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FORMAÇÃO TÉCNICA Brasília, 2015 Associativismo, Cooperativismo e Sindicalismo Curso Técnico em Agronegócio SENAR - Brasília, 2015

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FORMAÇÃOTÉCNICA

Brasília, 2015

Associativismo, Cooperativismo e

Sindicalismo

Curso Técnico em Agronegócio

SENAR - Brasília, 2015

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S474c SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. Curso técnico em agronegócio: associativismo, cooperativismo e sindicalis-mo / Serviço Nacional de Aprendizagem Rural ; Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, Rede e-Tec Brasil, SENAR (Organizadores). – Brasília : SENAR, 2015.

126 p. : il. (SENAR Formação Técnica)

ISBN: 978-85-7664-093-6

Inclui bibliografia.

1. Cooperativismo 2. Sindicalismo 3. Agroindústria - ensino. I. Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. II. Rede e-Tec Brasil. III. Título. IV. Série.

CDU: 658.114

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SumárioIntrodução à Unidade Curricular –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 6

Tema1: Associativismo –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––12Tópico 1: As Associações e sua Importância no Cenário Brasileiro –––––––––––––––––––––––––––––– 13Tópico 2: Conceito e Características das Associações –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 27Tópico 3: Associações de Produtores Rurais ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 33Encerramento do Tema ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 35Atividade de aprendizagem ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 35

Tema 2: Cooperativismo –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––39Tópico 1: Organização das Cooperativas Brasileiras O Nascimento de uma Grande

Ideia ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––40Tópico 2: Concepção, Objetivos e Fundo Ético do Sistema Cooperativo Solidarismo e

Mutualismo ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––46Tópico 3: A Cooperação no Agronegócio –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––49Tópico 4: Cooperativismo e as Regras do Mercado –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 53Tópico 5: A Sociedade Cooperativa –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––60Tópico 6: Atos Cooperativos –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 72Tópico 7: Gestão das Sociedades Cooperativas de Produção Agropecuária –––––––––––––––77Tópico 8: Análises Estratégicas de Gestão das Organizações Sociais Agropecuárias 81Tópico 9: Sistema OCB/Sescoop ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 87Encerramento do Tema –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––89Atividade de aprendizagem –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––89

Tema 3: Sindicalismo ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––93Tópico 1: Aspectos Gerais e Históricos do Sindicalismo –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––94Tópico 2: Legislação sobre Princípios, Liberdade Sindical e de Organização –––––––––––––98Tópico 3: Organização e Atividades Sindicais ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––99Tópico 4: Sindicalismo Rural – Regras e Atores ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––101

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:

S474c SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. Curso técnico em agronegócio: associativismo, cooperativismo e sindicalis-mo / Serviço Nacional de Aprendizagem Rural ; Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, Rede e-Tec Brasil, SENAR (Organizadores). – Brasília : SENAR, 2015.

126 p. : il. (SENAR Formação Técnica)

ISBN: 978-85-7664-093-6

Inclui bibliografia.

1. Cooperativismo 2. Sindicalismo 3. Agroindústria - ensino. I. Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. II. Rede e-Tec Brasil. III. Título. IV. Série.

CDU: 658.114

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Curso Técnico em Agronegócio

4Tópico 5: Sistema Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA –––––––––––– 113Encerramento do Tema –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 119Atividade de aprendizagem –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 119

Atividade extra: Análise Conceitual Comparativa ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––122

Atividade de aprendizagem – Gabarito ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––123

Atividade extra: Análise Conceitual Comparativa ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––124

Referências Bibliográficas –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––125

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Introdução à Unidade Curricular

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Curso Técnico em Agronegócio

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Introdução à Unidade CurricularOlá, seja bem-vindo(a) à Unidade Curricular Associativismo, Cooperativismo e Sindicalismo do curso Técnico em Agronegócio da Rede e-Tec Brasil do Senar.

Para iniciar os estudos, reflita uns momentos sobre estas perguntas:

• O que me motivou a fazer este curso?

• Estou em busca de conhecimento? Para quê?

• O que farei com esse conhecimento?

• Estou em busca de mais oportunidades? Para quê? Para o trabalho? Para a comunidade?

Dizem que não são as respostas que movem o mundo, e sim as perguntas. Na verdade, os desafios moram nas perguntas, e não nas respostas.

Na figura a seguir, você pode analisar um esquema que representa as relações sistêmicas de cooperação para o desenvolvimento sustentado com qualidade de vida. Tente se enxergar nas descrições de cidadãos, profissionais e pessoas.

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Associativismo, Cooperativismo e Sindicalismo

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Qualidade de vida

Cooperativas

Associações

Sindicatos

EmpresaIndividual

Assistênciatécnica

Sociedades

Insumos

Crédito

Produtos

Comercialização

Primários

Agroindústria

Armazenamento

Beneficiados/Transformados

Pesquisa

Tecnologia

Capacitação

Indicador

Renda sustentável

Defesa dedireitos

Mercado

Área estratégicade Atuação

DesenvolvimentoSustentável

Viabilidade econômica com sustentabilidade

Políticas públicas

Participação

Valores

Cooperação

Solidariedade

Democracia

Respeito àsdiferenças

Conselhos

ONG’s

MSTR

Igrejas

Dimensões

Movimentossociais

Acordo deconveniência

Contratossociais

CIDADÃOS PROFISSIONAIS PESSOAS

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Curso Técnico em Agronegócio

8Pessoas

Quem são as pessoas? As pessoas são aqueles indivíduos que possuem valores – de participação, cooperação, solidariedade, democracia e respeito às diferenças –, adquiridos e formados durante a sua vida, diante de conceitos que a sociedade impõe.

As diferenças entre as pessoas sempre existirão, mas como podem ser minimizadas?

Para facilitar a convivência entre as pessoas, existem ferramentas como o “acordo de convivência” ou os “contratos sociais”, que podem ser formais ou informais.

Contratos formais são escritos, e, em alguns casos, o seu registro é exigido. Esses contratos também são chamados de “contratos solenes”. Por exemplo, um contrato de compra e venda ou de trabalho. Os informais podem ou não ser escritos, mas não seguem as exigências de um contrato formal, portanto têm menos garantias.

Cidadãos

Quem são os cidadãos? Os cidadãos são pessoas que convivem em uma sociedade e devem conhecer e exercer seus direitos e deveres, que interferem na vida de toda a sua sociedade.

Algumas vezes, esses direitos e deveres são incentivados pelas políticas públicas, pelos conselhos, pelas organizações não governamentais – ONGs, pelos movimentos sociais, (como o Movimento dos Sem Terra – MST), além das variadas associações e igrejas que existem.

Perceba que as organizações de pessoas ou cidadãos possuem dimensões diferenciadas, como a cultural, a social, a econômica, a política, a ambiental, a de gênero e a institucional.

Profissionais

Para que a pessoa busca uma profissão?

Para a busca da qualidade de vida, as pessoas – que também são cidadãos – podem atuar como profissionais para o alcance dos seus objetivos materiais. Nesse caso, podem atuar individualmente ou por meio de sociedades, cooperativas, associações e sindicatos.

A opção dos profissionais para o trabalho em uma organização poderá facilitar o acesso a aquisição de insumos, crédito, assistência técnica, pesquisa, tecnologia, capacitação e defesa dos direitos.

Os produtos do trabalho poderão ser utilizados de forma primária (crua ou bruta) ou poderão ser beneficiados/transformados, e, em conjunto, facilitar a comercialização para o acesso ao mercado. Um exemplo são as agroindústrias e o armazenamento comunitário em cooperativas.

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Associativismo, Cooperativismo e Sindicalismo

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Fonte: Shutterstock

A partir desse cenário, a pessoa/cidadão/profissional sempre buscará facilitar a viabilidade econômica com sustentabilidade da sua atividade.

No decorrer de nossas aulas, você vai estudar as formas mais comuns de organizações coletivas de cidadãos e entender como o associativismo, o cooperativismo e o sindicalismo podem colaborar para o alcance de melhor qualidade de vida.

Antes de conferir os objetivos de aprendizagem desta unidade curricular e de seguir para o Tema 1, pare um minuto, reflita e responda:

Para você, o que é qualidade de vida?

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Curso Técnico em Agronegócio

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Objetivos de aprendizagem

Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:

• Distinguir os conceitos de associativismo, cooperativismo e sindicalismo com ênfase em ambientes rurais;

• compreender o histórico e a importância do associativismo, do cooperativismo e do sindicalismo para o desenvolvimento social e econômico no meio rural;

• definir melhores estratégias de estrutura e funcionamento de organizações sociais ligadas ao setor rural;

• analisar estratégias de gestão das organizações sociais agropecuárias;

• estimular a cooperação social como elemento de transformação sociocultural no agronegócio;

• exercitar os conceitos de associativismo, cooperativismo e sindicalismo com ênfase em ambientes rurais.

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Associativismo

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Curso Técnico em Agronegócio

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Associativismo Você sabe por que as pessoas se associam em grupos? Será que o “associativismo” é apenas um termo que os administradores criaram na atualidade ou ele reflete um fenômeno social que sempre existiu?

A palavra mágica que resultou no nascimento do associativismo foi “necessidade” – necessidade que desperta interesse.

Com a união de esforços, as pessoas com o mesmo interesse buscam o alcance de seus objetivos de maneira mais forte e efetiva.

A partir do interesse e da necessidade, as pessoas podem ser motivadas.

