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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
DA IMPOSSIBILIDADE DA PROPOSTA DE TRANSAÇÃO PENAL “EX OFFICIO”
MÁRCIA HELENA CANALLI
Itajaí, junho de 2010
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
DA IMPOSSIBILIDADE DA PROPOSTA DE TRANSAÇÃO PENAL “EX OFFICIO”
MÁRCIA HELENA CANALLI
Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como
requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientador: Professor Esp. Guilherme Augusto C. Rehder
Itajaí, junho de 2010
AGRADECIMENTO
À DEUS por estar sempre me iluminando, me abençoando, e me guiando.
A minha família, amigos, Carol, Gabriela,Marina, Evandro ,Cristiano, Schirley, Julian, Ieda e à todos presentes na banca, em especial ao meu orientador professor Guilherme, pessoa maravilhosa, ótimo professor, obrigada pela dedicação e companheirismo nestes dois semestres. Ao professor Clóvis pela dedicação que teve em fazer as correções de formatação.
E a todo que de forma direta ou indireta contribuíram pela minha formação acadêmica.
Meu profundo agradecimento.
DEDICATÓRIA
Em especial aos meus pais Walter de Assis Canalli e Maria Terezinha Canalli, e ao Fábio por estar me apoiando sempre, pela dedicação, pelo carinho, pela paciência que teve e por sempre estar me apoiando e incentivando, para que eu ultrapassasse esta etapa
Aos meus irmãos Volmir, Marinês e Ivan, e aos cunhado (as) Paulinho, Rosane e Ruti, e a minha Vó Cida, por estarem sempre presentes fazendo parte de minha vida, e as sobrinhas, Maria Eduarda e Jenniffer , por entender a minha ausência neste tempo dedicado aos estudos, em especial a Dra Ana Vera, ao Claúdio, e ao Carlos pela oportunidade, incentivo, e disposição em me ajudar, me ensinar no dia-a-dia.
iv
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do
Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o
Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Itajaí, junho de 2010
Márcia Helena Canalli Graduanda
v
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale
do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduada Márcia Helena Canalli, sob o título
DA IMPOSSIBILIDADE DA PROPOSTA DE TRANSAÇÃO PENAL “EX
OFFICIO” foi submetida em 09 de junho de 2010 à banca examinadora composta
pelos seguintes professores: Professor Esp. Guilherme Augusto C. Rehder e
Presidente da Banca: Adriana Maria Gomes de S. Splenger, e aprovada com a
nota [........] (..............................).
Itajaí, junho de 2010
Professor Esp. Guilherme Augusto C. Rehder Adriana Maria Gomes de S. Splenger
Prof. MSc. Antônio Augusto Lapa Coordenação de Monografia
SUMÁRIO
RESUMO............................................................................................ 8
INTRODUÇÃO ................................................................................... 9
CAPÍTULO 1 .................................................................................... 11
DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS........................................ 11
1.1 ASPECTOS GERAIS......................................................................................11
1.2 PREVISÃO CONSTITUCIONAL.....................................................................15
1.3 CONCEITO DE INFRAÇÃO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO ..............17
1.3.1 Conceito de Infração de Menor potencial Ofensivo determinado pela Lei n. 9.099/95......................................................................................................17
1.3.2 O advento da Lei n. 10.259/01 ...................................................................18
1.3.3 Discussão decorrente do direito intertemporal.......................................19
1.3.4 Discussões decorrentes do conceito de infração de menor potencial ofensivo. ..............................................................................................................20
1.4 PRINCÍPIOS QUE NORTEIAM O PROCESSO NO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL.............................................................................................................23
1.5 DA COMPETÊNCIA .......................................................................................24
1.6 ASPECTOS GERAIS DOS ATOS PROCESSUAIS .......................................25
1.6.1 Da Citação...................................................................................................28
1.6.2 Da intimação...............................................................................................31
1.7 ASPECTOS GERAIS DAS PECULIARIDADES DA LEI N. 9.099/95 ............32
1.7.1 Da fase preliminar ......................................................................................32
1.7.2 Do Procedimento Sumaríssimo ................................................................40
1.7.3 Do Sistema Recursal..................................................................................42
1.7.4 Da execução ...............................................................................................44
1.7.5 Da Suspensão Condicional do Processo.................................................45
CAPÍTULO 2 .................................................................................... 48
DA TRANSAÇÃO PENAL................................................................ 48
vii
2.1 ASPECTOS GERAIS......................................................................................48
2.2 DA NATUREZA JURÍDICA ............................................................................50
2.3 DA LEGITIMIDADE PARA OFERTAR A PROPOSTA DA TRANSAÇÃO PENAL..................................................................................................................51
2.4 CABIMENTO ..................................................................................................53
2.4.1 Requisitos Objetivos..................................................................................53
2.4.2 Requisito Subjetivo....................................................................................56
2.5 DA ACEITAÇÃO DA PROPOSTA DE TRANSAÇÃO PENAL.......................57
2.5.1 Da natureza jurídica da sentença homologatória da transação penal ..60
2.6 DO DESCUMPRIMENTO DA TRANSAÇÃO PENAL ....................................61
2.7 DOS EFEITOS DA TRANSAÇÃO ..................................................................62
2.8 RECURSOS DA SENTENÇA DE HOMOLOGAÇÃO.....................................64
CAPÍTULO 3 .................................................................................... 67
DA IMPOSSIBILIDADE DA PROPOSTA DE TRANSAÇÃO PENAL “EX OFFICIO”.................................................................................. 67
3.1 PRINCIPAIS ASPECTOS...............................................................................67
3.1.1 Previsão legal expressa.............................................................................70
3.1.2 Da infringência ao sistema acusatório.....................................................71
3.1.3 Da titularidade da ação penal pública ......................................................72
3.2 DO POSICIONAMENTO DOS TRIBUNAIS SUPERIORES ...........................74
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 77
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 80
RESUMO
O presente trabalho pretende abordar o instituto da
transação penal e suas peculiaridades. Como se sabe, a transação penal está
prevista na lei 9.099/95, a qual instituiu os Juizados Especiais Cíveis e Criminais.
Tendo em vista que a lei supra mencionada traz uma relevante inovação
principalmente no Direito Processual Penal, desde a sua elaboração, os institutos
por ela criados vêm causando discussões e divergências doutrinarias e
jurisprudenciais.
O tema a ser abordado no presente trabalho retrata um dos
pontos objeto de divergência. Em razão disso, com o fim de elucidar a discussão
que envolve o novo instituto, o presente trabalho abordará minuciosamente o
tema proposto e, utilizando-se dos meios de interpretação (gramatical, histórica,
lógica e sistemática) bem como da doutrina e jurisprudência, a problemática
existente não mais subsistirá.
9
INTRODUÇÃO
Como é de conhecimento de todos, a evolução da sociedade
fez surgir a necessidade de se tutelar os bens jurídicos até então não atingidos. É
bem certo que, apesar de o Direito Penal ser fragmentário, o instituto tem sido
ineficaz na apuração, no andamento processual e na efetiva atuação, do jus
puniendi do Estado.
Deve-se ressaltar que a ineficácia da autuação, que resulta
na impunidade do agente, se dá, dentre outros motivos relevantes, em face da
demora na atuação do Estado frente ao criminoso, causada pela burocracia e
lentidão do andamento processual. Assim sendo, com o fim de evitar a
impunidade a determinados crimes, de menor gravidade, foi editada, promulgada
e publicada a Lei n. 9.099/95 que institui os Juizados Especiais Criminais.
A referida lei traz relevantes inovações no Direito Processual
Penal, dentre elas a Audiência Preliminar, que compreende a composição civil e a
eventual proposta de transação penal, bem como a fase processual, que segue o
procedimento sumaríssimo. Outra inovação trazida pela lei, que não se explica
exclusivamente aos crimes de menor potencial ofensivo, foi a previsão da
suspensão condicional do processo.
O referido trabalho tem por escopo abordar o instituto da
transação penal. Como se sabe, a transação penal consiste em um acordo
celebrado pelo Ministério Público e o autor dos fatos para que seja imposta, antes
mesmo da propositura da ação penal, uma pena restritiva de direito ou multa, sem
que a culpabilidade do agente seja auferida.
Por ser um instituto excepcional no sistema penal brasileiro,
a lei conferiu a legitimidade para a sua propositura, somente ao titular da ação
penal. Ocorre que, sendo a transação penal benéfica ao autor dos fatos (pelos
10
efeitos que produz) tem-se discutido na doutrina se o instituto pode ser proposto
por pessoa diversa da determinada lei.
Ao longo do trabalho serão demonstradas as razoes de fato
e de direito que impedem a propositura da transação penal pela autoridade
judicial, seja de oficio ou a requerimento do autor dos fatos.
O presente relatório de pesquisa se encerra com as
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos
destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões.
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase
de Investigação1 foi utilizado o Método Indutivo2, na Fase de Tratamento de
Dados o Método Cartesiano3, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente
Monografia é composto na base lógica Indutiva.
Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as
Técnicas do Referente4, da Categoria5, do Conceito Operacional6 e da Pesquisa
Bibliográfica7.
1 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente
estabelecido [...]. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. 11 ed. Florianópolis: Conceito Editorial; Millennium Editora, 2008. p. 83.
2 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 86.
3 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.
4 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 54.
5 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 25.
6 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 37.
7 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 209.
CAPÍTULO 1
DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS
1.1 ASPECTOS GERAIS
Com o advento da lei n. 9.099/95 em seu art. 60 fixou a
competência dos juizados especiais criminais, aos crimes de menor potencial
ofensivo.
Sendo importante apontar a alteração sofrida pelo art. 60 da
lei 9.099/95. como advento as lei n. 11.313/06, a redação do referido dispositivo
passou e ser o seguinte;
Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência.
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da composição dos danos civis.
Verifica-se que, em duas situações a Lei n. 9.099/95
determina que os crimes de menor potencial ofensivo não se procedem pelo
procedimento sumaríssimo; primeiramente, quando o autor dos fatos não for
encontrado para ser citado, devendo, neste caso os autos serem remetidos para o
juízo comum, e em havendo “a complexidade ou as circunstancias do caso
impossibilitarem a adoção do rito sumaríssimo.”8
8 BONFIM, Edilson Mougenout,Curso de Direito Processual Penal, pg. 563..
12
No tocante à conexão e continência, a doutrina divergia.
Antes do advento da lei n. 11.313/06, havia quem entendesse que;
“deveria haver a separação dos processos, uma vez que a regra de conexão e da continência é de ordem legal, e a sujeição da infração de menor potencial ofensivo ao procedimento sumaríssimo dos Juizados Especiais é de norma de índole constitucional. 9
Com o advento da lei n. 11.313/06, passou-se a entender
que, em sendo praticado crime de menor potencial ofensivo a competência é do
Juizado Especial Criminal. Porém, se esse foi praticado em conexão ou
continência, dever-se-á aplicar as regras previstas no art.78 do Código de
Processo Penal. No entanto.
(...) caso, em virtude da aplicação das regras do art. 78 do CPP, venha a ser estabelecida a competência do juízo comum ou do tribunal do júri para julgar também a infração de menor potencial ofensivo, afastando, portanto o procedimento sumaríssimo da Lei n. 9.099/95, isso não impedira a aplicação dos institutos da transação penal e da composição dos danos civis. Tal ressalva da lei visou garantir os institutos assegurados constitucionalmente.”10
Nos termos do art. 60 da Lei n. 9.099/95, o Juizado será
composto por juízes togados e leigos. Esses são, por sua vez, auxiliares da
justiça, recrutados dentre os advogados com mais de cinco anos de experiência.
Nos termos do parágrafo único do art. 7°, esses estarão impedidos, enquanto
estiverem no desempenho das suas funções, de exercerem a advocacia perante
os Juizados Especiais Criminais.
Como dispõe o art. 60 o Juizado Especial Criminal tem
competência para conciliação, o julgamento e a execução das infrações de menor
potencial ofensivo, devendo se observar as regras de conexão e continência.
Trata-se, por sua vez, de competência absoluta. Assim, se o fato estiver
tramitando em vara comum, deve o magistrado reconhecer-se incompetente e
remeter os autos ao juizado.
9 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal- legislação penal especial.. 2 ed. São Paulo, 2007. v.
4. p. 541. 10 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal- legislação penal especial..p.542.
13
Neste sentido;
CORREIÇÃO PARCIAL – Remessa pelo Juiz da ação penal para o Juizado especial Criminal – Admissibilidade - Crime de menor potencial ofensivo – uso próprio de tóxico – Pena máxima não superior a dois anos e multa – Exegese do art. 2° parágrafo único, da Lei n. 10.259/01, que revogou o art. 61 da lei n. 9.099/95 – Jurisprudência do Supremo Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal federal – Pedido indeferido. A matéria antes convertida, encontrou destinação jurisprudencial pacífica no sentido de que o art.2° parágrafo único, da Lei n. 10.259/01 revogou o art. 61 da Lei n. 9.099/95, modificando o conceito de infração penal de pequeno potencial ofensivo. (correição parcial n. 448.194-3/2-São Manuel-1° Câmara Criminal- Relator; Denser de Sá- 16.02.2004-V.U) JUBI 94/4.
Consoante o art. 581, II, do CPP, é cabível recurso de
sentido estrito contra a decisão que determina a redistribuição dos autos ao
juizado.
Entende-se por nulo o processo quando este tramita em
juízo incompetente, deixando este de realizar a audiência preliminar e de observar
os ditames do procedimento sumaríssimo. Uma vez constatada que a pena
máxima em abstrato condiz com os ditames de Lei n. 9.099/95, não há de se
negar ao autor do fato o direito de ser processado nos ditames da lei em tela.
Neste sentido,
É nulo o processo quando, sendo o delito considerado como de menor potencial ofensivo, não é observado o rito sumaríssimo previsto na Lei n. 9.099/95, deixando de ser tentada a composição doa danos cíveis e propostos ao beneficio dos artigos 76 e 89 desse diploma legal. Trata-se de afronta a garantia individual, disposta no artigo 5°, LIV, da constituição Federal, que, mesmo não questionada pela defesa, impõe a anulação do feito ex offício, em virtude do dever inerente a atividade jurisprudencial de zelar pela efetiva vigência do diploma maior. Apelação n. 1.386-831/7 – Presidente Venceslau – 6° Câmara – Relator: Ivan Marques – 28.01.2004 – V.U. INFORMATIVO STJ N. 257 crime de porte ilegal de arma (art. 10 da lei n. 9.437/97) foi praticado na vigência da lei n. 10.259/01, que ampliou ainda mais o conceito de delito de menor potencial ofensivo sujeito aos ditames do art. 61 da lei n. 9.099/95. Assim, constatado que a infração em questão é apenada, no Maximo, com dois anos de privação de liberdade, conclui-se que se amolda justamente naquele conceito, a determinar ter por prejudicado o presente conflito e expedir habeas corpus de ofício, para anular todos os atos decisórios
14
praticados pelo Juízo comum em detrimento da competência do respectivo Juizado Especial. Procedente citado: HC 30.994-RO, DJ 10/05/2004 e Resp 521.085-RS, DJ 10/11/2003, Rel Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 24/08/2005.
No que diz respeito ao processo que, não sendo de
competência do Juizado Especial Criminal, e por este julgado, há controvérsias
quanto as suas conseqüências entendem que, “em sendo o processo julgado pelo
juizado quando esse não era competente, deve se decretar a nulidade do ato
decisório, tendo em vista que
“ a adoção do rito sumaríssimo gera necessariamente restrição à defesa, pela menor viabilidade de produção de provas e restrição dos prazos processuais, sendo presumido o prejuízo pela frontal restrição a garantia constitucional da ampla defesa e do devido processo legal. 11
Neste sentido:
STJ – O crime de porte ilegal de arma ( art. 10 da lei n. 9.437/97) foi praticado na vigência da Lei n. 10.259/01, que ampliou ainda mais o conceito de delito de menor potencial ofensivo sujeito aos ditames do art. 61 da Lei n. 9.099/95. Assim, constatado que a infração em questão é apenada, no máximo, com dois anos de privação de liberdade, conclui-se que se amolada justamente naquele conceito, a determinar ter por prejudicado o presente conflito e expedir habeas corpus de oficio, para anular todos os atos decisórios praticados pelo Juízo comum em detrimento da competência do respectivo Juizado Especial. Procedente citado: HC 30.994 – RO, DJ 10/05/2004, e Resp 521.085 – RS, DJ 10/11/2003, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 24/08/2005.
