das enchentes agravadas devido à canalização do córrego ... · pdf...

23
Núcleo de Análise Geo-Ambiental ONG Programa de Educação Ambiental 1 Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego São Pedro, do Nível da Água e da BR440 NÚCLEO DE ANÁLISE GEO-AMBIENTAL DA UFJF www.ufjf.br/analiseambiental Tel .: 2102-3414 / 9977-4077 Prof. Dr. Cézar Henrique Barra Rocha CREA 51.903 / D Prof. Dr. Luiz Evaristo Dias de Paiva CREA 5.869 / D

Upload: truongnhan

Post on 06-Feb-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego ... · PDF filemétodo que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário ... (adimensional) 24 3. t T 3 p (4) T -

Núcleo de Análise Geo-Ambiental

ONG Programa de Educação Ambiental

1

Das Enchentes agravadas devido à

canalização do Córrego São Pedro, do Nível

da Água e da BR440

NÚCLEO DE ANÁLISE GEO-AMBIENTAL DA UFJF

www.ufjf.br/analiseambiental

Tel .: 2102-3414 / 9977-4077

Prof. Dr. Cézar Henrique Barra Rocha

CREA 51.903 / D

Prof. Dr. Luiz Evaristo Dias de Paiva

CREA 5.869 / D

Page 2: Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego ... · PDF filemétodo que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário ... (adimensional) 24 3. t T 3 p (4) T -

Núcleo de Análise Geo-Ambiental

ONG Programa de Educação Ambiental

2

Figura 1 – Bacia de contribuição até o início da canalização do

Córrego São Pedro.

Page 3: Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego ... · PDF filemétodo que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário ... (adimensional) 24 3. t T 3 p (4) T -

Núcleo de Análise Geo-Ambiental

ONG Programa de Educação Ambiental

3

I) Do cálculo da vazão na Seção de início do Canal

O Cálculo da Vazão de Projeto para a Bacia de Contribuição do

Canal Projetado na BR-440 no Bairro São Pedro - Figura 1 - em

Juiz de Fora (MG) foi realizado através do Método de Snyder.

1.Método Proposto: Método de Snyder (1938)

O método de Snyder (1938) apud Tucci (1997) trata-se de um

método que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário

sintético e da vazão de projeto, com base nos dados

característicos da bacia de drenagem. Trata-se de um método

adequado para bacias com inexistência de dados de monitoramento

de vazão e foi concebido com dados dos Apalaches (USA). O método

de aplicação relativamente simples é recomendado para bacias

hidrográficas com áreas variando de 10 a 10000 mi2 (Villela e

Mattos, 1975).

2.Apresentação das equações analíticas do método

0,30

tP L..LcCt (1)

tp – Tempo de retardamento da bacia em horas.

Ct - Coeficiente que depende das características da bacia.

Vilela e Mattos recomendam o uso deste coeficiente variando

entre 1,80 e 2,2, tomando-se valores menores para bacias com

grandes inclinações (adimensional).

L – Comprimento do rio principal, desde o divisor de águas até a

saída da bacia, em milhas.

Lc – Distância do ponto do rio principal mais próximo do centro

geométrico da bacia, até a saída da mesma, em milhas.

5,5

tt

p

r

(2)

tr - duração da chuva em horas

p

p

pt

.C . 640q

A

(3)

pqVazão de pico do Hidrograma Unitário Sintético de Snyder, em

pés cúbicos por segundo.

A – Área de drenagem da bacia em milhas quadradas

pC- É um coeficiente que varia entre 0,56 e 0,69 (adimensional)

24

t.33T

p

(4)

T - Tempo de base do escoamento superficial em horas.

Page 4: Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego ... · PDF filemétodo que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário ... (adimensional) 24 3. t T 3 p (4) T -

Núcleo de Análise Geo-Ambiental

ONG Programa de Educação Ambiental

4

3. Aplicação do Método de Snyder a base de dados da bacia

hidrográfica que contribui para o canal de escoamento da BR-440.

3.1. Dados da Bacia Hidrográfica até início do Canal (Figura 1)

L = 7,6 km = 4,75 milhas.

