dahlberg, i. teoria do conceito. ciência da informação, rio de janeiro, v. 7, n. 2, p. 101-107,...

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5/25/2018 DAHLBERG,I.TeoriaDoConceito.CinciaDaInformao,RiodeJaneiro,V.7... http://slidepdf.com/reader/full/dahlberg-i-teoria-do-conceito-ciencia-da-informacao-rio TEORIA DO CONCEITO' RESUMO Ingetraut Dahlberg Editor—In—chief of International Classification Verlag Dokumentation München, Alemanha Ocidental Com a ajuda das linguagens naturais é possível formular enunciados a respeito de conceitos i nd ivi du ai s e co nc ei to s ger ai s. To do e nu nci ad o s ob re objetos contém um elemento do respectivo conceito, que se identifica como característica do conceito. C ar ac te rí st ic as id ên ti ca s e vi de nc ia m r el aç õe s e nt re conceitos. A intensão de um conceito é a soma total de características e a extensão do conceito é a soma total de conceitos mais específicos. A categorizaçãoformal dos conceitos — objetos, fenômenos, processos, propriedades, relações t em im po rt ân ci a n a f or ma çã o d e s is te ma s e na c om bi na çã o d os m es mo s. S ão d a m ai or i mp or tâ nc ia as d ef in iç õe s c or re ta s dos conceito s, pois que o continuo desenvo lvime nto do co nh ec ime nt o e da l in gu ag em , co nd uz -n os à u ti li za çã o de sempre novos termos e conceitos cujo do mínio n em se mp re é fá ci l ma nt er . ( HM PB ) De scr it or es: Co nce it o; L in gu ag em nat ur al ; L in gu ag em de i nd ex aç ão ; I nt en sã o; E xt en sã o; D ef in iç ão 1 LINGUAGENS. LINGUAGENS ESPECIAIS. LINGUAGENS FORMALIZADAS Desde que o homem foi capaz de pensar e de falar, empregou palavras (conjunto de símbolos) para designar os objetos de sua circunstância assim como para traduzir os pensamentos formulados sobre os mesmos. Foi também através de formas verbais que se fez entender pelos seus semelhantes. Este modo de conquistar o universo desenvolveu-se de maneira parecida àquela pela qual as crianças aprendem a língua, com uma diferença: os elementos da linguagem (vocabulário e sintaxe) não estavam de antemão preparados e fixados. 0 homem teve que construí-los lentamente. O conhecimento fixou-se através dos elementos da linguagem. Novos conhecimentos apareceram com novos elementos linguísticos e também através destes tornaram-se mais claros e distintos. Podemos dizer que este processo de crescimento há de perdurar enquanto o homem existir sobre a terra e utilizar a linguagem como expressão de seus pensamentos. * Tradução para o português do Prof. Astério Tavares Campos, do Departamento de Biblioteconomia da Universidade de Brasília. Aula ministrada por ocasião do 8 . Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação, Brasília, 22-25 de julho de 1975 Podemos então dizer que a linguagem constitui a capacidade do homem designar os objetos que o circundam assim como de comunicar-se com os seus semelhantes. As linguagens utilizadas nas necessidades da vida diária denominam-se linguagens naturais.  Além destas, o homem criou outras, chamadas linguagens especiais ou linguagens artificiais  ou linguagens formalizadas,  como a linguagem da química, linguagem da matemática, linguagem da lógica, linguagem dos sistemas de classificação, etc. 2 OBJETOS INDIVIDUAIS E OBJETOS GERAIS Com a ajuda da linguagem foi o homem capaz de relacionar-se com os vários objetos que o circundavam e foi também capaz de elaborar enunciados sobre os mesmos. Toda vez que o objeto é pensado como único, distinto dos demais, constituindo uma unidade inconfundível (coisas, fenômenos, processos, acontecimentos, atributos, etc) pode-se falar de objetos individuais. Pode-se dizer que o que caracteriza os objetos individuais é a presença das formas do tempo e espaço. Os objetos individuais estão aqui e agora. Ex.: esta casa, esta mesa, este automóvel, esta partida de futebol, etc. Note-se que se trata só da experiência humana comum, filtrada através dos sentidos, em circunstâncias comuns e normais. Não sabemos, ou não temos experiência de, como possam existir seres individuais fora do tempo e do espaço. Podemos dizer, utilizando a linguagem kantiana, que nossa experiência é toda condicionada Ci. Inf., Rio de Janeiro, 7(2): 101-107, 1978 101

