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718 DA GRÉCIA ANTIGA A GALÁXIAS DISTANTES: A TRAJETÓRIA DO HERÓI ÉPICO ATRAVÉS DOS SÉCULOS 1 Marlova Soares Mello 2 RESUMO: Poucas narrativas conseguem ser tão emocionantes quanto as histórias épicas. As ações que se desenvolvem nesses textos prendem o leitor que observa com afinco cada movimento da jornada do protagonista. Embora o gênero tenha se consagrado na Grécia Antiga ainda hoje podemos acompanhar na literatura contemporânea as aventuras e as viagens de alguns heróis épicos. Dessa forma, o presente trabalho tem como intuito apontar as mudanças de caráter que o herói épico vem sofrendo com o passar do tempo. Utilizando como exemplo Ulisses, o épico por excelência, e Arthur Dent o quase anti-herói do épico interplanetário pós-moderno. PALAVRAS-CHAVE: Herói. Épico. Estrutura. Introdução A história da humanidade é repleta de heróis, o espaço dessa figura tão icônica e também tão importante para a formação coletivas dos povos sempre teve seu espaço garantido no imaginário dos sujeitos. Seja através de lendas transmitidas oralmente de geração para geração, que foram de extrema importância para o desenvolvimento literário, seja nas telas do cinema e de algum modo também na vida real. Não é nenhum exagero dizer que essas figuras heroicas surgem de uma espécie de necessidade espiritual, uma forma de proteção contra o medo do desconhecido. Os heróis são capazes de tudo, superam qualquer adversidade e dessa forma nos transmitem segurança e força. Os mitos surgem entre os povos do passado, na tentativa de explicar fenômenos como o início e o fim do mundo, a sucessão das estações, forças da natureza, assim, deuses que dispunham de poderes para controlar tais acontecimentos, bem como as atitudes humanas, a vida e a morte. Ao contrário daquilo que aconteceu com os monoteístas judeus, as divindades pagãs possuíam características comuns às dos mortais: eram vingativas, violentas, controladoras, libidinosas, entre outros atributos. O homem grego criou os deuses a sua imagem e semelhança. O nascimento do herói está intimamente ligado aos mitos, segundo Feijó (1995:14) a mitologia grega pode ser resumida na ida dos deuses e dos heróis, sendo que os deuses tinham características humanas, como vícios e virtudes, já os heróis se comportam como divindades, são destemidos, generosos e conseguem superar qualquer tipo de adversidade, apesar de sua mortalidade os heróis resistem já que deles depende a fortuna de toda uma comunidade. Nesse sentido, Kothe (1987:15) diz que “o herói épico é o sonho do homem de fazer sua própria história”. Os heróis e seus mitos, cujo o papel era o de fornece um modelo moral para o cidadão e agregar a polis. Ulisses está entre esses heróis, cujo percurso rumo à heroicidade envolve a obtenção de saberes de ordem social e emocional, de forma a constituírem padrões de dignidade. 1 Texto completo de trabalho apresentado na Sessão (PERSONAGENS: DO HERÓI ÉPICO AO NARRADOR PÓS-MODERNO) do Eixo Temático (Estudos de Teoria Literária) do 4. Encontro da Rede Sul Letras, promovido pelo Programa de Pós-graduação em Ciências da Linguagem no Campus da Grande Florianópolis da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) em Palhoça (SC). 2 Estudante de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Licenciada em Letras. [email protected]

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DA GRÉCIA ANTIGA A GALÁXIAS DISTANTES:

A TRAJETÓRIA DO HERÓI ÉPICO ATRAVÉS DOS SÉCULOS1

Marlova Soares Mello2

RESUMO: Poucas narrativas conseguem ser tão emocionantes quanto as histórias épicas. As ações que se desenvolvem nesses textos prendem o leitor que observa com afinco cada movimento da jornada do protagonista. Embora o gênero tenha se consagrado na Grécia Antiga ainda hoje podemos acompanhar na literatura contemporânea as aventuras e as viagens de alguns heróis épicos. Dessa forma, o presente trabalho tem como intuito apontar as mudanças de caráter que o herói épico vem sofrendo com o passar do tempo. Utilizando como exemplo Ulisses, o épico por excelência, e Arthur Dent o quase anti-herói do épico interplanetário pós-moderno.

PALAVRAS-CHAVE: Herói. Épico. Estrutura.

Introdução

A história da humanidade é repleta de heróis, o espaço dessa figura tão icônica e também tão importante para a formação coletivas dos povos sempre teve seu espaço garantido no imaginário dos sujeitos. Seja através de lendas transmitidas oralmente de geração para geração, que foram de extrema importância para o desenvolvimento literário, seja nas telas do cinema e de algum modo também na vida real.

