da escola pÚblica paranaense 2009 · 2013-06-14 · dos desígnios da natureza ou da...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
ADAPTAÇÃO CURRICULAR PARA UMA ESCOLA INCLUSIVA: adaptar para
incluir.
Eliane Gonçalves 1
Marlizete Cristina Bonafini Steinle 2
Resumo
Este artigo apresenta uma reflexão acerca da inclusão de alunos com Necessidades Educacionais Especiais na escola regular. Conscientizar e instrumentalizar o profes-sor dos anos finais do ensino fundamental quanto à necessidade e utilização das adaptações curriculares com os alunos inclusos para garantir seu sucesso escolar, foi o nosso objetivo. O estudo realizou-se através de pesquisa qualitativa de caráter bibliográfico e de campo, mediante aplicação de questionário contendo questões fe-chadas e de estudos teóricos através do projeto de implementação pedagógica pro-posto aos professores de um Colégio Estadual localizado na cidade de Guapirama estado do Paraná. Participaram deste estudo professores, e pedagogos que atuam nos anos finais do Ensino Fundamental. Os resultados obtidos expressaram o co-nhecimento e opinião desses profissionais, comprovando a necessidade de estudos e práticas pedagógicas que possibilitem o enfrentamento ao novo paradigma que é a inclusão.
Palavras-chave: Legislação; Currículo; Inclusão
1 Introdução
*Professora - PDE/2009 Graduada em Letras, Pós-graduada em Literatura Brasileira e Educação Especial** **Professora Orientadora do Programa de PDE do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Norte do Paraná – Campus de Cornélio Procópio
1
Para entender é preciso esquecer quase tudo o que sabemos. A sabedoria precisa de esquecimento. Esquecer é livrar-se dos jeitos de ser que se sedimentaram em nós, e que nos levam a crer que as coisas têm de ser do jeito como são. (...)".
Ruben Alves
Na trajetória da Educação Especial, é evidente a transposição da cultura se-
gregacionista para a cultura integradora, e da cultura integradora para a consolida-
ção da cultura inclusiva, escola inclusiva. Para compreender o universo de mitos,
preconceitos e conceitos que a sociedade tem em relação à deficiência é necessário
compreender o percurso histórico da Educação Especial.
Desde a antiguidade até os dias atuais, as sociedades demonstraram dificul-
dades em lidar com as diferenças e aceitar as deficiências. Esta dificuldade é pre-
sente em todas as culturas, etnias, níveis sociais e econômicos, variando apenas a
forma de como lidar com seus deficientes ao longo dos séculos.
Diante do exposto, pode-se dizer que a sociedade contemporânea vem discu-
tindo sobre a inclusão escolar, na medida em que se defende que todas as crianças
devem ser atendidas em escolas comuns, em classes comuns, com parceiros da
mesma idade.
Este desejo expresso por uma parcela da sociedade é referendado na
LDB9394/96, quando indica que o atendimento da Educação Especial deve aconte-
cer em um só sistema de ensino, podendo ser oferecido aos alunos com necessida-
des educativas especiais, atendimento em lugares diferenciados, tais como: escolas
especiais para os alunos que em razão do grau de dificuldades exigem adaptações
significativas no currículo e que a escola comum ainda não pode proporcionar.
Conceber a Educação especial em um mesmo sistema de ensino representa
um avanço significativo para a esta modalidade educativa que agora se torna uma
modalidade da educação nacional.
Este reconhecimento impulsionou mudanças fundamentais para Educação
Especial, pois, o Ministério da Educação/ Secretaria de Educação Especial elabora e
socializa a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação In-
clusiva que, acompanha os avanços do conhecimento e das lutas sociais, visando
constituir políticas promotoras de uma Educação de qualidade para todos os alunos.
2
Diante do exposto, o desafio da inclusão reside em encontrar uma forma de
unir o desenvolvimento do currículo, a organização da escola e uma formação profis-
sional adequada para o professor atuar nesta nova realidade escolar.
Assim, ao refletir sobre as minhas vivencias escolares, quando visualizamos
diariamente varias dificuldades enfrentadas pelos sistemas de ensino, no que diz
respeito à inclusão escolar das crianças com necessidades educativas especiais, so-
madas a marginalização destes alunos que acabam ficarem a mercê da avaliação
de cada professor, é que sentimos a necessidade de pesquisar o universo da inclu-
são.
Afim de re-significar práticas pedagógicas excludentes transformando-as em
práticas para o sucesso é que focaremos esta pesquisa na temática da Adaptação
Curricular, pois, acreditamos ser o caminho para o avanço do aluno com necessida-
des educativas especiais.
A pesquisa também se desenvolverá por meio de leitura, análise e discussão
da LDEBN, Diretrizes Curriculares da Educação Especial Para a Construção de Cur-
rículos Inclusivos, Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Especial
(MEC/SEESP, 1998) Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva, entre outros documentos oficiais, bem como os principais teóri-
cos da área.
Vale destacar que esta ação acontecerá juntamente com gestores, superviso-
res, pedagogos, professores regentes de sala regular, sala de apoio e de recurso
das séries finais do Ensino Fundamental pertencentes a uma Escola Pública do Mu-
nicípio de Guapirama, Estado do Paraná.
Discutir esta temática levou-nos as seguintes indagações:
Como a escola Pública tem favorecido o sucesso escolar de seus alunos
com necessidades educativas especiais?
Quais estratégias os professores têm utilizado para garantir a aprendizagem
de seus alunos com necessidades educativas especiais?
Buscar respostas para estas questões exigiu que tracemos o objetivo do es-
tudo, conscientizar e instrumentalizar o professor dos anos finais do ensino funda-
mental quanto à necessidade e utilização das adaptações curriculares com os alu-
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nos inclusos para garantir seu sucesso escolar.
Alcançar o proposto requer que o pesquisador trilhe alguns caminhos tais
como:
Levantar concepções e práticas sobre as adaptações curriculares;
Analisar, categorizar e descrever os dados obtidos sobre as adaptações
curriculares.
Propor formas de incluir as adaptações curriculares na organização do
trabalho pedagógico do professor dos anos finais da escola inclusiva.
Esperamos desta forma, contribuir para a formação de uma escola que con-
temple as necessidades de educadores e educandos buscando uma melhor qualida-
de de ensino na rede pública paranaense.
2 Histórico da Educação Especial
Sabe-se que a Educação Especial, tem sido foco de inúmeras discussões por
pesquisadores e profissionais da área. A humanidade sempre teve seu olhar voltado
para as pessoas diferentes, independente do enfoque dado, deste modo, os
deficientes sempre foram e ainda são foco de discussões.
Para referendar o disposto anteriormente é possível verificar que na era pré-
cristã, os “deficientes” eram abandonados, perseguidos e eliminados em função de
suas sub-condições e a sociedade legitimava essas ações. Já na era cristã, o
tratamento variava segundo as concepções de caridade ou castigo, onde
relacionavam a deficiência ao sobrenatural, as pessoas nessas condições eram
reconhecidas como a personificação do mal, sendo passível de torturas e morte para
expiação dos pecados. Esta fase perdurou até os séculos da Inquisição Católica que
apenas reforçou a mística da divindade a respeito das pessoas com deficiência.
Os primeiros modelos para explicação das anomalias físicas, mentais ou sensoriais, decorrentes de deformações congênitas ou doenças graves que acometiam as pessoas, foram buscados na mitologia e no sobrenatural,
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durante séculos. Na Idade Média essa crença foi intensificada, concebendo-se a deficiência como obra e intervenção direta de Deus ou de outros seres superiores, seja sob a forma de castigo para expiação de pecados, seja sob a forma de benção quando privilegiados pelo dom da vidência ou do milagre da cura (DCEE,SEED, ano 2006, p.17).
Esse conjunto de ideias, que vinculava o homem e sua existência à mercê
dos desígnios da natureza ou da religiosidade, constituiu o período denominado
“pré-científico” e arrastou-se ao longo dos muitos séculos da idade média
alcançando parte da Idade Moderna. Muitos dos mitos e estereótipos construídos
nesse longo período ainda povoam o imaginário social até a atualidade.
