da ponte pra cá - artigo pronto

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Instituto de Geociências – Departamento de Geografia “Da ponte pra cá” Uma análise da trajetória dos Racionais Mc’s à luz dos conceitos geográficos Professor: Rogério Haesbaert Autores: Ana Carolina Castro Michel Couto

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Instituto de Geocincias Departamento de Geografia

Da ponte pra c Uma anlise da trajetria dos Racionais Mcs luz dos conceitos geogrficos

Professor: Rogrio Haesbaert Autores: Ana Carolina Castro Michel Couto

Niteri, 11 de novembro de 2014.

1. Introduo

Trataremos aqui neste trabalho a Geografia Cultural como abordagem cultural na Geografia, como uma das perspectivas de tratamento do espao geogrfico que privilegia uma de suas mltiplas dimenses. No h espao produzido sem cultura dos grupos que o produzem. O cultural aqui ser percebido em suas mltiplas e indissociveis articulaes com o econmico e o poltico, que fica muito claro no tema que trataremos, visto que o grupo de Rap paulista Racionais Mcs possui uma importncia poltica notvel em suas letras, principalmente para seu pblico alvo (Mano Brown se diz um terrorista, pois produz armas e no arte).Com a afirmao de poderes mais simblicos (BOURDIEU, 1992), a difuso da uma economia poltica dos signos (BAUDRILLARD, 1972) e da importncia dos estudos culturais, das filosofias ps-estruturalistas houve uma maior valorizao na Geografia no enfoque das relaes espao-cultura. Alm dos conceitos mais consagrados na anlise cultural (lugar e paisagem), outros conceitos foram reapropriados em um enfoque cultural, como exemplo, temos o de regio, vista como espao vivido por Frmont e o de territrio, visto como valor por Bonnemaison e Cambrzy (1996).Este trabalho prope uma anlise que relacione alguns dos conceitos utilizados em um enfoque cultural na Geografia com letras de msicas e entrevistas do lder do principal grupo de rap do pas, Mano Brown dos Racionais Mcs.Nesta trajetria a ser percorrida faremos no primeiro tpico uma discusso sobre conceitos e relaes que consideramos fundamentais para o tema, o conceito de territrio na perspectiva de Bonnemaison, identidade e identidade territorial, de Haesbaert e outros autores que contribuem para o tema. No segundo tpico ser feita uma pequena explanao contextualizando os Racionais Mcs no movimento hip-hop nacional. No terceiro tpico analisaremos algumas letras que, ao nosso ver, dialogam com os conceitos trabalhados em variados aspectos.

2. Desenvolvimento

A partir do que foi proposto na introduo do trabalho, nesse tpico iremos analisar como essa relao entre o rap feito pelos Racionais Mcs e os conceitos geogrficos que se aplicam a uma perspectiva cultural se d, demonstrando assim como esses dois universos esto implicados um no outro.

2.1 Discusso terica

Primeiramente gostaramos de abordar temas que consideramos fundamentais para que possamos estabelecer posteriormente uma conexo com a manifestao cultural que nos propusemos a falar sobre: o Rap. de extrema importncia nos atermos a esses conceitos geogrficos, pois a partir de uma prvia explanao antes de os relacionarmos as letras das msicas dos Racionais Mcs, se tornar mais clara a compreenso da maneira que estabeleceremos uma conexo entre esses dois elementos cruciais para a construo do trabalho.Podemos identificar atravs da realizao da pesquisa sobre a trajetria artstica do grupo Racionais Mcs, principalmente ao escutarmos suas msicas, como aparecem essas questes territoriais, com a produo de diferentes territorialidades que percebemos dentro da escala espacial vivida pelos integrantes do grupo, o surgimento de uma identidade, produzida atravs do contexto social pelos quais os integrantes vivem e que por intermdio do vnculo ao lugar de origem a partir de relaes concretas e simblicas com o territrio ir criar a chamada identidade territorial.Como contribuio definio de territrio a partir de uma dimenso cultural, o gegrafo francs Jel Bonnemaison pode ser citado como maior influenciador desta. Atravs de seus estudos em uma ilha do arquiplago de Vanuatu, ele concebe a definio do territrio como espao vivido, uma vez que este surge de fato a partir da apropriao de determinado local por um grupo social, fazendo com que ele passe de uma condio de categoria espacial apenas para uma de portador de signos e valores pelos quais as pessoas vo se ligar e construir sua identidade de pertencimento.Para Bonnemaison (2002), a construo de identidades individuais e coletivas est ligada diretamente conscincia territorial, a territorialidade de determinado grupo social e cultural, por conseguinte sempre haver entre esses grupos mesmo em condies de migrao, dispora - o sentimento de pertencer a um territrio, de um local onde essas pessoas possam se sentir em casa e continuar vivendo em comunidade. O trecho a seguir, extrado da obra do autor sintetiza bem sua concepo de territrio a partir da dimenso do vivido.

