O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

SECRETARIA DO ESTADO DE EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS

COORDENAÇÃO ESTADUAL DO PDE

Material Didático para Intervenção Pedagógica na Escola

CRÔNICAS: Pequenos Detalhes, Grandes Lições.

a) DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:

Professor PDE: Maria Kluskonski

Área PDE: Língua Portuguesa

NRE: Guarapuava

Professora Orientadora: Raquel Terezinha Rodrigues

IES vinculada: UNICENTRO

Escola de Implementação: Colégio Estadual Professor Pedro Carli – EFM

Público objeto da intervenção: 7ª série – Ensino Fundamental

Tema de estudo: Crônicas – Literatura.

Material: Unidade Didática

1

2

1. Você é detalhista? Observe as imagens:

2. Após a análise das imagens, responda as questões:

O que as imagens retratam?

Que sensações as imagens provocaram em você?

Você já vivenciou cenas como essas no teu cotidiano? Comente.

As imagens que você analisou retratam fatos do cotidiano. E falando em cotidiano, você

já parou para pensar na imensidão de textos que circulam diariamente por aí? São jornais,

revistas, livros, televisão, panfletos, propagandas, textos informativos, histórias em

quadrinhos, histórias de amor, histórias tristes, alegres, emocionantes, histórias que nos fazem

pensar na vida... Ah! E por falar em pensar nos fatos da vida, que tal conhecer melhor um tipo

de texto que nos leva a reflexão sobre o nosso dia a dia? “CRÔNICAS”.

3

Derivada do latim Chronica e do grego Khrónos (tempo), a palavra crônica é o registro de

acontecimentos, num tempo e espaço determinados.

O primeiro cronista do Brasil foi Pero Vaz de Caminha, a carta dele ao Rei D. Manuel

configura-se como sendo a criação de um cronista no melhor sentido literário do termo.

Foi no decênio de 1930 que a crônica moderna se definiu e consolidou no Brasil como gênero

bem nosso, cultivado por um número crescente de escritores.

Crônica é um texto curto e narrado em primeira pessoa. Pequeno conto baseado em algo do

cotidiano.

Conta um fato do cotidiano, utilizando-se de enredo, poucas personagens, o espaço e o tempo

são limitados, o narrador pode ser observador ou personagem, apresentando linguagem

simples e espontânea.

A crônica consegue transformar a literatura em algo íntimo com relação à vida de cada um.

Pega o miúdo e mostra nele uma grandeza singular. Ensina a viver intimamente com a

palavra.

No Brasil, muitos escritores escrevem crônicas para jornais e revistas. Quando elas

não são publicadas em livros, elas têm vida breve, pois são substituídas por outras já na

próxima edição do jornal ou da revista. Quando esses textos são publicados em livros,

tornam-se imortais e passam a pertencer ao gênero literário CRÔNICAS. É o que aconteceu

com as crônicas de FERNANDO SABINO.

4

Quer conhecer melhor esse escritor?

Dirija-se ao Laboratório de Informática com o professor e pesquise. Nos endereços

abaixo, você encontra muita coisa interessante sobre a vida e a obra desse grande cronista

brasileiro.

http://www.releituras.com/fsabino_bio.asp

http://www.fernandosabino.kit.net/cronologia.htm

http://www.fernandosabino.kit.net/index2.htm

http://www.youtube.com/watch?v=on66qzbsnBM&feature=related

Para realizar a pesquisa, siga o roteiro:

Nome completo, local de nascimento, ano.

Quando iniciou sua carreira como escritor.

Sua primeira e mais importante obra literária.

Como eram seus personagens?

Características de sua obra.

Ano em que faleceu.

Observações que você considera interessantes sobre a vida e as obras de Fernando

Sabino.

Vale a pena ler!

Procure na Biblioteca de sua escola o livro: O MENINO DO ESPELHO - Nesse livro

Fernando Sabino nos conta sobre a sua infância em Belo Horizonte na década de 20. A

história é narrada, com sotaque mineiro, pela criança Sabino e, portanto bastante fantasiosa,

onde todo seu mundo imaginário é relatado com muita simplicidade. O autor, cuja identidade

5

secreta era Odnanref narra, por exemplo, como, depois de um sonho, aprendeu a voar como os

pássaros, como ensinou uma galinha a falar, sua visita ao sitio do Pica Pau Amarelo, fala de

seus animais de estimação como seu cachorro Hindenburgo e seu coelho Pastoof, suas

brincadeiras com sua amiguinha Mariana. Fernando brinca e conversa com seu espelho até

que seu reflexo ganha vida e se torna um grande amigo. O escritor conta todas suas peripécias

para tentar salvar sua galinha Fernanda da panela, como brigar com a empregada, escondê-la,

etc. Um livro lindo que nos faz rir e chorar onde a pureza e a ingenuidade são preservadas

com muito humor e alegria. http://medei.sites.uol.com.br/penazul/geral/entrevis/sabino.htm -

apresenta uma interessante entrevista com Fernando Sabino.

