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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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A FÁBULA COMO GÊNERO PRODUTIVO PARA A FORMAÇÃO DE

LEITORES: UMA ATIVIDADE INTERATIVA E SOCIAL

Autor: ROSELI HELENA RONCAGLIA SCANDELAI1

Orientadora: NEIVA MARIA JUNG2

RESUMO

Este artigo apresenta o resultado de um trabalho realizado com alunos da 5.ª série da Escola Estadual Cecília Meireles, com o gênero textual fábula, cujo objetivo era despertar o gosto pela leitura tornando-a parte integrante de sua vida e fazer com que o aluno produzisse sua própria história. Com base no conhecimento prévio que o aluno tinha sobre o tema, foi realizada a intervenção em sala de aula com a aplicação do material didático produzido para essa finalidade. O material levou o aluno a interpretar, refletir, buscar novas propostas de moral da história, reconhecer que uma mesma história pode ter finais diferentes e que as características dos animais são aquelas atribuídas ao homem e, por fim, produzir sua própria fábula. Este trabalho teve uma resposta positiva dos alunos diante do material, pois, após a leitura e atividades referentes a algumas fábulas, ele teve conteúdo para produzir sua própria fábula, o que dependeu da leitura e do envolvimento dele nas atividades propostas e do seu comprometimento antes, durante e depois do trabalho realizado, pois ficou comprovado, por meio das respostas a um questionário, que os alunos tomaram consciência de que para desenvolver o gosto pela leitura e produzir seu texto é necessário ler com outros olhos e fazer daquele conhecimento um complemento para sua vida.

Palavras chaves: leitura; gênero; fábulas; conhecimento

ABSTRACT

This article presents the result of a work with fifth series` students from Cecília Meireles State School, with the genre “Tale”, and its objective is students make

1 Professora PDE 2009-2010, UEM, atuante na Escola Estadual Cecília Meireles na cidade de Santa Fé,

graduada em Letras anglo-portuguesa pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Arapongas, pós-

graduada em Didática e Metodologia da Educação pela Unopar (Arapongas) e pós-graduação em Educação a

Distância pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). 2 Professora doutora em Letras e docente na Universidade Estadual de Maringá (UEM).

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believe and taste for “reading”, and become it integrant part of their lives, besides that make students produce their own history, after the work. Based in their previous knowledge the students had about the theme, it was done an intervention in the classroom with the didactic material for this purpose. The material took students interpret, reflect and search for new history moral proposals. Knowing the same history can have different ends, animals characteristics are those attributed to the man, and finally, produce their own tale. This present work had a positive from students in the material, so that, after the work they have subject to produce their own tale, what it was possible by reading and their envolvement in the activities proposals and their appontament before, during and after the work. It was proven, through the questions, that students had taken conscience of their taste for reading and to produce a text it´s necessary “reading” on the other eyes and make this knowledge a complement for their lives.

Words keys: reading; sort; tales; knowledge

1 INTRODUÇÃO

Na incessante busca de alternativas que ajudem a sanar a dificuldade que

nosso aluno tem de fazer da leitura parte integrante de sua vida, é que foi

desenvolvido este trabalho com a leitura de fábulas.

O ato de ler e compreender o mundo em diferentes instâncias torna-se,

cada vez mais, uma dificuldade para os alunos. Esse fato é percebido tanto

durante a prática docente quanto pelas publicações a respeito do tema em jornais

e revistas. Os professores têm o desafio de formar um aluno leitor em ambiente no

qual a leitura não é sentida como uma necessidade e, muito menos, como um ato

de prazer. Frente às dificuldades, o professor deve procurar alternativas para

inserir o aluno no mundo de leitores e torná-lo capaz de interagir com textos e,

partindo desses, depreender significados e abstrair conceitos para a sua vida.

Tendo por objetivo despertar o gosto pela leitura e fazer com que o aluno

produza sua própria história, o trabalho com o gênero FÁBULA foi propício, pois

esse mexe com o imaginário do aluno. A fábula é narrativa curta, que apresenta

uma moralidade ao final. O trabalho com a leitura de fábulas oferece ao aluno a

possibilidade de reflexão sobre padrões de comportamento e mudanças de valores

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ocorridos de acordo com o contexto histórico, além de possibilitar comparações

com situações cotidianas, vivenciadas pelo estudante.

Pensando nessa temática, é que nos propusemos a desenvolver um projeto

de leitura em uma Unidade Didática que foi trabalhada com alunos da 5.ª série da

Escola Estadual Cecília Meireles de Santa Fé, no segundo semestre de 2010.

Neste artigo, apresentamos os resultados dessa intervenção pedagógica.

Para tanto, o artigo encontra-se organizado da seguinte forma: introdução,

referencial teórico, metodologia, análise de dados, conclusão e referências.

2 LEITURA DO GÊNERO FÁBULA

No mundo em que vivemos, caracterizado pela circulação social de um

grande e diversificado volume de informações, a capacidade de ler e interpretar

textos é imprescindível.

A leitura é um instrumento valioso para a apropriação de conhecimentos

relativos ao mundo exterior. Não apenas isso: ela pode se constituir também em

um poderoso instrumento para o autoconhecimento.

Não lemos todos um mesmo texto da mesma maneira. Há leituras respeitosas, analíticas, leituras para ouvir as palavras e as frases, leituras para reescrever, imaginar, sonhar, leituras narcisistas em que se procura a si mesmo, leituras mágicas em que seres e sentimentos inesperados se materializam e saltam diante de olhos espantados. (MORAIS, l996. p. 13)

A leitura pode causar diferentes impactos de acordo com a experiência do

leitor, pois um mesmo texto pode responder de diferentes maneiras para diferentes

leitores de acordo com suas experiências de vida.