O entendimento majoritário se posiciona no sentido de que
não deve ser declarada a nulidade dos atos já praticados, desde que esses não
tenham causado qualquer prejuízo.
Neste sentido;
STF: Rejeitou- se, ainda, a alegação de nulidade absoluta do processo, porquanto o impetrante não demonstrara o prejuízo na adoção do rito sumaríssimo, restringindo-se a questão à
11 FULLER, Paulo Henrique Aranda; JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Diniz Junqueira.
Legislação Penal Especial. 3 ed. São Paulo: Editora Premier Máxima, 2006.p.413.
15
incompetência da Turma Recursal. Procedente citado: HC 81510/PR (DJU 12/04/2002), HC 85019- / MG, rel. Min. Ellen Gracie, 15.2.2005.
STF: o entendimento firmado nesta Corte é de que a argüição de nulidade, fundada na incompetência do Juizado especial, reclama demonstração de prejuízo. Ordem parcialmente concedida. HS 85350, Rel. Eros Grau (foi vencido o Min. Marco Aurélio).
Importante mencionar que a doutrina afirma que, apesar de
o art.98, I, da CF e o art. 1° da lei n. 9.099/95 indicarem o Juizado Especial
Criminal como o competente para a execução das infrações de menor potencial
ofensivo, tem- se entendido que, não obstante tal disposição legal, a competência
para a execução das penas privativas de liberdade e restritivas de direitos, e
mesmo a pena de multa com elas cumuladas, deve ser da vara de execuções
criminais. Sendo assim, entende-se que, se a multa for aplicada isoladamente,
esta “será executada perante os juizados especiais criminais; se for aplicada pena
privativa de liberdade ou restritiva de liberdade ou restritiva de direitos”12,
entende-se que a competência será da vara das execuções criminais.
Em havendo conflito entre a vara criminal e o juizado
especial criminal, deve tal dissídio ser resolvido perante o Tribunal de Justiça do
Estado tendo em vista que aqueles estão a esses subordinados. Outrossim, em
havendo conflito entre a Turma Recursal e o Tribunal de justiça Estadual, o
julgamento do conflito será perante o STJ.
1.2 PREVISÃO CONSTITUCIONAL
A Constituição da República Federativa do Brasil foi
expressa ao dispor a possibilidade de criação de Juizados Especiais competente,
dentre outras hipóteses, para conciliação, julgamento e execução de infrações
penais de menor potencial ofensivo.
Dispõe a Constituição Federal
12 MIRABETE, Julio Fabbrini, Juizados Especiais Criminais,p.131.
16
Art. 98 - A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau; A previsão constitucional da criação dos Juizados Especiais
elabora a idéia acima mencionada, ao dispor sobre a necessidade da existência
de um juizado e um procedimento próprios para infrações de menor potencial
ofensivo.
Importante mencionar que a sua previsão constitucional nos
reforça a ideia de que todas as infrações praticadas devem ser apuradas,
devendo sofrer um procedimento próprio, sejam elas de maior ou menor
gravidade.
No que diz respeito a previsão constitucional dos juizados
especiais criminais, surgiu uma discussão da competência para a criação
legislativa dos juizados. Isso porque, segundo o art. 22, I, da CF/88, compete a
união legislar sobre a matéria penal e processual, enquanto, para as normas
procedimentais há competência concorrente com os Estados e Distrito Federal (
art. 24, XI, da CF).
Dispõe a Lei Suprema:
Art. 22 - Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; Art. 24 - Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: XI - procedimentos em matéria processual; Convém apontar que “o art. 98,I, da Constituição Federal
impôs a previa delimitação da abrangência do conceito de infração penais de
menor potencial ofensivo, cuidando-se, por óbvio, de matéria de natureza penal a
17
ser regrada pela União Federal. Sem a fixação do alcance da referida expressão,
não seria possível a instituição dos Juizados Especiais Criminais pelos Estados.”13
Segundo a referência constitucional, verifica-se que se, se
permitisse que cada Estado apontasse o âmbito de incidência dos juizados e o
que entende por infrações de menor potencial ofensivo, diante disso estaríamos
frente à uma infringência ao princípio constitucional da isonomia. Isso por que,
enquanto um estado pode considerar determinado fato como infração de menor
potencial ofensivo, oportunidade em que esse último individuo não teria a
oportunidade de ver-se beneficiado pela composição civil e ou transação penal.
Apesar da discussão acima apontada, alguns Estados –
inicialmente o Estado do Mato Grosso do sul, seguido pelos Estados da Paraíba e
do Mato Grosso – “promulgaram suas leis e instituíram seus juizados especiais
antes da normatização federal, ensejando o questionamento da
constitucionalidade de tais leis estaduais.” 14
Em razão disso, em decorrência do controle de
constitucionalidade, o Supremo Tribunal Federal as declarou inconstitucionais,
firmando entendimento no sentido de que cabe somente a União a instituição dos
juizados especiais.
1.3 CONCEITO DE INFRAÇÃO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO
1.3.1 Conceito de Infração de Menor potencial Ofensivo determinado pela
Lei n. 9.099/95.
Conceito de Infração de Menor potencial Ofensivo
determinado pela Lei n. 9.099/95 – que veio prever um novo procedimento
criminal para determinados crimes- limitou a sua aplicação a determinadas
infrações.
13 SOBRANE, Sérgio Turra. Transação Penal. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 44. 14 SOBRANE, Sérgio Turra. Transação Penal. p.44.
18
Segundo a lei, o procedimento preliminar bem como o
procedimento sumaríssimo só poderiam ser aplicados a infrações de menor
potencial ofensivo, para tanto as deferiu como:
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a a 1 (um) ano, executados os casos em que a lei preveja procedimento especial.
Destarte verifica que inicialmente somente as contravenções
e os crimes não tenham a pena em abstrato superior a um ano poderiam ser
beneficiadas pela nova forma de procedimento legal.
1.3.2 O advento da Lei n. 10.259/01
Não há falar em infração de menor potencial ofensivo sem
adentrarmos no breve estudo da Lei n.10.259/2001, promulgada para instituir os
Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal.
Ocorre que, ao dispor e definir o conceito da infração de
menor potencial ofensivo, o legislador inovou e previu uma nova pena máxima
para a aplicação dos juizados especiais criminais. Estatui que:
Art. 2° Consideram-se infrações de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta lei, os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a dois anos, ou multa.
A princípio, o surgimento desta Lei suscitou grandes dúvidas
aos doutrinadores, operadores de direito e à jurisprudência.
Apesar das relutâncias iniciais, pacificou-se o entendimento
doutrinário e jurisprudencial no sentido de ser aplicável o referido dispositivo aos
juizados especiais criminais no âmbito estadual. Entenderam, assim, que seria
incabível a aplicação de um procedimento mais gravoso àquele que, por exemplo,
desacatasse um policial civil estadual e um procedimento menos gravoso, com a
19
possibilidade de não ser instaurada a ação penal, aquele que desacatasse um
policial federal. Em sendo assim, com o fim de evitar infringência ao princípio
constitucional da isonomia, entendeu-se por ampliar o rol.
Enunciado n. 46 do fórum permanente de Juízes Coordenadores dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. A Lei n. 10.259/01 ampliou a competência dos Juizados Especiais Criminais dos Estados e DISTRITO Federal para o julgamento de crimes com pena máxima cominada até dois anos, com ou sem cumulação de multa, independente do procedimento ( Alteração aprovada no XII Encontro – Maceió Al.)
Atualmente não há mais que se discutir acerca da
aplicabilidade ou não da Lei n. 10.259/01.com o advento da Lei n.11.313/06, a
redação do art. 61 da Lei n. 9.099/95 foi alterada e encontra-se consoante o
entendimento já pacificado.
Veja-se;
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.
Entender-se-á que trata-se de leis especiais, de
competência do juizado especial criminal, na qual visa regulamentar situações
especificas.
1.3.3 Discussão decorrente do direito intertemporal
Como entendimento já consolidado, discutiu-se a
aplicabilidade do procedimento definido pela Lei n. 9.099/95 às infrações penais
cuja pena máxima não ultrapasse dois anos e que fossem anteriores à lei
n.10.259/01.
O entende-se que foi no sentido de que não deveria ser
alterada a competência das ações ajuizadas anteriormente à nova lei.
Enunciado 56 do Fórum Permanente de Juízes Coordenadores
dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais – Os juizados Especiais
20
Criminais não são competentes para conhecer, processar e julgar os efeitos criminais que versem sobre delitos com penas superiores a um ano ajuizados até a data em vigor da Lei n. 10.259/01.( Aprovado no XI Encontro – Brasília – D F.)
No entanto, há posicionmento no sentido de que , em se
tratando de norma com acentuado conteúdo material, entendeu-se que dever-se-
ia retroagir, a fim de alcançar os fatos ocorridos anteriormente à Lei n. 10.259/01.
Tal entendimento crime cuja pena máxima não ultrapasse dois anos, ainda que se
estivesse na fase recursal, dever-se-ia realizar a audiência preliminar e seguir os
ditames da Lei 9.099/95.
1.3.4 Discussões decorrentes do conceito de infração de menor potencial
ofensivo.
É bem certo que se o crime possui pena máxima prevista
em dois anos ou caso de contravenção penal, estar-se-á diante de uma infração
de menor potencial ofensivo.
Discutia-se se seria caso de infração de menor potencial
ofensivo quando se estava diante de um delito que prevê, no seu preceito
secundário, pena máxima não superior a dois anos e multa. Apesar das
discussões, pacificou o entendimento que, “apesar de poder ser punido com pena
acima de dois anos, esse mesmo crime pode ser punido tão-só com pena de
multa.”15 Aplicando somente aos crimes de menor potencial ofensivo.
Com o advento da Lei n. 11.313/06, a divergência foi
solucionada. Segundo esta, quando alterou o art. 61da Lei n.9.099/95, dispôs
expressamente que serão consideradas infrações de menor potencial ofensivo,
“as contravenções e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2
(dois) anos, cumulada ou não com multa.”16
15 NETO, Fernando da Costa Tourinho, Junior, Joel Dias Figueira, Juizados Especiais Federais
Civis e Criminais, p. 387. 16 NETO, Fernando da Costa Tourinho, Junior, Joel Dias Figueira, Juizados Especiais Federais
Civis e Criminais, comentários à Lei 10.259, de 10.07.2001, 2° ED, Ed Revista dos Tribunais LTDA, p. 401
21
Tendo em vista que, com o advento da lei 10.259/01 não
mais se fez a ressalva do art.61, in fine, da lei n. 9.099/95, entende-se que o
procedimento dos Juizados Especiais Criminais também se aplica aos crimes
submetidos ao rito especial (como ocorre com os crimes contra a honra) na Ação
Penal Privada.
Há julgados no sentido de que em se tratando de crime que
em que prevê procedimento especial, deve-se aplicá-lo, não devendo, neste caso,
observar o procedimento previsto para os crimes de menor potencial ofensivo.
Importante salutar que “a lei de Juizados Especiais
Federais, no entanto, não interfere na competência das causas em curso, ou seja,
ainda que seja possível a transação penal, o processo já iniciado deve prosseguir
no juízo comum e o recurso de apelação deve ser julgado no Tribunal de Justiça
respectivo.”17 Outros, por sua vez, inclinam-se no sentido de que, com o advento
da Lei n.10.259/01, deve-se aplicar, desde logo, os seus preceitos aos processos
em andamento, já que se trata de um direito do acusado.
INFO – STF – no caso concreto, o Tribunal de Alçada, em apelação interposta pelo Ministério público, havia declinado a competência para a Turma Recursal do Juizado Especial. Entendeu-se que, a despeito de se tratar de crime de menor potencial ofensivo, o recurso contra a sentença de mérito deveria ter sido julgado na mesma jurisdição em que esta fora prolatada, na espécie, pelo Tribunal de Alçada, considerando o disposto no art. 25 da lei n. 10.259/01 (“não serão remetidas aos Juizados Especiais as demandas ajuizadas até a data de sua instalação”). HC deferido, em parte, para anular o acórdão da Turma Recursal, por incompetência desta, e determinar, em face da EC 45/05, a remessa dos autos ao Tribunal de Justiça do Estado do Paraná para que seja julgada a apelação. Precedentes citados: HC 83855/MG, rel.Min. Eros Grau, 31.5.2005.(HC 85652) Importante questionamento doutrinário e jurisprudencial se
dá no sentido da possibilidade da configuração de crime de menor potencial
17 FULLER, Paulo Henrique Aranda; JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Diniz Junqueira.
Legislação Penal Especial. p.419
22
ofensivo quando “as circunstâncias agravantes e as atenuantes não interferem
nos limites máximo e mínimo da pena.”18
Há quem entenda que não devem ser considerados o
aumento da pena decorrente do crime continuado e do concurso formal. Os
adeptos dessa corrente entendem que “devem ser computadas, para a aferição
do limite máximo estabelecido na lei, as causa de aumento de pena.” 19 aplicando-
se isoladamente cada delito.
Outra corrente, majoritária, se posiciona no sentido de que o
aumento deve ser observado “o limite máximo a ser considerado é,
evidentemente, aquele previsto abstratamente na lei penal.”20 Entende-se, porém,
que se o concurso de crimes for afastado em sede de apelação, o julgamento
deve ser convertido em diligências, devendo os autos serem remetidos ao
Ministério Público a fim de que se manifeste acerca da possibilidade de proposta
de transação penal e demais benefícios cabíveis.
Há uma corrente que entende que o aumento da pena
decorrente do concurso formal e do crime continuado somente implica na
impossibilidade de ser proposta transação penal. Tal aumento não implica no
afastamento da competência dos Juizados Especiais Criminais, mas tão somente
na impossibilidade de oferecimento da transação
A transação não será aplicada aos crimes cometidos em
concurso formal e material, será somente aos que não ultrapassar dois anos de
pena.
18 NETO, Fernando da Costa Tourinho, Junior, Joel Dias Figueira, Juizados Especiais Federais
Civis e Criminais, p. 391 19 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizado Especial Criminais, p 32. 20 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizado Especial Criminais, p 32.
23
1.4 PRINCÍPIOS QUE NORTEIAM O PROCESSO NO JUIZADO ESPECIAL
CRIMINAL.
Segundo o artigo 2°. da lei n.9.099/95, os processos deverão
obedecer aos princípios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia
processual e celeridade.
Art. 2º O processo orientar-se-á pelos critério da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação.
Pelo princípio da oralidade entende-se que deve prevalecer
as manifestações verbais em face das escritas, devendo-se dar preferência à
manifestação direta das partes ao magistrado. Em razão desse princípio, há quem
entenda que nos juizados especiais criminais deve-se adotar o principio da
identidade física do juiz, ou da imputabilidade do juiz, “preconiza que o magistrado
deve seguir pessoalmente o procedimento desde o início até o seu término, com a
prolação da sentença.”21- princípio não adotado vigente – isso porque a
“identidade física do juiz apenas é afastada como regra pela adoção do
procedimento escrito, em que tudo deve ser transcrito na ata de julgamento, o que
não acontece nos Juizados Especiais. De outra forma, poderia haver prejuízo às
partes e aos interesses da justiça...22
Pelo principio da simplicidade, entende-se que no juizado
especial não há a necessidade de atentar-se para a burocracia existente nos
autos procedimentos, objetivando, dessa forma, a celeridade necessária para que
a lei seja aplicada. Sendo seu objetivo, “ simplificar a aplicação do direito abstrato
aos casos concretos, quer na quantidade, quer na qualidade dos meios
empregados para a solução da lide, sem burocracia.”23
21 MIRABETE, Julio Fabbrini, Juizados Especiais Criminais, p.23. 22 FULLER, Paulo Henrique Aranda; JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Diniz Junqueira.
Legislação Penal Especial. p. 410. 23 23 MIRABETE, Julio Fabbrini, Juizados Especiais Criminais, p.24.
24
No que diz respeito à informalidade, pretende-se dar maior
relevância ao ato praticado quando este atingiu sua finalidade, mesmo que “não
tenham alcançado a finalidade, ou que tenham causado prejuízo à parte, deverão
sofrer sanção da nulidade”24. Importante mencionar que, apesar de prevalecer o
princípio da informalidade nos juizados especiais, as garantias do devido
processo legal, da ampla defesa e do contraditório devem ser observados, haja
vista serem garantias previstas constitucionalmente.
