das artes Às tarefas de clio: uma reflexÃo sobre o ......nosso pequeno mega mente moleque monstro...
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DAS ARTES ÀS TAREFAS DE CLIO:
UMA REFLEXÃO SOBRE O MOVIMENTO SLAM
MARIELY ZAMBIANCO SOARES SOUSA1
No território das poéticas da História habitam autores com concepções discordantes,
concorrentes e complementares, que por vezes se concentram em aspectos particulares como a
narrativa, a consciência histórica, a memória, o ofício do historiador, o tempo, entre outros;
mas que partem de um mesmo objetivo: compreender o mundo que os cerca, mapear o
passado (GADDIS, 2003, p.154), mesmo que para isso tenham que atestar suas incapacidades
e limitações.
Assim como Burckhardt (apud WHITE, 1994, p.57) reconheceu sobre a “verdade”:
toda tentativa de dar forma ao mundo estava fadada ao fracasso e tinha seu valor apenas
quando impunha uma forma transitória ao seu caos; o valor do trabalho de um historiador
talvez esteja na capacidade de impor uma forma transitória ao caos dos fatos históricos.
Não são diferentes os desafios que integram a presente pesquisa que se encontra em
fase introdutória, bem como as motivações quanto à proposta de entender nosso objeto em sua
historicidade, um dos expoentes da poesia contemporânea: o Movimento Slam em São Paulo-
SP – movimento artístico e cultural surgido na década de 1980 nas periferias de Chicago-
EUA, e trazido em 2008 para o coletivo ZAP! (Zona Autônoma da Palavra) pela poetisa,
autora e atriz Roberta Estrela D’Alva. A partir de então parece incorporar um viés político,
talvez uma singularidade do movimento no país.
Diante disso, partiremos de um de seus maiores representantes: o Slam Resistência, o
qual foi gestado em São Paulo em 2013, paralelamente aos protestos que percorreram o país.
Nessa verve, tentaremos compreender em que medida o Movimento Slam se constituiu
enquanto uma manifestação artística em grande medida periférica, centrada nos grandes
centros urbanos.
Para tanto nos fundamentaremos nas observações parciais a partir do canal que
disponibiliza performances poéticas no Youtube, “Sociedade dos Poetas Subversivos”; da
página do Facebook “Slam Resistência” e das entrevistas realizadas via questionário com os
1 Graduada em História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, campus de Três Lagoas. E-mail:
2
integrantes do movimento Lucas Barbosa e Daniel Carvalho de Almeida. São estes
testemunhos imprescindíveis, pois além desses sujeitos incorporarem o movimento como
poetas, também o pensam e ressignificam enquanto intelectuais.
As singularidades das fontes pressupõem outros olhares e o diálogo com outras
ciências, tais como a literatura, para pensar essa conexão entre arte/poesia. Ademais, tornou-
se imprescindível vinculá-las ao debate da História do Tempo Presente, o que permite
caracterizarmos o Slam como fenômeno e também objeto da História e seus integrantes não
apenas como sujeitos consumidores, mas também geradores da história. Nesse sentido, hoje
somos desempenhados a defender ainda mais sua legitimidade mediante dúvidas quanto às
suas finalidades e sobre a quem compete explorá-la.
Portanto, nesse texto pretendemos refletir questões circunstanciais que integram o
percurso da nossa pesquisa, considerando alguns dos aspectos supracitados acerca do fazer
historiográfico, bem como explorar algumas problemáticas decorrentes do nosso objeto.
I
Traduzida como “batida de poesia”, a Slam Poetry é um estilo criado em 1984 por
Marc Smith no subúrbio de Chicago, nos EUA. Compreendia campeonatos onde os poetas
participantes apresentavam suas poesias por meio de performances e eram julgados pelo
próprio público.
Segundo o educador e poeta Daniel Carvalho de Almeida2,
O Slam é um evento que ocorre em diversos países e vem crescendo de modo
bastante significativo no Brasil. Trata-se de uma ‘batalha’ de poesias que tratam,
geralmente, de questões sociais e apresentam um estilo que remete ao rap3. A
performance do poeta, o ritmo e cadências que ele imprime ao seu texto, bem como
o fato de ‘agitar’ o público, são critérios importantes, o que justifica o nome desse
sarau, uma vez que a palavra slam se refere a um ‘grande barulho’. Para participar
da batalha, os poetas precisam apresentar texto de autoria própria e que tenham, no
máximo, três minutos. Não são permitidos adereços, figurinos ou acompanhamento
2 Músico, educador e poeta da Zona Leste de São Paulo e um de nossos entrevistados, que participa de campeonatos de Poesia Slam da metrópole e já foi consagrado três vezes com o Prêmio Paulo Freire de Qualidade de Ensino Municipal pelo projeto “Arte e Intervenção Social”, desenvolvido com estudantes da Rede Pública de Ensino. Sua biografia consta em seu site. Disponível em: <http://www.danielgtr.com/biografia.html>.
