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A CIÊNCIA Por DANTE LUCCHESI www.e-book.uefs.br issuu.com/e-book.br/docs/folhetim2 Uma publicação e-book.br Dezembro | 2016 FOLHETIM 2 2 Ano 1 | Número 2 DA LINGUAGEM E O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA

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A CIÊNCIA

PorDANTE LUCCHESI

www.e-book.uefs.brissuu.com/e-book.br/docs/folhetim2

Uma publicaçãoe-book.br

Dezembro | 2016

FOLH

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Ano 1 | Número 2

DA LINGUAGEME O ENSINO

DA LÍNGUA PORTUGUESA

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22 Folhetim é uma publicação semestralda e-book.br com participação

do Departamento de Letras e Artes da UEF,destinadada a disponibilizar

um artigo por númerono site www.e-book.uefs/folhetim

e na plataforma internacional issuu.com.Por constituir um instrumento acadêmicode largo alcance na divulgação de textos,

o Conselho Editorial poderá selecionarartigos inéditos e já publicados,

desde que de reconhecido interesse.

issuu.comé uma plataforma criada em Copenhagen,

na Dinamarca, publicando milhares de livros,jornais e revistas de leitura gratuita.

Segundo a edição inglesa da Wikipedia,o site conta com mais de 85 milhões

de leitores constantes em todo o mundo.

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ISSN 2525-8591

O CASO DO LIVRODE PORTUGUÊS DO MEC

Por Dante Lucchesi

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22 Ano 1 | N. 2 | Dez. 2016

ISSN 2525-8591

CON SELHO EDITORIAL

Adriano Eysen (UNEB)

Cid Seixas (UFBA / UEFS)Dante Lucchesi (UFF)

Flávia Aninger Rocha (UEFS)Moanna Brito S. Fraga (UESB)

Myriam Barbosa da Silva (UFBA)

Editor:Cid Seixas

Nosso site:www.e-book.uefs.br/folhetim

E-mail do editor:[email protected]

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DO LIVRO DIGITAL

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Dante Lucchesi

O CASO DO LIVRO DE PORTUGUÊSDO MEC

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22 DANTE LUCCHESI

Professor Titular de Língua Portuguesa da UniversidadeFederal Fluminense, Pesquisador 1-C do CNPq, autordos livros Língua e Sociedade Partidas (Contexto,2015), 2o lugar no Prêmio Jabuti 2016, e Sistema, Mu-dança e Linguagem (Parábola, 2004), organizador eautor do livro O Português Afro-Brasileiro (EDUFBA,2009) e Coordenador do Projeto Vertentes do PortuguêsPopular do Estado da Bahia (http://www.vertentes.ufba.br/).

DANTE LUCCHESI DANTE LUCCHESIDANTE LUCCHESI DANTE LUCCHESIDANTE LUCCHESI DANTE LUCCHESIDANTE LUCCHESI DANTE LUCCHESIDANTE LUCCHESI DANTE LUCCHESI

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EMINTRODUÇÃO

A polêmica gerada pela notícia de que o MECestava distribuindo um livro de português que “en-sinava a falar errado”, veiculada no mês de maiodeste ano de 2011, na grande imprensa, reacendeuo debate sobre a língua vernácula e o seu ensino,em um tom há muito tempo inédito no Brasil. Nessedebate, aflorou a contradição entre os avanços al-cançados nas políticas publicas de ensino de lín-gua e o atraso que marca a visão hegemônica nasociedade. Também ficou bastante clara no episó-dio a posição dos segmentos conservadores de queo estudo científico da língua não deveria fazer partedos conteúdos da disciplina língua portuguesa, quedeveria se restringir, assim, ao ensino da chamada“norma culta”. Dentro dessa visão, a escola deve-ria corrigir a fala do aluno, sobretudo do aluno pro-veniente das classes populares, para que esse alu-no tivesse a possibilidade de ascender socialmen-

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22 te, sendo o reconhecimento da diversidade da lín-gua e da legitimidade de todas as suas variedadesconsiderado prejudicial ao êxito desse objetivomaior da escola.

Neste texto, vamos tentar iluminar alguns as-pectos que estão subjacentes à polêmica, destacan-do:

1. O desconhecimento generalizado na socie-dade em relação à realidade da língua.

2. O problema da norma de referência linguís-tica no Brasil, ou, simplesmente, norma padrãobrasileira.

3. Os desafios do ensino de língua portuguesanuma sociedade democrática e pluralista.

Mas, antes de abordar esses pontos, vamos fa-zer um breve relato da comoção provocada peladistribuição pelo MEC do livro de português Poruma vida melhor, da ONG Ação Participativa, quese define como “uma organização fundada em1994, com a missão de promover os direitoseducativos e da juventude, tendo em vista a justiçasocial, a democracia participativa e o desenvolvi-mento sustentável no Brasil”.

