"cycle chic: essa onda vai pegar no brasil"
DESCRIPTION
Reportagem publicada na Revista Informar Tabatinga 11, em jul/ago de 2011: Não se trata de um rótulo. Cycle chic é um movimento internacional que associa a cultura de pedalar no dia a dia sem os “neons” das roupas esportivas. Conheça os adeptos paulistanos que abriram seu armário para uma mobilidade urbana mais charmosa e sustentávelTRANSCRIPT
C
NÃO SE TRATA DE UM RÓTULO. CYCLE CHIC É UM MOVIMENTO INTERNACIONAL QUE ASSOCIA A CULTURA DE PEDALAR NO DIA A DIA SEM OS “NEONS” DAS ROUPAS ESPORTIVAS. CONHEÇA OS ADEPTOS PAULISTANOS QUE ABRIRAM SEU ARMÁRIO PARA UMA MOBILIDADE URBANA MAIS CHARMOSA E SUSTENTÁVEL
texto: Janaína Quitério | fotos: Thiago Teixeira | arte: Glauco Dias
lick! A imagem captada pelo fo-
tógrafo e cineasta dinamarquês Mika-
el Colville-Andersen no semáforo de
Copenhague, em 2007, era uma cena
comum na cidade. Uma mulher pre-
parava-se para se deslocar de bicicle-
ta elegantemente ao lado de carros
no momento em que o sinal abria. A
fotografi a substituiu o manifesto es-
crito e, ao ser publicada em seu blog
— Copenhagen Cycle chic (www.cope-
nhagencyclechic.com) —, conquistou
adeptos em todo o mundo. Desde en-
tão, Colville-Andersen registra cenas
de pessoas elegantes sobre suas bici-
cletas confortáveis com o objetivo de
defender que é viável e até poético
se mover no meio urbano com estilo.
Copenhague tinha tudo para ser o berço do movimento Cycle chic. A cidade é tida pela União Ciclís-tica Internacional como a mais bicycle-friendly do planeta por ofe-recer 350 quilômetros de ciclovias a quase 500 mil pessoas (ou 36%
do total de habitantes), que usam a bicicleta como meio de transpor-te diário — isto é, que se locomo-vem ao trabalho, ao supermercado, à escola, à casa de amigos ou a qualquer outro lugar aonde chega-riam de carro, de moto, a pé ou de transporte público. Segundo as au-toridades governamentais da capital dinamarquesa, o número de adep-tos da bike como veículo cotidiano deve chegar a 50% da população até 2015, quando a cidade espera ganhar o título de a “capital ambien-tal do mundo”.
O Copenhagen Cycle chic foi reproduzido em várias cidades: Barcelona, Paris, Amsterdã, Lon-dres, Bélgica, Sydney, Lisboa, Vie-na, Nova York, Turim, Curitiba, São Paulo e muitas outras. Em junho de 2008, Carlton Reid, do jornal britâ-nico The Guardian, classifi cou o ori-ginal Cycle chic como um dos dez melhores blogs de moda no mundo.
CYCLE CHIC: ESSA MODA VAI PEGAR NO BRASIL
16 |
horizonte
Horizonte-cycle-chic-11.indd 16 28/06/2011 18:23:49
A IDEIA É SIMPLES: NADA DE ROUPAS AMARELAS E LARANJAS
FABRICADAS EM LAICRA. EM MEIO AO CAOS DAS CIDADES,
O CICLISTA PODE SE VESTIR
“À PAISANA”, JÁ QUE FAZ DE
SUA BIKE UM VEÍCULO URBANO, DISSOCIADO DO USO EXCLUSIVO EM ATIVIDADES DE ESPORTE
E LAZER
Fac-símile do blog de Copenhague
| 17
Horizonte-cycle-chic-11.indd 17 28/06/2011 18:23:51
Embora o Brasil seja o quinto
maior mercado consumidor de bici-
cletas, com 5,7 milhões de unida-
des vendidas anualmente, segundo
a Abraciclo (Associação Brasileira
dos Fabricantes de Motocicletas,
Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas
A ilustradora Fernanda Guedes,
de 46 anos, locomove-se pela cidade
de São Paulo há mais de um ano ape-
nas de bicicleta — uma confortável e
feminina Blitz Comodo aro 700. Com
ela, visita clientes, vai ao salão de be-
leza e às festinhas do fi lho — de dez
anos de idade — na escola, faz com-
pras no supermercado e passeia pela
cidade. “A bicicleta me proporcionou
uma independência. Saio a hora que
for, com tempo bom ou ruim, com ou
sem trânsito”, orgulha-se. Desde que
vendeu o carro, adaptou pouco a pou-
co o guarda-roupa: “Quando vou com-
prar um sapato, por exemplo, sempre
observo se é confortável para pedalar.