Acesso em 08 jul. 2018. 3 Ritmo e Poesia, em inglês, um dos elementos da cultura Hip Hop.
3
musical. Os poetas que participam são avaliados por cinco jurados escolhidos no
local (ALMEIDA, 2017, p. 68).
A Poesia Slam é originada na década de 1980 nos EUA, no mesmo contexto do
movimento hip hop a qual se aproxima em suas bases culturais. No texto intitulado Um
microfone na mão e uma ideia na cabeça – o poetry slam entra em cena, a autora, atriz e
poetisa Roberta Estrela D’Alva, idealizadora e pioneira do movimento no país, faz um
balanço desde sua gênese até os dias atuais, destacando-o como uma das mais inventivas e
democráticas práticas de poesia performática do mundo:
Foi no ano de 1986, no Green Mill Jazz Club, um bar situado na vizinhança de
classe trabalhadora branca no norte de Chicago, nos Estados Unidos, que o operário
da construção civil e poeta Mark Kelly Smith, juntamente com o grupo Chicago
Poetry Ensemble, criou um “show-cabaré-poético-vaudevilliano” (Smith, Kraynak,
2009: 10) chamado Uptown Poetry Slam, considerado o primeiro poetry slam.
Smith, em colaboração com outros artistas, organizava noites de performances
poéticas, numa tentativa de popularização da poesia falada em contraponto aos
fechados e assépticos círculos acadêmicos. Foi nesse ambiente que o termo poetry
slam foi cunhado, emprestando a terminologia “slam” dos torneios de beisebol e
bridge, primeiramente para denominar as performances poéticas, e mais tarde as
competições de poesia (D’ALVA, 2011, p.120).
O movimento se expandiu de tal forma que surgiram as competições nacionais nos
EUA e se espalhou pelo mundo inteiro, tornando preciso reconhecer particularidades de um
país em relação a outro e mesmo dentro de uma mesma fronteira nacional, pois os grupos são
criados com bases e ideologias próprias e a partir de dada realidade.
Para o poeta entrevistado durante a trajetória dessa pesquisa, Lucas Barbosa4, os slams
são competições organizadas por coletivos culturais,
(...) cada batalha de poesia, na verdade, é um coletivo cultural que tem sua
organização, sua periodicidade, faz as suas batalhas em um determinado local. Tem
poucos slams que são itinerantes, a grande maioria acontece em determinado local e
isso acabou definindo muito qual é o tipo de perfil daquele slam. Normalmente os
slams de periferia têm um tipo de perspectiva, diferente dos slams do centro e slams
que acontecem em lugares fechados (BARBOSA, 2018).
No caso brasileiro, segundo Estrela D’Alva (2011), o movimento é trazido pela
própria autora a São Paulo, em 2008, após uma de suas viagens aos EUA, para o coletivo
4 Autor, cantor, poeta e filósofo que também vivencia as batalhas de Slams em São Paulo.
4
ZAP! – Zona Autônoma da Palavra5. Progressivamente surgem outros grupos a organizarem
saraus com o formato de batalhas, cujas poesias tratam de questões étnico-raciais, político-
ideológicas e sociais, tornando o Slam um movimento de resistência, espaço de articulação e
promoção de um ativismo político que busca atender às demandas sociais.
Essas poesias são fontes primorosas para o trabalho de análise na medida em que
ampliam a discussão para além das temáticas abordadas, por se constituírem como plataforma
que integra a conexão entre a história e a arte. Ao utilizarem-se da linguagem para representar
realidades, permitem que investiguemos como os fenômenos sociais são produzidos e
manifestados. Nesse sentido, prescindimos também da história das representações, já que
(...) não existe história possível se não se articulam as representações das
práticas e as práticas da representação. Ou seja, qualquer fonte documental
que for mobilizada para qualquer tipo de história nunca terá uma relação
imediata e transparente com as práticas que designa. Sempre a representação
das práticas tem razões, códigos, finalidades e destinatários particulares.