Não é nenhum exagero dizer que essas figuras heroicas surgem de uma espécie de necessidade espiritual, uma forma de proteção contra o medo do desconhecido. Os heróis são capazes de tudo, superam qualquer adversidade e dessa forma nos transmitem segurança e força.

Os mitos surgem entre os povos do passado, na tentativa de explicar fenômenos como o início e o fim do mundo, a sucessão das estações, forças da natureza, assim, deuses que dispunham de poderes para controlar tais acontecimentos, bem como as atitudes humanas, a vida e a morte. Ao contrário daquilo que aconteceu com os monoteístas judeus, as divindades pagãs possuíam características comuns às dos mortais: eram vingativas, violentas, controladoras, libidinosas, entre outros atributos. O homem grego criou os deuses a sua imagem e semelhança.

O nascimento do herói está intimamente ligado aos mitos, segundo Feijó (1995:14) a mitologia grega pode ser resumida na ida dos deuses e dos heróis, sendo que os deuses tinham características humanas, como vícios e virtudes, já os heróis se comportam como divindades, são destemidos, generosos e conseguem superar qualquer tipo de adversidade, apesar de sua mortalidade os heróis resistem já que deles depende a fortuna de toda uma comunidade. Nesse sentido, Kothe (1987:15) diz que “o herói épico é o sonho do homem de fazer sua própria história”.

Os heróis e seus mitos, cujo o papel era o de fornece um modelo moral para o cidadão e agregar a polis. Ulisses está entre esses heróis, cujo percurso rumo à heroicidade envolve a obtenção de saberes de ordem social e emocional, de forma a constituírem padrões de dignidade.

1 Texto completo de trabalho apresentado na Sessão (PERSONAGENS: DO HERÓI ÉPICO AO NARRADOR PÓS-MODERNO) do Eixo Temático (Estudos de Teoria Literária) do 4. Encontro da Rede Sul Letras, promovido pelo Programa de Pós-graduação em Ciências da Linguagem no Campus da Grande Florianópolis da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) em Palhoça (SC). 2 Estudante de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Licenciada em Letras. [email protected]

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As epopeias de Homero, evidenciam ao longo de suas narrativas características e peculiaridades do modo de viver dos habitantes da Grécia Antiga no momento em que se iniciava o desenvolvimento das cidades-estados. O autor estabelece através de sua poesia a visão olímpica da existência, expressão imediata do impulso apolíneo que, enquanto princípio ético se caracteriza como uma conduta que respeitava as fronteiras da individualidade, viabilizada pelo autoconhecimento e também pela manutenção da serenidade.

Nietzsche (1996: 75) compreende a épica homérica como sendo a encarnação dos preceitos éticos do apolinismo, já que ocorre uma afirmação da glória, da saúde vital, da beleza e da coragem.

Assim, é compreensível o porquê de todo grande épico começar com uma viagem, uma série de acontecimentos orientados com a finalidade de dar o movimento de ação da obra. Os episódios de uma epopeia funcionam de maneira autônoma, para assim, prender a atenção do leitor durante toda a jornada do personagem. Uma história épica consegue envolver até mesmo aqueles leitores mais displicentes, por causa da sua fluidez e por sua forma grandiosa.

Joseph Campbell disse que a primeira grande tarefa de um herói consiste em retirar-se da cena mundana, iniciando uma jornada onde residem dificuldades efetivas, eliminando-as e tirando proveito das situações em seu favor. Contudo, frisou que o mais importante é seu retorno para o meio, já transfigurado, podendo repassar as lições que aprendeu.

Ulisses – A Odisséia

O homem canta-me, ó Musa, o multifacetado, que muitos males padeceu, depois de arrasar

Tróia, sacra.

Viu cidades e conheceu costumes de muitos mortais. No mar, inúmeras dores feriram-lhe

o coração, empenhando em salvar a vida e garantir o regresso dos companheiros. Mas não

conseguiu contê-los, ainda que abnegado. Pereceram, vítimas de suas presunçosas

loucuras. Crianções! Forraram a pança com carne das vacas de Hélio Hipérion. Este os

privou, por isso, do dia do regresso. Das muitas façanhas, Deusa, filha de Zeus, conta-nos

algumas ao teu critério. (HOMERO 2007:10)

A epígrafe acima traz os primeiros versos da Odisseia. Em 24 cantos e 12.000 versos

hexâmetros, escreve-se, sobretudo é representada a vida doméstica e são cantadas aventuras que

só consigo caracterizar como sendo eletrizantes.

