel e Vila Cova de Alva) e Tejo-Ocreza (Água Formosa, Figuei-ra, Martim Branco e Sarzedas).

Locais onde a cor da pedra se des-taca e a vegetação envolve a paisa-

gem singular, a permitir momentos de grande tranquilidade.

O ambiente, marcadamente rural, vira-se agora para um novo con-ceito – mais turístico –, cativante e propício a permanência mais pro-longada, potenciando, contudo, o ambiente de cada aldeia, onde está muita da resposta diferenciadora turística.

As habitações aliam a tradição ao conforto moderno, salvaguardando a herança ancestral do xisto, mas com preocupações ao nível das co-modidades do século XXI.

Para além da história e do patri-mónio, a experiência prolonga-se ao sabor da tradição e cultura, onde não faltam a gastronomia e a arte de

bem receber, que tão bem caracteri-za o nosso país.

Os visitantes têm ainda a possibi-lidade de desfrutar de uma estada ativa, usufruindo dos passeios de bicicleta por trilhos e percursos de rara beleza, canoagem ou escalada, entre outras atividades.

Tudo isto num ambiente de gran-de tranquilidade, onde merecem atenção a fauna e flora, bem como o restante património natural (des-taca-se ao nível da conservação da natureza), ou as praias fluviais, com instalações de apoio e qualidade reconhecida.

Nas Aldeias do Xisto há propostas para os mais variados gostos e ida-des, que podem ser apreciadas ao

Paulo Fernandes , Presidenteda ADXTUR

Constituem um produto turístico único e diferenciador da oferta do turismo do Centro de Portugal e de Portugal, cuja mais-valia reside na sua plena integração no meio paisagístico, cultural e social. Representam uma das melhores realizações do investi-mento público e privado na recuperação do nosso património.

Pedro Machado, Presidente da Turismo Centro de Portugal

testemunhos

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longo de todo o ano.

Simbiose público-privadaProjeto de desenvolvimento sus-

tentável de âmbito regional, a rede de Aldeias do Xisto é liderada pela Agência para o Desenvolvimen-to Turístico das Aldeias do Xisto (ADXTUR). São 19 os municípios da região Centro envolvidos, o que traduz a cooperação intermuni-cipal, a que se aliam mais de uma centena de operadores privados, criando-se uma das primeiras mar-cas territoriais.

O envolvimento das entidades pú-blicas conseguiu mobilizar o proje-to para o investimento privado, tor-nando-se, portanto, num programa

de política pública, mas muito orientado para os privados – empresas e comunidade.

Tem como objeti-vo a preservação e promoção da pai-sagem cultural, mas dá também especial atenção ao patrimó-nio arquitetónico, dinamização do teci-do socioeconómico e

renovação das artes e ofícios.

Como começouO programa das Aldeias do Xisto

começou e desenvolveu-se entre os anos de 2000 e 2006, no âmbito do 3.º Quadro Comunitário de Apoio, através do Programa Operacional Regional do Centro. O primeiro objetivo passou pela estruturação do território em redes, aprovei-tando todo o seu potencial, como as aldeias, os cursos de água ou os percursos.

Em 2002, Aigra Nova, Aigra Velha, Benfeita, Comareira, Fajão, Figueira e Pena formam a primeira geração da rota, ampliada no ano seguinte com 12 novos locais: Água Formo-sa, Álvaro, Candal, Casal Novo, Cer-deira, Chiqueiro, Ferraria de São João, Gondramaz, Janeiro de Cima, Pedrógão Pequeno, Sarzedas e Ta-lasnal

A terceira geração reúne, em 2005, as quatro aldeias de Barroca, Casal de São Simão, Janeiro de Baixo e Martim Branco, chegando às 27 em 2010, com Aldeia das Dez, Mosteiro, Sobral de São Miguel e Vila Cova do Alva a integrarem a rede.

Aldeias Históricas de PortugalLocais igualmente de grande tra-

dição, a rota das Aldeias Históricas de Portugal oferece uma espécie

de “viagem ao passado”. Aqui, o tempo como que “parou”,

numa história contada pelas gentes e costumes, entre

ruas carregadas de memó-rias, a par com a tradição.

Almeida, Belmonte, Castelo Mendo, Castelo Novo, Castelo Rodrigo, Idanha-a-Velha, Linhares da Beira, Marialva, Mon-santo, Piódão, Sortelha

e Trancoso oferecem um vasto leque de experiências,

com percursos atrativos e pa-cotes temáticos, proporciona-

dos pelos vários parceiros das Aldeias Históricas de Portugal.| José Armando Torres

22 ex-líbris da região Centro | especial | 9

Aldeias do Xisto Contacto íntimocom a natureza e as tradições culturais

Presentes no Portugal dos PequenitosDesde o passado dia 8 de junho, que as Aldeias do Xisto estão representa-das no Portugal dos Pequenitos. Uma casinha tradicional evoca o território, as suas tradições e imaginário, numa cerimónia de inau-guração que contou com a presença do então primeiro-mi-nistro Pedro Passos Coelho.

A mais altae a maispequenaEntre as 27 Aldeias do Xisto, a de Aigra Velha é que está si-tuada a maior alti-tude (770 metros), bem próxima dos cumes da Serra da Lousã, mas de fácil acesso. Já a da Co-mareira é a mais pequena da rede.

Conjunto monumental

É em Vila Cova de Alva que se encon-tra o maior conjun-to monumental en-tre as 27 Aldeias do Xisto. Entre os edi-f ícios religiosos, to-dos do século XVIII, destaque para as igrejas Matriz e da Misericórdia, para o antigo Convento de Santo António ou a Alminha da ponte.

Constituem um produto turístico único e diferenciador da oferta do turismo do Centro de Portugal e de Portugal, cuja mais-valia reside na sua plena integração no meio paisagístico, cultural e social. Representam uma das melhores realizações do investi-mento público e privado na recuperação do nosso património.

Excelente exemplo, que reforça o argumento daqueles que convicta-mente acreditam que há futuro para os territórios mais frágeis e que o desenvolvimento sustentável desses territórios, sendo um processo muito longo, se faz em primeiro lugar a partir das pessoas, recursos e instituições. Bom exemplo de aplicação de fundos comunitários.

Ana Abrunhosa, Presidente da CCDR Centro

curiosidades

de política pública, mas muito orientado para os privados – empresas e

do socioeconómico e

Alva a integrarem a rede.

Aldeias Históricas de PortugalLocais igualmente de grande tra

dição, a rota das Aldeias Históricas de Portugal oferece uma espécie

de “viagem ao passado”. Aqui, o tempo como que “parou”,

numa história contada pelas gentes e costumes, entre

ruas carregadas de memórias, a par com a tradição.

Idanha-a-Velha, Linhares da Beira, Marialva, Monsanto, Piódão, Sortelha

e Trancoso oferecem um vasto leque de experiências,

com percursos atrativos e pacotes temáticos, proporciona

dos pelos vários parceiros das Aldeias Históricas de Portugal.| José Armando Torres

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AldeiasHistóricasde Portugal

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A Câmara de Leiria tem apostado na dinamização do castelo. A sua utilização, que vai desde o Festival Gótico Entremuralhas, passando pelo Mercado Medieval, até a desfiles de moda e ati-vidades essencialmente dedicadas a um público infanto-juvenil, traduz todo o seu potencial.

Castelo de Leiria Mais de oito séculos de história num dos monumentos mais belos

Hoje o Castelo de Leiria é um agradável espaço de passeio. Pelas suas grandes dimensões e aparato bélico, foi, ao longo dos séculos, um dos mais importantes castelos portugueses.Em 1910 foi classificado património histórico. Muito graças ao escrupuloso trabalho desenvolvido pelo arquiteto Ernesto Korrodi, já no início do século XX, mantém-se ainda como um dos mais bonitos castelos de Portugal

O Castelo de Leiria, um dos ex-líbris da cidade, tem uma história e bele-za singulares. Ao longo de séculos, as suas muralhas testemunharam batalhas e episódios decisivos da História de Portugal.

O imponente monumento, onde convivem as belezas do património edificado e as da paisagem natural, é um dos castelos portugueses de maiores dimensões. Muito graças ao escrupuloso trabalho desenvol-vido pelo arquiteto Ernesto Korro-di, já no início do século XX, man-tém-se ainda como um dos mais bonitos castelos de Portugal e da Europa, destacando-se como um notável exemplo de transformação

residencial, onde se aprecia toda a sua beleza, ainda que em ruínas.

No interior do recinto defensivo, muito bem conservado, os visitan-tes podem apreciar muitos moti-vos de interesse: a antiga Casa da Guarda, agora transformada em receção, a Torre dos Sinos, a Igreja de Santa Maria da Pena, os antigos Paços Reais, a Torre de Menagem, agora musealizada, entre outras es-truturas ainda visíveis. Não menos bela é a fantástica vista sobre a ci-dade e a paisagem envolvente, que se observa através das muralhas.

Recordes de visitantes“O Castelo de Leiria é o patri-

mónio mais emblemático da re-gião, facilmente reconhecível e de enorme valor turístico e cultural e que tem vindo a bater consecuti-vamente recordes no número de visitantes”, destaca Gonçalo Lopes, vice-presidente da Câmara de Lei-ria e responsável pelo pelouro da Cultura. O número de turistas que visitaram o castelo duplicou entre 2009 e 2015, passando, no espaço de sete anos, dos 43 mil visitantes para os 86 mil, sublinha o autarca.

Estes números demonstram tam-bém o cuidado que a Câmara de Leiria tem tido na dinamização turística em torno do castelo, de fundação medieval. “A sua utiliza-

ção, que vai desde o Festival Góti-co Entremuralhas, passando pelo Mercado Medieval, até a desfiles de moda e atividades essencialmente dedicadas a um público infanto-ju-venil traduz todo o seu potencial”, refere Gonçalo Lopes. “Mais do que um espaço estático, o Município de Leiria tudo faz para que o castelo seja de facto vivido”, acrescenta o vice-presidente da autarquia.

História e beleza singularesO historiador Saul Gomes destaca

que o Castelo de Leiria está entre os de maiores dimensões, em Por-tugal, tornando-se singular pela sua história e beleza. A história,

Gonçalo LopesVice-presidente da Câmara de Leiria

O Castelo de Leiria é um dos mais bonitos e de maior dimensão, em Portugal, e teve uma grande importância militar, ao longo dos séculos. O que o torna singular é a sua história de mais de 800 anos e a sua beleza, que ainda hoje se respira ao visitar aquele monumento.

Saul GomesHistoriador

testemunhos

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de mais de 800 anos, testemunha a sua importância bélica, pois foi palco de importantes batalhas, decisivas na história do país.

Conquistado aos mouros por D. Afonso Henriques, em 1135, na sua saga de alargamento do território de Portugal para sul do Mondego e para a costa do Atlântico, viria a ser reconquistado pelos muçulmanos, cinco anos depois, voltando para a mão dos cristãos, novamente, em 1142. Mas as batalhas pela sua pos-se, entre lusos e muçulmanos, con-tinuariam. Depois, anos mais tar-de, o castelo é palco de uma guerra civil, por questões sucessórias, en-tre os filhos de Afonso II, Sancho II

e Afonso III, entre 1245-1248. No final, Sancho II exila-se e Afonso III torna-se rei. Ali são travadas batalhas de uma outra Guerra Ci-vil, de 1319-1322, entre o rei D. Dinis e o futuro Afonso IV.

Noutro plano, as Cortes de Leiria, que em 1254 reúnem a nobreza, o cle-ro e o povo, são também um sinal da importância da urbe, reforça o historia-

dor.Já em finais do século XIV tem lu-

gar uma importante batalha, a de Aljubarrota, não no castelo, mas a 12 quilómetros. Este episódio mos-tra o declínio da importância dos castelos nos conflitos bélicos, con-sidera Saul Gomes. Não se estranha portanto que o castelo tenha sido adaptado a palácio real. Hoje, de resto, os antigos Paços Reais des-lumbram quem visita o castelo.

Mais tarde, o rei Afonso V doa o castelo aos condes de Vila Real. Este ainda é habitado no século XVI, mas terá sido por essa altura que começou a sua ruína, que con-tinuou até ao início do século XX, quando Ernesto Korrodi, arquite-to de origem suíça naturalizado português, e a Liga dos Amigos do Castelo, iniciam, em 1921, o seu restauro. Seguidor tardio do espírito romântico e esforçado em recuperar o imaginário medieval, Korrodi defendeu a devolução da imponência histórica ao monu-mento, que tinha antes do aban-dono de séculos.

Importância arqueológicaHoje, longe da sua missão, o cas-

telo volta a ter importância na his-tória da cidade.

Vânia Carvalho, arqueóloga da Câmara de Leiria, destaca

o projeto de investigação, desenvolvido pela au-

tarquia, e as escavações arqueológicas e pros-peções geofísicas, que mostram que aquele local já seria habita-do desde há 5000 mil anos. Ali foram en-contrados vestígios cerâmicos atribuídos

ao Calcolítico e à Ida-de do Ferro. Alguns

dos vestígios recolhi-dos são visíveis na expo-

sição temporária patente no novo Museu Municipal,

“Castelo de Leiria, construções de um lugar”. | Dora Loureiro

Castelo de Leiria Mais de oito séculos de história num dos monumentos mais belos

Pinhal do ReiA Mata Nacio-n a l d e Leiria, Pinhal d e L e i -r i a o u Pinhal do Rei é uma floresta portuguesa com 11.080 hecta-res, abrangendo as freguesias de Mari-nha Grande e Viei-ra de Leiria. Apesar da denominação, o pinhal está inserido totalmente no con-celho da Marinha Grande. Marcou, em Portugal, o início da plantação intensiva de monocultura do pinheiro bravo. O pinhal foi manda-do plantar pelo rei D. Afonso III (e não por D. Dinis, como se diz habitualmen-te) no século XIII. Seria mais tarde, entre 1279 e 1325, aumentado, pelo rei D. Dinis, para as di-mensões atuais.

Vidro da Marinha Grande

O Museu do Vidro, na Marinha Grande, reúne coleções que testemunham a ati-vidade industrial, artesanal e artística vidreira portugue-sa, desde meados do século XVII/XVIII até à atualidade. Trata-se do único museu vocaciona-do para o estudo da arte, artesanato e da indústria vidrei-ra em Portugal. Está instalado na antiga casa de Guilherme Stephens, recupe-rada para esse fim pelo gabinete de arquitetura de José Fava e inaugurada em 1998.

O Castelo de Leiria é um dos mais bonitos e de maior dimensão, em Portugal, e teve uma grande importância militar, ao longo dos séculos. O que o torna singular é a sua história de mais de 800 anos e a sua beleza, que ainda hoje se respira ao visitar aquele monumento.

Na perspetiva arqueológica é importante destacar que o morro onde foi construído o castelo de Leiria têm sido encontrados vestígios que testemunham a existência, naquele local, de vida e civilizações desde há cinco mil anos. As suas condições excecionais terão atraído populações desde a pré-história.

Vânia CarvalhoArqueóloga

curiosidades

e Afonso III, entre 1245-1248. No final, Sancho II exila-se e Afonso III torna-se rei.

ro e o povo, são também um sinal da importância da urbe, reforça o historia-

Hoje, longe da sua missão, o castelo volta a ter importância na história da cidade.

Vânia Carvalho, arqueóloga da Câmara de Leiria, destaca

o projeto de investigação, desenvolvido pela au

tarquia, e as escavações arqueológicas e prospeções geofísicas, que mostram que aquele

cerâmicos atribuídos ao Calcolítico e à Ida

de do Ferro. Alguns dos vestígios recolhi

dos são visíveis na exposição temporária patente

no novo Museu Municipal, “Castelo de Leiria, construções

de um lugar”.

à voltaCapela de Nossa Senhora da Encarnação

Museu Municipal

Museu Mimo

Moinho do Papel

O estado do castelo à data do restauro, feito por Ernesto Korrodi

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A Chanfana é verdadeiramente um ex-líbris pela impor-tância económica e cultural na região. É fator de desenvol-vimento e é também fator de união entre as populações da região. Isso mesmo ficou claro quando se tratou da candidatura às 7 Maravilhas da Gastronomia Portugue-

sa. Para além de ter assumido valor próprio, cultural e imaterial, a Chanfana alimenta atividades económicas, da pastorícia ao comércio de carne e, claro, da restauração e do turismo, como ainda agora ficou provado, em Poiares, com a melhor Semana da Chanfana de sempre.

Chanfana Assar a cabra velha em vinho e alavancar a cultura e a economia da região

Não é rico o património gastronómico da região de Coimbra e, em particular, da zona interior do distrito. Também por isso, a excelência e a diferença que se lhe reconhecem fazem da chanfana um incontornável ex-líbris regional. Mas há muito mais, para além de gastronomia, em torno da chanfana. Há todo um território que importa valorizar. Há toda uma cultura associada que importa promover. Há toda uma economia que importa alavancar

A chanfana é de Coimbra e da sua região. Ou, dito de forma mais precisa, a chanfana é de Miranda do Corvo e de Vila Nova de Poiares, acima de tudo, mas também de Condeixa, da Lousã, de Góis, de Penela… e de Coimbra, claro está.Há mais de duzentos anos que a chanfana anda nas bocas de quem sumaria e cataloga os pratos dife-renciados e característicos da gas-tronomia nacional. Mas foi apenas há coisa de cinco anos que a chan-fana passou, literalmente, a an-dar de boca em boca por esse país fora. Foi no âmbito do concurso 7 Maravilhas da Gastronomia que

mobilizou muita gente e muitos meios e no qual o singular prato feito de cabra velha assado em vinho chegou ao restrito grupo de finalistas na categoria “Carnes”.

Sim, porque a chanfana é um prato singular. Desde logo pelos ingredientes principais, justa-mente, a carne de cabra velha e o bom vinho. Depois, por tudo o que dela emana, no plano estritamen-te gastronómico – os saborosos negalhos confeccionados com o bucho e as tripas da cabra; a in-confundível sopa de casamento cozinhada com o que da chanfana resta e mais umas migas de couves

e pão; e até uns mui renegados arroz de miúdos e sarrabulho bei-rão aproveitando as vísceras do animal.

Há ainda um toque de mistério a contribuir para toda esta singula-ridade. Trata-se da miscelânea de estórias que envolve a sua origem, assente em lendas pouco ou nada documentadas mas razoavelmen-te verosímeis.

Deve dizer-se, em abono da ver-dade, que, neste lendário registo, Miranda do Corvo fica a ganhar a Vila Nova de Poiares. Isto porque é num dos extremos do conce-lho mirandense que se localiza o

convento de Santa Maria de Semi-de – outrora importante centro religioso e, por isso, senhorio de muitas terras.

Lendas e narrativasOra, uma das narrativas com o

seu quê de fantasioso reporta ao tempo em que as freiras do con-vento – sempre dadas a invenções gastronómicas – engendraram forma de “escoar”, por um lado, a abundância de géneros que os camponeses lhes pagavam pela ocupação das terras e, por outro lado, do vinho de qualidade so-frível que se produzia nas redon-

Madalena Carrito, Confraria da Chanfana

testemunhos

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22.º Aniversário do Diário As Beiras | especial | 17diário as beiras | 19-03-2016

dezas. Ora, quem tinha de pagar tra-

tava de fazê-lo com o que menos falta lhe fazia – no caso, as cabras velhas que já não dão leite, mas cuja carne é assada no vinho, em forno de lenha e caçoilo de barro, conservando-se depois no molho gorduroso solidificado, durante muitos meses.

Outra das lendas reporta a cria-ção da chanfana ao tempo das invasões francesas, quando os camponeses procuraram a todo o custo evitar os habituais saques, com roubo de cabras e ovelhas da região. Ora, como também tinham

já tratado de enve-nenar as nascen-tes de água tive-ram de recorrer ao vinho para cozinhar os ca-prinos.

De uma for-ma ou de outra, o c e r t o é q u e – como se es-creveu a abrir – a chanfana impôs-se como produto de ex-celência com origem, sobretudo, em Miranda do Corvo e em Vila Nova de

Poiares.Ambos os concelhos têm a sua

própria confraria. A mais anti-ga é a de Vila Nova de Poiares e chama-se simplesmente da Chan-fana, remontando a 2001. Só mais tarde nasceu a de Miranda, que optou pelo nome de Cabra Velha. A rivalidade, porém, logo ali se perpetuou, como o demonstra a inscrição, em latim, na bandeira mirandense.

Cabe dizer que o trabalho de uma confraria não se resume à dimensão festiva e ritualista que muitos lhe apontam; antes passa pelo trabalho de preservar, divul-gar e valorizar uma iguaria, de âmbito local ou regional.

Ora, quando a um determinado prato se associa a dinâmica, por vezes dialética, de duas confrarias vizinhas e rivais, o efeito acaba por ser muito positivo. E, quando a tudo isto se junta o empenho e o apoio das autarquias – como também acontece em Miranda do Corvo e em Vila Nova de Poiares –, o resultado é extraordinário e deve ser valorizado.

Até na origem das caçoilas cada um tem a sua versão. Poiares puxa pelo barro de Olho Marinho. Mi-randa do Corvo fala dos oleiros do Carapinhal.

No que pouco diferem os vizi-nhos é na confeção da chanfana.

O que varia são os temperos – mais salsa menos presunto;

mais banha menos piripiri... O D I Á R I O A S B E I R A S

acompanhou uma jorna-da de assadura no forno da ADIP, em Poiares, e ou-viu da cozinheira, Lurdes Silva, as regras essenciais: paciência, acerto nos tem-peros, na temperatura e na

qualidade do forno; esco-lher boa carne e o vinho cer-

to, ter em atenção aos caçoilos de barro lascados ou mal lava-

dos, cobrir bem o caçoilo com o papel de prata (modernice que dá jeito)… | Paulo Marques

Chanfana Assar a cabra velha em vinho e alavancar a cultura e a economia da região

“Que cousa era chanfana?”

Dealbava o séc. XIX quando D. José, Príncipe do Brasil, q u i s s a b e r “ Q u e cousa era chanfa-na?”.

Respondeu, em soneto, o poeta Ni-colau Tolentino de Almeida:“Comprada em asque-roso matadoiroSanguinosa forçura, quente e inteira,E cortada por gorda ta-verneiraCujo cachaço adorna um cordão de oiro;Cabeças de alho com vinagre, e loiro,E alguns carvões que saltam da fogueira;Fervendo tudo em vasta frigideiraC’os indigestos f ígados do toiro;Suavíssimo cheiro, o qual auguraGrato manjar, mas que por causa justaDá um sabor que nem o demo atura;Isto é chanfana, e sei quanto ela custa”.

Po u c o o u n a d a tem a ver com a chanfana que hoje se conhece, como está bom de ver...

