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DOUTORAMENTO MESTRADO & ESTUDOS SÉRIE D 8 FELIPE COMARELA MILANEZ DA NULIDADE DE CLÁUSULA CONTRATUAL GERAL NO CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO PÚBLICO DE ENERGIA ELÉTRICA/GÁS LIMITAÇÕES À CESSAÇÃO DE CONTRATO

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DOUTORAMENTO

MESTRADO&ES

TUDO

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SÉRI

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8

FELIPE COMARELA MILANEZ

DA NULIDADE DE CLÁUSULA CONTRATUAL GERAL NO CONTRATO DE PRESTAÇÃO

DE SERVIÇO PÚBLICO DE ENERGIA ELÉTRICA/GÁSLIMITAÇÕES À CESSAÇÃO DE CONTRATO

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EDIÇÃOInstituto Jurídico

Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

COORDENAÇÃO EDITORIALInst ituto Jur ídico

Faculdade de Direi to Univers idade de C oimbra

CONCEPÇÃO GRÁFICA | INFOGRAFIAAna Paula Silva

[email protected]

www.fd.uc.pt/ institutojuridicoPátio da Universidade | 3004-545 Coimbra

ISBN978-989-8787-10-1

© MARÇO 2015

INSTITUTO JURÍDICO | FACULDADE DE DIREITO | UNIVERSIDADE DE COIMBRA

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Doutoramento

Mestrado

E S T U D O S

&

SÉRIE D | 8

FELIPE COMARELA MILANEZ

DA NULIDADE DE CLÁUSULA CONTRATUAL GERAL NO CONTRATO DE PRESTAÇÃO

DE SERVIÇO PÚBLICO DE ENERGIA ELÉTRICA/GÁS LIMITAÇÕES À CESSAÇÃO DE CONTRATO

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DA NULIDADE DE CLÁUSULA CONTRATUAL GERAL

NO CONTRATO DE PRESTAÇÃO

DE SERVIÇO PÚBLICO DE ENERGIA ELÉTRICA/GÁS

LIMITAÇÕES À CESSAÇÃO DE CONTRATO

Felipe Comarela Milanez

RESUMO: O estudo buscou analisar a nulidade de cláusula con-tratual geral que dispõe sobre a cessação do contrato de prestação de serviço de fornecimento de energia elétrica/gás, utilizado por uma das empresas prestadoras destes serviços em Portugal. Para tanto, tornou-se necessária a análise de determinadas característi-cas contidas em três grupos de normas: as relativas às formas de cessação dos contratos duradouros (notadamente aquelas inseri-das no Código Civil), as contidas na Lei de Serviços Públicos Es-senciais (Lei 23/96, de 26 de julho) e aquelas previstas no Regime das Cláusulas Contratuais Gerais (Decreto-Lei 446, de 25 de ou-tubro de 1985.). Foi somente a partir da análise integrada destas disposições que se tornou possível apontar a limitação estabele-cida pelo ordenamento jurídico português em relação à utilização de cláusula contratual geral, que dispõe sobre a cessação do res-pectivo contrato por ato unilateral imotivado do prestador do ser-viço público essencial.

PALAVRAS-CHAVE: serviços públicos essenciais; proteção dos interes-ses dos utentes; limitações à cessação do contrato; nulidade de cláusula con-tratual geral.

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THE NULLITY OF THE GENERAL CONTRACTUAL

CLAUSE IN THE PROVISION OF PUBLIC ELECTRIC/GAS

ENERGY CONTRACT

LIMITATIONS ON CESSATION OF CONTRACT

Felipe Comarela Milanez

ABSTRACT: The study investigates the nullity of general con-tractual clauses which provide for the cessation of installment contract services that supply electrical/gas energy, used by one of the companies providing such services in Portugal. For this rea-son, it became necessary to examine certain characteristics contai-ned in three groups of standards: those relating to the cessation of durable forms of contracts (notably those entered in the Civil Code), those contained in the Essential Public Services Law (Law 23/96 of July 26), and those provided in the Regime of General Contractual Clauses (Decree-Law 446 of October 25, 1985). In this regard, it was only from the integrated analysis of these pro-visions that became possible to identify the limitation established by the Portuguese legal system regarding the use of the general contractual clause that provides for the cessation of the respecti-ve contract following an unmotivated unilateral act by the provi-der of the essential public service.

KEYWORDS: essential public services; protection of user interests; limita-tions of contract cessation; nullity of general contractual clause.

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1. Introdução

Se por um lado muitos dos contratos corriqueiramente rea-lizados pelo consumidor “não se protraem por lapso de tempo mais ou menos longo”, caracterizando-se quase sempre pela sua execu-ção imediata ou instantânea1, em todos os demais casos, quando o objeto contratual “não se circunscrever a uma atividade ou inati-vidade momentânea do devedor”, estar-se-á diante de um contra-to que, quanto ao modo de sua realização temporal, é identificado como um contrato duradouro2.

Dentre estes, diferenciam-se aqueles contratos considera-dos de execução periódica e os de execução duradoura. Os primei-ros, também denominados de trato sucessivo, caracterizam-se exa-tamente pela efetivação das prestações em repetições periódicas, tendo na prestação de alguns serviços públicos um exemplo típico; os últimos são caracterizados pelo prolongamento da obrigação no tempo sem interrupções, tal como o contrato de sociedade3.

1 Inocêncio Galvão Telles. Manual dos contratos em geral. 4.ª ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2002. 492.

2 Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves de FaRias. Curso de Direito Civil. Vol. 4. Contratos: teoria geral dos contratos e contratos em espécie, 273.

3 Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves de FaRias. Curso de Direito Civil. Vol. 4. Contratos: teoria geral dos contratos e contratos em espécie, 274.

Inocêncio Galvão Telles, ao explicar a diferença entre estas duas clas-sificações e os contratos de execução instantânea, assim se pronuncia: “Noutros contratos a execução é permanente, acompanha o contrato através de toda a sua vida, realiza-se instante a instante. Está neste caso a locação por parte do locador, que tem obrigação de, continuamente, proporcionar o locatário o gozo da coisa, enquanto o contrato durar. Distintos dos contratos de execução instantânea e dos de execução permanente, são os de eficácia sucessiva. Nas duas primeiras categorias a eficácia contratual não se renova, mantém-se a mesma desde início, execute-se o negócio jurídico momentânea ou duradouramente. Na terceira es-pécie, do contrato, como fonte perene e sempre viva, desprendem-se periodica-mente relações jurídicas, conexas entre si pela sua origem comum, mas umas das

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Em se tratando da contratação de serviço público de forneci-mento de energia elétrica/gás, v.g, há um evidente vínculo contratual que se prolonga no tempo, cujas obrigações encontram-se previstas em instrumentos contratuais nos quais o contratante apenas adere às regras prévia e genericamente fixadas pelo prestador do serviço.

Como toda relação contratual duradoura, grandes são os efei-tos das cláusulas contratuais e das disposições legais no que se refere aos meios de cessação do contrato, em especial em razão da influên-cia de determinados princípios gerais como o da liberdade contratual e o da não vinculação perpétua. Sendo que, em relação ao primeiro, as partes possuem, em regra, uma grande margem de autonomia no que se refere à definição do conteúdo das cláusulas contratuais.

E é exatamente em relação a uma disposição contratual, prevendo uma hipótese de cessação do contrato de energia elé-trica, que se pretende realizar, por meio do presente estudo, uma análise da sua adequabilidade e validade em relação ao ordenamen-to jurídico português4.

A dúvida que motiva o presente estudo refere-se à adequação legal da referida cláusula, tanto em relação aos direitos e deveres de-correntes da natureza do serviço prestado, quanto às normas que versam sobre cessação dos contratos e o regime das cláusulas con-tratuais gerais.

Para a apresentação de possíveis respostas, faz-se necessária a divisão deste estudo em quatro partes, de forma a permitir a com-preensão de alguns temas que, ainda que aparentemente desconec-tados, em virtude de suas especificidades, encontram-se intimamen-

outras distintas, autônomas. Não há renovação do acto e sim dos seus efeitos; aquele subsiste, como permanente força criadora, e estes vão-se renovando su-cessivamente. Acontece isso, v.g., no contrato de fornecimento, do qual nascem periódicas obrigações diferenciadas de fornecer as coisas sobre que ele versa”. In Manual dos contratos em geral, 493.

4 A cláusula em questão encontra-se no item 14.1, c do contrato padrão de prestação de serviço de energia elétrica e/ou gás natural da EDP Comercial – Comercialização de Energia S.A, cujo inteiro teor ora se transcreve: “14. Ces-sação do contrato. 14.1 A cessação do presente contrato pode ocorrer: (...) c. Por revogação unilateral, a todo tempo, por iniciativa do cliente ou da EDP comercial, mediante notificação por escrito a enviar com uma antecedência mínima de 20 (vinte) dias úteis relativamente à data de produção de efeitos da revogação”.

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te ligados, como se tentará demonstrar.Sendo assim, considerando a natureza manifestamente du-

radoura da prestação de um serviço público essencial, e por se tratar de uma cláusula contratual geral que prevê hipótese de cessação de um contrato firmado por adesão, a primeira parte do estudo aborda-rá, de maneira geral, as formas de cessação do contrato duradouro, objetivando permitir uma posterior compreensão da natureza jurídi-ca da modalidade de cessação prevista na referida cláusula.

A partir de uma compreensão geral das formas de cessação do contrato, a segunda parte do trabalhado abordará o regime legal que regulamenta a prestação de serviços públicos, em especial da-queles que, tal como o fornecimento de energia elétrica/gás, são es-pecialmente qualificados como essenciais pela Lei 23/96, de 26 de julho (Lei de Serviços Públicos Essenciais – LESP).

O objetivo dessa abordagem será compreender quais são os princípios elementares que envolvem a prestação desse serviço, bem como a caracterização do utente e de seus direitos no que se refere à cessação do contrato.

Na terceira parte, considerando as limitações da liberdade de fixação e de modulação do conteúdo do contrato, buscaremos tra-çar algumas considerações sobre o regime legal das cláusulas con-tratuais gerais, dando enfoque, notadamente, ao regime de nulidade das cláusulas e da limitação da liberdade contratual, advindas do De-creto-Lei 446, de 25 de outubro de 1985.

A quarta e última parte do presente trabalho será destinada à realização de uma análise pontual da cláusula contratual, com o in-tuito de avaliar a sua legalidade e validade perante o ordenamento jurídico português, notadamente em relação aos dispositivos nor-mativos acima referidos.

2. Algumas considerações sobre as formas de ces-sação dos contratos duradouros

Tema que merece grande atenção da doutrina portuguesa5, a

5 Para além das outras doutrinas que serão indicadas ao longo do texto, podemos citar, deste já: António Pinto MonTeiRo. Do regime jurídico dos contratos

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cessação dos contratos reveste-se de relevância, sobretudo, no que se refere aos efeitos dela decorrentes. E, para compreensão dos efei-tos da já referida cláusula contratual, inclusive quanto à possibilida-de ou não da utilização do preceito nela consignado, torna-se neces-sária a identificação dos elementos caracterizadores das modalida-des de cessação dos contratos.

Sendo assim, serão analisadas algumas características gerais da caducidade, da revogação, da denúncia e da resolução, notada-mente acerca das situações em que tais modalidades são admitidas6.

2.1 A caducidade

A caducidade, enquanto modalidade de cessação do con-trato7 caracteriza-se pela extinção ipso fato do vínculo contratual, e ocorrerá, em regra, com a verificação do termo do prazo previa-mente ajustado pelas partes.

Entretanto, para além dessa particular relação com o ter-mo final do contrato, reconhece-se a possibilidade de sua ocorrên-

de distribuição comercial, 33-49; ideM. Dívidas de valor e restituição do preço em caso de invalidade ou de resolução do contrato, 91-105; ideM. Mudança de destino do bem vendido e resolução do contrato por violação de deveres laterais, 234-256; ideM. Anotação ao acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 27 de junho de 1995, 22-32, 91-96, 119-128 e 152-160.; ideM e Paulo videiRa HenRiques. A cessação do contrato no regime dos novos arrendamentos urbanos, 289-313. Joana vasconcelos. Cessação do contrato de agência e indemnização de clientela – algumas questões suscitadas pela jurisprudência relativa ao DL n.º 178/86, 243-263. Antunes vaRela. Anotação ao Acórdão STJ, de 7 de Dezembro de 1989, 203-210 e 235-242. Adriano Paes da Silva Vaz seRRa. Resolução do Contrato, 153-291.

