da escola pública paranaense · pdf file · 2013-06-14do movimento...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PBLICA PARANAENSE
2009
Produo Didtico-Pedaggica
Verso Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
O poeta no o portador do fogo sagrado, mas o precavido possuidor de uma lanterna de bolso, que abre
caminho entre as trevas do dicionrio.
Carlos Drummond de Andrade
Curitiba
2010
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APRESENTAO 04 1. FALANDO DE POESIA 06 1.1 O QUE POESIA 06 1.2 O QUE UM POEMA 06 1.3 A AFINIDADE ENTRE MSICA E POESIA 08 1.4 LINGUAGEM POTICA CARREGADA DE SIGNIFICADOS 12 1.5 O PODER DA POESIA 13 2. TRABALHANDO COM A POESIA 15 2.1 LEITURA E ANLISE DE POEMAS 15 2.2 A ARTE DE DECLAMAR 19 2.3 A CRIAO DO TEXTO POTICO 20 3. DICAS E SUGESTES 24 4. COMO ANALISAR UM POEMA 25 5. DICAS E MACETES PARA DECLAMAR POESIAS 26 6. REFERNCIAS 27
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Caros professores e professoras,
Para iniciar essa unidade temtica escolhi esse trecho do romance A Peste,
por acreditar que somente pela educao e especialmente pelas aes dos
educadores que se podem gerar aes contra-hegemnicas, testemunhar a
esperana e ser feliz. Nesse texto, de Albert Camus sugere uma fidelidade tica com
a vida, num contexto de morte. Parece ser pessimismo comear este dilogo com tal
passagem, mas pensar em implementao de um projeto pedaggico sem pensar
em romper as barreiras de comodismo, de rotina cristalizada, de silncios, de
descrdito e de individualismo terreno frtil para matar os sonhos. Por isso a
importncia do estudo e da pesquisa que orientem os educadores a desenvolver e
implementar projetos que realmente promovam a melhoria do trabalho de ensino-
aprendizagem e, qui, abram caminhos para a transformao dessa sociedade.
importante registrar, aqui, que estamos vivendo um clima poltico e
ideolgico favorvel aos professores do Paran, pois nos oferece a oportunidade de
praticar a autocrtica necessria em relao natureza e finalidade do fazer
educativo. A preparao dos professores PDE, a partir da re-insero no mundo
As lies de Camus: A peste varria a ilha. Morriam no desespero muitos, que no tinham encontrado sentido para a vida, menos ainda para a morte antecipada. Rieux era um ctico feliz. Contentava-se com o destino traado de suas escolhas. Deixara de lado muitas ambies para viver intensamente o cotidiano. As embarcaes, com a notcia de morticnio, multiplicavam viagens para o continente onde no havia notcia de um nico contaminado. A ilha estava sitiada. Sua passagem estava em seu bolso, era o passaporte para continuao de sua vida, em outro lugar, longe da dor e da morte precoce. Estava inquieto. Seria a melhor opo, salvar-se? Contaram-lhe a histria de muitos que morriam no desespero, com medo da morte, aterrorizados com o que iriam passar. Voltava-lhe uma tentao: Se vejo a morte com naturalidade, no tenho medo, poderia quem sabe ajudar a passagem daqueles que a temem, ser justo partir? Tomou na mo, com medo mas com intensa felicidade, e destruiu seu passe para a vida. Sabia que estava certo. Afinal de contas, disse alto para si:
vergonhoso a gente se sentir feliz sozinho! (A Peste, romance do filsofo argelino Albert Camus, 1923 1961)
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acadmico, proporciona o pensar e discutir, coletivamente, a educao e, ento, a
idealizao de projetos de aprendizagem e sua implementao nas escolas pblicas
paranaenses, haja vista constiturem-se em instituies essenciais para a
manuteno e o desenvolvimento de conscincia democrtica e crtica. Alm disso,
pode-se afirmar que se constituem em espaos para a defesa dos professores,
como intelectuais transformadores, que combinam a reflexo e prtica acadmica a
servio da educao dos jovens, com o intuito de que assumam posturas de
cidados reflexivos e ativos, social e politicamente. Essencial, portanto, para a
categoria de intelectual transformador a necessidade de tornar o pedaggico mais
poltico e o poltico mais pedaggico, possibilitando o ampliar da viso do coletivo
sobre a unidade e da unidade que gesta o coletivo.
A transformao da sociedade evoca a necessidade de prticas educativas
pautadas no exerccio da solidariedade contra a ganncia, o individualismo e a
competio. A solidariedade advm da construo coletiva, propiciada por uma
pedagogia libertadora, humanista e humanizadora.
