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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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Page 1: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · Ao ler a poesia de Carlos Drummond de Andrade, ... Quem não gosta de ouvir e contar histórias? Quem nunca contou uma história, um acontecimento,

O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

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ME I

I

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IDENTIFICAÇÃO DO FOLHAS

NRE: jacarezinho MUNICÍPIO: Carlópolis

Nome do Professor: Ana Luiza Menezes Bueno

e-mail: [email protected]

Escola: Escola Estadual Professora Hercilia de Paula e Silva – Ensino

Fundamental Fone: (43) 3566-1282

Disciplina: Língua Portuguesa Série: 6ª. série do Ensino Fundamental

Profª orientadora IES: Vanderléia da Silva Oliveira

Conteúdo Estruturante: Discurso – oralidade, leitura e escrita.

Conteúdo Específico: Leitura e escrita

Título: Contação de histórias

Relação interdisciplinar 1: História Colaborador 1: Silvana Banik Rocha

Relação interdisciplinar 2: ..Artes Colaborador 2: .Elisiane Varasquim

(Disponível em: www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/.../viewcat.php?cid=7 )

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QUEM CONTA UM CONTO AUMENTA UM PONTO...

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PARTE I – PUXANDO PELA MEMÓRIA...

Não são apenas as histórias dos livros que podem ser contadas. As

histórias da vida das pessoas também nos fazem viajar por épocas e lugares

diferentes. Ainda mais quando, nessas histórias, um personagem é alguém que

conhecemos.

A Poesia também é uma das formas de contar histórias e valorizar

memória. Ao ler a poesia de Carlos Drummond de Andrade, Confidência do

Itabirano, lembramos de nossas memórias assim como lembramos de pessoas

e de feitos históricos.

Então, leia um fragmento do poema citado: Confidência do Itabirano

Alguns anos vivi em Itabira.Principalmente nasci em Itabira.Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.Noventa por cento de ferro nas calçadas.Oitenta por cento de ferro nas almas.E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;este orgulho, esta cabeça baixa...(...)(ANDRADE, C. D. de. Confidências de Itabirano. In: _____. Antologia Poética. 38.ed. Rio de Janeiro: Record, 1998)

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Quem não gosta de ouvir e contar histórias? Quem nunca

contou uma história, um acontecimento, uma viagem?

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Leia também o soneto – O golpe 1964, do poeta João Marinho Delize:

Em trinta e um de março de sessenta e quatro.Nesta época eu estava estudando o quarto ano,Numa tarde bem quente em que estava na roça,Eu escutei na cidade alguns rojões estourando.

O golpe estava deflagrado lá no Rio de Janeiro.O país quase inteiro, aquela revolução apoiava,Porque tinham muito medo do tal comunismo,Que com muito cinismo, a nossa elite propagava.

Foram vinte anos de trevas, mentiras e prisões,Se falasse a verdade, vinham as perseguiçõesE só tinham razão, quem este golpe apoiasse.

Os intelectuais que não aceitaram as mentiras,Então pelos tiras eram torturados e até mortos.Pois o poder temia, que a verdade triunfasse.

(http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=29935)

Atividade:

a) Agora, escreva você alguns versos de suas lembranças sobre

algum lugar e sobre momentos tristes e alegres pelos quais tenha passado.

b) Faça também uma pesquisa em livros de história e depois uma

entrevista com pessoas que tenham vivido essa época de 1964, escreva

tudo que descobriu com fatos relacionados a nossa historia . Em seguida,

conte em sala de aula um dos fatos que ouviu ou pesquisou e achou muito

interessante, sem ler o que escreveu.

PARTE II – OUVIR E NARRAR....

Após ter lido os poemas, que tal ler um texto escrito pela aluna

Claudiane Salles, a partir de uma história contada por sua avó, Artézia Teixeira

de Oliveira?

Vamos a ela!