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  • TEORIA DO CONCEITO' RESUMO

    Ingetraut Dahlberg EditorInchief of International Classification Verlag Dokumentation Mnchen, Alemanha Ocidental

    Com a ajuda das linguagens naturais possvel formular enunciados a respeito de conceitos individuais e conceitos gerais. Todo enunciado sobre objetos contm um elemento do respectivo conceito, que se identifica como caracterstica do conceito. Caractersticas idnticas evidenciam relaes entre conceitos. A intenso de um conceito a soma total de caractersticas e a extenso do conceito a soma total de conceitos mais especficos. A categorizaoformal dos conceitos objetos, fenmenos, processos, propriedades, relaes tem importncia na formao de sistemas e na combinao dos mesmos. So da maior importncia as definies corretas dos conceitos, pois que o continuo desenvolvimento do conhecimento e da linguagem, conduz-nos utilizao de sempre novos termos e conceitos cujo domnio nem sempre fcil manter. (HMPB)

    Descritores: Conceito; Linguagem natural; Linguagem de

    indexao; Intenso; Extenso; Definio

    1 LINGUAGENS. LINGUAGENS ESPECIAIS. LINGUAGENS FORMALIZADAS

    Desde que o homem foi capaz de pensar e de falar, empregou palavras (conjunto de smbolos) para designar os objetos de sua circunstncia assim como para traduzir os pensamentos formulados sobre os mesmos. Foi tambm atravs de formas verbais que se fez entender pelos seus semelhantes.

    Este modo de conquistar o universo desenvolveu-se de maneira parecida quela pela qual as crianas aprendem a lngua, com uma diferena: os elementos da linguagem (vocabulrio e sintaxe) no estavam de antemo preparados e fixados. 0 homem teve que constru-los lentamente.

    O conhecimento fixou-se atravs dos elementos da linguagem. Novos conhecimentos apareceram com novos elementos lingusticos e tambm atravs destes tornaram-se mais claros e distintos. Podemos dizer que este processo de crescimento h de perdurar enquanto o homem existir sobre a terra e utilizar a linguagem como expresso de seus pensamentos.

    * Traduo para o portugus do Prof. Astrio Tavares Campos, do Departamento de Biblioteconomia da Universidade de Braslia. Aula ministrada por ocasio do 8o. Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentao, Braslia, 22-25 de julho de 1975

    Podemos ento dizer que a linguagem constitui a capacidade do homem designar os objetos que o circundam assim como de comunicar-se com os seus semelhantes.

    As linguagens utilizadas nas necessidades da vida diria denominam-se linguagens naturais. Alm destas, o homem criou outras, chamadas linguagens especiais ou linguagens artificiais ou linguagens formalizadas, como a linguagem da qumica, linguagem da matemtica, linguagem da lgica, linguagem dos sistemas de classificao, etc.

    2 OBJETOS INDIVIDUAIS E OBJETOS GERAIS

    Com a ajuda da linguagem foi o homem capaz de relacionar-se com os vrios objetos que o circundavam e foi tambm capaz de elaborar enunciados sobre os mesmos. Toda vez que o objeto pensado como nico, distinto dos demais, constituindo uma unidade inconfundvel (coisas, fenmenos, processos, acontecimentos, atributos, etc) pode-se falar de objetos individuais. Pode-se dizer que o que caracteriza os objetos individuais a presena das formas do tempo e espao. Os objetos individuais esto aqui e agora. Ex.: esta casa, esta mesa, este automvel, esta partida de futebol, etc. Note-se que se trata s da experincia humana comum, filtrada atravs dos sentidos, em circunstncias comuns e normais. No sabemos, ou no temos experincia de, como possam existir seres individuais fora do tempo e do espao. Podemos dizer, utilizando a linguagem kantiana, que nossa experincia toda condicionada

    Ci. Inf., Rio de Janeiro, 7(2): 101-107, 1978 101

  • Teoria do Conceito Ingetraut Dahlberg

    pelas formas do tempo e do espao ou que tempo e espao so condies "a pr ior i" da nossa sensibilidade.

