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Page 1: DALTON TREVISAN, - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/123307/per123307_1973_00026.pdf · pensamento lewiniano, a psicologia do "Gestalt", a terapia centrada no cliente, de Rogers, com

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DALTON TREVISAN,

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Page 2: DALTON TREVISAN, - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/123307/per123307_1973_00026.pdf · pensamento lewiniano, a psicologia do "Gestalt", a terapia centrada no cliente, de Rogers, com

¦ • 5 *x- •í.JK—i-¦»«» i«.™*J*i».» 4k, A» ». ,«.,.*,— *, «^-«JI**™*** Érasssssssfss*gBjtea

O nível dos sentimentosUmectitlceooortlcjo de JecjnSterHord sobroosonsltivlty

trolnlrvg

(...) me senti le comigo virinsadegasl atingida diretamente numaárea de aiisblade profissional a quedrdtco csheçtis muito sérios e saHte aqual lenho rcflcudo muito Ttata-sc dairailuçâodo artigo de lean sijit-f.in-SrnitMrniM ao *••-,; do l.UOmag».publicado no i- ' 22.

Como participei de sano* grupos dotipo mencionado no anigo. lanto aquicomo na Europa, e como estou fun-eionando como monitor ou"lacililadora" de lais grupos junto comcolegas do GEPSA (Grupo de Estudosdc Psicologia Social Aplicada), comeceia ler o artigo com inieresse e certaexpectativa, ja que se tratava de novaspublicações. A decepção foi grande.

A minha primeira e principal in-dagaçâo Im por que 01'INIAO lertawicetonado csie atiigu enire os muitos•i csetilos sobre «• assumo, com munomalur seriedade, abordando commaior profundidade os aspeeiosi-.u..!>.„..•. sociológicos e mesmu¦ir..!..f.io.-. .u quesiào Oual o objetivode ridicularizar «s Grupo* de línconironu de ScnsiNliraçào num semanáriodo nhel de OPINIÃO por meio de umaIratluçâo dc cTftka de lotos, muiloirntlcrtctma e umlaicral, onde alesisladora Ia/ lutai confusão entredtacjies dos auiom - suas própriasleaçoes c onde os seus próprios"scnlimenios ao nhel do estômago" alatem perder a "discrkàn e cortesia(tura e simples", chamando aosparticipantes de "uma "coleção dedescontentes ou de idiotas".

Penso que nào vak a pena formularcrhicas pormenorizadas ao amgo. quenio passa de um conjunto dedisparato drsonestus e venenosos. 0

"50 anos de mulher"Ou a cultura da TV

O apresentador fezuma pergunta. Umaresposta está aqui

Há três meses atrás a TV Cultura,canal 2 de São Paulo, apresentou umprograma muito bom com Júlio Lcrnerira/endo uni médico obstetra dt* SãoPaulo que aplica técnicaspsicodramáticas a grupos dc mulheresgrávidas, tornando mais claro para ciasos problemas ilsicos e psicológicos quesurgem durante o período da gravidez,possibilitando assim uma vivência maisnítida, mais r i C a e m c n o straumati/.antc de todo o processo damaternidade.

No programa, o módico deuexplicações das técnicas que usa e fezuma sessão com mulheres grávidassuas clientes e outras, funcionárias daTV 2.

Ao final do programa. Júlio Lcrnercolocou a importância de se lazer umasérie dc programas como aquele queseria proveitosa para qualquer mulher cconvidou o médico para realizá-la.Este, naturalmente, aceitou e eu fiqueina expectativa.

Soube agora que a série deprogramas foi cancelada. Como in-teressada, desejo saber por que a TV 2cancelou a série.

Mais TV 2: para o dia 24/3/7.3(sábado) às 12h30m esse canal sepropôs a apresentar, no seu programaSíntese, o tema 50 Anos dc Mulher.Muito otimista, fiquei esperando umasíntese com dados objetivos sobre ainserção da mulher na educação, naprodução, sobre as mudanças havidasno que diz respeito à sexualidade e àeducação dc crianças. Podia ser nomundo todo, ou ao menos no Ocidente,ou ao menos no Brasil, ou no mínimoem um país do Ocidente.

O que foi apresentado por AntônioCarlos Assumpção (apresentador)'tendo como assistente de produçãoVera Roquette Pinto foi um filme deprocedência e ficha técnica nãomencionadas que começou cm 1910,no Maxim's, em Paris.

Apresentou a seguir as passeatas de

operários por volta dc 1*111 (comparticipação de mulheres), mmc.Curte, sufragistas inglesas camericanas, mulheres fardadasmarchando durante a PrimeiraGuerra. A seguir, mulheres despor-listas (sic). pára-quedistas c aviadoresdo pós-guerra, rápidas fotos dcmulheres com cabelo « lu gurçonnc dosanos 30 (com rápido comentário sobreo número crescente dc mulheres queestavam entrando tu* trabalho públicopor necessidade).

Couta seriedade

Comentário do apresentador: "Certoou errado, com razão ou sem razão elascontinuam se movimentando".

Im seguida o filme mostrou amulher "vencendo na política —exemplos citados c ilustrados: mmc.Chiang Kai-shek, mmc. Nehru. mmcEva Perón (é demais, não é?).

Al comenta-se que as formas dasmulheres continuam sendo ponto altode atenções (flashes da Mona Lisa,Anita Ekbcrg em La Dolçe Vita e umamulher de biquíni).

Aí, pula para 1963 com Valentinachegando das 43 voltas à Terra (...) Ofilme termina acompanhado destetexto: "Finalmente Eva expulsa doparaíso reencontra o céu! Este é oponto final das memórias de Eva"!

Aí o apresentador diz: E você, o que.acha?

Respondo: Isto é coisa que seapresente na TV 2? Nem uma imagemou palavra sobre a Segunda Guerra.

Nem um a sobre anticon-cepcionais, ou sobre aqueles mínimosdados objetivos que eu esperava noinício do programa.

Acho é que a TV 2 podia serpouquinha coisa mais séria, fazer asérie promUid a pelo Júlio Lerner cm vezde ficar passando esse tipo de filme(sob esse título pretensioso) que nadatem a ver com a realidade da mulherbrasileira ou com qualquer verdadehistórica.

Mar Iene R. AndradeSão Paulo, SP

que prueuraret farer * teniar colocar oItm&mcno dos Grupos de Kocouttn oude scnttbili#ac*o dentro dc um co«<testo e eselarorer icsumtdameeie osseus objrt iw»s e prur^tmeoios, Lt Porora me basem fumsipalmenle no bvrode Carl Kttgm. tirupui de KanmtmIMoracs Kd.. Lisboa. 19721.paralraseando algumas das suasadocaçôes e me limtiando aos aspeeiospsttul/igicos.

A cspcrílmria ptam-jada e imensnade ipupn t uma msençio social donosso século que vem sendoespcrimeniada desde a década de *10 eque tem tceeindu sátbn nomes dracordo wm orlssttacjetsi tc/*rtew>iec-nicas disnsav, O mune mais anilg*».cunhado *no National TrainingUboraiurtes pelos colaboradores ediscípulos da escola dc Kurt lx*»in. é ode T-Grupo ide Trointng GrouplTratava-se de um certo lipo dcatividade grupai dentro dos"I.abt*ai6rim dc Treinamento deRelações Humanas". ONU. foi econtinua sendo freqüentado por ad-minhtradorcs. dirigentes de indústria,dc escolas, universidades, hospitais eouiras instituições e por profissionaisdas ciências humanas c sociais. Avexperiências, pesquisas e formulaçõesteóricas v£m sendo publicadas há anosno Journal of Applied HehuviamlScience.

Quase simultaneamente, emI ''•!». -r. começou oulra experiência noCentro de Aconselhamento daUniversidade de Chicago, sob aorientação dc Carl Rogers. paratreinamentos dc "conselheiros

psicológicas" que deveriam aicndcr,veteranos de guerra.

Em Hcthcl a ênfase estava,inicialmente, no desenvolvimento dcrelações humanas cm termos fun-cionais, focalizando problemas dccompetição c colaboração, liderança cchefia, comunicação, etc. Por outrolado. o grupo dc Chicago desenvolveuuma orientação mais voltada paraevolução pessoal, mudança de per-cepção c atitudes pessoais, dentro deuma perspectiva que se aproximamuito dos objetivos terapêuticos dapsicoterapia de grupo. O decorrer dotempo e o contato dos treinadoresderam origem a um verdadeiro"movimento" dc grupos nos EEUUque está se difundindo rapidamente -em outros países. Outras teorias einfluências se fazem sentir, semisturam, novas técnicas são inven-tadas, novos nomes surgem cdesaparecem. Sem dúvida há no meiode tudo isto muito cmpirlsmo c atéirresponsabilidade. Talvez, seja cedoainda para separar o joio do trigo. Dequalquer modo. os fundamentosconceptuais do movimento todo são opensamento lewiniano, a psicologia do"Gestalt", a terapia centrada nocliente, de Rogers, com influênciasmais ou menos marcadas das abor-dagens psicodramáticas de Moreno ebio-cnergéticas de Wilhelm Reich ediscípulos.

Um dos maiores problemas paragarantir a idoneidade do trabalho é aformação de monitores. O Centro deEstudos da Pessoa, dc La Jolla, é umaorganização à qual pertencem tantoCarl Rogers como o autor do primeirolivro mencionado no artigo, William R.Coulson. No livro de Rogers pode-se leralgo sobre a filosofia e metodologia doCentro do qual dr. Coulson é um dosdiretores.

continua na pagino 23

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f^fK f^f^L.

fV Cal fA.'

•ore SérgioAugusto, opolemicoprovocado pelefilme Sacco oVomofti éprovinciana eestéril

"Polêmica provincianae estéril tt

Nio me espantou muno a polêmicasobre Sueco r Vameitt a partir deminha critica contra o filme publicadaneste fomal a 21 de março.

A polêmica sohre SttV. alémdc provinciana, é estéril na medida emque dela só participam pessoasdevidamente instruídas sobre o caso esuas implicações socinpoUiicas.

Não creio que OPINIÃO tenhacometido, como disse o leitor José latirA. da Silva, "uma violência" contra osseus leitores; apenas confiou no gosto ena suposta capacidade analítica dc seuúnico critico dc cinema estabelecido noRio. Em vc/.dc -Sérgio Augusto poderialer sido My A/credo, um criticoreconhecidamente conservador, para aIclicidailt- do sr. J. L A. S.. que. comretumbante entusiasmo, o cita ao finalde sua carta. O passionalismo do sr. J.L *A. S. revela-se logo ao inicio de seuataque ao considerar meu artigo "umatragédia para o jornalismo".

Filme para ciasse média

Ainda em resposta ao sr. J. L. A. S.,gostaria de pedir-lhe desculpas pelopaternalismo dc minha. critica allurold e Maud. Considero-o.honestamente, um filme de arte paraclasse média, assim como considero .$'&Vum filme político para classe média.

E aproveito para informar-lhe que. aocontrário do que o leitor disse, asociedade americana — dos hippies ounão — tem muito a ver com a nossa.Infelizmente mas tem. E mais: 1) Oadvogado Moore foi praticamentechutado da Defesa por insistência deSacco. 2) Andréa Salsedo realmente sesuicidou (vide Francis Russel. pág. %).3) Eu não creio que todo socialista sejaum suicida cm potencial, mas isto nãoimpede de achar alguns socialistasingênuos, excessivamente idealistas eburros. 4) Um filme, para ser novo ebom, não precisa necessariamente "terconteúdo" (essa discussão, aliás, é dasmais bizantinas). 5) Montaldo tevemedo de tornar seus personagensantipáticos junto ao público católico epor isso evitou discutir o fato de oscatólicos terem se recusado atestemunhar em favor de Vanzetti enão quis mostrar Sacco e Vanzettirecusando-se a aceitar a extrema-unção. 6) Se o filme é "a própriahistória do capitalismo", lamento terperdido meu tempo consumindoensaios e livros densos e complicados

sobre economia e polirica.Ao sr. João Carlos Comandre tnfor-

mo que não existem estabelecidos emnenhuma bíblia "os valora da analiset-ritica cinematográfica" que ele não sAjulga existirem como conhecê-los.Meus críticos acreditam, com umfanatismo religioso, que toda arte é oudeve ser utilitária, pomo de vistadiscutível na medida em que faliamdados historiem para provar a eficáciadesse militarismo. I . pessoalmente,gostaria que um filme ti»essc a força deum contingente policial, mas ainda nãotive a ventura de chegar ao Shangri-la.As invenções de Montaldo (a começarpela glamuri/ação absunla de todos ospersonagens envolvidos na defesa deSacco c Vanzetti. principalmente oadvogado Moore) podem ser com-provadas com uma leitura alenta dolivro dc Francis RusscU. que eu. aocontrário do que disse o leitor, fiz como maior cuidado. Agradeço, masdispenso, as pretensiosas lições sobre"forma e conteúdo" que o sr. J. C. C.me enviou e peco desculpas se não lhepareço

'lukacs ia no.Ao sr. José Eurico Paes agradeço a

paciência por me haver considerado omelhor crítico de cinema do Brasil atéo dia 21 de março. Ouer dizer que éingenuidade da grossa afirmar queNelson Rodrigues é o maiordramaturgo brasileiro? Desconfio, etemo, que o leitor esteja confundindo oabjeto jornalista e cronista com otalentoso autor teatral de décadaspassadas. Para mim, os 15 a 20minutos de aplausos a S 8c V. citadospelo leitor, ao longo de toda a AméricaLatina, soam inacreditáveis, para dizero mínimo. Na sessão em que vi o filme— no Condor Largo do Machado, aCrS 8,00 o ingresso, e cercado por umaplatéia típica da ciasse média —ninguém aplaudiu, embora, acredito,houvesse quem desejasse fazê-lo, comlágrimas nos olhos. O cinema, sr. J. E.P., "não ocupa o 200.° lugar deniinhaspreocupações". Talvez seja até aprimeira, mas eu ainda tenho certezade que agricultura é mais, muito maisimportante.

Sérgio AugustoRio de Janeiro, GB-'

Outras opiniõesde leitores

na página 23

opiniãoUme publicação da

Editora Inúbia Ltda.

DIRETOR

Fernando Gasparian

{•VvXí«* 'Vi'.' i'l pi CJHf1 -S

REDAÇÃO

EDITORfUimundo Rodr>gu«s Pereiro

secretario dc REDAÇÃOArrtoriio Carlos Farrair*

EDITOIES-ASSISTENTESArltrwln Mungtoll, Abul Vi«, Carlos Castilho, JuraiV ArvJrarJo, Morem Gorrm.

REDATORESAnj Maria f.ínt/,11, Antônio MnA Mandos, Ev»S*lm,Flávio Lara, Matou* Dadorio, JA Amado, JoioU/ardo. Marta Villofa, NaVJta Raad Morarw, Rogin*L*mr>s, Ronaldo Brito

CORRESPONDENTESAlberto Cwhorsu (Arrdfica Latina), Bernardo(CiKimkl lüwkn], Jm4 iVma ICflil, Júlio C.».Montarsagro (EVs-ifhil, Paulo Francis (Nova York),V-tnru Brocc* (Mlllo), rlamélton AlrmirJa fSalvu-tVjf i, lv»n iAéuefcki (Rucifol.TaooVxniro Braga IR»ki Horironfí)

EDITORfSCONTRIBUINTISAguirvaldo Sitvm, AI07NO Biondi, Geraoo ToHorGomas, J*ir»-Cl*ido Borrtmdot, S*rrjío Augusto

ARTEValdir dn Olrwilra, Oitaio Loredano (ilustrações).Diter Sltin (atsntamo)

AOMINISTRAÇAO

OERENTE ADMINISTRATIVOH4irnunoV> Aodraoo

AMírvatura ptva o Brstll, OS 120,00 a anua' aOS 86.00 1 wtmiiI; |W. o .«Hfior. US* 30. »nu.l . USÍ 15 « MmMnri, Erivlo po, vlftétm 00 patos aarvi«os postais do sntrsga rfpidi.RorJacio: Rua Aborto fomos, 7B, Jardim Botânico,Rio 1* Jan^ro, t*«lon«: 248-7466 . 2J8-1754.Adrraniflr*(lo, 11W01». 2*6-6338. Oiiliibuiç-o:Abril S.A. Cultural a Industrial, Rua Ernflio Gottdí,575, Lapa, SJb Paulo; Composição: Jot f*r»ss -Rua Airtt Sridanha, 98-A - Rio de Jnn«iro;Imprsttio: Editora MDry, Rua do Rewnds, 05,Rio **» Janeiro.

ALÉM OA EOIÇAO BRASILEIRA DO LE MONDEOPINIÃO PUBLICA AINDA UMA SELEÇÃO

DE ARTIGOS DOS SEGUINTES JORNAIS E REVISTAS

©je toosijititjton ftostOTARDIAN

The New Tork ReviewofBoolu

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Ot Jornalistase a chuva

D* puro vigor explode o PNH

A inflaçãoé u uem*. titf ante*do «arotw Hao João Emersoncorri» para o fim No vaio do HáoFrancisco tolhem *?* melòe* d**sabor • ;. .,* hol a tamanho deabóbora* fjoce mundo. doce*•••• >•¦•¦-¦ Será que apenas o.,••«•.»... ha de *«r noticiado?

Sergipe, por •¦•¦:;... padece (Jt.uma (foca que dura ha meses aatinge 70*í do» seus município*Que trai fingir que em .Sergipe oregime pluviom<rliico recorda tmdas mai* f«**rt#rt*s (amparados?

O governador sergipano. PauloRarreto tia Mon**!!.*.}!, t\h amariap a s * a d a . convocou o»correspondentes do* jornais dosul rjo pais para lhe* faatür umapelo Por favor, não *..,< m daseca Segundo o governador, "aImagem do Estado" vem sendoprejudicada pela divulgação dr*noticias sobre a estiag«*m,"justamente quando se lula paratrâw*r a ergipe os Investimentidos empresários do sul".

Talvez o governador sonhe emencontrar nos jornalistascolaboração bastante para que.enquanto ignoram o deverprofissional, de Informar o bom.o mau e o mais ou menos, sedisponham a presentear Sergipecom chuvas torrenciais. Km todocaso é evidente que Barreto deMeneses é mais um entre osmuitos capazes de perceber eavaliar as vantagens da artemercadológica quando aplicadaa política. No entanto, há certasregras que haveriam de serrespeitadas, talscomoum mínimode apego a verdade e um certoafinarnento entre a importânciada coisa dita e o tom de dizê-la.Caso contrário, correm-se algunsriscos, por maior que seja a redeesticada de baixo do trapézlo dopoder, pois, r:orno é sabido, o sol émais forte rio que qualquerpeneira.

t: provável que até fnesrno omais satânico publicitário riaMadison Avenue se condoesse daimprevidéncia do governador deSergipe e de todos os queacreditam demais nas artes damercadologla. (Mino Carta,diretor de redação da revistaVEJA >

INTERVENÇÃO

O doputodo e o acadêmico:segurança nacional

contra esquistossomose

Ao apresentar a imprensa daGuanabara, na terça-feirapassada, os acadêmicos demedicina que contraíram.esquistossomose tornando banhoern urna cachoeira do Alto da BoaVista, o deputado Wilmar Pallis,da ARENA ameaçou pedir aintervenção do governo federalse não forern adotadas urgentesprovidências em- âmbitoestadual, "pois se trata de umproblema de- segurançanacional". Em último caso, quese interditasse a área ã visitaçãopública, Já que "não é possível.que milhares de pessoas con-tinuem expostas aesquistossomose, uma das pioresdoenças encontradas no país".

É compreensível que o casoassumisse caráter de ocorrênciaexcepcional: os acadêmicos sesentiram como que mordidos porcobra na Avenida Filo Branco e odeputado como que culpado.Como explicar que na mais belacidade de um pais que ninguémsegura, turistas Incautospudessem ser atacados por umadoença anacrônica, rnoflna ecaipira, que tern corno causas asprecárias condições sócio-econômicas e a falta de educação

eaniUrta?O *t« *p «*.«•*., « na *t <vi< *?.j. •„

ficaram particularmentepreocupado» porqui o local fa*j*irt> .li* uma apraafval regiãoturística onde, •...•¦..¦;. mesmodia. pelo menos un* Wi vimtantexvindo* do *ul banhavam'»* naaágua* fiara* da »<»» ho'-;r.»"Encaro romo um problemaurgente - disse o acadêmicof-altor. Melo Andrade - alocalização de todas essas-<f***oa*

que estiveram naq .••!•*locai, seja am qualquer parte do.'*.•«. para que procedam aosexames necessários"

Por mala bem-intencionadosque sejam, a solicitação dodepuUido e o apelo do acadêmicoapresentam alguns riscos, Heatendido o pedido de intervenção,estaria aberto um perigosoprecedente: pela mesma razào.lato e, presença deesquistossomose., praticamentetodos oa Estados brasileiros sear ha ria rn no direito de reivmdjear Intervenção e inclusão nacategoria de ameaça a segurançanacional, Como está comprovadoaté pelas estatísticas rnaisotimistas, a incidência dessadoença se espalha corno umamancha por todo o mapa doBrasil, numa espécie demigração das zonas rurais paraas grandes cidades íaó naGuanabara existem mais de 100focos de caramujos trans-missores. cobrindo totalmente oEstado, o que tornaria im-praticável também a outramedida pedida pelo deputado:interdição de área infestadai.

Por outro lado. e se advertén-cia do acadêmico aos turistasfosse ouvida também pelasoutras pessoas contaminadaspelo mal? Certamente haveriauma triste e inédita corrida aospostos de saúde pública, pois noBrasil de hoje não existemapenas 100 turistas, mas 10milhões de pessoas portadoras deesquistossomose. (Zuenlr Ven-tura, rhefi* de redação da revistaVISÃO no Rio;

MÉXICO

A viagem do presidenteEcheverria

ao redor do mundo

Nurna viagem que o levou doCanadá á China, passando pelaInglaterra, França, Bélgica eUnião Soviética, o presidentemexicano Luís E c h e v e r r i aconseguiu inegáveis êxitospolíticos, sendo aclamado corno"um dos líderes do TerceiroMundo". Certamente a posiçãode luta pela independênciaeconômica das nações ern'.desenvolvimento foi a tônica dospronunciamentos de Echeverria,mas, no momento ern que morriaPicasso io hornern que nos en-sinou a ler as leis básicas donosso século), a digna intran-sigência do governo mexicano,recusando-se a reconhecer ogoverno espanhol de Franco, deubrilho ainda rn a i o r àsdeclarações do presidenteEcheverria. Aos poucos, oMéxico volta a chamar a atençãodo mundo, e agora não mais pelarebeldia dos seus estudantes,corno aconteceu em 1968.

Echeverria chegou ao podercomo candidato identificado"com toda uma geração dejovens" que surgiam na vidapública do México. Generalizara-se, entre OS mexicanos, a con-vicção de que era ..preciso mudarmuita coisa no país, an fim dògoverno de Dia?. Ordaz. Em suãcampanha, Echeverria já

E a primavera?E

comum •$..*. r . .j,. no »'•..ul *ó existem dua» eataçòea*

verão * calor Na realidade utfo* uma injustiça Alem do verão,temo* um bem definido InventoNo nordeste, aaaa invento «? aépoca dai chuvas que, ás *.•-/•--.tra* problemas n\k tmnmn aaregióe* maia irldaa Ho centropara o sul, a região maisdesenvolvida do pais. onde e«*tâoai elites intelectuais, aaeconômica*, an. digamos,política*, a* industriais e osórgão» de decisão e de poder, aitemos um inverno bem marcado

Invitrnti qun no» dá frio. sen*»ação de opressão por seus dia*

negros e chuvoso*, que nosangustia principalmente porque,com a natural imprevidénciabrasileira, nào nos prepara»com oa devido» cobertores «agasalhos

Ê certo que temo* verão einverno, além do calor Mas umacoisa ainda náo conseguimos: aprimavera Primavera é flor. éfruta, é alegria, é vida plena, isaúde, n a sensação de liberdadeede igualdade, quando aquele solmomo e gostoso parece - nessaépoca sim - nascer para todos

A primavera, no Brasil, apenasse promete. A cada verão maisforte segue-se um inverno ainda

pregava a necessidade de umintenso diálogo com todos o»setore* sociais No poder. suo*».lituiu quadros burocra lixadospor gente jovem e dinâmica,passou a convocar frequen*temente a imprensa e a visitar oCongresso.

Numa sociedade complexacomo a mexicana, no entanto, asmudanças náo acontecem instan-taneamente. a toque de mágica.Alem disso, as correntes conser-vadoraa dentro do próprio par-tido goverrusta - o PRI —procuram conter os ímpetosreformistas de Echeverria. Mas.se considerarmos as profundastradições revolucionárias doMéxico, podemos alimentaralguma esperança naspromessas de Echeverria. E ofato de que há 42 anos a sucessãopresidencial se fazpacificamente, naquele pais,reforça a convicção de que apolítica do novo presidentepoderá consolidar as conquistasdas áreas mais progressistas doPRI; embora isto contrarie in-teresses poderosos. (RodolfoKnndiT, editor da revista VISÃO i

DEMOGRAFIA

Porque não existeno Brasil uma

explosão demográfica

Apesar de se"jfalar muito, hojeem dia, e fn ''explosãodemográfica".í o número doshabitantes do piís não aumentoumais do que vinha sendo previsto.Aliás, bem olhadas as coisas,longe de nos haver presenteadocom urn estampido — como oc a u s a d o pela correntesimigratórias no.s-'Estados Unidos

. — a História ainda nos estádevendo urnas duas dezenas demilhões de almas. Realmente, amassa brasileira seria, já agora,a do cálculo para 1980 se — apartir do reçenseatnento de 1920

tivéssemos reduzido, de umpor cento ao ano, a taxa damortalidade infantil. Só ernrelação com o ritmo da economia

cujo desenvolvimento vemsendo, rnenor do que o da sérievital — é que cresceramdesmedidamente os efetivospopulacionais do Brasil.

Tendo aumentado as nossasnecessidades humanas numaVelocidade maior do que a dacriação de meios para satlsfazê-Ias, verificou-se urna aparenteexplosão demográfica: umfenômeno que' a ciênciaeconômica define como desuperpopulação relativa. Essaimpressão superficial dofenômeno mais se acentuou pelofato de a corrida para àsedificações haver aberto, nasgrandes cidade, frentes de em-prego para a mão-de-obra que —no vasto interior — estava sujeitaá periódica ociosidade das entre-safras e cujos efetivos aumen-tavàm rnais do que poderiam ser

absorvidos nas épocas deatividade.

Tivemos, assim, a formação deurna onda populacional "vinda dedentro" K foi o êxodo doscampos que funcionou como umestampido, criando nas áreas de'concentração urbana o problemade enfrentar a expansão domercado d«* trabalho. O ver-dadeirodesafio, no entanto, sendo<> proposto pela rarefaçáo ciopovoamento brasileiro, só poderáser respondido por meio daimplantação de uma infra-estrutura que incorpora aosistema de produção o.s largosespaços vazios do território epossibilite a redistríbuiçáo — emrnais altos níveis de bem-estar —da massa que se deslocou para olitoral.

Ao acelerar-se o ritmo dodesenvolvimento brasileiro,depois que se calaram os canhõesda última'conflagração, náodispondo a economia nacional denecessária infra-estrutura parainternar-se. passou a "desin-teriorizar" — por via da In-dustrializaçáo — a força detrabalho que, todos os anos.sobrava das atividades rurais.Enquanto o esforço fabril náo se

.saturou, teve efeitos positivos oaparente populacional causadopelo abandono dos campos, devez que a urbanização transfor-rnou em consumidores - pelomenos em subaquisidores —milhões de indivíduos que. atéentão, só consumiam o queprimariamente produziam..Somente nos nossos dias, ao seesgotarem as margens de ab-sorçào rjo processo in-dustrializante, foi que surgiramos problemas de dar satisfação àsnecessidades de ocupação daonda humana que — cada vezmais alta — vem se quebrandocontra o paredão de urnaestrutura absoluta, que náo temcapacidade de dilatar-se.

Então, partimos para outra"fixação", outra tentativa nosentido de salvar os dedos semter de jogar fora os anéis: a dadistribuição da renda — comoexplicou o sr Delfim Netto —'' f: rn termos pessoais eregionais". Ora, até Jesus — queera urn místico e não um tec-no c rata — sabia que nãoadiantava repartir um pão, masmultiplicar a sua produção.(Limeira Tejo, diretor dnJORNAL DE DEBATES)

EUA

Watergate: efeitoslimitados

porém saudáveis

O confuso e curioso casoWatergate, nos Estados Unidos,já serviu para provar muita coisa'— entre elas, o número detrocadilhos e jogos de palavraspossíveis de serem perpetrados¦pela imprensa americana com onome do luxuoso edifício de

mai* violento E tome frio.chuva, noites longas, dia* curtosMa* o verão e o inverno »áo.lambam, a esperança deprimavera brasileira,

Ma* nada de primavera.Küse ano temo*, garantemos mai* otimista*.Primavera, no Ilrasil. nunca

mais, lamentam o* pessimistasAlguns deparUimentos oficiai»,

que cuidam do Assunto, chegam aser categóricos; já estamos emcondições de ter primavera e elavirá. Mas não vem (CarlosLemos, f-hefe u» r«*daçau do

JORNAL DO BRASIL)

.

escritório.-, e apartamentos onde«*spi«"*es a serviço do PartidoRepublicano procuramdesvendarei* segredo* íntimos doPartido Democrata,

Quando a* Investigações poruma comissão do .-»»-*,.id»>americano, provocadas eestimuladas por denúnciassucessiva.*, da imprensa, príncipalmente de grandes' jornaisliberais como Washington iVti.abriram as comportas «jogo depalavras número 5271 doescândalo, já era muito tardepara que as provas da existênciade um riacho de lama ligando osubsolo do Watergate aos porõesda Casa Branca tivessem algumefeito prático Richard Nixon jáestava reeleito, e com umamargem de votos que tornavaperfeitamente dispensável oconhecimento prévio de qualquerestratégia secreta da oposição.No entanto, na imprensa, noCongresso e na Justiça asrevelações se sucederam. Osdiretamente responsáveis pelaespionagem foram condenados e.aos poucos, surgiram provascontra os seus mandantes. Nasemana passada, ante o acúmulode indícios cada vez mais in-sofismáveis de que o fio dameada terminaria em "Bob"Haldernan — um dos assessoresmais próximos a Nixon — oumesmo em John Mitchell (o ex-procurador geral i, finalmente opresidente permitiu que altosfuncionários da Casa Brancafossem interrogados pc-lo Senado.

A esta altura, é possívelesperar que o caso termine comalgumas demissões, por motivode súbitas doenças na familia ouafazeres particulares inadiáveis,de alguns destacados servidoresdo Executivo. Certamente, osinteresses da Justiça náo serãointeiramente atendidos. Emboraa lei não faça distinções entreexecutores e mandantes, éaltamente provável que, comoquase sempre acontece, osprimeirosi irão para. a'Cadeia e osoutros apenas^ perderão seusempregos. Mas, pelo menos, étambém previsível que oexemplo — que também é umadas finalidades da punição legal— sirva para alguma coisa, eesse setor da atividade político-eleitoral perca, por um bomtempo, os seus atrativos.

O que se conclui, então, é que a"onda" criada em torno doWatergate terá sido útil. Foi umaonda que nasceu após teremsecado as relutantes torneirasdas investigações oficiais; maisexatamente.' uma onda quecresceu e se tornou irresistívelapesar da franca oposição e de'toda a capacidade de pressão domais forte poder da .República.Ninguém ignora que, por maisvoltas que dê na sepultura ocadáver- de Thomas Jefferson, abalança do poder nos Estadosunidos de hoje é nitidamentedesequilibrar.';) em favor doExecutivo. («Luiz Garcia, chefede redação da revista VISÃO)

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César contra VirgílioNo ARENA cearense odisputo entro o ol«ilo

do tions • o volho cocique

O que dae ía/cr um gosemadorde listado quando ele mesmo acha

— nMltHtta á parte — que está sendoum sucesso? Candidatar».* au Senadoparece ler sido a resposta encontradapckt governador do Ceará, tt coronelCésar Cais que não esconde a suaimensa satisfação diante das suaspróprias obras, Tendmdo a Brasília nasemana passada para relatar aopresidente Mediei "o momentopoüitco" do Estado, prestar ínlor»maçócv v>bre a área metropolitana derutiakra. agradecer a ctilahtiracâo dogoverno federal ao desenvolvimento donordeste ocidental e convidar Medieipara a inauguração de um parque nointerior do Rstadu. marcada paraquando o presidente achar maisconveniente, Ccsar Cais aproveitou avisita para dar declarações aos jor-nalisias na capital federal.

Foi nessas declarações ove ele secursou dtrccmente constrangido aoapelo do dever: f claro que se osistema, as forças que me trouxeram aogoverno desejarem que cu vá para oSenado, tenho que estar em condiçõesde ir". E Cais disse isso logo apí»s oencontro que manteve com opresidente.

As declarações de Cais de Brasíliatém atrás de si providênciasprevidentemente tomadas em For-tale/a. lalvc/ dentro do próprio Palácioda Abolição, o luxuoso prédio ondereside c despacha o governador. Umacaria, uma espécie de juramento temsido oferecido aos arenistas cearensescomo forma de decidir por escrito cantecipadamente quem irão apoiar naspróximas eleições para o Congresso.Di/. a caria, a certa altura:"Hipotecamos a vossa excelênciairrestrita e integral solidariedade,comprometendo-nos" a sufragar, em1974. seu impoluto nome para oSenado da República". O destinatárioda cartajuramento é sua excelência, ogovernador César Cais.

O inconformismo de velhaslideranças é. segundo Cais. o culpadoda itimultuada situação política doCeará. As "velhas lideranças" incluemcertamente o senador cearense VirgílioTávora, cacique da política estadualdesde que herdou o tacape das mãos deseu último detentor. Paulo Sarasate, ofalecido senador amigo do tambémfalecido presidenie Castelo Branco.

Na verdade nâo causou surpresaalguma o esfacelamento da ARENAno Ceará, como resultado da luta entreo governador Cesai*"t'als e o senadorVirgílio Távora. que disputam a cadapalmo a liderança total no Fstado,cada qual aparentemente preocupadoem não deixar para o outro nemmesmo uma cadeira de vereador.

Quando assumiu o governo, há doisanos. Cais anunciou sem segredos quetinha como missão destruir as velhaslideranças e acabar com o prestígio deVirgílio Távora, sem dúvida alguma oúnico político que estaria em condiçõesde disputar eleições diretas para ogoverno estadual. E há duas semanas.Cais deu início à liquidação geral dequem quer que estivesse ao lado deVirgílio.

A derrubada começou pelo médicoLúcio Alcântara, secretário de Saúde.Ele é filho do senador Waldemar deAlcântara, um dos maiores aliados deVirgílio Távora. César chamaraWaldemar para uma «inversa a dois.pretendendo que ele deixasse de secandidatar à reeleição em 1974, paraapoiar o governador, que deseja sersenador. Waldemar negou-se, saindo-" se habilmente com seu talentopessedista, sob o argumento de que eracedo para discutir o assunto. Emanteve-se fiel a Virgílio. Seu filhoLúcio pagou o preço, recebendo nasaída um elogio do governador, queconsiderou seu trabalho excelente.

. A lista foi aumentada com a degolado advogado Moacyr de Aguiar, o maisfiel amigo de Virgílio, e do sr. CláudioSantos, também virgilista, da diretoriado Banco do Estado do Ceará, ondeserão substituídos pelo ex-prefeito deFortaleza, José Valter Cavalcante, e

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índios, progressoe aposentadoria

por um advogado crtminalista lamoso.Evaldo Ponte Caiu também o ex-deputado Fsio Pinheiro, da diretoriade uma empresa mista, e fala-se cmoutras longas listas de virgilistas queseriam todos demitidos. Um dos vice-lideres de Cais na Assembléia járeafirmou sua posição ao lado deVirgílio e — di/em — vai cair. Todosos deputados que não ficarem com oPalácio na divisão das águas deverãoser punidos com a perda das suasposições políticas no interior, que é opior castigo possível.

Enquanto César Cais faz o jogoaberto contra Virgílio, este não deixouBrasília para dizer ainda qualquercoisa. Político experiente, com 20 anosde tarimba, ele age de modo reservado, •pois assim é que obteve até hoje bonsresultados. Sabe-se que somente osvirgilistas tradicionais cairão, enquan-to muitos ficarão ainda infiltrados nogoverno, em posições importantes,esperando a hora de abrir o jogo. Entreestes estariam "dois dos secretários doatual governador, que chegam amanter contatos telefônicos parainformar Virgílio do que ocorre nasreuniões do secretariado de César. Ocerto é que a ambição de ir para oSenado levou o governador aradicalizar as posições e deu à ARENAcearense a sua maior crise dos últimostempos.

O partido está esfacelado. Dos 39deputados estaduais, oito pertencemao MDB e os restantes se dividem entreos comandos de César Cais, VirgílioTávora, Flávio Marcíliò, enquanto doisseguem o pouco expressivo ex-governador Plácido Castelo. Dessaforma, para se manter superior aVirgílio. César terá de fazer grandesconcessões a Marcíliò, cuja can-diefatura à presidência da CâmaraFederal o governador do Ceará tentouevitar com o famoso dossiê enviadocontra ele. às vésperas de sua eleição.Além desses grupos, os irmãos Bezerra(Adauto e Humberto, erte último vice-governador) estão nos calcanhares dogovernador, pois também contam comparte da Assembléia, e exigirão, omáximo para apoiar o esquema doPalácio. Recentemente. Cais teve queentregar a cabeça do diretor-geral doDETRAN, rompendo com todo o seuesquema militar estadual, para não ser

derrotado na eleição para presidenteda Assembléia. Atendeu aos irmãosBezerra, arranjou inimigos fortes, paraobter os votos decisivos deles.