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REVOLUÇÃO DE 32

Minha avó conta que na Revolução de 1932, as tropas gaúchas que

dirigiam-se à divisa dos Estados do Paraná e São Paulo, passavam pelos

sítios e iam pegando os animais (cavalos, mulas) na pastagem e levavam para

substituir os já cansados da viagem.

Conta ainda que, chegaram ao sítio de seus pais, onde estava

somente sua mãe (minha bisavó) as duas filhas e meu bisavô que estava

trabalhando distante da casa.

O chefe do grupo foi dando ordens:

__ Peguem aquela égua, parece ser forte.

Minha bisavó, que era uma senhora muito disposta e esperta, de

seus quarenta anos, não hesitou em interferir:

__ Ótima escolha, vão desocupar o pasto, pois essa égua quando

empaca não há quem faça sair do lugar.

Imediatamente soltaram a égua, que era a melhor do pasto e

pegaram outra que era xucra. (Claudiane Salles, 6ª série, E. E.P Hercilia de Paula e Silva, 2005)

Agora, veja também a ilustração abaixo, feita pela aluna Claudiane

Salles , que nos remete ao episódio narrado.

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Atividades

1. A partir da leitura do texto da Revolução de 1932 e de uma conversa com

o professor e com seus colegas, produza um texto onde você seja o narrador

e o que faria para que as tropas gaúchas não levassem seus animais.

2. Pesquise e diga a seus colegas porque aconteceu a Revolução de 1932.

3. Faça uma entrevista com pessoas da comunidade que tenha vivido essa

época de 1964 e descubra fatos relacionados à história e depois escreva

tudo que descobriu. Em seguida, conte para seus colegas de turma um dos

fatos que ouviu, ou pesquisou, e que tenha achado interessante. É

importante que você reconte a história sem fazer leitura. Pratique sua

oralidade e potencial de contar história.

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PARTE III – ENTENDENDO A NOSSA LÍNGUA

Para que você reproduza uma história ouvida ou uma lenda no formato

de narração é importante que você domine as marcas do discurso, passando

da oralidade para a escrita.

Saiba que, quando alguém fala, notamos que a frase possui melodia,

entonação. Na escrita, para substituir a melodia, a entonação, usamos muitos

recursos, entre eles o da pontuação e de outras formas como discurso direto e

indireto para indicar quem está falando.

O discurso direto é quando as personagens falam. O narrador

interrompe a narrativa, põe as personagens em cena e cede-lhes a palavra. É a

reprodução fiel da fala das personagens.

No discurso indireto, o narrador utiliza suas próprias palavras para

reproduzir a fala da personagem.

1) Volte ao texto Revolução e responda em que discurso se encontra a fala

do personagem ?

2) Qual é o recurso utilizado, no texto, para demarcar que é a personagem

quem fala?

PARTE IV - COMO TECER UM CONTO...

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Conto é uma narrativa curta e que se diferencia dos romances não

apenas pelo tamanho, mas também pela sua estrutura: há poucas

personagens, nunca analisadas profundamente; há acontecimentos breves,

sem grandes complicações de enredo; e há apenas um clímax, no qual a

tensão da história atinge seu auge.

No conto, tempo e espaço são elementos secundários, podendo até não

existir. Além disso, os próprios acontecimentos podem ser dispensáveis. O

essencial está no ar, na atmosfera, na forma de narrar, no estilo. Saibam que

os contos surgiram bem antes da Idade Média, e eram passados dos avós para

os netos, através da tradição oral, desde os tempos mais remotos. É

impossível datar a matriz primordial desses contos que vem da figura universal

das mulheres sábias: as curandeiras, parteiras e sacerdotisas, as anciãs

temidas e veneradas, guardiãs da sabedoria da comunidade e responsáveis

pela transmissão das histórias às novas gerações. Não importa a roupagem de

que se revestiram os contos: foi a voz dessas mulheres que chegou até nossos

ouvidos. E, quer estejamos ou não conscientes disso, são elas que, bem lá no

fundo, vivem dentro de nós, zelando pelo pequeno e precioso tesouro que nos

legaram nossos antepassados.

