da escola pÚblica paranaense 2009 · prevista no art. 206, inciso vi da constituição federal....
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS – DPPE PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
GESTÃO ESCOLAR: ONDE PROCURAR O DEMOCRÁTICO
ÁREA: GESTÃO ESCOLAR
NRE: GOIOERÊ
PROFESSOR PDE: MARIA DO CARMO DE LIMA MARCHETTI
PROFESSSOR ORIENTADOR: ELMA JÚLIA G. DE CARVALHO
IES VINCULADA: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ – UEM
ESCOLA DE IMPLEMENTAÇÃO: COL. EST. JOSÉ ALFREDO DE ALMEIDA
2009/2010
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GESTÃO ESCOLAR: ONDE PROCURAR O DEMOCRÁTICO
Profª do PDE: Maria do Carmo de Lima Marchetti
Profª Orientadora: Drª Elma Júlia Gonçalves de Carvalho
[...] não basta participar de órgãos colegiados
opinando nos assuntos escolares nem eleger
diretores para se ter democracia na escola.
(CARVALHO, 2005, p. 204)
INTRODUÇÃO
A luta por uma gestão democrática tem nos desafiado nos últimos anos,
seja para superar o modelo administrativo escolar burocrático e centralizado,
seja para fazer frente ao modelo gerencial em que a unidade escolar passa a
ser administrada como uma empresa. Essa luta tem representado a
necessidade de tornar coletivas as decisões no âmbito escolar.
O que se percebe no debate sobre a questão a gestão “democrática” na
escola é que, na maioria das vezes, se relaciona apenas as questões de
âmbito administrativo, sendo associada à tomada de decisões ou à escolha dos
dirigentes das escolas públicas, em oposição a práticas autoritárias que
permeiam não apenas as práticas escolares, mas também sociais. De nossa
perspectiva acreditamos que ela não se reside apenas aí, mas é algo que está
para além desse aspecto.
Sendo, assim, há que se refletir no espaço escolar, o que é gestão
democrática? Qual é o real sentido da democracia na escola? Onde procurar o
democrático na gestão da educação? Essa reflexão se justifica pela
necessidade de buscar a construção de novos horizontes para a gestão da
educação e da escola envolvendo a comunidade local e escolar.
Com o propósito de contribuir para o debate, almejamos num primeiro
momento discutir o conceito de gestão democrática que se tem. Em seguida,
apresentar um outro olhar, tendo em vista compreender como ela poderá
3
contribuir para o sucesso escolar e, finalmente levantaremos novos pontos
para reflexão.
GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA PÚBLICA: O OLHAR QUE SE TEM A gestão escolar brasileira, nas últimas décadas, vem passando por
mudanças provenientes do clamor da sociedade por uma educação de
qualidade. Dessa forma, nos anos 80, em defesa de um projeto de educação
pública de qualidade, a gestão democrática tornou-se a bandeira da luta de
educadores. Isso, por sua vez, resultou na aprovação do princípio de que o
ensino deve ser ministrado com base na gestão democrática na educação,
prevista no Art. 206, inciso VI da Constituição Federal.
Além da gestão democrática, a Constituição Federal de 1988 estabelece
também outros princípios para a educação brasileira, dentre eles citamos:
obrigatoriedade, gratuidade, liberdade e igualdade, sendo estes
regulamentados por meio de Leis Complementares.
A LDB, ao estabelecer e regulamentar as diretrizes gerais para a
educação, em seu Artigo 14 define as normas da gestão democrática do ensino
público na educação básica, conforme os seguintes princípios:
I - participação dos profissionais da educação na elaboração do
projeto pedagógico da escola;
II - participação das comunidades escolar e local em conselhos
escolares ou equivalentes.
Estes dois princípios definidores da gestão democrática do ensino
público evidenciam a participação tanto dos profissionais da educação quanto
da comunidade em colegiados diretivos escolares como meio de tomada de
decisões na escola, incitando um trabalho coletivo, articulado e dialógico.
Nesse sentido, a gestão democrática é uma gestão de autoridade
compartilhada, cujos fins são expressos no Art. 205 da Constituição Federal do
Brasil de 1988:
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família
será promovida e incentivada com a colaboração da
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sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para
o trabalho.
A mesma finalidade está presente na LDB, em seu Artigo 2°:
A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
O Artigo 9º da LDB, em cumprimento ao Artigo 214 de Constituição
Federal, dispõe sobre a elaboração do Plano Nacional de Educação (PNE)1
resguardando os princípios constitucionais, inclusive de gestão democrática.
