da escola pÚblica paranaense 2009 · 2013-06-14 · texto, ou seja, em elementos extra-textuais...
TRANSCRIPT
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
______________________________________________________
RITA DE CÁSSIA MASETI MONTANI
O GOSTO PELA LEITURA POR MEIO DE AUTORES
PARANAENSES
SÃO JOÃO DO IVAÍ 2011
RITA DE CÁSSIA MASETI MONTANI
O GOSTO PELA LEITURA POR MEIO DE AUTORES
PARANAENSES
Artigo Final apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE da Secretaria Estadual de Educação do Paraná – SEED, como requisito parcial para o cumprimento das atividades propostas, sob a orientação do Profº Dr. Vladimir Moreira, da Universidade Estadual de Londrina.
SÃO JOÃO DO IVAÍ 2011
2
O GOSTO PELA LEITURA POR MEIO DE AUTORES PARANAENSE S
Autora:Rita de Cássia Maseti Montani¹
Orientador: Vladimir Moreira²1
RESUMO
Este artigo versa sobre o resgate do gosto pela leitura e o prazer de ler autores paranaenses. Tal proposta deve-se ao fato de observar que a cada ano que passa os alunos leem menos e é fato que os alunos que possuem variadas formas de leitura, possuem também mais subsídios para a produção de um texto argumentativo, pois os que pouco leem, limitam-se a ler apenas com o intuito de fazer pesquisas, de acordo com as suas circunstâncias, e ficam afastados das obras literárias. Para dar conta desta problematização, lançou-se mão de uma proposta de trabalho que envolve a leitura de autores paranaenses, pois além de ser uma literatura muito rica é pouco conhecida e por certo ajudou na aquisição do gosto pela leitura. O mesmo culminou com o relato de implementação de um Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola, mais especificamente no Colégio Estadual Arthur de Azevedo, no município de São João do Ivaí PR.
Palavras-chave: aluno; leitura; literatura paranaense;
1. Introdução
O presente artigo surgiu da necessidade de constatar o pouco interesse dos
educandos pela leitura de forma geral, principalmente pela literária. O que mais me
motivou a realizar este Projeto foi o fato de perceber que as produções dos alunos
ficam mais “pobres” a cada ano que passa, pois a falta de leitura limita tanto a
compreensão dos fatos de forma geral quanto os deixa com um vocabulário limitado.
Pelo fato de ser uma admiradora da literatura paranaense, entendi que seria uma
boa oportunidade para desenvolver um trabalho que dinamisasse as atividades
propostas a leitura juntamente com a divulgação dos escritores pertencentes ao
nosso Estado.
1Especialização em Descrição e Ensino, graduada em Letras Português-Inglês, professora de Português e Inglês do Colégio Estadual Arthur de Azevedo. ²Especialização em Língua Portuguesa , graduado em Letras Vernáculas e Clássicas, docente de Metodologia e Prática de Ensino de Língua Portuguesa da Universidade Estadual de Londrina.
3
Ler é muito mais do que extrair informações de um texto, através da
decodificação de um conjunto de fonemas. Ler constitui um processo de construção
de significado e sentido entre leitor e autor; é uma atividade aparentemente
individual, mas, na verdade, é um diálogo, uma atividade mediadora na relação do
homem consigo e com os outros homens.
Diante do exposto, ao ser selecionada para o Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE – não tive dúvidas em procurar compreender
este processo de desinteresse pelo ato de ler e em tentar propor algo diferenciado
para que o aluno percebesse que a leitura não precisa e tampouco deve ser
considerada uma obrigação, mas sim deve trazer além do conhecimento,
possibilidades de reflexão e prazer.
Neste sentido, o objetivo deste estudo foi promover o gosto pela leitura por
meio de obras literárias de autores paranaenses.
Para tanto, empregamos como metodologia uma pesquisa sobre algumas
obras literárias de autores paranaenses, optando por uma obra de cada autor que se
segue: Dalton Trevisan, Domingos Pellegrini, Helena Kolody e Paulo Leminski, que
foram posteriormente divulgadas, lidas apresentadas e discutidas pelos alunos do
terceiro ano do Ensino Médio.
Iniciamos a discussão fazendo uma pequena incursão sobre a leitura, suas
concepções, importância e entraves, culminando com o relato do Projeto de
Intervenção Pedagógica na Escola.
2. Fundamentação Teórica
Segundo Freire (1994, p.11), “a leitura do mundo precede a leitura da palavra,
daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura
daquela”.
Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto
a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto
e o contexto.
Leitura é um processo que se inicia espontaneamente, antes do ingresso na
escola, e esta, às vezes, se transforma na responsável pela inibição da criança –
leitor, dado aos métodos utilizados pela escola na alfabetização. Outro fator que
leva à inibição, é a criança sentir-se obrigada a seguir regras, pronunciar palavras
4
corretamente, ler palavra por palavra, sem tropeços, o que na maioria das vezes é
visto como erro.
Desta maneira, vê-se a leitura ligada a métodos e técnicas artificiais,
descontextualizados, levando professores a não atingirem os objetivos propostos e
alunos impedidos de inventar e criar, serem espontâneos para depois sistematizar.
Portanto, a leitura constitui-se em processo que deve ser analisado por suas
especificidades, pois nela, o aluno tem que atribuir sentido a um texto pronto e uma
leitura de simples decodificação de elementos linguísticos não proporciona o sentido
de texto.
Seja qual for gênero textual, um jornal, uma receita, uma história, um poema,
sua leitura constitui uma interrogação, pois ler é interrogar, é questionar o mundo,
vendo no texto um todo, levando-se em consideração sua mensagem e os
elementos mais significativos para cada um.