    Mas, alm dos objetos individuais, expressos pelos conceitos individuais, podemos referir-nos a objetos gerais que, de certo modo, prescindem das formas do tempo e do espao. A esses objetos situados fora do tempo e do espao, correspondem os chamados conceitos gerais, cujo estudo e conhecimento de extremo interesse nesta nos nossa anlise das bases do processo classificatrio. Vejamos, porm, alguns exemplos de conceitos individuais e de conceitos gerais. Conceitos individuais: a UnB, a partida de futebol entre o Flamengo e o Fluminense no dia 15 de janeiro de 1976, o descobrimento do Brasil no ano de 1500, etc. Conceitos gerais: as universidades, as partidas de futebol, as descobertas martimas, etc.

    3 CONCEITOS INDIVIDUAIS E CONCEITOS GERAIS

    Com a ajuda das linguagens naturais possvel formular enunciados a respeito tanto dos conceitos individuais como dos conceitos gerais. em base a tais enunciados que elaboramos os conceitos relativos aos diversos objetos. Cada enunciado verdadeiro representa um elemento do conceito. Suponhamos o objeto individual chamado IBICT (Instituto Brasileiro de Informaes em Cincia e Tecnologia). Sobre ele podemos formular os seguintes enunciados:

    uma instituio situada no Rio de Janeiro relacionada com a coordenao dos sistemas

    de informao no Brasil possui cerca de 60 funcionrios, etc.

    A soma total dos enunciados verdadeiros sobre o IBICT fornece o conceito do mesmo.

    Se agora tomarmos o conceito geral "Instituio", sobre ele poderemos formular os seguintes enunciados verdadeiros:

    constituda d um grupo de pessoas que trabalham com determinada finalidade possuindo administrao comum localizada em determinado lugar durante determinado tempo, etc.

    Podemos tambm dizer que o conjunto de tais enunciados constitui o conceito "Instituio".

    Cada enunciado faz referncia a algum dos elementos do conceito.

    fcil verificar que o conceito constitudo de elementos que se articulam numa unidade estruturada. Sobre isto voltaremos a falar noutra oportunidade. fcil tambm verificar que os elementos contidos nos conceitos gerais encontram-se tambm nos conceitos individuais, sendo, portanto, possvel reduzir os conceitos individuais aos gerais e orden-los de acordo com os conceitos gerais.

    s vezes podemos formular a respeito dos conceitos gerais apenas alguns enunciados. Dizemos, ento, que sobre os objetos representados possumos apenas noes

    vagas. Tratando-se da comunicao do dia a dia tal impreciso pode no acarretar grandes conseqncias. Tais conceitos podem ser j suficientemente conhecidos ou podem tambm ser analisados com maior preciso. Quando, porm, se trata de linguagens especializadas as conseqncias podem ser desagradveis. Neste caso deve-se fazer todo esforo para que os conceitos sejam definidos com toda preciso. Podemos agora definir a formao dos conceitos como a reunio e compilao de enunciados verdadeiros a respeito de determinado objeto. Para fixar o resultado dessa compilao necessitamos de um instrumento. Este constitudo pela palavra ou por qualquer signo que possa traduzir e fixar essa compilao. possvel definir, ento, o conceito como a compilao de enunciados verdadeiros sobre determinado objeto, fixada por um smbolo lingustico.

    Esse smbolo pode ser verbal ou no-verbal, ou seja, pode ser formado de sinais ou conjunto de sinais independentes das palavras. possvel distinguir os seguintes nveis:

    nvel individuais gerais

    objetos objetos individuais objetos gerais conceitos conceitos individuais conceitos gerais sinais

    verbais nomes individuais nomes gerais no-verbais sinais individuais sinais gerais

    4 CONCEITOS

    4. 1 Elementos dos conceitos

    Dissemos anteriormente que todo enunciado sobre objetos contm um elemento do respectivo conceito. Estes elementos identificam-se com as chamadas caractersticas dos conceitos. Traduzem os atributos das coisas designadas. Mais uma vez convm repetir que formulando enunciados sobre os atributos necessrios ou possveis dos objetos que se obtm as caractersticas dos respectivos conceitos.