Por isso, o PNE está sustentado em três eixos:
I. a educação como direito inalienável do cidadão; II. a educação como alavanca do desenvolvimento
socioeconômico e cultural; III. a educação como instrumento imprescindível de
enfrentamento da pobreza.
O Plano Nacional de Educação (PNE) traça objetivos, diretrizes e metas
para a educação nacional e tem prazo de até dez anos para que todas elas
sejam cumpridas2. Dentre as principais metas estão:
I. a ampliação universal da escolaridade da população; II. elevação dos padrões de qualidade da escola e do ensino
nos diferentes níveis; III. o alargamento das chances de acesso e permanência do
aluno na escola pública, como mecanismo e encurtamento das desigualdades sociais, regionais e inter-regionais
IV. o fortalecimento dos mecanismos de autonomia escolar e de democratização da gestão e do ensino público (CARNEIRO, 1998, p. 63).
1 O PNE abrangente de toda a educação, trata dos diferentes níveis e modalidades da
educação escolar, bem como da gestão, do financiamento e dos profissionais da educação. O Plano traz objetivos, diretrizes e metas que devem ser discutidos, examinados e avaliados, tendo em vista a democratização da educação em nosso país. 2 A Lei nº 10.172/2001, que aprova o PNE, determina que a partir da sua implantação sejam
elaborados os planos estaduais e municipais de educação.
5
Embora a finalidade expressa nas legislações seja clara, consideramos
que na prática a escola não vem conseguindo atingi-la, basta observar os
resultados do desempenho da escola apresentado nos exames nacionais.
IDEB 2005, 2007 e Projeções para o BRASIL
Anos Iniciais do Ensino Fundamental
Anos Finais do Ensino Fundamental
Ensino Médio
IDEB Observado
Metas IDEB Observado
Metas IDEB Observado
Metas
2005 2007 2007 2021 2005 2007 2007 2021 2005 2007 2007 2021
TOTAL 3,8 4,2 3,9 6,0 3,5 3,8 3,5 5,5 3,4 3,5 3,4 5,2
Dependência Administrativa
Pública 3,6 4,0 3,6 5,8 3,2 3,5 3,3 5,2 3,1 3,2 3,1 4,9
Federal 6,4 6,2 6,4 7,8 6,3 6,1 6,3 7,6 5,6 5,7 5,6 7,0
Estadual 3,9 4,3 4,0 6,1 3,3 3,6 3,3 5,3 3,0 3,2 3,1 4,9
Municipal 3,4 4,0 3,5 5,7 3,1 3,4 3,1 5,1 2,9 3,2 3,0 4,8
Privada 5,9 6,0 6,0 7,5 5,8 5,8 5,8 7,3 5,6 5,6 5,6 7,0
Fonte: Saeb e Censo Escolar.
IDEBs observados em 2005, 2007 e Metas para rede Estadual - PARANÁ
Fases de Ensino IDEB Observado
Metas Projetadas
2005 2007 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021
Anos Iniciais do Ensino Fundamental
5,0 5,2 5,0 5,4 5,7 6,0 6,2 6,5 6,7 6,9
Anos Finais do Ensino Fundamental
3,3 4,0 3,3 3,5 3,8 4,2 4,5 4,8 5,1 5,3
Ensino Médio 3,3 3,7 3,3 3,4 3,6 3,9 4,2 4,6 4,9 5,1
Fonte: Saeb e Censo Escolar.
IDEBs observados em 2005, 2007 e Metas para Escola - JOSE A.ALMEIDA C E ENSINO FUND MED PROF
Ensino Fundamental IDEB Observado Metas Projetadas
2005 2007 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021
Anos Iniciais - - - - - - - - - -
Anos Finais - 1,6 - 2,1 2,6 3,2 3,7 4,0 4,2 4,5
Fonte: Prova Brasil e Censo Escolar.
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Na tentativa de solucionar os problemas educacionais e auxiliar a gestão
escolar várias iniciativas vêm sendo tomadas, tais como os projetos Amigos da
Escola (1999) e Todos Pela Educação (2007) que conclamam a participação
da sociedade em benefício da escola e da melhoria da qualidade do ensino.
Observa-se, assim, que:
[...] criar laços mais fortes entre a escola e a comunidade,
desenvolver ações que possam complementar as atividades
curriculares, de trazer para o debate [...] as limitações que
devem ser enfrentadas para que se tenha um ensino público
mais valorizado, em condições de cumprir da melhor forma
possível sua preciosa e insubstituível missão (Guia de Ação
Amigos da escola, p. 8).