Identificá-los é uma condição obrigatória para entender as situações ou
práticas que são o objeto da representação (CHARTIER, 2011, p.16).
Nesse sentido, cabe refletir as representações que se constroem acerca das práticas no
Movimento Slam por meio das poesias e dos vídeos das performances poéticas; ou seja,
identificar quais suas razões, códigos, finalidades e destinatários.
Um exemplo caro é o da poesia “Viagem ao mundo da rua” 6 de Lucas Barbosa
(2016), que faz referência ao universo dos poetas, causas que defendem e problemas que
enfrentam:
Mundo da lua
Mun-do-da-lu-a
Pera aí
Mundo da lua...
Se liga!
Andam dizendo por aí
Que poeta vive no mundo da Lua
Que fecha os olhos e não tá nem aí
Pra loucura dessa realidade absurda
5 É espaço dedicado à poesia falada. Disponível em: <http://zapslam.blogspot.com.br/search/label/ZAP>. Acesso
em 05 set. 2018. 6 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=zi9iixx1vGI >. Acesso em 16 Set. 2018.
5
Lucas Afonso diria que essa zuera
Só pode ser brincadeira
Daquele tipo zuado de rato
Que se acha capitão do mato
E lendo a Veja aplaude a ratoeira
Poeta é raça forte
Que em recorte reverte os sentidos do sul ao norte
Sem depender de sol, chuva ou sorte
Abala a estrutura dessa
Direita, direta, indiscreta máquina de morte
Quem nunca ouviu poeta Cleiton Mendes dizer
Que não veio pra esclarecer, mas sim pra escurecer
Ou então o feminismo de Mariana Felix
Intimando com ousadia e alegria
Na simples pergunta: Hoje foi já foi poesia
Causando alarde
Os travestidos travesseiros de Emerson Alcalde
Atravessam travessos o som do silencio por toda parte
Derramando a revolusoul de Lews Barbosa
Que nos ensina que vermelho
É ver melhor o nome da Rosa
E o que dizer daquele gingado maneiro
Iluminado em versos brancos e negros
Um grande farol na praia de aço chamado Luz Ribeiro
Às vezes o mar de gente se revolta
Causando medo na galera branca
Que reclama da galinha morta
Mas logo vejo que lá das profundezas vem surgindo
Nosso pequeno mega mente moleque monstro Felipe Marinho
Pra quem ainda não entendeu
A minha poética crista paulofreireana
Posso, como professor Daniel Guitar
Muito bem ajudar a educar
Porque dia após dia
Semana após semana
Nossa poesia nua e crua do mundo da rua
Contra o platônico mundo da lua
Bravamente luta
E talvez seja ótima ideia
Lá pro mundo das ideias
Os nossos opressores a gente mandar
Porque quem sabe lá de cima do mundo da lua
Eles possam contemplar
6
O tamanho do estrago
Que as nossas rimas de guerrilha vão causar
Atenção
Atenção
Atenção
Importante comunicado a quem para lua partiu
Está na hora de ajustar o zoom
Porque Booooooommmmmmmmmmmmmmm!
A bomba atômica da nossa poesia explodiu!
Apresentando o cenário da poesia performática na capital paulista, defende o poeta
como sujeito que reflete a realidade, reverte sentidos e abala a estrutura da direita. Aponta
seus principais manifestantes e a temática de suas performances que abordam aspectos da
sociedade como a questão racial por Felipe Marinho, Luz Ribeiro, Cleiton Mendes e a
“revolusoul” de Lews Barbosa; a educação por Daniel Guitar e a denúncia da manipulação
midiática por Lucas Afonso. Segue-se a contraposição entre a poética desses autores,
pertencentes ao “mundo da rua”, que lutam “dia após dia”, ao platônico mundo da lua, mundo
das ideias e, pelo que parece, espaço tido por Lucas como de alienação, apropriado pelos
“opressores”. Por fim, utiliza o termo “rimas de guerrilha” e conclama atenção para a
“explosão” dessa poética.
Em sua produção, o autor se apropria desse gênero literário tão marcado pelos cânones
e seus enquadramentos, e por meio de sua prática poética, expõe sua visão de mundo. Nesse
sentido, temos a contribuição de Certeau (2003, p. 39), para quem há uma produção
qualificada de consumo que emprega os produtos impostos por uma ordem econômica
dominante para se insinuar e se fazer notar.