A chanfaina de Castela

Em Espanha, cha-ma-se chanfaina a um guisado de vís-ceras com cebola. Como refere Lima R e i s , a m b é m d o lado de lá da fron-teira a origem tem a ver com a pastorícia e o pagamento aos senhores dos reba-nhos com as partes dos cordeiros aba-tidos consideradas nobres guardando para si apenas as en-tranhas do animal.

A Chanfana foi finalista do concurso nacional 7 Maravilhas da Gastronomia Portuguesa e, só por si, isto diz bem da sua importância e também da Sopa de Casamento e dos Negalhos. Trata-se de uma iguaria com mais de 100 anos de história, cuja origem remonta ao nosso Mosteiro de

Semide. A importância da Chanfana projeta-se também na alavancagem da economia regional, quer no que respeita à criação de gado caprino, aproveitando a área montanhosa que temos, quer na restauração e no turismo – como está a ser feito no Parque Biológico da Serra da Lousã.

Sérgio Seco, Real Confraria da Cabra Velha

curiosidades

-

chanfana impôs-se como produto de ex-celência com origem, sobretudo, em Miranda do Corvo e em Vila Nova de

um tem a sua versão. Poiares puxa pelo barro de Olho Marinho. Miranda do Corvo fala dos oleiros do Carapinhal.

No que pouco diferem os vizinhos é na confeção da chanfana.

O que varia são os temperos – mais salsa menos presunto;

mais banha menos piripiri...

qualidade do forno; escolher boa carne e o vinho cer

to, ter em atenção aos caçoilos de barro lascados ou mal lava

dos, cobrir bem o caçoilo com o papel de prata (modernice que dá jeito)…

à volta

Convento de St.ª Maria de Semide

Barro preto de Olho Marinho

Restaurante Museu da Chanfana

Restaurante O Confrade

DB-P.M.

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20 | especial | 22 ex-líbris da região Centro

Quando se pensa nas aparições de Nossa Senhora em Fátima parece ver-se claramente atualizado o mistério de graça narrado pelo Evangelho. Como crianças totalmente desprovidas de poder, os Três Pastorinhos deixam-se tocar por dentro, acolhem e acei-tam a força do amor, que transforma, converte e salva.

Fátima Contagem decrescente parao centenário das aparições e visita do Papa

A pouco mais de um anoda celebraçãodo Centenário das Aparições, o Santuário -maior destino de turismo religioso da Europa – quer aproveitar a oportunidade para levara mensagem de Fátima ainda mais longe.“Não pode reduzir-se à evocação de factos passados: “é, sobretudo, ocasião para divulgar e reavivar a consciência da riquezae atualidadede Fátimae da invulgar capacidade de atração de Nossa Senhora para os crentes”, adianta o reitor Carlos Cabecinhas

“O Santuário de Fátima é, porventu-ra, o espaço do território português mais conhecido em todo o mundo”, observa o reitor do Santuário, padre Carlos Cabecinhas, em declarações ao DIÁRIO AS BEIRAS.

De acordo com o sacerdote, “o rele-vo deste lugar deve-se à experiência de fé que ele tem proporcionado a inúmeros homens e mulheres ao longo de um século atribulado da história da humanidade e a uma mensagem que se revelou com po-tencial para tocar o íntimo de cada pessoa e que tem mostrado também implicações de caráter sociopolítico

a nível mundial”. Na sua perspetiva, “os relatos

transmitidos por três crianças, em 1917, marcaram, em diversos senti-dos, a história religiosa e social dos homens e mulheres do nosso tempo e de gerações que nos antecederam”.

Assim, não será de admirar que em 2015, o Santuário tenha regis-tado cerca de 6,7 milhões de par-ticipantes no conjunto das 9948 celebrações realizadas, o que signi-ficou um aumento significativo do número de peregrinos. Foi igual-mente batido o recorde de número de peregrinações organizadas, num

total de 4390 grupos, com 587 128 peregrinos.

De acordo com o Serviço de Pere-grinos deste Santuário registaram-se 1591 peregrinações portugue-sas, com 461 300 peregrinos e 2799 peregrinações estrangeiras, prove-nientes de 90 países, com um total de 125 829 peregrinos.

O mês de maio registou o maior número de grupos nacionais, 423, e o de outubro, o maior número de grupos estrangeiros, 553.

Centenário das Aparições

“Naturalmente que, no próximo

ano, por se assinalar o centenário das Aparições, é expetável que o número de peregrinos ainda seja maior. Tanto mais que, a par das celebrações habituais teremos o programa associado ao Centená-rio que, só por si, convida a uma visita”, destaca o padre Carlos Ca-becinhas.

Atendendo ao programa que está a ser programado pela Reitoria para 2016 e 2017, são várias as di-mensões das iniciativas previstas: “a memória dos acontecimentos passados que nos permite avaliar o presente e projetar o futuro, indi-

D. Virgílo Antunes, Bispo de Coimbra

Fátima é, hoje, um dos mais expressivos “cartões de visita” de Portugal. Um estudo de opinião sobre a percepção que os por-tugueses têm de si mesmos e da sua união, mostrava que entre os elementos que melhor definem a imagem de Portugal, Fátima ocupava o segundo lugar, apenas atrás da bandeira nacional.

Carlos Cabecinhas, Reitor do Santuário de Fátima

testemunhos

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vidualidade e comunidade, evoca-ção das aparições e reflexão sobre a mensagem, ritualidade e oração, convívio e festa, inserção no quoti-diano e marcas do extraordinário”.

Já neste ano de 2016 houve vários momentos com especial significa-do para o Santuário Mariano: a 20 de fevereiro assinalou-se o Dia dos Pastorinhos com uma vigília de oração e uma catequese para 1500 crianças provenientes de várias dioceses.

Neste mês de março foram evo-cadas várias celebrações, desde o 106.º aniversário do nascimento

da Beata Jacinta Marto, até à celebração do 4.º ani-versário da eleição do Papa Francisco.

O padre Carlos Cabe-cinhas destaca ainda o restauro do órgão da Ba-sílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, o maior instrumento deste género em Portugal, que foi reestruturado e “volta a ser o protagonista de um es-paço celebrativo que diz muito aos peregrinos”.

O reitor do Santuário salienta

que “a motivação principal para a sua recuperação não foi de or-dem patrimonial, mas celebrativa: devolver às celebrações que têm lugar nesta basílica a beleza e a imponência do órgão de tubos, instrumento musical tradicional da liturgia romana que, segundo o Concílio Vaticano II, é capaz de elevar poderosamente os ânimos para Deus e para as coisas celestes”.

Visita do Papa Francisco

Quanto à visita do Papa Francis-co, a 12 e 13 de maio de 2017, o responsável máximo do Santuá-rio adianta que o Santo Padre “já anunciou que virá, embora os de-talhes da visita não estejam ainda definidos”, apenas acrescentando que “será prematuro falar sobre as principais linhas da organização. Elas serão as mesmas que sempre norteiam a visita de um Papa a qualquer lugar”.

O que é certo é que, por parte dos fiéis, muitos já reservaram alo-jamento, mais de um ano antes das cerimónias. Vários hotéis de Fátima já estão esgotados para as referidas datas.

O presidente da Associação Em-presarial Ourém/Fátima (ACISO),

Francisco Vieira, vai desde já avisando que o parque ho-

teleiro local e das redon-dezas não será suficiente

para receber os hóspe-des anunciados. Na sua perspetiva, “a incapa-cidade de resposta das unidades hote-leiras de Fátima, no distrito de Santarém, tem uma vantagem para o território que

vai de Coimbra a Lis-boa, particularmente

no litoral, redistri-buindo os turistas pelas unidades hoteleiras desta região”. | António Rosado

Fátima Contagem decrescente parao centenário das aparições e visita do Papa

Maior órgão de igrejarestauradoÉ r e i n a u g u r a d o amanhã, domin-go, no Santuário de Fátima, o órgão da Basílica de Nos-sa Senhora do Ro-sário, com estreia mundial de uma peça da autoria do compositor por-tuguês João Pedro Oliveira. É um ins-trumento construí-do em 1951, sendo o maior do género em Portugal, com 90 registos e cerca de 6.500 tubos. A consola de cinco te-clados e pedaleira foi restaurada e mo-dernizada. O tubo maior, de madeira, tem cerca de 12 me-tros de altura e 50 centímetros de lar-gura e os tubos de metal, da fachada, têm cerca de oito metros de altura.

55 milpernoitasNos vários espaços de que o Santuário dispõe para alo-jamento – Casa de Retiros de Nossa Senhora do Carmo, Casa de Retiros de Nossa Senhora das Dores, Centro Pas-toral Paulo VI, Aco-lhimento S, Bento Labre, Casa de São Miguel, Colunata e Casa da Argentina – registaram-se, ao longo de 2015, cerca de 55 mil dormidas, sendo que os grupos portugueses foram predominantes: 572 grupos organi-zados.

Visitas aos PastorinhosA Casa da Lúcia foi vi-sitada, em 2015, por 336 299 peregrinos. A Casa do Francisco e da Jacinta foi visitada por 320 193 peregri-nos.

Fátima é, hoje, um dos mais expressivos “cartões de visita” de Portugal. Um estudo de opinião sobre a percepção que os por-tugueses têm de si mesmos e da sua união, mostrava que entre os elementos que melhor definem a imagem de Portugal, Fátima ocupava o segundo lugar, apenas atrás da bandeira nacional.

Apercebi-me o quanto o conhecimento que tinha de Fátima era superficial. Quanto mais detalhe e mais circunstâncias eu conhecia mais impressionante a considerava e mais a sentia como simbólica de muitas coisas que nos dizem muito como povo e que me dizem bastante enquanto português.

José Luís Peixoto, escritor e autor de “Em Teu ventre”

curiosidades

da Beata Jacinta Marto, até

maior instrumento deste género em Portugal, que foi reestruturado e “volta a ser o protagonista de um es-paço celebrativo que diz muito

O reitor do Santuário salienta

referidas datas.O presidente da Associação Em

presarial Ourém/Fátima (ACISO), Francisco Vieira, vai desde já

avisando que o parque hoteleiro local e das redon

dezas não será suficiente para receber os hóspe

des anunciados. Na sua perspetiva, “a incapacidade de resposta

para o território que vai de Coimbra a Lis

boa, particularmente

à volta

Restaurante Tia Alice

Monumento natural das Serras de Airee Candeeiros

Museu de Cera de Fátima

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24 | especial| 22.º Aniversário Diário As Beiras

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A Feira de São Mateus continua a reinventar-se apesar dos seus mais de seis séculos de existên-cia. A maior feira da Península Ibérica consegue unir a tradição e a modernidade para manter os mais saudosos e cativar novos públicos.

Feira de São Mateus: o “maior certame da Península Ibérica” faz 624 anos e quer ganhar Espanha

Gastronomia, do melhor que há no território viseense, artesanato, doçaria, brinquedos e diversão para todas as idades, onde os mais pequenitos nunca são esquecidos. De tudo isto, e muito mais, se continua a fazer a Feira de São Mateus, em Viseu. Uma feira que a idade melhorou unindo tradição e modernidade sem melindrar a história nem desiludir os novos públicos. A feira, que começou por ser franca, vai na sua 624.ª edição

A Feira de São Mateus dispensa apre-sentações. Todos sabemos que se realiza há mais de seis séculos na ci-dade de Viseu; que decorre durante mais de um mês, que há concertos e animação diversa, que tem sabor a farturas, que há carrosséis e diversão para todos os gostos. E todos sabe-mos, mesmo os que não apreciam, que tem as mais famosas enguias do país. Em barricas de madeira, como nos seus primórdios, ou no prato… elas continuam a fazer a delícia dos milhares de visitantes que (também) ali vão por elas.Como o presidente da Câmara Mu-nicipal de Viseu, Almeida Henriques faz questão de sublinhar, “a Feira de São Mateus é a mais antiga feira franca viva da Península Ibérica”. A preparar já a sua 624.ª edição (para o verão deste ano), a feira quer ultra-

passar os 950 mil visitantes regista-dos em 2015.“A Feira de São Mateus é a mais an-tiga da Península Ibérica, mas tem, vindo a reinventar-se nos seus 624 anos de vida, sobretudo nestes úl-timos dois anos, não só com uma nova lógica de comunicação, mas também com uma nova forma de layout, assumindo-se nas suas tradi-ções, no seu histórico de mais de seis séculos, mas introduzindo também a modernidade”, reconheceu Almei-da Henriques ao DIÁRIO AS BEIRAS, adiantando que “a feira hoje é tam-bém um festival urbano, um espaço onde as pessoas poderão fazer jus à tradição, nomeadamente, no âmbi-to das espetadas de enguias”.A feira continua, por isso, a afirmar-se como um espaço onde as pessoas podem degustar não só as famosas

enguias, mas toda a gastronomia típica da cidade e da região acom-panhada pelos saborosos – e pre-miados – vinhos do Dão.

Espaço para ser vivido em família“Ela é o espaço para a fartura, ela é o espaço para o divertimento, eu diria que ela é sobretudo, um espaço de família, um espaço hipergeracional cada vez com mais motivos para que as pessoas a visitem e daí, no ano passado, termos ficado a 50 mil pessoas de um milhão de visitantes”, afirma o autarca, reconhecendo que “este ano estamos, com o programa que está a ser preparado, com o car-taz, com o aperfeiçoamento do seu layout, com toda uma aposta na ar-quitetura e no conforto das pessoas, seguramente irá ultrapassar-se um milhão de visitantes”.

Um crescimento que tem muito a ver com as pessoas, mas a que a mudança de lugar também ajudou. Como Almeida Henriques sublinha “o reencontro da feira com os vise-enses, e com quem nos visita, teve também muito a ver com o regres-sar do palco ao seu cenário com o espelho de água, tendo como cená-rio habitual a silhueta da cidade, a criação de novo do picadeiro que é também um convite ao convívio e ao reencontro entre as pessoas, tornou-a esteticamente mais bonita, mais confortável e, ao mesmo tempo, aumentou de uma forma decisiva, o conforto daqueles que também lá vão para ver os espetáculos”.

Cativar mercado vizinho de Espanha“Para além da aposta que fizemos no cartaz, transformando-o numa

Almeida HenriquesPresidente da Câmara Municipal de Viseu

A Feira de São Mateus é uma grande marca de Viseu e é um acontecimento todo especial. É uma feira popular, sim, mas é mais do que isso: é uma feira dos reencontros. Reencontros de amigos, famílias, gerações, memórias, marcas, experiências. A Feira de São Mateus pode bem ser a guardiã de todas as feiras populares do país! Aqui todos podem reencontrar a “sua” feira.

Jorge SobradoGestor da Marca Viseu que organiza certame

testemunhos

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apresentação moderna atenta aos vários públicos, àqueles que vol-tam à feira e à cidade por saudade, e onde se habituaram a ir desde pequeninos, até à atenção aos nos-sos emigrantes e na sua deslocação nesta altura do ano e que querem desfrutar da sua feira”, sublinha o autarca, reconhecendo que tudo é preparado no sentido de se “alargar públicos”. Ou seja, a organização quer uma feira que entre também no roteiro obrigatório dos portu-gueses, mas também dos cidadãos estrangeiros que visitam Viseu e o seu território, designadamente como é o caso da vizinha Espanha.“A organização tem desenvolvido um grande esforço de divulgação sobretudo entre Castela e Leão e Galiza para ter cada vez mais um público espanhol neste multisse-

cular certame.

Cinco semanas de animaçãoQuanto ao tempo de du-ração – cinco semanas –, Almeida Henriques é perentório: “atenden-do à dinâmica que ela tem, à importância que assume na eco-nomia da região, à tradição que man-tém, é importante que ela tenha esta duração de cinco se-manas”. “A feira acaba por abranger, numa primei-ra fase, sobre-tudo o emi-grante qu e regressa ao

país, numa segunda fase o turismo interno e externo e, numa terceira fase, os viseenses que também têm direito a desfrutar da sua feira. Ela tem que ter um espaçamento entre agosto e setembro que lhe permita chegar a estes três públicos”, reforça o autarca, adiantando que o cer-tame acaba por ter todos os dias coisas novas para se fazer. “E uma coisa que eu já estou em condições de garantir é que, este ano, a feira vai ter todos os dias um espetáculo e vai, inclusivamente, promover os artistas locais a par dos outros de cariz nacional e até internacional”, promete, reconhecendo que “é a Fei-ra de São Mateus a assumir-se como um festival urbano”.E todos estão de acordo quanto ao futuro: “em 2016, a Feira de São Mateus será ainda melhor”. Nesta edição, a feira prosseguirá o esfor-ço da sua revitalização e reforma, melhorando múltiplos aspetos da oferta de produto, de promoção e comunicação, assim como de aco-lhimento ao visitante. O projeto de reforma da feira tem ainda desafios de qualificação importantes e ne-les se inscrevem um conjunto de objetivos como a qualificação dos expositores; a internacionalização para o mercado espanhol; a anima-ção das avenidas; a renovação de

um cartaz de palco atrativo para todos os públicos; a melhoria

das condições de acolhimento de patrocinadores, um certa-

me de artesanato de relevo. Como sublinha o gestor da Viseu Marca, que assume a organização do certa-me, “tratando-se da feira franca viva mais antiga da Península Ibérica, ela contém muito da história

da cidade de Viseu e da sua identidade”. “Esse revivalis-

mo é central no projeto de revitalização do evento e no

seu posicionamento de comu-nicação, que é hoje mais urbano e

mais sedutor”, reforça Jorge Sobra-do.| Eduarda Macário

Feira de São Mateus: o “maior certame da Península Ibérica” faz 624 anos e quer ganhar Espanha

Cartazes que contam histórias...

A história da Feira de São Mateus tam-bém é contada pelos vários – e diferentes – cartazes que a pro-moviam. Este remon-ta a 1930.

... De um certame secularNascida em 1391, por carta de D. João I, tem no infante D. Henrique o seu pri-meiro e ilustre go-vernador. Torna-se rapidamente uma grande feira franca, de cariz económico, No século XVIII é considerada a mais importante feira do país. A feira perde importância na vi-ragem do século XX, sendo reanimada em 1927 segundo o modelo de feira-exposição.

Números que mostram impacto da feiraNa edição de 2015, a feira registou 950 mil entradas, com uma média diária de 23.715 pesso-as. Destas 950 mil, 37.644 são crianças que entraram nos 17 dias de feira com entradas pagas. E os números não se fi-cam por aqui. O site www.feirassaomateus.pt registou 120 mil visualizações entre julho e setembro de 2015.

A Feira de São Mateus é uma grande marca de Viseu e é um acontecimento todo especial. É uma feira popular, sim, mas é mais do que isso: é uma feira dos reencontros. Reencontros de amigos, famílias, gerações, memórias, marcas, experiências. A Feira de São Mateus pode bem ser a guardiã de todas as feiras populares do país! Aqui todos podem reencontrar a “sua” feira.

Dediquei 26 anos da minha vida a organizar a Feira de São Mateus, rodeado de uma equipa excecional que conseguiu dar aos milhares de visitantes aquilo que eles espe-ravam deste que é o maior certame do país. Dediquei-me de alma e coração à feira e não só. Criei muitos amigos e acho que cumpri com tudo aquilo que cada ano prometia aos nossos visitantes”. - (palavras na hora em que se despediu da organização da feira).

Jorge CarvalhoNa organização da feira durante 26 anos

curiosidades

Cinco semanas de animaçãoQuanto ao tempo de du-ração – cinco semanas –, Almeida Henriques é

-

manas”. “A feira acaba

les se inscrevem um conjunto de objetivos como a qualificação dos expositores; a internacionalização para o mercado espanhol; a animação das avenidas; a renovação de

um cartaz de palco atrativo para todos os públicos; a melhoria

das condições de acolhimento de patrocinadores, um certa

me de artesanato de relevo. Como sublinha o gestor da Viseu Marca, que assume

contém muito da história da cidade de Viseu e da sua

identidade”. “Esse revivalismo é central no projeto de

revitalização do evento e no seu posicionamento de comu

nicação, que é hoje mais urbano e mais sedutor”, reforça Jorge Sobrado.| Eduarda Macário

à volta

Montemuro:terra de gentes com história

Castela e Leão (Espanha) é um mercado a ganhar

Termas de S. Pedro do Sul afirmam-se no setor da saúde

Serra do Caramulo é um “mundo” a descobrir

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O Jardim do Paço é um ex-líbris da cidade do concelho, que só en-contra comparação, em termos identitários e de riqueza artística, no Bordado de Castelo Branco. De traçado Barroco, é um dos mais belos jardins do nosso país, um local cheio de simbolismo, onde é muito agradável passear ou descansar em qualquer época do ano.

Jardim do Paço Episcopal de Castelo BrancoDe residência de inverno a local de visita o ano todo

Classificado como Monumento Nacional, o Jardim do Paço Episcopal de Castelo Branco é hoje o principal ponto de atração de turistas à cidade. Importante marco na arquitetura barroca, onde o verde da vegetação se cruza com a estatutária em pedra, num percurso temático, de grande simbolismo religioso, histórico e mitológico. A água é elemento de ligação de todo o espaço, paredes meias com o recente Jardim Municipal, a ocupar as hortas do antigo paço episcopal

Mandado construir pelo bispo da Guarda D. João de Mendonça, por volta de 1720, o Jardim do Paço Episcopal é hoje o monumento mais visitado de Castelo Branco. Dedicado a S. João Batista (padroeiro), tem um estilo marcada-mente barroco – acredita-se que de influência italiana –, com a entrada atual a fazer-se pela rua Bartolomeu da Costa, nomeadamente, pelo Centro de Interpretação do Jardim, que serve de receção ao visitante.

Aqui, dá-se o primeiro contacto com algumas peças que faziam parte do local, entretanto recolhidas ao interior para melhor conserva-ção – caso dos frescos, que faziam parte das paredes exteriores.

No princípio do século passado, após a sepa-ração da Igreja do Estado, o jardim passa para a alçada da autarquia, lado a lado com o agora Museu Francisco Tavares Proença Júnior, antiga habitação de inverno da diocese.

No início, o jardim era então particular e de dimensão menor à atual. Passado o Centro de Interpretação (inaugurado em 2012), o visitan-te depara-se com os arcos do passadiço, recen-temente restaurados segundo a traça original, entrando no patamar mais recente do jardim, uma espécie de repositório de memórias. Cria-do na década de 30 do século XX pela câmara, este espaço mantém a geometria retangular, dominado pelos buxos e com os primeiros ele-

mentos da estatutária que abunda no espaço. Também aqui os painéis de azulejo chamam a atenção, em particular as ilustrações dos fundadores, antes da escadaria que conduz ao patamar superior.