Fonte: Shutterstock

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Associativismo, Cooperativismo e Sindicalismo

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Inicialmente, o maior objetivo era a sobrevivência. Os nossos ancestrais organizavam-se em grupos para conseguir alimentação, abrigo e segurança, sendo esses grupos uma resposta criativa dos indivíduos diante dos desafios da natureza.

Posteriormente, a união de indivíduos passou a ser motivada para enfrentar mudanças econômicas e sociais que ocorriam em algumas sociedades.

Interessante, não? Ao final deste tema, espera-se que você desenvolva as seguintes competências:

• conhecer os principais tipos de associativismo;

• compreender o histórico e a importância do associativismo no meio rural;

• diferenciar o negócio social típico das associações;

• entender o conceito de associação e diferenciá-la das demais entidades privadas;

• conhecer os passos para a formação de uma associação rural;

• identificar as principais vantagens oferecidas pelas associações rurais;

• contextualizar a sociedade rural brasileira no desenvolvimento da agricultura.

Tópico 1: As Associações e sua Importância no Cenário Brasileiro

Fonte: Shutterstock

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Curso Técnico em Agronegócio

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A sociedade é constituída de pessoas que vivem em comunidade, mas todos, a todo momento, tomam muitas decisões individuais – sobre do que se alimentar, qual cor da roupa, o corte do cabelo, o modelo do sapato, o time de futebol, no que trabalhar etc.

Ou seja, há uma grande diversidade de interesses nas sociedades, sejam interesses individuais ou de grupos.

Para facilitar e apoiar a convivência com essas diferenças e diversidades, as pessoas podem se associar de várias maneiras:

• associações (de profissionais, de trabalhadores ou de produtores rurais, religiosas, políticas, comerciais);

• associações filantrópicas;

• conselhos (de desenvolvimento comunitário, de pais, de alunos e professores, de moradores de bairro ou comunidade);

• clubes (de esportes, de dirigentes, de produtores, de lazer);

• sindicatos (profissionais, de classe, de setores);

• grêmios (de estudantes, esportivos);

• cooperativas (de produção, de comercialização, de compras, de profissionais);

• grupos informais, como pessoas que se unem para uma viagem, um mutirão ou por motivos religiosos;

• outras formas de associação.

E como isso funciona na nossa lei? Fazendo um exercício de Direito comparado, podemos perceber que a livre associação é um direito em vários países.

Direito comparado

Chamamos de “Direito comparado” o estudo das diferenças e das semelhanças entre as leis de diferentes países. Ganhou muita ênfase atualmente com a globalização e a democratização dos sistemas de informação por meio da internet.

Ele envolve o estudo dos diferentes sistemas jurídicos existentes no mundo, incluindo o Direito comum, os direitos civil e socialista, a lei islâmica, a lei hindu e a lei chinesa, e até mesmo onde não há comparação explícita.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 10 de dezembro de 1948, estipula, no parágrafo 1º do artigo 20, que “toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas.”

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Associativismo, Cooperativismo e Sindicalismo

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Legenda: Sede da Organização das Nações Unidas, em Nova York, nos Estados Unidos.

Fonte: Shutterstock

A Convenção Europeia dos Direitos Humanos aprovada convenciona que “qualquer pessoa tem direito à liberdade de reunião pacífica e à liberdade de associação, incluindo o direito de, com outrem, fundar e filiar-se em sindicatos para a defesa dos seus interesses.”

Já a Constituição da República portuguesa constitui, no seu artigo 46, que:

1. Os cidadãos têm o direito de, livremente e sem dependência de qualquer autorização, constituir associações, desde que estas não se destinem a promover a violência e os respectivos fins não sejam contrários à lei penal.

2. As associações prosseguem livremente os seus fins sem interferência das autoridades públicas, e não podem ser dissolvidas pelo Estado ou suspensas as suas actividades senão nos casos previstos na lei e mediante decisão judicial.

3. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação nem coagido por qualquer meio a permanecer nela.

4. Não são consentidas associações armadas nem de tipo militar, militarizadas ou paramilitares, nem organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista.

d

Comentário do autor

Esses exemplos mostram que os sistemas de Direito ocidentais e de muitos outros países abordam de maneira libertária, flexível e independente o direito de associação dos cidadãos, independentemente da vontade e da atuação do poder público (ou seja, dos governos).

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Curso Técnico em Agronegócio

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Acompanhe, agora, os exemplos específicos da experiência do Brasil na legislação do associativismo.

1. O tratamento do associativismo na Constituição Federal

A Constituição brasileira de 1891 já determinava, no artigo 72: “A todos é lícito associarem-se e reunirem-se livremente e sem armas, não podendo intervir a polícia senão para manter a ordem pública.”

Na Constituição brasileira de1934, também já constava, em seu artigo 113, que “é garantida a liberdade de associação para fins lícitos, nenhuma associação será compulsoriamente dissolvida senão por sentença judiciária.”

E a Constituição Federal de 1988, ainda em vigor, ampliou os direitos associativos das pessoas, permitindo a livre manifestação das associações.

Fonte: Shutterstock

Em destaque, o inciso XII do artigo 29 da Constituição (cooperação das associações representativas no planejamento municipal) proporciona a participação da população nos Conselhos Municipais por meio das organizações representativas.

No entanto, houve momentos na história do Brasil em que a

liberdade de associação foi restrita, principalmente nos períodos

autoritários que começaram em 1964. Apenas associações

filantrópicas ou de setores como comércio e indústria tinham

alguma liberdade. Entretanto, eram constantemente “vigiadas”

pelo governo. Outras associações, como as de movimentos

estudantis ou de trabalhadores, eram reprimidas, e seus dirigentes

ficavam sem liberdade, pois eram períodos em que não havia

liberdade de manifestação.

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Antes da Constituição de 1988, a criação e o funcionamento de associações só eram permitidos com a autorização do Estado. Era obrigatória a publicação em jornal oficial do resumo dos seus atos constitutivos. A partir da Constituição de 1988, instituiu-se o Estado Democrático, assegurando o exercício dos direitos sociais e individuais, e a liberdade.

Em seu art. 5º, a Constituição permite a li-berdade de locomoção em todo o território nacional e a liberdade de reunião, desde que seja pacífica e sem armas, independen-temente de autorização, sendo necessário apenas o aviso às autoridades.

O inciso XVII definiu que “é plena a liberda-de de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar.”

Definiu, ainda, no inciso XVIII: “A criação de associações e, na forma da lei, a de coope-rativas independe de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu fun-cionamento.”

A plena liberdade conferida pela Constituição de 1988 provocou um grande aumento na criação de associações, sendo que muitas foram constituídas com interesses bastante restritos, imediatos, ou por pessoas que se associavam somente pelo “modismo”, e acabaram dissolvidas.

2. O negócio social do associativismo

Segundo o Sebrae, “além de ser viável economicamente, um negócio social existe para bus-car solução a uma questão social.”

O maior objetivo do negócio social é diminuir as desigualdades sociais, não sendo o lucro seu propósito principal.

Legenda: O apoio à atividade rural é um tipo de negócio social.

Fonte: Shutterstock

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Curso Técnico em Agronegócio

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No entanto, para ser criado, o negócio social precisa ser analisado sob a ótica de sua viabilidade para almejar o benefício social e garantir a sua própria existência.

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Dica

Por exemplo, considere a implantação de uma horta comunitária para a geração de trabalho e renda para ajudar as pessoas de uma comunidade, com o apoio de uma grande empresa. A empresa se compromete a auxiliar na sua instalação e a adquirir os produtos.

Entretanto, o empreendimento deve mostrar que é autossustentável, mesmo sem o apoio da empresa, pois, caso contrário, não seria social, e sim da empresa patrocinadora.

Pode, também, ser considerado como negócio social o Fair Trade, ou, em português, “Comércio Justo”. É uma alternativa em relação ao sistema tradicional comércio.

No Brasil, o Decreto nº 7.358/2010 instituiu o Sistema Nacional do Comércio Justo e Solidário. O Comércio Justo é um movimento internacional que teve início na década de 1960 e procura gerar uma alternativa de mercado ao produtor por meio da aquisição de seus produtos por instituições, muitas das quais organizações não governamentais e cooperativas, que pagam preços justos após a verificação das condições de produção. Dentre os segmentos, destacam-se produtos do agronegócio, do artesanato e das confecções, de comunidades, associações e cooperativas dos meios rural e urbano.

Fonte: Shutterstock

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As empresas que aderem ao movimento devem ter a licença para usar o selo de Fair Trade. Por exemplo, no Brasil, quando o preço do café está muito baixo, essas instituições adquirem a produção de pequenos produtores, preferencialmente por meio de suas organizações/cooperativas, após orientação técnica, e comercializam no mercado interno ou externo com o selo de Fair Trade. Vários consumidores, muitos de fora do Brasil, preferem adquirir esses produtos, pois sabem que foram comercializados por um preço justo, contribuindo socialmente para a melhoria de vida dos pequenos produtores, evitando a exploração.

O Comércio Justo é mais um apoio à produção e à comercialização dos pequenos agricultores e da agricultura familiar, mas exige o atendimento a padrões sociais e ambientais.

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Atividades para praticar em casa

Você conhece algum empreendimento social em sua região? Descreva como ele funciona, quem o apoia e quem são os beneficiados.