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EMUM LIVROQUE NUNCA EXISTIU

Tudo começou com uma nota de que um livrodistribuído pelo MEC “ensinava a falar errado”.Foi o suficiente para que, durante algumas sema-nas, pululassem manifestações de revolta e indig-nação nos quatro cantos do país. No auge da histe-ria, os responsáveis pelo livro foram chamados decriminosos e ameaçados por uma procuradora daRepública, no melhor estilo udenista da Marchacom Deus pela Família. As críticas se concentra-ram em uma passagem do livro que diz que o alu-no poderia dizer “os livro”, sem aplicar a regra deconcordância nominal, como é recorrente na falapopular, mas que ele deveria ficar “atento”, por-que, “dependendo da situação”, poderia “ser víti-ma de preconceito linguístico”.1 Tal passagem foi

1 O capítulo do livro em questão está disponível paradownload, na Internet, no seguinte endereço: http://www.acaoeducativa.org.br/downloads/V6Cap1.pdf

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22 repetida à exaustão para demonstrar que o MECestava fazendo apologia da ignorância popular eprivando as crianças mais necessitadas do ensinoadequado de língua portuguesa.

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Porém, bastava a leitura das três páginas inici-ais do livro para ver que, longe de “ensinar erra-do”, o livro defendia textualmente o ensino da nor-ma culta na escola e era, ele próprio, com seusexercícios de pontuação, concordância, ortografiaetc, um instrumento adequado desse ensino. Sone-gou-se também a informação de que o livro não sedestinava às crianças, mas ao público mais madu-ro do Programa para a Educação de Jovens e Adul-tos (EJA). Mais uma vez a grande imprensa dopaís falhou no requisito básico de checar minima-mente as informações que veicula. O jornalista LuísNassif chegou a comparar o episódio ao caso daEscola Base e lamentou que o desmentido e as re-tratações, se ocorressem, viriam em uma medidamuito menor do que a acusação e a calúnia.

Indo na contramão da lógica da grande impren-sa, vale à pena examinar mais detidamente os prin-cípios adotados no livro que motivaram tamanhareação. A obra, de autoria da professora HeloísaRamos, baseia-se em princípios racionais e impres-

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EMcindíveis para um ensino eficaz de língua mater-na, tais como o de que “falar é diferente de escre-ver”. E reconhece que o português, como qualquerlíngua humana viva, admite formas diferentes dedizer a mesma coisa, o que a ciência da linguagemdenomina variação linguística.2 Informa ainda quea variação linguística reflete a estrutura da socie-dade. No caso brasileiro, o cenário da variaçãosocial apresenta uma divisão entre uma normaculta e uma norma popular – o que temos deno-minado, em nossos artigos, polarização sociolin-guística do Brasil (cf. LUCCHESI, 1994, 1996,2001, 2002 e 2006). O livro ainda alerta que, ape-sar de serem “eficientes como meios de comuni-cação”, as duas normas recebem uma avaliaçãosocial diferenciada, existindo “um preconceito so-cial em relação à variante popular, usada pela mai-oria dos brasileiros”, mas que “esse preconceitonão é de razão linguística, mas social”. Em vistadisso, conclui que “o falante tem de ser capaz deusar a variante adequada da língua para cada oca-sião”, porque “cada uma tem seu lugar na comuni-cação cotidiana”.

* * *

2 Sobre a TEORIA DA VARIAÇ ÃO LINGUÍSTICA, veja-separticularmente: Weinreich, Labov e Herzog (2006[1968]) eLabov (2008[1972]).

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22 Informar ao aluno que a língua é plural e admi-te formas variantes de expressão, cada uma legíti-ma em seu universo cultural específico, não é ape-nas a forma mais adequada de fazer com que oaluno conheça a realidade de sua língua, mas umpreceito essencial de uma educação cidadã, fun-dada nos princípios democráticos, do reconheci-mento da diferença como parte integrante do res-peito à dignidade da pessoa humana. A pluralidadeé o principal pilar de uma sociedade democrática,garantindo a diversidade de crenças, de opiniões,de comportamentos, de orientações sexuais etc.Contudo, a diversidade linguística é vista semprecomo uma ameaça, sem que as pessoas se deemconta do autoritarismo que tal visão dissemina.

A aceitação da diversidade linguística não en-tra em contradição com a necessidade da aquisi-ção de uma norma padrão para uma melhor inser-ção do indivíduo em uma sociedade de classes,dominada pelo letramento. O reconhecimento dadiversidade linguística, longe de ser prejudicial, éuma condição sine qua non para uma escola de-mocrática e inclusiva, que amplia o conhecimentodo aluno sem menosprezar sua bagagem cultural.A imposição de uma única forma de usar a língua,rechaçando as demais variedades como manifes-tações de inferioridade mental, é um ato de vio-lência simbólica e mutilação cultural inaceitável.