Água: elemento de ligaçãoNo topo das escadas, o visitante depara-se

então com a grandeza do jardim, dominado por balcões e varandas, com guardas de ferro e balaústres de cantaria. O buxo domina a paisagem, de grande simbolismo religioso. As estátuas aqui presentes representam, entre outras, os cinco continentes, os signos do zodí-aco, as estações do ano ou virtudes do homem,

Luís Correia, Presidente da Câmara Municipalde Castelo Branco

Filia-se nos jardins barrocos portugueses e é absolutamente singular na Beira Baixa. Apesar do votado ao abandono a partir de 1834, chegou até nós com forte característica barroca e com os elementos primitivo que caraterizam essa sua feição. É um monumento de grande valor.

Leonel Azevedo, Investigador com publicações sobre o jardim

testemunhos

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antes de chegar ao primeiro dos cinco lagos aqui construídos – tantos quantas as chagas de Cristo – e bem perto das escadas laterais que ladeiam a residência, com 33 degraus – a idade de Cristo quando foi morto.

Subindo mais um patamar, encontramos en-tão as escadarias dos reis e dos apóstolos, do-minadas pela estatutária de um e outro lado.

Andando mais uns metros, o visitante entra então na zona do tanque das coroas (com três golfinhos entrelaçados, encimados por uma coroa), também ladeado por reis, onde predomina o tom amarelo, que caracte-riza o granito de Alcains, abundante em todo o espaço. Chega por fim à zona dos

apóstolos, onde se depara com os quatro evan-gelistas e seus atributos: S. Marcos, S. Mateus, S. Lucas e S. João.

Para além do grande simbolismo religio-so, outra das características do jardim é a importância hidráulica. O tanque grande é “alimentado” pela água que desce a cascata de Moisés, seguindo depois para os restantes lagos e repuxos do jardim, conduzida por uma rede subterrânea, que tira partido da gravida-de para circular.

No percurso para o último circuito da visita, somos invadidos pelo cheiro das várias árvo-res de fruto (limoeiros e laranjeiras), paredes meias com a segunda cintura de muralhas do castelo, chegando enfim ao Jardim Alagado.

Parque da cidade na antiga hortaAtravessando o passadiço da rua Bartolomeu

da Costa (antiga rua da Corredoura), temos acesso ao novo Parque da Cidade de Castelo Branco, que ocupa o espaço das hortas do paço episcopal, construído em 2003, aquando da aplicação do Programa Polis. Também aqui se mantém a simbologia da água, num espaço de lazer muito procurado pelos habitantes e que termina, metros abaixo, na Mata da Lou-reiro. É aqui que está o Arlequim de Manuel Cargaleiro, conjunto de painéis integrados numa fonte, que contemplam o poema “Can-tiga, Partindo-se”, da autoria de João Roiz de Castel-Branco.

Aqui à voltaAproveite a estada em Castelo Branco e dê

uma volta pelas ruas da cidade, passe pelas docas ou aprecie o património, como o

Cruzeiro de S. João, monumento nacional, exemplo da arquitetura manuelina,

que fica bem perto do Jardim do Paço Episcopal.

Pode ainda aproveitar a proximi-dade do Museu Francisco Tavares Proença Júnior ou visitar o Museu Cargaleiro, cujo principal objetivo é a divulgação, estudo e conservação das peças que integram o acervo da coleção de arte da Fundação Manuel

Cargaleiro, artista plástico, natural do concelho de Vila Velha de Ródão.

Está situado em plena zona histórica de Castelo Branco, constituído por dois

edif ícios: o Solar dos Cavaleiros (palacete do séc. XVIII) e outro contemporâneo.

| José Armando Torres

Jardim do Paço Episcopal de Castelo BrancoDe residência de inverno a local de visita o ano todo Estátua da

Rainha Santa IsabelNa escadaria dos monarcas, encima-da pelo Conde D. Henrique, está tam-bém caracterizada a Rainha Santa Isabel, ladeada por Filipe III, O Grande. A di-nastia dos Filipes de Espanha e o Cardeal D. Henrique, adepto da causa castelhana, estão no patamar fundeiro do jardim, representados por estátuas de menor dimensão (cerca de metade do tama-nho das restantes).

Da Igreja para a autarquiaEm 1911, o jardim passou para a tu-tela da autarquia, após a publicação da lei que estabele-ceu a separação da Igreja do Estado. Depois de oito anos de arrendamento, é comprado pela câ-mara e passa a deter estatuto de jardim municipal.

PassadiçoPara ligar os vários espaços da quinta, o passadiço foi cons-truído para ligar os vários espaços da quinta sem necessi-dade de passar por espaços públicos (nomeadamente a antiga rua da Cor-redoura), permitin-do ainda o acesso à casa de chá.

Filia-se nos jardins barrocos portugueses e é absolutamente singular na Beira Baixa. Apesar do votado ao abandono a partir de 1834, chegou até nós com forte característica barroca e com os elementos primitivo que caraterizam essa sua feição. É um monumento de grande valor.

O Jardim do Paço Episcopal é um verdadeiro ex-líbris de Castelo Branco, constituindo um dos mais notáveis jardins barrocos portu-gueses, onde se podem observar simbólicas estátuas de granito e surpreendentes jogos de água entre os recortes dos canteiros de buxo.

Sílvia Moreira,Arqueóloga da Câmara de Castelo Branco

curiosidades

DB-Carlos Jorge Monteiro

Aqui à voltaAproveite a estada em Castelo Branco e dê

uma volta pelas ruas da cidade, passe pelas docas ou aprecie o património, como o

Cruzeiro de S. João, monumento nacional, exemplo da arquitetura manuelina,

que fica bem perto do Jardim do Paço Episcopal.

dade do Museu Francisco Tavares

coleção de arte da Fundação Manuel Cargaleiro, artista plástico, natural

do concelho de Vila Velha de Ródão. Está situado em plena zona histórica

de Castelo Branco, constituído por dois edif ícios: o Solar dos Cavaleiros (palacete

do séc. XVIII) e outro contemporâneo. | José Armando Torres

à voltaMuseu Cargaleiro

Museu Francisco TavaresProençaJúnior

Docas

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Está na zona de Covões [Cantanhede] e eu digo que o leitão de Covões tem particularidades históricas diferentes do leitão da zona da Mealhada ou do de Águeda, apesar dos ingredientes utilizados serem praticamente os mesmos. O leitão é o prato tra-dicional de uma região mais cobiçado e copiado a nível nacional.

Leitão da Bairrada O rei da gastronomia de uma região

O leitão da Bairrada é uma das sete Maravilhas Gastronómicas. No passado, este prato típico bairradino apenas era consumido em dias festivos e em casas abastadas. Em 1910 poucas eram as pessoas que já tinham provado leitão assado. O leitão mantém a sua qualidade devido à escolha das raças que são utilizadas para a sua confeção, sendo que tradicionalmente a raça utilizada era o bísaro.Até ao final do século passado, a preparação do leitão era feita de forma artesanal

Com séculos de tradição, o leitão assado continua a ser a maior ri-queza gastronómica da região da Bairrada, que abarca os concelhos de Oliveira do Bairro, Anadia, Águe-da, Cantanhede e Mealhada. Nos dias de hoje, não há registos sobre a origem do leitão, havendo mes-mo mais do que uma versão sobre porque é que esta iguaria nasce na Bairrada.

António Duque, da Confraria Gas-tronómica do Leitão da Bairrada, esclarece que o aparecimento do leitão assado está relacionado com a Casa Bairradina. “É das poucas casa que tem o forno dentro da co-zinha e, por isso, todos os pratos que nascem na Bairrada têm a ver com forno”, explica, dando como exemplo a chanfana, que é o prato

mais antigo da região. “Por estra-nho que pareça, o leitão é o prato mais emblemático da Bairrada, mas o mais antigo é a chanfana”, reforça. Antigamente, o leitão só era servido numa ocasião muito especial e não o era em todas as casas. O mesmo não acontece nos dias de hoje, pois nos restaurantes da região da Bairrada este prato existe diariamente. António Duque conta que há registos de 1910, que relatam que havia “muito pouca gente a ter provado leitão”, enquan-to que a chanfana era um prato acessível a todos.

Confraria luta pela qualidade do leitão

O “boom” no consumo do leitão foi um dos motivos que levou à cria-

ção da Confraria Gastronómica do Leitão da Bairrada, com sede em Sangalhos, em 1995. “A confraria nasce por vontade de um grupo de amigos, já na altura, preocupados com a qualidade do leitão”, lem-bra António Duque, que é um dos confrades fundador. Atualmente, a instituição conta com 35 confrades e tem desenvolvido um conjunto de ações com vista à defesa do leitão da Bairrada. Esta confraria tem a particularidade dos seus confrades não terem quaisquer ligações ao setor do leitão. “Hoje procurou-se um produto que desse mais lucro ao comerciante e cá está a confra-ria a tentar defender essa questão para que no assar o leitão possamos ter uma qualidade mais regular”, defende.

“O leitão nasce como uma iguaria ímpar na Bairrada”, manifesta. O mesmo prato é confecionado de maneira diferente em diversas zo-nas da mesma região. “Está na zona de Covões [Cantanhede] e eu digo que o leitão de Covões tem particu-laridades históricas diferentes do leitão da zona da Mealhada ou do de Águeda, apesar dos ingredien-tes utilizados serem praticamen-te os mesmos”, esclarece António Duque. A base do tempero inclui banha de porco, sal, pimenta e alho.

Sobre a raça utilizada para confe-cionar o leitão assado na Bairrada, António Duque revela que a raça que predominava, na altura, era o bísaro. Trata-se de um leitão pernal-ta sendo uma raça de crescimento lento, de engorda dif ícil e resulta

António Duque, presidente da Confraria Gastronómica do Leitão da Bairrada

O leitão é já uma marca da Bairrada e é, de uma forma natural, uma marca da Mealhada. Criámos a marca 4 Maravilhas da Mesa da Mealhada, na qual juntamos quatro produtos de excelência – pão, água, vinho e leitão -, mas todos estes produtos já tinham criado por si só, pela sua qualidade e diferenciação, esta referência gastronómica a nível nacional. O leitão é mais um fator de atratividade que pode potenciar o turismo e a economia da nossa região.

Rui Marqueiro, presidente da Associação Maravilhas da Mealhada

testemunhos

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numa carne atoucinhada e mais en-tremeada. Por estas razões, António Duque admite que o bísaro não é uma raça de lucro. “Mas nós temos diversas raças e cada uma tem as suas características próprias”, diz.

Quatro quilos é peso “excelente”O peso do leitão quando sai da

pocilga deve ter, segundo o repre-sentante da confraria, entre nove a 10 quilos, sendo que depois de morto o leitão dá cerca de metade. “Quatro quilos é um peso excelente do leitão”, assume. A alimentação do leitão, até atingir este peso, é cerca de seis semanas. “Um bísaro tem quase mais uma semana e meia para atingir este peso”, compara, sendo, por isso, uma raça pouco lucrativa para o comerciante.

Até ao final do século passado, a preparação do leitão era feita de forma artesanal, facto que foi evoluindo ao longo dos tempos por imposições le-gais. “A alimentação do leitão tem que ser mui-to cuidada e hoje não é cuidada”, adverte, dando como exemplo a vulgarização do uso da ração de engorda ao in-vés da tradicional lava-gem que os agricultores usavam para alimentar os animais. Outra das mudanças está relacio-nada com a utilização da vara de louro no as-sar, passando, depois, para a vara de pinheiro

e, depois, o ferro, sendo que hoje em dia é utilizado o inox. “Acha que é a mesma coisa assar o leitão com os aromas de um pau de louro ou uma vara de aço de inox”, questio-na. Também a banha utilizada para temperar o leitão é diferente, sendo que a de hoje é industrial.

“Há duas maneiras de servir o lei-tão: ou quente ou frio, nunca aque-cido”, assume António Duque. Os derivados do leitão assado são a ca-bidela, as iscas e a feijoada. É ainda vulgar a existência de croquetes e rissóis de leitão nos estabelecimen-tos da restauração. Recorde-se que, há cerca de 10 anos, a confraria através dos chefs confrades criaram um produto chamado Pãozinho de Leitão. Trata-se de um pão da avó que contém bocadinhos de leitão. É comprado pré-congelado e basta por no forno para ser consumido. “Foi uma inovação da confraria que tem muito sucesso”, revela.

No passado, a Confraria Gastro-nómica do Leitão da Bairrada ten-tou certificar o produto leitão da Bairrada. Porém, “não é possível certificar um produto de uma re-gião quando se vai buscar a maté-ria-prima a outra região”, denuncia António Duque, explicando que a certificação exige que, no mínimo,

55 por cento do leitão consumido na Bairrada seja criado nesta

região. Tal não acontece, pois a taxa não vai além dos cin-

co por cento.“O leitão é o prato tra-dicional de uma região mais cobiçado e copia-do a nível nacional”, considera António Duque, acrescentando que “há pessoas a uti-lizarem o nome leitão

da Bairrada e a região não lucra nada com

isso”. A solução, conclui, seria certificar o termo lei-

tão da Bairrada para que a sua utilização pudesse trazer

uma mais-valia à região. | Joana Santos

Leitão da Bairrada O rei da gastronomia de uma região

Cabidela dos pobres e cabidela dos ricosNo século 19, existia a cabidela de leitão dos pobres e dos ricos. A cabidela dos pobres era feita também no forno dentro de uma caçoila de barro preto. Uma concha de molho com um prato de batatas, que era o que predominava na zona, era a alimen-tação de uma pessoa. Já a cabidela dos ricos era confecionada num ta-buleiro e incluía batata e as miudezas do leitão. O tabuleiro ia ao forno ao mesmo tempo que as-sava o leitão. E, por isso, recebia a gordura que ia caindo do leitão. Para além da cabidela, exis-tem outros pratos deri-vados do leitão como as iscas e a feijoada.

Só cinco por cento do leitão consumido é criado na BairradaDe acordo com António Duque, representante da Confraria Gastronómica do Leitão da Bairrada, só cinco por cento do leitão consumido na Bairrada é criado na região. Tal fac-to impede a certificação do produto pois é exigi-do que, no mínimo, 55 por cento do leitão que é consumido na Bairrada seja criado nesta região. “Não é possível certificar um produto de uma re-gião quando se vai bus-car a matéria-prima a outra região”, denuncia António Duque, acres-centando que “o leitão é o prato tradicional de uma região mais cobiça-do e copiado a nível na-cional”. António Duque revela que “há pessoas a utilizarem o nome lei-tão da Bairrada e a região não lucra nada com isso”. A solução passa por cer-tificar o termo leitão da Bairrada para que a sua utilização possa trazer uma mais-valia.

O leitão é já uma marca da Bairrada e é, de uma forma natural, uma marca da Mealhada. Criámos a marca 4 Maravilhas da Mesa da Mealhada, na qual juntamos quatro produtos de excelência – pão, água, vinho e leitão -, mas todos estes produtos já tinham criado por si só, pela sua qualidade e diferenciação, esta referência gastronómica a nível nacional. O leitão é mais um fator de atratividade que pode potenciar o turismo e a economia da nossa região.

As casas que oferecem um leitão de qualidade conseguem manter os clientes. Aqui, ainda con-seguimos ter algum leitão local. A Mealhada tem alguma responsabilidade na dinamização do leitão da Bairrada.

Ricardo Nogueira, assador de leitão e empresário

curiosidades

Até ao final do século passado, a preparação do leitão era feita de forma artesanal, facto que foi evoluindo ao longo dos tempos por imposições le-gais. “A alimentação do

usavam para alimentar

ria-prima a outra região”, denuncia António Duque, explicando que a certificação exige que, no mínimo,

55 por cento do leitão consumido na Bairrada seja criado nesta

região. Tal não acontece, pois a taxa não vai além dos cin

co por cento.“O leitão é o prato tradicional de uma região mais cobiçado e copia

lizarem o nome leitão da Bairrada e a região

não lucra nada com isso”. A solução, conclui,

seria certificar o termo leitão da Bairrada para que a

sua utilização pudesse trazer uma mais-valia à região.

| Joana Santos

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Cabidela de leitão é um prato muito apreciado na região

Tradicionalmente, é a batata que acompanha o leitão

Forno é elemento que define a origem do leitão assado

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É o monumento mais visitado na esfera da Direção Geral do Património Cultural. Em 2015, conheceram o mosteiro mais de 330.000 pessoas, o que correspondeu a um aumento de 10 por cento em relação ao ano anterior. Cerca de 80 por cento dos visitantes são estrangeiros.

Mosteiro da Batalha inscreve-se na maiorrealização do estilo gótico em toda a Europa

Promessa de D. João I a Nossa Senhora, em caso de vitória frente aos castelhanos, o Mosteiro de Santa Maria da Vitória é uma das principais obras arquitetónicas do estilo gótico. Em 1983, passou a poder usar a chancela de “Património Mundial da Unesco”, o que o torna um dos principais exlíbris da região. A proximidade com o tráfego automóvel da antiga EN1 é um dos problemas com que os responsáveis se têm defrontado ao longo dos últimos anos

Temos de recuar até 1385 para en-contrarmos o início da história do Mosteiro da batalha. Nessa altura, o rei D. João I prometeu que iria construir este monumento como formas de agradecimento em caso de vitória em Aljubarrota. Uma batalha vitoriosa travada no dia 14 de agosto de 1385, mas que lhe assegurou o trono e a independên-cia de Portugal.

O projeto inicial do mosteiro, que compreendia a igreja, um claustro e as respetivas dependên-cias, deve-se a Afonso Domingues, mestre português que dirigiu a obra até ao ano de 1402. Huguet,

mestre construtor que se pensa ter vindo da Catalunha, sucedeu a Domingues e dirigiu o estaleiro de obra até ao ano de 1438. Nes-te período, concluíu os edif ícios começados por Domingues e o projeto e construção da Capela do Fundador, um edif ício estética e tecnicamente totalmente inova-dor no panorama da arquitetura tardo-medieval portuguesa.

O terceiro impulso criativo no Mosteiro coube a Fernão de Évo-ra. Este mestre foi o responsável pelo Claustro de D. Afonso V, que representa o “despojamento ines-perado na evolução do gótico”.

O momento criativo naquele conjunto escultórico não se ficou na sua construção. Por exemplo, a Batalha foi a grande escola das artes do país, nela se tendo for-mado numerosos artistas e operá-rios que vieram depois a trabalhar noutros edif ícios. Por exemplo, os primeiros vitrais construídos em Portugal foram-no também para o Mosteiro da Batalha, sendo os mesmos atribuídos ao mestre Luís, o Alemão.

Mateus Fernandes, arquiteto, in-troduziu no início do século XVI o estilo manuelino naquele mo-numento. O portal das Capelas

Imperfeitas é o verdadeiro exem-plo, tendo sido considerado “um momento do Gótico final, com caraterísticas nacionais” e que se encontra bem patente na cons-trução do Mosteiro dos Jerónimos.

A construção do monumento concentrou os recursos e a mão de obra especializada do reina-do de D. Manuel, levando a que, por exemplo, não tivessem sido concluídas as Capelas Imperfei-tas. Encomendadas por D. Duarte a Huguet para aí colocar o novo Panteão Régio, estas capelas ainda tiveram um impulso no período de D. Manuel, mas o rei preferiu o

Joaquim Ruivo Diretor do Mosteiro da Batalha

Um estudo do Laboratório de Ruído e Vibrações apurou que as medições de ruído ambiente no monumento revelavam valores muito acima dos permitidos por lei para o local. No meu entender, foram gastos milhões de euros numa alternativa rodoviária (A19) que, afinal, não assegura a preservação do monumento.

Paulo Batista Presidente da Câmara Municipal da Batalha

testemunhos

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19-03-2016 | diário as beiras 22 ex-líbris da região Centro | especial | 37

monumento lisboeta.No século XVIII, a Batalha foi “o

primeiro edif ício monumental europeu do género a merecer um levantamento gráfico de grande pormenor, realizado e publicado pelo arquitecto irlandês James Murphy, sob a forma de monogra-fia, precedendo a edição de várias obras congéneres sobre as cate-drais góticas inglesas”, afirmou o conservador do monumento, Pedro Redol.

Os vários acrescentos introduzi-dos no projeto inicial levaram a que este conjunto monástico seja agora composto por uma igreja,

dois claustros com de-pendências anexas e dois panteões reais, a Capela do Fundador e as Capelas Imper-feitas. “O reconhe-cimento da origi-nalidade do bem cultural, associada ao génio criativo da humanidade” foi o principal m o t i v o p a r a que a Batalha fosse classifi-cada em 1983 como Patrimó-

nio Mundial da Unesco.

Trânsito na antiga EN1preocupa responsáveis

Uma das questões mais discu-tidas nos últimos tempos diz respeito ao aumento do tráfego automóvel na antiga EN1. Respon-sáveis governamentais chegaram mesmo a anunciar a apresentação de medidas restritivas ao trân-sito pesado naquela zona. Tudo porque, como lembrou o presi-dente da câmara da Batalha Paulo Baptista, um estudo do Laborató-rio de Ruído e Vibrações detetou que “nalguns espaços abertos do monumento valores registavam resultados muito acima do per-mitido por lei”.

Como tal, o autarca entende que “urgem ser aplicadas medidas pre-ventivas, capazes de minimizar os resultados que o referido estudo demonstra, atendendo ao facto de o Mosteiro da Batalha, classificado como Património da Humanidade pela UNESCO, estar a degradar-se”.

Joaquim Ruivo, diretor do Mos-teiro da Batalha, acompanha as preocupações do autarca. Uma das questões que tem de ser escla-recida diz respeito às trepidações, de que tanto se fala, mas cujo real impacto ainda “está por esclare-

cer”.Em 2015, o município apre-

sentou duas solu-ções para este pro-blema. Uma delas passava, segundo Pa u l o B a p t i s t a , pela “modulação

das portagens da A19, com descon-tos e reduções no valor das porta-gens para as via-turas pesadas”. Por outro lado, “uma interven-ção preventiva no

IC2/EN1, em toda a zona frontal ao Mosteiro da Batalha”.| António Alves

Mosteiro da Batalha inscreve-se na maiorrealização do estilo gótico em toda a Europa

Homenagemao soldado desconhecido

Para simbolizar “o sacrif ício heróico d o p o v o p o r t u -guês”, o Mosteiro da Batalha foi esco-lhido para fiel guar-dião do Soldado Desconhecido. Na abóbada da Casa do Capítulo e alumia-do pela “Chama da Pátria” do Lampa-dário Monumental, o túmulo tem guar-da de honra.

Abóboda nunca caiuA lenda diz que a construção da abó-boda da casa do ca-pítulo do Convento não foi fácil de con-cretizar. Segundo Alexandre Hercu-lano, o arquiteto Afonso Domingues quis morrer na céle-bre sala, em cumpri-mento de um voto fatal, embora não sem antes concluir com a célebre fra-se: “A Abóbada não caiu, a abóbada não cairá!”.

Influência da CatalunhaA Batalha foi, ao longo de mais de um século, centro de receção e difusão de correntes artís-ticas, funcionando, do mesmo modo que os estaleiros das catedrais europeias, como escola para os mais diversos pro-fissionais de arqui-tetura e construção. Não é de estranhar o facto do monumen-to lembrar vários edifícios quatrocen-tistas da Catalunha.