O princípio da economia processual atende-se ao fato de
que deve preponderar a prática de um mínimo de ato, “a diminuição de fase e de
atos processuais leva à rapidez, economia de tempo, logo economia de custos.”25
Aplicando-se o mínimo de atividades processuais.
Por fim, pelo princípio da celeridade entende-se tratar da
necessidade de “solução rápida para os conflitos, uma vez que a incerteza
apenas aumenta a tensão social, e há muitos séculos se diz que a justiça tardia
não é justiça. Talvez a celeridade seja o ponto principal dos Juizados Especiais ,
e ate mesmo objetivo dos princípios até aqui referidos.”26
1.5 DA COMPETÊNCIA
Segundo dispõe o art. 63 da Lei n.9.099/95, a competência
do Juizado será determinada pelo lugar que foi praticado a infração.
Não há falar em lugar da infração sem apontar as teorias da
atividade, do resultado e da ubiqüidade.
24 BONFIM, Edilson Mougenout,Curso de Direito Processual Penal,p.563. 25 NETO, Fernando da Costa Tourinho, Junior, Joel Dias Figueira, Juizados Especiais Federais
Civis e Criminais, p. 64 26 O FULLER, Paulo Henrique Aranda; JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Diniz Junqueira.
Legislação Penal Especial. p.411.
25
Pela teoria da atividade, “lugar do crime é o da ação ou
omissão, sendo irrelevante o local da produção e do resultado”27.
Pela teoria do resultado, que trata-se como local do crime o
“ lugar onde foi praticada a infração penal”28.
Por fim, pela teoria da ubiqüidade, tem-se pelo “lugar em
que foram praticados um ou mais atos de execução ou em que ocorreu o
resultado total ou parcial”.29
Com razão, entende a doutrina que, apesar de o Código de
Processo Penal ter adotado a teoria do resultado, “percebe-se que este diploma
legal adotou a teoria da atividade”30.
Em sendo assim, entende-se “que em regra, referindo-se ao
lugar da consumação para a determinação territorial do foro.”31
Não podemos deixar nesta oportunidade, de atentarmos à
teoria minoritária que se posiciona no sentido de que deva se aplicar as regras do
Código de Processo Penal, adotando, assim a teoria do resultado.
1.6 ASPECTOS GERAIS DOS ATOS PROCESSUAIS
Antes de adentrar ao tema central deste subtítulo, deve-se
declinar que tem-se como atos processuais todo aquele decorrente de “uma ação
humana, que se traduz por declaração de vontade destinada a provocar uma
conseqüência jurídica”32. Tem-se, por sua vez, atos processuais “quando estes
27 CAPEZ, Fernando. Direito Penal – Parte Geral. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2004. v. 1. p.101. 28 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizado Especial Criminais, Comentários Jurisprudência Legislação,
2° Ed. São Paulo, Editora Atlas, 1997, p 40. 29 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizado Especial Criminais, Comentários Jurisprudência Legislação,
2° Ed. São Paulo, Editora Atlas, 1997, p 40. 30 BITENCOURT, Cezar Roberto, Juizados Especiais e Criminais e Alternativas à Pena de Prisão,
3° Ed. Porto Alegre, Editora Livraria do Advogado, 1997, p.61. 31 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizado Especial Criminais, Comentários Jurisprudência Legislação,
2° Ed. São Paulo, Editora Atlas, 1997, p 40. 32 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
26
atos jurídicos são praticados para criar, modificar ou extinguir direitos
processuais”33.
Segundo dispõe o art. 64 da Lei 9.099/95, impere o
princípio da publicidade dos atos processuais, importante mencionar que no
Código de Processo Penal o referido princípio é encontrado no art.792 do Código
de Processo Penal, descreve que “as audiências, sessões e os atos processuais
serão, em regra, públicos...”.outrossim, não se pode esquecer de que o próprio
texto constitucional faz menção à necessidade da publicidade, admitindo,
excepcionalmente, que esta seja restringida nos casos por elas apontados.
Em razão deste princípio, tem-se que qualquer pessoa pode
se dirigir ao Juizado Especial Criminal a fim de assistir às audiências, admitindo-
se a sua divulgação, por qualquer meio de comunicação, e ainda, a possibilidade
de consultar os autos e obter de cópias e certidão do processo. Salienta-se que a
Lei 9.099/95, “conforme dispuseram as normas de organização judiciária.”34
apesar de que deve prevalecer o seu sigilo nas hipóteses expressamente
previstas na Constituição Federal e no Código de Processo Penal.
TACRSP: “Não compromete o princípio constitucional da publicidade dos atos processuais o fato das portas da sala de audiência do Fórum estarem fechadas e não trancadas, para garantir o bom funcionamento do aparelho de ar condicionado, por que não impedindo o acesso ao recinto de qualquer pessoa interessada em acompanhar os trabalhos forenses.”(RT 706/334).
Em razão do princípio da celeridade, o art. 64 da Lei n.
9.099/95 estabelece a possibilidade de realização da audiência em razão do
horário noturno e em qualquer dia da semana, conforme disposição das normas
de organização judiciária. Insta salientar que a possibilidade da realização da
audiência nestes termos é facultativa, não havendo, portanto, obrigatoriedade de
previsão legal de sua determinação.
Legislação, 5 ed. São Paulo: Atlas, 2002.p.67.
33 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências, Legislação. p. 67
34 NETO, Fernando da Costa Tourinho, Junior, Joel Dias Figueira, Juizados Especiais Federais Civis e Criminais, p. 457.
27
Consoante dispõe o art. 65, os atos processuais serão
sempre considerados válidos mesmo que, inobservadas as formalidades legais
exigidas, “não o sendo, deverá ser declarado nulo ou renovado de conformidade” 35. No que diz respeito ao prejuízo eventualmente causado, entende-se que a
parte que possivelmente foi prejudicada deve invocá-lo e comprová-lo.
Entende-se ainda, que o art. 566 do Código Penal deve ser
aplicado aos juizado especiais criminais, sendo certo que, “ não será declarada a
nulidade do ato que não houver influído na apuração da verdade substancial ou
na decisão da causa.”36 Outrossim, não será possível a inovação de nulidade
quando a parte que pretende invocá-la, lhe deu causa.
STJ:”Nulidade processual. Prejuízo para a defesa. Arts.563 e 566 do Código de Processo Penal. Sem a prova da ocorrência do prejuízo para a acusação ou para a defesa, não se anula nenhum ato processual” (RSTJ 17/172).
TJSC: “Não pode a parte alegar nulidade a que deu causa”(RT 608/394)
Quando houver necessidade de que o ato processual se
realize em outra comarca, entende-se que, “pelos princípios da informalidade e da
celeridade, a sua prática poderá ser solicitada por qualquer meio hábil de
comunicação. Assim, nada impede que o juízo solicite ou requisite tais diligencias
Por meio de ofício, carta, telegrama e telex, fax, computador (e-mail) radiograma
ou telefone”37. Tal posicionamento nos leva a entender que não é imprescindível,
como no processo comum, que o ato seja realizado por meio de precatória.
No que diz respeito ao registro dos atos processuais, a Lei
n. 9.099/95 somente exige que sejam reduzidos a termo os atos considerados
essenciais ao processo.
Obrigatoriamente, só devem ser reduzidos a escrito: a composição civil dos danos (art. 74); a representação oral oferecida pelo ofendido (art.75); a proposta de transação penal
35 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.p.46 36 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.p.46. 37 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.p.47.
28
formulada pelo Ministério Público e sua aceitação pelo auto de infração e seu defensor (art.76, § 3°); a sentença de homologação ou de não-acolhimento da transação penal (art.81, § 3°); a denuncia ou queixa oral (art.78); os fatos relevantes ocorridos na audiência de instrução e julgamento (art.81, § 2°) a sentença de mérito (art.81, § 3°); os embargos de declaração quando opostos oralmente (art.83, § 1°.desnecessário portanto, em principio, que se lancem atas, termos, certidões sobre os demais atos, que não são imprescindíveis ao processo.38
A lei ainda admite que os atos realizados na audiência de
instrução e julgamento possam “ ser gravados em fita magnética ou equivalente,
podendo, portanto, ser em fita cassete, em CD ( compact disc ) ou até gravação
em vídeo”39. Em sendo assim, a parte poderá requerer a gravação dos atos
realizados em interrogatório, da inquirição das testemunhas e outros atos.
1.6.1 Da Citação
Entende-se ser um de comunicar a parte, nada mais é do
que o “ato pelo qual, a requerimento do autor e por ordem do juiz, chama-se a
pessoa indicada como réu ou interveniente para integrar a lide”40 sendo que, a
sua ausência, implica em inobservância ao princípio constitucional da ampla
defesa e, por conseguinte, em nulidade processual.
Consoante dispõe o art. 66 da Lei n. 9.099/95, a citação far-
se-á pessoalmente pelo escrivão (o que não é aceito no processo comum) no
próprio Juizado ou por mandado. A citação pessoal é feita no Juizado quando,
após a realização da Audiência Preliminar – não tendo o autor aceitado ou
realizadas a composição civil ou a transação – a acusação oferta a inicial
38 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.p.72 39 NETO, Fernando da Costa Tourinho, Junior, Joel Dias Figueira, Juizados Especiais Federais
Civis e Criminais, comentários à Lei 10.259, de 10.07.2001, 2° ED, Ed Revista dos Tribunais LTDA, p. 491.
40 CUNHA, Sérgio Sérvulo da Op. Cit. P.44.
29
oralmente. Com a peça inicial, “estando o acusado presente, será ele citado no
próprio juízo.”41
A citação será feita por mandado quando o “autor do fato
não comparecer na Audiência Preliminar na qual se comprometeu a comparecer,
ou a que foi designada pela impossibilidade de realização imediata,”42 quando do
seu encaminhamento ao juizado.
Desta feita, observando o próprio art.66 da Lei em tela,
verifica-se que o legislador apenas admitiu a possibilidade da citação pessoal,
“seja ele citado na sede do foro, pelo escrivão ou pelo oficial de justiça que seja
portador do mandado.”43
No que diz respeito a citação por precatória, entende-se
que, apesar de não haver previsão legal expressa, esta pode ser realizada com
aplicação analógica do art. 353 do Código de Processo Penal, podendo esta ser
formalizada por via telegráfica ou por outro meio.
Aplicando-se ainda os preceitos do Código de Processo
Penal, entende-se que a citação militar “deve ser feita por intermédio do chefe do
respectivo serviço, sendo funcionário público, será notificado também o chefe de
repartição,”44 e, por fim, o réu preso será citado pessoalmente.
Importante ressaltar que, não sendo autor do fato
encontrado para ser citado e inexistam elementos que possam indicar a sua
localização, “encaminhará os autos ao juízo comum”45 para a adoção do
procedimento cabível. Diante disso, verifica-se ser incabível a citação por edital e
por hora certa no Juizado Especial Criminal.
41 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.p.49. 42 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.p.49. 43 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.p.49. 44 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.p.50 45 NETO, Fernando da Costa Tourinho, JUNIOR, Joel Dias Figueira, Juizados Especiais
Federais Civis e Criminais,
30
TACRSP: ‘Juizado Especial Criminal – Citação editalícia – impossibilidade – quebra de inconformismo, celeridade e economia processual – Remessa ao Juízo comum para Cumprimento do rito adequado – Inteligência do art.66. da lei 9.099/95 – Recurso não provido”(RJE 12/302) Os autos serão remetidos ao juízo comum, ainda, quando o
réu esquivar-se de receber a citação. Entende-se que, uma vez remetidos os
autos para o juízo comum, não será possível a devolução da competência ao
juizado.
STJ: “Processual Penal. Juizado Especial Criminal. Citação Pessoal. Impossibilidade Esquiva da ré. Remessa dos autos ao juízo comum. Art. 66, parágrafo único, da Lei 9.099/95. Constrangimento ilegal. Inexistência. Se a ré esquivar-se em receber a citação pessoal, não resta outra alternativa ao magistrado senão remeter o feito ao juízo comum, nos exatos termos do parágrafo único, do art. 66, do CPP. Contra esta decisão, se cabe recurso, certamente não terá efeito suspensivo, razão pela qual inexiste constrangimento ilegal na efetiva remessa, de pronto, dos autos que , no juízo destinatário, deve seguir seu rito normal. Ordem denegada” ( HC 9.413- PR – 99/0041568-0)
No tocante a citação por carta rogatória, entende-se ser
inadmissível em razão dos princípios envoltos aos juizados especiais. Em
havendo a necessidade da citação nestas condições, os autos deverão ser
remetidos ao juízo comum, para o processamento e julgamento do feito.
STJ: Juizado Especiais Criminais – Remessa do processo para Justiça Comum – Admissibilidade – Réu que não comparece a audiência preliminar, eis que ausente do território nacional – Inviabilidade da utilização de meios de comunicação afeto a justiça Comum, com carta rogatória, pois não se amoldam aos princípios da economia e celeridade processuais, ínsitos do procedimento sumaríssimo – inteligência do art. 66, par.ún., da Lei 9.099/95. (...) A conciliação e a transação penal são institutos peculiares do Juizado Especial Criminal, sendo, portanto inviável a utilização de meios de comunicação afetos a Justiça Comum ( carta rogatória), a fim de intimar o paciente para a audiência preliminar, pois essa providencia não se amolda aos princípios da economia e celeridade processuais, ínsitos ao procedimento sumaríssimo. Não comparecendo à audiência preliminar eis que ausente do território nacional, inexiste constrangimento na remessa do processo a Justiça Comum, nos termos do art.66, para.ún., da Lei 9.099/95”(RT 791/555)
31
Por fim, constante dispõe o art. 68 da Lei em estudo, o
mandado de citação do denunciado deverá constar a “necessidade de seu
comparecimento acompanhado de advogado, com a advertência de que, na sua
falta, ser-lhe-á designado defensor público”46.
1.6.2 Da intimação
No que diz respeito a intimação ou notificação, estabelece o
art. 67 da lei 9.099/95, em principio, deverão ser realizadas por correspondência.
A intimação ou notificação por correspondência deve ser entregue pessoalmente
a quem for destinada- sejam as partes, testemunhas, procuradores e todas as
demais pessoas que forem direcionadas-, cabendo ao funcionário dos correios
colher a assinatura do destinatário atestando o seu recebimento.
Quando se pretender notificar ou intimar a pessoa jurídica
ou firma individual, entende-se que “a intimação com a entrega da
correspondência ao encarregado ou a recepção, que será obrigatoriamente
identificado e assinará o aviso de recebimento.”47
Em não sendo possível a intimação ou notificação por
correspondência com aviso de recebimento, ou ainda, quando a autoridade
judicial assim pretender, poderão estes ser realizadas por oficial de justiça. Insta
salientar que, neste caso, a notificação ou intimação independerá da expedição
de um mandado neste sentido. Contudo, entende-se que “recebendo o oficial de
justiça a ordem diretamente do magistrado ou escrivão ou chefe da secretaria.” 48Sendo que a ordem esteja por escrito para o oficial por nela certificar o ato.
Importante mencionar que o art.67, caput, in fine, da Lei n.
9.099/95 ainda dispõe que a intimação e a notificação poderão ser realizadas por
qualquer meio idôneo de comunicação. Tal previsão legal esta consoante os
46 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.p.48. 47 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.p.49. 48 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.p.55.
32
princípios que regem os Juizados especiais criminais, como os da informalidade e
celeridade.
Em tendo sido os atos praticados na audiência, dispensam-
se, por expressa previsão legal, que sejam as partes intimadas do ato. Trata-se,
nesses casos, de intimação automática.
Por fim, do ato intimação ou notificação do ato, constar-se-á
a necessidade de seu comparecimento acompanhado de advogado, com a
advertência de que, na sua falta, ser-lhe-á designado defensor publico.
1.7 ASPECTOS GERAIS DAS PECULIARIDADES DA LEI N. 9.099/95
1.7.1 Da fase preliminar
Nos termos da Lei n. 9.099/95, a fase preliminar vem
disposta no Capítulo III, seção II.
A fase preliminar indica o procedimento a ser adotado
anteriormente a instauração penal. Nesta fase, encontramos as grandes
peculiaridades da Lei em discussão, razão pela qual resolve-se desenvolve-las
em duas etapas: policial e judicial.
