O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

1

CADERNO PEDAGÓGICO

MANDAGUAÇU em suas relações

sócio-naturais

ELVIRA PASCHOAL FACCIN

2

MANDAGUAÇU

OCUPAÇÃO E DESENVOLVIMENTO EM SUAS RELAÇÕES SOCIAIS E NATURAIS

3

Mandaguaçu nome honrado

Vem do Tupi-Guarani

Quer dizer abelha grande

É pra você refletir

Sobre nossos pioneiros

Que aqui chegaram primeiro Arquivo pessoal

Começando a construir (...)

Metáforas ecológicas

Inclusa em toda a nação

Aonde a flora e a fauna

Encontram-se em extinção

E os riachos assoreados

Por causa da erosão Arquivo pessoal

Os meus versos são reais

Sem presença de utopias

E ao falar da Geografia

Limites municipais

O agrotóxico contamina

Os nossos mananciais

Arquivo pessoal

Ode à Mandaguaçu- José Marques Bezerra Filho

4

Segundo o IBGE (2008)- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, na região Sul do Brasil, na Mesorregião Norte-Central Paranaense e Microrregião de Astorga, se faz presente o Município de Mandaguaçu, com 294,010Km² de área e população total estimada para 2009 de, segundo o IBGE, 19.270 habitantes.

ATIVIDADES EM EQUIPE: montar quebra-cabeças dos mapas de Mandaguaçu, Paraná e Brasil.

Confecção e Organização: Elvira P. Faccin. Disponível em http://www.ibge.gov.br

LOCALIZAÇÃO

5

Mandaguaçu encontra-se inserido no Terceiro Planalto Paranaense, entre as altitudes de 340 e 600 m. O embasamento rochoso municipal é variado, uma porção é constituído por arenito da Formação Caiuá e outra por basalto da Formação Serra Geral.

Nessa região, os divisores de água foram utilizados pela companhia colonizadora para a construção da principal rodovia regional, ou seja, não houve a necessidade da construção de pontes, fato que retardaria e encareceria o processo de ocupação.

Ao longo da rodovia foram estabelecidos os núcleos urbanos, assim a cidade de Mandaguaçu tem sua localização na área com as maiores altitudes municipais, no divisor de águas entre as bacias hidrográficas do rio Ivaí e do rio Paranapanema. A cidade que no início dependia das nascentes próximas ao centro urbano, para suprir as necessidades básicas dos primeiros habitantes, como água para beber, cozinhar, tomar banho, lavar roupa..., se expandiu e invadiu áreas que deveriam estar protegidas. O processo de crescimento urbano se deu no sentido topo, média e baixa vertente até o vale dos ribeirões.

Nesse contexto a cidade se modernizou trazendo à reboque a impermeabilização do solo, seja nas ruas, nas praças, nas calçadas ou nos quintais. O traçado urbano condenou as áreas de nascentes a condição de recebedoras de corredores de enxurradas.

No primeiro momento a concentração de enxurrada em um único ponto, provocou a erosão dos mananciais, abrindo ravinas e voçorocas que são uma ameaça a ocupação humana por conta de possuírem o caráter erosivo regressivo, tendo a situação agravada pelo fato de a cidade de Mandaguaçu estar em área constituída por material frágil, com solo arenoso, fruto do intemperismo da rocha Arenito CAIUÁ; em um segundo momento foram sucumbidas a receber lixo e esgoto clandestino gerado pela própria população, que escoam pelas galerias de águas pluviais.

A degradação chegou a tal ponto que na atualidade os terrenos próximos desses locais tem desvalorização imobiliária por estarem associados ao mau cheiro, ao descarte de lixo, a proliferação de animais nocivos a saúde humana e a pontos de consumo de drogas ilícitas.

COMPREENDA A ÁREA DE ESTUDO

6

QUADRO 1: LOCALIZAÇÃO DAS NASCENTES URBANAS DE MANDAGUAÇU

Córrego ZORORÓ Rodovia BR376 Córrego ARURÃO Vila Guadiana Córrego UBIRUBÊ Jardim Mônaco Ribeirão IYUHI-GASSU Conjunto Lagoa Dourada Ribeirão PIRACATU Jardim Amanda Ribeirão CEREZ Estrada do Mamão Ribeirão SITU Parque Ouro Verde Ribeirão CENTENÁRIO Ipanema Praia Clube ATIVIDADE: em equipe, localizar na planta de Mandaguaçu as sete áreas de mananciais, identificando cada uma. Depois, criar uma frase com sete palavras, sendo que cada palavra deve iniciar com a primeira letra de cada um dos mananciais.

Quanto ao clima regional, segundo a classificação climática de Köppen é do tipo Cfa, ou seja, subtropical úmido mesotérmico, sem estação seca definida, os verões são quentes, com tendência de concentração das chuvas neste período e pouca ocorrência de geadas no inverno. A média de temperatura no verão gira em torno de 22ºC e no inverno é de aproximadamente 18ºC. IAPAR(1978)

A vegetação nativa denominada no passado como Mata Pluvial Tropical dos Planaltos do Interior, atualmente, referenciada como Floresta Estacional Semidecidual, promovia grande deposição de matéria orgânica nos solos argilosos e arenosos, promovendo ganho de fertilidade e garantindo excelente produtividade no início da utilização agrícola.

