da corrupção em roma aos dias atuais

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Da corrupção em Roma aos dias atuais Claudio Henrique de Castro 1. Como era na antiga Roma O “crimem repentundarum” compreendia todo comportamento doloso (com intenção de) dirigido a obter lucro ilícito em prejuízo da população aliada ou submetida à Roma. Esta definição foi dada por Caio Graco, um famoso tribuno da plebe. (1) Dentre as hipóteses da lei há aqueles que seriam punidos se levassem a cabo atos de caráter negocial por um preço mais vantajoso que o justo. (2) Posteriormente a “Lex Iulia” criminalizou o recebimento de donativos (3) (pelos agentes públicos), e Júlio César acrescentou que não se podia aceitar a execução de um contrato público antes de se comprovar que efetivamente se cumpriu com o estipulado, ou seja, se cumpriu com o acordado anteriormente. (4) 2. Como é no Brasil Neste caso podemos visualizar no atual cenário histórico brasileiro toda espécie de burlas legais e negociais tais como: lobistas de contratos; personagens que traficam influência nos bastidores dos poderes do estado e dos tribunais superiores; fraudes em licitações e suas respectivas distribuições de propinas e vantagens; de contratos sem prestação de serviço ou com superfaturamento (sobrepreço) pagos pelo estado; na compra de legislaturas com o financiamento de campanhas com dinheiros ilícitos, etc. As penas no Brasil são brandas se comparadas com os países desenvolvidos, o processo é de longa duração e as penas de pouca longevidade carcerária. Isto é, o crime de corrupção e ilícitos contra os cofres públicos compensam no Brasil. 3. As diferenças entre Roma e o Brasil A consciência romana sobre de entender criminosa a obtenção de lucro ilícito em detrimento à população é que nos falta. Esquecemo-nos que os bens jurídicos protegidos nos delitos que punem a corrupção e condutas ilícitas dos crimes contra a administração pública visam resguardar o povo, isto é, todos os que sustentam o estado brasileiro nas figuras da união, dos estados e dos municípios. Quem julgava em Roma eram jurados e a condenação ocorria por maioria simples. À época de César, a punição seria

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Da corrupção em Roma aos dias atuais Claudio Henrique de Castro

1. Como era na antiga Roma

O “crimem repentundarum” compreendia todo comportamento doloso (com intenção de) dirigido a obter lucro ilícito em prejuízo da população aliada ou submetida à Roma. Esta definição foi dada por Caio Graco, um famoso tribuno da plebe. (1) Dentre as hipóteses da lei há aqueles que seriam punidos se levassem a cabo atos de caráter negocial por um preço mais vantajoso que o justo. (2)

Posteriormente a “Lex Iulia” criminalizou o recebimento de donativos (3) (pelos agentes públicos), e Júlio César acrescentou que não se podia aceitar a execução de um contrato público antes de se comprovar que efetivamente se cumpriu com o estipulado, ou seja, se cumpriu com o acordado anteriormente. (4)

2. Como é no Brasil

Neste caso podemos visualizar no atual cenário histórico brasileiro toda espécie de burlas legais e negociais tais como: lobistas de contratos; personagens que traficam influência nos bastidores dos poderes do estado e dos tribunais superiores; fraudes em licitações e suas respectivas distribuições de propinas e vantagens; de contratos sem prestação de serviço ou com superfaturamento (sobrepreço) pagos pelo estado; na compra de legislaturas com o financiamento de campanhas com dinheiros ilícitos, etc. As penas no Brasil são brandas se comparadas com os países desenvolvidos, o processo é de longa duração e as penas de pouca longevidade carcerária. Isto é, o crime de corrupção e ilícitos contra os cofres públicos compensam no Brasil. 3. As diferenças entre Roma e o Brasil

A consciência romana sobre de entender criminosa a obtenção de lucro ilícito em detrimento à população é que nos falta. Esquecemo-nos que os bens jurídicos protegidos nos delitos que punem a corrupção e condutas ilícitas dos crimes contra a administração pública visam resguardar o povo, isto é, todos os que sustentam o estado brasileiro nas figuras da união, dos estados e dos municípios. Quem julgava em Roma eram jurados e a condenação ocorria por maioria simples. À época de César, a punição seria da devolução de quatro vezes o valor que foi obtido ilicitamente e, em algumas hipóteses, a pena capital, a morte. (5)

4. Conclusões

Na América Latina somos filhos do Direito Romano pelas mãos dos portugueses e espanhóis, e há quem diga que evoluímos no direito brasileiro. Em uma breve passada de olhos entre o passado de 2000 anos e o nosso presente, percebemos que Roma estava muito mais certa no combate à corrupção. Aquelas colunas de mármore e granito do fórum romano que permanecem lá até hoje nos contemplam do passado, e perplexas veem o lamaçal de corrupção que os herdeiros do Direito Romano se envolveram.

É hora do Congresso Nacional realmente trabalhar e reformular as penas dos crimes cometidos contra o povo brasileiro. Especialmente os crimes eleitorais, os crimes contra a administração pública e as finanças públicas. O povo brasileiro tem o direito de ser protegido de forma adequada e justa, o resto é discurso floreado e vazio.

O tempora, o mores ! (Oh tempos! Oh costumes!)

Notas:1. ROMANILLOS, José Antonio Gonzávez. La corrupción política em época de Julio César: um estudo sobre la Lex Iulia de Repetundis. Editorial Comares: Granada, 2009, p. 57.2. Eadem lex venditiones locationes eius rei causa pluris minorisve factas irritas facit impeditque usucapionem, priusquam in potestatem ieus, a quo profecta res sit, heredisve eius veniat (D. 48.11.8.1).3. Plin., Ep. 4.9. 6-8; D., 48.11.6.2; D.,48.11,7,1; D., 48.11.8. pr..4. D., 48.11.7.2.5. ROMANILLOS, José Antonio Gonzávez. Idem, p. 126.