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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

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UNIDADE DIDÁTICA

Nome do professor: Sandra Regina Denipoti de OliveiraEscola : Colégio Estadual Hugo SimasMunicípio : LondrinaDisciplina : HistóriaRelação disciplinar : História e ArteSérie : Segundo Ano da Ensino MédioTítulo : A indumentária e os novos hábitos transplantados pela corte com a vinda da família Real em 1808.Palavras-chave :Indumentária, moda, Debret, família Real.Professora Orientadora : Prof. Dra Marlene Rosa Cainelli

Nesta unidade didática iremos trabalhar com o conceito de documentos históricos. O que os alunos entendem sobre documentos históricos? A diferença entre documentos enquanto fontes históricas, (como formas de representação do passado) e documentos como provas irrefutáveis da realidade passada. Iremos discutir também como as imagens podem ser vistas como representações do passado e não meras ilustrações que tentam dar veracidade aos textos que integram os livros didáticos. Em seguida serão apresentadas imagens do artista J.B.Debret, nas quais buscou “retratar” a sociedade colonial brasileira. Iremos identificar o tipo de documento que está sendo trabalhado, e levantar o conhecimento prévio dos alunos sobre as imagens, que serão registrados para uma posterior análise sobre a produção de seus conhecimentos. Partindo do pressuposto de como se aprende e como o aluno pensa história, fundamentado na Educação Histórica, que está presente nas Diretrizes Curriculares do Paraná. O próximo passo será ir com os alunos ao laboratório de informática para realizar uma pesquisa sobre Debret, fazer uma contextualização de suas obras (momento histórico e político do Brasil e da Europa) e sobre sua vinda ao Brasil. Ao enxergarmos a história através do testemunho de artistas como Debret, que retratou o cotidiano do Rio de Janeiro no período estudado, podemos mostrar outras possibilidades de estudar a história, com registros não escritos, possibilitando enxergá-la por uma perspectiva diferente, que não a tradicional, onde as mudanças são marcadas somente na instância política e por obra e graça do herói. Pintor de história, cenógrafo das cerimônias da monarquia, estilista e membro fundador da Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro, Debret constituiu em sua obra um documento imaginético de grande relevância para a história do Brasil Imperial. Após o registro da pesquisa e “crítica” das obras apresentadas, onde serão observados os trajes, adereços e demais componentes das obras que são fontes de relato do período, faremos uma narrativa sobre moda, costumes e adereços no período estudado, seguido de um novo registro sobre as primeiras imagens apresentadas das quais foram realizadas um levantamento prévio dos conhecimentos dos alunos, iremos comparar a evolução desses conhecimentos. Para concluir a sala será dividida em grupos que realizarão diferentes trabalhos de releitura das obras apresentadas, estes trabalhos serão expostos para a escola em painéis. A avaliação será formativa, onde todas as atividades serão computadas como avaliação. Serão utilizadas duas aulas por mês, num total aproximado de oito aulas no semestre.

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Você sabe o que é documento histórico? Para que serve? Você tem em casa algum documento histórico? E o que são fontes históricas? Que tipos de fontes históricas existem? Na sua opinião um quadro ou desenho feito há 200 anos pode ser uma fonte histórica?

Em História nós temos duas designações para a palavra documento. O documento pode ser o livro didático, filmes, documentários, mapas históricos, que são produzidos com a finalidade de ensinar, passar informações. E também pode ser fonte histórica. Uma carta, um jornal, uma fotografia, música, roupas, objetos de decoração, de utilidade doméstica, imagens que retratam personagens ou cotidiano. Enfim são inúmeras as fontes históricas que podemos explorar no estudo da história. Os documentos enquanto fontes, são divididos em fontes primárias e secundárias. As fontes primárias são contemporâneas dos fatos históricos. Segundo Cainelli e Schmidt, elas podem ser de vários tipos, como no quadro a seguir:

Tipologia de fontes primáriasFontes materiais: utensílios, mobiliários, roupas, ornamentos ( pessoais e coletivos), armas, símbolos, instrumentos de trabalho, construções (templos, casas, sepulturas), esculturas, moedas, restos (de pessoas ou animais mortos), ruínas e nomes de lugar (toponímia), entre outros.Fontes escritas: documentos jurídicos (constituições, códigos, leis, decretos), sentenças, testamentos, inventários, discursos escritos, cartas, livros de contabilidade, livros de histórias, autobiografias, diários, biografias, crônicas, poemas, novelas, romances, lendas, mitos, textos de imprensa, censos, estatísticas, mapas e registros paroquiais, por exemplo.Fontes visuais: pinturas, caricaturas, fotografias, gravuras, filmes, vídeos e programas de televisão, entre outros.Fontes orais: entrevistas, gravações (de entrevistas, por exemplo), lendas contadas ou registradas de relato de viva voz, programas de rádio e fitas cassete, por exemplo.

