DA IMAGEM FIXA À IMAGEM EM MOVIMENTO

Denise Maria Ramos Lugli1- deniselugli@hotmail.com

Carla Juliana Galvão Alves2 - carlagalvaow@yahoo.com.br

RESUMO

Este trabalho apresenta uma pesquisa-ação realizada com estudantes da 8ª série de

uma escola pública da cidade de Rolândia-PR, e faz parte de um projeto de

formação continuada do governo do Estado do Paraná. O principal objetivo é

trabalhar com a leitura crítica das imagens veiculadas pelos meios de comunicação

em massa, aliada ao fazer artístico. O trabalho teve início com a reflexão sobre o

que é a fotografia, a análise de animações, de propagandas e videoclipes, mediada

pelo professor, e culminou na produção artística dos alunos utilizando as mais

variadas formas de mídias tecnológicas e digitais.

PALAVRAS-CHAVE: Leitura de imagens; meios de comunicação em massa; mídia e tecnologias.

ABSTRATC

The present work is a research-action project accomplished with students of the 8th

series of a public school of the city of Rolândia-PR, and it is part of a project of the

government's of the State of Paraná continuous formation. The objective principal is

to work with the critical reading of the images transmitted by the communication

means in mass, allied when doing artistic. The work, that it is in phase of placing in

action, he/she has beginning with the reflection on what it is the picture, the analysis

of animations, of propagandas and video clips, mediated by the teacher, and it

culminates in the students' artistic production using the most varied technological

media forms and your type.1 Denise Maria ramos Lugli é professora de Arte da rede pública de ensino do Paraná, atuando no Colégio

Estadual Presidente Kennedy de Rolândia,e participa do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da SEED-PR.

2 Carla Juliana Galvão Alves é Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá, docente do Departamento de Arte Visual da Universidade Estadual de Londrina, e é orientadora no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da SEED-PR. .

KEYWORDS: image reading, mass media, media and tecnology

Enquanto a ciência e a tecnologia transformaram radicalmente a sociedade

na qual os alunos estão inseridos, a sala de aula pouco mudou. Hoje a tecnologia

está ao redor das pessoas cotidianamente, com celulares, caixas eletrônicos, vídeo

games, DVDs, entre outros. Os alunos estão cada vez mais inteirados desta

linguagem.

No entanto, muitos professores sentem-se hesitantes em modificar sua

prática. É comum a aula se desenrolar a partir do falar-ditar do mestre, como difusor

do conhecimento, sem a participação do aluno.

A tecnologia e a mídia convocam os educadores a repensar a atitude

pedagógica tradicional e abrem possibilidades para uma nova abordagem do ensino

na sala de aula, capaz de favorecer atitudes de utilização e interpretação crítica dos

seus produtos.

Na atualidade as imagens se proliferam, nos contaminam e nos invadem. A

leitura consciente destas imagens se faz necessária dentro da escola, e como

professores temos possibilidade de mediar uma reflexão e a construção de um leitor

crítico de imagens, vinculando esta leitura a uma produção dinâmica e estimulante

diante da realidade tecnológica existente na sociedade pós-moderna.

Nesse sentido, há muito potencial nas imagens que estão inseridas na mídia

e nas propagandas atuais como instrumentos de reflexão. A cultura de massa, a

mídia e a tecnologia poderiam ser grandes aliadas no processo educacional

aproveitando o conhecimento que eles propiciam na realidade juvenil. Esta leitura de

mundo deve ser aprimorada contribuindo na construção do olhar crítico e dialético

com os multimeios.

Fora dos limites da escola a visualização como a percepção vão cada vez

mais sendo ampliadas através da propagação visual contemporânea. As imagens

com as quais estamos constantemente em contato e são um referencial importante

que deverá ser cada vez mais explorado nas aulas, não só de artes, mas como as

demais dentro da escola, como propõem Hérnandez (2000), Freedman (1998) e

Efland (1998). Problematizando os modos de ver, dizer, agir e fazer, formando

indivíduos mais questionadores e capazes de por si próprios compreender a cultura

visual existente na atualidade e em consonância com ela.

