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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

ETNOMATEMÁTICA E A MATEMÁTICA DA CONSTRUÇÃO CIVIL

CADERNO PEDAGÓGICOCADERNO PEDAGÓGICOCADERNO PEDAGÓGICOCADERNO PEDAGÓGICO

O COTIDIANO DOS PEDREIROS E A ETNOMATEMÁTICA

Fonte: Arquivo pessoal

ODETE BOING CHAVESODETE BOING CHAVESODETE BOING CHAVESODETE BOING CHAVES

GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DE ESTADO DO PARANÁ

NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO DE IVAIPORÃ

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

ODETE BOING CHAVES

Área de Atuação

Matemática

Produção Didático-Pedagógica:

Caderno Pedagógico apresentada ao Programa

de Desenvolvimento Educacional (PDE) da

Secretaria Estadual de Educação do Estado do

Paraná sob a orientação do Professor

Doutor Túlio Oliveira de Carvalho

LONDRINA – 2009/2010

“Subiu a construção como se fosse máquina.

Ergueu no patamar quatro paredes sólidas.

Tijolo por tijolo num desenho mágico. Seus

olhos embotados de cimento e lágrima”.

Chico Buarque

SUMÁRIO

Apresentação ................................................................................................................5

Problematização............................................................................................................6

Planta Baixa ..................................................................................................................6

O que é uma planta baixa .............................................................................................6

Atividade 1.....................................................................................................................7

Calculando Áreas ..........................................................................................................7

Atividade 2.....................................................................................................................8

Atividade 3.....................................................................................................................9

Calculando Perímetros..................................................................................................10

Atividade 4.....................................................................................................................11

Algumas Figuras Geométricas Planas ..........................................................................11

π Que Número é Esse?...............................................................................................11

E o π ? O que significa?...............................................................................................12

O Teorema de Pitágoras ...............................................................................................12

Área do Triângulo..........................................................................................................13

Generalizando Áreas.....................................................................................................14

O Teorema de Pitágoras na Prática dos Pedreiros .......................................................14

Retas Perpendiculares ..................................................................................................14

Paredes Perpendiculares ..............................................................................................15

Atividade 5.....................................................................................................................16

A construção de Telhados.............................................................................................16

Atividade 6.....................................................................................................................20

Cálculo de Volume ........................................................................................................21

Alguns Exemplos de Sólidos Geométricos....................................................................22

Como medir um caminhão de areia ..............................................................................23

Atividade 7.....................................................................................................................24

Atividade 8.....................................................................................................................25

Atividade 9.....................................................................................................................25

Considerações Finais....................................................................................................27

Referências Bibliográficas.............................................................................................29

5

Apresentação

Quando passamos por uma casa, contemplamos e comentamos sobre o

quanto ela é admirável, mas não nos detemos para nos questionar como ela é

construída. O que esteia o teto? Como as paredes são tão alinhadas? Como é

edificado o telhado para evitar que a chuva entre? Como se acomodam tão

perfeitamente as portas e janelas? Qual o material necessário para levantar

uma casa? Qual é a matemática empregada nesta construção? Qual o número

de indivíduos envolvidos e como são esses indivíduos que constroem essa e

outros milhares de edificações que estão à nossa volta?

O fato é que nosso interesse está voltado tão somente para a estética de

uma construção, e não paramos para pensar sobre o que está por trás de tanta

imponência realizada por pessoas (em geral) simples, que, na maioria das

vezes, mal sabem interpretar os códigos da linguagem ensinados nos bancos

escolares, pessoas estas que muitas vezes passam despercebidos em nossa

sociedade.

Este trabalho tem, entre seus objetivos, incluir estas pessoas e apurar

seu conhecimento, particularmente na aplicação da matemática.

Para conhecermos tais pessoas e seu ofício, fez-se necessário uma

coleta de dados, numa empresa da construção civil da cidade de Ivaiporã, aqui

denominada L.A.D. Foi realizada através de procedimento etnográfico e

envolveu pedreiros, serventes e o mestre-de-obras.