Para muitos o insucesso da educação pública está na falta de
participação da família no processo educacional. Por isso, há um incentivo para
a sua maior participação a fim de promover a melhoria da qualidade da
educação, com a garantia de acesso, permanência e conclusão com sucesso
na trajetória educativa. Esse aspecto pode ser observado tanto no Movimento
Todos Pela Educação como na Mobilização de Igrejas Cristãs pela Educação3,
vejamos:
Os pais e responsáveis precisam saber que têm o direito de reivindicar o que houver de melhor em educação para seus filhos. A Constituição diz que isso é um dever do Estado. Se a sociedade e as famílias incorporarem a educação como valor essencial para os cidadãos, a árdua tarefa de transformar a educação brasileira será mais fácil (PLANO DE MOBILIZAÇÃO DAS IGREJAS CRISTÃS PELA EDUCAÇÃO, 2008).
3 De acordo com o site do MEC “O plano de mobilização de igrejas cristãs pela educação visa a
definir uma estratégia comum de envolvimento social por uma educação de qualidade. A iniciativa tem a participação de entidades como o Conselho Latino Americano de Igrejas (Clai), Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic). O foco é nas famílias e nas lideranças comunitárias. O plano de mobilização tem como referência as metas do Compromisso Todos pela Educação, do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Com base nas diretrizes, foram relacionadas ações e atividades, a ser implementadas por lideranças e membros das igrejas, para debater a importância do acompanhamento da educação das crianças, como campanhas de conscientização, reuniões, cultos, missas, entre outros” http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=10472.
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O Movimento ainda destaca três processos de envolvimento familiar
relevantes:
a) Atitudes, valores e práticas dos pais em relação à educação dos filhos; b) Relações escola-família: conexões formais e informais entre a família e a equipe e o ambiente escolar (comunicação, eventos, etc). c) Responsabilidade pela aprendizagem: atividades em casa e na comunidade visando a promover aprendizagens (PLANO DE MOBILIZAÇÃO DAS IGREJAS CRISTÃS PELA EDUCAÇÃO, 2008).
Também o Plano de Mobilização Social Pela Educação4 prevê que a
educação é um direito e um dever das famílias, tendo em vista que:
a) todas as famílias e responsáveis pelas crianças,
adolescentes e jovens têm o direito de reivindicar que a escola
dê uma educação de qualidade para todos e cada um de seus
alunos. Podem e devem cobrar providências, medidas e ações
para que isso ocorra.
b) todas as famílias e responsáveis pelas crianças e jovens têm
o dever de ajudar a escola em casa, criando disciplina e rotina
de estudos.
c) todas as famílias e responsáveis têm o dever de se
aproximar da escola (MEC, 2008).
Nesse sentido, o Plano de Mobilização é uma orientação aos
mobilizadores para ação junto às famílias e responsáveis por crianças,
adolescentes e jovens estudantes em escola pública, com o objetivo de
aproximá-los da escola, de modo a:
• despertar a consciência das pessoas sobre o compromisso social na afirmação do direito de todos os brasileiros à educação de qualidade e o papel de cada um como
4 Lançado em maio de 2008, o Plano de Mobilização Social pela Educação (PMSE), de acordo
com o MEC “é uma orientação e um incentivo às lideranças sociais para a realização de ações pautadas pelo Diálogo com os públicos de interesse sobre a importância da educação. Por meio desta iniciativa deve ser despertada a consciência das pessoas sobre o compromisso social na afirmação do direito de todos os brasileiros à educação de qualidade e, do mesmo modo, a respeito do papel de cada um como protagonista dessa agenda que deve envolver amigos, vizinhos, parentes e membros de associação de moradores, entre outros sujeitos”. http://mse.mec.gov.br/
8
protagonista dessa agenda com amigos, vizinhos, parentes, associação de moradores, entre outros. • desenvolver ações que contribuam para a expansão do Plano
e de suas atividades, por meio de campanhas de
conscientização, trabalho voluntário que aproxime escola e
comunidade (MEC, 2008).
Essas iniciativas demonstram a necessidade cada vez maior de
participação e envolvimento das famílias nas atividades escolares e na gestão
da escola. Do que se observa das proposições isso ocorre porque, considera-
se que a participação das famílias pode ter resultados positivos na eficiência e
na qualidade da instituição escolar. Isso, por sua vez, não deve significar
transferir para a família responsabilidades que são da escola.