A leitura é uma atividade de produção de significados, incluindo e antecipando
previsão, seleção, adivinhação, tendo no leitor um coprodutor, pois o ato de ler
ultrapassa e muito a decifração do código. Ocorre, porém, que quando se lê, faz-se
uma seleção das palavras, considerando-se as que já conhecem ao longo do texto.
A escola deve propiciar ao aluno oportunidades para fantasiar quando lê, pois
é natural a criança desde pequena procurar adivinhar, fingindo ler, brincando, para
depois acertar. Mas, tudo isso é visto como “erro” e não como conflitos que vão levar
justamente à aprendizagem que começa de maneira espontânea, sendo aí,
fundamental o papel do professor.
Nas séries iniciais, é comum as crianças se apoiarem nos índices fora do
texto, ou seja, em elementos extra-textuais como gravuras, etc.. A seguir, voltam-se
para o texto, observando as ilustrações, palavras repetidas, palavras já conhecidas,
frases, formato do livro. O processo de leitura, como deve ser do conhecimento do
professor, que se preocupa com o saber-ler, envolve índices fora do texto e textuais.
A fala, a leitura e a escrita são produtos de um mesmo processo, das relações
sociais. Como se sabe, nem todos aprendem as mesmas coisas, ao mesmo tempo,
da mesma forma, como também é sabido que não se lê só palavras.
A leitura segue um trajeto que se inicia pela codificação pictográfica é a leitura
de imagens reais ou inventadas, impressas, televisionadas, filmadas,
computadorizadas ou aparentes, como os fenômenos da natureza; passa pela
decodificação ideográfica, quando os símbolos são invenções e criações individuais
5
ou de pequenos grupos, carregados de ideias; e a leitura significativa, em que as
ideias e símbolos espontâneos são substituídos pelos signos pertencentes à língua
materna de um povo. Portanto, o leitor, seja de imagens, símbolos ou signos
estruturados linguisticamente, transforma o que lê, em função de suas vivências e
interesses.
Assim sendo, se a escola quer que seu aluno aprenda a ler, ela precisa
auxiliá-lo a tornar-se leitor, não discriminando as diferentes leituras que realiza nas
suas ações cotidianas no cenário da história da sua vida.
Sendo a leitura um fator primordial e importante para a aprendizagem de
todas as outras áreas do conhecimento e fundamental para a relação do homem
com o seu contexto social, deve-se abrir espaços no dia a dia da sala de aula para
todos os tipos de leitura como crônicas, narrativas, textos jornalísticos e publicitários,
fábulas descrições, anedotas, para que o diálogo e a livre expressão possam
acontecer de modo lúdico e prazeroso, em vez de se transformar o ato de ler em
uma tarefa enfadonha, difícil, ameaçadora e rotineira.
O ato de ler integra raciocínio, instruções e imaginação, não podendo ser
considerado uma atividade mecânica e sem significados. Qualquer que seja o texto,
é indispensável a discussão em torno dele, debatendo e refutando as ideias nele
contidas, pois sua compreensão poderá ser alcançada através da leitura crítica e
implica a percepção das relações entre o texto e o contexto.
Afirma Freire (1994, p.12), “o processo de leitura deve envolver uma
compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na decodificação pura da
palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na
inteligência do mundo”.
Portanto, a palavra dita flui do mundo mesmo através da leitura que dele
fazemos. E quanto mais as pessoas leem mais conhecem o mundo a sua volta e as
pessoas que nele vivem. A leitura é a atividade fundamental que a escola
desenvolve para a formação dos alunos. Pode-se dizer que muitas vezes é mais
importante ler do que escrever, pois o aluno sendo um bom leitor, terá todas as
chances de se sair bem em todas as disciplinas; caso contrário, encontrará
dificuldade de compreensão e interpretação de atividades a serem desenvolvidas. O
importante é compreender o que se lê. Enfim, todos os professores de todas as
matérias devem trabalhar a leitura, pois a mesma não é função específica só do
professor de português.
6
Pode-se afirmar que a leitura é a extensão da escola na vida da criança, pois
ler é uma atividade extremamente complexa e envolve problemas não só
semânticos, culturais, ideológicos, mas até fonéticos.
A leitura é a realização do objetivo da escrita; é um processo de descoberta,
como busca do saber científico. Enfim, tudo o que se ensina na escola está
diretamente ligado à leitura e depende dela para se manter e se desenvolver.
A leitura é pensada num processo total de percepção e interpretação dos
sinais gráficos e das relações de sentido que os mesmos guardam entre si. Portanto,
ler não é apenas decodificar palavras, mas converter-se num processo
compreensivo que deve chegar às ideias centrais, às influências, à descoberta dos
pormenores, às conclusões.
Há, ainda, a leitura como meio de lazer e informação. Dá-se ênfase maior à
informação, que usa como veículo os livros, os jornais e outros meios de
comunicação de massa, transformando-se o próprio texto ficcional em fonte de
informações.
Os valores da leitura, segundo Cattani e Aguiar apud Silva (1996, p.26) são:
• ser um instrumento de comunicação entre os homens;
• constituir-se em um patrimônio histórico-cultural, através do qual o aluno
estabelece relações entre o presente e o passado;
• representar um documento social que permite à criança reconhecer o meio
em que vive;
• funcionar como um recurso para o ajustamento social do aluno;
• contribuir para a formação integral do homem, através do desenvolvimento
do pensamento e da postura crítica;
• atuar como um meio para atingir os objetivos da educação, não se
constituindo um fim em si mesma.