7

Prefeitura Municipal de Mandaguaçu. Departamento de Engenharia e Obras.

Fotos: Arquivo pessoal

ATIVIDADE: Reflita sobre possíveis pontos positivos e negativos da localização urbana de Mandaguaçu, anote no caderno do relator e montem um painel com um slogan cujo o tema é: SOMOS QUEM QUEREMOS SER?

A CIDADE DE MANDAGUAÇU

8

Essa vegetação original desempenhava papéis importantes na manutenção do equilíbrio do ecossistema. Primeiro porque servia como uma barreira, protegendo o solo do contato direto com os pingos da chuva e segundo pela deposição de matéria orgânica que juntamente com a teia de raízes protegiam o solo. A água, após ter a queda amortecida pelas folhas das copas das árvores, respingava no solo ou escorria através dos galhos e troncos até chegar ao solo protegido pela serrapilheira. Debaixo deste material era abundante a matéria orgânica responsável pela agregação do solo, permitindo que o mesmo encharcasse como uma esponja, através de seu grande potencial de armazenamento de água, minimizando o escoamento superficial praticamente anulando o processo erosivo. Após a retirada dessa vegetação, a erosão do solo se instalou, provocando a desagregação de partículas que são facilmente transportadas pela enxurrada até o leito dos rios, sendo que ao mesmo tempo que promove o desgaste intenso dos solos agricultáveis, promove também a morte dos rios a partir da sedimentação. Fatores relacionados como solo exposto, chuvas abundantes e carreadores de enxurradas contribuem significativamente para a aceleração do processo erosivo e assoreamento da rede hidrográfica além da contaminação das águas.

“O solo é o único ambiente onde se encontram reunidos em associação íntima, os quatro elementos: domínio das rochas- litosfera; domínio das águas- hidrosfera; domínio do ar- atmosfera; e domínio da vida- biosfera. É um complexo vivo pois pode ser jovem (incompleto na sua formação), adulto (bem formado), velho ou morto (fóssil).” GUERRA, 1987, p.398. Próximo passo: Laboratório!?! Mas antes responda em equipe, no caderno do relator: Como os solos são formados? Há solos diferentes no município? Qual é o aspecto do solo onde está a cidade de Mandaguaçu? E onde está o Distrito de Pulinópolis? Solo e terra são a mesma coisa? O cultivo é realizado no solo ou na terra? Para fazer um aterro eu uso...? Rocha e pedra são sinônimos? Para fazer concreto eu compro pedra ou rocha? De onde é extraído a brita? Como é formado o lençol subterrâneo local?

9

Arquivo pessoal Arquivo pessoal Arquivo pessoal

Arquivo pessoal Arquivo pessoal Arquivo pessoal

Saiba mais . . . experimentos em laboratório para medir a erodibilidade do neossolo quartzarênco e nitossolo, através da capacidade de infiltração e retenção de água pelo solo. Materiais:

� 3 garrafas pet, cortadas e montadas como um funi,l com um pano fino preso no gargalo.

� 2 copos de nitossolo

� 2 copos de Neossolo quartzarênco ou areia lavada

� 3 copos com 200ml de água cada um.

Procedimento: Divida a turma em três equipes e cada uma será responsável por um experimento, devendo ser compartilhado entre todos durante seu transcorrer. Coloque 1 copo de nitossolo em uma garra funil, 1 copo de Neossolo quartzarênco em outra garrafa funil, e 1 copo dos dois solos misturados na terceira garrafa funil. A água deverá ser colocada no mesmo momento sobre cada amostra de solo que já está na garrafa funil, e cada grupo

10

deverá anotar: Quanto tempo demorou para começar a pingar? A água pingou por quanto tempo? Quantos ml de água escoaram? Qual a coloração da água que pingou?

Problematize: qual solo retém mais a água? Qual solo propicia melhor circulação da água? Qual solo é erodido mais facilmente? Na área urbana de Mandaguaçu há problemas de erosão? Onde? Podemos correlacioná-los também ao solo? Porque? No campo: onde há menor risco de rompimento das curvas de nível durante uma chuva forte: neossolo quartzarênco ou nitossolo? Porque?

ATIVIDADE: Mandaguaçu teve seus primeiros habitantes a partir de 1942 derrubando a floresta e plantando café. A partir de 1945 chegaram os primeiros moradores que viria a ser a cidade atual. Em 1952 houve a instalação de município e no primeiro censo demográfico, em 1960, já era registrado uma população total de 26.721 habitantes, destes 23.405 moravam no campo e 3.313 na cidade. Temos 17 anos e um salto de zero para quase 28.000 habitantes. Quem eram os colonizadores? De onde vieram? Porque vieram? Como sobreviviam? Onde moravam? O que desejavam? Qual era a visão que o colonizador tinha da floresta original? Discuta em equipe e anote as observações no caderno do relator. Relate estas respostas em uma paródia.