Quando chegou ao Ceará, CcsarCais parecia ter como missão impor-tante destruir Virgílio Távora. queàquela época não era simpático aogoverno federal e só fora eleito senadorporque sem a candidatura dele aARENA seria derrotada, já que osenador Wilson Gonçalves só se elegequando carregado nas costas de umgrande «.'leitor. A ofensiva começou,mas ao mesmo tempo Virgílio serecuperava, com seu trabalho noSenado. Quando das eleições mu-nicipais. o próprio Filinto Mullerconvenceu Cais a dar legenda aoscandidatos de Virgílio, que terminouelegendo mais • prefeitos que ogovernador. Depois começaram asdemonstrações de prestígio de Virgílioe as recomendações a Cais sobre comoevitar a rutura da frágil ARENAcearense. Com a escolha de Virgíliopara vice-líder do governo no Senado,a publicidade vibre sua atuação na lutapela criação de "terceiro

pólo dedesenvolvimento no nordeste", asituação ganhou novos contornos,, E aúltima gota cfágua foi a recentecondecoração de Virgílio pelo pre-sidente Mediei.

O silêncio de Virgílio é atribuído àsua prudência, aproveitando-se do fatode que o governador não conhece apolítica cearense. Flávio Marcíliòdificilmente apoiará Cais numa horadecisiva, como uma eleição de senador.Os irmãos Bezerra giram em faixaprópria, matreiros e calados, mas nofinal devem ficar com Virgílio. O PSD,cujo comando é do senador Alcântara.é virgilista. E os políticos cearenses, nahora cm que os últimos dias de governocomeçarem a chegar, deixarão, comraras exceções, o governador sozinho.

Além do mais, o maior eleitorado doCeará está em Fortaleza, cujo prefeitotem imagem melhor que a do gover-nador. O prefeito — espera-se —voltará fatalmente para as hostes deVirgílio, de quem foi secretário deViaçào e por quem foi indicado aogovernador José Sarney para umaimportante secretaria em São Luís doMaranhão.

Com a maior parte dos seusauxiliares ambicionando cadeiras naCâmara e na Assembléia, César Caisvai viver tempos de crises diárias naAssembléia e na administração. Suainexperiência de político de api .'i?dois anos. que só venceu uma eh in,— para governador do Lions Club —será testada a cada cliJ.

"Oro, tomos oito milhõesde quilômetros

quadrados de superfície• pouco maii de 70

mil Índios. Deixemosque essas crioturas

vivam foliiete livres de nossos

ambiçõesmesquinhas o egoístas

O Dia da índia foi comemorada naquinta-feira du semana imitada camuma mensagem da presidente daFUSAI. general IlanJeira de Mela.afirmando que a Índia brasileira"nunca recebeu lanla da governa camamu últimos unas"' r que

"nada pode

deter a manha da progresso". Namesma irmana a senantsia Ap/n-naMeireles. 24 unas. preparava-se' parasubstituir as irmãos Villas Haas naconluio recentemente estabelecido cama% indias Kreen-Akarare. na região dana Peixoto de Azevedo, em SlaiaGrosso. As vésperas de assumir umpasto de tais responsabilidades..AfMH-na mostrava-se preocupado cam afuturo dos índias. "Na verdade, disseeli: sou (atalista e não veja a destinadas índias cama um das mais*Tmthantes". Apoena — que apesar dejovem é considerado por Cláudio Villasllna\ "uma

pessoa experiente eresponsável" — desmentiu que desejever realizar-se "na menor prazopossíveT a integração das índias àcivilização, como havia sida divulgadarecentemente. "Pensa api-nas, disseele. em dar-lhes OS meios necessáriospura que eles possam subsistir emcondições de igualdade diante doavassalador processa de desen-volvimento". Há contudo umadivergência quanto ao método detrabalho entre Apoena eos Villas lioas.que defendem uma aproximação muitomais lenta entre o índio e civilizado.

Também na \emana passada. MarioChimanovitch, correspondente deOPINIÃO, entrevistou em São PauloCláudio Villas Boas, recém-chegado daregtão do Peixoto de Azevedo.

Nem cansado nem desiludido, só

preocupado, Cláudio Villas Boasjá deu destino a sua vida. "Queromorrer no Xingu", diz Cláudio,passando suas férias em São Paulodepois de dois anos ininterruptos detrabalho na difícil atração dos Kreen-Akarore.

Na velha casa que serve derepresentação ã FUNAI em São Paulo,agora vazia das dezenas de repórteresque o assediaram ram toda a sorte deperguntas sobre os "índios

gigantes",Cláudio, metido num terno marrom. escuro, puído e desajeitado, condenou

mais uma vez a política de integraçãodo índio à sociedade nacional.

Empecilho ao progresso?

— O índio, diz ele, não pode serimpedido de sobreviver como minoriaracial. Integrá-los? Para quê e porquê? Que direito temos de fazê-lo e,principalmente, não temos o direito

de" assimilar culturas, pois, pelo menosem termos étnicos, essa tão propaladaunidade não existe. É preciso que obrasileiro primeiro se integre paradepois pensar emassimilar as minorias.

O sertanista. que na semana passadaentregou ao jovem Apoena de Meirelesa sorte da consolidação dos contatosram os Kreen-Akarore, disse tambémque a aposentadoria não o afastará dosíndios:

— Quero morrer no Xingu. F esse omeu destino, pressinto-o e quero-o,mesmo sem ser fatalista. Falou-semuito acerca da minha aposentadoriae de Orlando (Orlando Villas Boas,irmão de Cláudio/.-, De fato, vamos

entrar com o pedido, mat isso nio nosimpedirá de que continuemos a nosbater ndo futuro e sobreitencia deritmo* Índios.

Calmo. Cláudio «ti eiplicando emmt balsa que e um absurdo supor queo .:".-.¦ senha a se constituir numempecilho ao processo de ocupação daAma/Ama,

Ora. temos oito milhões dequilômetros quadrados de superfície epouco mais de fi mil Índios. Deixemosque essas criaturae visam ícli/es elivres de nossas ambições mesquinhas eegoístas, O Indin. realmente, nào pesa

.nesse esforço nacional E se pesasse? IIno*, deu tanto: é. enfim, a verdadeiramatriz, da nacionalidade. ê preciso,todavia, que ve saiba que a inietairvaprtsada jamais prontos crá a integraçãodo índio. A própria História o temdemonstrado, com isenção. Diantedesse quadro de alternativas tãodrásticas, é necessário que a FUSAI oisole e resguarde, sem palernaltsmos. éclaro. Alé que o pais. efetivamente, seintegre.

O sertanista ajeita os óculos sobre osolhos profundamente escuros. Norosto, algumas rugas. Os cabelos sioralos c grisalhos.O indio já aculturadoé conscientede ,.(»•,. dentro da sociedadenacional?

Não. Não no sentido em quepropomos essa pergunta, ou seja. se eleé consciente de seus direitos comocidadão. De qualquer forma, ele já seacostumou a reagir como um sermarginalizado. O indio. quando emseu estado primitivo, é pleno. Sabe oque quere o que tem a defender. Livre.ele tem o seu próprio sistema, o seupróprio universo, e "»v* feli*

Evitando choques

O colarinho grotesco aperta-lhe opescoço magro, e as mãos. trêmulas,buscam novamente o maçoamarrotado de cigarros. A voz assumetom conciliador quando ele fala quenão vale a pena entrar em choque coma FUNAI:

— A FUNAI não pode ser apontadaramo responsável pelo que aconteceu evem acontecendo aos nossos índios. Agrande e verdadeira culpada é asociedade, através de sua estruturacontraditória. Não interessa nem vale apena entrar em choques ram o órgão,seria desenvolver uma ação maisdestrutiva ainda. O negócio é trabalharsem hostilizar. E justo que a críticaconstrutiva deve existir e ser aceita,sem mistificações. Não sou romântico,não sou sonhador, sou realista, sim-plesmente: no dia em que se fizer valerde Fato a constituição o índio poderásobreviver. F tolice, também, imaginaro índio numa posição especial, decidadão com regalias excepcionais. Fpreciso que seu patrimônio sejarespeitado e garantido e deixar que ele,por si só, sem pressões ou catequeses,se deixe envolver pela sociedade. Fuma opção que somente a si pertence.Do contrário, assistiremoscomodamente à sua destruição, atravésde um processo inexorável e doloroso.

BERGMAN

Bergman

é um faze-dor de filmes paragenfe que não gosta

de filmes, e é muito difícilimpedir que tal fato conte oumuito a favor ou muito contraele. A favor dele, por ajudar-nos a nos sentir mais àvontade a respeito do cinemacomo uma forma de arte, a

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coAtinooçâo do odq>r*o 4Mr-.pf.,ro d© suo *.obr© rt /ér»ç ,<jquando comparodo com apintura ou a liloratura.Contra ©Io porque podamossonttr quo umo arte dessa©snéoe cultivado antiquadaemprestada «ào »©rn nada avir tom os filmes dos quaisrealmente gostamos,Borgman é um catofascinante. \à quo norealidade é um artista emdois sontidos. em seja qualtor o sentido no qual Bunuel eRenoír são artistas, mastambém em seja qual for osentido no qual Welles eHitchcock o sâo e se elesnão forem artistas, entãoBorgman. no medido em que' ele faz as coisas que elesfazem, também não é umartista.

Quero dizer. Bergman éautor, mas também é mágico,ilusionista, arquiteto dopânico; e no cinema osmágicos são tão importantesquanto os artistas. Welles.apesar de toda a suafrivolidode. é tão importantequanto Antonioni. com todasas suas significações : ebons truques são melhoresque ruindades solenes. Epossível, então, ver-se omelhor Bergman quando eleestá sendo inteligente edotado tanto em suaspreocupações intelectuaisquanto em seu uso - docinema. É igualmentepossível, ás vezes, vê-lo serbem-sucedido numa dessasfrentes e fracassar ou tatearna outra. Gritos e Sussuros éexemplo disso, sendo maisinteressante como cinemapuro, como uma espécie deHitchcock gótico. A não ser, éclaro, pelo fato de não existirnada que seja cinema puro.

O filme abre com umaseqüência de quadros rápidose lindos de um parque:nevoeiro entre as árvores,pedaços de estatuária nagrama, um canto de umagrande casa de campo an-tiga: lui matinal, uma im-pressão de outono. O que émais ou menos a última vezque vemos um exterior nofilme. Uma vez olhamos poruma janela e tornamos a vero parque, e ocasionalmentehá luz de sol nas lembrançasdos personagens do filme,mas muito pouca. A nãoser por isso: Bergman'literalmente nos aprisionanaquela velha casa, com seuscômodos imensosreposteiros, lâmpadas, umainfinidade de relógiosdourados e uma quantidadeinfindável de papel de paredevermelho. É onde moraAgnes, uma mulher de cercade 35 anos que estámorrendo de. câncer. Suasduas irmãs vieram para ficarcom ela. As duas e Anna,uma empregada, estão

cuidando dela.O momento a*o filme que o

um tempo defino e vir*lualment© esgoto seu clima ©indicado pela parte final deumo Iras© na história queBergmbn publicou no NewYork ©r no ono passado, o

que ero monos um roteiro ouum plano poro o filme do queumo criação paralela, omesmo moiedol trabalhadonum veiculo de expressãodiverso: ... todas os sombrasinquietas de quando alguém,envolvido num poígnoiramplo, atravessaapressodomente os vastoscômodos. .. . No filme aempregada bate á porta deumo das irmãs durante anoite e diz que Agnes piorou.Uma voz sonolenta responde,porém a irmã apare*ce rapidomente e os duasmulheres precipitam-se porum corredor longo e largo atéo quarto da outra irmã. Estasai. vestindo um roupão, e ostrês vão, veloz e silen*ciosamente, pelas escadasabaixo até Agnes. comogrondes insetos brancos emmeio às sombras, comofantasmas flutuando oo longodos paredes vermelhas e domobília pesada.

Insisto sobre essemomento porque, em certosentido, o filme é a respeitode papel de parede vermelhoe o clima que este cria, eporque esses ambientes deinterior têm aspecto tãodiverso das paisagens nuasda ilha dos recentes filmes deBergman que seria muito fácildeixar de notar a con-tinuidade de preocupaçãoque liga Gritos e Sussurros eA Hora do Lobo, digamos, oua Vergonha ou a Paixão deAnna.

Esses

três filmesforam rodados nailha onde Bergman

vive, e a austeridade equietude do lugarcorrespondem perfeitamenteàs vidas desoladas e jn-ferrompidas que abriga nosmesmos. É um lugardescampado, a ser percorridoa pé, ou explorado, ou ondese é forçado a continuar;porém é também um pedaçode terra que não se podedeixar, um lugar que faz oindivíduo trancar-se dentrode si mesmo. As estradasestão bloqueadas quando as

pessoas tentam deixar a ilhaem Vergonha, e a única saídaé para o pesadelo, para osonho opressivo com osmortos flutuantes queconcluem o filme. O que étambém verdade em A Horado Lobo, a não ser pelo fatode ninguém tentar deixar ailha, enquanto que o

pesadelo chega sem serconvidado. Poixão de Anna

fecha com Man von Sydowmarchando para orna © parahai»© rutmt} pequena praiatremendo incerto porémafroigado naquol© poquenoespaço proso da armadilhad© sua próprio raivahumílha.ôo e derrola,

A volha casa d© Gritos oSussurros, ©mão é umaversão da ilha de Borgmon.diferente porém igual, comonum sonho, ao habitotnotural do eu arruinado*dovaslado. um monumentoao silêncio e à solidão. O queé diferente, é claro sâo ossussurros, essos imagens demulheres deslizando pelacasa. assim como por suasvidas. As brigas em voz alta eamargas de Vergonha ePaixão de Anna e a violênciado guerra e da loucura quecercam o violência dasrelações pessoais nessesfilmes cederam lugar a uminfinito decoro e a uma casaescura e confiante, o opostodo rude ar do mar. O filme é orespeitode sussurros que setransformam em gritos, arespeito do que os sussurrosdiriam se se tornassemgritos, assim como osofrimento docementesuportodo de Agnes setransforma numa mortehorripilante, com mãoscrispadas na garganta e desom áspero. Assim comoMaria, a irmã suave, cheia decalor e superficial vê seumarido matar-se como reaçãoa uma de suas infidelidades.Assim como Karen, a irmãmais velha, frígida e mórbida,insere um caco de umagarrafa de vinho partida emsua vagina, resmungando:Não passa de uma teia dementiras . Presumivelmente,

a dor é a verdade, e eladificilmente poderia ter encon-trado metáfora mais límpidapara seu ódio ao marido quea espera na cama.

Dor. Um personagem emVergonha diz que ele sóconheceu a proximidade comos outros em conexão com ador, e Gritos e Sussurrosparece estar desenvolvendoum pouco mais tal pen-samento. A dor de Agnesreúne as três irmãs, e a dor éo instrumento daautodefinição para hAana eKaren. É para a dor que suasimaginações as conduzem, éo que as espera ao final dalógica dé suas vidas. Porém ador é também o meio queBergman usa para nosbuscar, estabelecer contato,aproximar-se de nós. Ficamosperto demais da mortedesesperada, sem encanto ebarulhenta de Agnes,apresentada com acapacidade incomparável do'cinema

para o realismo —como se a mágica dosprimeiros tempos do cinema,com gente de verdade sendovista ao sair de uma fábrica,

ou com um trem de verdod©aproximando s© d© nóstiv©»io -.«do tomodo em-prestada paro esfregarnoisos nariz©* num câncerreal Recuam©* arr©piodoiquando Kar©n mw© %©u cacod© v«dro © caminhodolorosamente pelo quarto. ©há uma imonção de nos faiersentir essa defeso instintiva.

0 filme nos assalta em foismomentos. infligo-nos umaespécie de punição porestarmos no cinema, porestarmos espionando a dor ea morte, ou talvez por tratar avido real. fora do cinema,como se fosse um filme uma"coisa paro ser olhada emconforto, é possível que. maissimplesmente. Bergmanesteja dizendo, com sombriofervor existencial, que ele sópode nos falar mostrondonosa dor. que retratosmeticulosos da dor são oúnico caminho para se sair docelulóide para a vida, paranos fazer sentir. Eu esperoque ele esteja enganado:porém ele opresenta seu casocom tremendo força, e otentação de chamar o filmede um sonho no mente deBergman, ou de insistir emfalar de sua fotografiacuidada e suntuosa, deve serem grande parte a tentaçãode reduzir a escala darealidade feia e vivida dofilme.

O

que não funciona emGritos e Sussuros, no en-tanto, não é sua insistên-

cia na realidade, mas sua ten-tativa de fabulização. Efracassa também o controlede alguns dos detalhes. Porexemplo. Karen, no princípiodo filme, está fazendo ascontas da casa. Ela deixa caira pena no caderno com umgesto seco e cansado, depois.atira fora seu pince-nez comum golpe rígido, pequeno ecortante do pulso, evocaçõesperfeitas de seu desespero,de uma pobreza emocionalnela e em volta dela. Poroutro lado, vemos Mariadormindo com suas bonecas,o que deveria ser o bastante,dizer suficientemente o queBergman estava querendo.Porém ele não consegueresistir a uma longa excursãocom a câmara por toda umacasa de bonecas, que é muitobonita, mas que sugere que ainfantilidade de Maria é maisimportante e interessante doque na realidade é. E emcontraposição Liv Ullmann,como Maria, traz graça,economia e complexidade aseu papel, enquanto queIngrid Thulin, como Karen ase desintegrar, comporta-secomo se fosse a mulher deDrácula, guinchando, rindo efranzindo a testa de modointeiramente fora do tom dacategoria do resto de sua

atuação ou oté mesmo dosa©.'os estranhos pequenos ©eloqüentes que consegueumo ou duas veies no meiode toda aquela gritaria oexibicionismo

Porém o pr incipolorohlemo © o sonho de Anno.a empregada, no qual Agnesja morta e preparada paroser veloda chora lágrimas d©c©ra e convoca suas irmãs ©Anna, uma a umo. ao seuquarto. Karen eexcessivamente fria. e dizque nâo o amo: Mario fingecolor porém sente-se repelidaquando o dofunto tenta beija*ia só Anna. o criado fiel mãeterra componeso. para quemAgnes assumira o papel dafilho morta no primeira infân-cio. é capaz de enfrentar amorta e secar-lhe aslágrimas embalandoa emseu amplo seio. A estruturanorrativa despojado e umtanto formal do filme con-vida-nos a considerar oepisódio como se passado naimaginação gótica de Anna.porém ele se assemelha pordemais á mensagem geral dofilme para que tal álibi sejaaceitável. A imaginaçãogótica, no coso, é deBergman. e o filme fica a sedebater em sentimen-talidade. Quando Anna diz.olhando fixamente a defuntaque fala: É tudo um sonho',e a defunta coachalugubremente: Pode ser quepara você seja um sonho, maspara mim não é", parece-noster enveredado pelo maisincrível das novas searascinematográficas: GrouchoMarx fazendo Strindberg.

Para fazer o fil mecaminhar, para fazer algumacoisa acontecer, Bergmanteve de animar sua intuição,sua imagem inicial e nãodramática de mulherescorrendo em meio à ver-melhidão, e ele o faz de mododesigual, e no ponto queacabo de descrever,desastrosamente. O que écurioso é que nada que dissechega realmente a prejudicaro filme, que cavalga tão bemseu clima, a intensidade e omistério gerados por seja lá oque for que essas mulheres eessa casa significam paraBergman, que não podemosfazer mais do que deixarregistradas as falhas semlhes dar a menor atenção —elas se afundam em algumaparte da mente que não temnada a ver com o deleite quetemos com o filme, e nemsequer mesmo com o que ofilme nos parece emmomentos de reflexão.

Não se trata então de umgrande filme de Bergman;Gritos e Sussurros é pordemais difuso para isso. Masé um filme impressionante eperturbador., uma breve

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contintiotdo do pagino 7

temporoda possodo numoimoginoçõo estronho e enkímesmoda E naturolmente otôto o o discrição doBcrgmon. quando elo nôooito tendo gótico,

' sãoexemplares. Para tarmofuma noção do suo qualidode.o da» qualidades deste filme,basta pensarmos no queVisconti faria com omobiliário do mesmo, ou oquo faria Oo Sica, pelo quevimos em Os Jardins dosFinii-Contini com o parque eos árvores, e a trilhasonoro.

John

Simon pensaque Bergman é omaior diretor que o

mundo já conheceu. Tolé sua opinião muitocuidadosamente ponderado'.como nos assegura com amaior seriedade, como senão fosse de nosso hábitoconsiderar como tais suasopiniões. Ele julga quePersona é o filme mais dificilque jamais foi feito (umacoisa excelente), e que eleestá para o cinema ossimcomo Ulyssos está para oromance (muilo embora nãoespecifique o que issosignifica). Suponho que taispontos de vista poderiam serdefendidos, mui*o embora amim eles pareçam in-teiramente fátuos, porém,seja como for, o livro deSimon (Ingmar Bergman Dire-cts não faz nada para prova-los. Trata-se apenas de umapassada rápida por quatrofilmes de Bergman (A Noitedo Palhaço, Sorrisos de umaNoite de Verão, Luz deinverno, Persona), durante aqual Simon monotonamenteresume os enredos emquestão ("Precisandodesesperadamente de umaaspirina, ele segue Martapara dentro da escola"...),desencava algumas im-plicações simbólicas, distribuielogios aos atores e amarracada pacotinho com algumasinocuidades bem escolhidas.

Depois de ter lido que "os

filmes de resposta (deBergman) são mais fracosque seus filmes de in-dagação", ou que um de seustemas é "a insuficiência dosensorial humano"; depois deser informado a respeito daforma explêndida pela qualEva Dahlbeck, em Sorrisos deuma Noite de Verão* "inter-

preta as pequenas porémpenetrantes epifanias queBergman deixou cair noroteiro cinematográfico semtorná-las mais conspícuas doque inflexões de evpcativadubiedade em meio a umaconversa equilibrada"; ou terdescoberto que o filme é"intuído com divertidasagacidade e graça agridoce,

o verdadeiramenteecumênico em suospreocupações depois de lersabido que em lui de Inverno

ho algo de terrivel naquelestoccolo do diálogo emtt.chomytlo que termina como Ires veies repetido Silenciode Deus* : ou de tor sidoinformado que Persona éuma anunciação arrosodorode desespero que. no entan*to. por suo própria existéncioo excelência, provo quo odesespero pode sersublimado, vencido . não hóquem so sinta exotamontecom vontode do soír correndopara pegar o filme deBergman mais próximo. Oque dó vontade é de |urorjamais tornar a ler na vidaqualquer critica de cinema,mas para isso serionecessário jurar não ler maisPauline Koel. e nenhumjuramento no mundo deveexigir uma coisa dessas.

O livro Encontros comDiretores, de ChorlesSamuels. é em grande porteuma perda de tempo, erepousa sobre uma basemuito precária. Todo artistatem visões individuais,argumenta Samuels im-plicitamente; todo filme é umtrabalho de colaboração; porisso mesmo antes depodermos julgar filmes comoarte. temos de saber quemfez o que. para que possamosseparar a visão individual dasorte na escolha dos locais defilmagem, ou da mão de ferrodo produtor, ou da mania quelem o operodor de câmera deusar foco suave. Isto transfor-maa criiica numa complicadis-sima distribuição deprêmios, e tem de estarerrado. Se um filme funciona,funciona, e o resto ébobagem.

Samuels é muitopreocupado com sua própriaimagem, louco pa/a que todoo mundo saiba que ele falafrancês e italiano, e ficadesesperado porque Felliniconseguiu perceber que eleera um professor e não umjornalista; além disso estáentupido de idéias que eledeseja que todo o mundosaiba (ele diz a Fellini queNorman Mailer gostaria deser considerado um intelec-tual, mas que não o é). Elefica explicando aos diretoresos seus próprios filmes, o queirrita alguns e é muitoconfortável para outros, poisdeixa que eles fiquem sóconcordando com ele, semresponder a nenhuma dasperguntas. Mas, mesmoassim, sua capacidade paraamolar os outros produzalgumas conversas miúdasagradáveis. As entrevistascom Bergman e Truffautefetivamente rendem um oudois momentos perceptivos arespeito dos filmes dessesdiretores, e as com Fellini,

Anlonioni e Bresson sôocharadas previsíveis poréminócuos.

Fellini lai Fellini.noturolmente . Quando eumostro o otmosfero do fhowbuilness falo de mim mesmo,porque minha vido ó umshow. Sou um homem in*teiromonte devotado aosespetáculos ) e Antonionífoi umo espécie de hipplecansa"do e com insónia,Brosson foi um híbrido deTrolsky com LaRochefoucauld. soltandopoquonos frases brilhantesno melhor tradição do fon.farronice francesa cítando-seo si mesmo ( O cínomo é aarte de não mostrar nada ).citando Montaigne. citandoValéry (Trabalhamos parasurpreendermos o nósmesmos ). aprovandoGodord ( Ele ensinou ocinema a usar a desordem ).e finalmente caindo nabanalidade sob a tensãocontinua. Iembrando*nos quesempre magoamos aquelesque amomos e que Goethecerta vez disse que ocasamento tem algo deconhestro.

As outras seis entrevistassão tão inócuas que perdem osenlido. Olmi jogo sério.Renoir é simpático porémvogo. Carol Reed é tímido,René Clair faz o papel dopatriarca do cinema, e

Hitchcock repete tudo o queSamuels diz. enquanto queDe Sica praticamente rastejapara pedir desculpas por suacarreira comercial.

Descobrimos nesse livroque o dinheiro é importantepara os homens que fazemcinema, que muita coisa quegostamos nos filmesapareceu por acaso, ouporque o diretor teve umsonho ou uma mania, ouporque o assistente doprodutor entedia demosquetões. Descobrimosque Renoir e Hitchcockgostam de fazer filmescomerciais. Aprendemos queos diretores nem sempreconseguem explicar porquequeriam determinadosenquadramentos, muitoembora soubessem que osqueriam. E aprendemos,acima de tudo, página apóspágina, que as entrevistassão inúteis, já que nós jásabíamos de tudo o que é dito— se não soubéssemosestávamos na pior.

Todo

diretor odeiafalar a respeitodo significado cte seus

filmes, e é capaz de dar asmais fantásticas cambalhotasantiintelectuais para escapardesse tipo de conversa. Nãohá dúvida que isso resulta naalta comédia de Bergman eAntonioni fingindo que não

pensam que não passom dehomens que seguem seusinstintos e chegamos mesmoo ver Fellini em seuressentimento foier Samuelspassar um mou pedaço-

Olhe. tudo que tentaesclorecer um processoobscuro é totalmenteacodômico Você só inventacategorias. Eu faço os coisoso depois os esqueço ,sPorémhó algo do muito triste em .«••Hitchcock ser lovado acomparar-se o Kleo e quandoRenoir dii quo foier filmes éo mesmo quo tocar flautaparo uma serpente, o público,foiondo as veies de serpen*te. começo o imaginar se nãoexiste umo outra serpentemaior, mais maldosa, ecritica, louca para ver a flautacontinuar depois que o filmeacabou. Somuels tem todo a'u/ao para ter suas opiniõesa respeito de filmes, se é quequer escrever o respeitodeles. Mas não há nenhumarazão pelo qual um diretordeva ter opiniões a respeitode seus filmes e Samuelsporece não compreender issode todo.

Em sua entrevista comTruffaut. Samuels refere-seoo comentário de Truffaut deque não se deve fazerdistinção entre filmescomerciais e filmes de artemas apenas entre os que sãobons e os que são maus. Issoparece de um bom senso lãoóbvio que é uma surpresadescobrir que Samuels estádi spos to a discuti-loquerendo agarrar-se aalguma noção sagrada eseparada de uma arlecinematográfica que fique asalvo do dinheiro e dopúblico. Mas, nesse terreno.John Simon, amigo e mentorde Samuels, é categórico:Bergman é um artista, Hitch-cock é um técnico: Parece-me terrível a noção que tem amoderna críticacinematográfica de que esseshomens eram artistas,quando na verdade eles eramtécnicos. Precisamos fazer adistinção entre um artista eum técnico". Porém esse tipode distinção primária nãoserve, porque ela sim-plesmente trai o npsso prazernum número muito grande defilmes. Não temos de julgarque Psicose está para ocinema como Os IrmãosKaramazov está para oromance para perceber que olugar de Hitchcock no cinemaé tão grande quanto o deBrgman, e não apenas emsentido técnico ou histórico.Temos de redefinir nossosconceitos de arte no cinema,ou -então abrir mãodefinitivamente da palavra.

Na

prática, não háproblema a nãoser que se seja um

esnobe, ou se quiser tentar

desesperadamente reivin*ditar paro o cinemo móis doque ele pode oferecer. Nào énecesióno que concordemossobre definições canóninasbasto que lulguemos osfilmes segundo seus própriostermos, e vei por outrojulguemos esses própriostermos O que conferedistinção o Paulino Kael é queelo vem foiondo exotomenteisso. sem esmorecer, porádiier o vordode com vervecrescente, dosdo hó muitotempo. Elo acho que o cinemaó copai de produiír arto domais oito nivol porém jamaisfinge que ele o fei quandoisso não acontece. Estoperfeitamente disposta oaplaudir filmes frivolos sefuncionam e tèm qualidadedecente, bom como estádisposta a arrasar filmespoderosos e sérios, se lheparecerem fraudulentos.

Para tomarmos exemplosencontrados em seu livroDeopor into Movies ela gostado filme de James Bond AServiço dc Sua Majestadeí Eu sei que em um plono elenão valia a pena ser feitomas não há dúvida que foifeito de forma brilhante ).tem suas dúvidas a respeitode La Femme Infidèle deChabrol ( Quando intençõescomo as de Chabrol chegam aser perfeitamente realizadasserá que é o bostonte'?), eliquida com a presunção deTell Them Willie Boy Is Herede Polonsky { Em cima dasimples história de um índio...que mata um outro índio...Polonsky conseguiu empilharuma quantidade suficiente demarxismo esquemático.f reudianismo, existen-cialismo de guerrilha da NovaEsquerda e puro e simplesauto-ódio americanomoderno, que cada fala doraio do diálogo ficou sendosignificativa' ").

Acontece

que eu con-cordo com essas trêsavaliações, porém tudo

continua válido quando nãoconcordo. Eu penso que missKael simplesmente não viu oSatyricon de Fellini porqueficou preocupada demais coma moralidade regressiva queatribuiu ao filme, porém otipo de avaliação que ela faz,mesmo assim, é importante. Éuma falta de sorte dela que,naquele momento, ela poracaso esteja errada, quesimplesmente não sejaverdade que

"a idéia que saipor toda parte de Sotyriconde Fellini é que o homem quenão crê em Deus é uma bestaluxuriosa".

Há outros momentos emque creio que ela sobreestimacertos filmes quando elesrepresentam exemplosdaquilo que ela quer que o

conliriua na página ao lado

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Fiat x Mendes JúniorOt ultimei loncei de

luto por ume concorrendodeCrS700mllhôef

N-h campeonatos de futebol.

as ..-cm >!tciti»ot fie disputadostx»m mart rigor, c te usa, at seres,anitktm cttra csr>ni»»n suborno,denúncias not -.mais pedidos de«•tante »nt» «i. ppir.g prettoet Comalgumas adaptac«Vv a concorrênciapata a construcio cr» ti da UsinaHidrelétrica dc São Simâo. da CEM 10

Centrais Hléiricat dc Minas Geraisenvolvendo quase CrS 2 Mthõcvé umduro ctmpcmatr.' m times tio aMendes Júnior c a Impretti GirotiLodipiani -* C H Almeida; a -federação i 4 í EMIG: e a f'BI) éginemo do Estado,

\ ãoncurrêm i> n ea«i in.» iniciodc l**"2, Va íjmt 4c pré*qualifíc-tâi>loram cscolbidas trê* empresasnacionais e etneu **v,ranccir4t.. I»„ra afase línal obraram duas. . tuKhltána«ia Hat, impresii Giroia iconsorciadaí»»ra 4 CR Almeida, empreiteira doParanátca Construtora Mendct Júnior— urna das cinco maiores empreiteirasd«t Brasil, A primeira apresentou um.*rc_mcnto de CrS o "O milhões e a•vecunda um de CrS b"6 milhões. AC amaro Correia, a maur empreiteiraíi>< pais. retiretu-sc pouco ames deserrm abertas as propostas. Nãoconcordata com as regras do jogo: erao primeir» escândalo do campeonato.

A divulgação da concorrênciac\tava marcada para «> més dc janeiro.Conforme o erònograma da CEMIG.at obras começariam no dia I" dcmarço. Contudo, surgiram indícios de.. Fia! estar condicionando a instalaçãoda tábnea de jutomõvcis em Minas â%ua vitória na concarrência datidrelétrica. A Mendes Júniorameaçou ta/er um protesto públicomas. detido ao comprometimento coma Fiat. o governo taticamente contor-nou a situação: adiou a divulgação do

retultad*t pata dcp*ut da assinatura doacordo com a I>•« A faiabtatiotemporária da a»rnpci iso»» tersiu paraacalmar »it .mm** dot concorrentes.

Finalmente da CEMIG. J*»J»CamtUo JVoa marcou para esta«emana 4 dcstsâ» otktal sobre a»».tn««rérnia fi com a pmtimtdade da.laia *<t panicipaniet toham a em*penhar tea fumii*. desta »e/ uidi/andotodas at armas, A pr»»mfsta da Mendesdc pr.*tcsiar publicamente cato f**sscpretenda foi iWmcnir *umpnda —per dcpui-d**t estaduais t ledcraiv Nareunião euraitrdiniria da AssembléiaÍAüivIatHa n>- último dia 14 surgiunoio p*,rs»ir*ai*cm ria disputa v Bane**Mundial, acusado pelos »1rnuiad«»t>»,!,. C«»tta lARENAi e Dalton

c anabrasa -MDBi dc •prettienar *9..terno mineiro para dar a sitoria aI ias "contrariando sSccitio da«.»mtttà-i }iilead«-ra «|uc,fHlutttamente em parecefct técnicos,

decidiram cm fasur -U Mendesjúnior". *0 Banco Mundial sai•irutKiar I** <*** «.mpreend-mento —cerca «Sc CrS .«dJ ¦* * es — c nrestante — CrS 1.2 bilhões — Mírifinanciado per empretat nacionais,atrases da ESctrobrâs. do Bariu»Nacional dc DesenvolvimentoEconômico — BNDE — e da pròpnaCEMIG.)

Divulgada com pouca ênfase nodia 15. a reunião da Assembléiaganhou destaque nos dias seguintes.No dia lh O Globo publicou matériado Jornal da Braul do dia anteriorsobre o assunto sob «» titulo DeputadoMineiro Denuncia Manobra du Fiat noCasa da Concorrência de Sã" Simaa OGlobo teve o cuidado de cerca-la comot fios que caracterizam as matériaspublicitárias c assinalar no final quetora transcrita do Jornal do Brasil.Nessa mesma segunda-feira o Dianada Tarde de Belo Horizonte, publicouextensa matéria sobre a reunâo.destacando as denúncias eacrescentando novos depoimentos —

,imt*>** cm la»i*f da Mendes —> dot!t;pw!*iU«kdrrai Utte Ferra* iMDHiedo líder da .f*»*.»*.. cm M»na*.TareiA*» Ikl.adit, C*«»m os nic*itw*cnirciiiM>V>t le n««% »>*«¦»» caraças comu metmo titulo ts~i**th Sa • »•» t/uiu*Qmt %ar**r /*«»#»* ««#«*• $ân üntâu *maicria fot rcpubttcaila na Imenra m»dia tctjutnte pel»» la»ml d** Hwd t)J*mul e pe1»» Iha-na d, Minm Aindancttc dia •* Fitada d-' Mmm matcitunda pagina, normalmentedestinada ao m^kiârto tnicrnati*maiíc«? Diãría de tfôiut publicaram ••utramatéria patta sobre -s attuniu.aprctcntanit*» at ntctitiat caráeterH*tkat 4at antcnorvts denánciat «miratuputtat írre^ularsdadv* r?a concorrén*cia c delega miranti^ented»»* «*ü»,*rp»»ctda \|endc* lúnt***

N*í evith» diH mais conturwdotcampci»natt«s, a íona»rréncía atinitiuveu liniue mâttmo, A finalidade•vstdcnie «ís*t!a» malériat paça* ipressionar Kondon Pacheco alamrcccr a empresa mineira D»»depoimento do dcputaib* Stlo C»*sta1 pie imposição 4a Fiat italiana «çimtticvio iklcrado pda Impresti GimlaH'fâ dado como sencednr da con-»t*rréncta**i. parece que ot delenwresda Mendes tá estão, como se diz naSinçuaiicm ctpt»ritta."afx*fan»lo *. Masma ficou ai a pressão contra o çoternoestadual. O .tepii'adi« Marcos Tito

MDB» anunciou requerimentopedimio uma Comissão Parlamentarde Inquérito para apurar a concorrem.ta> l". ainda esta semana o presidenteda CEMIG terá chamado a Assem-

líta para esclarecimentos. ScctindiMarcos Tito a "parcialidade noíuUsiniento das proporções poderá seconstituir no mabr escândalo dc todosos leitípcts e com o cntolvlmentò doEstado".

O vencedor da concorrência seráconhecido esta semana. Apesar dafreqüência de artifícios poucoesportivos usados, o resultado dacompetição parece que dificilmenteserá mudado.