Depois de dez anos de guerra, da morte de ilustres guerreiros gregos e troianos na

campinas de Tróia, e, por fim, da queda desta cidade, chegamos ao início da Odisseia. O primeiro

canto do poema relata que todos os heróis e guerreiros que escaparam à morte já se encontravam

em casa, salvos da guerra e do mar, mas que à Ulisses estava interditado o retorno. Numa

assembleia dos deuses, Atena recorda a Zeus da condição do herói que, cativo na ilha de Calipso,

lamentava seu destino: longe de casa, longe da esposa e do filho, longe de seu palácio. Inspirado

pela filha, Zeus decide pela soltura do herói. Enquanto a Hermes fica a responsabilidade de ir até

Calipso repassar a decisão dos deuses, Atena desce do Olimpo até Ítaca, para animar Telêmaco,

quanto ao retorno do pai, Ulisses.

A Odisseia configura-se como relato do nóstos, ou seja, uma epopeia que canta o périplo

de um herói por diversas regiões e reinos, antes de chegar até a sua terra natal. Desse modo, os

vinte e quatro cantos que compõe a Odisseia serão direcionados por esta temática do retorno de

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um homem astuto, que por sua inteligência foi capaz de arruinar uma cidade como Tróia, mas que

por descuido e insolência teve sua tarefa adiada por dez anos.

Aristóteles (1997) destaca na Poética que uma das principais diferenças entre um herói

épico e um trágico é o valor coletivo do primeiro. Ulisses representa todo o povo de Ítaca, que

precisa dele para que o equilíbrio da comunidade se restabeleça e volte a prosperar.

Arthur Dent – O Guia do Mochileiro das Galáxias

Muito além, nos confins inexplorados da região mais brega da Borda Ocidental desta Galáxia, há um pequeno sol amarelo e esquecido.

Girando em torno deste sol, a uma distância de cerca de 148 milhões de quilômetros, há um planetinha verde-azulado absolutamente insignificante, cujas formas de vida, descendentes de primatas, são tão extraordinariamente primitivas que ainda acham que relógios digitais são uma grande ideia. (ADAMS, 2004: 8)

É assim que Douglas Adams inicia seu épico moderno. A Terra tal qual nos conhecemos vai

acabar, e somente uma terráqueo por sorte conseguira escapar, esse é Arthur Dent. Contando com

a ventura de ser amigo de um extraterrestre que vivia disfarçado na Terra, se salva pegando

carona em uma nave espacial. Iniciando então a sua jornada por galáxias distantes.

A série de Adams é claramente uma obra satírica, porém, a estrutura épica está presente

na série o tempo todo. Entretanto, é a sua ousadia de transformar um personagem comum em

uma espécie de herói épico, ás avessas que torna a obra tão cativante.

É impossível não sentir instantaneamente simpática por nosso herói, nos identificamos

com ele. A sensação de ser o último humano perdido no espaço, a saudade dos atos ordinários do

dia-a-dia, a solidão e a confusão vivenciadas por Dent durante toda a história também são nossas,

afinal Arthur carrega todo o fardo da humanidade, é nele que reside a esperança de continuar

nossa espécie.

As Mudanças da Epopeia no decorrer do tempo

Homero escreve suas epopeias na Grécia Antiga, uma sociedade fundamentada

principalmente nos preceitos da tradição e do equilíbrio. Uma sociedade na qual os Deuses ditam

as regras, e onde a única certeza dos Homens é o encontro com a Moyra ao final de sua jornada.

Sendo assim, uma obra épica não contava a história de um homem solitário, mas valia-se desse

sujeito para narrar algo maior, para construir a história de todo um povo. Como já havia sido

mencionado anteriormente, Aristóteles definiu o herói épico, como um herói coletivo, que embora

tenha cometido um erro terminara a obra na fortuna, já que dele depende toda uma comunidade.

As obras literárias são fruto de sua época e de seu povo, refletem a sociedade e o contexto

na qual estão inseridas. Com o fim do período clássico, a humanidade sofreu grandes mudanças,

sendo uma delas a chegada de uma nova classe social; a Burguesia.

Essa nova camada social surgiu cheia de nossas percepções, e esse fato acabou refletindo

também na literatura. A burguesia adotou como forma literária preferida o romance. E uma nova

Escola literária ganhou força, o Realismo.

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As obras de arte nada mais são do que o reflexo do mundo ao seu redor. Com um modelo

social prezando cada vez mais a individualidade, tornou-se praticamente impossível escrever uma

epopeia nos moldes de Homero. Um herói coletivo virou quase que exclusividade de obras com

caráter religioso. Contudo, a estrutura se manteve viva, devido ao seu ritmo contagiante de narrar

uma aventura.

Com a chegada do cinema e com cada vez mais obras adaptadas para as grandes telas,

houve a reinvenção do épico. Viagens interestelares grandiosas envolvendo grandes batalhas

povoaram a imaginação de inúmeros indivíduos. E até mesmo a retomada do herói coletivo

ocorreu, o maior exemplo disso certamente foi à franquia Guerra nas Estrelas, do diretor George

Lucas.