A tecnologia é hoje meio para todos os estudos. Para fazer pesquisas, recuperar elementos [...] ou seja, isso tem a ver com o suporte do projeto artístico que você desenvolve. Este suporte permite construir, por exemplo, uma memória maior [...] Portanto, é um meio que te permite manipular imagens, reformar, colocar, recolocar. É um meio muito poderoso para isso (HERNANDEZ:2006).

As imagens, sejam elas de qualquer natureza como filmes, computação

gráfica, pinturas, propagandas e outros, tem nelas um significado. Elas são criadas

com os mais variados objetivos.

As representações da mídia são apenas mais um contexto em que estão

inseridas no cotidiano de todos nós, sendo construídas para facilitar a comunicação.

No intuito de conhecer mais profundamente o repertório cultural dos alunos,

devemos trazê-lo para dentro das escolas a fim de que seja discutido e anlisado

criticamente, como defende Efland.

As crianças de hoje estão aprendendo novos códigos visuais, mas, ao mesmo tempo, estão cercadas de imagens do cotidiano que criam visões de uma vida boa, baseada no consumo, Eles vão precisar aprender como determinar se esta mídia representa ou não a realidade, e se lhe estão dizendo a verdade. (EFLAND:1998)

Freedmam aborda o relacionamento entre imagem e público na história

recente, enfoca o condicionamento que elas causam dando-lhes outros significados,

criando relações novas tentando educar o público para que ajam como

consumidores. As pessoas influenciam-se facilmente através da sensação prazerosa

dos seus produtos através das imagens “os alunos não vem as imagens criticamente

a não ser que sejam ensinados a fazê-lo”

É de extrema importância que a escola desenvolva uma educação estética de

qualidade, que seja capaz de educar o olhar, e de possibilitar a emancipação do

aluno. Apenas a conscientização, através de um olhar crítico e reflexivo sobre o que

vê, ouve e assiste, liberta o indivíduo da alienação e anestesiamento dos sentidos. É

fundamental oferecer subsídios aos alunos para aprenderem a ler e interpretar

corretamente estas imagens, ou seja, perceber os significados implícitos em cada

uma delas, para que não sejam “fantoches” do capitalismo, fazendo associações

ingênuas de significados impostos pelo cotidiano midiático. É neste sentido que

Hernandez (2003.43) propõe uma “educação para compreensão da cultura visual

diante da mídia e para os indivíduos indefesos diante dela”

Todo o projeto desenvolvido originou-se a partir deste contexto, com o

objetivo de tirar os alunos, que tem um envolvimento intenso com as imagens de

nosso tempo, dessa condição passiva. É importante que eles tenham um

conhecimento cultural amplo da cultura e das artes eruditas, mas isto basta? Deve-

se prepará-los para a vivência constante com outras imagens de maneira mais

crítica.

O professor tem o dever de levantar tais questões, chamando a atenção

sobre a representação e o conceito, criação e interpretação das imagens, sejam elas

artísticas ou não.

Se as escolas em uma democracia estão educando cidadãos esclarecidos que tomam parte em decisões políticas e trabalham juntos para a melhoria de condições culturais, então as associações e os conflitos de significados de uma série de imagens têm que ser levados em consideração em sala de aula... ...o ensino não pode mais estar limitado a discutir aspectos seletos da cultura (como literatura que valha a pena, por exemplo), mas devem abordar a experiência cultural das crianças como um todo (FREEDMAN:1998).

O ensino da arte não pode deixar de interagir com o mundo e com outras

áreas de conhecimento, configurar-se numa nova concepção de práticas artísticas

pretendendo-se assim a descoberta de novos signos que estão intrinsecamente

inseridos na nossa cultura e sociedade. Desvelar os signos do mundo real presente

compreendendo-o, decodificando sua gramática visual, julgando a qualidade daquilo

que vê, tornando o aluno hábil a ver o que não percebe. Dessa maneira, avalia

Hernández (2000, 56), o ensino de arte pode “favorecer as atitudes de interpretação,

relação, crítica e transferência em relação ao mundo que o rodeia”.

