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    Interao, tecnologias e Educao

    Paulo Gileno Cysneiros

    Universidade Federal de [email protected]

    Sumrio

    I - Uma Concepo de tecnologia .................................................................................. 2

    Caracterizao de tecnologia......................................................................................3

    A experincia emocional com tecnologias.................................................................4

    Tecnologia e tcnica...................................................................................................5

    Materializao de tecnologias na Educao...............................................................6

    Selees, ampliaes, redues..................................................................................7

    Tecnologia, cognio e emoo.................................................................................9

    II - Interao e Tecnologias na Educao .................................................................... 10

    Interao e conceitos relacionados...........................................................................11

    Interao e comunicao presencial.........................................................................12

    Interao mediada....................................................................................................13Interao no presencial por computadores.............................................................15

    Interao tecnicista...................................................................................................16

    Interao mutua........................................................................................................16

    Interao reativa.......................................................................................................17

    III - Consideraes Finais............................................................................................19

    Referncias...................................................................................................................19

    Recife, maro de 2010

    mailto:[email protected]:[email protected]
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    I - Uma Concepo de tecnologia

    Antes de tratar do fenmeno da interao no contexto das tecnologias de informao ecomunicao na educao (TIC), examinaremos o conceito de tecnologia,considerando-se o objetivo deste texto como uma das fontes para a construo dediretrizes para a Diretoria de Tecnologias Educacionais (DITEC), da Secretaria deEducao do Estado do Paran.

    Por ser uma palavra com longa histria, uma caracterizao precisa de tecnologia no tarefa fcil. Como em relao a outros termos muito usados, possumos umarepresentao intuitiva do que tecnologia, mas temos dificuldade em precisar seu

    significado. Um exame da literatura revela definies diferentes, dependendo da reaonde o termo utilizado Engenharia, Sociologia, Comunicao, Educao, Filosofiae outras mais.

    Uma busca que fizemos com o Google revelou mais de noventa milhes de resultadospara a palavra tecnologia; com o termo em ingls (technology) obtivemos refernciasde quase 700 milhes de pginas na web. Ao restringirmos a busca para imagensassociadas palavra tecnologia, o engenho de busca nos forneceu mais de 450 milresultados (fevereiro de 2010).

    Se consultarmos dicionrios no especializados concluiremos que significados

    comuns de tecnologia no so suficientes para uso em Educao. Como exemplo, oDicionrio Houaiss (edio 2001) fornece trs acepes, definindo tecnologia como:

    "1. teoria geral e/ou estudo sistemtico sobre tcnicas, processos, mtodos,meios e instrumentos de um ou mais ofcios ou domnios da atividade humana(p.ex., indstria, cincia etc.);2. tcnica ou conjunto de tcnicas de um domnio particular e3. qualquer tcnica moderna e complexa".

    Houaiss tambm informa que o termo origina-se do grego (tkhn - 'arte, artesania,indstria, cincia') e que seu primeiro registro na lngua portuguesa data de 1873.

    Como vimos acima, dicionrios comuns registram usos das palavras na lngua emgeral, quase sempre exibindo mais de um significado, que varia em funo da regiode um pas, da histria, da rea onde utilizado, etc. De modo contrrio, numaconcepo cientfica praxe adotar-se um enfoque diferente. Em vez de recolher usos,definem-se antes os termos que sero usados, evitando-se assim ambigidades.

    Relendo o verbete do Houaiss veremos uma notvel ambigidade, ao considerar"tcnica" como sinnimo de tecnologia. Pulando para o verbete "tcnica",encontramos outros trs significados e duas subdivises:

    "1. Conjunto de procedimentos ligados a uma arte ou cincia;

    1.1 a parte material dessa arte ou cincia;2. maneira de tratar detalhes tcnicos (como faz um escritor) ou de usar os

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    movimentos do corpo (como faz um danarino);2.1 destreza, habilidade especial para tratar esses detalhes ou usar esses

    movimento;3. jeito, percia em qualquer ao ou movimento (ex. "descascar laranja sem

    ferir requer tcnica").Segundo autores franceses (p.ex. Roche & Grange, 1999), a ambigidade na definiodeve-se ao fato que a palavra inglesa technology, via Estados Unidos, difundiu-sesobretudo depois da segunda guerra mundial, enquanto o termo tcnica j existia navelha Europa.

    Assim, nossa primeira tarefa limpar o terreno conceitual, precisando o uso detecnologia, tcnica e outros termos. Nesta tarefa nos baseamos noutros autores, dentreos quais o filsofo norteamericano da tecnologia Don Ihde (1983, 1990, 1993).

    Nosso objetivo no uma definio definitiva, mas uma caracterizao que

    funcione como ferramenta conceitual, nos ajudando a pensar tecnologias e tcnicas nocotidiano, tanto nas escolas como nos sistemas de gesto da educao. O leitortambm ver que nossa caracterizao aproxima-se dos significados da lngua, aoaproveitarmos partes dos verbetes do Houaiss.

    Caracterizao de tecnologia

    Em face do exposto, conceituamos tecnologia como o conjunto de conhecimentosligados a objetos materiais construdos por seres humanos, incluindo o prprio objeto

    tcnico. Assim, um objeto tcnico o resultado de aes humanas, da tkhn comoarte, artesanato, indstria, trabalho humano.

    No mesmo sentido lembramos um pensamento do francs Gaston Bachelard (1938,1996), reconhecido filsofo e historiador da cincia, quando observou que um objetotcnico como o microscpio, representa a materializao de uma teoria, acorporalizao de um conjunto de idias.

    De modo negativo, uma tecnologia no se refere a um objeto natural no estado bruto,encontrvel na natureza, nem a construes feitas por animais. Colmias e teias dearanha resultam de comportamentos de base gentica exibidos por abelhas e

    aracndeos, em determinadas condies.Tanto em relao a tecnologias simples como complexas, o conjunto deconhecimentos pode ser enorme, envolvendo concepo, desenho, fabricao,manuteno, modos de utilizao, culturas de uso, formao de pessoas para usoadequado, conseqncias individuais e coletivas da tecnologia, etc. etc. Soconhecimentos que no fazem parte da materialidade do objeto, mas so essenciais

    para sua caracterizao como tecnologia.

    Ao usarmos o termo conhecimento, est implcito que a tecnologia indissocivelda cultura, apresentando variaes materiais e de significado em funo do ambiente

    cultural onde for concebida, construda, utilizada, como tambm da poca histricaonde os objetos tcnicos estiverem inseridos.