Precisamente a partir do final do século XIX, com o desenvolvimento de
pesquisas na área da Medicina, um novo enfoque passou a ser dado à deficiência,
centrado em concepções clínicas que se preocupavam com a doença, os
tratamentos e a cura. Desse modo, pode-se afirmar, que as primeiras práticas
científicas de atenção à pessoa com deficiência tinham como finalidade sua
segregação em instituições, para cuidado, proteção ou tratamento médico, que
vigorou aproximadamente por oito séculos, durante parte da Idade Média até o início
do séc. XX (BRASIL, 2004).
Historicamente, no Brasil, o atendimento às pessoas com deficiência teve
início em 1854 com a criação do Instituto dos Meninos Cegos, atual Instituto
Benjamin Constant – IBC, e o Instituto dos Surdos e mudos, em 1857 hoje – Instituto
Nacional da Educação dos Surdos – INES, ambos no Rio de Janeiro. No inicio do
Século XX funda-se o Instituto Pestalozzi (1926) especializado no atendimento as
pessoas com deficiência mental; em 1954 é fundada a primeira Associação de Pais
e Amigos dos Excepcionais – APAE e, em 1945, é criado o primeiro atendimento
educacional especializado às pessoas com super-dotação na sociedade Pestalozzi.
Em 1961, o atendimento educacional às pessoas com deficiência passa a ser
fundamentado pelas disposições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
– LDBEN, Lei nº 4024/61, que aponta em seus artigos (88 e 89) o direito dos
“excepcionais” à educação, porém reduzindo este atendimento “aos que fosse
possível” e, desta forma, ressaltando as iniciativas do setor privado para esta
modalidade ao mesmo tempo em que eximi o Estado desta responsabilidade.
A Lei nº 5.692/71, ao definir “tratamento especial” para os alunos com
“deficiências físicas, mentais, e os que se encontram em atraso considerável quanto
5
à idade regular de matrícula e os superdotados”, (BRASIL, 1971), não promove a
organização de um sistema de ensino capaz de atender às necessidades
educacionais especiais e acaba reforçando o encaminhamento do aluno para as
classes e escolas especiais.
A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 1º, incisos II e III, elege como
fundamentos a “cidadania e a dignidade da pessoa humana”, além de ter como
objetivos fundamentais em seu artigo 3º, inciso IV “a promoção do bem de todos,
sem preconceitos de origem, raça, cor, sexo, idade ou quaisquer formas de
discriminação”. Em seu artigo 5º garante o direito à igualdade e no artigo 205, trata
do direito de todos à educação. Isto possibilita o direito de todos, garantindo o pleno
desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o
trabalho. Já no artigo 206, inciso 1, estabelece a “igualdade de condições de acesso
e permanência na escola” como um dos princípios para o ensino e ainda reconhece
como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional especializado,
preferencialmente na rede regular de ensino no seu art. 208.
No Brasil, o instrumento jurídico precursor da legitimação que da voz aos
movimentos sociais pela inclusão educacional é a Constituição Federal de 1988 (CF)
na qual se explicita, pela primeira vez, que o atendimento educacional especializado
aos alunos com deficiência deverá ocorrer, preferencialmente, na rede regular de
ensino.
Além desse claro indicador integrador, a Constituição Federal (1988)
estabelece diretrizes para tratar a Educação Especial como modalidade de
educação escolar obrigatória e gratuita, ofertada também em estabelecimentos
públicos de ensino, de maneira a propiciar aos alunos com deficiência os benefícios
conferidos aos demais alunos e a integração das escolas especiais aos sistemas de
ensino
O Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, Lei nº 8.069/90, no artigo 55,
reforça os dispositivos legais supracitados ao determinar que “os pais ou
responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de
ensino” (Brasil, 1990). Também nessa década, documentos como a Declaração
Mundial de Educação para Todos (1990) e a Declaração de Salamanca (1994)
passam a influenciar a construção de políticas públicas para a Educação Inclusiva.
Infelizmente ainda hoje sabemos que todo este arcabouço histórico e legal
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que referenda movimentos e leis voltadas à inclusão das pessoas com necessidades
especiais, sejam na escola, no mercado de trabalho, na sociedade, não foi suficiente
para que a inclusão acontecesse.
2.1 Revendo Paradigmas da Educação
Em meados das décadas de 1970 e 1980, iniciou a compreensão da
diversidade como constituinte das diferentes sociedades e culturas. Tanto os
avanços da democracia quanto as novas possibilidades de apropriação do
conhecimento oferecidas pelas modernas tecnologias, exigiram da sociedade uma
nova relação com os grupos estigmatizados socialmente.
Passou, então, a ficar cada vez mais evidente que a segregação social de
segmentos populacionais minoritários não condizia com o respeito aos seus direitos
de acesso e participação no espaço comum da vida em sociedade, como também a
impedia de aprender a administrar a convivência respeitosa e enriquecedora, com a
diversidade de peculiaridades que os constituem. Estavam aí postas as bases de um
novo modelo, denominado paradigma de suportes
Este paradigma associou a idéia da diversidade como fator de enriquecimento social e o respeito às necessidades de todos os cidadãos como pilar central de uma nova prática social: a construção de espaços inclusivos em todas as instâncias da vida na sociedade, deforma a garantir o acesso imediato e favorecer a participação de todos nos equipamentos e espaços sociais, independentemente das suas necessidades educacionais especiais, do tipo de deficiência e do grau de comprometimento que estas apresentem (BRASIL, 2004, p. 13).
A concepção de inclusão social traz em seu bojo a mudança das
representações sociais em torno das pessoas com deficiência e evidencia que elas
podem ser participativas e capazes.
No final do século XX, fortaleceu-se o debate em torno dos direitos das
pessoas com deficiência, impulsionado por inúmeras transformações sociais, tais
como: a mobilização político social de organizações não-governamentais, com vistas
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à dos direitos de pessoas com deficiência; a introdução das teorias sócio-históricas
acerca da aprendizagem aos debates educacionais; os avanços tecnológicos e seu
uso na reabilitação – órteses, próteses, softwares... –, entre outros aspectos
importantes.
A partir da década de 1980, inúmeras leis foram aprovadas, e organismos
internacionais sistematizaram documentos norteadores das políticas públicas,
quando, grupos sociais organizaram- se politicamente e ganharam força nas
reivindicações em torno da igualdade de direitos e oportunidades, ocasionando uma
revolução nos instrumentos jurídicos..
O Plano Nacional de Educação para Todos (1990) a Política Nacional de
Educação Especial (1994) e, especificamente, a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional de 1996, que destina o Capítulo V (Artigos 58, 59 e 60) à
Educação Especial, são emblemáticos em apontar novos caminhos para essa
modalidade de ensino. Além disso, reafirmam a perspectiva progressiva de seu
caráter pedagógico ligado à educação escolar e ao ensino público.
Nesse conjunto de fundamentos político-legais, inúmeros aspectos
conceituais ganham nova significação. O primeiro deles é a redefinição do alunado
da Educação Especial, apontando-se os alunos com necessidades especiais como o
público-alvo a que se destina essa modalidade de educação.
Estabelece-se, também, de forma inovadora, a ampliação de sua oferta no
sistema, contemplando desde a Educação Infantil até o Ensino Superior, com a
oportunidade de articulação e interatividade da Educação Especial com os demais
níveis e modalidades de ensino. Desfaz-se, assim, o equívoco conceitual da
compreensão da Educação Especial como subsistema paralelo e distanciado das
práticas do contexto geral de educação, historicamente posto.
Neste contexto, verifica-se uma nova concepção de atendimento
especializado que se estende a diversificada rede de apoio dos recursos humanos,
técnicos, tecnológicos e materiais oferecidos, de modo a apoiar e complementar as
práticas do ensino comum, abandonando a ideia de que os serviços especializados
se resumem às classes e escolas especiais.