Como ponto de partida para iniciar o projeto foi necessário selecionar o

material imagético para trabalhar com os alunos. Tendo como referência algumas

das características que Hernandez mencionou como relevantes para estudar a

cultura visual, destaquei as mais consonantes com os meus objetivos como: ser

inquietante, estar abertas a múltiplas interpretações, referentes à vida das pessoas,

expressar valores estéticos, fazer com que o espectador pense e olhe para o futuro.

Como observa Hernandez:

A educação escolar poderia contribuir, […] para a reconstrução de sua própria identidade em relação às diferentes contribuições da realidade que lhe cercam e que necessita aprender a interpretar.

Estas inquietações relacionadas à leitura crítica de imagens, especialmente

aquelas veiculadas pelo mídia, são objeto desta pesquisa-ação, desenvolvida junto a

estudantes da 8ª série de uma escola pública da cidade de Rolândia-PR. O trabalho

faz parte do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), que foi

implementado pela Secretaria Estadual de Educação do Paraná em parceria com

Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, como uma política

de formação continuada de professores da rede pública estadual do Paraná.

Estas são algumas das questões que motivaram meu trabalho: Como

trabalhar a novas tecnologias dentro da sala de aula como aliadas de uma educação

mais reflexiva? Que estratégias são favorecedoras de uma leitura e compreensão

crítica das imagens, para que seu consumo e sua produção não se limitem à

recepção passiva? Olhamos com atenção as imagens que nos rodeiam? Somos

manipulados no processo de interpretação dessas imagens? As imagens e sons

usados na mídia influenciam em nossas atitudes? É possível expressar-se

artisticamente através do uso da tecnologia que se encontra à nossa disposição?

Em nosso cotidiano pensamos a fotografia como arte?

Os encaminhamentos metodológicos propostos foram o uso da fotografia

como produção e leitura de imagens fixas; a produção de animações; a análise de

propagandas produzidas pela mídia (fotografia ou vídeo) e finalmente a produção de

videoclipes, sempre aliadas à leitura de mundo, à reflexão e à construção de um

olhar crítico.

Fotografia

O trabalho iniciou pela investigação em torno da fotografia em suas múltiplas

formas de manifestação e utilização: a) a fotografia e seu uso comum no dia a dia; b)

a fotografia como documento histórico; c) o uso e exploração da fotografia pelo

mundo da moda; d) a fotografia como recurso de indução ao consumo e construção

de valores; e) a fotografia como arte; f) a imagem artística como recurso publicitário;

g) o fotojornalismo; h) a fotografia como meio expressivo.

Após uma breve panorâmica da história da fotografia e sua atual utilização

pelos meios de comunicação em massa, pedi aos alunos que trouxessem fotos que

possuíam em casa para analisá-las em sala, promovendo assim discussões sobre

os temas, ângulos, a luz, e o prazer de fotografar, entre outros. Quase todo jovem

que tem acesso à internet em casa ou em lan houses tem uma página com suas

fotos exibidas em um site de relacionamento selecionadas por ele próprio. A

máquina fotográfica mais utilizada atualmente é a digital ou ainda aquelas que são

acopladas nos celulares tão utilizadas pelos jovens. Outra sugestão foi que

investigassem o uso da fotografia na internet.

A fotografia como registro da história é muito comum; pudemos ver exemplos

em jornais, revistas, livros didáticos, etc. O que a fotografia registra ajuda-nos a

compreender o passado recente, alem de ilustrar, aumenta nossa dimensão de

compreensão dos fatos de maneira mais objetiva. Pesquisamos a fotografia neste

aspecto e fizemos a leitura de algumas imagens fotográficas importantes como

registros históricos, esta atividade foi proposta em outra aula.