Em tendo conhecimento dos fatos, a autoridade policial
devera lavrar um termo circunstanciado se da em razão da pouca complexidade
dos delitos que devem seguir os ditames da Lei 9.0099/95.
O inquérito policial, peça informativa de cunho administrativo, dirigida ao acusador para fornecer elementos que dêem justa causa a denuncia/queixa, resulta em gastos de tempo e recurso por parte do Estado. Em causa de menor potencial ofensivo, tal esforço parecia desproporcional, pelo que o procedimento foi transformado em simples e direto relato de diligencias, como a oitiva dos envolvidos, restringindo-se na maioria das vezes a dados disponíveis na repartição policial.”49
O termo circunstanciado devera conter a narrativa do crime,
do inquérito policial, significando dizer que o indiciamento oitiva dos envolvidos ,
49 O FULLER, Paulo Henrique Aranda; JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Diniz Junqueira.
Legislação Penal Especial. p. 426
33
diligencias indispensáveis e, se necessárias, as requisições de perícias. Discute-
se a necessidade de, uma vez lavrado o termo circunstanciado, ser o autor dos
fatos indiciado.
No tocante a realização de diligência, prevalece o
entendimento de que estas somente poderão ser requeridas “imprescindíveis à
instauração da ação penal”50. Contudo, há quem entenda que o requerimento de
diligência no momento da propositura da ação ensejada em tumulto e infringe os
princípios da celeridade processual, economia e simplicidade. Segundo esses, as
diligencias cabíveis devem ser realizadas antes mesmo da realização da
audiência Preliminar, a requerimento da autoridade policial ou requisição do
Ministério Público.
Importante questão relacionada ao art. 69 em estudo, é o
que diz respeito a possibilidade da prisão em flagrante do autor dos fatos.
Segundo o parágrafo único do referido artigo, “não será formalizada a prisão em
flagrante delito, nem se exigirá fiança,”51 daquele que se comprometeu a
comparecer em juízo, sendo certo que, se o agente não se comprometer deverá
ser preso em flagrante.
A lei ainda dispõe sobre a necessidade de, em havendo
violência doméstica, seja determinada a saída do cônjuge do lar do casal.
Em sendo encaminhados (autor do fato e a vítima) ao
Juizado Especial e, não havendo a possibilidade de realização da audiência
preliminar naquele instante, “será designada data próxima”.52 para que essa seja
realizada. É bem certo que tal posicionamento tem previsão legal, contudo não
vem tendo aplicação prática, isso por que o Juizado Especial Criminal não tem
suporte para tanto. Prevê o art. 70, ainda, que, em sendo designada nova data
para realização da audiência preliminar, sairão as partes intimadas.
50 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.p.64 51 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.p.64 52 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.p.68.
34
Tendo em vista que a audiência preliminar é a oportunidade
para haja a realização da “composição dos danos civil e a transação” 53sendo este
o ato para o oferecimento da proposta de transação penal, se cabível, e ainda, a
possibilidade de ser ofertada a inicial (caso o autor dos fatos não faça jus ao
beneficio da transação ou, ainda que faça, esse não a aceita), exige-se a
presença dos envolvidos.
Uma vez instalada, exige-se que a autoridade judicial
esclareça os efeitos de eventual composição civil ou transação penal.
Entende-se que a ausência do autor dos fatos impede a
realização da composição civil e da transação, já que esses atos dependem
diretamente do seu consentimento. Em sendo o caso de “ação penal pública
condicionada”54, deve-se apurar se a vítima tem interesse de representar em face
do autor dos fatos. Em havendo ação penal privada, o querelante poderá ofertar a
queixa crime oralmente, por seu defensor.
Confederação Nacional do Ministério público; Conclusão’ 10. É indispensável a presença do Promotor de Justiça à audiência prevista pelo art. 72 da Lei n.9.099/95.
Na hipótese do autor dos fatos que, apesar de cientificado,
não comparece a audiência, entende-se que “não provocará o adiamento desta.” 55 Neste caso, apenas não será possível a realização de eventual composição
civil e da proposta de transação penal. Porém, se devidamente justificada a
ausência do autor dos fatos, dever-se-á designar nova data para a realização da
audiência.
A ausência do autor do fato, se foi devidamente certificado da data da audiência, não provocará o adiamento desta. Neste caso, ficam prejudicadas as tentativas de composição e de transação, podendo o Ministério Público oferecer a denúncia nos casos da
l 54 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.p.69. 55 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.p.68.
35
ação penal pública incondicionada, ou condicionada, quando for oferecida a representação pela vítima ou seu representante legal56
Quando a vítima, injustificadamente, não comparecer a
audiência, “devidamente cientificado da data”57 apesar de cientificada para tanto,
e, em sendo fato que se apura mediante ação penal pública incondicionada, nada
impedirá que seja feita a proposta de transação penal ao autor dos fatos. Sendo
assim, endente-se que na hipótese de ação penal pública incondicionada e
estando a vítima ausente, apenas resta impossibilitada a composição civil dos
danos.
Porém, se a ação for pública condicionada ou privada, a
doutrina diverge sob as conseqüências da ausência da vítima. Há um
posicionamento no sentido de que, “devem ficar arquivados na Secretaria do
Juizado, aguardando-se as providências do ofendido até o fim do prazo
decadencial,”58 para a oferta da representação.
A sua ausência implica em renúncia tácita ao direito de
representar, devendo-se, assim, ser decretada a extinção da punibilidade do
agente.
No tocante a esse posicionamento, do doutrinador e rebate
no seguinte comentário:
A ausência da vitima, ainda que injustificada, não pode ser considerada como renuncia tácita ao direito de representação, carregando apenas o ônus que, não cumprido, leva à perda da oportunidade de compor-se logo na audiência de conciliação. Nesse caso, o termo circunstanciado e os elementos que o acompanham devem ficar arquivados na Secretaria do Juizado, aguardando-se as providencias do ofendido até o fim do prazo de decadência.59
56 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários Jurisprudências,
Legislação p. 107 57 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação p. 69 58 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação p.69 59 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação p.107
36
Por fim, há quem entenda que a vitima deve ser intimada
pessoalmente para que ofereça representação, sendo certo que, se novamente
deixar de comparecer à audiência, reconhecer-se-á a renúncia tácita ao direito de
representar.
No tocante a ausência do representante legal, do
responsável civil e dos advogados – ainda que constituídos - , entende-se que tal
circunstancia não é ensejadora do aditamento da audiência preliminar. No caso
da ausência do advogado constituído – intimado ou não – poderá o juiz nomear
um advogado “ad hoc para assisti-lo quanto a proposta de transação.”60
Como é salientado, a audiência preliminar consiste em dois
atos: na composição civil e na proposta de transação penal (se cabível). A
composição civil e a possibilidade em que se admite a participação da vitima no
processo penal.
A composição civil dos danos acarreta na extinção da
punibilidade se o crime a ser apurado se processa mediante ação penal privada.
Tal é o entendimento em razão do parágrafo único do art. 74 da lei.9.099/95, o
qual dispõe;
Art. 74.(...)
Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou representação.
TACRSP: “ homologação de acordo no Juízo Cível. Renuncia tácita ao direito de representação por parte do ofendido. Ocorrência: a homologação de acordo em Juízo Cível, entre as partes do ofendido, não havendo lugar para qualquer discussão acerca da vigência, ou não, de Lei n. 9.099/95, pois a intenção do legislador no art.74 da mencionada Lei foi instituir a composição de danos como causa de extinção da punibilidade dos infratores, nas hipóteses de Ação Penal Privada ou de ação penal Pública Condicionada a representação, como caráter nitidamente despenalizador, e não conceder um instrumento de coerção colocado a disposição da vítima, que, ao seu puro arbítrio, pode ou não “isentar” o autor dos fatos da persecução criminal” (RJDTACRIM 42/163)
60 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação p.70.
37
Entende que a composição civil dos danos pode abarcar os
danos materiais sofridos pela vítima, ou apenas os danos materiais, “a
composição dos danos como medida de “despenalização” tem caráter penal,
sendo causa de extinção da punibilidade”61, e somente será decretada se a
composição recair sobre os danos materiais.
Assim, não é imprescindível que os envolvidos transijam sobre os danos materiais e morais. Exige-se apenas o ajuste sobre os danos materiais para a delegação da causa extintiva da punibilidade, que não precisa abranger a integralidade dos danos verificados, visto que o ofendido pode contentar-se com parte do prejuízo sofrido e dar quitação integral.62
Interessante apresentar, nesta oportunidade, questão
controvertida na doutrina, vez que a lei não apresentou solução quando, no caso
concreto, houver mais de um autor ou mais de uma vítima.
Uma vez realizado o acordo com um dos autores do fato, a
todos aproveitará. Segundo ele, “a composição dos danos se reveste de
unicidade em relação aos defensores, na medida em que a pretensão de direito
patrimonial restou satisfeita”.63
“se um dos autores do fato celebra acordo Civil com a vítima, e outro não, é evidente que a renuncia e a extinção da punibilidade só operam com relação ao transator. A queixa ou representação poderá ser oferecida com relação a quem não transacionou64
Os adeptos desse posicionamento ainda afirmam que, a
renúncia poderá alcançar todos os autores do fato se a composição dos danos for
integral.
Entende-se, assim, que se deve aplicar a regra prevista no
art. 49 do Código de processo Penal a qual dispõe que “a renúncia ao exercício
61 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.p.72 62 SOBRANE, Sérgio Turra. Transação Penal.p.52-53. 63 GIACOMOLLI, Nereu José. Juizados Especiais Criminai. Porto Alegre: Livr. Do Advogado,
1997.p.85. 64 GRINOUVER, Ada Pellegrini ET.al. Juizados Especiais Criminais: comentários à Lei 9.099 de
26-09-1995. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.p.124.
38
de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá.” Tal é o
entendimento em razão de verificar-se que, tendo a vítima transigido com um dos
autores do fato, a sua pretensão se satisfez neste instante. Assim, extingue-se a
punibilidade de todos os autores do fato, “independentemente de ter havido
reparação integral dos danos materiais suportados pela vítima” 65.
Importante mencionar que esse posicionamento não deve
ser aplicado quando houver pluralidade de vítimas. Nesse caso, em tendo
realizado um acordo com o autor dos fatos, “não implica renuncia” 66 as vítimas
que não pretendam transacionar.
Entende-se que a composição civil dos danos, mesmo que
em crimes que se processam mediante “ação privada pública condicionada à
representação”67, é válida ainda que realizada extrajudicialmente, mas somente
terá eficácia se judicialmente homologada.
Insta salientar que, consoante dispõe o art. 74 da Lei em
estudo, uma vez realizada a composição civil dos danos, será esta reduzida a
termo e homologada judicialmente. A sentença proferida é irrecorrível e terá
eficácia de titulo executivo judicial (para fins de execução no Juízo Cível).
Contudo, se a composição civil não for obtida, dar-se-á ao
ofendido a possibilidade de manifestar o desejo de representar contra o ofendido,
a qual será feita oralmente. Neste caso, “terá ele o direito de exercer a
representação enquanto não se esgotar o prazo decadencial”68 de seis meses
contado do dia em que teve conhecimento da autoria, ainda que esse prazo
decaia em data posterior à audiência.
65 SOBRANE, Sérgio Turra. Transação Penal. p.´54. 66 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação p.70. 67 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.p.76. 68 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação p.78.
39
TACRSP:“Em sede de Juizado Especial Criminal, frustrada a conciliação para composição dos danos civis, tem o ofendido a oportunidade de formular a representação, nos termos do art.75 da Lei n. 9.099/95, mas isso não significa que não poderá fazê-lo posteriormente, enquanto não superado o prazo decadencial de seis meses, ou mesmo antes, perante a Autoridade Policial, até porque o ato não depende de forma especifica e rígida, bastando a expressa manifestação de vontade, tomada por termo ou juntada por petição da própria vítima ou de quem a represente legalmente, sendo certo que o exercício do direito de representação, que é a única condição de procedibilidade, não pode ficar na dependência da realização de determinado ato processual, sujeito a demora decorrente do acumulo de Processos e eventuais manobras procrastinatórias praticadas pelo autor do fato” (RJTACRIM 46/358)
No tocante a representação – exigida para os crimes que se
processam mediante “ação penal publica condicionada à representação do
ofendido”69, não podemos deixar de comentar que a Lei n. 9.099/95 trouxe
grandes inovações, a exigindo nos crimes de lesões corporais leves ou culposas
(independentemente da natureza da lesão).
Quanto a transação penal, o tema será melhor exposto em
capítulo próprio.
Somente para fins de esclarecimento, a transação penal,
como já observamos, é “aquela realizada entre o acusado e o réu que objetiva a
extensão da condenação a ser imposta por sentença”.70 Será ela realizada
quando o agente oferecer a representação em face do autor dos fatos, ou ainda,
quando se tratar de ação penal pública incondicionada.
A possibilidade de sua propositura depende da viabilidade
de uma eventual ação penal, sendo que em caso de arquivamento, a transação
penal não deverá ser proposta por força do art. 76, caput, da Lei 9.099/95.
Diferentemente do que ocorre com a composição civil dos
danos causados pelo autor em deferimento da prática de um ilícito penal é o
69 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.p.76. 70 GUIMARÂES, Deocleciano Torrieri, Dicionário Compacto Jurídico, p.204.
40
‘acordo’ realizado entre o autor dos fatos, desde que preenchidos determinados
requisitos legais – e o representante do Ministério Público.
Sendo assim, para melhor explicita o tema, passaremos a
apresentá-lo em capitulo próprio.
1.7.2 Do Procedimento Sumaríssimo
Uma vez realizada Audiência Preliminar e, não ocorrendo a
transação penal – seja porque o autor dos fatos não se amolda aos requisitos do
art. 76, seja porque este não aceitou – o Ministério Público poderá pedir o
arquivamento dos autos, a remessa dos autos à autoridade policial para a
realização de diligências, encaminhar o termo circunstanciado ao juízo comum –
tendo em vista a complexidade dos fatos – ou oferecer denúncia.
A denúncia que dá ensejo à ação penal que segue o rito
sumaríssimo, possui certas peculiaridades consoante o próprio espírito da lei que
instituiu.
A denúncia é feita oralmente na própria audiência preliminar
após a recusa ou impossibilidade do autor dos fatos aceitar a proposta de
transação. A inicial deverá conter:
descrição sucinta do tipo penal, como tempo, lugar, prática e consumação do delito; qualificação do autor; classificação do crime; rol de testemunhas, ate no máximo 5, por analogia ao art. 539 do CPP, aplicado subsidiariamente por força do disposto no art. 92 da lei n. 9.099/95 (no mesmo sentido: Marino Pazzaglini Filho et al., Juizado Especial Criminal, Atlas, 1995, p.65); comprovação da materialidade (...)71
Uma vez ofertada a denuncia nas conformidades acima
dispostas, essa deverá ser reduzida a termo e, na própria audiência, o
denunciado receberá cópia da inicial e, desde logo, será citado e cientificado do
dia e da hora da realização da “audiência de instrução e julgamento”72. Importante
71 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal- legislação penal especial. p. 614. 72 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
41
relembrar que a citação será sempre pessoal, não podendo, dessa forma, ser
realizada por edital. Se, porém, o denunciado não tiver comparecido à audiência,
prevê a lei que esse deverá ser citado pessoalmente nas formas do art. 66 e 68.
Uma vez citado, poderá o denunciado apresentar o rol de
testemunhas à secretaria dentro do prazo de cinco dias anteriores à realização da
audiência de instrução e julgamento, para que essas sejam notificadas da
audiência. Nada impede, que voluntariamente compareçam durante sua
realização,73 sem a necessidade de notificá-las do ato.
A audiência cumpre os princípios da oralidade e da
concentração. Na qual “o juiz dará a palavra ao defensor” 74 para que esta venha
responder à acusação.
Se a autoridade judicial competente entender pelo
recebimento da inicial, o processo prosseguirá, não havendo a possibilidade de
recurso da decisão de acolhimento da denúncia ou queixa. Contudo, caberá o
recurso de apelação quando houver a rejeição da inicial.
Com o recebimento da denúncia, e ausência do acusado,
“passarão juiz a ouvir a vítima” 75 proceder-se-á, primeiramente, à oitiva da vítima.