    4. 2 Anlise dos conceitos e sntese das caractersticas:

    O processo mencionado acima pode ser considerado como anlise do conceito. Mas s possvel proceder a essa decomposio do conceito coletando-se os enunciados verdadeiros que sobre determinado objeto se podem formular. Pode-se ento dizer que os elementos do conceito so obtidos pelo mtodo analticosinttico. Cada enunciado apresenta (no verdadeiro sentido de predicao) um atributo predicvel do objeto que, no nvel de conceito, se chama caracterstica. Muitas vezes no se trata de um atributo a que corresponde uma caracterstica mas de uma hierarquia de caractersticas, j que o predicado de um enunciado pode tornar-se sujeito de novo enunciado e assim sucessivamente at atingirmos uma caracterstica to geral que possa ser considerada uma categoria. (Entende-se aqui por categoria o conceito na sua mais ampla extenso).

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  • Teoria do Conceito Ingetraut Dahlberg

    Exemplo:

    Um peridico um documento que se publica periodicamen te Um documento que se publica periodicamente um documento Um documento um suporte d e informao Um suporte de informao um objeto material Um objeto material um objeto

    Se o conceito ainda no tem nome possvel formul-lo pela sntese das caractersticas descobertas. Tem-se exemplo disto nos novos elementos descobertos pela qumica. So muitas vezes definidos pelas caractersticas que apresentam.

    4. 3 Tipologia das caractersticas pelas categorias

    Podemos distinguir entre caractersticas simples e caractersticas complexas. So consideradas simples as que se referem a uma nica propriedade. Ex.: redondo, colorido, etc. Complexas so as caractersticas que dizem respeito a mais de uma caracterstica. Ex.: moldado em metal, pintado com tinta azul, etc. Em ambos os casos trata-se de um material combinado com um processo resultando numa propriedade.

    A ordem seguinte das caractersticas serve de exemplo para a possibilidade de listagem de todas as caractersticas possveis. Tem por base as categorias aristotlicas. til para aplicao de categorias simples mas no exclui a possibilidade de combinaes entre elas.

    Espcies de caractersticas Exemplos

    Matria (substncia)

    Qualidade

    Quantidade (extenso)

    Relao

    Processo (atividade)

    Modo de ser

    Passividade

    Posio

    Localizao (lugar)

    Tempo

    de madeira, de metal, de couro, de vidro, etc. possuir determinada estrutura, determinada forma, ser redondo, denso, colorido, etc. possuir comprimento, largura, peso, etc. ser o dobro, ser mais largo, ser causa de, ser condio de, etc. comear, continuar, terminar, realizar algo, etc. estar em p, sentado, voando, etc.

    ser cortado, pressionado, etc.

    estar em cima, em baixo,

    estar em Braslia, no Rio de Janeiro, etc.

    em fevereiro de 1978, etc.

    4. 4 Ordem das caractersticas para a constituio dos conceitos

    Desde que existem diferentes espcies de objetos e de conceitos, existem tambm diferentes espcies de caractersticas dos conceitos. A ordem das caractersticas depende sempre dos objetos cujos conceitos so constitudos pelas mesmas caractersticas.

    conveniente distinguir as caractersticas em duas espcies:

    caractersticas essenciais (necessrias) caractersticas acidentais (adicionais ou possveis)