Considerando que muitos problemas de aprendizagem apresentados pelos
alunos têm origem, em sua maioria, no caráter elitista e homogeneizante das
práticas pedagógicas e sua inadequação em relação à diversidade presente na
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escola, em tese, sugeriria que a maioria dos alunos apresenta necessidades
especiais, tendo em vista as alarmantes estatísticas com os índices de evasão e
fracasso escolar
Nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial, consideram-se alunos
com necessidades educacionais especiais os alunos que,
no processo educacional, apresentarem dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações para acompanhar as atividades curriculares (não vinculadas a uma causa específica, ou relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências); condições de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando uso de linguagens e códigos aplicáveis e altas habilidades ou super-dotação (Brasil, 2004,p.12).
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se
que 10% da população apresentem algum tipo de deficiência, o que representaria 15
milhões de brasileiros. Destes, apenas 300 mil estão matriculados, oficialmente, em
todo país. Dos estabelecimentos que oferecem atendimento especializado, 53,1%
pertencem à iniciativa privada, representada, em grande maioria por instituições
filantrópicas, 31,3% são estaduais, 15,2% municipais e 0,3% federais (FONTES,
2002, p. 515).
Conclui-se que mesmo havendo uma intensa mobilização política em torno da
defesa dos direitos à inclusão de pessoas com necessidades educacionais
especiais, há, ainda, significativa parcela de crianças e jovens com deficiência que
não tiveram, sequer, o acesso à escola (seja regular, seja especial).
E ainda, considera Fontes (1902), do total de alunos oficialmente
matriculados, é explícito o descompromisso do poder público, em nível nacional, na
iniciativa em seu atendimento especializado, já que é muito superior o percentual de
atendimento pelo setor privado.
Em relação às diretrizes Político-Pedagógicas, emanadas do Ministério de
Educação nos últimos anos, destaca-se a Política Nacional de Educação Especial
(BRASIL, 1994), voltada para a integração.
Sabe-se que apesar da legislação tentar referendar a inclusão escolar, no
contexto da elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais para a Educação
Básica, em 1995 - 1997, não houve a preocupação de qualquer produção vinculada
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à área da Educação Especial. Somente em 1999, o Governo Federal publicou um
caderno intitulado “Adaptações Curriculares dos Parâmetros Curriculares Nacionais
– Estratégias para a educação de alunos com necessidades educativas especiais”,
cujo propósito era oferecer subsídios ao professor, considerando a inclusão dos
alunos com necessidades educacionais especiais.
O presente documento tratou do tema elencando conceituações e indicadores
político-pedagógicos para a educação dos alunos com necessidades especiais. A
despeito das críticas à concepção que norteou o Caderno das Adaptações
Curriculares, o MEC reorganizou o material elaborado anteriormente, lançando sua
segunda edição, sob um novo título: “Saberes e práticas da inclusão”.
Na mesma lógica de raciocínio, os dois documentos apontam a ênfase da
inclusão na figura do professor, sendo ele o principal responsável pela
implementação das adequações propostas. Ainda que o documento explicite as
responsabilidades dos sistemas de ensino em relação à capacitação profissional e
ao suporte técnico-material à inclusão, são reforçadas as ações de reorganização
dos componentes curriculares como condição imprescindível à inclusão dos alunos
com necessidades educacionais especiais.
Em setembro de 2001, o Ministério da Educação homologou a Resolução n.º
02, do Conselho Nacional de Educação, referente às Diretrizes Nacionais para a
Educação Especial na Educação Básica, instituindo as bases às Diretrizes para a
elaboração de normas para a Educação Especial, a fim de reorganizar a proposta de
educação escolar dos alunos com necessidades educacionais especiais, no
contexto da educação inclusiva.
Por fim, a nova legislação revelou-se conservadora, ao optar pela
manutenção de serviços especializados que, supostamente, não seriam compatíveis
com as atuais diretrizes de inclusão escolar. Essa tendência repete-se na maioria
dos textos legais e políticos dos estados brasileiros.
No período compreendido entre 1996 e 2002, a SEED realizou um trabalho
alinhado às Diretrizes Nacionais, multiplicando em seu programa de capacitação e
nas diretrizes legais e técnico-pedagógicas os fundamentos teóricos e filosóficos
emanados pelo MEC/Seesp, em relação à Educação Especial e à inclusão de
alunos com necessidades educacionais especiais.
A partir daí, houve uma ruptura ideológica da concepção de inclusão
10
educacional entre as duas instâncias. Esse confronto se dá em decorrência da
defesa, pelo MEC/Seesp, da chamada inclusão total, ou seja, com a matrícula
incondicional de todos os alunos com necessidades educacionais especiais na
escola regular, independentemente da natureza ou grau de comprometimento
Assim, não há prerrogativa para a escolarização em classes ou escolas
especiais, por exemplo. O principal embate ideológico ambienta-se na área da
deficiência mental, já que, na proposta paranaense, prevê-se a continuidade dessa
forma de atendimento em ambos os serviços especializados. Nas demais áreas, não
há incompatibilidade de pressupostos teóricos a sustentar a concepção de
atendimento.
A Declaração de Madrid (2002) define o parâmetro conceitual para a
construção de uma sociedade inclusiva, focalizando os direitos das pessoas com
deficiências, as medidas legais, a vida independente, entre outros: ”O que for feito
hoje em nome da questão da deficiência terá significado para todos no mundo de
amanhã”.
O marco histórico da inclusão foi em junho de 1994, com a Declaração da
Salamanca Espanha, realizado pela UNESCO na Conferência Mundial Sobre
Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade, assinado por 92 países,
que tem como princípio fundamental: "todos os alunos devem aprender juntos,
sempre que possível independente das dificuldades e diferenças que apresentem"
(ESPANHA, 1994).
Com a Resolução nº.2/2001 que instituiu as Diretrizes Nacionais para a
Educação Especial na Educação Básica, houve um avanço na perspectiva da
universalização e atenção à diversidade, na educação brasileira, com a seguinte
recomendação.
Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para a educação de qualidade para todos (BRASIL, 2001, p. 3).
No entanto a realidade desse processo INCLUSIVO é bem diferente do que
se propõe na legislação e requer muitas discussões relativas ao tema. No Japão, em
2002, foi aprovada a declaração de Sopporo representado por 109 países, por
11
ocasião da VI assembleia mundial da Disabled Peoples International-DPI, onde se-
reforça que a educação inclusiva deve propor, “a participação plena começa desde
a infância nas salas de aulas, nas áreas de recreio e em programas e serviços”.
Quando crianças com deficiência se sentam lado a lado com muitas outras
crianças, as nossas comunidades são enriquecidas com a aceitação de todas as
crianças. Devemos incitar os governos em todo mundo a erradicarem a educação
segregada e estabelecer uma política de educação inclusiva.
Na primeira Conferência da Rede Ibero-Americana de Organizações Não
Governamentais de Pessoas com Deficiência e suas Famílias, reunidas em
Caracas, entre os dias 14 e 18 de outubro de 2002, considero-se que é
compromisso de todos elevarem a qualidade de vida de pessoas com deficiência e
suas famílias por meio de serviços de qualidade em saúde, educação, moradia e
trabalho.
Diante destas recomendações, declararam, 2004 como o ANO DAS
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E SUAS FAMILIAS, almejando a vigência efetiva
das Normas sobre a Equiparação de Oportunidades para Pessoas com Deficiências
e o cumprimento dos acordos estabelecidos na Convenção Interamericana para
Eliminação de todas as Formas de Discriminação Contra as Pessoas com
Deficiência (Convenção da Guatemala-2001).
2.2 Escola Inclusiva
Para falar sobre inclusão escolar é preciso repensar o sentido que se está
atribuindo à educação, além de atualizar nossas concepções e re-significar o
processo de construção de todo o indivíduo, compreendendo a complexidade e
amplitude que envolve essa temática.
