darolt - atual.org. mundo 2003

20
CENÁRIO INTERNACIONAL: SITUAÇÃO DA AGRICULTURA ORGÂNICA EM 2003 1 Moacir Darolt 2 Segundo a Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica (IFOAM), o sistema orgânico já é praticado em mais de uma centena de países ao redor do mundo, sendo observada uma rápida expansão, sobretudo na Europa, EUA, Japão, Austrália e América do Sul. Esta expansão está associada, em grande parte, ao aumento de custos da agricultura convencional, à degradação do meio ambiente e à crescente exigência dos consumidores por produtos “limpos”, livres de substâncias químicas e/ou geneticamente modificadas. De acordo com YUSSEFI (2003), atualmente no mundo cerca de 23 milhões de hectares são manejados organicamente em aproximadamente 400.000 propriedades orgânicas, o que representa pouco menos de 1% do total das terras agrícolas do mundo. A maior parte destas áreas está localizada na Austrália (10,5 milhões de hectares), Argentina (3,2 milhões de hectares) e Itália (cerca de 1,2 milhão de hectares). Conforme mostra a figura 1 a Oceania tem aproximadamente 46% da terra orgânica do mundo, seguida pela Europa (23%) e América Latina (21%). É importante destacar que os países que têm o maior percentual de área sob manejo orgânico em relação à área total destinada à agricultura, computam a área de pastagem. Assim, por exemplo, em países como a Austrália e Argentina mais de 90% da área de produção orgânica correspondem a áreas de pastagem. O mesmo acontece nos países da Europa: na Áustria 80% da área orgânica refere-se à pastagem; na Holanda, 56%; na Itália, 47%, e no Reino Unido 79%. Numa análise comparativa entre o tamanho de área manejada sob o sistema orgânico e o número de propriedades orgânicas e é possível perceber que a maior parte do volume da produção orgânica mundial ainda é proveniente de pequenas e médias propriedades. A figura 2 mostra que o maior número de fazendas orgânicas encontra-se na Europa (44,1%), América Latina (19,0%) e Ásia (15,1%). 1 Revisão ampliada e atualização de dados contidos no livro “Agricultura Orgânica: inventando o futuro” de Moacir Darolt, IAPAR, 2002. 2 Eng. Agrônomo, Doutor em Meio Ambiente, Pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR. Fone: (41) 551-1036. E-mail: [email protected]

Upload: jose-israel-pinheiro

Post on 01-Oct-2015

5 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

  • CENRIO INTERNACIONAL:

    SITUAO DA AGRICULTURA ORGNICA EM 20031

    Moacir Darolt2

    Segundo a Federao Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgnica

    (IFOAM), o sistema orgnico j praticado em mais de uma centena de pases ao redor do

    mundo, sendo observada uma rpida expanso, sobretudo na Europa, EUA, Japo, Austrlia e

    Amrica do Sul. Esta expanso est associada, em grande parte, ao aumento de custos da

    agricultura convencional, degradao do meio ambiente e crescente exigncia dos

    consumidores por produtos limpos, livres de substncias qumicas e/ou geneticamente

    modificadas.

    De acordo com YUSSEFI (2003), atualmente no mundo cerca de 23 milhes de

    hectares so manejados organicamente em aproximadamente 400.000 propriedades orgnicas,

    o que representa pouco menos de 1% do total das terras agrcolas do mundo. A maior parte

    destas reas est localizada na Austrlia (10,5 milhes de hectares), Argentina (3,2 milhes de

    hectares) e Itlia (cerca de 1,2 milho de hectares). Conforme mostra a figura 1 a Oceania tem

    aproximadamente 46% da terra orgnica do mundo, seguida pela Europa (23%) e Amrica

    Latina (21%). importante destacar que os pases que tm o maior percentual de rea sob

    manejo orgnico em relao rea total destinada agricultura, computam a rea de

    pastagem. Assim, por exemplo, em pases como a Austrlia e Argentina mais de 90% da rea

    de produo orgnica correspondem a reas de pastagem. O mesmo acontece nos pases da

    Europa: na ustria 80% da rea orgnica refere-se pastagem; na Holanda, 56%; na Itlia,

    47%, e no Reino Unido 79%.

    Numa anlise comparativa entre o tamanho de rea manejada sob o sistema orgnico

    e o nmero de propriedades orgnicas e possvel perceber que a maior parte do volume da

    produo orgnica mundial ainda proveniente de pequenas e mdias propriedades. A figura

    2 mostra que o maior nmero de fazendas orgnicas encontra-se na Europa (44,1%), Amrica

    Latina (19,0%) e sia (15,1%).

    1 Reviso ampliada e atualizao de dados contidos no livro Agricultura Orgnica: inventando o futuro deMoacir Darolt, IAPAR, 2002. 2 Eng. Agrnomo, Doutor em Meio Ambiente, Pesquisador do Instituto Agronmico do Paran IAPAR. Fone:(41) 551-1036. E-mail: [email protected]

  • FIGURA 1 DISTRIBUIO MUNDIAL DAS REAS EM AGRICULTURA ORGNICA, SEGUNDOOS DIFERENTES CONTINENTES

    Amrica do Norte

    Oceania

    sia

    Europa

    fricaAmrica Latina

    0,6 milhes de Ha

    0,2 milhes de Ha

    4,7 milhes de Ha

    1,5 milhes de Ha

    10,6 milhes de Ha

    5,1 milhes de Ha

    FONTE: Adaptado de YUSSEFI (2003)

    FIGURA 2 PERCENTUAL DO NMERO TOTAL DE PROPRIEDADES ORGNICAS, SEGUNDOOS DIFERENTES CONTINENTES

    Europa44,1%

    Amrica Latina19,0%

    sia15,1%

    Amrica do Norte11,3%

    frica9,9%

    Oceania0,6%

    FONTE: Adaptado de YUSSEFI (2003)

  • As estatsticas mundiais sobre o setor de alimentos orgnicos ainda no insuficientes,

    o que dificulta a obteno de nmeros mais precisos sobre o tamanho deste mercado. Todavia,

    estimativas do International Trade Center (ITC), instituio ligada Organizao Mundial do

    Comrcio (OMC), mostram que o comrcio mundial de alimentos orgnicos (considerando 16

    pases europeus, Amrica do Norte e Japo) movimentou aproximadamente US$ 17,5 bilhes

    em 2000 e cerca de US$ 21 bilhes em 2001 (KORTBECH-OLESEN, 2003). Segundo o

    mesmo autor, baseado em estimativas recentes, as vendas mundiais de orgnicos devem ficar

    entre US$ 23 e 25 bilhes em 2003 e provavelmente atinjam 29 a 31 bilhes em 2005.

