da economia uma surpresa - lorenzo bini smaghi · 2018. 5. 22. · date: 20/11/2008 ojd: n.c. page:...
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Date: 20/11/2008
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Page: 34-35
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Abrandamentorepentinoda economiafoi uma surpresaO responsâvel do Banco CentralEuropeu defende a forma como estereagiu à crise e admite que "podehaver mais cortes de taxas de
juro"
do
Sérgio Anîbal
• O italiano Lorenzo Bini-Smaghi é,
tal como Jean-Claude Trichet, um dos
seis membros do Conselho Executivodo Banco Central Europeu (BCE), umôrgao com um papel decisivo na de-
tiniçâo da polïtica monetâria da en-
tidade sedeada em Frankfurt. Duas
semanas depois do anûncio de maisum corte de 0,50 pontos nas taxas,
\¦
\ i¦ Ldprmuipdi
—<^ J v —\ taxadejuroc
^_) /_j^J BCEdesde1 o passado dia
6 de Novembro.Bini-Smaghi dizque "pode havermais cortes"
cortado as taxas de juro mais cedo.Este é um choque que afecta a
economia mundial.Mas nâo teria ajudado se o BCEtivesse sido mais râpido?O BCE tem o objectivo de
manter a estabilidade de preçose a verdade é que as pressôesinnacionistas estiveram a subirdurante a primeira metade do ano.Nôs definimos a nossa polïticamonetâria com base nestascrescentes pressôes intlacionîstas.A inflaçâo na zona euro tinhasubido acima dos quatro por cento,toda a gente estava insatisfeita com
isso, as expectativas de inflaçào
estavam a subir. Ninguém esperava
expltca por que é que, em Julho, obanco ainda subiu os juros e lança
um aviso para a actuaçâo futura dosbancos
centrai\\corvette\secopresseé preciso "evitar que
ao resolver os problemas de hoje se
criem os problemas de amanhà".O BCE começou no ûltimo mêsa descer taxas de juro de formaagressiva, depois de uma subida
um abrandamento abrupto da
economia, ninguém esperavao que aconteceu à LehmanBrothers. É muito fâcil estar a
julgar o que aconteceu ex-post.
No momento, as medidas quetomâmos eram as apropriadaspara podermos retomar o controlo
das expectativas de inflaçào.E a verdade é que a inflaçào
agora estâ a descer, em partedevido aos preços dos produtosimportados, mas também devidoao comportamento da inflaçàodoméstica.
Portanto, é justo que se digaque o BCE foi surpreendido pela
em Julho. Nâo foi tarde de maispara evitar uma recessâo?O abrandamento e a possibilidadede uma recessâo é um fenômenoglobal, que irâ acontecer tambémem païses que começaram a baixartaxas de juro hâ muito tempo. Nâose pode estar a pensar se terîamosou nâo uma recessâo se tivéssemos
forma abrupta como se deu oabrandamento da economia?Sim, especialmente apôs a
falência do Lehman Brothers, quecrîou uma restriçào abrupta nosmercados financeiros e uma crisede connança. Os indicadores de
connança dos consumidores e dasempresas entraram em colapsoa partir de Setembro. Isto foi umdesenvolvimento totalmenteinesperado no mercado financeîro.E agora? Jean-Claude Trichetdisse que um corte de 0,75pontos foi discutido na ûltimareuniâo. Isto quer dizer que vaihaver mais cortes?Temos dito que essa é uma
possibilidade. Pode haver maiscortes de taxas, dependendo dequais serâo os desenvolvimentos.O que é importante é que areduçâo das taxas de juro sejacompletamente reflectida pelosistema financeiro para os
utilizadores finais. E para que issoaconteça é preciso que os bancoslevem em conta as nossas decisôese que as implementem. Eles têm
sido lentos a fazê-lo e nôs nâoqueremos substituir o sistemabancârio.Mas o BCE nâo pode fazer maisdo que apelos verbais paraconvencer os bancos? Nâo hâmedidas concretas que possam
ser tomadas?Jâ fizemos muito. Estamosa colocar operaçoes derennanciamento a taxa hxa, agorade 3,25 por cento, enquantoa Euribor a três meses estâligeiramente acima dos quatro porcento. Portanto hâ oportunidadespara arbitragem. Os bancos podempedir emprestado ao BCE e depoisemprestarem no mercado. Hâoportunidades claras.Observaram alguma melhoriadesde que o presidente Trichetfez a mensagem aos bancos?Sim, a Euribor estâ a descer, deforma lenta: cinco ou seis porcento todos os dias. No ûltimo mês
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Se as taxas
dejuroficaremdemasiado baixas
por demasiado
tempo cria-se
uma recuperaçào
artificial e uma
estabilizaçâo dos
mercados artificial,que leva à prôximacrise
baixou cerca de 100 pontos base.