CONTEXTO HISTÓRICO SOCIAL: 1923 a 2004

A década de 1930 e os primeiros anos de 1940 caracterizam-se por profundas

modificações no cenário nacional:

- Queda do preço do café;

- Dissolução do Congresso Nacional (nomeação de interventores federais);

- Greves operárias em todo país;

- Getúlio Vargas é eleito presidente do Brasil;

- Início da segunda Guerra Mundial;

1945 – Getúlio Vargas é deposto e termina a Segunda Guerra Mundial;

1954 - Getúlio Vargas se suicida;

1960 – Inauguração de Brasília;

1989 – Fernando Collor de Mello é eleito presidente do Brasil;

A década de 90 e início do séc. XXI, período de grandes transformações no país.

No site: http://www.suapesquisa.com/musicacultura/anos_90.htm, você encontra mais

informações sobre a época em que Fernando Sabino viveu. Vale a pena conferir!

6

Vamos conhecer algumas crônicas desse inesquecível cronista brasileiro?

TEXTO Nº. 1

Pré-leitura:

1. Procure em revistas, jornais ou outras fontes, imagens que retratem crianças

trabalhando em diversos tipos de atividades como: no trânsito, nas ruas (pedintes),

carvoarias, plantação canavieira, outras. Analise essas imagens, observando os

detalhes (olhar da criança, postura, semblante...).

2. Registre suas conclusões.

Leitura:

Na escuridão miserável

Fernando Sabino

Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me

observava enquanto punha o motor em movimento. Voltei-me e dei com uns olhos grandes e

parados como os de um bicho, a me espiar através do vidro da janela junto ao meio-fio. Eram

de uma negrinha mirrada, raquítica, um fiapo de gente encostado ao poste como um

animalzinho, não teria mais que uns sete anos. Inclinei-me sobre o banco, abaixando o vidro:

- O que foi minha filha? - perguntei, naturalmente, pensando tratar-se de esmola.

- Nada não senhor - respondeu-me, a medo, um fio de voz infantil.

- O que é que você está me olhando aí? - Nada não senhor (...)

Texto disponível no site: http://www.quemtemsedevenha.com.br/na_escuridao_miseravel.htm

7

Você sabia?

Jardim Botânico e Praia do Pinto são dois bairros do Rio de Janeiro. Pela importância

histórica, cultural, científica e paisagística, o Jardim Botânico é tombado pelo Instituto do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e sua área foi definida pela UNESCO como área de

Reserva da Biosfera. http://www.jbrj.gov.br/institu.htm - 08/03/10

A favela da Praia do Pinto foi definitivamente extinta em 1970 após um incêndio de

grandes proporções - para muitos, intencional - que destruiu boa parte da comunidade.

“O incêndio foi uma saída dos poderosos para evitar o conflito com os moradores e

forçá-los a sair de suas casas. Conheço gente que nunca mais estudou porque onde foi

morar não tinha nem colégio”, afirma Monega.

http://www.favelatemmemoria.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=4&infoid=84

acesso em 08/03/10

3. A partir das dicas apresentadas abaixo, comente com seus colegas e com o professor

sobre a estrutura da crônica, localizando no texto trechos que comprovem as

afirmativas abaixo.

A narrativa se organiza em torno de um tema.

Fatos do cotidiano são revelados por meio do uso de marcas de tempo e lugar determinados, apresentando personagens comuns do dia a dia.

O narrador – personagem deixa transparecer seu sentimento de indignação e revolta, envolvendo o leitor.

Expressões de conversa familiar trazem aspectos de oralidade para a escrita.

A narrativa em primeira pessoa aproxima o autor do escritor.

8

Trocando ideias, treinando a oralidade e a escrita:

1. O que você sentiu ao ler o texto? Fatos como os que aparecem no texto, acontecem

em nossa sociedade? Comente sobre as atitudes da patroa, da menina e do motorista.