A análise qualitativa das informações encaminhou nossos

questionamentos, como expomos a seguir. Foram analisados alguns aspectos

de maior interesse da pesquisadora como:

“Demarcação da planta baixa da casa (escala)”; “O Teorema de

Pitágoras”; “Volume”; “As paredes e a área dos tijolos”; “A inclinação do

telhado”; “A área das telhas e da cobertura”; “As portas e janelas da casa” e

“Os dois pisos da casa”. Estes aspectos contêm segredos matemáticos que

podem ser mais facilmente trazidos à tona, comprovando empiricamente os

conhecimentos matemáticos praticados pelos pedreiros em contexto

profissional.

6

Problematização:

• Como os pedreiros resolvem problemas matemáticos no exercício da sua

profissão?

• Que técnicas utilizam para resolverem problemas matemáticos em suas

profissões?

• Qual relação que evidencia a matemática ensinada nas escolas com a sua

prática?

• Prevalece uma desvinculação entre a matemática formal e a matemática

praticada no seu trabalho cotidiano?

Planta Baixa

Fonte: Arquivo pessoal

O que é uma planta baixa?

É o desenho de uma construção feito, em geral, a partir do corte

horizontal à altura de 1,5m a partir da base. É um diagrama dos

relacionamentos entre salas, espaços e outros aspectos físicos em um nível de

uma estrutura. Nela devem estar detalhadas em escala as medidas

das paredes, portas, janelas, o nome de cada ambiente e seu respectivo nível

7

Atividade 1

A foto da planta baixa apresentada na Figura acima representa o primeiro

piso de um sobrado de dois andares, nesta planta há uma cozinha, uma sala

de TV, um lavabo e a área de serviço. Observem-na, e responda as seguintes

questões:

� Quais as formas geométricas presentes na planta?

� O que significam os números na planta?

� Como se traduzem estas informações da planta para o terreno?

� Obviamente a planta da casa é menor do que a casa. Existe uma

proporção? Qual o nome você dá a esta proporção?

� Há outros conceitos geométricos que você consegue visualizar na planta

baixa?

Calculando Áreas

Fonte: Arquivo pessoal

Na construção civil o cálculo de área é muito utilizado no revestimento

de pisos, cerâmicas, forro, laje, assoalhos, paredes, entre outros.

Na matemática utilizada na escola, temos que área é a medida de

superfície. A área de uma figura plana é obtida a partir da multiplicação em que

duas quantidades são essenciais: duas medidas de comprimento. Isto vale

para retângulos, mas ajuda também em triângulos.

8

Exemplo

Lajota

Fonte: Arquivo pessoal

Na figura acima temos uma lajota (semelhante a um pequeno tijolo, é

utilizada para assentar a laje, geralmente na construção de uma casa com mais

de um piso) de medidas 34 cm de comprimento por 21 cm de largura. Do

ponto de vista da área a ser coberta, estas são as medidas importantes na

lajota.

Para calcularmos a sua área, ou seja, a sua superfície, o que temos a

fazer é somente multiplicar essas duas quantidades:

A = 34x21

A = 714cm²

Observem que a área tem unidade de comprimento ao quadrado.

Atividade 2

Assentamento de laje

Fonte: Arquivo pessoal

A → área cm² → centímetro quadrado

1m

1m

21cm21cm21cm21cm 34cm34cm34cm34cm

9

Na figura acima observamos a laje de um sobrado sendo assentada. De

acordo com a área de uma lajota (cálculo mostrado no exemplo), quantas

dessas lajotas são necessárias para recobrir uma área de 1 m²?

No assentamento, pode ser necessário quebrar algumas lajotas. Por

quê?

Durante o assentamento, algumas lajotas podem se quebrar

involuntariamente. Como você faz o cálculo aproximado de modo que não

sobrem muitas, nem faltem lajotas no assentamento da laje?

É preferível sobrar ou faltar lajotas? Por quê?

Atividade 3

Tijolo de 6 furos

Fonte: Arquivo pessoal

A lateral de um tijolo de 6 furos (tijolo mais usado na construção civil)

possui 19cm de comprimento por 9cm de altura por 13cm de largura.

Parede construída

Fonte: Arquivo pessoal

As paredes são construídas com tijolos de 6 furos, com medidas

19x9x13 centímetros. As paredes externas são construídas com o lado do tijolo

que mede 19x9 centímetros.

19cm

9cm

1m 1m

13cm

10

Na figura acima, observamos uma parede externa construída com tijolos

de 6 furos, quantos tijolos de 6 furos são necessários para construir 1 m² de

parede?