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    Assim, o termo "conhecimento" no deve ser interpretado de modo estrito, poistecnologias, da concepo ao uso, implicam em valores, atitudes, expectativas eoutros elementos de base emocional e social.

    David Harvey (1993), embora no focalize diretamente as tecnologias, mas a

    globalizao, dedica um longo captulo de seu livro sobre ps-modernismo smodificaes do tempo e do espao no mundo contemporneo, muito diferentes deum ou dois sculos atrs. No se pode falar em globalizao sem tratar de tecnologiascontemporneas, particularmente as tecnologias de comunicao e de transporte,tendo ocorrido mudanas paradigmticas no modo de se pensar a sociedade e suasinstituies, incluindo Educao.

    A experincia emocional com tecnologias

    Tecnologias so criadas e utilizadas por pessoas, fazendo parte de quase todas asaes humanas. Don Ihde (1983) enfatiza este aspecto com a expresso existentialtechnics, (aproximadamente tecnologia existencial) sublinhando assim o mundovivido (lifeworld), a experincia particular das pessoas com objetos tcnicos, donascimento morte, do despertar ao adormecer.

    No demais lembrar que vivemos em um mundo tecnologizado. O ar querespiramos, os locais por onde andamos, vestes, alimentos, nossos corpos e tudo omais so afetados por tecnologias.

    Nossas experincias com objetos tcnicos tm histria, coloridos emocionais,

    elementos prazerosos e negativos, muitas vezes com razes em incidentes de infncia.Gostamos ou no de determinadas tecnologias ou parte delas de livros, roupas,sapatos a computadores algumas vezes conscientes da razo de ser do coloridoemocional, mas em grande parte sem conscincia da histria pessoal de tais emoes,que podem ser brandas ou acentuadas, de aproximao ou rejeio. Aprendemos agostar e a desgostar de determinados objetos com mais intensidade, na infncia e na

    juventude.

    Seymour Papert inicia seu livro mais conhecido (1985, p.12-14; 2008, cap.7)relembrando o prazer que sentiu, quando criana, ao compreender como funcionava

    um diferencial de automvel, tendo se apaixonado por engrenagens. Para ele,aprender deve ser um ato prazeroso e as tecnologias da informtica podem ajudarneste sentido.

    Para educadores esse aspecto muito importante, a partir do dos primeiros contatosda criana com as tecnologias da leitura e da escrita. Podemos ser responsveis, demodo deliberado ou no, por atitudes emocionais negativas e positivas de educandosface a determinadas tecnologias utilizadas dentro e fora da escola.

    Conforme veremos mais adiante, ao tratarmos do fenmeno perceptual seleo/ampliao-reduo, no ato de conhecer pela primeira vez, atravs de uma tecnologia,

    aspectos desconhecidos de um determinado objeto de conhecimento, ocorre umconjunto de fenmenos cognitivos e emocionais referidos como deslumbre (Primo,

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    2005), deslumbramento (Moran, 1997) encantamento, fascnio, efeito dramtico datecnologia.

    Quanto s novas tecnologias baseadas na informtica, seus objetos tcnicos podemparecer insignificantes em relao aos conhecimentos a eles associados. Por exemplo,

    um diminuto chip de memria de um pendrive representa uma enorme quantidade deconhecimentos que vm sendo desenvolvidos h sculos relativos aos componentesmateriais (silcio, metais, plsticos, tintas), tcnicas de fabricao, mquinassofisticadas para produo em srie, software embutido, etc.; h ainda uma enormeteia de conhecimentos sobre manejo, manuteno, comercializao, garantia,compatibilidades, etc. H tambm conhecimentos tcnicos de quem deseje us-lo,como cuidar do objeto para no danific-lo. Por fim h o conhecimento neledepositado por algum arquivos os mais variados, cdigos de segurana,representaes do objeto na cultura, etc. Enfim, so aspectos da tecnologia nemsempre percebidos nas suas vrias dimenses.

    Tecnologia e tcnica

    Adotando a perspectiva de Ihde (1993), utilizamos o termo tcnica para nos referir adeterminadas aes humanas envolvendo ou no objetos tcnicos.

    Por exemplo, podemos desenvolver tcnicas de aula com ferramentas novas e velhas(geralmente condicionadas por tecnologias envolventes o prdio escolar, ailuminao artificial, o condicionamento do ar, rudos artificiais). Mas podemos dar

    uma aula apenas com voz, gestos e outros movimentos corporais, num campo aberto,sem o envolvimento de tecnologias.

    De modo geral, objetos tcnicos que envolvem alguma ao fsica de uma pessoasupem modos de us-los, tcnicas de uso, aprendidas naturalmente ou pelo ensinoformal ou informal. Tcnicas podem estar ligadas a tecnologias simples, como usaruma caneta, s mais sofisticadas, como pilotar um avio ou manejar o ferramentrioimprescindvel para operar um corao. Tcnicas de uso podem envolver apenas uma

    pessoa ou uma equipe em sincronia perfeita, como no caso do exemplo anterior. Esteaspecto das tecnologias pessoais tem implicaes significativas para educao, na

    escola e noutros ambientes sociais.Relacionados com o conceito de tcnica, ambientes tecnologizados supemcomportamentos apropriados das pessoas, individualmente ou em grupo. Comoexemplo, o interior de uma igreja supe comportamentos diferentes daqueles exibidosnumshopping centerou num estdio de futebol.

    Ainda em relao ao vocabulrio, vrios autores abordam o problema da definio doque tecnologia (p.ex. Ferr, 1995) e h outros termos que merecem ser precisados

    para se dissipar ambigidades dispositivo, ferramenta, mquina, mecanismo, etc.No faremos tal exerccio para no tornar este texto muito longo.

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    Materializao de tecnologias na Educao

    Em Educao, uma tecnologia pode ser materializada em objetos simples comocadernos e lpis, livros e moblias, como tambm em objetos complexos como

    computadores, cmeras digitais, pendrives, DVD, laboratrios didticos, aparelhos dear condicionado, prdios escolares. Ao mencionarmos novamente o prdio escolar e oar condicionado, est implcito que h tecnologias de uso pessoal e outras que nosenvolvem, nos atingem continuamente sem nos darmos conta. Nesta concepo, ossetores responsveis pelos projetos e construes escolares, nas secretarias deeducao, no deveriam ser desvinculados do setor de Tecnologia Educacional.

    Quanto cultura, a tecnologia de computadores na escola supe condies scio-econmicas de um pas, um grupo de pessoas, um conjunto de valores, uma histriade uso de outras tecnologias educacionais, etc.