2. Por que os direitos das crianças não são respeitados pela sociedade? Quais as

consequências disso?

3. Registre as ideias que você achou interessantes.

Pós-Leitura:

1. Você é uma criança. Sonha com um mundo mais justo, humano e fraterno. Um

dia, encontra um ser extraterrestre que tem o poder de transformar sonhos em

realidade. Como seria o mundo a partir da sua ótica? Demonstre seu mundo por

meio de pinturas, desenhos, colagens, mosaicos, poesia, etc.

TREINANDO PARA SE TORNAR UM CRONISTA:

Circulando por aí, na escola, na rua, em sua casa, em qualquer lugar que julgar

interessante, pare, observe, capte um momento especial que ocorreu com uma criança. Algo

corriqueiro, banal ou extraordinário. Anote esse acontecimento lembrando de registrar os

detalhes da cena.

Intervalo - ampliando horizontes:

1. Assista aos vídeos que mostram os direitos da criança de uma maneira fácil e

divertida de entender. http://www.youtube.com/watch?v=LJr0jIHiKZE

2. No endereço abaixo você encontrará vídeos que demonstram a visão infantil acerca

do mundo, das coisas e das pessoas, encontra também cenas que retratam a exploração que

muitas sofrem devido a ganância de pessoas que se preocupam somente com o seu bem-estar.

. http://www.youtube.com/watch?v=CQswJT7qOKI

3. Na crônica “Dez minutos de idade”, Fernando Sabino captou com muita

sensibilidade o momento do nascimento de uma criança, levando-nos a uma reflexão profunda

sobre a vida e as várias facetas que ela apresenta.

9

Dez Minutos de Idade

A enfermeira surgida de uma porta me impôs silêncio com o dedo junto aos lábios e

mandou-me entrar. Estava nascendo. Era um menino.

Nem bonito, nem feio; tem boca, orelhas, sexo e nariz no devido lugar, cinco dedos

em cada mão e em cada pé. Realizou a grande temeridade de nascer, e saiu-se bem da

empreitada. Já enfrentou dez minutos de vida.

Ainda traz consigo, nos olhinhos esgazeados, um resto de eternidade. Portanto

alegremo-nos. A vida também [...] http://pastelzinho.blogspot.com/2008/03/sabino.html Você

também encontra esta crônica no livro: As melhores crônicas de Fernando Sabino – 50

textos escolhidos pelo autor, de autoria de Fernando Sabino.

4. Na crônica Nascer de Carlos Drummond de Andrade escrita em 1971, o autor

demonstra a esperança vivida por muitos pais que esperam ansiosos a chegada do primeiro

filho, mas o nascimento é interrompido pela falta de humanidade e respeito de muitos adultos

que não valorizam a vida, principalmente dos menos favorecidos.

Nascer

O filho já tinha nome, enxoval, brinquedo e destino traçado. Era João, como o pai, e

como aconselhavam a devoção e a pobreza. Enxoval e brinquedo de pobre, comprados com a

antecedência que caracteriza não os previdentes, mas os sonhadores. E destino, para não dizer

profissão, era o de pedreiro, curial ambição do pai, que, embora na casa dos 30, trabalhava

ainda de servente. Tudo isso o menino tinha, mas não havia nascido. Eles nascem antes [...]

Você pode ler esta e outras lindas crônicas no livro: Antologia da crônica brasileira – de

Machado de Assis a Lourenço Diaféria, organização e apresentação de Douglas Tufano,

disponível na biblioteca de sua escola. Ou Acesse:

http://www.limacoelho.jor.br/vitrine/autor.php?autor=Carlos%20Drummond%20de%20Andr

ade

10

TEXTO Nº. 2

Pré-leitura:

O que as cores abaixo lembram para você? Que tal registrar aqui?

1. Comente sobre as tuas anotações, comparando-as com as dos demais colegas.

Leitura:

Preto e Branco

Fernando Sabino

Perdera o emprego, chegara a passar fome, sem que ninguém soubesse: por

constrangimento, afastara-se da roda boêmia que antes costumava freqüentar - escritores,

jornalistas, um sambista de cor que vinha a ser o seu mais velho companheiro de noitadas.

[...]

[...] Não teve mais dúvidas: virou a cara quando o outro se aproximou e fingiu que não o via,

que não era com ele.