Essa escola, que se pretende transformadora e libertadora, deve fazer a
ligao entre o que prope o currculo e as propostas de mudana para aperfeioar
a prtica pedaggica. Da a importncia de que o trabalho em sala de aula acontea
num espao de interlocuo e produo de situaes favorveis para a
aprendizagem.
importante, a partir dessa premissa, que, a cada dia, a cada ano letivo, o
professor repense e reinvente sua prtica pedaggica, ampliando, pela crtica
produtiva, o potencial do olhar que lana ao horizonte do fazer didtico, de forma
que a diversidade de linguagens seja campo em que possa semear e colher os
frutos da educao e reflexo diria.
Portanto, no desenrolar das aes/tarefas, ele deve se deslocar do papel
tradicional para ouvir e responder, mediando a busca de informaes e pontos de
vista na preparao de um trabalho que se torne sedutor, produtivo e eficiente para
todos e, principalmente, para que a transformao em todos os nveis se concretize.
Esse movimento do professor em direo mudana de postura
pedaggico/didtica o que se entende por educao em processo mediado, o qu,
em anlise clara, pode ser entendido como processo poltico.
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1.1
Poesia, do grego poesis, significa criar / fazer e anterior alfabetizao.
Ela permaneceu por um longo tempo na oralidade, usada como mtodo mnemnico
de guardar e transmitir a histria (feitos polticos e guerreiros) e cultura dos povos
antigos, de sua genealogia e leis. Ligada s tradies musicais, religio nos
mantras, sutras e oraes e mitologia, a poesia est presente nas obras
Gilgamesh (pico de 3000 a.C.) no Vedas (1700-1200 a.C.) e nas famosas epopias
criadas por Homero, entre 800 e 675 a.C., por exemplo, que foram organizadas em
versos e eram, comumente, declamadas com acompanhamento musical.
A linguagem potica cria painis elaborados metaforicamente para alm do
tempo cronolgico. Ela possibilita a transcendncia, na qual apresenta um universo
que existe na dimenso dos sonhos em que esto refletidos os anseios do ser
humano.
Essa linguagem amplia o horizonte do leitor e permite o dialogismo da leitura
literria com outras manifestaes artsticas.
1.2 O que um poema?
Poema: entidade sonora e orgnica. Possui estrutura externa (FORMA) e
estrutura interna (CONTEDO) concretizados em linguagem potica, cuja
organizao (FORMA) se pauta pela utilizao de figuras de estilo e vocbulos
capazes de produzir efeitos de ritmo e musicalidade inerentes ao gnero e
inteno inicial da criao potica.
O que poesia?
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Na tentativa de explicar e definir a poesia, de forma no pragmtica, utilizo e
transcrevo algumas idias de escritores e/ou poetas que j falaram com muita
propriedade a respeito do assunto.
No discurso proferido na entrega do Prmio Nobel, Pablo Neruda afirmou que
no aprendeu nos livros nenhuma receita para compor um poema, assim como no
deixou impresso nenhum conselho ou receita para que outros poetas recebam dele
algum ensinamento. Ele, durante a vida toda, utilizou palavras para explicar a si
prprio.
Segundo Jorge Luis Borges, ao folhear livros de esttica, sentia a
desconfortvel sensao de estar lendo obras de astrnomos que nunca
contemplavam as estrelas. Escreviam sobre poesia como se a poesia fosse uma
tarefa, e no o que em realidade: uma paixo e um prazer. Ele afirma que leu e
aprendeu num livro sobre esttica de Benedetto Croce, que poesia e linguagem so
uma expresso (grifo meu). Ao pensamos na expresso de algo, camos no velho
problema de forma e contedo, e se pensamos sobre expresso de nada em
particular, isso de fato no nos rende nada. Poesia vida. E a vida feita de poesia.
A poesia no alheia, a poesia est logo ali, espreita: pode saltar sobre ns a
qualquer instante. (BORGES, 2000, p. 10)
Ainda em Borges, l-se que
POTICA II
Com as lgrimas do tempo E a cal do meu dia Eu fiz o cimento Da minha poesia E na perspectiva Da vida futura Ergui em carne viva Sua arquitetura. No sei bem se casa Se torre ou se templo. (Um templo sem Deus.) Mas grande e clara Pertence ao seu tempo ... Entrai, irmos meus! (Vinicius de Moraes, in O operrio em Construo)
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Emerson escreveu que uma biblioteca um tipo de caverna mgica cheia de mortos. E aqueles mortos podem ser ressuscitados, podem ser trazidos de volta vida quando se abrem as suas pginas. O livro de poesia um objeto fsico e quando chega mo do leitor, as palavras que eram meros smbolos saltam para a vida, e assim temos a ressurreio da palavra. (BORGES, 2000, p. 17.)
Poesia a expresso do belo por meio de palavras habilmente entretecidas.
Uma definio suficiente para dicionrios ou manuais de instruo, embora bastante
frgil quanto ao real valor semntico da palavra.
Borges argumenta que no podemos definir poesia em palavras, tal como
no podemos definir o gosto do caf, a cor vermelha, nem o s