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Damon o regresso

CrÓnIcAs VaMpÍrIcAs V

L. J. Smith

Tradução de Cristina Vaz

Damono regresso

CrÓnIcAs VaMpÍrIcAs V

Planeta ManuscritoRua do Loreto, n.º 16 – 1.º Direito

1200 -242 Lisboa • Portugal

Reservados todos os direitosde acordo com a legislação em vigor

© 2009, L. J. Smith© 2010, Planeta Manuscrito

Título original: Th e Vampire Diaries – Th e Return: Nightfall

Revisão: Fernanda Fonseca

Paginação: Guidesign

1.ª edição: Julho de 2010

Depósito legal n.º 313 751/10

Impressão e acabamento: Guide – Artes Gráfi cas

ISBN: 978-989-657-114-6

Para Kathryn Jane Smith, a minha falecida mãe, com muito amor

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Prefácio

Ste -fan?Elena estava frustrada. Não conseguia fazer com que a palavra mental

lhe saísse da maneira que queria.– Stefan – incitou -a, inclinando -se sobre um cotovelo e olhando para ela

com aqueles olhos que quase sempre a faziam esquecer -se do que estava atentar dizer. Brilhavam como folhas verdes à luz do Sol. – Stefan – repetiu.– Consegues dizê -lo, meu amor?

Elena devolveu -lhe o olhar solenemente. Ele era tão bonito que lhe par-tia o coração, com as feições pálidas e cinzeladas e com o cabelo escuroa cair -lhe descuidadamente na testa. Queria transpor para palavras todasas sensações que se amontoavam por detrás da sua língua desastrada e damente obstinada. Havia tantas coisas que precisava de lhe perguntar… e delhe dizer. Mas os sons ainda não saíam. Enrolavam -se -lhe na língua. Nemsequer os conseguia fazer chegar a ele por via telepática – apenas surgiamimagens fragmentadas.

Afi nal de contas, era apenas o sétimo dia da sua nova vida.Stefan disse -lhe que quando ela acordou, quando regressou do Outro

Lado depois de ter morrido como vampira, tinha sido capaz de andar efalar e fazer todo o tipo de coisas que agora parecia ter esquecido. Ele nãosabia por que ela as esquecera – nunca ouvira falar de alguém que regres-sasse da morte excepto os vampiros, como Elena fora, mas que de certezajá não era.

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Stefan também lhe disse, animadamente, que ela estava a aprender bastante depressa todos os dias. Novas imagens, novas palavras mentais. Apesar de algumas vezes ser mais fácil para ela comunicar do que outras, Stefan estava certo de que dentro em breve ela voltaria a ser ela mesma. Então agiria como a jovem que realmente era. Já não seria uma jovem adulta com uma mentalidade de criança, tal como os espíritos pretendiam claramente que ela fosse: crescer, ver o mundo com novos olhos, os olhos de uma criança.

Elena pensou que os espíritos tinham sido um tanto injustos. E se entre-tanto Stefan encontrasse alguém que soubesse andar e falar – e até mesmo escrever? Elena preocupava -se com isto.

Fora por essa razão que, algumas noites antes, Stefan acordou e desco-briu que ela tinha saído da cama. Encontrara -a na casa de banho, agarrada ansiosamente a um jornal, a tentar retirar algum sentido dos caracteres que ela sabia serem palavras que em tempos reconhecera. O jornal estava cheio de marcas das suas lágrimas. Os caracteres não tinham qualquer signifi cado para ela.

– Mas porquê, meu amor? Vais aprender a ler novamente. Porquê a pressa?

Isso foi antes de ele ver os pedaços do lápis, partido por ter sido agar-rado com demasiada força, e os guardanapos de papel cuidadosamente amontoados. Elena estivera a usá -los para tentar imitar as palavras. Se ela conseguisse escrever como as outras pessoas, talvez Stefan deixasse de dormir na cadeira e se abraçasse a ela na cama grande. Não iria à procura de alguém mais velho ou mais esperto. Ele saberia que ela era crescida.

Ela viu como Stefan associou tudo isto devagarinho na sua mente, e viu as lágrimas a assomarem -lhe aos olhos. Fora levado a pensar que não lhe era permitido chorar em circunstância alguma. Contudo, virou -se de costas para ela e respirou lenta e profundamente durante o que pareceu bastante tempo.

E depois pegou nela, levando -a para a cama no seu quarto e olhou -a nos olhos, dizendo:

– Elena, diz -me o que queres que faça. Mesmo que seja impossível, eu faço -o. Eu juro. Diz -me.