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EMO que chama a atenção nesse episódio, e foidestacado por vários linguísticas e pedagogos queconseguiram se posicionar sobre a questão, furan-do o cerco da grande imprensa, é que esses princí-pios não são adotados apenas por esse livro.3 Aocontrário, a grande maioria dos livros didáticos delíngua portuguesa tem um capítulo dedicado à va-riação linguística, desde pelo menos 1997, quan-do o MEC assumiu explicitamente uma orienta-ção pluralista e não discricionária no ensino de lín-gua portuguesa, com a publicação dos ParâmetrosCurriculares Nacionais (PCNs), bem representadana seguinte passagem:

“A imagem de uma língua única, mais próxi-ma da modalidade escr ita da linguagem,subjacente às prescrições normativas da gramá-tica escolar, dos manuais e mesmo dos progra-mas de difusão da mídia sobre ‘o que se deve e oque não se deve falar e escrever’, não se sustentana análise empírica dos usos da língua.

(...) há muitos preconceitos decorrentes dovalor social relativo que é atribuído aos diferen-tes modos de falar: é muito comum se conside-rarem as variedades lingüísticas de menor pres-

3 Um volume organizado pela ONG Ação Educativa quereúne os diversos artigos de linguistas e intelectuais sobre apolêmica em torno do livro Por uma Vida Melhor tambémpode ser encontrado na Internet no seguinte endereço: http://www.acaoeducativa.org/images/stories/pdfs/dossie%20-%20por%20uma%20vida%20melhor%20final_30_06_2011.pdf.

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22 tígio como inferiores ou erradas. O problema dopreconceito disseminado na sociedade em rela-ção às falas dialetais deve ser enfrentado, na es-cola, como parte do objetivo educacional maisamplo de educação para o respeito à diferença.Para isso, e também para poder ensinar LínguaPortuguesa, a escola precisa livrar-se de algunsmitos: o de que existe uma única forma ‘certa’de falar — a que se parece com a escrita — e ode que a escrita é o espelho da fala — e, sendoassim, seria preciso ‘consertar’ a fala do alunopara evitar que ele escreva errado. Essas duascrenças produziram uma prática de mutilaçãocultural que, além de desvalorizar a forma de falardo aluno, tratando sua comunidade como se fos-se formada por incapazes, denota desconheci-mento de que a escrita de uma língua nãocorresponde inteiramente a nenhum de seus dia-letos, por mais prestígio que um deles tenha emum dado momento histórico.

O fato de informações cruciais como essas te-rem sido omitidas olimpicamente pela mídia reve-la mais uma vez o caráter anti-democrático de umsistema de comunicação de massa concentrado namão de grandes grupos econômicos que ditam apauta da informação para toda a sociedade. Mas oque relevante aqui é o grau de desinformação exis-tente na sociedade em relação à língua e ao seuensino, o que deu o terreno para esse tipo de mani-pulação da informação.

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EMO MITO DA IDADE DO OUROE AS TREVAS DA IGNORÂNCIA

A língua ocupa uma posição sui generis na so-ciedade. Em outras áreas do comportamento, asleis se seguem às práticas sociais. A famosa Lei doDivórcio foi promulgada no Brasil, em 1977, quan-do a renovação dos casais já era uma prática cor-rente. Na língua, ao contrário, as disposições go-vernamentais, como no caso dos PCNs, estão mui-to à frente da visão dominante na sociedade, que éno geral dogmática e cheia de mitificações. Olinguista norte-americano William Labov (1994)fala do mito da Idade do Ouro. As pessoas tendema acreditar que a língua atingiu a perfeição no pas-sado e desde então entrou em um processo irrever-sível de deterioração e se afligem com as inova-ções que a cada dia ameaçam mais e mais a inte-gridade do idioma, sendo as mais perigosas as vio-lações perpetradas pela “gente inculta”. Mas nãose conhece uma língua sequer cujo funcionamen-

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22 to tenha sido comprometido pelas mudanças quesofreu ao longo de seu devir histórico (cf. LASS,1980). As mudanças que afetaram o chamado la-tim vulgar da plebe romana deram origem ao por-tuguês de Camões, ao espanhol de Cervantes e aofrancês de Flaubert. E as “deteriorações” sofridaspela língua portuguesa desde o tempo de Camõesnão impediram que Pessoa escrevesse sua magis-tral obra poética. Além do que, muitos males queafligem hoje a língua, para a decepção de muitos,não constituem grande novidade. Os puristas fi-cam horrorizados com a linguagem desleixada daInternet, impregnada de abreviaturas. Pois as abre-viaturas abundam nas inscrições romanas e nosmanuscritos medievais.

Costuma-se correlacionar também a complexi-dade gramatical ao grau de civilização. As decli-nações nominais do grego e do latim clássicos sãovistas como índice de uma cultura superior, e aperda dessas declinações na passagem do latim àslínguas românicas é tratada como um empobreci-mento. Já o alemão, com suas declinações e possi-bilidades de composição, é considerado uma lín-gua mais apropriada ao pensamento filosófico.Contudo, muitas línguas indígenas brasileiras exi-bem uma morfologia muito mais complexa, inclu-sive marcando certas categorias gramaticais, comoa evidencialidade (que informa a fonte de conhe-