Segue abaixo fragmento de um conto de Ricardo de Azevedo para

quem não o conhece se deliciar com a história.

O Caso do Espelho

Era um homem que não sabia quase nada. Morava longe, numa casinha de

sapé esquecida nos cafundós da mata. Um dia, precisando ir à cidade, passou

em frente a uma loja e viu um espelho pendurado do lado de fora. O homem

abriu a boca. Apertou os olhos. Depois gritou, com o espelho nas mãos:

- Mas o que é que o retrato do meu pai está fazendo aqui?

- Isso é um espelho – explicou o dono da loja.

- Não sei se é espelho ou se não é, só sei que é o retrato do meu pai.

Os olhos do homem ficaram molhados.

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- O senhor conheceu meu pai?! – perguntou ele ao comerciante.

O dono da loja sorriu. Explicou de novo. Aquilo era só um espelho comum, desses de vidro e moldura de madeira.

(Leia o conto na íntegra no endereço: www.ricardoazevedo.com.br/sinopse08b.htm

alfabetizacaolp.blogspot.com/.../o-caso-do-espelho-ricardo-azevedo.html )

Essas histórias, contadas por pessoas e transmitidas oralmente

através dos tempos, são também chamadas de lendas . Misturam fatos reais

e históricos com acontecimentos que são frutos da fantasia. As lendas

procuraram dar explicação a acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais e

são passadas de geração a geração.

Leia uma lenda contada e ilustrada pelo aluno Felipe Salles.

O tapa Invisível

Esta história aconteceu com os tios da minha mãe. o tio é vivo até hoje

e tem quase noventa anos, se quiser conferir, é só perguntar para ele ou para

os filhos dele.

Os tios são Nair e João Brito.

O tio João Brito bebia muito, chegava em casa bravo e bêbado,

xingando os filhos e a esposa. Em uma noite de luar bem claro, na casa

pequena com quintal muito grande, atrás do campo de futebol, o tio João Brito

chegou brigando com todos. Os filhos e a esposa estavam com medo.

Meu tio falava alto e desafiava o capeta dizendo:

- Hoje nem mesmo o capeta pode comigo, se existe mesmo o diabo,

que venha!

Neste momento ele recebeu um tapa muito grande no rosto, deixando

o sinal dos dedos, caiu e desmaiou.

Quando acordou concluiu que foi o capeta que bateu nele.

Daquele dia em diante meu tio nunca mais bebeu. Não bebe nem

refrigerante. Nas festas de família ele só bebe água.

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Não devemos zombar das coisas que não conhecemos. (SALLES, Felipe, 6ª

série, E.E.P. Hercilia de P. e Silva.E. F. 2005.)

Atividades

Formem pequenos grupos e discutam com os colegas as seguintes questões:

a) O que acharam dessa história?

b) vocês acreditam que esta história é verídica, isto é, aconteceu de verdade?

Você já ouviu alguma lenda de lobisomem ou outra de seus pais e

avós ? Vamos ler dois textos escritos por Samir Curi.

Texto 1

O Lobisomem

Contam que em Lambari, perto de Porto Martins, um casal teve um filho

homem depois de já ter sete filhas mulheres. O menino estava predestinado a ser um

lobisomem. Seus pais rezavam todas as noites para que esse destino não se

cumprisse. Mas, na noite em que fez trezes anos, ele saiu correndo até uma

umburana, em frente de sua casa, estrebuchou e virou lobisomem. Já estava pronto

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para percorrer sete vilas, quando ouviu uma algazarra. Eram seus colegas de classe

que estavam vindo para fazer-lhe uma festa de aniversário, de surpresa. Quando

viram a fera, saíram em disparada. Menos uma menina de nome Mariza, que, além de

não acreditar em lobisomem, usava óculos por ser muito míope.