6 Em razão da delimitação do tema, questões acerca da retroatividade, ou não, dos efeitos da cessação deixam de ser apresentadas.

7 Ainda que com a mesma terminologia, não há que se falar em uma completa similitude entre a caducidade do contrato, enquanto evento que gera a extinção do vínculo contratual, com a caducidade do direito. Sobre o tema, sa-lienta Pedro Romano MaRTinez: “apesar de não se poder confundir a caducidade, modo de extinção do vínculo contratual, com a caducidade do direito (arts. 298 e 328 e ss. Do CC), há alguma similitude relacionada com o decurso do tempo que pode justificar a aplicação criteriosa destes preceitos à caducidade do contrato; as-sim, por via de regra, deve entender-se que os prazos de vigência de um contrato são de caducidade (art. 298, n.º 2, do CC) e o prazo de vigência de um contrato não se suspende nem se interrompe (art. 328 do CC)”. Da cessão do contrato, 41-42.

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cia, também, a partir de um fato jurídico stricto sensu8, a que se atribui um efeito extintivo9.

Ainda que ausente uma disposição geral quanto às situações de cessação por caducidade, algumas normas específicas de deter-minados tipos contratuais, encontram-se devidamente dispostas no Código Civil, v.g., tal como nas alíneas d, e e g do artigo 1051, nota-damente sobre o contrato de locação10.

Nestes termos, identificam-se duas maneiras de se efetivar a caducidade, e cada uma com justificativas e características comple-tamente diferentes. O que permite uma diferenciação entre caduci-dade em sentido estrito e em sentido amplo11.

Por caducidade em sentido estrito, deve-se compreender aquela decorrente tão somente da ocorrência do termo do prazo contratual, tal como previsto, v.g, para além do citado artigo 1.051 do Código Civil, no contrato de agência, nos termos do artigo 26,

8 Por vezes entendida como imprópria. Cf. Pedro Romano MaRTinez. Da cessão do contrato, 43.

9 Ainda que não se relacionado concretamente sobre o tema do presente estudo, cabe ressaltar que os Tribunais Portugueses possuem rica jurisprudência sobre as mais diversas causas de cessação do contrato em razão da caducidade. Notadamente em relação aos contratos de trabalho: Acórdão do Tribunal de Re-lação do Porto, processo 361/12.9TTMTS.P1, data de publicação 24/02/2014. Acórdão do Tribunal de Relação de Coimbra: processo 169/12.1TTFIG.C1, data de publicação 18/12/2013; processo 813/12.0TTCBR.C1, data de publicação 14/11/2013. Acórdão do Tribunal de Relação de Évora: processo 57/13.4TT-FAR.E1, data de publicação 20/06/2013. Processo 512/12.3TTSTB.E1, data de publicação 14/11/2013. <www.dgsi.pt>.

Notadamente para os contratos de locação: Tribunal de Relação de Coimbra: processo 282/12.5TBOHP.C1, data de publicação 18/12/2013; pro-cesso 4/12.0TBGVA-A.C1, data de publicação 26/11/2013. Tribunal de Relação de Guimarães: processo 7420/11.3TBBRG.G1, data de publicação 04/06/2013. Processo 655/06.2TBCMN.G1, data de publicação19/02/2012. Processo 772/10.4TBBRG.G1, data de publicação 07/07/11. <www.dgsi.pt>.

10 Exceções à caducidade do contrato de locação são apresentadas pelo artigo 1052 do CC, que elenca, como situações excepcionais, não caracterizadoras da caducidade: se o contrato for celebrado pelo usufrutuário e a propriedade se consolidar na sua mão; caso do usufrutuário alienar o seu direito ou renunciar a ele, pois nestes casos o contrato só caduca pelo termo normal do usufruto e no caso do contrato ter sido celebrado pelo cônjuge administrador.

11 Pedro Romano MaRTinez. Da cessão do contrato, 48.

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alínea a, do Decreto Lei 178/8612.No que se refere á sua acepção ampla, esta se encontra des-

conectada da ocorrência do termo do prazo contratual, posto, seus reflexões, em relação à cessação do contrato, decorrem da extinção do objeto ou pela verificação de fato ou evento superveniente a que se atribua efeito extintivo à relação contratual.

Uma última característica, que não lhe é exclusiva, mas que merece destaque, é a de que apenas haverá cessação do contrato por caducidade nas hipóteses expressamente previstas em lei. Portanto, reafirma-se, assim, que este instituto independe, para a sua configu-ração, da manifestação de vontade das partes13.

2.2 Revogação

No que se refere ao contexto dos contratos duradouros, a re-vogação caracteriza-se essencialmente como um ato bilateral, onde se mostra necessária o assentimento das partes, através do qual, no exercício da autonomia e liberdade contratual que lhes é conferida, deliberam pela cessação da relação contratual.

Nota-se, assim, que, se em relação à caducidade não havia, em regra, qualquer influência direta da vontade das partes, na revo-gação essa manifestação bilateral é da essência do próprio instituto.

Trata-se, nestes termos, de uma forma de expressão do artigo 406 (1) do Código Civil, que estabelece a possibilidade de extinção do contrato por mútuo consentimento das partes contratante14 15.

12 Em relação ao artigo 26 do Decreto Lei 178/86, António Pinto Mon-TeiRo é categórico ao indicar um “manifesto paralelismo existente entre este pre-ceito e o artigo 1051 do Código Civil”. Contrato de Agência, 121.

13 Antônio Pinto MonTeiRo. Direito Comercial: contrato de distribuição comer-cial: relatório, 135.

14 Art. 406 – Eficácia dos contratos1. O contrato deve ser pontualmente cumprido, e só pode modificar-se

ou extinguir-se por mútuo consentimento dos contraentes ou nos caos admitidos na lei.

15 Comentando o artigo 406, José Alberto Rodríguez González apresen-ta o preceito “Bonas fides exigit, ut quod convenit fat”, o qual representa, nas palavras do A. a “regra geral (tradicional) correspondente ao chamado princípio da força vinculativa dos contratos (cenventio est lex).” Comentando sobre este último pre-

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A revogação, assim, apresenta-se como exercício de uma fa-culdade, atribuída às partes, em decorrência do princípio da liber-dade contratual, equivalendo, assim, ao uma faculdade semelhante, porém como efeitos opostos, verificada no momento da celebração do contrato16.

Considerando sua especificidade, bem como um particular tratamento dado por parte da doutrina, justificam-se, ainda, alguns comentários sobre as hipóteses de revogação contratual.

2.2.1 As modalidades de revogação

2.2.1.1 O mútuo acordo

A primeira, e mais natural forma de revogação, refere-se ao mútuo acordo ou mútuo consenso17, que, reiterando os termos já apresentados, configura-se exatamente a partir do acordo das partes em relação à cessação do vínculo contratual.

Essa manifestação de vontade, entretanto, poderá ser inter-pretada a partir de outras declarações, mesmo que não seja possível reconhecer, de forma expressa, o consenso das partes18.

Há que se reconhecer, ainda, a sua prevalência sobre ou-tras formas de cessação do contrato, notadamente sobre aquelas que não encontram, no consenso das partes, um pressuposto para a cessação, já que, independentemente do interesse original, vindo a ocorrer o acordo de vontades estarão superadas todas as dificulda-

ceito, esclarece o A. que o mesmo “desdobra-se, por seu turno, no princípio da estabilidade (n.1) e no princípio da relatividade (2). O primeiro traduz a máxima pacta sunt servanta, a qual significa, encarando-a pela negativa, que o contrato só pode ser modificado ou extinto (através da resolução, revogação, rescisão, denun-cia, etc), quando: – a lei excepcionalmente conceda semelhante direito a alguma das partes; – o próprio contrato o reconheça a algum interveniente”. Código Civil Anotado. Volume II Direito das obrigações (artigos 397.º a 873.º), 30.

16 Sobre o tema, Pedro Romano MaRTinez comenta que “no fundo, o mutuus dissensus corresponde a uma manifestação de vontade idêntica à que ocorre na celebração do acordo, só que com sinal diverso (consensus contrarius)”. Da cessão do contrato,51.

17 Pedro Romano MaRTinez. Da cessão do contrato, 52.18 Pedro Romano MaRTinez. Da cessão do contrato, 52.

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des decorrentes de outras modalidades, tais como, a denúncia e a re-solução, já que aquela haverá de prevalecer sobre estas19.

2.2.1.2 Revogação unilateral de negócios bilaterais

Tema que possui grande relação com as discussões que se-rão realizadas no presente estudo, a denominada revocação unilate-ral de negócios bilaterais apresenta-se como uma situação de excep-cionalidade, onde, fundando-se na convenção das partes ou do tex-to legal, seja reconhecida a faculdade das partes se desvincularem do contrato sem a necessidade de um acordo posterior de vontades, já que referida hipótese restará prevista expressamente no contrato20.

Uma importante característica desse tipo de revogação, para além de seu caráter ad nutum, e que como tal acaba por particularizá--la, é, a sua manifesta relação com a especial tutela conferida a uma das partes contratantes, de forma a justificar, como consequência da sua expressão, uma mitigação ao princípio da estabilidade contratual21.

19 Nestes termos, Antônio Pinto MonTeiRo salienta que “o mútuo acor-do é uma forma autônoma de fazer cessar o contrato. Quer dizer: por acordo, pode fazer-se cessar um contrato por tempo determinado antes do prazo ini-cialmente previsto ou, sendo por tempo indeterminado, a qualquer momento e com efeitos imediatos (portanto, sem aviso prévio).” Direito Comercial: contrato de distribuição comercial: relatório, 133.

20 Pedro Romano MaRTinez. Da cessão do contrato, 52-54. Ainda sobre o tema, merece referência o estudo de José Carlos Brandão PRoença. A desvinculação não motivada nos contratos de consumo: um verdadeiro direito de resolução?, 219-272.

21 Pedro Romano MaRTinez. Da cessão do contrato, 53.Um alerta, entretanto, merece destaque, no que se refere à aproximação

da revogação unilateral de negócios bilaterais com outras modalidade de cessação do contrato, tal como a denuncia e a resolução, especificamente acerca da dife-renciação deste tipo de revogação com a denúncia. Acolhemos as razões apre-sentadas por Pedro Romano MaRTinez, para quem, em determinações situações onde se mostra cabível a revogação unilateral de negócios bilaterais poder-se-ia “qualificar como especiais manifestações do direito de denuncia, mas esta consti-tui um modo específico de cessação de relações contratuais duradouras , e aquele meio de cessação, ocorre normalmente no âmbito de contratos com prestações instantâneas. Ainda que, nalguns casos, a relação contratual possa ser de execu-ção continuada, justifica-se um tratamento comum, não fazendo sentido recorrer à denuncia; assim, não se justificaria diferenciar a desvinculação unilateral num mandato de execução instantânea e de execução continuada, pelo que, em qual-quer caso, estar-se-á perante uma revogação unilateral.” Da cessão do contrato, 54.

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De fato, a especial proteção concedida, que estaria na base da justificativa para a própria cessação do contrato, conjuntamen-te com a ampliação do grau de liberdade para que uma das partes busque cessar o vínculo contratual, apresenta-se como elemento di-ferenciador da revogação unilateral em relação às outras modalida-des, que, mesmo tendo suas origens em uma manifestação unilate-ral, mostra-se desvinculada da necessidade de apresentação de uma justificativa22.

Necessário, contudo, ressaltar que a doutrina portuguesa não é unanime ao reconhecer a revogação unilateral de negócios bilaterais como um tipo de cessação diferente, por exemplo, da de-núncia e da resolução. De fato, muitos autores, ao tratarem sobre a cessação do contrato, sequer utilizam essa expressão23.