    Devido histria de objetos tcnicos na instituio escolar, ao tratarmos detecnologias na educao importante dedicar-se mais ateno materialidade dosobjetos tcnicos nas escolas pblicas e nas redes escolares. Por mais que existamconhecimentos sobre uma tecnologia, ser impossvel utiliz-la sem objetos tcnicosque a materializam.

    Por mais que se fale na tecnologia de computadores e internet, uma escola no poderdesfrutar dela se no existirem equipamentos funcionando bem, uma rede eltricaconfivel, servidores continuamente ligados, acesso internet adequado demanda euma estrutura de gesto de tecnologias educacionais na escola e na rede escolar,

    cuidando da manuteno e reposio sistemtica de equipamentos gastos ouobsoletos, material de consumo, infraestrutura. Por exemplo, em um proj realista denotebooks educacionais, qual a taxa previsvel, semestral ou anual, de reposio demquinas devido a perdas do objeto pelo aluno, roubo, dano por quedas e manuseioinadequado? Do mesmo modo, devem ser recolhidas continuamente informaessobre funcionamento da garantia, partes que se danificam com freqncia, limitaesdevido ao design da mquina, etc.

    Do mesmo modo como o cuidado com a mquina, objetos tcnicos na educaosupem um conjunto de conhecimentos necessrios para seu aproveitamento mximo.

    Continuando com o exemplo de notebooks, alm do conhecimento para seu uso pleno,os estudantes e suas famlias devem ser informados sobre a propriedade das mquinas,sugestes de manejo na escola e e casa, responsabilidades em casos de perda, roubo ,depredao do computador.

    A omisso neste particular tem sido comum, quando administradores pblicos fazemconsiderveis investimentos para equipar escolas com objetos tcnicos, sem ocorrespondente investimento em infraestrutura, manuteno, formao de pessoal,monitoramento e avaliao de custo/benefcio, elaborao de diretrizes que sirvamcomo orientaes para todos do sistema escolar envolvidos com a tecnologia.

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    Selees, ampliaes, redues

    At aqui tratamos de tecnologias como fenmeno na sociedade, exemplificando comsituaes de Educao. Porm no abordamos uma questo fascinante, central para a

    Educao, que o modo como o conhecimento das pessoas afetado pelastecnologias. Por vivermos em um mundo fsico e mental saturado de tecnologias, oconhecimento do mundo fsico e s idias, do nascimento morte, depende em partede tecnologias. Isto tem implicaes diretas e indiretas para Educao, especialmente

    para o ensino, a aprendizagem e a gesto de uma escola. um conhecimento aindamais importante para professores que se deparam com o problema dirio de escolhertecnologias educacionais para suas aulas.

    Muitos dos contedos curriculares nas vrias disciplinas tornaram-se conhecidos dahumanidade devido inveno de tecnologias. Para citar um exemplo simples,

    micrbios eram organismos desconhecidos at a inveno do microscpio; assim, parao ensino adequado do que so micrbios, ser necessrio que alm de textos, de fotos,e vdeos, o aprendiz tenha a experincia fsica do manejo de um microscpio comvrios tipos de microorganismos. Vrias decises didticas devem ser tomadas pelo

    professor: como onde e quando microscpios sero utilizados, se individualmente ouem grupo, antes ou depois do uso de fotos e vdeos, do tratamento de aspectosrelacionados como vacinas, higiene, polticas pblicas de sade, etc.

    As decises que o professor tomar supem alguma conscincia do que conheceratravs de tecnologias. Conhecer algo como micrbios implica na ocorrncia de

    sucessivas selees de aspectos do objeto em processo de conhecimento, selees quepor sua vez resultam em ampliaes e correspondentes redues do conhecimentoconstrudo em cada situao especfica, no caso mediada por tecnologias. Subjacentea esta colocao est implcito o trusmo filosfico que no possvel humanamenteconhecer qualquer objeto na sua totalidade. comum a sensao, na prtica de umacincia, que quanto mais estudamos, mais ser preciso conhecer.

    Por exemplo, quando nossa ateno selecionada pela tela de uma televiso, novemos bem o que est ao redor, menos ainda se o ambiente for pouco iluminado.Quando dirigimos um veculo, atento estrada, quase no percebemos a paisagem noslados, algo bem diferente da situao de um passageiro ou de um caminhante(Cysneiros, 2003). Num nvel mais refinado, quando a televiso exibe uma cena, oconhecimento mediado pela tecnologia ser diferente se for uma panormica com acmera parada ou em movimento, no plano de um adulto no cho ou num avio, entreinmeros outros possveis.

    Fazendo um paralelo entre o profissional de televiso e o professor, imagine comoseria uma novela se no fosse especificado antes como o cameraman e o responsvel

    pela edio do vdeo deveriam atuar se focando um rosto de perto ou o corpo inteirode longe, se uma cena deveria ser mais longa ou mais curta, etc. Voltando Educao, sabemos pela nossa experincia em escolas que este tipo de preparao

    raramente feita por professores; quando h um plano de aula, a ateno stecnologias envolvidas tende a ser marginal.

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    Pelo exposto, podemos concluir que nenhuma tecnologia neutra (em vrios sentidos,alm do epistemolgico). Como educadores, devemos buscar as tecnologias velhasou novas para nosso uso ou uso pelo aprendiz mais adequadas para explorar umcontedo e atingir determinados objetivos.

    Assim, ocorrem selees diferentes quando se conhece um corpo humano atravs deraios-x, bonecos ou esqueletos, vdeos, fotos, desenhos. Raios-x selecionam partesdensas do corpo, amplificando informaes sobre estrutura ssea, com a reduo, oueliminao total, da aparncia de msculos, cor da pele, plos, rugas, cicatrizes eoutras dimenses do ser vivo. Reiterando, haver diferenas se elegermos para oensino um corpo vivo ou um cadver de criana, adulto (de um ou outro sexo), peasanatmicas naturais ou artificiais, objetos tcnicos como manequins, fotos oudesenhos de esqueletos. O conhecimento ser diferente, resultante das selees,ampliaes e redues implcitas na tecnologia usada, incluindo conotaesemocionais associadas aprendizagem resultante.