E não era mesmo com ele. Porque antes de cumprimentá-lo, talvez ainda sem tê-lo visto, o

sambista abriu os braços para acolher o americano - também seu amigo.

Leia o texto na íntegra, acessando o endereço:

http://cacosmeusbotoes.blogspot.com/2007/08/outras-crnicaspreto-e-brancofernando.html

BRANCO

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

PRETO

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

11

Fique por dentro!

Praticando a oralidade e expondo suas ideias:

O preconceito racial existe desde os primórdios da humanidade. No decorrer da

história muita gente perdeu a vida por ser negro. Hoje ainda há pessoas que discriminam o

outro pela sua condição social, raça, religião, esquecendo-se de que o valor de um ser humano

não pode restringir-se a coisas tão insignificantes. A vida é um dom maravilhoso e todo ser

humano merece viver de maneira digna, justa e igualitária. E você o que pensa sobre isso?

Outra questão que podemos analisar após ler este texto é o valor da amizade. A atitude

do amigo do sambista (ex - desempregado) merece atenção. O que você tem a dizer sobre

isso?

Analisando... refletindo e opinando:

1. Releia a crônica, com seus colegas e com o professor, analisem o comportamento

das personagens, completando o quadro abaixo:

Personagens Características Comportamento apresentado

Knut Hamsun – Foi um escritor norueguês que começou a trabalhar para o tio com três anos de idade para pagar uma dívida do pai. Era uma criança solitária. O tio não o deixava brincar com outras crianças. Lia livros para aliviar a solidão. Um grande sucesso de Knut Hamsun é o livro O LEITOR.

12

2. Se você encontrasse esses personagens, o que diria a cada um deles? Registre na tabela

abaixo:

Sambista Americano Ex - desempregado

3. E você, que atitude tomaria se em algum momento, se encontrasse na situação do ex

empregado?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Pós-leitura:

Na crônica “Preto e Branco” o autor abordou um problema sério

(discriminação racial), de maneira simples e bem humorada, levando-nos a refletir sobre o

assunto. Transforme o texto em uma história em quadrinhos, modificando o final da mesma.

Compilando opiniões:

As pessoas que convivem conosco certamente tem muito a nos dizer sobre a temática

abordada no texto “Preto e Branco”. Entreviste familiares, professores, vizinhos ou amigos.

Sugestões de questionamentos: (você pode acrescentar outros, se preferir).

a) Profissão, idade, raça.

b) O que você pensa sobre a discriminação racial?

c) E sobre a amizade, qual o teu conceito de “verdadeiros amigos”?

13

Socializando ideias:

Numa roda de conversa em sala de aula socialize a entrevista, comentando e

comparando os dados coletados.

Intervalo / ampliando horizontes:

1. Luís Fernando Veríssimo, em sua crônica Racismo, condena toda e qualquer forma de

racismo, elucidando algumas questões e conduzindo a uma reflexão profunda sobre o

assunto.

Preconceito racial e discriminação racial são duas coisas diferentes. O

preconceito é um sentimento, fruto de condicionamento cultural ou de uma

deformação mental...

Leia o texto completo:

http://cronicasbrasil.blogspot.com/2007/04/racismo-luis-fernando-verssimo.html

2. A canção Amizade Sincera de Renato Teixeira e Dominguinhos conduz-nos a uma

reflexão profunda sobre o que é ser amigo.

A amizade sincera é um santo remédio

É um abrigo seguro

É natural da amizade

O abraço, o aperto de mão, o sorriso...

Quer ouvi-la na íntegra? Acesse: http://letras.kboing.com.br/renato-teixeira/amizade-sincera/

TexTo Nº. 3

Pré-leitura:

Vamos conversar sobre a vida? As frases abaixo foram retiradas da música (samba): O que é,

o que é do grande cantor da MPB Gonzaguinha, lançada em 1982 (sob a orientação do

professor escolha uma frase, leia e comente-a com os colegas):

14

Eu fico com a pureza da resposta das crianças: É a vida! É bonita e é bonita!

Viver e não ter a vergonha de ser feliz.

Cantar, e cantar, e cantar, a beleza de ser um eterno aprendiz.

E a vida o que é, diga lá, meu irmão? Ela é a batida de um coração?

Há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo.

É uma gota, é um tempo que nem dá um segundo.

Há quem fale que é um divino mistério profundo,

É o sopro do criador numa atitude repleta de amor.