Entretanto, sem desconsiderar a importância dos argumen-tos contrários, bem como por considerar que este não é o objetivo primordial deste, mas, em função da especial caracterização de uma das partes do contrato de prestação de serviço de fornecimento de energia elétrica/gás, acolhemos, como razão para a apresentação destas breves considerações, o posicionamento adotado por José Carlos Brandão Proença, que, ao analisar a desvinculação não moti-vada nas relações de consumo conclui que: “Assim como é possível defender que a “revogação” das doações (cfr. o art. 970.º do CC) pa-rece mais uma resolução, também podemos afirmar que o “direito de livre resolução” parece mais uma revogação ou uma retractação. E se, no BGB, a “revogação” da declaração de vontade do consu-midor acabou por ter os efeitos da resolução, entre nós, e em rigor, aquela “resolução do contrato” não deixa de ter mais a ver com uma

22 Pedro Romano MaRTinez comenta, inclusive, a incorporação no BGB (§671) da revogação unilateral para os contratos envolvendo os consumidores, apontando para essa particular relação entre a revogação unilateral e a proteção de determinados sujeitos de direitos. Da cessão do contrato, 52.

23 Citamos como exemplo, Nuno Manuel Pinto de oliveiRa, «Princípios de direito dos contratos». Fernando Andrade Pires de liMa e João de Matos Antunes vaRela. «Código Civil Anotado. Volume II». Luis Manuel Teles de Menezes leiTão. «Direito das Obrigações. Volume II. Transmissão e extinção das obrigações, não cumprimento e garantidas do crédito». José Alberto Rodríguez Lorenzo González. «Código Civil Ano-tado. Volume II Direito das obrigações (artigos 397.º a 873.º)». António Pinto MonTeiRo. «Direito Comercial: contratos de distribuição comercial».

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revogação da declaração do consumidor” 24. O exercício dessa faculdade, notadamente no que se refere

à proteção do consumidor, mostra-se, nestes termos, muito seme-lhante ao exercício de um direito de arrependimento, tal como previsto no artigo 8.º (4) da Lei 24/96 – Regime Legal de Proteção do Con-sumidor, e do artigo 26 do Decreto Lei 61/2011, de 06 de maio – Regime de acesso e de exercício da atividade das agências de viagem e turismo25 26.

Entretanto, importante observar, ainda, que, para além das hipóteses legais, haverá a possibilidade das partes, no exercício da li-berdade contratual, estabelecerem outras situações para o exercício desse particular mecanismo de cessação do contrato.

Porém, as características do contrato e dos interesses tutela-dos mostrar-se-ão determinantes para o reconhecimento da legali-dade da cessação do contrato mediante revogação unilateral.

24 José Carlos Brandão PRoença. A desvinculação não motivada nos contratos de consumo: um verdadeiro direito de resolução?, 270.

25 Nota-se, entretanto, que o item 4 do artigo 8.º da Lei 24/96 indica a expressão retractação do contrato, mas que, para nós, representa claramente o exer-cício de um direito de arrependimento: Quando se verifique falta de informação, informação insuficiente, ilegível ou ambígua que comprometa a utilização adequada do bem ou do serviço, o consumidor goza do direito de retractação do contrato relativo à sua aquisição ou prestação, no prazo de sete dias úteis a contar da data de recepção do bem ou da data de celebração do contrato de prestação de serviços.

26 Notadamente sobre a natureza jurídica da rescisão prevista no citado artigo 26, Miguel MiRanda, ao tratar sobre o tema, ainda que com base em legis-lação já alterada pelo citado Decreto Lei 61/2011, salienta que: “De fato, o direito de rescisão, previsto na norma citada, dispensa a necessidade de invocação de um fundamento justificativo da extinção negocial. A desvinculação poderá, nestes casos, ter ou não uma justa causa, a qual não tem, sequer, de ser invocada pelo cliente para legitimar a extinção contratual.” E continua o A. “A rescisão a que se refere o art. 29 identifica-se, pois, com a figura, discutível na doutrina, da revoga-ção unilateral dos contratos, entendida, está, como a modalidade de ineficácia em sentido estrito, que opera mediante declaração à contraparte, traduzindo-se numa desvinculação unilateral e discricionária”. O contrato de viagem organizada, 199.

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2.3 A denúncia

A denúncia, em regra, pode ser caracterizada como mecanismo típico e tradicionalmente utilizado por uma das partes, para se buscar a cessação de um contrato duradouro com prazo indeterminado27.

Trata-se, assim, do exercício de uma faculdade potestativa e discricionária, ad libitum ou ad nutum28, cujo objetivo pode ser tanto impedir a manutenção da vigência, como também constituir-se em obstáculo à renovação do contrato29.

Assim, em razão da íntima relação entre a denúncia e os contratos por prazo indeterminado, a mesma acaba por ser identifi-cada como o “modo de cessação exclusivo dos contratos com pres-tação cuja execução se prolonga no tempo” 30, apresentando-se, ain-da, como uma via de exercício do princípio da não vinculação per-pétua e da própria liberdade contratual31.

De fato, com ressalva às exceções legalmente estabelecidas ao princípio da não vinculação perpétua, tal como previstas, v.g., para o contrato de trabalho, a faculdade das partes buscarem a cessação do contrato por meio da denúncia busca evitar a manutenção da relação jurídica para além da vontade de se permanecer vinculada32.

Entretanto, uma importante condicionante para o exercício denuncia é apresentada por Antônio Pinto Monteiro, que chama a

27 António Pinto MonTeiRo. Direito Comercial: contratos de distribuição comercial, 136.28 António Pinto MonTeiRo. Comentário ao acórdão do Tribunal da Relação do

Porto de 27 de junho de 1995, 122.29 António Pinto MonTeiRo. Direito Comercial: contratos de distribuição comercial, 136.30 Pedro Romano MaRTinez. Da cessão do contrato, 59. 31 Pedro Romano MaRTinez salienta, ainda, que “salvo raras exceções,

não se admite que as partes fiquem vinculadas por um lono período contra a sua vontade, razão pela qual se, de um contrato que se protela no tempo, não constar o seu limite, qualquer das partes poderá fazê-lo cessar, denunciando-o.” Da cessão do contrato, 59.

32 Entretanto, no que se refere aos contratos de arrendamento e de traba-lho, ainda que a regra seja pela possibilidade de denúncia tão somente nos casos expressamente consignados pela norma, reconhece–se esta quando condicionada à ocorrência de situações especiais, v.g., no contrato de arrendamento por prazo certo (art. 1095 e segs, do Código Civil), ou no de duração determinada, tal como previsto nos artigos 1100 e 1101 do Código Civil, assim como nos contratos de trabalho, em se tratando de período experimental (art. 105, Código do Trabalho).

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atenção para a necessidade de se observar, para além do envio de uma comunicação prévia, o respeito a um prazo de vigência razoá-vel do contrato, de forma a se evitar “rupturas bruscas, em prejuízo do outro contraente” 33.

Ainda, cabe salientar, mesmo com a ausência de uma regra geral no Código Civil acerca dos prazos de antecedência que de-verão ser respeitados para a admissibilidade da renúncia, algumas normas específicas apresentam importantes parâmetros que aca-bam por balizar o posicionamento dos Tribunais sobre o tema, tais como, por exemplo, o artigo 28 do Decreto Lei 178/86 e o artigo 1055 do Código Civil34.

A antecedência, nestes termos, implica no reconhecimento e respeito ao princípio da boa fé e da proibição do abuso de direi-to, já que, acaba por estabelecer um limite ao exercício do direito de denúncia, sem que tenha se tenha decorrido um razoável período de vigência do contrato35.

2.3.1 Finalidades de denúncia

A partir da compreensão da denúncia como forma de ces-sação dos vínculos contratuais com prazos indeterminados, há que se reconhecê-la, em um primeiro momento, como instrumento cuja finalidade primordial é de servir como garantia para o “exercício de fa-culdade fundada no princípio da não vinculação perpétua” 36.

Uma finalidade secundária seria a de se evitar a renovação auto-

33 António Pinto MonTeiRo. Direito Comercial: contratos de distribuição comercial, 138.34 Quanto à aplicabilidade dos prazos de antecedência para a concreti-

zação dos efeitos da denúncia pelos tribunais cf.: Tribunal da Relação do Por-to: processo 812/10.7TBVLG.P1, data da publicação 16/04/2013. Processo 1236/10.1YYPRT-A.P1, data da publicação 08/05/2012. Tribunal da Relação de Lisboa: processo 145/12.4TCFUN.L1-7, data de publicação 28/02/2014. Processo 2945/08.0YXLSB.L1, data de publicação 30/04/3013. Processo 2709/08.1TVLSB.L1-7, data de publicação 25/06/2013. Tribunal da Relação de Guimarães: processo 3096/08.3TBVCT.G1, data de publicação 30/09/2010. Processo 916/10.6TBPTG.E1, data de publicação 31/01/2013. <www.dgsi.pt>.

35 António Pinto MonTeiRo. Direito Comercial: contratos de distribuição comercial, 139.36 Pedro Romano MaRTinez. Da cessão do contrato, 61.

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mática de um contrato37. Importante, ressaltar, contudo, que essa finali-dade de oposição à renovação não é acolhida por parte da doutrina, que, tal como António Pinto Monteiro, entende que a utilização da denúncia seria possível tão somente nos contratos com prazo inde-terminado, já que, para a oposição, a denúncia, por si só, não levaria à cessação do contrato, que acabaria por ocorrer apenas através da caducidade por decurso do prazo38.

A terceira e última finalidade da denúncia assim é identifica-da enquanto meio pelo qual “a parte desiste da execução do contra-to” 39, apresentando-se, assim, como uma forma de se pleitear a sua desvinculação das obrigações contratualmente assumidas, de forma a caracterizar o exercício do princípio da liberdade de desvinculação.

2.4 A resolução

A resolução possui um regime comum devidamente previs-to nos artigos 432 a 436 do Código Civil e caracteriza-se como a manifestação unilateral de vontade, que, devidamente motivada, põe

37 Pedro Romano MaRTinez. Da cessão do contrato, 61.38 António Pinto MonTeiRo. Contrato de Agência, 129. António Menezes

coRdeiRo. Direito das Obrigações, Vol.II. Tomo III: Gestão de Negócios, enriquecimento sem causa e responsabilidade civil, 166. Luis Manuel Teles de Menezes leiTão. Direito das Obrigações Vol. II. Transmissão e extinção das obrigações e não cumprimento e garantias do crédito, 120.

Acompanhando a orientação adotada pelos citados autores há que se destacar o acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa relativo ao processo 1030/06.4TBCLD.L1-7, data de publicação 16/11/2010. <www.dgsi.pt>.

Para um posicionamento diverso, cf., acórdão, também do Tribunal da Relação de Lisboa, relativo ao processo 145/12.4TCFUN.L1-7, data de publica-ção 28/01/2014. <www.dgsi.pt>.

39 Importante ressaltar que a desistência por denúncia não se confunde com o exercício do direito de arrependimento (no caso de revogação unilateral), exatamente em razão dos efeitos gerados em cada uma dessas modalidades de cessação, sendo que haverá efeito retroativo tão somente no caso da cessação do contrato pelo exercício do direito ao arrependimento – revogação unilateral. Sobre o tema, Pedro Romano MaRTinez. Da cessão do contrato, 64.

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termo ao contrato40 41. A motivação, nestes casos, encontrará sua fundamentação tanto na lei, quanto na vontade das partes.

No que se refere à resolução legal, seu exercício, em regra, estará vinculado à ocorrência do incumprimento do contrato ou, ainda, da quebra do equilíbrio contratual42.

Importante ressaltar, que esta última hipótese encontra pre-visão expressa nos termos do artigo 437 e segs. do Código Civil, e independe da caracterização do incumprimento contratual enquan-to justificativa para o exercício da faculdade potestativa de por fim ao contrato.

Quanto à resolução convencional, caberá às partes a inser-ção de cláusula contratual prevendo seus pressupostos, efeitos e condições para o exercício do direito, onde se nota uma grande in-fluência do princípio da liberdade contratual43.

Sobre essa questão, importante ressaltar que, considerando a delimitação do tema previamente proposto e algumas características tanto das partes contratantes, quanto do próprio contrato, o princí-pio da liberdade contratual sofrerá importantes mitigações.