Todas as palavras que ela queria pensar para ele estavam ainda encra-vadas dentro dela. Os olhos deixaram rolar as lágrimas, que Stefan afastou

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com os dedos, como se fosse arruinar um quadro valiosíssimo se lhetocasse com demasiada força.

Então Elena ergueu o rosto, fechou os olhos e franziu ligeiramente oslábios. Queria um beijo. Mas…

– Neste momento, és apenas uma criança na tua mente – disse Stefan,agonizante. – Como poderia aproveitar -me de ti?

Havia uma linguagem gestual que eles tinham na vida antiga, da qualElena ainda se lembrava. Ela dava toques por debaixo do queixo, ali nosítio mais suave: um, dois, três.

Signifi cava que interiormente ela se sentia desconfortável. Como setivesse a garganta demasiado cheia. Queria dizer que ela queria…

Stefan resmungou.– Não posso…Tum -tum -tum…– Ainda não voltaste a ser como eras antes…Tum -tum -tum…– Ouve -me, amor…TUM! TUM! TUM! Ela olhou para ele com olhos suplicantes. Se conse-

guisse falar, ter -lhe -ia dito: Por favor, dá -me algum crédito – não sou com-pletamente estúpida. Por favor, ouve aquilo que não te consigo dizer.

– Estás a sofrer. Estás a sofrer mesmo muito – foi o que Stefan interpre-tou, com alguma resignação. – Se… se eu… se ao menos eu pudesse pegarnum bocadinho…

E de repente os dedos de Stefan eram suaves e seguros, movendo -lhe acabeça, erguendo -a, virando -a no ângulo exacto, e então ela sentiu as den-tadas gémeas, que a convenceram mais do que qualquer outra coisa de queela estava viva e que já não era um espírito.

E nesse momento ela tivera a certeza absoluta de que Stefan a amava aela e não a outra pessoa, e que podia dizer a Stefan algumas das coisas quequeria. Mas teria de as dizer em pequenas exclamações – não de dor – comestrelas e cometas e feixes de luz a caírem em volta dela. E fora Stefan quemnão conseguira formar uma única palavra mental para ela. Fora Stefanquem emudecera.

Elena sentiu que era justo. Depois disso, ele abraçara -a durante a noitee ela sentira -se sempre feliz.

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Capítulo 1

Damon Salvatore estava a descansar no meio do ar, suportado apenas por um ramo de… quem é que afi nal sabe o nome das árvores? Quem queria saber? Era alta, permitia -lhe espreitar para o quarto de Caroline Forbes no terceiro andar e dava um encosto confortável. Recostou -se no ramo convenientemente bifurcado da árvore, com as mãos juntas por detrás da cabeça, uma perna com uma bota de boa qualidade a pender nove metros acima do espaço vazio. Sentia -se tão confortável como um gato, com os olhos semicerrados enquanto observava.

Aguardava que chegasse a hora mágica, 4h44m, quando Caroline levaria a cabo o seu ritual bizarro. Já o tinha visto duas vezes e estava encantado.

Nesse momento, um mosquito picou -o.O que era ridículo, porque os mosquitos não picavam vampiros. O san-

gue deles não era tão nutritivo como o dos humanos. Mas parecia real-mente uma picada de mosquito na nuca.

Virou -se para ver atrás de si, sentindo a noite branda de Verão em volta – e nada viu.

As agulhas de uma conífera qualquer. Nada a voar por ali. Nada a ras-tejar em cima delas.

Tudo bem. Deve ter sido a agulha de uma conífera. Mas doía mesmo. E com o tempo a dor piorou, não melhorou.

Uma abelha suicida? Damon apalpou cuidadosamente a parte de trás do pescoço. Nada de reservatório de veneno, nada de ferrão. Apenas um pequeno alto que doía.

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Pouco depois a sua atenção voltou -se novamente para a janela.Não sabia exactamente o que se estava a passar mas sentia o repentino

zumbido de Poder em volta de Caroline, que dormia, como se fosse umalinha de alta tensão. Alguns dias antes, o zumbido levara -o até ali, masquando chegou não tinha sido capaz de determinar a fonte.

O relógio marcou 4h40m e o despertador tocou. Caroline acordou eatravessou o quarto.

Rapariga sortuda, pensou Damon num comentário maldoso. Se eu fosseum humano velhaco em vez de um vampiro, a tua virtude – partindo doprincípio que ainda tens alguma – estaria em perigo. Felizmente para ti,desisti de fazer esse tipo de coisas há quase meio milénio.

Damon sorriu para ninguém em particular, mantendo -se assim duranteuma fracção de segundo, e depois o sorriso desapareceu. Olhou outra vezpara a janela aberta.