A atuação da comunidade nos órgãos colegiados também tem sido
considerada um outro mecanismo importante, pois as instâncias colegiadas
(APMF, Conselho Escolar, Grêmio Estudantil, Conselho de Classe) auxiliam de
forma importante a ampliação da democracia nos processos de gestão e
organização da escola.
Deste modo, observamos uma grande ênfase dada à participação nas
políticas e práticas educativas. Todavia, isto tudo, pode significar muito pouco,
se o princípio democrático destas instâncias estiver focando apenas nas
questões administrativas. De nada valerá a criação de conselhos, eleição para
diretor se não há disposição da comunidade escolar para edificar ações que
privilegiem o pedagógico, razão de ser da instituição escolar. Não basta
participar, a participação só terá sentido se for voltada para assegurar que a
aprendizagem ocorra, tendo em vista os fins da educação escolar: a
apropriação do saber por parte do aluno.
Deste modo, ao tratarmos da gestão democrática, entendemos que
devemos ir além daquilo que é imediatamente administrativo, ou seja, devemos
considerar que o sentido do democrático está numa fronteira situada bem além
da gestão em sentido estrito. Nesse sentido, a gestão democrática da
educação requer mais do que simples mudanças nas estruturas
organizacionais e administrativas, conforme veremos a seguir.
9
GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA: UM OUTRO OLHAR
Nos encaminhamentos das políticas públicas atuais a democracia vem
sendo ampliada de modo a abranger a participação da sociedade civil na
administração. Considera-se que, num processo de modernização da gestão
pública, a participação social é importante para tornar a gestão mais
transparente e para a fiscalização ou controle social.
No que diz respeito à educação escolar, pressupõe-se que também
ela, por ser parte constitutiva da sociedade, deve estabelecer suas bases em
princípios democráticos, dentre os quais descentralização, autonomia da
gestão, transparência e participação. Nesse sentido,
A escola, como organização social, também pretende ser um espaço democrático, de modo que os educadores profissionais, os alunos, os pais, os ativistas comunitários e outros cidadãos do contexto social imediato tenham o direito de estarem bem informados e de terem uma participação crítica na criação e na execução das políticas e dos programas escolares (HORA, p. 50).
Percebemos aqui elementos fundamentais para a efetivação da
democracia na escola: o envolvimento de todos os segmentos da comunidade
escolar opinando e participando ativamente nas decisões que dizem respeito
às questões educacionais. Porém, o que observamos no cotidiano escolar é
que quase sempre essa relação não acontece ou, quando ocorre, está restrita
apenas a assuntos administrativos.
Embora a defesa da democracia e a importância da participação estejam
no centro dos debates, o que temos verificado é que, quando a escola se
dedica a constituir instrumentos de democratização, muitas vezes o faz
buscando o diálogo e a participação das pessoas na gestão da escola por meio
da organização formal de espaços de representação, os quais, por mais
importantes que sejam não são suficientes para conduzir a educação ao
necessário avanço democrático. Neste caso concordamos com Saviani (2008,
p. 39) “quando mais se fala em democracia no interior da escola, menos
10
democrática é a escola”. Isto porque, a participação deve se dar no sentido de
buscar assegurar os fins mais amplos da educação previstos na Constituição e
LDB.
Um outro aspecto relevante a ser apontado é que, na maior parte dos
autores, a discussão sobre a gestão democrática gira em torno de questões
administrativas, tais como: o envolvimento da comunidade escolar na seleção
do diretor da escola, a implantação de conselhos escolares com autoridade
deliberativa e com poder decisório e a autonomia, por parte da escola, no
âmbito administrativo, pedagógico e para administrar seus próprios recursos
financeiros.
No entanto, entendemos que outros elementos devem ser considerados
nesse debate. Isso nos leva a considerar que, ao se tratar de gestão
democrática, ela deve envolver os aspectos administrativos tendo em vista,
sobretudo, o desenvolvimento pedagógico, ou seja, que a participação coletiva,
crie condições favoráveis ao ensino e à aprendizagem, redirecionando o
pensar e o fazer pedagógico. Nesse sentido concordamos com Hora quando
diz que:
Uma forma de encarar a democratização da escola é considerá-la como o desenvolvimento de processos pedagógicos significativos, pela adoção de um currículo concreto e vivo que garantam a permanência do estudante no sistema escola, eliminando e impedindo o processo de exclusão representado pela evasão e repetência (HORA, p. 51).