Caso contrário, seria como dizer ‘é
caro demais para mim’. Não uso tênis
no meu dia a dia, exceto quando par-
ticipo de passeios em grupos de ciclis-
mo mais exigentes, que consideram
e Similares), elas ainda são pouco
usadas como meio de transporte em
grandes cidades. Mas, esse panora-
ma tem se alterado. Conversamos
com oito ciclistas urbanos que, sem
perder seu estilo, ganham mais mo-
bilidade, alegria e interação no des-
locamento diário.
O HORIZONTE BRASILEIRO CYCLE CHIC ELEGANTE
Na av. Paulista, ciclistas Cycle chic esbanjam charme
Fernanda Guedes mantém seu estilo sofi sticado
18 |
horizonte
Horizonte-cycle-chic-11.indd 18 28/06/2011 18:23:56
que pedalar de salto alto pode deses-
tabilizar o ciclista, o que não é verda-
de”, explica. Autora do blog “Minha
vida eco chic”, Fernanda não se consi-
dera uma ‘ecochata’ ao associar a bi-
cicleta como transporte sustentável:
“Procuro respeitar o meio ambiente a
partir de pequenas ações, como eco-
nomizar água, educar meu fi lho para
ter uma postura de respeito ambien-
tal, substituir o meu cartão de visitas
impresso por um carimbo, fazer reci-
clagem de lixo e andar de bicicleta”.
O que mudou em sua vida? “Sou mais
alegre. No dia em que não pedalo,
percebo que algo falta”, felicita-se. O
que não mudou? Quem já a viu passar
pelas ruas de São Paulo confi rmaria:
Fernanda Guedes continua elegante
e esbanjando charme pelos caminhos
por onde passa.
Já a jornalista Verônica Mambrini,
de 27 anos, pedala todos os dias entre
18 e 25 quilômetros. Seu carro, há qua-
tro anos, não sai da garagem. Para inse-
rir a bicicleta em seu cotidiano, foi um
passo a passo: “Meu processo foi muito
lento. Primeiro, me informei mais sobre
leis básicas de trânsito. Descobri que
não é seguro pedalar na contramão,
como imaginava. Com um bike-anjo —
ciclista voluntário que auxilia iniciantes
em seus primeiros pedais na cidade —,
aprendi a sinalizar e a percorrer cami-
nhos alternativos às principais aveni-
das”, enumera. Na estreia de sua ida ao
trabalho, Verônica saiu com três horas
de antecedência só para se certifi car de
que era viável. “Cheguei um pouco de-
sajeitada, mas vi que dava certo”, co-
memora. Hoje, ela sai pronta de casa.
Usa quase tudo de seu guarda-roupa,
exceto saia-lápis, passa maquiagem
à prova d’água e se refresca com água
termal — de marca francesa, trata-se
de líquido enriquecido com minerais e
usado como relaxante e hidratante para
a pele. “Tenho um kit básico para an-
dar de bike: além de muito protetor so-
lar, não economizo em hidratante para
mãos e pescoço, tenho opções de luva
para o inverno e para o verão e abuso
de algodão e tônicos para o rosto”, re-
comenda às leitoras que se animarem.
O capacete soma-se aos acessórios de luxo usados por Fernanda
Flores deixam a bike mais ro-mântica. Na cestinha traseira, a Blitz carrega pão e vinho
A água termal ajuda a refrescar a pele
Verônica Mambrini e sua bike Fuji Crosstown Ladies, com quadro step through, próprio para mulheres
| 19
Horizonte-cycle-chic-11.indd 19 28/06/2011 18:24:04
conquista,
bom gosto, exclusivo, bom humor, descontraído,
vinho, cozinhar, bater papo, rir, comer, passa-tempo, diversão, bem estarexigente, tendência, charme, chef,oportunidade, performance, qualidade,
Atitude, estilo, moda,
contemporâneo, curtir a vida, único,personalidade, gourmet,
conforto, design, cor, moderno,antenado,
delícia, alto padrão, celebração, intimidade,
recompensa, beleza, paladar, prazer
dedicação,desejo.