Para Cagliari (1989), a leitura é fator primordial na aprendizagem do aluno,

pois é por meio dela que ele tem condições necessárias para se apropriar de todos

os conteúdos necessários para sua formação integral. Para que isso aconteça, é

necessário que a leitura passe a fazer parte dos seus gestos diários: ele precisa

sentir a necessidade de ler.

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Necessidade de ler é suscitada por desafios diversos: querer conhecer,

apoderar-se de bens culturais guardados pela escrita, descobrir outros mundos,

perceber e buscar outras leituras que “conversem” com sua leitura, ou conversem

com o leitor. São desafios que podem gerar prazer, fazer sonhar, ajudar a ler/ver o

mundo. O único limite para a leitura é a imaginação do leitor; é ele mesmo quem

constrói as imagens acerca do que está lendo. Por isso, ela se revela como uma

atividade frutífera e prazerosa.

As DCEs (2008, p. 57) afirmam que

a prática de leitura é um princípio de cidadania, ou seja, o leitor cidadão,

pelas diferentes práticas de leitura, pode ficar sabendo quais são suas

obrigações e também pode defender os seus direitos, além de ficar

aberto às conquistas de outros direitos necessários para uma sociedade

justa, democrática e feliz.

Sabemos que todo processo de ensino-aprendizagem deve estimular a

sensibilidade e a afetividade, o autoconhecimento como forma de melhor predispor

o aluno para a apropriação de conhecimentos e um estudo mais significativo.

2.1 Em se tratando de leitura

“A leitura não é uma atividade elitizada, mas uma ferramenta de

transformação social dos indivíduos.” Julian Correa

A preocupação com o processo de leitura não é prerrogativa apenas de

professores ou acadêmicos. Frases como esta são encontradas em sites de busca

não especializada e nos proporcionam uma visão de como deveria ser a leitura.

É papel da escola fazer do ser humano um cidadão capaz de ler o mundo, de entender seu papel nele. E, a partir de uma atitude crítica e decisiva, desempenhar sua tarefa de agente transformador da sociedade em que vive: além das paredes da sala de aula e dos muros da escola. (CORREA e GONÇALVES, 1999, p.69).

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Com a transformação da sociedade, novas propostas de ensino são

colocadas em prática com o objetivo de melhorar a qualidade da educação. Nesse

contexto, a leitura é vista como um dos elementos básicos para se alcançar esse

objetivo no processo de ensino-aprendizagem. As concepções de escola e ensino

evoluíram adaptando-se às exigências das mudanças sociais, mas mantendo

como papel fundamental a formação de leitores críticos que possam exercer sua

cidadania.

De acordo com Correa e Gonçalves, cabe à escola, na formação desse

leitor crítico, abrir um leque de possibilidades para despertar no aluno o gosto pela

leitura, mas por uma leitura que tenha como motivação o simples prazer, aquela

que desperta emoções e sensações que poderão levar ao prazer estético, à

apreciação do belo pelo belo. O texto literário é um dos caminhos para que tal

meta seja alcançada. No final do percurso, estaria o leitor pleno (1999, p. 70), que

é o que desejamos.

A leitura pode causar diferentes impactos de acordo com a experiência do

leitor, pois um mesmo texto pode responder de diferentes maneiras em diferentes

leitores de acordo com suas experiências de vida.

Para Leffa, “ler é atribuir significado não no texto, mas no leitor. O mesmo

texto pode provocar em cada leitor e em cada leitura uma visão diferente da

realidade” (1996, p. 14), pois a riqueza da leitura está na experiência do leitor ao

processar o texto. O significado não está na mensagem do texto, mas na série de

acontecimentos que o texto desencadeia na mente do leitor.

Como o significado do texto é entendido a cada leitura e a cada momento,

de acordo com sua experiência, isso faz com que o contato do aluno com o texto

literário seja intermediado por histórias que ele carrega consigo e que “serão

comparadas, contrastadas ou formarão posturas diversas em relação àquilo que o

aluno lê de acordo com sua experiência de vida.” (WIELEWICKI, 2008, p. 23)

Mas é preciso ir além do que está claro no texto. A interpretação acontece

plenamente quando o leitor ultrapassa os limites aparentes do texto, “lê nas

entrelinhas”, isto é, percebe o conteúdo implícito, buscando outras interpretações

de acordo com sua vivência.

Para Correa e Gonçalves (1999), a leitura é, sem dúvida, depositária de

realidades situadas em tempo e espaço diversos, gera descobertas linguísticas e

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propõe novos valores sociais e éticos. Logo, o homem tem, na prática da leitura,

um veículo importante para seu crescimento intelectual e social. (p. 77)

2.2 Em se tratando de fábulas

De acordo com Bakhtin (2006, p. 127), a língua vive e evolui historicamente

na “comunicação verbal concreta, não no sistema linguístico abstrato das formas

da língua nem do psiquismo individual dos falantes.” Assim, transformamos e

somos transformados pelas interações que realizamos através de enunciados

concretos que circulam em diferentes situações de comunicação, que atendem a

necessidades e contextos diferentes. Esses enunciados concretos são chamados

gêneros discursivos.

Todas as esferas de atividade humana estão sempre relacionadas com a utilização da língua. Não é de se surpreender que o caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas de atividade humana, o que não contradiz a unidade nacional de uma língua. A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que emanam duma ou doutra esfera da atividade humana. O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua - recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais - mas também, e sobretudo, por sua construção composicional. Esses três elementos (conteúdo temático, estilo e construção composicional) fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos são marcados pela especificidade e uma esfera de comunicação. (BAKHTIN, 1997, p. 279)

Destacamos aqui a importância de se trabalhar os gêneros de acordo com a

esfera de circulação, pois estão intimamente ligados à nossa situação cotidiana,

sendo que as narrativas encontram-se na esfera de circulação artística/literária que

fazem parte do cotidiano escolar. As narrativas despertam a atenção do aluno.