Como sugestão, pesquise sobre o Fair Trade. Há várias empresas no Brasil que atuam com esse mercado e podem ser localizadas por uma busca na internet. Muitas empresas que trabalham com produtores rurais dão preferência para os que são organizados em associações ou cooperativas.

Para o processo de desenvolvimento, sobretudo da pequena produção, é importante a busca de ações que oportunizem a autogestão, com ênfase na participação ativa dos atores sociais envolvidos – o agricultor familiar, o pequeno produtor e o empregado rural –, fortalecendo a autonomia da agricultura familiar. Esses são os principais atores no crescimento do movimento associativista no meio rural brasileiro.

O governo federal, por meio de ações como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf, financia projetos individuais e coletivos para a geração de renda.

Outra ação, o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA, tem como objetivos principais promover o acesso à alimentação e incentivar a agricultura familiar.

Também diversas empresas privadas buscam a valorização do agricultor familiar e do trabalhador rural:

• a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – Contag, com suas federações estaduais e sindicatos, tem assumido importante papel na melhoria da qualidade de vida do trabalhador rural, sendo o incentivo ao associativismo uma importante linha de sua ação;

• o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Senar e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA criaram o programa CNA Jovem para formar novos líderes para o campo (Programa Jovens Liderando o Agro);

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• o Programa Jovem no Campo ajuda a contribuir com a inserção do jovem no mercado de trabalho rural, oferecendo a ele uma visão empreendedora de negócio, com foco nas oportunidades locais e regionais, além de também incentivar as oportunidades associativistas e cooperativistas.

'Dica

Lembre-se de que no Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA você tem acesso a links e vídeos complementares aos assuntos tratados na unidade curricular!

3.Histórico e importância do associativismo

Acompanhe as imagens a seguir e perceba como a vida em coletividade sempre fez parte da humanidade, com finalidades específicas para cada época:

Pré-história Grécia antiga

O objetivo de se viver em grupo era combater inimigos em comum (predadores, fome, frio, busca por abrigo) e sobreviver mais facilmente.

Ginásios para a prática de esporte, cultura física e grupos com fim educador de onde se originaram os Jogos Olímpicos.

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Roma antiga Idade Média

Organizações profissionais, clubes de jovens, escolas militares e de gladiadores.

Irmandades, ordens militares e corporações (produtores, aprendizes, jornaleiros, mestres e artesãos de um ofício) até o séc. XIX.

No Brasil, a partir do século XIX, quando o grupo desejasse criar uma associação religiosa, científica, beneficente, profissional ou para qualquer outro fim, seria obrigado a ter licença na delegacia mais próxima, e o material escrito deveria ser enviado à Secção de Negócios do Império do Conselho de Estado, sendo que, somente depois de analisado, poderia ser liberado.

O Decreto nº 2.711 e a Lei nº 1.083, ambos de 1860, orientavam sobre a criação das sociedades, incluindo as associações, com a aprovação do seu estatuto e dos demais documentos – tudo era controlado pelo governo.

ALink

No AVA você encontra o Decreto nº 2.711 de 1860 e as demais leis citadas aqui na apostila. Acesse e confira!

Nesse período, as associações, em sua maioria, eram beneficentes, religiosas, literárias, científicas ou caixas providenciárias e montepios.

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Curso Técnico em Agronegócio

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Como você já estudou, a partir principalmente da Constituição de 1988 e do novo Código Civil de 2002, as associações ficaram mais livres para serem formadas e passaram, enfim, a ter papel mais importante no meio rural brasileiro.

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Comentário do autor

Atualmente, podemos dizer que todas as empresas se organizam em associação. Por quê? Porque as associações transformam concorrentes em aliados, principalmente na atualidade de um mundo globalizado, em que o cliente escolhe e compra o produto, financia ou paga à vista, com empresas de todo o Brasil e do mundo, com um toque na tela do computador ou do celular. Unidas em entidades representativas, as empresas discutem diretamente com os governos e com a sociedade sobre as melhores políticas de incentivo às suas atividades.

No mundo moderno, qualquer produto faz parte de uma cadeia produtiva, em que cada indivíduo é responsável por uma parte do processo. É como uma engrenagem: se um para ou danifica, afeta os outros.

Qualquer situação na cadeia produtiva, tanto positiva como negativa, afeta todos os setores envolvidos, mesmo os que não fazem parte direta do processo.

'

Dica

O dono do restaurante pode ter problemas em quitar as suas dívidas caso seus clientes sejam dispensados do emprego, que pode ser na indústria ou no comércio. Nesse caso, essa dispensa afeta, ainda, o supermercado e o produtor rural que vendeu o produto, continuando o processo negativo na cadeia.

O mesmo movimento também acontece ao contrário, ou seja, quando um setor da produção gera mais empregos, o restaurante vende mais, gera mais oportunidades de trabalho, compra mais e paga suas contas em dia no supermercado, e o produtor rural vende maiores quantidades e recebe melhor pelo produto.

Os próprios países também se organizam com motivos específicos:

• Organização da Nações Unidas – ONU,

• Organização dos Estados Americanos – OEA,

• G7 – atualmente, Grupo dos Sete – é um grupo que reúne os sete países mais industrializados e desenvolvidos economicamente do mundo. Todos os países fundadores são nações democráticas: Estados Unidos, Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido. Com a exclusão da Rússia, o G8 passou a ser G7;

• G20 – é um fórum informal que promove entendimentos entre países industrializados e emergentes sobre assuntos relacionados à economia global, sendo o Brasil um dos participantes;

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• Mercado Comum do Sul – Mercosul – tem por objetivo a integração de alguns países da América do Sul (Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e Venezuela) por meio da livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos, do estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum – TEC, da adoção de uma política comercial comum, da coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais, e da harmonização de legislações nas áreas pertinentes;

• Brics – é um grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, chamados de “países emergentes”, que busca atuação conjunta para pêr em prática e desenvolver projetos, mas não é reconhecido como um bloco econômico ofi cial, pois não possui estatuto ou registro formal.

BRICS - 5 maiores economias emergentes

BRASIL RUSSIA INDIA CHINA ÁFRICADO SUL

Fonte: Adaptada Shutterstock

ALink

Quer saber mais sobre o Mercosul? Acesse: www.mercosul.gov.br

4. Associativismo no meio rural

Tendo visto toda a presença e a importância do associativismo no decorrer da história e na economia atual, é hora de se debruçar sobre esse assunto aplicado ao meio rural.

O produtor rural, que é o responsável pela produção dos alimentos primários, deveria ter mais consciência da força que aplica na economia.

Conforme dados da CNA, a participação do agronegócio no Produto

Interno Bruto – PIB do país tem crescido a cada ano, atingindo, em

2014, 31% do PIB total. Por seu lado, as exportações do agronegócio

representam cerca de 40% do total exportado pelo país, e o agronegócio

gera 37% de todos os postos de trabalho no Brasil.

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Curso Técnico em Agronegócio

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Afinal, as pessoas podem viver sem muitos dos bens que consomem ou usam, mas não podem viver sem os alimentos.

Há quarenta ou cinquenta anos, o fazendeiro tinha orgulho de dizer que “a única coisa que compro para minha fazenda é o sal e o querosene”. Tinha independência e autonomia, e fazia o escambo (troca de produtos) quando era necessário adquirir coisas “da cidade”. A cadeia produtiva era, em grande parte, “da porteira para dentro” das fazendas.

Com a evolução do capitalismo, das tecnologias, da globalização e da especialização da produção (o produtor dever produzir apenas aquilo que ele pode gerar com mais eficiência e menos custo), atualmente, para o produtor rural continuar no mercado, ele deve deixar de ser o fazendeiro tradicional de antigamente para se tornar um empresário rural.

As exigências do mercado provocam essa mudança de comportamento do produtor, e, como empresário, ele tende a se especializar em alguma atividade em que tenha mais eficiência e obtenha mais lucros.

Fonte: Shutterstock

Daí a importância do associativismo, que pode transformar a produção individual ineficiente em participação coletiva e comunitária para aumentar a capacidade produtiva, a eficiência e a lucratividade do negócio. Compra e venda em conjunto, capacitação, aquisição de equipamentos e transporte são algumas das atividades associativas que podem contribuir para os negócios, principalmente para o pequeno agricultor.

Daí entende-se que os projetos comunitários, como aquisição de tratores e equipamentos, proporcionam aumento da produção e da produtividade, além de outras atividades em grupo, e são meios que influenciam diretamente o aumento da renda dos produtores.

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Associativismo, Cooperativismo e Sindicalismo

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A capacitação realizada pelo Senar, tanto na promoção social quanto na formação profissional para produtores rurais, em cooperação com as associações, as cooperativas e os sindicatos, é outra atividade que contribui para a melhoria das condições do trabalho e da vida no campo.

'Dica

Não se esqueça: no AVA você tem acesso a links e vídeos complementares aos assuntos tratados na unidade curricular!

5. O associativismo como desenvolvimento interinstitucional

Como você já estudou neste tópico, a Constituição prevê a participação da população por meio de organizações representativas na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis.

• Você sabe como é essa participação?

• Já teve oportunidade de participar?

Uma das formas de participar das discussões na sua comunidade é por meio das associações de produtores, das associações comunitárias e de outras entidades representativas, encaminhando um plano de ação ou projeto e participando dos conselhos municipais de saúde e de educação, do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentado – CMDRS, do conselho tutelar, entre outros, de acordo com as necessidades da comunidade, para solucionar ou minimizar problemas apresentados.