    Informaes do ITC indicam que as vendas de produtos orgnicos na Europa devem

    atingir um patamar entre US$ 10 bilhes e US$ 11 bilhes em 2003, ante cerca de US$ 9

    bilhes em 2001. Nos Estados Unidos, as vendas de orgnicos podem alcanar a marca de

    US$ 11 bilhes em 2003, mostrando a consistncia desse mercado, que era de US$ 9,5 bilhes

    em 2001. Os nmeros apresentados so expressivos, mas mesmo considerando o rpido

    crescimento dos ltimos anos, o segmento de alimentos orgnicos ainda pode ser considerado

    como um nicho de mercado. As vendas de orgnicos representam apenas uma pequena parcela

    do total de alimentos vendidos, no mais que 3 a 4%. Os dados indicam que existe um

    potencial enorme de crescimento para este setor em todo o mundo.

    EUROPA ORGNICA

    Desde o incio da dcada de 1990, o sistema de agricultura orgnica tem se

    desenvolvido muito rapidamente na Europa. Segundo WILLER & YUSSEFI (2001), entre

    1986 e 1996, a converso para o sistema orgnico teve um crescimento anual de 30%. HAMM

    et al. (2002), analisando o mercado europeu de produtos orgnicos, mostraram que o setor

    orgnico de vendas no varejo cresceu 439% entre 1993 e 2000. As previses mais recentes

    (KORTBECH-OLESEN, 2003), mostram que o crescimento anual entre 2003 e 2005 deve

    variar entre 5 e 20%. Apesar das altas taxas de crescimento, esses valores no ultrapassaram

    4% do total de vendas de alimentos e representaram no ano de 2000 apenas 2,9 % da rea

    agrcola total cultivada na Unio Europia. Cabe destacar que o maior crescimento tem

    ocorrido nos pases da Escandinvia e Mediterrneo. A tabela 1 mostra que existem na Europa cerca de 175 mil propriedades orgnicas,

    ocupando uma rea de 5,1 milhes de hectares. A ustria o pas da Unio Europia com o

    maior percentual de rea orgnica cultivada do mundo (11,3%). Segundo WILLER (1999), em

  • algumas regies do pas, como Salzbourg e Tyrol, 50% dos agricultores j esto no sistema

    orgnico. O setor, impulsionado a partir de 1983, obteve nos ltimos anos um forte apoio

    poltico com incentivos financeiros para converso. O objetivo do pas atingir nos prximos

    anos 20% das terras com a produo orgnica. Paralelamente, tem se observado um forte

    crescimento e a organizao do mercado orgnico, com destaque para os supermercados. Um

    dos motivos de sucesso, alm do apoio poltico, o eficiente acompanhamento e servio de

    inspeo.

    TABELA 1 - NMERO DE PROPRIEDADES, PORCENTAGEM DO N. TOTAL DE PROPRIEDADES,REA CULTIVADA E PORCENTAGEM DA REA AGRICOLA TOTAL COMAGRICULTURA ORGNICA NA EUROPA

    PAS NMERO DEPROPRIED.

    % DONMEROTOTAL DEPROPRIED.

    REAORGNICA

    (1000HECTARES)

    % DA REAAGRCOLA

    TOTAL

    DATA

    Itlia 56.440 2,44 1.230 7,9 2001ustria 18.292 9,30 285,5 11,3 2001Espanha 15.607 1,29 485 1,6 2001Alemanha 14.703 3,28 632,1 3,7 2001Frana 10.364 1,55 419,7 1,4 2001Grcia 6.680 0,81 31,1 0,6 2001Sua 6.169 10,2 102,9 9,7 2001Finlndia 4.983 6,4 147,9 6,6 2001UK (Reino Unido) 3.981 1,71 679,6 3,9 2001Sucia 3.589 4,01 193,6 6,3 2001Dinamarca 3.525 5,58 174,6 6,5 2001Noruega 2.099 3,09 26,6 2,6 2001Polnia 1.787 0,07 44,8 0,3 2001Holanda 1.528 1,42 38,0 1,9 2001Hungria 1.040 - 105,0 1,8 2001Iugoslvia 1.000 - 15,2 0.3 2001Irlanda 997 0,69 30,0 0,6 2001Portugal 917 0,22 70,8 1,8 2001Blgica 694 1,03 22,4 1,6 2001Repblica Tcheca 654 2,3 218,1 5,0 2001

    Outros** 20.767 196,2 - -TOTAL 175.816 - 5.149,1 - 2001

    FONTE: Adaptado de YUSSEFI & WILLER (2003) ; DAROLT (2002)NOTA: **Bulgria, Crocia, Chipre, Eslovquia, Eslovnia, Estnia, Hungria, Letnia, Litunia,

    Luxemburgo e Romnia.

    A Sua outro pas que apresenta cifras acima da mdia mundial em agricultura

    orgnica, cerca de 9,7 % da rea total cultivada com agricultura orgnica e 10,2% dos

    agricultores do pas so orgnicos. Este crescimento se deve a uma estrutura organizada de

    apoio produo, fiscalizao e comercializao, alm de apoio para pesquisa, extenso e

    inspeo de atividades agropecurias orgnicas.

  • Segundo WIRTHGEN (1999), o mercado alemo de produtos orgnicos um dos

    mais importantes da Europa. A Alemanha foi o primeiro pas do mundo a criar um organismo

    para inspeo e controle da produo orgnica, mediante a Associao Demter. Em 2001,

    foram contabilizadas cerca de 14.703 unidades de produo (3,2% do total), o que representa

    uma rea de 632.165 hectares (3,7% da rea total). Atualmente, a Alemanha o terceiro pas

    da Unio Europia em termos de rea total com agricultura orgnica atrs da Itlia e do Reino

    Unido. A principal forma de venda o marketing direto (feiras e outros canais, que

    representam 20% das vendas) e as lojas de produtos naturais (33%). Recentemente, os

    supermercados tm ganhado importncia significativa como canal de marketing,

    representando cerca de 27% das vendas.O crescimento da agricultura orgnica na Itlia tem surpreendido nos ltimos anos.