A Puma entreDelfim e Pratini

Do sabonete ao sorveteQuando,

há alguns dias. a Gessy--Lcter comprou a Gelato o

icrcado. bnmhrirWdc-'sorvetes ficoudividido, pelo menos por enquanto,entre três gigantes estrangeiros: aNestlé (suiçaí. com o sorvete Yopa.lançado há pouco em São Paulo: aKibon. da Ge^orá! • Foods tnone-americana), já tradicional em ttvdo opais: e a Sanbra (Sociedade Algodoeirado Nordeste Brasileiro, do grupoargentino Bung and Bom) com osorvete Rico. lançado no Rio no finalde "1.

A Gelato—firma paulista agora empoder da Gessy-Lever — foi fundadacm lü"0 por quatro ex-altos fun-cionários da Kibon. Um deles haviasido gerente de de marketing daKihon. O capital inicial da Gelato era

de CrS 4 milhões, dos quais Cri2milhões financiados pelo BNDE. Seussorvetes foram lançadosagressivamente e com sucesso. A Gelatoexplorava as características de ummercado onde a Kibon. tranqüila emsua situação de dona completa domercado, negligenciava os reven-dedores e o público. .

Us comerciantes eram obrigados acomprar a "geladeira" conservadoradiis sorvetes e. além de não receberemqualquer assistência técnica da Kibontinham de dar-lhe exclusividade — istoé. na sud conservadora não podia sercolocado nenhum outro produto. AGelato inovou não somente norelacionamento com os revendedores— dando assistência técnica — como.principalmente, no setor de marketing.Modernizou a embalagem, lançounovos tipos de sorvetes e, em poucol e m.p o . tinha conseguidoaproximadamente 25% do mercado deSão Paulo.lcapital). quando o objetivolixado por seus diretores era de apenasI0"1 A Gelato logo estendeu seus .negócios para Belo Horizonte. Goiâniaê Brasília.

I nquanto a Gelato provava empouco .tempo .que,o mercado de sor-T ..

* Ceies efa 'um 'otfníd negócio.' 'outras*

GRUPO UNI..-VER NO BRASIL

UNILEVERLTD. I UNILEVER N.V. ILONDON ROnERDAM

,,_i ... Wovlbul - Mlj voorumas ir_. Inlumat. Bel-sgl9«n1—I , 1^ 1

¦ * ,- ' i r—ViAssodat-d Mavlbul do 1EntarpriM lid Brasil Ltd.-T !

í *n ! r—* 1! m Llntas Publicldode . _ Indústrias i

Internacional Ltd. G««y-L«v.r

ALNzXSA

matrii oitrong-lra * (Golerlo)

j 1 fHial «strangeira

poderosas concorrentes preparavam,também a estréia: primeiro veio aSanbra. depois a Nestlé. E agora aGessy-Lever, que comprou a Gelatopor uma quantia em torno de '5 a 20milhões de cruzeiros, segundo se diz..

A Gessv - Lever é um a d as su bsid iáriasbrasileiras do poderoso grupo anglo-holandês Unilever, que em volume devendas é a nona empresa do mundo.

Com mais de 100 subsidiárias, aUnilever é um verdadeiro impériomundial de produtos alimentícios e delimpeza, principalmente no continenteeuropeu. No Brasil, por volta de 1962,.i Lníl.éver adquiriu a Companhiaüé>_\; Industria).. ., que possuia qsabonete'e

'o èreme dentai Gessy. o

sabão em pó Minerva e o Minerva emtablete, todos produtos com excelenteposição no mercado. No ramo deartigos de perfumaria e higienedoméstica, a Gessy-Lever é, há muitosanos. líder do mercado brasileiro.

Por volta de hò. a Gessy fez suaprimeira incursão no mercado dealimentos com o óleo Dular (deamendoim). Depois entrou na faixa dasmargarinas, lançando em 1°71 aDoriana. Agora, com sua entradafirme no mercado de sorvetes, atravésda Gelato. a Gessy-Lever prosseguecom a política de expansão e diver-siticação das atividades da Unilever noBrasil no terreno dos produtosalimentícios.

Funcionando num calpio alugado

na cidade de %h* \**um>. a PumaVeículos c Motoret. fabricantes dotm««dcl»>» Pum_ Gffe c GTS. site hádott art.it com um problema' obter *»*<m\ _«nerni. para «jjuc passa%»»ntc^uir um empréstimo dc í milh«Vtde dólares m< etierior. titandoaumentar süa produção edctensolter oj»r»»jçi«* dc um noto carro —* o Mim»Puma — um sckuto dc dott cilindros,capa» idade pjra ^uatft» petts»_< e ^ue—• tcfund»».» empresa — tan» ate 21*

SR*!

sir?< »lc cat*»imj at tua». aluais, a Poma pr*«du/

i! it por mét; tçjrundo¦ - ¦ st»«a impede dc atenderaos cmiiinut*s pedidos »|üc rvíiebç d*

Ma* p»*r (|ue >"• goserno csiana serecutjind»* » conceder o asai? Esta*pcfttunta o dtretor-pretidente dasábrtea. Luiz Riíheno Altet da Çotta.àv recentemente ao ministro Prattm deMxrait. durante Mm encontro ç;rt que oministro *ta Indústria c do Comércioconvidou a Puma para representar o./«•»iíí»i brasileiro no àa!3<» dc Bru telas.que será aberto cm setembro.

Algo aconteceu no MIC quandojornalistas icntatam confirmar asdes. Ia ratões d» ministro Pratini a.»presidente da Puma. Ao mesmo tempoem que aleons assessores desmentiamas afirmações da presidente Ú4 Puma("que so esta querendo airair a atençáoda opinião pública e apelando paraencobrir as dividas »ia fábrica que sóem Sâo Paulo atingem milhões dccruzeiros"), outros des.rierittãm atemesmo que tivesse havido qualquerencontro entre Pratini c o presidenteda Puma.

Mesmo sem «» aval para o cm-

prestímo externo, a Puma promete quecomeçará a se expandir no Brasil,contrariando suas próprias previsõesanteriores de deixar o país. caso ogoverno continue se negando a apoiar aempresa. Com o empréstimo de 5milhões de dólares (30 milhões decruzeiros), a Puma pretendia: ampliarsuas instalações de " mil para l milhãode metros quadrados — abrindo umafábrica no eixo Rio-Sào Paulo; absor-

ter mait 2 mú rk>tttt luncúmárins ilvjeicro apenas *fWfc e» a curti» ps ara.etceutar »• tro *"pr«»|eti* cn|t*ateiador'°s«MmiPuma

SsüMiido anuncia, a Puma pi»derá,dentro de triS metes, imciar a mnafábrica cm Franco da Kt*chaimunkipkipftHimo a Sâo Pauloi e. aoIntét de I roilhlo de meiroti|uadiradut. ler Mi mil dc área eenvtrufda, Ssia pr»«lut'.o mental, |â *partir do protiroo ano. aumentara de'•*i rara 2l«t unidades,

Seus diretores, entretanto. air*dasonham .««n* «» atai- CiiamU» ot in*tjstentcs itolnlot du ministro DelfimNetio para que o Brasil aumente suasetpt-navòess. cies »ia«. -• etemplo daPuma, que lem 1 -5**1 carrm ent*omen<da»lin na Hutopa — |»«l-l»»t que.sc|fundo dizem, nâo rnidcni ser in-leitralmente atendidos, detido «limitada euaia tia produção atua.

<o«i nuocôo do pOg<no oo looo

cinema seio: filmes comoMASH. Caboret. e Violinistano Telhado, nos quais a in-dústria americana pareceestar produzindo uma dietabrilhante sólida vital e semconcessões para todos ospovos de boa vontade. E háqualquer coisa de muitoestranho no fato de elogostar tanto de O PoderosoChefão e achar A LaranjaMecânica tão sinistro. Ocrime organizado não é umarejeição do americanismoescreve ela. E o quetememos que oamericanismo seja. È opesadelo do sistemaamericano . Pode ser queseja o pesadelo de miss Kael,

continua na página 10

Gaúchos desprotegidosPode-se

di/er que o Rio Grandedo Sul é o Estado da federação

mais bem representado na alta ad-"ministrarão federal. Gaúchos são.

além ilo presidente da República, osministros da Agricultura, dasComunicações, da Indústria eComércio. dòs^-Transportes, os chefesdas Casas Civil e Militar da presidênciada República, o chefe do SM. opresidente do Banco do Brasil. Mascertos círculos do Rio Grande do Sul sesentem extremamente prejudicadospor recentes medidas econômicastomadas pelo governo federal. Eesquecendo-se do que se poderiachamar de hegemonia gaúcha nopuder, acham que o Rio Grande é olistado menos defendido quando ogoverno resolve alguma coisa na áreaeconômica.

Primeiro foi o caso da carne, em queo governo impôs uma limitação nasexportações, além «ie cobrar um im-posto de 200 dólares por toneladaexportada (o chamado confiscocambial). A justificativa do governo eraa de que os preços internos estavamsendo regidos pelas altas cotações quea carne havia atingido no mercadoexterno e o consumir1 r nacional naopoderia pagar o mesmo que o con-sumidor estrangeiro, uma vez que suarenda média era bem menor. Ospecuaristas gaúchos foram os que maisreagiram diante da decisão.

Agora, o problema é o trigo. Incon-formados com o que chamam depequeno aumento concedido peloConselho' Monetário Nacional — quedeu um reajuste de 12% para apresente safra (CrS 40.32 por saco deòükg) — e assustados com os prejuízosveriTicàdòs na safra do ano passado —

quando a perda foi de blF'- — ostriticultores gaúchos ameaçam deixarde lad«> o plantio do trigo. Nestor Jost.gaúcho e presidente do Banco do Brasil— instituição que geralmente financiagrande parte das safras — não gostoudos boatos e correu a«* Rio Grande doSul. "Não estou convencido deque ocorrerá a redução de 30°ó noplantio de trigo, em face das infor-mações que tenho e diante dos pedidosde financiamento formulados",declarou. Mais tarde, no dia 14. nacidade dc Soledade, já não parecia tãocerto: "Pedir melhor preço para o trigoé atitude de homem, mas abandonar a

¦ lavoura é procedimento de desertor".No plenário, estavam eentenas dehomens e desertores que ouviram emsilêncio a afirmação do presiden-te doBanco do Brasil.

Jost não foi contestado no momento,mas já no dia seguinte, na Federaçãodas Cooperativas de Trigo(FECOTR1GO), chegava-se à :on-clusão de que a redução do pia- tio detrigo para este ano será mesmo de 30%.O cálculo tios técnicos é simples ebaseado em dados que indicam aredução dos pedidos «le semente para oplantio. E tomando por base a área

.plantada do ano passado U.S50 milhectares) no RGS. este ano serãosemeados apenas í.295 mil hectares,isto é. bife mil hectares a menos — oque resultaria numa colheita de 1,3milhão de toneladas, quando o governo"anuncia uma safra próxima de 2milhiVs. Na verdade, segundo ostécnicos, os agricultores gaúchosdeixarão de plantar trigo nas terrasmais cansadas, que serão tratadas para

.receber ¦a.soj'a n/a época , certa,. emoutubro.

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?r.M.naXKOa CM P©0"O 9

mos poro muito gente é omola coro'dos sonhos. Euochei O Poderoso Chefòomorovilhoso. porém muitoossustodor e mltt Koel estose escondendo do horror queexiste nele. do autentico eimenso ollure do crimeorgonizodo tol como osCorleones o operom. dacaloroso imagem humana dafamília protetora, que excluiou moto todos oqueles quenos desejam mal.

Porém

o motor pro*zer na leitura demias Koel. no New

Yorfcer ou aqui. em Dooporluto Moviot. que reúne trêsinvernos de criticaspublicadas naquela revista,de setembro de 1969 o marçode 1972. é o prazer de seconcordar tantas e tantosvezes, de se ficar confortadopelo firmeza com que missKoel celebra o que nospareceu um bom filme, eocaba com outros, que nospareceram maus. Eu melembro quando voltei paracosa, depois de leva." umaprimo para ver 1776, eagarrei desesperadamente oNew Yorker. um pouco commedo que miss Kael pudesseter gostado do equanimidadedo filme, ou coisa no gênero.Não. Ela o arrasou com umaforço e uma dignidade queme fizeram bem, aliviandominho indignação disforme.

Acima de tudo. miss Kael ésempre engraçada: Quandose vê Anthony Quinnlevantando uma garrafa devinho nos anúncios de OSegrego de Santa Vitória,pode-se ter a impressão deque já se viu aquele filme, e,naturalmente, já se viu...".Quem, com a cabeça no

lugar, se lembraria de dar ostrês papéis principais (emMarconed) a Gregory Peck,Richard Crenna, e DavidJanssen, quando todo omundo pode ver que eles sãoo mesmo homem"? Sobre JoeCocker, em Groupies: Eleparece os Três Patetasimitando Beethoven tendoum ataque".

Porém não se trata apenasde frases curtas e bemapanhadas. Trata-se tambémde uma postura moral claraporém complexa que seocupa da precisão e dohumor, que funciona numalinguagem que nos concedeuma espécie de pequenavingança contra tudo o quetemos sofrido vendo filmesmaus, dá-nos um consoloiige:ro porém real porhavermos fingido para nósmesmos que tantos filmespodres foram melhores doque realmente foram. Nosso

outo*respeito ofendido faloem miss Koel : A músico (emThe Roívors porece umcogumelo que tríno ochilroio . Sobre Robert Bolt.escritor de A Filho de Ryon

Ele lico tentando otingir umclima selvagem e lírico, mossimplesmont© não tem otemperamento paro isso: o'roteiro te orrasto por meio deumo série de excessoscuidadosamente calculados.(Nicol Williomson) Posso deumo vtrilidade sem encanto oum masoquismo repugnanto.e. seja numa sejo noutro, ésempre demais... Williomsoné sempre brilhante' eoluscante. Ele é brilhante,ele é ofuscante — mas ele éhorrível'.

E para dar um exemplo umpouco mais extenso de missKoel como vingadora, não hánada de melhor que citar ofinal de suo critica de OCrepúsculo dos Deuses deVisconti:

Os personagens eslãovestidos e maquilados para odécoda de 30. porém falamnuma linguagem que nãopertence a nenhum períodoou época e que soa comolegendas traduzidas. Depoisde o baronesa se contorcerno cama. ela persuadeBogaide a matar mais ummembro de sua família.Cumplicidade . anuncia ele,

em sua angústia habitual.Visconti pontua estupros eassassinatos com diálogo donível de Eu te imploro,Konstantin , e Fique calmo,Konstantin, o golpe de Estadofalhou. Martin, ohorripilante psicopata comdois pares de sobrancelhas(as próprias e as fininhas quepintaram por cima), queixa-se à sua mãe de sua vontadede subjugar-me a qualquerpreço . Na verdade trata-sede uma história do meninobonzinho que ama a mã e queé má, e que o emascula e otorna decadente — oromance básico mãe-filho daliteratura homoerótica,fantasiado, de travestinazista". (Michael VVood, TheNew York Review of Books)

HENRY KISSINGER

Sempre

houve um prin-cípio básico queHenry Kissinger seguiu

desde que se tornou oprincipal conselheiro deRichard Nixon em políticaexterna. Desde o começo elepercebeu que, se um dia elese desentendesse com Nixonsobre um assunto mais sério,esse desentendimento nuncadeveria ser revelado aomundo exterior, nuncadeveria tornar-se um artigo

de primeiro pagino doWothtngton Pott sobio quese isso acontecesse suopoifogem pelo Caso Broncoseria curto. Ele serio banidortõo porque Nixon fosso idoarrogante o ponto de nôoouvir os que lhedesagrodavom, mos porque 6um homem tõo inseguro queo menor sínol de discordânciopúblico serio interpretadocomo um ato de desleoldode.sinal seguro de que o con*selheiro nâo fazia mais

parte do equipe . John F.Kennedy encorajava acontrovérsia e a argumen*tação no esperança de quefizessem surgir a verdade.Richard Nixon consideratanto a controvérsia como aargumentação irritantes, oque perturba o perfeitofuncionamento do suaburocracia pessoal. Issosignifica que Kissinger deveser muito cuidadoso com oque diz o Nixon. mas tem queser ainda mais discreto aolidar com seus amigos daimprensa de Washington.

Diante de um tal senhor, omóis sensato teria sidomantê-lo o mais possível foroda vista e assustar a impren-so com a imagemdesagradável do professorteutônico. De fato. durante osprimeiros dias do governoNixon, Henry Kissinger erauma—figura muito maisapagada do que é hoje, nuncaaparecendo na televisão.

-recebendo os repórteresdiscretamente. Mas sejaporque a perspectiva de umatal fama fosse completamen-te irresistível para a suavaidade, ou porque Nixontivesse percebido logo que.com Kissinger como caixeiro-viajante, sua política externaapareceria muito maisrazoável do que se confiada aRogers ou a Haldeman.

¦) Kissinger emergiu dossubterrâneos da Casa Brancae rapidamente galgou opináculo do estrelato naimprensa, no qual permanecedesde então.

Contudo, depois de terdado um dilúvio de infor-mações sobre o que elepensa e sente, como tem feitonos últimos quatro anos,depois de ter dado inúmerasentrevistas coletivas à im-prensa, para a maioria dosjornalistas, e entrevistas econversas amenas para unspoucos privilegiados; apósum grande número de jan-tares com os magnatas daimprensa de Washington,convidado na esperança deque o conhaque e os cigarrospudessem arrancar a verdademuito melhor do que asperguntas diretcs feitas nafrieza da Casa Branca —apesar de ele ser talvez omais loquaz conselheiro

presidenciol na histeriaornei «cano nõo houve umaúnico ocosiõo em que osforjodoret de escândalospolíticos pudessem diier. comolguma segurança, quetivesse havido uma cisãoNíxon-Kissinger Tem havidomuitos boatos de que ele foiconiro o invasão do Camboja,o colocação de mi nos emHaiphong e os terríveisbombardeios no Vietnã doNorte em dezembro último,mas tais boatos nunca foramparo frente.

Em parte porque HenryKissinger é um mestre no ortode dizer a diferontes pessoasoquilo que elas querem ouvir.Num caso como o do Com*boja. no qual seu ponto devista nãocoincidio ínteiramen*le com o de Nixon. elelevantou umo cortino defumaça de declaraçõesconflitantes sobre o que elerealmente pensava. A umdeputado republicano deNebrosko ele diz que a in-vosão era necessária parasalvar vidos americanos, porofozer pender a balançamilitar contro os comunistas epara se alcançar uma pazhonroso . Com um acadêmicoliberal ele fica cheio decuidados, duvidando de queos benefícios militarescontrabalancem os danos,tanto para o Camboja comopara os Estados Unidos. Essetipo de converso dúbia temsempre sucesso. Essasdeclarações conflitantes sófazem espalhar confusão eincerteza.

Mas

a capacidade deenganar de Kissin-ger vai além dessas

trapaças. Baseado em que,quanto menos as pessoassouberem sobre suas con-vicções básicas menosestarão em condição depredizer, com alguma base,qual é a sua posição sobrequalquer assunto específico,ele tem dito muito poucosobre o que realmente crê etem dado uma quantidade deinformações espúrias, asquais, embora parecendo daruma idéia do que vai dentro"dele, revelam-se, num examemais apurado, coisa banal.Essa espécie de informação éde dois tipos, cada umaemba'ada pcra servir deapelo a um certo gênero dejornalista freqüentementeencontrável em Washington.Primeiro, há uma categoriade informação para o escritordo tipo James Reston. É ainformação ligada aoKissinger rei-filósofo da

. diplomacia mundial, infor-mação prenhe de verdade deuma- amplitude quasemetafísica. Assim sabemos

quo. como Metternich.Kissinger esto em busco deum mundo regulodo por umequilíbrio ideal de poder, ummundo onde. sempre que oequilíbrio for perturbado, opróprio sistema tenho umocapacidade inoronto poroprover o exoto ontldotonecessário á restauração daharmonia. Sobemos tambémque ele é um bismarquianono sentido de perceber omundo num estado do fluxoconstante . onde a definiçãode equilíbrio está sempromundano e no qual o poderdominante (isto é. os EstadosUnidos) deve agir constan*temente para prevenir ocaos. Ele é tombemgoullista . no sentido de

acreditar que no âmago dosistema internacional está anação Estado realizando seudestino histórico, mais do queo estadista racional per*seguindo os ditames dealguma ideologia. Num nivelum pouco menos obstrato.ele é um arquiteto dadoutrina Nixon , alguém

que acredita que os EstadosUnidos devem fazer menos'no mundo e que as outrasnações devem fozer mais ; ediz que o sua diplomaciasegue o principio da inter-dependência . segundo oqual o resultado denegocíoções em qualquerparte do mundo depende doque está acontecendo noresto do mundo.

No

outro extremo doespectro das in-formações, tão

especifico e concreto comoseus princípios gerais sãoobscuros e vagos, há omexerico de alta classe, asmigalhas da grande mesadiplomática que constituem oprato de resistência dojornalista de Washington dotipo voyeur. Kissinger dá aentender que prefere passaro fim de semana com Le DucTho do que com.o presidenteThieu, que Brejnev é uma boacompanhia, que gosta de usarcasacos esportivos e dedirigir -carros velozes,enquanto Chu En-lai é umaristocrata fastidioso davelha escola. Fica-se sabendoda logística das viagensclandestinas de Kissinger aParis e a Pequim, comoconseguiu ir a Choisy-le-Roisem ser visto, como con-seguiu enganar a imprensafazendo pensar que estava noPaquistão quando de fatoestava em Pequim, e assimpor diante.

O Henry Kissinger queemerge desses dois níveis éuma não-pessoa cujascrenças básicas — os temores

continua na página 13

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EDIÇÃO SEMANAL BRASLERA II

I t Wí#mt 0 advogado da"transideologia"

n.» 2S 23 o 29 de obrll de 1973 a roo «os Iioííoas li HtH 9o Tal, 7 709 «10

30 anos do gueto de VarsóviaN 9 -.*!-*:¦ I*) de abril dt? 1943.

> ecneral SS loergen Sif*i«*f» nioestasa prosando na festa tia Páscoaque s« aproximava. Em seu quartel*general, ele preparava a - - .sio que lhetinha sido cunhada As seis horas damanhã. 850 soldados e 10 oficiaisentraram no gueto de Varsóvia. Oscinco pnrociros minutm da ação se

Essaram num silencio mortal, üãa

sia ninguém nas tuas d<> gueto Ji naséspera. sisnandoolocal v- *; tinhanotado esse silêncio c compreendidoque os judeus des iam ter sidoprevenidos do que se tramava contrades. Podia-se esperar alguma surorcM.

Mais tarde. Stroop diria a karimtcrzMoczarski íem lonvroocoei com oCarrasco, revista Odra. Wroclaw.1972/73): "Os judeus nos pregaramuma peça e von Sammern (comandantedas tropas que invadiram o gueto), queacreditava estar dando um passeiopelo gueto, foi recebido com fogocerrado e bem dirigido. Depois dessasaudação o terror tomou conta dosnossos. Mas os oficiais de von Sam*mern empurraram a coluna para afrente. Começou um verdadeiro infer*no. Judeus c arianos se defendiamativamente. Judeus e poloneses, poisconstatamos que entre eles havia livre-atiradores poloneses.. Esse idiota dc»t>n Sammern tinha mandado colocarnuma pequena rua, cheia dc casas, umtanque capturado aos franceses e doiscarros blindados SS. Os insurretosjudeus atiravam contra o tanque e oscarros blindados, cobrindo-os decoquetéis Molotov"

Por sua vez. Mareie Edclman. umdos judeus que se insurgiram, assimrelata os. acontecimentos daquelamanhã. 30 anos atrás:

"No dia 19 de abril, às duas damadrugada, nossa guarda avançadanos comunicou que a policia alemã e apolícia colaboraciònista estavamcolocando sentinelas a cada 25 metrosna parte extrema dos muros do gueto.Imediatamente alertamos todos osnossos grupos de combate, que às 2h15m estavam em seus postos. Apopulação civil, que nós alertamosimediatamente, dirigiu-se para abrigose esconderijos preparados com an-tecedência. O gueto estava deserto.Somente a Organização Judia_ deCombate velava. As sete da manhã, asforças motorizadas alemãs, comtanques e carros blindados, entram no

gueto. Do lado de fora, os alemães

Koiimiorz Koiniesvski

dispõem a sua artilharia Os SS jács!** prontos para o ataque. Pisandolorte na pastmcntaçi» da» ruas. despenetram no centra do gueto deserto»Nós espera»an -. o momento com*binado Quando os alemães se tas*ralaram no cm/amento das ruas Milae Zamcnhoff. nossos grupos decombate, entrincheirados nos quatrocantos da rua. abriram, como se di* emtermos milrtarcs. um fogo concentrado.Granadas dc nossa própria produçãocomeçaram a explodir, rasadas dcpistolas automáticas cortavam o ar. Oprimeiro tanque pegou fogo com aexplosão de uma de nossas garrafasincendiárias. A sorte dos alemães,fechados no cruzamento Mila-Zamcnhoff. estava selada. Nem um sósaiu dali viso. Assim começou tudo"

A primeira fase da insurreição durouseis longos dias. Diariamente, apósencarniçados combates, os alemãeseram obrigados a bater em retirada.

Mensagens nervosas chegam dcBerlim para os comandos cm Varsóvia.Os alemães começam a incendiarsistematicamente o gueto, deflagrandoa represália que acabaria causando amorte dc quase 20 mil pessoas. Asmoças e mulheres combatentesdespertam o terror e a admiração dossoldados inimigos. Capturadas, elassâo imediatamente fuziladas. Anosdepois. Stroop falará delas com amaior admiração, numa tardiahomenagem.

No sétimo dia de lata. os alemãesquebraram a resistência inicialapoderando-sc das ruas principais.Durante os 20 dias seguintes, inter-minàveis combates foram travadoscontra as fortificações subterrâneasorganizadas pelos habitantes do gueto.Nesses abrigos fortificados, a vida vaise tornando cada dia mais difícil. Ascasas incendiadas desabam soterrandoos que estão nos porões. Víveres emunições escasseiam. Os agentes deligação já não podem se comunicarcom o exterior. Os abrigos fortificadosvão caindo aos poucos nas mãos dosalemães.

Nas casas ainda não atingidas pelofogo, os alemães colocam explosivos.Nos andares superiores das casas em

chamas aparecem ssibos. mulherts ecrianças de»e*peradm eles saltam esio monos, na queda, pd»» ilbedensde elite das Ibfçss inimiieas Alguma»colhem atiram suas cn**»44-. para otadu "ariano" áa rua. na esperança deque mios generosas as tomem sob suaprotsejoa as escondam Muitos dentredes imãs muna poucos em proporçãocom a populatàa trancada tu» gueiujconseguem fugir para o "adi* ariano"e ficar sob a protetá» d«s poloneses. Eassim que alguns sobre* i»eram até ofim da guerra,

No dia 8 de mato. es alemãesconseguem descobrir e apoderar-se.após violentos e longo» combates, dosubterrâneo lortificado da rua Mila.n.° 18. onde estasa o quartel-generalda Organização Judia de Combate,principal centro de resistência. Osalemães conseguiram aprisionar uns 50insurretos armados. Alguns con*seguiram suicidar-se ames da chegadados nazistas, entre os quais MordechaiAntelessicz. de 24 anos. milrtanie doescotismo judeu e comandante dainsurreição do gueto, c Arníe Wilner.agente de ligação entre o comandanteda Organização Judia de Combate e oExército do interior.

A tomada da fonificação do n.° 18da rua Mila foi o episódio final dainsurreição. Mas a luta iria prosseguirainda por alguns dias. Combatesencarniçados pda tomada de outrosporões fortificados foram travados nosdias 12. 13 e 14 de maio. No dia 13foram liquidados 30 deles. A in-surreição se extinguia.

No grande espaço onde outrora seestendia o bairro judeu, ergue-se hoje cmonumento aos heróis do gueto. Todoano. no dia 19 de abril, os varsovianosvão ali depositar flores.

Toda a capital participaria, depois,da sorte do gueto. Hoje sabemos que ogrande levante de Varsóvia compreen-deu dois atos. O primeiro foi a in-^surreição do gueto, o segundo a deagosto de 1944. igualmente sem ajuda.e que envolveu todos os bairros damargem esquerda do Vistula.

A insurreição do gueto de Varsóvia.é hoje explorada de diversas maneiras.Alguns lembram como um exemplo eum apelo à concórdia entre os homens.Ao longo da história esse exemploconstitui a força que incita a lutarcontra todos os crimes cometidoscontra o homem.

O pragmatismo do SPD.alemâoFidelidade

à opção reformista,escolhida em 1959 no Congresso

de Bad-Godesberg, e renovação dosdirigentes partidários: é assim quepodem ser caracterizados os trabalhosdo congresso do Partido SocialDemocrata alemão (SPD) que acaba deser concluído em Hanover. Batida e

quase esmagada, em todas as votações

políticas importantes, a esquerdarecuperou-se na sexta-feira por ocasiãoda eleição do comitê diretor. Elaconseguiu atrair para si um número dedelegados suficiente para derrotar umcerto número de "caciques" do par-tido, como Ahne Marie Renger,

presidente do parlamento, e EgonFranke, ministro das Relações In-teralemãs. Ao mesmo tempo os JovensSocialistas (Jusos) e seus aliadosconseguiram uma penetração notávelao nível de direção do SPD, onde

passaram a contar com 11representantes sobre um total de 36.

Ao adotar essa dupla atitude(respeito pela tradição socialdemocrata e desejo derejuvenescimento), os delegados docongresso de Hanover manifestaramfinalmente o sentido das realidades ao

qual o chanceler Brandt os havia

convocado, no seu discurso de aber-tura. Nas atuais circunstâncias, teriasido uma temeridade, por exemplo,seguir a esquerda em suas tesesradicais sobre política externa, quevisam separar militarmente aRepública Federal dos EstadosUnidos. Por outro lado, também teriasido uma manifestação de irrealismorejeitar completamente e com desprezoos partidários mais decididos de um•'socialismo democrático"

Essa sabedoria deveria satisfazer,afinal de contas, tudo mundo dentrodo SPD: a esquerda e principalmenteos Jovens Socialistas, que vêem assimrealizar-se sua dupla estratégia; im-plantar-se solidiímente na base,conquistando ao mesmo tempo postosde responsabilidade na cúpula; osmoderados, que têm toda razão de sealegrar com a vitória do"pragmatismo" sobre a "utopia"; efinalmente, sobretudo, Willy Brandt.Empregando alternadamente alinguagem da firmeza e a da com-preensão, o chanceler soube reduzir, operigo

"esquerdista" às suas justasproporções. Reeleito por larga margempara a presidência do partido, ele sai

engrandecido da prova.A poucas semanas de encontros

diplomáticos importantes com opresidente Nixon. em Washington, edepois com Brejnev, na RepúblicaFederal, o chefe do governo de Bonnprecisava mesmo de um tal sucesso.Ele poderá dizer ao presidenteamericano que as tendênciasneutralistas dentro do seu partido sãoapenas marginais e que a RFA con-tinua sendo a "filha mais velha" daAliança Atlântica. Qu>nto aosecretário-geral do PC s/jvnético, terádiante de si um homem/com prestígioreforçado, evidentemente disposto aprosseguir e aprofundar sua política depaz, mas cuja margem de manobra élimitada.

Um avanço muito impetuoso daesquerda teria também indispostoseriamente, no plano interno, osliberais, aliados dos social-democratasna coalizão governante. O SPD, quedurante anos multiplicou os esforços eas concessões para chegar ao poder,mostrou em Hanover que pretendecomportar-se como partido de governoresponsável e não voltar às delícias daoposição.

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M« ^jnde significação do acordoMenu? a Occidental tare-eum e

u goserm* da Lnià» Sk.icnca — disseíntcialmenie Samuel Pisar — e que eleconstitui a primeira pedra dacoexistência amertcanosos-citca. apósa reunião de cúpula Nixon-Brejnev- é aconsolidação do que eu enamana deuma "poHiica de paz" por meiospragmáticos.

O acordo lança as bases de umacooperação para o desensolvimento deuma indústria química complexabaseada no gás natural, maisprecisamente no amoníaco, no carbonoe no potássio, que serão exportadospela União Smiética. Por outro lado.o contrato importa na compra dcadubos industriais para a agricultura -

russa, que t muito atrasada, pelo pe-riodo de 20 anos. Creio que é o mais im*portante contrato jamais negociado.

Naturalmente esse acordo deverá serseguido por outros para a construçãode fábricas, oleodutos e petroleiros.Mas ainda há muita coisa a fazer"

p _ Por que os sosléllco* fl/eramum tal acordo?

r _ A União Soviética é um con-tínente. como os Estados Unidos. Osdois países têm populações com-parávets e a mesma variedade declimas. Ao mesmo tempo, a URSSseencontra. 56 anos depois da Resolução,diante do seguinte problema essencial:como produzir em massa os produtosalimentícios e os bens de_ consumonecessários a uma população de 250milhões de* habitantes num continentetão extenso'.#Tal»ez mais importanteainda: como distribuir esses produtosalimentícios e esses bens de consumo?Ora. nesse terreno, onde está o grande

•exemplo histórico? Na América.

Fome de metal

O exemplo dos Estados Unidos ésignificativo para as necessidadeshistóricas da URSS. Os dirigentesdizem: pouco importa que a soluçãomais eficiente tenha sido inventada porcapitalistas ou por comunistas, o queimporta é que funciona. O agricultoramericano produz nove vezes mais doque o agricultor russo. As companhiasamericanas têm as dimensões, atecnologia, a extensão financeira e o

peso industrial necessários para nosmostrar como fazer, e para estabelecerconosco essa infra-estrutura que nosvai permitir alimentar e vestir nossapopulação.

Há evidentemente na URSS umaoposição bastante forte contra ocomércio Leste-Oeste, como aliás nosEstados Unidos. Na URSS há umPentágono, como nos Estados Unidos;e generais. Mas no aparelho soviéticotambém existem homens pragmáticoscomo Kossygin e Brejnev. De um lado,os ideólogos, os militares, e os""primitivos", dizem: ":>e_ vocês selançam nessa direção não haveráretorna Vocês perderão o poder". Osoutros respondem: "Com o equilíbriotermonuclear, nós não podemosganhar a guerra contra a América, e sehouver uma paralisia no planoideológico e diplomático, nós corremoso risco de despertar, daqui a 10, 15 ou20 anos, ainda mais atrasados do quehoje. Assim não temos escolha. Edepois, não se esqueçam de que houveuma explosão na Polônia e de que ostrabalhadores e as donas de casapolonesas foram para as ruas

" p/otestar. E isso levou à mudança dogoverno". a

Nos Estados Unidos, também,alguns acham que o conteres» c uminstrumento da paz e da diwensio. queele »eduz os riscos de uma guerralermumuslear» Outros dizem "Voei*

são ajudar os comunistas a criar umauitSdsirta eftsicntc e isso sai fclorçar osOffsso» inimigas e. a longo pram. elessio se soltar con.ra nós". Ets o dilemados dois lados.

P — Por que a pmsao do con-sumldor è mrd» fatie boje na URSS?

R — O consumidor russo já nio é omesmo. Depois da Resolução houve ofersor revolucionário, depois o terrorstahntsta. Hoje o sistema evoluiumuito politicamente e a consumidorousa esperar, t por isso que a FIAT foichamada para construir uma usina queproduzirá ÓóO mil carros por ano Masse soce toma essa dtrcçio. será precisoconstruir auto*estradas. hotéis,restaurantese postos dc serviços, ê umgrande paradoxo: essa sociedade deconsumo que a nossa juventudeocidental começa a odiar torna-se umaespécie de*ideal no Leste. Não é o casoda China, mas é o caso dos pequenospaíses da Europa oriental e também daURSS. Os dirigentes soviéticos sãoobrigados a dar uma resposta a essapreocupação.

Mas essa necessidade é reciproca. Osamericanos têm necessidade de vender.a situação internacional se complica, omercado mundial está saturado: aEuropa do leste, a URSS e a Chinaconstituem imensos mercados queainda não estão completamenteabertos mas que podem se abrir. P3rao industrial e o agricultor americano éexatamente o que eles encontraram naEuropa ocidental depois dasdestruiçòes da 2.» Guerra Mundial:um mercado totalmente desprovido eque tem fome de tudo.

Quem cederá?

P — Como vê o senhor a evoluçãodos dois sistemas?

r _ a União Soviética é muito maisdisciplinada do que a América, massua economia é mais fraca. A Américanão tem problemas econômicos gravesmas a sua juventude está em revolta.Então o problema é o seguinte: quemvai ceder primeiro? O poder russo vaiceder diante da pressão do consumidore do homem da rua? Ou será o sistemaocidental a ceder diante da con-testação?

Os russos acham que poderãodominar o consumidor, os partidáriosdos direitos do homem, os dissidentes,etc. Ouanto aos Estados Unidos e àsoutras potências ocidentais, achamque. apesar da revolta da juventude,será possível restabelecer "a lei e aordem", aproximar-se dos russos egarantir, graças a eles. a expansãoeconômica. A História julgará qual dosdois sistemas cederá mais. Mas euestou persuadido de que, com aaproximação econômica e tecnológica,os dois sistemas estão no bomcaminho.

P — Como se fará a adaptação?

R — Os russos sabem ou deveriamsaber que a integração no mercadomundial, os projetos comuns, o que euchamo de companhias "tran-

sideológicas" (companhias mistas comparticipação comunista e capitalistaigual), tudo isso é um caminho semvolta. Pois, se quisermos ser com-petitivos no mercado mundial, ser^preciso criar novos sistemas de gestão,preocupar-se com coisas como cor,desenho, embalagem, marketing.Porque para comprar é preciso vender.E nao se pode vender somente vodka,caviar e caranguejos. Ê preciso vendercoisas importantes e portanto adaptar-se.