Fonte: Adaptada Shutterstock

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Curso Técnico em Agronegócio

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Nesses conselhos (municipais, estaduais e nacional), em que participam outras instituições e representantes do governo, o representante da entidade tem direito a opinar e votar sobre as atividades que receberão verbas públicas.

Esses conselhos constituem um grande avanço democrático no país, sendo paritária a participação do governo e de entidades sociais, isto é, o número de participantes do governo e das entidades sociais não governamentais é o mesmo, com o mesmo número de votos.

Além disso, as reuniões dos conselhos são abertas a todos os cidadãos, sendo obrigatória a sua divulgação com antecedência. No entanto, só podem votar os representantes eleitos.

Conforme o Portal da Transparência da Controladoria-Geral da União, o controle social pode ser feito individualmente, por qualquer cidadão, ou por um grupo de pessoas organizado. Os conselhos gestores de políticas públicas são canais efetivos de participação, que permitem estabelecer uma sociedade na qual a cidadania deixe de ser apenas um direito, passando a ser uma realidade.

A importância dos conselhos está no seu papel de fortalecimento da participação democrática da população na formulação e na implementação de políticas públicas. Além disso, o seu funcionamento adequado e justo pressupõe a ausência de atividades político-eleitorais e de cunho ideológico-partidário.

Esses conselhos podem ser deliberativos ou consultivos, sendo que:

Conselho deliberativo Conselho consultivo

Um conselho deliberativo é aquele que tem poder de decisão, desde a aprovação do plano ou projeto, até o acompanhamento da execução e a prestação de contas, como o Conselho Municipal de Saúde – CMS e o Conselho Municipal de Educação – CME. Contudo, não são órgãos executivos, ou seja, conselhos não realizam as ações de construção, pagamentos e operação. Estas são da alçada dos governos, de ONGs ou empresas.

Um conselho consultivo tem a finalidade de aconselhar e opinar sobre questões relativas a atividades de interesse público, como, por exemplo, se deve-se ou não reformar uma estrada, emitindo pareceres e dando opiniões – apenas aconselha, mas não decide. Quem decide é o poder legislativo (vereadores, deputados estaduais e federais, e senadores) com a participação do executivo, e quem executa são órgãos do poder executivo (prefeituras, por exemplo, empresas privadas contratadas ou, ainda, organizações não governamentais autorizadas).

Vale lembrar, também, dos conselhos de interesse público, que são paritários entre governo e sociedade, ou seja, por meio de suas entidades representativas, têm o mesmo número de votos. Contudo, os conselhos criados pelas instituições ou empresas privadas não precisam seguir essa regra, e sua composição depende do interesse da empresa ou instituição.

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p

Atividades para praticar em casa

Procure na sua cidade informações sobre as atividades e as reuniões dos conselhos, como o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentado – CMDRS, em que são discutidas ações para atender aos pequenos produtores, como financiamentos do Pronaf, o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA, a Declaração de Aptidão ao Pronaf – DAP, entre outras, e participe com suas opiniões.

Você terá oportunidade de opinar com representantes de várias entidades e representantes do governo. Isso significa vivenciar a democracia. Participe!

Também participam dos conselhos municipais: representantes da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural – Emater, da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral – Cati, da Prefeitura, da Secretaria Municipal da Agricultura, da Secretaria de Ação Social, de associações comunitárias, do Sindicato dos Trabalhadores ou dos Produtores Rurais, de órgãos ambientais, dentre outros.

Tópico 2: Conceito e Características das Associações A principal característica das associações está estabelecida no Código Civil de 2002: “Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos.”

Já vimos que a Constituição define a plena liberdade de associação e que ninguém poderá ser obrigado a se associar ou a permanecer associado. Porém, a concessão de um benefício público não pode ser condicionada à exigência de que a pessoa seja filiada em associação, como, por exemplo, a inscrição da DAP, financiamentos, previdência social, entre outras.

Fonte: Shutterstock

A maior parte dos programas sociais públicos, como o PAA, da Conab, prevê a participação dos produtores por meio de suas entidades associativas, mas também individualmente, diretamente pelo produtor.

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28 'Dica

Lembre-se de que no AVA você tem acesso a links e vídeos complementares aos assuntos tratados na unidade curricular!

Algumas importantes características das associações comunitárias são:

• quando expressamente autorizadas, possuir legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;

• atender ao Código Civil, do artigo 53 ao artigo 61;

• definir claramente os fins e os objetivos;

• se a associação tiver por objetivo a assistência social, atender ao previsto na Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS e nas Resoluções do Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS;

• ser constituídas por pessoas físicas e/ou jurídicas (empresas), com dois ou mais sócios;

• definir, em seu estatuto, sobre a responsabilidade dos sócios, que, em casos omissos, poderão ser responsabilizados;

• em caso de dissolução, destinar o remanescente a outra entidade ou ao governo, não podendo ser distribuído entre os sócios, a não ser nos casos em que possuam quotas, o que deve ser previsto no estatuto, como é o caso de clubes.

A Resolução CNAS nº 14/2014 define, no artigo 2º:

As entidades ou organizações de Assistência Social podem ser isolada ou cumulativa-mente:

de atendimento: aquelas que, de forma continuada, permanente e planejada, prestam serviços, executam programas ou projetos e concedem benefícios de proteção social básica ou especial, dirigidos às famílias e indivíduos em situações de vulnerabilidades ou risco social e pessoal, nos termos das normas vigentes;

de assessoramento: aquelas que, de forma continuada, permanente e planejada, prestam serviços e executam programas ou projetos voltados prioritariamente para o fortalecimento dos movimentos sociais e das organizações de usuários, formação e capacitação de lideranças, dirigidos ao público da política de assistência social, nos termos das normas vigentes;

de defesa e garantia de direitos: aquelas que, de forma continuada, permanente e planejada, prestam serviços e executam programas ou projetos voltados prioritariamente para a defesa e efetivação dos direitos socioassistenciais, construção de novos direitos, promoção da cidadania, enfrentamento das desigualdades sociais e articulação com órgãos públicos de defesa de direitos, dirigidos ao público da política de assistência social, nos termos das normas vigentes.

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Associativismo, Cooperativismo e Sindicalismo

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Para que uma associação possa ser atendida em parcerias com

os governos, é importante que, além de constar no estatuto a sua

finalidade social, a associação tenha que demonstrar que executa a

sua atividade estatutária, mesmo sem recursos públicos.

Portanto, se você participa de alguma associação, é importante verificar se o estatuto tem finalidade social!

1. Classificação das associações

A classificação das atividades desenvolvidas por qualquer instituição ou empresa no Brasil é definida pelo Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE, que é um cadastro de abrangência nacional no qual estão organizadas e descritas todas as atividades possíveis de serem exercidas por pessoas jurídicas.

É importante lembrar que uma associação, ou qualquer empresa no Brasil, só poderá exercer as atividades previstas no seu estatuto ou contrato social (no caso de empresas), que deverão constar nas informações cadastrais do seu Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica – CNPJ.

ALink

Para definir o código e a atividade da entidade, acesse: http://cnae.ibge.gov.br

Veja um exemplo de classificação do CNAE (que deve constar no CNPJ da associação):

CÓDIGO E DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA PRINCIPAL

94.30-8-00 - Atividades de associações de defesa de direitos sociais

CÓDIGO E DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS SECUNDÁRIAS

94.93-6-00 - Atividades de organizações associativas ligadas à cultura e à arte

94.99-5-00 - Atividades associativas não especificadas anteriormente

CÓDIGO E DESCRIÇÃO DA NATUREZA JURÍDICA

399-9 - Associação Privada

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A classificação da associação também é importante para definir perante a Receita Federal se é imune ou isenta ao pagamento de tributos.

São imunes do imposto sobre a renda e estão obrigadas a entregar a Declaração de Imposto de Renda Pessoa Jurídica – DIPJ:

a) os templos de qualquer culto (CF/1988, art. 150, VI, “b”);

b) os partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais de trabalhadores, (CF/1988, art. 150, VI, “c”), desde que observados os requisitos do art. 14 do CTN, com redação alterada pela Lei Complementar n º 104, de 2001;

c) as instituições de educação e as de assistência social, sem fins lucrativos (CF/1988, art. 150, VI, “c”).

Para o gozo da imunidade tributária, as instituições citadas em “b” e “c” estão obrigadas a atender aos seguintes requisitos:

a) não remunerar, por qualquer forma, seus dirigentes pelos serviços prestados, exceto no caso de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – Oscip, em que a legislação prevê a possibilidade de se instituir remuneração para os dirigentes da entidade que atuem efetivamente na gestão executiva e para aqueles que a ela prestam serviços específicos;

b) aplicar integralmente no país seus recursos na manutenção e no desenvolvimento dos seus objetivos institucionais;

c) manter escrituração completa de suas receitas e despesas em livros revestidos das formalidades que assegurem a respectiva exatidão;

d) conservar em boa ordem, pelo prazo de cinco anos, contado da data da emissão, os documentos que comprovem a origem de suas receitas e a efetivação de suas despesas, bem assim a realização de quaisquer outros atos ou operações que venham a modificar sua situação patrimonial;

e) apresentar, anualmente, a DIPJ, em conformidade com o disposto em ato da Secretaria da Receita Federal;

f) assegurar a destinação de seu patrimônio a outra instituição que atenda às condições para gozo da imunidade, no caso de incorporação, fusão, cisão ou de extinção da pessoa jurídica, ou a órgão público;

g) não distribuir qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a qualquer título;

h) outros requisitos, estabelecidos em lei específica, relacionados com o funcionamento das entidades citadas.