A ideia de uma sociedade inclusiva se fundamenta numa filosofia que
reconhece e valoriza a diversidade, como característica inerente à constituição de
qualquer sociedade. Partindo desse princípio e tendo como horizonte o cenário ético
dos Direitos Humanos, sinaliza a necessidade de se garantir o acesso e a
participação de todos, a todas as oportunidades, independentemente das
12
peculiaridades de cada individuo.
O paradigma da inclusão vem ao longo dos anos, buscando a não exclusão
escolar e propondo ações que garantam o acesso e permanência do aluno com
deficiência no ensino regular. No entanto, o paradigma da segregação é forte e
enraizado nas escolas e com todas as dificuldades e desafios a enfrentar, acabam
por reforçar o desejo de mantê-los em espaços especializados.
Para Kunc (1992, p. 20), inclusão é:
o principio fundamental da educação inclusiva é a valorização da diversidade e da comunidade humana. Quando a educação inclusiva é totalmente abraçada, nós abandonamos a idéia de que as crianças devem se tornar normais para contribuir para o mundo.
Assim, temos que diferenciar integração de inclusão, na qual na primeira, tudo
depende do aluno e ele é que tem que se adaptar buscando alternativas para se
integrar, ao passo que na inclusão, o social deverá modificar-se e preparar-se para
receber o aluno com deficiência.
A inclusão também passa por mudanças na constituição psíquica do homem,
para o entendimento do que é a diversidade humana. Também é necessário
considerar a forma como nossa sociedade está organizada, onde o acesso aos
serviços é sempre dificultado pelos mais variados motivos.
Jamais haverá inclusão se a sociedade sentir-se no direito de escolher quais
os deficientes poderão ser incluídos. É preciso que as pessoas falem por si mesmas,
pois, cada um sabe do que precisa e quais são as suas expectativas e dificuldades
como qualquer cidadão. Mas, não basta ouvi-los, é necessário propor e desenvolver
ações que venham modificar e orientar as formas de se pensar na própria inclusão.
No entanto, as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Especial
(MEC/SEESP,1998, p. 3), conceituam Escola Inclusiva como,
uma nova postura da escola comum, que propõe no projeto político pedagógico, no currículo, na metodologia se ensino, na avaliação e na atitude dos educandos, ações que favoreçam a integração social e sua opção por práticas heterogenias. Portanto, a escola capacita seus professores, prepara-se, organiza-se e adapta-se para oferecer educação de qualidade para todo, inclusive para os educandos com necessidades especiais...
13
Neste contexto, podemos inferir que a inclusão não significa simplesmente
matricular os educandos com necessidades especiais na classe comum, ignorando
suas necessidades específicas, mas, dar ao professor e à escola o suporte
necessário à sua ação pedagógica, ou seja, a Educação Especial não pode ser mais
concebida como um sistema educacional paralelo ou segregado, e sim, como um
conjunto de medidas que a escola regular põe a serviço de uma resposta adaptada
à diversidade.
3 Adaptação Curricular: uma proposta pedagógica inclusiva
A inclusão de alunos com necessidades especiais na classe regular implica o
desenvolvimento de ações adaptativas, visando à flexibilização do currículo, para
que ele possa ser desenvolvido de maneira efetiva em sala de aula, e atender as
necessidades individuais de todos os alunos. Vale destacar que flexibilizar não quer
dizer facilitar ou mesmo fragilizar o currículo, mas sim, torná-lo adequado as
necessidades educacionais de seus alunos de modo que favoreça a aprendizagem
de todos.
Dessa forma, existem diferentes tipos de adaptação curricular que são
propostas, levando-se em conta diferentes critérios de modo que todos os alunos
tenham igualdade na oportunidade de acesso ao conhecimento escolar.
No Brasil, a necessidade de se pensar um currículo para a escola inclusiva foi
oficializada a partir das medidas desenvolvidas junto à secretaria de Educação
Especial do Ministério da Educação com a criação dos Parâmetros Curriculares
Nacionais em 1997.
Para melhor compreendermos, entende-se o conceito de adaptações
curriculares como:
...estratégias e critérios de situação docente, admitindo decisões que oportunizam adequar a ação educativa escolar às maneiras peculiares de aprendizagem dos alunos, considerando que o processo de ensino-aprendizagem pressupõe atender à diversificação de necessidades dos alunos na escola (MEC/SEESP/SEB, 1998, p.15)
14
De modo geral, pode-se falar em dois tipos de adaptações curriculares, as
chamadas adaptações de acessibilidade ao currículo e as adaptações pedagógicas
(SME-RJ, 1996).
As primeiras se referem à eliminação de barreiras arquitetônicas e
metodológicas, sendo pré-requisito para que o aluno possa frequentar a escola
regular com autonomia, participando das atividades acadêmicas propostas para os
demais alunos. Estas incluem as “condições físicas, materiais e de comunicação”,
como por exemplo, rampas de acesso e banheiros adaptados, apoio de intérpretes
de LIBRAS e / ou capacitação do professor e demais colegas, transcrição de textos
para Braille e outros recursos pedagógicos adaptados para deficientes visuais, uso
de comunicação alternativa com alunos com paralisia cerebral ou dificuldades de
expressão oral, etc.
Aqui o foco das adaptações curriculares, propriamente ditas, objeto das
discussões apresentadas no presente projeto, são modificações no planejamento,
objetivos, atividades e formas de avaliação no currículo como um todo, ou em
aspectos dele, para acomodar os alunos com necessidades especiais.
Acreditamos que a realização de adaptações curriculares é um dos caminhos
favoráveis ao atendimento às necessidades específicas de aprendizagem dos
alunos. No entanto, identificar essas “necessidades” requer que os sistemas
educacionais modifiquem não apenas as suas atitudes e expectativas em relação a
esses alunos, mas que se organizem para construir uma real escola para todos, que
dê conta dessas especificidades.
Para melhor entendermos as adaptações, faz-se necessário rever nossos
conceitos no que diz respeito ao currículo. Para MacLaren (1998) currículo é,
…representa muito mais do que um programa de estudos, um texto em sala de aula ou o vocabulário de um curso. Mais do que isso, ele representa a introdução de uma forma particular de vida; ele serve, em parte, para preparar os estudantes para posições dominantes ou subordinadas na sociedade existente. O currículo favorece certas formas de conhecimento sobre outras e a firma os sonhos, desejos e valores de grupos seletos de estudantes sobre outros grupos, com frequência discriminando certos grupos raciais, de classe ou gênero (MACLAREN, 1998, p. 116).
Ao analisar a definição de currículo é possível dizer que a inclusão de alunos
15
com necessidades especiais na classe regular implica no desenvolvimento de ações
adaptativas, visando à flexibilização do currículo, para que ele possa ser
desenvolvido de maneira efetiva em sala de aula, e atender as necessidades
individuais de todos os alunos.
De acordo com o MEC/SEESP/SEB (1998), essas adaptações curriculares
realizam-se em três níveis:
Adaptações no nível do projeto pedagógico (currículo escolar) que devem focalizar, principalmente, a organização escolar e os serviços de apoio, propiciando condições estruturais que possam ocorrer no nível de sala de aula e no nível individual.
Adaptações relativas ao currículo da classe, que se referem, principalmente, à programação das atividades elaboradas para sala de aula.
Adaptações individualizadas do currículo, que focalizam a atuação do professor na avaliação e no atendimento a cada aluno (BRASIL, 1998).
A Educação Inclusiva, entendida sob a dimensão curricular, significa que o
aluno com necessidades especiais deve fazer parte da classe regular, aprendendo
as mesmas coisas que os outros – mesmo que de modos diferentes – cabendo ao
professor fazer as necessárias adaptações (UNESCO, s/d).
Essa proposta difere das práticas tradicionais da Educação “Especial” que, ao
enfatizar o déficit do aluno, acarretam a construção de um currículo empobrecido,
desvinculado da realidade afetivo-social do aluno e da sua idade cronológica, com
planejamento difuso e um sistema de avaliação precário e indefinido.