Ainda, segundo as autoras (1996, p.12), a leitura é um instrumento
moralizante, chegando a afirmar: “A leitura utilizada como um instrumento formativo
afasta o homem dos vícios, da hipocrisia, da banalidade, da vulgaridade e,
sobretudo, do tédio e da angústia. De uma boa leitura o homem ressurge consolado,
otimista e disposto a continuar a luta que empreendeu até o final”.
A probabilidade de êxito na leitura torna-se possível pela interação entre os
elementos textuais e os conhecimentos do leitor, visto que ler é o processo de
7
construir um significado a partir do texto. A interação que se estabelece entre o texto
escrito e o leitor é diferente daquela estabelecida entre duas pessoas quando
conversam.
No que se refere ao exemplo de duas pessoas que conversam, estão
presentes, além das palavras, aspectos como: gesticulação, expressão facial,
entonação da voz, repetições, perguntas que dão significado à fala.
Em se tratando da leitura do texto, o leitor está diante de palavras escritas por
um autor que está ausente e impossibilitado de completar as informações, ocorrendo
então que o leitor, na medida em que lê, vai fornecendo informações ao texto, e este
por sua vez atua sobre os esquemas cognitivos do leitor.
Quando se lê alguma coisa, o leitor vai traçando um esquema, o qual se
confirma ou se altera, pois uma leitura mais profunda o tornará mais claro e exato.
No entanto, o mesmo texto lido por duas pessoas diferentes, implica em mensagens
também diferentes, pois irá depender das capacidades já internalizadas e do
conhecimento de mundo que cada uma possui, como também há o fator da
diferença dos esquemas cognitivos de cada um.
O entendimento do que se lê depende das características do leitor, além das
particularidades do próprio texto e do autor, pois na compreensão da leitura
interferem o leitor e sua totalidade, ou seja, facilitam ou dificultam a compreensão,
as formas de linguagem que ele domina, o conhecimento de mundo, seus propósitos
e seus esquemas conceituais.
Além dos fatores já comentados, existem aqueles que se encontram no
próprio texto ou no autor e que podem interferir no êxito da leitura. Entre os fatores
textuais estão os físicos (tipo e tamanho da letra, cor, tipo de papel, comprimentos
das linhas) e os linguísticos (características das frases e orações). Há ainda fatores
derivados do conteúdo do texto que favorecem ou dificultam a compreensão
conforme o conhecimento e os interesses do leitor.
Como já foi dito, a leitura inicia-se desde os primeiros contatos com o mundo.
Ela deve ser vista como uma das conquistas do ser humano em seu processo
evolutivo, ocorrendo, assim, um acúmulo de experiências, conhecimentos e práticas
vividas em sociedade e que são transmitidas de uma forma verbal ou por meio dos
livros, contos, e da cultura popular.
8
A leitura é um dos instrumentos que facilitará e levará a transformação à
cultura futura e a compreender as ações do presente e do passado. É claro que tudo
isto exige trabalho do leitor, contudo será menos desgastante se este o fizer com
prazer.
Destaca-se a seguir várias concepções de leitura, de diferentes autores:
Segundo Freire, (1994, p.15) “numa concepção de linguagem
interacionista, a leitura ultrapassa a compreensão da superfície, é mais do que o
entendimento das informações explícitas, é um processo dinâmico entre sujeitos,
que instituem trocas de experiências por meio de contexto escrito”. Assim, é
necessário que se entenda através do texto o explícito e o implícito, ou seja, as
linhas e as entrelinhas.
Portanto, ao ler, o leitor estará desenvolvendo a condição de recriar
referências de mundo, transformando-se num produtor de acontecimentos em
função do aprimoramento da compreensão e de sua consciência crítica, sentindo o
prazer de estar transformando e libertando-se.
Para Cattani e Aguiar apud Silva (1996, p.26), “ler não é apenas decodificar
palavras, mas converte-se num processo compreensivo que deve chegar às idéias
centrais, às inferências, à descoberta dos pormenores, às conclusões”.
Como se sabe, a leitura sofre distorções agudas, sendo confundida com o
processo de alfabetização, decodificação de sinais gráficos. No entanto, a leitura é
capaz de colher subsídios para posicionar-se frente aos problemas sociais. Pode ser
um grande instrumento de combate à alienação e à ignorância.
Para Silva (1993, p.47), “a leitura é fundamentalmente uma prática social.
Todos os seres humanos podem se transformar em leitores das palavras e de outros
códigos que expressam a cultura”.
Apoiado no autor, observa-se que é por meio da leitura que o sujeito adquire
uma nova forma de existir e conviver socialmente, cujo resultado é um situar-se
constante frente aos dados dessa realidade, expressos e interpretados através da
linguagem.
E para Angelo apud Silva (1983, p.59), “a leitura como hábito, torna maior a
vontade de quem lê, formando no leitor uma consciência crítica e libertadora, pois
quanto mais pratica mais se liberta, se transforma”.
9
Na verdade, o ser humano que lê, liberta-se, agindo de acordo com sua
necessidade, desmascarando os ocultamentos feitos e impostos pela classe
dominante, posicionando-se e lutando a favor de mudanças.
Quando uma pessoa sabe ler, não existe fronteiras para ela, pois pode
viajar não apenas para outros países, mas também, no passado, no futuro, no
mundo da tecnologia, na natureza, no espaço, passando a conhecer melhor a si e
aos outros.
De forma sintética, nota-se que a leitura é feita com o intuito de adquirir
informações, conhecimentos e prazer, abrindo para novos horizontes,
desenvolvendo no leitor maior capacidade de pensar sobre a realidade e as
condições de vida das pessoas. O leitor, tornando-se crítico, interpreta o significado
almejado pelo autor, questiona, problematiza, aprecia com criticidade, posicionando-
se diante dos fatos, chegando a cultivar a capacidade de libertação para o processo
de reconstrução de nossa sociedade. Um bom leitor não somente encontra prazer
nos livros, mas também pode pensar e aprender melhor, pois quanto mais as
pessoas leem, mais conhecem o mundo a sua volta e as pessoas que nele vivem.