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Consideram-se isentas de tributos as instituições de caráter

filantrópico, recreativo, cultural e científico, e as associações civis

que prestem os serviços para os quais houverem sido instituídas e os

coloquem à disposição do grupo de pessoas a que se destinam, sem

fins lucrativos (Lei nº 9.532, de 1997, art.15).

A Receita Federal presta outros esclarecimentos quanto a imunidade e isenção. É importante reconhecer que a isenção não é “automática”: além de atender aos requisitos previstos, a entidade deve fazer a solicitação à Receita Federal, que publica no Diário Oficial da União após o reconhecimento.

'Dica

Lembre-se de que no AVA você tem acesso a links e vídeos complementares aos assuntos tratados na unidade curricular!

2. Aquisição e constituição da personalidade jurídica

Para a formalização da associação, são necessários a elaboração, a aprovação e o registro dos seus atos constitutivos, que são a ata de fundação e o estatuto, conforme dispõe a lei.

Assim estabelece o Código Civil – Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002:

Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá:

I - a denominação, os fins e a sede da associação;

II - os requisitos para a admissão, a demissão e a exclusão dos associados;

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III - os direitos e os deveres dos associados;

IV - as fontes de recursos para sua manutenção;

V - o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos;

VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução;

VII - a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas.

Assim, é importante que o grupo interessado discuta bastante o estatuto da sua futura associação antes da sua aprovação em Assembleia Geral Constitutiva, principalmente com relação à finalidade da entidade e à sua forma de gestão e eleição da diretoria e dos conselhos. Esclareça e discuta todos os itens do estatuto, de modo que todos os sócios tenham acesso (cópia) ao estatuto, conhecendo seus direitos e deveres na associação.

cLeitura complementar

Na biblioteca do AVA, você encontra um anexo com modelos de estatuto para uma associação.

3. Registro do ato constitutivo

Para que a entidade tenha personalidade jurídica, ou seja, para que ela exista formalmente, o estatuto deve ser registrado em cartório e na Receita Federal do Brasil.

Para tanto, deve ser cumprido um rito de constituição previsto na legislação, conforme o passo a passo:

• o grupo interessado deve fazer o convite à comunidade para a realização da assembleia de fundação por meio de edital, em que devem constar data, horário, local, assuntos (leitura, discussão e aprovação do estatuto, eleição e posse dos membros da diretoria e do conselho fiscal ou outros órgãos, conforme preveja o estatuto);

• elaborar a ata que deve ser assinada e rubricada por todos os presentes, em todas as folhas. Nessa ata, deverão ser inscritos os sócios fundadores, com nome completo (sem abreviar), CPF ou CNPJ (para empresas), identidade, endereço, profissão, estado civil, além de outros dados que possam identificar o associado;

• o estatuto aprovado e a ata de fundação, em que constam os nomes de todos eleitos, devem, então, ser registrados em Cartório de Registro de Títulos e Documentos das Pessoas Jurídicas no município onde se localiza a entidade comunitária (verificar no cartório as taxas para o registro);

• de acordo com a Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994, em seu art. 1º, § 2º, “os atos e contratos constitutivos de pessoas jurídicas, sob pena de nulidade, só podem ser admitidos a registro, nos órgãos competentes, quando visados por advogados”. Assim, um advogado deve dar um visto na ata e no estatuto constitutivo da associação;

• fazer o registro na Receita Federal do Brasil para o cadastro do CNPJ ;

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• é importante a assessoria de um profissional de contabilidade para a inscrição e a atualização das declarações e da documentação nos órgãos municipal, estadual e federal;

• caso venha utilizar a DAP Jurídica ou Inscrição Coletiva, deverá ser providenciada a inscrição na Secretaria Estadual da Fazenda;

• fazer inscrição no INSS, mesmo que não tenha empregado;

• verificar com a prefeitura a obrigatoriedade do registro municipal e do alvará de funcionamento;

• em alguns casos, será necessária a obtenção de licenças de órgão de vigilância sanitária, corpo de bombeiros, entre outros, dependendo do tipo de atividade e da localização.

Tópico 3: Associações de Produtores RuraisVamos começar este tópico relembrando uma informação importante: todas as associações devem atender à característica básica prevista no art. 53 do Código Civil de 2002, que é a união de pessoas que se organizem para fins não econômicos.

As associações de produtores rurais, assim como as demais associações, devem fazer constar em seus estatutos as atividades que serão destinadas ao atendimento de seus associados, cujo objetivo não poderá ser a obtenção de lucro para distribuição aos associados. Os lucros eventuais devem ser usados em investimentos na própria associação.

A associação deve definir com clareza qual é o seu púbico constitutivo, ou seja, qual é a característica de seus sócios, como, por exemplo, se é de pequenos, médios ou grandes produtores ou da agricultura familiar, ou de apicultores, ou de moradores de uma determinada comunidade, e assim por diante.

Fonte: Shutterstock

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A área de abrangência também pode ser definida: se de produtores de uma determinada comunidade, distrito, município ou região, como associação dos pequenos produtores da comunidade X, ou associação dos agricultores familiares do município Y.

Vale lembrar que as condições para as pessoas se associarem e quanto à área de atuação devem ser explícitas no estatuto, podendo ser em uma determinada comunidade, região, município ou vários municípios, estado ou em todo país, desde que a estrutura da associação tenha condições de atendimento.

Acompanhe as principais vantagens de se trabalhar em associação rural:

• uma associação legalmente constituída possibilita às pessoas maior participação na sociedade em conselhos do município, do estado e do país;

• aumenta o poder de reivindicação e de negociação do grupo;

• facilita o contrato em grupo dos produtores com empresas que comercializam produtos agropecuários, como supermercados e sacolões, pela escala de produção e programação de entrega dos produtos;

• possibilita a participação em fóruns, seminários e em todos os espaços de decisão pública, promovidos pelas câmaras municipais e assembleias legislativas, podendo ter voz e se fazer ouvir na sociedade e nos espaços de decisão pública;

• facilita a assistência técnica em grupo e o processo de capacitação, que poderá aumentar a renda e o lucro com relação à produção e à melhoria da produtividade;

• permite a aquisição em grupo de insumos, sementes, adubos e fertilizantes a preços mais vantajosos;

• permite a realização legal de convênios com o governo e contratos com entidades e empresas privadas, viabilizando projetos e busca de recursos, físicos e financeiros, para atendimento aos fins da associação;

• os produtores organizados em grupos terão facilidades de acesso a linhas de crédito e programas governamentais, visto que o atendimento não exclui o produtor individual, mas a sua preferência é para aqueles organizados em grupos formais e informais;

• com a geração de emprego e renda, o associativismo contribui para a redução do êxodo rural.

1. Sociedade Rural Brasileira

A Sociedade Rural Brasileira – SRB, entidade de caráter associativista representativa da classe rural, fundada no dia 19 de maio de 1919 na cidade de São Paulo, completou, em 2015, 96 anos de importância e contribuição ao desenvolvimento do setor agropecuário.

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A entidade trabalha como agente negociador político do agronegócio perante os públicos estratégicos do setor, atua como polo disseminador de conhecimento e funciona como centro de serviços e gerador de oportunidades e negócios para a cadeia produtiva rural. Ela representa o produtor rural brasileiro com reivindicações e propostas às autoridades na defesa dos interesses do setor e atua como mediadora entre os elos das cadeias produtivas, estimulando as políticas públicas favoráveis ao setor agropecuário brasileiro.

'Dica

Lembre-se de que no AVA você tem acesso a links e vídeos complementares aos assuntos tratados na unidade curricular!

Encerramento do Tema Parabéns! Você está concluindo o primeiro tema deste curso, que trata sobre associativismo.

Nesta etapa, você teve a oportunidade de aprender que, organizadas em associações, as pessoas podem conhecer melhor e reivindicar seus direitos, manifestando-se junto ao governo e à sociedade. O cidadão consciente de seus direitos e deveres buscará de forma organizada a melhoria da qualidade de vida para ele e para a sua comunidade.

O associativismo atende, basicamente, às questões sociais e permite o apoio às questões econômicas, como, por exemplo, por meio da capacitação. Entretanto, para que as pessoas busquem o aumento da sua renda, é necessário o trabalho de produção ou de serviços, o que nos leva ao cooperativismo, uma das formas de organização mais utilizada em todo o mundo.

No próximo tema, você verá como as pessoas podem se organizar em cooperativas, além das vantagens e das limitações atreladas a essa decisão.

Depois que realizar as atividades de aprendizagem, você poderá começar a se sentir bem-vindo ao cooperativismo!

Atividade de aprendizagem 1. Qual destas atividades não é considerada associativa?

a) Conselho de desenvolvimento comunitário.

b) Sindicato de trabalhadores rurais.

c) Empreendedor individual.

d) Cooperativa.

e) Horta comunitária.

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2. Em que condições o trabalhador rural é obrigado a ser associado na associação dos pequenos produtores rurais?

a) Para se aposentar.

b) Para receber seguro desemprego.

c) Para receber assistência técnica, como a do Emater.

d) As letras a, b e c estão corretas.

e) As letras a, b, c e d não estão corretas.