Como calcular a quantidade de tijolos a serem comprados para construir

uma casa para que não falte e nem haja sobras desnecessárias?

Se as paredes internas forem construídas com a lateral do tijolo que

mede 13x19 centímetros, haverá alterações nos cálculos da quantidade de

tijolos a serem comprados?

Se houver alterações, o construtor comprará mais ou menos tijolos?

Qual a margem de sobra de tijolos entre as duas opções de construção

de paredes (externas e internas)?

Calculando Perímetros

No assentamento de piso o raciocínio de cálculo de área se repete, mas,

além do assentamento, existe um acabamento que se faz em todos os

cômodos, internamente, é a colocação de rodapé, uma espécie de arremate

que é necessário para que haja um arremate perfeito no piso. Esse contorno é

matematicamente chamado de perímetro.

As medidas de perímetro, área e volume são parte do cotidiano dos

pedreiros. Medir é comparar. A distância, por exemplo, pode ser medida com

passos, como fazem os pedreiros, que muitas vezes, para estimar

comprimentos, medem um comprimento com os próprios passos, utilizando o

metro somente quando necessitavam medir algo com precisão. Os pedreiros

têm a capacidade de realizar estimativas e cálculos aproximados e utilizá-los

na verificação de resultados de operações matemáticas.

Na discussão dos conceitos de perímetro, área e volume, a escolha da

unidade de medida é fundamental, e também a distinção entre as medidas

linear (perímetro), de superfície (área) e tridimensional (volume). Uma questão

que se coloca: como medir o contorno de uma sala, a superfície (o chão) da

sala? É usual trabalhar com o volume de um cômodo? Observamos que os

pedreiros utilizam muito o metro e o metro quadrado como medidas de

comprimento e área, embora também usem a medida de seus passos como

estimativa, quando querem medir comprimentos lineares, em que cada um

desses passos equivale a um metro.

11

Atividade 4

A partir dos conceitos acima, como estimar o perímetro de uma sala

retangular?

Se for preciso cercar o terreno, como saber seu perímetro?

Formas circulares são menos usadas em construções, mas muitas

vezes elas aparecem. Como calcular o seu perímetro?

Nos cálculos de área e perímetro na escola, temos o auxílio das

chamadas representações de figuras planas, sendo as mais comuns as que

reproduzimos abaixo:

Algumas Figuras Geométricas Planas

quadrado retângulo paralelogramo

losango triângulo círculo

π (pi) Que Número é Esse?

Com uma corda esticada e uma estaca amarrada em cada uma das

extremidades, é simples demarcar uma circunferência no chão para a

construção de um poço, uma fossa, uma piscina ou uma construção circular

qualquer. O esquema abaixo mostra como isso é possível:

estacas

. .

Corda

12

Fincada uma das estacas no chão, o pedreiro estica a corda e roda a

outra estaca em volta sempre com a corda muito bem esticada ele obtém o

desenho de um círculo no chão.

Será que os pedreiros conseguem fazer construções ou estruturas

circulares sem alguma vez terem ouvido falar do π, isto é, sem saber o que

este número irracional representa?

As partes da circunferência são:

• A corda esticada representa o raio, ou seja, a metade do diâmetro;

• A estaca central representa o centro;

• O desenho obtido é a circunferência, e seu perímetro é proporcional a

π.

E o π? O que significa?

É comprimento da circunferência e dividido pelo seu diâmetro, isto é,

aproximadamente 3,14. Os gregos antigos tinham a estimativa π=22/7. Será

que nossos pedreiros conhecem esta estimativa?

Para calcular o perímetro ou a área de uma figura plana circular sempre

nos utilizaremos do valor do π (pi).

Em sua prática, o pedreiro diz que não é necessário fazer cálculos,

basta medir quatro diâmetros e multiplicar pelo próprio diâmetro e pode-se

saber mais ou menos o comprimento de um circulo, e se quiser saber com

mais exatidão, é só tirar 20% do quarto diâmetro, e proceder ao mesmo

cálculo.

Ao ser questionado como se chega neste valor, não argumenta, apenas

atribui o cálculo à experiência. Uma atividade interessante é determinar se este

procedimento fornece uma boa aproximação.