A educação do ser humano sempre envolve dois fatores fundamentais:
formação e informação, isto porque a obra escrita registra a cultura produzida pelo
homem nas suas etapas evolutivas. É utilizada na transmissão de conhecimentos a
novas gerações, em que muitas vezes a escolarização de um indivíduo é vista como
ato de aprender a ler e escrever. Em outro parâmetro, a obra de informar impõe ao
leitor atitudes, valores e crenças instituídos socialmente.
Analisando a prática educacional da leitura, constata-se a necessidade de
uma mudança do encaminhamento da mesma nas escolas, pois ainda há uma
prática ultrapassada. Os próprios professores sentem-se oprimidos e
desestimulados pela situação socioeconômica que os envolve, acabam
transformando-se em não leitores, apresentando um baixíssimo repertório literário
que consequentemente transmitirá aos alunos a falta de gosto pela leitura. Esta é
uma das causas de se ter alunos não cativados pelo gosto da leitura. Por outro lado,
convém ressaltar que a ação de ler tem suas origens na própria família; pais que
exploram várias fontes de leituras (livros, revistas, jornais, etc) tendem a despertar
na criança o interesse em manuseá-las.
10
Segundo Silva, (1993, p.104):
Nos cursos de atualização que venho propondo em diferentes pontos do Brasil, chego a perceber que os professores apresentam razões muito superficiais para justificar os problemas que afligem a leitura. Costumam construir ‘bodes expiatórios’ a fim de justificar o fracasso da escola no desenvolvimento da leitura e na formação de leitores críticos e assíduos. Assim, a razão principal da ‘preguiça mental’ para ler ou nunca se encontra motivado frente a um texto desafiador, ou está no âmbito da família, que não estimula ou orienta a criança para a leitura. Ou, ainda advém da influência da televisão, que ocupa todo o tempo do estudante. Ora, esses motivos têm caráter muito imediatista e não levam em conta a relação existente entre a escola e o todo social e a política dominante no país.
A crise da leitura no Brasil não é, em essência, uma crise, mas um
programa muito bem planejado por aqueles que detém o poder. Tem-se a impressão
de que há um interesse em reduzir o número de leitores neste país, aumentando a
população de analfabetos, distorcendo a visão real da leitura, conseguindo assim
reproduzir as estruturas sociais injustas vigentes no país.
Nos dias atuais, os meios de comunicação oferecem, a princípio, uma
opção mais atrativa que os livros, que são indispensáveis no sentido de aprofundar e
promover a pesquisa de assuntos por conta própria. Por mais que os meios de
comunicação estejam avançados e eficientes, não substituem a leitura na formação
cultural de novas gerações. A leitura abre horizontes para um mundo que se
encontra e requer a reflexão, o pensar, o imaginar e o recriar.
Historicamente a leitura não é mais privilégio da minoria (elite). Grande
parte da população brasileira sente a necessidade de ler algo, com intenção de
manter-se informado ou para ampliar conhecimentos. Aprende com facilidade aquele
que lê com frequência, e é este que terá êxito tanto na escola como na vida interior.
Um dos objetivos da leitura é atuar como um meio para atingir os objetivos
da educação, não se constituindo um fim em si mesma. Tal posicionamento a
considera instrumento moralizante, como afirma Cattani e Aguiar: "a leitura utilizada
como instrumento formativo afasta o homem do vício, da hipocrisia, da banalidade e,
sobretudo, do tédio e da angústia. De uma boa leitura o homem ressurge
consolidado, otimista e disposto a continuar a luta que empreendeu até o final"
(CATTANI e AGUIAR apud SILVA, 1996, p.26).
Por meio da leitura, as pessoas afastam-se dos vícios maléficos e adquirem
conhecimentos de como resolver seus problemas. Assim, vão formando seus
11
próprios conceitos sobre mundo e formando um país melhor. A leitura acaba por
exercer um efeito positivo no leitor.
Muitas barreiras frente à leitura surgem devido a presença de dois polos
humanos bem diferenciados, que usufruem desigualmente dos bens culturais. De
um lado, aparecem os detentores do poder (econômico, político, cultural), a elite
dominante; de outro lado, as classes trabalhadoras. Esta divisão é sustentada ou
manipulada por uma minoria elitista que acaba gerando submissão, satisfação no
trabalho alienado, acomodação, etc. A ação dos tecnocratas amparados pelos meios
de comunicação, censura e escola conseguem combater qualquer ato proveniente
de uma consciência reflexiva que venha ameaçar o regime de privilégios. A este
respeito, Silva (1993, p.109) afirma que:
A leitura no contexto social é prioritária para que se possa ter e fazer o saber elaborado, pois atrás dos livros há coisa, mas às vezes o discurso é maior que o recurso. Uma vez que o recurso provém de impostos públicos e deve ser obrigação de estado. Para que haja uma resposta do Estado é necessário uma ação forte e coletiva. A dívida social dos governantes para a leitura do povo se avoluma de tal forma que está um verdadeiro feixe de miséria. Onde estão as bibliotecas e as verbas destinadas ao discurso sobre feixe de miséria? Por de trás deste livro há muito que se entender, soluções para um povo que vive de cesta básica, salário mínimo, lança-se uma pergunta: Num país pobre se sobrevive com uma cesta básica? Haverá forma de se incorporar livros à mesma?