Dentro dessa concepção de gênero, onde todas as esferas da atividade

humana, por mais variadas que sejam, estão sempre relacionadas com a utilização

da língua, acreditamos que o gênero FÁBULA pode ser interessante, pois a fábula

é uma narrativa curta, uma ficção alegórica e que sugere uma verdade, um

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preceito moral, com intervenção de pessoas, animais e até entidades inanimadas.

La Fontaine, o mais conhecido fabulista do Ocidente, esclareceu que: “Fábula é

uma narrativa na qual, sob o véu da ficção, vai envolta a moralidade, e cujas

personagens são, ordinariamente, os animais.” (CEIA, 2005)

Os valores, durante toda história da humanidade, foram veiculados por

vários tipos de texto, inclusive as fábulas, que oferecem um exemplo riquíssimo

das tensões positivas e negativas da personalidade. Assim, as fábulas podem ser

um importante aliado tanto para o trabalho pedagógico como também em uma

perspectiva sociológica e antropológica, já que oferecem análise e/ou explicação

para um sem-número de comportamentos sociais e traços de personalidade

individuais.

Por ser a fábula um gênero muito antigo, que teve sua importância através

do tempo por seu caráter educativo, tem elementos essenciais para a formação da

criança; cativa o ouvinte/leitor e a cada história transmite ensinamentos, lição de

vida em forma de moralidade. As fábulas divertem e educam. Todas as verdades

das fábulas passam pelo debate e reflexão, realizando a transformação.

O gênero fábula foi selecionado por se tratar de um texto ainda presente na

vida das crianças e pelo lado lúdico e fantástico de suas histórias. Com essa

proposta de transformação do aluno em cidadão crítico e consciente, é que o

Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) proporciona ao professor da

rede pública de educação paranaense a oportunidade de repensar sua prática

pedagógica, aprofundar seus conhecimentos e tornar suas aulas mais prazerosas.

Com isso, o professor pode oferecer ao aluno um ensino de melhor qualidade,

proporcionando a ele uma ampliação da sua visão de mundo, tornando-o mais

crítico e reflexivo.

3 METODOLOGIA

Para a realização deste trabalho, foi desenvolvida uma Unidade Didática

intitulada “Uma viagem pelo fantástico mundo das fábulas”, sendo a unidade

didática “um conjunto ordenado de atividades, estruturadas e articuladas para a

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consecução de um objetivo educativo em relação a um conteúdo concreto.” (COLL,

1996)

Para que isso fosse possível, foi necessária uma definição clara dos

conteúdos a serem ensinados e o objetivo a ser alcançado que foi o de contribuir

para a apropriação, por parte dos alunos, das diversas formas de dizer que

circulam socialmente (gêneros discursivos), possibilitando-lhes fazer uso efetivo da

leitura e da escrita como forma de se inserir no contexto social em que vivem,

despertando o seu interesse pela leitura, formando leitores capazes de interagir

com os textos e, a partir deles, reconhecer os significados e assimilar conceitos

para sua vida. Para tanto, uma sequência ordenada de atividades foi proposta.

Para a verificação da viabilidade do material preparado, selecionou-se uma

turma de quinta série, mais especificamente a quinta série B, com 35 alunos, 17

meninos e 18 meninas, com idade entre 10 e 15 anos. Nessa turma, havia 2 alunos

de sala de recursos, mas que não frequentavam as aulas por problemas de

relacionamento com os colegas, alunos bem sucedidos e interessados, alunos não

tão interessados, mas que se envolviam na aula, porém sem muito proveito, ou

seja, como toda turma, era uma turma bastante heterogênea no que diz respeito ao

interesse pelos estudos.

Quanto à estrutura física da sala de aula, era uma sala comum, nem

espaçosa, nem apertada. Havia uma pequena mesa para o professor e as carteiras

e cadeiras não eram novas, porém em bom estado de conservação. Possuía um

quadro negro em boas condições e tinha dois ventiladores para arejar o ambiente.

A porta da sala de aula dava acesso ao corredor que normalmente era

movimentado.

Era requisito do programa que se apresentasse o projeto para todos os

membros da escola: professores, equipe pedagógica e funcionários. Isso ocorreu

na semana pedagógica e o projeto foi muito bem aceito pela comunidade escolar.

Assim que as aulas tiveram início, o projeto foi apresentado para os alunos

que se mostraram interessados em participar. Muitas foram as dúvidas que

surgiram no início da aplicação do material, porém tudo correu como havia

planejado. Foram previstas 32 (trinta e duas) horas de aula para a aplicação do

material didático e tudo ocorreu de acordo com o cronograma previsto.

Para iniciar o projeto, primeiramente, foram trabalhados alguns gêneros

discursivos, dando ao aluno a oportunidade de (re)conhecer os vários gêneros que

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circulam socialmente, suas características, com a oportunidade de apresentarem

comentários e observações sobre o formato de cada um por meio de perguntas,

como:

� Uma carta e um manual de instrução têm o mesmo formato?

� Uma piada e uma lista de compra têm a mesma finalidade?

� Uma história é lida da mesma maneira que uma bula?

� Por que se lê?

� Para que se lê?

Na aula seguinte, após ouvir as opiniões dos alunos, foi solicitado que

respondessem a perguntas sobre seus hábitos de leitura. Foi entregue uma ficha

com um questionário para cada aluno que depois de respondida foi recolhida para

a análise do professor.