(2004, p. 96, 97 )

As fontes secundárias são geralmente as mais utilizadas em sala de aula, são os relatos do professor, livros didáticos, mapas históricos, são fontes elaboradas por pessoas. Muitas imagens nos livros didáticos, são usadas para dar veracidade ao texto, porém sabemos que imagens e fotos são construções humanas, tendo o olhar e a intenção de quem as produziu. Se conhecermos quem a fez, quando (o momento histórico), qual era a intenção do autor, temos em mãos uma fonte a ser explorada, que nos trará informações sobre o tema ou período estudado. As imagens não cumprem apenas a função de informar ou ilustrar, mas também de produzir conhecimento, de ensinar.

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Analise as imagens e responda:

Qual a época de produção das imagens:-imagem 1:-imagem 2:-imagem 3:

Qual o autor dessas imagens?

Ilustração 1: J. B. Debret. Um funcionário à passeio com sua família.

Ilustração 2: J.B. Debret Vendedor de flores à porta de uma igreja.

Ilustração 3: J.B.Debret. Negras indo à igreja para serem batizadas.

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Em dupla responda as questões propostas:

Que tipo de fonte histórica são as imagens apresentadas?Qual período da história do Brasil as imagens reportam?O que você sabe sobre este período da nossa história? Indique características desse período.Observando as imagens, quais informações podem ser retiradas sobre o período em que foram produzidas?

Agora no laboratório de informática da escola, iremos pesquisas e registrar o resultado de nossa pesquisa em dupla. Como roteiro da pesquisa temos as perguntas:

Quem foi Debret? Porque veio ao Brasil? Qual seu estilo artístico?Porque pintou estas obras?Quando pintou?Quais acontecimentos marcavam o mundo e o Brasil naquele momento?Onde estão atualmente estas obras?Qual a intenção do artista nas obras?

Nós vimos que existem inúmeras fontes históricas, e entre elas as obras do Debret, que retratou a sociedade do Rio de Janeiro após a vinda da família real ao Brasil. Vamos analisar a moda e os hábitos, deste período, ao invés de questões políticas. Como foram modificados hábitos e principalmente vestuário, no Brasil colônia, após a chegada da família real ao Brasil em 1808.Porque a indumentária? A indumentária é uma expressão cultural, ela transmite um suporte de significados, símbolos de uma época, de uma maneira de ser, de uma mentalidade, de uma circunstância política e social. Ao tentarmos reconstruir a História com vestígios do passado, ela pode nos ajudar a entender melhor a realidade presente. Todos os registros são importantes, um objeto, uma carta, um tecido e outras coisas simples, podem formar em conjunto a imagem de uma época.

Indumentária: vestiário, vestes, vestimenta, traje, fatiota.

Em 1808, quando a família Real chegou ao Brasil, dois mundos se encontram, até então estranhos e distantes, como relata Laurentino Gomes:

“De um lado uma monarquia européia, envergando casacas de veludo, sapatos afivelados, meias de seda, perucas e galardões, roupas pesadas e escuras demais sob o sol escaldante dos trópicos. De outro, uma cidade colonial e quase africana, com dois terços da população formada por negros, mestiços e mulatos, repleta de homens de grossa aventura: traficantes de escravos, tropeiros, negociantes de ouro e diamantes, marinheiros e mercadores das Índias. (p.141, 2007).

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Ao desembarcarem no porto do Rio de Janeiro, Carlota Joaquina, as filhas e outras damas da Corte tinham os cabelos raspados, curtos ou protegidos por turbantes, devido à infestação de piolhos nos navios que havia assolado os navios durante a viagem. Tobias Monteiro conta que, ao ver as princesas assim cobertas, as mulheres do Rio de Janeiro tiveram uma reação surpreendente. Acharam que aquela seria a moda na Europa. Dentro de pouco tempo, quase todas elas passaram a cortar os cabelos e a usar turbantes para imitar as nobres portuguesas. (GOMES, p.145, 2007) As mulheres da colônia usavam roupas caseiras e despojadas, um jeito deselegante que chocou as portuguesas acostumadas a um jeito mais requintado de se vestir. A vestimenta da nobreza influenciou a maneira de vestir tanto das brancas burguesas como das escravas. Neste período a moda no Brasil passou por uma mistura, as brancas chegavam da Europa trazendo os modos franceses, as negras traziam seus mantos e cores da África, e as colonas estavam se libertando das mantilhas escuras que as excluíam da sociedade. ( MODAS e MODOS, 2008 )