Para o MEC as Adaptações Curriculares acontecem na dimensão de grande
porte e pequeno porte.
Grande porte – aquelas que compreendem ações que são da competência e atribuição das instâncias político-administrativas superiores, já que exigem modificações que envolvem ações de natureza política, administrativa, financeira, burocrática, etc.
Pequeno porte – aquelas que compreendem modificações menores, de competência específica do professor. Elas constituem pequenos ajustes nas ações planejadas a serem desenvolvidos no contexto da sala de aula (BRASIL, 1998, p. 23).
16
Sendo o foco desta pesquisa incluir formas de Adaptação Curricular de
Pequeno Porte na organização do trabalho pedagógico, nos anos finais, do ensino
fundamental da escola inclusiva mencionamos aqui alguns ajustes que cabe ao
professor realizar:
Criar condições físicas, ambientais e materiais para participação do aluno com NEE na sala de aula;
Propiciar os melhores níveis de comunicação e de interação do aluno com as pessoas com os quais convive na comunidade escolar;
Favorecer a participação do aluno nas atividades escolares;
Fornecer ou atuar para aquisição dos equipamentos e recursos materiais específicos necessários;
Adaptar materiais de uso comum em sala de aula;
Adotar sistemas alternativos de comunicação para os alunos impedidos de comunicação oral, tanto no processo de ensino e aprendizagem como no processo de avaliação;
Favorecer a eliminação de sentimentos de inferioridade. De menos valia ou de fracasso (BRASIL, 1998, p.44).
A postura do educador frente à inclusão é de suma importância, pois, para
abandonar o estereótipo do aluno padrão e o comodismo diante do aluno com
dificuldades é imperativo que se olhe para a formação de professores,
principalmente no que diz respeito à formação continuada. No entanto, sabe-se que
ações de preconceito e de exclusão não são apenas minimizadas por meio de
formação profissional, é preciso que haja um desejo intrínseco do professor em
superar paradigmas preconceituosos e conviver em uma escola diversa.
Para melhor compreensão a seguir apresentaremos características da
Adaptação Curricular de Pequeno Porte, na medida em que é ela que
instrumentalizará o professor em suas ações docentes no processo de ensino e
aprendizagem.
3.1 Adaptações Curriculares relativas aos objetivos e conteúdos do ensino
17
Ao propormos re-significar a prática pedagógica do professor, exige-se que as
suas ações docentes sejam analisadas e refletidas também sobre seus instrumentos
de trabalho, no caso os componentes de seu planejamento.
Assim, ao falarmos de objetivo e conteúdo requer inicialmente uma consulta
teórica, além da reflexão e conhecimento, do quem vem a ser estes conceitos, para
isto, buscamos os conceitos em LIBÂNEO.
Os objetivos antecipam resultados e processos esperados do trabalho conjunto do professor e dos alunos, expressando conhecimentos, habilidades e hábitos (conteúdos) a serem assimilados de acordo com as exigências metodológicas (nível de preparo prévio dos alunos, peculiaridades das matérias de ensino e características do processo de ensino e aprendizagem). (LIBÂNEO, 1994, p.119)
Partindo desse principio é clara a necessidade de um posicionamento ativo do
professor tanto no seu planejamento, quanto no desenvolvimento de suas aulas,
sobre o que ele espera que o aluno aprenda. Vale dizer que, as adaptações dos
objetivos pedagógicos existentes no seu plano de ensino, de forma a adequá-los às
características e as necessidades especiais do seu aluno incluso.
Com relação aos conteúdos, eles formam a base objetiva do ensino, sendo
um marco inicial no processo pedagógico e social, pois, para Libâneo (1994), o
professor transforma os conteúdos em instrumentos pelos quais os alunos
aprendem, definindo-os da seguinte forma.
Conteúdos de ensino são o conjunto de conhecimentos, habilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais da atuação social, organizados pedagógica e didaticamente, tendo em vista a assimilação ativa e aplicação pelos alunos na sua prática de vida (LIBÂNEO, 1994, p.128).
A preocupação de trazer para este estudo os conceitos referentes aos
conteúdos de ensino e os seus objetivos, teve a intenção de demonstrarmos que o
processo escolar do aluno com deficiência deve garantir a sua aprendizagem, ao
entender que este é o objetivo da escola. Desta forma, desconsideramos as falas e
posicionamentos que defendem que a permanência do aluno deficiente já se
satisfaz pela sua simples adaptação social.18
Acreditar na escola inclusiva para a adaptação é descaracterizar a escola que
emancipa o aluno pela sua inserção na cultura, para transformá-la em um clube
social.
Ainda, em relação aos conteúdos, devem ser priorizados com reformulação
de sua sequencia, não podem ser pensados como próprios de uma seriação como,
por exemplo: conteúdos de 5ª série para alunos que chegam as séries finais do
ensino fundamental com déficit de leitura e escrita.
Portanto estas adaptações de conteúdos devem seguir os seguintes
princípios:
À priorização de áreas ou unidades de conteúdos que garantam funcionalidades e que sejam essenciais e instrumentais para as aprendizagens posteriores. Ex: habilidades de leitura e escrita, cálculos etc;
À priorização de objetivos que enfatizam capacidades e habilidades básicas de atenção, participação e adaptação do aluno. Ex: desenvolvimento de habilidades sociais, de trabalho em equipe, de persistência na tarefa etc;
À sequenciarão pormenorizada de conteúdos que requeiram processos gradativos de menor à maior complexidade das tarefas, atendendo à sequencia de passos, à ordenação da aprendizagem etc;
Ao reforço da aprendizagem e à retomada de determinados conteúdos para garantir o seu domínio e a sua consolidação;
À eliminação de conteúdos menos relevantes, secundários para dar enfoque mais intensivo e prolongado a conteúdos considerados básicos e essenciais no currículo (Brasil,1998, p.36).
Ao realizarmos estes ajustes não podemos perder de vista a importância que
os conteúdos de ensino ocupam na vida escolar do aluno, pois “a escola tem por
principal tarefa, na nossa sociedade, a democratização do conhecimento, garantindo
uma cultura de base para todas as crianças e jovens”. (LIBÂNEO, 1994, p.127). Daí
o grande compromisso em adaptar o currículo com objetivos e conteúdos voltados à
individualidade da criança que apresenta NEE.
3.2 Adaptações Curriculares no processo de Avaliação.
19
Sabe-se da grande importância que o ato de avaliar ocupa na vida de cada
ser humano, sendo ela determinante muitas veze do sucesso ou do fracasso do
aluno. Esta razão coloca-nos em ato de reflexão, necessário a prática pedagógica
que realizamos.
Diante desta realidade buscamos definí-la através das teorias de (LUCKESI
1994).
A avaliação é uma apreciação qualitativa sobre dados relevantes do processo de ensino e aprendizagem que auxilia o professor a tomar decisões sobre o seu trabalho. Os dados relevantes se referem às várias manifestações das situações didáticas, nas quais o professor e os alunos estão empenhados em atingir os objetivos do ensino. A apreciação qualitativa destes dados, através da análise de provas, exercícios, respostas de alunos, realização de tarefas etc., permitem uma tomada de decisão para o que deve ser feito em seguida. (LUCKESI, 1994, p.196).
Podemos então concluir que a avaliação é um meio de diagnosticar e de
verificar em que medida os objetivos propostos estão sendo atingidos. Assim, a
avaliação pode ser considerada como um ato orientador do processo de ensino e de
aprendizagem, pelo qual obtém-se informações sobre os avanços e as dificuldades
dos alunos para nortear uma futura ação pedagógica.
Ao considerarmos a avaliação como um meio de diagnosticar e verificar em
que medida os objetivos propostos estão sendo atingido, e assim, certificarmos que
os conteúdos foram abstraídos pelos alunos, torna-se fundamental conhecermos os
três tipos de funções que a avaliação possui para podermos melhor utilizá-la em
nossa prática docente.