No que diz respeito à fotografia de moda, foi oportuno fazer um debate com

os alunos em relação aos padrões de beleza da nossa sociedade. É primordial

refletir sobre a influência da moda e a beleza idealizada em magérrimos (as)

modelos, assim como a busca constante da dieta entre os jovens para alcançar essa

beleza ilusoriamente perfeita. A busca por essa pseudo-beleza os levam a tentativas

desesperadas de alcançá-la, o que muitas vezes pode resultar doenças perigosas

como a anorexia e a bulimia. O video apresentado está disponível em

http://www.youtube.com/watch?v=HxNZuVbk1aQ

Ao abordar a fotografia como recurso de indução ao consumo e construção

de valores, propus aos alunos um olhar mais atento às estratégias utilizadas pela

mídia no recurso da imagem pode levá-los a descobrir fatos interessantes e

curiosos. Alguns questionamentos se fizeram necessários: a) Quais as principais

estratégias de persuasão percebidas nas propagandas? b) Quais os públicos-alvos

observados: homens, mulheres ou crianças? Como é o direcionamento dessas

estratégias para cada público? d) Quais os apelos visuais mais marcantes? E os

apelos auditivos? e) De que forma se observa a relação entre prioritário e supérfluo

nessas propagandas? f) É possível perceber a presença de outros valores, que não

sejam apenas o financeiro, embutidos nessas propagandas? De que forma eles são

conduzidos no contexto publicitário?

Na abordagem da fotografia como arte, algumas imagens fotográficas de

diferentes artistas foram analisadas com os estudantes no intuito de discutir questão

tais como a intenção artística, o conteúdo expressivo, etc. ..

É bastante comum a apropriação e manipulação de obras de arte famosas

pela indústria cultural para fins publicitários. Através de avançados recursos

tecnológicos a mídia explora imagens de pinturas, fotografias, esculturas, e outras

linguagens artísticas, fundindo-as com anúncios publicitários e direcionando-as para

a produção em série. A partir da apresentação de imagens cujos conteúdos expõem

claramente essa intenção mercadológica, propus os seguintes questionamentos: a)

Você acha que a obra de arte inserida em um contexto publicitário diminui seu valor

artístico? Por quê?; b) O que mais chama a atenção do observador: a obra em si,

ou o produto que se pretende vender? Por quê? c) Você considera que a obra de

arte, fora de seu contexto (museu, exposição, bienal etc..) perde sua autenticidade,

ou pelo contrário, apresenta uma possibilidade de democratização da arte elitista?

Justifique sua opinião.

Ao tratar do fotojornalismo, iniciei destacando que o texto jornalístico, quando

acompanhado de um recurso visual, se torna além de muito mais atrativo, também

muito mais persuasivo. O mundo jornalístico dispõe de profissionais habilitados e

especializados em buscar as melhores fotos em seus melhores ângulos, que

possam oferecer ao leitor uma informação completa e abrangente dos fatos

ocorridos.

Porém, é importante ressaltar que o mundo jornalístico pode ser altamente

tendencioso e oferecer informações distorcidas dos fatos, convencendo-nos a

acreditar no que não existiu de fato. Da mesma maneira que provoca

sensacionalismo com o intuito de explorar um determinado fato até a exaustão, e

vender mais exemplares. Muitas vezes essa exploração chega a ser antiética, uma

vez que escancara a pobreza, e o sofrimento humano, com o único desejo de tocar

o leitor ou o espectador com a desgraça alheia, cujo objetivo final é a audiência.

Aqui há a necessidade de se analisar a imagem como texto.

Este módulo terminou com a produção de fotos pelos alunos, valendo-se do

que foi refletido sobre o assunto e do material utilizando, tirando fotografias de

ângulos de visão diferente ao que estão acostumados.

Animações

A fotografia evolui da imagem fixa à sua exposição em grande velocidade nos

dando a ilusão de movimento. O cinema é a síntese desta ilusão. A criança desde

cedo é seduzida pelos desenhos animados; é uma linguagem conhecida de perto

por elas e também pelos adultos.

Através dos desenhos também se passam determinadas ideologias e com

eles conceitos embutidos. Neste processo de análise é primordial passarmos pela

linguagem do desenho de animação, sua análise e sua forma de construção. Temos

aqui o desafio de entendermos alguns exemplos e conhecermos a linguagem das

imagens em movimento, e seu processo na animação.