Além disso, na aula seguinte, foram trabalhados gêneros que os alunos

trouxeram a partir de uma pesquisa que realizaram como tarefa.

O QUE VOCÊ TEM A DIZER SOBRE SEUS HÁBITOS DE LEITURA? 1. Você gosta de ler? ( ) sim ( ) não ( ) mais ou menos 2. Você lê livros? ( ) sim ( ) não 3. Quantos livros por ano costuma ler? ( ) um ( ) dois ( ) três ou mais ( ) nenhum 4. Que tipo de leitura você lê? ( ) gibis ( ) histórias curtas ( ) romances ( ) piadas ( ) outros 5. Que tipo de texto você lê e entende? ( ) propagandas ( ) cartas ( ) receitas ( ) histórias ( ) e-mails ( ) textos de livros didáticos ( ) rótulos ( ) outros 6. Você conhece pessoas que têm o hábito de leitura? ( ) sim ( )não 7. Se você não lê, não lê por quê? ( ) não gosta ( ) não tem oportunidade 8. Você acha que a leitura é importante? ( ) sim ( ) não

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9. Você sabe o que é uma fábula? ( ) sim ( ) não 10. Você conhece alguma fábula? ( ) sim ( ) não 11. Podemos mudar nosso comportamento e atitudes a partir das fábulas? ( ) sim ( ) não Questionário 1. Diagnóstico inicial sobre os hábitos de leitura dos alunos

Dessa forma, a partir do diagnóstico realizado com o público-alvo, é que

desenvolvemos esta Unidade Didática dividida em módulos, com o propósito de

fazer com que os alunos reconhecessem e soubessem ler o gênero e fossem

capazes, ao final do trabalho, de produzi-lo.

A Unidade Didática ficou assim organizada:

MÓDULO 1: Fábulas e fabulistas

Conhecendo um pouco mais sobre as fábulas:

� Você sabe o que é uma fábula?

� Você considera as fábulas histórias curtas ou longas?

� Quais personagens são frequentemente usados numa fábula?

� Geralmente qual é o tema das fábulas?

� O que, geralmente, vem no final das fábulas que você conhece?

� Quando você acha que surgiram as fábulas?

Após realizada essa atividade, a unidade foi desenvolvida com o auxílio da

Internet, situando a fábula em seu contexto histórico. Os educandos localizaram as

informações sobre a origem e as características das mesmas.

Nesse momento, percebemos um interesse muito grande por parte dos

alunos em querer saber mais sobre as fábulas e seus ensinamentos.

Antes de realizar, propriamente, a leitura das fábulas, lembramos quais são

os provérbios existentes na comunidade, compartilhando o conhecimento individual

com o grupo de alunos. Os conhecimentos foram discutidos e usados como

elementos motivadores para a procura de textos que lhes dessem vida, sob a

forma de fábulas. Para esse trabalho, agrupamos os alunos e distribuímos para

cada grupo duas ou três fichas de cartolina, com um provérbio conhecido,

esclarecendo que este é um tipo de frase concisa, com um sentido exato e que

apresenta um ensinamento proveniente da sabedoria popular. Após uma pequena

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discussão, o grupo elege a frase que, para a maioria, é a mais significativa,

fazendo uma pequena exposição dos motivos e/ou ilustrando-a com situações

cotidianas.

Ao distribuir as fichas com os provérbios, houve o cuidado de não fazer a

indicação dos títulos das fábulas. Esse conhecimento é deduzido pelo próprio

aluno, pois esse já tem um conhecimento anterior pelas histórias contadas por pais

e professores de anos anteriores, principalmente professores que se utilizam das

mesmas para passar ensinamentos a seus alunos.

Após a leitura de cada fábula a qual corresponde o provérbio, o aluno

intervém com sua opinião, trazendo a fábula para seu cotidiano, verificando como a

“verdade” contida na fábula se concretiza na atualidade. Com isso, é desenvolvido

o exercício democrático da leitura, em que o saber é construído pela junção de

vários saberes, aliados, aceitos ou rejeitados. A leitura deixa então de ser um ato

solitário, para se transformar em ato solidário, portanto, a verdade contida na

fábula não é mais imposta, o que faz com que seu caráter doutrinário seja

substituído pelo crítico, advindo da reflexão de muitos e não de apenas um.

Nesse processo de leitura, ocorre a construção coletiva de significados

(KUGLER, 1971), etapa da leitura que se dá após o encontro solitário do leitor com

o texto, isto é, com o ato individual e silencioso da leitura do texto. Há também a

leitura oral da fábula por um só leitor. No primeiro caso, o contato com o texto

envolve dimensão pessoal da recepção, quando o significado do texto é restrito ao

eu, importando neste momento o que o texto é para a pessoa, e não o que é para

o outro. Lendo ou ouvindo o texto, cada leitor aciona o seu imaginário e constrói o

mundo exposto pela ficção, de acordo com suas vivências e seu repertório de

leituras.

Ao confrontar e debater as várias possibilidades de leitura que o texto viabiliza, ocorre um entendimento mais profundo do texto em questão, sendo que o professor atua como orientador, intervindo a discussão das vozes reais (professor/aluno) e não somente as vozes advindas das fábulas. Por meio dessa discussão (professor/aluno/texto), há um crescimento individual que repercute no todo da sala de aula. (GRACIOTTO, 2010. p. 64)

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Após esse primeiro momento, o aluno, de posse dos vários

provérbios relacionados com as fábulas, faz uma correlação com situações

vivenciadas no cotidiano.

Realizado esse trabalho, é solicitada uma produção de texto contemplando

uma fábula à escolha do aluno.