TEXTO 1 Ao chegar ao Rio de Janeiro, a Corte encontrou um cenário urbano marcado pela influência dos costumes orientais. A própria arquitetura das casas coloniais trazia um traço característico dessa influência: o muxarabi. Esse era o nome árabe dado a uma estrutura plana de madeira, de moldura retangular, que revestia a fachada das casas. Como uma espécie de janela, o muxarabi era formado por uma grade de ripas entrecruzadas, chamada rótula ou gelosia, por onde a luz entrava. Quem estava em seu interior podia espiar pelas frestas do muxarabi a que se passava nas ruas. O muxarabi protegia a privacidade das mulheres da casa. Longe do olhar da rua, elas podiam vestir-se com simplicidade . Para suportar o calor, usavam um camisolão fresco e largo. Entre senhoras e mucamas havia certa intimidade: elas bordavam juntas e catavam piolhos umas das outras. Os modos orientais estavam presentes também no mobiliário e nos gestos: em casa, as mulheres costumavam passar o dia sentadas em esteiras de palha, à maneira árabe, isto é, de pernas cruzadas, no chão. Antes da chegada da Corte, as filhas e esposas dos senhores brancos viviam a maior parte do tempo dentro de casa. Elas não tinham permissão de sair à rua sozinha, e, quando saíam, era quase sempre para ir à missa. Nessa ocasião, cobriam-se dos pés à cabeça com uma mantilha pesada e escura. Assim como os muxarabis nas casas, o uso dessa mantilha nas ruas protegia-as do olhar alheio e lhes permitia ver sem serem vistas. Como sombras silenciosas, elas cruzavam os espaços da cidade, onde, por toda parte, as escravas negras trabalhavam ao sol. As únicas mulheres vistas do lado de fora eram as escravas. Os diferentes trabalhos que realizavam refletiam-se no seu modo de se vestir: lavadeiras, vendedoras, carregadoras distinguiam-se umas das outras pela sua “moda” própria. As escravas vestiam trajes simples de algodão, tingidos de azul, o corante mais barato da época. Como recebiam roupas usadas, nem sempre no tamanho de seu corpo, tinham que amarrar as pontas, arregaçar as blusas ou subir a barra das saias para ter a liberdade de movimento que o trabalho exigia. Com o rosto, os ombros, os braços e as pernas à vista, elas mostravam que , como na África, a roupa servia apenas para enfeitar ou proteger, e não para esconder. A originalidade do modo de vestir das escravas sobreviveu ao cativeiro porque a preservação de sua cultura foi muitas vezes a única forma de resistência possível. Afirmando com seu próprio corpo essa herança africana, a mulher negra tornou-se de uma beleza genuinamente brasileira. (Mulheres reais, p.15, 16 e 17, 2008) O príncipe adotou providências paroquianas, como a ordem para mudar a fachada das casas do Rio de Janeiro. Quando a corte chegou, a maioria das residências cariocas tinha janelas

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em estilo mourisco, chamadas rótulas ou gelosias. Era uma abertura na parede, protegida por treliças de madeira, com um vão na parte inferior, onde os moradores podiam observar o movimento da rua sem serem vistos. As grades de madeira impediam a entrada do sol e tornavam o interior das casas escuro e sufocante. D. João detestou esse detalhe arquitetônico. Mandou que todas as treliças fossem substituídas por vidraças, “no termo de oito dias”, segundo edital assinado no dia 11 de junho de 1809. (GOMES, p.218, 2007).