Ato seguinte “passará o juiz a ouvir as testemunhas arroladas pela acusação” 76 e
de defesa, respectivamente.
Momento posterior serão realizados os debates orais e, por
fim, o magistrado proferirá a sentença. No tocante à sentença, esta não precisara
Legislação p.78.
73 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências, Legislação p.101.
74 NETO, Fernando da Costa Tourinho, Junior, Joel Dias Figueira, Juizados Especiais Federais Civis e Criminais,p.596.
75 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências, Legislação p. 111.
76 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências, Legislação p.111.
42
conter relatório, exigindo-se, por sua vez, que seja apenas elaborada a
motivação, sob pena de nulidade.
1.7.3 Do Sistema Recursal
Outra peculiaridade da lei ora estudada, é no tocante ao
sistema recursal. Segundo o caput, do art. 82, os recursos decorrentes das
decisões dos Juizados serão remetidos às turmas recursais.
As turmas recursais são compostas por três juízes togados
no primeiro grau de jurisdição. Sendo estes recursos julgados por juízes da
primeira instância, é pacifico o entendimento de que a turma recursal não se trata
de um tribunal de segundo grau.
No tocante às espécies recursais, entende-se que, apesar
da Lei 9.099/95 apresentar somente a possibilidade dos recursos de apelação e
de embargos de declaração, os recursos apontados pelo Código de Processo
Penal devem ser adotados no procedimento sumaríssimo- por expressa
determinação legal da aplicação “subsidiariamente à da lei 9.099/95 as
disposições do Código de Processo Penal”77 em seu art.92– desde que
condizentes com os ditames da’ lei dos Juizados’.
Peculiaridades merecem ser apresentadas no tocante aos
recursos extraordinário e especial.
Em razão deste disposto no art. 102, II da CF, entende-se
ser possível a interposição de recurso extraordinário, vez que a Constituição
Federal ao dispor sobre a possibilidade de cabimento de recurso, apenas exigiu
que o recurso fosse interposto contra qualquer decisão de última instância.
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: (...)
77 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação p.121.
43
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância (...)
No tocante ao recurso especial, tendo em vista que o artigo
105, III, só permite que esse “seja órgão competente para apreciá-lo”78 as
decisões de tribunais, entende-se que o recurso especial não é aplicável ao
Juizado Especial criminal porque, como já dissemos acima, a turma recursal não
é um tribunal. Com o fim de dirimir qualquer dúvida, a Súmula 203 do STJ se
posicionou neste sentido.
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: (...)
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios,(...)
Súmula 203 do STJ. Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo grau dos Juizados Especiais.
Passar-se-a a analisar, nesta oportunidade, algumas
questões concernentes às ações de mandado de segurança e habeas corpus.
Segundo entendimento sumulado, o STF será competente
para julgamento de habeas corpus impetrado contra decisão de turma recursal.
Súmula 690 do STF. Compete ao Supremo Tribunal Federal o julgamento da habeas corpus contra decisão de turma recursal de Juizados Especiais Criminais.
Contudo, tal entendimento não ser ao mesmo se o habeas
corpus, ou ainda o mandado de segurança, for impetrado contra decisão do
próprio Juizado Especial.
78 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação p.123.
44
1.7.4 Da execução
Sendo o condenado (em sentença definitiva) for aplicada,
isoladamente, pena de multa, quando esta for aplicada em sede de transação
penal, caberá ao autor do fato cumpri-la no próprio Juizado Especial Criminal.
Com o trânsito em julgado da decisão homologatória da
transação penal ou ainda, da sentença condenatória, o autor dos fatos, será
notificado para que, no prazo de dez dias venha recolher a multa contra si
aplicada – aplicação subsidiária do art. 50, caput, do CP.
Uma vez efetuado o pagamento da multa – decorrente da
transação penal-, caberá ao juiz declarar a extinção da punibilidade do agente.
Contudo, se o agente recolheu a multa “não deve ficar constando dos registros
criminais”79 e , caberá ao juiz determinar que esta não conste na certidão de
antecedentes criminais do condenado.
Uma vez não “efetuado o pagamento de multa”,80 será
executada no próprio Juizado, por iniciativa do ministério Público, devendo, por
sua vez, aplicar o procedimento da Lei de Execução Fiscal – Enunciado n. 15 do
Fonaje: o juizado Especial Criminal é competente para execução da pena e multa.
Salienta-se que não mais se admite que a pena de multa,
quando não recolhida, seja convertida em pena privativa de liberdade ou restritiva
de direitos.
Quando o agente for condenado à pena de multa cumulada
com uma restritiva de direito ou uma privativa de liberdade, diverge a doutrina no
que diz respeito à competência para ser “executadas perante o juízo da
condenação”81 quando houver descumprimento da pena imposta.
79 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação p.130. 80 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação p.131. 81 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
45
O art. 68 aparentemente conflita com o art. 60 desta Lei, uma vez que dá a entender que a execução das penas não ocorre no Juizado, ao contrario daquele. Prevalece a norma do art.60, abonado pelo art. 1° da execução das penas é promovida no próprio Juizado especial criminal, desde que haja lei de organização judiciária regulando a matéria. Não havendo, a execução das penas privativas de liberdade e restritivas de direitos cabe à Vara de Execução Penal, da justiça Comum, nos termos do art. 65 da LEP.82
Em se tratando de pena restritivas de direito e privativas de
liberdade “devem ser executadas perante o juiz da condenação”83 podendo ser de
competência do juizado especial criminal.
1.7.5 Da Suspensão Condicional do Processo
A suspensão condicional do processo, apesar de ser um
instituto criado pela Lei n.9.099/95, é aplicável a todo processo penal, não se
restringindo apenas aos crimes de menor potencial ofensivo.
A suspensão condicional do processo consiste na
possibilidade de ver-se suspenso o processo penal por um período de dois a
quatro anos, devendo o acusado, durante esse período, cumprir certas condições
impostas. Segundo o art.89, a suspensão condicional do processo deve ser
requerida pelo Ministério Público quando do oferecimento da denúncia, sendo
certo que, uma vez aplicado o ‘sursis’ processual, a prescrição será suspensa.
A suspensão condicional do processo, por ser beneficio ao
acusado, prevê que este atenda a certos requisitos. Primeiramente, exige-se que
o crime pelo qual o agente fora denunciado, preveja a pena mínima em abstrato,
e exige-se ainda, “que não seja o autor do fato punido ou mesmo submetido ao
Legislação p.132.
82 JESUS, Damásio Evangelista de. Lei dos Juizados Especiais Criminais anotada. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2004.p.106.
83 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências, Legislação p.132.
46
processo”84 ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais
requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena.
Importante ressaltar que eventuais causas de aumento ou
de diminuição de pena deverão ser consideradas quando da análise da
possibilidade da proposta da suspensão condicional do processo.
O mesmo não ocorre quando se diz respeito à presença de
alguma circunstancia agravante ou atenuante, sendo que, estando uma dessas
presente, em nada influirá na pena em abstrato.
A suspensão condicional do processo poderá ser revogada
se, durante o processo, o acusado vier a ser processado por outro crime ou
contravenção; se injustificadamente, não reparar o dano ou se descumprir
qualquer das condições impostas.
Uma vez cumpridas as condições impostas sem a ocorrência
da revogação do beneficio, declarar-se-á extinta a punibilidade do agente.
Entretanto não transparece como dever do Ministério Público a apresentação da proposta de suspensão do processo, mas como uma faculdade que lhe é atribuída diante do caso, concreto, mesmo porque, no momento da apreciação do cabimento ou não, o promotor de justiça deve considerar todos os requisitos exigidos, inclusive os de ordem subjetiva, que poderão desaconselhar a aplicação da medida alternativa.85
A proposta é um ato discricionário da parte, a quem incumbe avaliar, por critérios de conveniência e oportunidade, e inspirado por motivos de política criminal, se , estrategicamente, a sua formulação satisfaz o enterre social. A imposição de oficio pelo juiz implicaria ofensa ao principio da inércia jurisdicional, colocando-o na posição de parte. Não se trata, portanto, de direito subjetivo do réu, mas de ato discricionário do Parquet.86
A solução apontada pela doutrina, nesses casos, é a
aplicação analógica do art. 28 do CPP. Sendo, assim, os autos deverão ser 84 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação p.132. 85 SOBRANE, Sérgio Turra. Transação Penal. p. 65. 86 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal- legislação penal especial. p. 618
47
remetidos ao Procurador Geral de justiça para que este, oferte “a proposta de
suspensão”87 ou designe outro Promotor de Justiça para propô-la, podendo,
ainda, se assim entender, posicionar-se contrariamente ao benefício.
Na hipótese de o promotor de justiça recusar-se a fazer a proposta, o juiz, verificando presentes os requiesitos objetivos para a suspensao do processo, devera aplicar, por analogia, o art.28 do CPP, encaminhando os autos ao Procurador Geral de Justiça a fim de que este se pronuncie sobre o oferecimento ou não da proposta.88
Em hipótese de “não homologada a proposta pelo juiz, por
entendê-la descabida”89 caberá por analogia, o art. 28 do Código de Processo
Penal, cabendo a analise do art. 28 poderá o Procurador Gral ofertar a proposta
da transação penal, ou indicar outro promotor que o faça, como veremos em
capítulo seguinte.
87 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação p.156. 88 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal- legislação penal especial. p. 618. 89 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação p.91.
CAPÍTULO 2
DA TRANSAÇÃO PENAL
2.1 ASPECTOS GERAIS
Entende-se como já apontado em capitulo anterior que a
transação penal é uma das possibilidades conciliatórias existentes no
ordenamento jurídico penal brasileiro, que tem por fim evitar a persecução penal.
Tal entendimento em razão da pouca gravidade dos delitos acobertados pela Lei
n. 9.099/95.
Apesar de que no art. 98,I da Constituição Federal admitir
formas consensuais de resolução decorrentes da prática de delitos de menor
potencial ofensivo, deixou, bem como a Lei n. 9.099/95, de conceituar a transação
penal.
Em razão disso, ante à inexistência de dispositivo legal
interpretativo acerca do instituto em tela, deve-se observar o conceito de
transação contemplado pela Lei civil. Art. 1025. É licito aos interessados
prevenirem, ou terminarem o litígio mediante concessões mútuas.
A adoção de conceito de transação previsto na legislação
civil deve ser observado na transação penal no que diz a respeito “diretamente da
adoção do princípio da discricionalidade controlada para as infrações de menor
potencial ofensivo”90 à possibilidade de prevenir e extinguir o litígio em razão de
concessões mútuas.
90 BONFIM, Edilson Mougenout,Curso de Direito Processual Penal,p.567.
49
Tal é o entendimento haja vista que o próprio art. 76 da Lei
n. 9.099/95, estabelece “exclusivamente ao representante do Parquet”91 e o autor
dos fatos acordarem sobre a aplicação da pena antes mesmo da proposta da
ação penal. Segundo dispõe o art.76 S4 da Lei em tela, uma vez aceita a
proposta de transação penal, impossibilitada a esta propositura da ação penal,
ainda que haja indícios suficientes da autoria do delito e da sua materialidade, ou
ainda, que seja o autor dos fatos inocente dos fatos apontados no termo
circunstanciado.
Assim, a transação penal pode ser definida como o ato jurídico através do qual o Ministério Público e o autor do fato, atendidos os requisitos legais, e na presença no magistrado, acordam em concessões recíprocas para prevenir ou extinguir o conflito instaurado pela pratica do fato típico, mediante o cumprimento de uma pena consensualmente ajustada92.
A transação tem escopo prevenir ou extinguir o conflito de
interesses estabelecidos pela pratica de infração penal de menor potencial
ofensivo, visando evitar consensualmente a demanda processual.
Adotando-se o conceito preceituado para a transação na
órbita civil, deve-se apontar os seus requisitos básicos: incerteza do
direito,reciprocidade das concessões.
No que diz respeito a incerteza do direito, entende-se que a
transação é proposta ainda que se tenha dúvida acerca de futuras condenações
ou absolvição do autor dos fatos, importante declinar que, ainda que haja prova
inequívoca de que o autor dos fatos realmente seja culpado pela infração penal
apontada no termo circunstanciado, caberá ao “Ministério Público propor ou não a
proposta de transação”93 penal (desde que preenchidos os demais requisitos
legai).
91 BONFIM, Edilson Mougenout,Curso de Direito Processual Penal, p.568. 92 SOBRANE, Sérgio Turra. Transação Penal. p. 75. 93 NETO, Fernando da Costa Tourinho, Junior, Joel Dias Figueira, Juizados Especiais Federais
Civis e Criminais, comentários à Lei 10.259, de 10.07.2001, 2° ED, Ed Revista dos Tribunais LTDA, p. 401
50
À primeira vista parece que não há que se falar em
concessões recíprocas na audiência preliminar quando da proposta de transação
penal, vez que nitidamente percebe-se que, quanto ao autor dos fatos, caberá
apenas aceitar a proposta ofertada “de pena restritiva de direito ou multa”94
consensualmente aplicada. Contudo, quanto ao Mistério Público – como
representante do Estado- entende-se que esse deverá dispor de seu direito de
ação.
A Escola Paulista do Ministério Público assim dispõe:
Conclusões – “ 3.1- A transação penal é instituto jurídico novo, que atribui ao Ministério Público, titular exclusivo da ação penal pública, a faculdade de dela dispor, desde que atendidas as condições previstas na Lei, propondo ao autor da infração de menor potencial ofensivo a aplicação, sem denúncia e instauração de processo, de pena não preventiva de liberdade.”
Denota-se que em caso de oferecimento de transação penal
ao autor da infração, nos crimes de menor potencial ofensivo, caberá a ele o
arquivamento, com a extinção após o cumprimento da transação.
2.2 DA NATUREZA JURÍDICA
Muito se tem discutido sobre a natureza jurídica do instituto
da transação penal, tanto que foi o tema escolhido para a elaboração do presente
trabalho.
Antes de adentrar no tema polêmico decorrente de tal
assunto, importante mencionar que a transação penal tem natureza jurídica dupla,
sendo certo que se trata de um instituto de Direito Processual Penal- vez que por
ela pode ser ou não instaurada a ação penal – e o Direito Penal – já que, uma vez
homologada a transação penal, extinguir-se-á a punibilidade do autor dos fatos.
94 NETO, Fernando da Costa Tourinho, Junior, Joel Dias Figueira, Juizados Especiais Federais
Civis e Criminais, , p. 533.
51
O objetivo da discussão diz respeito à conseqüência jurídica
da não oferta da proposta pelo Ministério Público. A doutrina e a jurisprudência de
dividem no entendimento. Enquanto para alguns legislador a transação penal é a
faculdade do Ministério Público, enquanto outros legislador entendem tratar-se de
um direito subjetivo do autor do fato.
2.3 DA LEGITIMIDADE PARA OFERTAR A PROPOSTA DA TRANSAÇÃO
PENAL
No que diz respeito à ação penal pública incondicionada não
resta dúvidas de que o Ministério Público é o titular exclusivo para a ação penal e
por conseguinte, para a proposta de transação penal.
A dúvida surge, porém, quando se está diante de delitos que
se processam mediante ação penal privada e ação penal pública condicionada a
representação.
Em se tratando de uma infração de menor potencial ofensivo
que se processa “mediante ação penal pública incondicionada ou condicionada,
quando houver representação,” 95entende-se que, tendo a vítima representado
em face do autor dos fatos no prazo legal, poderá o Ministério Público, se assim
entender, ofertar a proposta de transação.
Tal possibilidade somente insurge se não foi realizada a
composição civil dos danos, em razão da renúncia ao direito de ação, conforme
prevê a lei n. 9.099/95.
Na ação penal pública condicionada, ainda que haja a representação, o fato de a vítima não aceitar a composição não impede que o Ministério Público faça a proposta da transação penal.”96
95 IRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação. p.84. 96 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação. p.125.
52
TACRSP: “na ação pública condicionada, onde houver representação da vítima, é possível a proposta de aplicação da pena não privativa de liberdade, prevista na Lei n. 9.099/95 mesmo quando não efetuada a composição doa danos, pois a transação pode realizar-se independentemente da vontade da vítima do ilícito.” (RT 724/647).