Na correria, um colega derrubou seus óculos no chão. Sem enxergar direito,

Mariza foi em frente, carregando o bolo de aniversário e uma faca para cortá-lo. O

lobisomem avançou. Mariza, vendo sem nitidez um vulto que avançava sobre o bolo,

cutucou-o com a faca, pensando que fosse um convidado guloso. Gritou: – Sai pra lá

e espera! Primeiro o aniversariante!

Ao cutucar com a faca, feriu a pata do lobisomem, que começou a sangrar. E a

fera, na mesma hora, transformou-se novamente no menino, que se apressou a cortar

o bolo.

Enquanto isso, a turma voltava para cantar o Parabéns pra você.

O menino cresceu normal e nunca mais se transformou em lobisomem.

Terminado o colégio, montou uma doceria chamada Ao Bolo do Lobo, que até hoje

existe em Lambari. Mariza formou-se em História e tornou-se professora. Diz a seus

estudantes que essa história de lobisomem é bobagem, que nunca viu nenhum. A

propósito, gosta de citar o filósofo Hobbes, para quem o verdadeiro lobo do homem é

o próprio homem. (Transcrito de Os incríveis seres fantásticos, São Paulo: FTD, 1993, p.24)

Texto 2

Um ser fantástico

O lobisomem é um ser fantástico e assustador que, como o nome indica, é

meio lobo, meio homem.

Durante os dias de semana é um homem comum, magro, alto, de pele

macilenta, com um olhar melancólico. Normalmente afável e calma, de uma hora para

outra pode tornar-se irritadiço. De vez em quando dá longos suspiros, como se fossem

uivos silenciosos. E, às sextas-feiras, precisamente à meia noite, esse homem se

transforma. Adquire característica de lobo: as orelhas crescem, surgem pêlos

espessos no rosto e no corpo, a boca se escancara mostrando dentes afilados. As

mãos mais parecem patas ou garras. Torna-se então perigoso para os outros animais,

sobretudo para o homem.

É difícil saber de onde o lobisomem é originário. O maior estudioso dos seres

fantásticos do Brasil, o folclorista Câmara Cascudo, afirma que se trata de um bicho

universal, encontrável em todos os países. Em cada um ele recebe um nome

diferente: Licantropo (na Grécia), Versiopélio (em Roma), Volkdlack (nos países

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eslavos), Loup-Garou (na França), Obototen (na Rússia), Banramr (nos países

nórdicos)... Nossos caboclos dizem Lobisome e têm muito medo dele.

Sexta-feira, da meia-noite às duas da manhã, o lobisomem sai numa corrida

barulhenta e atropelada para percorrer ou sete cemitérios, ou sete outeiros, ou sete

encruzilhadas, ou sete vilas. Nas vilas, sítios e fazendas por onde passa, os

moradores rezam e atiçam os cães para persegui-lo, para afugentá-lo. Perto das

casas, plantam arruda e alecrim. Percorridos os sete lugares, ele retorna ao local de

partida, onde há uma umburana, árvore frondosa na qual esconde sua roupa, e volta à

forma humana...

Diz a lenda que lobisomem é filho homem que nasce depois de sete filhas

mulheres e só começa a se transformar depois dos trezes anos de idade. Trata-se de

uma sina, de um triste destino. Mas que pode ser curado, desencantado. Para tanto,

basta um ferimento, ainda que pequeno, que sangre, ou um tiro de bala untada em

vela que ardeu numa missa. (Transcrito de Os incríveis seres fantásticos, São Paulo: FTD, 1993, p.23)

Atividades do texto 1:

a) No primeiro texto Mariza é a heroína da história porque salvou o menino. Como isso aconteceu?

b) Por que hoje Mariza diz a seus estudantes que “essa história de lobisomem é bobagem?

c) O que vocês acham que significa a frase “o lobo do homem é o próprio homem”?

d) Anotem as palavras que não conseguiram entender e, ao lado, o que imaginam que elas possam significar, em seguida, procurem no dicionário e vejam se acertaram.

e) Há expressões que marcam o momento exato em que as ações ocorreram?