[...] o territrio apela para tudo aquilo que no homem se furta ao discurso cientfico e se aproxima do irracional: ele vivido, afetividade, subjetividade e muitas vezes o n de uma religiosidade terrestre, pag ou desta. Enquanto o espao tende uniformidade e ao nivelamento, o territrio lembra as ideias de diferena, etnia e de identidade cultural [...]. (BONNEMAISON, 2002: 126).

A territorialidade poderia ser descrita como a capacidade das comunidades de criar territrios e constitu-los como pertencentes a si. Ela o principal fator de manuteno nos grupos da perspectiva de se viver em territrio, o que implica em tornar esse ambiente propcio a sua reproduo, atravs do convvio e das trocas materiais e simblicas entre seus membros. Dessa maneira, podemos explicar a territorialidade como a necessidade dos grupos em se manter em comunidade, uma espcie de carga gentica que estes carregaro independente de se deslocaram para outros lugares, e a partir da fabrica-se o territrio, que seria a manifestao concreta da territorialidade produzida. Da tambm surge as identidades culturais e territoriais desse grupo, que sero o instrumento de legitimao das caractersticas, hbitos, cultura em novos territrios que eles possam vir a produzir.Para falar sobre a questo da identidade territorial, gostaramos de retomar a concepo de construo de identidade, baseada nos estudos de identidade e diferena de Silva (2004), no qual a origem da identidade se d nos processos de diferenciao e, portanto sua anlise em separado no possvel. Nessa perspectiva, a identidade a construo de valores e signos em grupos sociais, baseados em processos de distino desses indivduos em relao a outros. Assim, no h como se pensar em estudar um grupo social apenas a partir de suas relaes internas, e sim por meio do dilogo entre uma auto-identidade e uma hetero-identidade, que contrasta da primeira e cria as bases para sua construo.A partir de uma concepo de identidade como tendo valor simblico, cultural, subjetiva podemos entender o que seria o plano da identidade cultural e social de um grupo, mas no podemos nos esquecer de que essas relaes s ocorrem atravs da dimenso material, e por isso a questo de uma identidade territorial fundamental para que se criem as bases concretas para realizao daquela.O territrio teria ento, o papel de mediador entre as relaes que se desenvolvem de maneira simblica e aquelas materializadas, funcionais. Haesbaert define essa mediao como:

[...] Assim, associar o controle fsico ou a dominao objetiva do espao a uma apropriao simblica, mais subjetiva, implica em discutir o territrio enquanto espao simultaneamente apropriado e dominado, ou seja, sobre o qual se constri no apenas um controle fsico, mas tambm laos de identidade social. (HAESBAERT, 2001: 121).

A territorializao, ou seja, o processo de se apropriar de maneira estratgica e simblica do territrio produzir diversas identidades, porm nem todas as identidades se tornaro territoriais, uma vez que nem todos os grupos sociais tero o territrio como um referencial de sua unidade, coeso. A partir de dois elementos fundamentais ser construda a identidade territorial de um grupo, o espao de referncia identitria e a conscincia socioespacial de pertencimento.A primeira se refere s representaes espao-temporais de um grupo, onde as formas de produo e representao espacial tero o papel de construir o sentimento de pertencimento dos indivduos em relao ao territrio. A ltima enxerga a construo da identidade territorial como um processo relacional, que se constri atravs das trocas entre os indivduos pertencentes a um grupo social, de uma ligao histrica com a comunidade e de uma relao baseada na diferenciao entre os diversos grupos.Lefbvre (1986) fala sobre a construo de um sentimento de pertencimento ao territrio e consequentemente de uma identidade territorial a partir de duas dimenses que ele prope para se analisar o espao. Desse modo a apropriao do espao est ligada ao espao vivido, as prticas, aos modos de vida pertencentes a tal grupo; e a dominao do espao surgiria atravs do espao concebido, que seria uma representao daquele espao por indivduos que no faam parte daqueles espaos.Apesar de muitas vezes a dimenso do espao concebido dominar as prticas de um grupo, tornar hegemnicas suas representaes, ela no o consegue realizar de maneira plena, pois o vivido, mesmo que de forma marginalizada, cria estratgias para que possa resistir a essa dominao e transformar essa condio.A partir dessa base terica em que foram trabalhados os conceitos nas perspectivas de autores que buscam relacionar as noes espaciais com as abordagens culturais, podemos agora discorrer sobre a trajetria dos Racionais Mcs e posteriormente relacionar essas concepes geogrficas aos temas de suas msicas, buscando assim demonstrar o vnculo que as duas temticas possuem e sua relevncia para uma perspectiva cultural em Geografia.