    Tais fenmenos ocorrem inicialmente no plano fsico, perceptual, resultando emconhecimentos do aprendiz com diversos coloridos emocionais, como colocamosantes. Retomando o exemplo anterior, fora do comum, dificilmente um aprendizesquecer o primeiro contato com um esqueleto de uma criana annima de sua idade,em um laboratrio de anatomia vendo, tocando, sentindo. Alm dos tamanhos,texturas e formas dos ossos, seu conhecimento ser influenciado pelos odores doambiente e pelo modo como o professor tenha planejado a situao de aprendizagem,

    preparando o aprendiz com os conhecimentos necessrios para obter o mximo dasituao no mediada. No demais lembrar, o conhecimento resultante modificar

    percepes futuras de fotos, vdeos e outros materiais educativos relativos aesqueletos.

    oportuno notar que selees, ampliaes e redues no so sinnimos de vantagensou desvantagens de uma tecnologia. Aspectos ampliados ou reduzidos podem servantajosos ou no, dependendo dos objetivos do educador, do contexto, do que se

    pretende conhecer, comunicar, ensinar.

    A ocorrncia de ampliaes e redues no contexto da interao humana com objetostcnicos algo dialtico, pois implicam em mudanas e ao mesmo tempo em

    permanncias no conhecimento. Ao se ampliar aspectos de um contedo curricular

    conhecido, surgiro para o professor novas possibilidades de trabalh-lo, devido anovas informaes e a leituras do objeto que ele no fazia antes. Isto tende a ser umenriquecimento para o professor, sob vrios aspectos. Assim, a atividade exploratriacom ferramentas da informtica, por professores que procuram novas formas deensinar, tende a elicitar situaes pedaggicas muito ricas. Isto muito importante noensino de conceitos que a pesquisa j demonstrou no serem fceis de aprender,

    presentes na maioria das disciplinas de um currculo.

    As colocaes acima, focando tecnologias, supem conhecimentos de vrias outrasdimenses do ato de aprender, sejam relativos a teorias com a de Paulo Freire (p.ex.

    1983), de cunho filosfico, ou sobre a construo do conhecimento, como Jean Piagete Vygotsky, entre outros, alm de competncias de cada didtica especifica.

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    Tecnologia, cognio e emoo

    Alm do aspecto cognitivo, em decorrncia de uma tecnologia selecionar, focar

    aspectos desconhecidos antes, podem ocorrer, como j mencionamos, fenmenoscognitivos e emocionais geralmente referidos como deslumbramento, encantamento,fascinao, efeito dramtico do novo.

    O novo desperta a curiosidade natural do ser humano, prende a ateno, tende asuscitar emoes positivas ou negativas. Como colocamos noutro texto (Cysneiros,2003), a amplificao do conhecimento atravs de tecnologias o aspecto maissaliente e pode impressionar muito o aprendiz, ao experimentar, fsica e mentalmente,coisas que no faziam parte da sua vivncia anterior. Em Informtica na Educao socomuns expresses como maravilha, deslumbramento, encantamento,

    associadas ao conhecimento obtido atravs do computador e internet.Podem ocorrer emoes agradveis, que contribuem para o esquecimento oudesconsiderao de aspectos reduzidos do objeto, conhecidos ou no. So focados,

    por proponentes de uma nova tecnologia, resultados vantajosos e possibilidades,tendendo-se a ignorar, pelo fenmeno associado da reduo, outros aspectos. Porexemplo, o deslumbramento com a linguagem Logo nos anos oitenta do sculo

    passado, afetou professores, alunos, administradores, especialistas em Informtica naEducao (Papert, 1985, 2008), que viram apenas possveis ganhos, ignorando

    problemas pedaggicos, dificuldades para assimilar a atividade de programao no

    currculo, alunos que no se interessavam pela atividade. Com o lanamento dainterface Windows, tendo passado o efeito do encantamento, os mesmos proponentesse voltaram para outros aspectos da informtica.

    Crianas e adolescentes, naturalmente mais emotivos e mais abertos a novidades, somais vulnerveis a uma nova tecnologia seja uma droga ou um game , havendonecessidade da orientao de educadores com sabedoria e no apenas com informaonova. Esse fenmeno deve ser considerado pelo educador, obtendo educacionalmenteo mximo proveito, enquanto o novo no se tornar velho, conhecido.

    O encantamento com uma tecnologia no vivida, sem histrias de sucessos e fracassos

    nova para o educador ou recm-chegada na escola, na regio, na cultura exige doprofissional de educao atitudes de distanciamento, de avaliao crtica, equilibrada,no se deixando contaminar por discursos com grandes expectativas ou, de modooposto, por atitudes pessimistas. Em Educao, autores num ou noutro lado da arenatm argumentado com selees, ampliaes e redues produzidas pela tecnologia.Citamos como exemplos, no lado do encantamento a obra de Heide & Stillborne(2000) e no plo pessimista o livro de Armstrong & Casement (2001) e a linha crticaadotada por Waldemar Setzer (e.g. 2001).

    As colocaes acima, aplicveis utilizao de qualquer tecnologia em Educao, sonecessrias para entendermos a interao mediada por tecnologias entre educadores,

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    educandos e famlias, como tambm entre gestores educacionais e educadores nosdiversos nveis da rede escolar.

    desnecessrio dizer, aplicaes a situaes especficas de ensino e de aprendizagem,supem conhecimento de concepes tericas do que educar e do que aprender,

    que no so objeto deste texto.

    II - Interao e Tecnologias na Educao

    O que colocamos at agora servir como pano de fundo para tratarmos da interaomediada por tecnologias na educao.As relaes entre interao e Educao ganharam espao no nosso pas atravs da reade Comunicao; so indicadores dessas razes o Grupo de Trabalho Educao e

    Comunicao, da Anped (www.anped.org.br), e o movimento Educomunicao, cujoprincipal porta-voz tem sido o professor Ismar Soares, da ECA/USP(http://www.usp.br/nce/).

    Na literatura brasileira dois trabalhos se destacam sobre Interao, Tecnologias eEducao: o livro de Marco Silva sobre interatividade da sala de aula (2000, 2010 no

    prelo), e a obra de Alex Primo (2007), oriundos das teses doutorais dos seus autores.Marco Silva se apia em teorias de comunicao e foca a sala de aula, conforme ttulodo livro (2001), utilizando mais a literatura de origem francesa, originada com aexperincia do Minitel (ver abaixo).A produo terica mais abrangente e atualizada sobre interao e educao a deAlex Primo. Alm do citado livro e de artigos acadmicos em vrias revistas, o autortem disponibilizado uma srie de textos interessantes, acessveis atravs do blogwww.interney.net/blogs/alexprimo/.Neste texto utilizamos materiais de ambos os autores, particularmente a obra de Alex

    Primo (2007), que trata da interao do ponto de vista da aprendizagem e dacibercultura.