Atividades do texto 2:A partir do texto Um ser fantástico, do mesmo autor, responda algumas questões:

Você acredita em lobisomem?

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Que características tem esse ser fantástico, para receber esse nome?

Como você acha que ele é antes de se transformar? E depois da transformação?

O lobisomem é uma lenda brasileira, ou é conhecida de outros povos?

Em que condições você acha que um ser humano pode se transformar em lobisomem?

Como você acha que as pessoas podem se defender do lobisomem?

Como fazer para quebrar o encanto para sempre (para ele voltar ao normal)?

COMPARANDO:

Observando as diferenças entre os dois textos, o primeiro, O lobisomem, é um texto narrativo, de ficção, que apresenta cenário, personagens, complicação e desfecho. Em contrapartida, Um ser fantástico é um texto que não conta uma história sobre o lobisomem, mas traz informações sobre esse personagem folclórico; trata-se, portanto, de um texto informativo.

Leia também o texto O LOBISOMEM, do contista Raimundo

Magalhães, disponível em:

HTTP://WWW.BIBLIO.COM.BR/DEFAULTZ.ASP?

LINK=HTTP://WWW.BIBLIO.COM.BR/CONTEUDO/RAYMUNDOMAGALHAES/OLOBISOMEM.H

TM

O LOBISOMEM

A primeira bodega que se abria, na feira do Jacaré, era a de seu Bento. Logo muito cedo, mal o dia começava a raiar, ele saía de casa, embrulhado num cobertor de lã, por causa do frio cortante, escancarava as duas portas da frente, ia à ancoreta de cachaça pousada em cima do balcão, tomava um tronco, para esquentar o corpo e ficava, por algum tempo, passeando dentro do quarto, à espera dos primeiros fregueses. Estes não demoravam a chegar. Eram, de ordinário, os mesmos: seu Valdivino, marchante, dono do açougue vizinho, conversador inesgotável e cacete, depois da terceira golada; o capitão Mosqueiro, espírito alegre e vivo, grande contador de anedotas picantes, que, apesar de muito repetidas, arrancavam formidáveis gargalhadas; seu Doca, o mais moço de todos, prosador e poeta, que assombrava a terra com os seus violentos artigos políticos nos jornais da

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capital e já era uma celebridade consagrada pelo Almanaque de Lembranças... Tivera estudos. Toda a gente o considerava um moço preparado. Fazia graça de um grosseiro materialismo e, de vez em quando, atracava-se em polêmica com o vigário da freguesia, um santo homem, que tomava a peito converter o herege... Só mais tarde chegavam o Baé, o Januário, o Zé Preto, o velho Macedo, o Caboquim, e outros negociantes das imediações, que formavam uma grande roda, aplicada, toda a manhã, até à hora do almoço, a beber copinhos de cachaça e a falar da vida alheia...

Quando seu Bento abria a porta, vinha de dentro do quarto um bafo morno, nauseante complexo, em que se misturava o cheiro de mil coisas heterogêneas: sardinhas secas, jacas, rapaduras, fumo de corda, álcool, drogas, plantas medicinais, queijos, alhos e cebolas brancas, bananas, atas, avoantes. . . Além de negociante de gêneros alimentícios, seu Bento era também muito entendido em assuntos de medicina caseira. Como na terra não havia médico nem boticário, ele desempenhava o papel de curioso: com o auxilio do seu bojudo Chernoviz, aconselhava remédios a quantos recorriam à sua experiência, e dizia-se que estava só para tratar das doenças do mundo... Jalapa para estes, batata para aqueles outros, eram os seus remédios prediletos. Se não fizessem bem, não podiam fazer mal. Custavam pouco, mas esse pouco lhe bastava para ir vivendo folgadamente, em meio à sua vasta clientela.