Finalmente, numa era de tecnologiagalopante. você não pode ter umsistema econômico e industrial inven-tivo se os espíritos não forem livres. SeSoljenitsyn não pode escrever, se

continua página 13

.¦¦í--»Ta;j;; ;:-¦:-¦-¦'¦.. —

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Uma revisão da ideologia sionista?Va numero interior. <%r**nt>A

Haprlitt**. Usksnu um t+tsuh *M*t*tt •«»iuj«i« e e rttrecee lomada petoh....íh*««*i.. tlonkia tno Itreel iQDireito da sf an I orn I -\ «**sulr dam**se rttnrlutáu do estude dtstfc>*X»iíl..U

Sionistas pertencentes á ala

«•ctalUia e liberal do M«Htmcmo•*«.. Cirande Israel e **onst4erado». p-tseus a«liersirt<H, corno idealistas puros

atas* *-*¦•» da realidade", acham que<-*.tam»*s diante tie uma lemama de"wsisào «Ja historia do *.k*-iisrm'" com«• ohktoo «k iuuilíear e de legali/art««das as medidas de cspulsâo d«*spalestinos de suas terras, *¦•• pastado ers., tuiuro Haim Ikter. sionista esticialtsta. *TH*rc%c em um «le seu*,remas* "para justtfkar a infâmia ikIkrit e de Biraam. otâo sujando unidos mai* belos mosimcntut deressurreu'j.ul a htsi«Via d*»s povos". IXnBji Nir. um »!.**. dirigente* «!«• Mapam.socialista de esquerda e membro doprimeiro Parlamento de Israel, afirmaque nunea teria emigrado para aPalestina se 0 sionismo messe que verbaseado na expulsão dos outros. p«tis..'.-./ ele: **eu nune*a teria consentido emacabar com a infelicidade do meuesilb pnnucamlu uma nova tn*leiictdade. a espoliação dos direitos dcam outro post»". O escritor HanochBanov. sionista socialista, se indigna:"c uma calúnia grosseira, uma con*traverdade histórica, sustentar que osionismo se baseia, desde o seunascimento, na cxpropriaçâo e nasexpulsões. Os que afirmam isso são tãocriminosos como os que pretendem quea guerra •!•>•. Seis Dias nâo era umaguerra para a nossa, sobrevivência".

Polêmica

O debate gira evidentemente emtorno do problema das terras árabes ede sua sorte. O vice-presidente * doConselho de Ministros. Ygal Allon.declarou na tclceisào que o sionismonunca havia expulsado ninguém e que.em compensação, havia tra/ido bem-estar para todos, agindo "de maneiralegal c construtiva". Golda Meir. cmvárias oportunidades, refutouemocionada "a mentira segundo a qualo sionismo está baseado na expulsãodos árabes". Os jornais publicaramartigos com o objetivo de provar, com oapoio de números, que na época domandato britânico sobre a Palestina asexpulsões de camponeses árabestinham sido muito limitadas. Asituação depois da criação do Estadode Israel seria totalmente diferente. Narevista Hedim. ófgão dos Kibbutzimdo Mapam. Yossi Amitai. pesquisadorda Universidade de Telaviv e um doslideres da nova esquerda israelense (o

üiahi, «rakuSata* em setembro do anopassado que desde a fundação doEstado de Israel aiê 1 *» "mais de l&mil üf.i-io vbi«r cerca dc 18* md

3ue . >* »*• am em poder dos árabes m»

ia da aiacáo do Estado de Israel,loram espropnados com a ajuda dedilèrentes astúctas legais, esiden*lemenie por mutism sionistas",*"*«mcnic uma personalidade cuja«•piniào todo mundo esperasa per*maneecu até agora à margem dapofêmka; o general M«*hc l)a>an Suamodeoa wniributiâo a discussão :--..Icclai -i* em duas octttiões. que nào sedesia "ter medo dc realtiar «•sionismo" instalando judeus em iodo oterritório da liren-lsníel. letra an*eYsiral «Io p*no judeu.

Trabalha árabe

O grande debate sobre a natureza d«»sionismo, iniciado no anti passado,também se refere a utilização «le mão*de*obra árabe proveniente dosterritórios ocupad«H. Os primeirospioneiros sionistas achavam uuáo povojudeu desia assumir, ek próptjt'. todasas tarefas da economia Racional,mesmo as mais íngfaias. Essa tendin*cia hasia prevalecido desde l*M*S. anoda fundação do Estado de Israel, ase aguerra dos Seis Dias. sem que apequena minoria árabe que viriadentro das fronteiras do Hstado judeupudesse modificá-la.

Esse quadro sionista da sociedadeisraelense foi. quebrado depois daocupação de vastos territórioshabitados por mais de um milhão dcárabes. Certos ramos essenciais daeconomia israelense foram aban-donados pelos judeus e empregam umaporcentagem cada vez maior detrabalhadores árabes, que ganhambaixos salários e nào têm os direitossindicais mais elementares. "Esse nãoé o objetivo do sionismo" — exclamouAbba Eban diante do secretariado doPartido Trabalhista, por ocasião de umdebate sobre o futuro dos territóriosocupados.

O escritor Ychoshua Bar-Yossef.referindo-se à situação reinante naregião de Lakhich. peno da faixa deGaza. escrevia, em maio do anopassado, no Yedioth Aharonoth:"Aquele que não percebe o graveperigo que representa nossa transfor-mação em um povo de patrões, aqueleque não tem presente as lições daexperiência argelina, é simplesmentecego ou inconsciente. O perigoproveniente de uma mão-de-obraárabe que mora em favelas próximas àsgrandes fazendas (às escondidas dosinspetores governamentais, pois oshabitantes dos territórios ocupadosnão têm. oficialmente o direito depassar a noite em Israel) é 10 vezesmaior do que todos os outros perigos,

Amnon Kopeliuk

poiítkos e milüares. reunidos, Umpxsode patrões < allnal de contas, um{*.«*«» tem ral rc*.. e a terra pertence, emúlitma análise, aquele que a trabalhaf uma lei inc««*atcl da htstórta, I se'¦¦ -»podíamos »*¦¦•» eonsolar imaginandoque o emprego de operar*** árabes naconstrução era apenas temporário, não:••:,.:.» la/cr a mesma coisa em seiraiandti dc trabalho agrícola. Poistraia*se ai do próprio fundamento doEstado".

Km sua obra intitulada A Era duVihNucia, o pr«»lcssoe Y. Talmon.htste-riador de lama internacional. \êna transformação dos judeus empairôcs. diretores e contramestres de«•perários árabes nào qualificados aamarga ironia da falência viciai e11:01a; do empreendimento sionista:"Mu nâo sou chausinista a ponto deacreditar que o meu poso é o único nomundo que está livre .!• * perigos queamecam qualquer p*no que estejanuma situação semelhante à nossa".

Jeiscns formados no ideal sionistadificilmente suptinam o fato «k quede/enas de milhares dc operáriosárabes, privados den direitos fun-damcniaisdc que go/am os israelenses,deixem diariamente, de madrugada,suas casas nos icrritórios ocupados,para trem trabalhar em Israel,voltando ao cair da tarde. "O bem-estar obtido graças à grande vitória daguerra de junho de 19»7 não nos irouxeapenas vantagens" — escreve umjovem redator do órgão da Histadrut.(federação de sindicatos». NahumBarnea. "Tenho a impressão dc queestão propondo um novo sionismodiferente daquele que me ensinaram eno qual eu creio, um sionismo parasitado ponto de vista social, indiferente àsinfelicidadesdos ouiros. sem ambiçõessociais em relação a si mesmo e aos quese encontram sob sua autoridade, umsionismo enfim totalmente interessadonos êxitos tecnológicos e materiais e nopoderio militar. Tenho um grandetemor de que. finalmente, quandoformos ricos, fortes, belos e modeladospela ciência, perceberemosbruscamente que nos enganamos".Assim reage um jovem israelense, aquem ensinaram que o sionismo nàoaspira somente a proporcionar umabrigo ao povo judeu na Terra Santa,mas visa igualmente permitir-lhe viverem conformidade com os ideais

• humanos e morais mais elevados efazer do povo eleito um exemplo paraos goyim (os não judeus).

A situação contra a qual se insurgemo pioneiro Bar-Yossef e o jovem Barneaparece, pelo contrário, perfeitamentenatural aos mais jovens, estudantes do

primeiro e *«*gui '-¦• graus, que tkamuidtlerenies diante da erosão kma dosideais dos pnmeirm «unHias,

O caso das espulsóes dos' ->'¦¦¦•¦ -" -das aldeias de Ikrii e Siraam embenefício dos sionistas trouse à lur um«ronlltio entre a ra/ão de Hstado e os

• ¦ ;¦ •• »'•> ••- da justiça e da moral, eatingiu a imagem de Israel. O:•¦•!.»•...* Talmon siu nisso "a inter*«MÇÍode Saiâ"e "Ikou «-spantadoem0«nstaiar o seu poder", I k continua;"Ris que o gos cr no de um poso derefugiados que soltaram á sua pátriapn<ibe. pda força, que os etpuhosvoltem as suas casas c ás suas terras,Isso depois «le hater pnimctuloespressamcnie que eles poderiamsoltar para lá e quando a sua solta nâoacarretaria a salda de nenhum judeu".illaan-iz de b de *>**iemt*fo de l**"2t

Para justificar sua recusa definíiKa<"•.- permilir que os e\|Hilv*s de Ikrit e•k Biraam %««1taxscm a«n seus antigoslares, o gtncrno invocou o tem<*r dccriar um precedente,

"f proibido

reabrir cm l<f~2 essas páginas dahistória por causa dos perigos que issoencerra" — afirmou Israel Galili.ministro sem pasta e um d«n con*selheiros preferidos de Golda Meir. Osgenerais Dasan. Bar-Lev e Znrca. bemcomo certos jhiIíiícos. se espressaramno mesmo sentido. Houve.no entanto,israelenses que lembraram aosministros que temem "reabrir páginasamigas" que a regra segundo a qualnão se tem o direito de folhear mapasdo passado poderia prejudicar muito «1sionismo, na medida em que este seapoiar cm mapas do século XIII antesde Cristo e nâo de ltMh.

Grande infelicidade

A tempestuosa polêmica travada emtorno desse caso. na imprensa ou emreuniões públicas, constitui narealidade, no dizer dos principaisinteressados, um debate sobre osfuturos caminhos do sionismo e sobre ocaráter que lhe é dado pelos atuaisdirigentes de Jerusalém.

Pode-se dizer o mesmo da questãodos direitos do povo palestino, pois. naopinião de alguns intelectuais ehistoriadores, a maneira como forabordado esse problema determinaráas normas morais do povo judeu emIsrael. O historiador Ygal Eylam.especialista em história do sionismo,escreveu que a ignorância em que aopinião israelense é mantida quantoaos direitos do povo palestino éprejudicai ao Estado. Umamanifestação de boa vontade énecessária, acha ele, "sob pena de sever aparecerem as primeirasrachaduras na consciência de nossaprópria justiça, essa mesma consciên-cia que nos animou desde a aurora domovimento sionista. Enquanto con-

''.-¦¦- a ignorar esse ptobkma. ol»roctMO «k rr»nã. dm tomiamenon dacrença em nossa ;«-1 -*¦ * justiça seaeentuarâ. Ilà processos maisl**frit**«-«.»s que esse? A tealt/acáoprátka do sionismo nã«* p«dr seracompanhada pela opressão «uns*tentee organizada •?-*» dirritos de outroposo .

Ao lado da indiferençatestemunhada pd** tjtnernoem rela«âoaos direitos do poso si/inho. inspiradacm arjtumenios tirados da Healptdttik.sciue se que se dcscmohc em Israeluma cepevie de despre/o para com ospalestinos. E*sc seniimenio è ás tc/esmais forte que o ódio gerado pelaguerra, O desejo de "clkuJncia"

ganhacada »ev maior importância. O jor*nalista e escritor Am«*s Kenan. um dosconiestadon-s «Io regime, na Mia últimapeca «le teatro. 7«*tui Viuu /*.»*• SeutCamaradas, procura demonstrar, entre««utras cttisas. que o Eserctto de Isradsubstituiu os ideais. Segundo de. osisraelense*, já nâo tiram o seu orgulhodos intelectuais judeus. r**votta«l«ts ctvsolucionáritn. mas, pelo contrário,do*, generais e dos soldado*. Um dosseus pervmagens di/: "i:ks nâoquerem ver mais apenas mártires:agora eles aspiram á ctlctôncía".

l><-..r,;'.v.u.i"

A«n olhos de alguns, o primeirodesvio dos ideais fundamentaisapareceu com a primeira vitória cm104*. I-Ies citam a celebre frase deWVIlinghm. segundo a qual "a vitória tuma f-ramlc infelicidade, somente aderrota constitui uma infelicidademaior". Esse já era o temor do grandefilósofo c humanista judeu MartinBuber. no seu ensaio Sionismo eSionismo: "Quando, há cerca de meioséculo, eu entrei no movimento sionistapela ressureiçâo do povo de Israel,estava plenamente de acordo com omeu coração. Hoje aparecem nomovimento as primeiras falhas. Contraa minha vontade, eu participo de umaguerra e tremo como todo israelense.Mesmo com a vitória eu nâo poderiame alegrar, pois tenho muito medo dcque a vitória dos judeus signifique aderrota do sionismo". Essas frasesforam redigidas em 1948, durante operíodo mais quente da primeiraguerra árabc-israelense. Na opiniãodos realsionistas elas são. como amaior parte da moral de Buber.desligadas da realidade. Outros, entreos quais alguns sionistas puros, vêemnelas uma cruel profecia, formulada 25anos antes que aparecessem osprimeiros sinais de desagregaçSo doideal sionista.

Era inevitável essa evolução? Eisuma questão que terá de ser debatidapelos historiadores dos movimentosnacionais.

A reabilitação de uma vítima da revolução culturalHouve

uma dupla volta a Pequim:uma, com fanfarras, a do príncipe

Sihanuk. muito orgulhoso depois dasua viagem para visitar os guerrilheirosna floresta eambojana: a outra, discre-ta. mas que constitui um grande acon-tecimento do ano político chinês, areaparieão do ex-secretário geral do PCchinês Teng Hsiao-ping. Braço direitode Chu En-lai e até primeiro-ministrointerino em 1963, colaborador do ex-chefe de Fistado. Liu Shao-Chi, essehomem pequeno e de aspecto modestoque. durante anos. controlou o partido,sua organização e sua propaganda, fezuma entrada iiesitante e um poucotímida nas majestosas salas daAssembléia Nacional, após seis anos deausência.

Teng Hsiao-ping continua comoprimeiro-ministro. Na mesa dobanquete oferecido ao príncipeSihanuk. ele precedeu o venerávelmarechal Hsu Hsiang-chien, vice-presidente cia Assembléia. O. partido'perdoou o faltoso arrependido. Tendosido a personalidade centra! do famoso

trio que devia ser derrubado (Liu Shao-chi, Teng Hsiao-ping e Tao Shu), alvode milhões de jornais murais, ele era,ao lado de Shao-chi, "essa outrapersonalidade que. embora sendo dopartidp. tomou o caminho capitalista".Mas agora ele volta à superfície eassume responsabilidades. Não se sabeainda quais. No banquete de Sihanukele se contentou, sem estardalhaço, emapreciar os pratos e ouvir os discursos.

Esse homem, temível nos debates,talvez pouco à vontade diante de tantascaras novas ou antigos conhecidosreencontrados, preferiu apagar-se.

Mais de seis anos se passaram desdeque, em dezembro de 1966, a revoluçãocultural o obrigou a deixar as reuniõese as tribunas. Seis anos sem dúvidamuito penosos para o antigo agitador

•de Xangai, chefe dos guerrilheiros doKiangsi. um dos homens maisvenerados do partido antes da tomadado poder. O passado de Teng semdúvida contou pontos em seu favor; oheroísmo não pode ser esquecido assimtão facilmente. Mas talvez não tenha

Alain Bouc

bastado para obter a clemência dosjuizes. Teng, que havia começado a'tuividar da oportunidade de umamarcha para o coletivismo tão rápidacomo a do "salto para a frente", dizia,segundo alguns jornais murais, que"pouco importa que um gato sejabranco ou preto, «.rntanto que pegueratos".

No entanto Teng Hsiao-ping,colocado inicialmente no ir.esmo sacoque o ex-presidente Shao-chi, logofoi separado dele. Liu foi acusadode, num período difícil, ter entreguealguns homens ao inimigo doKuomintang, Mas ninguém nuncaduvidou da lealdade de Teng. E aindamais, não tinha sido ele que, em 1957,em 1960 e principalmente em 1963,com a plena confiança de Mao Tsé-Tung conduzira a luta ideológica

contra Moscou? Em 1962, MauriceThorez o atacava expressamente.

Para que cessassem os ataquesabertos, Teng teve, sem dúvida, quefazer uma autocrítica. Exercíciopenoso para um homem que já estavano auge da glória e de repente éobrigado à extrema humildade.Evidentemente o seu afastamento teriadurado menos se não tivesse surgidouma linha "esquerdista"

que serecusava a reintegrar os quadrosdepois da autocrítica. Para que aoperação de reabilitação tenha plenosucesso, será preciso que Tengrecupere aquela segurança que tinhafeito dele um polemista temível e oadversário implacável de Moscou e doseu ideólogo Suslov.

A volta de Teng consolida a equipegovernamental. Existem agora quatrovice-primeiros-ministros: Li Hsien-nien, Nie Jong-chen, Li Fu-chun eTeng. Todos estavam presentes aobanquete na Assembléia. Talvez sejapreciso acrescentar o velho Chen Yun,também primeiro-ministro nominal,

mas que dizem estar doente.Mais importante do que o governo é

o partido. Ora, quanto a isso. a noitedo banquete talvez tenha marcadouma mudança. No grande hall deentrada do Parlamento, o príncipeSihanuk mostrava, antes da cerimônia,as fotos trazidas do Camboja. Estavampresentes as mais altas personalidadesdo regime. Chu En-lai evidentementeestava ao seu lado. seguido de pertopelo marechal Yeh Chien-ying, maslogo após os dois estavam os jovensdirigentes de Xangai, Chang Chun-chiao e Yao Wen-yuan, e também LiTe-sheng, comissário político doExército, e Chi Teng-kuei, suplente doPolitburo. Depois, Li Fu-chun. E bemmais longe, atrás. Li Hsien-nien.

Essa ordem era proposital. Elaindica que os septuagenários delegamagora suas responsabilidades aoshomens de 50 anos. Não dá.ainda paraformar um novo Politburo completo,mas talvez, dentro de algumassemanas, se possa ver mais claro.

Page 13: DALTON TREVISAN, - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/123307/per123307_1973_00026.pdf · pensamento lewiniano, a psicologia do "Gestalt", a terapia centrada no cliente, de Rogers, com

13

Colômbia: uma reforma agrária sem êxitoA

imagem tradicional da Colômbiamoura m honsen* carre*tiniu um

cesto. -'•«> om facie na ciniwra.eoOiendo um a um «h **'¦*•• de cale,que nascem na* encosta* escarpada*da coidilhctra central. I sombra da*bananeira*, A matona dele* recebe 30pesos pot dia laprotimadamcntc 7crurctroxi quando moram na :';•->plantado, nu ganham por *uaprodução no caso dr serem"iitncrantc*". nume dadu àquele* uue.;• ¦« lalta de icrra »u de trabalho.pa**am de uma colheita a ouira,

Cada família tem oito. 10 ou mc*mo12 filho* que nin freqüentam, em *uamaioria, alfm du* dor* primeiro* «no*da escola primária. A monalidadeInfantil, embora tenha diminuídoconsideravelmente, ainda atinge 68criança* em mil, Dut* terço* da*criança* de meno* de cinco ano* *iomal nutrida*. *egundo os dado*oficiai*. No entanio. nào è tão raro umpusio de *aàde. mesmo no* lugaresmat* retirado*.

O governo de Mi*ael PauranaBorrem mo*trou-*e muito satisfeitocom o fato de no fim de l *"2 o café tercomeçado a deixar o lugarperigosamente preponderante quetinha, até então, na pauta de expor-laçâo do pai*. I na realidade, o* dadossobre o comércio exterior *ãoeloqüente*: apesar de um preço devenda excepcionalmente favorável, ocafé não representou cm I9"*2 senão52% do valor total elas exportações,contra (j4»é cm l*T| e 91% em l%0.Ik- 'ip milhões dc dólares cm 1971, asexportações passaram a ?93 milhõesem 1972.

Graças ao dinamismo do comércioexterior que sc reflete no grandecrescimento do produto nacional (7,5%ao ano), o governo prevê que poderácriar empregos industriais suficientespara absorver a massa de camponesessem trabalho que aflui para asfavelas dos centros urbanos. O governoaposta no desenvolvimento, mas semassegurar uma verdadeiraredistribuição da renda. Daí algumaspersonalidades, dentro dos doispartidos no poder, duvidarem de queum crescimento desse tipo possa tra/ero progresso social.

Na opinião desses, as injustiçassociais chegaram mesmo a se acentuarno ano passado devido à alta dospreços (16%) que ultrapassou oaumento dos salários, avaliado pelo

ministro de fkunomia em h' Poroutro lado. a relorma agraria, que c dointeresse da metade da populacà»eutombtana. encontra-se praticamenteparalisada,

Pa*irana joga a responsabilidade noCongresso que nà« aprovou um projetolc*tinad em ; *¦• • . ; a retomar a

reforma agrária Na realidade, tudoindica que a relorma agrária tenhasido freada pelo próprio governo; entrejaneiro de l*»"o e março de li*2apena* "W hectares de terra !<»rmamexpropriado*. Em outubro do ano;>.¦¦¦¦'¦ o gerente*do ln*tiiuioColombiano dc Relorma Agráriatl.NCOKA). Zcmhrano Campo, pediudemissão, censurando o governo porlhe recusar o* meio* financeiro*necevváriu* ¦• acusandu us pruprietáriuvde icrra de tentar devmenbrar o Ins»titulo com a criação de novo* órgãosespecializado*. Ainda não foi colocadoninguém no lugar de Campo.

A relorma agrária, lançada em !%1por l.Icras Kesircpo. chefe do PanidoLiberal c ex-presidente lanterior aPavtranal. estava, cm verdade, viciadana sua base. "Quisemos fa/er umadistinção, deixada para posteriorapreciação do INCORA. entrepropriedade* bem e mal explorada*"— disse Dia/ Callcjav. vice-ministro daAgricultura no governo de LelcravRcsirvpo c senador pelo departamentode Sucrc. Em caso de terras bemexploradas, av exceções previstas sãotão numerosas que sua cxpropriaçào ¦•praticamente impossível. Os com-promissos anteriores com oslatifundiários deformaram o projetoinicial. As indenizações decxpropriaçào. ao invés de serem pagasem bônus de 15 anos. como estavaprevisto de inicio, tiveram 20*6 pagosimediatamente e o resto em oito anos"."A cxpropriaçào tornou-se umatransação comercial comum". Cercadc 120 mil títulos de propriedadeforam atribuídos sobre terrenos in-cultos, enquanto que apenas ll.r00famílias se instalaram, em 10 anos. emterras imediatamente úteis que haviamsido compradas ou expropriadas."Apesar das condições favoráveis quelhes são oferecidas, os proprietáriosnão desejam vender suas terras,segundo declaração de Diaz Callejas.Isso porque a terra, além de lhes dar opoder econômico, lhes garante seustatus social. Na realidade, umaverdadeira relorma consistiria na

Charles Vonhecke

eipropriaçio da* grande*propriedade* bem etploradã*. poi* foinessa* que o fntado eon*trutuestradas, ler trabalho* de imitação eín*talou eletricidade, E é em solta da*terra* de grande exploração comercialque *e encontra a ma**a do*mtnilundiárto*".

A reforma da reforma agráriaelaborada por Pastrana previa umabrandamento do* procedimento* paraaquisição de terra*, dando umadefinição mat* precisa «fo que seriama* terra* bem ou mal explorada*,insiiiuidu um impo*to sobre apropriedade urbana e rural parafinanciar a compra das propriedade*ma* aia*tando qualquer ptmibiltdadede espropriar o* produtores dc bensque sejam do tnierc**e nacional,preservando, com isso. os criadores degado e os grandes capitalista* rurais,Ks*a relorma foi combatida noCongresso por uma coaltrâo demembros da ANAPO «AliançaNacional Popular, partido populista)composta de conservadores que scopõem a qualquer reforma e de algunsprogressistas insatisfeitos com asmodificações propostas.

"A reforma agrária e av acusaçõesde Pastrana ao Congresso, tudo isso épura retórica, apenas palavras paraserem exportadas" — segundo aoposição. "Como é possível que hajareformas quando o poder permanecenas mesmas mãos? Sena necessáriouma revolução para aplicar alegislação existente* ?

A história da ANUC «AssociaçãoNacional dos Camponeses», criada em1970 por Lleras Restrcpo paraenquadrar a classe, mostra bem asIrustrações e revoltas provt>cadas pelaspromessas não cumpridas da reformaagrária. Inicialmente, a associaçãoreuniu meio milhão de camponeses queelegiam seus representantes nos órgãosde credito e comercialização agrícola.Os especialistas em promoção,nomeados pelo governo, iam ao campopara educar os camponeses. Ainiciativa era audaciosa. Segundo umdos colaboradores da ANUC, "opartido liberal compreendeu entãouue uma organização camponesa eraum meio de pressão necessário para

acelerar a reforma, a qual ao melhor ar,o padrão de sxJa d H -. '¦¦••• e*. deves*mcuffcf para a **p*n*â** d»» marcadointerno. indtvpen*à*cl ao t**eo*mcntodos produtos manufaturados".

v. decorrer de seu trabalho, no< n» *f : ¦ em comam com a miséria do*camponeses, algun* funcionário* dapromoção se radicalizaram O* grupo*de esquerda, espectalmenie o PantdoComunista, enviaram seu* quadro*para

'trabalhar" a* massas rurai* A*insasõe* dc terra* *« multiplicaram,sobretudo na costa atlântica, ondepredominam a* grandes fazenda* de«.nação de tradO: Desde 19*1 a*palavras de ordem da ANUC sio muito*claras; "A terra para quem arrabalha" "Expropruçào sem in»dcni/acào",

O governo reagiu podando pouco «pouco «s atividade* da associação,desacreditando o congresso que amesma rcah/ou cm |u!ho de IT2 emSmccleio. na costa atlântica, ondeloram reafirmada* reivindicaçõesradicais; c organizando ele põprto umoutro congresso, em nmembro. cmArmênia, com novos comitê* «*t»m-posto* de proprietários

"reformista*" ede funcionário* burocrático*.Atualmente coexistem duasassociações — a oficial c arevolucionária.

Terão as revoltas camponesasprovocado o grande medo dosproprietários? De qualquer forma elasderam um pretexto para que osproprietários passassem á ofensiva:organização de gruptH armados, ásordens d»>s latifundiários, e repressãodas marchas camponesas de setembro.O próprio Lleras Restrepo respon-sabilíza ao mesmo tempo osextremistas de esquerda e os conser-vadores pela atual paralisia do IN-CORA. "Ao

quererem fazer arevolução — disse ele — retardaram areforma". Ouando faz o balanço doINCORA. o ex-presidente se mostra deuma prudência notável, muito menosradical que em alguns de seusdiscursos.

A seu ver. o balanço é positivo."Com medo de ver suas terraspassarem às mãos do INCORA — diz.ele —* muitos dos proprietáriosmodernizaram suas explorações.Graças ao INCORA. temos agora ostécnicos que nos faltavam, bem comoum melhor conhecimento do pais.Sabemos que a terra cultivável não éabundante'*.

"A mciade 4o nosso lerritiSfio —*prossegue Restrepo — é composta dtlloresta* tiopkat* úmida* uu dtptanket* inundáveis, com solo* poucoicftct* e onde a técnica nao foiaplicada, A costa pacifica é muitoâmida* Nu centro, há grandenece**idade de* reflorestamenio.Quando *c fala de* latifundiário*, ènccsrssârio ver dc que Kiiifdndio « estáfalando, Muitos dele* vào inacesvivct*.nio ligado* au mercado Dividido* nâoresolvem nada. poi* *eria necessárioinvestir muito neles par * tomá-lo*produtivos, f hem verdade que emcena* áreas ¦ soncentraçâo i excessiva,mt* ri «o conheço nenhuma reformaagrária que lenha sido feita com uma*/> 'et ê muito dilkil (á/cr umareforma agrária que náo veja tec*ntcamenic um insucesso",

\t.:.l<f4» »¦

Cma tal moderação contrasta coma* análises habituais, f o própriodepartamento nacional deplanejamento que laia dos"desequiübrtiks devidos à concentraçãoda terra, da renda e dos recursosfinanceiros", fornecendo os seguinte*dado*: 70% vio* proprietários detém5.6% .da superfície agrícola: cerca dcO"*"*- deles detém sozinho* mais de **2%

dessa superfície.De acordo com as estatísticas

oficiais, durante os 10 primeiros anosda reforma agrária as terras não sódeixaram de ver redistribuídas comoaumentou ainda mais a concentraçãodas mesmas. No departamento dcAntioquia. as propriedades com menosde 20 hectares tiveram sua superfíciediminuída em proporções que variamentre J.S"'» e 42.3""';. dependendo de seutamanho, enquanto as propriedadescom mais de 20 hectares aumentaramem proporções que chegaram até176°a. O resultado dessa concentraçãofoi o êxodo para as cidades, gerando,consequentemente, uma multidão dedesempregados em Bogotá, que vivemde esmolas, roubam, dormem nascalçadas, vendem de tudo. desdecigarros a bilhetes de loteria.

"O governo deseja transferir*, a

população rural para as cidades a fimde aumentar o contingente de mão-de-obra industrial — declarou umsenador. Mas não se cria um mercadopara as indústrias com os camponesessem terra e os desempregados dasfavelas".

A"transideologia"continoação da página 11

Rostropovitch não pode jogar, seAmalrik precisa partir para a Sibéria,

. então os inventores não podem inven-tar, os diretores não podem dirigir, ohomem que se ocupa do mercado e dadistribuição não pode tomar suasdecisões. Se ele for judeu ou lituano, ouucraniano, terá ainda outrosproblemas.

ê aí que há um preço ideológico apagar, que o comércio e a ideologia setornam intimamente ligados.

P — Onde estão os heróis?

R — Hoje há uma mudança porcausa da situação Leste-Oeste: o pai játem alguma coisa a dizer ao seu filho.Por exemplo: Onde .estão os seusheróis? Á China está comprandoBoeing, está apelando para as com-panhias americanas. O que a Rússiaquer é uma sociedade de consumo, amesma que você odeia. Portanto osheróis dos seus heróis somos nós.

Talvez eu esteja exagerando, mas é averdade.

A meu ver. o problema do futuro ésaber se podemos propor aos jovensocidentais uma causa digna de crédito,que os leve a^trabalhar, edificar umaestrutura de paz. Os jovens não gostamdo homem de negócios. Mas este éapenas um instrumento, como umcomputador. Não pode ser um ideal em' si mas é uma fonte de inteligência e deenergia. A questão é saber se ele podeser utilizado. A meu ver, ele pode ser o

cimento da paz. O cimento não ébonito mas a construção o é.

ê pois essa a nova fronteira: aSibéria, a China, o mundo menosdesenvolvido. O desafio americano estáse mudando do Ocidente para oOriente.

Transideológicas

P — Que papel o senhor atribui aessas companhias "transideológicas"de que falou há pouco?

R — Elas aliam, por um lado, odinamismo, a energia da empresaprivada, e. por outro, uma mão-de-obra qualificada, barata edisciplinada. Quem poderia fazerconcorrência, por exemplo, a umacompanhia que unisse o capitalismoalemão, com sua eficiência, sua tec-nologia e seus recursos financeiros, aum parceiro húngaro com sua força detrabalho qualificada, recursos naturaisbaratos e.uma mão-de-obra que nuncafaz greve? Para construir uma refinariade açúcar na Tunísia ou no Egito,nenhuma empresa poderia lhe fazerconcorrência.

Eu mesmo formei várias dessascompanhias transideológicas. AHungria modificou sua legislação parapermitir a constituição de tais com-panhias. A Iugoslávia já o havia feitohá muito tempo. A Romênia o fez em1971. E a Polônia está preparando umalei semelhante. Os russos ainda nãochegaram aí, mas com eles nóstrabalhamos por contrato. Encon-

tramos fórmulas para não ferir areligião e a ideologia comunistas.

P — Qual seria o papel da Europanessa cooperação Leste-Oeste? Omercado soviético não vai ser açam-barcado pelos Estados Unidos?

R — Não se trata de uma conferên-cia de Yalta econômica entre aAmérica e a URSS. O que acontece éuma normalização. Durante os longosanos de guerra fria. a Europa ocidentalcomerciou com a oriental, que setornou, de certa maneira, a reserva decaça dos europeus, enquanto osamericanos, preocupados com asegurança do "mundo livre", com osistema defensivo do Atlântico Norte,etc, não queriam dar aos homens denegócios a liberdade de comerciar como Leste. Agora, depois das conferênciasde cúpula Nixon-Chu En-lai e Nixon-Brejnev, essa política mudoubruscamente, e os americanoscomeçam a se manifestar no mundocomunista. Devido à escala dos doispaises, a URSS e os EUA aparecemcomo parceiros complementares enaturais. É pois uma concorrênciaséria para a Europa ocidental. Mas asituação está se normalizando e é issoque é bom. Porque, sem normalizaçãoentre a América e a Rússia, a distensãonão é possível.

Papel da Europa

P — O senhor é partidário de umaespecialização, os americanoscomerciando de preferência oom aURSS, e os europeus ocidentais depreferência com as democraciaspopulares?

R — Haverá uma repartição dessetipo. Se a América desenvolve suasatividades com a Rússia e a China,necessariamente a Europa ocidentalirá trabalhar mais com a Europaoriental. As duas estão na mesmaescala. E isso pode ser excelente para aEuropa. Pois,

"finalmente, os pequenospaíses da Europa oriental se sentemeuropeus. Eles estão ligados à URSSpor acidentes da História e pelosresultados da Segunda GuerraMundial. Mas economicamente,culturalmente, geograficamente, essespaíses pertencem à Europa.

Isso me leva à conferência européiade Helsínqui. Uma das melhores coisasque essa conferência pode fazer écomeçar pelas questões pragmáticas docomércio e da cooperação, das "armasda paz". Até agora foi negligenciado odesenvolvimento das regras, das ins-tituições e dos conceitos, baseada nosquais uma coexistência a longo prazopode ser organizada entre duaseconomias de estrutura diversa. Nomeu trabalho quotidiano, ficoassombrado ao ver que não existemregras que permitam uma relaçãoeconômica produtiva entre umasociedade baseada sobre a propriedadee a empresa privada e uma sociedadebaseada sobre a propriedade pública.Por isso eu propus uma carta para acooperação Leste-Oeste.

Sobre os problemas dos projetoscomuns, dos direitos autorais, dasolução dos litígios, da negociação doscontratos, eu submeti propostas avários governos. Várias delas foramincluídas no tratado comercia!assinado entre a URSS e os EUA, nodia 18 de outubro de 1972. Nesse

domínio, a conferência de Helsínquipode representar um papel capital.

continuação da página 10

e preconceitos que deter-minam a verdadeira forma doseu pensamento — per-manecem obscuras: semdúvida, é exatamente o queele quer. O rei-f ilósofoaparece como um homemcujas crenças provêm davalidade de princípios bemexperimentados, cujo sentidodo que deve ser feito derivanão de um envolvimento como mundo como ele é agora

continua na página 14

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O paraíso dos aventureiros

Morlife SimonsThe Weshingren fett

ílersasvc ser Vesco ilc noso UucmaVmahMdcriajtastarlaniodinhd.

»•¦ aqui na Costa Ktva? Di/cm que oprece è :..* rtitlInV. de dólares". Oaqui na Costa R ¦ Di/cm que o preçi*i : * milhtVv de diMarev". Ocvtmcniáriodo comerciante de San Josérvlcrc-M? a venda rc|Hfntina da c»n»cevvào tia üull Oil. há duas semanas. Atransação incluiu -Kl pttstov de gasolinac um terminal mariiímo. mas ocomprador foi uma pequena com»panhia prupriciária tle dois novim de..,-..-.., 4 Cart S.A,

Outros negócios realizadosrecentemente na Costa Kica e queprovocaram a curu>sidade popularloram a nmtcritna compra da la/endacalecira 1:1 Molino. há um mês. e acompra — por

"alguém" — de 4tr*# doRosai Duich lloicl. o maior de SanJosé.

CtHia Rica — a mais aconchegante,democrática c prugressisla dasRepúblicas da América Central — estásolrcndo da "febre Vcsco". Todatransação comercial de importância,alualmenie. c atribuída ao investidornorte-americano Robert Veseo. Kstchomem, que está investindo e residindona Costa Rica. é acusado jx>r umacomissão lederal dos EUA. que oresponsabiliza pela aplicaçãoIrautlulenta de US$224 milhões cmfundos mútuos, quando era um dosdiretores da IQS (Investors OjerseasServiccsl."Estamos obcecados |*>r Vesco.parece que ele está em unia |>arte".lamentava um advogado na semanapassada. "Tinia ve/ que um pedaço delerra é vendido «ui algumas açõesmudam tle dono. comenta-se: 'Deve serVcsco de novo' ".