2.2 Quem so os Racionais Mcs no movimento hip-hop nacional

Com enorme popularidade nas periferias das grandes cidades e tambm com um forte pblico na classe mdia intelectualizada, o grupo de rap brasileiro mais importante o Racionais Mcs, composto por Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay. O nome do grupo inspirado no disco Racional, do cantor Tim Maia. O primeiro disco se chama Holocausto Urbano (1990), que conta com registros fonogrficos feitos anteriormente. A misria na periferia de So Paulo e o racismo esto bem presentes nas msicas deste disco que fez com que o grupo ficasse conhecido na periferia paulistana. Em 1993 recebe grande destaque a msica Fim de Semana no Parque do disco Raio X Brasil, que foi muito tocada em diversas rdios.Em 1997 foi lanado o disco Sobrevivendo no Inferno, que vendeu mais de 500 mil cpias, emplacou diversos sucessos como Dirio de um Detento, Frmula Mgica da Paz, Cpitulo 4, versculo 3 e fez com que o grupo ganhasse reconhecimento em outros grupos sociais. Este foi um disco muito premiado. Ganhou, por exemplo, o prmio mximo no VMB de emissora MTV.

Outro disco muito bem recebido pelo pblico foi o de 2002, Nada Como um Dia Aps o Outro Dia. Nele foram emplacados sucessos como Vida Loka partes 1 e 2, Negro Drama, Jesus Chorou e Estilo Cachorro. O primeiro DVD do grupo foi lanado em 2006, 1000 Trutas, 1000 Tretas. Os dois ltimos discos so T na chuva e Cores e Valores, porm que no fizeram o estrondoso sucesso dos dois anteriores.Apesar do sucesso, os Racionais MCs no apresentam muita tolerncia com a mdia e com os fs do grupo que possuem uma condio socioeconmica melhor. Podemos citar como exemplo uma cerimnia de msica brasileira, quando Mano Brown provocou a plateia presente no evento, dizendo que a sua me j havia lavado a roupa de muitos daqueles "boys" (garotos da classe mdia), e ressaltou que o pblico do grupo continuaria sendo o da periferia.

2.3 Minha rea tudo que tenho

Ao dialogar conceitos de identidade, territrio e de identidade territorial com alguns trechos de msicas dos Racionais - escolheremos alguns temas e trechos de msicas com maior sucesso pela escala do trabalho - fundamental iniciarmos com algumas consideraes dos integrantes e o contexto que fazem parte. Ver a famlia, escola, grupos de amigos e lugar de origem. Mano Brown, pobre, negro, nascido e criado em bairros pobres de So Paulo, abandonado pelo pai e criado quase que s com a me, assim como os outros integrantes deixar vivo em suas letras todas essas caractersticas. O apegoe idolatria s mes, fruto da ausncia e do abandono por parte dos pais, demonstrado nas letras do grupo, como tambm de outros artistas de realidades parecidas, confirmam os estudos da antroploga Alba Zaluar, onde se demonstra que parcela significativa das pessoas das favelas, morros e periferias tinham na me a nica referncia. Segundo a antroploga, utilizando dados de 1989, 50,5% de crianas e adolescentes pertenciam a famlias cuja renda familiar era menor do que meio salrio mnimo, e 27,4% estavam em famlias com renda inferior a um quarto de salrio mnimo. Destas ltimas, 56% eram chefiadas por mulheres. (ZALUAR, 1998: 272).Trecho da msica Negro Drama, do disco Nada Como um dia aps o outro dia demonstra este elemento na construo da identidade:

Daria um filme/Uma negra/E uma criana nos braos/Solitria na floresta/De concreto e ao/Veja/Olha outra vez/O rosto na multido/A multido um monstro/Sem rosto e corao

Aqui trataremos identidade como uma construo histrica e relacional dos significados sociais e culturais que norteiam o processo de distino e identificao de um indivduo ou grupo. (CRUZ, 2006).Na construo da identidade, Mano Brown afirma em entrevistas a influncia de outros lderes que so cones do movimento negro como Martin Luther King, Malcom X, Nelson Mandela, James Brown, Zumbi e Bob Marley. Alguns deles so cantados na msica Jesus Chorou, do disco Nada como um dia aps o outro dia:Gente que acredito, gosto e admiro/Brigava por justia e paz levou tiro:/Malcom X, Ghandi, Lennon, Marvin Gaye/Che Guevara, 2Pac, Bob Marley/O evanglico Martin Luther King.

No se pode dissociar na construo da identidade sua natureza simblica e subjetiva dos referentes materiais. Se a identidade uma construo social e no um dado, se ela do mbito da representao, isto no significa que ela seja uma iluso que dependeria da subjetividade dos agentes sociais. A construo das identidades se faz no interior dos contextos sociais que determinam a posio dos agentes e por isso mesmo orientam suas representaes e suas escolhas. (CUCHE, 1999:182)Nesse processo a relao com a religio nas msicas dos Racionais Mcs e em vrios outros grupos de Rap notvel. A expanso das igrejas evanglicas em locais com pouco acesso de outros meios de socializao uma das hipteses que utilizamos aqui. Dialogando no tema, em artigo publicado no Le Monde Diplomatique, Lamia Oualalou escreve que:Nas periferias, brota uma multido de pequenas salas [....] O crescimento acelerado das cidades, alimentado pelo fluxo de imigrantes, perturbou essa disposio. Foi a isso que as igrejas evanglicas souberam se adaptar.Os exemplos nas msicas do grupo so vrios. Falaremos de alguns. Do cd sobrevivendo no inferno, alm da abertura com a orao de So Jorge cantada, em Gnesis temos:Deus fez o mar, as rvore, as criana, o amor/O homem me deu a favela, o crack, a trairagem, as arma, as bebida, as puta/Eu?! Eu tenho uma bblia via, uma pistola automtica e um sentimento de revolta/Eu t tentando sobreviver no inferno.

A fora da ao contraditria das igrejas nesses territrios se nota na msica Vida loka (Pt.1), do CD Nada como um dia aps o outro dia:F em Deus que ele justo/Ei irmo nunca se esquea, na guarda, guerreiro/Levanta a cabea truta, onde estiver seja l como for/Tenha f porque at no lixo nasce flor/Ore por ns pastor, lembra da gente/No culto dessa noite, firmo segue quente/Admiro os crente, da licena aqui/M funao, m tabela, pow, desculpa ai.

At quando nenhuma igreja citada, Deus sempre lembrado em inmeros sucessos do grupo, como contraponto s injustias sociais (como j foi falado na msica Gnesis). Em Frmula mgica da paz eles cantam Agradeo a Deus e aos orixs/parei no caminho e olhei pra trs. Na msica Negro Drama, Deus tambm lembrado nesse contexto:Que Deus me guarde/Pois eu sei/Que ele no neutro/Vigia os rico/Mas ama os que vem do gueto.

Na msica Vida Loka (Pte.2) o personagem bblico Dimas citado como: primeiro vida loka da histria.A identidade construda a partir de lugares, o que demonstra inicialmente a importncia espacial em sua construo. Segundo Haesbaert (1999), determinadas identidades so construdas a partir da relao concreta/simblica e material/imaginria dos grupos sociais com o territrio. Dessa maneira a identidade social tambm uma identidade territorial quando o referente simblico central da construo dessa identidade parte ou perpassa o territrio. constante nas msicas dos Racionais a fidelidade ao territrio e a importncia que a temtica social adquire. Esta relao com o territrio aparece tambm na denncia da violncia, na precariedade da estrutura, esquecimento das autoridades e desrespeito da polcia e dos traficantes (que so tratados como meros individualistas). Os integrantes do grupo fazem questo de afirmar que escrevem sobre o que vivenciam.Eu no vi /Eu no li /Eu no assisti o negro drama /Eu sou fruto do negro drama /A dona ana sem palavras /A senhora uma rainha.