Seu Bento era um belo tipo de homem, muito branco, de nariz aquilino, com uma barba cerrada e longa, cujas pontas tinha o hábito de retorcer, com arrogância. Andava pelos setenta anos, mas estava forte, esperando viver, pelo menos, o dobro... Extremamente desasseado, sempre de corrimboque em punho, a fungar pitadas de tabaco, com um enorme lenço de ganga sobre um dos ombros, era uma figura pitoresca pelo seu modo de vestir. Quer de verão, quer de inverno, calçava tamancos e o seu traje compunha-se de uma calça de riscado e de uma camisa de madapolão com as fraldas soltas que lhe alcançavam os joelhos. Nada neste mundo o obrigaria a passar os panos ou a enfiar um paletó. Ia assim a toda parte, à igreja como ao mercado, e, mesmo quando se faziam eleições, era em fralda de camisa que dava o seu voto ao governo.

Certa manhã, ainda com escuro, estava a rodinha formada, uns sentados no balcão, outros em caixas vazias de gás. Era em junho. Fazia um frio de bater o queixo. A cachaça corria com mais abundância e a palestra aumentava de animação, à medida que os copinhos se repetiam. A neve, como lá se chama a cerração, era tão espessa que não deixava ver nada a vinte metros de distância. Por isso, ninguém reparou na chegada do Zé Vicente, um lavrador de Pavuna, senão quando ele, depois de ter amarrado o cavalo à gameleira da porta, entrou na bodega, muito maneiroso, dando os bons dias e apertando a mão de cada um.

Seu Bento quis saber logo que novidade era aquela, porque aparecia ele assim de madrugada. Haveria doença em casa?

- Foi a mulher que quebrou o resguardo - explicou o Zê Vicente. Teve criança há três dias e estava passando muito bem, quando, ontem de noite, aconteceu uma desgraça...

- Que foi? que foi? - perguntaram todos ao mesmo tempo.- Acho que foi um lobisomem. Pela meia-noite, ouvimos um bicho

rosnar e arranhar a porta do quintal com muita força. A cachorrinha, parida de

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novo, deu logo sinal do lado de dentro e o bicho largou um grunhido que nos encheu de pavor. Talvez seja um guaxinim, disse eu à mulher. Quis-me levantar, sair fora, para ver que marmota era aquela, mas a Maria não deixou. Depois, mais nada. A Baleia calou-se. Pegamos no sono e, hoje de manhã, ao despertar, verificamos que à porta dos fundos estava aberta e o bicho havia comido a ninhada de cachorrinhos que estava na cozinha. A Maria jura que foi um lobisomem. Eu também acho que sim. O certo é que a pobrezinha tomou um susto medonho, quebrou o resguardo e, agora, está para morrer.

Seu Bento consolou o pobre homem sobre cujo lar desabava uma tamanha calamidade:

- Isso não é nada, Zê Vicente. Dá-se um jeito. Tenha coragem e fé em Deus.

Consultou demoradamente o Chernoviz:- O remédio é um purgante de Leroy ou então Água Inglesa. Leve o

laruá (era assim que ele pronunciava) leve o laruá e venha me dizer, amanhã, se a mulher melhorou.

Ninguém se atrevia a interromper seu Bento, quando ele tratava de medicina. Quem o fizesse, imprudentemente, podia ter a certeza de que o velho curioso esmagá-lo-ia com um olhar colérico e com esta simples apóstrofe - Filho!... Filho, apenas. Não dizia de quem mas todos sabiam o verdadeiro sentido daquele palavrão...

Zé Vicente guardou o remédio, pagou-o, despediu-se dos circunstantes e partiu a galope. Tomou-se mais uma rodada e os comentários, então, esfuziaram.