3. Onde é feita a inscrição do Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica – CNPJ da entidade associativa para a sua formalização?

a) No escritório de contabilidade.

b) Na Secretaria da Receita Federal do Brasil.

c) Na Prefeitura.

d) No escritório do advogado.

e) No escritório da empresa de assistência técnica.

4. Para qual destas atividades é necessário que o grupo seja formalizado?

a) Receber assistência técnica em grupo.

b) Buscar o banco para financiamento em grupo.

c) Adquirir insumos, sementes e adubos em grupo, diminuindo custos.

d) Participar de seminários e reuniões para discutir assuntos de interesse dos produtores.

e) Representar a comunidade perante o judiciário ou outros órgãos públicos para a aprovação de projetos de interesses comuns.

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5. Os conselhos municipais, como o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentado – CMDRS e o Conselho Municipal de Assistência Social – CMAS, servem para:

a) Reunir amigos depois do trabalho.

b) Falar do trabalho da sua propriedade rural.

c) Ser o local em que a população participa da discussão e do acompanhamento das políticas públicas.

d) Ser o local em que os políticos fazem as campanhas eleitorais.

e) Aprovar sem discutir tudo o que o prefeito e os vereadores fizeram.

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Tema 2: CooperativismoO que vem à sua cabeça quando se fala em cooperativismo? Quantas cooperativas você conhece? Estão difundidas no nosso mercado, hoje, cooperativas de vários tipos, como as de trabalho, as sociais, as de crédito...

Em sua definição, cooperativismo é um movimento, uma filosofia de vida e um modelo socioeconômico capaz de unir desenvolvimento econômico e bem-estar social. Seus referenciais fundamentais são: participação democrática, solidariedade, independência e autonomia.

Fonte: Shutterstock

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É um sistema fundamentado na reunião de pessoas, e não no capital – ele visa às necessidades do grupo, e não o lucro –, buscando a prosperidade conjunta, e não a individual. Essas diferenças fazem do cooperativismo a alternativa socioeconômica que pode levar ao sucesso empreendimentos com equilíbrio e justiça entre os participantes.

“Associado a valores universais, o cooperativismo se desenvolve independentemente de território, língua, credo ou nacionalidade” (Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB).

Ao final deste tema, espera-se que você desenvolva as seguintes competências:

• conhecer e definir a sociedade cooperativa e diferenciá-la da associação;

• identificar o solidarismo e o mutualismo nas relações cooperativas;

• conhecer o principal objetivo da sociedade cooperativa;

• conhecer o instituto da cooperação;

• compreender as condicionantes do desenvolvimento econômico;

• identificar cada um dos aspectos econômicos na relação com o mercado;

• diferenciar lucro de sobras líquidas na sociedade cooperativa;

• identificar as atividades inerentes à sociedade cooperativa de produção agropecuária;

• diferenciar os negócios realizados pela sociedade cooperativa de produção agropecuária;

• conhecer o tratamento tributário ao ato cooperativo;

• conhecer as atividades qualificadas como “ato não cooperativo”;

• identificar as principais relações contratuais realizadas pelas sociedades cooperativas;

• conhecer as principais estratégicas utilizadas pelas entidades;

• conhecer as atribuições de cada sistema.

Vamos ao tópico 1?

Tópico 1. Organização das Cooperativas Brasileiras: o Nascimento de uma Grande IdeiaNo século XVIII, aconteceu a Revolução Industrial na Inglaterra. Com a introdução das máquinas que substituíram os trabalhadores, a mão de obra perdeu grande poder de troca e de negociação. Os baixos salários e a longa jornada de trabalho resultantes trouxeram muitas dificuldades socioeconômicas para a população, que levaram também a protestos populares.

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Fonte: Shutterstock

Diante dessa crise, surgiram lideranças que criaram associações de caráter assistencial. Essa experiência não teve resultado positivo na atenuação da situação econômica dos trabalhadores e ainda manteve pessoas ociosas nas ruas.

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Comentário do autor

Alguns anos de problemas socioeconômicos se passaram sem soluções para contornar eficientemente os efeitos colaterais da modernização da indústria. Com base nessas experiências, buscaram-se novas formas associativas que fossem eficazes para a viabilidade econômica de empreendimentos coletivos até chegarem ao que denominaram de cooperativa.

Esse modelo de reunião cooperativa teve início com a reunião de 28 cidadãos ingleses, em sua maioria tecelões, que se reuniram para discutir e avaliar suas ideias sobre alternativas de empreendimentos viáveis que não repetissem as falhas do modelo capitalista de gestão.

Respeitando seus costumes e suas tradições, e estabelecendo normas e metas para a organização de uma cooperativa, após um ano de trabalho, acumularam um pequeno capital (28 libras, que é a moeda inglesa) e conseguiram abrir as portas de um pequeno armazém cooperativo, em 1844, no bairro de Rochdale, na cidade de Manchester (Inglaterra).

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Legenda: Os ingleses da sociedade de Rochdale são reconhecidos como os pioneiros do cooperativismo.Fonte: Shutterstock

Nascia a Sociedade dos Probos de Rochdale, conhecida como a primeira cooperativa moderna do mundo. Ela criou os princípios morais e a conduta que são considerados, até hoje, a base do cooperativismo. Em 1848, já eram 140 membros, e, 12 anos depois, chegou a ter 3.450 sócios com um capital de 152 mil libras.

No Brasil, conforme dados da OCB, existem 6.827 cooperativas,

distribuídas em todos os estados, com maior concentração nas

regiões Sul e Sudeste do país, atividade que envolve diretamente

11 milhões de pessoas.

Destas, 1.597 são de cooperativas agropecuárias, com cerca de um milhão de cooperados, com um faturamento, em 2014, de mais de R$ 100 bilhões e representando mais de 10% do PIB do agronegócio, com 152 mercados de destino, sendo responsáveis por 6% das exportações do agronegócio brasileiro

Acompanhe a simbologia que envolve o emblema que representa o cooperativismo!

O pinheiro é considerado o símbolo da imortalidade e da fecundidade: multiplica-se com facilidade, inclusive em terrenos inóspitos. Dois pinheiros simbolizam a união e a fraternidade.

O círculo é uma figura geométrica que não tem começo nem fim, simbolizando a eternidade do cooperativismo.

O verde-escuro dos pinheiros simboliza o princípio vital da natureza e toda a esperança que ela representa.

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O amarelo-ouro, cor do sol, fonte de toda energia e calor, significa a fonte de toda a vida e de renda.

A combinação desses símbolos resultou na marca mundial do cooperativismo. Em qualquer país, em qualquer língua, quaisquer que sejam os princípios religiosos ou políticos, o emblema do cooperativismo mostra o círculo abraçando os dois pinheiros unidos nos seus princípios, perenes na multiplicação de seus ideais. A esperança verde e a energia amarela dos adeptos do cooperativismo são marcadas pelas cores dos emblemas.

1. Diferenças entre associação e cooperativaNo primeiro tema desta unidade curricular, você estudou sobre o associativismo. Acompanhe as principais diferenças entre uma associação e uma cooperativa.

As associações são instituições que buscam promover a educação, a cultura, a política e os interesses comuns de determinadas classes, regiões ou setores. Já as cooperativas desenvolvem mais um trabalho comercial e empresarial de uma maneira coletiva.

Nas cooperativas, os cooperados são beneficiários e administradores do negócio, podendo ser beneficiados pelos resultados gerados. Nas associações, os associados não são exatamente os proprietários das instituições (elas são de interesse público), e, caso ocorra o seu fechamento, o valor que tiver sido acumulado deverá ser encaminhado a uma instituição que realize um trabalho semelhante ao seu ou ao governo.

O quadro a seguir mostra as principais características distintivas entre as associações e as cooperativas.

Característica/tipo de organização Associação Cooperativa

DefiniçãoSociedade civil sem fins econômicos e sem fins lucrativos.

Sociedade simples de fins econômicos e comerciais sem fins lucrativos.

Finalidade

Representar e defender os interesses dos associados, como prestar serviços e viabilizar assistências técnica, cultural e educativa aos associados.

Prestar serviços, viabilizar assistências técnica, cultural e educativa aos cooperados, bem como promover a venda e a compra em comum, desenvolvendo atividades de consumo, produção, prestação de serviços, crédito e comercialização.

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44Característica/tipo de organização Associação Cooperativa

Número de sócios

Não existe um número mínimo legal de associados. Como se trata de uma sociedade, exigem-se, no mínimo, duas pessoas.

Mínimo de 20 pessoas físicas (mínimo de sete pessoas nas cooperativas de trabalho).

Remuneração de dirigentes

Os dirigentes não são remunerados pelo exercício de suas funções, recebendo apenas o reembolso das despesas realizadas para o desempenho das suas atividades.

A remuneração dos dirigentes é definida na assembleia geral, na forma de pro labore, para compensar o afastamento do trabalho anterior, em valor de acordo com a profissão e o mercado.

Direito a votoCada associado tem direito a um voto em assembleia geral.

Cada associado tem direito a um voto em assembleia geral.

Receita

Composta por contribuições dos associados, taxas, doações, legados, subvenções, fundos e reservas.

Taxas de serviços sobre as operações dos cooperados e das operações bancárias, diferenças entre custos de produção ou compra e venda de produtos.

Capital e patrimônio

Não tem capital social. Contribuições dos associados, taxas, doações, legados, subvenções, fundos e reservas podem se constituir em patrimônio.