Os boatos sobre Vesco em San Josépodem ser exagerados, mas a chegadatlesse norte-americano a este pais demenos de dois milhões de habitantesteve realmente eleito drástico. Duranteos últimos meses ele jogou pelo menosUSSbl.l milhões na pequena economiado pais lo Produto Nacional Urutu, em1972. esteve abaixo de USS 1 bilhão).Vesco ligou a Costa Rica aos escân-dalos internacionais da InvestorsOverseas Services, e tornou-se oprincipal tema da campanha para aseleições presidenciais do próximo ano.

Não se trata, porém, do primeiroadministrador de fundos mútuosestrangeiro atraído pelo mercadocambial livre e pelas irrestritaspossibilidades de investimentos daCosta Rica. Desde !%H. um texano de55 anos vem fazendo bons negócios.Trata-se de Clovis McAlpin. acusadode fraudes envolvendo fundos mútuosno valor de USS28 milhões pelaGcrmen Sccurity Holders Associaiion(Sociedade Alemã de Investidores).

Uni dos segredos de seu sucesso é aamizade com o presidente JoséFigueres. que o ajudou a obter umpassaporte diplomático da Costa Rica,em l%u. Isto aconteceu, segundo opróprio McAlpin declarou na semanapassada, três meses depois de ele tercomprado USS2 milhões cm ações dadebilitada companhia San Cristobal,fundada por Figueres e da qual opresidente é sócio. Desde então, aCapital Growth Company (sociedadede investimentos), de McAlpin, eFigueres estiveram ligados, e dizem atéque McAlpin doou USS700 mil para acampanha presidencial de 1970.

Foi nessa atmosfera de cooperaçãoque McAlpin convidou alguns amigospara um jantai em sua fazenda, emjunho do ano passado. A relação deconvidados incluía um promotor deNova York, Richard Pistell, o ex-embaixador cubano na ONU, AlbertoInhocente Alvarez, o presidenteFigueres e o recém-chegado Robert LeeVesco. encarregado da aplicação dosfundos da Investors Overseas Services.

Poucas pessoas sabem o que foidiscutido, mas os efeitos daquela noiteforam de longo alcance: Vescocomeçou a freqüentar a Costa Ricacpm/jnçrjyel^regulündade e, assim,como McAlpin, colaborou com a San

Cristobal com um cni|»fvHiímti nâosegurado de CSS2.I5 milhões, A

<. i«. > ¦ *— cujo vke prrvidcnte c Jove*Marti Figucrev. filln» do presidente —loi visivelmcnic rcstiali/ada pelasinjcsW*, tle tt.-i.ov* A larcnda da SanCristobal. La Incha, passou daim-ducâo de fihra natural para ar»tiliciai. com cavas tle operários, escolae cviacâti de energia própria.

O k-«".i|- tle Veveo e mais oprevidente e seus assessores pavsaram overão de i •* - planejando seu próprioluiuro e o da Cosia Ktca O pontoprincipal dos ntanov era a criação deuma ••:•-> livre internacional, compresiváo para a ínvialacão de bancos,sttrpttracvtes e irustcv. A tona seriauma área literalmente cercada,próxima ao aeroporto, com um bairrocomercial c um residencial, e teria umtotal ítuiogovcmo. Isso significa quesomente as companhias e seus cm»pregados seriam admitidos, e até aCosta Rica precisaria de permissãopara entrar nesse refúgio.

Km iroca desse saniuário inter»nacional, as empresas beneficiadascom a admissão deveriam investir naCosta Rica uma cena parcela de seucapital. O plano foi mantido o maissecretamente possisel. Apenas o\funcionários do aeroporto de San Josésabiam do Boeing 707 de um "gringomilionário", e comentavam aexistência a bordo de uma "sauna paradois".

Entretanto, poucas pessoas sabiamque Vesco. enquanto isso. tinhafundado a Intcramcrican Capital S.A.e outras cinco companhias fictícias naCosta Rica. atrases das quais começoua canalizar fundos. Segundo seuadvogado. Fernando Fournier. Vescotambém comprou "um edillcio emPalmar Sur c lotes de terra ao longo tiarodovia que leva ao aeroporto",provavelmente preparando-se para acriação da zona livre. Fournier. doconhecido escritório de advocaciaFacio. Fournier e Canas (de que oministro das Relações Exteriores.Gunzáio Facio. é o principal sócio), foio advogado que solicitou o passaporteeosta-riquenho para Vcsco. Mas cm 18de dezembro, quando o nome de Vescojá era um tanto controvertido. Fournierabandonou seu cliente.

O primeiro sinal daquilo que acabouse tornando um escândalo nacional foidado com a publicação do esquema dazona livre. Embora p plano tivesse sidoapresentado anonimamente, serviupara criar um verdadeiro tumulto noCongresso da Costa Rica. Osdeputados disseram que o país seria"vendido a um bando de estrangeiros ebandidos" e, ao mesmo tempo,surgiram cartas de protesto. Quando,finalmente, uma grande maioria dosdeputados assinou uma petição, oprojeto foi enterrado tão depressaquanto sugira.

Ligações perigosas

O presidente Figueres negou quehouvesse qualquer ligação entre oprojeto e Vesco. mas quando acomissão federal dos EUA acusouVesco e seus associados da enormefraude dos USS224 milhões os costa-riquenhos se alarmaram mais ainda.

Quando o Partido de UnificaçãoPopular, da oposição, identificou aaliança entre Vesco e Figueres,agarrou-se firmemente ao caso e delenã.o largará até as eleições presiden-ciais de fevereiro próximo. Os seisjornais locais começaram a competirpelo noticiário relativo a Vesco.divulgando os favores que o governolhe prestou e denunciando o fato deque os passageiros que chegaram noavião de Vesco não passaram peloserviço de imigração, ao mesmo tempoem que sua bagagem não passou pelaalfândega.

Em pouco tempo, todas as tran-sações comerciais da Costa Ricapareciam ser provenientes ou docérebro financeiro de Vcsco ou damente política de Figueres. Mas douPepe — como é conhecido o pitoresco eexcêntrico presidente costa-riquenho— tem fama de não se perturbar

, facilmente. Entre seus feitos contam-sea abolição do Exército nacional em

'. -1-» com uma símplcv avvinatura. umtapa na cara de um otinJamc e.recentemente. ?» impedimento de umseqüestro de avião cm que ele próprioesteve mi aeroporto de metralhadoracm punho.

Com as acusações internas eesternav «le cvtrrupvât» pnHtks*. danIVpe foi a iclesivio defender ti direitoque Vesco tem para investir na CmiaRica e condenar "essa forcareacionária chamada Wall Sireei". poricniar prejudicar

"um pequeno ^ paisdemocrático como o nosso". Numaentrevista concedida na semanapassada em sua residência, opresidente de b? anos afirmou; "Soumuito velho para me amedrontar comav leis de outro pais ou com os princi-pt.ts tle grujHts banqueiros, Lutarei atécontra o Banco Mundial, se preien»derem interferir na Cinta Rtcn, Osenhor Vesco e seus associados não lémnada a esconder e não roubaramdinheiro algum.

Duranie anos—disse Figueres — osfundos da América Laiina tam para onorte, e tudo era moral e legal. Agoraque esses fundos sém cm nossadireção, tudo se transforma de repentecm imoral c ilegal.

Criatividade e segurança

O senhor Vcsco. sua família e maisuma dúzia de família de seu grupo sãotodos benvindos à Costa Rica",continuou o presidente.

"E eles sabemque não nos intimidaremos com acomissão federal dos EUA ou comWall Street".

Quando lhe perguntaram ondeVesco tinha investido seu dinheiro.Figueres respondeu: "Não acompanhomuito de perto os investimentos, masiodos são muito criativos e seguros". E.rindo, acrescentou: "F. realmenteverdade que tanto McAlpin quantoVcsco investiram em companhias queeu fundei. E agora todo mundo ticafazendo esse barulho todo. Só querodizer que investiram apenas J5"'» deseus negócios conosco — o resto foipara as empresas du oposição".

Paixão estranha

Em face da publicidade desgastantee de um comitê recém -formado noCongresso para investigar as ativida ísdos fundos mútuos, Vesco decidiu"aparecer perante o povo da <~ostaRica pela primeira vez". Através dapresidência da República, comprou otempo da televisão e. em b de março,disse a uma audiência nacional que eranecessário "dar uma pequenaexplicação sobre meu passado humildec meus objetivos na vida". Negouveementemente as acusações quepesavam contra ele e repetiu o queFigueres já tinha falado."Apaixonei-me pela Costa Rica emminha primeira visita. Além de nossosnegócios, trouxemos também nossasfamílias, colocamos, nossos filhos emexcelentes escolas e começamos umavida nova nesta Arcádia americana",falou Vesco. Afirmou ter investido"USS25 milhões ou um pouco mais"no país. mas não há como averiguar ainformação, pois não existe Bolsa deValores na Costa Rica. e as ações emgeral são "ao portador".

Sabe-se. entretanto, que "uma certa

quantia" foi para a QuímicaLaminadas, companhia produtora decasas pré-fabricadas. controlada pelogenro de Figueres. E, segundo fontesbancárias de San José, a compra daconcessão da Gulf estaria ligada àsugestão de Richard Pistell — sócio deVesco — de construir um oleoduto queatravesse a Costa Rica.

Quanto,ao futuro de Vesco na CostaRica. é óbvio que quase tudo dependedo resultado das eleições do ano quevem. O comitê do Congresso que estáinvestigando as atividades de Vesco eMcAlpin provavelmente recomendaráum controle maior dos investimentosestrangeiros no país, mas como oPartido de Liberação (governista)controla o Congresso atualmente, éimprovável que se adote uma novapolítica antes das eleições.

centiniMçeo do pÓQjrto 13

mos de uma comunhõomística com a História":alguém que sabe que o quefuncionou antes tem quefuncionar agora, e poro quema principal tarefa dadiplomacia ó asseguror queas fórmulas mógicas sejamaplicadas corretamente. OHenry Kissinger dosboateiros. por outro lado. ó oroto do campo diplomático,eternamente correndo deuma capital para outra, umhomem tão inteiramenteobsorvido pelas conferênciase negociações, no jSbpel deenviado de alguém, que nãosobra lugar para qualquerponto de vista próprio.

A diplomacia de HenryKissinger está baseada, maisdo que tudo. numa profunda eperseverante desconfiançaem relação à União Soviética.Numa de suas muitas en-trevistas, Kissinger descreveua diplomacia soviética comoparte de uma linha política

geral que se limita a adaptaràs condições modernas afilosofia essencial da guerrafria . Seria difícil encontrarmelhor descrição do que elepróprio pensa. Em sua análisedas intenções soviéticas, elefaz todas as reverênciasnecessárias às várias or-todoxias que levam a maioriadas pessoas a ter uma visãomais benevolente da URSS:por exemplo, que em suasrelações com o Ocidente ossoviéticos estão contidos porseus temores de umaretaliação nucleer e por suadisputa com a China; queeles perderam seu ardorrevolucionário, e a ideologiadeixou de ser um guia segurosobre como agir numa dadasituação; que seus lideres sãohomens cautelosos que, aocontrário de Krus-chev, não assumirão riscos.Tudo isso significa, do pontode vista de Kissinger, que aforma preferida de agressãosoviética não pode continuarsendo o avanço para a EuropaCentral, que se pensava seriminente no auge da guerrafria, nem a súbita invasão deterritórios, que tanto obcecouos planejadores da OTAN nosúltimos 20 anos. Mas, aocontrário, o que Kissingerdescreveu como uma"combinação de pressõesmilitares, psicológicas epolíticas, que semprepararam antes de chegar aoconfronto total que Hitíerproduziu, e que conferemaior tensão à liderançapolítica e à coesão dos paísesnão comunistas".

O

gênero de argume.n-tos que ele tem usa-do para

"provar" que os

soviéticos seguirão in-va r i aveImente uma

ostratégía de presidomáxima contro o Ocidentenâo mudou nos últimos 14anos, E isso dó a medida dosuo desconfiança em relaçãoá URSS. Suo visão do assunto,que é expostodetolhadamento em seusoscritos acadêmicos, docomeço dos anos 60 emdiante, pode ser encontradatombem, em for*ma mais fragmentada emenos coerente (o que faxcom que a maioria da im-prensa não compreenda oseu significado), em muitosdas entrevistos que ele deu

"nos últimos quatro anos.Esses velhos argumentossobreviveram portanto aalguns desdobramentos,como a plena emergência doconflito sino-soviético. aqueda de Kruschev e aascensão de Brejnev, bemcomo a um certo número desupostas melhorias nasrelações entre a URSS e oOcidente. Foi talvez tendo emmente essa inflexibilidadedoutrinai que um de seuscolegas de Harvarddescreveu Kissinger comomais linha dura em relação à

URSS do que qualquer outroque saiu daqui paraWashington".

Algumas dos suasargumentações se referemao comportamento do PartidoComunista da URSS comoinstituição, outras à men-talidade de lideres soviéticosindividualmente. Kissingeracredita que o PC soviéticotem interesse em criar tensãopelo mundo, o que está maisrelacionado com o sentimen-to de sua própria fraquezadentro da URSSdo que com algumaconvicção sobre políticaexterna. Num país industrialadiantado — argumenta oconselheiro de Nixon — nãohá realmente nenhum papelpara o PC, que não énecessário para conduzir ogoverno nem para dirigir aeconomia e que, por isso,deve desenvolver um in-teresse pessoal em conflitosexternos ou, no mínimo, emum certo nível de tensãoexterna, para poder justificara necessidade de sua externavigilância".

Assim é provável que hajauma certa promiscuidade namaneira como os líderessoviéticos fermentam tensãoonde quer que podem. Comolíderes da União Soviética,governada por om senso deprioridades estratégicas', elesdevem olhar a disputa com aChina como a principalprioridade. Mas como líderesdo partido preocupados coma redundância de suasposições dentro da URSS, elesexplorarão a tensão por todaparte em que ela exista, noOriente Médio como a Europa

continua na página ao tado

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19

&

m

¦A-,MS

coniiflueçdo do pOg «o oo lodo

Ocidontol tonto quanto nofrontairo chinesa.

Estas tendènciot do partado PC como instituição idoreforçados, no visão deKissingor. pelo moneira comoos lideres soviéticos in*dividuolmente consideram o

'mundo exterior. Segundo eloacredita, osso moneiro ó emparte o reflexo de como elesso consideram uns aos outrose om porte o produto de umomentalidade ainda fortemen*te influenciado peloideologia. O lider soviético

identifica a seguronçomenos com boa vontade doque com equilíbrio de forçase será tentado o procurarconstantemente reduzir opoder e o influencio de poisescujo tamanho e estrutura osTornam possíveis tom-petidores da URSS .

Adiplomocia

de Hen-ry Kissinger. pe-lo menos durante os

primeiros dois onos dapresidência de Nixon. só fazsentido dentro do contextodessa exagerada descon-fiança em relação à UniãoSoviética. O que mais opreocupava era que ossoviéticos tentassem tirarvantagem das contradiçõesinternacionais entãoexistentes (ou que pelomenos pareciam existir) nosEstados Unidos, que elesconstruíssem o caosdoméstico na América,significando isso uma ver-dadeira mudança nosfatores objetivos que, no

passado, os tinham levadoinvariavelmente a se engajarem tentativas constantes'contra seus rivais. Agora quea contra-revolução de Nixonestá triunfando por todaparte, aqueles primeirosmeses, quando o movimentopacifista ainda era uma forçapoderosa e a maioriasilenciosa ainda não tinhasido despertada do seu sonoprofundo, parecem tãoremotos como a idade dapedra. Igualmente remotassão as opiniões então namoda: o movimento pacifistaera uma coalizão queabrangia a principal correnteda classe média tanto quantoos estudantes radicais; osentimento antibelicista queele personificou deveria teruma influência decisiva napolítica externa americana,nos anos seguintes, e.forçarRichard Nixon a terminar aguerra incondicionalmente,fosse qual fosse a sua própriainclinação, deveria impedi-lo(bem como a qualquer outropresidente americano) decriar outros Vietnãs e trazerum novo isolacionismo, umadrástica redução nos en-volvimentos americanos pelo

mundo.Não obstante conversos

ocasionais sobro um recuofoscísto Henry Kissingor nãolevou nada disso muito asério. Ela considerou omovlmanto pacifista comoumo misturo pouco con*sislente de grupos da ín*teressos ospocifícos quepoderiam ser aplacodos pormudonças marginais nopolítica: so a classa médiaostava contra o guerra eroporque esta custa domasiodo.envolve grandes riscos eporque o presidente Johnsontinha prometido umo rápidovifária que ero inatingível.

A resposta pois foi adotarumo estratégia menosimpaciente (como foidelineado num artigo deKissinger na revista ForaignAffairs de janeiro de 1969)que reduziria os custos eriscos, tiraria a guerra dodomínio público e fariaaparecer a sua continuaçãomais como responsabilidadedo Vietnã do Norfe do que*dos Estados Unidos. Quanto àcontestação estudantil.Kissinger achava que ela eraessencialmente opolítica.produto do tédio e daalienação, e teria tomadoumo direção pol í t icaunicamente porque orecrutamento militar estavaexigindo, no momento,sacrifícios dos estudantes.Uma vez reduzido orecrutamento (como seria,conforme o plano deKissinger) o movimentoestudantil simplesmentedesapareceria. Os acon-tecimentos recentesprovaram que ele tinha razãoem ambos os casos.

Mas

Kissinger tam-bém estava consci-ente de que as

repercussões externas doque estava acontecendo nosEUA, motins urbanos,manifestações estudantis,atentados a bomba, opresidente Johnson sendodesalojado do governo pelosentimento antibelicista e opresidente Nixon procurandodesesperadamente preservaralgum espaço de manobra,tudo isso seria certamenteinterpretado no Kremlincomo o início da grande criseamericana, o momento emque as exigências do im-perialismo se tornaramdemasiadas para seremsuportadas pela burguesia.

Acontecimentos que opróprio Kissinger consideravaprodutos de causaspassageiros e efêmerasapareceriam, diante dosolhos dos ideólogos deMoscou, como manifestaçõesde leis históricas fundamen-tais: a crise urbana seriatransformada no "início do

ocaiodo fiftamo capitalista':os combatentes negros arovoltosos sa tornariam avanguarda do proletariadorevolucionário: os astudonteso seus companhairostrabalhadoras da classemédio seriom glorífícodoscomo a burguesiaprograssisto' in-variavolmonto contrário ooimperialismo: o queda deJohnson o a vociloção doNixon seriam interpretadoscomo um sinal seguro de queos contradições internostinham otingitiv* o ponto emque os elementos im*perialistas passavam àdefensivo. O temor deKissinger ero que. com umsentimento tão exagerado dafraqueza americana, oslideres soviéticos seriamencorajados a partir para aofensiva, a começar a

experimentar" paradescobrir o ponto maisvulnerável do seu adversário.

Na expectativa de umaperfidio. naturalmenteKissinger interpretava cadamovimento soviético, emqualquer lugar como parte deum grande plano subversivovisndo. em última análise, osEUA. E nos dois primeirosonos da presidência de Nixonhouve um bom número deincidentes que. vistos daperspectiva particular deKissinger, tendiam a confir-mar essa tese. No OrienteMédio houve o esforço deimplantação militar soviéticono Egito, a invasão da Jor-dânia pela Síria, de ins-piração soviética , e atemerária e provocativa

instalação de mísseissoviéticos-egipeios ac longodo canal de Suez. Na EuropaCentral, os soviéticos ten-taram dividir o Ocidente aoencorajarem umareviravolta favorável nasrelações germano-soviéticasque, depois de "adquirirem

uma sólida base" nasnegociações das quatropotências em Berlim e nasSALT/ (Strategic ArmsLimitation Talks, Conver-sações sobre Limitação deArmas Estratégicas),naufragaram por causa darecusa soviética em incluir noacordo qualquer teto paramísseis ofensivos (particular-mente o gigantesco míssilsoviético SS9).

Pelo

fim de 1970 ossoviéticos, numadireta violação do

acordo de 1961, tentaram"construir uma base desubmarinos em Cuba"., quelhes teria dado "a capacidadede operar novamentesistemas de armas ofensivasa partir do . hemisférioocidental". E o inverno de1970 deve também ter sidoaproximadamente o tempo,

dado o prozo de demoroentre o encomendo • o en-trogo, em que os soviéticosconcordaram com os pedidosnorte-vietnamitas do umgrande aumento nosuprimento de armaspesadas, de tal maneiro atornar possível o ofonsiva daprimavera de 1972.

Desafiodo por um advar*sário cuja agressividade erabosoada num engano deinterpretação de suas in*tenções, o conselheiro deNixon acreditou que o

equilíbrio s6~serioresiaurado se os EstadosUnidos ostentassem em suasações uma força e umadecisão que pudessemconvencer os soviéticos deque a sua análise original dasituação americana estavaerrada. A esse respeito oVietnã era de suma impor*tância. pois. embora nãofosse uma área em que aUnião Soviética e os EUAestivessem em conflitodireto, ero no entanto o lugaronde. de acordo com a tesesoviética, os EUA estariammais fracos, o lugar onde ainfluência restritiva dascontradições internas

seriam sentidas mais for-temente. Isso explica porque, ao contrário do que osboatos possam ter dado aentender. Kissinger tenhasido sempre um falcão naguerra. Ele não morre deamores pelo regime de Thieu,ele não acredita mais no mitode uma China expansionista,mas acredita firmemente queos EUA tinham que fazerfinca-pé na Indochina sim-plesmente para provar queeram capazes de fazê-lo. Elefoi contra a tentativa deMelvin Laird de aumentar arapidez de retiradas dastropas, foi contra a sugestão'do secretário de EstadoRogers de que os EUAdeveriam concordar com umacerta diluição do monopóliopolítico de Thieu como umrisco para a paz" e foi a

favor de eventuaisdemonstrações de força como objetivo de impressionar osnorte-vietnamitas e os russos,embora fosse evidente queconsiderava o bombardeio doNorte, muito mais do que asinvasões, como um meio maiseficiente de impressionar.

Noutras

questõesem que houve desa-cordo dentro do

governo americano, sempreem relação à necessidade de"demonstrar força', Kissingeresteve invariavelmente entreos duros. Quando Rogerstentou alcançar um acordo noOriente Médio, com umafórmula segundo a qual osEstados Unidos tentariampersuadir Israel a retirar-se

de alguns dos territóriosárabes ocupados, ele nôogostou porque achou que ossoviéticos poderiam concluirque os EUA estavamtemerosos de umo confron*toçõo noquela áreo (nessaquestão seu ponto de vistonão provoleceu). Ele foi afovoi do extravagante retí.de espodas que ocomponhoua invasão da Jordânia, deinspiração soviético . quoenvolveu o mobilização deuma inteira divisão aérea noAlemanha e o envio de umporta*aviões ao MediterrâneoOriental. E acreditou sempreque os EUA deviamprosseguir com a conversãode seus mísseis em MIRV(Múltiplo Independently*Torgeted Reentry Vehicle.Engenho de Ogivas MúltiplasIndependentemente Guia-das) — um programaque zomba dos acordos SALTe que garante outra insen-sota escalada na corridaarmamentista.

O fato de. a partir de marçode 1971 em diante, ossoviéticos se terem tornadomais flexíveis na maneira detratar com o Ocidente,evolução que tornou possível,entre outras coisas, umeventual acordo sobre Berlime sobre limitação de armasestratégicas, foi tomado porKissinger e por aquele? quepensam como ele como umsinal certo de que a políticaamericana tinha sido umsucesso: a firme reaçãoamericana às provocações, de1969-70 tinha revelado aoslíderes soviéticos que a suaestimativa inicial doequilíbrio de forças forasuperotimista, e que overdadeiro equilíbrio exigiauma linha política muitomenos arrogante de suaparte. A necessidade de umtal ajustamento tático foitambém confirmada poracontecimentos ulteriores —expulsão das forçassoviéticas do Egito,aproximação sino-americanae fraco desempenho daeconomia soviética — algunsdos quais eram resultado dapolítica americana e outrosnão. A conseqüência dissotem sido uma passividade napolítica externa soviética quepersiste até o presente e deque foi exemplo a fracareação russa à colocação deminas em Haiphong.

Desnecessário dizer q,ueKissinger passou tanto'tempopensando em convo oOcidente negociaria com ossoviéticos quando elesestivessem de boa vontade,como passou pensando noque seria feito quando elesnão o estivessem. Acima-detudo ele crê que os estadistasocidentais não devem"confundir

atmosfera com

continua na página 16

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contírtvocéo do pógino IS

substância". não devemachar que porque ossoviéticos etâo em busca dedegelo deve ter hovídoolguma mudança de ânimo"da parte deles, umo súbitailuminação que varreu adesconfiança e o hostilidadeque. no passado produzirotensões. A linha correto (ofascínio de Kissinger pelaideologia comunisto levo-omuitas vezes o usar o jargãomarxista) é que as ofensivosde paz" soviéticos sãoessencialmente umo respostaa alguma pressão interna ouexterno sobro o sistemasoviético . e as mesmaspressões' que produziramum relaxamento de tensões...podem também induzir oslideres soviéticos a iniciaremoutro periodo dehostilidades . A vigilância épois tão necessária duanteuma fase benigna da políticasoviética como durante umafase maligna, e os EstadosUnidos devem continuar amostrar forço para que os

lideres soviéticos nãorevejam sua estimativa do"equilíbrio

de forças". Se. emvez disso, os estadistasocidentais sucumbirem aomifo da mudança de ânimo .terão que considerar umarenovada hostilidadesoviética (esta é semprerenovada mais cedo ou maistarde) não como umacaracterística inerente aosistema mas como umaespécie de aberração tem-porária.

Dada

essa espéciede mentalidade,é provável que a visão

de Kissinger sobre políticasespecíficas continuará a sertão dogmática e rígida nofuturo como foi no passado.Há, por exemplo, a questãoda reintervenção norte-americana na guerra doVietnã. Quanto a esseassunto ele é consideradofreqüentemente maisi'uminado do que em outros:"Depois de os (os sul-viet-namitas) termos colocados namelhor forma possível, se, dequalquer maneira, se revelarque eles não vão agüentar,creio que estaremos enfren-tando diversas conseqüênciasa partir da desistência epartida sumárias". Mas essaafirmação esconde mais doque revela, pois o que impor-ta, em suma, é exatamentecomo os sul-vietnamitascapitulam. Se se tornarevidente agora que o regimede Thieu não pode sobreviversem uma presença física dosamericanos, se ele começar asucumbir à subversãocomunista mais do que oregime de Diem nos

primeiros anos da décado do60. então serio difícilocredítor que tonto Nixonquonto Kissingor sejambastante loucos paro tentarsalvó'lo novamente?.

Mas. como resultado daspolíticos que Nixon oKissinger vèm seguindo, émuito improvável que issoaconteça agora. Por maisinepto que o Exército sul*vietnamita possa ser ele éprovavelmente bosfante fortepelo capacidade de desviarnúmeros e potência de fogopara manter vivo o tipo deoperações de pequena escalaque são qualificadas desubversão , Também o fato

de que o acordo de paz deKissinger não obriga opresidente Thieu a ceder umavírgula do poder político tornamuito mais fácil paro Thieumanter o seu regimejustamente com os bemprovados métodos de for-turos e prisões. Assim, se osnorte-vietnamitos aindaestão interessados noreunificação, serão muitoprovavelmente forçados,mais cedo ou mais tarde, avoltar às operações de largaescala. É a esse nivel que ossul-vietnamitas são maisvulneráveis: seus oficiais deestado-maior são incapazesde controlar operações commuitas divisões e sua forçaaérea, necessitada de B-52 ede Phantom F-4. não podeenfrentar com êxito asgrandes concentrações dainfantaria e da artilharianorte-vietnamitas.

Mas

no momento emque a guerra es-tá tão restrita, ela se

torna mais uma vez agarantia da larga faixa decontestação entre os EUA e aURSS. Uma tal ofensiva"desafiaria

a credibilidadeamericana , violariaclamorosamente um acordode cessar-fogo negociadocom os próprios EstadosUnidos, seria um teste parasaber se os compromissosdos EUA no Vietnã do Sul — eos compromissos americanosem geral — significamalguma coisa. Se, diante deuma tal provocação, os EUAnada fizessem, estariamdemostrando "fraqueza",

e ossoviéticos naturalmentecomeçariam a refazer suaestimativa do "equilíbrio deforças", tanto que os B-52 e osbombardeiros, com base alipor perto, na Tailândia,teriam que voltar à ação pormaior que pudesse ser o riscopolítico doméstico. Esse tipode raciocínio histérico écaracterístico das apariçõespadronizadas de Nixon natelevisão, como se estivesseem vésperas de uma

escalado, mas é igualmenteconseqüência do visãopróprio que Kissingor tem domundo.

Há tombem outro questão,so os EUA vão cancelar osegundo estágio dainegociações SALT e. comgastos de bilhões de dólares,construir umo novo geraçãodo mlssois-monsfros com*paróveís em tamanho aos SS9soviéticos. Aqui. como noquestão dos MIRV. dois onosatrás, os argumentos sebaseiam principalmente,numa analiso das intençõessoviéticos, Aqueles que(como Kissmgerl fazeminvariavelmente a pior inter*pretaçõo possivei dos açõessoviéticas argumentaramentão que o programa MIRVdevia continuar mesmo que oMIRV fosse essencialmenteumo armo anti-ABM Anti-Balistic Missile) e um acordosobre os ABM estivesseprogramado. A mesmafacção está dizendo agoraque. uma vez que os russosestão em vio de transformarem MIRV os seus mísseis SS9,eles devem estar seesforçando por alcançar umacapacidade de primeiroataque contra aperigosamente vulnerável

força dos Minutemanamericanos. Como retaliação,os EUA devem agorarestaurar a paridade, cons-truindo mísseis gigantes porconta própria, com um pesode lançamento semelhanteao do SS9. Seria maisrazoável argumentar que,desde que os soviéticos estãode fato quilômetros atrás dosEUA em capacidade de MIRV,sua decisão de converter emMIRV seus SS9 deveria servista como uma medidadefensiva da parte deles,destinada a restaurar aparidade. Até agora não estáclara a posição de Kissinger,mas, a julgar pelas suasatividades passadas, eleestará entre os que fazemcampanha por maiorviolência e maior ímpeto.

Nos

Estados Uni -dos, a reputaçãoque Henry Kissinger

adquiriu está muito maisligada à China do que à UniãoSoviética. Acima de tudo eleé visto como o co-arquiteto daaproximação com Pequim,como o homem que, de um sógolpe, mudou todo o sistemainternacional de cima abaixo. O fato de o públicoamericano ter uma idéiaexagerada do que aaproximação com a Chinapoderia conseguir é menos oresultado de sentimentosespeciais que poderiam- terpor esse país e mais oresultado da retórica de DeanRusk e de John Foster Dulles.

Depois do ler sido dito. por 20onos. quo a China ero uminimigo tão mortol como oURSS. cuja luta ideológicapunha em perigo, por todoparlo, oi interessesomoriconos. ero inovilóvelquo o visita do Nixon aPequim fosse consideradacomo um ocontocimento que.em si mesmo, iria mudar omundo, como umo versãooriental do poeto germano*soviético (1939).

Oe certo modo não há nodade novo quanto à novapolítica chinesa dos EUA. fmais um elemento numoestratégia mundial concebidoporo conter o URSS. Aesperança é que aaproximação, ao sugerir pelomenos a possibilidade deuma superaliança sino-americana dirigida contra aURSS. obrigue os russos amanter o degelo no Ocidente,como o melhor gorantiacontra qualquer desen-volvimento da situação. Podeser que esse cálculo sejo umfator no atual pensamentosoviético: contudo é im-possivei dizer até onde elevai.

Mas, dentro do contexto doExtremo Oriente, aaproximação prenunciapossíveis mudanças degrande significação. Por maisde 20 anos a políticaamericana baseou-se napresunção de que a China éuma potência expansionistaque deve ser contida", e emfazer com que um imensoimpério americano fosseimplantado, o qual. no entan-to, abre toda a região aosseus interesses: é um impériocuja existência requer apresença de poderosas forçasamericanas na Coréia do Sul,no Japão e em Okinawa, nasFilipinas, na Tailândia, emGuam e na Indochina (osporta-aviões da Sétima Frota)e que exige que os EUAatuem como o maior obs-táçulo à mudança socialnaqueles países, como aprincipal fonte de ajudamilitar e de know-how para acontra-insurreição para osregimes da Indonésia,Tailândia, Coréia do Sul,Vietnã do Sul, Camboja eLaos. Mas, uma vez que aChina já não deve ser con-siderada como marginalinternacional, era de seesperar que um começo demudança se operasse para odesmantelamento dessemonstro obsoleto.

Nessa

questão, comonaquelas em que aUnião Soviética está

diretamente envolvida, oponto de vista de Kissinger éque os Estados Unidos nãopodem dar-se ao luxo de"mostrar

fraqueza". Ele-considera a China como uma

potência fraca o vulnerável,acredito quo oté quo elo sotorne umo potência nuclearmais importante, o que nãovai acontecer antes dospróximos 15 ou 20 onos.ostaró intoiromontepreocupada com a ameaçasoviética ao longo de suofronteiro o incapaz deameaçar os interesses dosEUA no Jopão o no sudoste daÁsia. No ontonto. há outrasrazões para que a prosonçados EUA no leste da Ásia nãopossa coír muílo abaixo doseu atual nivei. Os chinesesoodem não sor os bandidosdo outrora. mos a honra dereceber o próprio Kissingernão vai impedi-los oefomentar perturbações entre

os Wa do nordeste de Burmae entre os Meo do norte daToilôndia. E assim os EstadosUnidos deverão continuar autilizar os sir RobertThompson da vida paromanter as coisas sob con*trole. Mais obviamente, ocompromisso de continuar naIndochina exige que Thieu.Lon Nol e Souvonna Phoumasejam mantidos a salvo cominfusões maciças de ajudamilitar e econômica, e exigetambém que as bases daTailândia sejam mantidos eos porta-aviões da SétimaFrota fiquem onde estão.

Kissinger também acreditaque a política americana noleste da Ásia tem que fazerconcessões à possibilidade deum ressurgimento domilitarismo japonês".Aparentemente ele nãoacredita que o engajamentodemocrático do Japão sejamuito profundo. Porque asua cuitura é tão particularque eles podem se adaptar amuitas condições e aindapreservar sua essêncianatural... Eles passaram dofeudalismo para a adoraçãodo imperador depois que oalmirante Perry abriu asportes do Japão, e passaramda adoração do imperadorpara a democracia depoisque perderam a II GuerraMundial. Em nenhum doscasos pode-se dizer que foiuma convicção filosófica queproduziu a mudança". Essasevoluções foram essen-cialmente uma resposta acircunstâncias cambiantes, eassim "se o Japão chegar àconclusão de que os EstadosUnidos, por alguma razão,não são mais um fator a serlevado em conta na Ásia",poderia haver um'ressurgimento

domilitarismo japonês", o que,dada a sua flexibilidadequanto a formas políticas,poderia acontecer bemrapidamente. Ou- então " oJapão poderá tentar com-binar suas forças com as dospaíses comunistas. E nessecaso poderemos ver também

continua na página ao lado

y

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TENDÊNCIAS E CULTURA 17

continuação do pógino oo lodo

um crescimento do podermililor jopoMès porém moitobetiamonto dirigido conlranós".

A questão que deve estarpreocupando Kissinger eNixon agora 6 exatamenteoté que ponto poderão ir noredução da presençaamericana no leste da Asio.antes que os japonesespossam concluir que os EUA

não são mais um fator o serlevado em conta". O ponto devista de Kissinger parecer serque os EUA não tém muitocampo para monobra. Eleacha que os japonesesprecisam prestar atenção ao

que está contecendo noVietnã e julgar o grau denossa capacidade de influen*ciar nos acontecimentos daAsio . Ele também estápreocupado com o fato deque eles podem

"interpretar

mal a doutrino de Nixon, nãocomo uma maneira depermanecer comprometidocom a Ásia. mos como umamaneira de livrar-se da Ásia.senão do mundo".

Assim

a necessida-de de segurar oJapão não é apenas

uma remofa contingência quese tornará importantesomente no momento em queo arsenal nuclear chinêsatingir as proporções dosoviético, mas deve ser umelemento importante dapolítica corrente dos EUA. Elatraz outra razão para con-tinuar com o compromisso naIndochina e obriga os EUA amanterem sua força naquelasáreas que estão dentro daimediata esfera de influênciajaponesa — Coréia do Sul,Filipinas, Formosa e o próprioJapão.

Dessa maneira, no leste daÁsia, como em qualqueroutra parte do mundo,Kissinger acredita na ' PaxAmericana. Ele acredita quea ordem e a estabilidade sópodem existir enquanto opoder americano estivepresente para mantê-las.Para ele não existe nenhum"entardecer no Potomac" ouretirada do poder americano,porque o mundo estádemasiado cheio demalfeitores, que irão sesoltar por toda parte se osEUA encerrarem sua santamissão. Não há nada de novopois, sobre Henry Kissinger. Éuma figura muito familiar,alguém plenamente dentreda tradição de LyndomJohnson e de John F. Ken-nedy. Se ele se esforçou por-pintar a si mesmo como umcipessoa que é menos "inter-

vencionista" do que estes, ésimplesmente porque foibastante feliz em não estairna equipe deles quando ar,

decisões fotaís de en-volvimento na Indochinaforam tomados. Se estivesse,teria feito exotamente o quoeles fixeram. (Simon Heod.Nevf Stotesman)

FRCUO

Numo

carta datada de9 de outubro de 1898.Freud fazia uma

referência a Leonardo daVinci: ele fora talvez o maisfamoso canhoto", e

"não setem conhecimento de que eletenha tido casos amorosos".A carta foi uma das muitasmandadas a Wilhelm Fliess. Amedida que Freud começavaa formular, passo a passo,aquilo que hoje conhecemoscomo psicanálise, ele apelavapara seu amigo a quemapresentava seus pensamen-tos abertamente e comalguma paixão, como sesentisse a necessidade deperguntar se todos aquelasidéias faziam algum sentidoou eram irremediavelmenteloucas — noções inúteisproduzidas pelas mentesperturbadas que umpsiquiatra vê, para nãomencionar seus própriossonhos e fantasias, nos quaisFreud já confiara de modobastante significativo em AInterpretação dos Sonhos.