40 José Alberto Rodríguez Lorenzo González. Código Civil Anotado. Volu-me II Direito das obrigações (artigos 397.º a 873.º), 91.

41 Ressalva à necessidade da parte de proceder à um aviso prévio é apre-sentada por Antônio Pinto MonTeiRo, para quem, ao comentar sobre o contrato de distribuição comercial, “mesmo havendo motivos para a resolução, isso pode não dispensar o contraente que decida pôr termo ao contrato de o fazer com uma antecedência razoável. É este um princípio que, apesar de formulado a respeito da agência, nos parece revestir-se de um importante alcance geral no domínio da resolução do contrato com este fundamento (justa causa)”. Direito Comercial: contratos de distribuição comercial, 148.

42 Ao comentar sobre a resolução, notadamente sobre a influência do ar-tigo 30 do Decreto Lei 178/86 em relação aos contratos duradouros em geral, An-tónio Pinto MonTeiRo, indica que “A lei de agência estabelece dois fundamentos de resolução (art. 30.º, als. A) e b)), os quais, sem dificuldades, podemos considerar aplicáveis, por analogia, aos contratos de concessão e de “franchising”. Eles carac-terizam, de algum modo, princípios gerais, que em princípio vigoram para qualquer contrato duradouro”. Direito Comercial: contratos de distribuição comercial, 144.

43 António Pinto MonTeiRo. Contrato de Agência, 134-136. António Pinto MonTeiRo. Direito Comercial: contratos de distribuição comercial, 144-146. Pedro Roma-no MaRTinez. Da cessão do contrato, 66-68. José Alberto Rodríguez Lorenzo Gon-zález. Código Civil Anotado. Volume II Direito das obrigações (artigos 397.º a 873.º), 91.

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E nesse sentido, não há como se desconsiderar os efeitos decorrentes do regime das cláusulas contratuais gerais e da natureza do serviço contratado, no que se refere ao estabelecimento de cau-sas de cessação do contrato para além das legalmente previstas, e dentro de uma margem restrita de liberdade contratual.

3. A Lei de Serviços Públicos Essenciais

3.1 Os serviços públicos e a caracterização como essenciais.

Vinculada à execução de medidas que destinam atender a di-versos dispositivos constitucionais, tal como os que preveem a prote-ção do consumidor44, a Lei de Serviços Públicos Essenciais – LSPE – (Lei 23/96, de 26 de julho), insere-se no ordenamento jurídico por-tuguês enquanto mecanismo legal destinado a proteger o utente dos serviços expressamente consignados em seu artigo 1.º (2).

Em relação aos serviços públicos, a percepção do seu cará-ter essencial relaciona-se com a compreensão de outros conceitos mais amplos, tais como serviços de interesse geral e serviço de inte-resse econômico geral.

Os serviços de interesse geral são, tal como explica Maria do Rosário Anjos, “aqueles que se traduzem em uma atividade de nature-za social, cultural ou econômica cuja generalidade dos cidadãos utiliza e reconhece como uma verdadeira necessidade para a concretização da sua vida em sociedade” 45.

Os serviços de interesse geral, portanto, independentemen-te da sua natureza, e de serem prestados ou não com fins lucrativos, estão relacionados à satisfação das mais variadas necessidades bási-cas dos cidadãos46.

44 Fernando Dias siMões e Mariana Pinheiro alMeida. Lei dos Serviços Públicos Essenciais anotada e comentada, 7-8.

45 Para Rodrigo Gouveia, os serviços de interesse geral seriam: “forneci-mento de energia elétrica, telecomunicações, serviços postais, serviços de rádio e televisão, fornecimento de água, fornecimento de gás, transporte coletivo, servi-ços de saúde, segurança social, educação, cultura, serviços de interesse geral rela-cionados com a autoridade pública”. Os serviços de interesse geral em Portugal, 17 e 18.

46 Fernando Dias siMões e Mariana Pinheiro alMeida, 14.

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Em razão dessa particularidade, notadamente na Europa, os serviços de interesse geral acabam por ser compreendidos, conside-rando a sua relação com questões de coesão econômica e social, en-quanto direitos sociais47.

E é exatamente com base nessa noção que se origina a de-manda por uma regulamentação dos serviços de interesse geral, de maneira a estabelecer obrigações específicas e voltadas tanto para o acesso universal, quanto à necessária vinculação dos Estados no que se refere à existência daqueles48.

Por outro lado, inseridos dentro deste conceito, particulari-zando-se, porém, em razão da sua natureza, encontram-se os servi-ços de interesse econômico geral, que, para além da importância aci-ma indicada, mostra-se particularmente alcançados pelas regras de mercado e da concorrência.

Um terceiro grupo de serviços, que assim se organizam não em função de uma diferença quanto à sua natureza (geral ou econômica), mas sim em razão de uma opção do legislador em positivar um regime próprio de garantias aos utentes de serviços de interesse econômico geral49, é identificado a partir da sua adjetivação enquanto essenciais. Estabelece-se, assim, um regime específico de proteção dos utentes de alguns serviços considerados essenciais para a “vida, saúde, partici-pação e integração social”50, através da positivação de regras adequa-das à solução de problemas frequentes51.

E foi exatamente este um dos objetivos da LSPE, elencar quais seriam os serviços públicos considerados essenciais aos seus utentes: fornecimento de água, energia elétrica, gás, comunicações eletrônicas, serviços postais, recolha e tratamento de águas residuais e serviços de gestão de resíduos sólidos urbanos52.

47 Rodrigo Gouveia. Os serviços de interesse geral em Portugal, 18.48 Rodrigo Gouveia. Os serviços de interesse geral em Portugal, 18.49 Elionora caRdoso. Os serviços públicos essenciais: a sua problemática no orde-

namento jurídico português, 52.50 Rodrigo Gouveia. Os serviços de interesse geral em Portugal, 24. 51 António Pinto MonTeiRo. A proteção do consumidor de serviços públicos essenciais, 339.52 Para uma abordagem crítica acerca da indicação taxativa ou meramente

exemplificativa dos serviços listados no artigo 1.º da Lei 23/96, cf. Mafalda Mi-randa BaRBosa. Acerca do âmbito da lei dos Serviços Públicos Essenciais: taxatividade ou

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3.2 O utente do serviço público essencial

A LSPE apresenta um conceito amplo de utente, de forma a englobar tanto as pessoas singulares quanto as coletivas, a quem o prestador do serviço se obriga a prestá-los independentemente de uma particular caracterização do destinatário do serviço como sen-do um consumidor, o que demonstra tratar-se de uma norma que, independentemente da qualidade do contratante ou da destinação dada ao serviço, objetiva um tratamento universal de todos aqueles que figurem como destinatários da prestação dos serviços incluídos no rol do artigo 1.º(2) da Lei 23/96. 53 54.

Cabe salientar, entretanto, que mesmo apresentando um conteúdo amplo para o conceito de utente, não se pode deixar de reconhecer a influência das medidas de proteção do consumidor em relação a diversos regramentos presentes nesta legislação, de forma a acolher-se o entendimento apresentado por Antônio Pinto Mon-

caráter exemplificativo do artigo 1.º, n.º 2 da Lei 23/96, de 26 de julho, 401 a 436. A autora considera que “em vez de taxatividade dever-se-á falar em

tendencial taxatividade. Ou seja, o diploma define concretamente um âmbito de aplicação a que o juiz decidente não poderá ser alheio. Mas esse âmbito pré-defi-nido de vê ser ponderado por referência ao traçado comum dos diversos serviços elencados e não através de um apego á individualidade de cada um deles”, 424.

Entretanto, em função da razão de ser da adjetivação pretendida pela norma, discordamos deste entendimento para acompanhar a posição defendida por António Pinto MonTeiRo, para quem, o legislador português “pretendeu, por um lado, ser mais completo e preciso na regulamentação que estabeleceu, o que implicava uma definição prévia dos serviços abrangidos; por outro lado, decidiu prevenir as dúvidas e discussões intermináveis que de outro modo haveria sobre o âmbito de aplicação da lei, no que concerne á determinação de quais os serviços que tem a natureza de serviços públicos e, dentre eles, quais os são essenciais”. A proteção do consumidor de serviços públicos essenciais, 339.

53 António Pinto MonTeiRo. A proteção do consumidor de serviços públicos essenciais, 340. Destaca-se, ainda, o entendimento apresentado por António Menezes

coRdeiRo. Para quem “o objetivo último do legislador será a tutela dos fracos, dos desprotegidos e dos menos esclarecidos: o próprio Direito existe para evitar que, na sociedade, prevaleçam relações de força. Arriscamos, por isso, que apesar de tudo, a lei 23/96 visou mesmo proteger o consumidor privado, particularmente o pequeno consumidor.” Da prescrição do pagamento dos denominados serviços públicos essenciais, 774.

54 Esta universalidade, inclusive, é determinante para o estabelecimento de al-guns princípios que acabam por incidir sobre a prestação do serviço público essencial.

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teiro55, que reconhece “ser a proteção do consumidor a principal ra-zão a justificar as regras que foram consagradas” na LSPE56.

É claro, contudo, que a justificativa de uma particular proteção é mais evidente quando da identificação do utente enquanto consumidor final do serviço prestado. Entretanto, em função das ca-racterísticas e fins dos serviços de interesse econômico, a proteção estabelecida não poderia ficar restrita apenas ao consumidor57 sendo assim, com a utilização de um conceito amplo de utente, estendida a todos aqueles a quem o prestador do serviço se obriga a prestá-lo, já que a essencialidade destes serviços será comum a todos58.

3.3 Os princípios da prestação dos serviços públicos essenciais

Nos termos do artigo 3.º da LSPE a boa-fé é apresentada, no contexto da prestação do serviço, enquanto um “princípio nor-mativo de caráter geral”59, que, conjugado com a necessária com-preensão da natureza pública do serviço e dos interesses dos uten-tes, acaba por originar outros princípios tidos como fundamentais para a prestação dos serviços públicos essenciais.

Quanto e estes princípios, os mesmos acabam por estabele-cer importantes parâmetros para a compreensão de alguns efeitos advindos dessa sua particular adjetivação, tanto sobre o prestador do serviço, quanto sobre o utente.

Pelos fatos dos mesmos não estarem positivados, várias são

55 António Pinto MonTeiRo. A proteção do consumidor de serviços públicos essenciais, 340-341.

56 Nesse mesmo sentido, Mario FRoTa. Os serviços de interesse geral e o princí-pio fundamental da proteção dos interesses econômicos dos consumidores, 11-48. Esse mesmo entendimento pode ser observado no acórdão do Supremo Tribunal Administra-tivo de 03/11/2004, relativo ao processo 033/04. <www.dgsi.pt>.

57 Nos termos da Lei 24/96, de 31 de julho, consumidor é todo aque-le a quem sejam fornecidos bens, prestados serviços ou transmitidos quaisquer direitos, destinados a uso não profissional, por pessoa que exerça com carácter profissional uma actividade económica que vise a obtenção de benefícios.

58 Rodrigo Gouveia. Os serviços de interesse geral em Portugal, 18.59 António Pinto MonTeiRo. A proteção do consumidor de serviços públicos essenciais, 342.

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as nomenclaturas utilizadas para estes princípios60, razão pela qual, considerando a análise dos mesmos a partir da proteção do consu-midor, acolhe-se a enumeração utilizada por António Pinto Montei-ro, para quem, em razão do princípio da boa-fé previsto no artigo 3.º da LSPE, decorrem os princípios da “universalidade, igualdade, continuidade e bom funcionamento” 61.

O princípio do bom funcionamento encontra-se caracteriza-dos por três objetivos centrais: segurança, adequação e eficiência62.

O aspecto segurança compreende a adoção de todas as me-didas cabíveis destinadas a garantir a maior segurança possível do utente, de maneira a possibilitar maior conforto e confiabilidade na utilização do serviço63.

Já em relação à adequação e à eficiência tais parâmetros aca-bam por impor, ao prestador do serviço, uma atualização perma-nente dos procedimentos tecnológicos e de gestão envolvidos na execução do serviço, notadamente em relação aos interesses e ne-cessidades dos utentes64.