Lc = 4,0 km = 2,50 milhas

Ct = 2,0 ( adotado)

A = 22,70 km2 = 8,90 (mi2)

I0 = 0,001 = 0,1% (declividade média)

3.2. Memorial de cálculos

3.2.1. Tempo de Pico 0,30

tP L..LcCt

Ct = 2,0 valor adotado

horas 4,0 horas4,204,75.2,502t0,30

P

3.2.2. Duração da chuva

1horahoras0,765,5

4,20t r

3.2.3. Vazão de pico

p

p

pt

.C . 640q

A

adotar pCigual a 0,60

/sm24,24/sft854,54,0

8,9.0,60 . 640q 33

p

A vazão de 24,24 m3/s corresponde a vazão de pico do Hidrograma

Unitário Sintético do Método de Snyder (1938) que foi concebido

para uma chuva uniforme correspondente a uma lâmina liquida de 1

polegada ou 25,4 mm de chuva sobre a bacia.

Todavia, para se chegar a vazão de projeto para a seção da Br440

fez-se a correção na vazão de 24,24 m3/s, empregando o

procedimento citado em Vilela e Mattos (1975, pág. 116), que

analiticamente traduz-se pela equação (5) abaixo.

hC

QeQuou

AhC

A.1

Qe

Qu

(5)

Qu- vazão do escoamento superficial correspondente a hidrógrafa

unitária em unidade de volume por tempo [para o problema em tela

igual a uma polegada ou 25,4 mm].

Qe

- Vazão do escoamento superficial correspondente a vazão

medida.

C- Coeficiente de deflúvio

Page 5: Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego ... · PDF filemétodo que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário ... (adimensional) 24 3. t T 3 p (4) T -

Núcleo de Análise Geo-Ambiental

ONG Programa de Educação Ambiental

5

Sobre o coeficiente de deflúvio: o Coeficiente de Deflúvio foi

adotado segundo o critério citado em Paiva, J.B.D.de & Paiva,

E.M.C.D.de (2001) conforme tabela 3.18 desta referencia mostrada

à pág. 80.

C100 = 0,47 – Coeficiente de deflúvio para o período de retorno

de 100 anos para bacias hidrográficas, com área coberta com 50%

de grama e declividade variando de 0% (zero) a 2% (dois por

cento)

3.2.4. tempo de base do escoamento superficial

24

t.33T

p

dias 3dias3,524

4.33T

3.2.5. Aplicação da equação de chuva de Juiz de Fora

0,960

173,0

r

23,965)(tr

T3000I

(6)

I - Intensidade da chuva em milímetros por hora

rT - período de retorno em anos. Adotou-se o período de retorno de

100 anos.

tr - duração da chuva em minutos. Calculada no item 3.2.2, como

igual a 0,76 horas, mas oportunamente arredondado para 1 hora ou

60 minutos.

3.2.5.1. Determinação da intensidade da chuva para uma hora

horamm /8025,7923,965)(60

)001(3000I

0,960

173,0

I.CIf (7)

fI - Intensidade efetiva. Parcela da chuva propensa a gerar vazão

do escoamento superficial

C = 0,47 estabelecido em função da cobertura da bacia e da

declividade, conforme tabela 3.18, pág. 80 da referência Paiva,

J.B.D.de & Paiva, E.M.C.D.de (2001).

I.CIf mm/hora 36,60 80.0,47If

3.2.5. 1.2. Altura da lâmina líquida sobre a bacia par auma hora

mm36,601h.36,60mm/h.tIh rf

Page 6: Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego ... · PDF filemétodo que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário ... (adimensional) 24 3. t T 3 p (4) T -

Núcleo de Análise Geo-Ambiental

ONG Programa de Educação Ambiental

6

3.2.6. Determinação da vazão de projeto

3.2.6.1 Fator de correção da vazão

69,036,80mm

25,4mm

he

hu

3.2.6.2. Vazão de projeto

sm /350,69

24,24

0,69

QuQe 3

3.2.7. Dimensionamento da seção retangular do canal

Considerando Vazão “Q” de 35 m3/s e velocidade “v” de 1 m/s:

Q = v. A , sendo A = área

A = Q / v = 35 m3/s / 1 m/s

A = 35 m2

Esta seria a Seção mínima para receber as águas da Bacia

Hidrográfica situada a montante do início do Canal.

Portanto, a Seção do Canal poderia ser proposta

de várias maneiras:

Mínima: Base de 14 m x altura de 2,5 m = 35 m2.

Recomenda-se trabalhar com valores maiores:

Base de 18 m x altura de 2 m = 36 m2;

Base de 16 m x altura de 2,5 m = 40 m2.