Um estudo do Laboratório de Ruído e Vibrações apurou que as medições de ruído ambiente no monumento revelavam valores muito acima dos permitidos por lei para o local. No meu entender, foram gastos milhões de euros numa alternativa rodoviária (A19) que, afinal, não assegura a preservação do monumento.

No século XVIII foi o primeiro edifício monumental europeu do género a merecer um levantamento gráfico de grande pormenor, realizado e publicado pelo arquitecto irlandês James Murphy, sob a forma de monografia, precedendo a edição de várias obras congéneres sobre as catedrais góticas inglesas.

Pedro RedolConservador do monumento

curiosidades

DB-A.A.

dois claustros com de-pendências anexas e

das questões que tem de ser esclarecida diz respeito às trepidações, de que tanto se fala, mas cujo real impacto ainda “está por esclare

cer”.Em 2015, o município apre

IC2/EN1, em toda a zona frontal ao Mosteiro da Batalha”.| António Alves

à volta

Aldeia típica Pia de Urso

Grutas da Moeda, em S. Mamede

Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota (CIBA)

Museu da Comunidade Concelhia da Batalha

“Plans, Elevations, Sections and Views of the Church of Batalha”

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Q

40 | especial | 22 ex-líbris da região Centro

O futuro hotel de charme, previsto para o Mosteiro de Alcobaça, em conjunto com o Parque Verde, dois pro-jetos nos quais me tenho empenhado particularmente, vão causar um profunda regeneração urbana na cidade, com impactos positivos nas gerações atuais e vindouras.

Mosteiro de Alcobaça Monumento único perpetua o amor de Pedro e Inês

Enorme. Tanto no tamanho das várias dependências medievais como na beleza da sua arquitetura. Não é por acaso que o Mosteiro de Alcobaça está classificado como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, é monumento nacional desde 1910 e foi eleito como uma das sete maravilhas de PortugalComemora atualmente os 25 anos da sua classificação Património Mundial com a realização de diversas iniciativas

Quem visita pela primeira vez o Mosteiro de Santa Maria de Alco-baça não consegue, olhando o seu exterior, imaginar as singularida-des que encerra aquele monumen-to que é, desde 1989, Património Mundial da UNESCO. Aprecia, apenas, a sua grande dimensão. O mosteiro tem cerca de 220 metros de cumprimento e três corpos: a igreja, cuja fachada chega aos 43 metros de altura, e as alas norte e sul, onde se situavam, respetiva-mente, os aposentos dos reis e da corte em visita, e as residências do abade e dos monges.

Mas quando se transpõe a porta de entrada, que conduz à igreja, é

inevitável o espanto perante a pu-reza das linhas da arquitetura gó-tica e a luminosidade que perpas-sa através das rosáceas e janelões. Uma admiração que cresce quando nos percursos da nave central e das duas naves laterais da igreja, todas com cerca de 20 metros de altura, se admira a beleza dos túmulos de D. Pedro I e D. Inês de Castro, que encerram um dos mais belos e trágicos amores da História de Portugal. Durante a Invasão Fran-cesa de 1810 os dois túmulos fo-ram profanados pelos soldados e muito danificados, marcas que o minucioso restauro não conseguiu reparar.

Todas as dependências medie-vais do Mosteiro de Alcobaça, bem conservadas, são visitáveis, o que significa várias horas, sem cansaço, de encontros com a História.

Maior igreja de PortugalDepois da visita à igreja, a maior

de Portugal – e uma das três maio-res abadias cistercienses constru-ídas na Europa, uma das quais já desapareceu –, o circuito leva-nos à majestosa Sala dos Reis, ao Claus-tro de D. Dinis ou Claustro do Silên-cio, à Sala dos Monges, ao amplo dormitório e à magnífica cozinha, dotada de água corrente, que os monges canalizavam através de um

braço lateral artificial do rio Alcoa, e de grandes bacias de pedra. Mas o mosteiro encerra outras depen-dências admiráveis, como o lavabo, com um poço de água corrente, ou os jardins amplos e desenhados.

O Mosteiro de Alcobaça recebeu, no ano passado, cerca de 200 mil visitantes, segundo dados da Dire-ção Geral do Património Cultural. É considerado um dos maiores e mais bem conservados conjuntos da Ordem de Cister em toda a Eu-ropa.

Nos últimos anos, o seu interior tem sido alvo de uma relevante e visível intervenção de restauro, que prossegue, a cargo da Direção

Paulo InácioPresidente da Câmara Municipal de Alcobaça

Um dos objetivos é reforçar a programação cultural do Mosteiro de Alcobaça, em ligação à comunidade e ao mundo cisterciense, um património comum que já envolve 200 abadias de mais de 11 países. As conferências e exposição assumem enorme importância para esta nova estratégia, que visa a afirmação da identidade deste monumento: o mundo cisterciense.

Ana PagaráDiretora do Mosteiro de Alcobaça

testemunhos

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19-03-2016 | diário as beiras 22 ex-líbris da região Centro | especial | 41

Geral do Património Cultural.O mosteiro está ligado à inde-

pendência do reino de Portugal. Foi fundado pelo primeiro rei, D. Afonso Henriques, por doação a Bernardo de Claraval, o grande im-pulsionador da Ordem de Cister. A fundação da Abadia de Santa Ma-ria de Alcobaça data de 8 de abril de 1153 e a sua construção, para que a expansão cristã continuas-se para sul, foi iniciada em 1178, tendo sido concluída cerca de 100 anos depois. As várias dependên-cias medievais fazem do Mosteiro de Alcobaça um conjunto único no mundo, a que acrescem as edi-ficações posteriores, dos séculos

XVI a XVIII. Em 1834, com a publicação do

decreto de supressão de todas as ordens religiosas de Portugal, os monges foram forçados a aban-donar o mosteiro. Este é vendi-do em hasta pública, repartido e ocupado, tendo tido as mais variadas funções. Albergou a câ-mara municipal, tribunal, prisão, escolas primária e secundária, biblioteca municipal, residência para idosos, bancos, entre outros serviços públicos e várias lojas. O refeitório foi trans-formado em teatro du-rante cerca de noventa

anos. Instituições militares ocuparam os claustros do Cardeal e do Rachadouro, incluindo o Dormitório Me-dieval e a Sala do Capítulo.

Quase um século depois do desmembramento dos edif ícios que compõem o mosteiro, em 1929, a então Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais reiniciou o complexo pro-cesso de reagrupar este va-lioso património arquite-tónico.

Hotel de charmeAgora, o Mosteiro de Alco-

baça prepara-se para rece-ber um hotel de charme, na zona do Claustro do Racha-douro e jardins envolventes. O projeto, da autoria do ar-quiteto Souto Moura, “está neste momento em fase de avaliação pela Direção-Geral do Património Cultu-ral”, adianta Paulo Inácio, presidente da Câmara de Alcobaça.

“O futuro hotel é uma oportunidade histórica para dinamizar de uma forma significativa toda a

nossa região. É um pro-jeto que valoriza a

cidade, o concelho e, naturalmente,

o seu Mosteiro de Alcobaça, pois verá ser reabilitado o espaço onde será instala-do o hotel. O facto de esta unida-de hoteleira

ter assinatura do arquiteto

Souto de Moura é também uma

garantia de quali-dade”.

| Dora Loureiro

Mosteiro de Alcobaça Monumento único perpetua o amor de Pedro e Inês

Louça típica de Alcobaça

As fábricas da re-gião de Alcobaça desenvolvem, nas décadas de 40 e 50, uma pintura em que a cor predominante é o azul. A chama-da “Louça Artística de Alcobaça” ainda hoje se encontra à venda em todo o país.

Licores e doces conventuais

São delícias e segre-dos criados através de múltiplas expe-riências, de longa prática e dedicação, de paciência e devo-ção. Divulgando a tradição gastronó-mica herdada dos monges e monjas cistercienses dos Conventos de Alco-baça e Cós, a câma-ra, em parceria com o mosteiro, promo-ve anualmente a Mostra de Licores e Doces Conventuais, desde 1999.

Maçã de Alcobaça

A Maçã de Alcobaça é a mais famosa das maçãs portuguesas e tem a designação de IGP – Indicação Geográfica Prote-gida”. Qualificada pela União Euro-peia e pelo Ministé-rio da Agricultura em 1994, esta maçã possui caraterísticas únicas.

Um dos objetivos é reforçar a programação cultural do Mosteiro de Alcobaça, em ligação à comunidade e ao mundo cisterciense, um património comum que já envolve 200 abadias de mais de 11 países. As conferências e exposição assumem enorme importância para esta nova estratégia, que visa a afirmação da identidade deste monumento: o mundo cisterciense.

O arquiteto Eduardo Souto Moura é o autor do projeto do hotel de charme que será instalado no claustro do Rachadouro, uma das alas do Mosteiro de Alcobaça. O hotel, um empreendimento da Visabeira, terá cerca de 80 quartos, representa um investimento de 15 milhões de euros e deverá ter a classificação de cinco estrelas.

Souto Moura Arquiteto

curiosidades

@ José Meneses

Em 1834, com a publicação do decreto de supressão de todas as

biblioteca municipal, residência

oportunidade histórica para dinamizar de uma forma significativa toda a

nossa região. É um proforma significativa toda a

nossa região. É um proforma significativa toda a

jeto que valoriza a cidade, o concelho

e, naturalmente, o seu Mosteiro

de Alcobaça, pois verá ser reabilitado o

esta unidade hoteleira

ter assinatura do arquiteto

Souto de Moura é também uma

garantia de qualidade”.

| Dora Loureiro

à volta

Nazaré e a onda gigante que o surfista Garrett McNamara tornou famosa

Ali perto, as praias, entre elas a baía de S. Martinho do Porto

Caldas da Rainha e a louça pitoresca

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diário as beiras | 19-03-2016

aniversário

C

42 | especial | 22 ex-líbris da região Centro

Conimbriga é um caso raro, mesmo a nível do antigo império romano, de uma cidade que foi abandonada relativamente cedo, no início da Idade Média, e que ficou disponível para investigação, tendo me-recido a atenção de alguns dos grandes humanistas portugueses, como André de Resende e D. Francisco Manuel de Melo.

Museu Monográfico de Conimbriga A marcar aciência da arqueologia clássica a nível internacional

Numa história que recua ao século I a. C. e começa a afirmar-se enquanto património arqueológico nos anos 30 do século XX, as ruínas e o Museu Monográfico de Conimbriga, em Condeixa, são, hoje, um sítio ímpar para os amantes da história e para todos os que se rendem aos segredos milenares que as pedras e os espaços amplos têm para contar. Para um futuro que se deseja próximo, o projeto de intervenção que irá por a descoberto o mais significativo anfiteatro do mundo romano em território português

Conimbriga, a cidade romana que floresceu nos limites do império desde meados do século I a. C até às invasões bárbaras de 465 e 468, é há décadas um sítio de eleição para quem tem o gosto pela história e o fascínio pelas pedras e os amplos espaços onde é possível reinventar vidas, afetos e ofícios.

Exemplar em Portugal e na Euro-pa, Conimbriga é, para Virgílio Cor-reia, “um caso relativamente raro, mesmo a nível do antigo império romano, de uma cidade que foi abandonada relativamente cedo, nos inícios da Idade Média, e que ficou disponível para investigação

futura”, o que aconteceu logo nos primeiros anos do século XX.

Facto é que a grande maioria das cidades romanas estão debaixo de algumas das nossas cidades. Lis-boa, Braga, Évora, Coimbra, estão edificadas sobre cidades romanas, “com uma taxa de destruição dos vestígios antigos muitíssimo su-perior ao que aconteceu noutros lugares”. E, sobretudo, como refere o diretor do Museu Monográfico de Conimbriga, “não se pode retirar as pessoas para escavar debaixo das suas casas”. O que não aconteceu em Conimbriga, “que sempre es-teve completamente disponível”.

Conimbriga foi identificada como cidade romana no século XVI, um reconhecimento relativa-mente precoce, o que também não é muito comum, sobretudo em Por-tugal. Desde essa altura, Conimbri-ga sempre esteve próxima daquela que foi durante muitos séculos a única universidade portuguesa e, de facto, “o centro onde estavam os estudiosos das antiguidades”. O que fez com que a cidade sem-pre tivesse estado num “elevado patamar de conhecimento”, com o interesse de alguns dos grandes humanistas portugueses, como André de Resende ou D. Francisco

Manuel de Melo.Estas circunstâncias acabam por

“trazer” Conimbriga para o século XIX. Logo desde 1860/1870, expli-ca Virgílio Correia, “passa a haver uma enorme preocupação com a cidade de Conimbriga, tendo o Ins-tituto de Coimbra criado um mu-seu para onde são encaminhados os materiais recolhidos entre as ruínas”. Curiosamente, o primeiro catálogo dos objetos desse museu fará 150 anos em 2017, referindo já achados de Conimbriga, dois dos quais ainda sobrevivem: uma lápi-de (exposta no Museu Monográfico de Conimbriga) e uma ânfora (em

Virgílio Correia, diretor do Museu Monográfico de Conimbriga

Logo em 1962, data da sua fundação, o Museu Monográfico de Conimbriga foi pioneiro e foi muito importante a nível nacional e internacional. Sobretudo com a remodelação e a posterior reabertura, em 1984, este era, indiscutivelmente, o melhor museu de arqueologia da Península Ibérica. E dos melhores museus de arqueologia da Europa, sem dúvida, o que colocou uma fasquia muito alta a Conimbriga.

testemunhos

Page 43: DB Aniversário 2016

19-03-2016 | diário as beiras

reserva). Estamos, portanto, “a fa-lar de 150 anos de conhecimento sistemático e documentado”.

“Absolutamente pioneiro”Em termos de investigação cien-

tífica moderna, lembra o respon-sável, nos anos 60 e 70 do século XX, com a criação do Museu Mo-nográfico de Conimbriga – abso-lutamente pioneiro no país –, o seu primeiro diretor, João Bairrão Oleiro, “montou uma colaboração extraordinária com uma equipa francesa, que trouxe para Portugal a arqueologia clássica feita com as técnicas mais modernas, perfei-

tamente pioneiras e de ponta”, com direção do grande especialista da altura Robert Étienne.

Conimbriga ascen-deu, então, ao “pri-meiro plano do que era a ciência da arque-ologia clássica a nível internacional”.

Logo em 1962, na sua fundação, o Mu-seu Monográfico de Conimbriga foi pioneiro em Portugal e foi m u i t o i m p o r -

tante. Mas, sobretudo com a remodelação e a reabertura em 1984, “este era, indiscu-tivelmente, o melhor museu de arqueologia da Penínsu-la Ibérica. E dos melhores museus de arqueologia da Europa, o que colocou uma fasquia muito alta a Conim-briga”.

O facto é que, ao longo das décadas, Conimbriga con-tribuiu muito para a edu-cação do gosto pela arqueo-logia e de um determinado público. Teve, inclusivamen-te, diz Virgílio Correia, “um efeito reprodutor, no sen-tido de que muitas pessoas viram o que se podia fazer e fazer bem com uma coleção que, não sendo melhor que outras, se encontra muito bem estudada e muito bem apresentada ao público”.

Apesar de manifestar algu-mas dúvidas relativamente “à consciência que os visi-tantes terão sobre o fun-damento de conhecimen-to científico aprofundado que permite apresentar a coleção – com cerca de 1500 peças –, da forma que esta é apresentada”, Virgílio Cor-reia assegura que Conimbri-ga “mostrou aos restantes responsáveis dos museus como deve fazer-se e ao público o que pode e deve

esperar de outros museus”.A manter-se entre os museus mais visitados no país, foi em 1999 que Conimbriga atingiu um número recorde a rondar os 200 mil. Des-de então, a tendência de perda de público é

“preocupante”, sobre-tudo porque reflete “um

desinvestimento real da escola” neste que é um re-

curso cultural e um recurso educativo ímpar em Portugal

e na Europa. | Lídia Pereira

22 ex-líbris da região Centro | especial | 43

Museu Monográfico de Conimbriga A marcar aciência da arqueologia clássica a nível internacional

Conimbrigae PO.ROS: conhecer o mundo romanoConimbriga é um museu dos anos 80, não tem interativi-dade. O PO.ROS - Museu Multimédia Portugal Romano e Sicó, a abrir portas e m C o n d e i x a - a -Nova, é um projeto com uma grande vertente de interati-vidade e tecnologia. A intenção, num projeto assumida-mente complemen-tar, é permitir um enquadramento mais geral do mun-do romano no seu todo, do que aque-le, particular, que Conimbriga dá a conhecer.

Parque urbanoem projeto

Conimbriga já não é um “sítio no meio do campo” e o ob-jetivo é criar um parque urbano, li-gado diretamente a Condeixa-a-Velha através do anfitea-tro romano, de for-ma a que os visitan-tes possam circular através dos dois po-los (aldeia e ruínas). O apoio secundário ao público de Co-nimbriga promete ser uma atividade económica funda-mental para Con-deixa-a-Velha.

Quinto museu mais visitado em todo o país O Museu Monográ-fico de Conimbri-ga foi, em 2015, o quinto mais visita-do em todo o país, com um registo de 87.659 entradas e o mais procurado en-tre os museus fora de Lisboa.

Logo em 1962, data da sua fundação, o Museu Monográfico de Conimbriga foi pioneiro e foi muito importante a nível nacional e internacional. Sobretudo com a remodelação e a posterior reabertura, em 1984, este era, indiscutivelmente, o melhor museu de arqueologia da Península Ibérica. E dos melhores museus de arqueologia da Europa, sem dúvida, o que colocou uma fasquia muito alta a Conimbriga.

A candidatura de Conimbriga a Património Mundial é um grande passo para Condeixa-a-Nova e para a valorização de um patri-mónio cultural único da época romana. Conimbriga é uma herança milenar das terras de Condeixa, uma herança que nós queremos ver reconhecida e potenciada, reunindo colaborações e parcerias.

Nuno Moita, presidente da Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova

curiosidades

POROS

Vila Romana do Rabaçal

DB-Carlos Jorge Monteiro

tamente pioneiras e de ponta”, com direção do

Logo em 1962, na sua

peças –, da forma que esta é apresentada”, Virgílio Correia assegura que Conimbriga “mostrou aos restantes responsáveis dos museus como deve fazer-se e ao público o que pode e deve

esperar de outros museus”.A manter-se entre os museus mais visitados no país, foi em 1999 que

de perda de público é “preocupante”, sobre

tudo porque reflete “um desinvestimento real da

escola” neste que é um recurso cultural e um recurso

educativo ímpar em Portugal e na Europa.

| Lídia Pereira

POROS

Vila Romana do Rabaçalà volta

Buracas do Casmilo

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aniversário

A

44 | especial | 22 ex-líbris da região Centro

Por ocasião do 22º aniversário do Jornal das Beiras, é com o maior gosto que assinalo esta efeméride, não só pelo trabalho efetuado, e pelo apreço que tenho por este jornal, que é um marco da nossa imprensa regional, tão importante na vida das regiões, e da informação que

mais diretamente envolve a vida das populações, como também pela importância, e pelo relevo do Museu Na-cional Grão Vasco na vida cultural de Viseu e da região.O Museu Grão Vasco, desde a sua remota fundação, e por obra de todos quantos por ele passaram, foi fazendo

Grão Vasco põe Viseu e a região na rota dos museus nacionais mais visitados no país

O Museu Nacional Grão Vasco assinala este ano o seu centenário. Criado a 16 de março de 1916, o museu é hoje, fora de Lisboa, o segundo museu nacional mais visitado no país.Mas Viseu está de parabéns por mais três grandes motivos. Os 500 anos da Sé Catedral; os 500 anos da fundação da Igreja da Miesericórdia e os 100 anos da construção dos edifício dos Paços do Concelho.Quatro efemérides que marcam 2016 em Viseu

A 16 de março de 1916 era publica-do no Diário do Governo o decreto que fundava o Museu Grão Vasco, em Viseu.

E quem foi Grão Vasco? Uma per-gunta simples que deu início a uma conversa detalhada com Agostinho Ribeiro, diretor do museu, sobre “a personalidade da nossa pintura portuguesa do Pré-Renascimento e Renascimento Português que é absolutamente incontornável para percebermos e interpretarmos de-vidamente a história da arte e o de-senvolvimento da História da Arte em Portugal”.

Grão Vasco foi de facto o grande pintor desse período (renascentista) em Portugal e com “esta circuns-tância especial de ter surgido como grande referência em termos artís-

ticos, exatamente numa cidade do interior de Portugal”.

Os investigadores e historiadores de Arte inclinam-se para o facto de Grão Vasco ter nascido em Viseu ou nas cercanias da cidade, por volta de 1475 a fazer fé na altura em que Vas-co Fernandes aparece com créditos firmados na pintura. Depois de um retábulo pintado por um pintor fla-mengo, Francisco Henriques, em que Vasco Fernandes participou, segue-se, entre 1506 e 1511, Lamego onde lhe é reconhecido o estatuto de gran-de pintor. O retábulo que pinta na Sé de Lamego é, documentalmente, da sua autoria. A partir daí, começa a ser conhecido e a responder a variadíssi-mas encomendas entre o Douro e o Mondego, até chegar a um ponto de grande maturidade que conjuga nos

finais de 1529-1530 com a vinda de um bispo de grande pendor intelec-tual renascentista, D. Miguel da Silva.

“Seguindo a moda que corria um pouco por todas as capitais euro-peias, de querer construir na Cate-dral de Viseu uma espécie de uma segunda Roma, através de grandes pinturas de aparato nos altares late-rais. D. Miguel da Silva encomendou a Vasco Fernandes –já conhecido por Grão Vasco – pinturas monumentais não ao estilo antigo de retábulos, mas com a monumentalidade de uma grande pala de pintura, tendo normalmente associada uma per-dela com três elementos pictóricos relacionados com o tema central”.

São encomendados então a Vasco Fernandes cinco grandes e monu-mentais pinturas para integrar os

altares laterais e um altar do claustro da Sé de Viseu que é a obra máxi-ma do pintor: o São Pedro. Depois o Calvário, o Batismo de Cristo, o Pentecostes e o São Sebastião.

Títtulo surge depois da morteCom o reconhecimento da gradio-

sidade de Grão Vasco, título que sur-ge após a sua morte e lhe reconhece a grandeza de mestre, vai construir-se a ideia fundamental do museu. Um espaço que, enquanto entidade museológica, surge no âmbito da 1.ª República. “Com a implantação da República e a lei da separação da Igreja e do Estado ocorre a in-corporação de muito património, nomeadamente imóveis, na posse do Estado que era inicialmente proprie-dade da igreja”, conta Agostinho Ri-

João Soares, Ministro da Cultura

testemunhos

Page 45: DB Aniversário 2016

19-03-2016 | diário as beiras

beiro, adiantando que o Museu Grão Vasco começou por estar instalado nas dependências da Sé, tornando-se autónomo em 1938, tendo sido valorizado ao longo dos anos.