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EMcimento do evento verbalizado), absolutamenteausente na gramática das línguas europeias. Emuitas línguas africanas, em sua maioria ágrafas,exibem um sistema morfológico de classificaçãonominal extremamente complexo. Se o grego clás-sico tinha três valores para categoria de número(singular, dual e plural), algumas línguas daMelanésia, de comunidades tribais, têm até cinco,que são marcadas nos pronomes, fazendo com quepossuam mais de cem formas pronominais, contraalgumas poucas dezenas das principais línguaseuropeias, que têm mais de mil anos de tradiçãoescrita. Ou seja, complexidade gramatical não temqualquer correlação com grau de civilização. Nemse pode pensar que complexidade gramatical im-plica maior poder de expressão da língua, pois oque não é dito gramaticalmente pode ser ditolexicalmente (SIEGEL, 2008). Em português, porexemplo, não há um morfema de dual, mas se podeempregar o numeral e dizer dois meninos, o quedá no mesmo.

Outro grande mito é o da ameaça à unidadelinguística: se não houver uma rígida uniformiza-ção, a unidade da língua se perde; se o caos davariação linguística não for detido, a comunica-ção verbal ficará irremediavelmente comprometi-da. Ao contrário, a heterogeneidade da língua é quegarante a sua unidade em uma comunidade social-

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22 mente estratificada e culturalmente diversa. É aflexibilidade conferida pela variação linguísticaque permite a uma língua funcionar tanto na feiralivre quanto nos tribunais de justiça (WEINREICH,LABOV, HERZOG, 2006[1968]). Se fosse um có-digo monolítico e inflexível, como sugerem ospuristas, a mesma língua não poderia funcionar emambientes tão diversos, o que levaria inexoravel-mente à sua fragmentação.

Impressiona o nível de ignorância que se obser-va em pleno século XXI em relação à língua. Qual-quer pessoa bem informada já ouviu falar de Freudou Lévi-Strauss, tem alguma ideia sobre o que sejao Complexo de Édipo e o Tabu do Incesto e nãoousa falar em raças superiores e inferiores, ou queum criminoso possa ser reconhecido pelo formatodo seu crânio, mas fala com naturalidade de lín-guas simples e complexas e se refere a formaslinguísticas correntes como aberrações. Aliás, avisão de que a forma superior da língua é aquelados escritores clássicos é contemporânea do siste-ma de Ptolomeu, de que a Terra era o centro doUniverso e, em torno dela, giravam o sol, os pla-netas e as estrelas. Ou seja, a Revolução de Copér-nico não chegou ainda à língua.

Um exame aprofundado da questão revelará queas motivações históricas para tanto preconceito emitificação decorrem exatamente do papel políti-

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EMco crucial que a língua desempenha nas socieda-des de classe. Ao longo dos tempos, a língua temconstituído um poderoso instrumento de domina-ção e de construção da hegemonia das classes do-minantes. A construção dos estados nacionais en-controu na uniformização e homogeneizaçãolinguística um dos seus apoios mais eficazes, so-bretudo em regimes autoritários e absolutistas. Eo preconceito contra as formas de expressão dasclasses populares constitui um poderoso instrumen-to de legitimação ideológica da exploração dessessegmentos. Na medida em que o preconceito vice-ja na ignorância, pode-se entender por que é tãoimportante impedir que uma visão isenta e cienti-ficamente fundamentada da língua tenha uma gran-de circulação na sociedade.

Em um programa televisivo sobre o polêmicolivro do MEC, um conhecido jornalista inquiriuuma entrevistada, alegando que a concordânciagramatical seria imprescindível ao raciocínio ló-gico. Se fosse assim, os norte-americanos, austra-lianos e ingleses deveriam enfrentar dificuldadessignificativas nessa área, porque o inglês é umalíngua praticamente desprovida de concordâncianominal e verbal. Mas, ao contrário, a grande mai-oria dos artigos científicos é escrita na atualidadeem inglês, e as universidades inglesas e norte-ame-ricanas figuram entre as melhores do mundo. Em

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22 inglês, se diz: I work, you work, he works, we work,you work, they work. Na linguagem popular doBrasil, se diz: eu trabalho, tu trabalha, ele traba-lha, nós trabalha, vocês trabalha, eles trabalha.Nas duas variedades linguísticas, só uma pessoado discurso recebe marca específica, mas o inglêsé a língua da globalização e da modernidade, en-quanto o português popular do Brasil é língua degente ignorante, que não sabe votar. Fica evidenteque o valor das formas linguísticas não é intrínse-co a elas, mas o resultado da avaliação socialimpingida aos seus usuários.

Ao contrário do que pensa o jornalista, a con-cordância não é um requisito para o raciocínio ló-gico. Até porque as regras de concordância sãomecanismos gramaticais que não interferem nacomunicação verbal, tanto que é indiferente dizer“nós pegamos os peixes” ou “nós pegou os peixe”.A informação veiculada é a mesma. Em funçãodisso, esses mecanismos costumam ser muito afe-tados em determinados processos históricos comoaqueles por que passaram o inglês, o português noBrasil e o francês, que, mesmo com a erosão naoralidade de suas marcas de concordância, nãodeixou de se tornar a língua de cultura do mundoocidental no século XIX.