- Santa simplicidade! - observou seu Doca. - Quanta gente estúpida existe ainda por este mundo! Crer em lobisomem e almas penadas, em pleno século XX, no Século da Eletricidade, só mesmo nesta infeliz terra! Mas, não pode ser de outro modo, porque o governo e a nossa Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana, em vez de instruírem o povo, tratam de embrutecê-lo, cada vez mais, para que ele permaneça eternamente, a mesma besta, fácil de governar com um freio - quer esse freio seja o terror do inferno, quer o terror da lei!

Calou-se, desolado, com aquele desabafo, certo de que ninguém compreendia a beleza do seu pensamento. Bebeu mais um copinho. Zangou-se por se julgar um incompreendido, no meio daqueles matutos broncos e passivos. E, de zangado, engoliu, logo em seguida, outro copinho. Irra!

- Esta mocidade de hoje - disse o velho Macedo. - Esta mocidade de hoje não crê mais em nada. Por isso é que o mundo está perdido e acontece tanta desgraça feia... Se até os meninos como você, Doca, já são ateus, maçons, dizem que Deus não existe... Pois fique sabendo, moço, que Deus está lá em cima e que há muita coisa, muita coisa... Almas do outro mundo, lobisomem, tudo isso é verdade. Eu nunca vi alma, mas lobisomem já topei um...

Explodiu uma gargalhada na roda. Seu Macedo, um velhinho pequenino, melgaço, de olhos azuis, cabeça enorme, era conhecido como o maior mentiroso das redondezas. Não abria a boca que não fosse para contar histórias de onça, cada qual mais estapafúrdia, e ficava furioso, quando punham em dúvida a sua palavra. Como, de resto, as suas mentiras não faziam mal a ninguém, não passando de arrojadas fantasias, todos gostavam de ouvi-lo e muitos o estimulavam a contar casos maravilhosos.

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- Pois conte, lá seu Macedo, conte lá a história do lobisomem. Vamos.- Foi em Santa Quitéria, meninos. Vocês sabem que eu sou daquele

sertão, de onde vim para aqui na seca dos três sete. Eu era rapaz moço, dos meus dezoito anos, e nesse tempo não tinha medo de nada. Corria atrás de boi no mato fechado, matava onça de faca, pegava cascavel pelo pescoço e quando ela abria a boca para morder, cuspia-lhe dentro mel de fumo. Depois soltava a cobra. Ela estrebuchava, estrebuchava, e morria. Eu era doido varrido... E se havia coisa que eu tivesse vontade de ver de perto era um lobisomem. Se fosse possível, até pagava para me encontrar, frente a frente, com um bicho desses. Queria tirar-lhe o encanto. Como vocês sabem, o lobisomem é perigoso, mas basta que a gente o fira, mesmo de leve, com uma faca, de ponta, para ele desencantar. Pois bem. Parece que foi mesmo um castigo. Uma noite, escura como breu, eu vagueava sozinho, pelas ruas da vila, levando como única arma uma faquinha de cortar fumo, um quicé à toa...Fui andando, fui andando, perfeitamente calmo, sem encontrar nada no caminho, a não ser uma ou outra rês deitada na rua e que se levantava à minha passagem. Cheguei assim até perto do patamar da matriz, quando um bicho medonho, quase do tamanho de um jumento, com os olhos de fogo e dentes enormes, se botou a mim, como se me quisesse devorar. Tomei um susto pavoroso. Pulei para trás como um gato. Só tive tempo de gritar pelo nome de Nossa Senhora e arrancar o quicé. O bicho estava em cima de mim, danado. Mandei-lhe o ferro de rijo. As primeiras facadas perderam-se e o maldito, de um tapa, arrancou-me o peito da camisa. Fugi o corpo de banda e toquei-lhe a faca mesmo com vontade. Nisto ouvi um grito horroroso, que me fez arrepiar os cabelos.

- Não me mate, seu Targino! Não me mate que eu sou a Joana do padre Francisco.

Era a Joana mesmo, minha gente. Estava diante de mim nua em pêlo, suja de terra, com o sangue a escorrer de uma facada do lado esquerdo. Eu tinha desencantado a bicha...