O Teorema de Pitágoras

O Teorema de Pitágoras é provavelmente o mais célebre

dos teoremas da matemática. Enunciado pela primeira vez por filósofos gregos

chamados de pitagóricos, estabelece uma relação simples entre o comprimento

dos lados de um triângulo retângulo:

13

Em qualquer triângulo retângulo, o quadrado da hipotenusa é igual à

soma dos quadrados dos catetos.

Fonte: http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive

Se a designar o comprimento da hipotenusa e b e c os comprimentos

dos catetos, o teorema afirma que:

Área do Triângulo

Na área de um triângulo qualquer, muitas vezes não temos de imediato

a medida de sua altura, pois ela só poderá ser determinada se houver um

ângulo reto, ou seja um dos ângulos deverá medir 900 (noventa graus), por

isso, devemos calcular esta altura da seguinte forma:

x 2

x

Para calcular, traçamos uma reta (pontilhado da segunda figura, é a sua

altura h), até a base do triângulo de forma que forme um ângulo reto na base, a

partir de então utilizamo-nos do Teorema de Pitágoras.

x x h x

a² = b² + c²

14

x

h

2

x

Generalizando Áreas:

Para o cálculo de área de quase todas as figuras geométricas planas,

basicamente multiplicamos as medidas das medidas do comprimento (base) e

da largura (altura) da mesma e para o cálculo de perímetro, somamos todos os

comprimentos dos lados da figura.

O Teorema de Pitágoras na Prática dos Pedreiros

Ao perguntar aos pedreiros se conhecem o Teorema de Pitágoras,

provavelmente responderão que não, como a resposta que ouvi de um

servente de pedreiro da obra:

”Eu sei que sou bom de matemática, não me lembro das

fórmulas que ensinaram na escola, as contas que faço,

faço de cabeça, são menos complicadas do que as que

aprendi na escola, não uso calculadora porque não

gosto de trabalhar com ela, na cabeça é mais rápido.”

Mas mesmo sem esse conhecimento, eles fazem uso do mesmo em

vários momentos do seu trabalho, como podemos observar na figura abaixo,

duas paredes só serão perpendiculares se o ângulo que se forma quando elas

se “encontram” mede 90º.

Retas Perpendiculares

Retas Perpendiculares são duas retas que se cruzam, formando ângulos

de 90 graus.

Portanto, concluímos que:

A ∆ = 2

bh

15

Paredes perpendiculares

Fonte: Arquivo pessoal

No seu trabalho diário, os pedreiros medem regularmente ângulos retos

(90º). Estes ângulos tanto podem ser medidos em grandes paredes como em

paredes com pequenas dimensões. Às vezes, os pedreiros usam como

modelo, para medir um ângulo de 90º um azulejo porque sabem que ele

contém quatro ângulos de 90º exatamente iguais; mas quase sempre usam um

esquadro (muitas vezes construído por eles mesmos) para garantir que as

paredes estão ou não no esquadro (retas), isto é, garantir que dois planos

fiquem perpendiculares entre si, formando ângulos retos, o que é

imprescindível em qualquer construção, é também usado o mesmo processo

nas divisões com uma forma retangular, quadrada, como as divisões internas

dos cômodos da construção.

Os ternos pitagóricos são triplas de números naturais a, b e c, de modo

que a²+b²=c². O fato de obedecerem a esta relação implica que a, b e c são

lados de um triângulo retângulo, e que c é o maior lado.

Há duas atividades possíveis: sorteie seqüências de três números para grupos

e peça que verifiquem

(a) se podem ser medidas de lados de um triângulo

(b) se o triângulo é retângulo

Outra atividade: com triângulos desenhados (alguns retângulos, outros

não), peça para medirem com régua os lados, possivelmente transformando

por alguma escala. O ideal é que não se use régua milimetrada, mas

alguma medida de referência.

Os esquadros construídos pelos pedreiros seguem sempre um esquema

(um Terno Pitagórico), como representa as figuras abaixo:

16

50

30 60 100

40

80

Atividade 5

Sabendo que Retas Perpendiculares – São retas que se cruzam

formando um ângulo reto, ou seja, igual a 90° (noventa graus), conforme

mostram as figuras abaixo, dê as soluções possíveis para os problemas

apresentados.

a) Um construtor tem 100 metros de tela para delimitar um terreno de forma retangular. Quais as dimensões do terreno para que a área cercada seja máxima?

b) Um mestre de obras quer construir um recinto cujas paredes sejam perpendiculares entre si. Para isso, deve colocar estacas nos vértices da área a ser construída. Ele conta com apenas um barbante comprido. Como ele poderia, utilizando o Teorema de Pitágoras, saber onde fincar as estacas?