Porém, na recente história política do Brasil, aconcordância teve uma posição de destaque, quan-

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EMdo a imprensa conservadora questionava a capaci-dade do Presidente Lula, invocando, entre outrascoisas, os seus “erros de português”. O preconcei-to linguístico nada mais era do que a expressão deum preconceito mais profundo das elites econô-micas, que não podiam admitir que um torneiromecânico ocupasse o cargo de maior mandatárioda República. O sucesso e as conquistas alcançadaspelo Governo Lula, tanto no plano interno quantoexterno, só vieram a confirmar que, tanto um pre-conceito quanto outro, não tinham o menor funda-mento.

Mas vale tudo para desqualificar a linguagempopular, até dizer o disparate de que ela “é caóticae sem regras”, como afirmou, há alguns anos, umajornalista de um grande jornal brasileiro. Porém, ajornalista, como a grande maioria das pessoas, des-conhece que as pesquisas da linguística formal têmdemonstrado que a Faculdade da Linguagem é umapropriedade universal da espécie humana, de modoque qualquer frase produzida por um falante dequalquer língua natural, seja ele analfabeto ou eru-dito, é gerada por um sistema mental de regras tãosofisticado que mesmo o computador mais pode-roso já produzido é incapaz de fazer o que qual-quer indivíduo faz trivialmente: falar sua línguanativa. Até porque não se pode fazer a programa-ção do computador, pois não se conhece suficien-

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22 temente o sistema que transforma os nossos pen-samentos em frases, ou seja, a Gramática Univer-sal e suas inúmeras versões parametrizadas, quedefinem o desenho gramatical de todas as línguashumanas.4

4 Para uma visão geral do Programa de Pesquisa da Gramá-tica Gerativa, o leitor brasileiro encontra traduzidas as se-guintes obras: Noam Chomsky (2005, 2008 e 2009).

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EMCIÊNCIA E ENSINO

Numa sociedade hegemonizada por uma visãode língua dogmática e preconceituosa, a distribui-ção de um livro didático que reconhece a diversi-dade linguística e a legitimidade da linguagempopular assume um caráter altamente subversivo,o que explica a violenta reação que despertou. Ouseja, qualquer ação que leve para a sociedade umavisão realista de língua é uma séria ameaça à or-dem vigente. Nesse sentido, é sintomático o depo-imento do eminente gramático Evanildo Bechara,durante a polêmica. Numa crítica à orientação dosPCNs, que ele considera um “erro de visão”, afir-ma:

“Há uma confusão entre o que se espera deum cientista e de um professor. O cientista estu-da a realidade de um objeto para entendê-lo comoele é. Essa atitude não cabe em sala de aula. O

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22 indivíduo vai para a escola em busca de ascen-são social.

É impressionante que se diga que “não cabe emsala de aula” fornecer elementos para o aluno“compreender [a língua] como [ela] é”. É comodizer que o darwinismo não cabe em sala de aula,devendo o ensino de biologia ser orientado pelosprincípios do criacionismo. Acenando com a ce-noura da “ascensão social”, Bechara quer limpar oterreno do ensino para os normativistas legislaremarbitrariamente sobre a língua, como têm feito atéentão. A visão científica da língua, que reconhecea variação e a diversidade linguística como pro-priedades essenciais de qualquer língua viva, deveficar hermeticamente confinada aos ambientes ci-entíficos. Na escola e na sociedade, deve predo-minar a visão dogmática e obscurantista de queexiste uma única forma de falar e escrever, enquan-to as demais variedades da língua devem ser vistascomo deteriorações produzidas por mentes inferi-ores. Em editorial dedicado ao polêmico livro, arevista Veja chegou a afirmar que:

A discussão arcana sobre o ‘falar popular’ocupa um escaninho secundário na sociolinguís-tica e seria um enorme favor aos brasileiros queestudam e trabalham se nunca tivesse deixado oseu porão acadêmico.

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EMNão é novidade o sectarismo dessa publicaçãoem relação ao conhecimento científico da lingua-gem. Em uma matéria datada de 2001, referia-se àposição dos linguistas como “o pensamento de umacerta corrente relativista”, segundo a qual “o certoe o errado em português não são conceitos absolu-tos”. Prosseguindo, afirma que, segundo essa ten-dência, “quem aponta incorreções na fala popularestaria, na verdade, solapando a inventividade e aautoestima das classes menos abastadas. Isso con-figuraria uma postura elitista.” Diante disso, a re-vista sentencia: “trata-se de um raciocínio torto,baseado em um esquerdismo de meia pataca, queidealiza tudo o que é popular – inclusive a igno-rância, como se ela fosse atributo, e não proble-ma, do povo”. O primarismo do raciocínio e a gros-seria na linguagem são atributos bem conhecidosdessa revista, mas acreditar que os juízos de corre-ção idiomática são absolutos, e não determinadoshistoricamente, constitui uma ignorância bastantereal, nada idealizada. Um exemplo cabal. No pas-sado recente, seria considerado um erro grave noBrasil escrever o seguinte período “Diria-se queessa afirmação não tem fundamento”; o certo se-ria “Dir-se-ia que...”. Pois bem, atualmente, a mai-oria dos manuais de redação dos principais jornaisdo Brasil veta o uso da mesóclise (dir-se-ia).