No que se refere ao princípio da universalidade, o serviço público essencial deve ser acessível a todos os interessados, o que acaba por implicar, como garantia desse aceso, no estabelecimento de regras sobre modicidade do preço, “bem como a salvaguarda da prestação do serviço a pessoas que não disponham de rendimentos suficientes”65, é também àquelas com limitações físicas ou de idade e que, por razões geográficas estejam em situação de isolamento66.

Entretanto, quanto ao presente estudo, o efeito mais mar-

60 Destaca-se, a título de exemplo, a tipificação apresentada pela Comis-são das Comunidades Europeias: serviço universal, continuidade, qualidade do serviço, acessibilidade dos preços e proteção dos utilizadores e consumidores. COM (2003) 270. Livro verde sobre serviços de interesse geral, 16.

61 António Pinto MonTeiRo. A proteção do consumidor de serviços públicos essenciais, 343. 62 António Pinto MonTeiRo. A proteção do consumidor de serviços públicos essenciais, 343.63 Flávio Araujo WilleMan. Princípios setoriais que regem a prestação dos ser-

viços públicos – a aplicação do princípio da livre iniciativa no regime dos serviços públicos, 47.64 José dos Santos Carvalho FilHo. Manual de Direito Administrativo, 335.

Rodrigo Gouveia. Os serviços de interesse geral em Portugal, 29.65 Rodrigo Gouveia. Os serviços de interesse geral em Portugal, 28.66 Rodrigo Gouveia. Os serviços de interesse geral em Portugal, 28.

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cante do princípio da universalidade refere-se ao resultado de sua incidência sobre a atuação do prestador do serviço, posto, sua inci-dência resultaria em um “dever de contratar imposto ao prestador do serviço” 67.

Corolário ao princípio da universalidade, e com ele intima-mente conectado, encontra-se o princípio da igualdade, segundo o qual o serviço público deve ser prestado a todos aqueles que se apresentem em condições equivalentes, dentro dos critérios técni-cos preestabelecidos para o recebimento do serviço público, de for-ma a garantir uma isonomia não apenas no acesso, como também na própria utilização, não podendo vir a ser negado a ninguém, desde que, frisa-se, restem preenchidos os requisitos exigidos para o seu recebimento ou manutenção da prestação, o acesso aos benefícios dele decorrentes68.

Por fim, mas não menos importante, tem-se o princípio da continuidade, que estabelece, como parâmetro geral, que operador do serviço é obrigado a garantir que o mesmo seja prestado sem qualquer forma de interrupção69.

A continuidade, nesse contexto, não é absoluta, encontran-do no próprio texto da LSPE critérios objetivos para a sua limita-ção70, notadamente, no que se refere às hipóteses de suspensão do fornecimento do serviço público.

3.4 As hipóteses de suspensão dos serviços públicos essenciais

Considerando o objetivo deste estudo, há que se observar que a LSPE não trata sobre a cessação do contrato de prestação de serviço, versando tão somente quanto às suas hipóteses de suspen-

67 António Pinto MonTeiRo. A proteção do consumidor de serviços públicos es-senciais, 343.

68 Flávio Araujo WilleMan. Princípios setoriais que regem a prestação dos servi-ços públicos – a aplicação do princípio da livre iniciativa no regime dos serviços públicos, 142.

69 José dos Santos Carvalho FilHo. Manual de Direito Administrativo, 331. coMissão das coMunidades euRoPeias. COM (2003) 270. Livro Verde sobre serviços de interesse geral. 2013, 17.

70 Rodrigo Gouveia. Os serviços de interesse geral em Portugal, 29.

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são. E, importante frisar, entretanto, que não há que se confundirem os efeitos destes institutos sobre a relação contratual.

A suspensão implica, em essência, na manutenção do víncu-lo contratual, que, seja por razões de força maior ou caso fortuito, ou então, decorrente da exceção de não cumprimento do contrato, quando reste configurada a mora do utente.

Já na cessação, como visto, haverá concretamente a extin-ção do vínculo contratual, sendo esta, portanto, incompatível com a mera suspensão da prestação do serviço exatamente pela possibili-dade de retomada normal da execução contratual mediante o paga-mento das parcelas em atraso.

Assim, tratando sobre a suspensão dos serviços públicos es-senciais, o artigo 5.º da LESP aponta para uma situação de incum-primento contratual decorrente do não pagamento de faturas, pre-vendo os valores devidos, em função do período mensal de apura-ção do serviço (art. 9.º da LESP), sendo esta, a única hipótese pre-vista para a suspensão do contrato71 72.

71 O item 5, do artigo 5.º, da LSPE aponta para a aplicação, no caso de suspensão do serviço, de outras normas. Contudo, as mesmas referem-se tão somente aos serviços de comunicações eletrônicas, o que, em razão do tema do nosso estudo, deixam de ser analisadas.

72 Há que se considerar, ainda, que a manutenção da mora poderá tor-nar impertinente a manutenção do vínculo contratual, podendo, de fato, gerar a cessação do mesmo, com base no disposto do artigo 801 e 808 do Código Civil.

Neste sentido, destacam-se os seguintes acórdãos: STJ, relativo ao pro-cesso 208/05.2TCFUN.L1.S1, publicado em 28/06/2011: “II – A situação de mora ou retardamento da prestação, ainda possível e com interesse para o credor, pode evoluir para uma situação de incumprimento definitivo, nos casos referidos no art. 808.º, n.º 1, do CC. III – O credor pode perder o interesse na prestação, em consequência da mora, sendo certo que essa situação tem de ser apreciada objectivamente (art. 808.º, n.º 1, 1.ª parte, do CC). A perda de interesse terá de resultar de todo um circunstancialismo fáctico, muito concreto e bem definido, que revele justificadamente tal perda de interesse segundo um critério de razoabi-lidade próprio do comum das pessoas.” Tribunal da Relação de Coimbra, relativo ao processo 573/05, publicado em 12/04/2005: “3. Se a simples mora, em princí-pio, só constitui o devedor na obrigação de reparar os danos causados ao credor, sem determinar a resolução do contrato, tal já não acontece quando este perdeu o interesse que tinha na prestação, a qual, além do mais, não foi realizada, dentro do prazo admonitório que, razoavelmente, lhe foi fixado pelo mesmo, convertendo--se, então, a mora em incumprimento definitivo”. <www.dgsi.pt>.

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Em relação ao incumprimento do contrato, importante des-tacar, também, que apenas o incumprimento da contraprestação pelo serviço prestado seria justificativa para a sua suspensão, ex-cluindo-se, assim, outras obrigações que não estejam funcionalmen-te relacionadas à prestação do serviço, mesmo que inseridas na mes-ma fatura, salvo se forem funcionalmente indissociáveis73.

3.5 O contrato de prestação de serviço como contrato privado

Para além das considerações anteriormente apontadas sobre a LSPE, há que se observar, ainda, a necessidade do estabelecimento de um vínculo jurídico entre o utente e o prestador do serviço, que, tal como apontado pelo artigo 13 (3) da LSPE decorrerá da realiza-ção de um contrato.

A compreensão da diferenciação da relação estabelecida en-tre a entidade prestadora do serviço público e o utente, e entre aque-le e a entidade pública que lhe concedeu a prestação do serviço, quando for o caso, é fundamental, notadamente quando se observa que, no primeiro caso, estar-se-á diante de um contrato de natureza privada e, no segundo, de um contrato de natureza pública74.

Sobre a sua caracterização privatista, a influência das normas de proteção do consumidor para essa compreensão é acolhida tanto

73 Comentado sobre os serviços indissociáveis, indicando a necessidade de se proceder à uma análise do caso concreto para essa particular caracterização, merece destaque o acórdão Supremo Tribunal Administrativo de 10 de setembro de 2009, relativo ao processo 0463/09. <www.dgsi.pt>.

74 Acerca do reconhecimento, pela Jurisprudência, da natureza pública da relação entre a Administração Pública e a entidade concessionária do serviço pú-blico, cf.: Tribunal da Relação do Porto: Processo 425824/10.1YIPRT.P1, publi-cado em 15/11/2011. Tribunal da Relação de Lisboa: processo 918/09.5TBPDL.L1-8, publicado em 20/01/2011, Processo 27197/13.7YIPRT.L1-6, publicado em 21/11/2013. Tribunal da Relação de Guimarães: processo 346/13.8TBBCL--A.G1, data de publicação 23/01/2014. <www.dgsi.pt>.

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pela doutrina75 quanto pela jurisprudência nacional76 que reconhe-cem, quando presente os pressupostos, a formação de um contrato de consumo e, portanto, um contrato de natureza manifestamente privada.

Entretanto, não é o fato de se reconhecer a proteção do con-sumidor como um elemento de identificação desse caráter privatista, que levaria, por conseguinte, ao reconhecimento da natureza publicis-ta no contrato realizado entre prestador do serviço essencial com os demais utentes não abrangidos pelo conceito de consumidor.

De fato, por uma questão de coerência, e até mesmo em ra-zão da isonomia esperada com a aplicação da LSPE, que, como vis-to, optou por não proceder à uma distinção categorizada dos con-tratantes/destinatários do serviço, adotando, assim, o termo geral utente; não há como se reconhecer a possibilidade de, quando o utente não se enquadrar no conceito de consumidor, o regime do contrato ser diverso, saindo da esfera do direito privado e passando para a do direito público77.

O reconhecimento desse caráter privado, na relação con-tratual envolvendo prestador do serviço e utente, mostra-se funda-mental no que se refere à análise das cláusulas contratuais, já que, se assim não fosse reconhecido, estar-se-iam afastados importantes dispositivos de proteção dos contratantes, tal como, o regime das cláusulas contratuais gerais, bem como, de muitas das disposições gerais relativas à cessação do contrato.

Ainda, para além da compreensão da essencialidade do ser-

75 Antônio Menezes coRdeiRo. Tratado de Direito Civil Português, Vol.I, par-te geral. Tomo II, Coisas, 148. Mario FRoTa. A tutela do consumidor de produtos e serviços públicos na Europa, 7. António Pinto MonTeiRo. A proteção do consumidor de serviços públicos essenciais, 333.

76 Acolhendo a natureza privada dos contratos de prestação de servi-ços essenciais, merece destaque o entendimento dos Tribunais Portugueses. Tri-bunal da Relação do Porto: Processo 2338/12.5TBPRD-A.P1, publicado em 07/11/2013; Processo 99770/12.3YIPRT.P1, publicado em 10/07/2013; proces-so 148811/12.0YIPRT.P1, publicado 21/05/2013; Processo 297266/11.7YIPRT.P1, publicado em 16/04/2013; Processo 65542/12.0YIPRT.P1, publicado em 06/02/2014. Tribunal da Relação de Guimarães: processo 103543/08.8YIPRT.G1, data de publicação23/10/2012. <www.dgsi.pt>.

77 Carlos Alberto de alMeida. Serviços públicos, contratos privados, 24.

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viço e da natureza privada do contrato, há que se observar que este, em relação à sua formação, reveste-se de características tais que per-mitem a sua adjetivação como um contrato por adesão. O que torna necessária a ponderação sobre alguns aspectos decorrentes do De-creto Lei 446/85, de 25 de outubro, que dispõe sobre o Regime das Cláusulas Contratuais Gerais.

4. As cláusulas contratuais gerais e os contratos por adesão

Um fator a justificar o estudo das cláusulas contratuais ge-rais é o de que, após a confirmação da sua natureza privada, não há como se desconsiderar que o mercado tem recorrido à utilização de contratos padronizados e standartizados que, “tendo por base as condições gerais previamente estabelecidas por uma empresa”78, pouca ou nenhuma influência acaba por ser reconhecida à vontade do utente, no que se refere à construção do conteúdo do contrato79.

De fato, a adoção de cláusulas previamente elaboradas, a par-tir de modelos e padrões contratuais é uma manifestação jurídica da sociedade moderna, baseada nas trocas econômicas,80 que pode ser observada nos mais diversos setores do mercado e nos mais variados tipos de contratação, tal como ocorre nos “contratos de seguro, nos contratos bancários, de transporte, de fornecimento de energia elétri-ca, água ou gás” 81.