A animação é um tema muito próximo do aluno, que o conhece desde

pequeno através dos desenhos animados. Este módulo tem por objetivo não só

torná-la um potencial material de leitura crítica, como também entender seu

processo de construção e os conhecimentos artísticos envolvidos.

Na primeira fase analisamos algumas animações que propositalmente não

contem falas, pretendendo assim que o aluno se concentrasse mais nas imagens,

gestos e conteúdo. Cada uma das animações selecionadas continham temáticas

atuais como: influência da televisão no cotidiano; preconceito referente à aceitação

das diferenças entre as pessoas e a prática do bullying; e por último os diferentes

gostos musicais.

A partir da exibição de cada animação pudemos abrir uma gama muito

grande de indagações e uma fértil discussão. Como são vídeos curtos, eles

puderam ser exibidos mais de uma vez possibilitando uma ampliação da leitura do

aluno e a concentração em detalhes não percebidos na exibição anterior. Depois da

exibição propus que os alunos que fizessem uma análise procurando perceber as

mensagens explícitas e implícitas desta linguagem não-verbal.

Como partimos da imagem fixa e passamos a exibir animações é necessário

entender seu processo, para que o estudante seja capaz de analisar e interagir com

o que vê, lê e ouve.

Existem muitas maneiras de se produzir uma animação, as técnicas são as

mais variadas mas os flipbooks foram escolhidos por terem o aspecto do princípio da

animação: através deles podemos criar a ilusão de movimento.

A criação de um flipbook é uma ótima maneira de aprender como uma

animação funciona. Passando rapidamente suas páginas, no movimento que

chamamos de flipar, é possível se observar a ação em curso. Passando as páginas

devagar, é possível se entender os mecanismos do movimento. Observando cada

página em separado, é possível entender cada imagem, o que muda de uma para a

seguinte e aprender como trabalhar a imagem a fim de que a animação funcione.

Uma vez que o aluno tenha adquirido os conceitos básicos necessários para

trabalhar com imagem em movimento, este se torna apto a, com a base instrumental

oferecida, desenvolver projetos de animação nas mais variadas mídias e linguagens,

como cinema, vídeo, televisão, web, publicidade ou mesmo mídia impressa.

Nesta etapa os alunos construíram seus próprios flipbooks, interagindo assim

com a imagem e o mecanismo de deixá-la em movimento

Os alunos puderam expor não só os flipbooks como também relataram suas

experiências e avaliar se compreenderam a linguagem da imagem em movimento.

Através da inclusão do flipbook, refletimos sobre o processo de construção de uma

imagem em movimento, uma vez que o aluno aprendeu como se constrói uma

seqüência de animação.

o flipbook foi inserido no youtube e está disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=vjfT7Jwhkw4

Propagandas e Campanhas publicitárias

Este módulo iniciou com explanação sobre as diferenças entre as

propagandas e as campanhas publicitárias a partir de seus diferentes objetivos e

características. Ambas tem a finalidade de se fixar na mente do consumidor

confirmando suas características: o conceito, a identidade e seus atributos. A

propaganda se difere da campanha publicitária em relação ao objetivo final, a

propaganda visa a venda de um determinado produto e a campanha publicitária

objetiva uma conscientização em torno da ajuda comunitária ou mudanças de

atitudes da população.

Videoclipe

O vídeoclipe é uma modalidade de propaganda da indústria de gravadoras,

porém, aqui veremos que eles nem sempre foram pensados com essa finalidade. Os

vídeos musicais possuem uma história que ainda está por escrever e que abre todos

os dias novos capítulos, cheios de avanços, recuos e alguma polêmica. De certa

forma, pode-se dizer que a concepção do videoclipe como objeto de promoção e

publicidade é bem anterior ao surgimento da MTV.

Um breve histórico, permeado pela apresentação e análise de alguns

videoclipe abordei seus aspectos técnicos e estéticos tem por objetivo proporcionar

aos alunos o estímulo necessário para a produção de seus próprios videoclipes com

as informações visuais até aqui debatidas, de forma reflexiva e sensível.