    As caractersticas essenciais so de duas espcies:

    caractersticas constitutivas da essncia caractersticas consecutivas da essncia

    As caractersticas acidentais tambm so de duas espcies:

    caractersticas acidentais gerais caractersticas acidentais individualizantes

    O quadro seguinte mostra a aplicao de tais conceitos para objetos materiais em geral e para minerais. Objetos materiais em geral Minerais caractersticas essenciais constitutivas ser material ter uma estrutura

    caractersticas essenciais consecutivas as propriedades fsicas

    propriedades eltricas caractersticas acidentais gerais

    determinada forma

    falhas cor

    caractersticas acidentais individualizantes relao com

    determinado lugar relao com

    determinado tempo

    composio qumica estrutura cristalina

    desvio dos raios luminosos; dureza; condutividade condutividade

    formas externas dos minerais deformaes cor

    relao com determinado lugar relao com determinado tempo

    No caso os minerais sempre possuem determinada composio qumica e determinada estrutura cristalina. E atravs da diversa maneira de possuir tais propriedades que eles se distinguem uns dos outros. Conseqentemente, as caractersticas essenciais consecutivas dependem das caractersticas essenciais constitutivas. As caractersticas acidentais, tanto gerais como individualizantes, dependem de fatores externos e de condies acidentais.

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    Outras espcies de objetos, como as plantas, podem ter caractersticas diferentes. composio qumica acrescenta-se o cdigo de que deriva a morfologia, a forma de vida, etc. Totalmente diversas so as caractersticas essenciais dos produtos, como as mquinas, os equipamentos, etc. Aqui a intenso determinante. As caractersticas essenciais so determinadas pelas finalidades e pela aplicao. As caractersticas acidentais dependem da respectiva eficincia ou outros valores em geral prticos. De qualquer sorte no sempre fcil determinar as caractersticas essenciais dos conceitos. Mas o seu esclarecimento importante para determinar a ordem dos conceitos. 4. 5 Funo das caractersticas dos conceitos

    O conhecimento das caractersticas dos conceitos facilita a determinao do nmero de funes que elas exercem que so as seguintes: ordenao classificatria dos conceitos e

    respectivos ndices; definio dos conceitos; formao dos nomes dos conceitos. Sempre que diferentes conceitos possuem caractersticas idnticas deve-se admitir que entre eles existem relaes. Este fato tem importncia na ordenao dos conceitos. Se tivermos os seguintes conceitos: semear, colher, transportar a colheita, preparar o solo, arar o solo, existe uma caracterstica comum que atividade agrcola. Ento h de convir que tais conceitos possuem relaes entre si. Nas definies, obviamente, as caractersticas preenchem uma funo importante. Nos conceitos gerais as caractersticas essenciais tm mais importncia do que as acidentais. 5 RELAES ENTRE CONCEITOS Quando a comparao entre as caractersticas dos conceitos mostra que dois conceitos diferentes possuem uma ou duas caractersticas em comum, ento h que falar de relaes entre tais conceitos.. . 5. 1 Relaes lgicas

    As seguintes relaes baseadas na posse de caractersticas comuns so logicamente possveis: identidade A (x, x, x) B (x, x, x)

    implicao A (x, x) B (x, x, x)

    interseco A (x, x, o) B (x, o, o)

    disjuno A (x, x, x) B (o, o, o)

    negao A (x, x, o) B (o, x, o)

    As caractersticas so as mesmas; O conceito A est contido no conceito B; Os dois conceitos coincidem algum elemento; Os conceitos se excluem mutuamente. Nenhuma caracterstica em comum;

    O conceito A inclui uma caracterstica cuja negao se encontra em B.

    Com o auxli o deste s tipo s de relacionamento possvel estabelecer comparaes entre os conceitos de modo a organiz-los no s nos sistemas de classificao mas tambm nos tsauros. Aplicam-se tambm, ao menos em parte, nos seguintes tipos de relacionamento semntico entre os conceitos:

    relao hierrquica (implicao) relao partitiva relao de oposio (negao) relao funcional (interseco)

    5. 2 Relaes hierrquicas

    Se dois conceitos diferentes possuem caractersticas idnticas e um deles possui uma caracterstica a mais do que o outro, ento entre eles se estabelece a relao hierrquica ou relao de gnero e espcie. Pode-se ento falar de conceitos mais amplos ou mais restritos. Pode-se tambm falar de conceito superior e inferior. O conceito superior o mais genrico e o inferior o mais especfico. Se falamos de macieira temos como conceito mais amplo ou superior o conceito de rvore frutfera e mais genrico ainda o conceito de rvore. Teremos ento a seguinte hierarquia:

    rvore rvore frutfera

    macieira

    Outro tipo de relao hierrquica a que existe entre os conceitos especficos do mesmo gnero. (Se bem que tais relaes merecem mais o nome de relaes coordenadas ou de coordenao relations in array).