78 Antônio Pinto MonTeiRo. A contratação em massa e a proteção do consumidor numa economia globalizada, 237.

79 Antunes vaRela, ao comentar sobre a utilização de padrões e modelos contratuais, nas mais diversas áreas de exploração econômica, reconhece que “os particulares, necessitados em celebrar o contrato, são forçados pelas circunstân-cias a aceitar o modelo que de certo modo lhes é imposto. Eles são apenas livres de aderir ao modelo, padrão ou cláusula que lhes é oferecida, ou de a rejeitar, não de discutirem ou alterarem o conteúdo da proposta. Não há aqui, por conseguin-te, a livre discussão entre as duas partes, que salutarmente costumava preceder a fixação do conteúdo do contrato e da qual nascia e seiva ético-jurídica do negócio bilateral.” Das obrigações em geral, 253.

80 Carlos Mota PinTo. Contratos de adesão. Uma manifestação jurídica da mo-derna vida econômica, 119.

81 António Pinto MonTeiRo. O contrato de adesão e as cláusulas contratuais gerais: problemas e solução, 07.

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E é por meio da utilização das cláusulas contratuais gerais, posteriormente inseridas em um contrato por adesão82, que o mútuo consenso, classicamente entendido como uma das bases da liberdade contratual acaba por restar limitado à vontade, e interesse, de apenas uma das partes, que, como aponta Antônio Pinto Monteiro, “prede-termina, unilateralmente, no todo ou em parte, o seu conteúdo, elabo-rando, para o efeito, condições gerais destinadas a integrar o conteúdo de múltiplos contratos a celebrar no futuro, mediante a sua oferta, em massa, ao público interessado.” 83.

As cláusulas contratuais gerais, assim, acabam por possuir características que as particularizam, quais sejam: a pré-elaboração, a imodificabilidade e a indeterminação84. Sendo que a primeira des-tas vincula-se, exatamente, com a antecedência com que as cláusulas são elaboradas, desconectadas de qualquer negócio jurídico concre-tamente identificado85.

Já na imodificabilidade, há o reconhecimento de que o con-tratante não possui qualquer esfera de liberdade em relação à mo-dificação do conteúdo daquelas cláusulas previamente definidas86,

82 Fato é que a tanto a expressão contrato por adesão, quanto a contrato de adesão não encontra tipificadas na legislação portuguesa, tratando-se, de fato, de uma classificação doutrinária, diferentemente do que ocorre no ordenamento Jurídico Brasileiro, que tanto no código Civil de 2002, artigos 423 e 424, quanto no Código de Defesa do Consumidor – CDC – (art. 54) fazem menção expressa ao ter-mo contrato de adesão. O CDC, inclusive, positiva a definição deste contrato como sendo “aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo”.

83 Antônio Pinto MonTeiRo. A contratação em massa e a proteção do consumidor numa economia globalizada, 243.

84 António alMeida. Cláusulas Contratuais Gerais e o postulado da liberdade contratual, 290. Para outra nomenclatura, mas que muito se aproxima ao conteúdo ora apresentado. Cf. anTónio PinTo MonTeiRo. O contrato de adesão e as cláusulas contratuais gerais: problemas e solução, 06.

Destaca-se, ainda, os acórdão do STJ relativos ao processo 05B4052, pu-blicado em 19 de janeiro de 2006 e ao processo10552/06.6TBOER.S1, publicado em 19 de outubro de 2010. <www.dgsi.pt>

85 António alMeida. Cláusulas Contratuais Gerais e o postulado da liberdade contratual, 291.

86 António alMeida. Cláusulas Contratuais Gerais e o postulado da liberdade contratual, 291.

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havendo assim, uma relação direta com a própria rigidez contratual.Quanto ao elemento indeterminação, o mesmo decorre do

fato de que a elaboração das cláusulas contratuais gerais não possui qualquer relação com a caracterização do futuro contratante, sendo as mesmas estruturadas não em razão destes, mas sim, em razão do próprio objetivo do negócio previamente concebido pela entidade que delimita o conteúdo contratual87.

Estas características, assim, acabam também por particulari-zar as cláusulas contratuais gerais em relação ao contrato por adesão88, que se configura exatamente a partir da subsunção da vontade da par-te contratante ao conteúdo que, em regra, advém das cláusulas con-tratuais gerais89 90. Exatamente como ocorre em relação ao contrato de

87 António alMeida. Cláusulas Contratuais Gerais e o postulado da liberdade contratual, 291.

Nesse mesmo sentido, cf. o acórdão da Relação de Guimarães relativo ao processo 4877/09.6TBGMR.G1, publicado em 25 de janeiro de 2011: “3. As cláusulas contratuais gerais são cláusulas que são apresentadas ao destinatário já elaboradas, prontas para serem aceites sem possibilidade de negociação e visam um destinatário indeterminado, não sendo individualizadas”. <www.dgsi.pt>.

88 Ainda sobre a força de vinculação, e que, de certa forma acaba por justificar a adoção da expressão contrato por adesão, Inocêncio Galvão Telles, sa-lienta que “os contratos de adesão só teriam de contratual o nome, a sua substân-cia seria uma autêntica tessitura regulamentar, a que haveria de prestar obediência. O contratual cederia o passo ao normativo. Única vontade criadora seria a do predisponente, que ditaria unilateralmente a sua lei; o comportamento do destina-tário reduzir-se-ia a uma operação material de acatamento de regras impostas por um querer superior”. Manual dos contratos em geral, 332.

89 Inocêncio Galvão Telles. Manual dos contratos em geral, 311. Comentado sobre essa relação entre as cláusulas contratuais gerais e o contrato de adesão, o A considera que “ao falar em cláusulas contratuais gerais têm-se em vista – em princípio – as cláusulas elaboradas, sem prévia negociação individual, como ele-mentos de um projeto de contrato de adesão, destinadas a tornar-se vinculativas quando proponentes ou destinatários indeterminados se limitem a subscrever ou aceitar esse projeto”. Manual dos contratos em geral, 318.

90 Para a identificação do conceito dessa modalidade de realização do contrato, pela jurisprudência nacional, cf.: Tribunal da Relação do Porto: Processo 0121501, publicado em 06 de novembro de 2001; Processo 0452838, publicado em 21 de maio de 2004; Tribunal da Relação de Guimarães: processo 1583/07-1, publicado em 15 de novembro de 2007; Tribunal da Relação do Porto: proces-so 8962/05.5TBVFR.P1, publicado em 13 de abril de 2010. Supremo Tribunal de Justiça: Processo 3354/06, publicado em 24 de outubro de 2006. Processo

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prestação de serviço de fornecimento de energia elétrica/gás.Tem-se, portanto, tal como apontado por Antônio Pinto

Monteiro, duas fases distintas: a da elaboração das cláusulas contra-tuais gerais, que seria pretérita até mesmo ao início de uma fase pré--contratual, denominada, pelo referido autor, como “fase estática”; e, de outra, a fase da celebração de cada contrato singular, com um sujeito identificado e para um negócio concreto, o que a caracteriza-ria, assim, como uma “fase dinâmica”, que pode ou não adotar em seu conteúdo as cláusulas contratuais gerais91.

Dessa maneira, não é forçoso compreender que a liberda-de contratual de uma das partes, já no que se refere ao contrato por adesão, encontra-se, de fato, extremamente limitada, cabendo à mesma, tão somente, aceitar ou rejeitar o conteúdo do contrato que lhe é apresentado92, de forma que, acaso aceite contratar, terá que se sujeitar “às cláusulas previamente determinadas no exercício de um lawmaking power de que este prestador do serviço, v.g, de fac-to, desfruta, limitando-se aquele, pois, a aderir a um modelo pré-fi-xado” 93.

Inegável o efeito negativo que a contração por adesão aca-ba por estabelecer em relação à princípios como o da autonomia da

1458/056.7TBVFR-A.P.S1, publicado em 17 de fevereiro de 2011. Em relação à este último, merece destaque o seguinte trecho: “O “contrato de adesão” na sua forma pura poderá definir-se como sendo “aquele em que uma das partes, normalmente uma empresa de apreciável dimensão formula unilateralmente as cláusulas negociadas e a outra parte aceita essas condições mediante a adesão ao modelo ou impresso que lhes é apresentado, não sendo possível modificar o ordenamento negocial apresentado”. <www.dgsi.pt>

91 António Pinto MonTeiRo chama a atenção, ainda, para a possibilidade da ocorrência de contratos por adesão sem a necessária preexistência de cláusulas contratuais gerais: “Na verdade, em regra o contrato de adesão é concluído atra-vés de cláusulas contratuais gerais, mas pode acontecer que lhe falte às cláusulas pré-formuladas o requisito da generalidade (ou da indeterminação), caso em que haverá contrato de adesão (estando presentes as características de pré-disposição, unilateralidade e rigidez) sem se poder falar em cláusulas contratuais gerais.”. O contrato de adesão e as cláusulas contratuais gerais: problemas e solução, 07-08.

92 António Pinto MonTeiRo. A contratação em massa e a proteção do consumidor numa economia globalizada, 243.

93 António Pinto MonTeiRo. A contratação em massa e a proteção do consumidor numa economia globalizada, 243.

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vontade, da liberdade contratual, e isso, pelo simples fato de que a adesão às cláusulas contratuais, que poderia, em outros contextos, representar a confirmação do mútuo consenso, não passa de uma mera sujeição da outra parte ao que lhe é imposto, por força deste mecanismo de formação do contrato94.

Assim, sem uma concreta fase negocial no “inter negotii”, dada a ausência deste debate prévio, não é por demais reconhecer que, por vezes, o aderente (tal como no caso do utente/consumidor) des-conhece vários aspectos essenciais da regulamentação contratual. 95

Paralelo a essa assimetria informacional tem-se, ainda, a conduta das empresas que, valendo-se da manifesta posição se su-perioridade também na fase pré-contratual, acabam por inserir cláu-sulas injustas, e até mesmo abusivas, que confrontam diretamente os interesses juridicamente tutelados96.

E daqui emerge, um considerável risco para o utente dos ser-viços públicos essenciais: uma situação de vinculação contratual sem o real conhecimento de “importantes aspectos da regulamentação contratual”, decorrentes, sobretudo, da posição no mercado exercida pelo prestador do serviço, que, assim, acaba por incluir cláusulas ma-nifestamente abusivas e que por vezes lhe excluam direitos97.

E foi exatamente nesse contexto, notadamente com a per-cepção não apenas da grande inserção desse modelo de vinculação

94 António Pinto MonTeiRo. O contrato de adesão e as cláusulas contratuais gerais: problemas e solução, 07.

Ainda sobre a formação do contrato Carlos Alberto da Mota PinTo, res-salta que o contrato de adesão “é integrado por duas declarações: a apresentação da estipulação e a adesão. A estipulação é o conjunto de cláusulas adoptadas por uma das partes como regulamentação geral, aplicada de forma indiferenciada às suas operações jurídicas de certa espécie [...]. A outra declaração integradora do contrato é a chamada adesão. Trata-se de acto pelo qual o utente do bem ou ser-viço fornecido manifesta a sua intenção de se submeter aos termos contratuais pré-ordenados pela outra parte”, 126 e 127.

95 Carlos Alberto da Mota PinTo. Contratos de adesão. Uma manifestação jurí-dica da moderna vida econômica, 125. António Pinto MonTeiRo. A contratação em massa e a proteção do consumidor numa economia globalizada, 245.

96 António Pinto MonTeiRo. A contratação em massa e a proteção do consumidor numa economia globalizada, 245.

97 António Pinto MonTeiRo. A contratação em massa e a proteção do consumidor numa economia globalizada, 245

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contratual no mercado, envolvendo diversos setores da economia98, tal como a prestação de serviços públicos essenciais, como também em função da demanda por uma proteção mais efetiva dos interes-ses da parte aderente, que surge o Regime das Cláusulas Contra-tuais Gerais – RCCG, estabelecido pelo Decreto Lei 446/85, de 25 de outubro, que, pautado no reconhecimento dos potenciais prejuí-zos decorrentes dos abusos cometidos, passou a disciplinar os parâ-metros de limitação da liberdade contratual, de forma a estabelecer uma nova arquitetura do modelo de regulamentação dos contratos, focada na garantia da igualdade material das partes99.