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22 Isso coloca em questão a atualidade da normade referência linguística, ou norma padrão, noBrasil. Na referida matéria, a revista Veja tece loasao gramático midiático Pasquale Cipro Neto. Ogrande mérito do Professor Pasquale, que ocupaum grande espaço nos meios de comunicação demassa, é dar uma roupagem nova ao velho discur-so purista e conservador da tradição gramatical.Embora admita os “desvios” da linguagem colo-quial, Pasquale prescreve as formas do que chama“norma culta”, as quais devem ser empregadas nassituações de comunicação formal. Assim, uma es-trutura como “o candidato custou a responder aquestão”, de uso corrente na linguagem cotidiana,não deve ser usada em situações formais, porque“na norma culta” se diz “custou ao candidato res-ponder a questão”. Porém, o linguista MarcosBagno (2001, 2007) tem demonstrado que frasescomo “o candidato custou a responder a questão”e outras que Pasquale afirma não pertencer à nor-ma culta são recorrentes nos textos de escritoresconsagrados, como Cecília Meirelles, CarlosDrummond de Andrade e Clarice Lispector, oumesmo de clássicos, como Machado de Assis e Joséde Alencar. Isso demonstra que, no Brasil, existeum desacordo flagrante entre a norma padrão –modelo ideal de língua usado como critério para acorreção linguística – e a norma culta – forma da

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EMlíngua concretamente usada pelas pessoas consi-deradas cultas, advogados, jornalistas, escritoresetc. Ao empregar as duas expressões como sinôni-mos, Pasquale e os normativistas buscam dar àssuas prescrições uma legitimidade que elas nãotêm, porque se apoiam numa equivalência que estálonge de existir.

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22 VASSALAGEM LINGUÍSTICA

A tensão entre a norma padrão e a norma cultaé normal em qualquer sociedade letrada, na medi-da em que a norma padrão constitui uma formafixa e idealizada de língua a partir da tradição lite-rária, enquanto a norma culta, constituída pelasformas linguísticas efetivamente em uso está sem-pre se renovando (REY, 2001). Porém, no Brasil odesacordo entre as duas é grave desde as origensdo estado brasileiro. A independência política doBrasil, ocorrida em 1822, desencadeou uma sériede manifestações e movimentos nativistas, que ti-nham no índio tupi o grande símbolo da nacionali-dade. Contudo, escritores que abraçaram a temáticaindigenista e nacionalista e que tentaram adequara linguagem portuguesa à nova realidade culturaldo Brasil, como José de Alencar, foram alvo devirulentas críticas provenientes do purismo grama-tical.

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EMMais uma vez, a língua se descolou dos demaisaspectos da cultura, nos quais todos os elementosrepresentativos da brasilidade deveriam seradotados, derrubando os símbolos da velha ordemcolonial. Mesmo nesse cenário, a linguagem bra-sileira era vista como imprópria e corrompida, de-vendo continuar a prevalecer a língua da antigaMetrópole portuguesa. A vitória dos puristas naquestão da língua no Brasil expressa a essência doprojeto elitista e excludente da classe dominantebrasileira. E a base racista desse projeto fica claraneste trecho do discurso de Joaquim Nabuco, nasessão de instalação da Academia Brasileira deLetras, em 1897 (apud PINTO, 1978, p. 197-198):

“A raça portuguesa, entretanto, como raçapura, tem maior resistência e guarda assim me-lhor o seu idioma; para essa uniformidade de lín-gua escrita devemos tender. Devemos opor umembaraço à deformação que é mais rápida entrenós; devemos reconhecer que eles são os donosdas fontes, que as nossas empobrecem mais de-pressa e que é preciso renová-las indo a eles. (...)Nesse ponto tudo devemos empenhar para se-cundar o esforço e acompanhar os trabalhos dosque se consagrarem em Portugal à pureza donosso idioma, a conservar as formas genuínas,características, lapidárias, da sua grande época(...) Nesse sentido nunca virá o dia em que Her-

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22 culano ou Garrett e os seus sucessores deixemde ter toda a vassalagem brasileira.