arte, mixreceita, sucesso, chef, sommelier,
descolado,aroma, família,amigos, sabor
sedução, sensibilidade, culinária,
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
An Segatto 210x280mm.pdf 15.03.11 12:17:37
A designer gráfi co Joana Rocha, de 34 anos, dá dicas em seu blog “Hoje vou assim de bike” — inspirado nos blogs de moda “Hoje vou assim” e “Hoje vou as-sim off” —, com fotografi a e marcas das roupas que ela combina para se deslocar com a bike speed Bianchi
A designer gráfi co Renata Cardamo-ni, de 22 anos, pedala há três meses e já inseriu seu estilo em suas andan-ças. “Eu viajei para Santos de bike usando vestido e All Star. É como me visto no dia a dia”
Aline Cavalcante, jornalista de 25 anos, pedala em São Paulo há dois anos e meio. Não se considera “chique”, mas se identifi ca com o termo Cycle chic por ele defender o uso de roupas “normais”, não esportivas, no dia a dia. “Se eu morasse a 30 quilômetros do meu trabalho, talvez usasse roupas de atletas. Mas, para o meu deslocamento de 10 km di-ários, eu me arrumo. Cycle chic, para mim, é o guarda-roupa na bike. Tem um potencial de quebrar paradigmas como o de achar que bicicletas estão reservadas a parques ou academias”
Cycle chic despojada
Qual roupa usar?
Cycle chic alternativa
20 |
horizonte
Horizonte-cycle-chic-11.indd 20 28/06/2011 18:24:10
conquista,
bom gosto, exclusivo, bom humor, descontraído,
vinho, cozinhar, bater papo, rir, comer, passa-tempo, diversão, bem estarexigente, tendência, charme, chef,oportunidade, performance, qualidade,
Atitude, estilo, moda,
contemporâneo, curtir a vida, único,personalidade, gourmet,
conforto, design, cor, moderno,antenado,
delícia, alto padrão, celebração, intimidade,
recompensa, beleza, paladar, prazer
dedicação,desejo.
arte, mixreceita, sucesso, chef, sommelier,
descolado,aroma, família,amigos, sabor
sedução, sensibilidade, culinária,
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
An Segatto 210x280mm.pdf 15.03.11 12:17:37
Horizonte-cycle-chic-11.indd 21 28/06/2011 18:24:11
No fi nal de junho, ciclistas de São Paulo organizaram o Tweed Ride — um passeio feito de bike com trajes elegantes de época com o ob-jetivo de lembrar que, no passado, as bicicletas eram sinônimo de sofi sticação. O primeiro Tweed Ride (Tweed Run) foi organizado em Londres no início de 2009. Na foto, Rafael Rodolfo Chacon exibe o traje vintage no centro de São Paulo
O editor de imagem João Guilherme La-cerda, de 30 anos, é promotor do uso da bicicleta como uma das alternativas para o trânsito em grandes cidades. “Usar a bike como veículo normal faz toda a diferença. Botar o cachorrinho na cesta da bicicleta toca muito mais as pessoas do que repetir que o congestionamento causado pelo excesso de carros destrói o planeta. Transmitir a felicidade que andar de bike proporciona é muito gos-toso, e isso me faz mais feliz”
Daniel Guth, de 27 anos, é fotógrafo por formação e atua em administra-ção pública. Vendeu o carro em 2008 e descobriu novos caminhos, fl oridos e arborizados, para se locomover pela cidade. “Percebi que pedalar com cha-ruto é incrível, pois a fumaça não fi ca no olho”, garante. Em 2008, trabalhava na Secretaria de Esportes de São Paulo quando foram propostas as ciclofaixas de lazer na cidade: “A ideia era fazer as pessoas retomarem o gosto de fi car ao ar livre na rua e interagirem com ela. As ciclofaixas (disponíveis aos ciclistas nos domingos) tinham o objetivo de tirar a poeira das bikes para, então, introduzir soluções que revolucionem um padrão de mobilidade, que hoje privilegia os veículos automotores”
Cycle chic casual
Tweed Ride: um passeio elegantefoto
: La
ura
Sobe
nes
22 |
horizonte
Horizonte-cycle-chic-11.indd 22 28/06/2011 18:24:21