Esse livro, publicado em1900, era sem dúvida algumaa obra-prima de Freud;enriquecido com anos deobservação clínica, escritonum estilo vigoroso, não sócontinua importante hojecomo sempre continuará. Umescritor tinha sentido algoimportante no que dizrespeito à experiênciahumana e tinha criado, parasi próprio, uma linguagemoriginal — um modo peloqual suas idéias poderiam seapoderar da imaginação doleitor. Pouco após apublicação do livro, Freud seafastou de Fliess. Por quehaveria de escrever cartassobre idéias quando estas játinham tomado forma em umlivro? Por que ficar discutindopossíveis descobertas quandoestas já foram feitas, e atéestão atraindo um quadro deadmiradores brilhante, aindaque limitado? De qualquermodo, mesmo que Freudpudesse ter, anteriormente,superestimado o valor deFliess, as limitações desteúltimo rapidamente setornaram visíveis e a coisaficou assim mesmo — semcenas, apenas um momentoou dois de reconhecimentoque, com o decorrer dos anos,se tornou bastante mais queisso.

Foi mais difícil a Freudconseguir pôr Leonardo daVinci de lado. Embora lá por1907 ele estivesseplenomente absorvido pelotrabalho psiconalltico (nessaocosifio a SociedadePsicanalltica de Vleno \6linha sido formoda). existemprovas de que as descobertose o espirito ao um dos gêniosestavam profundamentepresentes na mente do outro.Nesse

'ano. Freud estava

lendo um estudo sobreLeonardo e chamava-o um deseus livros preferidos. No dia11 de dezembro de 1907 elefalou, de modo bastantegeral, sobre o assunto debiografias psicanallticas.Dois anos mais tarde elevoltaria a falar em Leonardo,desta vez em uma carta aJung datada de 17 de outubrode 1909: um dos pacientesque estavam submetidos aoseu tratamento tinha amesma constituição", amesma configuraçãopsicológica que o famosoartista, mas não o seu gênio.Dizia ainda a Jung queesperava conseguir um livro,publicado na Itália, sobre ojuvefttude de Leonordo.

No início de dezembro de1909, Freud falou aos seuscolegas da SociedadePsicanalltica sobreLeonardo, e, convémressaltar, nâo o fez pelaprimeira vez. Isidor Sadger.um dos mais antigos mem-bros da Sociedade (ele entrouem 1906, no mesmo ano deRank), tinha feito um estudosobre a vida e obra deHeinrich von Kleist e de CF.Meyer. Freud também seinteressara por um conto deMeyer, Die Richtorim, sobre oqual escreveu uma vez aFliess chamando a atençãopara o que parecia ser a vidado próprio Mayer trans-parecendo na ficção queescrevia.

Em

1910 Freud já esta-va engajado em algoque era bem mais que

um inquérito acidental; liatodos os livros que podiasobre Leonardo, e começouescrevendo um daquelesensaios convidativos, atéencantadores, que Jêm o domde gerar muito mais con-trovérsias do que parecemquerer gerar. O ensaio foitraduzido nos Estados Unidose publicado com o nome deLeonardo da Vinci: A Study inPsychosexuality. Maisrecentemente, Alan Tyson fezoutra tradução que é mais fielao original alemão: Leonardoda Vinci and a Memory of HisChildhood. Em 1957, noveanos depois da inesperadapublicação de ThomasWoodrow Wilson

(supostamente um estudofeito em coloboroçõo porFreud e William Bullitt). oseditores do obro*podrãoComplete PsychologicolWorkf of Sigmund Freuddoscreviom o livro curtosobre Leonardo como não sóa primeira como a última dasgrandes excursões de Freudpelo terreno da biografia .

Vale muito o pena anolisaressa excursão hoje. O queFreud tentou fazer 50 anosatrás ainda está sendo feito,ás vezes sob o nome depsicohistárioT Além dp

mais. tanto seus sucessosquanto seus fracassos emanalisar a vida mental deuma personalidade históricamorta há muito tempo estãosendo experimentados hojepor outros. O livro deLeonardo originou umareação imediata dedesaprovação, maior do quea habitual", na' opinião doseditores do livro. Em 1910.tudo o que Freud escrevia eraencarado por seus colegas oucom incredulidade ou comirritação. Com o lançamentodeste novo livro, muitos opoderão considerar culpadode mais um crime: nãosatisfeito em declarar que ocomportamento de seuspacientes era o resultado detensões sexuais dosviadas.ele agora estava irrplicandoum dos maiores ar istas detodos os tempos.

Na realidade, não fài fácil aFreud exprimir seja ad-miração por Leonarcnão estava escrevendo urexposé. Não era sua intençãoferir a reputação de umgrande homem. Ele estavaescrevendo sobre alguémque considerava "um entre osmarores da raça humana", efazia-o porque acreditavafirmemente que

"não háninguém que seja tão grandeque possa ser desgraçado porestar sujeito às leis quegovernam tanto as atividadesnormais quanto aspatológicas e ambas com amesma força".

Freud

estava deter-minado a encontraro modo — custasse o

que custasse — de olhar paraa mente humana. Começarafazendo-o com algunspacientes, depois tivera acoragem e honestidade de seincluir a si próprio nessacompanhia e, por ocasião deestudo sobre Leonardo, jáestava preparado para olharem outras direções: olharpara os homens e mulherescomuns que não manifestamquaisquer sintomas e nuncavão ao psiquiatra; paradoentes com problemasdiferentes daqueles quenormalmente ele veria érx\

ícfr—EletíX

seu consultório: o nestecaso. para uma per*sonalidode histórico cujovido. em certos aspectos,parecia propicia ao tipo deinvestigação que ospsicanalistas de Vienaestavam fazendo com (o quelhes parecia) um imensosucesso.

A questão era conseguirpassar de um caso clinicoparo o âmbito da. umfadeclaração mais ampla, doespecifico para o universal —as

"leis que Freud menciona.

Queria passar do aparente,daquilo que se pode observarà primeira vista, parocamadas mais profundas" —

para as forças do inconscien*te de que ele estavo conven-cido que controlavam quasetodos os aspectos de nossasvidas. Queria sair do con*sultório do psiquiatra eencontrar na vida do homemque nunca fora tratadoprovas mais concretas de quefosse correto ao analistanegar que saúde e doençaestado normal e nervoso,sejam facilmentedistinguíveis entre si, e quetraços neuróticos sejamconsiderados prova de umainferioridade geral .Finalmente, ele queria iratrás no tempo, encontrarnos despojos — por assimdizer — de um homem degrande importância histórica— em suas palavras, suasobservações, seus desenhose suas pinturas — provas queexplicassem alguma"s dascontradições eambigüidades de sua vide.

Freud reconhece que sesabe muito pouco sobre ainfância de Leonardo. Ele serefere à "obscuridade dessaépoca na vida do artista.Assim mesmo, em seucaderno de notas científicas,Leonardo mencionava umamemória de infância:"Parece

que meu destinoquis que eu me preocupassetão profundamente comurubus; uma das lembrançasmais antigas que guardo é deque estava em meu berço eum urubu veio voando e abriuminha boca com sua cauda eme bateu várias vezes com acauda em meus lábio.e".

Ao se referir ao pássaro,Leonardo utilizou a palavranibio, cuja forma nibbio, emitaliano moderno, significapipa, e não urubu. Freud sedetém à palavra alemã geier,que significa urubu. Foienganado por váriastraduções alemãs.

Não há qualquer sombrade dúvida que esta recor-dação de Leonardo conturboua imaginação de Freud. Esteapresenta o caso de umamaneira não só vigorosa maselegante. Naturalmente fazas interpretações sexuais

continua na página 18

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II LIVROS

Um mundo sem escolas ?lOOfOAOf SIM ISCOIAS i.oi lllicbrvom 110 t>og»nas CfttSOO!

' prremmm eonaruir muti p*fdmpara aue a criança jlaue man tempona escala e jaca dela sua t*gunda

D» governador da GuanabaraChagai Freitas, na semana pastada

livro de tsan lllich. Sociedade_ ,rm Fiadas l • l. tema propor

justamente o contrário: que nio hajamais eseolariiacào e que o ser humanopasse o mínimo possiscl de seu tempoaprendendo coisas obrigatórias. Emseu loro llltch rcsponsabtluta o ststcmaescolar c nào a Educação por todas asdistorções sociais c econômicas cm quevivemos, por seu caráter seletivo,discriminatório c aristocrático.Enquanto milhões náo teta acesso àeducação, um pequeno grupo seespecializa c se intelectualiza cada vezmais. criando diferenças intransponi-veis c sistemas dc mérito estabelecidospelos monopolizadores do sistema.Todos os que não foram escolarizados,ou melhor, "educados", passam aconstituir a multidão dos "sem-acesso", mesmo que possuamcapacidade e possibilidade de se auto-educar. ''-'>

Para que a educação seja umaatividade criadora e livre, lllich sugereuma "revolução cultural": proteçãolegal contra os currfeulos obrigatórios esistemáticos, abolição de critériosseletivos por grau de escolarização.formação de centros de habilitaçãoonde as pessoas se capacitem com omínimo de ensino dirigido e outrasmedidas radicais.

Afirmações radicais

O livro deverá causar no Brasil amesma polêmica que levantou noexterior: há necessidade de cada vezmais escolas. ou;.g- Escola deve serabolida e «n seu rogar ser estimulada aEducação criativa e desvinculada doscurrículos obrigatórios? Milhares dediretores de colégios, professores eresponsáveis por educação, mesmo deescolas renovadas,além de pensadoresindependentes e insuspeitos, vêemcomo necessária uma escolarizaçãoque atenda às exigências semprecrescentes/ de milhrjes de crianças,jovens e adultos. Já esse ex-padrecatólico, nascido em Viena,naturalizado americano e que agoratrabalha em Cuernavaca, no México,acredita ser a educação ím.titucionalizada o maior fator demassificação e da negação dacriatividade do homem moderno.Segundo ele, a institucionalização devalores em todos os campos leva,inevitavelmente, a três dimens«5es deum processo de degradação global e demiséria modernizada: no campo físicoà poluição, no social, à polarização eno psicológico, à impotência.

O livro é uma crítica violenta a todosos sistemas educacionais postos emprática a partir do século XIX. "Amaior parte de nossos conhecimentosadquirimo-los fora da escola. Osalunos realizam a maior parte de suaaprendizagem, sem, ou muitas vezes,apesar dos professores. Mais trágicoainda é o fato de' que a maioria daspessoas aprende sem nunca ter ido àescola". Afirmativas como essa fazemdo livro um trabalho polêmico e delllich uma figura controvertida: ocritico do New York Review of Bookspor exemplo recusa suas idéias e,quando muito, sugere que elas possamser aplicadas no Terceiro Mundo, jáque nos Estados Unidos há esfoVçosque lllich desconhece no sentido dedevolver à escola seu papel criativo.Enquanto isso, estudantes latino-americanos que participaram de umSeminário organizado por lllich sobresuas teorias, em janeiro de 1973. emCtaernavaca, acúsaram-no de quererglobalizar problemas relacionadosquase exclusivamente com osEstados Unidos, senão com o mundpdesenvolvido, lllich responde que amaior parte das pessoas vive vir-

Meti»itkte*,iW

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lualmente "drogada" pelo formalismocom que toi "educada" e perde acapacidade dc entender como fun-cionam os mecanismos de perpetuaçãoda escola obrigatória.

O sistema escolar bem sucedido,segundo lllich. converte pais e alunos àdependência da escolarização con-tínua.

Con\o seria, para lllich. o mundosem escolas? As pessoas, desdecrianças, seriam libertas daobrigatoriedade de se reunirem emlugares certos, em horas determinadas,para aprenderem matérias que outrosestabeleceram ser de seu interesse.Cada um teria liberdade e estimulepara se perguntar: "com que espéciede pessoas e de coisas eu gostaria deentrar em contato para aprender"?Seria dado grande valor ao intercâm-bio de habilidades, que permite adescoberta de aptid«5es e ávforma comoessas aptidões podem ser traasmitidas.O encontro de colegas e um serviço deconsultas a pessoas que dominamuma atividade seriam tambémestimulados, visando odesaparecimento do monopólio doprofessor.

As idéias de lllich, entretanto, não seesgotam na desescolarização. Ohomem novo da sociedade sem escolasseria também um homem liberto detodo tipe de injunção institucional:ed ucação? saúde, leis. etc. Nesse livroestes assunto*, são tratados depassagem. Mas no retiro que lllichmantém, em Cuernavaca, onde reúneperiodicamente estudantes o in-teressados, são estas as teorias maisdiscutidas Em todos os ramos daatividade humana ele condena omonopólio pelos especialistas, amecanização sem controle e propõeuma nova sociedade cujas relações sebaseiem em um novo tipo de produçãode bens e instrumentos limitados.

Um homem como lllich, que selaicizou depois de rumoroso processena Cúria Romana — em que foitratado como "una cosa de curiosità,de meraviglia, de scandalo" — e queestá sempfe questionando a realidade eas instituições, tem que esperar críticasviorentas a seu trabalho. Um dosdefeitos de que mais o acusam é depropor soluções sem indicar maneiraspráticas de alcançá-las, ou mesmo semlevar em conta a realidade. lllichadmite isso e diz que o métcxlo deve serescolhido pelos que querem a transfor-mação. A ele, lllich. cabe levantardúvidas, apontar alternativas, destruirmitos. Estamos na presença de umutnnis-ra "^demo ou"de um criador de"'ondas" louco por publicidade?

Uma coisa é certa: o livro fazafirmações radicais e coloca o leitor cmposição de combate, apesar do estilopesado e muitas vezes de assimilaçãodificil. prejudicado pela tradução. Ademonstração de que a "criança"(como instituição) é resultante daRevolução Industrial, ou de que aescola é um falso serviço público, porexemplo, mantém o interesse até oúltimo capítulo, onde lllich contrapõeao mito de Prometeu a visão do homem-novo, ou o homem Epimeteu.

Tentativas práticas

No Brasil, onde as reivindicações cmtorno da escolarização vão desdepromessas demagógicas até a realidadedas filas no período de matrícula, olivro de lllich pode encontrar forteoposição. Os milhões de brasileirosanalfabetos ou semi-alíabetizadosdevem ter sua fome de escolas saciada?Ou o sistema criou o mito de umaescolarização cada vez maisespecializada para manter um con-tigente permanente de populaçãosempre infra-educado em relação apadrões estabelecidos pelo própriosistema? ê a escola formadora dehomens conscientes, aptos a manejarseu próprio destino?

Inspirados nas idéias de lllich já háexperiências que tentam, na prática,responder a essas questões. Uma escolaem Salzburgo, por exemplo, resolveufazer um rodízio de pais das própriascrianças como auxiliares de educação,em vez dos tradicionais professores.Nessa escola todas as atividades são deiniciativa da criança, ainda que elatenha toda a ajuda possível. Restaperguntar: mesmo esse tipo deexperiência conseguirá abolir a idéiaáe: escola como um lugar onde aspessoas se reúnem para aprenderalguma coisa? {Lúcia T. Lessa)

continuação da página 17

que, hoje em dia, não cons-tituem surpresa paraaqueles que já tiveramexperiência psicanalltica emprimeira mão, ou tenhamvivido sob aquele "clima totalde opinião" a que W. H.Auden se referia em seupoema in memoriam por

ocof íão da morto de Freud, Owvbv e o mãe emboraleonordo estranhamente,tenho conseguido proverprecisamente tilt pássaro,que é uma mãe com o marcadistinto do moscuHntdade . Oparode*o

°e oxplicado. e

pouco depois C«e tivermos opaciência de prosseguir) amemória de um homem êtransformado na chave porosuas futuras característicaspsicológicas.

Nem Freud se limita aparar por aqui. Dono de umaerudição imensa,especialmente sobre osvórias culturas antigas, elefaz o que Alan Tyson chama a

ligação egípcia '. Freudsugere que leonordo nãoestava só e possivelmenteesteve consciente disso, poiso hieróglifo para a palavraegípcia

'mãe" também erarepresentodo por um urubu.O amigo de Freud. OskarPfister, acrescentou aindooutra noção que. em 1919.Freud colocaria em nota depé de página para fortalecera tese de seu livro: no quadrode Leonardo Santa Ana comDuas Pessoas, atualmente noLouvre. o vestimentacuriosamente arrumada ebastante restrita" de Mariapermite ver nela o "delinear

de um urubu". Pfisterchamou-o de quadro-quebra-cabeças inconsciente" e,quando chegou ao fim de suaanálise, uma parte davestimenta é a caudaestendida de um pássaro,cujo extremidade direita,exatamente como no sonhofiel da infância de Leonardo,

' leva á boca da criança, isto é,do próprio Leonardo".

E

fácil zombar distotudo. Freud não sedeixou inteiramente

levar pela visão imaginativade Pfister, como poderia serchamada; mas, independenteda contribuição de Pfister,

N^reud tinha construído suaprópria interpretaçãoelaborada do que acabaria setornando, em retrospecto, umterreno muito pouco sólido.Ainda assim, a reaçãoimediata ao seu livro nadatinha a ver com os detalhesdo argumento utilizado, mascorri o aspecto moral daquestão: como se atrevemestes psicanalistas, com suasmentes obcecadas pslapatologia (sexual, em suamaior parte), a atacar umhomem muito reverenciado,morto há várias centenas deanos, e classificá-lo com umahorda de complexos edistúrbios psiquiátricos?Independentemente dagenerosidade de Freud paracom o gênio de Leonardo, daforma cuidadosa e incisivaque ele utilizou para fazer

umo ligação entre o oiiifto ecada um de nós o ira e aiombat-o centinuarom: e nãodeixaram de ter suas con*seqüências.

A rejeição irracional doorigem oo desgosto e òtriste/o mesmo entre osmelhores dos homens, Muitosvozes Freud garantiu aosseus colegos que um dia omundo levano a sono asvariadas formuloçõos econjaturos que elos estavamfozendo — o essa certeza.essa outoconfíança jó erauma medida de seu gênio.Por outro lado. perante essesataques constantes, ele eseus companheiros tornaram*so vitimas do próprio esforçoque dispendiam paro sedefender. Ostracizados emrazão, eles. por sua vez.passaram a ostracizar osoutros, por mais benvinten*cionodos fossem o ceticismoe as dúvidas de quemquestionava.

Leonardo

da Vinci, deEissler. é um- livrolongo, em comparação

com o qual o de Freud pareceumo mera monografia.Grande parte da tese deEissler é apresentada, deforma bem menos polêmica elegalistica. pelos quatroeditores (James e AlixStrachey, Anna Freud e AlanTyson) em sua introdução àtradução de Alan Tyson do

• livro de Freud. Eles concedemque alguns dos "argumentos

e conclusões são invalidadosatravés de uma análisecuidadosa das premissas deFreud". (Uma pipa não é umurubu.) Porém, assumindoque seus leitores tenhamuma certa sensibilidadepsicanalística, os editoresrecusam-se, numa atitudealiás justificável, a cedercompletamente. A recor-dação ou fantasia ou sonhoacordado de Leonardo (quemo poderá saber ao certo?)parece justificativa de in-teresse psicológico, assimcomo o "problema in-teressante" de como foi queos egípcios ligaram as idéiasde "urubu" e "mãe". Segundoegiptólogos, essa ligação sedeveu ao acaso: uma coin-cidência. fonéfica. Ospsicanalistas têm o direito deespecular de outro modo,embora não às custas deLeonardo ou de qualqueroutra pessoa, a menos queexistam provas.

O mais importante^ con-tudo, apesar de toda a suaambição e ingenuidadeespeculativa, foi o fato deFreud jamais ter abandonadoa restrição que requer umtrabalho clínico. "O objetivode nosso trabalho", dizia eleao final de seu estudo, "foi ode explicar as inibições na

continua na página 24

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DOCUMENTO It

Os latinos em ManhattanAttwriot. Coserei. Mechodo de Assis. Corfoior Donese.

Sarduy e Trevlion: o llteroiuro lotino-emof Icono discutido *pelo critico Mlchoel Wood. do Unleersidode do Columble. N.Y. Ttse New Verit lesrlew ef teefct

AqurW Iclio» Ideal sofrendo eV «unuIntânla IdttUTinnrgans Wtiârl

Apesar de algum** csrecôes bri*

lhanics eom«» l*** Imiei Tigres eCem Anos de Salidati. o naturalismoainda domina a ficção latino»americana. It um naturalismo queabrange mitos, vimbolismo. correntesde consciência, técnicas de narrativabem elaboradas, mas. apesar de tudo.nâo passa de naturalismo

Toda altridadc literária pressupõeuma rei.!. particular entre o escritore o leitor. Na Ikcào naturalista, oescritor geralmente parte do principiode que fala cm nome do leitor. Con-segue ver mais do que nos. pensarmais. e escrever melhor. O escritor temainda mais imaginação e sensibilidade:ele é a nossa voz, nosso representante.Seu trabalho è encontrar as palavrascenas, dar nome a (c descrever)acontecimentos, pessoas, objetos,emoções c sensações. Ov escritorespodem ser ou podem não ver bonsnessa tarefa, mas se eles optam poressa relação com os leitores, trancam-se na literatura, confinam-se numuniverso fechado c estático, deverosimilftanças c probabilidadesliterárias. Sc vivem neste século, já seresignaram — quer saibam disso ounão— à posição de escritores menores.

Os peixes mortoc

Dos autores comentados nesteanigo. três sâo escritores menores,nesses termos — Astúrias (Guatemala).Fuentes (México) e Donoso (Chile). Suaprosa pretende capturar o mundo — aluz de uma manhã tropical, o brilho nopaletó de um homem de negócios, aqualidade da vida num bordel falido —e consegue. Mas o êxito cm conseguirisso é uma limiração, e na coerênciadesses romances é uma prova dapequenez: CL Olhos dos Mortos deAstúrias, //o/v Place. de Fuentes (aprimeira das três histórias em TripleCross) e Caronación. de Donoso (asegunda dessas três narrativas) são

OS OLHOS DOS MORTOS, MiguelAngel Astúrias (Editora Brasiliense,$10,0.0).

DIÁRIO DA GUERRA DO PORCO,Adolfo Bioy Casores (EditoraExpressão e Cultura, 208 págs,$ 18,00).

O MEMORIAL DE AYRES, Machado dêAssis (Editora Cultrix, 244 págs$10,00).

O VAMPIRO DE CURITIBA E OUTRASHISTÓRIAS Dalton Trevisan (EditoraCivilização Brasileira, 299 págs,$20,00).

SEVÉN VOICES: SEVEN LATINAMERICAN WRITERS TALK TO RITAGUIBERT, Rita Guibert (Knopf, 448págs. US$10,00)

TRIPL€ CROSS: NOVELLAS, CarlosFuentes, José Donoso e SeveroSarduy (Dutton, 329 págs,. US$8,95).

62: A MODEL KIT, Júlio CortázarfPantheon, 281 págs, US$0,95).

© 1973 NYREV, Inc.

apenas romances, montei de palas rasem busca da realidade, redes que sopescarão os peises que já estão monos.

Mu quer» dizer com isso que •*.outras ».¦•¦¦•. aqui discutidos sejamescritores maiores fembora eu ache queMachado de Assis e Conázar são! —eles simplesmente nit- optaram poruma literatura mentir Se pensarinmem outnn modclut para a relaçàu entreo escritor e o leiior. uma boa partedisso tudo poderá ve tornar mais clara,Muitos escritores se recovam a perceber a disparidade entre eles mesmosc seus leitores, e substituem a sugestãode uma delegação por um paralelismoimplícito. Ou supõem verem ciesmesmos lambem leitores — decifrandoo unUcrso do mesmo modo que seusleitores estão decifrando teus lentos —ou supõem que o leiior também é umescritor — criando mundos na mente,da mesma maneira que o mundo queestá sendo montado na página diantede si. Ou ambas av coisas, é claro,

Borges. Bioy Casarcs. Machado deAssis c Cortázar são leitores, atemos aoque Cortá/ar chama de "o \elhohábito humano de decifrar". Tambémpodemos lembrar de Henry James, quefalava constantemente cm "entenderas coisas", ou de Stcphen Dedalus (emJoycc). lendo assinaturas numa praiairlandesa. Isto é ficção moderna emseus aspectos cpistemológicos. mas aomesmo tempo ligada ao século XIX emseu gosto pelos padrões -que surgem(como nos contos policiais ou emDickens) para a revelação final, arealização de um significado decifrado.

Joyce, por outro lado. é também umescritor que se comporta como umescritor, fazendo da própria literaturauma metáfora — nós o vemoscolocando palavras contra silêncios cmUlisses, criando linguagem em Fin-negans Wake. Joyce tem. na AméricaLatina, a companhia de CabreraInfante, autor de Três Tristes Tigres, eSevero Sarduy. autor de Gestos (aterceira das histórias em Triple Cross).Num ensaio critico, Sarduy pareceresponder à imagem de Cortázar deum código com nova ênfase na con-fecção de um código ou no ato decolocar em código. Ele clama por"uma nova literatura, em que alinguagem aparecerá como o espaço doato de cifrar, como uma superfície detransformações ilimitadas"...

Joyce, contudo, como o novelistacubano Alejo Carpentier em Los PasosPerdidos, e como Garcia Marquez emCem Anos de Solidão, insiste tanto nacodificação quanto na decodificação.Insiste que os leitores participem dosdois jogos, tornem-se sofredoresdaquela insônia ideal, tão frustrados etão criativos quanto o próprio escritor.Nao é uma questão de os leitorescolaborarem imaginativamente com aficção. Isso, de qualquer modo, nósfazemos, se lemos apropriadamente —isso, afinal, é que é a leitura. Ê umaquestão de solidariedade com oescritor, ou, pelo contrário, desolidariedade do escritor conosco, odestino único que nos une. Todos nós,escritores e leitores, temos que ler omundo, e temos que encontrarpalavras para nossas leituras. Não aspalavras cenas. A perspectiva queestou sugerindo reconhece apenas quealgumas palavras são melhores do quooutras. Todas são provisórias, in<^dicadoràs apenas, insinuações darealidade, e não caixas ou compar-ttmentos fechados; e todas contêm, emsua disposição, uma ironia que escapaao naturalismo. *

Eis alguns exemplos, tirados dosiivros comentados neste artigo.Astúrias, Fuentes e Donoso:"Giravam em torno do mesmoponto, ligados, incrustrados, numanévoa entorpecida de bebida ecigarros, beijos, conversas, lambendo-

se como emitir as primitivas, surpreendidas na conflagração das origens domundo, do qual o jau era aimagem ..."...ela espreia tratai» e li. éter*namente. estão seus olhos escuros,úmidos, os únicos olhos que. pelasírtude da escuridão, enam a lu* comose ne* »r »s< ifi-.j aHsa tosse o únicometo vasa. finalmente, conquistá-la4."Os casebres tremeram. Se o sentosoprasse mais forte, a cidade seriatmadtda por folhas amarelas duranteuma semana, pelo menos, e asmulheres as .arreriam todas durante odia todo. de todos os lugares — ruas.•telas, ponas e até debaiso das camas

^aumau \\\W iM^fc.* l"^-»^^k^l ^^^à*

Memorial de Ayres, seuestilo seco, seus fantasmas e

seu retrospecto irônico aoNova Kepública. Obra*

prima do seguroe poderoso

Machado de Assis

— para ajuntá-las em montes equeimá-las".

Todos os traços lingüísticos dessestrechos, inclusive metáfora, paradoxo ehipótese, tentam nos fazer ver. ver umbar numa cidade tropical; os olhosnum rosto em movimento; uma estaçãode ano na América do Sul —naturalismo. E essa literatura trata osestados de espírito do mesmo modo,como se fossem fenômenos que devemser descritos, rotulados.

O olhar da mente

Em Machado e Cortázar, entretanto,a linguagem nos apresenta não, omundo, mas uma mente olhando parao mundo; não uma disposição, masuma atividade. A linguagem imita osmovimentos da mente. O escritor nãomais fala em nosso nome — elesimplesmente faz, à nossa frente, o quefazemos nós mesmos o tempo todo. Oescritor tenta dar sentido às coisas, *enão parece ter tanto trabalho quantoos naturalistas. Machado:"Minha estada tinha sido longademais e, apesar de nossa intimidade,poderia começar a parecer indiscreta.Era hora de partir; eu queria partir eficar a um único e mesmo tempo, umaimpossibilidade; então passei váriosmomentos de impulsos contrários".

Cortázar:... e que. Juan disse a si mesmo,

beber o terceiro copo de Sylvaner erabasicamente todo o resumo que elemelhor poderia utilizar, digamosvdaquilo que tinha acontecido a ele:uma lição de coisas, uma mostra decomo mais uma vez o antes e o depois

linham escapado de suas mios,deisando-lhe uma lese chuva inútil detraças monas".

Para complerar. eu citaria o cubanoSarduy. o escritor como escritor, cujomundo é apresentado na formação,Kcspontlemos aqui. paiece»me. ao•¦¦•'. da sfi4ií:fi4,-» •:• escritor,e não ao -$>..- a tmagtr-açào propõe, Naihá nada para rer, nem sequer para ler.no sentido de decifração:"%a» fluorescentes, são accttlcno.são tambores que hipnotizam pássarm.sâo helicópteros, são cadeiras no fundode um aquário, são eunucos obesos,seus pequenos sexos entre llorcs cor-dc-rosa. são piranhas, anjos leprososque cantam 'Metamorfose,metamorfose', são duas criaturasinfelizes que só querem escapar de umPriapo isolado. Estão perdoados".

Um caso de "transformaçõesilimitadas", como diz Sarduy.

Astúrias é um romancista com-petente. prolífico, desinteressantemesmo, que parece ler recebido oPrêmio Nobel pela sua bondade e porsolidartzar-setao menos em seus livros)com os oprimidos. Os Olhos dosManos, publicado pela primeira vezem !%0. é a terceira pane de umatrilogia, ê uma longa história de lutas ctumultos pa plantações de banana. Nahistória, a umeaça de uma greve geralderruba o presidente do pais. mas osrevolucionários sabem que ainda nãoganharam a luta. "Não. ainda não.porque eles estavam apenas no limiardaquele grande dia...", o dia em que osmortos, que foram enterrados com osolhos abertos — segundo a lenda —poderão fechar os olhos em paz.

O livro é habilmente adornado comsímbolos e mitos, todos os personagensestão convincentemente realizados, deum modo livresco. e a única perguntaque me vem à cabeça é por queAstúrias perdeu seu tempo escrevendo-o, e porque perderíamos o nosso lendo-o. Os amantes renascem numacaverna, o assassino que envia flores ànamorada e é descoberto antes quetivewse que cometer qualquerassassinato, e se revela não ser tão bomassim em matanças (entrou na históriapor acaso) — tudo isso coloca esteromance claramente nos domínios daficção sentimental, lugar onde nossentamos e contemplamos, emsegurança, um mundo simplificado,esperando pelo fim das injustiças,desde que não tenhamos que fazer algopor isso, ou sequer olhar de muitoperto. - Ü Astúrias que surge na en-trevista publicada em Seven \otces, deRita Guibert, é exatamente o que aficção nos levaria a esperar: grandioso,pomposo, às vezes impressivo, e muitasvezes tolo, muito dado a falar de sua"pequena terra natal", e convencido deque uma exposição de artefatos maias— que ele organizou em Paris — é umato político que o redime.

Brilhantlsmos. paradoxos e fábulas

Fuentes, por outro lado, é umhomem extremamente inteligente, quenão consegue decidir o que fazerconsigo próprio. Holy Place é umaimagem de homossexualismocaricaturalmente perseguida, cheia defrágeis citações de Borges Fritzgerald,Sade. Huysmans e Susan Sontag. Onarrador é o filho de um famoso artistade cinema mexicano, oocecado peiamãe. e aí vê-se várias possibilidadespara o mito de Ulisses, sendo que acentral parece ser que Telemachus secasará com a mãe enquanto o paiestiver fora. De qualquer maneira.Penélópe se transforma em Circe,quando seu filho a vê com um velhoamigo dele e seu irmão espiritualgêmeo.

O romance não chega a levantar vôo.porque está muito emaranhado de

brilhanttsmos'e paradoxos, e tolhidopor uma alarmente probrera deimaginação O narrador tem o retratodr Nadar, ae ttaudflatrc. em seuquarto, seu cofre, lugar sagrado ondeele se isola das profanações do mundo,e uma .-.¦..»- de ladtsínhe de quem?)^arah rJcrnhardt Num cena ponto, elepega os "inevitáveis" livros queconserva ao lado da cama. e a palavra"inevitáveis" tem um som mfelir Estesnão são os livros que seu personagemlinha que ter. mas os tistos com queFucnies. fatal c debtlmente. tinha quedotar seu personagem: Os Sub-icrránrhs do Vaticano. A Rehours. ORetrato de Dan-jn Cray. The Quesi tarCano e Cardinal Pirelli. Essa fracaprevisibilidade está preseme no livrotodo.

Caronacüm. de José Donoso. en-iretanto. c uma pequena fábulacscmplar sobre as sufocantes am-biguidades da vida de uma pobrecidade latino-americana agonizante.La Manuela é um velho pederasta,excitado com o reaparecimento do. alente motorista de caminhão comquem tinha tido casos um ano ames.La Manuela e sua filha, que dirige obordel da cidade, esperam a chegadado homem. Mas o motorista decaminhão está em débito com danAlejandro. latifundiário e político locale não consegue se livrar de seupassado. Foi criado nas terras de donAlejandro c não pode se libertar destefalso pai. Os homens da cidadehesitam, então, entre o bordel e afazenda. La Manuela, numesfarrapado vestido vermelho, dança oflamengo para o homem quando esteretorna, mas depois apanha e searrasta para os dominios de donAlejandro. onde tem segurança. E aique se revela, então, a conexão quevinha sendo preparada através dahistória toda. O pai frustrado, o paique preferiria ser uma dançarina, e opai feroz, o que come os filhos, estãoligados secretamente, do mesmo lado

. do muro. onde sempre estiveram: LaManuela e don Alejandro, o bordelsem pai e o governo paternalista.

Estou tornando o livro maisesquemático do que é realmente. Essasalegorias tiradas da confusão dospapéis sexual e parental certamenteestão lá, mas firmemente dotadas deuma estrutura naturalista, de modoque possamos ver. Os significados- vãocrescendo através da sugestão, dainsinuação — nao são apresentadosassim diretamente como fiz nesseresumo grosseiro.

Com Gestos, de Severo Sarduy,vamos muito além do naturalismo, enos aproximamos daquilo que RobertoGonzales Echevarría descreveu como"uma tentativa de reduzir Cuba a umespaço textual, onde toda gama dalinguagem cubana é apresentadasimultaneamente — uma espécie dearqueologia viva". Não entendo nadada linguagem cubana, mas deve terhavido realmente um exagero. O que seencontra são três pequenas fábulassobre ausência, perda, sofrimento efraqueza. Um general espanhol deópera cômica procura uma cantorachinesa, numa espécie de surrealismogrosseiro dominado por duas frenéticassenhoras de peruca conhecidas porAjuda e Clemência. Uma estranhadupla de narradores tenta contar a t*história de uma mulata que era amantede um político cubano, e que escreveuseu próprio epitáfio, em forma de umpoema de 10 linhas. Delineia-se umarápida história cultural e religiosa deCuba, passando significativamente daEspanha medieval — através domisticismo espanhol ("Nesse trecho, eem muitos outros, que òao João meperdoe", lê-se no pe' da página) eatravés do mar — para a languidez

continua no pagina 20

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oantíoiiosdo do péowte Iftropical, terminando tio Cmto. que *ao mesmo tempo Fidel Castro,eruiaodo i üho de Santiago 4 Havana»

Cestm é equivalente, etti línguaespanhola, a Zatie

'dons le MHm, de

Qucncau. uma obra que i ao mesmotempo paródia c louvor O tttto, porctemplo, ridiculariza o csctuuf "Putatida! Eis ai o que prwtsávarnov m*deutar o etcritor. que té e sabe tudoantes de qualquer t*utra oessoa...".Mat o escritor lambem tem teut mo-mentos. e etoliea a seus personagensque não lhes p»*de dar todo; "Bem.nieus caro», nem tudo na sida c"

crente Um pouco de desordem na• rdemf ê o que «empre digo". AvUaeidadc c a variedade dessa«cratura nos Icmhr.»que as obras que•>mam a lineuaticm como protagonistaia têm que estar monas ou •¦ • ¦

fiadas da realidade, Podem conilrmar.omo essa i*bra e como Jojco o fazem.

múltiplas energias humanas daspróprias palavras, que são tâo livres elievôrdenadas quanto nós. presas á

altura mas ao mesmo tempo livrespara agir à sontade.

Da codificação à decoditicaçio. BioyCasares c muito amigo e colaboradorde Borges, e a influência de Borges cbem clara cm tua obra tseconhecêssemos Catares melhor,poderíamos também afirmar que tuauilluència é bem clara na obra deBorges). Num sentido, ele é mait in

ntiv< que Borges, mais capa/ <te cria»uma trama e sustentar a narrativa,vias parece ressentir-se do mait

""mu k

Mr\ ^

Carlos Fuentes eseu romance de

brilhantismos, paradoxose falta de imaginação,

que não levanta vôoapesar de todos osesforços do autor

extraordinário e importante dom deBorges: a habilidade de sugerir oesconderijo misterioso no canto maissossegado ou incomum de uma casa ousentença. Diário da Guerra do Porcotem a lógica de um sonho, ou parececonvidar essa lógica, mas nao tem aintensidade de um sonho, emborau pareça estar buscando.