É que, sendo o Museu Grão Vasco uma homenagem ao pintor de Vi-seu, ele é muito mais do que isso. E, ao longo dos anos, é acrescentado ao trabalho do grande mestre um conjunto de bens artísticos de di-versa tipologia, integrando mobili-ário, escultura, cerâmica de outros mestres e artistas que enriquecem e, sobretudo, diversificam a coleção.

Depois da pintura, a coleção mais relevante é a de escultura, seguin-do-se uma coleção de cerâmica, sobretudo de faianças nacionais e porcelanas Companhia das Índias, uma notável coleção de ourivesaria;

imobiliário e alguns têxteis.Considerando que “o museu

tem um papel fundamental como promotor do de-senvolvimento na sua perspetiva geral por intermédio dos ins-trumentos que tem ao nível da cultura no seu sentido mais nobre, no sentido de propiciar à popula-ção e aos visitantes a s m a i s valias ao nível inte-lectual ou do entre-tenimento e também

do conhecimento e da informação que pode ser dada através do apro-veitamento de tudo o que o mu-seu tem para oferecer”. Mas sempre numa perspetiva alargada. “O mu-seu deve interagir com a comunida-de através das suas várias vertentes e ser um palco para o exercício da cidadania”, sublinha, reconhecendo que ele “tem sido esse palco desde há muitos anos”, com o desenvolvimen-to de muitas parcerias”.

Em 2014, por exemplo, o museu assinalou o dia internacional dos museus com a assinatura de pro-tocolos com mais de 20 entidades. E neste momento já tem umas três ou quatro dezenas de entidades - cidade e região – de várias áreas de atividade, nomeadamente es-colas de todos os graus de ensino. “E todo este trabalho pretende criar nos utentes das várias en-tidades a ideia de que o museu é um espaço para se ir permanen-temente”, sublinha Agostinho Ribeiro.

E todo este trabalho e desenvol-vimento levou a que o Museu Grão Vasco fosse considerado no ano pas-sado de âmbito nacional. “Consegui-mos obter da tutela esta qualificação que nos coloca num roteiro onde até agora só havia Lisboa, Porto e Coim-bra, o que é uma mais-valia para

Viseu e para todo este território”, reforça.E tal reconhecimento já

se fez notar no número de vi-sitantes. Considerando que

o museu sempre teve “belís-simas prestações”, adianta que depois dos grandes quatro museus nacionais de Lisboa e do Museu Mo-nográfico de Conimbriga, em Condeixa, que é um museu muito específico e

especial, está o Grão Vasco em número de visitantes. “Por exemplo, este ano em

relação ao mesmo período do ano passado quase que do-

brámos em janeiro e fevereiro, os números de visitantes”, concluiu. | Eduarda Macário

22 ex-líbris da região Centro | especial | 45

Grão Vasco põe Viseu e a região na rota dos museus nacionais mais visitados no país

História envolta em lendasVasco Fernandes terá sido filho de um moleiro embora não haja dados muito concretos. Apenas convicções forjadas um pouco nas len-das que se associam quase sempre a estas grandes figuras.

Aprendiz de um flamengo

Terá nascido por vol-ta de 1475 a fazer fé na altura em que o jovem pintor aparece com créditos firma-dos na pintura. E tal crédito surge exata-mente quando um bispo de Viseu D. Fer-nando de Miranda, contrata o flamengo Francisco Henriques para execução de um retábulo para a Sé de Viseu, nos inícios do século XVI (1501). Esse pintor vem para Viseu rodeando-se de jovens aprendizes, onde Vasco Fernan-des parece destacar-se. O resultado foi um trabalho mag-nífico que hoje pode ser apreciado no Mu-seu Grão Vasco.

lmportância “nasce” em LamegoConta a história que um bispo de Lamego. D. João de Madureira, terá vindo a Viseu e terá ficado deslum-brado com o retábu-lo a ponto de contra-tar com um pintor de Viseu, de nome Vasco Fernandes. E o que é certo é que este pintor vai para Lamego entre 1506 e 1511 trabalhar onde lhe é reconhecido o estatuto de grande pintor. Fica então co-nhecido como Grão Vasco

curiosidades

imobiliário e alguns têxteis.Considerando que “o museu

tem um papel fundamental como promotor do de-senvolvimento na sua perspetiva geral por

mos obter da tutela esta qualificação que nos coloca num roteiro onde até agora só havia Lisboa, Porto e Coimbra, o que é uma mais-valia para

Viseu e para todo este território”, reforça.E tal reconhecimento já

se fez notar no número de visitantes. Considerando que

o museu sempre teve “belíssimas prestações”, adianta que depois dos grandes quatro museus nacionais

museu muito específico e especial, está o Grão Vasco

em número de visitantes. “Por exemplo, este ano em

relação ao mesmo período do ano passado quase que do

brámos em janeiro e fevereiro, os números de visitantes”, concluiu. | Eduarda Macário

à volta

Sé de Viseu enquanto enciclopédia de estilos

Zona dos vinhos do Dão; região de Lafões e zona vinhateira do Douro

Cava de Viriato: estrutura milenar e muito interessante do ponto de vista do património e da profundidade histórica

DB-Carlos Jorge Monteiro

o seu caminho de perseverança e afirmação, até ao momento feliz e mais recente, de uma bem-sucedida intervenção por parte de um dos nossos grandes arquitetos contemporâneos – Eduardo Souto de Moura. Assim lhe foi dado o espaço magnífico de

que agora dispõe, com a possibilidade privilegiada de poder incorporar a qualquer programa ambicioso, quer do ponto museológico, quer do ponto de vista cultural mais abrangente. Por todo o potencial que tem, e pelo que representa o seu riquíssimo acervo

patrimonial, o Museu Grão Vasco é, e continuará a ser, um polo importante da cultura de Portugal. Os meus votos sinceros de longa vida e sucesso ao Jornal das Beiras.

Museu de Lamego que guarda tesouros nacionais. Exemplos: tapeçarias do século XVI únicas em Portugal

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Na obra de Eça de Queirós “Os Maias”, de 1888, no capítulo XI, o insolente Dâmaso Salsede oferece a Maria Eduarda um embrulho de papel pardo e sentencia: “são seis barrilhinhos de ovos-moles de Aveiro. É um doce muito célebre, mesmo lá fora. Só o de Aveiro é que tem chic…”

Ovos Moles Primeiro doce conventual certificado da Europa em processo de internacionalização

Três grandes notícias dos últimos meses prometem reforçar ainda maisa implantação dos Ovos Moles de Aveiro no roteiro gastronómico nacional e internacional. Primeiro foi o reconhecimento europeu do produto com a Certificação Geográfica Protegida. Em segundo lugar a publicação do Regulamento Europeu que permite a sua ultra-congelação. Finalmente a alteração do Caderno de Especificações de Fabrico, por parte da Associação de Produtores, que autorizaos Ovos Moles de Chocolate.Um ex-libris de Aveiro que adoça a boca de um país.

Quem diria que a receita dos Ovos Moles teve origem numa história triste de uma senhora nobre de Ovar que enviuvou aos 27 anos, motivo que a terá levado a man-dar construir o Mosteiro de Jesus de Aveiro para se dedicar à vida religiosa.

Foi aí que, no início do século XVI, juntando os ovos da sua quinta de Ovar ao açúcar que vinha do Brasil, as freiras residentes criaram a receita dos Ovos Moles, sem ima-ginarem que se tornaria num dos expoentes da doçaria tradicional do país cerca de 500 anos depois.

“A defesa da autenticidade de Portugal, a tal portugalidade, qui-çá em oposição a uma tentativa falhada de uniformização cultural passa, indubitavelmente, pela con-servação da diversidade local”, de-fende o chanceler mor da Confraria dos Ovos Moles de Aveiro, Sérgio Ribau Esteves, irmão do presidente da câmara de Aveiro.

O responsável sublinha que os Ovos Moles de Aveiro são o pri-meiro doce conventual certificado da Europa.

De acordo com esse selo de ga-rantia, entende-se por Ovos Moles

de Aveiro o produto obtido pela junção de gema de ovo cru a uma calda de açúcar, seguindo o modo de confeção tradicional.

Apresentados dentro de peque-nas barricas de madeira ou por-celana, pintadas ou envolvidas na designada hóstia, os ovos têm de ser fabricados unicamente a partir de farinha, água e gordura vege-tal, segundo receita tradicional e – muito importante – respeitar os modelos e formatos previstos pelo caderno de especificações: as formas têm de ter motivos do mar como peixes, navalheira ou

lingueirão, mexilhão, conchas, búzios, barricas, boia marítima e berbigões.

Regressando aos primórdios, é interessante registar que, para além da degustação imediata do doce, também a necessidade de encontrar uma forma de conservar as gemas por mais tempo – pois as claras já eram utilizadas para várias finalidades, como a de engomar os tecidos – terá levado à sua junção com o açúcar, constituindo-se as-sim um doce de ovos.

Com a extinção das ordens reli-giosas no século XIX, foi uma em-

Eça de Queirós, escritor

A certificação evita que os ovos moles sejam adulterados e per-mite-nos ter um controlo jurídico-legal no espaço comunitário, o que é muito importante, não só a nível nacional, mas também ao nível comunitário. Passou a haver uma maior relação de confiança com o consumidor.

José Francisco Silva, presidente da Ass. de Prod. de Ovos Moles

testemunhos

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pregada das freiras – Odília Soares – que trouxe para fora de muros a receita do mosteiro, difundindo a sua produção. Repare-se, a este res-peito, que a hóstia é feita da mesma matéria das hóstias utilizadas nas celebrações litúrgicas, antigamen-te só confecionadas nos conventos.

Indicação Geográfica ProtegidaA área geográfica de produção

de ovos está circunscrita aos con-celhos limítrofes da ria de Aveiro e Zonas Lagunares adjacentes e a concelhos do Médio Vouga, desig-nadamente Águeda, Albergaria-a-

Velha, Aveiro, Estarreja, Ílhavo, Mira, Murtosa, Oliveira de Frades, Ovar, São Pedro do Sul, Sever do Vouga, Tondela, Vagos e Vouzela.

A C o n f r a r i a d o s Ovos Moles, como associação cultural da região, associou-se, no ano passado, à respetiva associação de produtores (APOMA), para conceber um monumento de-dicado a este doce, contando com a dedicação de um artista plástico

que já se mostrou disponível, em-bora não revelado por agora. A intenção é valorizar os Ovos Moles através da “imortalização deste ex-libris aveirense num monu-mento com grande impacto em termos turísticos e de valorização cultural”, refere Sérgio Ribau Es-teves. Para além disso está a ser produzido um documentário alu-sivo ao tema. Por agora, as duas instituições estão em fase de an-gariação de donativos e verbas para erigir o monumento, através de iniciativas públicas, como será o VII Capítulo da Confraria, a 14 de maio.

Este subsetor da gastronomia regional de Aveiro deverá albergar cerca de três centenas de traba-lhadores em meia centena de em-presas, registando uma produção final de cerca de160 toneladas por ano, em permanente crescimento na última década.

José Francisco Silva, presidente da Associação de produtores de Ovos Moles de Aveiro (APOMA) destaca o facto de a Universidade de Aveiro ter começado a inte-ressar-se pelo produto, colhendo amostras para analisar a compo-sição química do doce, bem como dos seus ingredientes, contando

para isso com produtores tradi-cionais. Foi este trabalho que

levou à certificação. O lí-der da associação conclui

que estão garantidos os diversos parâmetros micro-biológicos, respondendo a três grandes exigências, que são a defesa in-transigente da saúde pública, uma vez que se trata de produtos

feitos à base de ovos; respeito pelo saber fa-

zer tradicional e moni-torização constante da

qualidade, utilizando os conhecimentos da ciência e

o equipamento desenvolvido.| António Rosado

22 ex-líbris da região Centro | especial | 49

Ovos Moles Primeiro doce conventual certificado da Europa em processo de internacionalização

Confraria dos Ovos MolesCada um dos confra-des “jura levar os Ovos Moles de Aveiro ao mundo inteiro. Isto, se não os comer pri-meiro!”.

Quem adiciona farinha de arroz?Antigamente, por uma questão de pou-pança, juntava-se aos Ovo Moles arroz cozido ou farinha de arroz. Essa prática ain-da poderá ocorrer, di-zem alguns, embora seja negada por todos os fabricantes locais, especialmente depois da certificação.

Congelação leva produto a todo o ladoDesde outubro do ano passado que os Ovos Moles podem chegar a qualquer lugar do mundo, em perfeitas condições, beneficiando de um processo de ultracon-gelação, reconhecido por Regulamento Europeu. A respetiva associação de produ-tores (APOMA) garan-te que “pretende-se a comercialização do produto ultraconge-lado de uma forma efetiva na diáspora portuguesa”.

Ovos Moles de chocolateO fabrico de Ovos Moles Pretos (incluin-do chocolate na sua confeção) passaram a ser autorizados ofi-cialmente, de acordo com uma alteração ao Caderno de Espe-cificações da marca deste doce típico. Foi a APOMA que deu o aval para que a pro-dução seja retomada.

A certificação evita que os ovos moles sejam adulterados e per-mite-nos ter um controlo jurídico-legal no espaço comunitário, o que é muito importante, não só a nível nacional, mas também ao nível comunitário. Passou a haver uma maior relação de confiança com o consumidor.

Movidos pelos momentos lúdicos, culturais, gastronómicos e históricos que envolvemos nas nossas atividades, assume a Confraria dos Ovos Moles de Aveiro o honroso compromisso da valorização deste ex-libris de uma cidade e de uma região de excelência.

Sérgio Ribau Esteves, chanceler Mor da Con-fraria dos Ovos Moles

curiosidades

Velha, Aveiro, Estarreja,

à respetiva associação de produtores (APOMA), para conceber um monumento de-dicado a este doce, contando com a dedicação de um artista plástico

ressar-se pelo produto, colhendo amostras para analisar a composição química do doce, bem como dos seus ingredientes, contando

para isso com produtores tradicionais. Foi este trabalho que

levou à certificação. O líder da associação conclui

que estão garantidos os diversos parâmetros micro-biológicos, respondendo a três

se trata de produtos feitos à base de ovos;

respeito pelo saber fazer tradicional e moni

torização constante da qualidade, utilizando os

conhecimentos da ciência e o equipamento desenvolvido.

| António Rosado

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Casas Típicas da Costa Nova

Arquitetura Arte Nova

Moliceiros da Ria de Aveiro

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A expansão do Portugal dos Pequenitos assenta na ambição simples e le-gítima de proporcionar à criança de hoje que nele continue a compreender e respeitar a história que a antecede, a identificar no tempo os seus símbolos e representações e a apropriar-se igualmente das expressões culturais que são próprias da sua geração.

Portugal dos Pequenitos Sentir Portugal como se estivesse ao alcance das mãos e dos sonhos

São as memórias de um país que ali estão representadas. É esta a “chave” do sucesso do Portugal dos Pequenitos, idealizado pelo professor universitário Bissaya Barreto e materializado pelo arquiteto Cassiano Branco, há 75 anos, em três fases. Primeiro com as casas tradicionais, depois (na década de 50) com o Portugal monumental e, nos anos 60, com as representações das então províncias ultramarinas. Ainda hoje encanta miúdos e graúdos e continua a ser um dos ex-libris que a Fundação Bissaya Barreto faz questão de promover

Tem razão a diretora do Portugal dos Pequenitos quando diz que aquele espaço é “um lugar de afe-tos”. Basta observar com atenção os visitantes que por ali circulam: a imagem é repleta de sorrisos, prova de que o parque, além de proporcionar alegria, deixa um lastro de boas lembranças.

Fátima Leal, de 70 anos, tirou um dia para ir do Porto até Coimbra mostrar o Portugal dos Pequeni-tos aos três netos. Já o tinha feito com o filho, tal como os seus pais tinham feito com ela quando era criança. “É, sem dúvida alguma,

uma das melhores recordações que tenho”, diz.

Ali há um maravilhamento livre e inocente, que vai perdurando no tempo e que une gerações. Por isso, o Portugal do Pequenitos, que en-canta miúdos e graúdos, continua a ser um dos ex-libris que a Funda-ção Bissaya Barreto faz questão de preservar e promover.

Na verdade, além das visitas es-colares, a diretora Lúcia Monteiro refere que o parque recebe “es-sencialmente famílias”. “Temos muitos portugueses que vêm ex-clusivamente a Coimbra visitar

o Portugal dos Pequenitos, mas temos verificado um aumento de visitantes estrangeiros, desde que a Universidade de Coimbra (UC) foi classificada Património Mun-dial da Humanidade pela UNECO”, refere. Um fator que contribuiu para este aumento de turistas es-trangeiros foi a criação de um bi-lhete conjunto que permite a visita ao circuito clássico do Paço das Escolas da UC e a todo o recinto do Portugal dos Pequenitos.

Mais de 80 representaçõesHá muito por explorar: com mais

de 80 representações de monu-mentos, o parque divide-se em quatro áreas temáticas: logo à en-trada, a zona dedicada aos países de expressão portuguesa, onde é possível viajar pelos edif ícios re-presentativos dos países africanos de Língua Oficial Portuguesa, do Brasil, Macau, Índia e de Timor. Depois, os monumentos principais das Regiões Autónomas da Ma-deira e dos Açores, rodeados por grandes lagos assemelhando-se às ilhas no Oceano Atlântico.

Já a área “Portugal Monumental” é ilustrativa dos principais monu-

Patrícia Viegas Nascimento, presidente da Fundação Bissaya Barreto

Lúcia Monteiro, diretora do Portugal dos Pequenitos

testemunhos

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mentos do país. Depois, encontra-se o núcleo de

Coimbra, com a representação dos principais monumentos da cida-de, nomeadamente da sua uni-versidade. Naquela área, existe in-clusivamente uma réplica da Sala dos Capelos que está fechada ao público “por ser um espaço muito frágil”, adianta Lúcia Monteiro. O espaço só é aberto para acolher determinado tipo de eventos.

A quarta área é dedicada às casas regionais portuguesas e é aquela que mais deslumbra as crianças graças a um conjunto de solares,

casas típicas de cada região com pomares, hortas e jardins, cape-las, azenhas e pelou-rinhos. Curiosamen-te, esta foi primeira parte a ser construí-da, entre 1938 e 1940.

A todo este patri-mónio, juntaram-se, no ano passado e por ocasião dos 75 anos dos Portugal dos Pequenitos, duas novas estruturas: uma réplica de uma casa típica das aldeias de xisto e a Casa de Chá,

obra da artista portuguesa Joana Vasconcelos. A obra, que foi criada a convite da fundação, marca “uma nova etapa na história” do par-que, através de uma “aposta na contemporaneidade”.

Futura entrada do lado oposto

“Continuamos o nosso percurso muitos e muitos anos e cada vez com mais novidades”, adianta Lúcia Monteiro. Uma das grandes mudanças é a futura entra-da do Portugal dos Pequeni-tos, que será criada do lado oposto ao atual.

“As exigências dos visi-tantes de hoje são comple-tamente diferentes. Quere-mos, sobretudo, que seja uma entrada com melhores condições de acolhimento: em que as pessoas possam comprar os bilhetes sem ser ao ar livre, onde possam ob-ter informação, onde pos-sam ter uma cafetaria ou um local de eventos”, refere a responsável.

“Terá uma nova loja, uma parte administrativa, enfim um conjunto de valências que estão agora em zonas mais nobres de visita que devem ser deixadas livres

para que possam ser usu-fruídas”, acrescentou.

Para os próximos anos, e apesar de todas as mu-danças, o que se espe-ra é que aquele espaço continue a proporcio-nar aquilo que Cassia-no Branco, refletindo a

ideia original de Bissaya Barreto procurou fazer: a

ideia do parque como uma biblioteca que as crianças “deveriam ler com todos os seus sentidos”. | Patrícia Cruz Almeida

22 ex-líbris da região Centro | especial | 51

Portugal dos Pequenitos Sentir Portugal como se estivesse ao alcance das mãos e dos sonhos

Projeto de Cassiano Branco

O parque do Portu-gal dos Pequenitos foi inaugurado a 8 de junho de 1940 e é um projeto do arquiteto Cassiano Branco, um dos nomes relevan-tes do primeiro mo-dernismo português.

Sala dos Capelos

O núcleo de Coimbra do Portugal dos Pe-quenitos representa os principais monu-mentos da cidade, nomeadamente da sua universidade. Naquela área, exis-te inclusivamente uma réplica da Sala dos Capelos que está fechada ao público. O espaço só é aber-to para acolher de-terminado tipo de eventos.

Onde era antes uma Praça de Touros

No local onde existe o parque, havia antes uma Praça de Touros, o Coliseu de Coim-bra, Ali se realizavam corridas de touros (era a maior praça do país), espetáculos musicais e sessões de cinema. A última corrida de touros foi em 1934, porque, no ano seguinte, um fogo destruiu-a. Nesse lugar que foi erguido o Portugal dos Pequenitos.

Quem vai ao Portugal dos Pequenitos em criança é raro não repetir e, depois, retornar com filhos e netos. É um fascínio que não se esgota. Por isso, além das visitas escolares, o parque recebe essencialmente famílias. É um lugar de afetos.

Lúcia Monteiro, diretora do Portugal dos Pequenitos

Isto é mesmo muito giro. Parece que foi feito para nós porque as casas são quase da nossa altura. Vim com os meus avós, que já tinham trazido cá o meu pai quando tinha a minha idade. Estou a gostar muito e já disse que quero voltar amanhã.

Lisandro Leal, visitante de cinco anos na sua primeira visita

curiosidades

casas típicas de cada

mónio, juntaram-se, no ano passado e por ocasião dos 75 anos dos Portugal dos Pequenitos, duas novas estruturas: uma réplica de uma casa típica das aldeias de xisto e a Casa de Chá,

a responsável. “Terá uma nova loja, uma

parte administrativa, enfim um conjunto de valências que estão agora em zonas mais nobres de visita que devem ser deixadas livres

para que possam ser usufruídas”, acrescentou.

e apesar de todas as mu

no Branco, refletindo a ideia original de Bissaya

Barreto procurou fazer: a

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Quinta das Lágrimas

Exploratório

DB-Luís Carregã

Inauguração em Junho de 1940

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52 | especial | 22 ex-líbris da região Centro

A Figueira da Foz é, por excelência e pelas suas caraterísticas, um destino familiar, de reencontros e de boas recordações. Razão pela qual quem nos visita não esquece e leva consigo a hospita-lidade desta terra que tão bem sabe receber”.