    Segundo as ltimas estatsticas, a Itlia o primeiro pas da Unio Europia tanto em termos

    de rea total cultivada (perto de 1,2 milho de ha) como em nmero de produtores (tabela 1).

    O rpido crescimento do sistema deve-se, sobretudo, s ajudas financeiras governamentais

    que apiam o processo de converso das unidades de produo. A Itlia se destaca na

    produo de cereais, azeite de oliva, frutas e domina tambm a produo de vinho orgnico.

    Segundo HAMM et al. (2002) o pas responsvel por 53% do vinho orgnico produzido na

    Unio Europia.Os pases situados mais ao norte da Europa como Sucia, Dinamarca, Noruega e

    Finlndia apresentam um dos maiores crescimentos do mundo, motivado pelo aumento da

    demanda dos consumidores. A rea em agricultura orgnica nesses pases varia de 2,6 a 6,6%

    (Tabela 1). Os governos da Sucia e Finlndia, por exemplo, fixaram como objetivo a

    converso de 10 % das unidades de produo para os prximos anos. A Dinamarca apresenta o maior percentual de produo de vegetais orgnicos da

    Unio Europia (15,9%), seguido pela Sucia (6,5%). Segundo HAMM et al. (2002), os

    pases nrdicos tambm se destacam na produo animal, com destaque para produo de

    leite e derivados, carne bovina, carne de ovelha, carne de cabra e ovos. De acordo com dados do Observatoire National de lAgriculture Biologique / ONAB

    (1999) da Frana, nos ltimos anos o nmero de unidades de produo aumentou 28% e a

    rea certificada cerca de 16%. De qualquer forma, este crescimento considerado insuficiente

    para a agricultura francesa atingir os objetivos fixados pelo Plano Plurianual de

    Desenvolvimento da Agricultura Biolgica (PPDAB), que pretende converter 25.000

    propriedades e 1 milho de hectares at o ano 2005. A tabela 1 mostra que at o momento

    foram convertidas cerca de 10.300 propriedades em 419 mil hectares. Segundo um dossier

  • preparado pela revista Chambres dAgriculture (APCA, 1999), para atingir esta meta, o nvel

    atual de converso deveria estar em torno de 2.500 unidades de produo e 100.000 hectares

    por ano. Como mostra a tabela 1, o manejo orgnico utilizado em apenas 1,4% da rea total

    agrcola da Frana.

    Ainda na Frana, cabe destacar um aumento significativo de algumas produes

    animais na linha orgnica, sobretudo o frango orgnico que teve taxas de crescimento de

    135% nos ltimos dois anos, alm da produo de porcos (39%), ovelhas (35%) e leite (19%).

    Em relao produo vegetal o destaque para o aumento das reas de pastagens e

    forrageiras (29%), seguidas do cultivo de olercolas (21%).

    Outros pases que tm apresentado crescimento importante so a Espanha e o Reino

    Unido. A Espanha nos ltimos anos triplicou o nmero de produtores e a rea, motivada pela

    ajuda governamental e pela possibilidade de exportao de seus produtos. O pas conta com

    timas condies de clima mediterrneo e continental para posicionar-se como destaque na

    Unio Europia. Entretanto, possui um pequeno mercado interno at o momento. Desta forma,

    a maior parte da produo orgnica exportada para pases do centro e norte da Europa. A Espanha j ocupa a terceira posio em termos de nmero de produtores e quarta

    posio em rea plantada. Alguns dos principais produtos provenientes de fazendas orgnicas

    so: gros de leguminosas, hortalias, frutas ctricas, frutas temperadas (ma, pra, melo,

    pssego e nectarina), azeitonas, vinho, ervas aromticas e medicinais, alm de forragem para

    animais. A maioria da indstria processadora est ligada a produo de azeite de oliva e

    conservas de frutas e legumes que vo para o mercado externo.No Reino Unido, depois do lanamento de uma lei de ajuda converso, editada em

    julho de 1994, a produo orgnica passou de 50.000 hectares em 1996, para 679.631 hectares

    em 2001 (YUSSEFI, 2003). Do total das reas consideradas orgnicas, aproximadamente 80%

    correspondem a reas de pastagem. O crescimento da produo animal orgnica tambm

    aponta para uma crescente importao de cereais orgnicos. O crescimento relativamente

    rpido experimentado na Inglaterra contrasta com o baixo crescimento de outros pases como

    a Irlanda, por exemplo.

    Vale ressaltar que dentro do setor orgnico se identificam pelo menos 800 empresas

    processadoras de alimentos certificadas, as quais orientam sua produo, importao e

    exportao para produtos destinados a alimentao humana e animal. A maior concentrao

    destas empresas est voltada produo animal.

    A meta do governo converter pelo menos 10% das terras sob manejo orgnico at o

    ano de 2005. De qualquer forma, a produo ainda insuficiente para suprir a demanda dos

  • consumidores, fato que faz com que 70% dos alimentos orgnicos do Reino Unido sejam

    importados.

    Em sntese, analisando os pases da Europa, podemos observar um crescimento

    muito rpido do nmero de unidades de produo orgnicas e da demanda dos consumidores.

    A maioria dos pases possui um sistema bem definido de Normas de Produo e Certificao.

    Para o ano de 2003, segundo previses do ITC (KORTBECH-OLESEN, 2003), estima-se que

    o volume comercializado de produtos orgnicos na Unio Europia fique entre US $ 10,0 e

    US $ 11,0 bilhes, com destaque para os cereais, frutas, leite e ovos. Segundo o mesmo autor,

    a taxa de crescimento do mercado orgnico at 2005 deve variar entre 5 e 20% ao ano.

    AMRICA DO NORTE ORGNICA

    Estatsticas recentes mostram que existem cerca de 6.949 propriedades orgnicas nos

    Estados Unidos, cobrindo uma rea de 950 mil hectares, onde se cultiva principalmente

    cereais, com destaque para soja e trigo (HAUMANN, 2003). Segundo dados da Organic

    Farming Research Fundation / Fundao de Pesquisa em Agricultura Orgnica,

    aproximadamente 1% do mercado americano de alimentos proveniente de mtodos

    orgnicos de produo. Em 1996, isso representava em torno de US $ 3,5 bilhes em vendas.

    Nos ltimos anos a venda de produtos orgnicos tem sido incrementada em at 20% ao ano. A

    tabela 2 mostra os principais produtos comercializados por categoria. O volume de vendas,

    estimado pelo OTA em 2000, que era de cerca de US $ 8 bilhes anuais, est sendo previsto

    para US $ 11 bilhes para o final de 2002.