Depois de tudo isto, como almejar um país onde sejam praticantes da
coerência social? Sim, coerência social, pois só é possível se for fruto de reflexões,
análise e sabedoria. Daí é que vem a urgente necessidade de rever as propostas
educacionais.
Surge também a questão dos “pseudos bibliotecários”, que, antes de mais
nada, teriam que ser pessoas com formação para tal, e assim estaremos convictos
que o seu papel tem uma dimensão política e educativa e ciente de que mais vale
sua presença junto dos livros e alunos, dinamizando um trabalho criativo,
participativo e democrático, do que se ter apenas uma biblioteca com estantes
preenchidas de valiosos volumes críticos e participativos dos quais os educadores
querem distância.
Na realidade, muitas vezes, a disposição física da coleção, seu arranjo, os
sistemas e códigos adotados, o excesso de regulamentos e burocracias, afastam o
12
leitor da biblioteca tornando entrave para o leitor. É necessário que se tenha maior
facilidade de acesso ao conteúdo das bibliotecas.
As escolas precisam rever sua filosofia de atuação, buscando dar ao
profissional uma formação mais humanista, ou seja, uma formação voltada para os
problemas atuais, que tanto aflige a população e que possibilite desenvolver sua
função de animador – cultural, nos moldes das bibliotecas populares.
A educação necessita de uma medida urgente para superar todos os
entraves que contribuem para a indiferença frente à importância da leitura. A grande
maioria dos professores ainda não descobriu que os acervos disponíveis, quando
integrados nos trajetos de busca e produção do conhecimento, podem ser
importantes e significativos. Muito frequentemente, a procura por máquinas xerox,
visando a reprodução de textos retalhados para consumo rápido, é bem maior do
que o número de visitas às bibliotecas.
O chamado “vício das apostilas” ainda não foi frontalmente combatido nos
meios escolares e muitos alunos terminam a sua trajetória acadêmica sem nunca
terem lido um único livro e sem nunca terem adentrado ao recinto de uma
biblioteca.
Infelizmente, são poucos os professores que visitam as bibliotecas a fim de
conhecer os seus recursos e tentar um trabalho integrado com os bibliotecários.
Para as pessoas pode parecer que estas colocações nada tenham a ver com a
problemática da leitura e, mais especificamente, com o trabalho do bibliotecário na
direção da formação dos leitores. Essas colocações fornecem a moldura para
compreender a problemática da leitura no Brasil.
A percepção crítica do sistema econômico e político somada à
compreensão objetiva da nossa organização social identifica o “ato de ler” como
sendo um “ato perigoso”. Se todos os brasileiros lessem inteligentemente a
realidade social e os livros que a expressam, refletindo, analisando, discutindo e
refutando as ideias neles contidas, talvez a realidade social fosse outra no momento.
Quanto maior o bloqueio aos livros elucidadores, quanto maior as
dificuldades de acesso à leitura contestadora e questionadora, menor será a
possibilidade de mudança na estrutura social.
13
Dessa forma, fica mais fácil imaginar os porquês de existirem mais de trinta
milhões de analfabetos, fica fácil imaginar porque no Brasil não há uma política
nacional eficiente de incentivo ao hábito da leitura, os porquês da ausência de boas
bibliotecas escolares e públicas, com acervos e serviços à altura das necessidades
da maioria da população.
A crise da leitura não é de hoje, ela vem se arrastando ao longo de todo o
processo histórico brasileiro. Tudo isso no fundo com a intenção de manter o povo
na miséria, na ignorância e na alienação, ou seja, um povo desarmado em termos
de conhecimento e de poder de crítica sobre a razão de ser fatos sociais.
Até mesmo os professores, devido ao empobrecimento de suas condições
de trabalho, transformaram-se em não-leitores, aparecendo como meros tarefeiros,
marionetes do poder dominante, não tendo muitas possibilidades de encaminhar o
ensino da leitura dentro de moldes coerentes e inovadores. Que acesso tem o
professor aos livros de sua área de conhecimento? Quantas visitas faz o professor
às bibliotecas, às livrarias? Quantos livros o professor tem condições de adquirir,
visando o incremento do ensino e o seu crescimento como pessoa?
De acordo com Silva (1993, p.17),
A redução do tempo dos professores para dedicação ao estudo e à leitura, a falta de poder aquisitivo para a compra de livros, a não expansão e/ou não manutenção de bibliotecas escolares e públicas, a compartimentalização da docência devido ao corre-corre diário, a desintegração curricular, etc., não ocorreram por acaso; pelo contrário, eles devem ser tomados e entendidos como mecanismos muito bem calculados pelo regime opressor com o intuito de manter o povo na ignorância, de impedir a democratização do saber. Oprimindo os professores e empobrecendo ao máximo as condições para o ensino qualitativo o poder dominante estava em essência reproduzindo as estruturas sociais injustas e dessa forma dificultando a circulação democrática do conhecimento.
Uma pessoa dificilmente vai adquirir gosto pela leitura se ela não tiver
acesso a ela, se não tiver poder aquisitivo para comprar livros, revistas, se ela não
tiver uma rede bem equipada de bibliotecas que atenda aos seus interesses e
necessidades.
- A leitura e a escrita
A leitura e a escrita, como atos de comunicação verbal, existem fora da
escola com seus usos e valores. No seu cotidiano, em casa e pelas ruas, o aluno
14
está em contato permanente com a leitura e escrita de textos, por meio de faixas,
cartazes, sinalizações, e anúncios publicitários com as mais diferentes formas e
expressões linguísticas. É a dimensão extraescolar e a utilização social da leitura e
da escrita no mundo das relações humanas do trabalho, do mercado, do lazer.