Agora, a melhoria registada nào é
ainda a esperada.Agora que as taxas de juro estâoa descer, até onde é que é seguroir? Nâo hâ o risco de se chegara um nivel em que, como noJapâo, se fica sem margem de
manobra?Acho que nào corremos o riscode ficar como o Japâo. O que deve
ser uma preocupaçâo é evitar a
situaçâo vivida nas economiasocidentais e em que as taxas dejuro ficaram demasiado baixas
durante demasiado tempo. É
por isso que temos que ter umaorientaçào de médio prazo nanossa polïtica e olhar para os
desenvolvimentos da inflaçâo, nâomês a mês, mas para os prôximos18 meses. E aqui o que se projecta
é uma reduçâo, mas para nîveisprôximos de dois por cento. Nâoestamos a antecipar a oconênciade um processo de deflaçâo.Qual o risco de se poder estar a
criar novas bolhas para o futuro?A polïtica monetâiïa tem de serpiudente. Tem de se evitar que,ao resolver os problemas de
hoje e ao olhar apenas para as
questôes financeiras, se criem
os problemas de amanhâ. Se as
taxas de juro ficarem demasiadobaixas por demasiado tempo cria-
-se uma recuperaçào artificial e
uma estabilizaçâo dos mercadosartificial, que leva à prôxima crise.Foi isso que aconteceu durante a
ûltima década?Foi uma combinaçâo de factores.Certamente que houve umasubavaliaçâo do risco dos bancos,
que também esteve ligada aofacto de os empréstimos seremdemasiado fâceis e baratos.Portanto também houve culpados bancos centrais?Se houve culpa dos bancos
centrais, o BCE é certamentedos que têm menos. As nossastaxas estiveram mais altas e
fomos sempre criticados por nâobaixarmos mais as taxas de juro.
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Hoje, alguns dos que pediamdescidas das taxas de juro ao BCEdizem agora que deveriam ter sidomais altas. É muito fâcil criticardepois de tudo acontecer.Mas nâo acha que os bancoscentrais devem rever a formacomo actuam?É preciso dar mais atençào ao quese passa nos mercados financeirose nos mercados de activos. Jâ
hâ algum tempo que dizemosisto e é por isso que o BCE temdois pilare\\corvette\secopresse o econômico e omonetârio. A anâlise dos bancoscentrais tem de levar em conta os
desenvolvimentos financeiros e
acho que vai ser ainda mais assimno futuro.