Você diz que é luta e prazer, ele diz que a vida é viver.

Somos nós que fazemos a vida, como der, ou puder, ou quiser.

Ouça a música completa acessando o site:

http://www.youtube.com/watch?v=ciw3WEoZMYQ

Leitura:

No texto que leremos agora, o autor, sutilmente ensina-nos que a vida é maravilhosa

quando a encaramos com amor e simplicidade, transformando pequenos acontecimentos em

momentos muito especiais.

A Última Crônica

Fernando Sabino

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na

realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar

15

inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no

cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso

conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. [...]

[...] Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de

mármore...

Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.

Texto extraído do livro "A Companheira de Viagem", Editora do Autor - Rio de Janeiro,

1965, pág. 174. Disponível também em http://intervox.ufrj.br/~jobis/s-ult.html (15/03/2010)

É bom saber...

A Gávea é um bairro da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, localizado entre a encosta do

Morro Dois Irmãos e a Lagoa Rodrigo de Freitas. A vizinhança é majoritariamente de classe

média-alta e alta e o comércio local é um dos mais caros e mais sofisticados da cidade.

http://pt.wikipedia.org/wiki/G%C3%A1vea_(bairro_do_Rio_de_Janeiro).

Relembrando e praticando a oralidade: No texto “A Última Crônica”, Fernando Sabino enumera algumas características da

crônica:

busca do pitoresco, do irrisório, no cotidiano de cada um;

captação de aspectos humanos na vida diária;

Na crônica que você leu o autor cita o verso: Assim eu quereria o meu último poema. Esse verso faz parte do lindo poema de Manuel Bandeira - O ÚLTIMO POEMA. Leia – o na íntegra: http://www.releituras.com/mbandeira_ultimo.asp

16

vislumbre do circunstancial, do episódico, do acidental;

o escritor como espectador, captando a essência de um fato, com o olhar fora de si.

Sob a orientação do professor, localize no texto, frases que comprovem as afirmações

acima.

Analisando – refletindo – registrando...

Leia com atenção as questões abaixo, analise-as, registre suas ideias e socialize-as com a

turma:

1. Esta crônica chama a atenção do leitor? É interessante? Por quê?

2. Existe alguma relação entre a situação vivida pela família da crônica e os nossos dias?

3. Você seria capaz de buscar, num fato do seu dia a dia, momentos de fraternidade e

sensibilidade e nele descobrir suas belezas?

4. Nesse texto há idéia de discriminação?

5. O acontecimento da crônica ocorreu num cenário e envolveu pessoas? Em que

cenário? Descreva o botequim?

6. Quais são as personagens envolvidas no episódio narrado?

7. Em sua opinião o constrangimento do pai, ao perceber que estava sendo notado, é

normal?

8. Apesar da dificuldade financeira, podemos destacar sentimentos nobres na relação

daquela família? Cite alguns.

Pós–leitura:

Captando e registrando detalhes:

O autor afirma não haver ninguém, além dele, a observar o trio. Este comentário é uma

indicação do olhar diferenciado do cronista, sujeito capaz de observar detidamente uma cena

cotidiana e retirar dela algo geral, profundo e belo.

Imagine-se no botequim observando outras mesas, outra cena... O que você registraria

de profundo e belo do acontecimento observado? Registre no caderno. Se preferir, pode

ilustrar.

17

Intervalo / ampliando horizontes

Os dois textos a seguir abordam a mesma temática de “A última crônica”, com

enfoques diferentes. Vale a pena conhecê-las e compará-las:

Festa de Aniversário

Alessandra Mascarenhas

Era noite, ela estava dentro de seu carro estacionado numa rua do bairro pobre.

Aguardava alguém. Olhava ao redor, distraída, observando as casas simples, de paredes

descascadas pelo tempo...

... e havia três crianças ao redor de um humilde bolo, com uma pequena vela acesa em

cima. Três crianças vestidas de forma simples, com agasalhos rotos e gorrinhos de lã (....)

http://www.varaldaliteratura.ale.nom.br/literatura.php?id=114

Festa de aniversário

Jorge Azevedo

O servente chegou no playground. Parou estupefato...