Para além da contradição entre a vassalagemlinguística e o espírito nacionalista ainda em vigorna época, essa adoção do modelo da língua de Por-tugal terá graves implicações para a normatizaçãolinguística no Brasil, sendo a mais evidente o ge-neralizado sentimento de insegurança linguísticaque aflige todos os segmentos da sociedade brasi-leira, mesmo os mais escolarizados. É comum ou-vir no Brasil afirmações do tipo “o português é umalíngua complexa”, ou “o brasileiro não sabe falarportuguês”. E não poderia ser diferente porque, aoadotar os modelos da língua de Portugal, a tradi-ção gramatical brasileira exige que os brasileirosescrevam, ou até mesmo falem, com a sintaxe por-tuguesa, o que é impraticável, porque a língua nãoparou de mudar, tanto em Portugal quanto no Bra-sil, em um processo que, por vezes, assume dire-ções distintas, ou mesmo contrárias, em cada umdos lados do Atlântico.5

Uma das mais notáveis dessas mudanças foi aviolenta redução das vogais átonas da língua emPortugal, fazendo com que os portugueses pronun-

5 Para uma ampla reflexão sobre a norma de referêncialinguística no Brasil, veja-se Faraco (2008).

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EMciem telefone como tlefone, o que confere ao por-tuguês europeu contemporâneo uma sonoridade,que é menos românica do que germânica, ou mes-mo eslava. Já no Brasil pronuncia-se téléfoni outêlêfoni (consoante a região), tendo ocorrido o in-verso: o fortalecimento das vogais pretônicas. Essamudança acabou por repercutir em outros níveisda estrutura da língua, de modo que em Portugalse generalizou o uso da ênclise, até nos casos emque, na língua clássica, era obrigatório o uso dapróclise (e.g., O João disse que feriu-se; Não che-gou-se a um acordo), enquanto no Brasil empre-ga-se normalmente a próclise até nos contextosvedados pela tradição (e.g., Me parece que ela nãoveio). Para além da insegurança linguística, a ado-ção de uma norma adventícia no Brasil produz tam-bém verdadeiros absurdos pedagógicos. Toda gra-mática normativa brasileira tem um capítulo dedi-cado à colocação pronominal, que se inicia invari-avelmente com a afirmação “a colocação normaldo pronome átono é a ênclise”; ao que se seguemmais de vinte regras indicando onde se deve usar apróclise (em orações subordinadas, depois de pa-lavras negativas, após alguns advérbios etc). Talgramática serve a um estudante português, que usanormalmente a ênclise e pode aprender quais sãoos contextos excepcionais onde a tradição reco-menda o uso da próclise, mas não tem a menor

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22 serventia para um estudante brasileiro, que já usanormalmente a próclise. Para ter algum valor pe-dagógico, o texto da gramática brasileira deveriater a seguinte feição: “a colocação normal do pro-nome átono no Brasil é a próclise; entretanto, parase adequar à tradição, deve-se evitar essa coloca-ção em início de período e após uma pausa”. Po-rém, a vassalagem linguística dos gramáticos aosmodelos lusitanos ainda faz com que essesgramáticos produzam um texto absolutamente inó-cuo no que concerne a esse tema, no contextolinguístico brasileiro.

6 Para uma ampla reflexão sobre a norma de referêncialinguística no Brasil, veja-se Faraco (2008).

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EMPOR UM ENSINODEMOCRÁTICO E PLURALISTA

O problema da falta de representatividade danorma de correção gramatical no Brasil se agravacom a visão tradicional que restringe o ensino delíngua portuguesa à prescrição das formas consi-deradas corretas, quando o ensino da língua deveser muito mais amplo que isso, concentrando-seem práticas criativas que capacitem o aluno a pro-duzir e interpretar textos, dominar os diversos gê-neros textuais e identificar os mais variados senti-dos e valores ideológicos que as produções ver-bais assumem em cada situação específica; ao quese deve somar uma informação propedêutica acer-ca da diversidade da língua. E o debate em tornodo livro do MEC revelou que o conflito entre asduas visões acerca da língua materna e do seu en-sino está muito vivo na sociedade brasileira.

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22 Por um lado, há um concerto dos grupos con-servadores em torno de uma posição, que fica bemclara nessa passagem da nota oficial emitida pelaAcademia Brasileira de Letras (ABL), criticandoo livro de português do MEC:

“Todas as feições sociais do nosso idiomaconstituem objeto de disciplinas científicas, masbem diferente é a tarefa do professor de línguaportuguesa, que espera encontrar no livro didáti-co o respaldo dos usos da língua padrão que mi-nistra a seus discípulos.

A posição desses grupos é inequívoca. O papelda escola é fazer com que o aluno abandone a suavariedade de língua para poder se integrar plena-mente na sociedade. Dessa forma, o ensino de lín-gua portuguesa deve-se concentrar na prescriçãodas formas consagradas pela tradição gramatical,corrigindo as formas desviantes que o aluno usanormalmente em seu meio cultural de origem.Nesse contexto, o reconhecimento das formas dalinguagem coloquial e popular é pernicioso, por-que é visto como uma espécie de “elogio ao erro”ou “apologia da ignorância”. Fica, assim, patentea contradição entre a visão conservadora edogmática, que ainda é hegemônica na sociedade,e a visão pluralista e científica da língua que jáembasa os documentos oficiais da educação pú-

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EMblica no país, bem como as práticas pedagógicasnas melhores escolas.