Conforme estudos de Bloom (1993) a avaliação pode ser:
Diagnóstica (analítica) é aquela que ao se iniciar um curso ou um período le-
tivo, dado à diversidade de saberes, o professor deve verificar o conheci-
mento prévio dos alunos com a finalidade de constatar os pré-requisitos neces-
sários de conhecimento ou habilidades imprescindíveis de que os educandos pos-
suem para o preparo de novas aprendizagens.
Formativa é aquela com a função controladora sendo realizada durante todo
20
o decorrer do período letivo, com o intuito de verificar se os alunos estão atingindo
os objetivos previstos.
Somativa tem por função básica a classificação dos alunos, sendo realizada
ao final de um curso ou unidade de ensino, classificando os alunos de acordo com
os níveis de aproveitamento previamente estabelecidos.
Infelizmente, ainda hoje, apesar das discussões sobre as práticas avaliativas
na escola, e com a variedade de produções teóricas sendo feitas como fruto de tra-
balho de pesquisas, encontramos muitas escolas brasileiras ainda presas a práticas
avaliativas excludentes, na medida em que utilizam a avaliação simplesmente como
uma medida para aprovar e reprovar, sem a preocupação como a aprendizagem.
É triste afirmar, mas grande parte das avaliações realizadas nas escolas
acontece através de um único instrumento “provas”, cujo objetivo é atribuir notas e
classificar os alunos. Nesse contexto “O professor reduz a avaliação à cobrança da-
quilo que o aluno memorizou e usa a nota somente como instrumento de controle”
(LIBÂNEO, 1994, P.198).
Não é nossa intenção denegrir a imagem da prova ou muito menos afirmar
que ela não deve ser utilizada. A prova como qualquer outro instrumento avaliativo,
deve sim, fazer parte do processo a fim de levantar as aprendizagens e as dificulda-
des dos alunos para orientar a tomada de decisão do professor. A questão em dis-
cussão é que a prova não deve ser o único instrumento avaliativo utilizado pelo pro-
fessor em um único momento do processo de avaliação.
Deste modo, a da avaliação tem parte importante no sucesso ou não da
proposta inclusiva. É a partir dela que o professor poderá saber se as adaptações
feitas foram relevantes ou não, se os objetivos, os conteúdos e o desenvolvimento
do aluno, foram alcançados.
Pra referendar a afirmação anterior, Oliveira e Machado (2007) destacam:
Partindo da lógica de que não se avalia para identificar quem é o “melhor” ou o “pior” da classe, como nos acostumamos a fazer no cotidiano educacional e avaliando de forma longitudinal e atenta, poderemos promover contínuos “ajustes” ou adaptações nas estratégias de ensino e de avaliação da aprendizagem (OLIVEIRA E MACHADO, 2007.p, 43).
21
Ainda segundo os mesmos autores, os instrumentos de avaliação não podem
ser fixos, nem tampouco acontecerem somente através de provas, mesmo que as
questões sejam diversificadas tais como: (assinale com x, complete, responda etc.).
A este respeito ainda afirmam que,
à seleção das técnicas e instrumentos utilizados para avaliar o aluno. Propõem modificações sensíveis na forma de apresentação das técnicas e dos instrumentos de avaliação, a sua linguagem, de um modo diferente dos demais alunos de modo que atenda às peculiaridades dos que apresentam necessidades especiais. (BRASIL,1994, p.36).
Sendo a avaliação um ato que determina a sequência do ensino e da
aprendizagem, uma vez que é indicativo da potencialidade do educando, o professor
necessita estabelecer instrumentos que possibilitem uma resposta avaliativa
condizente com as capacidades e possibilidades do aluno com NEE.
Desta forma ressaltamos que a avaliação é uma ferramenta de ensino que
ajuda o professor a ensinar melhor e o aluno a aprender mais.
3.3 Adaptações Curriculares nos procedimentos didáticos e nas atividades
A escola contemporânea em sua totalidade urge por modificações em seus
procedimentos didáticos. Em plena era da globalização e da informática, não se
concebe mais uma escola cujo único procedimento didático utilizado seja o giz e do
quadro-negro.
Esta necessidade de novas alternativas para os procedimentos didáticos
pedagógicos são mais urgentes em uma escola inclusiva, onde podemos encontrar
alunos que para escreverem precisam de um computador devido a sua deficiência
física, alunos que para aprenderem precisam de filmes legendados, cartazes, slides,
etc; pois, são deficientes auditivos, alunos que precisam de uma gama de material
concreto, pois, são deficientes mentais, etc;
Para melhor compreender os ajustes necessários aos procedimentos
didáticos em uma escola inclusiva, as Adaptações Curriculares proposta pelo MEC
22
sugerem:
À alteração nos métodos definidos para o ensino dos conteúdos curriculares;
À seleção de um método mais acessível para o aluno;
À introdução de atividades complementares que requeiram habilidades diferentes ou a fixação e consolidação de conhecimentos já ministrados – utilizadas para reforçar ou apoiar o aluno, oferecer oportunidades de prática suplementar ou aprofundamento. São facilitadas pelos trabalhos diversificados, que se realizam no mesmo segmento temporal;
À introdução de atividades prévias que preparam o aluno para novas aprendizagens;
À alteração de atividades alternativas além das planejadas para a turma, enquanto os demais colegas realizam outras atividades. É indicada nas atividades mais complexas que exigem uma sequenciação de tarefas;
À alteração do nível de abstração de uma atividade oferecendo recursos de apoio, sejam visuais, auditivos, gráficos, materiais manipulativos etc;
À alteração do nível de complexidade das atividades por meio de recursos do tipo: eliminar partes de seus componentes (simplificar um problema matemático, excluindo a necessidade de alguns cálculos, é um exemplo); ou explicitar os passos que devem ser seguidos para orientar a solução da tarefa, ou seja, oferecer apoio, especificando passo a passo a sua realização;
Alteração na seleção de materiais a adaptação de materiais – uso de máquinas Braille para o aluno cego, calculadoras científicas para alunos com altas habilidades/superdotados etc., (Brasil, 1994, p.36/37).
Sabemos que o conceito mais simples de método, e também o de maior
responsabilidade, diz respeito ao caminho metodológico escolhido a fim de atingir o
objetivo proposto. Portanto, ao se falar em adaptação curricular temos que pensar
em um método intencional, voltado para cada objetivo, para cada conteúdo e muitas
vezes para cada aluno.
3.4 Adaptação Curriculares na temporalidade escolar
É muito interessante discutir sobre o tempo de aprendizagem dos alunos,
principalmente quando a nossa discussão está em defesa de uma escola inclusiva
23
que reconhece a diversidade humana e, portanto, a individualidade do ser. Desta
forma, é inconcebível constituir uma escola que acredita que todos os alunos
aprendem, pensam, escrevem etc., do mesmo jeito e no mesmo tempo.
Para se assegurar o direito à temporalidade pelo menos dos alunos com
necessidades educativas especiais, MANJÓN, op. Cit., 1995, p.89 esclarece que as
adaptações na temporalidade dizem respeito a:
À alteração no tempo previsto para a realização das atividades ou conteúdos;Ao período para alcançar determinados objetivos.
Sabe-se que muitas vezes, há necessidade de adotar adaptações mais
significativas no currículo a fim de atender necessidades especiais onde, as
adaptações menos significativas não dão conta de prover a aprendizagem dos
alunos inclusos, tais como:
Da defasagem entre a sua competência curricular e a de seus colegas;Da discrepância entre as suas necessidades e as demandas das atividades e expectativas escolares;Da crescente complexidade das atividades acadêmicas que vai se ampliando, na medida do avanço na escolarização (Brasil, 1994, p. 37/38).
Vale destacar que em nenhuma hipótese as adaptações curriculares devem
ser entendidas ou utilizadas para flexibilizar a aprendizagem do aluno, mas sim,
promover o seu sucesso escolar.
3.5 Avaliação Curricular na Promoção
Sabemos que a adaptação curricular só se concretiza se houver o consenso
do professor na sua forma de avaliar, pois ela “deve ser capaz de ir além de avaliar
a aprendizagem, mas entender o valor individual de cada aluno, propiciando o seu
crescimento como individuo e como integrante de uma sociedade”. (LUCKESI,
24
1987).