Com tanta diversidade, não foi de se admirar que um escritor inglês se valesse de todas

essas influencias para criar um dos épicos mais divertidos da nossa geração, a “trilogia” de quatro

livros (mas que na verdade são cinco). Usando de bom humor, Douglas Adams condensa todos os

elementos fundamentais da epopeia clássica.

Ulisses e Arthur: Diferentes, mas nem tanto

Dois personagens tão distantes em tempo e espaço, mas que seguem a mesma premissa.

Ambos vão embarcar em aventuras por terras distantes, vendo batalhas e tirando benefício de

cada acontecimento que acabam por modificá-lo.

A construção dos personagens se dá de maneira distinta. Ulisses é um herói de ação que

aceita o chamado as adversidades e as enfrenta tendo em foco sempre seu objetivo de regressar a

sua casa. Podemos chamar Ulisses de um herói de “aceitação”. O oposto acontece com Arthur que

não compreende exatamente o que está acontecendo e acaba deixando-se levar pelas situações,

convertendo a sua aventura em algo negativo. Pode ser considerado um herói de “negação”. Essa

é a razão que me leva a crer que o personagem central do Guia do Mochileiro se constitua mais

como um anti-herói, afinal, ele nada mais é do que uma vítima dos fatos.

Todavia, mesmo que os dois sujeitos partam de premissas opostas, acabam encontrando

adversidades durante o seu percurso. E esse é um dos pontos comuns entre ambos, o teor de

aventura presente na vida dos dois, um herói precisa sobreviver a uma serie de provas, e isso

ocorre nas duas obras. As peripécias existem tanto no clássico de Homero, com nos

acontecimentos do Canto X:

Vencendo o mau conselho, o desataram Os ventos a ruir, de Ítaca os deitam A empegá-los em lágrimas desfeitos. Acordo; ao mar calculo se me atire Ou sofra a nova dor: sofri, jazendo No fundo oculto; os outros suspiravam. (HOMERO, 2007: 149)

Como na irreverente obra de Adams, como por exemplo, no capítulo 31:

Por exemplo, no exato momento em que Arthur disse “estou tendo sérios problemas com meu estilo de vida”, abriu-se um buraco aleatório na textura do contínuo espaço-tempo que transportou as palavras de Arthur para um passado muito remoto(...) (ADAMS, 2004: 195)

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Os dois personagens estão inseridos em uma obra de ação, em uma jornada épica cheia de

questões que precisam ser superadas, a cada parte novos problemas são acrescentados, e os

heróis vão superando uma a uma aproximando-se da total desintegração das adversidades. Após

cumprir todos os desafios propostos e alcançar a vitória que almejavam, ao fim da obra, eles são

não são mais os mesmos indivíduos, são seres mais sábios que devem retornar ao seu meio e

repassar as lições aprendidas.

Considerações finais

Uma obra de arte é atemporal, e com a literatura não é diferente. Sendo assim, este

trabalho tentou demonstrar que mesmo tão distantes em espaço e tempo, dois personagens

podem interagir entre si, carregando os mesmo elementos essenciais.

Embora, o mundo tenha evoluído muito desde o tempo no qual Homero escreveu, é

evidente que sua narrativa emocionante ainda exerce fascínio entre os indivíduos que gostam de

ler, sendo ainda a forma preferida para se contar uma história grandiosa. Não é por mero acaso

que o épico é o gênero escolhido por Douglas Adams para narrar às façanhas de uma viagem

intergaláctica. Ora, somente atrás do gênero épico uma aventura dessas se torna possível, e até

mesmo de certa maneira realista. É por conhecer a jornada de Ulisses que por certas vezes

acreditamos ser real as situações nas quais se encontra Arthur. É a literatura fazendo o que faz de

melhor, se recriando, mas mantendo a sua essência.

Referências

ADAMS, Douglas. O Guia do Mochileiro das Galáxias. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.

ARISTÓTELES. A Poética Clássica. São Paulo: Cultrix, 1997.

CAMPBELL, Joseph. O Herói de Mil Faces. São Paulo: Cultrix, 1997.

FEIJÓ, Martin Cezar. O que é herói. Brasília: Editora Brasiliense, 1995.

HOMERO. Odisseia. Porto Alegre: L&PM, 2007.

KOTHE, Flávio R. O herói. 2 ed. Porto Alegre: Editora Ática. 1987.

NIETZSCHE, Friedrich. “A Disputa de Homero”. In: Cinco Prefácios para cinco livros não escritos. Trad. de Pedro Süssekind. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1996.