Ler um livro, uma notícia de jornal, uma placa de instrução, um aviso, uma
carta, um texto literário ou didático requer para cada caso expectativas e estratégias
distintas. Nesse aspecto, a escola tem negligenciado a providência da leitura e
escrita de textos reais e diversificados, parece nem mesmo explorar produtivamente
a habilidade do aluno para a leitura e a produção de textos.
O processo de leitura apresenta-se como uma atividade que possibilita a
participação do homem na vida em sociedade, em termos de compreensão do
presente e passado e em termos de possibilidades de transformação cultural futura.
E por ser um instrumento de aquisição e transformação do conhecimento, a
leitura levanta-se como um trabalho de combate à alienação (não-racionalidade)
capaz de facilitar ao homem a realização de sua plenitude (liberdade).
Assim, ler não é apenas decodificar palavras, mas converte-se num
processo compreensivo que deve chegar às ideias centrais, às inferências, à
descoberta dos pormenores, às conclusões. Do ponto de vista mecânico, os
documentos salientam os aspectos fluência, ritmo, velocidade, timbre de voz,
pronúncia, como relevantes para a consecução da leitura oral.
A leitura constitui uma das cinco atividades cognitivas básicas: pensar, falar,
ouvir, escrever e ler. A leitura abre caminho para o enriquecimento intelectual,
propiciando um banho de reflexão e uma manipulação de ideias. É um instrumento
insubstituível de atualização e de aperfeiçoamento profissional.
Segundo Silva (1993, p.66):
Compreender um texto não é captar a intenção do autor, nem tampouco restaurar o sentido que o autor lhe outorgou. O sentido de um texto é a possibilidade que ele oferece ao leitor de superar-se. É o momento propriamente pedagógico de uma leitura Não reside no mundo que ele esconde atrás das palavras e da linguagem (o mundo do conhecimento), mas no mundo que ele abre diante dele, o mundo da decisão.
Segundo Bloom (apud Leffa, 1996, p.15), “a riqueza da leitura não está
necessariamente nas grandes obras clássicas, mas nas experiências do leitor ao
15
processar o texto. O significado não está na mensagem do texto, mas na série de
acontecimentos que o texto desencadeia na mente do leitor”. Portanto, a
compreensão do que se lê não é um produto final, acabado, mas um processo que
se desenvolve no momento em que a leitura é realizada.
- Por que as pessoas leem?
O mundo da leitura tem muitas facetas. Lê-se para ampliar os limites do
próprio conhecimento, para obter informações simples e complexas; lê-se para
saber mais sobre o universo; lê-se em busca de diversão e descontração.
Segundo Barbosa (1995, p.121):
Ler é uma atividade voluntária, inserida num projeto individual e/ou coletivo. Na diversidade de situações sociais com que se defronta o leitor, deve mobilizar estratégias adequadas, de acordo com a sua intencionalidade do ler. Ironicamente a única estratégia ensinada pela escola – a oralidade da escrita, revela-se pouco eficaz em todas as situações de leitura do mundo contemporâneo.
A leitura é sempre uma elaboração de informação, variando somente a
intenção que o leitor deposita numa situação e noutra.
Pode-se distinguir vários tipos de leitura:
Leitura de Informação: a língua escrita é uma extensão da memória
humana, de modo que os textos escritos se transformam em depósitos de
informações. Os leitores fazem uso frequente de textos para obterem informações
para uso imediato, como número de telefone e programas de TV, instruções
diversas, leituras informativas dos jornais, regimentos, revistas, etc. Também
buscam informações para satisfazer curiosidades de maior extensão ou
necessidades pessoais.
Na memória humana, ter informações armazenadas e ter acesso a elas são
duas coisas diferentes. Isto também se aplica à língua escrita, embora em escala
bem maior. Deste modo, a leitura para informação envolve saber como ter acesso às
fontes de informações apropriadas. Este objetivo tornou-se tão importante que os
16
computadores têm sido utilizados para tornar a recuperação de informações mais
eficientes e rápidas.
Leitura por Prazer: esse tipo de leitura é feito a critério do leitor para seu
próprio prazer e por escolha própria, para ocupar o tempo vago de maneira
agradável. É uma leitura sem objetivos culturais ou educacionais definidos.
O intento do leitor não é estudar ou aprofundar o estilo ou as técnicas de
composição do autor, nem avaliar rigorosamente a descontração e relaxamento dos
problemas diários.
De acordo com Barbosa (1995, p.122), “ a leitura do puro prazer, sem
nenhuma função utilitária. Mas é uma leitura para espantar o tédio das salas de
espera, dos percursos das viagens onde o leitor passa o tempo folheando uma
revista ou outra publicação, captando aqui e ali uma nota, um fato, uma notícia, etc.
É a leitura desinteressada”.
Leitura de Consulta: é aquela leitura utilizada todas as vezes que
procuramos uma informação pontual: guias de endereços, catálogos, enciclopédias,
dicionários.
Para Barbosa (1995, p.122), “muitas vezes a leitura de informação (jornais,
revistas, etc.) pode tomar esse aspecto, desde que procuremos uma informação
precisa, sem dar importância para o restante do conteúdo ou da informação”.
Leitura para Ação: é frequente e mecânica, antecede, orienta ou modifica
um comportamento ou ação. É uma leitura rápida, seletiva de lançar os olhos. Trata-
se da leitura de placas de sinalização, de orientação, de avisos, de instrução, leitura
de cartazes de rua, de receitas de bolo, de regras de jogo.
É utilizada para o professor trabalhar com o aluno a atenção e o despertar
para o interesse pela leitura de todos os tipos de avisos, como também de diversos
tipos de cartazes e sinalizações.