MÓDULO 2: Diferentes versões de uma mesma fábula

Nesse módulo, foi trabalhada a fábula A cigarra e a formiga nas versões

de Esopo, Monteiro Lobato e uma versão moderna da mesma, momento em que o

aluno percebeu a diferença existente entre elas. Foram trabalhados exercícios de

leitura e interpretação enfocando as diferentes versões de uma mesma fábula.

Dessa forma, o aluno notou as mudanças de comportamentos e valores ocorridos,

semelhanças, diferenças e diferentes intenções de cada uma delas. Com essa

tarefa, o aluno observou que as fábulas veiculam mais do que histórias de animais,

veiculam valores e refletem a época em que foram produzidas.

Através das diferentes versões da fábula, de autores e épocas diferentes,

possibilitou-se a verificação dos elementos que se repetem, de se analisar outros

pontos de vista, não radicalizando respostas, porém incentivando o diálogo, a

argumentação, o respeito à diversidade de ideias e liberdade de expressão.

Essa unidade oportunizou ao aluno uma viagem desde a fábula clássica de

Esopo, passando pelas versões de Monteiro Lobato, revisitada na atualidade por

autores modernos como Vaz Nunes e uma versão moderna retirada de um vídeo

do You Tube.

MÓDULO 3: Característica dos animais

Nesse módulo, foi estudada a fábula O sapo e o boi em que se trabalhou

as características dos animais, possibilitando ao aluno entender que aquelas

atribuídas aos animais, nada mais são do que as características próprias dos seres

humanos.

E por que os autores das fábulas escolhem os animais? Devido a algumas

características que servem para comparar com atitudes humanas. Sempre houve o

costume de comparar pessoas com animais, mas na verdade, quem dá essas

características aos animais é o homem. Os animais nas fábulas, são personagens

simbólicas que pensam, sentem e agem como homens. São verdadeiras

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personificações do ser humano. As atividades desta unidade contemplaram uma

listagem de atitudes e comportamentos atribuídos aos animais que são

comparados às qualidades e características do homem, também foram trabalhados

exercícios nos quais o aluno fez relação com os acontecimentos da vida cotidiana.

MÓDULO 4: Moral da história

Nesse módulo, o aluno foi levado a identificar a moral da história na forma

de provérbios que são dizeres que fazem parte do conhecimento popular e as

pessoas repetem sem saber quem inventou. Além de identificar a moral da história,

o aluno foi convidado a dar sua versão da moral, o que possibilitou a ele

desenvolver seu pensamento e refletir sobre os fatos, situações ou atitudes

praticadas pelo ser humano.

Nesse módulo, foram trabalhadas as seguintes fábulas:

� O cão que levava a carne

� A assembleia dos ratos

� A raposa e as uvas

� O ladrão e o cão de guarda

MÓDULO 5: Analisando as fábulas

Nesse módulo, foram analisadas as seguintes fábulas:

� Liga das nações

� O lobo e o cão

� A panela de barro e a panela de ferro

� A rosa e o amaranto

Diferentes fábulas com diferentes intenções levaram o aluno a refletir

principalmente sobre as intenções do autor ao escrevê-las, quais os ensinamentos

passados por elas. Pretendeu-se, nesse módulo, que o aluno aproveitasse os

conhecimentos adquiridos no módulo anterior e percebesse que a moral da história

não é guiada pelo texto narrativo naturalmente e, sim, construída artificialmente

pelo fabulista.

MÓDULO 6: Escrevendo sua fábula

Aqui foi realizada uma proposta de produção de texto (no caso, uma fábula)

para verificação das mudanças ocorridas durante a realização do projeto. Nesse

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trabalho de construção do texto, foi observado se o aluno já conseguia apresentar

as características essenciais do gênero, reconhecer e utilizar, nos textos

construídos, relações de causa e efeito.

Nessa proposta de produção textual, foram sugeridas várias possibilidades

de produção que contemplam o tema, a intenção, o tipo de problema e o problema

a ser resolvido.

Em uma das propostas foram sugeridos vários provérbios e os alunos

escolhiam um para escrever sua fábula.

Um dos comandos para a produção da fábula era:

Para produzir seu texto, preste atenção às seguintes orientações: � Defina os animais que serão os personagens da história. � Lembre-se de que nesse gênero, os animais e as coisas comportam-se como seres

humanos. � As fábulas não são extensas. � Crie um título para a fábula. � A ilustração é indispensável para que seu trabalho fique completo. Não é somente um

desenho, mas a complementação do que você produziu, portanto, capriche na ilustração!

Para que essa produção da fábula fosse realizada, os alunos se agruparam

em duplas e alguns preferiram se agrupar em trio.

Os alunos produziram o gênero estudado, que após ser lido e revisado, foi

recolhido pelo professor para a leitura. As versões finais foram ilustradas e a

coletânea foi socializada com os demais alunos da sala por meio da dramatização

das mesmas.

Na produção textual, os alunos seguiram as orientações propostas e

construíram fábulas diferentes das já conhecidas.

Após todo o trabalho desenvolvido, o aluno respondeu a outro questionário,

o qual segue na sequência. O questionário privilegiou o conhecimento das fábulas.

AGORA QUE VOCÊ JÁ ESTUDOU FÁBULAS, ME RESPONDA: 1. Você sabe o que é uma fábula? ( ) sim ( ) não 2. As fábulas são histórias que chamam sua atenção? ( ) sim ( ) não 3. Você gostou de ler as fábulas? ( ) sim ( ) não

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4. Nas fábulas geralmente os animais são as personagens. Você acha isso interessante? ( )sim ( ) não 5. As fábulas sempre têm uma moral. Essa moral serve para os dias de hoje? ( ) sim ( ) não 6. Uma mesma história pode ter morais diferentes? ( ) sim ( ) não 7. As fábulas podem nos ajudar a entender melhor as atitudes das pessoas? ( ) sim ( ) não 8. Podemos mudar nosso comportamento e atitudes a partir das fábulas? ( ) sim ( ) não 9. Explique.