No dia anterior houve festa de aniversário. Festa de 3 anos, filho da psicóloga,

moradora do 8º andar. O salão de festa ornado com alegria, músicas e cores. Crianças felizes,

pais saciados pelas bandejas de salgados, garçons servindo cerveja, vinho, uísque. O palhaço

de um lado, a contadora de estória do outro. A mãe feliz, vaidosamente vestindo um conjunto

de seda com estampas suaves de flores havaianas, o cabelo armado num coque encimado por

uma rosa dourada, a sandália de salto fazendo-a mais alta. O pai de bermuda branca,

externando esportividade. Camisa de linho bem passada, com um brasão no bolso, externando

fidalguia, o relógio Rolex dourado, demonstrando riqueza, cabelos e barba impecáveis,

acentuando vaidade...

http://www.gostodeler.com.br/materia/9701/festa_de_aniversario.html

18

Tornando-se um cronista...

Agora você é o escritor...

Lembra da pergunta no início desta unidade?

Você é detalhista?

Responda-a agora produzindo a sua crônica.

Abra a janela, observe a paisagem, saia de casa, caminhe, converse com as pessoas,

ouça os sons, ruídos, conversas, entre em contato com a infinidade de coisas que acontecem

ao seu redor. Tudo pode ser assunto para uma crônica, um simples detalhe pode motivá-lo a

escrever!

É importante que o tema escolhido desperte o seu interesse, cause em você alguma

sensação interessante: entusiasmo, horror, desânimo, indignação, felicidade… Isso pode

ajudá-lo a escrever uma crônica com maior facilidade.

Coloque a criatividade em ação para criar seu próprio estilo. O estilo é a marca

registrada de um escritor, de um bom cronista. Concentre-se! Escreva! Leia! Reescreva!

Pratique!

Vamos lá, com certeza a versão final de seu texto ficará sensacional e a estrela será

você.

Finalizando esta unidade, reflita sobre a frase de Fernando e procure viver de maneira

que a sua marca fique por onde você passar:

19

REFERÊNCIAS:

COSSON, Rildo. Letramento Literário: Teoria e Prática. São Paulo, S.P. Editora Contexto.

2007.

SÁ Jorge de. A Crônica. São Paulo, S.P. Série Princípios – 3ª edição – Editora Ática. 1987.

SABINO, Fernando. A companheira de viagem. Rio de Janeiro, RJ. Ed. Record. 2002.

SABINO, Fernando. As melhores crônicas de Fernando Sabino. Rio de Janeiro, RJ. 1ª edição.

BestBolso. 2008.

SABINO, Fernando. O menino no espelho.Rio de Janeiro, RJ. 50ª edição. Ed. Record. 1997.

TUFANO, Douglas.Antologia da Crônica Brasileira: De Machado de Assis a Lourenço

Diaféria. São Paulo. S.P. 1ª edição. Moderna. 2005.

OUTRAS REFERÊNCIAS:

1. http://www.releituras.com/fsabino_bio.asp

2. http://www.fernandosabino.kit.net/cronologia.htm

3. http://www.fernandosabino.kit.net/index2.htm

4. http://www.youtube.com/watch?v=on66qzbsnBM&feature=related

5. http://medei.sites.uol.com.br/penazul/geral/entrevis/sabino.htm

6. http://www.suapesquisa.com/musicacultura/anos_90.htm

7. http://www.quemtemsedevenha.com.br/na_escuridao_miseravel.htm

8. http://www.jbrj.gov.br/institu.htm

9.

http://www.favelatemmemoria.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=4&infoid=84

10. http://www.youtube.com/watch?v=LJr0jIHiKZE

20

11. http://www.youtube.com/watch?v=CQswJT7qOKI

12.

http://www.limacoelho.jor.br/vitrine/autor.php?autor=Carlos%20Drummond%20de%20Andr

ade

13. http://cacosmeusbotoes.blogspot.com/2007/08/outras-crnicaspreto-e-brancofernando.html

14. http://cronicasbrasil.blogspot.com/2007/04/racismo-luis-fernando-verssimo.html

15. http://letras.kboing.com.br/renato-teixeira/amizade-sincera/

16. http://intervox.ufrj.br/~jobis/s-ult.html

17.http://pt.wikipedia.org/wiki/G%C3%A1vea_(bairro_do_Rio_de_Janeiro).

18. http://www.releituras.com/mbandeira_ultimo.asp

19. http://www.varaldaliteratura.ale.nom.br/literatura.php?id=114

20. http://www.gostodeler.com.br/materia/9701/festa_de_aniversario.html

21. http://www.youtube.com/watch?v=ciw3WEoZMYQ