4.1 Sobre o controle das cláusulas contratuais gerais: breves considerações

4.1.1. Considerações preliminares

Antes de analisar os paramentos apresentado pelo DL 446/85 para a análise da proibição de determinadas cláusulas con-tratuais gerais, há que se atentar para uma importante disposição presente em seu artigo 1.º, qual seja, o seu âmbito de aplicação.

Como visto, as cláusulas contratuais gerais diferenciam-se do conjunto de cláusulas concretamente inseridas no contrato por adesão, porém, o fato da mesma passar a integrar um negócio par-ticularmente concretizado não impede o seu controle através dos mecanismos presente no RCCG, sendo este o entendimento decor-rente do item 2 do referido artigo100.

98 Antunes vaRela. Das obrigações em geral, 257.99 Merece destaque, nesse sentido, as justificativas apresentadas pelo pró-

prio Decreto-Lei 446/85: “Ora, nesse quadro, as garantias clássicas da liberdade contratual mostram-se actuantes apenas em casos extremos: o postulado da igual-dade formal dos contratantes não raro dificulta, ou até impede, uma verdadeira ponderação judicial do conteúdo do contrato, em ordem a restabelecer, sendo caso disso, a sua justiça e a sua idoneidade. A prática revela que a transposição da igualdade formal para a material unicamente se realiza quando se forneçam ao julgador referências exactas que ele possa concretizar.”

100 Artigo 1.º (2) O presente diploma aplica-se igualmente às cláusulas in-seridas em contratos individualizados, mas cujo conteúdo previamente elaborado o destinatário não pode influenciar.

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Outra importante consideração refere-se à caracterização do contrato de prestação de serviço público como um contrato de direi-to privado, o que implica na inequívoca aplicabilidade das regras pre-vistas no RCCG, o que não ocorreria se o mesmo viesse a ser carac-terizado como um contrato submetido às normas direito público101.

4.1.2 Do controle da legalidade das cláusulas contratuais gerais

A partir da enunciação de um princípio geral (art. 15), que se apresenta como regra de controle do conteúdo do contrato, e que permite ao julgador, com base em critérios de razoabilidade, con-fiança e objetividade das partes, analisar, no caso concreto, a boa-fé objetiva e a composição de interesses equilibrada102, o RCCG apre-senta, ainda, uma vasta lista de cláusulas que se dividem entre abso-luta e relativamente proibidas.

Nota-se, assim, que, por força do princípio da boa-fé, é ple-namente possível a avaliação da legalidade de uma cláusula contratual geral, mesmo quando não indicada na relação apresentada pelos ar-tigos 18, 19, 21 e 22 do DL 446/85, justificada na proteção de valo-res fundamentais do direito, relevantes para a situação em concreto103.

Já em relação às cláusulas elencadas como absoluta ou re-lativamente proibidas, estas se aplicam a determinados contratos, de acordo com as características das partes envolvidas: ora na rela-ção entre empresários ou entidades equiparadas, ora em relação aos consumidores finais104.

101 Nos termos do artigo 3.º, o RCCG não se aplica: às cláusulas típicas aprovadas pelo legislador, àquelas que resultem de tratados ou convenções inter-nacionais vigentes em Portugal, aos contratos submetidos às normas de direito público, aos actos de direito de família ou do direito das sucessões e às cláusulas de instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho.

102 Ana PRaTa. Contratos de Adesão e cláusulas contratuais gerais. Anotação ao decreto lei n.º 446/85, de 25 de outubro, 327.

103 Inocêncio Galvão Telles. Manual dos contratos em geral, 322.104 Há que se atentar para o fato de que o Decreto Lei 446/85 amplia

as hipóteses de proteção do consumidor ao estabelecer a aplicação, também nas relações por este integradas, das cláusulas originariamente listadas como proibi-das para os negócios envolvendo empresários ou entidades equiparadas (art. 18 e 19). O que acaba por evidenciar uma especial tutela concedida aos interesses dos

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Entretanto, em relação aos efeitos, estas acabam também por serem diferenciadas entre aquelas integrantes de uma lista negra ou de uma lista cinzenta105.

As primeiras, consideradas absolutamente proibidas, assim o são em si mesmas, ou seja, sem a necessidade de serem valoradas dentro de um contexto contratual.

Portanto, são cláusulas que, concretamente, não poderão vir a integrar um contrato, e dessa forma, não são passíveis de gerar quaisquer efeitos jurídicos, pelo fato de já serem previamente valo-radas com violadoras da cláusula geral de controle106 estabelecido pelo princípio geral da boa-fé (artigo 15 do RCCG).

São assim, nulas, por uma questão de imperatividade legal,107 havendo, de fato, uma presunção iure et de iure de que tais cláusulas são especialmente prejudiciais aos interesses da parte aderente e ex-cessivamente favoráveis ao outro contratante108.

Já em relação ao grupo de cláusulas relativamente proibidas, ou integrantes da lista cinzenta, há que se atentar para o fato de que, a princípio, as mesmas possuem eficácia contratual, sendo, contu-do, possível que o Tribunal proceda a um juízo de adequabilidade entre a mesma e a economia contratual, ao qual o negócio jurídico encontra-se relacionado, ou, nos termos adotados tanto pelo artigo

consumidores. Nestes termos, cf. Antônio Pinto MonTeiRo. A contratação em massa e a proteção do consumidor numa economia globalizada, 252.

105 António alMeida. Cláusulas Contratuais Gerais e o postulado da liberdade contratual, 304.

106 Sobre essa característica, merece destaque trecho do acórdão do STJ relativo ao processo 10551/06.6TBOER, de 19 de outubro de 2010: “No que respeita às cláusulas absolutamente proibidas, é o próprio legislador que, no seu critério, actua, desde logo, a cláusula geral de controlo (desconformidade com os princípios da boa fé), declarando as cláusulas automaticamente interditas. A valo-ração e interpretação do julgador, limita-se, nestes casos, à averiguação da confor-midade ou desconformidade das cláusulas com a previsão legal” <www.dgsi.pt>.

107 Nesse sentido já se manifestou o Tribunal da Relação do Porto, no processo 1407/10.0.TJPRT.P1, publicado em 03 de novembro de 2011: “É nula e como tal absolutamente proibida, por contrária à norma imperativa, a cláusula contratual geral que estabelece uma exclusão genérica e antecipada da responsabi-lidade do locador perante o locatário.” <www.dgsi.pt>.

108 Ana Filipa Moraes anTunes. Comentário à Lei das Cláusulas Contratuais Gerais, decreto lei n.º 446/85, de 25 de outubro, 262.

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19 quanto pelo artigo 22 do RCCG, “consoante o quadro negocial padronizado”, no qual se encontram inseridas.

Esta ressalva apresentada pelos artigos em questão reveste--se de suma importância para a análise de cláusula inserida no con-trato de prestação de serviço público essenciais, já que, reafirma a necessidade de se levar em consideração tanto o setor onde se con-cretiza a atividade negocial, como também a natureza do bem ou do serviço prestado.

Ou seja, implica em uma necessária avaliação do regulamento específico do contrato, de forma a permitir a ponderação dos interes-ses em confronto, sem que isso signifique, contudo, proceder à uma análise meramente casuística, considerando apenas as características, porventura individualizadoras, de um contrato em especial109.

Tal amplitude justifica-se, assim, na própria razão de ser do Decreto Lei 446/89 que, mais do que garantir uma discussão sobre uma única cláusula presente em um determinado contrato, objetiva, de fato, através da acção inibitória, estender os efeitos do reconheci-mento da proibição também para futuros contratos que, potencial-mente, possam ser realizados. E é assim, pelo fato de que, a partir da decisão judicial, uma cláusula geral poderá vir a ser declarada como

109 A este respeito, a jurisprudência portuguesa reconhece a importância de se ponderar sobre particularidades do tipo contratual e os interesses legiti-mamente tutelados, merecendo destaque os seguintes acórdãos: STJ: processo 3062/05.0TMSNT.L1.S1, publicado em 20/01/2010: “I – As cláusulas contra-tuais gerais relativamente proibidas podem ser apreciadas no âmbito da acção inibitória conforme prescrito no art. 22 do DL n.º 446/85, de 25-10, cumprindo considera-las à luz do quadro negocial padronizado (arts. 19.º e 21.º do menciona-do DL). II – Isso significa que o intérprete tomará em consideração os interesses envolvidos em função do tipo de negócio que está em causa no âmbito da regula-mentação contratual predisposta, não no remetendo a lei para o concreto negócio de cada contraente, pois, se assim fosse, não seria possível fora daquele particular negócio, declarar proibidas, com a amplitude que a lei pretende, determinadas cláusulas incluídas em contratos sujeitos ao regime do mencionado diploma”. Tribunal da Relação de Lisboa: processo 984/09.3TJLSB.L1-6, publicado em 14 de março de 2013: “I – No que respeita às cláusulas relativamente proibidas, o intérprete tem de analisar a cláusula no seio de todo o conjunto contratual gene-ricamente predisposto, não sendo de considerar as vicissitudes particulares do negócio individual realizado. II – Remetendo-nos a lei para o «quadro negocial padronizado», é no interior do regulamento contratual que temos de fazer a pon-deração dos interesses em confronto” <www.dgsi.pt>.

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absolutamente proibida (artigo 32 do DL 446/89) 110. Enfim, após a apresentação destas breves considerações, es-

tabelecidos os parâmetros doutrinários e normativos, torna-se pos-sível, proceder a uma discussão sobre a legalidade da cláusula inseri-da no contrato de prestação de serviço público de energia elétrica/ /gás, de empresa prestadora destes serviços em Portugal.

5. A nulidade de cláusula contratual prevendo hi-pótese de cessação do contrato por ato unila-teral do prestador do serviço público essencial

A cláusula que motivou o presente estudo encontra-se no item 14.1, c do contrato padrão de prestação de serviço de energia elétrica e/ou gás natural da EDP Comercial – Comercialização de Energia S.A, cujo inteiro teor ora transcreve-se: “14. Cessação do contrato. 14.1 A cessação do presente contrato pode ocorrer: (...) c. Por revogação unilateral, a todo tempo, por iniciativa do cliente ou da EDP comercial, mediante notificação por escrito a enviar com uma antecedência mínima de 20 (vinte) dias úteis relativamente à data de produção de efeitos da revogação”.

Considerando a estrutura do estudo, adotada até o presente momento, procederemos a uma análise partilhada de cada aspecto desta cláusula.

5.1. Sobre a forma de cessação

Conforme analisado, as formas de cessão estão vinculadas

110 Nesse sentido, destaca-se a jurisprudência do STJ: Processo 684/10.1YXLSB.L1.S1, publicado em 05/02/2013: “III – A finalidade da acção inibitória, tal como resulta do art. 32 da LCCG, é a de fazer proibir, para o futuro, o uso de cláusulas contratuais gerais violadoras do princípio da boa fé ou que po-nham em causa o equilíbrio das prestações...”. Processo 08A2933, publicado em 21/10/2008: “São de considerar abrangidas no campo de proibição de inclusão em contratos que o demandado condenado em acção inibitória venha a celebrar, como objeto das obrigações de abstenção ao utilizador de tais cláusulas que se equiparem substancialmente á definitivamente proibidas na decisão proferida na-quela acção.” <www.dgsi.pt>.

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ora a um ato de vontade das partes, ora em razão do texto legal, que, muitas vezes, acaba por limitar qualquer influência da autonomia da vontade em relação às hipóteses de cessação do contrato.

Considerando não ser necessário, e nem justificável retornar à apresentação de todas as discussões anteriormente apontadas, bus-ca-se neste momento identificar qual a natureza jurídica da cessação, tipificada pela cláusula em questão como uma revogação unilateral.

Por obvio, essa hipótese em nada de assemelha à caducida-de, posto não estabelece um termo ou evento superveniente que se possa atribuir um efeito extintivo, e nem tão pouco à revogação, pelo simples fato de lhe faltar a característica da bilateralidade, no-tadamente quando analisada em relação à modalidade de revogação mútuo acordo.

A cessação em questão, também não se identifica com a re-vogação unilateral de negócios bilaterais, pois, como analisado, esta particular forma de cessação possui uma finalidade especial de pro-teção de uma das partes contratantes, revestindo-se como um verda-deiro direito de arrependimento, notadamente, quando se considera a proteção do consumidor.