No que diz respeito à possibilidade da proposta de transação
penal nas ações penais privadas, admitem-se a possibilidade da própria vítima
ofertá-la, já que é a titular da ação privada.
Nesse sentido:
TACRSP: Crime contra a honra – Iniciativa privada – impossibilidade do Ministério Público atuar como titular e formular qualquer proposta de aplicação antecipada da pena ( transação penal) – processo anulado (RJE 7/277) Em sentido contrário, há quem entenda que, tendo em vista
que nas ações penais privadas o ofendido não é titular do jus puniendi, mas
somente do jus persequendi in juditio, é inadmissível a proposta de transação
penal pelo ofendido.
Nesse sentido
na ação de iniciativa privada, não se pode vislumbrar com coerência a aplicação da transação penal e, muito menos, que a proposta seja deduzida pelo próprio querelante.97
[...] se a ação penal for privativa, não cabe transação, pois, como vigora o principio da disponibilidade, a todo tempo o ofendido poderá, por outros meios (perdão e perempção), desistir do processo.98
Ocorre que na ação penal de iniciativa privada , “o ofendido
não é representante do titular do jus puniendi, mas somente do jus persequendi in
juriditio.”99 Cabendo perdão ou perempção e não transação penal
97 SOBRANE, Sérgio Turra. Transação Penal. p.94. 98 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 13 ed. Editora Saraiva: São Paulo, 2006,p.611. 99 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais.p.84
53
2.4 CABIMENTO
Tendo em vista as conseqüências decorrentes da
possibilidade de aceitação e cumprimento da transação penal, nem todos os que
praticaram delitos de menor potencial ofensivo serão beneficiados pela proposta
de transação penal. Antes de ofertar a proposta de transação penal (titularidade
exclusiva do Ministério Público), deverá o parquet apurar se o autor dos fatos
preenche os requisitos exigidos pela lei.
Comissão do Ministério Público do Estado do Paraná: “5. Não sendo possível a transação, por insuficiência de elementos normativos. O Ministério Público deverá requisitar da autoridade policial o que for necessário para o perfeito esclarecimento do fato, postulando o aditamento da audiência preliminar.” A Lei n. 9.099/95 apresenta um rol taxativo de causas
impeditivas para a proposta de transação penal. Não é preciso que todas as
causas fiquem configuradas no caso concreto, basta que uma delas esteja
presente para obstar a proposta do benefício.
2.4.1 Requisitos Objetivos
São requisitos objetivos todos os que dispensam um juízo
de valoração acerca de determinado fato.
O primeiro requisito de natureza objetiva apontado pelo art.
76, s 2° da lei em tela, diz respeito a inexistência da sentença definitiva
condenatória pela pratica de crime, desde que tenha sido imputado ao condenado
pena privativa de liberdade.
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.
§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:
I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva;
54
Tal requisito, apesar de existir divergências, exige a
existência de uma condenação anterior à audiência preliminar, com trânsito em
julgado por crime. Desta feita, não basta que se trate de uma sentença
condenatória recorrível, sendo indispensável que esta tenha transitado em
julgado.
STF: Juizado Especial Criminais – Ausência de oferecimento de transação penal – Nulidade afastada se o acusado, anteriormente, foi condenado, pela prática de crimes, à pena de liberdade – Inteligência do art. 76, S 2° da Lei n.9.099/95. A ausência da oportunidade para o oferecimento da transação penal prevista no art. 76 da lei n. 9.099/95 não acarreta a nulidade do processo, quando o acusado tenha sido condenado anteriormente, pela prática de crimes, à pena privativa de liberdade por sentença definitiva, pois não era tal transação objetivamente cabível, conforme o dispositivo no inc. I, S2° do mesmo diploma legal” (RT 750/552)
TACRSP: “A existência de persecução penal em desenvolvimento à época dos fatos não veda a aplicação da transação penal, prevista na Lei n. 9.099/95, pois o art.76 menciona como impeditivo do deferimento do benefício apenas uma concessão ou condenação anterior, nada referindo a eventuais processos em curso em nome do agente”.(RJDTACRIM 32/409-410)
Outrossim, o referido dispõe que, além de o “autor da
infração penal de menor potencial”100 ofensivo ter sido condenado por sentença
definitiva, que esta tenha sido em razão da prática de crime. Tal dispositivo, como
podemos observar, exclui eventual condenação em razão da prática de
contravenções penal, o que nos faz demonstrar que, incorrendo tal situação, o
agente poderá ser beneficiado pelo instituto da transação penal se preenche os
demais requisitos.
O inciso I do diploma legal supramencionado ainda dispõe
ser inaplicável o beneficio da transação penal se a condenação por crime em
sentença definitiva impuser pena privativa de liberdade. Sendo assim, em
havendo sentença condenatória com a imposição de pena restritiva de direitos ou
multa, o agente poderá valer-se da transação penal – desde que os demais
requisitos estejam preenchidos.
100 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.p.84
55
No que diz respeito ao inciso I, do §2° do art. 76 da lei ora em
estudo, há quem entenda que,
“ ainda que decorridos mais de cinco anos entre o trânsito em julgado da sentença condenatória anterior e audiência preliminar, veda-se a possibilidade de transação.” 101
Verifica ainda outro requisito objetivo no inciso II, do S 2° do
mesmo diploma legal.
Art. 76.
§2° Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:
II – Ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de 5 (cinco)anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;
Com tal causa impeditiva, pretende o legislador beneficiar
com o instituto da transação somente aquele que, durante os últimos cinco anos
não foi beneficiado com o mesmo instituto. Trata-se, na verdade, de uma forma
de evitar a impunidade.
TACRSP: “Transação Penal- Pena de multa – Não pagamento – impossibilidade de o réu vir a ser novamente beneficiado com esse favor – Recurso não provido”. (RJE 6/293)
Em caso de cabimento de transação penal e concedida ao
autor da infração, deve o mesmo cumpri-la, caso não seja efetuado o pagamento,
o mesmo não terá este benefício concedido novamente, caso cometa mais algum
crime de menor potencia ofensivo.
101 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.
56
2.4.2 Requisito Subjetivo
Tem-se como requisito subjetivo a possibilidade do
proponente da transação penal fazer uma avaliação para verificar se o agente
possui condições ou circunstancias pessoais que o permitem ser beneficiado com
a proposta de transação penal.
Como pode observar, esse requisito é o único que autoriza
uma análise discricionária do Ministério Público no caso de negar-se ao
oferecimento da proposta.
§2° Não se admitira a proposta se ficar comprovado:
III- não indicarem os antecedentes, a conduta do agente, bem como os motivos e as circunstancias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.
Por antecedentes, entende-se ser todo fato indicativo da
personalidade do agente que possa interessar à avaliação do cabimento da
proposta. Os antecedentes não indicam, necessariamente, ao constante na sua
folha de antecedentes, mas a todos os fatos envoltos à sua vida.
Segundo a jurisprudência, antecedentes vem a ser:
TACRSP: “ Antecedentes são todos os fatos ou episódios da vida anteacta do réu, próximos ou remotos, que possam a interessar, de qualquer modo, a avaliação subjetiva do crime.tanto os maus e os péssimos, como os bons e os ótimos. Em primeiro lugar, deve-se ter em conta os antecedentes judiciais, nunca restringindo simplesmente a existência ou inexistência de precedentes policiais e judiciais, mas levando-se em conta, também, o comportamento do réu, sua vida familiar, sua inclinação ao trabalho e sua conduta contemporânea e subseqüente à ação criminosa, para então qualificá-los em bons ou maus”(RJDTACRIM 7/191)
O proponente da proposta de transação deverá ainda
verificar, se o agente ostenta boa conduta social e sua personalidade não está
voltada a prática delituosa. Analisar-se-á também os motivos e as circunstâncias.
Competira ao Ministério Público, como já mencionado,
verificar se a proposta de transação penal é necessária e suficiente ao caso
57
concreto. Entende-se por necessária quando a proposta não estimular a
imputabilidade enquanto a suficiência indica se há adequação da pena proposta à
infração praticada.
2.5 DA ACEITAÇÃO DA PROPOSTA DE TRANSAÇÃO PENAL
O autor dos fatos não está obrigado a aceitar a proposta de
transação penal feita pelo Ministério Público. A recusa poderá estar fundada no
fato do autor dos fatos querer ter a oportunidade para representar provas que
possam resultar em sua futura absolvição.
Nesse caso, em havendo recusa do autor dos fato, o
Ministério Público poderá ofertar a denúncia oral imediatamente, desde que não
haja diligências imprescindíveis a serem realizadas.
Porquanto, uma vez aceita, caberá ao juiz componente
homologá-la.
Segundo o art. 73, § 3° da lei em tela, a proposta deverá ser
aceita pelo autor do fato e por seu defensor. Tal dispositivo enseja grandes
discussões na doutrina quando houver discordância quanto à aceitação da
proposta.
Há quem se posicione no sentido de que a vontade do autor
dos fatos deve prevalecer.
“Se houver conflitos entre vontade do autor do fato e de seu advogado, o juiz deverá, antes de mais nada, usando de bom senso e equilíbrio, tentar solucioná-lo. Mas, se não houver mesmo consenso, tentar solucioná-lo. Mas, se não houver mesmo consenso, pensamos que deve prevalecer a vontade do envolvido, desde que devidamente esclarecido das conseqüências da aceitação. Só cabe a ele a última palavra quanto a preferência pelo processo ou pela imediata submissão à pena, que evita as agruras de responder em juízo à acusação para lograr um resultado que é sempre incerto”.102
Comissão constituída pela Escola Nacional de Magistratura: 15° Conclusão: quando entre o interessado e seu defensor ocorrer divergência quanto à aceitação da proposta de transação penal ou
102 GRINOUVER, Ada Pellegrini ET.al. Juizados Especiais Criminais: comentários à Lei 9.099
de 26-09-1995. p.153
58
suspensão Condicional do processo, prevalecerá a vontade do primeiro.
TACRSP: Em sede de Juizado Especial Criminal, havendo conflito entre a vontade do autor do fato e de seu Advogado, deve prevalecer a do primeiro, pois a manifestação de vontade e tecnicamente assistida.(RJTACRIM 44/152)
Contudo, há quem entenda que, em razão do princípio da
ampla defesa, não será possível a transação penal quando o interessado ou seu
defensor discordar.
Tal entendimento funda-se na ideia de que a defesa técnica
está estritamente ligada ao princípio da ampla defesa e, em sendo assim, nem
sempre o autor dos fatos terá o principio da ampla defesa e, em sendo assim,
nem sempre o autor dos fatos terá conhecimento de aspectos técnicos que
possam levá-lo a uma situação mais benéfica.
A necessidade da dupla aceitação do fato é de decorrência do princípio da ampla defesa, que inclui a defesa técnica, tendo optado a lei pela conclusão de que não há prevalência da vontade do autor ou do advogado, como se tem interpretado quanto a legislação comum com relação a propositura de recurso ou sua desistência na ausência de dispositivo expresso. É possível que o agente aceite uma proposta que não lhe é nada favorável, discordando dele o advogado ou, ao contrário, que, sendo favorável e aceita pelo advogado, é recusada pelo interessado.103
TACRSP: Em sede de Juizado Especial Criminal, para a homologação da transação penal é preciso a aceitação do autor e de sua Defensoria, exigida pela Lei 9.099/95, em seu art. 76, § 3°, para que se assegure o princípio da ampla defesa, sendo certo que se a proposta não é aceita pelo Defensor em virtude de tese jurídica de alta indagação, não pode a vontade leiga prevalecer, competindo à defesa técnica a orientação devida.( RJTACRIM 41/336)
Por fim, há alguns entendimentos que defendem que a
homologação pode ser feita apenas com o consentimento do autor dos fatos,
desconsiderando a vontade do seu defensor. É bem certo que tal entendimento
103 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação p 105.
59
deve ser absolutamente repelido ante a exigência legal da presença do advogado
do autor dos fatos para se manifestar acerca da proposta de transação penal.
TACRSP: “A ausência de advogada à audiência preliminar em que for apresentada a proposta de transação penal nos Juizados Especial Criminais gera nulidade absoluta de todos os demais atos que se seguirem, pois trata-se de irregularidade vinculada ao pleno exercício da garantia constitucional da ampla defesa.” ( RT 754/627)
A homologação da proposta da transação penal não implica
somente em chancelar o acordo. O juiz está adstrito somente ao controle da
legalidade da proposta de transação, não podendo, assim, analisar o seu valor
por ofensa ao princípio da imparcialidade, bem como ao sistema acusatório.
TACRSP: “A decisão homologatória prevista para a transação penal na Lei 9.099/95, não implica atividade meramente chancelatória por parte do órgão Jurisprudencial, ao qual incumbe o controle da legalidade da proposta ”(RJTACRIM 33/240-241)
A decisão homologatória deverá conter um descritivo do fato
que constitui infração de menor potencial ofensivo, a identificação do Promotor de
Justiça e do autor do fato, bem como das outras pessoas envolvidas, a pena
ajustada, a data e data assinatura do juiz.
Nessa oportunidade, importante dispor sobre a natureza
jurídica da aceitação da proposta de transação penal. A doutrina diverge sobre o
assunto e aponta os seguintes posicionamentos.
Segundo o doutrinador “no momento em que o autor do fato
aceita a aplicação imediata da pena alternativa , está assumindo a culpa, o que é
natural em razão do princípio nulla poena sine culpa”104
Em sentido contrário, há quem entenda que a aceitação da
proposta de transação penal não caracteriza o reconhecimento de culpa, mas
apenas uma submissão à sanção penal. Fundamentam tal entendimento pelo fato
de que, por expressa previsão legal, a sanção imposta não gera reincidência e os
demais efeitos da condenação. 104 BITTENCOURT, Cezar Roberto. Juizado Especiais Criminais e alternativas à pena de
prisão. 3 ed. Porto Alegre: Livraria do advogado, 1977. P. 103.
60
Neste sentido:
“a natureza jurídica da aceitação da proposta é de submissão voluntária à sanção penal, mas não significa reconhecimento da culpabilidade penal, nem da responsabilidade civil.”105
A aceitação da transação penal não significa que o autor é
culpado, ou reconhece seu erro, é apenas um beneficio a ele acordado.
2.5.1 Da natureza jurídica da sentença homologatória da transação penal
Como se sabe, assim que acordada as partes acerca da
proposta de transação penal, deverá o juiz competente homologá-la. Discute-se
se a sua decisão homologatória tem natureza de sentença condenatória ou
declaratória.
Ocorre que há entendimento que sustentam que a sentença
é declaratória, funda-se na ideia de que, assim como ocorre com o processo civil,
a decisão que homologa uma transação apenas declara vontade das partes, não
se tratando, assim, de uma sentença de procedência do pedido do autor.
TACRS: “ (...) A sentença homologatória da transação prevista pelo art. 76 da Lei n. 9.099/95 não é condenatória, mas simplesmente homologatória. Exatamente conforme ocorre no processo civil: a homologação da transação não é procedencia do pedido do autor, mas decisão que, acolhendo a vontade das partes, constitui título executivo judicial – art. 584, inciso III, do CPC”.
Os que sustentam que a sentença homologatória tem
natureza de decisão condenatória fundam-se no entendimento de uma vez
acordadas as partes acerca da proposta de transação e, tendo esta sido
homologada, é imputada uma pena ao autor dos fatos. O caráter condenatório da
decisão não a torna uma sentença condenatória comum. Em sede dos juizados
especiais criminais, uma vez homologada a transação penal, não se reconhece a
culpabilidade do agente e não se impõe os demais efeitos da sentença
condenatória comum.
105 GRINOUVER, Ada Pellegrini ET.al. Juizados Especiais Criminais: comentários à Lei 9.099
de 26-09-1995. p.141.
61
TACRSP: “ Tem natureza condenatória a sentença que homologa o acordo feito com base no art. 76 da Lei n. 9.099/95, na medida em que envolve aplicação de pena, fazendo, portanto, coisa julgada substancial ou material, donde se segue, consectariamente, que o não-cumprimento da pena acarreta, tão somente, a sua exeqüibilidade, não dando lugar ao restabelecimento da iniciativa do processo de conhecimento”. (RJTACRIM 43/364)
Sendo que se homologada a sentença condenatória
homologa o acordo feito com base no art. 76 da Lei n. 9.099/95, e em caso de
não cumprimento da pena acarreta, tão somente, a sua exeqüibilidade, não dando
lugar ao restabelecimento da iniciativa do processo de conhecimento.