A Construção de Telhados

Fonte: Arquivo pessoal

17

Existem telhados de diversas formas, de forma geral, são constituídos

pela composição de planos inclinados. Um dos mais simples é o telhado de

duas águas. Em geral, a cobertura é feita de telhas de barro, mas outros

materiais podem ser usados, como o alumínio e a argila. A inclinação de um

telhado corresponde às necessidades climáticas da região na qual é construído

e da cultura do lugar. Em regiões do Brasil com influência européia, por

exemplo, na região sul, o telhado possui cumeeira bem elevada, para que os

planos inclinem-se em ângulos superiores a 60 0, o ângulo de inclinação de tal

telhado apenas se justifica por razões estéticas. Mas os mais comuns são os

telhados com ângulos de inclinação de 30 0, o suficiente para o escoamento

das águas das chuvas.

Ao iniciar a construção do telhado, após escolher o tipo de telha, o

pedreiro deve calcular a porcentagem de inclinação do mesmo para a

montagem da “tesoura”. A tesoura é uma estrutura de madeira cuja vista

transversal é mostrada abaixo.

As vigas de madeira formam o desenho de vários triângulos. Muitos

deles são triângulos retângulos. Os triângulos são utilizados pelos pedreiros

devido ao fato de os mesmos serem polígonos que não possuem mobilidade, e

quanto mais triângulos as madeiras formarem no telhado, maior rigidez ele

terá.

Existem no mercado vários tipos de telhas, no cálculo da porcentagem

de inclinação do telhado, vamos usar como exemplo a telha DUPLAN, que

exige uma inclinação mínima de 30% para que a água da chuva possa escoar.

18

Telha Duplan

Fonte: www.ceramicasantamariaro.com.br

A inclinação de 60 0 é obtida pelo pedreiro partindo da extremidade para

o topo do telhado. Para cada metro (100 cm) na horizontal, sobe-se 30 cm.

Se a tesoura tiver 6 metros de comprimento o pedreiro efetua o cálculo

da porcentagem utilizando apenas a metade dessa medida, ou seja, 3 metros.

Esse cálculo é efetuado mentalmente e de forma rápida pelo pedreiro,

multiplicando essa medida pela porcentagem relativa à inclinação do telhado.

Os dois últimos números do produto dessa multiplicação são os centímetros.

Veja o cálculo do pedreiro:

3m x 30% 3,060tan 0≅⇒

3m

Temos então as medidas dos dois catetos de um triângulo retângulo:

Comprimento = 3m

Altura = 3m x 30% = 0.9m

Podemos então, através do teorema de Pitágoras calcular o

comprimento da viga onde serão colocadas as telhas, ou seja, a hipotenusa do

triângulo retângulo.

Este é um exemplo que mostra como a Matemática Escolar é importante

para a resolução de problemas do cotidiano.

3 m

19

Observe nas figuras a seguir que o telhado apresenta várias partes em

sua montagem, além da tesoura.

Fonte: http://www.ebanataw.com.br/roberto/telhado/tlhcur9.htm

Depois de concluir o madeiramento, o pedreiro efetua o cálculo da

quantidade de telhas necessárias para cobrir o telhado. Para isso leva em

consideração a área útil de cada tipo de telha, ou seja, a área de cobertura real

da telha.

Cada telha Duplan tem um comprimento de 33,3 cm e uma largura de

20 cm. Observe que cada quinze telhas cobrem 1 m², como mostra a figura a

seguir.

Mesmo sabendo que 15 telhas cobrem 1 m², o pedreiro aumenta o

comprimento e a largura do telhado na hora de calcular a quantidade de telhas.

Ele utiliza múltiplos de 33,3 cm (comprimento da telha) e de 20 cm (largura da

telha), aproximando-se ao máximo da quantidade exata de telhas a serem

utilizadas na cobertura do telhado.