    Ex.: rvore rvore frutfera

    macieira pereira pessegueiro

    rvore de nozes amendoeira aveleira nogueira

    A apresentao pode tambm ser feita da seguinte maneira:

    rvore rvore frutfera rvore de nozes

    macieira, pereira, amendoeira, aveleira, pessegueiro nogueira

    5. 3 Relaes partitivas

    A relao partitiva existe entre um todo e suas partes.

    Exemplo: rvore

    razes, tronco, galhos, folhas, flores, frutos.

    Constitui tambm relao partitiva a que existe entre um produto e os elementos que o constituem.

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    5. 4 Relao de oposio

    As relaes de oposio podem ser das seguintes espcies:

    contradio. Ex.: numrico no numrico presente ausente

    contrariedade. Ex.: branco preto

    5. 5 Relaes funcionais

    Ser fcil verificar que as relaes abstrativas e as relaes partitivas aplicam-se principalmente a conceitos que expressam objetos e que as relaes de oposio se aplicam principalmente a conceitos que expressam propriedades. As relaes funcionais aplicam-se sobretudo a conceitos que expressam processos. Pode-se conhecer o carter semntico de tais relaes tendo por base as chamadas valncias semnticas dos verbos, dando ateno aos verbos e respectivos complementos.

    Ex.: produo - produto - produtor - comprador medio objeto medido fins da medio

    instrumento de medio graus de medio

    A valncia semntica do verbo a soma dos lugares a serem preenchidos de acordo com a ligao deste conceito com outros. Ex.: se se tratar da valncia semntica do verbo medir teremos que responder s seguintes questes:

    que medido? p. e. a temperatura com que instrumento feita a medio? p. e.

    com um termmetro de acordo com que sistema?

    p. e. de acordo com o sistema de Celsius de que coisa medida a temperatura? p. e. de uma

    clula viva.

    Podemos ento dizer que entre o conceito do processo "medio" e os conceitos dos complementos mencionados existem relaes funcionais. Poderia haver ainda outros suplementos que se poderiam considerar adicionais como: as circunstncias da medio, o tempo e lugar da mesma medio. Mas tais suplementos no parecem necessrios. Podem tornar-se necessrios para a individualizao do conceito.

    6 INTENSO E EXTENSO DO CONCEITO

    Em base ao que foi exposto ser mais fcil entender o sentido da intenso e da extenso do conceito.

    A intenso do conceito a soma total das suas caractersticas. tambm a soma total dos respectivos conceitos genricos e das diferenas especficas ou caractersticas especificadoras.

    Na representao da intenso do conceito numa definio nem todos os conceitos genricos necessitam ser mencionados.

    E suficiente mencionar o mais prximo j que este necessariamente contm os demais. Ex.: A intenso do conceito "casa" a seguinte: edifcio; habitualmente feito de pedra ou madeira; contendo quartos e salas; contendo portas e janelas; contendo teto, etc. A intenso do conceito "so l " a seguinte: estrela; que se move ao redor da Via Lctea no espao

    de tempo de 220 milhes de anos; o centro do nosso sistema planetrio; possui um movimento de rotao ao redor do prprio

    eixo em 25 dias.

    A extenso do conceito pode ser entendida como a soma total dos conceitos mais especficos que possui. Pode tambm ser entendida como a soma dos conceitos para os quais a intenso verdadeira, ou seja, a classe dos conceitos de tais objetos dos quais se pode afirmar que possuem aquelas caractersticas em comum que se encontram na intenso do mesmo conceito. Podemos distinguir duas espcies de extenso:

    a) extenso de um conceito genrico em relao com os conceitos especficos. Ex.: casa casa de pedra casa de madeira

    b) extenso dos possveis conceitos individuais. Compreende os indivduos para os quais vlida a predicao genrica do conceito. Ex.: casa casa do Presidente da Repblica casa do vizinho, etc.