Questionário 2. Diagnóstico final sobre os hábitos de leitura dos alunos

4 ANÁLISE DE DADOS

Nesta seção, apresentamos a análise dos dados provenientes dos dois

questionários aplicados aos alunos e dos textos produzidos por eles. Na

sequência, seguem os dados mais relevantes dos questionários organizados em

gráficos.

Os dois primeiros gráficos mostram que, embora os alunos respondam que

gostam de ler, não têm o hábito de leitura.

10%

20%

70%

Sim

Não

Mais ou menos

Gráfico 1: Você gosta de ler?

Fonte: Questionário 1

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40%

30%

10%

20%

Um

Dois

Três ou mais

Nenhum

Gráfico 2: Quantos livros por ano você costumar ler?

Fonte: Questionário 1

Analisando esses gráficos pudemos perceber que a maioria dos alunos diz

que gosta de leitura, porém, a quantidade de livros lidos se restringe a 1 ou 2 por

ano, o que comprova que a leitura não faz parte integrante de sua vida. 10% dos

alunos não leem nenhum livro por ano. Só leem o que é estritamente necessário

para sua vida escolar.

Os dois gráficos a seguir mostram que 80% dos alunos sabe o que é e

conhece alguma fábula, pois as mesmas já fazem parte do cotidiano escolar de 1.ª

a 4.ª série.

80%

20%

Sim

Não

Gráfico 3: Você sabe o que é uma fábula?

Fonte: Questionário 1

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80%

20%

Sim

Não

Gráfico 4: Você conhece alguma fábula?

Fonte: Questionário 1

Como pudemos constatar, a leitura não faz parte integrante da vida

de todos os alunos, mas as fábulas já são conhecidas pela maioria deles.

Uma questão importante é a mudança de comportamento e atitudes a partir

das fábulas, 70% dos alunos acharam que não se pode mudar o comportamento

com a leitura das mesmas.

30%

70%

Sim

Não

Gráfico 5: Podemos mudar nossa comportamento e

atitude a partir das fábulas? Fonte: Questionário 1

No trabalho de produção textual, a maioria dos alunos reescreveu na

primeira atividade uma fábula já conhecida de anos anteriores.

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Fábulas reescritas

35%

20%10%

8%

8%

8%3% 8% A cigarra e a formiga

A lebre e a tartaruga

A raposa e as uvas

A galinha dos ovos de ouro

O pastor e o lobo

Vênus e a gata

O leão e o rato

Outro

Gráfico 6: Fábulas reescritas Fonte: Dados coletados em sala de aula

Vemos no gráfico que 35% dos alunos reescreveu a fábula “A cigarra e a

formiga”, uma história contada pelos pais e muito trabalhada pelos professores dos

anos iniciais do Ensino Fundamental, pois se trata de uma fábula na qual um dos

finais tem o ensinamento explícito de que “Os preguiçosos nada têm a colher”.

Sabemos que nossa região foi colonizada principalmente por descendentes de

imigrantes europeus, sendo que o trabalho é elemento fundamental para a cultura

desses povos e isso faz com o que aluno perceba que sem o trabalho a pessoa

está em desvantagem, ou seja, a escolha dessa fábula pode ter sido motivada por

um valor cultural, a importância do trabalho.

O aluno teve conhecimento também dos diferentes finais, dependendo do

autor (Esopo, La Fontaine ou Monteiro Lobato), e das diferentes morais.

Vejamos alguns exemplos dos textos produzidos:

A cigarra e a formiga

Era uma vez, no verão uma cigarra que só vivia a cantar, mas trabalhar que

era bom, nada.

Também, ali, existia um formigueiro, as formigas ficava trabalhando sem

cesar.

A cigarra não, pensava que o inverno iria chegar, ela só pensava só em

cantar. As formigas, trabalhavam para arranjar comida para o inverno.

Chegando o inverno, as formigas tiveram uma moradia, agasalho e comida.

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De repente ouviu-se uma batida na porta, era a cigarra ela estava com frio,

sem agasalho e sem comida.

A cigarra falou:

- Vocês poderia me dar moradia?

- Não, no verão você cantou, mas agora dance!!!

MORAL: Os preguiçosos nada têm a colher.

Aluno: M. L. S.

Essa é uma das fábulas mais conhecidas dos alunos por isso mesmo

pudemos perceber que é um texto em que há coerência e coesão. Vemos

características do gênero fábula presentes nessa produção textual: animais com

atitudes humanas, a história não é extensa e a principal característica do gênero: a

moral da história.

A produção a seguir também apresenta as características inerentes ao

gênero: animais como personagens que apresentam atitudes humanas; a história é

breve e contém a moral, elemento essencial na fábula.

A lebre e a tartaruga

Era uma vez uma tartaruga muito feloz.

Certo dia um lebre chamou a tartaruga para corre, então foi dada a largada,

a lebre sumil na frente quando a lebre estava perto da chegada resolvel tirar um

cochilo, e a tartaruga paçou sen que a lebre veja.

MORAL: Quem segue de vagar consegue ao longe.

Aluno: L. G. G.

Esse texto apresenta algumas marcas de oralidade (feloz, um lebre) e

problemas de ortografia (sumil, resolvel, paçou, sen, de vagar). É uma produção

bem resumida que apresenta problemas relacionados ao uso da pontuação e

presença de lacunas na expressão do pensamento (consegue ao longe).