Sim… sempre achara que o idiota do seu irmão mais novo não tinhaapreciado Caroline Forbes o sufi ciente. Não havia dúvida de que a raparigaera uma estampa: membros longos de um castanho -dourado, um corpobem -feito e cabelo cor de bronze que lhe caía em ondas sobre o rosto.E depois havia a sua mente. Naturalmente ambígua, vingativa, desdenhosa.Deliciosa. Por exemplo, se ele não estivesse em erro, ela estava a manobrarpequenos bonecos vudu na secretária.

Fantástico.Damon gostava de ver as artes criativas em acção.O Poder estranho ainda zumbia, e mesmo assim não conseguia dar com

ele. Estaria lá dentro – na rapariga? De certeza que não.Caroline agarrava com urgência aquilo que parecia ser um punhado

de teias de aranha verdes e sedosas. Despiu a T -shirt e – quase demasiadodepressa para os olhos do vampiro a conseguirem ver – tinha fi cado emroupa interior que a fazia parecer uma princesa da selva. Olhou intencio-nalmente para o seu refl exo no espelho de corpo inteiro.

Então, pequena, de que estarás tu à espera?, interrogou -se Damon.Bom, era melhor manter -se discreto. Algo escuro fl utuou, uma pena cor

de ébano caiu ao chão e então não houve mais nada a não ser um corvoexcepcionalmente grande pousado na árvore.

Damon observou intensamente com um olho brilhante de pássaroenquanto Caroline avançou de repente para a frente como se tivesse

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apanhado um choque eléctrico, com os lábios separados, o olhar fi xo naquilo que parecia ser o seu próprio refl exo.

E então ela sorriu como se fosse um cumprimento.Damon conseguia agora identifi car a fonte do Poder. Estava dentro do

espelho. Certamente que não tinha a mesma dimensão que o espelho, mas estava contida no seu interior.

Caroline estava a comportar -se… de uma maneira estranha. Atirou para trás a cabeleira cor de bronze de maneira a deixá -la cair numa onda mag-nífi ca ao longo das costas; humedeceu os lábios e sorriu como que para umamante. Quando ela falou, Damon ouviu -a claramente.

– Obrigada. Mas hoje atrasaste -te.Continuava a não haver mais ninguém no quarto a não ser ela e Damon

não ouviu resposta alguma. Mas os lábios da Caroline do espelho não se moviam ao mesmo tempo que os lábios da rapariga verdadeira.

Bravo!, pensou ele, sempre disposto a apreciar um novo truque emhumanos. Muito bem, quem quer que sejas!

Lendo os lábios da rapariga do espelho, captou algo acerca de desculpa. E adorável.

Damon ergueu a cabeça.O refl exo de Caroline dizia:– … não tens de… depois de hoje.A Caroline verdadeira retorquiu em voz rouca:– Mas e se eu não conseguir enganá -los?E o refl exo:– … ter ajuda. Não te preocupes, sossega…– Está bem. E ninguém vai fi car, bom, magoado mortalmente, pois não?

Quer dizer, não estamos a falar de morte… para os humanos.O refl exo:– Porque…?Damon sorriu interiormente. Quantas vezes é que ele já ouvira trocas

de palavras semelhantes? Sendo ele mesmo uma aranha, ele sabia: primeiro assegura -se a entrada na alcova; depois faz -se com que ela confi e e, quandoela se dava conta, podia -se obter o que se quisesse dela, até deixar de sernecessária.

Estava na altura – e os seus olhos negros brilharam – de um novo voo.As mãos de Caroline estavam agora a contorcer -se no seu colo.

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– Desde que tu não… tu sabes. Aquilo que prometeste. Amas -me realmente?– … confi a em mim. Vou tratar de ti… e dos teus inimigos também. Já

comecei…De repente Caroline esticou -se toda e os rapazes do Robert E. Lee teriam

pago para poder assistir.– Isso é o que eu quero ver – disse ela. – Estou tão farta de ouvir Elena

isto, Stefan aquilo… e agora vai começar tudo outra vez.Caroline calou -se abruptamente, como se alguém lhe tivesse desligado

o telefone e só agora se tivesse apercebido. Por um momento os seus olhossemicerraram -se e os lábios tornaram -se uma linha fi na. Então, lentamente,descontraiu -se. Os olhos permaneciam postos no espelho e uma das mãosergueu -se até repousar levemente no ventre. Olhou para lá e aos poucosas suas feições pareceram suavizar -se, derreter -se numa expressão deapreensão e ansiedade.