QUADRO 2: MANDAGUAÇU, POPULAÇÃO TOTAL, URBANA, RURAL E RITMO DE CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO TOTAL ENTRE 1960 E 2000.

ANO POP.TOTAL POP.URBANA % POP. RURAL % RITMO

1960 26.721 3.313 23.405

1970 16.672 4.483 12.179

1980 14.021 7.164 6.857

1991 14.697 11.122 3.575

2000 16.798 14.091 2.707

Fonte: IBGE- Censos Demográficos: 1960, 1970, 1980, 1991 e 2000.

ATIVIDADE: em duplas, calcular a porcentagem da população urbana e rural e o ritmo de crescimento da população total; confeccionar um gráfico de colunas e linha para representar os dados e escrever uma justificativa que aponte os motivos da transformação populacional pelo qual Mandaguaçu passou.

11

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

O CAPITALISMO CHEGOU E A NATUREZA SE FOI ...

SINTETIZANDO: tínhamos em toda extensão municipal um ecossistema equilibrado em suas relações. A

população primitiva não causava impacto a ponto de romper a teia estabelecida. Mas... uma nova área

precisava ser incorporada a produção capitalista e envolveria muito dinheiro, desde a compra das

terras do Estado do Paraná, a divisão em lotes para a venda até a ocupação cafeeira, que no momento

era rentável. Colonizada principalmente pelos paulistas, predomínio dos imigrantes italianos e de seus

descendentes, e mineiros que adquiriram lotes, em grande parte financiados, e tinham urgência em

produzir para pagar as terras e também acumular. A natureza não foi dada uma segunda chance: o

desmatamento ocorreu de forma rápida, contínua e avassaladora, não havia motivos para pensar em

preservação. Somando a esse cenário catastrófico está o desconhecimento com o trato do solo de áreas

tropicais, não havia técnicas para preservação do solo e de sua fertilidade natural, assim poucos anos

após a ocupação, a erosão já era parte da paisagem, na forma de ravinas ou voçorocas.

Debate em equipe:

através de modernas

técnicas de cultivo e

competente

planejamento urbano,

este cenário pode ser

melhorado? O que

você faria se fosse o

prefeito municipal, o

agricultor, o fiscal do

IAP, o estudante, o

aposentado, um

grande industrial, uma

dona de casa, um

profissional da

construção civil, enfim,

crie personagens e

tente estabelecer a

responsabilidade social

para cada um. O

relator deve anotar

para posterior

apresentação teatral.

12

REFERÊNCIAS

BEZERRA F., José Marques. 100 poemas, na palma da minha mão. Maringá: Clichetec, 2008, 130p.

COMPANHIA MELHORAMENTOS NORTE DO PARANÁ. Colonização e desenvolvimento do norte do Paraná. 1975, 295p.

FACCIN, Elvira P. Perfil geoeconômico da população economicamente ativa de vila Guadiana. 1994. 32f. Monografia (Bacharelado em Geografia), Universidade Estadual de Maringá, Maringá.

GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a Pedagogia Histórico-Crítica. Campinas-SP: Autores Associados, 2007.

GUERRA, Antonio G. Dicionário Geológico e Geomorfológico. Rio de Janeiro: IBGE, 1987, 446p.

IAPAR, Cartas climáticas do estado do Paraná. Londrina: IAPAR, 1978, 38p.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censos Demográficos 1960/ 1970/ 1980/ 1991/ 2000. Disponível em: HTTP://www.ibge.gov.br. Acesso em 18/ 20/ 24 e 25 de abril de 2010.

LIMA, Marcelo R. de. YOSHIOKA, Maria H. Experimentoteca de solos: retenção da água pelo solo. Disponível em: http://www.escola.agrarias.ufpr.br. Acesso em 12 de Dezembro de 2009.

MAACK, Reinhard. Geografia física do estado do Paraná. Rio de Janeiro: José Olympio. Curitiba: Secretaria da Cultura e do Esporte do governo do Paraná, 1981, 450p.

MÜLLER, Nice Lecocq. A marcha do café e as frentes pioneiras, contribuição ao estudo do norte do Paraná. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/geografia/v10n1.pdf. Acesso em: 08 de março de 2010.

PREFEITURA MUNICIPAL DE MANDAGUAÇU. http://www.mandaguaçu.pr.gov.br

SOUZA FILHO, Edvard E. MORAIS, Eduardo de S. de. MONTANHER, Otávio C. Transporte e concentração de sedimentos em suspensão durante a recessão de uma onda de cheia no córrego Zororó, Mandaguaçu- PR. Disponível em: http://www.geo.ufv.br/simposio/simposio/trabalhos_completos/eixo3/074.pdf. Acesso em 20 de fevereiro de 2010.