Assim sendo, o autor expõe que as práticas sociais, em seus aspectos ordinários, tem
sentido na medida em que se relacionam à vida do sujeito em seu cotidiano, permeadas por
relações de poder, sendo que esses sujeitos se apropriam do hegemônico e estabelecem táticas
que o ressignificam a partir de suas posições. É um foco de análise útil para refletir sobre os
discursos construídos pela comunidade de slammers (poetas marginais) através de suas
poesias, principalmente no que diz respeito à identificação com os conceitos de
marginalidade e periferia.
7
II
Silvia Lopes Raimundo (2017) oferece sua contribuição ao tratar dos movimentos
culturais periféricos a partir de um enfoque no território, cultura e política, para
compreendermos o processo de formação da metrópole de São Paulo e suas periferias. A
autora analisa coletivos culturais que compõem o processo de formação territorial da periferia,
distante do centro e onde trabalhadores mobilizados de outras regiões eram exilados,
refletindo o desenvolvimento econômico de São Paulo e a construção da metrópole no século
XX, mediante o processo de industrialização.
Raimundo (2017) entende o exílio como parte da construção da ideia de metrópole
moderna em que a classe trabalhadora é inviabilizada na memória dos eventos da cidade, bem
como nos projetos de modernização pautados no discurso de “Gesta Bandeirante” 7. Portanto,
constata que o processo de formação dos movimentos culturais da periferia é concomitante à
própria constituição da territorialidade. Considera que é por meio da historicidade, da forma
como se deu e dos motivos de criação das periferias que se seguiria o entendimento da
constituição da identidade dos sujeitos periféricos.
Nesse sentido, os protagonistas dos movimentos sociais e culturais buscam narrar e
escrever outras versões da história e a periferia “torna-se o centro do pensamento crítico e da
produção cultural da cidade” (RAIMUNDO, 2017, p.30, g.n.). Há, assim, a manifestação de
uma cultura periférica, para além até mesmo do espaço das periferias, através dos
movimentos culturais que ademais são manifestações da contestação e da crítica,
acompanhadas das ações subversivas e das demandas não só materiais como também
culturais. Ou seja, a identificação do movimento slam com o conceito periférico talvez esteja
nas próprias nuances poéticas, na constituição do movimento que se expande por vários
espaços e no fazer-se poeta enquanto uma voz de crítica e de denúncia.
É prescindível também a reflexão acerca da identificação com o conceito de
marginalidade, presente até mesmo na denominação dos Slammers como poetas marginais,
7 Discurso construído “por historiadores e ideólogos durante as três primeiras décadas do século XX” que
“desenhou a imagem do bandeirante como ‘gigante’ e São Paulo como a cidade que não poderia parar”
(RAIMUNDO, 2017, p.26).
8
ainda que haja críticas e questionamentos como os de Lucas Barbosa ao apontar esse uso do
termo como uma convenção “tradicional” na arte, possível de observar em perspectivas
estéticas, obras e artistas que são marginais no sentido de estar à margem de, ou para além da
margem. Para ele, tem-se usado o termo poesia marginal como uma espécie de etiqueta:
Tem-se um grandioso complexo, de múltiplas linguagens artísticas, em
interação constante, numa polifonia (...). E eu entendo que essa poética
chamada de marginal, periférica, precisa lidar com alguns problemas e tomar
alguns cuidados. Se ela começar a negar o princípio da polifonia, pode ser
que entre numa contradição. Porque nessas propostas poéticas, que eu
gostaria que fossem vistas antes como poéticas do que políticas, se esses
discursos passam a tomar uma única forma, passam então a produzir uma
espécie de silenciamento em relação a tudo o que se difere deles. A questão
grandiosa é se existe a possibilidade de uniformidade, se não seria uma
artificialidade, uma violência, uma imposição, uma restrição ou até
destruição da liberdade de criação poética (BARBOSA, 2018).
Importa-nos as noções de periferia e marginalidade como explicativas da realidade.
Em uma concepção tradicional “estar à margem, na margem de, vai suscitar outras relações e
status, como não pertencer ao espaço hegemônico, estar marginalizado da produção, pertencer
a territórios esquecidos da cidade pela política e pela cultura” (MIRANDA, 2015, p.2).