- E depois?- Depois a Joana confessou-me tudo. Era castigada, por ser amiga do

vigário, há muitos anos. Todas as sextas-feiras, houvesse o que houvesse, tinha de cumprir aquela penitência: saía de casa, à meia-noite, e quando chegava a uma encruzilhada, tirava a roupa e espojava-se no chão como uma besta. Imediatamente, virava um bicho feroz e partia a galope para correr as cinco partes do mundo, até o dia clarear. Só de manhãzinha voltava a ser gente. Mas, agora, ficara livre de tudo, porque eu havia quebrado o encanto...

- Isso não foi sonho, seu Macedo? - perguntou um gracioso.- Sonho? Eu também pensei que fosse sonho quando acordei no dia

seguinte. Mas, logo me convenci de que tudo era a pura realidade. Fui à casa da Joana e encontrei-a muito doente, estirada numa rede. Dizia ela às mulheres que lá estavam que lhe tinha dado uma dor, de repente, numa costela, do lado esquerdo.

Mas, a mim, quando ficamos sós, pediu-me pelo amor de Deus, por alma de minha mãe, que não dissesse nada a ninguém. Jurei. E só agora, depois que ela e o padre já estão com os ossos brancos, é que eu me atrevo a contar a história.

Acabou, triunfante. Tomou o seu copinho de cachaça e saiu trôpego, apoiando-se à bengala.

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- Cabra velho mentiroso ! - disseram os outros em coro, mal o viram pelas costas.

- Mentiroso, sim, lá isso é - sentenciou seu Bento gravemente. - Mas, ninguém me tira da cabeça que, desta vez, o Macedo se esqueceu de mentir. - . Se essa história não é verdadeira, já vi coisa parecida.

Em seguida, desenvolva a seguinte atividade:

Atividade:

Reproduza o texto de Raimundo Magalhães, contando com suas palavras.

PARTE V – MEMÓRIA E ESCRITA, ATANDO AS PONTAS....

Algumas histórias, ainda hoje, são passadas de geração em geração.

Você deve dar continuidade ao Era uma vez, desenvolvendo as atividades

propostas abaixo.

Atividades:

a. Entreviste os avós coletando histórias.

b. Selecione a que mais gostou e apresente para a sala.

c. Em grupo, selecionem as melhores histórias juntamente com colegas para

que façam as escolhas..

d. Divulgar a coletânea para a comunidade escolar através da contação de

história “hora do conto” e deixá-la na biblioteca da escola.

Até a próxima....

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REFERÊNCIAS

ANDRADE, C. D. de. Confidências de Itabirano. In: _____. Antologia Poética. 38.ed. Rio de Janeiro: Record, 1998.

AZEVEDO, Ricardo. O caso do espelho. Disponível em:

<www.ricardoazevedo.com.br/sinopse08b.htm.alfabetizacaolp.blogspot.com/.../

o-caso-do-espelho-ricardo-azevedo.html> Acesso em 28 maio 2010.

CURI, Samir. Meserani. In: Os incríveis seres fantásticos, São Paulo: FTD,

1993, p.23)

DELIZE, Joao Marinho. O golpe 1964. Disponível em: <http://www.luso-

poemas.net/modules/news/article.php?storyid=29935> Acesso em 15 abr 2010.

MAGALHAES, Raimundo. O lobisomem. In: RAMOS, Ricardo. A palavra é mistério. São Paulo: SCIPIONE, 1988.

MAGALHAES, Raimundo. O lobisomem. Disponível em:

<HTTP://WWW.BIBLIO.COM.BR/DEFAULTZ.ASP?LINK=HTTP://WWW.BIBLIO.COM.BR/CONTEUDO/RAYMUNDOMAGALHAES/OLOBISOMEM.HTM> Acesso em: 14 jun. 2010.

MAZITA. A Criança reinventa o mundo (foto). Disponível em:

<www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/.../viewcat.php?cid=7> Acesso em:

15 abr 2010.

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