Quanto à promoção dos alunos que apresentam necessidades educacionais
especiais, o processo avaliativo deve seguir os critérios adotados para todos os
demais ou adotar adaptações, quando necessário.
Alguns aspectos precisam ser considerados para orientar a promoção ou a
retenção do aluno na série, etapa, ciclo (ou outros níveis):
A possibilidade de o aluno ter acesso às situações escolares regulares e com menor necessidade de apoio especial;A valorização de sua permanência com os colegas e grupos que favoreçam o seu desenvolvimento, comunicação, autonomia e aprendizagem;A competência curricular, no que se refere à possibilidade de tingir os objetivos e atender aos critérios de avaliação previstos no currículo adaptado;O efeito emocional da promoção ou da retenção para o aluno e sua família (Brasil, 1998, p.58).
A decisão sobre a promoção deve envolver o mesmo grupo responsável pela
elaboração das adaptações curriculares do aluno. (PCN, 1998, p.58).
4 Encaminhamento Metodológico
A escolha do tema se deu a partir de experiência em salas de aula onde nos
incomoda o abandono do aluno que não acompanha o nível da turma. Pautando-se
no desenvolvimento de pesquisa de caráter teórico prático de natureza aplicada
exploratória, que utilizou o procedimento experimental com abordagem qualitativa.
Questionário como instrumento de investigação e prática de intervenção que ocorreu
em um Colégio Estadual no Estado do Paraná, nos meses de outubro e novembro
de 2010 envolvendo dez profissionais da educação sendo eles : Professores de sala
de recurso; professores de salas regulares, equipe pedagógica e gestor das séries
finais do ensino fundamental da rede pública.
A intervenção constou de oito encontros semanais onde foram apresentados,
lidos e debatidos textos, vídeos, clipes e filmes selecionados assim como as
legislações vigentes com ênfase nas políticas públicas do Paraná, totalizando trinta
25
e duas horas de estudos presenciais. As discussões se deram de forma oral e
escrita, individual e em grupo, seguida de plenária. A participação escrita, de caráter
individual, ocorreu através de questionário aplicado no primeiro e no último encontro
da intervenção.
Optou-se pela abordagem qualitativa com análises critico-reflexiva sobre o
tema, onde se buscou novas formas de pensar e agir pedagogicamente diante da
criança com dificuldade de aprendizagem possibilitando um novo olhar e novas
posturas do educador, conforme salienta Brandão (1985, p. 1) ”uma pesquisa
participante, que ousa criar uma única inovação: a prática do diálogo como forma de
produzir conhecimento entre sujeitos diferentes, mas nunca desiguais”.
5 Do Teorizado a Práxis de uma Escola Inclusiva
A presente pesquisa ocorreu por entendermos que o tempo do discurso sobre
a consolidação de uma escola inclusiva findou, é urgente, que a escola e seus
integrantes, comecem a buscar respostas para suas indagações e criem planos de
ação coletiva.
Deste modo, os encontros ocorridos na implementação proporcionaram
conhecimento da história de educação especial, motivando e emocionando os
participantes e tornando-os mais abertos ao estudo sobre inclusão. Assim, durante
os grupos de estudo pudemos discutir os aspectos legais e políticos relacionados ao
tema, bem como, a necessidade de novas práticas pedagógicas para que a escola,
campo desta , possa ser inclusiva.
No decorrer dos grupos de estudo foi possível perceber uma dualidade de
sentimentos presentes nos participantes, ou seja, um misto de aversão e
curiosidade, fato que reafirmou uma das hipóteses levantadas na proposição deste
estudo - o desconhecimento por parte dos profissionais da Educação Regular sobre
as legislações que regem a Educação Especial, o que exige urgentemente um
projeto efetivo de capacitação.
Para validar a afirmativa anterior, foi perguntado aos professores qual era o
conhecimento efetivo que eles tinham sobre a legislação da Educação Especial.
26
Após a análise dos dados obtidos pudemos concluir que, 20% dos sujeitos da
pesquisa conhecem efetivamente a legislação da Educação Especial, uma vez que
atuam em Escolas Especiais. 10% responderam que possuem um conhecimento
superficial, necessitando de maiores esclarecimentos. No entanto, 70% dos
professores responderam que não têm nenhum conhecimento sobre a legislação
que fundamenta a prática da Educação Especial.
Diante deste panorama, uma tempestade de perguntas surge em nosso
pensamento: Por que será que os professores na sua grande maioria ainda não
sabem nada sobre a Educação Especial, se a discussão sobre a Inclusão já existe a
mais de 16 anos com promulgação da LDB9394/96? Como têm acontecido os
debates sobre a escola inclusiva, será que as discussões são pautadas em um
senso comum, que não leva a lugar nenhum?
De posse destes dados, é possível inferir que o discurso da consolidação da
Escola Inclusiva, vai muito além da aquisição de recursos financeiros, físicos e
pedagógico. Somado a estes recursos, está também a participação efetiva de seus
profissionais – Professor, na medida em que se comprometem e se responsabilizam
em discutir, pensar, planejar, agir e avaliar suas ações nesta nova consolidação
escolar. O tempo do imobilismo pedagógico acabou.
Num segundo momento tivemos a preocupação em levantar qual era a
concepção de inclusão que mobiliza a prática pedagógica dos professores na escola
campo desta pesquisa e obtivemos os seguintes dados.
Dos dez professores entrevistados 10% responderam que consideravam
como aluno incluso, os que eram encaminhados das APAES. Já 90% dos demais
professores responderam que entendiam por aluno incluso todos aqueles que
apresentavam baixo rendimento escolar, portanto, não consideravam aluno incluso,
apenas os que têm deficiência física.
Para melhor compreender o conceito de inclusão, Mantoan (2005), diz que
inclusão é,
por qualquer outro motivo. Costumo dizer que a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. A educação inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção. É para o estudante com deficiência física, para os que têm comprometimento mental, para os superdotados, para todas as minorias e para a criança que é discriminada estar junto é se aglomerar no cinema, no ônibus e até na sala de aula com pessoas que não
27
conhecemos. Já inclusão é estar com, é interagir com o outro (MANTOAN, 2005, p. 25).
De posse da definição apresentada por Mantoan (2005), é possível verificar
que 90% dos professores sujeitos desta pesquisa, ainda não possuem uma
concepção correta do que venha ser inclusão, além de confundirem quais são os
sujeitos deste processo.
Na perspectiva inclusiva, a educação não deve apenas atender os alunos
com deficiências (física, mental, auditiva, motora), mas, também o negro, o indígena,
o imigrante, o pobre, et., pois, todos eles um dia foram excluídos da escola que é
para todos.
No entanto, reconhece-se que esta pesquisa, está propondo adaptações
curriculares para os alunos com necessidades educativas especiais voltadas para as
deficiências e para a superlotação, porém, a confusão teórica posta para o conceito
de inclusão não pode ser justificada por este fato.
Num terceiro momento, levantou-se quais eram as adaptações curriculares
que os professores normalmente faziam para promover a aprendizagem de seus
alunos inclusos. De acordo com as respostas obtivemos os seguintes dados. Quatro
dos entrevistados disseram que faziam algumas adaptações no processo de
avaliação. Dois declararam que aumentavam as tarefas de fixação de casa e quatro
admitiram que possuem a mesma postura com a sala toda, independente dos alunos
acompanharem ou não os conteúdos propostos.
Ao analisar os dados apresentados, fica evidente que os professores utilizam
atividades diferenciadas como sinônimo de adaptação curricular. Esta confusão
completa-se pelo descaso de outros quatro professores em nem se preocuparem
com a diversidade existente em sua sala de aula e assim, tratarem
pedagogicamente todos os alunos iguais.