    No enfatizamos as teorias da Comunicao, pois foram construdas para uso emsituaes fora da escola, a maioria delas no contexto da comunicao de massa, de um

    para muitos, seja atravs de jornal, rdio, televiso analgica ou digital, computadores

    com internet. Tambm no daremos nfase a teorias sobre a tecnologia da interao focando interfaces humano-computador.

    As teorias de comunicao assumem alguma relevncia quando se trata de Educao Distncia, no design de ambientes virtuais, de materiais de estudo e de tcnicasdidticas no presenciais. A pesquisa tem demonstrado que mesmo em EAD, commateriais de boa qualidade, etapas presenciais durante os cursos so importantes,como tambm uma baixa relao professor-tutor/alunosConsideramos que o processo de comunicao no o elemento principal da interaoem Educao. Do mesmo modo, questes de natureza tcnica no so as mais

    importantes para a interao mediada em educao.

    http://www.anped.org.br/http://www.usp.br/nce/http://www.interney.net/blogs/alexprimo/http://www.anped.org.br/http://www.usp.br/nce/http://www.interney.net/blogs/alexprimo/
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    Interao e conceitos relacionados

    O termo interao tem significados bem definidos em Biologia, Qumica, Medicina,

    Fsica, Estatstica, Informtica, Sociologia, Psicologia, que no abordaremos nestetexto.

    Na Introduo do seu livro, Marco Silva (2000), argumenta que interao umtermo de certo modo gasto, sendo uma das razes pela quais ele preferiuinteratividade. No repetiremos a argumentao em favor de um e do outro termo,

    por ter sido tratada nos captulos introdutrios dos livros de Silva e de Primo, jcitados. Pontuamos apenas que interatividade tem sido um termo muito usado, demodo vago, pela propaganda, sendo menos freqente na literatura em educao ereas afins, que trata da comunicao mediada por computadores.Evitamos os conceitos de emissor, receptor, usurio e outros mais que traduzemenfoques tcnicos tradicionais em Comunicao. Primo (2007 p.149) nota que ostermos mencionados deixam subentendido que pessoas assim rotuladas esto mercde algum hierarquicamente superior, que toma de fato as decises.Em Educao, uma alternativa tem sido a expresso comunicao dialgica adotada

    por Paulo Freire (1983) e outros, para se referir interao humana. O termointerao seria ento usado para as trocas entre humanos e mquinas, que trataremosmais adiante no tpico interao reativa.

    Ao focar os participantes da interao, preferimos o termo interagente, mais simples e

    mais preciso. Adotando o mesmo enfoque de Primo (2007), interao refere-se aao entre participantes de um encontro, ou interagentes, focando a relaoestabelecida. A interao pode ser mtua, entre duas ou mais pessoas atuando demodo cooperativo ou colaborativo, como tambm reativa, entre ser humano emquina ou entre as prprias mquinas.Cooperao e colaborao interativa so termos s vezes usados como sinnimos,

    porm na literatura especializada tm significados distintos (ver p.ex. Dillenbourg,1999). Cooperar agir em conjunto com outras pessoas buscando objetivos comuns.Uma associao de categoria profissional atua de modo cooperativo, onde os

    resultados so repartidos entre todos, de acordo com regras previamente definidas. Noentanto, o envolvimento das pessoas entre si limitado, podendo ser de modopresencial ou distncia, sem se conhecerem pessoalmente ou com um mnimo derelaes pessoais.

    Por outro lado, na atividade colaborativa h um envolvimento mais intenso,geralmente entre pessoas com habilidades comuns ou complementares. Os objetivosso comuns, visando soluo de problemas, envolvendo maior interao. O uso dalinguagem oral ou escrita fundamental para a estruturao do pensamento nas trocasde informaes e de idias, sendo necessrio entender o pensamento do outro, ououtros envolvidos na atividade.

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    Em atividades cooperativas ou colaborativas mediadas por tecnologias, uma dasvantagens a elaborao de registros, geralmente atravs da escrita, havendo assim amaterializao do pensamento dos interagentes (excetuando-se mquinas, no caso dareatividade). Uma vez materializado, o contedo poder ser revisitado, reformulado,

    compartilhado, tomado ou no como padro, armazenado para usos futuros. Constituiparte do que Lvy (1993) denomina de inteligncia coletiva, que tanto pode ocorrerem trocas mtuas de duas pessoas que se conhecem presencialmente, como tambmem trocas de pessoas de outros locais, com outras experincias, porm com interessescomuns.

    Interao e comunicao presencial

    necessrio reafirmar a importncia da interao presencial em Educao, poistemos encontrado posies viesadas de educadores fascinados com uma novatecnologia, relativizando a interao humana natural.Antes do advento das tecnologias modernas de transporte e de comunicao,

    predominava a interao mtua natural, pois as pessoas pouco viajavam, no haviatelefone, o correio era precrio e nem sempre existente. Os espaos e tempos domundo vivido eram praticamente os mesmos do nascer ao trmino da vida.Salientavam-se interaes presenciais entre habitantes do mesmo local e a amplitudede interaes com indivduos diferentes era limitada. Autoridades reis, rainhas,

    presidentes, lderes religiosos eram pouco conhecidas dos governados, tendendo aserem mitificadas pela ausncia de jornais, fotos, filmes.

    Em educao, a principal fonte de informao sobre contedos curriculares era oprofessor, que detinha o conhecimento de uma ou mais disciplinas, pelo fato de tidouma formao especializada e, muito importante, por ter acesso a fontes livrosdidticos e no didticos, enciclopdias, revistas e outros materiais. As bibliotecaseram poucas ou inexistentes, com acervos limitados e quase sempre desatualizados.Quando existia uma biblioteca na comunidade nem sempre o aprendiz tinha acesso aela; quando tinha, no detinha competncias de leitura e de busca da informao, queeram domnio de bibliotecrios reflexo de uma poca onde livros eram raros,ocasionando atitudes implcitas do que costumo chamar de paradigma O Nome da