    TABELA 2 - VENDA DE PRODUTOS ORGNICOS POR CATEGORIA DE MERCADORIA (US $)-MERCADO DOS ESTADOS UNIDOS.

    PRODUTO ANO BASE1998

    US $ (1.000.000)1999

    US $ (1.000.000)2000

    US $ (1.000.000)Frutas e vegetais 3.486 3.904 4.294Derivados de Leite 424 598 832Congelados 400 565 813Produtos Refrigerados 274 329 401Gros 201 278 400Carne e Lingia 168 218 288Produtos de Convenincia 145 196 269Outros 112 129 145Alimento para beb 84 117 166Sucos 60 75 91Cerveja e Vinho 46 54 60TOTAL 5.400 6.463 7.759

  • FONTE: OTA (2000)

    Em relao ao mercado, interessante observar que 62% dos produtos orgnicos so

    comercializados por lojas de comidas naturais, 31% por supermercados e somente 7% via

    comercializao direta (feiras, sacolas etc). O maior supermercado orgnico est no Texas,

    possui mais de 85 lojas em 19 estados, com um movimento em 1998, segundo a OTA (2000),

    de US $ 1.4 bilho.

    A importao dos EUA considervel com relao aos produtos de origem tropical e

    alimentos processados. Atualmente, de acordo com dados da OTA (2000), 1/3 da populao

    norte-americana ocasionalmente compra produtos orgnicos, sendo que 3% compram

    regularmente. Em mdia, os produtos orgnicos nos EUA custam 20% a mais que os similares

    convencionais.

    No Canad, segundo a Canadian Organic Growers COG (COG, 2002;

    HAUMANN, 2003), existem aproximadamente 3.236 produtores orgnicos, produzindo

    basicamente trigo, aveia, cevada, trigo mourisco, frutas temperadas e vegetais. A rea

    manejada com orgnicos de aproximadamente 430.600 hectares, cerca de 0,58% da rea

    total. Existem 45 certificadoras no Canad, e mais de 320 processadores e transformadores de

    alimentos orgnicos. O mercado de alimentos orgnicos no Canad estimado entre US $ 460

    e US $ 660 milhes. A expectativa, segundo a COG, chegar a US $ 2 bilhes em 2005.No Mxico a agricultura orgnica comeou a crescer a partir do incio dos anos de

    1980. Entretanto, nos ltimos 5 anos o crescimento foi maior. Segundo TOVAR (2000) e

    HAUMANN (2003), as reas orgnicas certificadas passaram de 23 mil hectares em 1996

    para cerca de 143 mil hectares no ano 2001. Existem cerca de 137 zonas incorporadas ao

    movimento orgnico no Mxico, cultivando cerca de 30 diferentes produtos, com destaque

    para o caf (cultivado em cerca de 75% da rea); hortalias, incluindo tomate, pimenta,

    pepino, alho etc. (10% da rea); maas (5% da rea); sementes de gergelim (4%); feijes e

    gro-de-bico (3%) e outros produtos em menor escala (3% da rea) como amendoim, cana-de-

    acar; banana, abacate, cacau, manga, morango e outras ervas medicinais.

    O Mxico apresenta o maior nmero de produtores orgnicos das Amricas, cerca de

    35.000, divididos em dois grupos: pequenos produtores ligados a grupos de movimentos

    sociais, que representam 95% do total de produtores, e grandes produtores ligados a grupos

    privados. Segundo TOVAR (2000) os pequenos produtores so responsveis por 89% da

    produo orgnica mexicana e respondem por 78% da renda gerada com esses produtos.

  • Em torno de 85% da produo orgnica mexicana exportada, sobretudo para os

    Estados Unidos. O restante 15% distribudo no mercado interno. Isto faz com que as

    principais certificadoras sejam estrangeiras. Para se ter uma idia, aproximadamente 79% da

    certificao realizada por agncias estrangeiras, sobretudo por certificadoras norte-

    americanas, como a Organic Crop Improvement Association International (OCIA), que

    acompanha 43% da rea certificada. De acordo com TOVAR (2000), o setor orgnico

    mexicano gera aproximadamente 8,7 milhes de empregos por ano e movimentava cerca de

    US $ 70 milhes em exportaes.

    AGRICULTURA ORGNICA NA OCEANIA

    A regio da Oceania inclui a Austrlia, Nova Zelndia, Fiji, Papua, Nova Guin,

    Tonga e Vanuatu. A concentrao das reas est majoritariamente na Austrlia que possui

    cerca de 10,5 milhes de hectares orgnicos e 1.380 produtores (YUSSEFI, 2003), sendo mais

    de 90% da rea com pastagens.

    Na Austrlia, segundo CLAY (2000), o mercado orgnico passou de US $ 19,2

    milhes em 1990 para US $ 137 milhes em 2000. O sortimento de produtos orgnicos passa

    por legumes, frutas frescas (ma e laranja), produtos derivados de leite e carne. A maioria da

    rea orgnica administrada com pastoreio extensivo para gado e ovelha, sendo a carne

    exportada, basicamente, para a Europa. O produto no mercado interno comercializado em

    lojas especializadas e, sobretudo, em grandes cadeias de supermercados.

    O pas possui Normas estabelecidas desde 1992 para Produo de Produtos

    Orgnicos e Biodinmicos e um Servio Australiano de Inspeo (AQIS Australian

    Quarantine Inspection Service). Sete Instituies esto cadastradas pela AQIS para o trabalho

    de inspeo de propriedades orgnicas e biodinmicas, todas com permisso para exportao.

    Aproximadamente 60% dos alimentos orgnicos vo para o mercado interno. Neste

    caso, os produtos orgnicos recebem cerca de 50 a 75% de prmio quando comparados com

    os similares convencionais. Os principais mercados para exportao so a Gr-Bretanha,

    Alemanha e Japo. Uma boa perspectiva para a Austrlia est em produtos como o trigo,

    carne bovina, cenouras, laranja e vinho. Apesar de ter a maior superfcie orgnica do mundo, a

    Austrlia ainda importa produtos orgnicos, sobretudo sucos de frutas, leo de oliva e comida

    para beb.