Avisos em relaçào ao investimento pûblico e salârios
Baixos aumentos salariais em Portugalsâo preço a pagar por erros do passado• Agora hâ um apelo, porparte de vârias entidades,para a aplicaçâo de politicasorçamentais mais expansionistas.Como é que païses comoPortugal, que nâo têm ainda umasituaçâo orçamental confortâvel,devem ler esta mensagem?A mensagem que tem sido dada é
a de usar um espaço de manobra,sempre respeitando o Pactode Estabilidade e Crescimento.Alguns païses ganharam espaçode manobra ao serem maisdisciplinados no passado, outrosnâo o hzeram. Tal como acontecena polïtica monetâria, a politicaorçamental também deve evitarresolver os problemas de hojecriando novos problemas para o
futuro. Se houver intervençôesespecîficas, por exemplo, paraajudar a parte da populaçâo mais
pobre, isto tem de ser feito dentro
do enquadramento orçamentalexistente e nâo começando a
endividar-se outra vez e a criarproblemas na dïvida pûblica. Istolevaria a que daqui a dois anosos problemas fossem novamentemaiores.Mas nâo é provâvel que isso é
o que irâ acontecer em muitospaïses, uma deterioraçâosignificativa da situaçâoorçamental devido à crise?Nâo é uma questâo deprobabilidades, é uma questâo de
decisôes. Os païses têm de ter em
conta as suas limitaçôes. Uns têm
menos, outros mais.
O BCE continua a pedirmoderaçâo salarial. Portugal, por
exemplo, vem de alguns anos deaumentos salariais reduzidos...Sim, mas isso aconteceu depois de
vârios anos de aumentos salariais
muito elevados. E isso sô mostraque, quando se comete um erro,demora muito tempo a corrigir. Porisso é preciso muito cuidado para
nâo o cometer outra vez.Mas jâ sâo vârios anos de
aumentos reduzidos e a inflaçâono ano passado foi elevada. O queé que um Governo pode fazer?Mas se se levar em conta os ûltimosdez anos, as contas podem serdiferentes. Os ûltimos anos de
contençâo em Portugal deveram-se
aos erros do passado e tem de se
ter muito cuidado. Pode-se ter umano ou dois de aumentos salariais
mais elevados e toda a gente fica
satisfeita, mas criam-se problemaspara o futuro. A experiência dePortugal claramente mostra que
nâo se deve enganar as pessoa\\corvette\secopresse
os aumentos salariais têm de
estar em linha com o aumento daprodutividade.
Mas politicamente é dificilmanter perîodos longos deaumentos salariais baixos...Claro que é mais fâcil dar bonsaumentos e deixar os problemaspara os seus sucessores a tarefa deser mais moderado. Mas acho que a
experiência em todo o lado mostraque os polïticos que apostaramem aumentos salariais excessivosacabaram por nâo ficar no poderpor muito tempo.Em Portugal discute-se tambéma utilizaçâo do investimentopûblico para reanimar aeconomia. Acha que pode ser umcaminho?Temos muita investigaçào quemostra que o investimentopûblico nâo é necessariamentemuito produtivo e nâo estimulaa economia. Na minha opiniào, a
melhor forma de o fazer é atravésde parcerias pûblico-privadas,em que a selecçâo dos melhoresprojectos ùca garantida. Porquesenâo faz-se como o Japâo durantea crise dos anos 90. O Governoapostou muito no investimento
pûblico, com projectos que nâo
eram ûteis, lucrativos e que nâoestimulavam a economia. E o ûnico
efeito, no flm, foi aumentar a dïvida.Por isso, é preciso saber selecdonaros melhores projectos e a melhorforma de o fazer é nâo deixar a
decisâo aos polïticos, mas sim numa
parceria com o sector privado.Nas parcerias pûblico-privadasnâo tem havido uma verdadeiratransferência do risco para osprivados. A ideia tem sido maisidiar as despesas pûblicas. Nâo édisso que estâ a falar...Nâo. Nâo é isso. O que é importante= encontrar a melhor forma de
î sociedade decidir quais osinvestimentos ûteis e aqueles que
podem verdadeiramente ter umîfeito multiplicador na economia.
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Modelos de controlo da banca devem mudar
Supervisores têm de avaliar se os bancos sabem gerir o riscoSô o cumprimento dos
râcios de capital nâo basta.