Em outros termos, a gestão democrática é:
[...] antes e acima das rotinas administrativas, a identificação de necessidades; a negociação de propósitos; a definição clara de objetivos e estratégias de ação; as linhas de compromisso; a coordenação e o acompanhamento de decisões pactuadas, mediação de conflitos, com ações voltadas para a transformação social concretizando-se por meio de metas (HORA, p. 51-52).
Nesse sentido, deve-se pensar a gestão escolar democrática como o
resultado de uma série de fatores interligados com o mesmo propósito: o
conhecimento. A este propósito estariam vinculados: “estrutura
organizacional, proposta pedagógica, ação docente e ambiente sócio cultural“
11
(HORA, 2007), dentre outros aspectos, que não podem deixar de ser
considerados, como os aspectos sócio-econômicos.
A respeito da administração da escola pública, Paro (2008, p.104),
considera:
imperioso que se comece por determinar claramente objetivos para esta escola que atendam aos interesses das camadas trabalhadoras, seus usuários atuais, a quem ela realmente precisa servir. Além disso, é urgente que se estabeleçam padrões mínimos de qualidade a serem alcançados por meio do oferecimento de conteúdos relevantes e de métodos pedagógicos consentâneos com os objetivos democráticos da escola, ao mesmo tempo, que se desenvolvam processos coletivos de avaliação de todo o processo escolar que permitam subsidiar e controlar a efetiva busca desses objetivos.
Assim, a democratização da escola deve ser pensada com base na
expectativa de que a gestão contemple os interesses e necessidades coletivas
e, acima de tudo, busque assegurar o acesso e apropriação do conhecimento
socialmente elaborado e historicamente acumulado por parte do aluno, uma
vez que o cerne da democratização da educação é a democratização do
saber. Ou ainda, conforme Ferreira (2004, p. 295-296):
[...] A escola é uma instituição cujo papel consiste na
socialização do saber sistematizado existindo para propiciar a
aquisição dos instrumentos que possibilitam o acesso a esse
saber.
Portanto, a escola, no cumprimento do seu papel e na efetivação da
gestão democrática, precisa não só criar espaços de discussões que
possibilitem a construção do projeto educativo, por todos os segmentos da
comunidade escolar, mas consolidá-los como espaço que favoreçam a
participação, a fim de assegurar que a escola cumpra seu papel social. Isso
nos leva a interrogar:
1. Onde mais buscar o democrático na gestão escolar?
2. Quais são os campos que precisam ser melhores explorados?
12
Se considerarmos que o desafio maior do ato de ensinar, é fazer com
que o aluno se aproprie dos conhecimentos, então, se a gestão democrática é
um dos mecanismos para que a educação escolar alcance o sucesso, esta
precisa ser repensada para que a “tomada de decisões” coletivas realmente
atinja a alma da escola: o saber elaborado (ciência).
Sabemos que a prática escolar distingue-se de outras práticas
educativas, como as que acontecem na família, no trabalho e nas demais
formas de convívio social, por se constituir em uma ação intencional,
sistemática, planejada e continuada, portanto, por ser a escola uma instituição
social com propósito educativo, tem o compromisso de promover o
desenvolvimento e a socialização dos alunos, como afirma Gómez (1998, p.
15):
A segunda função do processo de socialização da escola é a formação do cidadão/ã para sua intervenção na vida pública. A escola deve prepará-los para que se incorporem à vida adulta e pública, de modo que se possa manter a dinâmica e o equilíbrio nas instituições, bem como as normas de convivência que compõem o tecido da comunidade humana.
Nesta perspectiva a escola, ao tomar para si o objetivo de formar
cidadãos capazes de atuar com competência na sociedade, deve buscar
caminhos que a levem a cumprir com o que se propõe. Para atingirmos tal
objetivo a administração da escola pública deve voltar mais seu olhar para o
aspecto pedagógico, uma vez que este é o sentido maior da existência da
educação escolar.
O trabalho pedagógico diz respeito ao conhecimento elaborado e ao
saber sistematizado. A esse respeito Saviani (1995, p. 20) diz:
[...] Ora, o saber sistematizado, a cultura erudita, é uma cultura letrada. Daí que a primeira exigência para o acesso a esse tipo de saber é o aprender a ler e escrever. Além disso, é preciso também aprender a linguagem dos números, a linguagem da natureza e a linguagem da sociedade. Está aí o conteúdo fundamental da escola elementar: ler, escrever, contar, os rudimentos das ciências naturais e das ciências sociais (história e geografia humanas).