O Método do Hidrograma Unitário Sintético de Snyder (1938) apud

Tucci (1997) é o mais indicado para este tamanho de Bacia

Hidrográfica. O Método Racional, utilizado para bacias menores,

certamente resultaria em vazões maiores, conseqüentemente com

áreas de seção ainda maiores.

Page 7: Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego ... · PDF filemétodo que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário ... (adimensional) 24 3. t T 3 p (4) T -

Núcleo de Análise Geo-Ambiental

ONG Programa de Educação Ambiental

7

Em Engenharia, seguindo o bom senso, procura-se trabalhar com

coeficientes de segurança para diminuir os erros devido às

diversas variáveis que contribuem neste tipo de evento. A adoção

de uma Seção maior que o tamanho encontrado seria uma forma de

garantir com segurança o escoamento das águas desta Bacia visto

que foi considerado um período de retorno de 100 anos.

Portanto, a área da Seção Transversal do Canal mostrado na

Figura 2 deveria ser maior que 35m2. Contudo, os projetistas da

BR440 dimensionaram três células de 3 metros x 3 metros,

totalizando 27 m2.

Sem considerar coeficientes de segurança, na melhor das

hipóteses para este empreendimento, ficou faltando uma célula,

pois com quatro células de 9 m2, resultaria 36 m2.

Figura 2 – Seção de início da canalização do Córrego São Pedro.

Contudo, veremos no item seguinte que existe outro agravante

ainda mais sério: o nível da água do Córrego, a disposição

equivocada do Canal (que deveria ser mais largo e menos alto) e

o nível baixo das ruas laterais. A BR440 esta agravando ainda

mais este problema.

Page 8: Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego ... · PDF filemétodo que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário ... (adimensional) 24 3. t T 3 p (4) T -

Núcleo de Análise Geo-Ambiental

ONG Programa de Educação Ambiental

8

II) O agravante do Nível da Água do Córrego São Pedro x BR440

Para exemplificar, nos Anexos de 1 a 4 podem ser observadas as

situações em planta e perfil de três ruas do Bairro São Pedro.

Observando a Figura 3 abaixo, percebe-se claramente a pouca

diferença de altura entre o nível de água (NA) na época da seca

e a manilha de águas pluviais colocada para atender a Rua Rosa

Fattore Anselmo (cerca de 37 cm no dia 03/08/2010). No Anexo 2,

apresenta-se a Seção Transversal da Rua citada. Numa simulação

real, se este nível subir mais do que 1,56 metros da cota do

N.A. atual, teremos todo sistema de drenagem de água pluvial

funcionando ao contrário, ou seja, como não existe dispositivo

que impeça o retorno das águas (como válvulas de retenção), o

alagamento da Rua Rosa Fattore Anselmo será inevitável.

Outra observação de extrema relevância, imperceptível aos olhos

do leigo em engenharia, refere-se ao fato de que este trecho

Córrego São Pedro que faz a interligação com o canal da BR040

têm um formato praticamente em forma de “V” (Figuras 3

e 4). Esta morfologia do rio, diferente da morfologia da seção transversal, potencializa a elevação do nível da água à montante

do canal, corroborando ainda mais para a condição de que a água

promova a inundação nas manilhas do trecho que interliga o

Córrego ao canal. Este fato aumenta sobremaneira a possibilidade

de enchentes no entorno. Todas essas, constatações, aliadas aos

cálculos fornecidos pelo Método de Snyder justificam o aumento

substancial da seção de escoamento do canal da BR040.

Outra forma de saber o início do alagamento é pelo N.A. no

início do Canal: se a água subir mais do que 1,87 m nesta Seção,

a Rua será alagada. Considerando que a lâminda d’água no Canal

nesta data era de apenas 20 cm, podemos somar encontrando 2,07

m, ou seja, se o Canal trabalhar a Seção Plena (3 m), poderemos

ter cerca de 93 cm de alagamento na Rua Rosa Fattore

Anselmo.

Page 9: Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego ... · PDF filemétodo que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário ... (adimensional) 24 3. t T 3 p (4) T -

Núcleo de Análise Geo-Ambiental

ONG Programa de Educação Ambiental

9

Figura 3 – Bueiro da Rua Rosa Fattore Anselmo próximo do nível

da água do Córrego São Pedro.