Rainha das Praias de Portugal perdeu o título mas ninguém lhe ficou com o trono

Com a ajuda da predominante nortada, quem percorrer a Costa de Prata, de Norte Para Sul, encontra estâncias turísticas em quantidade e qualidade. Nesta viagem, que se estende da margem esquerda do Douro até às portas de Lisboa, repousamos o olhar e concentramos atenções na Praia da Claridade, ou não tivesse sido a Rainha das Praias de Portugal. Atualmente, é um relevante polo de desenvolvimento regional, com o porto comercial na linha da frente

Neste périplo, a primeira para-gem é em Espinho. Depois, segui-mos para Esmoriz. O Furadouro também convida a banhos, assim como a Costa Nova, com as suas casas típicas às riscas. A Vagueira, por sua vez, anuncia que a Figuei-ra da Foz está, agora, mais perto. Antes, porém, paramos na Praia de Mira, a primeira do distrito de Coimbra.

É na Praia de Mira onde também nos despedimos dos canais da Ria de Aveiro, com a barrinha a dar mais encanto a uma encantadora zona balnear. Aqui, a arte xávega

tem a dupla função de ser fonte de rendimentos de várias famílias e cartaz turístico. De resto, é nesta vila onde existe mais atividade desta modalidade de pesca, no Centro de Portugal.

Seguindo viagem, deparamo-nos com a Praia da Tocha. Nesta localidade do concelho de Can-tanhede, a arte xávega também arrasta consigo as duas vertentes económicas. Daqui até à antiga Rainha das Praias de Portugal, in-terpõem-se as matas nacionais, a Costinha (praia selvagem do Bom Sucesso) e a Praia de Quiaios, uma

das mais concorridas desta costa.Na Praia de Quiaios, encontra-

mos o primeiro hotel de quatro estrelas (Quiaios Hotel) do con-celho da Figueira da Foz, para quem vem do Norte. Esta unidade hoteleira regista uma das mais elevadas taxas de ocupação da região, durante todo o ano, para a qual contribui o Centro de Estágio Rosa Náutica.

Esta estância balnear tem como vizinhos a Serra da Boa Viagem, o Cabo Mondego e as lagoas da Vela e das Braças, perto das vias rodoviárias A17 e EN109.

Vila e cidade unidas pelo marPróximo destino: Buarcos, vila

histórica e antiga comunidade piscatória. Entretanto, a pesca, as minas de carvão e de cal hidráu-lica e as unidades industriais que outrora dinamizavam a economia da região deram lugar ao turismo e aos serviços. O Cabo Mondego e a Serra da Boa Viagem também se impõem na paisagem buarcosen-se. Vista de longe, sobressai a baía e o extenso areal urbano, que se estende até à Figueira da Foz.

Quem caminha pela marginal oceânica e não conhece os limites

João Ataíde, presidente da Câmara da Figueira da Foz

A Praia da Claridade transformou-se num imenso areal e, simultaneamente, num mar de oportunidades, a principal das quais é a de aprimorar o cartão-de-visita da cidade, sendo sinónimo de prosperidade para o comércio e restauração.

João Damasceno, presidente da Associação Comercial e Industrial da Figueira da Foz

testemunhos

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da cidade e da vila, não se apercebe se está numa ou noutra. De resto, a freguesia é a mesma. Se estamos em Buarcos, estamos pois, tam-bém, na Figueira da Foz. Há muito que esta estância balnear perdeu o título de Rainha das Praias de Por-tugal, que atravessou os séculos XIX e XX. Por aqui passaram a re-aleza, a alta burguesia portuguesa e espanhola e a classe média-alta de muitos outros países. Era aqui onde centenas de famílias abasta-das, de Portugal e Espanha- muitas ainda a conservam - tinham casa de férias.

Casino peninsularO mais antigo casino

da Península Ibérica encontra-se nesta ci-dade. A ele se deve, ali-ás, o desenvolvimento turístico da Figueira da Foz. Ainda hoje conti-nua a ser a principal atração de forasteiros à cidade, e isso nota-se, sobretudo no inverno, por-que no verão todos os espa-ços públicos são pequenos para tanta gente que frequenta a Praia da Claridade. Naqueles tempos de

reinado da Rainha das Praias de Portugal, a Linha da Beira Alta desempenhava um papel determi-nante. A Linha do Oeste e a ligação Figueira/Coimbra completaram a oferta rodoviária.

Ironias do destino, foi o turis-mo de massas, liderado pelo Al-garve, nos idos anos 60 do século XX, que acabaria por destronar a “rainha”. Depois dela, porém, nenhuma outra estância balnear do país teve a honra de ostentar o título. Os novos e competitivos destinos turísticos, portugueses e estrangeiros, por um lado, e o fim das “férias grandes” escolares, por outro lado, também contribuí-ram para que a Figueira da Foz passasse a ocupar um lugar mais modesto, contudo, não menos importante no contexto turístico nacional.

Diversidade económicaEntretanto, as novas acessibili-

dades rodoviárias transformaram a Figueira da Foz e a sua costa em praias de proximidade. No en-tanto, são já notórios os sinais de que a cidade voltou a cativar por-tugueses de locais mais remotos e estrangeiros. Contudo, nem só de turismo vive o concelho, um dos

mais industrializados da re-gião Centro, onde também o

comércio e os serviços pe-sam na economia local.

O porto comercial, por sua vez, vem batendo recordes de cargas há cerca de 10 anos. E o porto de pesca é um dos mais importantes do país para a sardi-nha. Da Figueira da

Foz até Torres Vedras, a nossa viagem pela

Costa de Prata tem ain-da paragens obrigatórias

no Osso da Baleia, Praia do Pedrógão, Praia da Vieira,

São Pedro de Moel, Nazaré, São Marinho do Porto, Foz do Arelho e Peniche. |Jot’Alves

Rainha das Praias de Portugal perdeu o título mas ninguém lhe ficou com o trono

Do vinho ao papel

Nos séculos XVIII e XIX, o Porto Comer-cial da Figueira da Foz foi uma impor-tante plataforma de exportação de vinho produzido no conce-lho e no Dão. Hoje, é um dos principais cais da indústria pa-peleira.

O primeiro casino da penínsulaEm 1884 foi cria-do o Tea-tro Circo Saraiva de Car-valho, com sala de jogo. Depois, foi o Grande Casino Pe-ninsular, atual Ca-sino Figueira. Con-cluindo, a Figueira da Foz tem o mais antigo casino da Pe-nínsula Ibérica.

A segunda maior do país

Inaugurada a 25 de agosto de 1895, a praça de touros do Coliseu Figueirense foi, durante várias décadas, a segunda maior do país, a se-guir ao Campo Pe-queno, em Lisboa.

Terceiro lugar no pódio da antiguidade

Fundada em 1835, a Associação Comer-cial e Industrial da Figueira da Foz é a terceira estrutura patronal mais antiga do país.

A Praia da Claridade transformou-se num imenso areal e, simultaneamente, num mar de oportunidades, a principal das quais é a de aprimorar o cartão-de-visita da cidade, sendo sinónimo de prosperidade para o comércio e restauração.

O Casino Figueira é uma casa que sempre praticou o saber de bem acolher e a arte e a sabedoria de sempre garantir boa companhia. Uma casa em que a relação humana sempre se sobrepõe a tudo, para sempre ser um espaço e um tempo de bem viver”.Domingos Silva,

administrador do Casino Figueira

curiosidades

atração de forasteiros à cidade, e isso nota-se, sobretudo no inverno, por-que no verão todos os espa-ços públicos são pequenos para tanta gente que frequenta a Praia da Claridade. Naqueles tempos de

que a cidade voltou a cativar portugueses de locais mais remotos e estrangeiros. Contudo, nem só de turismo vive o concelho, um dos

mais industrializados da região Centro, onde também o

comércio e os serviços pesam na economia local.

O porto comercial, por sua vez, vem batendo recordes de cargas há cerca de 10 anos. E o

nha. Da Figueira da Foz até Torres Vedras,

a nossa viagem pela Costa de Prata tem ain

da paragens obrigatórias no Osso da Baleia, Praia do

Pedrógão, Praia da Vieira, São Pedro de Moel, Nazaré, São

Marinho do Porto, Foz do Arelho e Peniche. |Jot’Alves

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Na Praia de Mira, o mar e a Ria de Aveiro envolvem a vila

A Praia da Tocha não para de aumentar o número de turistas

A Praia de Quiaios tem as matas, Cabo Mondego e as lagoas como vizinhos

A Figueira da Foz continua a reinar na Região Centro

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A tradição cumpre-se: fazer o queijo de acordo com a norma do Queijo Serra da Estrela. O queijo faz-se tradicionalmente no in-verno e o sabor é diferente de concelho para concelho. A confraria tem como objetivos a defesa, valorização e defesa do Queijo Serra da Estrela e também fazer a sua divulgação.

Queijo Serra da Estrela Uma marca única e cultural de uma região e do país

Tem mais de dois mil anos. É feito a partir do leite cru da ovelha Serra da Estrela ou Mondegueira. Em 1996, foi classificado como produto de Denominação de Origem Protegida (DOP). O seu território, pouco mais de 3100 km quadrados, abarca os concelhos de Tábua, Oliveira do Hospital, Arganil, Seia, Gouveia, Fornos de Algodres, Celorico da Beira, Guarda, Trancoso, Aguiar da Beira, Manteigas, Carregal do Sal, Nelas, Tondela, Mangualde e Penalva do Castelo e Covilhã

É uma especialidade conhecida a nível internacional. De paladar pe-culiar, pois certamente não agrada a todos, mas à maioria, o Queijo Serra da Estrela é o símbolo de uma região demarcada, mas também do país. Importa, portanto, preservá-lo. Para João Madanelo, engenheiro da Ancose - Associação Nacional de Criadores de Ovinos Serra da Estrela, o “criador de ovinos é o produtor de Queijo Serra de Estrela”.

Exemplo disso é Paula Lameiras, 44 anos. Cresceu no meio das ovelhas e dos cães Serra da Estrela. Os pais sempre tiveram gado ovino. Talvez por isso decidisse continuar com a criação. Há vários anos que produz queijo Serra da Estrela, a partir da sua queijaria, situada em Vila Franca da Beira, Oliveira do Hospital.

A melhor forma de conhecer este produto característico é, sem dú-vida, ver de perto como se produz. E foi isso que o DIÁRIO AS BEIRAS fez, numa manhã fria de domingo. A produtora deixou algumas dicas. O queijo é feito a partir de leite cru de ovelha da raça Serra da Estrela (Bordaleira) ou Mondegueira.

Paula Lameiras tem um rebanho de 130 ovelhas Serra da Estrela. Não obstante ter tirado vários cursos de formação, utiliza os ensinamentos que lhe foram sendo transmitidos.

O processo, diz, “é simples”. Come-ça por ordenhar as ovelhas, coalhar o leite (aquecido a uma temperatura que vai até aos 30 graus), colocar sal e cardo. “O leite coalha durante 45 minutos a uma hora”, explica a produtora. Neste processo, tem um

papel determinante o cardo. É ele que permite que o leite coalhe, atra-vés das suas enzimas coagulantes. Peso varia entre os 0,7 e os 1,7 quilos

“O queijo tem de ser feito lenta-mente”, esclarece Paula Lameiras. O processo continua: comprimir, mo-delar, por o rótulo com a certificação DOP - Denominação de Origem Pro-tegida e colocar no sítio onde ficará a curar. 40 a 45 dias depois, o queijo está pronto para comer.

Apresenta-se sob uma pasta bran-ca ou ligeiramente amarelada, semi-mole, amanteigada, que é deformá-vel ao corte. O seu peso situa-se entre os 0,7 aos 1,7 quilos.No caso de ser Queijo Serra da Estrela Velho DOP só estará pronto para consumir a partir dos 60 dias. Tem uma cor ama-

relada, por vezes mais alaranjada. A pasta é semi-dura ou extra-dura e é ligeiramente seco. O peso varia entre os 0,7 e os 1,3 quilos. São vá-rias as receitas que podem ser feitas com o Queijo Serra da Estrela, que se serve à mesa, quer em casa ou em qualquer estabelecimento co-mercial, acompanhado também de mel, nozes, doce de abóbora, entre outros ingredientes.

O queijo tem de ser produzido na região demarcada do Quejo Serra da Estrela DOP. Por isso, “existem vários queijos da Serra da Estrela e um queijo Serra da Estrela”, ex-plica Pedro Couceiro, da Confraria do Queijo Serra da Estrela. É que, também, existe este “queijo feito com a mistura de leite de ovelha e de cabra”, mas “não sujeito a DOP”,

Pedro Couceiro, Confraria do Queijo Serra da Estrela

Sem dúvida que o Queijo Serra da Estrela continua a salvar as suas características. Temos uns guardiões destes dois mil anos de história documentado. A primeira alusão escrita a este queijo vem no primeiro tratado de agricultura. Há, portanto, uma dimensão cultural e identitária que continua a ser preservada.

João Madanelo, engenheiro na Ancose

testemunhos

Queijo foi nomeado uma das

sete Maravilhas da Gastronomia

de Portugal

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19-03-2016 | diário as beiras

utilizado para “consumo caseiro como para venda a pequena esca-la”. Acontece que para obter a cer-tificação, esclarece Pedro Couceiro, os produtores são sujeitos a vários procedimentos.

A Estrelacoop - Cooperativa de Produtores de Queijo Serra da Es-trela, é a entidade gestora da mar-ca “Queijo Serra da Estrela, Queijo Serra da Estrela Velho, Requeijão Serra da Estrela e Borrego Serra da Estrela”.

Promoção, proteção e comercialização dos produtos

Encontra-se sediada em Celorico da Beira, desenvolve “a sua ativida-de com incidência no acompanha-mento do processo de certificação, no apoio técnico que tem vindo a

desenvolver junto dos seus asso-ciados, e na implementação do HACCP ( sigla reconhecida para Hazard Analysis and Critical Control Point ou Análise de Perigos e Controlo de Pontos Crí-ticos)”.

Tem como objetivos a “promoção, a pro-teção, a produção e a comercialização dos produtos DOP Serra da Estrela, bem como ativi-dades próprias de outros ramos necessários à satis-fação das necessidades dos seus membros”. Entretanto, até ao início deste mês, segundo dados avançados pelo engenheiro da Ancose, João Madanelo, estavam

habilitados 27 produtores com DOP. Na Ancose, destaque-se,

tem-se apostado na varie-dade de produtos, feitos a

partir do leite de ovelha. A novidade, foi sem dúvi-da, o iogurte de leite de ovelha, mas também é produzido o queijo cre-me, o queijo de ovelha fresco e a manteiga de ovelha.

“Vamos fazendo en-saios e alguma experi-

mentação para que se abram novas oportunida-

des no mercado, enrique-cendo o cabaz, porque tudo

é feito com leite da ovelha Serra da Estrela”, refere o engenheiro.

| Cláudia Trindade

22 ex-líbris da região Centro | especial | 57

desenvolver junto dos seus associados, e na implementação do HACCP ( sigla reconhecida para Hazard Analysis and Critical Control Point ou Análise de Perigos e

dades próprias de outros ramos necessários à satis-fação das necessidades dos seus membros”. Entretanto, até ao início deste mês, segundo dados avançados pelo engenheiro da Ancose, João Madanelo, estavam

habilitados 27 produtores com DOP. Na Ancose, destaque-se,

tem-se apostado na variedade de produtos, feitos a

partir do leite de ovelha. A novidade, foi sem dúvida, o iogurte de leite de ovelha, mas também é

saios e alguma experimentação para que se

abram novas oportunidades no mercado, enrique

cendo o cabaz, porque tudo é feito com leite da ovelha Serra

da Estrela”, refere o engenheiro. | Cláudia Trindade

à volta

Queijo Serra da Estrela Uma marca única e cultural de uma região e do país

Requeijão Serrada EstrelaMuito conhecido, o requeijão Ser -ra da Estrela é um produto de origem portuguesa com Denominação de Origem Protegida (DOP), pela União E u r o p e i a , d e s d e 5 de fevereiro de 2005. É feito a partir do soro que escoa da francela duran-te a preparação do queijo Serra da Es-trela.

Solardo Queijoem Celoricoda Beira

Situado na zona histórica da vila de Celorico da Beira, o Solar do Queijo é a sala de visitas do concelho. Um es-paço de cultura e lazer que convida a conhecer. Organi-za degustações de Queijo Serra da Es-trela para grupos de visitantes.

Iogurte de leite de ovelha Serra da EstrelaA Ancose foi a pri-meira associação do país, através da queijaria, a produ-zir iogurte de leite de ovelha da raça bordaleira e coa-lhado pela flor do cardo. A aceitação a o p r o d u t o t e m vindo a crescer. Os iogurtes custam um euro. Em 2015, fo-ram vendidos mais de dois mil iogurtes.

Sem dúvida que o Queijo Serra da Estrela continua a salvar as suas características. Temos uns guardiões destes dois mil anos de história documentado. A primeira alusão escrita a este queijo vem no primeiro tratado de agricultura. Há, portanto, uma dimensão cultural e identitária que continua a ser preservada.

Nasci neste meio, porque os meus pais tinham ovelhas. A produção do Queijo Serra da Estrela é feita da mesma forma. O que mudaram, com o passar dos anos, foram os utensílios. O queijo tem de ser feito lentamente e o segredo está no inverno. Convém que esta estação do ano não seja muito quente.

Paula Lameiras, produtora de Queijo Serra da Estrela

curiosidades

DB-C.T.

O cão Serra da Estrela exerce a função de guardião das ovelhas

Em Alpedrinha, Fundão, é tradição a Festa da Transumância

Pastores saem com o rebanho de manhã e regressam ao final da tarde

desenvolver junto dos seus asso-

àààààààà

Page 58: DB Aniversário 2016

diário as beiras | 19-03-2016

aniversário

S

58 | especial | 22 ex-líbris da região Centro

A confraria foi criada após a morte de D. João III, era D. Catarina a rainha regente. . Promover o esplendor do culto à Rainha Santa, dar a conhecera a sua ação para que os fiéis lhe possam seguir lhe o exemplo que legou nos mais diversos âmbitos, são alguns dos objetivos da Confraria da Rainha Santa Isabel.

Rainha Santa Isabel A primeira santa de Portugal e a padroeira de Coimbra e dos pobres

Isabel de Aragão, mulher do rei D Dinis, foi Rainha Santa Isabel. A rainha que ficou conhecida como pacificadora: uma mulher culta dedicada à arte, à arquitetura e à liturgia, mas sobretudo notabilizada pela ação social, o que levou mesmo a que fosse considerada a rainha amiga dos pobres.Ainda em vida começou a gozar da reputação de santa, tendo esta fama aumentado após a sua morte. Foi beatificada pelo Papa Leão X em 1516, vindo a ser canonizada, pelo Papa Bento XIV

“São rosas, senhor”, afirmou Isa-bel de Aragão ao seu marido, rei D.Dinis, quando a questionou o que levava no regaço. O pão que levava para entregar aos pobres transformou-se em rosas. Em pou-co tempo a notícia do milagre cor-reu a cidade de Coimbra e o povo proclamou santa a rainha Isabel de Portugal, reza a lenda do milagre das rosas. Padroeira de Coimbra, Rainha Santa Isabel há séculos que

conta com uma grande devoção. Ainda em vida, e pelas ações de caridade que praticou era muito apreciada pelo povo, “dois mais novos aos mais idosos”, salienta António Rebelo, da Confraria da Rainha Santa Isabel. Depois da morte começaram a registar-se os factos milagrosos ao longo da história e a devoção manteve-se sempre. “O povo alimentou uma grande devoção até aos dias de

hoje, sobretudo o da região Centro e de Coimbra que se dedica muito à Rainha Santa”. O nome de Santa Isabel é invocado a diversos títulos, pois em vida interveio em diver-sas valências. Foi conciliadora de desavindos a nível político e fami-liar. Chegou a ser denominada de Rainha da Paz. A sua especial preo-cupação com as crianças e os mais desfavorecidos ainda hoje é muito lembrada. “Garantia a subsistência

dos pequenos órfãos e até dos le-prosos dos hospícios que fundou”, acrescentou ainda António Rebelo.

Sabe-se, pela história, que sofreu infidelidades de D. Dinis mas Isabel de Aragão – Rainha Santa Isabel – chegou a cuidar dos filhos ilegí-timos como se fossem seus. É, por isso, também reconhecida pela sua capacidade de perdoar.

Ainda hoje, as esposas/mulheres que vivem situações de infideli-

António Rebelo, presidente da Confraria da Rainha Santa ISabel

Isabel de Aragão - a Rainha Santa, estadista e mulher de paz, difundiu em Coimbra e no país novas correntes de conhecimento, bondade e solidariedade. Trouxe também uma sabedoria prática das coisas, um saber fazer muito com poucos recursos, uma inteligência diplomática capaz de desencadear a confluência, em propósitos comuns, de interesses à partida distantes, ou até mesmo divergentes; trouxe uma sabedoria

Manuel Machado, presidente da Câmara de Coimbra

testemunhos

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19-03-2016 | diário as beiras 22 ex-líbris da região Centro | especial | 59

dade invocam a Rainha Santa e tornam-se muito devotas da pa-droeira de Coimbra.

Pagadores de promessas Na procissão de penitência (no-

turna) ainda há muitos pagadores de promessas. Pessoas vindas de vários pontos do país e do estran-geiro marcam presença para pa-gar o que me prometeram. “Ainda hoje nos são relatadas histórias

q u e n o s d e i x a m impressionados e seriam conside-rados verdadeiros milagres”, adiantou o presidente da Con-fraria da Rainha San-ta Isabel. Mesmo após tantos anos passados, há ainda quem aproveite para pagar promessas do tempo da Guerra Colonial. Muitos prome-

teram quando os seus familiares foram para a guerra, porque a Rai-nha Santa Isabel foi também uma construtura da paz. Ainda antes de Fátima e de toda a devoção em volta de Nossa Senhora quem tinha familiares na guerra pediaà Rainha Santa a salvaguarda dos seus.

Roteiro de visita obrigatória

Nem só os devotos visitam a Rai-nha Santa Isabel. Os visitantes de Santa Clara-a-Nova fazem-no por diversos motivos. “Tendo a impor-tância que Santa Isabel significa para Coimbra quem vem à cidade não pode deixar de visitar”, afir-mou António Rebelo.

Mesmo sabendo a importância da Universidade, não pode ser dissociada da Rainha Santa. “Sen-do uma pessoa tão culta não terá sido alheia a essa construção de D. Dinis, pois para a época era uma mulher extremamente culta”.