O que se pretende com esta proposta é, através da experiência da produção

artística, aguçar os sentidos, seja na produção ou na fruição de um produto.

Através da produção ele teve uma experiência significativa de vários sentidos,

produzindo imagens, elaborando cenários, roteiros e figurinos e conectados com a

música de sua cotidianidade neste trabalho. Exercitará, através da elaboração, a

compreensão e análise de seu repertório e recriá-la conforme sua percepção e a

fará suas escolhas. A linguagem audiovisual tem uma difícil elaboração, contudo é

completa dentro das linguagens artísticas.

Ao final do trabalho, percebendo-se capazes de tal produção, foram capazes

de extrapolar suas expectativas, desta forma sentindo-se recompensados com sua

produção.

[...] desconstruir para reconstruir, selecionar, reelaborar, a partir do conhecido e modificá-lo de acordo com o contexto e a necessidade são processos criadores desenvolvidos pelo fazer e ver arte, e de codificadores fundamentais para a sobrevivência no mundo cotidiano. (BARBOSA,2006:100)

Depois destas questões montaram um roteiro escrito a partir das

possibilidades levantadas. A técnica para a montagem foi o storyboard (uma série de

ilustrações que representam um roteiro audiovisual), onde colocaram suas idéias

preliminares desenhando quadro a quadro o planejamento da execução do trabalho

a ser filmado. Durante esta atividade, definiram os personagens e seus atores, dias

de filmagem, edição e todos os itens necessários para sua execução. Nesta etapa

chamei a atenção para alguns aspectos necessários nesta produção como: som,

planos (geral, médio, close-up, detalhes) e angulação (câmera alta, baixa e normal).

Após a entrega, os trabalhos foram mostrados, analisados e avaliados pelo

grande grupo (alunos e professor) e entre os elementos da equipe que o

desenvolveu. Durante a construção desta caminhada cada aluno foi registrando

suas experiências, produtos de seus trabalhos, reflexões, anotações para avaliação

do processo. O momento da avaliação propiciei oportunidade do aluno mostrar para

ele mesmo, aos colegas e posteriormente à comunidade escolar, o produto de seus

esforços, refletindo e discutindo sua atuação e realização, que pode ser reconhecida

por outros jovens e adultos, como pessoas capazes no tempo que vivenciam e não

num futuro distante.

Como valorização dos trabalhos executados e estímulo para produções

posteriores é interessante organizar um momento para a apresentação dos mesmos,

para a comunidade escolar (alunos, pais, convidados, corpo docente e

administrativo da escola). Mas tivemos a oportunidade de mostrar antes disso no

FERA COM CIÊNCIA, os alunos ao mostrar seus vídeos puderam comprovar para

mim a satisfação e o orgulho sobre sua produção.

o vídeoclipe e o making off foram inseridos no youtube e disponível em: http://www.youtube.com/watch?

v=wZQsjh-IoTM&feature=fvw e http://www.youtube.com/watch?v=ONeUOjwKIgI&feature=related

Considerações finais

Desde o início a preocupação que permeou a esta experiência pedagógica,

foi levar aos alunos uma forma diferenciada de ler imagens, de maneira que fosse

atrativa e que fizesse parte do cotidiano dos alunos, levando-os a perceber o mundo

que os rodeia.

A possibilidade de gerar novos olhares dessa geração, fazer com refletissem

sobre as imagens que os cercam e com que produzissem novas imagens era uma

proposta além de desafiadora, muito estimulante para mim, como agente

provocadora destes olhares!

As minhas percepções do progresso dos alunos ao longo do projeto foram

múltiplas, desde o ínicio até a sua finalização. Afim de aprofundar o olhar comecei

utilizando a fotografia, solicitando a eles uma experiência com esta tecnologia. A

cada nova tentativa (que foram 3) coloquei os resultados na TV pendrive e a cada

análise constatei que o resultado exposto desta maneira era estimulante, e as

tentativas posteriores, após análises comparativas, demonstravam o aprimoramento

da tentativa anterior. O mais interessante é que os alunos puderam ver seu

progresso e sentiram-se orgulhosos dos resultados após o processo, fato este que

pude perceber na exposição de algumas das fotos no corredor da escola.