Figura 4 – Detalhe da manilha que poderá levar água do Córrego

São Pedro para Rua Rosa Fattore Anselmo (desnível de 15 cm).

Page 10: Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego ... · PDF filemétodo que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário ... (adimensional) 24 3. t T 3 p (4) T -

Núcleo de Análise Geo-Ambiental

ONG Programa de Educação Ambiental

10

Figura 5 – Aproximadamente 15 cm de desnível entre entrada e

saída da manilha da Rua Rosa Fattore Anselmo que está 1,5 m

abaixo da BR440 e poderá ser inundada cerca de 93 cm.

Na Figura 6 pode-se observar que o morador já tenta minimizar os

impactos das enchentes periódicas que o poder público não

consegue resolver. Tanto na porta de serviço, quanto na porta da

sala foram construídas muretas de cerca de 40 centímetros. Em

conversa com o proprietário deste imóvel, ficou muito clara a

preocupação com a colocação da manilha de águas pluviais com

diâmetro de 1 m. Se houver retenção de água na entrada do Canal

ou uma subida repentina do nível do Córrego, certamente haverá

prejuízos aos moradores das margens da BR440 no Bairro São

Pedro. A situação descrita na Rua Rosa Fattore Anselmo ocorre em

todas as ruas transversais ao traçado da BR440, destacando a Rua

Major Lino Lima (UPA São Pedro), Rua Cidade da França, Rua José

Tarcísio Glanzmann e Rua “I” ilustradas nas figuras seguintes.

Page 11: Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego ... · PDF filemétodo que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário ... (adimensional) 24 3. t T 3 p (4) T -

Núcleo de Análise Geo-Ambiental

ONG Programa de Educação Ambiental

11

Figura 6 – Dispositivo de proteção contra enchente com 40 cm de

mureta na residência número 125 da Rua Rosa Fattore Anselmo.

No Anexo 3 pode-se observar a Seção Transversal da Rua Cidade da

França: o caimento da manilha é de apenas 20 cm (0,56%); se o

N.A. subir mais do que 1,372 m teremos alagamento nesta Rua.

Isto corresponde a subir aproximadamente 2,03 metros no inicio

do Canal. Considerando a lâminda d’água de 20 cm, teremos 2,23m.

Se o Canal estiver trabalhando na Seção Plena de 3 m, poderemos

ter 77 cm de alagamento na Rua Cidade da França.

Page 12: Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego ... · PDF filemétodo que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário ... (adimensional) 24 3. t T 3 p (4) T -

Núcleo de Análise Geo-Ambiental

ONG Programa de Educação Ambiental

12

Figura 7 – Detalhe do muro da Minasgás na Rua Cidade da França

com desnível aproximado de dois metros até a Via São Pedro.

Figura 8 – Caixa de passagem na Rua Cidade da França.

Page 13: Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego ... · PDF filemétodo que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário ... (adimensional) 24 3. t T 3 p (4) T -

Núcleo de Análise Geo-Ambiental

ONG Programa de Educação Ambiental

13

Figura 9 – Desnível da Via São Pedro até as casas da Rua Cidade

da França.

Figura 10 – Rua Cidade da França: dispositivo de proteção contra

enchentes com marca na parede externa (cerca de 80 cm).

Page 14: Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego ... · PDF filemétodo que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário ... (adimensional) 24 3. t T 3 p (4) T -

Núcleo de Análise Geo-Ambiental

ONG Programa de Educação Ambiental

14

Figura 11 – Rua “I”: saída do bueiro de água pluvial e de esgoto

cerca de 72 cm do N.A. do Córrego São Pedro (Anexo 4).

Figura 12 – Altura da Rua “I” é a mesma da manilha de saída.

Page 15: Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego ... · PDF filemétodo que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário ... (adimensional) 24 3. t T 3 p (4) T -

Núcleo de Análise Geo-Ambiental

ONG Programa de Educação Ambiental

15

Figura 13 – Detalhe da caixa de passagem na Rua “I” com rede de

esgoto mais baixa e rede de água pluvial nivelada com a Rua.