    Rosa, conforme livro (e depois filme) com o mesmo ttulo, do escritor italianoUmberto Eco (1986).Assim, antes da democratizao das novas tecnologias da informao, alm do

    professor, durante curtos perodos de aula, a tecnologia do livro didtico era aprincipal fonte de informao fora do horrio de aula, disponvel para o aprendiz.Como fizemos ao refletir sobre tecnologia, nosso elemento de referncia a interaono mediada por tecnologias, entre pessoas corporalizadas por inteiro, em espaos etempos naturais. Ela essencial entre educadores e educandos, especialmente nos

    perodos de formao da criana e do adolescente. Sua intensidade proporcional idade, sendo maior nos primeiros anos, podendo-se usar gradativamente alternativas

    mediadas por tecnologias medida que a pessoa atinge a idade adulta. tambm

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    essencial entre os prprios educandos, particularmente nos perodos da formao dapersonalidade. Os que tiveram a sorte de uma educao formal possuem memriassignificativas de grupos de escola, da Educao Infantil Universidade.Sendo a interao natural a referncia, muitas das colocaes sobre dialogismo

    aplicam-se igualmente interao mediada por tecnologias. O dilogo um princpioque permeia as grandes teorias educacionais. Paulo Freire (1983), por exemplo,escreveu que o dilogo o encontro amoroso entre seres humanos que mediatizados

    pelo mundo, o pronunciam, o transformam, humanizando-o para a humanizao detodos. ... Ser dialgico no invadir, no manipular, no sloganizar. (1983, p.28).Em suma, o ato de educar essencialmente uma relao humana presencial, podendoser potencializada, em determinadas situaes, por tecnologias de comunicao queselecionam, ampliam e reduzem aspectos diversos da relao, mas sempre tendo comoreferncia uma relao face a face, inteiramente corporalizada, no contexto da

    instituio escolar.Aqui cabe uma ressalva.O elemento presencial de referncia no deve servir para minimizar a importncia dasinteraes mediadas por tecnologias entre os prprios educandos, com outras

    pessoas e particularmente nas interaes de aprendizes com educadores. Estacolocao importante, pois ainda h educadores que acreditam poder desempenhar

    bem suas atividades sem usar direta ou indireta tecnologias, particularmente astecnologias da informtica.

    No mundo contemporneo podemos afirmar que tecnologias da informao e

    comunicao so essenciais para a Educao, incluindo formao continuada deeducadores.Usando uma metfora, o contato humano entre mdico e cliente, embora essencial,

    no prescinde de tecnologias para exames, diagnsticos, prescries medicamentosas,intervenes cirrgicas, acompanhamento do cliente, etc.Por fim, necessrio considerar que a interao presencial em educao, comonoutras situaes, no algo homogneo, variando em funo de elementos comoaparncia, expresses faciais, familiaridade dos sujeitos, objetivos, etc. (Bakhtin,1953). Assim, trocas entre professores e alunos so bem diferentes daquelas entre

    pares sejam alunos com colegas de classe, professores entre si, gestores. Nainterao mediada por tecnologias, tais aspectos podem ser ampliados ou reduzidos,dependendo da situao especfica e da tecnologia utilizada.

    Interao mediada

    No passado menos remoto, a principal tecnologia de interao mtua distncia era acarta manuscrita ou datilografada, sem imagens. Havia um intervalo de tempo diasou semanas entre as trocas e as pessoas podiam elaborar seus registros com calma,guardar correspondncias, publicar muito depois.

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    Ontem como hoje, a interao escrita era condicionada, entre outros elementos, poratitudes dos sujeitos em relao escrita prazer ou no no ato de escrever, domnioda gramtica, auto imagem como escrevente.

    Alm da imprensa, no havia tecnologias de reproduo de informaes pelo

    aprendiz, como existem hoje copiadoras e ferramentas de gravao e de anexao dearquivos em correspondncias. Na cultura, o registro de informaes erapredominantemente escrito; fotografia e filme eram dispendiosos para se fazer ereproduzir. Mapas, a principal tecnologia de representao do espao, eram maisinacessveis ao aprendiz.Com o advento da eletricidade e das redes fixas de comunicao, as interaes entre

    pessoas tiveram a primeira mudana significativa com o telgrafo e com o telefonelocal. Usos freqentes do telefone interurbano e do internacional vieram muito depois,com os satlites e as redes telemticas.

    A interao um-todos teve grande mudana com a disseminao do rdio em meadosda primeira metade do sculo passado, sendo o incio da indstria (e das teorias) decomunicao de massa. Ampliou-se o papel da voz humana e de outros sons nastrocas entre pessoas, com a correspondente reduo drstica do ambiente espacial e daimagem corporal idade, aparncia, cor da pele, expresso facial, postura, sexo, etc.Em meados do mesmo sculo, com a disseminao da televiso nos grandes centros

    urbanos, comeou a revoluo da imagem dinmica preto-e-branco em tempo real. Asinteraes televisadas tinham a grande vantagem da corporalizao da voz jconhecida pelo rdio e de parte do ambiente onde ocorriam, agora com a ampliao de

    outros aspectos. Por no existirem redes atravs de satlites para transmissotelevisiva, boa parte dos contedos eram provenientes de filmes, ou televisados emtempo real no mbito do broadcast local.

    Na mesma poca as mudanas tecnolgicas do rdio e depois televiso atingiram aeducao, tendo ocorrido o deslumbramento de alguns educadores e gestores com anova tecnologia. Thomas Edison, inventor do radio, chegou a prever odesaparecimento do livro. Outros previram a obsolescncia do professor com osurgimento do gravador sonoro, pois aulas seriam dadas por mquinas e no mais por

    pessoas ao vivo. As melhores aulas poderiam ser duplicadas em grande escala, oque gerou sentimentos de rejeio e certo medo de desemprego e resistncia entre

    profissionais da educao. Afinal, a mecanizao da indstria tinha produzido grandedesemprego.O educador Larry Cuban (1986) pesquisou essa histria nos EUA, entre a dcada devinte e os anos oitenta do sculo passado, tendo identificado um processo cclico: achegada de uma nova tecnologia gerava elevadas expectativas sobre sua importnciana Educao, acompanhada de um discurso de obsolescncia da escola, havendonecessidade de mudanas; estabeleciam-se polticas pblicas de introduo dosobjetos tcnicos, fechando-se o ciclo com o uso limitado da tecnologia, j no tonova (Cysneiros, 1998).

    Em suma, o uso por educadores e aprendizes, de tecnologias da informao ecomunicao baseada na informtica um fenmeno relativamente recente,

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    especialmente na escola pblica. O ciclo proposto por Larry Cuban tem sidoobservado sempre que so introduzidos novos objetos tcnicos, como vem ocorrendoatualmente com os laptops educacionais no Brasil.