A identidade se produz quando se define quem fica dentro e quem fica fora, define-se traando fronteiras. A diferena deve ser considerada para Silva (2004) o processo pelo qual a identidade e a diferena so produzidas, e no ser tratada simplesmente como oposio. A identidade construda de forma relacional e conflituosa entre uma auto-identidade e heteroidentidade.A recusa ao playboy muito marcante nas falas e cantos do grupo, que afirmam cantar para seus semelhantes de classe e cor. Em letras como Hey Boy, do disco Holocausto urbano isso fica bem claro: Hey boy o que voc est fazendo aqui/Meu bairro no seu lugar/E voc vai se ferir/Voc no sabe onde est/Caiu num ninho de cobra/E eu acho que vai ter que se explicar/Pra sair no vai ser fcil/A vida aqui dura/Dura a lei do mais forte/Onde a misria no tem cura/E o remdio mais provvel a morte/Continuar vivo uma batalha/Isso se eu no cometer falha/E se eu no fosse esperto/Tiravam tudo de mim/Arrancavam minha pele

Em Da ponte pra c, do disco Nada como um dia aps o outro dia eles cantam: Playboy bom chins, australiano,Fala feio e mora longe no me chama de mano.Muitos jovens de classe mdia que gostam de Racionais so ironizados em trecho da msica Negro Drama.

Problema com escola,/Eu tenho mil, /Mil fita,/Inacreditvel, mas seu filho me imita/No meio de vocs/Ele o mais esperto/Ginga e fala gria, /Gria no, dialeto /Esse no mais seu, /H/Subiu, /Entrei pelo seu rdio,/Tomei, /C nem viu, /Nis isso ou aquilo, o que ?/C no dizia, /Seu filho quer ser preto, /Rh/Que ironia, /Cola o pster do 2pac ai,/Que tal, /Que c diz,/Sente o negro drama, /Vai, tenta ser feliz

Um forte exemplo que a quebrada ganha na caracterizao da ponte pra c. A msica Frmula Mgica da Paz demonstra bem essa nfase quebrada e das muitas relaes possveis dos conceitos com as msicas dos Racionais, talvez demonstre bem as contradies e forte identidade do grupo com o territrio que faz parte da construo de sua identidade:Essa porra um campo minado/Quantas vezes eu pensei em me jogar daqui/Mas a, minha rea tudo que eu tenho/A minha vida aqui e eu no consigo sair, / muito fcil fugir mas eu no vou, /No vou trair quem eu fui e/Quem eu sou/Gosto de onde estou e de onde eu vim,/Ensinamento da favela foi muito bom pra mim.

3. Consideraes FinaisAo longo do percurso terico-metodolgico que percorremos atravs do aprofundamento da pesquisa sobre as abordagens culturais que a Geografia pode discutir como cincia, pudemos observar e compreender como as relaes entre os conceitos cientficos e as prticas cotidianas de grupos sociais esto conectadas. Vimos tambm a partir da correlao entre as temticas, como podemos nos utilizar dos conceitos geogrficos como forma de nos aproximar das questes sociais, se buscarmos entend-las a partir de seu vis concreto, ou seja, as aes, as trocas materiais, a apropriao do territrio e tambm de um vis imaterial, por intermdio da toda dinmica socioespacial de trocas simblicas que ocorrem entre os grupos sociais.Escolhemos abordar o Rap brasileiro e, especificamente um dos grupos com maior repercusso nacional, os Racionais Mcs, no s como forma de mostrar uma manifestao artstica-cultural, mas para mostrar que sua msica vai para alm da questo do entretenimento, mas tambm pode ser utilizado como um instrumento de luta por justia social, contra a discriminao social e racial, para legitimar seu discurso de que da perifa no sai s marginal, muita gente do bem e que rala sai de l e vai trabalhar na casa da madame nos Jardins.Est crescendo no cenrio do Rap o reconhecimento dos artistas que propem em suas letras essa temtica das desigualdades pelos quais passam no seu cotidiano. Emicida e Criolo ganham fama internacional pela sua msica e preciso que cada vez mais se construa essa conscincia que a msica pode e deve ser um movimento de contestao e luta por direitos mais igualitrios.

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