1m

1m

20cm

33,3cm

20

Exemplo

Para se calcular a quantidade de telhas necessárias para a cobertura,

multiplica-se a metragem do telhado pelo rendimento da telha por m²,

adicionando 5% que pela prática tornou-se uma regra para eventuais perdas

por quebra ou defeitos nas peças.

Exemplo: Metragem do telhado = 130 m²

Modelo escolhido: Telha Duplan = 15 peças cobrem 1 m²

130 m² x 15 peças = 1950 telhas (quantidade a ser comprada) + 5%.

Atividade 6

No cálculo da porcentagem de inclinação do telhado, cada telha

determina a inclinação mínima para que não haja problemas com a água das

chuvas.

TABELA DE INCLINAÇÃO DE TELHADOS

TIPO DE TELHA RAZÃO % ÂNGULO APROXIMADO

Colonial 25 a 45 19 0 Telhão 20 a 45 18 0

Capanal 30 a 50 22 0 Paulistinha 25 a 45 19 0

Plana 100 45 0 Germânica 42 a 60 27 0

Plan 20 a 45 13 0 Romana 30 a 45 21 0 Francesa 30 a 45 21 0

Calcular para cada tipo de telha da tabela acima a altura da tesoura de

um telhado com base de 8 m de comprimento, conforme figura abaixo.

21

8m

Cálculo de Volume

Fonte: Arquivo pessoal

Na experiência com construção civil, é muito importante a distinção entre

volume e capacidade. A capacidade de um recinto corresponde ao volume em

seu interior. O volume ocupado é, considerando a largura das paredes, um

pouco maior. Esta diferença também aparece em regiões planas. Por exemplo,

quando se compra um terreno de 300 metros quadrados, a área máxima de um

piso de uma casa, levando em conta apenas a largura das paredes é um pouco

menor. No caso de existirem leis no município obrigando os moradores a

deixarem um vão livre, sem construção de paredes internas, na fronteira do

terreno, a área útil é ainda menor.

Ao questionarmos um pedreiro sobre como ele calcula quanto

argamassa é necessária para construir os pilares de uma obra, a resposta é o

que esperamos ouvir:

“Primeiro eu preciso saber as medidas, tenho

que medir o comprimento, a largura e a altura,

depois eu só multiplico”.

22

c

b

a

Na matemática escolar, o volume de um corpo pode ser calculado pelo

produto da área da base pela medida da altura. De uma forma geral, podemos

aplicar a seguinte fórmula:

De acordo como Sistema Internacional de medidas (SI), o metro cúbico

é a unidade padrão das medidas de volume. Um metro cúbico (1m³)

corresponde a uma capacidade de 1000 litros. Essa relação pode ser

exemplificada em conjunto com a Geometria, através de um cubo com arestas

medindo 1 metro.

1m

1m 1m

Alguns Exemplos de Sólidos Geométricos

Fonte: http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive

V = a.b.c, Onde:

V representa volume;

a.b representa a área da base;

c representa a altura.

V = a.b.c

23

Cubo Cilindro Cone

Como medir um caminhão de areia?*

Quando se compra a areia com a condição de pagar somente o que for

efetivamente entregue, é preciso fazer a medição do caminhão em obra. A

medição é feita enfiando-se um ferro de construção no monte de areia, antes

dela ser descarregada. Deve-se também medir as dimensões internas da

caçamba (comprimento e largura).

As medidas com o ferro de construção devem ser feitas em cinco pontos

estratégicos, a saber -- no centro do monte (parte mais alta) e em cada um dos

cantos (vide figura abaixo).

Fonte: http://www.forumdaconstrucao.com.br

O volume será a média das alturas, multiplicado pela largura e pelo comprimento da caçamba. Como demonstrado abaixo:

xLxCMMMMM

V

++++=

5

54321

Sendo: V, o volume; M1, M2, M3, M4 e M5, as medidas verificadas pelo pedreiro; L, a largura da caçamba; C, o comprimento da caçamba.

Fonte: Arquivo Pessoal

24

Atividade 7

Esta atividade deverá ser realizada pelos alunos, que se deslocarão até

uma construção e farão uma pesquisa de campo.