  • No que diz respeito Nova Zelndia, at 1990 o mercado de produtos orgnicos era

    muito pequeno, apresentando um crescimento mais expressivo nos ltimos 5 anos. CLAY

    (2000), calcula que o pas movimentou cerca de US$ 60 milhes em alimentos orgnicos no

    ano 2000, o que corresponde a 1% do mercado de alimentos. Frutas e legumes representam o

    maior segmento de artigos organicamente produzidos. Cereais, derivados de leite e ovos

    representam cerca de 10% do total. A maioria dos alimentos orgnicos comercializada em

    lojas de produtos naturais, as quais oferecem tambm outros tipos de produtos no orgnicos.

    Interessante destacar que o mercado da Nova Zelndia se desenvolveu basicamente sem o

    apoio governamental. Em 1999, 60% do produto orgnico da Nova Zelndia foi exportado (Japo, Europa,

    EUA e Austrlia) e 40% foram comercializados no mercado interno. Os produtos exportados

    foram kiwi, ma, legumes congelados, legumes frescos e mel. A Nova Zelndia importa

    frutas secas principalmente dos Estados Unidos, Turquia e Amrica do Sul, em segundo lugar

    nozes dos Estados Unidos e ndia, arroz da Austrlia, ndia e Indonsia. Caf e ch tambm

    so importados dos Estados Unidos, Amrica do Sul, ndia e Sri Lanka. Neste pas, os

    consumidores em 1999 pagaram em mdia 30% a mais sobre as frutas, legumes e leos, e

    40% a mais pelo preo da carne orgnica (CLAY, 2000). Para finalizar, importante destacar

    que desde 1992 a Nova Zelndia tem padres nacionais para os produtos orgnicos.

    Recentemente, em julho de 2002, o governo fundou uma organizao (OPENZ Organic

    Product Exporters of New Zealand) visando facilitar a exportao dos produtos da Nova

    Zelndia para Unio Europia, Estados Unidos e Japo.

    SIA ORGNICA

    Dados recentes mostram que o continente asitico, no qual se computam 23 pases3,

    apresenta cerca de 60 mil propriedades orgnicas e 590 mil hectares de terras manejadas sob o

    sistema orgnico. Segundo YUSSEFI (2003), a Indonsia apresenta o maior nmero de

    produtores (45.000 propriedades em 40 mil hectares de rea). A ndia tambm apresenta um

    nmero expressivo de propriedades orgnicas (5.661) em 41 mil hectares. J a China se

    caracteriza por grandes propriedades, computando a maior rea do continente asitico

    3 Azerbaijo, China, Coria, ndia, Indonsia, Israel, Japo, Kazaquisto, Laos, Lbano, Hong Kong, Malsia,Nepal, Paquisto, Filipinas, Rssia, Sri Lanka, Sria, Tailndia, Taiwan, Turquia, Ucrnia e Vietn.

  • (301.000 hectares) e cerca de 2.900 propriedades. O Japo apresenta uma produo local

    reduzida em aproximadamente 5 mil hectares sendo, basicamente, um grande importador. por isso, que o maior mercado asitico de alimentos orgnicos est no Japo. As

    estimativas do Ministrio da Agricultura Japons indicam que a movimentao financeira

    deste mercado atingiu cerca de US $ 2,5 bilhes em 2000. Anteriormente, este nmero fora

    divulgado como US $ 4 bilhes, todavia neste clculo eram computados outros produtos

    "verdes" ou "naturais" no-certificados. Cabe destacar que o pas apresenta um grande nmero

    de consumidores orgnicos, variando de 3 a 5 milhes de pessoas, segundo dados da FAO

    (1994). No incio dos anos de 1970 a Associao de Agricultura Orgnica Japonesa fez uma

    aliana entre produtores e consumidores, a meta era desenvolver um duradouro sistema de

    mercado justo. Atualmente, de acordo com dados fornecidos por uma Associao Japonesa

    de Consumidores Orgnicos, com o qual mantivemos contato pessoal, existem cerca de 10

    milhes de consumidores para o mercado orgnico e similar (com produtos que respeitam o

    meio ambiente). A tabela 3 aponta os principais tipos de alimentos importados pelo mercado

    asitico.

    TABELA 3 - PRINCIPAIS PASES E TIPOS DE ALIMENTOS ORGNICOS NO MERCADOASITICO

    PAS PRODUTOS CASEIROS IMPORTAO PRMIOPREO*

    NDIA Todos os tipos 100 %

    FILIPINAS Vegetais frescos e arroz; Mel, ch, caf, tempero, principalmentealimentos processados; 30-50 %TAILNDIA Arroz, vegetais, feijo, frutas; 10-30 %CHINA Ch, mel, broto de bambu,amendoim, arroz, feijo; 1030 %

    JAPO

    Arroz, ch japons, saqu,vinagre de arroz;

    Macarro, cereais, caf, ch preto, chde erva, vinho, cerveja, leo, marmelada,manteiga, mel, vegetais congelados,nozes, frutas secas, frutas frescas(banana, kiwi, laranja), carne de boi,frango, queijo,acar, po, macarro japons, sucos,temperos (molho de soja, mis etc.),produtos a base de feijo/soja (tofu, nattoetc.)

    20-50%

    FONTE: (MASUDA, 2000)NOTA: * Prmio pago ao produto orgnico em relao ao similar convencional

  • No Japo existe uma campanha para se obter 1% da rea agrcola orgnica para os

    prximos anos. Pases como Turquia e Israel esto produzindo frutas secas e frescas, legumes

    e nozes. Na sia Oriental os pases como China, ndia, Repblica da Coria e Sri Lanka esto

    produzindo cacau, caf, leos essenciais, ervas, especiarias, arroz, ch, baunilha e amendoim.

    Na maioria dos pases ainda no existe um mercado diferenciado para os alimentos orgnicos,

    no havendo diferena de preo em relao aos produtos convencionais. Em pases como

    Israel, Malsia, Filipinas e Japo os produtos orgnicos so comercializados em lojas

    especializadas e supermercados.

    Na China, Hong Kong, Taiwan e Filipinas a demanda por produtos organicamente

    produzidos esto em ritmo de crescimento. Apesar de o mercado interno ainda ser pequeno,

    existe um grande potencial para exportao. Na Turquia toda produo certificada para a

    exportao, principalmente para os mercados da Europa e Estados Unidos, sendo que 90% dos

    alimentos produzidos so frutas secas.