E esse arrependimento mostra-se impossível, em razão das par-ticularidades decorrentes da própria LSPE, tal com os princípios a ele correlatos, de ser exercido pelo prestador do serviço público essencial.

Outra modalidade, que se aproxima à forma de cessação in-dicada é a denúncia. Esta, é bom relembrar, funda-se na faculdade potestativa e discricionária da parte cessar os efeitos do contrato, tendo por base o princípio da não vinculação perpétua. Princípio esse, que tal como apontado para a revogação, encontraria, no nosso entendimento, sérias limitações em razão dos princípios incidentes sobre a prestação do serviço e em função de sua natureza.

Por fim, tem-se a resolução que, via de regra, caracteriza--se pela unilateralidade, sendo-lhe, contudo, exigida uma motivação. Há, porém, que se atentar para a possibilidade da resolução decor-rer, também, da vontade das partes, as quais, dentro do exercício que lhe é atribuído pela liberdade contratual, podem delimitar novas si-tuações para o exercício dessa modalidade cessação.

Nota-se, assim, que, a denominada revogação unilateral in-

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dicada no contrato não se trata de uma nova modalidade de cessa-ção, mas sim de uma resolução convencional. E isso, em razão da sua disposição decorrer da vontade das partes que estabeleceram uma nova possibilidade de resolverem o contrato de prestação de serviço, tendo por base o (suposto) acordo de vontades manifesta-do no momento de integração do contrato.

A partir dessa primeira consideração, pode-se concluir pela possibilidade das partes, dentro de sua esfera de liberdade contra-tual, disporem sobre cláusulas prevendo hipóteses de resolução convencional, não havendo, assim, a princípio, nenhuma violação aos preceitos gerais aplicáveis ao regime de cessação do contrato.

Entretanto, outras particularidades recaem sobre a cláusula caso em questão, de forma que apenas uma análise do regime geral da cessação, não se apresenta como suficiente para uma conclusão devidamente consistente.

5.2 O objeto do contrato como serviço público essencial

Restou demonstrada a particular relevância na adjetivação de alguns serviços de interesse econômico, particularmente adjetivados como essencial. O que gera diversos efeitos na compreensão da natu-reza e das obrigações impostas aos prestadores desse tipo de serviço.

E um destes efeitos, para além da relação direta com a ma-nutenção do acesso ao serviço que se encontra intimamente relacio-nado com a manutenção de condições mínimas de qualidade de vida do utente, é a inegável influência exercida pelos princípios advindos do regime de prestação dos serviços públicos essenciais.

O primeiro destes princípios é o da universidade de acesso, que traz, como consequência elementar, uma grande limitação ao exercício da liberdade contratual do prestador do serviço, que não poderá exercer a faculdade de escolher a quem irá prestá-lo, cabendo ao mesmo, uma vez preenchidos os pressupostos legais, apenas cum-

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prir com a obrigação de garantir ao utente a prestação do serviço111 112. Entretanto, não há como se desconsiderar nesse momento,

o entendimento defendido por António Pinto Monteiro, para quem, em decorrência do princípio da universidade, se por um lado o utente possui o direito de ter acesso aos serviços públicos essenciais, por ou-tro, o prestador do serviço tem sua liberdade de não vinculação per-pétua mitigada pelo “dever de contratar é imposto pela natureza do serviço prestado” 113 114.

Há que se atentar, ainda, para a incidência de dois outros princípios: um deles é o princípio da igualdade, que renega qualquer forma de tratamento discriminatório, o que restaria caracterizado quando o prestador do serviço, por mera liberalidade, optar por não mais prestá-lo a um utente em particular, mantendo-se essa presta-ção para os demais que se encontram nas mesmas condições.

O outro é o da continuidade, que, salvo condições excepcio-nais vinculadas à força maior ou justa causa, que, no caso, tem uma íntima relação com as hipóteses de suspensão do contrato em razão do não pagamento; impõem ao prestador do serviço a manutenção da sua prestação nos exatos termos contratados.

111 Sobre o tema, merece destaque a manifestação da Comissão das Co-munidades Europeias, para quem o conceito de universalidade estabelece “o di-reito de cada cidadão aceder a certos serviços considerados essenciais e impõe às indústrias obrigações no sentido de garantirem a oferta de um dado serviço em determinadas condições”. coMissão das coMunidades euRoPeias. COM (2003) 270. Livro Verde sobre serviços de interesse geral. 2013, 16.

112 Analisando os reflexos do princípio da universalidade sobre o patri-mônio jurídico do utente brasileiro, Flávio Araujo WilleMan entende que o mes-mo “consiste no direito conferido aos usuários de serviços públicos (em sentido amplo) de, uma vez implementadas as condições para o seu recebimento, compe-lir, tanto a Entidade Estatal competente para o seu fornecimento, ou o particular concessionário para a sua prestação, a prestá-los de maneira eficiente, dentro dos padrões de razoabilidade e do princípio da reserva do possível.” Princípios setoriais que regem a prestação dos serviços públicos – a aplicação do princípio da livre iniciativa no regime dos serviços públicos, 148.

113 Antônio Pinto MonTeiRo. A proteção do consumidor de serviços públicos essenciais, 343. Antunes vaRela. Das obrigações em geral. Vol.1, 235.

114 Considerando, é claro, que todas as condições de normalidade e exi-gências contratuais sejam exercidas, mas que, no caso da cláusula ora analisada, refere-se tão somente ao exercício da uma faculdade potestativa.

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Diante dos argumentos apontamentos até o momento, resta caracterizada a ilegalidade da cláusula em questão, restando apenas, a necessidade de se analisar qual seria o seu enquadramento dentro do regime das cláusulas contratuais gerais.

5.3 Da cláusula contratual geral relativamente proibida

Há que se relembrar que cláusula contratual ora questiona-da permite à entidade prestadora do serviço a faculdade proceder à cessação do contrato, sem motivo justificado fundado em uma con-venção entre as partes.

Sendo assim, esse dispositivo pode ser analisado com base em duas disposições contidas no Decreto Lei 446/89, notadamente no seu artigo 16, b e artigo 22, (1), b.

Em relação à aplicação do princípio da boa fé, há que se considerar seus elementos de concretização, notadamente, os que estabelecem uma necessária ponderação sobre “o objetivo que as partes visam atingir negocialmente, procurando-se a sua efetivação à luz do tipo de contrato utilizado” 115.

Tal como apontado por António Menezes Cordeiro, o que fundamenta a defesa da boa fé, com base na disposição do artigo 16 a e b, seriam a tutela da confiança e o princípio da primazia da mate-rialidade subjacente, e isso, em atenção à relevância atribuída ao ob-jetivo do contrato à luz do tipo negocial considerado116.

115 Sobre a consideração da abusividade de cláusula contratação, partin-do-se da análise do princípio geral da boa fé, e cotejando os elementos descritos no artigo 16 do DL 446/85, destaque trecho o acórdão proferido pelo STJ, em 27 de maio de 2010, relativo ao processo 976/06.4TBOAZ.P1.S1: “I – Uma cláusula contratual geral deve ser considerada abusiva quando “ a despeito da exigência de boa fé, der origem a um desequilíbrio significativo em detrimento do consu-midor, entre direitos e obrigações das partes decorrentes do contrato. II – Para apreciar se existe um desequilíbrio das prestações gravemente atentatório da boa fé, importa ter em consideração todas as circunstâncias que envolvem o contrato, as quais devem ser apreciadas objetivamente, na perspectiva de um observador razoável e como referência não ao momento da celebração do contrato, mas da-quele em que é feita valer a nulidade da cláusula”. <www.dgsi.pt>.

116 O A. esclarece, ainda, que “A primazia da materialidade subjacente assume, aqui, relevância do escopo do contrato, à luz (objetiva) do tipo negocial

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Considerando as particularidades do contrato, há que se atentar tanto para sua natureza privada, quanto para a finalidade do mesmo (a prestação de um serviço público essencial), o que implica em se reconhecer a violação, pela referida cláusula, do princípio ge-ral de controle previsto no artigo 15 do RCCG, exatamente por não respeitar os objetivos esperados de um contrato de prestação de ser-viço público essencial.

Por outro lado, para além da violação ao preceito geral de boa fé, há que se reconhecer a incidência, também, do artigo 22, 1, b do Dec. Lei 446/85117.

Observar-se, assim, que a cláusula ora questionada busca es-tabelecer, a partir de uma convenção das partes, a garantia do presta-dor dos serviços, sem qualquer possibilidade de controle por parte do utente, proceder à cessação – por via de uma resolução convencional – do contrato de prestação de serviço público essencial a partir de um ato discricionário, que, como tal, tratar-se-á de um ato desmotivado.

Entretanto, por força das particularidades e características do serviço do fornecimento de energia elétrica/gás, a sua prestação deve ser contínua, e sua prestação reveste-se de um caráter obriga-tório para empresa que explora a atividade econômica.

Sendo assim, impossível a sua desvinculação contratual a partir do exercício da faculdade prevista na referida cláusula, sob pena de vio-lar todo o sistema de proteção do utente dos serviços públicos essenciais.

considerado. Temos de admitir coerência e razoabilidade nos procedimentos con-tratuais. Um contrato não pode ser neutralizado por cláusulas (gerais) dissimu-ladas em seu interior. De todo o modo, a valoração perante o sistema é sempre necessária (...) As referências do artigo 16 não vedam o recurso directo à boa fé e ao sistema; estamos, de resto, em face duma fórmula mais concreta da boa fé geral. Há, todavia, que convir e que se consegue, através dela, um grau de certe-za, de precisão e de cientificidade muito elevado. A margem de incerteza é bem menor do que a registrada perante outros institutos correntes.”. Tratado de Direito Civil Português. Vol. I, 631.

117 Artigo 22.º – Cláusulas Relativamente proibidas:1 – São proibidas, consoante o quadro negocial padronizado, designada-

mente, as cláusulas contratuais gerais que: (...)b) permitam a quem as predisponha, denunciar livremente o contrato,

sem pré-aviso adequado, ou resolve-lo sem motivos justificados, fundados na lei ou em convenção.

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6. Conclusão

A interpretação de cláusula contratual envolvendo a prestação de serviços públicos essenciais não é possível senão a partir da conju-gação de ao menos três estruturas normativas: a que dispõem sobre o regime geral de cessação dos contratos, a lei dos serviços públicos essenciais e o Regime das Cláusulas Contratuais Gerais. Já que, cada um dos conjuntos particularizados de normas, não permite, por si só, uma conclusão sobre a ilegalidade da cláusula em questão.

Entretanto, considerando uma interpretação sistemática e a compreensão da unicidade do Direito, mostra-se possível concluir que referida cláusula reveste-se, considerando o caráter imperativo das normas do Decreto Lei 446/85, de todos os elementos necessá-rios ao reconhecimento de sua ilegalidade, notadamente, por violar o Princípio Geral da Boa Fé previsto no seu artigo 15, bem como, em função da adequação fática à previsão expressa do artigo 22, 1, b.

Assim, após a demonstração da referida ilegalidade, enten-demos também que cabe às entidades competentes a propositura de ação inibitória118, visando afastar, em definitivo, referida disposição do rol de cláusulas contratuais gerais utilizadas pela EDP Comercial – Comercialização de Energia S.A, bem como, para a sua não inclu-são em futuros instrumentos contratuais que venham estabelecer a prestação do serviço de energia elétrica/gás a todo e qualquer uten-te deste serviço.

118 E nesse sentido, remetemo-nos mais uma vez ao ensinamento de An-tônio Pinto MonTeiRo, para quem, uma das finalidades da acção inibitória, que para nós adéqua-se perfeitamente ao caso em questão, ser a de “impedir a utiliza-ção futura de cláusulas proibida por lei [mediante do reconhecimento do caráter proibitivo decorrente do acolhimento da acção inibitória], procurando assim o legislador superar os inconvenientes de um controlo apenas a posteriori, como efeitos circunscrictos ao caso concreto, sub judice, e dependente apenas da iniciati-va processual do lesado, o qual é vítima, frequentemente, da sua própria inércia e da falta de meio para enfrentar, sozinho, um contraente poderoso”. A contratação em massa e a proteção do consumidor numa economia globalizada, 253.

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