Os jovens, nós descobrimos, ficaramimpacientes com os velhos, e os estãomatando, batendo neles, e deixando-os de lado. Um jovem atira num velho,e explica ao juiz que ficou tão irritadocom a visão de uma careca e com oslentos reflexos do velho que sim-plesmente não resistiu à tentação dematá-lo. 0 júri compreende e o rapaz éabsolvido.

O interessante do livro é menos suapremissa e a competente (porém seminspiração) execução de suas con-seqüências do que a psicologia dosvelhos. Estes, ou não devaneandosobre a coisa toda, discutindo sobre sea guerra do porco não deveria sechamar guerra do suíno, ou rendendo-se inteiramente aos argumentos dosjovens, concordando secretamente emdesprezar a si mesmos, para se sen-lirem envergonhados do curso danatureza. Bioy está, aí. pensandoclaramente naquele impulso destrutivotão comum a grupos perseguidos, edramatizado em .Kafka de formamemorável: o impulso de acreditar que

ot prm»*^p»*tdores oum certo temido,lim ta«iu quanto ao que pensam vobte«.».* a |»r»*»*r**T,»«»u

fI J*a* *¦* M»t**M

Sempre que um» obra dá a tmpresto» de tentar erur uma summa —pensa Morelli, personagem de Cor*ti/ar em O Jogo da Amtrrimka —date-W imrdiaiamcnrr dcmonorar queo inverso r»ra tendo trniado, a «rtaiàomeramente dc mbras, O ouc se acabacvítc • * *'..*,. vegundo Conáiar. c* o que'•-••*> quando termina a excitas*»)quando desaparece a epifania ou ailuminação que impulsionou o autor aesetescr. Etcrete*te o que resta, enfim,quamlo ç%sc impulso morre entre aspala» ras e expreW*cv que o autorlançou em tomo 00 imputo,

Um personagem em 02 A Mudei Kitestá emoltido na rnc-una butea. Juan.que ama Hclcnc. pensa ter viste, porum momento, como tudo se encaita.a.IVnsa ter sislumhrado uma .erdadeiraordem ne emoções e acontecimento*,que lhe permitiriam ligar um conjuntode suas próprias fantasias sobre•ampirot com um fabricante debonecas Trances que tem o hábito decolocar luvas, dinheiro, e outros ob*jctos e substâncias menos imponantesem suas bonecat: ou ligar suaspróprias fantasias com a luz de umarua de Paris num ceno instante, comum garoto que morreu anestesiado nohospital, consigo mesmo jantandosozinho numa noite de Natal: umaconfiguração que lhe diz que Hélène cum vampiro c ele a vitima, que ambosestão sendo lançados a essas posiçõespor forças que nada tem a ver com seusdesejos conscientes ou inconscientes.Mas. então, ele lambem sabe que istonão c real. que ele c Hélcnc são quemcies sio. e que estão na realidadeoptando por se apresentarem um aooutro nesse tipo cruel de relação.

O titulo de 62 se refere a um capitulode O Jogo da Amarelinha, em queMorelli pensa num livro cm que apsicologia seria substituída por umateoria da natureza química do pen-samento. dc forma que os personagensseriam dirigidos pelas necessidadesorgânicas e celulares da própria vida.levados ao amor ou à metamorfose pornenhuma razão aparente. Mas Cor-tá/.ar. ao contrário de Morelli. sabeque as atrações dessa ordem secreta eimpenetrável são sinistras e nãohumanas, e não devem ser cortejadas,como as atrações da simetria perfeitaou a abolição do tempo, em Borges.Assim, ele coloca essa possibilidadeespeculativa num romance em que aparticularidade humana dos acon-tecimentos clama contra esta redução,implora para ser entendida pela antigapsicologia comum.

Marrasi. um escultor trances, gostade Nicole. que gosta de Juan. que gostade Hélène. que gosta de Célia, que estátendo um caso com Austin. O grupotodo está ligado por esses elos, e aúnica atitude lúcida parece ser umacerta indiferença extravagante,representada por uma garotadinamarquesa chamada Tell. Marraste Nicole estão desesperados porque seuafeto se transformou em amargura e.no entanto, não conseguem se separar:outra forma de vampirismo. "Coloco

em suas mãos a permissão de umtorturador, mas tão secretamente quevocê não tem meios de perceber", dizNicole. E em face dessas relidadesescuras e circulares, reunidas numaprosa rápida, obsessiva, que deslizapara aentro e para fora das mentes dosdiferentes personagens, para dentro tpara fora de fantasias, sem nenhumsinal de transição, os personagens seco/ivertemeàssuas vidas em anedotas.

Anonimamente, Marrast convidavárias pessoas para se reunir defronteum quadro indefinido, no InstitutoCourtauld, em Londres. O diretor sealarma com os grupos que vão seformando e pensa que o quadro vai serroubado. Polanco, um exiladoargentino, brinca com um barbeadorelétrico numa tijela de mingau, a fimde descobrir, por analogia, se lhe serápossível utilizar um cortador de gramacomo motor de popa. Quando alguémo interrompe, ele recebe a' visita comum suspiro e "com a mesma expressãoque Galileu assumia em circunstânciassemelhantes"

esses perso lagens. como Cortázarao se apresentar em Seven Voices,

fingem ter amadonrt, representando00 trabalho e na vtda poelica. guar*dando as cacrgtat para *tuat relaçõesafetivas secretas (aparentemente.Conáiar guarda as suas para a con*totidaçio da Revolução cubana). E!•!.»» di-» de noto. como o Con á/ar daentrevista, alcançam um fatdnio real.purem frágil, com bate em tuatovialidade. tem not conteneer de teustatus de amador durante ummomento sequer Nesse ponto há umamentira, uma ilu*à» Os personagensde o? negam teu desespero attim comoConáiar nega a seriedade de teuvromances, e há algo comotente.embora um pouco tolo. nestescttrcmot de auto-cnpno,

Então. t>2 é uma obra menor que Otttgt» da Amarelinha, menos densamenos constrangedora, mas mesmoa^>sim é um IHro imponante e atraente.Entretanto, para chegarmos à ser*?ladeira obra-prima dos livroscomentados neste anigo. lemos que

^ eait ^^*-

mlMiguel Angel Asturias,

um romancistacompetente, prolífico

e desinteressanteque parece ter roceuido

o Prêmio Nobelpor sua bondade

voltar ao ano de 1908 — O Memorialde Ayres. último romance de Machadode Assis, editado alguns meses antes desua morte. A única obra que conheçoque pode ser considerada semelhante aessa é Persuasion. Jane Austen,outro romance em que a autoraabandona os artifícios em favor dasespécies mais simples de paixão eelegância.

Memorial consiste nos rejatos dodiplomata aposentado Ayres (autorfictício de Esaú eJacob (1904), tambémde Machado de Assis), dos anos de1888 e 1889. Vemos a emancipação dosescravos, no Brasil, recebida por Ayrescom um sentimento de culpa — amancha não se apagará da História —que o impede de participar daexultação geral. Fala-se em República,mas a proclamação só ocorreu no fimde 1889, depois que esses relatos seencerraram. Assim, Machado nosoferece, em 1908, um retrospectoirônico da Nova República, como seesta ainda fosse um livro aberto, umapossibilidade atual, clara, que ainda serealizaria. Esses acontecimentospolíticos têm sua relevância para ahistória, mas são comentados bastantediscretamente, funcionando como umpano de fundo de lutas, injustiças esujeição dos homens pelos homens, quecorresponde, de uma maneira sutil, àsvidas particulares que ocupam oprimeiro plano do romance.

Um casal de vemos extremamenteamoroso nunca tinha tido filhos, masconsideram como filho e filhaespirituais, emprestados — como Filhos"nascidos de sua afeição", como dizAyres — um jovem, que educam, e

uma jovem cujo mando morreu, Orapai vai embora para Ponugal. toma*te cidadão ponuguh e panteipa dapotltict Quando solta, o falto irmio ea falta irmã se apaixonam, ratam se e.ao leves de te fitarem 00 Brasil,panem para Ponugal O filho pródigosoltara apenat para levar a filha fld,atralndo-a para longe da fidelidade aomarido mono e ao catai de velhos,Tudo Hso t obtersado e decifrado porAvrct. com pena e ironia e uma invejasuave, á medida que a tida realiia oque parece ser uma lei. deitando ottelhos para irás e ot monos cm teuttúmulos,

1 itso c tudo. Alguns tênues eajustados ecos dc R*mru t Julitta. deDantc. epígrafes sugerindo uma fugacom a amante, pelo mar. em direção aLisboa, cruelmente qualificada peloIdlo de que a fuga deste li.ro »i»*nifiodistanciamento de pessoas queprecisam desesperadamente daprevença daqueles que estão fugindoExatamente como a emancipaçãosignificará desnorteamento. cpossKelmente uma nova escra»aturapara muitos escravos, da mesmamaneira a liberdade do jovem casalescraviza o velho casal, amarra-os asuas memórias. Machado Insinua,delicadamente, que o amor podeescravizar tanto quanto o ódio e acobiça, que não há praticamentenenhum acontecimento na vida quenâo deva ser recebido com uma alegriarefreada, ambivalente, exatamentecomo Ayres recebeu a noticia do ato deemancipação.

O tom dc Machado, assim como seuhumor sçreno e intricado, estápresente em Memorial como emMemórias Píatumas de Braz Cubas(18811 c em Dom Casmurro i 1900). mascm surdina. O resto das anotações deAyres serão publicadas um dia. "se

esse dia vier". A irmã de Ayres lhepede noticias de um leiloeiro, e Ayres.aborrecido com o pedido, diz que ohomem morreu. ''Provavelmente eleainda está vivo", ele pensa,

"mas

certamente vai morrer um dia". Doisou três dias depois fica sabendo que ohomem acabara de morrer. Ayresdeixa algumas moedas nos bolsos paraque seu criado roube, porque sabe quese não fosse assim o criado poderiaroubar mais. Ayres gosta de conver-sinhas maliciosas, quando engraçadas.

Ele é o narrador deturpado, perfeitopara uma história que. de outro modo.seria sentimentalóide. ê o homem secoque não podemos acusar de ternuraexcessiva e que pode. portanto, noscontar essa história extraor-dinariamente terna, dizer-nos desseidílio arruinado, deteriorado não pelossentimentos feios ou por falhashumanas, mas por simples trocas deafeto, deixando o velho casal sozinho.O pensamento de incesto, que teriadeixado solteiros irmãos verdadeiros(mas que também teria mantido noBrasil pelo menos a irmã. fiel aomarido e aos pais adotivos), emnenhum lugar é citado no romance,mas paira constantemente no ar, comoo fantasma de uma transgressão que ojovem casal cometeu: um efeito que sóum romancista muito grande e muitoseguro poderia ter alcançado.

Um ridículo desanimadorDalton Trevisan também é basileiro.

mas a distância que o separa deMachado dificilmente poderia sermaior, a menos que se pense numMachado sardônico, obstinado.Trevisan escreve contos firmes eenigmáticos sobre inveja, morte,humilhação, pânico, doença e solidão.A seleção é tirada de sete livrospublicados por Trevisan entre 1959 e1969. e toma o título de uma série decontos a respeito de Nelsinho, um jovemmarginal '

que ressurge em várias'encarnações, seduzindo as balconistase dormindo com sua antiga professora.ê o vampiro de Curitiba, porque atacaas mulheres da cidade e porque sesente um vampiro fazendo isso.Procura pela sua imagem numa janela epensa:

"Desde quando a imagem de

Nosferatu emite reflexos"? Sorri parauma garota e toma cuidado para nãomostrar o dente estragado, mas emseguida comete o erro de virar para elaseu ouvido ruim, de forma que nãoouve o que ela diz.Esse ridículo desanimador aparecena maioria dos contos. Trinta e SeteNoites de Pabão fala de um casamento

nlo cmmmano. cancelado pda miada noiva depeít da utfttima tetimar*Oras, A prata ttaota. nesta cooctotao,attim como a ttosacio «tt eot aindahi mitito para t« falar, tio cai-HiciH*ocas"Um nsfs depois encontraram te por«rato na rua Maria deitou a mie efalou com ele com battantenaturalidade, Ele quate nio cooteguiuaceoder o cigarro, de tanto que asmãos tremiam".

Obs lamente há uma relação mtre oescritor e o leitor, que nio é nemdelegação nem paralelismo, mat raivae ponocacão A reação que se tem aoler 1 t.. ,r e uma evpècte de raha.Kaoa da perfeição da ditençáo doescritor, de tua abtoluta inmtbilidadcmoral, quando sabemos que de deveestar esprciiamlo. esctmdido atrás dc>cu esuít Mav cva*, raõa. supòc*se. éexatamente » que Tresisan quer dotleitores.

Não sd o quo há para dt/er sobreSeven Vokes, exceto que i uma leituraagradásel e que c muito extensa. Otsete escritores de Rita Guibcn —Neruda. Borges. Asiunas. Paz. Cor*tázar. Garcia Marquei c CabreraInfante — são muito incisivos quandofalam. A liberdade — Cabrera Infantenot diz. num contexto que indica quecie não está brincando —- é o oxigênioda história. E Neruda. muito sério, noslembra que a sinceridade é a maisabsoluta de nottat obrigações."Octavio Paz. uma última pergunta:Quais são seus planos para o futuro?Paz: Aboli-lo".

Neruda é pomposo. Borges éeducado e esquivo ("aquela serie de

mW^r^ ^B ****^^^ftoT .^tf*^»^^^^^^^^^

Júlio Cortázar em 62,menos denso,

menos constrangedore menor que em Jogoda Amarelinha. Mas,

ainda assim, importantee atraente

hábitos que são conhecidos comosendo de Borges", ele diz). Paz émaravilhosamente articulado e in-teligente. porém vago, repetindoalgumas idéias conhecidas. GarciaMarquez conta histórias engraçadas, eCabrera infante taz gracinhasdolorosas, que aliás parecem deleita-lo: "Emily Bronte pode não ser aVictoria Regina do romance do séculoXIX. mas algo ainda melhor: é aVagina Rectoria do século XIX".Penso no trabalho que deve dar parafazer uma piada como essa eestremeço. Cabrera Infante tambémfaz piadas sobre Fide! Castro eGuevara, além de indicar a paranóiacomo sistema político. Entretanto,termina — como muitos que estãofugindo de uma ideologia — como odefensor ideológico do çentrismo:"Acho

que todas as ideologias sãoreacionárias... que o comunismo é ofascismo do pobre"

No geral, todos falam muito bem, eassim, aquilo que seria um prazer ouvirtorna-se monótono e sem graça nopapel. A culpada não é Rita Guibert, jáque ela, obviamente, conduziu asentrevistas com muito tato ehabilidade. Mas aí está. Ou melhor, aíestão: sete homens tagarelas, ávidospara dizer ao mundo onde ele está; seteescritores em seu dia de folga, com osmotores parados e as línguas agitadas.

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II

Chanchada, erotismoe cinema-empresa

Arte & blue chips

Soudot Itmo • lmi!oc.oodo clnomo et trongairo:é umo novo toldo poro

o clnomo nacional?Je*cr* Cloodo tomador

Os Mantos i cenamenie uma

representação qua*e «artcaturaldo atual momenio do cinema empresabra*tlciro Algun* exemplo* pirailustrar e*ta afirmação:

O produtor cinematográficobrasileiro luta para *ub*titutr a filmeestrangeiro no mercado interno Emtermo* empresariais. *6 há dot*caminho*, ou o produtor oferece aopublico filmes com elemento* que osestrangeiros nâo podem apresentar, adiferenciação funcionando comoatrativo: ou entio ele tema fazer umproduto parecido com o estrangeiro eque po**a satisfazer no públicobra*ileiro uma especta ti v a e hábito*criado* pelo filme estrangeiro, fclaramente pela segunda tendênciaque optaram os produto*es.' escolhendocomo modelo a comedia eróticaitaliana. Um Os Mansos, esta *ituaçâoleva ao pastiche: o segundo epitódio équase falado em italiano; ambienta-senum meio indefinido e abstrato, quepode ser algum bairro carioca como dcuma cidade italiana; a trama estibaseada nm chavões dc um supostocódigo de ética italiano: os maridos"desonrados" tém que salvar suahonra no sangue.

Por mais fraco c instável que sejaainda o empresário cinematográficobrasileiro — como faz questão deressaltar a Sincro. produtora de AViúva Virgem e Os Mansos —- é oprodutor que aparece como figuradominante do empreendimento, é oprodutor que assegura a continuidade

,--c o sucesso de um filme a outro. Apublicidade de Oi Mansos se vale dosucesso dc A Viúva Virgem, mas nãoressalta, neste último filme, nem osatores, nem o diretor, mas simexatamente os produtores:

"Dosmesmos realizadores de .4 ViúvaVirgem...", dizem os anúnciospublicitários. O trailer vai mais longe,afirmando que

"o público nunca erra",discreto aceno a Adolph Zukor. Esta éde fato a frase que se usa em portuguêspara traduzir "The public is neverwrong". título do livro de memórias deZukor. fundador da Paramount. fraseque afirmaria uma harmonia de in-teresses entre o público e o produtor e.portanto, harmonia entre o produtor eo setor distribuição-exibição. Ouentão a Sincro teve intenções irônicasao citar Zukor?*

O cinema empresarial leva aexplorar o mais possível os elementosde sucesso comprovado. Por exemplo:o primeiro episódio de Os Mansosretoma um dos motivos principais àcAViúva Virgem, a oolsa de valores e o a-proveitamento da mulher com

finalidades econômicas; o cáftendeixou as casas de tolerâncias e foipara a bolsa. Em A Viúva Virgem estasituação tinha. atualidade, em OsMansos é apenas o reaproveitamentode uma fórmula de sucesso. Eu. Transo.Ela Transa é uma variação do mesmotema: o personagem principal se tornaalcoviteiro de alto nível para fazerprogredir os seus negócios na. altafinança. A conclusão do segundoepisódio de Os Mansos é uma variaçãoda conclusão de Viver de Morrer, atrama se , desenvolve em triângulosamorosos para chegar à revelação finalde que o problema é entre doishomens. A conclusão do terceiro,episódio: uma variação da conclusãode Os Machões: neste, o rapaz que nãoconseguia mulheres torna-se ho-mossexual, naquele, o homem,aesistindo das complicações em que semeteu com mulheres, resolve ficar comum homossexual. Neste último.episódio, ouira variação de situação de

Oi Mackòeí o homem que *t deitaseduzir fa* travesti *em^ perceberOutra »a*t*.»- de O* M a • k*# •• cn«on='»»•!-..>: rm Caiu /onr* *. Magniih'*...;...•¦' para alcançar *«* fins. o

sedutor v dhfana de hi»mo**ciual Ecs** li era uma variação de umasituação do filme italiano O <'-•••ptantm para conqutsiar dama*, osedutor *e *ale do tato de que lodo*pensam que ele mi «atirado, Se nkhouver renovação na imaginação dosempresanov o desgaste está parabreve, E depot* do desgaste?

O barato e o caro

A Visito Virgem e Of Mansos *Soproduções barata*, que não procuramesconder a mediocridade do* teu*recurso* Há inclusive um tom meto"avacalhado" ne*ie* filme* que.provavelmente, nâo e*ti alheio a seusucesso Em O* Mansos é panicular-mente o ea*o do terceiro episódio querevela desleixo na narração, enxerto depiada* gratuita* em relação ao filme.Diante dt**o. CassiJonus oferece outraopção. Uma produção à altura de umpúblico de "bom gosto". Situações etema* semelhantes á comedia mais"vulgar" poderão ser usado*, ma*apresentados num invólucro maissofisticado. Ctíiir Jones se desenvolvenuma maior quantidade de locais commais cenografia, mais luzes, matsobjetos de cena. Nada indica que opúblico em geral prefira este filmeempetecado aqueles que sâo maisdiretamente ao alvo: fazer rir comcocas de sexo. Mas parece que o setorda exibição viu em Cassi Jones umaopção viável para um público que nãoaceita a chulice mais despojada: foi aopção de salas elegantes como o BelasArtes e o Astor. em São Paulo, que nãolançam os filmes da Sincro. dos quaisCdJii Jones só se diferencia pelamaquiagem.

Uma terceira via se apresentaatualmente em termos de comedia: éaquela que despre/a a neo-chanchadae se volta para a chanchadatradicional, "autêntica". £ o caso deQuando o Carnaval Chegar. Na épocaem que se desenvolve a nova chan-chada. a velha (desprezada na suaépoca) aparece como um produtocultural digno de atenção das pessoascultas. A antiga chanchada tinha umgrande público ( a nova também),representava valores "populares" maisautênticos: são argumentos que levampessoas cultas a acharem de bom tomvoltar-se para ela -com ternura esuperioridade, ê o que faz Quando oCarnaval Chegar, que se ambientaparcialmente no Quitandinha dosáureos tempos da Atlântida. citandoalguns filmes, utilizando um atorcaracterístico da época (Lewgoy). Avelha chanchada se dignifica nametachanchada. não mais para oconsumo do grande público, mas parao consumo de apreciadores. Atualiza-se o quadro com valores modernos, nocaso: Chico Buarque, Nara, Betânia.Só que a síntese não se faz: não sesintetizam os valores da atual "canção

popular" com os valores da velhachanchada revisitada. como tampoucose consegue superar as duas ordens devalores. O filme se torna umajustaposição de valores, num tompassadista. No filme, Lewgoy estápresente como ator tradicional daAtlântida, que lhe atribuíasistematicamente papéis de vilão, mastambém como ator de Terra em Transedo cinema novo, prestigiado pelacamada culta, repetindo gestos dogovernador de Alecrim. Mas ele selimita a citar seu papel de vilão dechanchada e a citar seu papel de atorde cinema nobre, sem que nasça distoum novo personagem, uma nova ação,apenas uma colagem amorfa: Lewgoyresume o espírito do filme. MasLewgoy. além de ter estado nachanchada tradicional e no cinemanovo, além de estar em Quando oCarnaval Chegar, também está em OsMansos. Saudade da velha chanchada,a nova chanchada com mais ou menosornamentos, serão realmente opções?

"A km arte ê o *¦¦<:*•• mfsaimm-./*.-. 0»-*r> o (tonam mm mu ov»

Pendure aqui a* *oat Mm * 1/

Com este anúncio dc páginainteira pohJisado no* j»rnatv 4c SloPaulo na *cmana •¦»•>»¦?» a eakrta dearte CoJtonto tnwouava que parede**azta* ;a«iertam *er preenchida* porquadros dc Volpi, Tarsiia. Dacmia. ouIsmael ••-*:- tao promt**ore* quantoacue* do Banco do llraul no* bonstempo* da » -. - E comrdava para o*cu leilão de obra* de arte Num climaque não chegaria a merecer o adjetivo*ofi*ttcado. cerca de v • obra* (oram*endo apresentada* e arrematada* porum valor quase sempre bem próstrooao da avaliação, o que indica o bomcomportamento do mercado Algun*chegavam mesmo a «operar a própriaavaliação, como o óleo de Volpi.avaliado em CrS 20 mil e vendido porCrS 22.500.00. a "menina pobre" dePoncetti que obteve CrS 18 mil. *ets amais que a avaliação, ou o últimoquadro pintado por Tarsila. que numlance de certa emoção foi arrematadopor CrS 90 md *obrc uma avaliação deCrS ~5 mil. Terminado o leilão, que *eprolongou por três dia*, os investidorespuderam voltar para ca*a *eguro* deterem feito bon* negócios, como haviacomunicado a propaganda, E debrinde ainda levaram cultura c beleza.O leilão da Collecttio. firma com umcapital registrado de sete milhões e quemovimentou no ano passado 30milhões, parece querer dizer que omercado vai muito bem. obrigado.

Mas. nem tanto. Há algumassemanas surgiu a noticia de que aGaleria Ralph Camargo, especializadacm obras de vanguarda, teria falido.Rumores muitas vezes mesclados dequestões pessoais decretavam a in-solvência dc Ralph Camargo, oproprietário da galeria. Daniel Más.cronista social cariocarchegou inclusivea divulgar cm sua coluna a existênciadc uma ação executiva proposta porLigia Clark contra ele. RalphCamargo. 30 anos. o jovem marchand.como costumam chamá-lo (expressãoque ele considera antipática), umpouco irritado, esclarece: "Nao existefalência, somente uma criseeconômica, reflexo de uma crise maiorque envolve todo o setor empresarial.Tranquilizem-se os credores. Asdívidas serão pagas, os artistasreembolsados, e a galeria voltará aoperar normalmente". Na verdade, afalência de Ralph Camargo não seriauma notícia tão inesperada. Semcapital de giro (normalmente as obrassão deixadas em consignação) a galeriafoi obrigada a dotar o expediente queRalph chama de "tapa-buracos". istoé, desviar o produto da venda de umquadro de um para outro artista,chegando o momento em praticamenteque todos ficaram a descoberto Poroutro lado, Ralph tentou romper umdos tabus do mercado de arte noBrasil: vanguarda não rende.Apostando na obra de artistas jovenscomo Tuneo, Antônio Dias, WesleyDuke Lee, Cláudio Tozzi e JoséRoberto Aguillar, ele talvez tenha seadiantado um pouco em termos demercado, que só agora começa aabsorver a produção de vanguarda.'Alguns colecionadores já se voltampara os artistas jovens, entre elesGilberto Bandeira de Mello, filho deAssis Chateaubriand, ou Edgard deAlmeida, que aconselha: "O ideal écomprar quadros de cinco ou seisartistas jovens que prometam. Seapenas dois conseguirem projetar-se oinvestimento já está mais do quepago". Ü1/12/71 Visão). Um compor-tamento que não difere do adotado nomercado de todo o mundo. A seu favora palavra de Lord Eccles, presidente doMuseu Britânico: "o investidor nuncadeve voltar-se sobre um pintormedíocre de uma escola estabelecida,mas buscar os mestres de novas escolasou de grupos ou períodos' ignoradospelos museus". (The Economist25/12/68).

Para José Paulo Uomingues, 4ianos, diretor-presidente da milionáriaCollecttio, tudo é uma questão demercado. Paulista de Itapecirica da

Setri em M mrve* dc r4**d« dttto» oBrasil par» «-«*# tm 1%} centoagente da CSAll) — organuâvcJí»amtrstina di ab*!» **» d*^ou»>t.i"&foim advogado t economista, eletrabalhava para o Sentso dc Infor;m*vV* da ONU. designado paraencontrar obrat «k »t%t »<•«¦*>*4*-- pe***nazista* **•¦ Bravo' )<*** Paul» dcdt<»'sc ao trabalho que ek chama dccukunzacào da meteadona que »codec para quem vrnde Possui um caiálogu«om o nome de 1022 «ompradom, d«*quão iat»c «rsatimente quem c**mpr#Volpi. Gutgnard ou l* «ninar».Equacionando obra* e colecionamdores, Io** Paulo fala cm "igrejtniu*"(cotectonadore* que *e concentram emVolpt. Poncetti ou l*mael Ner*. porexemplo) c obra* ab*olut7v «Portinan.Tanila e Dil. presentes em ioda* a*eotaçbes. Em seu aceno, que comasom cerca de 12 mil obra*, a Collectiiiopo**ut a* mai* variada* tendências,indutivo de vanguarda, que em preçonão podem ainda concorrer com asblue-chipí no mercado (Recentementeuma obra de Ismael Ner* loi adquiridapor CrS 2 "•• md c nio se pode afirmarque o comprador Domingo* Giobre.magnata do sct«r de construções, naotenha pago um prev* justoi. Rejeitandoenergicamente a* acusaçõe* de que omercado e*ti infiacionado. José Pautoconsidera que o volume geral de vendasé ainda abaixo. *e comparado ao*mercado* estrangeiros (A cotaçãomédia do* quadro* vendido* pelaCollecttio e pela Bol*a de Arte *ubiu deCrS 4.800.00 em I9"l para CrS6.700.00 em 19?2l. Ouanto á acusaçãode que o artista brasileiro nâo temliquidez internacional, ele respondecom o argumento que todos os paísestém seus mercados nacionais e atéregionais. Como no caso de ThomasAnshuts. pintor americano quasedesconhecido, que leve um quadrovendido por 1.7 bilhão de cruzeirosantigos, preço que só vale para aAmérica.

O mercado, porém, tem outra face.raramente discutida. Uma recentedenúncia levantou algumas questõesque podem ser muito importantes paraa compreensão deste outro tipo deinfluencia. Giuseppe Baccaro. omarchand que criou a primeira Casade Leilões de São Paulo, em 1%4. eque é considerado um dos responsáveispela explosão do mercado de arte, ementrevista a Veja (28/3/73). disse quearte c mercado são incompatíveis. Esteteria transformado a obra de arte emsimples "objeto de consumo. SegundoBaccaro seu contato com as obras uePortinari, Poucerti. Guignara, Di.Tarsila, Volpi levou-o a compreenderque seus quadrJr» eram maneirasdiferentes de contar as maravilhosashistórias do sofrimento, alegria eesperança do povo brasileiro. E elecomeçou a sentir que o grito de umpovo inteiro estava sendo abafado emseus próprios símbolos, aprisionadonas mansões dos colecionadores. A arteteria assim perdido a sua função social.Há, realmente, uma contradição in-supcrável entre arte e mercado?

Vamos começar pelo início. Pelaobra de arte. A sociedade de consumotende a reduzir tudo à mercadoria.Normalmente, a produção dessasmercadorias é feita socialmente eapropriada individualmente. Nn casoda obra de arte, o mecanismo é u.npouco mais coinpic.«.o. A obraentendida como criação te.ii umprodutor (criador) individual . e éapropriada socialmente. E só assimpode-se falar do sentido social da arte,não em um sentido telescópico, místicooü romântico. A função social da arteestá ligada ao que ela representa dosvalores humanos de uma sociedade,ainda que esta se encontre enyolvidaem contradições. Mas a obra de arte étambém apropriada individualmente,como mercadoria. O seu valo.r, con-tudo, não pode ser determinado damesma forma que as outras mer-cadorias, cujos preoos têm no mercadouma força externa que os impele paracima e para baixo, porém cujo valorpode ser quantificado em relação amercadorias semelhantes. Na obra dearte, pelo contrário, o valor é aexpressão das idéias vigentes em

«ktcrfntnada «kci ** **« paço niopbde *tr asaMaoMo pr*« material«•mptc^adoiiciaseiiniav p«*f eumptelm pela •,-»»¦.•*•* de irabalho oda.*.i»,*f».**ií«i A qw#W#dc e o valori'*:-.* .» de uma obra *ó *# tornaraimportantes na medida em que possamlatote? ou «toar o pr*-f» que fo* pago,f ne**e sentido que caminha arüafurtdadc d«* colecionadoresisrsvítoro* q«. vegundu » --f PauloDomtnguc*. li ix* cxWi oot "ooadrosdo mesmo autua c da* mesmas

•¦.•*¦ r- -.. <-. p»*km ic? va!«*c* estéticose. em con*equência. comerciais.e*tremamenie dderenie***.

Slo o* mesmo* motivo* que con*duzem â fttKhaação da obra de ane.como obra ânka. originai Compradorno Bra*U quer dizer comprador in*dntdual Rara* instituições tim umprograma de aqui*tçõc* de vulto.*obrevt*cndo com doações filan»troprea* tao contrário da Europa e dotF.uados Unido*, onde ot museus eoutra* tn*tituicõe* determinam a nautado* leilõe*), "Libertem Portinari.Tantlt. Poncetti e muito* outros** dizBaccaro. "criem incentivos aos.nu*eu*" Sugerindo que « solução\aWxt, to**e multiplicar a oora aoinfinito. Baccaro admite que even*malmente o "original

poderia até ficarem mio* de um particular, já quase.-omncunosidade. Mas ver no mercadoo causador diabólico dc todos o* malesda ane seria cometer um erro. A criticade ane. por exemplo, tem quase selimitado a apontar e comentarcxposiçào em coluna* e*pecializadas.quase como corretores de galerias.Baccard "descobriu" Ismad Nery econta que os críticos preferiram trata-Io como pintor bizarro. Hoje IsmaelNery é uma realidade definitiva e nempor isso sua obra foi pensada com maisprofundidade, permanecendo a"descoberta mercadológica". JoscPaulo '•estourou" Volpi no mercado, esuas bandeirinhas continuam apenascomo uma genial solução gráfica oucomo modismo inconseqüente. Pouco•x fala da solução despojada eirrepreensível que ele deu àrepresentação das festas juninas.Chega-se a ouvir que Volpi "vende"bandeirinhas e portanto deve con-tinuar a fazê-las.

A posição do artista diante daexplosão do mercado de arte édelicada. Inegavelmente ela o valorizoucomo produtor. E sua adesão aomercado não pode ser vista apenas doângulo "esta ane está suja. nâo pintomais" (Baccaro acredita, por exemplo,que a imagem de gênio de Picassoentra em choque com o homem queacumulava castelos na Franca).'

Mas. até certo ponto, no Brasilartista sempre foi sinônimo i.desclassificado. Do estrangeiro vinhamas novidades estéticas. A Semana daAne Moderna foi uma revolireão quese restringiu ao âmbito artístico-estético, num período em que os ar-tistas buscavam vinculação social. Arevolução estética somente se com-pletou nos anos 50, com a formação domercado interno, num processodesencadeado a partir de 1930 eacelerado durantr a 2.a guerra.

Após 64, o mercado assumiu asmesmas características da economiaem geral: limitação, dominação,especulação. Ao mesmo tempo quealguns artistas aderiram a este mer-cado, forçados e confusos, surgiramalgumas saídas fáceis, às vezes exibidassob o rótulo de inovadoras.

Na medida em que su/giam"contestadores", porém, o mercadofabricou a impressão de que fora delenão havia solução. A questão, noentanto, não é simples: Uma posiçãode isolamento, purista, acrítica,poderia redundar no aumento dosprejuízos estéticos provocados pelodelírio do mercado, resultando numadiminuiçãoou mesmo cancelamento da.produção artística. O leilão daCollecttio diz que o mercado vai muitobem, obrigado. Mas poderia sermelhor. Talvez no dia em que o Volpi,por exemplo, se quiser e conservando amesma dignidade do mestre Picasso,acumular os seus próprios castelos. Napior das hipóteses, eles estariam emboas mãos. (Ana'Maria)

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21

Um caso de educação ou de polícia?Os médicos discutomse o otuol opidomio'

de doenças vonoroos éfruto do pormissivídu-Jw

ou do ignorância

O doutor Jean Miodc Nahoun foisurpreendido, hi duas semanas*

•••i um lato hem p»*uco comum cmconferências médica» Ele falava * uma-»-..*!cfi*u dc educadores c médico*,no Simpósio Latino*Americano deGinecologia e Obstetrícia. realizado naGuanabara, quando foi publicamenteameaçado de morte. Ccmmemc sem opropósito sério de cumprir suapromessa, uma indignada senhoralcvaniou**e na platéia para jurar suadispmteâo dc assassinar o rr.edu*.» casocie receitasse pilulas anticoncepcional»a sua filha menor de idade.

A reação passional da *cnhora nàochegou a comprometer o simpAsio nem•'¦: um escândalo muito grande, Elaapenas expressava, de modo um um»emocional, uma pane da opiniãopública brasileira mais conservadoraque considera o sexo um negócio sujodo qual as jovens dvsem tienr alheiasI dc cena forma, combina»» muitoK*m com o principal lema do simpósio:como educar a população para o sexoe. atrases disso, combater o incrívelaumento das doenças venéreas.

As venéreas são as únicas doençasque escapam ao restrito circulo damedicina e das autoridades sanitáriaspara se constituir num caso dc policia.Embora muito potien requisitado pelaspessoas, o artigo IM) do Código Penalprevê pena de detenção de três meses aum ano para quem transmitir a outrapessoas qualquer uma das muitasdoenças venéreas. Encaradas assim, asmoléstias se transformam em algovergonhoso, que deve ser escondido dosoutros e tratado com a máximadiscrição possível.

"Talvez a razãoprincipal do aumento das doençasvenéreas no Brasil seja a inadequadaeducação preventiva do público. Atransmissão continua e continuaráenquanto a vergonha impedir osdoentes de procurar a ajuda médica"— disse, na semana passada, o médicoMaurício Candau. brasileiro diretor daOrganização Mundial de Saúde, aoentregar o relatório anual da entidadeá assembléia-geral."Apesar dos tratamentos seremeletivos e o diagnóstico confiável, o

meado se tPí*mu» a um pa**»* de umavirtual epidemia Km quase todos ospaíses as doenças venéreas seespandet» a um riima entre oito a 10p».* cento **» an**> ptir^ipalmente eoireos ?.*»m» 4c II a 3 anos de idade" —afirma Candau

Sem poder confiar nas estatísticasdivponiscit —* os médicos nâocomunicam ov casos atendida», cm seusconsultórios particulare* e boa panedos doentes nâo procura as clinicas,preferindo tratar*** por conta própria— 0% medir»» presentes a>* simpósiorealizado na Guanabara apresentaramcifras mais alarmantes do que assugerida* pur Candau Calcula-se queem Sâo Paulo, cm lu"'. lenha ocorridoum aumento de cinco mil por cenio domimem de portadores das doenças. NoRio, com registros mais precisos, foram, mpn .4 *.< v em !'"l mais de '• milcato* de doenças venéreas entre Jovensde IH a 25 ano* quando, hi seis anos. onúmero de doentes era inferior a mil

Peles dado* oficiai* do IBGE —segundo o* médicos o institutoregistra menm dc Iff*- da incidênciareal das doenças — no pais inteiro, eml****H, foram comprovado* "9„"fcl

cavn. Km l*»"0. dois ano* depois, onúmero de casos constatado* puloupara 131.735. O cancro apresentou oaumentu mais significativo: de 6,169pavsou para 22.4 H casos em 19*0.Mas é a siltiis Ml.23» cavo*, cm l%blque detêm o recorde dc contágios:65.5*3 cm 1970. Essa doença superamesmo os Índices de blenorragia(gonorréia). moléstia que contagiou40.34b pessoas em I9?0 contra 2<U2bdoi* anos ante*. Embora registremainda uma pequena incidência, olinfogranuloma vcnêreo (1.033 casoscm l%8: 1.5o3. em H70) e ograiiutoma senéreo II.563. cm l%S:2.0*1. em 1970) também apresentaramum aumento relativamente alarmante.