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No texto seguinte, apesar de apresentar as características do gênero fábula,

percebemos que o aluno, mesmo estando na 5.ª série, apresenta muita dificuldade

na escrita.

A raposa e as uvas

Um dia uma Raposa estava passeando e estava com muita fome e sentiu

um cheiro bem gostoso e olhou para o lado e disse:

- Mais que uvas gostosas que delícia e foi pegar mais os pê de uvas era lá

encima e ela não consegia pegar e disse:

- Deixa essas uvas, estão verdes mesmo e olhou para o lado e falou:

-Tomara que ninguem me viu eu quereno pegar as uvas e ela foi embora

com fome.

MORAL: Quem desenha quer comprar.

Aluna: K. L. P.

Percebemos, nessa produção, a presença do discurso direto que dá mais

agilidade ao texto. Apesar de ser uma fábula muito conhecida notamos erros de

acentuação (pê, ninguem), ortografia (encima, consegia) e marcas de oralidade

(quereno). As características do gênero estão presentes no texto: animais com

características humanas, história curta e a moral da história.

Somente dois alunos escreveram textos que se afastaram do tema

proposto. Um desses textos é o que apresentamos a seguir:

O Goku o mais forte do mundo

Era um dia que a vó do Goku começo encina o Goku a luta artes marciais

ele aprendeu, e tinha uma mulher linda na, escola dele e um dia ela pergunto para

ele você treina, artes marciais ele falou treino porque porque vai ter um torneio de

Marciais e o Goku falo então eu vo e bateu o cinal da escola e ele foi em bora e

chegou na casa dele e pediu para a vó dele e ele falo não é muito perigoso, e ele

foi numa festa que a mulher tinha, chamado ele falo pra ela qualé o seu nome é

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Alice e ele foi para casa dele, e chegando lá ele viu a vó dele morta ele começa a

chora, e falo eu vou mata quem vez isso ele viu um rasdriador ele foi atras e

chegando, lá viu um pigulo e o pigulo quebrou a perna dele ele deu o game game

raaaaaa e mato ele.

Aluno: D. B. L.

Como se pode notar, não há no texto acima as características inerentes à

fábula. O que se observa é a escrita de uma narrativa, contando uma história de

desenho animado que o aluno assistiu na TV. Nesse texto, fica evidenciado que

muitos alunos de 5.ª série apresentam um baixo grau de letramento.

Em síntese, as produções iniciais dos alunos provavelmente mostraram que

as fábulas escritas foram aquelas já conhecidas e que não se afastaram do modelo

apresentado.

Após a aplicação da Unidade Didática, percebemos que os alunos

conseguiram produzir suas fábulas, possibilitando identificar, além do uso da

norma culta da língua, a apropriação da temática e da estrutura composicional

próprias do gênero.

Vejamos como ficaram alguns textos:

A rosa cor de rosa

Uma rosa muito bonita e vaidosa, que tinha uma cor diferente, muito bonita

e chamativa.

As outras cores ficavam se queixando porque elas eram todas iguais. Cada

uma se perguntava:

“Por que sou assim, não sou igual à ela?” Ficam elas se perguntando.

A rosa ficou se gabando por que tinha uma beleza esplêndida, e as outras

não tinham.

“É difícil ser linda!” Ao terminar a primavera todas as flores morreram, mas

só a rosa restou. Mas, seu momento de glória não ia durar muito, começando o

verão, à rosa não agüentou e murchou ficando da cor das outras, seu brilho

acabou e sua beleza também.

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MORAL: “Quem com ferro fere, com ferro será ferido.”

Alunos: M. L. S e N. S

Analisando esse texto, pudemos perceber que os alunos colocaram nele um

sentimento que pode ser encontrado em qualquer ser humano. É possível observar

isso no trecho em que colocam que a vaidade da rosa que se gaba por ter uma

beleza esplêndida, mas se esquece que a beleza é efêmera e passa e por isso não

devemos desprezar os demais, pois, em nossa essência, somos todos iguais.

O segundo texto nos mostra a ingenuidade de muitas pessoas que às vezes

confiam demais se esquecendo de que nem tudo o que vemos e ouvimos é a

realidade, pois o inimigo pode estar à nossa frente sem que percebamos.

A porca e a ovelha

Era uma vez uma ovelha muito ma que tinha feito muito mau para sua

amiga a porca.

Certo dia a ovelha foi desmascarada e disse:

- Mas eu me regenerei, sou boa, agora.

E sua amiga acreditando no que havia dito, falou:

- Que bom, estou feliz que mudou, agora posso confiar em você.

E as duas ficaram mais amigas do que nunca.

Certo dia, a ovelha roubou tudo o que a porca tinha e quando ela chegou

em casa percebeu que não havia mais nada.

MORAL: “Pau que nasce torto nunca se endireita.”

Alunas: N. M. P e V. S. C

O terceiro texto fala de inteligência que se sobrepõe à ingenuidade, que

muitas vezes o inteligente se sai muito melhor porque sabe como usá-la.

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A cobra esperta

Certo dia uma cobra chamada Zica vivia a rastejar pelo chão. Também tinha

um lagarto que se chamava Logor.

Um dia Logor estava com fome e achou Zica para comer, levou ela para seu

ninho para comê-la.

Zica com sua inteligência disse:

- Ei seu lagarto, você não vai me comer. Eu sou venenosa e se você me

comer irá morrer.

O lagarto inocente, acreditou e foi embora com fome.

MORAL: “A inteligência pode livrar do perigo.”