13
Ao dar continuidade à sua argumentação o próprio autor comenta “a
essa altura vocês podem estar afirmando: mas isso é o óbvio”. E, em seguida
argumenta:
Exatamente, é o óbvio. E como é freqüente acontecer com tudo o que é óbvio, ele acaba sendo esquecido ou ocultado, na sua aparente simplicidade, problemas escapam a nossa atenção. E esse esquecimento, essa ocultação, acabam por neutralizar os efeitos da escola no processo de democratização (SAVIANI, 1995, p. 20).
Dessa forma, a atuação do professor é primordial para assegurar, por
parte do aluno, a apropriação do conhecimento, pois ele é o principal
articulador do processo ensino e aprendizagem, atividade que deve ser
realizada com competência e compromisso.
Para isso, é preciso o professor "zelar pela aprendizagem do aluno"
(LDB Art. 13, III), cujo desenvolvimento deve ser construído através do
processo de construção e reconstrução do conhecimento, pois este só ganha
sentido quando é produto de uma construção dinâmica que se opera na
interação constante entre o saber escolar e os demais saberes, interação que
deve ser realizada por meio do professor.
Apesar de sua enorme responsabilidade é fundamental que ele também
conte com o apoio de todos os segmentos da comunidade escolar. Nesse
sentido, cabe lembrar Melo (2000, p. 250), quando diz que:
[...] a participação dos pais, em um processo que não vise à mera cobrança ao professor, mas a efetiva integração no processo de ensino e aprendizagem, contribui para dividir uma carga que muitas vezes pesa enormemente nas costas dos
professores.
Isto significa dizer que, considerando-se que os professores são
agentes coordenadores do processo no dia-a-dia da sala de aula, este deve
buscar o equilíbrio entre o que é sua função e a função da família no processo
educacional, lembrando que:
14
A ação do professor, no entanto, não pode ser, apenas, colaborativa. Tem que ser indicativa. O professor é componente da centralidade do ato pedagógico. Por isso, há de veicular, no conteúdo da disciplina que ministra, formas e fórmulas de integração escola/família/comunidade (CARNEIRO, 1998, p. 64).
Para o autor, para que isso aconteça, cabe a escola criar mecanismos
para envolver a família no processo educacional desenvolvido em sala de aula
e ao professor colaborar com essa tarefa. Ao contrário da idéia equivocada que
se tem no interior da escola, de que colaborar com as atividades seja algo que
deve acontecer fora da sala de aula, como algo alheio ao conteúdo trabalhado
com os alunos. Nesse sentido, concordamos com Carneiro quando diz que:
Na verdade, ou este casamento se faz no cotidiano escolar e no espaço da sala de aula ou nada mudará porque a escola continuará trabalhando esta relação através de eventos, de programação episódica, descontextualizada de cada disciplina e, logo, fora do foco da reconstrução do saber (CARNEIRO, 1998, p. 64).
Assim, o professor estará cumprindo a incumbência que lhe foi dada no
inciso VI do Artigo 12 da LDB: “articular-se com as famílias e a comunidade,
criando processos de integração da sociedade com a escola”. Como podemos
perceber a gestão democrática prevê essa integração.
É necessário a universalização do conhecimento, ou seja, a garantia de
que todas as crianças aprendam os conhecimentos para atuar na sociedade.
Para isso, mais do que repassar informações é preciso ensinar de fato, isso
exige planejar, selecionar conteúdos, ter objetivos claros, preparar atividades
diversificadas, observar relação teoria e prática, dosar o conteúdo, dentre
outros aspectos. Enfim, o professor precisa envolver o aluno no processo
ensino aprendizagem para que este sinta-se comprometido com o mesmo.
Então, o que é necessário para que a escola seja realmente democrática?
15
Nestes termos o trabalho do professor é essencial, pois ele é o
profissional ao qual é delegado a responsabilidade do processo de ensino e de
aprendizagem nas escolas. Para Libâneo (2004, p. 73), “o professor é um
profissional cuja atividade principal é o ensino. Sua formação inicial visa a
propiciar os conhecimentos, as habilidades e as atitudes requeridas para levar
adiante o processo de ensino e aprendizagem nas escolas”.