Sabe-se que em uma construção muitas vezes há a necessidade de

aterramento, e para isso, são contratados caminhões para transportar toda

terra a ser utilizada. Os alunos, de posse de seu material deverão, em grupos,

se dirigirem até o local onde houver uma construção e buscarão todas as

informações que julgarem necessárias para desenvolverem a atividade abaixo:

Fonte: Arquivo pessoal

1. Na obra em questão, houve ou haverá necessidade de aterramento?

2. Se o aterramento é necessário, como é feito?

3. Como saber a quantidade de terra necessária?

4. Como é comprada a terra?

5. Se há a necessidade do transporte em caminhões basculantes,

coletar os dados com os pedreiros para calcular o volume da terra

transportada pelo caminhão.

6. Há essa mesma lógica na medida de volume de outros materiais

como areia ou brita?

7. O pedreiro precisa saber calcular volume? Há relação entre o volume

calculado na obra e o volume calculado na escola?

25

Atividade 8

Na figura abaixo estão representados três degraus iguais de uma

escada de cimento. Cada degrau é um prisma triangular com as dimensões

indicadas:

Considere uma escada com 20 degraus idênticos aos da figura. Obtenha

o volume de concreto necessário para construí-la.

Atividade 9

Fonte: Arquivo pessoal

26

Em uma construção são necessárias 8 colunas de concreto para

sustentar o segundo piso, cada coluna tem a base quadrada de 20cmx20cm e

com altura de 3m. Obtenha o volume em metros cúbicos para o gasto de

concreto para as 8 colunas.

27

Considerações Finais

A sociedade atual está em constante mudança, a cidadania e a

matemática são consideradas temas fundamentais na educação. É

imprescindível que as pessoas, no seu cotidiano utilizem conhecimentos

matemáticos, não só para a compreensão do mundo que as rodeia, mas

também como meio facilitador de relação social e desenvolvimento de sua

civilidade. Tal atitude pode contribuir para a mudança social, especificamente

na justiça, na inclusão e na solidariedade.

Ao pesquisar os profissionais da construção civil, apesar de observar

que a grande maioria possui baixa escolaridade, percebi que desenvolveram

capacidade para certos cálculos matemáticos ao longo da vida, acumulando

estes esquemas através da experiência profissional e de conhecimentos que

os mais antigos lhes ensinaram. Isto não sugere que estes conhecimentos e

processos matemáticos, que não foram aprendidos na escola, mas em

contexto profissional, não tenham uma forte ligação com a matemática que se

aprende e se ensina nas escolas.

No trabalho aqui desenvolvido, percebemos que o conhecimento

matemático dos pedreiros em sua profissão pode e deve interagir com o

conhecimento matemático escolar. É neste sentido que se compreende a

matemática como saber universalmente construído, incluindo ali o cotidiano

das profissões.

O mais interessante na prática profissional dos pedreiros, é que a

matemática não é isolada e sim englobada no contexto de suas atividades, não

se desvinculam os cálculos, eles emergem no ambiente de trabalho de uma

forma natural, sem perder a essência. É considerado um bom pedreiro aquele

que utiliza cálculos matemáticos que solucionem os problemas que surgem no

decorrer de sua atividade. Percebe-se que na atividade diária dos pedreiros,

mesmo que de forma empírica, estão implícitos os mais diversos conteúdos

escolares, tais como simetria, geometria, trigonometria, e principalmente os

procedimentos de cálculo.

Concluímos que a matemática escolar pode ser relacionada com a

matemática praticada no cotidiano do grupo envolvido, e que a Etnomatemática

está diretamente ligada ao contexto do trabalho, e deve contribuir para o

desenvolvimento dos estudantes, tornando-os capazes de reconhecer que a

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matemática por eles aprendida no âmbito escolar é a mesma utilizada nas

práticas sociais. Tudo isso só servirá se conseguirmos com que os alunos

percebam na matemática uma via para melhor viverem em sociedade,

desenvolvendo a sua criatividade e tornando-se cidadãos críticos e

conscientes.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

� D’AMBRÓSIO, U. Etnomatemática. Elo entre as tradições e a

modernidade. Coleção Tendências em Educação Matemática. 2ª

Edição. Belo Horizonte, Autêntica, 2002.

� _____. – Curso: Um Olhar Etnomatemático para a Educação Matemática,

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� _____. - Etnomatemática. São Paulo: Ática, 1990.

� KNIJNIK, Gelsa, et al, Organizadores. Etnomatemática Currículo e

Formação de Professores. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2004.

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Secretaria de Estado da Educação do Paraná, 2008.

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