Pelas Figuras 12 e 13 pode-se constatar que a manilha de água

pluvial fica praticamente no mesmo nível da Rua “I”. Medindo-se

em campo foi constatado este fato, conforme Anexo 4. Se o N.A.

subir mais do que 1,266 m, se deflagra o processo de alagamento

nesta Rua. Isto corresponde ao N.A. subir 2,16 m na Seção de

inicio do Canal. Considerando os 20 cm de lâminda d’água,

teremos 2,36 m a partir da laje de fundo do Canal. Se o mesmo

trabalhar a Seção Plena de 3 m, poderemos ter 64 cm de

alagamento na Rua “I”.

Considerando os volumes escoados pela própria Rua, este quadro

pode apresentar-se pior.

Existem duas formas de solucionar esta questão. A primeira seria

através do aumento da largura do Córrego ou do Canal, por

exemplo, 18m de largura x 2m de altura ou 14m x 2,5m, resultando

na Seção obtida no item I de 35 m2. A outra solução seria o

aprofundamento gradual do leito do Córrego São Pedro desde a

Barragem no Trevo do Morro do Cristo até o Trevo do Spina Ville.

Page 16: Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego ... · PDF filemétodo que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário ... (adimensional) 24 3. t T 3 p (4) T -

Núcleo de Análise Geo-Ambiental

ONG Programa de Educação Ambiental

16

É importante ressaltar que nos países desenvolvidos não se

canaliza mais córregos em virtude dos problemas de limitação da

seção de vazão para escoamento das águas. Os cálculos de

engenharia têm falhado sistematicamente, ou seja, as técnicas

tradicionais de estimativa de chuvas, escoamento superficial e

outras variáveis utilizadas nos cálculos não tem sido capazes de

quantificar os volumes reais de água que chegarão ao Canal.

O poder público tem obrigação de resolver esta situação de forma

definitiva, pois a maioria destes imóveis é regularizada com

pagamento do IPTU.

Como toda rodovia induz ocupação imobiliária, prevê-se uma maior

impermeabilização desta Bacia Hidrográfica, agravando ainda mais

o panorama colocado com menor infiltração e aumento do

escoamento superficial.

Teremos “ENCHENTES NA CIDADE ALTA”.

Page 17: Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego ... · PDF filemétodo que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário ... (adimensional) 24 3. t T 3 p (4) T -

Núcleo de Análise Geo-Ambiental

ONG Programa de Educação Ambiental

17

III) IMPACTOS DO CANAL NA REGIÃO DO BAHAMAS E DO CAMPO NOVA UNIÃO

Se a Bacia Hidrográfica fosse calculada até o final do Canal no

Campo Nova União, com aproximadamente 1,7 km, ter-se-ia uma

situação mais crítica para a Seção de Vazão, pois a área de

contribuição da Bacia Hidrográfica seria maior.

Os projetistas da BR440 preocuparam-se em proteger a Rodovia em

detrimento dos bairros situados as suas margens. Existem ruas

laterais que estão a mais de dois metros de desnível. Na

eventualidade do Canal estar trabalhando com vazão próxima da

máxima (ou na Seção Plena) haverá dificuldade para escoamento

das águas pluviais destas vias transversais, resultando em

alagamento de várias residências, comércio e ruas.

Figura 14 – Paredão de concreto formado pelo canal.

Page 18: Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego ... · PDF filemétodo que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário ... (adimensional) 24 3. t T 3 p (4) T -

Núcleo de Análise Geo-Ambiental

ONG Programa de Educação Ambiental

18

Figura 15 – Paredão de concreto na altura da Van Escolar.

Figura 16 – Desnível BR440 e Av. Pedro Henrique Krambeck.

Page 19: Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego ... · PDF filemétodo que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário ... (adimensional) 24 3. t T 3 p (4) T -

Núcleo de Análise Geo-Ambiental

ONG Programa de Educação Ambiental

19

Figura 15 – Desnível entre BR440 e Av. Pedro Henrique Krambeck

(variando de zero a dois metros).

Page 20: Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego ... · PDF filemétodo que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário ... (adimensional) 24 3. t T 3 p (4) T -

Núcleo de Análise Geo-Ambiental

ONG Programa de Educação Ambiental

20

Figura 16 – Risco de Enchentes: seção do canal quase plena em

chuva ocorrida no mês de janeiro de 2010.

Page 21: Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego ... · PDF filemétodo que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário ... (adimensional) 24 3. t T 3 p (4) T -

Núcleo de Análise Geo-Ambiental

ONG Programa de Educação Ambiental

21

Figura 17 – Nível da água quase atinge as ruas laterais com

destaque para a oficina e a Av. Pedro Henrique Krambeck.