500 anos de beatificação No ano Santo da Misericórdia e

em que celebram 500 anos da bea-tificação da Rainha Santa Isabel vai ser possível, à semelhança do que já sucedeu noutros anos, ver a mão da Rainha Santa Isabel. De 1 a 13 de julho, os fiéis, ou simplesmente

os curiosos, podem ver a mão da rainha, beijada durante

séculos pela família real por-tuguesa. Este ano é o Ano

Santo da Misericórdia e comemo-ram-se os 5 0 0 a n o s d a b e a -tificação da Rainha Santa Isa-bel. Como

explicou António Quase 300 anos depois da sua

morte, dizem os autos ofi-ciais da primeira abertura do

túmulo em 1612, que o corpo estava bem conservado.

| Rute Melo

Rainha Santa Isabel A primeira santa de Portugal e a padroeira de Coimbra e dos pobres

Sete mil rosasA imagem da Rainha Santa Isa-b e l q u e vai sobre o a n d o r , foi inau-gurada nas festas de 1896, e foi ofe-recida pela rainha D. Amélia. O andor leva cerca de sete mil rosas que vão em recipientes com água para aguenta-rem os dias todos em que a imagem está em exposição. Antigamente eram talhantes (10) que carregavam o an-dor. Diziam que, cada um, tinha a sensação de carre-gar 80 quilogramas. O andor terá um peso de cerca de 800 quilogramas.

13 dias de exposição De 1 a 13 de julho, os fiéis e os curio-sos, podem ver a mão da rainha, bei-jada durante sécu-los pela família real portuguesa. A mão está no túmulo di-fícil de abrir porque sempre que alguém da família real vi-nha a Coimbra tra-zia uma das chaves, porque o túmulo tinha três chaves: uma confiada ao bispo de Coimbra, outra à abadessa e outra ao rei. Hoje uma das chaves está guardada no cofre da Confraria da Rai-nha Santa Isabel.

Quatro horas de percursoNo dia da procissão de Penitência, 07 de julho, o percur-so tem início cerca das 18H00 e chega à igreja de Santa Cruz cerca das 22H00. Há milhares de pesso-as a acompanhar a imagem.

Isabel de Aragão - a Rainha Santa, estadista e mulher de paz, difundiu em Coimbra e no país novas correntes de conhecimento, bondade e solidariedade. Trouxe também uma sabedoria prática das coisas, um saber fazer muito com poucos recursos, uma inteligência diplomática capaz de desencadear a confluência, em propósitos comuns, de interesses à partida distantes, ou até mesmo divergentes; trouxe uma sabedoria

construtora de paz. Fê-lo, em nome próprio, em inúmeros episódios conhecidos. E terá ajudado, também, o seu marido, D. Dinis, a criar as qualidades de liderança que distinguiram o seu reinado empreendedor. A Rainha Santa é, ou deve sê-lo, inspiradora para todos nós e continua a ser, passados tantos séculos, um referencial marcante para Coimbra e para Portugal, conferindo-lhes notoriedade.

curiosidades

DB-Luís Carregã

fraria da Rainha San-ta Isabel. Mesmo após tantos anos passados, há ainda quem aproveite para pagar promessas do tempo da Guerra Colonial. Muitos prome-

tificação da Rainha Santa Isabel vai ser possível, à semelhança do que já sucedeu noutros anos, ver a mão da Rainha Santa Isabel. De 1 a 13 de julho, os fiéis, ou simplesmente

os curiosos, podem ver a mão da rainha, beijada durante

séculos pela família real portuguesa. Este ano é o Ano

Santo da Misericórdia e

explicou António Quase 300 anos depois da sua

morte, dizem os autos oficiais da primeira abertura do

túmulo em 1612, que o corpo estava bem conservado.

| Rute Melo

à volta

Convento de S. Francisco

Mosteiro de Sta. Clara-a-Nova

Pastéis de Santa Clara

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diário as beiras | 19-03-2016

aniversário

60 | especial | 22.º Aniversário Diário As Beiras

N

Implantada no coração histórico da cidade dos cinco Fs, é o centro da espiritualidade coletiva e o mais nobre espaço de receção e acolhimento de quem nos visita. Os traços estéticos e a sua unidade arquitetónica tornam-na num templo imponente a que não se fica alheio, desde a sua fa-

chada principal virada a norte para a Praça Velha ao corpo octognal. D. Sancho I, fundador da cidade, é seu guardião numa estátua na sua lateral virada a norte. De uma beleza rara e rude no exterior, vá para onde for o olhar, o desafio maior ao visitante é sobretudo no interior.

Sé da Guarda Uma invulgar catedral gótica feita em granito que parece uma fortaleza

A Sé Catedral da Guarda é um dos gran-des ex-libris do património cultural da cidade mais alta de Por-tugal. Como sublinha o presidente da Câmara Municipal, é “um ícone da nossa por-tugalidade e um dos mais notáveis edificados do nosso “forte” granito. É o exemplo da perseverança e sonho hu-manos dos nossos an-tepassados gloriosos e defensores da pátria mãe”.

Não parece mas a Sé da Guarda é contemporânea do belo e majes-toso Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha.

Não parece porque, na mais alta cidade do país, são omnipresentes o granito e aquele aspeto austero e sóbrio, ao contrário do macio e maneirinho calcário que tão mag-nífico trato teve na Batalha.

Não obstante, ambos foram man-dados construir por Dom João I – a primeira pedra da catedral da Guarda foi lançada por volta de 1390 – e ambos levaram, também, uma eternidade a serem conclu-

ídos – na Guarda, os trabalhos só acabaram em 1540, no reinado de Dom João III, o que faz da Sé uma miscelânea de estilos, com predomínio para o Gótico mas com muitos elementos do Manuelino e também do Renascentista.

Todavia, a importância simbólica e histórica desta catedral não se resume ao imponente templo de pedra. Isso mesmo é enfatizado por Virgílio Mendes Ardérius, figura de proa da sociedade guardense e antigo pároco da Sé, ao longo de 24 anos. “A decisão de erigir uma catedral na Guarda, no final do séc.

XII, teve particular importância na consolidação do novo Reino”. Cabe dizer que, em 1199, a Guarda era já uma cidade populosa e um impor-tante centro regional. Foi, aliás, isso mesmo que levou D. Sancho I a con-ceder-lhe foral e, em 1202, elevá-la a cidade, quando era mister tornar irreversível a Reconquista.

Na altura, recorde-se, a grande diocese da Beira Interior tinha sede na cidade romana de Egitânia (atu-al Idanha-a-Velha) e D. Sancho não hesitou em solicitar ao poderoso papa Inocêncio III a sua transferên-cia para a Guarda. “Vem de longe

esta forte ligação de Portugal à San-ta Sé”, reconhece Virgílio Ardérius, sublinhando que o novo Presiden-te da República já anunciou que vai a Roma lembrar ao Papa Francisco essa proximidade velha de nove séculos.

A verdade é que, com a transfe-rência do bispado, a Guarda ga-nhou enorme relevo, não apenas religioso mas também político e civil, acentua o também presidente da Fundação Frei Pedro.

A primeira catedral terá sido um templo modesto. Anos mais tar-de, um novo e bem mais amplo

Álvaro Amaro, presidente da Câmara da Guarda

testemunhos

Page 61: DB Aniversário 2016

19-03-2016 | diário as beiras 22.º Aniversário Diário As Beiras | especial | 61

foi construído, no local onde hoje está a igreja da Misericórdia. Este, porém, veio a ser destruído, pois ficava fora da área muralhada, o que era risco de monta no período crítico das guerras com Castela. Só depois da expulsão dos castelha-nos se fez a atual Sé.

Apesar da sua sobriedade, todos reconhecem a extrema beleza da catedral, tanto por fora como no seu interior. Curiosamente, a fa-chada mais conhecida e retratada (a voltada para a Praça Velha) não é a principal. Esta, com um pórtico manuelino enquadrado por duas

monumentais co-lunas octogonais, care-ce, no entanto, de maior dignidade, na zona envolvente. Uma situ-ação que Virgílio Ar-dérius entende poder ser “substancialmente melhorada”, com a de-molição da casa que ali está em ruínas (e que, em tempos, foi sede da Legião), fa-zendo depois ali desembocar uma alameda.

O exterior oferece ainda outras perspetivas notáveis. É o caso da visão de conjunto que se alcança a partir da torre de menagem. É o caso, também, dos elementos arquitetónicos que se vislumbram do lado nascente, de onde, apesar do ângulo de visão ser escasso, é possível admirar as gárgulas vol-tadas para Espanha.

No interior do templo, merece natural realce o extraordinário re-tábulo do altar-mor, obra da escola que o mestre João de Ruão tinha em Coimbra. Desde há pouco tem-po, um outro retábulo, evocando a Anunciação do Anjo, foi devolvido à Sé para reocupar o seu lugar, na chamada Capela dos Ferros.

Ainda no âmbito dos elementos que integram o interior, destaque para a Capela dos Pina, onde João de Pina, tesoureiro da Catedral, mandou edificar o seu próprio túmulo, com jacente. Destaque também, mas pela negativa, é a continuada ausência do órgão monumental, cujo desapareci-

mento Virgílio Ardérius la-menta, embora manifestando a esperança de que, agora, haja condições para adquirir o novo há muito prometido.

Mas o que o sacerdote gosta-ria, mesmo, de ver “revogado” é o

sistema de aquecimento, criado há poucos anos e que consiste

na instalação de almofadas aquecidas nos bancos da

sé. “Foi uma má opção”, desabafa o antigo pá-

roco, lembrando que datam do seu tempo a compra da bancada e os reiterados pedi-dos para a montagem de um sistema de cli-matização. Agora, ao

invés das almofadas, defende o recurso às energias reno-váveis, instalando, por exemplo, “dis-cretos painéis so-lares nos terraços”. | Paulo Marques

Sé da Guarda Uma invulgar catedral gótica feita em granito que parece uma fortaleza

O órgão monumental que continuadesaparecidoNo final do séc. XIX a Sé sofreu importan-te e extensa inter-venção de restauro. O arquiteto respon-sável, Rosendo Car-valheira, fiel à linha romântica e reviva-lista, de recuperar os monumentos tal como tinham sido construídos, tratou de quase “desnu-dar” o interior do templo. O objetivo era o de eliminar o que designava de “vandalismos” – acrescentos de toda a espécie que desvirtuam o pro-jeto original. Foi o caso do coro alto, de algumas pinturxas e do varandim do bispo. Ora, dentre tantos “vandalis-mos”, o arquiteto resolveu poupar o órgão, em talha dourada e com mais de 10 metros de al-tura. O que tinha era de sair do local, nobre, que ocupa-va: um dos tramos da nave central. A solução, então, foi removê-lo para o fundo da nave cen-tral, onde poderia servir de “artístico guarda-vento”. Só que desapareceu. Aparentemente foi desmantelado...

A escada secreta para as monjasAli a dois passos da Sé existiu, em tem-pos, um convento de reclusão. Entre os dois edif ícios exis-te uma passagem subterrânea que permitia às monjas clarissas desloca-rem-se ao templo – certamente para rezarem – sem que tivessem de expor-se rua fora.

Tudo é imponente na Sé Catedral da Guarda, tudo nos enche de uma paz de espírito e uma tranquilidade que merece ser vivida, por crentes e não crentes, por todos quantos percorrem os caminhos até à sua contemplação física e presencial. E uma vez cá dentro, é obrigatório descobrir e subir, em escadas de aventura, aos terraços

onde a vista alcança um cenário raro sobre a cidade da Guarda. São indescritíveis as sensações que se podem aqui experienciar. Convidamos, pois, todos a visitar esta que é o nosso mais notável e extraordinário monumento na nossa cidade que acolhe e recebe bem à maneira beirã.

curiosidades

molição da casa que ali está em ruínas (e que, em

há muito prometido.Mas o que o sacerdote gosta

ria, mesmo, de ver “revogado” é o sistema de aquecimento, criado

há poucos anos e que consiste na instalação de almofadas

aquecidas nos bancos da sé. “Foi uma má opção”,

desabafa o antigo pároco, lembrando que datam do seu tempo

matização. Agora, ao invés das almofadas,

à volta

Torre dos Ferreiros

Judiaria

Taberna do Benfica

Museuda Guarda

Hélder Sequeira

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diário as beiras | 19-03-2016

aniversário

A

62 | especial | 22 ex-líbris da região Centro

A Serra da Estrela é, do ponto de vista natural, uma das pérolas que Portugal tem. Ecossistema precioso e de grande valor ecológico, tem sido relativamente subvalorizado, o que importa reverter. De alguma forma, o parque natural não tem conseguido ter o dinamismo que o património único e diverso da Serra da Estrela merece e justifica.

Serra da Estrela Marca única no turismode natureza com muito a descobrir para além da neve

Muito para além da neve que continua a dar-lhe fama e a atrair visitantes, a Serra da Estrela é um mundo de riquezas naturais e de paisagens magníficas, intactas e únicas, com os seus vales, lagoas e grandiosos maciços rochosos. Do Vale Glaciar do Zêzere a outras joias como o Vale do Rossim, a Nave de Santo António ou os extraordinários monumentos graníticos que dão pelo nome de cântaros, muito há para descobrir numa serra que parece finalmente querer assumir a gestão inovadora dos seus recursos, criando riqueza

A neve foi o que lhe conquistou a aura de quase misticismo e que continua a levar a sua fama ao país inteiro. Mas a Serra da Estre-la é mais, é muito mais do que as grandiosas paisagens brancas que, todos os invernos, voltam a des-pertar enlevos de alma a quem lá vive e aos que por lá passam, re-ligiosamente, oficiando um ritual feito com muito de memórias de infância, reais ou imaginadas.

A estender-se por nove municí-pios do interior Centro – Belmonte, Celorico da Beira, Covilhã, Fornos de Algodres, Gouveia, Guarda, Manteigas, Oliveira do Hospital

e Seia – e três distritos do país – Guarda, Castelo Branco e Coimbra –, a Serra da Estrela foi o conjunto montanhoso no país que primeiro se organizou em parque natural, o que aconteceu em 1976.

Num total de 101 mil hectares de território, o Parque Natural da Serra da Estrela é a maior área protegida portuguesa. Ostenta o ponto mais alto de Portugal con-tinental – com 1993 metros de al-titude –, tem a única pista de esqui no país, é nascente para dois dos nossos maiores rios – o Mondego e o Zêzere –, oferece uma extra-ordinária diversidade de fauna e

flora, recursos paisagísticos únicos, como únicos são o seu património natural, cultural e edificado, que as suas gentes têm sabido salvaguar-dar e promover.

Com o turismo, nas suas especi-ficidades de natureza e cultural, estabelecido como uma das gran-des âncoras de desenvolvimento do território, sobressaem, numa equação onde a qualidade e a autenticidade são fundamentais, produtos como o queijo e mar-cas como o cão [Serra da Estrela], a gastronomia, as manifestações artísticas e as atividades artesa-nais, nomeadamente as ligadas à

lã (especialmente numa das suas versões mais tradicionais, o borel), ao linho, mas também a uma nova gama de produtos agroalimentares desenvolvidos em parcerias que vão às universidades e aos politéc-nicos buscar saber e inovação.

Turismo de natureza assumido“produto âncora” para a CIM-BSE

Extamente uma das “particula-ridades” que entidades como a Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela (CIM-BSE) pretendem potenciar. Presidida desde janeiro por Paulo Fernandes, autarca do Fundão, que sucedeu a

Helena Freitas, professora de Ecologia da UC, coorde-nadora Unidade de Missão para Valorização do Interior

Mas a Serra da Estrela, onde, desde sempre, vive gente resistente e empre-endedora, é também, de alguma forma, o berço da portugalidade, ocupando um lugar muito especial para os portugueses, tendo-se constituído como referência afetiva a marcar gerações. Fundamental é que a Serra da Estrela tem, na sua diversidade natural e de recursos, um imenso potencial a explorar.

testemunhos

Page 63: DB Aniversário 2016

19-03-2016 | diário as beiras

Vítor Pereira, presidente da Câma-ra Municipal da Covilhã, a CIM-BSE assumiu o turismo de natureza como “produto âncora” no seu pla-no estratégico, sendo que, natural-mente, a Serra da Estrela é a “marca maior e de maior importância” para o desenvolvimento integra-do de um território com mais de 236 mil habitantes e a integrar os municípios de Almeida, Belmonte, Celorico da Beira, Covilhã, Figueira de Castelo Rodrigo, Fundão, For-nos de Algodres, Guarda, Gouveia, Manteigas, Meda, Pinhel, Seia, Sa-bugal e Trancoso.

Ao DIÁRIO AS BEIRAS, Paulo

Fernandes foi escla-recedor: “A CIM-BSE vai tomar as rédeas da defesa e valo-rização da marca Serra da Estrela”, apostando muito concretamente nas sinergias criadas e que é necessário po-tenciar entre municípios, particulares, universidades e e n t i d a d e s reguladoras do turismo.

Nesta estratégia, onde os novos fundos comunitá-rios – Portugal 2020 – irão ter papel central, mas na qual é fundamental ainda a iniciativa e a inovação, integra-se, nas palavras de Paulo Fernandes, a articu-lação necessária com ou-tros projetos estruturantes para todo o Centro interior e para a Serra da Estrela, de que são exemplo as Aldeias Históricas, as Aldeias do Xisto, mas também as áreas protegidas da Gardunha, da Malcata e do Côa, ou ainda a Rede Aldeias de Montanha, a Rota do Zêzere e o Geopa-rk Naturtejo.

Um destino turístico para“todas as épocas do ano”

Fundamental nesta articu-lação, onde a “marca” Serra da Estrela é central, destaca o responsável, é criar con-dições para que os turistas que visitam a região – em números a rondarem as 500 mil dormidas em cada ano, para cerca de cinco mil ca-mas –, ultrapassem a média de 1,6 dias que as estatísti-cas registam. Para tanto, “é absolutamente necessário afirmar a Serra da Estrela como destino preferencial de turismo de natureza no país”, seja cá dentro, seja re-

lativamente ao exterior.Depois, sublinha ainda

Paulo Fernandes, há que afirmar a Serra da Estrela como destino preferencial para além da neve, trans-formando-o num destino para “todas as épocas do

ano”, potenciando para isso o imenso e rico património

cultural de toda a região e fa-zendo do turismo ativo – no-

meadamente com a magnífica rede de percursos pedestres – mais

uma boa razão para visitar a Serra da Estrela. | Lídia Pereira

22 ex-líbris da região Centro | especial | 63

Serra da Estrela Marca única no turismode natureza com muito a descobrir para além da neve

GeoparkEstrelano fórumportuguêsA candidatura da Serra da Estrela a Geopark Mundial da UNESCO foi formal-mente reconhecida pelo Fórum Portu-guês de Geoparques no último dia 4, de acordo com a equi-pa coordenadora do processo promovido pelo Instituto Poli-técnico da Guarda. Esta é mais uma eta-pa da candidatura do território que en-volve todos os nove municípios da Serra da Estrela (Belmon-te, Celorico da Beira, Covilhã, Fornos de Algodres, Gouveia, Guarda, Manteigas, Oliveira do Hospital e Seia).

Dois milquilómetros e 170 mil habitantes

O futuro Geopark Estrela, com mais de dois mil quilómetros quadrados e aproxi-madamente 170 mil habitantes, deverá consagrar a Serra da Estrela como “terri-tório de Educação, Ciência e Cultura”.

Sabugueiroé “AldeiaInteligente”O Sabugueiro, em Seia, é a primeira “Al-deia Inteligente de Montanha” do país. Aldeia – a mais alta de Portugal – está abrangida por um projeto tecnológico pioneiro no país que pretende contribuir para a qualidade de vida dos seus cida-dãos, envolvendo a Fundação Vodafone e a Câmara de Seia.

Mas a Serra da Estrela, onde, desde sempre, vive gente resistente e empre-endedora, é também, de alguma forma, o berço da portugalidade, ocupando um lugar muito especial para os portugueses, tendo-se constituído como referência afetiva a marcar gerações. Fundamental é que a Serra da Estrela tem, na sua diversidade natural e de recursos, um imenso potencial a explorar.

O serrano é introspectivo, e arranja coisas dentro de si porque, por fora, a força das rochas e das árvores lhe tolda o horizonte.António Alçada Baptista

[1927-2008], escritor nascido na Covilhã

curiosidades

Fernandes foi escla-recedor: “A CIM-BSE

para cerca de cinco mil camas –, ultrapassem a média de 1,6 dias que as estatísticas registam. Para tanto, “é absolutamente necessário afirmar a Serra da Estrela como destino preferencial de turismo de natureza no país”, seja cá dentro, seja re

lativamente ao exterior.

Paulo Fernandes, há que

formando-o num destino para “todas as épocas do

ano”, potenciando para isso o imenso e rico património

cultural de toda a região e fazendo do turismo ativo – no

meadamente com a magnífica rede de percursos pedestres – mais

uma boa razão para visitar a Serra da Estrela. | Lídia Pereira

à volta

Torre (estância de esqui)

Vale Glaciar do Zêzere

Poço do Inferno

DB-Luís Carregã

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diário as beiras | 19-03-2016

aniversário

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64 | especial | 22 ex-líbris da região Centro

A Universidade de Coimbra teve um papel central na expansão portuguesa, sendo hoje uma das instituições portuguesas mais conhecidas e com mais prestígio em todo o mundo. Está a adaptar-se aos desafios do mundo de hoje, como fez tantas vezes ao longo da história, consolidando-se como uma universidade global.

Universidade de Coimbra Templo de sabedoria e tradição

Testemunho vivo do que Portugal tem de melhor para oferecer nos campos da ciência, artes, técnica e cultura, a Universidade de Coimbra (UC) reflete 726 anos de história: é a mais antiga do país e uma das primeiras de toda a Península Ibérica. Em 2013 foi reconhecida como Património Mundial da UNESCO, provando a ação central que a UC tem vindo a desempenhar na história da humanidade, Por isso, mais do que um ex-libris regional ou nacional, ela é uma referência inultrapassável

Tanto há a dizer sobre a Universidade de Coimbra (UC), ex-libris por natu-reza da cidade onde foi instalada em 1308 por D. Dinis e à qual regressou com D. João III.

Na verdade, o Paço das Escolas é – como escreveu António Filipe Pi-mentel, diretor do Museu Nacional de Arte Antiga e antigo pró-reitor da UC – “um edifício absolutamente sin-gular, mescla de fortaleza, palácio e escola, moldado pelo tempo imenso que por ele passou, mas que nele dei-xou traços suscetíveis de permitirem reconstituir as múltiplas ‘capas’ dessa prodigiosa gestação”.

Em 1537, o rei D. João III transferiu definitivamente a universidade para

a Lusa-Atenas, situada no topo de uma colina, o Paço da Alcáçova (an-tigo palácio medieval onde perma-neciam os reis durante a sua estadia em Coimbra). O Paço das Escolas viu nascer boa parte dos monarcas por-tugueses da primeira dinastia.

A Sala dos Capelos foi, aliás, a Sala Grande do Paço Real manuelino, onde se realizavam as mais impor-tantes cerimónias da corte e que fica-va próxima dos aposentos do rei e da rainha. É também na chamada Sala Grande dos Actos onde ainda hoje se realizam as principais cerimónias académicas. É ainda naquela sala onde decorrem as provas de dou-toramento. Manda a tradição que o

doutorando, antes de se apresentar perante o júri, deve dar três pontapés num azulejo localizado entre a Via Latina e os Gerais, onde está pintada uma raposa, para afastar o chumbo.