TEXTO 2

A indumentária e os novos hábitos transplantados pela corte eram exibidos nas noites de espetáculo do Teatro São João ou nas missas de domingo. Nessas ocasiões, um símbolo indiscutível de status era o número de escravos e serviçais que acompanhavam seus senhores nas ruas do Rio de Janeiro. Os mais ricos e poderosos tinham as maiores comitivas e faziam questão de exibi-las como símbolo de sua importância social. O prussiano Von Leithold diz que até as meretrizes de primeira classe – “ que não são poucas” - exibiam orgulhosas suas escoltas pelas ruas. Quem não dispunha de criados particulares, os alugava para as funções dos dias santos ou missas. “ É ponto de honra apresentarem-se com um numeroso séquito. Caminham solenes, a passos medidos, pelas ruas.” “E nos domingos e nos dias de festa que se exibem toda a riqueza e magnificiência das famílias brasileiras”, relatou o viajante inglês Alexander Caldcleugh, que esteve no Rio de Janeiro entre 1819 e 1821. “Logo cedo o dono da casa se prepara para ir à igreja, e marcha, quase sem exceção, na seguinte ordem: primeiro, o senhor, com seu chapéu alto, calças brancas, jaqueta de linho azul, sapatos de fivelas e uma bengala dourada. Em seguida, vem a dona da casa, em musselina branca, com joias, um grande leque branco na mão, meias e sapatos brancos; flores ornamentam seus cabelos escuros. Em seguida, vêm os filhos e filhas, depois as mulatinhas favoritas da senhora, duas ou três, com meias e sapatos brancos; o próximo é um mordomo negro, com chapéu alto, calças e fivelas; por fim negros dos dois sexos, com sapatos, mas sem meias, e vários sem um nem outro. Dois ou três garotos negros, mal cobertos com alguma roupa, fecham a fila.” (GOMES, p.226 e 227, 2007).

Atividade:Analise as imagens à seguir e as descreva utilizando as informações dos textos 1 e 2. Não esqueça, as imagens devem ser tratadas como fonte de pesquisa, que possibilitam investigar e questionar os períodos por elas apresentados.

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Ilustração 5: J.B.Debret. Negras livres vivendo de suas atividades

Ilustração 4: J.B.Debret Uma senhora brasileira em seu lar

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Você sabia que escravos não podiam usar sapatos?Calçar sapatos era um distintivo de classe na sociedade brasileira colonial: as brancas e as libertas podiam usá-los; as escravas, não. Mas as mucamas, que trabalhavam nas casas de pessoas mais ricas, andavam tão bem arrumadas quanto as suas senhoras, e ostentavam roupas, joias em ouro e sapatos com ou sem fivelas. (MODA E MODOS, p19, 2008)

Entre as mudanças empreendidas com a vinda da família Real ao Brasil, podemos citar os hábitos das mulheres brancas, que antes viam o mundo através de suas mantilhas e treliças das janelas, as rótulas. A missa deixa de ser o único espaço de convivência social, as festas e os saraus nas residências, os teatros e restaurantes, ampliam os espaços sociais. A abertura dos portos traz artigos de luxo importados da França e da Inglaterra, entre eles novos tecidos. Essas senhoras copiam os modos de vestir das damas da nobreza. As mantilhas, assim como as rótulas começam a desaparecer. Porém o desejo de ostentar a riqueza e imitar as nobres faz com que o exagero tomasse conta da moda entre as brasileiras. Também fazia parte da demonstração de riqueza, a maneira como as mucamas (escravas domésticas) se vestiam, ou eram vestidas por suas donas, praticamente cópias destas. A população e o comércio aumentaram com a chegada da corte, e ganha destaque a presença das escravas de ganho. Estas vendiam pão-de-ló, angu, doces e outros produtos na rua, pagavam um aluguel aos seus senhores e conseguiam muitas vezes comprar sua alforria. Elas vestiam-se com tecidos coloridos, de uma maneira atrativa. Usavam os panos-da-costa que serviam para carregar bebês, mercadorias, colocar no chão, ou seja, eram multiuso. Usavam também o rojão, uma tira de tecido usada no baixo ventre para sustentar o corpo nas atividades que exigiam força, dai a expressão “segurar o rojão”. Como as escravas de ganho conseguiam ganhar dinheiro, mas não podiam adquirir propriedades, elas usavam o ouro como uma forma de poupança, para depois vender e comprar a liberdade. Essas joias e amuletos eram mais que ornamentos, podiam significar conquista, além de proteção contra o mal olhado. O uso desses balangandãs além de ornamentos e

Ilustração 6: J.B.Debret. Loja de rapé.

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proteção tinham um significado de conquista social e econômica. Muitos africanos artífices de ouro entraram escravizados no Brasil, e através da joias que faziam introduziram valores culturais e objetos africanos na ourivesaria colonial.