Ainda assim, podemos entendê-la não apenas no sentido territorial em que o sujeito
está distante do centro, mas daquele que transita por diferentes espaços, enfrenta barreiras de
acesso a serviços básicos, oportunidades e bens materiais, bem como entraves na
sociabilidade mediante as diferenças dos lugares sociais aos quais pertencem. Ou seja,
entender o marginal como “um lugar de trânsito onde é possível a convivência ‘mestiça’”
(Ibidem, p.13). Continuamente, é preciso avançar nessas concepções, já que para Lucas, “(...)
essas margens, ao se tornarem tradição, regra, determinação, podem comprimir esse rio que
passa tudo levar” (BARBOSA, 2018)8.
Segue-se a necessidade de também levantar a historicidade no desenvolvimento do
Movimento Slam e, com isso, investigar a problemática de sua definição para além da
proposta de uma nova linguagem poética, por pressupor ser também um movimento de caráter
político e ideológico, ou seja, uma forma de militância que agrega embates identitários,
8 Alusão a um poema de Brecht: A árvore que não dá fruto/É xingada de estéril./Quem examinou o solo?//O
galho que quebra/É xingado de podre, mas/Não haveria neve sobre ele?//Do rio que tudo arrasta/Se diz que é
violento/Ninguém diz violentas/Às margens que o cerceiam. (Bertold Brecht).
9
divergências ideológicas que subsistem ao ideal de comunidade que o movimento se propõe
construir.
Conforme sugeriu Lucas Barbosa, o Brasil tem sua particularidade em relação à
militância, sendo que a poética não se diferencia da política, já que “há uma identificação
entre as duas a partir dos slams que são realizados nas ruas, periferias, praças e locais abertos”
(BARBOSA, 2018). Isso vai ao encontro do que destacou o poeta Daniel Carvalho de
Almeida sobre a integração de diferentes grupos que estabelecem “disputas teóricas, de
práticas e por locais de fala, de grupos específicos como as radfem (feministas radicais), os
pan-africanistas (afro-centrados), entre outros” (ALMEIDA, 2018).
Segundo Lucas, esse assunto vem sendo muito discutido com outros integrantes do
movimento como Daniel. Para ele, a “explosão” da identificação entre poética e política
aconteceu principalmente depois de 2013 por conta das manifestações de junho que
começaram com o MPL (Movimento Passe Livre)9. Ali foram surgindo vários slams, como o
Slam Resistência, “o mais importante do Brasil talvez hoje na questão da abrangência”:
O Slam Resistência surgiu ali de um grupo de amigos artistas com uma extração
bem anarquista no posicionamento político, todos poetas vinculados tanto à poesia
quanto ao Rap. Eles iniciaram uma batalha na Praça Roosevelt, no centro, e essa foi
uma grande realização no sentido de uma poética de militância trabalhando
fundamentalmente com três temas: causa negra, feminista e LGBT. E no meio de
tudo isso, bastantes questões circunstanciais da política numa perspectiva mais
jornalística. Tem-nos gerado indagações como: O que pode ser isso? Quais são os
riscos? Afinal, há toda uma perspectiva da ameaça do identitarismo na luta
progressista do Brasil. A gente está num momento bem complexo (BARBOSA,
2018).
Essa ameaça do identitarismo é possível que seja em vista do complexo associativismo
entre diferentes grupos facilmente identificados dentro do Movimento Slam ao reunir sujeitos
com posicionamentos e pautas diversificas em suas poesias.
III
9 Movimento de luta contra o aumento da tarifa do transporte público, associado à agenda da reforma urbana.
Disponível em <http://tarifazero.org/mpl/>. Acesso em 08 jul. 2018.
10
Quanto ao Slam Resistência, observamos uma conquista de expressão e visibilidade
significativa pela página do Facebook 10 com aproximadamente 532.587 curtidas e 592.995
seguidores, entre o período de 2013 a julho de 2018. Outra mídia que contribuiu para a
divulgação do movimento e dos poetas é o canal que disponibiliza performances poéticas no
Youtube, “Sociedade dos Poetas Subversivos” 11 com cerca de 116.101 inscritos e 6.975.779
visualizações a partir de 2012.
Seguimos Sônia Menezes ao tratar de um tipo particular de escrita sobre o passado
fora do campo da história, que agrega tanto seus elementos quanto os do lugar da produção
midiática, destacando a hipótese de que:
(...) a mídia atua na elaboração tanto dos acontecimentos emblemáticos, como de um
tipo específico de conhecimento histórico a partir de narrativas que operam com
categorias temporais na fundação de sentidos históricos, destacando-se,
especialmente, a relação entre as dimensões fundamentais: a mídia, a memória e a
história (MENEZES, 2014, p.232).