De acordo com Salgado (2000, p.19), o professor bem preparado para
atuar:
[...] caracteriza-se como um professor que domina os instrumentos necessários para o desempenho competente de suas funções e tem capacidade de tematizar a própria prática, refletindo criticamente a respeito dela. Conhece bem os conteúdos curriculares, sabe planejar e desenvolver situações de ensino e de aprendizagem estimula as interações sociais de seus alunos e administra com tranqüilidade as situações de sala de aula. Conhece, aceita e valoriza as formas de aprender e interagir de seus alunos respeita suas diversidades culturais e sabe lidar bem com elas, comprometendo-se com o sucesso dos estudantes e com o funcionamento eficiente e democrático da escola em que atua. Valoriza o saber que produz em seu trabalho cotidiano, empenha-se no próprio aperfeiçoamento e tem consciência como ser humano e profissional. [...] Assim, é um ser humano capaz de continuar aprendendo e um cidadão responsável e participativo, integrado ao processo da sociedade em que vive e, ao mesmo tempo, crítico de suas mazelas.
De acordo com as características descritas por Salgado o professor,
além de uma boa formação, deve ter consciência da sua função de educador.
Para Saviani (2008, p. 40), o papel do professor,
[...] é o de garantir que o conhecimento seja adquirido, às
vezes mesmo contra a vontade imediata da criança, que espontaneamente não tem condições de enveredar para a realização dos esforços necessários à aquisição dos conteúdos mais ricos e sem os quais ela não terá vez, não terá chance de participar da sociedade.
Nessa perspectiva, a democracia no âmbito escolar só acontecerá a
partir da apropriação do saber sistematizado pelos alunos, vislumbrando uma
sociedade pautada pela igualdade. A esse respeito Saviani (2008, p. 62)
comenta: "entendo, pois que o processo educativo é passagem da
16
desigualdade à igualdade”. Com efeito, “[...] se não acredito que a
desigualdade pode ser convertida em igualdade pela mediação da educação
(obviamente não em termos isolados mas articulada com as demais
modalidades que configuram a prática social global), então, não vale a pena
desencadear a ação pedagógica".
Desse modo, por um lado, reafirma-se a importância da ação do
professor, pois é por meio dela que o processo ensino aprendizagem deve
acontecer, à medida que ele é o mediador entre o aluno e o conhecimento. Por
outro lado, há que se buscar a colaboração dos pais, como responsáveis
diretos pelo filho/aluno, cabendo a família acompanhar o processo educacional
e dar apoio ao trabalho do professor. É, nesse sentido, que a participação da
comunidade escolar deve ocorrer, ou seja, deve atuar acompanhando o
processo educativo e buscando assegurar a apropriação do saber por parte do
aluno.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos últimos anos muito se tem pesquisado e discutido sobre a
organização e a gestão da escola. A gestão democrática, vista como um dos
mecanismos para garantia da qualidade do ensino, vem evidenciar que uma
escola não é composta somente pelo gestor, mas, pela ação de todos os
agentes diretos e/ou indiretos da educação. Em outros termos, a gestão
democrática surge para fixar novas idéias e estabelecer, nas instituições
educacionais, uma orientação transformadora, a partir do compartilhamento da
tomada de decisões que ocorrem no interior da escola.
No entanto, em nosso entendimento, há algo esquecido ou
secundarizado no que diz respeito à gestão democrática. Percebemos que, ao
indagar sobre essa temática no interior da escola, as respostas são sempre as
mesmas, a gestão democrática é quase sempre associada a “tomada de
decisões coletivas”; “escolha de diretores”; “participação nas atividades da
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escola”. Esses aspectos, por mais importantes que possam ser não são
suficientes para conduzir a educação ao necessário avanço democrático.
De nossa perspectiva, a gestão democrática está para além desses
aspectos. Ou seja, o conceito de gestão escolar democrática diz respeito a
uma escola que se organiza para formar cidadãos com a possibilidade de
apreensão de conhecimentos necessários à sua atuação no mundo.
Nesse sentido, a democratização da gestão é defendida enquanto
possibilidade de: melhoria na qualidade pedagógica do processo educacional
das escolas; construção de espaços para maior integração entre os agentes
envolvidos na escola; apoio efetivo da comunidade à escola, como participante
ativa e sujeito do processo de desenvolvimento do trabalho pedagógico
escolar. Porém, a escola só pode ser chamada de democrática quando
assegurar aos alunos o acesso aos conhecimentos, uma vez que a educação,
ao ser entendida como forma de apropriação dos saberes socialmente e
historicamente produzidos, coloca a escola como local privilegiado de
transmissão sistematizada desse saber. Isso significa que, o trabalho escolar
deve ser organizado e administrado com o objetivo de alcançar esse propósito.