17
Leitura Profissional: é o tipo de leitura integrado à atividade profissional.
Exemplo: em uma empresa a leitura feita pelos administradores é aquela de rotina:
cartas, relatórios, rascunhos, várias correspondências, instruções, compra de
materiais e equipamentos.
O fato de tal leitura ser tão integrada às responsabilidades profissionais,
garante que será relativamente repetitiva, que os leitores trarão uma boa dose de
conhecimentos relevantes para a leitura e que a motivação para a compreensão
será alta. Contudo, por causa da natureza especializada das profissões, os textos
podem ser completamente incompreensíveis para quem não estiver familiarizado
com o assunto, com as convenções do texto, abreviaturas. De fato, alguns textos
são projetados de modo a serem compreendidos apenas por pessoas ligadas à
área.
Algumas profissões exigem bastante leitura fora do horário normal de
trabalho para que os profissionais possam se manter atualizados. Assim, pode-se
perceber que a leitura não se dá em uma única forma. Ela ocorre de acordo com a
necessidade e intenção do leitor em relação ao que ele está buscando. A escola
ignora esses tipos da leitura, impondo ao aluno leituras de simples decodificação,
sem levá-lo a perceber essa multiplicidade de objetivos que levam um indivíduo à
leitura.
3. Relato do Projeto de Intervenção Pedagógico na E scola
Ao se propor este Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola, os objetivos
traçados para serem atingidos foram os de possibilitar uma discussão orientada
sobre a importância do ato de ler e suas implicações na vida cotidiana; apresentar,
de forma detalhada, os autores a serem abordados em suas respectivas biografias e
principais obras literárias, sendo estes: Dalton Trevisan, Domingos Pellegrini, Helena
Kolody e Paulo Leminski; estudar as obras literárias, seguindo alguns critérios a
serem elaborados em conjunto com os alunos; proporcionar um maior contato com
os autores paranaenses e suas respectivas obras literárias e desenvolver o gosto
pela leitura estudando as obras de autores paranaenses.
O encaminhamento do referido Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola
teve como estratégias de ação desenvolver um trabalho de leitura e interpretação
18
com os alunos do 3º ano B, período matutino, do Colégio Estadual Arthur de
Azevedo, como segue descrito com à aplicabilidade das ações abaixo:
Ação 1
Apresentação do Projeto à Direção do Colégio, à Equipe Pedagógica e
demais docentes de todas as áreas. O objetivo desta ação foi explicar como seria o
andamento das atividades propostas para que pudesse haver um acompanhamento
das mesmas pela equipe pedagógica e também pelos demais colegas a fim de
transmitir os acontecimentos que viriam a seguir e que por certo mudariam um
pouco a rotina do colégio, além de colocar os subsídios teóricos deste projeto à
disposição para os demais docentes caso os mesmos julgassem interessante o
trabalho proposto.
Ação 2
Apresentação do Projeto aos alunos do 3º ano B do Ensino Médio do período
matutino, que conta com 22 alunos.
Nesta oportunidade, expliquei aos alunos um pouco da proposta do PDE e
sobre nossos objetivos enquanto professores integrantes deste projeto. De forma
geral, abordei o trabalho a ser feito e a importância do mesmo para uma possível
melhoria na compreensão do contexto em que vivem para que possam ser agentes
ativos nas mudanças necessárias.
Neste primeiro encontro, após a apresentação do Projeto e do que seria
trabalhado, perguntei aos participantes o que esperavam deste trabalho e de forma
geral, disseram esperar compreender um pouco mais sobre a leitura para poderem
rever seus conceitos sobre ela e aprenderem a valorizá-la mais, bem como conhecer
um pouco sobre a vida dos autores que seriam abordados, pois estes eram
totalmente desconhecidos de alguns alunos.
A meu ver, todos pareceram bem ansiosos em ter que desenvolver um
trabalho diferenciado e estavam encarando como um desafio dar conta do mesmo.
Ação 3
Neste encontro, trabalhei com os alunos sobre a importância da leitura. Iniciei
perguntando a eles se gostavam de ler, que tipo de leitura preferiam e por que liam,
as respostas foram as mais variadas possíveis, alguns declararam adorar ler, e
19
depois foram elencando suas preferências, alguns declararam só ler quando são
obrigados a realizar alguma atividade proposta pela escola e outros disseram não ler
nunca a não ser que sejam obrigados a isso. Mediante esta discussão, que foi muito
animada e proveitosa, comecei uma explanação sobre a leitura, em que abordei, de
forma resumida e transmitida por meio de slides, alguns pontos cruciais sobre a
mesma, retirando estas informações da própria fundamentação teórica do projeto. O
mais importante foi realizar esta atividade de forma bem argumentativa, levando-os
a emitirem suas opiniões a todo instante e fechamos este momento com a conclusão
do grupo com uma fala antiga que passava em uma propaganda de televisão:
“Quem não lê, mal fala, mal ouve, mal vê”.
Ação 4
Apresentei os autores e as respectivas obras literárias a serem trabalhadas
com os alunos, sendo estes: Dalton Trevisan, com a obra O Vampiro de Curitiba;
Domingos Pellegrini, com a obra A Árvore que dava Dinheiro; Helena Kolody, com a
obra Sinfonia da Vida e Paulo Leminski e sua obra Agora é que são elas. Neste
mesmo encontro, situei as obras citadas em seu contexto e época em que foram
escritas.
Ação 5
Na aula seguinte, efetuei uma dinâmica com bexigas com o intuito de dividir
os grupos de forma a evitar a divisão habitual em que os mesmos sempre ficam
juntos, oportunizando assim uma maior interação da turma. Feito isto, cada grupo
elegeu um representante para vir à frente e escolher um dos quatro papéis que
continha o nome do autor e obra com o qual aquela equipe efetuaria seus trabalhos.