2.6 DO DESCUMPRIMENTO DA TRANSAÇÃO PENAL
Uma vez homologada a sentença concessiva da transação
penal, deverá o autor dos fatos cumpri-la. O seu descumprimento pode gerar
conseqüências no mundo jurídico.
Quando houver descumprimento da pena de multa
acordada, entende-se que esta deverá ser executada com fulcro no art.51 do
código Penal, e 6° SS. Da Lei 6.830/80. Tal é o entendimento em razão de não
ser mais admissível á conversão da pena de multa em privativa de liberdade ou
restritivas de direito.
Quanto a pena restritiva pactuada, a doutrina diverge, a
quem se posicione no sentido de que a pena restritivas de direitos não cumpridas
devem ser convertida em privativa de liberdade.
TJDF: “Realizada transação penal entre o autor do fato e o Ministério Público, sendo aplicada pena restritiva de direitos consistentes na prestação de serviços gerais à comunidade, desde que não cumprida, pode ser convertida em pena de detenção. Abolida foi apenas a conversão da multa não paga em pena privativa de liberdade, quando se remete o apenado ao processo executivo civil, não subsistindo a alternativa de sua comutação em pena restritiva de direito, para os condenados por direitos de menor potencialidade lesiva” (RT 755/674)
62
Por sua vez, outros entendem que a inobservância da
proposta devidamente homologada autoriza o Ministério Público a oferecer
denúncia.
STF: “Transação – juizados especiais – Pena restritiva de direitos – Conversão – Pena privativa do exercício da liberdade – Descabimento. A transformação automática de pena restritiva de direitos, decorrente de transação, privativa do exercício da liberdade discreta da garantia constitucional do devido processo legal. Impõe-se, uma vez descumprido o termo de transação, a declaração de insubsistência deste último, retornando-se ao estado anterior, dando-se oportunidade do Ministério Público de vir a requerer a instauração de inquérito policial ou propor a ação penal, ofertando a denúncia” (HC 79.572-GO – Rel. Min. Marco Aurélio – informativo do STF n.180, de 15-3-2000). Decorre que, após aceita a transação penal o autor dos fatos
deverá cumprir com o acordo, caso contrário poderá o Ministério Público
requerer ao instauração do inquérito policial ou propor a ação penal.
2.7 DOS EFEITOS DA TRANSAÇÃO
Uma vez homologada a transação penal, deverá esta
apenas contar do registro do autor dos fatos para tão somente evitar que, no
prazo de cinco anos contados da homologação, seja novamente beneficiado pelo
instituto.
Segundo expressa disposição do §4º do art.76 da lei em
estudo, uma vez aceita a proposta de transação penal não importará em
reincidência e maus antecedentes em prejuízo do aceitante (autor dos fatos).
STJ: “Transação penal – Sentença Homologatória – Ato que não gera reincidência, nem fomenta maus antecedentes, acaso praticada posteriormente outra infração – Inteligência da Lei n.9.099/95 – Voto vencido. (...) A sentença homologatória de transação penal realizada nos moldes da Lei n.099/95, não obstante o caráter condenatório impróprio que encerra, não gera reincidência, nem fomente maus antecedentes, acaso praticada posteriormente outra infração.” (RT 787/573).
63
Sob outro prisma, a homologação da transação penal
impede que situações envoltas ao delito (tipicidade, provas, culpabilidade e outras
questões) sejam posteriormente discutidas.
TACRSP: “Transação penal aceita e homologada – Perda do interesse de agir para discussão de tipicidade de conduta – Ocorrência – Em sede de Juizado Especial Criminal, aceitando o autor do fato a proposta de transação penal, aquiesce na aplicação da sanção antecipada de multa e beneficia-se com as vantagens advindas deste instituto, colocando, portanto, fim no procedimento especial, encerrando a resistência ao poder-dever de punir o Estado, sendo certo ainda que, homologada a transação penal carece de interesse de agir para a tipicidade de sua conduta.” (RJTACRIM 43/326).
Nos crimes que se processam mediante ação penal pública
condicionada à representação, a aceitação e a homologação da transação penal
acarretam a renúncia ao direito de representação e, por conseguinte, a extinção
da punibilidade do agente.
TADRSP: “Transação – Acordo – Homologação – Fato que acarretou a renúncia do direito de representação, com a consequente extinção da punibilidade do autor do fato – Recurso não previsto” (RJE 7/368).
Por fim, salienta-se que, por expressa disposição legal
(art.76, &6º d Lei n.9.099/95), a homologação da transação penal não produzirá
efeitos do campo cível. Em razão disso, ficam impossibilitadas eventuais medidas,
como, por exemplo, o confisco, a existência de um título executivo judicial (como
ocorre nos termos do art.584, III do CPC), a perda dos instrumentos ou produtos
provenientes do crime. Entende-se, ainda, que não são aplicáveis os efeitos
previstos no art.92 do Código Penal, sejam eles civis ou administrativos.
TACRSP: “Transação Penal – Sentença homologatória da transação penal prevista no art.76 da Lei n.9.099/95 – Não-incidência do efeito da condenação previsto no art. 91, II, a, do CP – interpretação extensiva em prejuízo do acusado – Impossibilidade – Entendimento. Atribuir à sentença homologatória da transação procedida nos termos do art.76 da Lei n.9.099/95, o efeito conferido à condenação pelo art.91, II, a, do CP, - impedindo-se a restituição da arma apreendida em razão do art.28 da LCP -, consistiria em inaceitável interpretação extensiva a operar em prejuízo do acusado, com abrangência não
64
contemplada na novel normativa. A natureza jurídica da transação penal não permite ir além do que ficou acordado entre as partes, sendo de rigor a restituição do revólver, certo que em mesmo a representação do dono recitada com condição ao ‘sursis processual’, do seu art.89, possui idêntico sentido, não podendo ser confundida com a ampla indenização devida da responsabilidade pela prática dos atos ilícitos, na via civil” (RJE 4/387). Verifica que ocorrido a transação, há um prejuízo ao
acusado, impedindo-se a restituição do bem apreendido, sedo que a natureza
jurídica determina que a transação não pode ir além do que ficou acordado entre
as partes.
2.8 RECURSOS DA SENTENÇA DE HOMOLOGAÇÃO
Segundo dispõe o §5º do art.76, da Lei n.9.099/95, da
sentença homologatória da transação penal caberá apelação, nos termos do
art.82 da mesma lei.
O recurso de apelação somente será cabível se a
homologação não retratar o efetivo acordo feito entre o autor dos fatos e o
Ministério Público, bem como quando o autor dos fatos informar que não aceitou a
proposta.
STF: “Nos termos do §5º do art.76 e art.82 da Lei n.9.099/95, cabe apelação da sentença homologatória de transação, quando esta tenha sido inquinada por vício de vontade ou quando não tenha observado os requisitos legais”. (RT 757/487).
Em sendo assim, entende-se por irrecorrível a sentença
homologatória (por via de recurso de apelação), se a decisão apenas homologou
a proposta ofertada pelo Ministério Público e aceita pelo autor dos fatos.
Outrossim, não é admissível que o autor dos fatos, visando a sua absolvição,
recorra para ver-se absolvido, mesmo depois de aceita a transação penal.
TACRSP: “É incabível a interposição de recurso contra a homologação de transação penal, prevista na lei n.9.099/85, se feita com a concordância do réu assistido por seu advogado, uma vez que não houve julgamento de mérito, só sendo admissível ta hipótese quando verificada a concorrência de nulidade insanável, ou ainda, aplicação de pena diversa da aceita pela parte.” (RJDTACRIM 33/189).
65
TACRSP: “Transação penal já homologada – Apelação do autor do fato visando absolvição – Conhecimento – Impossibilidade: Transação penal – L.9.009/95, art.76 – Apelação do suposto autor do fato, contra a homologação, objetivando ser absolvido – Falta de interesse processual, por inexistente sucumbência na transação penal – Não conhecimento do recurso” (RJDTACRIM 36/274).
Quanto aos efeitos da interposição do recurso de apelação,
entende-se que, apesar de inexistir dispositivo expresso, deve-se este operar
efeito suspensivo. Tal entendimento nasce da idéia de que não seria razoável que
de imediato se executasse a pena sem que o autor dos fatos tivesse aceitado a
proposta ou quando este alegasse nulidade do efeito.
TACRSP: “É impossível iniciar-se a execução da multa aplicada em decorrência da transação, prevista na Lei n.9.009/95, quando pendente de julgamento o apelo interposto contra sentença que homologou, pois seu exigibilidade” (RJDTACRIM 45/497).
Questão importante a ser abordada nessa oportunidade, é
quanto à possibilidade do assistente do “Ministério Público”106 apelar da decisão
homologatória. Nos ditames da Lei n.9.099/95, entende-se por inadmissível a
figura do assistente por falta de interesse de agir.
A jurisprudência posiciona-se nesse sentido.
TACRSP: “Em se tratando da Lei n.9.009/95, o ofendido, ainda que habilitado como Assistente da Acusação, não pode recorrer da transação penal, uma vez que não possui legitimidade para tal, pois não há qualquer previsão na referida Lei que o autorize a intervir neste procedimento ou a ele se opor”. (RJDTACRIM 33/190-1).
Se, por ventura o juiz não quiser homologar a transação
legalmente realizada, aplicar-se-á por analogia, o art.28 do Código de Processo
Penal. Poderá o autor dos fatos, nesse caso impetrar o pedido de habeas corpus
preventivo tendo em vista estar na iminência de ter contra si iniciada uma ação
106 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.p.159
66
penal. Quanto ao Ministério Público, caberá mandado de segurança. E “cabe
apelação da decisão do juiz que não homologar a proposta aceita, quando não
remeter os autos ao Procurador Geral de Justiça e determinar o prosseguimento
da audiência”.107
Verifica-se que somente nestas situações não será julgado
pelo Ministério Público, como estudaremos em capitulo próximo, que é
exclusividade do Ministério Publico apreciar o cabimento da proposta de
transação penal.
107 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação p. 154.
CAPÍTULO 3
DA IMPOSSIBILIDADE DA PROPOSTA DE TRANSAÇÃO PENAL “EX OFFICIO”
3.1 PRINCIPAIS ASPECTOS
Surge na jurisprudência e entre os doutrinadores, grandes
discussões acerca da conseqüência da não realização da proposta de transação
penal pelo Ministério Público.
Há uma corrente que entende que a transação penal é uma
faculdade do Ministério Público e, em sendo assim, compete tão somente ao
parquet verificar se o autor dos fatos atende aos requisitos legais objetivo e
subjetivo para ser beneficiado pelo instituto.
No I Encontro de Coordenadores e juízes das Turmas
Recursais dos Juizados Especiais, decidiu-se, conforme o Enunciado Criminal n.
16: “ o Juiz não pode apresentar proposta de transação penal em caso de inércia
do Ministério Público.”
É bem certo que, atualmente, a maioria dos doutrinadores
têm se posicionado nesse sentido.
“Se o Ministério Público não oferece a proposta ou se o juiz discordar de seu conteúdo, deverá, por analogia ao art. 28 do Código de Processo Penal, remeter os autos ao Procurador Geral da Justiça, o qual terá como opções designar outro promotor para formular a proposta, alterar o conteúdo daquela que tiver sido formulada ou ratificar a postura do órgão ministerial de primeiro grau, caso em que a autoridade judiciária estará obrigada a homologar a transação.”108
“ Não se admite a imposição da transação Penal ex officio pelo juiz: transação e acordo, e acordo não se faz se as partes, sem interferência da autoridade judiciária, à qual compete tão-somente
108 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 612.
68
homologá-lo ou não; cabe, portanto, ao acusador e ao autor dos fatos, livremente, decidir pelo consenso, de acordo com os critérios de conveniência e oportunidade”.109
“Considerando improcedentes as razões invocadas pelo representante do parquet para deixar propor transação- e essas razões devem ser necessariamente manifestadas, em respeito ao princípio constitucional da motivação do ato administrativo, implícito no art. 37, CF, e expresso no art. 111 da Constituição do Estado de São Paulo, aplicando-se, ainda, ao Ministério Público o art. 129, VII, CF, e o art. 43, inc. III, de sua Lei Orgânica Nacional (Lei n. 8.625, de 12.02.1993) -, o juiz fará remessa das peças de informação a Procurador- Geral, e este poderá oferecer proposta, designar outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistir em não formulá-la. Trata-se simplesmente ao caso o art. 28 do Código de Processo Penal.”110
“Não é dado ao juiz apresentar eventual proposta, se acaso cabível e não formulada pela promotoria. Para tal caso a solução é a remessa dos autos pelo magistrado do Procurador –Geral da Justiça, na forma prevista pelo art. 28 do Código de Processo Penal.”111
“Ao contrário do que já se tem afirmado, entendemos não será transação prevista no art. 76 um direito público subjetivo do autor do fato, de modo a possibilitar que seja apresentada contra a vontade do Ministério Público, quer por iniciativa do juiz, quer por requerimento do interessado. Trata-se, aqui, do eventual exercício da pretensão punitiva, cabendo exclusivamente ao Promotor de Justiça a titularidade do jus persequendi in jurídicio, nos expressos termos do art. 129, I, da Constituição Federal.”112
A outra corrente sustenta que a transação penal é um direito
subjetivo do autor dos fatos e, portanto, no caso do Ministério Público não
oferecê-la de ofício ou após requerimento do autor dos fatos. Segundo esses, o
parquet deve obediência ao princípio da obrigatoriedade e, em razão disso, tem o
dever de oferecer ao autor dos fatos a oportunidade de ver-se beneficiado com a
aceitação da transação penal.
109 CAPEZ, Fernando, Curso de Direito Penal. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 4. p.556. 110 GRINOUVER, Ada Pellegrini et.al. Juizados Especiais Criminais: comentários à Lei 9.099 de
26-09-1995. p. 144. 111 NORONHA, E. Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. 28 ed. São Paulo: Saraiva.
p.420. 112 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação. p.131.
69
TACRSP: “a transação penal e a suspensão condicional do processo previstas nos art. 76 e 89da Lei n. 9.099/95, constituem-se, uma vez presentes os requisitos legais, em direitos subjetivos do autor do fato ou acusado, de modo que, se o Ministério Público recusar-se em efetuar a respectiva proposta, deverá o Juiz decidir a questão, posto que incabível a aplicação analógica do art. 28 do CCP.” (RJDTACRIM 36/386).
Verifica-se ainda, na doutrina, posicionamentos nesse
sentido.
O Ministério Público “não pode julgar da convivência ou não
quanto à propositura da ação penal. E, ademais, deverá fundamentar sua
manifestação nos termos do inciso VIII do art. 129 da CF. Se a recusa for
despropositada, não será justo deixar o autor do fato à mercê da boa ou má
vontade do titular da ação penal, e, assim, a nosso ver, bem poderá o juiz
formulá-la.”113
“ não havendo apresentação da proposta , por mera obstinação do Ministério Público, parece-nos, poderá fazê-la o próprio Magistrado, porquanto o autor do fato tem um direito subjetivo de natureza processual no sentido de que se formule a proposta, cabendo ao Juiz o dever de atendê-lo, por ser indeclinável o exercício da atividade jurisprudencial.” 114
No presente capítulo retrata-se que a oferta da transação
penal é uma discricionariedade do Ministério Público e, que, por conseqüente,
não há que se falar na proposta de instituto por outrem que não seja o órgão do
Ministério Público.
Tal posicionamento pode ser fundamentado pelos
argumentos que passa a dispor.
113 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos Juizados Especiais
Criminais, 2 ed. São Paulo, 2002. p. 78. 114 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos Juizados Especiais
Criminais. p. 95
70
3.1.1 Previsão legal expressa
O art. 76 da Lei n. 9.099/95, encarregado de dispor sobre a
transação penal, foi claro a conferir a titularidade exclusiva da proposta de
benefício ao Ministério Público. Veja-se.
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta. (grifo nosso)
Verifica-se no texto legal supramencionado, que o legislador
somente conferiu ao Ministério Público a possibilidade de oferecer a proposta de
transação penal. Mesmo assim, a sua proposta está adstrita ao seu poder
discricionário. O poder discricionário está vinculado à inexistência de qualquer das
causas impeditivas à transação penal.