Além dos alunos participantes, algumas pessoas que viram as fotos ficaram

impressionadas ao ver como o ambiente escolar, com o qual todos estavam

acostumados a ver, havia sido ressigificado pelos recortes fotográficos afinal, todas

as fotos foram tiradas dentro da escola. O que mudou foi a percepção deste

ambiente, muitas vezes pouco percebido ou notado por eles, agora transformado

em motivo artístico.

Ao trabalhar as animações, a atração foi evidente diante da TV! Ainda que

estes alunos estivessem tão acostumados a ver desenhos animados desde a

infância, analisar detalhes foi uma descoberta enriquecedora que nunca se

propuseram. Como as animações eram mudas não havia outra alternativa além de

observar os símbolos gestuais dos personagens, linguagem esta, pouco trabalhada.

A professora de português se interessou em trabalhar mais profundamente com eles

estas animações, fato este que foi enriquecedor e ajudou-os a perceber a

linguagem não verbal contida nestas animações e compreenderam o que um texto

pode ser constituído apenas de imagens.

Pelos relatos finais apresentados pelos alunos, a produção dos flipbooks,

como forma de por em prática a teoria da animação, foi uma experiência

inesquecível para a maioria deles, sendo esta a mais relevante do projeto. Acredito

que, como o trabalho foi realizado individualmente, teve maior importância para eles

devido à constatação do seu real entendimento do processo de confecção da

imagem em movimento.

Quando da análise das propagandas, ficaram surpresos como a mídia usa as

imagens como forma de imposição de valores, e refletiram sobre suas próprias

ações influenciadas por esta forma de marketing. Perceberam como todos nós

somos ingênuos diante das imagens que nos bombardeiam diariamente. Mas

realmente me surpreendi como eles captaram os padrões de beleza que nos são

impostos e como elas podem levar pessoas, através da ditadura imposta pela moda,

a doenças como bulimia e anorexia. Algumas alunas se reconheceram e

reconheceram amigos que passavam por situação semelhante. Acredito que pude

contribuir neste aspecto com uma reflexão mais profunda sobre o assunto. Esta

etapa do trabalho foi a mais difícil de trabalhar a compreensão dos alunos em

relação a sua passividade diante da mídia. Tive que voltar várias vezes cada

propaganda selecionada, pausando em vários trechos.

Finalmente, a apresentação dos videoclipes profissionais, amadores

disponíveis na internet e de alunos da escola de anos anteriores, foi determinante

para estimulá-los a produzir, pois perceberam uma oportunidade interessante de

criar algo realmente incrível, um videoclipe onde eles seriam os personagens. Em

alguns momentos deste processo de criação, como por exemplo quando começaram

a elaborar o roteiro e escolher a música, perceberam o quanto a tarefa era difícil de

ser realizada diante das diferentes idéias envolvidas dentro do grupo, de modo que

conciliar tais idéias parecia um desafio quase insuperável. Neste momento o meu

papel de mediadora este processo foi determinante, estimulando, dando dicas,

organizando e conciliando as idéias deles.

Ao final deste projeto conclui-se que os alunos puderam aprimorar seu olhar,

observando melhor o mundo ao seu redor. Ampliaram seu repertório visual através

de significativas experimentações e descobertas, desde a experiência fotográfica,

passando pela compreensão e construção de animações, relacionando a influência

televisiva da mídia na sua cotidianidade e a produção cinematográfica de

videoclipes. Todas as etapas tiveram seu fascínio diante de suas próprias

descobertas e evoluções levando-os a acreditar em suas capacidades criativas e

criadoras. Tenho a crença de que pude contribuir neste processo de ensino-

aprendizagem através da interação dos recursos tecnológicos, com um ambiente

rico em experimentações e descobertas, dando a oportunidade aos alunos de

construir um olhar crítico ou mais curioso e observador, utilizando desde à imagem

fixa à imagem em movimento.

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