Expliquei então cada uma das ações a serem desenvolvidas pelos grupos:
- realizar uma pesquisa biográfica com o autor ou autora selecionado;
- efetuar a leitura e interpretação da obra literária em questão;
- apresentar a vida e a obra deste autor por meio da interpretação de um aluno ou
aluna caracterizado como o mesmo;
- apresentar aos demais grupos, em forma de dramatização, a história contida no
seu livro.
20
Ação 6
Foi dado a cada grupo um período de 15 dias para a pesquisa sobre o autor e
a leitura e interpretação da obra. Após isso, foram agendadas as datas de
apresentação. Um dia antes da apresentação, cada grupo já deveria comparecer a
escola com o aluno caracterizado pelo autor a ser apresentado no dia seguinte e
fazer propaganda do mesmo e de sua obra, pois foi sugerido pelos alunos que caso
as apresentações ficassem a contento, poderia ser o estudada a possibilidade dos
mesmos se apresentarem para os demais alunos do Ensino Médio no segundo
semestre letivo.
Ação 7
No dia especificado, cada grupo fez suas apresentações, primeiro o aluno
caracterizado pelo autor em questão falou sobre sua vida e obra e após, para
agilizar a apresentação, este aluno acabou sendo como um narrador da história do
seu livro, que era dramatizado pelos demais alunos do grupo. Encerrando cada
apresentação, fazia-se uma reflexão acerca da obra apresentada e da relação desta
com a nossa realidade.
E foi assim até que todos os grupos tivessem feitos suas apresentações, que
foram muito criativas e dinâmicas.
Ação 8
Para o encerramento e avaliação dos trabalhos, fizemos uma mesa redonda
onde a apresentação de cada grupo foi analisada pelos demais grupos, sendo que
estes, de forma geral, teceram muitos elogios aos seus colegas de grupo e dos
demais grupos. É claro que perfeição é algo que não existe, foi notado por todos que
alguns se envolveram mais e outros menos, de forma que alguns levaram o trabalho
mais a sério que outros, mas conforme eles mesmos disseram, existem até
professores mais comprometidos que outros, imaginem os alunos.
Para fechar, perguntei o que conseguiram adquirir para suas vidas após este
trabalho e se o acharam válido. As respostas foram que as leituras foram prazerosas
e que por se tratarem de leituras um tanto quanto atuais, foi possível estabelecer
uma relação de criticidade sobre a sociedade que se apresenta. Concluíram que
seus vocabulários adquiriram novas palavras e se tornaram mais “chiques”. Quanto
ao projeto em si, disseram ter dado um bom trabalho, mas acharam muito válido e
21
acreditam que e escola deveria adotar para ser trabalhado com as outras turmas do
Ensino Médio.
4. Considerações Finais
Ao longo de nossa experiência docente, percebe-se que nem sempre é
esperado muito interesse pelos alunos em relação a fazer leituras diversificadas,
como também observa-se que nem sempre o professor leva para a sala de aula
textos atrativos, diferentes dos contidos nos livros didáticos, pois isso as vezes
parece ser muito trabalhoso, e quem perde com isto, é o aluno, que não adquire o
hábito de ler como se deve, de tentar compreender e interpretar o que lê, passa a
ter preguiça, e, consequentemente, apresenta uma redação medíocre.
A falta de conscientização sobre a leitura como uma prática, indo além do
gosto e do hábito, faz com que cada vez mais crianças, adolescentes e jovens
tenham sérios problemas na organização do pensamento e da escrita. Falta-lhes
senso crítico diante da realidade e condições de fazer escolhas sobre o seu futuro.
Esta experiência diferenciada com os alunos proporcionou um novo olhar
sobre o desenvolvimento na organização do trabalho em sala de aula, pois por meio
dela foi possível ver a leitura de um novo ângulo, onde o aluno além de ler, tem que
vivenciar a estória, fazer parte integrante dela.
A esse respeito posso concluir que o trabalho foi de grande valia, pois apesar
das dificuldades encontradas o resultado superou as expectativas.
No tocante ao meu crescimento pessoal, posso afirmar que o mesmo foi
imenso, pois estava há muito tempo sem me atualizar, vivendo na correria do
cotidiano, diante deste fato, me sinto muito recompensada pelo conhecimento que
adquiri, além de ter tido a oportunidade de freqüentar novamente os bancos de uma
Universidade, ainda mais de uma Instituição tão conceituada.
Agradeço pela oportunidade de fazer parte de um Programa competente,
instigador e estimulador que permite ir além das expectativas alcançadas.
22
5. Referências
BARBOSA, José Juvêncio. Alfabetização e leitura: série formação do professor. São Paulo: Cortez, 1995.
FREIRE, Paulo. A importância no ato de ler. São Paulo: Cortez, 1994.
KOLODY, Helena. Sinfonia da Vida. São Paulo: Editora Letra Viva, 1997.
LEFFA, Vilson. Aspectos da leitura: uma perspectiva psico-linguística. Porto Alegre: Sagra, 1996.
LEMINSKI, Paulo. Agora é que são Elas. São Paulo: Primeira Edição, 1984.
PELEGRINI, Domingos. A arvore que dava dinheiro. São Paulo: Editora Moderna, 1981.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Elementos da pedagogia da leitura. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura e realidade brasileira. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983.
SILVA, Ezequiel Theodoro da, O ato de ler. São Paulo: Cortez, 1996.
TREVISAN, Dalton. O Vampiro de Curitiba. Rio de Janeiro: Editora Record, 2004.