Para melhor compreendermos a análise acima, entende-se por Adaptação
Curricular,
...estratégias e critérios de situação docente, admitindo decisões que oportunizam adequar a ação educativa escolar às maneiras peculiares de aprendizagem dos alunos, considerando que o processo de ensino-aprendizagem pressupõe atender à diversificação de necessidades dos alunos na escola (MEC/SEESP/SEB, 1998, p.15).
28
A quarta questão do nosso questionário referendou as primeiras impressões
sobre a utilização das Adaptações Curriculares em escolas ditas como inclusivas.
Desta forma, buscamos levantar se os professores sujeitos desta pesquisa
conhecem e utilizam as adaptações em sua sala. Assim, obtivemos os seguintes
dados. Dois dos professores conhecem e usam as adaptações curriculares com
eficiência em sua sala. No entanto, seis professores responderam que realizam
algumas mudanças metodológicas, embora declarassem não saber ser isto é uma
adaptação e outros dois responderam que nada sabem sobre as Adaptações
Curriculares.
Diante dos dados apresentados, é possível verificar que as Adaptações
Curriculares são pouco difundidas e utilizadas nas escolas. Este fato faz com que
pensemos de que forma a escola inclusiva vem adaptando-se para atender as
necessidades educativas de seus alunos, a fim de promover sua aprendizagem.
Não gostaríamos de chegar a concluir que as escolas inclusivas apenas
possuem a intenção de inclusiva, mas, que na verdade ainda estão presas a práticas
integradoras, na medida em que esperam que o aluno se adapte a escola e não a
escola a ele, utilizando para justificar estas práticas o discurso do imobilismo
pedagógico.
A quinta questão levantada nesta pesquisa diz respeito ao grau de
credibilidade que os professores possuem com relação a inclusão escolar, bem
como, quais eram as sugestões dadas por eles a fim de efetivar na Escola Publica
um atendimento de qualidade, voltado para as pessoas com necessidades
educativas especiais.
Os dados levantados demonstraram que seis dos entrevistados acreditam ser
possível um bom atendimento aos alunos com NEE, porém a capacitação ainda é
deficitária. Dois declararam ser difícil ofertar um bom nível de aprendizagem a estes
alunos uma vez que a média geral da educação pública já não é a desejável. E dois
não acreditam no rendimento destes alunos.
Mais uma vez, o processo de inclusão é barrado no conceito dos professores,
ora pela justificativa da precária formação profissional, ora pelas deficiências já
existentes na Escola Pública, ora por não acreditarem na capacidade de
aprendizagem dos alunos com necessidades educativas especiais.
Até quando os alunos excluídos pagarão por um problema que não é seu?
29
Uma vez que a precária formação profissional é consequência de uma formação
profissional sem qualidade; os problemas vivenciados na escola pública são
responsabilidade política e administrativa de seus gestores e o preconceito é
problema da sociedade.
Vale lembrar que o aluno incluso tem os mesmos direitos que os alunos ditos
normais, pois, caso contrário os alunos “ditos normais“ não poderiam mais
frequentar a escola devido aos altos indicies de repetência e evasão, aos baixos
índices de avaliação escolar, etc.
Pra finalizar na sexta questão perguntamos aos professores participantes qual
era a opinião deles sobre a implementação destes tipos de projeto na escola, no
qual discutimos sobre a Adaptação Curricular para a consolidação de uma escola
inclusiva.
Vale destacar que esta questão foi respondida em um outro momento da
pesquisa, portanto no final do oitavo encontro da implementação, quando já
havíamos feito leitura analítica das principais Leis e Decretos, bem como visto
teorias e práticas de adaptações curriculares.
De posse dos dados foi possível verificar que 100% dos participantes
admitiram a importância destes projetos e declararam-se motivados a buscar novos
métodos de trabalho e socializar suas práticas com os colegas, chegando mesmo a
sugerir grupos de estudo para continuidade escolar com enfoque neste tema.
Ao findar a análise de dados, pode-se dizer que a nossa pesquisa foi além do
simples discurso, e buscou inicialmente instigar a curiosidade e o desejo de
conhecer com profundidade as questões da inclusão. Sabemos que o proposto só
foi o começo, mas acreditamos que grupos de estudos vão se consolidar, fato que
faz com que o professor resinifique cada vez mais a sua prática educativa pautada
na teoria e na prática do dia-a-dia.
6 PARA ALÉM DAS CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista um novo tempo, um novo olhar para a sala de aula cuja
composição não é e nunca foi homogênea admitimos uma realidade que exige
30
mudanças. O sistema educacional precisa ser flexível para dar conta desta
diversidade e não há outro caminho que não seja a Adaptação Curricular.
Uma vez instrumentalizado o professor pode propor alternativas que buscam
atingir um número maior de alunos favorecendo assim a aprendizagem.
É clara a necessidade de mudanças no ritmo das ações pedagógicas. Para
que a aprendizagem seja conduzida com segurança, necessita-se do conhecimento
e experiência, e porque não, da ousadia do professor que trilha este caminho.
Talvez ainda busquemos “receitas” embora saibamos que elas precisam ser
criadas, experimentadas e adaptadas o tempo todo. Porém não é impossível um
“cardápio” cujos “ingredientes” deem conta da diversidade, e do qual possamos
extrair resultados positivos.
Sabemos que não são as Políticas Educacionais que vão dar conta da
qualidade da educação na diversidade, mas nossa ação de educadores que
proporciona condições necessárias para o desenvolvimento e aprendizagem de
todos os alunos.
O que se almeja é a busca de soluções para as necessidades específicas do
aluno e, não, o fracasso na viabilização do processo de ensino aprendizagem. As
demandas escolares precisam ser ajustadas, para favorecer a inclusão do aluno.
Com o desejo de colaborar com o inicio destas mudanças apresentaremos a
seguir algumas sugestões:
Criar nas escolas grupos de estudos com os professores a fim de refletirem
conjuntamente suas dificuldades e buscarem soluções com base nas teorias
que as referendam;
Construir um clima escolar longe da pena e da segregação, mas pautado no
dever e nos direitos de todos os cidadãos.
Proporcionar o conhecimento a todos, com o devido respeito às diferenças
individuais.
Formar equipes de apoio que possam instrumentalizar o professor.
31
Acreditamos que este trabalho foi um instrumento de reflexão onde foi
possível vivenciar momentos de alienação e dicotomia com os novos paradigmas da
educação, bem como, com o amadurecimento dos pressupostos da educação
inclusiva.
A inclusão é sem dúvidas, o grande desafio da escola regular, mas superável
na medida em que o conhecimento rompeu obstáculos que até então pareciam
intransponíveis.
A sociedade atual anseia por novos caminhos que levem à garantia de
aprendizagem a “todos”. Este caminho precisa ser construído com muitos estudos e
discussões que realmente deem voz a legislação.
Isto só se tornará possível com o trabalho do professor somado ao trabalho
da comunidade escolar. Vale destacar que o sucesso e o fracasso no processo de
inclusão não é apenas responsabilidade do professor, mas de todos os integrantes
da escola .
Uma capacitação direcionada a práticas pedagógicas que atendam a
necessidade de todos os alunos é necessária e emergente. A Adaptação Curricular
é sem dúvida uma das estratégias e dos recursos que nos levam a este caminho,
porém, não pode ser realizada de forma aleatória e sem uma prática responsável e
eficiente, preocupação esta, que ficou clara entre os participantes desta pesquisa.
O objetivado foi cumprido, o idealizado foi proposto, resta agora efetivar o
planejado, pois, só assim é que a escola re-escreverá a história da Inclusão.
32
REFERÊNCIAS
ARANHA, M.S.F. (2000). O processo de mobilização social na construção de um contexto comunitário inclusivo. In: Oliveira, M.L.W. de (org.). Inclusão e Cidadania. Niterói: Nota Bene, p. 32-38.
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_______A inclusão social e municipalização. In: Manzini, E.J. (org.). Educação Especial: Temas Atuais. Marília: UNESP - Marília Publicações, p. 1-09.
BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil Brasília: Imprensa Oficial 1988.
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