No entanto, Damon não tirara os olhos do espelho nem um instante.Espelho normal, espelho normal, espelho normal – là era! Justamente noúltimo momento, quando Caroline se virou, um clarão vermelho.

Chamas?Bem, o que se estaria a passar?, pensou ele, pairando enquanto se trans-

formava de corvo preto esguio novamente num jovem lindo de morrera repousar num ramo alto da árvore. Decerto que a criatura do espelhonão era originária das redondezas de Fell’s Church. Mas parecia pretendercausar sarilhos ao seu irmão, e um sorriso belo e frágil tocou os lábios deDamon por um segundo.

Nada havia que ele mais gostasse do que ver o certinho, o santinho doStefan sou -melhor -do -que -tu -porque -não -bebo -sangue -humano fi car emapuros.

Os jovens de Fell’s Church – e alguns dos adultos – viam a história deStefan Salvatore e da beleza local Elena Gilbert como uma versão modernade Romeu e Julieta. Ela dera a vida dela para salvar a dele quando ambosforam capturados por uma maníaca, e depois disso ele morrera de des-gosto. Havia inclusivamente rumores de que Stefan não fora propriamentehumano… mas outra coisa qualquer. Um demónio por cuja redenção Elenadera a vida.

Damon sabia a verdade. Stefan estava realmente morto – mas morrerahá centenas de anos. E era verdade que ele fora um vampiro, mas chamar-

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-lhe demónio era o mesmo que dizer que a fada Sininho era perigosa e estava armada.

Entretanto, Caroline parecia incapaz de parar de falar para o quarto vazio.

– Vais ver – murmurou ela, dirigindo -se para a pilha de papéis desorga-nizados e livros que cobriam a secretária.

Vasculhou os papéis até encontrar uma câmara de vídeo minúscula com uma luz verde a brilhar para ela como se fosse um olho que não pisca. Deli-cadamente, ligou a câmara ao computador e começou a digitar a password.

A visão de Damon era bem melhor do que a de um humano e pôde ver claramente os dedos morenos com as longas unhas pintadas cor de bronze: CFEAMAIOR. Caroline Forbes é a maior, pensou ele. Deplorável.

Ela virou -se e Damon viu -lhe lágrimas nos olhos. No instante seguinte, inesperadamente, ela começou a soluçar.

Sentou -se pesadamente na cama, a chorar e a balançar -se para trás e para diante, esmurrando de vez em quando o colchão com o punho fechado. Mas, principalmente, chorava e chorava.

Damon estava perplexo. Mas então o hábito assumiu o controlo e ele murmurou:

– Caroline? Caroline, posso entrar?– O quê? Quem? – Ela olhou freneticamente em volta.– Sou eu, Damon. Posso entrar? – perguntou ele, com a voz a derramar

uma pena fi ngida, usando ao mesmo tempo o controlo mental sobre ela.Todos os vampiros tinham aqueles poderes de controlo mental sobre os

mortais. A dimensão do Poder dependia de muitas coisas: da dieta do vam-piro (o sangue humano era de longe o mais potente), da força de vontade da vítima, da relação entre o vampiro e a vítima, da fl utuação do dia e da noite – e de muitas outras coisas que Damon nem sequer entendia. Sabia apenas quando sentia o seu próprio Poder a acelerar, como acontecia agora.

E Caroline estava à espera.– Posso entrar? – perguntou ele na sua voz mais musical, mais supli-

cante, ao mesmo tempo que vergava a vontade de Caroline a outra muito mais forte.

– Sim – respondeu ela, limpando rapidamente os olhos, aparentemente sem ver nada de estranho no facto de ele entrar pela janela do terceiro andar. Os olhares de ambos fi caram presos um no outro. – Entra, Damon.

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Ela emitira o convite necessário para um vampiro. Com um movimentogracioso, saltou por cima do parapeito. O interior do quarto cheirava aperfumes – e não dos subtis. Sentia -se agora verdadeiramente selvagem –era surpreendente a forma como a febre do sangue surgira tão repentina,tão irresistível. Os seus caninos superiores tinham crescido metade do seutamanho e as arestas estavam afi adas como lâminas.

Desta vez não havia tempo para conversas, para rondar como de costume.Para um gourmet, metade do prazer estava na antecipação, era certo, masnaquele momento ele tinha necessidade. Lançou o seu Poder com força paracontrolar o cérebro humano e exibiu a Caroline um sorriso estonteante.

Foi o sufi ciente.Caroline começara a andar em direcção a ele; agora ela parara. Os lábios

dela, parcialmente abertos para fazer uma pergunta, permaneceram afas-tados; e as pupilas aumentaram de repente como se ela estivesse numa salaescura, e depois contraíram -se e assim fi caram.