Tem capital social, que é formado por quotas/partes. Por ter capital social, as cooperativas podem realizar operações financeiras.

Sistema representativo

Em âmbitos municipal, estadual e federal, as associações podem ser representadas por federações e confederações, respectivamente. Em casos de ações coletivas, podem representar seus associados.

Em âmbito nacional, cooperativas são representadas pela Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB. Em âmbito estadual, são representadas pelas Federações.Em casos de ações coletivas, podem representar seus associados.

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Característica/tipo de organização Associação Cooperativa

Responsabilidades

Os associados não responderão, ainda que subsidiariamente, pelas obrigações contraídas pela associação, salvo aquelas deliberadas em assembleia geral e na forma em que o forem.

A responsabilidade dos sócios pode ser limitada ou ilimitada. É limitada a responsabilidade na cooperativa em que o sócio responde somente pelo valor de suas quotas e pelo prejuízo verificado nas operações sociais, guardada a proporção de sua participação nas mesmas operações.É ilimitada a responsabilidade na cooperativa em que o sócio responde solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais.

Contabilidade Escrituração simplificada.A escrituração é completa, com todas as demonstrações contábeis.

ComercializaçãoA comercialização é feita diretamente pelo associado, assessorado pela associação

A comercialização é feita diretamente pela cooperativa. As cooperativas podem tomar e repassar créditos aos produtores rurais e podem operar com instrumentos públicos de política agrícola, como aquisições do governo federal, além de poder tomar empréstimos.

Resultados financeiros

As possíveis sobras das operações financeiras não são divididas entre os sócios, sendo aplicadas integralmente no atendimento dos objetivos sociais da associação.

Distribuição das sobras líquidas do exercício aos associados, proporcionalmente às operações realizadas por cada um, salvo deliberação em contrário da assembleia geral.

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46Característica/tipo de organização Associação Cooperativa

Tributação

Pode ser isenta ou imune, desde que atenda à legislação. A declaração de Imposto de Renda é obrigatória.

Não incide imposto sobre os atos cooperados. As cooperativas são tributadas sobre atos não cooperados, como os juros obtidos pela aplicação financeira.

Fiscalização

As associações podem ser fiscalizadas pela prefeitura, pela fazenda estadual, pelo INSS, pelo Ministério do Trabalho e pela Receita Federal.

Cooperativas podem ser fiscalizadas pela prefeitura, pela fazenda estadual, pelo INSS, pelo Ministério do Trabalho, pela Receita Federal e por outros órgãos públicos.

Dissolução

Definida em assembleia geral ou mediante intervenção judicial realizada por representante do Ministério Público. O saldo do patrimônio se reverterá às instituições congêneres.

Solucionado o passivo e reembolsados os cooperados até o valor de suas quotas-partes, o remanescente é distribuído de acordo com o estatuto.

Fonte: Associações rurais: práticas associativas, características e formalização (SENAR, 2011).

Tópico 2: Concepção, Objetivos e Fundo Ético do Sistema Cooperativo: Solidarismo e MutualismoDizemos que a solidariedade e a mútua colaboração fazem parte do embasamento de um sistema cooperativo. Como elas são aplicadas e qual a sua ligação com a ética?

Para responder a essa pergunta, primeiro revise o que significa ética:

I - Ética é uma palavra de origem grega (ethos), que significa “propriedade do caráter”. Ser ético é agir dentro dos padrões convencionais, é proceder bem, é não prejudicar o próximo. Ser ético é cumprir os valores estabelecidos pela sociedade em que se vive.

II - O exercício da ética profissional implica na obrigatoriedade do indivíduo cumprir com todas as atividades de sua profissão, seguindo os princípios determinados pela sociedade e pelo seu grupo de trabalho.

III - Persistir na conduta ética possibilita ao profissional a realização do bem comum e individual – que é o propósito da Ética – e conduz ao desenvolvimento social, compondo um binômio inseparável.

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IV - No mundo organizacional das cooperativas, cabe ao sócio o preponderante papel de agente de desenvolvimento social para o bem-estar da coletividade.

Vejamos um exemplo real de como a ética está presente no mundo cooperativo por meio do código de ética da cooperativa Coopifor: “Art. 1º - O trabalho realizado pelo sócio através da COOPIFOR implica em compromisso moral, ético e profissional com a Cooperativa e seu quadro social, o contratante de serviços da mesma e com a sociedade em geral, impondo direitos, deveres e responsabilidades indelegáveis.”

'Dica

Lembre-se de que no AVA você tem acesso a links e vídeos complementares aos assuntos tratados na unidade curricular!

Já a Aliança Cooperativa Internacional orienta que todas as cooperativas devam ser baseadas nos valores de autoajuda, autorresponsabilidade, democracia, equidade e solidariedade. Seus membros acreditam nos valores éticos da honestidade, da abertura (transparência), da responsabilidade social e da preocupação com os outros.

Segundo Walmor Franke, a palavra “cooperativismo” pode ser tomada em duas acepções. Por um lado, designa o sistema de organização econômica que visa eliminar os desajustamentos sociais oriundos dos excessos da intermediação capitalista; por outro, significa a doutrina corporificada no conjunto de princípios que devem reger o comportamento do homem integrado ao sistema capitalista.

Voltando à pergunta inicial deste tópico, sobre a relação do cooperativismo e a ética, o princípio ético do sistema cooperativo traduz-se no lema “Um por todos, todos por um”, que é uma aplicação particular do princípio de solidariedade, a cujo império fica submetida a atividade dos cooperados. Costuma-se dizer, por isso, que o cooperativismo se identifica com o solidarismo, em contraste com o capitalismo, que, na sua forma histórica mais extremada, tem caráter marcadamente individualista.

A obtenção de vantagens econômicas em favor das economias

individuais dos associados é o escopo fundamental das sociedades

cooperativas.

Com relação ao mutualismo, trata-se de uma teoria econômica e social que propõe que “volumes iguais de trabalho devem receber pagamento igual”. Foi Pierre-Joseph Proudhon quem criou o termo “mutualismo” para descrever a sua teoria econômica, na qual o valor se baseia no trabalho.

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Fonte: Shutterstock

Vale ressaltar que, atualmente, já se reconhece que a nossa sociedade é formada por trabalhadores de capacidades distintas, com diferentes formações e especialidades, sem que isso implique em qualquer diferença de nobreza entre os trabalhos.

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Atividades para praticar em casa

Para reflexão: em sua opinião, como podem ocorrer a ajuda mútua e a solidariedade na cooperativa? Pesquise pela sua região sobre alguma atividade de ajuda mútua desenvolvida pelas cooperativas locais!

1. Por que se associar em cooperativas?Na definição legal (art. 3º da Lei nº 5.764/71), celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro.

Como regra geral, as cooperativas são constituídas de pessoas físicas. Excepcionalmente é permitida a admissão de pessoas jurídicas que tenham por objeto as mesmas ou correlatas atividades econômicas das pessoas físicas ou, ainda, aquelas sem fins lucrativos. As cooperativas

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singulares não podem ser constituídas somente por pessoas jurídicas (empresas). As cooperativas podem ser constituídas em cooperativas centrais, federações ou confederações.

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Comentário do autor

Observe que a cooperativa constituída não terá objetivo de lucro. No entanto, o aumento da renda e o lucro dos cooperados, por meio da distribuição dos resultados das cooperativas, contribuirão para atender ao principal objetivo da cooperativa, que é social. Isso, por consequência, proporciona melhoria na qualidade de vida dos cooperados e da comunidade.

Portanto, as cooperativas não visam lucro para o negócio, mas a distribuição dos ganhos da atividade cooperada gera, indiretamente, um aumento de renda e lucro dos cooperados.

Acompanhe, no próximo tópico, exemplos de cooperação aplicada no agronegócio!

Tópico 3: A Cooperação no AgronegócioPara iniciar este tópico, veja algumas notícias recentes da imprensa nacional:

SUDENE: ACORDOS DE COOPERAÇÃO NO AGRONEGÓCIO

Os acordos de cooperação, que abrangem a área de atuação da Sudene, visam, ainda, o fortalecimento das cadeias produtivas de pecuária e da fruticultura, além da ampliação da capacidade estática e dinâmica de armazenagem, e na maximização da eficiência de utilização dos sistemas de armazenagem.

Fonte: http://www.agendaparaiba.com/sudene-acordos-de-cooperacao-no-agronegocio/.

MINISTRA INICIA MISSÃO NA RÚSSIA NESTA TERÇA-FEIRA (7)

A comitiva brasileira é composta também pelo senador Wellington Fagundes (PR-MT) e pelo deputado Newton Cardoso Junior (PMDB-MG), além de diversos empresários de setores que procuram aprofundar as relações comerciais com a Rússia, como laticínios, carnes, café, grãos, cereais e etanol.

Fonte: http://www.agricultura.gov.br/comunicacao/noticias/2015/07/ministra-inicia-missao-na-russia-nesta-terca-fei-ra-7.

Em suma, é importante perceber que a cooperação funciona como os elos de uma corrente, em que todos são importantes no processo – produtores rurais, fornecedores, trabalhadores, entidades, órgãos públicos e consumidores –, em todas as instâncias, tanto local, regional ou mundial. Avante!

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1. O que esperar da cooperação

Imagine um jogo de futebol: jogadores em campo, técnico e torcida. Qual jogador é mais importante em um time? O que todos esperam? Você, com certeza, mesmo sem entender de futebol, sabe a resposta. Todos esperam que se façam gols e ganhem a partida.