O grande problema é que a sociedade simples-mente desconhece o que já é consensual entrelinguistas e pedagogos, ou seja, que um modelo deensino de língua, que privilegia a imposição deformas linguísticas adventícias e/ou anacrônicas,está longe de ser o mais eficaz. Não é a correçãode “assistir o espetáculo” por “assistir ao espetá-culo” que vai fazer o aluno ler e escrever melhor.Um ensino eficaz de língua materna incorpora abagagem cultural do aluno, promovendo uma am-pla prática de leitura e produção de textos nas maisvariadas situações de comunicação, desenvolven-do também sua capacidade de reconhecer os di-versos sentidos e valores ideológicos que a línguaveicula em cada situação. Nesse ensino, é impres-cindível promover a consciência acerca da diver-sidade linguística como reflexo inexorável da va-riedade cultural. E esta formação cidadã para orespeito à diferença não entra em contradição como ensino da norma culta, que deve permanecer. Oque está em jogo, na verdade, é a opção por umensino discriminatório e arbitrário, baseado no pre-conceito e no dogma, ou por um ensino crítico epluralista, baseado no conhecimento científicoacumulado até os dias de hoje, como ocorre na fí-sica, na matemática, na geografia, etc. Por que se

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22 deve privar os alunos do conhecimento científicoda língua, reduzindo a disciplina língua portugue-sa a um mero curso de etiqueta gramatical?

E o argumento de que um ensino de língua rea-lista entra em contradição com o acesso da popu-lação mais pobre à norma culta é falacioso. Aspesquisas sociolinguísticas têm revelado que aaquisição da norma culta ocorre paralelamente àinserção dos segmentos historicamente marginali-zados na sociedade brasileira, tanto no plano só-cio-econômico, quanto no plano do acesso aos bensculturais. Ou seja, nas comunidades rurais, os jo-vens, que têm alguma escolaridade, estão melhorinseridos no mercado de trabalho e têm um maioracesso aos meios de comunicação de massa, usammais as regras de concordância nominal e verbaldo que os mais idosos, que normalmente estãomenos inseridos, em termos econômicos e cultu-rais. Portanto, não é o preconceito linguístico quevai levar à difusão da norma culta, mas a distribui-ção de renda, a inclusão social e a ampliação emelhoria da rede pública de ensino.

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EMCONCLUSÃO

Nas últimas décadas, a sociedade brasileira vemaprofundando seu caráter democrático, não ape-nas com a distribuição de renda promovida pelaação dos programas sociais do Governo Federal,como também no reconhecimento da diferençacomo parte do respeito à dignidade da pessoa hu-mana. Hoje o racismo é tipificado como crime peloCódigo Penal, e está em curso no Congresso Naci-onal um projeto de lei contra a homofobia. No pla-no da cultura, manifestações de matrizes histori-camente marginalizadas, como a africana, estãoplenamente integradas, como os blocos afros noCarnaval da Bahia, a capoeira e o Candomblé.Contudo, a polêmica desencadeada com a notíciadeturpada de que o Ministério da Educação estavadistribuindo um livro de português que “ensinava

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22 o aluno a falar errado” demonstra que a sociedadebrasileira vive um impasse em relação à línguanacional e ao seu ensino.

De um lado, as pesquisas desenvolvidas nasuniversidades brasileiras, a partir da década de1960, quando a Linguística se tornou disciplinaobrigatória nos cursos de Letras, se refletem nasposições estratégicas no Ministério da Educação,definindo uma política de ensino mais pluralista eem consonância com o desenvolvimento atual daciência da linguagem. Tal política já produz seusfrutos no conteúdo dos livros didáticos e nas práti-cas pedagógicas das melhores escolas do país. Po-rém, a posição conservadora continua hegemônicana sociedade, onde o peso de uma longa tradiçãopurista ainda se faz sentir (FARACO, 2008). Ca-beria aos linguistas concentrar esforços para di-vulgar suas concepções para um público mais am-plo, mais estes ainda demonstram pouca capaci-dade de articulação nesse campo. Além disso, osmeios de comunicação de massa, controlados pe-los grandes grupos econômicos, tendem a repro-duzir a posição conservadora dos gramáticos, par-ticularmente daqueles que assumem uma roupa-gem nova e aparentemente atualizada. Apesar dis-so, os linguistas conseguiram ocupar posições im-portantes nesse debate publicando artigos em jor-nais de grande circulação no país.

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EMAssim, a polêmica em torno do livro de portu-guês do MEC montou o palco para um novo em-bate em torno da língua nacional. Resta saber se,decorridos mais de cem anos, o projeto purista sairánovamente vencedor ou se os avanços democráti-cos alcançados pela sociedade brasileira nas últi-mas décadas chegarão finalmente à língua.

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A ciência da linguageme o ensino da língua portuguesa:

o caso do livro de português do MECfoi originalmente publicado em

Denise Scheyerl e Sávio Siqueira.Materiais didáticos para o ensino de línguas

na contemporaneidade: Contestações eproposições. Salvador, EDUFBA, 2012.

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Dezembro de 2016

A CIÊNCIA

PorDANTE LUCCHESI

DA LINGUAGEME O ENSINO

DA LÍNGUA PORTUGUESA

FOLH

ETIM

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