Quais os fatores que provocaram umaumento tão acentuado dc doençasquase desaparecidas na década de 50com a descoberta da penicilina?

Os médicos brasileiros reunidos novSimpósio Latino-Americano deGinecologia e Obstetrícia construíramvárias hipóteses já que a falta de infor-mações e pesquisas nào permite umdiagnóstico mais objetivo. Asmigrações internas seriam um dosprincipais fatores responsáveis peloaumento das moléstias no Brasil. Apartir de um enfoque sociológico, essahipótese se baseia na possíveldesorientação do migrante que vem docampo para a grande cidade. Aban-

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;*.,h**•-.!.. i: norma* do ambiente ruralc vem conseguir assimilar os padrârsurbanos, ele pode ser desviadofacilmente para a pmstitutí*© eu adelinqüência Sua vttuaçá» marginaialiada a ignorância consumiriam umetcclenic cenârte para « desen*vobimento e disseminação das doençasvméteas.

Outra causa apontada entre outrospelo medico paulista lote Martins deBartôs é a mudança dc <omp»»namcn-to sesual e o aumento do uso de an-ticoncepcionats. A "era da per*mKststdade". iniciada na década deMi, %ó poderia ter como ctinscquêm «a aprumt»cuidade e u aumento «*.- númerode pessoas atacadas pelas doençasvenercav, A própria pílula anttconccpcional laaliiadora de relacóes *c«uat*fora du casamento teria uma impor-tanie parcela de responsabilidade aodiminuir o uso de preservatbos deborracha e tomar a mulher maissensHel às ínfèeçõc*.

Esse* dois fatores, invariavelmente,estariam acompanhados de outrosdois: a falta de educação setual e o*tratamentos deficiente*- Sem conhecertorrciamcntc ov sinromas da* »ária*doença* c cncarambi-as como algorepugnante*, sergonhoso. j-rande partedas pessoas contaminadas procura aautomedicação ou o conselho dcamigos e farmacêuticos. Tratadasinadequadamente, as doenças per-Mstiriam dc torma atenuada, amplian-do o contágio.

O médico Héssio Cordeiro, professordo Instituto de Medicina Social doCentro Bíomédico da L'EG. nãoacredita que a promiscuidade sexualpossa ser responsabilizada peloaumento da incidência das doençasvenéreas. "A

possível mudança dccomportamento sexual — diz Cordeiro— só pode estar ocorrendo entre aspessoas dc maior cultura e maiorrenda. Como os maiores índices dasdoenças são registrados nas classesinferiores da população, não seriaadequado lançar toda a culpa napromiscuidade"

Cordeiro cita um trabalho do dr.Juan César Garcia (pjbliçado noBolei in de Ia Oficina SanitáriaPanarnèricana) no qual é posta emdúvida a ocorrência de uma mudançasignificativa nu comportamento sexualalé mesmo nas camadas mais altas dapopulação. Para Garcia não existenenhuma informação que comprove arelação direta entre o aumento daatividade sexual e a maior incidênciade doenças venéreas. Em seu trabalho

çiç afirma que "no* Eviad**» Unidos, o

«romp**iamen!o voual variou muilopouco nas diurna* décadas. O quemudou e índu/ a uma falsa comprecn-4o 4o pt»>*ifcma c a fôrma de abordaro assunto cuja discussão passou doterreno privado para o contentopublico".

Entre os médicos há uma aparenteunanimidade sobre o uso inadequadode remédio* e a falia de informações art-»prtto da» «Vença» venéreas.Arualmcnie. as drogas eiivtenics nomercado sio consideradas plenamenteeficientes contra a irrponema pallidum— transmissor da sifdis —* e a nritteria

¦¦>"¦,... — da blenorragia- OcorTcque esse* medicamentos desem serministrados numa dosagem deter*minada que nem sempre é sonhectdapelos farmacêutico* e amigos divpmto*a ajudar o ilocnte indicando o nome deantibiótico* próprios para combater asdoenças senercas.

Quanto a falia de informaçòe*. daparece ser generalizada. Uma pesquisarealizada em 1971, enire 226esiudantes de medicina de Mogi dasCruze*. v"s. Paulo, constatou que obanho após o ato sesual era aprolilasia mais popular entre osacadêmicos; 14.7% usavam prever-salivo* dc borracha ç apenas li**»utitizaram antibióticos quando con-tagiados. Entre o* últimos, a maioriausou remédio* inadequados ou emdose* insuficientes. Na Guanabara,entre 2f»3 casos de uretrite gonocócidaestudado*, pelo Centro Médico da IIIHegião Administrativa. 12 pacientes, amaioria entre 20 e 24 anos.,desconheciam completamente comohaviam contraído a doença.

Para o professor Héssio Cordeiro, amaneira mais eficiente de combater oaumento do número de pessoascontaminadas é a elaboração de umacampanha educativa em caráterpermanente. Talvez, algo semelhanteao que está sendo feito nos EstadosUnidos onde os estúdios de WaltDisney foram mobilizados paraproduzir um desenho animado de 14minutos sobre doenças venéreas queserá exibido nas escolas secundárias detodo o país. Entretanto, além daeducação dos jovens, o professorCordeiro diz que é necessárioesclarecer também os médicos. Estes,quase sempre colocam a éticaprofissional acima de todos os outrosinteresses e se abstêm de comunicar àsautoridades os casos de doençasvenéreas. (Antônio José Mendes eVânia Pinto)

A pílula dofilho homem

É um plana fantástico:diminuir o nascimento

de mulheres paracontrolar a natalidade

Uma pílula que impedisse o nas-

cimento de mulheres, utilizadacomo meio ue controlar o crescimentopopulacional, faria o maior sucesso.Isso é o que pensa o professor JohnPostgate, da Universidade de Sussex.segundo afirmou num artigo publicadono último número àp AW Scientist.

Depois de af-mar que a ins-tabilidade social e a fome são proble-mas atuais — e não do futuro — oprofessor lembra que os métodosanticoncepcionais convencionais nãoresolvem os problemas populacionaisdas áreas onde mais são necessários.

Já que, de um modo geral, afertilidade depende muito daproporção de mulheres em relação ahomens, o meio mais rápido para sereduzir o crescimento da população é,segundo Postgate, uma bruscaalteração nessa proporção."Milhões de pessoas adorariamaproveitar a oportunidade de só terfilhos homens. Não seria necessárianenhuma coação ou propaganda", diz

o professor. E diz por que: "Entre as

pessoas comuns, há um fortepreconceito contra o nascimento demeninas. Na África, Ásia, e nasAméricas do Sul e Central, essepreconceito é quase obsessivo".

Se uma pílula dé-jfertilizaçãoseletiva garantisse que ^,90% dosnascimentos fossem de homens,rapidamente chegaríamos àdominação masculina e ao declínio dapopulação. A rapidez desse declíniodependeria da rapidez com que aspessoas curnuns reconhecessem acausa uo declínio. O processo inicialseria interrompido quando a desejadaestabilidade definitiva exigisse onascimento de mais mulheres.

O professor Postgate não diz nadasobre uma provavei reação lemunna aoseu plano — que. alias, e so pianomesmo, pois a piiuia mágica ainaanem existe. Entretanto, ele sugere quena fase de transição, durante a qual aproporção poderá ser de até 50 homenspara uma'mulher, as mulheres seriam"restritas e protegidas" por tabus,sineitas a poliandria, ou, ainda,tratadas wmo lormigas-rainnas. Oimportante, finaliza o professor, éreconnecer a urgência uu problema docrescimento populacional.

A vendado "Agente

Laranja19Um horbiodo quo vlriodo Víotnõ poro o BrotllParaguai • Veneiuolo

Duis negociantes norte-amerkanm

tiveram uma déia que lhes pa.rece cscclcnic c desde maio estão em-penhado* em convencer a Forca Aéreados Estados Unidos a sender para oBrasil. Venezuela c Paraguai seusenormes estoques do herbicidaquimico conhecido como AgenieLaranja. O produto se revelou umeficiente devfolhame na guerra do

v x-in.1 mas a interrupção do conditotornou praticamente inúteis os 2.3milhões de galões, avaliados cm Ib.Smilhõc* de dólaic*. que estão estocadoscm Gulfpon. no Misvissipi e na ilhaJohnson, no Pacifico.

O projeto dc Jerome F. Harrington.previdente do IKI —¦ Keserch InstituteInco — uma firma dc Nova York. e deArnold Lcvingstonc. chefe du escritórioÜlue Sprucc International, de NovaJcrse/. consiste em vender o Agentelaranja a cinco dólares o galão —inferior ao custo — ao governo dospaíses sul-americanos. Harrington eLcvingstonc seriam o* intermediáriosda transação e o herbicida serviria paradesmaiar áreas florestais que dariamlugar a fazendas pioneiras.

Disposta a -aceitar o plano, a ForçaAérea foi obrigada a suspender osentendimentos com os dois negociantesquando, no inicio dc abril, o CSScience Journal, de Washington,divulgou uma pesquisa de doiscientistas da Universidade de Harvad.Através de um novo e sensível métodode análise eles descobriram que adioxina — componente do produtoquímico 2.4.5-T. um dos ingredientesdo Agente Laranja — tem um fortepoder de contaminação c provocadeformações em homens e animais.

Kobert Baughman c MattevvMeselson. osdois cientistas de Harvard.pesquisaram inicialmente no Vietnãdo ini. onde. entre 1%2 e 1970, pilotosmilitares espalharam o herbicida emaproximadamente cinco milhões deacres de terra. Foram constatadosresíduos de dioxina em cinco espéciesde peixes dos rios Saigon e Dong-Nai enos camarões* da costa, na áreapróxima â região de Cangio.Alimentar-se com esses peixes podecausar uma série de distúrbios naspopulações do Vietnã do Sul. Naproporção dc 125 a 500 por um trilhão,a dioxina provocou defeitos físicos ehemorragias intestinais numa colôniade cobaias de laboratório quereceberam alimentos contaminadoscom o produto. Segundo os cientistas,há indícios de que o efeito da dioxinasobre os seres humanos é 60 vezes maispotente, bastando uma quantidademínima para provocar os mesmosdistúrbios causados às cobaias.

Baseado nas pesquisas de Baugh-man e Meselson, na primeira semanade abril, o escritório de Ralph Nader eSamuel S. Epsíein, físico etoxicologista da Case Western ReserveUniversity, de Cleveland, solicitou àAgência de Proteção ao Meio-Ambien-te a proibição do uso de qualquerherbicida contendo dioxina pelosagricultores e pecuaristas dos EstadosUnidos. A agência ainda não semanifestou mas parece mais disposta alimitar e não proibir c uso dos her-bicidas.

Embora atrapalhando sensivelmenteos entendimentos entre os doisnegociantes e a Força Aérea dosEstados Unidos, o pedido de proibiçãoparece insuficiente para impedir avenda do Agente Laranja aos países daAmérica do Sul. Cientistas norte-americanos já se manifestaram contrários à transação, mas, aparen-temente, a única ação capaz de impedi-Ia é do Departamento de Estado, qufdeve aprovar ou não o uso paramilitarde uma das mais combatidas armas daguerra química. ,

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Ot remédios inúteisVi»:--.

•*•«..<«!¦¦.•» pnubtdm tmEstados Unidos desde 1*9*1

continuam sendo scndidos. semqualquer tesinsão, na Brasil Alguns,como o leite*, o k - ¦>. ¦-. m ou o (ViVVOral. lem ••¦¦'¦• um largo em*prego em nosso pais. Ite uma lista dc•Kit produtos, elaborada pela t ¦¦¦'¦ andDrug Adminisiraiton. dos EstadosUnidos. 145 loram consideradosineficazes para e«-mbater as «Jocosaspara as quaK sâo indicadas e os 255considerado* prciudtciatt ã saúdeforam retirado-, du mercado norte,americano, Dessa lista, os NIlaboratârú* íarmacíuiieos existentesno Brasil "-' do*, quais de eapnalestrangeiro I labrtcam pcln mem* 18produtos que nâo estão combatendo,mas. cm algum casos, chegam a mui*tas doenças.

A maioria dos produtos condenadosnos Estados Unidos e labricados entrenos pelo** lab<*rai«Vto*t sâo antibiótico*,principalmente derivados dastciraciclinas. Elas podem causaranomalias letais, como depósitos decákio nososs«*siiu defeitos na dentiçâodas crianças, que nascem com dentescinzentos quando suas mães tomaramtetracklina no último trimestre dagravidez. O perigo «5 tão acentuado quea bula de um dos produtos proibidospela PDA. a Sigmamicina. akrtatextualmente: "Tal efeito secundário«anomalias da dentiçâo! %e observaprincipalmente nos tratamentosprolongados, mas pode ser igualmenteverificado a curto prazo".

A Sigmamicina contém ainda umoutro antibiótico: a oleandomicina.que pode atacar o fígado, alterando asua função, sendo assim contra-in-dicado para pessoas com problemashepáticos.

Noutro extremo da listada FDA. hámedicamentos consideradosineficazes, como o Cepacol. indicadonas inteccões e irritações da b«>ca c dagarganta, que na realidade náo temqualquer ação sobre elas. No mesmocaso estão as pastilhas de Acmmicinacom I5mg de tetraciclina e que devemser dissolvidas lentamente na boca. Aquantidade de antibiótico existentenessas pastilhas é insuficiente paracombater qualquer infecçáo.

T«xios esses produtos são vendidossem as necessárias apresentações dequalquer receita nas farmácias, o queaumenta muito seu consumo e osperigos conseqüentes. Um deles, oletrex. é dos antibióticos mais usadospara "tratar" gripes, inflamações dagargante c cenas doenças venéreas.

A Divisão de Fiscalização daMedicina e Farmácia, do Ministério daSaúde se limita a aprovar e licenciar osmedicamentos, baseada apenas nospareceres e nas experiências dospróprios laboratórios interessados que— obviamente — estão convencidosdas virtudes da ação de seus

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Leia e assine opinião

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medicamentos, mesmo quando estessão insulicieniemente testados epodem» como ocorreu com aTalidomida e o Hexaclorofeno. trazergraves riscos para a saúde dapopulação.

No momento, o governo estáestudando a criação de um Instituto deControle de Medicamentos, ligado àOrganização Mundial da Saúde, queirá testar aqui a matéria-prima e osprodutos dos laboratórios far-macéuticos. para comprovar ou não asvirtudes apregoadas. Mas como outrosprojetos na área da saúde, a criação

desse Instituto vem sendo discutida hámais de dois anos. ainda semresultados concretos.

Enquanto isso. a Divisão deFiscalização de Medicina e Farmáciasó se mobiliza quando a ação nociva dealgum remédio sensibiliza a grandeimprensa estrangeira c — consequen-temente — brasileira. Assim foi nocaso da Talidomida. do Ciçlamato e doHexaclorofeno. A lista de produtosproibidos pela FDA foi distribuída em30 de abril de 1971 e parece que nãochegou a sensibilizar nossasautoridades (Fritz Utzeril

continuação da página 2

Os objetivos de Grupos de Encontro,ou Sensibilização, se resumem emaumento da percepção de si e dosoutros, redução de rigidez defensiva dereações e comportamentos paraalcançar maior criatividade norelacionamento interpessoal, nosmétodos de trabalho e nos processos erelações administrativas. Ninguémpretende, como insinua a autora doartigo, um mar de rosas nem amor

universal. Trata-se apenas do que sepoderia chamar uma ampliação dafaixa, às vezes muito estreita, deliberdade e criatividade das pessoas emsituações de trabalho, de família, delazer. A transposição de novas formasde relacionamento experimentadas noclima mais permissivo do grupo parasituações "lá fora" é um problema quemerece atenção. Outro aspecto,também muito importante^ o nível deenvolvimento pessoal dos participan-tes. Em grupos onde há interdepen-

opiniãoOPINIÃO no exterior

No exterior a venda avulsa de OPINIÃO é feita nos

seguintes lugares:

Paris - La Joie de Lireda Editora Maspéro 40, Rue Saint Séverin - Paris V

Londres — 48, Old Compton St.— London W1 - , _, ...A/0"Zibeline Agencies" — 17/ Belgrave Gds. - London NW8Chile - Câmara Latino-Americana dei Libro Casilla 14502 Correo 21 -

Santiago.

dência funcional, como é o caso degrupos de pessoas pertencentes a umamesma empresa ou organização, aênfase está na melhoria do

.relacionamento funcional. Nos gruposonde se reúnem pessoas desconhecidas eindependentes umas das outras, aênfase está no crescimento pessoal,mudança de atitudes pessoais com umobjetivo, portanto, que pode serclassificado como quase terapêutico.

A diferenciação dos objetivos leva auma condução diferente dos grupospor parte dos monitores. A falta dediferenciação pode, eventualmente,levar ao tipo d«: confusão que a autorado artigo faz.

No Brasil, principalmente no Rio deJaneiro, Belo Horizonte. São Paulo ePorto Alegre existem núcleos deprofissionais empenhados neste tipo deatividades que a partir de 15 de agostode 1972 se reúnem na SociedadeBrasileira de Psicoterapia. Dinâmicade Grupo e Psicodrama com sede emBelo Horizonte.

Therese Amelie TellegemCoordenadora do Grupo de Estudo de

Psicologia Social AplicadaSao Paulo, capital

A defesa siciíianade Bobby Fischer

Uo«>oid lorde*»

A «arame fasortia do campeiomundial H • • ¦ Fischer contra a

Uelesa Stciliana anda mal «hi* desde aquarta partida de Revkja.-.k cuniraSpassks, O sistema de Fischer eemústeem desenvolver logo o bispo do re»bra* para atacir o muro de peõesnegros em 3R c *HK Bobb* conseguiumuitas víiortas minand«i a frente depeões negros com o avanço rápido doPBR branco a 5BR

s-t ...... com as negras. apreentouuma variante cuidadosamenteestudada que pM Fischer na defensiva,c o ataque do russo Ira ala do rei foicontido a duras penas. Mas aindaexistem algumas dúvidas sobre osistema de Spassky. Em particular,depois de I P4R P4BD 2 C3BR P3D JP4D PsP 4 CxP C3BR 5 C3BD C3B 6B4BÜ *•-••< ' B3C B2R 8 B3R 0*0 asbrancas podem jogar, em lugar dolance dc FKchjcr 9 0-0. o perigosoAtaque Vdimirovic 9 D2R e 10 0*0*0seguido de um ataque na ala do rei.Apesar de Fischer ter perdido duasvezes ao usar este sistema com asbrancas, nào tinha jogado muitocorretamente c o Veltmirovic aindatem boa reputação.

A moda atual para responda ivariante de Fischer é as negras levarema dama a 3CD no lance 6. para forçar ocavalo branco dc 4D a se retirai para3CD. onde é menos agressivo. Asnegras também tem outrapossibilidade menos conhecida e que co assunto da partida desta semana,jogada no torneio zonal de Hclslnquí oano passado, pelo campeonatomundial. Embora as negras percam, arazão foi uma falha na defesa contraum ataque na ala do rei. c nãoqualquer defeito' inerente á abertura.As anotações seguem parcialmente oscomentários de Florian na revista TheChess Player.

Sarcn (Finlândia) — Robalsch(Áustria)

Siciíiana, variante Fischer1 P4R P4BD 2 C3BR P3D 3 P4D

PxP 4 CxP C3BR 5 C3BD C3B 6 B4BDB2D Não se deve jogar 6...P3CR? semmais nada. por causa da velha ar-madilha 7 CxC PxC 8 P5R PxP? 9BxP— ganhando a dama.

7 B3C P3CR 8 P3B CxC 9 DxC B2CO plano das negras é chegar a umavariante do Dragão em que a damabranca tenha que perder tempo aoretirar-se ante a ameaça de ataque pelobispo do rei.

10 B5C O sistema mais agressivo. 10B3R 0-0 11 D2D P4CD 12 0-0 P5C 13C2R P4TD dá às negras um bomcontrajogo no flanco da dama.

10... 0-0 11 D3R P1C 12 P4TRP5C!? Isto é uma tentativa de melhorar12... P4TD 13 P4T PxP 14 CxP T1C 15P5T, como na partida Ciocaltea-Stein.Caracas 1970 — que terminou em-

ratada mas só depois du grande mestre¦...rfihiiVfir. rsiar a beira da derrota.

13 aR IJ C$W C«C perde um*; ede* • dt i*li*t h»n MC5D

B2C 15 D5C TIR os bispos negrosdominam, A partida Rescnberg*Bordcn. Qlasgo* 1971. «amdutu comtn 044 P--TD I" C4B P1R 18 RICPST 19 B4B D2B ít BM> rVr 21 PíTPJT 22 IMC P4C 23 C-Vf PsP 24 P5RP4D 25 DsPCD TR1C 2r» WC TxPT! eas brancas aband«*naram.

I3-.P4TD 14 B*T TIB 1$ PST BiB10 D«B PJR? Como Irequentememeacontece, um lapso defensivo é quasefatal numa posição de luta aguda.Forian recumenda 18...P5T I? PxPPsB 18 P"C TIR I* C4B U9 P4COKU B3B 20 C5T C2D! 21 C4B C3Benm empate por repetição de lances.

17 C4B? f melhor I? P4C. poisagora as negras poderiam ter armadouma boa brigacom 'P...P4C.sacrificando um peão.

17-.D2R? 18 P4C P5T 19 P5C PiB20 PxC DxP 21 PTRxP D2C 22PxPTf E as brancas chegam a umfinal em que sua vantagem materialganha facUmente.

22..R1T 23 DxDê RxD 24 PBsPTB 25 C5T-*- R3C 26 C4B+ R2C 27C5T+ R3C 28 C6B! RxC 29 P8TIDITxD 30 TxT TtP 31 T8CD T?T 32TI D TxP 33 TxPD F. as negrasabandonaram no lance 40.

Problomo N-* 241 |

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As negras o<er«?cem ás branm«'de

quem ê a vez de jogar) o empateneste final, raciocinando que o seubispo amarra o PBD dos brancas, seuPR crava o cavalo branco, e o reinegns está prestes a capturar o PCR.As brancas devem aceitar a oferta outentar ganhar?

Solução do N° 23As negras poderiam ter empatado

com 1...P3TR! Se depois (a) 2 BxB-+-OxB-f- 3 R4C D6B-+ 4 R3T D8B-<- e adama negra dá xeque perpétuo" emR3B, R6B. e R8B. (b) 2 DxPBR-4- RxD ea dama restante das brancas só podedar xeque perpétua, (c) 2 DxPR?perde com BxB-t- 3 R4C P4T-«- 4 RxBD3B mate.

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24

Éum ptttaro? £ um coqueiro?

f um* fruta? No centrotul doj«4i» nlo st tabia direito, Ouem ibntete dn ido om ienes do troptcalttmoiaher se lembratte que • palavra

Ar* J Arul" apareeta uma ser nacanção Margineha II de TorquatoNeto. Mai agora nlo era apenat umaraçi troptcatUtiaf; era um araçl a/ulO dtteo foi muito procurado, mat logoem seguida 0% rctcndrdcrct te «iram ât»oh.\ com muitat devoluções — •ponto dc ter preparado át prettat umcanai de !¦: * com opiniões de crilicotda imprensa

Araca Azul faz portanto retherreações semelhante» át de um pastadorecente, quando o bem componadoCaetano tubttamente começava aaparecer plantando bananeira noprograma Divino Maravtthata, Oamesma maneira que f ->•• Gilberto foraacusado de desafinado c "tem sai"quando romperam tradicionais padrôetritmtcot metódicos e harmônicos.Caetano e o chamad>> grupo baianoforam lago taxados dc loucos, indecen-tes. imorais. Acontece que o serdadeiroanista. o insentor. é aquele que estiinevitavelmente trabalhando osmateriais de sua é,'*oca. num per*manente processo dc lançar a propustaadiante. Assim procede Caetano, comserena intencionalidade. equipado queê do que já se chamou de uma incrftel"antena"

para captar o material deque dispõe — ou seja. toda a chamada"informação cultural" de uma época.

£ o que acontece em Araçâ Azul.onde se percebe nitidamente odesenvolvimento de cenos "caminhos"

ji apontados nos LPs Fropicàliu cCaetano Veloso. O poeta retoma seuscontatos com Duprat e Augusto deCampos, c nào é**p\ir acaso que o discosurge simultaneamente com o deWalter Franco e o de Hermeto Pascoal.Entretanto. Caetano parece mesmoconstituir de maneira mais completa asíntese dc que se poderia chamar deatual estágio evolutivo de nossa músicapopular. Sempre haverá, porém, osdetratores vindos das mais variadasáreas para dizer ou que o artista"ficou rico e está se divertindo", ouque

"virou superstar". ou que. sim-plesmente.

'não faz música". Caetanosabee faz música, mas nâo se contentacom isso. Reclama da poluição: é umcego cantador. No estúdio. RogérioDuprat tece glosas sinfônicas em tornodeste 'épico urbano". Ainda noestúdio, monta em 16 canais umaconversa, utilizando vários níveis delinguagem coloquial-afetiva. cheia deevocações-provocações: é pretuvéio. écriança, é entendido, é pregão de rua. éaboio do campo. E o importante é quetudo isso é extraído da atual culturabrasileira, na mais literal acepção dotermo. O negro aparece não apenas notratamento rítmico: o preto velho falade Gilberto Gil, e a canção Cravo eCanela, de Milton Nascimento érecriada numa atmosfera das cirandas

Em torno do Araçá AzulVanguarda do sonho

de crianças no interior. O sentido deunidade da obra é proporcionado pelossambas dc roda e "pontos" de donaEdith e seu "praio-efaca".distribuídos como um "som

quepassa" de s'ez em quando. .. logonaufragado por outros, pertur-badoramente "modernos",

querevelam intencional afinidade com asexperiências de Stockhausen. JimiHendrix c Pink Floyd.

O disco dc Walter Franco, nesteponto, é mais radical, uma vez queapresenta a quebra da palavra muitomais como um flagrante reflexo daépoca atual: fragmentada, angustiada,estrangulada mesmo. Se em termos deacabamento fina! o disco pode até sercomparado ao balbucio de umacriança aprendendo a falar, cabe poroutro lado questionar porque umartista inteligente é leva-do a falar assim. Seum trabalho é rico na medida em quesuscita dúvidas e indagações, então odisco de Walter Franco representa deimediato uma generosa fonte dereflexão/provocação, colocando-se demaneira conseqüente e complementar

a Arucã Azul.Walter Franco citaGilberto Gil: Caetano chama Hermetopara o barulho da cidade e mostra queos sons deste já foram por eledevidamente registrados c an-tropofagizados.

Walter Franco conclui seu trabalhoVoltando a indagar provocativa mente oque é que há na cabeça do ouvinte.É se ela um dia explodir? Reafirma,portanto (e de maneira maiselaborada), este tipo dequestionamento levado às últimasconseqüências e que tanto incômodocausou num Festival Internacional daCanção. E faz questão de registrar, ouquer saber, que época é esta: 19 dedezembro de 1972, llh36m.

Caetano Veloso. explica dolente esereno que araçá azul é sonho-segredo.o nome mais belo do medo: araçá azulé brinquedo. ( S. Aí)

continuação da página 18vida sexual de Leonardo e emsua atividade artística". Até

continua ao lado

A maioria dat pessoas que tanemquando o tonho de que fala John

Lcnnon acabou protatelmcntc niosabe quamiu ele começou Pode lercomeçado em 08. ou aniet. em 67. como ealiturma-drvum fo iloner-puwerS,De qualquer maneira, "o tonho"parece ler stâ*. dc rápida duração —a bordo da grande nate Woedtiock. ouflutuando na ilha dc Wjghi. ondeHcndru ja estava avisando que iàpanir. E at dc*.iticnciat continuavam;morre Janh JopJin. ot Bcailet teseparam. Frank Zappa dittolse oMoihert of Intention

Correm rumoret de queRogério Duprat está turdo. Lennonavisa que lhe dream is aver. mat não éouvido no Brasil, onde o disco nàoaparece

Aparecem discos românticos, in*disiduait. calmat badaladat paraembalar esvc incomodo revenériomundial. I começavam a surgir atmtvtertosas e sombrias ego tnpt dol»tnk Floyd. uns caras estranhos, quegostas am de tocar para poucaspessoas, em inferninhos de Londres.Seguiam uma das pistas apontadas porHendrix. contudo. F. se começavam afalarem mesa de som. cm sinictizador.em mixagem. Enquanto isso. a maioriasilenciosa renomeava seu gerente.

Os sons são mixadoscYcmixados. desarticulados: avoz havia muito tinha virado ins-trumento também. Faltava descobriro corpo, e foi isso que o rock bissexualfez. para desespero dc muitos pais dcfamilia c alegria das gravadoras.

Enquanto isso. por onde andava avanguarda brasileira? Júlio Medaglia.que ironicamente acusava Stockhsuscnde se transformar cm vanguardahistórica, deixava o Brasil, em troca desalários mais rendosos. Duprat faziaji n g I e s comerciais. Oconcretista Augusto dc Camposaceitava o convite de uma universidadenorte-americana: ia dar um curso deliteratura brasileira, no qual pretendiatrabalhar inclusive com textos dosbaianos. Dc Londres, Caetano enviavaum disco bclotriste e Gil mostravacomo sempre sua surpreendentecapacidade de assimilação digestão,num disco onde as únicas palavrasbrasileiras eram. significativamente,"nega" e "tão triste". O tropicalismo.mistura caótica e antropofágica deformiplac, araçás e bananeiras, eratratado então como "faio**^iistórico"dentro da geléia geral brasileira.

O momento, portanto, era deretlexão. E olhava-se para Caetano,para Gil, lembrava-se que JoãoGilberto estava ausente jâ havia muitosanos. Apareciam os primeiros sinais: a

pastagem benéfka dc João Gilbertopela comunidade dot Nosot Baianotretuhana num agrad-tcl diteo: otaltimbanco-pocta lorge Mauincrapresentava um disco "diferenie". compropostas que iam do hlues"aculturado" ao que te podenachamar de "caunte% latino-moumeo"— •¦ Jardt MacaJé. «parceiro de Gil eCapinam, gravata também teu LP.num trabalho que cm termos muticaitse teportasa ao ;<•¦„¦'••im. exploradoper ' ••¦'¦ v o v>nho ainda nâo haviarecomeçado, pelo menos o pesadelotinha passado: o disco dos NososBaianos chamasa-te \cabou Chantre.e o dc Mautrtcr era Paru Iluminar a

, Cidade. Mais pistas, ponanto.

Aguardasa-sc impacientementc asmanifestações de Gil e Caetano. EntãoGilberto Gil de cena maneira frustraas expectativas dos freaks brasileiros:mostra um disco de memórias deLondres, dessa vc/. todo em português.Mas dá loques significativos: "seoriente rapa/". Ou: "o sonho acabou/quem não dormiu no sleeping-hag/ nemsequer \onhou". E mostra o celeiro dc-ns que aqueles in-aks tinham cmcasa e nem sequer desconfiavam: aamostra é dada por uma faixa curta.Pipoca Moderna, rxecutada pelaBanda de Pifanos de Caruaru. Chega avez de Caetano, este já muito mais"folclori/ado" e mitificado. MasCaetano também está sereno einexorável, sempre batalhando compaciência & arte dentro da chamadalinha evolutiva da música popular.Ainda há canções em inglês, relatandomemórias de Londres. Mas já nào sesente a melancolia e o rancor do poetaarrancado dc suas águas azuis deamaralina. ê um disco mais do "cantorde rádio" Caetano Veloso. que mostracomo ele gosta de transar cenos"clássicos de nosso cancioneiro".Finalizando o disco, uma parceria comGregório de Matos — triste Bahia —devidamente recriada c atualizada, queé a retomada de contato com a terra.Outra significativa transa do trabalho:o violão é de Jards Macalé (ou. como sedizia antigamente: sem-o-qual-não-teria-sido-possível-a realização-deste-disco). LS.M.)

continuaçãocerto ponto, ele o conseguiu.As esperanças e os medos deLeonardo fazem sentido paraum leitor receptivo que tenhaabsorvido, as várias inter-

continua no próximo número

Domingo, 15 de abril, o progra-

ma Só o Amor Constrói {o mesmo-ue massacrou Orlando Villas Boas)

calizava a vida (e a "obra") docolunista Ibrahim Sued através de umroteiro calcado em seu livro Vinte Anosde Caviar. Se com o sertanista arelação estabelecida entre o en-trevistado e a produção do programafei absurda (pois um desconheciainteiramente a. verdadeira face dooutro), aqui tudo se passava comonuma reunião entre amigos. Tratava-sede "trazer" ao universo do programaos elementos da escalada social deIbrahim Sued. a sua vida bem sucedidade selj-made man. objetivo supremo doestilo competitivo de vida que nos cercaa iodos. Mas Ibrahim advertia que"para se ter sucesso e conseguir mantê-io. tem-se que engolir muitos sapos"; eisso tinha o sentido de lembrar que ascoisas não são tão fáceis comoparecem. Quando, no programa, elevoltava a um botequim da Rua daAlfândega, "onde comi muitas vezes",ficava claro o abismo real existenteenireoque ele foi (os freqüentadores dobar) e o que esses poderiam ser (opróprio Ibrahim), obstáculo intrans-

Engolindo saposponível para os que não têm nem osapo para escolher engolir.

Na verdade quem mais se divertia nafesta era o próprio entrevistado cujoúnico trabalho era o de contar fatospitorescos e, de'quando em quando,"interpretar" um pouco, fazendo caraspensativás e apoiando-se numabengala, como que curvado pelo pesodas verdades. E isso servia de "ponte"

para a figura do narrador Murilo Néri.(a presença viva da idéia do programa)que

"respondia" com caras de emoçãocumprindo assim a tarefa da produçãode estabelecer a ligação entre o "amor"do titulo e a escalada focalizada.Ibrahim talava da noite em que BabyPignatari, o dono da mesa. perguntou"quem convidou esse cara?" e doressentimento que isso lhe causou,"um dia a minha mesa será a maisdisputada do mundo", uma promessaque, segundo ele. havia sido cumprida.Sobre a mesa focalizada pelascâmeras, duas rosas marcavam apresença da produção do programatraduzindo a "originalidade" do

O self-made man Ibrahimsegundo o programa deTV Só o amor constrói

sentimento que relaciona a tlor (rosa)ao amor (o que constrói).

Antes o Ibrahim pobre, que nosrestaurantes "perdia" a fome,limitando-se ao cafezinho e que nastestas cercava o dono d'O Globo naesperança de uma oportunidade; hoje oIbrahim do programa, freqüentadorassíduo do Bec Fin onde só tomaMúúton dc Rótschild (embora acâmera mostrasse sobre sua mesa umagarrafa de Chatéau Latitte) e queconfessava a origem cubana de seuscharutos, "um

presente do sheik daArábia Saudita". De um a outro, o quepoderia se constituir na verdadeirainspiração de um programa detelevisão (que não este, claro): aescalada, a trajetória percorrida, arecriação de toda uma época. Odepoimento de Jorge Dória dava o que

poderia ser um ponto de partida: naépoca dos cassinos efervescentes, dasnoites brilhantes, um bando de rapazes"duros e sem perspectivas tentavam,através do papo e da simpatia, selançar na vida no equivalente aosvestibulares atuais". Era o clube doscafajestes misturando príncipes(Orleans e Bragança), filhos depolíticos influentes, jornalistas semdinheiro cplayboys, vagando pela noitecomo verdadeiros vitelloni cariocas dosanos 40. E recriar uma época não ésimplesmente mencioná-la emdepoimentos, mas sim revivê-la de fato.com suas músicas e personagens, seu"swing" e seus gestos, criando umaimagem de televisão que correspon-desse a uma verdadeira utilização detodas as suas possibilidades. Partir,para efeito de roteiro, do próprio VinteAnos de Caviar não significaria buscarno livro análises corretas ouideologicamente profundas, mas simlocalizar uma determinada época,numa espécie de "Rio de Janeiro,através, dos anos, visto da mesa de

boate". O que seria um "limite" comooutro qualquer.

Curiosa, inclusive, era a relação doentrevistado com o telespectador. Aomesmo tempo em que Ibrahimdeclarava, com seriedade, que os anosduros tinham sido para ele "umverdadeiro inferno", o telespectadorera presumido vivendo uma situaçãosemelhante recebendo, então, con-selhos a respeito de como usar oguardanapo em um restaurante ou decomo manter apresentável um terno delã sem mandá-lo para a tinturaria. Opúblico, acostumado a ser o mentorintelectual, (através do IBOPE) daprópria programação, era entãoremetido à sua situação real. Posiçãoi n c ô m o d a a m e n i z a d a p e 1 apossibilidade irreal de, como Ibrahim.realizar a escalada, que termina napiscina do Copa ou nos braços de AvaGardner.

Como de hábito mais umapossibilidade de programa jogada forapelo trabalho da equipe; uma estruturaonde qualquer um pode ser encaixadono espírito do programa, Villas Boas,Ibrahim, Goldwater ou Mineirinho.(Haroldo Marinho)