Conforme dispõe o Dicionário Compacto do Direito, poder
discricionário vem a ser o “ poder entregue à autoridade para, dentro para, dentro
dos limites legais, escolher a melhor alternativa de atuação”.
STJ: “ O Ministério Público tem, nos termos da Lei n. 9.099/95 art. 89, a atribuição de propor ou não a transação penal, desde que o faça fundamentadamente” ( REsp 165.734 – SP, DJU de 20- 3- 2000.p.91)
O fato do Ministério Público ter a faculdade de elaborar a
proposta de transação penal, não significa que tem o dever de propô-la, já que é
inadmissível que, ao mesmo tempo se fale em poder- dever e discricionariedade.
Desta feita, tendo em vista a clareza da lei, não há que se
admitir que haja interpretação e entendimentos diversos. O legislador somente
conferiu a possibilidade da propositura do benefício ao Ministério Público,
afirmando ainda, ser um poder discricionário – ao estabelecer a expressão ‘
poderá’.
A solução apresentada na hipótese do Ministério Público
recusar-se a oferecer a proposta consiste na aplicação analógica do art. 28 do
71
CPP. Segundo esse, entendendo não ser caso de arquivamento do inquérito
policial como assim o “Ministério Público pode o Juiz remeter os autos ao
Procurador-Geral da justiça”115 para que este, concorde com a manifestação
ministerial ou resolva por oferecer denúncia ou designe outro promotor para que a
ofereça.
Tal solução é apresentada também, quando o Ministério
Público deixar de propor a suspensão condicional do processo.
3.1.2 Da infringência ao sistema acusatório.
Para melhor basear-se o nosso posicionamento acerca da
impossibilidade da proposta de transação penal pelo magistrado, nos
reportaremos ao breve estudo dos sistemas processuais reconhecidos na historia
do Direito.
Pelo sistema inquisitivo, fundado nos preceitos do Direito
Romano, o juiz poderia iniciar a ação penal de oficio, inobservando qualquer regra
concernente à liberdade e igualdade processuais. O sistema inquisitivo autorizava
o processo secreto e desenvolvido por impulso oficial, bem como a confissão
como meio eficaz para a condenação do acusado. Tal sistema não é vigente
atualmente.
Pelo sistema acusatório fala-se na observância da garantia
ao contraditório, a presença das figuras do acusado e acusador, a publicidade do
processo, igualdade processual, na atuação do magistrado somente como orgão
acusador.
Por fim, fala-se no sistema misto. Por esse, fala-se, em uma
investigação preliminar inquisitiva e um juízo contraditório com observância dos
preceitos do sistema acusatório.
115 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.p.83
72
Em observância aos termos da Constituição Federal de
1988, verifica-se que vige o sistema acusatório no processo penal.
Segundo o art. 5°, inciso LV, da CF, é garantia de todos
observância ao “ contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes”. Pelo art. 129, inciso I, da CF, confere-se a titularidade da ação penal
pública exclusivamente ao Ministério Público, nada impedindo que ao ofendido
tenha o direito à propor a ação penal privada subsidiaria da pública ( art. 5°, LX e
93, IX). Fala-se ainda, na publicidade dos atos processuais (art. 5°, LX e 93, IX) e
na autoridade julgadora (art. 5°, inciso LIII, 92 e 126).
Sendo assim, tendo em vista que vige, no processo penal, o
sistema acusatório, devemos atentar ao fato de que o posicionamento no sentido
de ser possível a oferta da transação penal pelo magistrado implica na gritante
infringência da própria Constituição Federal. Seria um retrocesso que tal
posicionamento fosse acolhido, já que o papel da autoridade judicial no processo
penal é a imparcialidade nas suas decisões.
Quando se admite que o juiz pode oferecer a proposta de
transação penal na hipótese de o Ministério Público deixar de fazê-la, seria aceitar
o sistema inquisitivo no processo penal. O juiz não pode agir de oficio, ainda mais
quando a iniciativa da ação penal pública depende exclusivamente do Ministério
Público.
3.1.3 Da titularidade da ação penal pública
Segundo o art. 129, inciso I, da CF/88, o Ministério Público é
o titular exclusivo da ação penal pública. Tal disposição implica na
obrigatoriedade da ação penal pública (seja condicionada ou incondicionada)
somente a ser iniciada com a denúncia ofertada pelo parquet.
“ Com o advento da Constituição Federal de 88 o Ministério Público tornou-se senhor absoluto da ação penal pública, o que
73
importou no desaparecimento do procedimento ex oficio, como deixa claro o art. 129, I, da Carta Magna”.116
“Fala-se em ação pública quando está é promovida pelo Estado-Administração, por intermédio do Ministério Público. “é este órgão de natureza especial do Executivo, não se subordinado como outros órgãos e guardando inteira independência no processo”.117
“ Como advento da Constituição de 88, o Ministério público tornou-se senhor absoluto da ação penal pública, o que importou o desaparecimento da ação penal ex officio, como deixa claro o art. 129, I, da CF.”118
Como se sabe, em se tratando de ação penal pública e,
estando presentes os requisitos indispensáveis a propositura da ação penal
(indícios de autoria e prova da materialidade, ou ainda, a representação ou
requisição do Ministro da Justiça – quando se tratar de ação penal pública
condicionada) o representante do Ministério Público deverá observar o “princípio
da obrigatoriedade”119 e ofertar a denúncia. Deve-se atentar ao fato de que o
referido princípio nem sempre será absoluto, isso porque, como já mencionado
acima, a lei confere ao parquet a possibilidade de ofertar ou não a transação
penal, sob o prisma da oportunidade e conveniência. É bem certo que tal
discricionariedade regrada” do representante do Ministério Público.
Apesar da ação penal pública ser de titularidade exclusiva
do Ministério Público, a Lei n. 9.099/95 admite que o parquet a disponha para
propor a transação penal. Desta feita, após verificado que não é caso de
arquivamento, mas de denúncia ( já que existe indícios de autoria e a prova da
materialidade), o Ministério Público poderá deixar de ofertá-la se entender que os
requisitos da transação penal estão presentes.
Diante disso, verifica-se que a proposta de transação penal
somente pode ser feita pelo órgão ministerial , já que é esse que tem o poder de
116 NORONHA, E. Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. p.33 117 NORONHA, E. Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. p.32 118 NORONHA, E. Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. p. 33 119 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais – comentários ,Jurisprudências,
Legislação.p.81
74
ver se estão presentes os pressupostos para a iniciativa da ação penal. Admitir
que o juiz ou o réu faça. Seria admitir que a ação penal poder-se-ia ser iniciada de
oficio, o que seria um retrocesso aos tempos primórdios.
3.2 DO POSICIONAMENTO DOS TRIBUNAIS SUPERIORES
Segundo a resolução n. 14/96 – PR do Tribunal de Justiça
de Rondônia, estabeleceu-se que o “parecer desfavorável ou a ausência da
proposta do Ministério Público, prevista no art. 76 da Lei n. 9.099/95, não impedirá
o prosseguimento do feito, devendo neste caso o Magistrado dar início à fase do
procedimento sumaríssimo ou outro previsto em lei”.
Já no estado de São Paulo, a Lei complementar n. 851, de 9
de dezembro de 1998, estabeleceu que, em havendo recusa do Ministério Público
em ofertar a proposta de transação penal, deve-se aplicar, analogicamente, o art.
28 do CPP.
Consoante consta na emenda do HC 34461-SP (Rel.Min.
Paulo Gallotti, 6° turma, J.19/05/2005- DJ 04.09.2006, p. 328) o STJ:
pacificou o entendimento de que a proposta de transação penal, a que se refere o art. 76 da Lei n.9.099/95, é prerrogativa exclusiva do Ministério público. Em havendo divergência entre o seu representante e o magistrado, os autos devem ser remetidos à Procuradoria Geral da Justiça, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal.
Igual decisão foi proferida pelo STJ no HC 32148-SP (Rel.
Min. Hamilton Carvalhido, 6° Turma, j. 17/03/2005. DJ 01.08.2005, p. 563. Veja-
se:
HABEAS CORPUS. DIREITO PROCESSUAL PENAL. TRANSAÇÃO PENAL. PROPOSTA DE OFÍCIO PELO JUÍZO. IMPOSSIBILIDADE. ART. 28 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. APLICAÇÃO ANALÓGICA.
A proposta de transação, nas infrações de pequeno potencial ofensivo, é, na letra do art.76 da Lei n. 9.099/95, atribuindo exclusiva do Ministério Público, sendo defeso ao juiz avocar tal
75
função ministerial, para oferecer de ofício, à aceitação do indiciado, a imposição da pena restritiva de direito.
Recusando a transação ou omitindo-se na sua proposta o Ministério Público, cabe ao Juiz, à luz da norma inserta no art. 28 do Código de Processo Penal, aplicável analogicamente, submeter a questão ao Procurador-Geral de Justiça.
STJ: “ transação penal. Proposta ex officio. Impossibilidade. Titularidade do Ministério Público. Ocorrência. Recurso especial. Processual Penal. Proposta ex officio. Impossibilidade. Titularidade do Ministério Público. Aplicação analógica do art. 28 do CPP. Não cabe ao Juiz, que não e titular da ação penal. A eventual divergência sobre o não oferecimento da proposta resolve-se à luz do mecanismo estabelecido no art.28 c.c. o art. 3° do CPP. Precedentes do STF e desta Corte. Recurso conhecido e provido”. (RJDTACRIM 42/410-411)
Em julgamento ao Recurso Extraordinário RE 286185/RS
(Rel. Min. Neri da Silveira, 2° Turma, J. 20.11.2001, DJ 22.02.20002) o STF assim
dispôs:
(...) 5. O MP é titular da ação penal pública incondicionada. A lei reserva ao MP a iniciativa de propor a transação com a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa a ser especificada na proposta. Se aceita pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à apreciação do Juiz, a teor do art.76 e seu § 3°, da Lei n. 9.099/95. Acolhendo a proposta do MP, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos e multa(...)”.
TARS: “ O art. 76 da lei nova não se constitui em direito público subjetivo do réu, mas apenas mitiga o princípio da obrigatoriedade da ação penal, ao adotar o principio da obrigatoriedade da ação penal, ao adotar o princípio da conveniência ou, segundo alguns, o princípio da discricionariedade controlada. As propostas previstas na lei são de exclusivo e inteiro arbítrio do Ministério Público, que continua sendo, por força de norma constitucional, o dominus litis, não podendo sequer ser substituído pelo magistrado, em tais encaminhamentos.” ( JTAERGS 99/35)
TARCSP: O habeas corpus é via inidônea para rever decisão judicial que, alicerçada em elementos de natureza subjetiva, indefere a aplicação dos institutos da transação penal e da suspensão condicional do processo previstos na Lei n. 9.099/95, sendo certo que, por não serem tais benefícios direito subjetivo do réu, sua denegação não constitui coação ilegal.” (RJDACRIM 29/387)
76
Como podemos observar, o entendimento jurisprudencial
tem se inclinado no sentido de que cabe somente ao Ministério público a proposta
da transação penal. Como solução em havendo recusa ou omissão, é plausível
que se aplica, por analogia, o art. 28 do CPP.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verificamos ao longo do trabalho que o instituto da
transação penal é uma novidade no processo penal induzida no sistema pela
Constituição Federal de 1988 e regulamentado pela Lei n. 9.099/95. A sua maior
particularidade está em permitir que o Ministério Público, o domini litis, ao ofertar
a proposta , disponha do seu direito de ação.
A transação penal, como apontamos no presente trabalho,
deve ser realizada anteriormente à propositura da ação penal. Como se sabe, é
realizada uma audiência preliminar e, nesta, primeiramente oferece-se a
oportunidade para a composição civil dos danos (acordo celebrado entre a vítima
e o autor dos fatos) e, posteriormente (se não for caso de arquivamento do termo
circunstanciado), poderá o Ministério Público propor a transação penal, que
consiste na imposição de uma pena restritiva de direitos ou multa (sem adentrar
na análise da presença da culpabilidade do agente).
Dada a sua excepcionalidade, a lei estabeleceu diversos
requisitos a serem preenchidos para que a transação pudesse ser ofertada. A
avaliação do preenchimento dos requisitos legais, compete ao ofertante do
beneficio.
Daí decorre a grande discussão envolta à lei n. 9.099/95,
objeto do presente trabalho. Em razão dos efeitos decorrentes da aceitação da
transação penal, tem-se discutido se o instituto em tela trata-se de um direito
subjetivo do réu e, em sendo assim, possível de ser ofertado pelo Juiz – de oficio
ou a requerimento do autor dos fatos, ou a de uma discricionariedade do parquet.
Não há margem para dúvidas de que o Ministério Público é o
único legitimado a propor a transação penal, sendo certo que somente a esse
competirá verificar se o agente preenche os requisitos subjetivos e objetivo
autorizadores da proposta. Não há que se falar em transação penal ex officio
78
quando a lei confere ao órgão do Ministério Público verificar se certos requisitos
de caráter subjetivo estão presentes no caso concreto.
A lei expressa ao conferir a titularidade da proposta ao
parquet. É mesmo com a previsão legal expressa, a doutrina e jurisprudência
insistem, ainda que minoritariamente, a se inclinar em sentido contrário.
Deve-se atentar ao fato que se vige no Sistema Processual
brasileiro o sistema acusatório, e não mais o inquisitivo. Pelo sistema vigente, o
juiz deve permanecer imparcial no processo, enquanto o Ministério público atua
como o órgão acusador (se tratar-se de ação penal pública). Outrossim, a
constituição Federal de 1988 conferiu ao Ministério Público a titularidade exclusiva
para propor a ação penal pública.
O fato do Ministério Público não ofertar a proposta, não
significa que o juiz deve contentar-se com tal decisão e aceitar o posicionamento
ministerial. A jurisprudência e a doutrina têm apresentado uma solução a esse
caso. Em havendo recusa ou omissão do Ministério Público para o oferecimento
da proposta, deverá o juiz- por analogia ao art. 28 do CPP – encaminhar as peças
ao Procurador-Geral para que este ou oferte a denúncia, ou designe outro
promotor que o faça, ou ainda, concorde coam a posição do promotor de justiça
que denegou o oferecimento da proposta.
Admitir a possibilidade do juiz agir de oficio, ou até mesmo
através de requerimento do autor dos fatos, seria o caminho inicial para que o
processo penal retrocedesse aos tempos primórdios. Deste feita, diante de todo o
abordado no presente trabalho, verificamos que a transação penal deve somente
ser ofertada por iniciativa do Ministério Público, não retirando a possibilidade,
porém, do juiz analisar a proposta com intuito de verificar se o principio da
legalidade foi efetivamente observado na proposta.
79
CONFIRMAÇÃO DAS HIPOTESES
• Verifica-se que o instituto da transação penal está regulamentada pela
Constituição Federal de 1988 e pela Lei n. 9.099/95. A sua maior particularidade
está em permitir que o Ministério Público oferte a proposta , e disponha do seu
direito de ação.
• A transação penal, deve ser realizada anteriormente à propositura da ação
penal. Sendo realizada em audiência preliminar, na qual oferece-se a
oportunidade para a composição civil dos danos, acordo celebrado entre a vítima
e o autor dos fatos, e se não for caso de arquivamento do termo circunstanciado,
poderá o Ministério Público propor a transação penal, que consiste na imposição
de uma pena restritiva de direitos ou multa.
• A lei estabeleceu diversos requisitos a serem preenchidos para que a
transação pudesse ser ofertada. A avaliação do preenchimento dos requisitos
legais, compete ao ofertante do beneficio.
• Em relação aos efeitos decorrentes da aceitação da transação penal, tem-
se discutido se trata-se de um direito subjetivo do réu e, e sendo possível de ser
ofertado pelo Juiz – de oficio ou a requerimento do autor dos fatos.
• Não há dúvidas de que o Ministério Público é o único legitimado a propor a
transação penal, somente a esse competirá verificar se o agente preenche os
requisitos subjetivos e objetivo autorizadores da proposta.
• Não há que se falar em transação penal ex officio quando a lei confere ao
órgão do Ministério Público verificar se certos requisitos de caráter subjetivo estão
presentes no caso concreto.
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS
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BONFIM, Edilson Mougenout,Curso de Direito Processual Penal, 4 ed. São Paulo, Editora Saraiva,2009.
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