    Interao no presencial por computadores

    A sociedade em rede, baseada nas tecnologias da informtica, estudada de modoexaustivo pelo socilogo espanhol Manuel Castells (2000), a principal caractersticado nosso tempo, tendo afetado de modo substancial praticamente todos os aspectos dasociedade, incluindo Educao. No nos deteremos neste tema, explorado porestudiosos da Sociologia, da Comunicao, da Economia, entre outros.Apenas notamos o fato que cada vez mais nossos jovens esto corporalizando ainternet no seu cotidiano, conforme demonstram pesquisas recentes.A expresso Gerao Interativa, usada num estudo feito pela empresa espanholaFundacin Telefnica (Sala & Chalezquer, 2009, p.48), sublinha a permanente buscade interao atravs da internet. Numa pesquisa recente de opinio feita comaproximadamente 21 mil jovens iberoamericanos de 10 a 18 anos, sobressai-se ainterao atravs de mensagens sncronas (70% de respostas, certamente com pessoasdo seu grupo social colegas de escola e de outros locais, conhecidas pessoalmente) etroca de e-mails (62%), seguidas por downloads (provavelmente de msicas) visitas a

    pginas web, jogos e mensagens de texto.

    Aps esta incurso histrica, retomemos a literatura sobre interao e educao.

    No nos deteremos nas categorizaes de interao, nos atendo aos dois tipos bsicos interao mtua e interao reativa, tratadas por Primo nos captulos trs e quatro dolivro de 2007 (pgs 99 a 195). Focamos a interao mtua mediada em Educao eno noutros contextos.A interao mediada, tanto mutua como reativa, influenciada, particularmente nastrocas iniciais, pela familiaridade de cada interagente com a interface (e obviamentecom o manejo de um computador). Os ambientes virtuais mais usados em Educaoapresentam estruturas lgicas ainda pouco transparentes para a pessoa comum, sendonecessrio um tempo inicial de trocas para desenvolvimento de automatismos de

    movimentao na ferramenta. Um dos indicadores de sua ocorrncia a ausncia depausas na navegao (detectadas no manejo do mouse ou teclado), no sendonecessrio pensar sobre significados dos vrios cones, menus e submenus, modos deavano e retrocesso, salvamento de arquivos, etc. etc.Automatismos tende ma ser esquecidos pelo interagente que domina um ambientevirtual e no consegue imaginar-se na situao de um iniciante. comumencontrarmos instrutores que ensinam a navegar em um ambiente virtual apenasapontando caractersticas numa tela projetada e falando os significados, sem

    preocupar-se em avaliar se houve assimilao do que foi exposto. Abordamos algunsaspectos de tal situao em um texto sobre Iniciao Informtica em Educao(Cysneiros, 2000).

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    Interao tecnicista

    Conforme salienta Alex Primo (2005), num artigo tratando de enfoques e

    desfoques, a interao mediada por computador, ao depender de um aparatotecnolgico, pode receber um tratamento terico que destaca as caractersticastcnicas da mquina e das redes, dos programas e bancos de dados. importante que o educador particularmente o gestor que toma decises sobreinfraestrutura em escolas e redes escolares tenha algum conhecimento de aspectostcnicos da tecnologia para que suas decises no sejam afetadas por atitudes deencantamento com novo objetos tcnicos, geralmente apresentados por vendedores ou

    por pessoas com outros interesses.Aspectos tcnicos no podem ser o elemento central quando se trata da interao

    mediada em educao. Um sistema no to avanado, porm testado pelo uso emcondies semelhantes, que possa ser mantido por pessoas da comunidade escolar ouda rede, poder ser mais til do que sistemas sofisticados, que muitas vezes

    permanecem subutilizados ou entram em obsolescncia mais rpido pela inexistnciade culturas de uso, de especialistas para manuteno, de comunicao com outrossistemas.

    Interao mutua

    A interao mtua pode ser sncrona, em tempo real, ou assncrona, atravs de

    ferramentas como fruns, emails, ambientes virtuais de modo geral.Conforme Primo (2007, p.57), a interao mtua caracteriza-se por relaesinterdependentes e processos de negociao, onde cada interagente ... participa daconstruo inventiva e cooperada do relacionamento, afetando-se mutuamente (...),onde o relacionamento recriado a cada troca.O relacionamento negociado constitudo de oportunidades para construo no

    apenas cooperativa, mas tambm colaborativa, onde a ao de um tende a modificar,complementar, esclarecer a do outro. Atravs da fala e de outras aes, possvelmaterializar idias, corrigir distores, criar um todo impossvel de ser feito por

    pessoas trabalhando em isolamento.A interao mutua mediada no pode ser considerada como a soma de vrias trocasentre sujeitos. Por ser um relacionamento de interdependncia, cada sujeito no podeser analisado de modo separado, como tambm no pode ser isolado de um ou outrosujeito o produto do relacionamento. As aes de cada sujeito fazem parte do contextodas trocas, incluindo objetivos que podem ter sido estabelecidos por outra pessoa,como um professor.

    Nas trocas, podem ser identificados aspectos conflitantes e mesmo contraditrios,uma vez que o prprio relacionamento afeta os participantes.Trocas entre professores e aprendizes afetam o modo como cada um se percebe e estefato por sua vez ir afetar trocas posteriores. O professor pode deixar transparecer, de

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    modo explcito ou nas entrelinhas, aspectos de encorajamento e aprovao ou ocontrrio, dando relevncia a certos aspectos e omitindo outros. Como exemplo, aocomentar um trabalho escrito, poder focalizar aspectos formais correogramatical, aparncia ou formatao e extenso do documento, datas para

    cumprimento da tarefa. De modo oposto, mesmo notando os aspectos mencionados,poder dirigir suas observaes para aspectos construtivos da produo do aprendiz,estimulando-o a explorar determinadas fontes e evitar outras, salientar e comentarelementos de criatividade, sugerir novas atividades. Em funo das trocas, o aprendiz

    poder ganhar ou no autoconfiana, perceber-se como capaz ou inseguro, o que porsua vez ir condicionar futuras trocas com o professor interagente. Novas mensagensinseguras do aluno, por sua vez, podero sedimentar julgamentos anteriores do mestreem relao ao aprendiz.Outros fatores, como o tempo transcorrido entre o recebimento e a resposta de umamensagem de e-mail, a extenso do texto e aberturas para novas trocas, so elementos

    condicionantes cujos significados podem no ser notados reflexivamente pelosinteragentes. So ampliaes e redues ligadas tecnologia, como observamos noincio.

    Interao reativa

    Interao reativa aquela que ocorre entre pessoas e mquinas, sem interveno deoutra pessoa. Como exemplo, ela ocorre no nosso cotidiano quando ligamos para umnmero telefnico e ouvimos apenas instrues gravadas.