A autora cria, a partir de Certeau, o conceito de “Operação Midiográfica” para
defender que há uma produção da história pelos meios de comunicação que escrevem
acontecimentos na cena pública e inscrevem sua memória na duração. Portanto, é
imprescindível a análise das plataformas online, para apreender como se realiza essa
operação, quais os eventos e acontecimentos que buscam escrever, quais os marcos
memoráveis que procuram inscrever na história, em detrimento da versão oficial em prol dos
vencedores, sendo a memória, nos parece, um mecanismo de denúncia na poesia slam.
Um exemplo caro é a poesia “Convoque seu Stalin”12, de Daniel C. de Almeida. Antes
de assumir uma postura de enfrentamento e questionar eleitores, religiosos e fascistas,
apresenta diversos fatos históricos, cujo recorte sugere o estabelecimento de continuidades:
1940
Adolf Hitler defendeu a moral e os bons costumes
10 Disponível em: <https://www.facebook.com/slamresistencia/>. Acesso em 08 jul. 2018. 11 Canal que até 2017 levava o nome “Sociedade dos Poetas Livres”. A mudança na denominação pode significar
uma identificação dos sujeitos que o manobram com o caráter combativo e o cunho subversivo de suas
publicações, em relação à mídia hegemônica. Disponível em:
<https://www.youtube.com/user/hacklandia/featured>. Acesso em 08 jul. 2018. 12 Poesia completa disponível em: <http://www.danielgtr.com/spoken-poetry/convoque-seu-stalin.html>. Acesso
em 17 set. 2018.
11
2016
Sai da boca de deputados moralistas vários estrumes
1940
Hitler tratava como animais os judeus
Hoje
a bancada evangélica trata umbandistas como se não fossem filhos de Deus
Hitler desejou o extermínio de poloneses
2016
Nordestinos e haitianos em São Paulo agredidos diversas vezes
1940
Hitler pregou valores cristãos para enganar o povo com facilidade
2016
Marco Feliciano se diz pastor, mas está longe de Cristo o que ele chama de
verdade
Hitler usou o nome de Deus pra justificar o seu horror
Silas Mafalaia, só falta o bigodinho pra virar um monstro ditador
Hitler defendeu a raça ariana, a raça pura
Bolsonaro acha que ser gay é doença, mas é esse louco quem precisa de cura
Hitler foi inimigo de Brecht, Benjamin, Einstein e de outros intelectuais
Sabe quando Bolsonaro vai palestrar numa faculdade? Jamais!
Hitler, pintor frustrado, reprovado duas vezes no exame de Artes, decidiu pra
política entrar
Bolsonaro se faz de machão, mas foi um fracassado na carreira militar
1940
Joseph Goebbels foi forte Ministro da Propaganda na Alemanha nazista
Rede Globo investindo pesado no Golpe. Não assista!
Nazistas mataram em nome do nacionalismo
Brasileiros vestem verde-amarelo, mas não escondem seu racismo
Hitler usou a crise econômica, a quebra da bolsa, o desemprego, a inflação e
o combate à corrupção pra fazer seu partido crescer
Semelhanças com PSDB e PMDB? Só sendo idiota pra não perceber [...]
Percebemos que são mobilizados diversos acontecimentos, marcos memoráveis são
ressignificados e atribuídos para denunciar mazelas sociais, num jogo de correlação entre o
passado e fatos da história presente, relacionando posturas de personagens e grupos da
política atual com características da ideologia nazista e de Hitler.
12
Por exemplo, quando Danniel aponta o tratamento da bancada evangélica aos
umbandistas, a postura dos deputados Marcos Feliciano e Silas Malafaia, contrariando os
preceitos cristãos, assim como o tratamento de Hitler aos judeus. Também aponta a agressão
de nordestinos e haitianos, comparada ao extermínio de poloneses pelo líder nazista e a
postura do deputado Bolsonaro, que ao considerar ser gay como doença se assemelha a Hitler
em sua defesa da raça ariana, na oposição a intelectuais e na trajetória de fracassos em seus
intentos anteriores. Ademais, relaciona o nacionalismo que levou os nazistas a matarem ao
racismo do brasileiro que se veste de verde e amarelo; e o uso tanto de partidos liberais atuais
quanto do partido de Hitler de problemas econômicos e políticos em seus discursos.
Cabe destacar que a performance poética realizada no Slam Resistência fora gravada e
o vídeo13 postado pelo canal “Sociedade dos Poetas Subversivos” e pela página “Slam
Resistência”14, e fora denunciado e retirado da plataforma online duas vezes por manifestantes
contrários ao posicionamento de Daniel.