A Universidade de Coimbra está, aliás, recheada de lendas e tradições que foram passando de geração em geração. E esse lado imaterial, de ca-pas e batinas, de serenatas, de repú-blicas – e de tanto que há por desco-brir – é também Património Mundial da Humanidade pela UNESCO.

180 degraus até ao cimo da Torre

A assistir a tudo o que se passa, está, imponente, a velha Torre: o

maior símbolo da Universidade e de Coimbra. São 34 metros de altu-ra, 180 degraus de uma escada em caracol. Desenhada pelo arquiteto António Canevari, a “última versão” do monumento foi edificada entre 1728 e 1733 para substituir a anti-ga torre adaptada do Paço Real de Alcáçova. Já o relógio, de 1866-67, é o último de uma longa série de reló-gios que sempre tiveram um papel fulcral no quotidiano universitário. Segundo os estatutos velhos, o reló-gio da UC devia andar meio quarto de hora atrasado em relação ao re-lógio da cidade. É o famoso “quarto de hora académico” que ainda hoje resiste à azáfama dos dias.

João Gabiriel Silva,reitor da Universidade de Coimbra

A Universidade de Coimbra é hoje uma Universidade moderna, de di-mensão global e virada para o futuro, mas bem enraizada numa história com mais de sete séculos, tendo sempre aliado ao conhecimento acu-mulado, e transmitido de geração em geração, a contemporaneidade do conhecimento inovador.

Luís Filipe Menezes, vice-reitor da Universidade de Coimbra

testemunhos

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19-03-2016 | diário as beiras 22 ex-líbris da região Centro | especial | 65

Do lado esquerdo da Torre, está a Capela de S. Miguel, onde o padre António Vieira proferiu o último discurso antes de ser preso pela In-quisição e que alberga um órgão ibérico de 1732, com dois mil tubos que ainda hoje funciona.

E, depois, a Biblioteca Joanina, a “relíquia viva” da instituição. É dif ícil ficar indiferente a toda a sumptuosidade daquela que é considerada uma das mais espeta-culares e originais bibliotecas bar-rocas europeias. Num só espaço reúnem-se um tesouro literário de valor incalculável e a opulência da arquitetura e das artes do início do século XVIII.

A primeira edição dos LusíadasO local tem um quê de sagra-

do e é iluminado por vitrais para preservar o seu valioso conteúdo. As paredes de dois metros de espessura ajudam a manter uma temperatura constante dentro da biblio-teca. Os livros, esses, não po-dem ser folheados. Mas há tanto por onde o olhar pode perde-se ainda que num enle-vo platónico.

No cofre da Biblioteca Joani-na encontram-se exemplares de extrema raridade, como uma pri-meira edição dos Lusíadas, uma Bí-blia Hebraica, editada na segunda

metade do século XV, de que apenas existem cerca de 20 exemplares em todo o mun-do, ou a Bíblia Latina das 48 Linhas, impressa em 1462 por dois sócios de Gutenberg.

A biblioteca é composta por três pisos: o piso nobre, a face mais emblemática da Casa da Livraria; o piso Intermédio, local de trabalho e funcio-nou como casa da Guarda; e a Prisão Académica, que de 1773 até 1834 foi o local de clausura dos estudantes.

Património da HumanidadeNo Pátio das Escolas reve-

lam-se os principais pontos de interesse turístico da Uni-versidade de Coimbra. A atri-buição de património mun-dial da humanidade pela UNESCO, em junho de 2013, estende-se pela Alta Universi-tária e por sete antigos colé-gios na rua da Sofia (baixa da cidade). E faltaria, ainda, falar do Jardim Botânico, do acer-vo museológico de inegável significado, não só no plano nacional, mas ainda no con-texto das grandes coleções mundiais de ciência ou da Academia coimbrã, deten-

tora de um riquíssimo pa-trimónio de combates

ideológicos. Mas ali é o centro de tudo.

Afinal, e voltando a António Filipe Pi-mentel – são “mil anos da história de um edif ício; ou um edif ício com mil anos – o Paço das Escolas

da Universidade de Coimbra. Mil

anos de uma cons-trução que se entre-

cruza com a história de uma cidade duas vezes

milenar”. | Patrícia Cruz Almeida

Universidade de Coimbra Templo de sabedoria e tradição

Morcegos na Biblioteca

À noite, quando a Bi-blioteca Joanina fecha, as mesas são cobertas com toalhas de couro para as proteger dos dejetos dos morcegos, que se alimentam dos insetos que danificam os livros. Há registos de peles compradas à Rússia já no século XVIII para preservar as mesas.

Três pontapés na “raposa”

Há um local na Uni-versidade num azulejo (entre a Via Latina e os Gerais), onde um dos azulejos onde figura uma raposa está mais gasto. Diz-se que para que “a raposa não apa-nhe os alunos”, ou seja, “para que não repro-vem”, estes devem dar três pontapés no azule-jo para que “o chumbo não os apanhe”.

O mais famoso preso académico

Antero Quental foi estu-dar para Coimbra em 1855, tendo-se matricu-l a d o n a Faculdade de Direito em 1858, onde o pri-meiro ano decorreu de uma forma atribulada. Um excesso cometido durante a praxe aos caloiros custou a An-tero de Quental oito dias de prisão. Tendo sido muito popular no meio académico, An-tero concluiu o curso em 1864.

A Universidade de Coimbra é hoje uma Universidade moderna, de di-mensão global e virada para o futuro, mas bem enraizada numa história com mais de sete séculos, tendo sempre aliado ao conhecimento acu-mulado, e transmitido de geração em geração, a contemporaneidade do conhecimento inovador.

Mil anos da história de um edifício; ou um edifício com mil anos - o Paço das Escolas. Um edifício absolutamente singular, mescla de fortaleza, palácio e escola, moldado pelo tempo imenso que por ele passou, mas que nele deixou traços suscetíveis de permi-tirem reconstituir as múltiplas ‘capas’ dessa prodigiosa gestação.

António Filipe Pimentel, diretor do Museu Nacional de Arte Antiga e antigo pró-reitor da Universidade de Coimbra

curiosidades

O local tem um quê de sagra-

No cofre da Biblioteca Joani-na encontram-se exemplares de extrema raridade, como uma pri-meira edição dos Lusíadas, uma Bí-blia Hebraica, editada na segunda

nacional, mas ainda no contexto das grandes coleções mundiais de ciência ou da Academia coimbrã, deten

tora de um riquíssimo património de combates

ideológicos. Mas ali é o centro de tudo.

Afinal, e voltando a António Filipe Pi

de Coimbra. Mil anos de uma cons

trução que se entrecruza com a história de

uma cidade duas vezes milenar”.

| Patrícia Cruz Almeida

à volta

Jardim Botânico

Gabinetede Física

Sala dos Capelos

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diário as beiras | 19-03-2016 66 | publicidade

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68 | especial | 22 ex-líbris da região Centro

A capacidade da região de produzir espumantes e vinhos brancos, de forma consistente e com grande qualidade é imbatível. Nos vinhos tintos vejo o futuro pela diferença, essencialmente, por aquilo que são os nossos vinhos, que em prova cega conseguimos identificar.

Vinho da Bairrada Região é responsável por 65% da produção de todo o espumante nacional

É nos espumantes e nos vinhos brancos que a região da Bairrada mostra a sua competitividade a nível nacional e internacional. A produção é feita com base, essencialmente, nas castas tradicionais, nomeada-mente a Baga, considerada a “rainha da região”. A produção de vinhos espumantes iniciou-se na Bairrada em 1890, por iniciativa do engenheiro agrónomo José Maria Tavares da Silva, nas instalações da então Escola Prática de Viticultura e Pomologia da Bairrada, na qual foi o primeiro diretor

A região da Bairrada é responsável por cerca de 65 por cento da pro-dução de todo o espumante nacio-nal, sendo que apenas 25 por cento desse produto é certificado. Para além do espumante, é também nos vinhos brancos que a região mos-tra a sua competitividade a nível nacional e internacional.

Abundante na produção de vi-nhos brancos e tintos, a região da Bairrada utiliza, essencialmente, as castas tradicionais, nomeadamen-te a Baga, considerada a “rainha da região”. Refira-se que a região

autoriza que se façam vinhos uti-lizando cerca de 25 castas. “Hoje em dia, algumas destas castas, que eram utilizadas apenas para fazer vinhos tranquilos, estão também com grande enfoque na produção do espumante, nomeadamente aqueles que são elaborados a partir de Baga”, explica Pedro Soares, pre-sidente da Comissão Vitivinícola da Bairrada.

Neste âmbito, a comissão vai, no início da próxima semana, apre-sentar o projeto em Inglaterra, sendo esta uma “primeira apro-

ximação” ao mercado do Reino Unido. “Trata-se de um projeto que envolve oito produtores da região, em que todos têm o espumante com a sua assinatura, mas com um forte denominador comum que é o facto de terem sido feitos a partir de uma casta tinta, mas feitos em branco ou em rosado”, esclarece.

Recorde-se que a produção de vinhos espumantes iniciou-se na Bairrada em 1890, por iniciativa do engenheiro agrónomo José Maria Tavares da Silva, nas instalações da então Escola Prática de Viticultura

e Pomologia da Bairrada, na qual foi o primeiro diretor.

Aposta na diferenciação com base na inovação

Com a certificação dos vinhos “estamos a desenvolver uma ati-vidade que valoriza o território, a paisagem e que tem uma expressão naquilo que é a atividade socioeco-nómica desta região muito impor-tante”, diz Pedro Soares, referindo que são os concelhos de Anadia, Cantanhede e Oliveira do Bairro os maiores produtores de uva. Já Mea-

Pedro Soares, presi-dente da Comissão Vi-tivinícola da Bairrada

O enoturismo na região tem vindo a crescer, muito se deve à qualidade dos nossos vinhos e das infraestruturas que os agricultores utilizam. Os vinhos da Bairrada, para a economia da região, é crucial, quer na sua importância direta, quer na importância indireta.

Jorge Sampaio Presidente da Associação das Rotas dos Vinhos de Portugal

testemunhos

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19-03-2016 | diário as beiras 22 ex-líbris da região Centro | especial | 69

lhada, Águeda, Coimbra, Aveiro e Vagos são os concelhos da região da Bairrada que apresentam me-nor expressão.

Para Pedro Soares, a região da Bairrada deve posicionar-se, quer no mercado nacional, quer no mer-cado internacional como uma re-gião que oferece uma diferença, que está patente nas características dos seus produtos, nomeadamente na frescura, longevidade e capa-cidade de estagiar. “Isso, acredito eu, num mercado cada vez mais globalizado será o maior valor que

nós podemos colo-car nos nossos pro-dutos”, manifesta.

Mas, para além da diferenciação, o presidente da Comissão Vitivi-nícola destaca a qualidade do pro-duto como elemento fundamental para o vinho vingar no mer-cado. “Muitas vezes, essa diferença não está apenas na qualidade do produto, o

que já de si tem que ser uma qua-lidade de patamar elevado, mas a diferença na agregação de valor tem muitas vezes a ver com aquilo que o consumidor pode percecio-nar que envolve a produção do produto, na sua história, no esfor-ço que cada um dos produtores coloca no desenvolvimento desse mesmo produto, no tempo e nas condições de estágio”, admite.

O preço dos vinhos portugue-ses, segundo Pedro Soares, tem aumentado, assim como o preço dos vinhos da Bairrada. “Isso é um sinal de que estamos a fazer bem”, assume. “Mais do que vender mui-to, estamos a vender melhor. Eu acho que é o que Portugal deve fazer”, reforça.

Sobre a questão da inovação e desenvolvimento aplicado ao se-tor do vinho, Pedro Soares admite que é o que pode marcar a dife-rença. “Essa inovação serve, não para fazer produtos novos, mas para fazer melhores os produtos que já estávamos a fazer, onde podemos ganhar mais potencial, torna-los mais competitivos, onde podemos produzir melhor e com menos risco”, admite, garantindo que a introdução da tecnologia é uma preocupação que existe a nível nacional. Porém, na Bairra-da, “estamos muito focados na

questão da sustentabilidade da atividade”, reforça.

Outra das apostas, segundo Pedro Soares, passa por tra-

zer para a região da Bairrada um centro de competên-cias na área do espumante. “Isto para nós é importan-te, mas mais importante do que isso é perceber como é que a região se irá compor-

tar daqui a 10 ou 20 anos”, admite, acrescentando que,

para isso, é preciso ter dados macroeconómicos que “nos

permitam perceber o que é que foi feito de menos bom até aqui e em que é que podemos inovar”. | Joana Santos

Vinho da Bairrada Região é responsável por 65% da produção de todo o espumante nacional

Baga, a casta rainha

A Baga é considera-da a “casta rainha” da região da Bairrada. Embora haja Baga noutras regiões, esta casta tem grande ex-pressão nesta região. A Baga tem origem na Bairrada e adap-tou-se às necessida-des produtivas da própria região.

Canadá é mercado surpresaAté há bem pouco tempo, Brasil e Ango-la eram os mercados para onde mais se en-viavam produtos da Bairrada. “Canadá, surpreendentemen-te, tem uma excelen-te performance”, re-vela Pedro Soares, da Comissão Vitiviníco-la da Bairrada, sobre o mercado. Em breve, a região quer voltar a ter destaque em paí-ses como os Estados Unidos da América e Inglaterra.

28 milhões de litros de vinho produzidos em 2015

Cerca de 28 milhões de litros de vinho fo-ram produzidos em 2015 na região da Bairrada. Refira-se que nesta região exis-te um universo entre dois mil e 2.500 pro-dutores, dos quais 110 são certificados. Em termo de área de vinha, o que está registado na região da Bairrada é cerca de nove mil hectares.

O enoturismo na região tem vindo a crescer, muito se deve à qualidade dos nossos vinhos e das infraestruturas que os agricultores utilizam. Os vinhos da Bairrada, para a economia da região, é crucial, quer na sua importância direta, quer na importância indireta.

O setor vitivinícola tem um elevado potencial. Representa 725 milhões de euros em exportação, que corresponde a 1,5% do total de exportações nacionais. Foi um setor que se modernizou e profis-sionalizou nas últimas décadas e hoje começa a surgir o resultado desse investimento, concretizado em vendas e prémios.

Adelina Martins, Estação Vitivinícola da Bairrada

curiosidades

-duto como elemento fundamental para o vinho vingar no mer-cado. “Muitas vezes, essa diferença não está apenas na qualidade do produto, o

menos risco”, admite, garantindo que a introdução da tecnologia é uma preocupação que existe a nível nacional. Porém, na Bairrada, “estamos muito focados na

questão da sustentabilidade da atividade”, reforça.

Outra das apostas, segundo Pedro Soares, passa por tra

zer para a região da Bairrada um centro de competên

que a região se irá comportar daqui a 10 ou 20 anos”,

admite, acrescentando que, para isso, é preciso ter dados

macroeconómicos que “nos permitam perceber o que é que

foi feito de menos bom até aqui e em que é que podemos inovar”. | Joana Santos

à volta

Comissão Vitivinícola da Bairrada

Espumante tem grande expressão na região

Estação Vitivinícola da Bairrada

DR

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diário as beiras | 19-03-2016

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70 | especial | 22 ex-líbris da região Centro

Acho que posso afirmar, sem falsas modéstias, que a nossa ação está estreitamente associada a um res-surgir da notoriedade e prestígio dos vinhos do Dão e à sua valorização comercial, ao lançamento da Rota dos Vinhos do Dão, à modernização da Comissão Vitiviní-

cola Regional com a simplificação de procedimentos e menores custos para os produtores e empresas comercializadoras de vinho e a uma gestão rigorosa, o que permitiu libertar recursos para investimentos em qualidade e promoção.

Vinho do Dão Setor mais importante da economia agrária de 16 municípios

A região do Dão foi criada em 1908 e é uma das mais antigas do país. Tem acompanhado a modernidade e o crescimento verifica-se, também, com o aumento das exportações, principalmente para os países de União Europeia. Ao longo dos anos a Comissão Vitivinícola Regional do Dão tem procurado dinamizar a região, estimulando o gosto pelos vinhos e ajudar os apreciadores a apurarem as exigências. A CVR do Dão é também responsável pela promoção dos vinhos que são produzidos numa região que engloba um total de16 municípios

“A região do Dão foi criada por Decreto Régio de 18 de Setembro de 1908. É, portanto, das regiões demarcadas mais antigas, depois da do vinho do Porto. Tem presen-temente 16 mil hectares de vinha e produz cerca de 35 a 40 milhões de litros por ano, consoante as condi-ções climáticas. O vinho apto a ser certificado como Denominação de Origem Protegida (DOP) ou Indi-cação Geográfica Protegida (IGP) é aproximadamente metade desta quantidade. Do vinho certificado, é exportado cerca de 50 por cen-to”. Arlindo Cunha descreveu, des-ta forma, a região demarcada do Dão. O presidente da Comissão Vi-

tivinícola Regional (CVR) do Dão, esclareceu ainda que apesar de serem 50 mil as pessoas que têm videiras registadas no cadastro vitícola da região, “apenas meta-de destas produzem vinho para o mercado – diretamente ou através das adegas cooperativas de que são membros”. Estas representam ainda cerca de 40 por cento da produção total da Região.

A CVR do Dão é o “setor mais im-portante da economia agrária do território de 16 municípios”, que mantém um perfil predominante-mente rural, não obstante algumas importantes bolsas industriais, designadamente no perímetro

Viseu-Tondela-Mangualde. “Um setor que se tem revelado compe-titivo interna e externamente, não obstante a impiedosa concorrên-cia que caracteriza este mercado”, disse Arlindo Cunha.

Recuando alguns anos, o presi-dente da CVR do Dão recordou que apartir de meados da década de 1980, o Dão teve alguma difi-culdade em se adaptar à concor-rência das novas regiões produto-ras, com destaque para o Alentejo. “Demorou alguns anos a reagir, reestruturou as suas vinhas e as suas adegas e voltou hoje a cres-cer, com um aumento de sete por cento dos vinhos comercializados

em 2014 e 2015 e um aumento das exportações, especialmente para o mercado dos países da União Europeia”.

Vinhos de caráter singular e diferenciado

As condições edafoclimáticas (terra e clima) da região, assim como a especificidade das suas castas essencialmente regionais, incutem aos vinhos do Dão “um carácter e um perfil bastante sin-gular e diferenciado”. “Destas qua-lidades se tem feito eco a crítica nacional e internacional, que tem insistentemente – diria mesmo que unanimemente - elogiado os

Arlindo Cunha, presidente da Comissão Vitivinícola Regional (CVR) do Dão

testemunhos

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19-03-2016 | diário as beiras 22 ex-líbris da região Centro | especial | 71

vinhos do Dão nos últimos anos: pelo seu carácter, complexidade, elegância, equilíbrio, maturidade, potencial de envelhecimento e combinação perfeita com a gas-tronomia”. Este é, aliás, na opinião do presidente da CRV do Dão, “um dos fatores críticos para o sucesso do Dão: o facto de os vinhos serem tão gastronómicos, com acidez excecional, de aromas complexos e delicados, com grande capaci-dade de guarda, apresentando um boquet extraordinário, num mundo que cada vez mais rejeita o rolo compressor da padronização de sabores e perfis qualitativos impostos pela impiedosa globa-

lização”. Qualidades estas, sempre aliadas a uma “ex-celente relação qualida-de preço”, assim como a afirmar uma realidade de vinhos que não são caros e que se podem guardar na garrafeira e apreciar por muitos anos.

Modernidade aliada à tradição

Quanto ao futuro, Ar-lindo Cunha realça que a região do Dão tem de “saber enfrentar o desafio da moder-nidade, sem perder a tradição,

o desafio da reafirmação nos mercados interno

e externos, da necessi-dade de continuar au-mentar a sua quota de mercado e de valor”. Terá ainda de revita-lizar o conhecimento e investigação vitíco-las, “de intensificar

a sua notoriedade e prestígio como região

produtora de vinhos di-ferenciados e de excelên-

cia e de mobilizar os seus produtores para este comba-

te económico, que tem bons ar-gumentos para vencer”. | Rute Melo

Vinho do Dão Setor mais importante da economia agrária de 16 municípios

Arranque da vinha A política europeia do arranque de vi-nhas já terminou há muitos anos. No Dão também houve vinhas arrancadas. Algumas delas fa-zem hoje falta, pois os vinhos de vinhas velhas são atualmen-te um importante trunfo comercial e promocional. No en-tanto, a maior parte dessas vinhas eram vinhas mal localiza-das e com variedades desadequadas às res-petivas localizações. O arranque das vi-nhas deu um contri-buto para a melho-ria da qualidade dos vinhos.

Vinhos distintos

Os vinhos do Dão são distintos. O vinho tinto apresenta-se com cor rubi com subtis reflexos atijo-lados, aroma inten-so a fruta madura, sabor complexo e delicado e de textu-ra aveludado e en-corpado. Já o branco tem cor amarela-ci-trina, um aroma fru-tado, complexo e de-licado, sabor fresco e com um final exu-berante e a textura é suave, com acidez equilibrada. No rosé a cor é rosado, o aro-ma floral e frutado, com sabor fresco e persistente e uma textura leve, com aci-dez equilibrada. No que ao espumante diz respeito, pode-se encontrar com cor citrina, rubi ou rosa-do, aroma frutado, sabor fresco, equili-brado e persistente, textura elegante e boa acidez, elevado requinte e sedução. A perlage é bolha fina e persistente.

Viseu, de há dois anos a esta parte, tem-se vindo a assumir como uma cidade vinhateira pela importância intrínseca que tem este produto, que é o vinho do Dão que cada vez atinge um patamar de qualidade mais elevado. Assim, este território assume por pleno direito esse seu estatuto

que visa um duplo objetivo: promover este produto, mas ao mesmo tempo ligá-lo à tradição e à história da cidade. E valorizamos todas as iniciativas que atualmente estão a ser desenvolvidas, quer as nossas como numa lógica de parceria com a CVR Dão, a Rota dos Vinhos do Dão.

Almeida Henriques, presidente da Câmara Municipal de Viseu

curiosidades

lização”. Qualidades estas, sempre aliadas a uma “ex-

-

Quanto ao futuro, Ar-lindo Cunha realça que a região do Dão tem de “saber enfrentar o desafio da moder-nidade, sem perder a tradição,

o desafio da reafirmação nos mercados interno

e externos, da necessidade de continuar aumentar a sua quota de mercado e de valor”.

las, “de intensificar a sua notoriedade e

prestígio como região produtora de vinhos di

ferenciados e de excelência e de mobilizar os seus

produtores para este combate económico, que tem bons ar

gumentos para vencer”.

à volta

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