Nesse sentido, a gestão democrática, como processo de discussão,
planejamento, decisão, coordenação e execução de ações, necessita que o
gestor repense seu papel como sendo essencialmente educativo, tendo em
vista que o fazer administrativo da escola é, ao mesmo tempo, político e
pedagógico. Segundo Bordigon e Gracindo (2004, p. 154):
Pensar uma escola é, essencialmente, colocar em prática uma concepção política e uma concepção pedagógica que se realimentam e que se corporificam na sua Proposta Político-Pedagógica. Concepção política, porque é ela que promove a ação transformadora da sociedade, e concepção pedagógica, porque é ela o substrato da função escolar. A estrutura e os demais meios são estabelecidos e organizados em função desse projeto. Dessa forma, as diversas facetas da gestão têm um foco privilegiado que determina sua finalidade principal (pedagógica) assentadas em ações-meio (pessoal, material, patrimônio, financeira etc) que viabilizam sua finalidade.
Finalidade esta que já está histórica e politicamente estabelecida: a
transmissão/apropriação dos conhecimentos com qualidade.
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Em face do exposto entendemos que a participação, em seu sentido
pleno, caracteriza-se pela atuação consistente de todos os segmentos da
comunidade escolar, estes entendendo e reconhecendo seu papel na dinâmica
da escola e assumindo seu poder de influência na tomada de decisões em
torno de questões que lhe dizem respeito. Dessa forma, teríamos na escola um
conjunto de “atores” com funções diferenciadas, mas com a mesma finalidade -
assegurar que os alunos tenham acesso e se apropriem do conhecimento.
Conforme Cosik (1976, p. 18) evidenciou, “a realidade pode ser mudada
só porque e só na medida que saibamos que é produzida para nós.” Para isso
acontecer, necessitamos que os segmentos da comunidade escolar percebam
que a forma de participação vai para além de assinaturas de atas, escolha de
diretores, participação na reunião de pais, mas sim na priorização e
explicitação dos problemas do cotidiano escolar e na busca de soluções
coletivas, a partir da atuação dos envolvidos com a escola, reconhecendo, ao
mesmo tempo, sua força e seus limites.
Não é demais lembrar que o que percebemos é que há um
distanciamento entre os diversos segmentos da comunidade escolar, cada qual
defendendo seu ponto de vista e culpando um ao outro na tentativa de justificar
o insucesso escolar. Entretanto, devemos entender que o conjunto que forma a
comunidade escolar tem obrigações a serem cumpridas, a fim de assegurar o
direito a uma educação de qualidade, conforme determinam a Constituição e a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira.
Em síntese, para se compreender os fatores que impedem a construção
de uma gestão pautada na democracia, não é suficiente consideramos apenas
os aspectos administrativos. É necessário, também, compreendermos o caráter
educativo que emana desse modelo de gestão, o sentido e o significado do
papel das instâncias que compõem o todo escolar e, a partir desse
entendimento, articular essa participação para o cumprimento da principal
função da escola, priorizando o que é essencial - o trabalho pedagógico. Em
outros termos, o próprio desenvolvimento da tarefa educativa.
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Enfim, a gestão democrática deve buscar no processo de tomada de
decisões encaminhamentos que levem todos os segmentos da comunidade
escolar a contribuir para a qualidade e para o êxito do processo educativo.
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PARA REFLETIR:
A democracia foi postulada no artigo 206 da Constituição Federal como
o princípio da organização e da gestão da escola pública há 22 anos.
Entretanto, mesmo após tanto tempo, esta ainda se revela como um grande
desafio no cotidiano da escola. Como o objetivo de refletir um pouco mais
sobre a questão, levantamos os seguintes questionamentos:
a) O que é democracia?
b) O que é tomar decisões coletivas? Qual é o real sentido do
coletivo?
c) Qual a função dos segmentos da comunidade escolar?
d) Por que a implementação da gestão democrática, de fato, ainda
não ocorreu no interior das escolas públicas?
e) Quais as dificuldades que a comunidade escolar encontra para
viabilizar esse tipo de gestão?
f) Afinal, o que é gestão democrática?
g) Em que o compartilhamento de poderes na tomada de decisões
será suficiente para a concretização da gestão democrática?
h) Onde está o democrático na gestão democrática? Em que reside
seu real significado no âmbito escolar?
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