Nesse sentido, Jurandir Malerba (2017) é outro autor que discute a relação entre mídia
eletrônica e história. Ao considerar a historicidade da relação
historiador/historiografia/público alterada com o advento dos meios digitais, questiona o
sentido da história como disciplina acadêmica e o papel do historiador na medida em que o
público é amplificado (não só consumidores da história, mas também geradores). Há a
produção de um novo tipo de história cuja consequência é a revisão do conceito de história
pública e o questionamento dos objetivos, métodos e narrativas.
Além disso, há as demandas sociais relativas ao direito à memória que desafiam os
historiadores como únicos intérpretes dos acontecimentos. Assim sendo, a internet afetou
como as pessoas interagem, se conectam à história e como, através do acesso à Web, as
pessoas contribuem para a compreensão sobre o passado.
Sendo assim, cabe pensar: como essas mídias mobilizam opiniões, constituem adesões
e consensos? Quais seriam os interesses e projetos envolvidos não só nas performances
poéticas, mas também em sua gravação e vinculação na rede eletrônica? Qual o investimento 13 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=UgriSkp2kzc>. Acesso em 04 out. 2018. 14 Disponível em:
<https://www.facebook.com/slamresistencia/videos/1230322913717092/?__xts__[0]=68.ARDdhr83ziqMEvAIF
86CTQBt2vDtFejvmE7B3woQmXb8dTWn0DIZFpOkkRoEJ72Z-
Tg7PpIibhdRipBv44VVNnaOviqyZHY0TIYdBwwuSp1cp_vBTKVDazXKgAfkAd8NUoEqtVE0satLzdagN7Tr
i_3gUbIPSgFwLqk1_rMNgph-4zOF8Hhkww&__tn__=H-R>. Acesso em 05 out. 2018.
13
promovido pela página e pelo canal? A quais interesses atendem? Estariam os sujeitos do
movimento elaborando acontecimentos e definindo narrativas (históricas) a partir de
determinados fatos? Poderiam atuar na memória de seus membros e seguidores, reescrevendo
a história sob outras perspectivas?
São questões como essas que apenas o percurso da pesquisa direcionará para as
respostas.
IV
Considerando a problemática proposta de compreender o Movimento Slam em São
Paulo a partir do grupo Slam Resistência, o recorte temporal dá-se com o início do
movimento em 2008 e do Resistência em 2013. Portanto, fazemos o diálogo com a História
do Tempo Presente (HTP), cujas discussões permitem que investiguemos o tema enquanto
fenômeno e objeto da história.
O diálogo entre a proposta de pesquisa aqui colocada e a História do HTP está,
especialmente, no seu método de fazer recuos partindo do presente (digressão histórica),
tendo em consideração que escrever a história de seu próprio tempo é partir da própria
vivência e convicções sobre esse tempo.
Segundo Hobsbawm (1995), mesmo encaixando experiências próprias num quadro de
referência da história, é a partir do privado que inspecionamos o mundo; quando se escreve
sobre seu próprio tempo, “a vivência pessoal deste tempo molda inevitavelmente a forma
como o vemos, e até mesmo o modo como determinamos a evidência à qual todos nós
devemos apelar e nos submeter, independentemente de nossos pontos de vista”
(HOBSBAWM, 1995, p.105).
Todavia, não se trata apenas de discutir a HTP como campo teórico e o surgimento do
que autores, a partir de François Hartog (2013), apontam como um novo regime de
historicidade, mas ter fundamentação para pensar os efeitos do presente na pesquisa a ser
desenvolvida, como a autocensura colocada em decorrência da coexistência com o objeto e os
efeitos imediatos da pesquisa. É o que Carlos Fico (2012) aponta como as peculiaridades de
escrever a HTP: pressão dos contemporâneos ou coação pela verdade, sendo que o
conhecimento histórico pode ser contestado pelo testemunho.
14
Ainda assim, é de interesse a proposição de Hartog (2013) sobre esse que se
constituiria um novo Regime de Historicidade. A partir de sua leitura levantam-se as
reflexões: qual o presentismo vivenciado pelos jovens (majoritariamente) que estão
envolvidos com a Poesia Slam? Seria a eles negada a possibilidade de um projeto? Não
estariam eles resistindo ao presentismo da aceleração, da circulação, da violência, dos
mercados? De que forma a comunidade de slammers trata o passado? De qual regime de
historicidade parte a consciência que se tem desse passado? Podemos considerar que a
discussão vai além do enfoque das performances em questões de gênero, raça, sexualidade e
classe para atestar uma crise do tempo pautada na possibilidade de um presentismo pleno?