    No focalizaremos a interao reativa tpica da comunicao entre mquinas,notadamente entre computadores, tratada por Primo no captulo quatro do seu livro de2007 (pp.135-195).

    Na interao humano-mquina, as reaes ou respostas da mquina limitam-se a umconjunto de aes previamente programadas. Em programas complexos decomputador, algumas respostas da mquina podem no ter sido previstas, como porexemplo o travamento da ferramenta. Porm isto no significa que foi uma decisoda mquina; um reexame do cdigo programado certamente identificar a causa docomportamento no previsto. Discusses sobre isso so importantes com aprendizes e

    mestres, para que se compreendam os mecanismos no visveis das mquinas com asquais a pessoa interage.A interao reativa tem sido apresentada muitas vezes como um fenmeno menos

    importante, por ser um recurso utilizado intensamente por empresas que desejamatingir um grande nmero de pessoas, dando a impresso de algo personalizado.Cartas impressas personalizadas e dilogos gravados podem fortalecer essa impresso,quando a mquina pede ao humano para deixar uma mensagem, ou responde ao quealgum falou aps identificar palavras chave na mensagem.A interao reativa comum em portais educacionais com estruturas complexas, quetambm podem deixar a impresso de certa personalizao.

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    Relembrando a diferena entre tecnologia e tcnica, tratada antes, consideramos que oproblema no est na tecnologia em si, mas no modo como utilizada. Vejamos doisexemplos concretos portais educacionais e televises educativas.

    Um portal educacional com uma estrutura intuitiva para gestores, educadores,

    aprendizes e comunidade, que estimule a interao com os responsveis, com suportehumano adequado para atender demanda do pblico para o qual dirigido, pode seruma tecnologia educacional de grande utilidade. O estmulo interao no alcanado apenas com um endereo genrico de e-mail ou de telefone em alguma

    parte da pgina. necessrio que sejam fornecidos links e e-mails contextualizadosnos contedos, tais como e-mails do autor ou do responsvel pelo texto, software ououtro objeto. Praticamente qualquer objeto exibido em um contedo pode ser linkadono apenas para outras fontes no formato de hipertexto, mas tambm para a

    possibilidade de insero de comentrios, tanto para os responsveis como para outraspessoas, estimulando a formao de comunidades de uso e grupos de interesse.

    Um bom exemplo deste tipo de portal, no caso uma ferramenta aberta de domniopblico a Wikipdia e projetos associados (http://bit.ly/avvCCg; Cysneiros, 2009)

    No caso do broadcasting televisivo, necessrio separar a televiso analgica,amplamente assimilada, da tecnologia de televiso digital, lentamente emimplementao no Brasil.

    Na televiso tradicional a interao reativa muito limitada, no exigindo aesfsicas da pessoa que estiver vendo, literalmente fixando sua ateno visual (e talvezauditiva) no que estiver sendo exibido na tela. A cultura do ver tev (ou no mximo

    zapear entre canais) resume-se a assistir ao zapeamento de contedo, tpico dasemissoras. Na televiso comercial so mostrados pequenos pedaos de assuntos com

    pouco ou nenhum encadeamento conceitual, saltitando de uma cena de novela paraum comercial de iogurte, uma notcia de um tremor de terra e um trailer do prximo

    programa. Isto em si em no ruim como lazer, embora exija sempre atitudes crticasdo espectador. Tal modelo no deve servir de referncia para rdio e televisoeducativa. Neste caso, os responsveis pela programao em sentido amplo apresentadores, diretores, designers, autores de contedo, tero sua atividadeenriquecida se sempre se perguntarem: o que est sendo selecionado, ampliado,

    reduzido neste tpico? Meu interagente potencial ser capaz de fazer ligaes comoutros contedos, de fazer representaes mentais e registros, tendo em vista oespao, o tempo e outros elementos de contexto? Tenho me preocupado em inseririnformaes que estimulem alguma ao interativa da pessoa do outro lado? Ao finalde uma etapa, seja uma semana, um ms, um semestre, uma unidade, foram recebidosemails, cartas, mensagens do pblico? Se sim, tal material foi respondidoindividualmente em tempo hbil, tratado nos programas seguintes e levado emconsiderao para se pensar programaes futuras?

    Por fim, um caso particular de interao com computadores o enorme domnio dosgames, ou jogos por computador, que vem fascinando crianas e adolescentes hmais de duas dcadas. A interao pode ser apenas com a mquina, a mais comum,

    http://bit.ly/avvCCghttp://bit.ly/avvCCg
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    mas tambm com outras pessoas atravs da mquina, em rede local como numa lanhouse ou pela internet. O apelo dos jogos computadorizados muito grande e j haviasido notado por Seymour Papert (2008) h quase vinte anos. Especialistas tm notadoaspectos positivos dos games, tais como persistncia, necessidade de decises rpidas,

    atividade cooperativa, entre outros (GEE, 2003). Neste particular so necessriasatitudes equilibradas, pontuando tambm aspectos negativos e limitaes, selees,ampliaes e redues. O fato de haver aspectos positivos no elimina aspectoscondenveis do hbito do jogo e excesso, computadorizado ou no.

    III - Consideraes Finais

    O educador ao utilizar uma determinada tecnologia, seja de modo presencial,semipresencial ou inteiramente distncia, deve sempre se perguntar,autoreflexivamente ou de modo colaborativo com colegas que desenvolvem a mesmaatividade: como estou tentando interagir com as pessoas para as quais este material

    pretende atingir? Seja uma criana do incio do Ensino Fundamental, um adolescentefinalizando o Ensino Mdio, um aprendiz adulto, um pai ou me, um gestor oueducador de apoio.

    Lembrando uma entrevista dada pelo ministro da Educao, Fernando Haddad,registrada no livro Cultura Digital, ... no seria possvel se pensar em certos debatesque esto acontecendo na vida contempornea sem a possibilidade de interao que odigital traz, quebrando a relao piramidal de poucos emissores para muitosreceptores, que era a marca da comunicao no sculo vinte, que estabelecia padresde gosto, de interseco, de formulao. A pulverizao e o caos contemporneo quea internet acabou gerando, na relao de muitos para muitos (...), tem um grande ladode empoderamento, de exerccio da voz, do grito, da lamria, do lamento, da agresso,muitas vezes como voz do direito da cidadania, (que) ainda no foram inteiramenteentendidos ... (Savazoni & Cohn, 2009, p.36-37).

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