    7 ESPCIES DE CONCEITOS

    Uma categorizao formal dos conceitos que tem importncia na formao dos sistemas e na combinao dos mesmos conceitos pode ser a seguinte: Objetos Fenmenos Processo Propriedades Relaes. Podem ser caracterizados da seguinte maneira: A Objetivos. Ex.: plantas, produtos, papel, etc. B Fenmenos. Ex.: crescimento, chuva, trfego, etc. C Processos. Ex.: imprimir, sintetizar, etc. D Propriedades. Ex.: cego/cegueira, suave/suavidade, etc. E Relaes. Ex.: causalidade, necessidade. F Dimenso. Ex.: espao, tempo, posio, etc.

    As classificaes facetadas utilizam esta espcie de categorizao dos conceitos.

    Em relao a esta categorizao importante notar que existem possibilidades inmeras de combinaes destas categorias de conceitos. Ex.: A + B crescimento das plantas

    Entretanto muitas destas combinaes dependem da lngua. So mencionadas aqui como advertncia para o processo de anlise.

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    8 DEFINIO DE CONCEITOS 8. 1 Importncia das definies

    Na linguagem usual muitas coisas so chamadas "definio". Alguns chamam definio a explanao do sentido de uma palavra; outros, a simples descrio de um objeto; outros tm a tendncia de restringir o conceito de definio aos processos contidos nos sistemas axiomticos da matemtica e da lgica. E entre estes h tambm mtodos diversificados para obteno de definies. Seja como for, quaisquer que sejam as opinies a respeito das definies, existe consenso no afirmar que as definies so pressupostos indispensveis na argumentao e nas comunicaes verbais e que constituem elementos necessrios na construo de sistemas cientficos. Por conseguinte, parece hoje mais do que em qualquer outra poca necessrio fazer todos os esforos a fim de obter definies corretas dos conceitos, tanto mais que o contnuo desenvolvimento do conhecimento e da linguagem conduz-nos utilizao de sempre novos termos e conceitos cujo domnio nem sempre fcil manter. A importncia das definies evidencia-se tambm quando se tem em vista a comunicao internacional do conhecimento. E pelo domnio perfeito das estruturas dos conceitos que ser possvel obter tambm perfeita equivalncia verbal.

    8. 2 Funes das definies

    Fazer uma definio equivale a estabelecer uma "equao de sentido" sendo que, de um lado ( esquerda) encontramos aquilo que deve ser definido [ o definiendum) e de outro ( direita) aquilo pelo qual alguma coisa definida (o definiens). A definio , de certo modo, uma limitao, ou seja, uma colocao de limites. Trata-se de determinar ou fixar os limites de um conceito ou idia. Equipara-se algo ainda no conhecido (o elemento colocado direita). Podemos ento definir a definio da seguinte maneira: definio df delimitao ou fixao do contedo de um conceito (contedo do conceito = intenso, ou conjunto de caractersticas ou atributos). Note-se que o " o u " aqui no exclusivo. A delimitao no exclui a fixao ou vice-versa e ambas se exigem mutuamente.

    S os conceitos gerais propriamente necessitam de definies. S eles necessitam ser bem distinguidos dos demais conceitos a f im de que aparea com clareza a quais objetos se referem. Os conceitos individuais tm os prprios objetos bem determinados em virtude da presena das formas do tempo e do espao. Por exemplo: os planetas do sistema solar so conhecidos e cada um recebeu o respectivo nome. Por isso cada um deles suficientemente identificado. Somente quando se quer descobrir novos planetas se faz necessrio definio do conceito de "planeta" para distingu-los dos demais corpos celestes. Do mesmo modo ningum pede uma definio da Amrica do Sul, j que todos identificam o objeto implicado no respectivo conceito.