São discussões pautadas em elementos interpretativos que abarcam o campo
epistemológico, entretanto é imprescindível partir das fontes, dos fundamentos empíricos, a
fim de escrever uma história possível. Levando-se em consideração a proximidade temporal
com o objeto, decorre a falta de referenciais que analisam especificamente o movimento. Essa
proximidade temporal, todavia, carrega a contradição de ao mesmo tempo em que reduz a
possibilidade de referenciais, amplia-se a possibilidade de fontes.
Exemplificando, temos a própria descrição disponível na página correspondente do
Slam Resistência no Facebook, que afirma que esse slam “vem na sintonia dos protestos, dos
movimentos sociais e do enfrentamento político ativo em defesas culturais/sociais,
socioambientais e contra truculência do estado para com os manifestantes!” 15. A página se
torna uma fonte rica de análise ao refletirmos suas descrições, postagens e comentários.
Podemos levantar a hipótese de que se foi construindo dentro do movimento uma práxis
política e se tornou um grande expoente ao ser gestado paralelamente às manifestações de
junho de 2013. É imperioso analisar as relações destas com o movimento Slam como um todo
e especificamente do Slam Resistência, problematizando as suas produções em vista do
contexto histórico de manifestações sociais e políticas ocorridas no país.
Concorrentemente, o trabalho de Luciana Tatagiba (2014) tem importância
fundamental ao partir das manifestações de 2013 para analisar os saldos do ciclo de protestos
em comparação aos ciclos de mobilização das Diretas Já, em 1984 e Movimento pela Ética da
Política, em 1992. A autora caracteriza esse “ciclo de protestos” de 2013 destacando
15 Disponível em <https://www.facebook.com/pg/slamresistencia/about/?ref=page_internal>. Acesso em 08 jun.
2018.
15
elementos como a diversidade de reivindicações, bandeiras e palavras de ordem; a atuação das
massas que exerciam a política de forma autônoma, sem mediações institucionais e sem
buscar influenciar diretamente o poder legislativo. Integravam ações de resistência cotidiana
como não pagar tarifa, pular catraca, depredar ônibus e metrô, etc. e estratégias violentas de
confrontação, como as táticas Black Blocs16. E um de seus aspectos mais importantes é o
papel das redes sociais na produção e difusão de informação alternativa às da mídia
tradicional.
Tatagiba (2014) destaca também a militância de grupos políticos e culturais da
periferia associados aos avanços nas políticas sociais, ao debaterem as políticas
redistributivas, com conotações de classe e raça. Assim sendo, a luta dessas comunidades
periféricas, que a autora relaciona aos protestos de 2013, é o que cabe indagar se se constituíra
como o próprio eixo norteador e ponto de partida para a constituição do Slam Resistência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Já que o mérito do trabalho do historiador está em “interpretar o passado visando ao
presente com a perspectiva de gerir o futuro” (GADDIS, 2003, p.25), acercamo-nos das
discussões concernentes ao seu ofício, buscando de maneira mesurada situar a análise do
nosso objeto e ressaltar que hoje as pessoas comuns, fora da comunidade acadêmica, também
influenciam e produzem história. A fazem também a partir de uma operação midiográfica,
para atenderem seus objetivos e propósitos.
Assim, quando intitulamos esse trabalho como um entre lugar, das artes às tarefas de
clio, referimo-nos metaforicamente ao espaço entre essas palavras onde pode caber um
universo de possibilidades de pesquisas, que caminham por “campos distintos da empresa
humana” (BURKE, 2002, p. 8) e são complementares na medida em que as correlacionamos.
Nesse sentido, seguimos a buscar por uma história totalizante com a ressalva de que
aqui se estabeleceu um módico exercício de reflexão acerca do Movimento Slam e um de seus
exemplares, o Slam Resistência em São Paulo.
16 “Os black blocs constituíram-se como uma tática, uma manobra dentro da manifestação com o objetivo
principalmente de garantir a autodefesa dos participantes frente à repressão policial que quase sempre é realizada
e, em todas as vezes, de forma violenta”. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/historiag/tatica-black-
bloc-suas-origens.htm>. Acesso em 08 jun. 2018.
16
REFERENCIAIS
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ético e formação de identidade. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia, Letras e
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17
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