    FRICA ORGNICA

    O Continente africano apresenta uma particularidade importante: a revoluo verde

    teve sucesso limitado, sendo que o uso de agroqumicos permaneceu baixo. Desta forma,

    pode-se dizer que muito da produo agrcola africana obedece aos padres da agricultura

    orgnica. Entretanto, esta produo raramente certificada pois no existem normas para

    produo orgnica em nenhum pas do continente. Alm disso, as estatsticas sobre a

    produo so limitadas a poucos pases. As certificadoras que operam no continente so

    basicamente estrangeiras, o que torna o custo de certificao elevado.

    A tabela 4 apresenta os principais produtos orgnicos da agricultura africana

    colocados no mercado internacional. No Norte da frica o mercado local de produtos

    orgnicos est crescendo, como o caso do algodo e ch no Egito. Os principais pases

    produtores so Uganda, frica do Sul, Moambique, Senegal, Marrocos, Tanznia

    Madagascar e Tunsia.

  • TABELA 4 - PRODUTOS ORGNICOS DA AGRICULTURA AFRICANA NO MERCADOINTERNACIONAL

    PRODUTO PAS DE ORIGEMCaf Uganda, Tanznia, MadagascarAlgodo Uganda, Senegal, Egito, Zimbabwe, Benin, MoambiqueCacau Tanznia, Costa Marfim, MadagascarAbacaxi Gana, Uganda, Ilhas Maurcio, Camares, MadagascarDoce de Banana Uganda, CamaresMel Arglia, Madagascar, Malawi, ZambiaFrutas Secas Uganda, Benin, Burkina Faso, Madagascar, MarrocosLegumes Camares, Madagascar, frica do Sul, Marrocos, TunsiaBaunilha Madagascar, Ilha ComoresErvas Madagascar, Egito, Tunsia, Marrocos, frica do Sul, ZimbabweAbacate frica do Sul, Ugandaleo de Oliva TunsiaAcar Ilhas Maurcio, frica do SulCaju MoambiqueCh Tanznialeo de Palma MadagascarCoco Madagascar, BeninCondimentos Tanznia, ZimbabweFONTE: WALAGA (2003)

    Na frica do Sul j existe mercado domstico para produtos orgnicos e uma

    certificadora nacional para produtos orgnicos (Africas Farms Certified Organic

    AFRISCO). Em Uganda (28.200 propriedades e 122 mil hectares), Moambique (5.000

    propriedades), Senegal (3.000 propriedades e 2.500 hectares) e Tanznia (991 propriedades e

    5.155 hectares) predominam pequenas propriedades que exportam seus produtos,

    basicamente, para Europa.

  • AMRICA LATINA ORGNICA

    A Amrica Latina tem uma tradio milenar de cultivo da terra acumulando

    experincias, como a dos Incas, Maias e Astecas, que j incluam na sua prtica agrcola o uso

    de rotao de culturas, seleo de variedades apropriadas, uso de composto vegetal, pousio

    prolongado da terra, sistemas sofisticados de irrigao por gravidade e manejo de solo com

    plantio em patamares. Utilizando a autoconfiana criativa, o conhecimento emprico e os

    recursos locais disponveis, os agricultores tradicionais da Amrica Latina freqentemente

    desenvolveram sistemas agrcolas com produtividades sustentveis. Muitos destes agricultores

    esto se incorporando ao movimento orgnico.

    Preocupados com a crtica situao dos pequenos agricultores da Amrica Latina,

    mais de 80 organizaes desenvolvem projetos relacionados com a agroecologia. Podemos

    destacar o trabalho do Movimento Agroecolgico Latino Americano (MAELA), que

    atualmente trabalha em mais de 15 pases da regio e do Consrcio Latino Americano sobre

    Agroecologia e Desenvolvimento (CLADES).

    Segundo a Federao Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgnica

    (IFOAM), o sistema praticado em 20 pases da Amrica Central e Caribe e 10 pases da

    Amrica do Sul. Esta expanso est associada, em grande parte, ao aumento da demanda por

    produtos livre de agrotxicos e que no degradem o meio ambiente; pelo elevado custo de

    produo da agricultura convencional e pelo baixo poder aquisitivo dos agricultores latino-

    americanos.

    Em quase todos os pases da Amrica Latina existe um mercado orgnico, em nveis

    variados de desenvolvimento, com uma rpida ascenso na maioria dos pases. O continente

    ocupa o terceiro lugar mundial em termos percentuais, perfazendo cerca de 21% da superfcie

    total manejada no sistema orgnico de produo.

    Atualmente, cerca de 75 mil produtores cultivam aproximadamente 4,7 milhes de

    hectares sob manejo orgnico na Amrica Latina, conforme mostra detalhadamente a tabela

    5. Os pases com as maiores percentagens da rea total com agricultura orgnica so:

    Argentina, Uruguai, Costa Rica e Chile. Em termos de nmero de produtores orgnicos, o

    destaque para Peru, Brasil, Bolvia e Colmbia, evidenciando a importncia das pequenas

    propriedades familiares.

  • TABELA 5 REA, NMERO DE PRODUTORES E PERCENTUAL DA REA AGRCOLA SOBMANEJO ORGNICO EM ALGUNS PASES DA AMRICA LATINA.

    PAS REA ORGNICA(Hectares)

    NMERO DEPRODUTORES

    % REA TOTAL DATA

    ARGENTINA 3.192.000 1.900 1,89 2001BOLVIA 19.634 5.240 0,06 2001BRASIL * 275.576 14.866 0,08 2001CHILE ** 3.300 300 1,50 2000COLOMBIA 30.000 4.000 0,24 2001COSTA RICA 8.974 3.569 2,0 2000EQUADOR *** 10.000 2.500 - 2001EL SALVADOR 4.900 1.000 0,31 2000GUATEMALA 14.746 2.830 0,33 2000

    NICARGUA 7.000 2.000 0,09 2001PARAGUAY 61.566 2.542 0,26 2001PERU 84.908 19.685 0,27 2001R. DOMINICANA 14.963 1.000 0,40 2001URUGUAI 678.481 334 4,00 2001OUTROS 78.065 5.533 - 2000/01TOTAL 4.743.813 75.799 - -

    FONTE: Adaptado de YUSSEFI & WILLER (2003); LERNOUD (2003); DAROLT (2002)NOTAS: *Recentemente foram certificados cerca de 500.000 hectares de pastagens orgnicas nosestados do Mato Grosso (DAROLT, 2002);** Para o ano de 2002, foram incorporados 600.000 hectares de pastagens orgnicas recentementecertificadas na Regio de Magallanes, para produo de ovelha orgnica (ECOSUR,www.agendaorganica.cl);*** Informaes do Prof. Manuel B. Suquilanda Valdivieso, publicadas no site www.agendaorganica.cl.