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    Nosso conhecimento do mundo cresce continuamente assim como se enriquece sempre mais a intenso dos nossos conceitos relativos ao mesmo. Mas o aumento do conhecimento das caractersticas dos nossos conceitos implica no no alargamento dos mesmos, mas na criao de novos conceitos. Acontece, porm, muitas vezes, que os termos que os traduzem, por uma lei de menor esforo lingstico, permanecem os mesmos. Da as confuses. No h dvida que as enciclopdias e dicionrios necessitam muitas vezes de uma atualizao. O que contm est muitas vezes ultrapassado e os termos deveriam receber novos reajustamentos.

    8. 3 Como escrever as definies

    Ao escrever uma definio podemos usar smbolos equacionais como nas matemticas e acrescentar o smbolo " d f " para indicar expressamente a intenso de efetuar uma definio.

    8. 4 Espcies de definies

    A primeira distino que se costuma fazer a separao entre definies nominais e definies reais. Mas existem outros tipos de definies. A definio nominal tem por f im a fixao do sentido de uma palavra, enquanto que a definio real procura delimitar a intenso de determinado conceito distinguindo-o de outros com idnticas caractersticas. A definio nominal relaciona-se com o conhecimento contido na linguagem. Ex.:

    opacidade = df no permeabilidade luz

    tautologia = df indicao da mesma coisa por meio de duas ou mais expresses com o mesmo significado.

    Laser = df amplificao da luz pela emisso estimulada da radiao (light amplification by stimulated emission of radiation).

    A definio real relaciona-se com o conhecimento do objeto. So mencionadas as caractersticas essenciais, e tambm as caractersticas acidentais muitas vezes, no definiens. Algumas vezes difci l saber se estamos fazendo uma definio real ou uma definio nominal. Noutros casos efetuamos as duas ao mesmo tempo. Ex.:

    discografia = df catalogao de discos (ou, descrio metdica dos discos de uma coleo. Cf. Aurlio)

    escada rolante df escada mvel construda em base ao princpio da cadeia sem f im.

    Podem distinguir-se dizendo que a definio nominal procura fixar o uso de determinada palavra enquanto que a definio real tem por finalidade apresentar o conhecimento contido em determinado conceito.

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    8. 5 Definies reais simples e complexas

    Com a ajuda da distino aristotlica entre gnero prximo e diferena especfica possvel estruturar as formas simples e complexas das definies reais. Em todos os casos encontramos no definiens um conceito mais amplo do que est contido no definiendum, seguido de uma caracterstica chamada diferena especfica ou caracterstica especificadora. Ex.:

    homem = df mamfero bpede

    Nas formas complexas o termo mais amplo assim como a diferena especfica apresentam-se acompanhados de suplementos. Ex.: bcio = df inchao do pescoo causada pela dilatao da glndula tiride. termo genrico: inchao do pescoo diferena especfica: causada pela dilatao da glndula tiride No sempre fcil distinguir ou reconhecer o termo mais amplo (o gnero) e a diferena especfica. Muitas vezes mais do que uma definio propriamente dita so apresentadas apenas descries ou explanaes. Mas quase sempre necessrio procurar distinguir com clareza o termo genrico e a diferena especfica. Ex.: inflamao = df processo de reao dos tecidos do corpo causado pela luta contra ferimentos produzidos por elementos qumicos, fsicos ou outros, e caracterizada pela presena de

    lquido proveniente das veias e de clulas brancas do sangue. termo genrico com suplementos: Processo de reao

    dos tecidos do corpo diferenas especficas: luta contra ferimentos

    ferimentos produzidos por elementos qumicos, fsicos e outros lquido proveniente das veias clulas brancas do sangue

    Percebe-se que as definies dependem do conhecimento que se tem dos respectivos assuntos. ABSTRACT

    Natural Languages make it possible to formulate statements about individual and general concepts. Every concept about objects, has an element from it, which may be called a concept characteristics. Relationships between concepts are evidence of common characteristics. Extention of a concept is the total summation of its more specific concepts. Intention of a concept is the total summation of its characteristics. The formal categorization of concepts, such as objects, phenomena, processes, properties, relationships, has much to do with systems construction and with the coordination among them. Correct concept definitions are important, taking into consideration the growth of knowledge and language dynamics, leading us to the utilization of new terms and concepts. (HMPB)

    Ci. Inf., Rio de Janeiro, 7(2): 101-107, 1978 107