Alunos: L. G. G e M. A. da S. G

Notamos nessas produções alguns equívocos na escrita, porém que não

comprometem a norma culta da língua, como eliminação das marcas orais e uso de

marcas interacionais que marcam a situação de interlocução. Além disso, os alunos

fizeram uso da pontuação; uso de parágrafos e discurso direto para evidenciar o

diálogo dos personagens sendo essa uma característica fundamental na fábula e

usaram aspas, uma das variações para marcar ...observadas nas fábulas de Esopo.

Nos três textos acima, pudemos perceber as características da fábula:

animais ou plantas como personagens; comportamento das personagens como

seres humanos; as histórias não foram extensas e a principal característica: a moral

da história que apareceu em todas as fábulas e traços característicos da escrita.

Fica evidenciado o domínio com relação ao gênero, pois é possível

identificar, além do uso da norma culta da língua, a apropriação da temática e da

estrutura composicional próprias do gênero fábula.

O resultado alcançado foi que em todos os textos produzidos não houve fuga

do gênero proposto, o que nos leva a concluir que, embora a capacidade de

abstração seja limitada, em face da faixa etária, isso não impede o aluno de achar

uma maneira de se expressar com criatividade.

Vejamos agora o resultado de algumas questões do segundo questionário

respondido a respeito de seu gosto e conhecimento das fábulas.

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Os dois gráficos a seguir nos mostram que, após o trabalho realizado, 100%

dos alunos tiveram consciência do que é a fábula e que 92% gostou de lê-las.

Constatamos que os 8% que não gostaram de ler as fábulas, foram aqueles alunos

que não se interessam pela leitura.

100%

Sim

Gráfico 7: Você sabe o que é uma fábula?

Fonte: Questionário 2

92%

8%

Sim

Não

Gráfico 8: Você gostou de ler as fábulas?

Fonte: Questionário 2 No início do trabalho, 70% dos alunos acharam que as fábulas não

contribuem para a mudança de comportamento e atitudes. Agora apenas 12%

continuaram com essa opinião e que demonstra um avanço significativo em

relação aos ensinamentos contidos.

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88%

12%

Sim

Não

Gráfico 9: Podemos mudar nosso comportamento e

atitudes a partir das fábulas? Fonte: Questionário 2

Na questão aberta sobre como mudar nosso comportamento e atitudes a

partir das fábulas, os 88% que responderam sim à questão apresentaram uma

resposta como as seguintes: “As fábulas nos ajudam a mudar pois mostram cenas

do nosso cotidiano que as pessoas veem de errado em nós e não falam, mas nós

podemos ver nas fábulas e aprendemos.”; “As fábulas são um ensinamento, uma

lição de vida. Então essas histórias mostram, com as atitudes das personagens, o

que é certo e o que é errado e isso faz com que nós aprendamos nossa lição e faz

pensarmos ao fazer algo, ou seja, pensar se é certo ou errado.” “Porque quando

nós aprendemos ou lemos as fábulas, refletimos sua lição de moral e aprendemos

que fazer o bem é sempre melhor”

Os 12% que não concordaram disseram que “como uma história pode

mudar nossa vida e nossas atitudes?” e “as fábulas só falam de coisas ruins, eu

não gosto muito não” e “não, porque uma fábula não vai mudar nosso

comportamento, só se um dia estivermos errados e precisar dessa fábula para

fazer a coisa certa”.

Nesse último dado, fica evidenciado que uma porcentagem dos alunos

ainda tem atitudes infantis, o que é normal para essa faixa etária, e que as fábulas

não contribuem para a mudança de comportamento. Levando-se em conta, no

entanto, os demais dados fica evidenciada uma resposta positiva em relação ao

material, pois após o trabalho com as fábulas, o aluno teve conteúdo para produzir

sua própria fábula, o que foi resultado da leitura e do envolvimento dele nas

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atividades propostas e de seu comprometimento antes, durante e depois do

trabalho realizado. Também ficou evidenciado, por meio das respostas ao

questionário e da produção textual dos alunos, que, para desenvolver o gosto pela

leitura, é necessário um trabalho que conduza o aluno a ler com outros olhos e a

se apropriar desse conhecimento para a sua produção e para a sua vida. Por fim,

ficou evidenciado que os alunos se apropriaram das características desse gênero

escrito, o que mostra que os alunos precisam de trabalhos intensos, como esse,

para refletir e se apropriar da escrita.

5 CONCLUSÃO

No trabalho de leitura de fábulas, como também na realização das

atividades propostas, buscamos desenvolver o gosto pela leitura levando o aluno a

perceber as lições contidas no texto e que ele pudesse compreender que as

mesmas fazem parte de nossa vida cotidiana.

Nesse trabalho com as fábulas, foi abordado um ponto que a maioria das

crianças nessa faixa etária tem em comum, o fascínio pelo mundo encantado, pois

com sua imaginação fértil envolvem-se com o cenário mágico do faz de conta,

onde tudo é possível: voar, falar com animais, andar nas nuvens, etc. Esse

contexto facilitou o trabalho desenvolvido, pois possibilitou ao aluno uma

aprendizagem prazerosa que não visava somente à transmissão de conhecimentos

e sim lidar com suas emoções, trazendo para fora suas aflições, medos, tristezas e

um olhar curioso sobre o processo do qual estava fazendo parte.

Todas as atividades previstas no material foram aplicadas em sala de aula.

O material a ser implementado já estava previamente selecionado e pronto. Foi

entregue a cada aluno um material gráfico e digitado. Observou-se que a maioria

dos alunos levou esse trabalho a sério, realizando as atividades com interesse.

Desse modo, a aprendizagem dos alunos com a utilização desse material foi

dentro do esperado.

REFERÊNCIAS

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