    Os pases que apresentam as mais altas porcentagens da rea agrcola dedicados

    produo animal e vegetal orgnica, so Argentina, Uruguai e Brasil. A partir do ano de

    2002, segundo dados da empresa de consultoria ECOSUR, o Chile teve um salto importante

    na superfcie dedicada a agricultura orgnica, em torno de 600 mil hectares, basicamente pela

    certificao de reas de pastagens.

    A Argentina , atualmente, o pas com a maior rea certificada na Amrica Latina,

    ocupando o segundo lugar em nvel mundial, atrs da Austrlia. Os dados mais recentes

    mostram que existem cerca de 1.900 produtores orgnicos certificados (LERNOUD, 2003).

    Nos ltimos quatro anos houve um aumento gigantesco da rea certificada, passando de

    287.000 em 1997 (FOGUELMAN & MONTENEGRO, 1999), para cerca de 3.192.000

    hectares em 2001, o que corresponde cerca de 1,8% da rea total cultivada (LERNOUD,

    2003). Vale lembrar que cerca de 95% desta superfcie corresponde a reas de pastagens. Em

    relao aos produtos vegetais, o volume exportado, segundo dados da Cmara Argentina de

    Produtores Orgnicos Certificados (CAPOC), foi de aproximadamente 25.000 toneladas em

  • 1999, sendo a maior parte (52%) de cereais e oleaginosas (girassol, soja, milho, trigo, linho);

    31% de frutas frescas (ma, pra, citrus, melo); 10 % de hortalias e legumes; 2 % produtos

    animais e 5% de outros produtos (basicamente industrializados).

    Em relao exportao de produtos animais, destacam-se a carne bovina e ovina,

    que so o carro-chefe das exportaes. Outros produtos importantes so as aves e o mel

    orgnico. A maior parte dos produtos orgnicos argentinos exportada (85%), sendo 15%

    deles vendidos no mercado local. Dos produtos destinados ao mercado externo, cerca de 85%

    da produo vai para a Unio Europia e 15% para EUA e Japo, basicamente. O volume do

    mercado orgnico argentino est estimado em US $ 20 milhes anualmente. As importaes

    de produtos orgnicos ainda so pequenas, com destaque para o caf.

    Cabe destacar que o setor orgnico argentino recebe grande apoio estatal para a

    exportao. A tabela 5 mostra como a agricultura orgnica est desigualmente distribuda no

    territrio: os cerca de 3 milhes de hectares esto distribudos em menos de 2 mil produtores,

    o que faz com que os benefcios da agricultura orgnica cheguem a um nmero reduzido de

    produtores e consumidores. Outro aspecto preocupante o aumento expressivo do uso de

    sementes transgnicas no pas, o que pode se tornar uma ameaa para a agricultura orgnica.Na Costa Rica cerca de 3.500 produtores utilizam perto de 9.000 hectares para

    produzir cerca de 30 diferentes produtos orgnicos (tabela 5). O nmero de agricultores

    passou de 1.300 em 1996 (GARCIA, 1997) para cerca de 3.569 em 2001. Atualmente, cerca

    de 2 % da rea total agricultvel encontra-se no sistema orgnico. Os maiores volumes de

    produo so para os cultivos de banana, caf, cana-de-acar e palmito. Entretanto, esto

    bem desenvolvidos os cultivos de hortalias, citrus, mamo, manga, abacaxi, feijo e arroz.

    Os principais produtos exportados no mercado orgnico so cacau, caf, pur de banana,

    abacaxi e suco de laranja. Uma caracterstica que chama ateno que a maioria das propriedades pequena,

    sendo a produo orgnica desenvolvida numa rea mdia de 2,6 hectares. Existe uma ntida

    movimentao nacional para promoo da produo orgnica. Para dar apoio ao processo de

    certificao o Ministrio da Agricultura e Pecuria criou em 1997 a Direccin de

    Acreditacin y Certificacin en Agricultura Orgnica (DARAO) que regula o processo de

    certificao orgnica no pas. As Normas de Certificao esto regidas segundo o

    Regulamento para a Agricultura Orgnica de outubro de 2000. A Repblica Dominicana uma pequena ilha no Caribe que se destaca pelo grande

    nmero de produtores orgnicos, cerca de 1.000, que produzem principalmente banana, cacau,

  • caf, abacaxi, manga e outras frutas tropicais. Em menor escala pode-se encontrar a produo

    de hortalias.O Paraguai conta atualmente com uma rea em torno de 61 mil hectares sob manejo

    orgnico. Sua principal atividade no setor orgnico a produo de soja, milho e acar

    orgnico para exportao. Tambm o Equador e o Brasil se destacam na produo do acar

    orgnico.No Equador cada vez maior o nmero de produtores que esto aderindo ao sistema

    orgnico. Como mostra a tabela 5, estima-se que existam perto de 2.500 produtores

    orgnicos, produzindo na sua maior parte banana orgnica para mercados da Unio Europia.

    A produo de hortalia tambm expressiva e proveniente de produtores organizados pela

    Associao Equatoriana de Produtores Biolgicos. Alm de banana e hortalias se destaca

    ainda a produo de cacau, caf, acar, plantas medicinais e condimentares.O Chile apresenta cerca de 300 produtores orgnicos, sendo a maior parte (80%) em

    reas de at 10 hectares, ocupando uma superfcie total de aproximadamente 3.300 hectares

    (HERNANDEZ, 2000). Conforme comentado anteriormente, devem ser incorporados mais

    600 mil hectares de pastagens orgnicas, certificadas recentemente para produo animal com

    destaque para ovinocultura. A produo vegetal, como em outros pases da Amrica Latina,

    voltada basicamente para exportao, destacando-se a produo de frutas como o kiwi e outras

    consideradas nobres como a framboesa e o morango. Alem disso, o Chile tambm exporta

    legumes orgnicos frescos e desidratados, ervas finas e vinho. O caf um dos produtos orgnicos mais solicitados no exterior. Alm do Mxico,

    podemos citar a Colmbia, Bolvia, Nicargua, Guatemala e El Salvador. A produo

    envolve um manejo conhecido como caf sombreado, sendo a cultura associada floresta.