Page 22: Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego ... · PDF filemétodo que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário ... (adimensional) 24 3. t T 3 p (4) T -

Núcleo de Análise Geo-Ambiental

ONG Programa de Educação Ambiental

22

IV) CONCLUSÃO

As Figuras 16 e 17 comprovam que os cálculos da Seção de Vazão

realizados no Item I estão coerentes. Eles apontam para

necessidade de uma área maior que a construída de 27 m2. Os

projetistas mais experientes trabalhariam com áreas maiores que

35 m2.

O mais seguro seria utilizar uma Seção de Córrego ou Canal mais

larga e mais baixa, preferencialmente, 16 m x 2,5 m (40 m2), na

hipótese limite, 14 m x 2,5 m, totalizando 35m2. Não se aconselha

trabalhar com a altura de 3 metros devido às possibilidades

reais de enchentes nas ruas laterais, se o Canal trabalhar na

Seção Plena (Vide Anexos 2,3 e 4).

A outra alternativa seria dragar o Córrego desde a Barragem em

frente ao Trevo para o Morro do Cristo até o Spina Ville,

aumentando o gradiente e a profundidade do Córrego São Pedro,

facilitando o escoamento das águas pluviais. Na verdade, as duas

alternativas poderiam ser mescladas: alargamento e

aprofundamento do Córrego São Pedro.

Na página 5 no item 3.2.4 tem-se um dado preocupante: o

tempo base do escoamento superficial das águas no caso

de enchentes será de 3,5 dias, ou seja, as populações

ficarão expostas aos impactos das enchentes por todo

este período. Este dado torna-se muito sério uma vez

que será necessário pelo menos 03 (três) dias para a

atenuação do pico da enchente.

Vale salientar os problemas que serão causados no Vale do Ipê e

no Mariano Procópio que também receberão volumes cada vez

maiores de águas em seções estreitas do Córrego São Pedro,

criando outro passivo ambiental para a população que vive e

circula naquela área da cidade de Juiz de Fora.

Erros de drenagem desta ordem implicarão na necessidade de novas

obras no futuro, obrigando a paralisação para abertura de ruas

da cidade, desperdiçando recursos públicos e trazendo

transtornos para a população.

Um exemplo atual é o que está ocorrendo na Av.

Deusdetch Salgado. Como não houve previsão adequada dos

dispositivos de drenagem para escoamento das águas

pluviais quando licenciaram ambientalmente aquela Via,

foi necessário quebrar parte da Avenida para consertar

o erro do passado. Quantos prejuízos já houve para a

Churrascaria Potência do Sul, concessionárias de

veículos e usuários daquela Via? Teremos mais quantas

“NOVAS JUIZDEFORAS” dessa forma?

Page 23: Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego ... · PDF filemétodo que possibilita a estimativa de um hidrograma unitário ... (adimensional) 24 3. t T 3 p (4) T -

Núcleo de Análise Geo-Ambiental

ONG Programa de Educação Ambiental

23

Referências Bibliográficas:

Batista, M; Lara, M. Fundamentos de Engenharia Hidráulica. Belo

Horizonte: editora da UFMG. 20 edição. 437p., 26cm. ISBN 85-

7041-375-0.

Paiva, J.B.D.de.; PAIVA,E.M.C.D. (ORGANIZADORES). Hidrologia

Aplicada à Gestão de Pequenas Bacias Hidrográficas. Porto

Alegre: ABRH, 2001. 625 p., 23 cm.

Tucci., et al., Hidrologia Ciência e Aplicação, ABRH, V.4, 2 ed.

Porto Alegre, 1997. 942 p.

Villela,S,M.,Mattos, A., Hidrologia Aplicada, McGraw-Hill do

Brasil, São Paulo, 1975, 245p.

Juiz de Fora, 25 de outubro de 2010.

Prof. Dr. Luiz Evaristo Dias de Paiva

Engenheiro Civil – CREA 5.869 / D

Mestre em Recursos Hídricos pela UNICAMP

Doutor em Recursos Hídricos pela UNICAMP

Prof. Dr. Cézar Henrique Barra Rocha

Engenheiro Civil – CREA 51.903/D

Mestre em Engenharia de Transportes pela USP

Doutor em Geografia pela UFRJ