– Eu… eu… – conseguiu ela dizer. – Oh….Pronto. Ela era dele. E foi muito fácil.As suas presas latejavam com uma dor agradável, um suave sofrimento a

incitá -lo a atacar como uma cobra, a enterrar os dentes até ao fundo numaartéria. Estava faminto – não, esfomeado – e todo o seu corpo ardia com aânsia de beber tão fundo quanto quisesse. Afi nal de contas, se ele esgotasseaquela veia, haveria outras para escolher.

Cuidadosamente, sem tirar os olhos dos dela, ergueu a cabeça de Caro-line para expor a garganta dela, com a doce pulsão a latejar dentro de si.Invadiu -lhe todos os sentidos: o bater do coração dela, o cheiro do sangueexótico ali mesmo à superfície, denso, maduro e doce. A cabeça dele girava.Nunca se sentira tão excitado, tão ansioso…

Tão ansioso que o fez parar. Afi nal de contas, qualquer rapariga servia,certo? O que havia de diferente nesta vez? Que se estaria a passar com ele?

E então soube.Já tenho a minha mente de volta, obrigado.De repente o intelecto de Damon gelou; a aura sensual em que fora apa-

nhado congelou instantaneamente. Largou o queixo de Caroline e fi coumuito quieto.

Ele quase se deixara infl uenciar pela coisa que estava a usar Caroline.Tentara induzi -lo a quebrar a promessa que fi zera a Elena.

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E, uma vez mais, pressentiu fugazmente um clarão vermelho no espelho.

Era uma das criaturas atraídas para o centro de Poder em que Fell’s Church se tornara – ele sabia -o. Estivera a usá -lo, a espicaçá -lo, a tentar fazer que ele bebesse todo o sangue a Caroline. A retirar -lhe todo o sangue, a matar um humano, algo que ele não fazia desde que conhecera Elena.

Porquê?Com uma fúria fria, concentrou -se e sondou em todas as direcções com

a sua mente para tentar encontrar o parasita. Ainda devia estar por ali; o espelho era apenas um portal para viajar distâncias curtas. E estivera a controlá -lo – a ele, Damon Salvatore –, portanto tinha mesmo de estar bem perto.

Ainda assim, não conseguiu encontrar nada. Isso deixou -o ainda mais zangado do que antes. Tocando abstraidamente a parte de trás do pescoço com os dedos, enviou uma mensagem negra:

Vou avisar -te uma vez, e só uma. Mantém -te longe de MIM!Enviou o pensamento com uma explosão de Poder que fl amejou como

um relâmpago nos seus sentidos. Deveria ter feito cair morta qualquer coisa que por ali houvesse – do telhado, do ar, de um ramo… até mesmo da porta ao lado. Algures, uma criatura deveria ter tombado no chão e ele deveria tê -lo sentido.

Mas, embora Damon sentisse as nuvens por cima de si a escurecerem em resposta à sua disposição, e o vento a fazer os ramos roçarem uns nos outros, não houve corpo algum a cair, nenhuma tentativa de retaliação.

Não conseguiu descobrir nada sufi cientemente perto para poder pene-trar nos seus pensamentos e nada ao longe poderia ser assim tão forte. Damon poderia por vezes divertir -se fi ngindo que era superfi cial, mas lá no fundo tinha uma capacidade lógica e fria de auto -análise. Ele era forte. Sabia que era. Desde que se mantivesse nutrido e livre de sentimentos que o enfraquecessem, havia poucas criaturas que pudessem fazer -lhe frente – pelo menos neste plano.

Duas delas estavam ali mesmo em Fell’s Church, contrapôs algo levemente trocista na sua mente, mas Damon ignorou -o, desdenhoso. De certeza que não havia mais nenhum vampiro dos Antigos por perto, caso contrário iria senti -lo. Vampiros comuns, sim, já andavam por ali. Mas todos eles eram demasiado fracos para entrarem na sua mente.

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Tinha igualmente a certeza de que não havia qualquer criatura por pertoque pudesse desafi á -lo. Tê -la -ia sentido tal como sentira as fl amejanteslinhas de Poder mágico e sinistro que se entrelaçavam sob Fell’s Church.

Olhou novamente para Caroline, ainda imóvel devido ao transe em queele a colocara. Sairia dele gradualmente, não pela experiência – pelo menos,pelo que ele lhe fi zera a ela.

Voltou -se e, gracioso como uma pantera, saltou pela janela, para a árvore –e depois deixou -se cair facilmente de uma altura de nove metros para ochão.