É preciso que alguémverifique se os mecanismosde controlo de risco dos
bancos sâo adequados
• Que papel é que o BCE podevir a desempenhar na supervisâobancâria na zona euro?O BCE tem de ter a informaçâoe estar associado à supervisâo,especialmente no que diz respeitoaos grandes grupos bancârios.Se o deve fazer directamente ou
nâo, jâ é uma questào dîferente.Nâo somos nôs que temos dedecidir. Mas precisamos de estarenvolvidos.Mas é exequîvel ter o BCE comoa instituiçâo que faz a supervisâona zona euro?Acho que podemos ter o BCE comouma instituiçâo de coordenaçào,porque, em ûltima anâlise, a
supervisâo, no que diz respeitoà inspecçao e ao controlo, temde ser feita pelas autoridades
nacionais. Mas e preciso haver
muito mais coordenaçâo, para nosassegurarmos de que a supervisâoé feita da mesma forma, de forma
homogénea e garantir que todos os
actores têm a mesma informaçâo.Nôs podemos fazer essacoordenaçâo e ser a instituiçâoonde o sistema de regulaçâo é
harmonizado. Nâo vejo o BCE a
contratar centenas de inspectorespara supervisionar os bancosporque essas pessoas jâ existemnas instituiçÔes nacionais.
Sente o risco de que, no fim destacrise, acabemos com regulaçâoa mais?Precisamos de melhor regulaçâo.E uma regulaçâo que afecte todasas instituiçÔes. Um dos problemasdesta crise é que vârias instituiçÔesestavam fora de qualquerregulaçâo.Na Europa também?
Nâo, principalmente nos EUA.A Europa estava melhor?Penso que na Europa Continentalo enquadramento regulatôrioera mais coerente, com a banca
de investimento a estar sob
supervisâo. Nos EUA estavam fora.Mas isso nào evitou que algunsbancos europeus tivessemproblemas sérios...Nào evitou. Os bancos fizeramdecisôes de investimento queforam demasiado arriscadas,tanto no que diz respeito aoconhecimento que tinham, quer
no que diz respeito ao capital.Mas, na Europa, acho que isso
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Banco Central Europeunâo depende tanto da regulaçào,depende mais da gestâo de risco eda supervisâo. De uma supervisâoefectiva daquilo que os bancosestavam a fazer. A supervisâona Europa devia ter tido umamelhor compreensâo daquilo que
os bancos estavam realmente afazer. A dificuldade em algunscasos é que nem os CEO sabiammuito bem o que estavam a fazer.
Certas responsabilidades foramdemasiado delegadas sem umsuficiente controlo do risco.As autoridades de supervisâonâo devem portanto olharapenas para o cumprimento dosrâcios de capital por parte dosbancos, mas devem olhar emdetalhe para a sua gestâo...Olhar mais para a capacidadedos bancos para gerirem os
riscos. Com Basel II, conflamosdemasiado na capacidade dosbancos para fazerem uma gestâode risco adequada. Mas precisamosque alguém avalie se eles têm
realmente essa capacidade. E, além
disso, talvez precisemos de umagestâo mais prudente das reservas
f e do capital, para que se criem; almofadas nos bons tempos paras serem usadas nos tempos difïceis.( O encontro do G2O nâo produziui mais do que alguns princïpios.I Nâo teria sido possïvel fazeri mais?1 Para um primeiro encontrot teria sido irrealista pedir mais.I Uma agenda foi traçada e forami anunciadas medidas, com um< calendârio. A prioridade agora( deve ir para a implementaçâo.i Ao nïvel da supervisâo e dai regulaçào, a responsabilidade( continua a ser dada às
; autoridades nacionais. Isto nâof é uma forma de païses como< os EUA manterem um sistemai regulatôrio menos exigente que( o europeu?t Nâo necessariamente. É inevitâvel( que a regulaçào sejaadoptada
[ pelos parlamentos nacionais, mas é
[ preciso mais coordenaçâo entre os
i reguladores. A declaraçâo do G20t também refere que todas as âreas
c do sistema financeiro devem sers sujeitas a regulaçào e supervisâo.I Este é um sinal positivo.
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