A grande variedade da joalheria africana está mesmo por conta das Pencas de Balangandãs, o sincretismo religioso está presente nelas. Mostra também a questão da resistência e pedido de união entre os mais fracos. Nas pencas, podemos encontrar facilmente os seguintes objetos estilizados: - berimbau - balangandã evocativo que lembra o amor dos negros pela música; - cabaça – usada como panelinhas pelas crianças escravas. Simboliza os IBEJES ou ERES, espíritos infantis irreverentes; - figa – objeto fálico, atraente do amor. Com a chave dentro da mão, simboliza XANGÔ e seu poder de abrir portas. Quando isolada, serve de proteção contra mau-olhado e inveja; - pinha – fruta do conde representa a união dos negros, OGUM, o grande guerreiro, está relacionado com esta fruta. - caju – a castanha lembra um pequeno falo, simboliza masculinidade; - romã – fertilidade, pela abundância das sementes. O escarlate do seu interior evoca a guerreira IANÇA (conhecida com Santa Bárbara); - concha d'água – evoca OXUM, rainha das águas doces; - abacaxi – OMULU é evocado por esta fruta. É o orixá curador de doenças. Conta a tradição que tal orixá teria tido varíola, por isso é representado com o rosto coberto com tiras de palha. Foi associado ao abacaxi por causa de sua casca espinhosa; - pombas – simboliza a Espírito Santo, a Paz. A Igreja Católica que combatia o uso de amuletos tornava-os artigos religiosos ao benzê-los.

(OZANAN, p.68, 2003)

Você sabia de que costa vem o pano-da-costa?O pano-da-costa é uma peça fundamental da indumentária da mulher negra desde antes da chegada da família real. Contudo, este tecido não é pano-da-costa porque fica nas costas das negras, e sim por ser procedente de um lugar específico da costa africana, chamado Costa da Mina, no Golfo da Guiné. Assim como este tecido, havia vários outros oriundos desta costa, como a pimenta, a palha e o sabão. (MODOS E MODAS, p.20, 2008)

Atividade:A forma como a baiana é representada no carnaval ou usa trajes para vender acarajé é uma permanência deste período, dos trajes das negras escravas, que herdavam suas roupas das suas senhoras e faziam suas adaptações conforme suas necessidades, crenças e cultura. Identifiquem no desenho a seguir essas características herdadas e explique o significado das mesmas.

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Ilustração 1: Desenho de Ivan Wasth Rodrigues in www.africasaberesepraticas.blogspot.com/2009/10

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As mudanças provocadas pela adoção da moda européia passam por cuidados com a higiene, novos costumes como o uso de talheres, roupas adequadas para as ocasiões distintas, horários e idade. Estes novos modos serviam para a sociedade colonial se nivelar aos europeus e se distanciarem do resto da população, os pobres e os escravos. Assim como hoje a moda servia como distinção social, demarcando o lugar ocupado por cada um na sociedade. Atualmente entre os jovens o vestuário serve para classificar grupos, relações de amizade e nos relacionamentos afetivos. Roupas, calçados, acessórios, penteados, maquiagem e outros, formam imagens que buscam unir membros de um mesmo grupo. Os jovens, na generalidade são influenciados pelo mundo da moda, porque receiam ser rejeitados pelos seus grupos. “A moda sempre foi um fator de inserção social, funcionando como um “código” de identificação, levando ao pertencimento ou exclusão de determinados grupos. Os jovens, devido a uma forte influência da mídia e de uma indústria cultural muitas vezes perversa, ao invés de usarem estes códigos como ferramentas, são subjugados por eles, colocando-os acima de sua própria personalidade. É uma obrigação estar dentro de certos padrões. Esta interpretação errônea de vestimenta e das inúmeras possibilidades que ela oferece leva quase sempre à frustração e a alienação. (VALENTE, 2007)

Sobre as imagens 1, 2 e 3 responda:Que tipo de fonte histórica é as imagens apresentadas?Qual período da história do Brasil as imagens reportam?O que você sabe sobre este período da nossa história? Indique características desse período.Observando as imagens, quais informações podem ser retiradas sobre o período em que foram produzidas?Agora vamos comparar com as respostas registradas no início da unidade.Atividade de conclusão de unidade:Artista viajante que revelou personagens e costumes nas ruas do Rio de Janeiro, Jean-Baptiste Debret, retratou a realeza e a beleza das mulheres de sua época. Suas aquarelas e desenhos registram roupas, adereços, detalhes de penteados, joias... Após conhecermos algumas de suas obras, vamos dividir a sala em grupos que irão realizar trabalhos diferenciados para expormos em um painel:O primeiro grupo irá redesenhar alguns dos trajes presentes nas obras aqui analisadas e adaptá-las a moda atual, mostrando as permanências e mudanças ocorridas nestes 200 anos.O segundo grupo irá fotografar trajes e acessórios atuais que revelam estas mudanças e permanências.O terceiro e quarto grupo farão uma releitura das imagens 1 e 4 respectivamente.

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