    Paralelamente, estes pases se destacam pela produo de frutas tropicais.Em sntese, a maioria dos pases da Amrica Latina no possui uma legislao

    eficiente que regulamente a produo e comercializao de alimentos orgnicos. Alguns

    pases como o Brasil, Chile, Peru, Nicargua e Paraguai j iniciaram o processo de

    regulamentao. A Argentina j estabeleceu seu regulamento em 1994 e o nico pas Latino

    Americano reconhecido pela Unio Europia para exportao de produtos orgnicos. Tambm

    a Costa Rica j possui uma regulamentao nacional para a produo orgnica.

    O fato de no haver um processo legal na maioria dos pases faz com que a produo

    para exportao seja certificada por empresas estrangeiras, sobretudo companhias norte-

    americanas e europias. Este procedimento faz com que o custo de certificao fique muito

    alto e, em muitos casos, acabe sendo um entrave para a expanso do mercado.

  • Apesar de a maior parte da produo orgnica ser destinada exportao, h

    tambm um grande potencial para expanso do mercado interno, como o caso do Brasil,

    Argentina, Chile, Costa Rica e Uruguai.

    A venda em supermercados tem crescido substancialmente. Atualmente, podem ser

    facilmente encontrados produtos orgnicos em supermercados no Uruguai, Costa Rica,

    Honduras, Peru, Brasil e Argentina. Os produtos processados ainda so encontrados em menor

    escala, sendo um mercado promissor para a Amrica Latina. A Argentina o pas com a

    maior produo de alimentos orgnicos industrializados (sucos concentrados, leos, vinhos,

    chs, frutas secas, condimentos etc.).

    Os desafios da produo orgnica esto na ampliao do que ainda considerado

    nicho, no passando de 1% a 2% do mercado de alimentos. Os recentes estudos concluem

    que o crescimento de produtos ocorre principalmente em pases industrializados. Neste

    sentido, o desafio desenvolver mercados locais, sobretudo em pases considerados em

    desenvolvimento. Um ambiente poltico favorvel tambm inclui uma definio clara de uma legislao

    para a agricultura orgnica, no somente para exportao, mas tambm para fortalecer a

    confiana do consumidor e com isso construir mercados locais. Em muitos pases, onde a

    agricultura orgnica est comeando, h falta de credibilidade. Para reverter esse quadro,

    tornam-se necessrias introduo de padres e uma definio clara do que um alimento

    orgnico. Em nvel internacional urgente que haja uma harmonia entre os padres de

    produtos orgnicos para facilitar o comrcio, pois ainda existem pequenas diferenas entre

    normas estabelecidas pela IFOAM, Codex Alimentarius da FAO e Normas de

    Regulamentao da Unio Europia (EU Regulation 2092/91). Outro grande desafio refere-se manuteno de relaes de comrcio justo para a

    produo orgnica. Este tipo de ao deve ser intensificado. Apesar de j existirem alguns

    programas de trabalho mtuo, necessrio que os efeitos de sinergia entre agricultura

    orgnica e comrcio justo sejam bem aproveitados.

    REFERNCIAS

    COG Canadian Organic Growers. Canadian Organic Statistics. EcoFarm & Garden.Volume 5, Number 3, Summer 2002. p. 11.

    DAROLT, M.R. Agricultura Orgnica: inventando o futuro. Londrina: IAPAR, 2002. 250p.

  • FOGUELMAN, D. & MONTENEGRO, L. Organic Production and Farmers in Argentina. In:INTERNATIONAL IFOAM SCIENTIFIC CONFERENCE, 12th, (1998: Mar del Plata).Proceedings... Mar del Plata: IFOAM, 1999. p. 45-50

    GARCIA, J.E. La Agricultura Orgnica en Costa Rica. Revista Acta Acadmica.Universidad Autnoma de Centro Amrica. 16 p. 1997.

    HAMM, U.; GRONEFELD, F.; DARREN, H. Analysis of the European market fororganic food. Organic marketing initiatives and rural development: Volume one. Wales,United Kingdom: School of Management and Business, University of Wales Aberystwyth,2002. 157 p.

    HERNNDEZ, L. M. Breve diagnstico del sector de productos orgnicos chilenos,ProChile, 28 December 2000.

    LERNOUD, P. Latin America. In: YUSSEFI, M. & WILLER, H. (Org.) The World ofOrganic Agriculture 2003 - Statistics and Future Prospects. IFOAM Publication, 5th revisededition, February 2003, p. 95-105.

    MASUDA, F. The domestic Organic Market and the development of National Standards inAsia. In: LOCKERETZ,W. & GEIER, B.(editors): Quality and Communication for theOrganic Market. IFOAM TRADE CONFERENCE, 6th, (2000). Proceedings... Tholey-Theley: IFOAM, 2000.

    ONAB - Observatoire National de LAgriculture Biologique. Plan pluriannuel dedveloppement de lagriculture biologique. 4 p. Paris: APCA, 1999.

    OTA. Organic Trade Association, 2000. Datenmaterial der Organic Trade Association.Greenfield, Massachusetts. http://www.ota.com

    YUSSEFI, M. Development and State of Organic Agriculture World-wide. In: YUSSEFI, M.& WILLER, H. (Org.) The World of Organic Agriculture 2003 -Statistics and Future Prospects. IFOAM Publication, 5th revised edition, February 2003, 130pages, ISBN 3-934055-22-2.

    YUSSEFI, M. & WILLER, H. (Org.) The World of Organic Agriculture 2003 -Statistics and Future Prospects. IFOAM Publication, 5th revised edition, February 2003,130 pages, ISBN 3-934055-22-2.

    WALAGA, C. Organic Agriculture in Africa. In: YUSSEFI, M. & WILLER, H. (Org.) TheWorld of Organic Agriculture 2003 -Statistics and Future Prospects. IFOAM Publication, 5threvised edition, February 2003, p. 45-54.

  • WILLER, H. Organic Agriculture in Austria, Germany, Luxembourg and Switzerland. In:INTERNATIONAL IFOAM SCIENTIFIC CONFERENCE, 12th., (1998: Mar del Plata).Proceedings... Tholey-Theley: IFOAM, 1999. p. 51-56.

    WILLER, H. & YUSSEFI, M. Organic Agriculture Worldwide. Stiftunng kologie &Landbau. Bad Drkheim: SL, 2001. (SL-Sonderausgabe; N. 74). ISBN 3-934499-38-4.