Sendo um time, todos dependem da cooperação de cada um para chegar à vitória, o que está vinculado à cooperação de todos, inclusive da torcida. Para que haja cooperação, é necessário que todos tenham o mesmo objetivo.

Legenda: Cooperação no futebol: será que o atacante poderá cabecear para o gol se o zagueiro e o meia não tiverem o mesmo objetivo?

Fonte: Shutterstock

E no agronegócio? Será possível trabalhar em cooperação? Claro que sim! O agronegócio é um dos principais redutos do cooperativismo no Brasil. Com a cooperação, os produtores podem se ajudar, trabalhar junto aos fornecedores e clientes, e melhorar o desempenho da cadeia produtiva. Essa colaboração pode começar mesmo informalmente, por meio de parcerias, e o mutirão, tão comum no meio rural, é uma das formas de cooperação.

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Comentário do autor

A cooperação é um tipo de ação tão rica que pode gerar o que chamamos de intercooperação. Esse termo designa a cooperação entre cooperativas, um dos princípios do cooperativismo. Nesse caso, as cooperativas servem de forma mais eficaz aos seus membros e dão mais força ao movimento cooperativo, trabalhando em conjunto por meio das estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais.

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Vamos resumir um exemplo hipotético e realçado, mas cuja essência é o objetivo do cooperativismo e que realmente acontece em muitas regiões do agronegócio brasileiro. Acompanhe a história!

Estudo de caso

Há alguns anos, as pessoas de uma certa região viviam uma vida rotineira, trabalhando apenas quando apare-cia alguém oferecendo serviço avulso. Nem sempre re-cebiam como se devia, mas “quebravam o galho” de vez em quando e ganhavam uns trocados. Quando o traba-lhador recebia, era a vez de pagar a conta do armazém, do bar, da farmácia, além de fazer outro fiado. O resto do tempo era empenhado em “jogar conversa fora”.

Como a região possuía terras baratas para quem co-nhecesse a tecnologia certa, e tinha, também, água com fartura e clima bom, começaram a chegar produtores rurais de outras regiões comprando as terras para plantio e criação de gado.

O povo do lugar ficou meio desconfiado, observando a maneira daquelas pessoas “estrangeiras” trabalharem.

“Chegam de carro novo, com tratores e animais, cons-troem e reformam casas, fazem a feira. Mas cadê aque-le supermercado?”

O dono do armazém do lugar nem sabia direito o que era cartão de crédito, apenas tinha ouvido falar...

Certo dia, os novos produtores fizeram uma reunião também convidando os outros membros da comunida-de. O assunto? Abrir uma cooperativa dos produtores. Mesmo desconfiados, muitos foram a essa reunião.

Lá, os novos produtores falaram das dificuldades que estavam tendo para adquirir os insumos e armazenar a produção; faltava assistência técnica e até farmácia para comprar remédio para o gado.

Explicaram que seria mais fácil e rentável se se reunissem em uma cooperativa, pois isso dimi-nuiria as despesas de cada um com os atravessadores que atendiam à região. Afinal, de onde vieram, já tinham experiência em trabalhar de forma cooperada.

Depois de várias outras reuniões, resolveram criar a cooperativa dos produtores rurais da região.

Fonte: Shutterstock

Fonte: Shutterstock

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52 Já durante a montagem das instalações da cooperativa, começou a aparecer serviço para o pessoal, com cartei-ra assinada e pagando tudo direitinho, como décimo terceiro, Fundo de Garantia e tudo o mais.

A cooperativa também precisou contratar pessoal para trabalhar: atendentes, secretária, vigias, faxineiras, todo o pessoal de apoio.

Com o movimento de pessoas que vinham de fora, como engenheiros, agrônomos, veterinários e fiscais do estado, a dona da pensão teve que aumentar e melho-rar o atendimento. Recentemente, colocou até internet sem fio para atender o pessoal.

Com o aumento do movimento de pessoas por causa da cooperativa, também aumentou o dinheiro circulando na região. Uma rede bancária se interessou e colocou um posto de atendimento no local.

Com mais gente, e com mais dinheiro, a prefeitura tam-bém foi cobrada para melhorar os serviços na cidade: posto de saúde, escola, posto da polícia.

Começaram a chegar à cidade supermercado, lojas e posto de combustível. Com isso, o pessoal local foi in-centivado a se capacitar, estudar mais, para conseguir os bons empregos.

Alguns anos depois, a cooperativa tinha gerado muitos empregos diretos, e os produtores passaram a ter mais lucro, pois a cooperativa prestava toda assistência.

Muitas pessoas da cidade tinham emprego melhor e a prefeitura arrecadava mais impostos, podendo melho-rar os serviços públicos. Como em toda boa história, no final, as pessoas estavam vivendo mais felizes.

Ainda que este “causo” narrado seja apenas hipotético, contado como um exemplo, você pode acreditar que muitos fatos semelhantes aconteceram em vários locais do país, com as cooperativas contribuindo para o desenvolvimento econômico e social da região.

Fonte: Shutterstock

Fonte: Shutterstock

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pAtividades para praticar em casa

E você? Conhece alguma história parecida com essa? Escreva os pontos principais e relate para os seus colegas no fórum do AVA!

Tópico 4: Cooperativismo e as Regras do MercadoNeste tópico, vamos conceituar primeiramente as ideias de mercado e o papel do liberalismo na economia.

O liberalismo pode ser resumido na liberdade dos cidadãos e das empresas para praticar negócios de qualquer natureza, com as regras sendo ditadas mais pelo mercado do que pelos governos.

A história do liberalismo abrange a maior parte dos últimos quatro séculos. O liberalismo começou como uma doutrina principal e esforço intelectual em resposta às guerras religiosas na Europa durante os séculos XVI e XVII, embora o contexto histórico para a ascensão do liberalismo remonte à Idade Média.

A primeira encarnação notável da agitação liberal veio com a Revolução Americana, mas o liberalismo efetivamente cresceu como um movimento global contra a velha ordem feudal e aristocrática durante a Revolução Francesa, que marcou o ritmo para o futuro desenvolvimento da história humana.

O criador da teoria mais aceita da economia liberal moderna foi, sem dúvida, Adam Smith, economista escocês que desenvolveu a teoria do liberalismo apontando como as nações iriam prosperar. Nela, ele confrontou as ideias de Quesnay e Gournay, afirmando que a desejada prosperidade econômica e a acumulação de riquezas não são concebidas pela atividade rural e nem pela comercial.

Legenda: Adam Smith é considerado o pai da teoria do livre mercado.

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Para Smith, o elemento de geração de riqueza está no potencial de trabalho, sendo este livre, sem ter o Estado como regulador e interventor.

Hoje, o liberalismo econômico é também geralmente considerado contrário aos regimes que se pretendem não capitalistas, como o socialismo, o capitalismo de Estado (China) e o comunismo.

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Atividade prática

A partir desses conceitos sobre a liberdade de mercado, faça uma análise da situação do mercado atual. Você já consegue imaginar como o cooperativismo pode contribuir para a liberdade de mercado? Discuta esse assunto com os seus colegas no AVA!

1. O preço de custo e o de mercado

Imagine a seguinte situação:

Estudo de caso

Um viajante dirige por uma estrada quando acontece algum imprevisto e o veículo para. Na região faz bastante calor. Ela, então, sai em busca de auxílio, mas terá que percorrer a pé vários quilômetros, por várias horas, até conseguir socorro. A região é quase deserta. Ao se preparar para a caminhada, percebe que está sem água de reserva para beber, mas decide ir assim mesmo. Após algumas horas de caminhada, exausto e com bastante sede, encontra um pequeno comércio à beira da estrada e logo pede água para beber. A pessoa que o atende diz:

— Temos somente esta água que é de uma cisterna e que utilizamos para beber. Só que você tem de pagar R$ 100,00 – isso mesmo, cem reais por um copo de água.

O viajante tem, então, duas opções: ou comprar e beber aquela água sobre a qual ele nem sabe as condições, ou seguir em frente sem saber se irá encontrar outra água, correndo o risco de morrer de sede.

O que você acha? Alguém pode até preferir morrer de sede a pagar esse valor, mas a lógica é que se pagariam os extorsivos R$ 100,00.

Que situação, hein? Imagine, agora, um cidadão em uma estância hidromineral, em que a água que sai da torneira é própria para o consumo e de graça. No restaurante do hotel, uma garrafinha de água mineral industrializada custa R$ 1,00. Será que esse consumidor pagaria?

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Poderia até pagar, mas ele saberia que poderia recusar a compra e beber sua água mineral direto da torneira.

Fonte: Shutterstock

Nesses dois exemplos, o que podemos analisar sobre o preço da água? Está caro ou está barato?

Alguns dos fatores que determinam o preço são a necessidade e a oportunidade, que determinam o chamado preço de mercado. O preço de mercado é determinado pela livre oferta e procura, ou seja, quando não há interferências externas, como a do governo definindo o preço da conta de água, de energia etc.

O preço de mercado é o preço que as pessoas estão dispostas a pagar dada uma oferta do produto desejado.

O preço de custo, por outro lado, é determinado a partir de soma de todos os custos de produção de um produto (matérias-primas, armazenagem, transporte, conservação, impostos, despesas com pessoal etc.), ou seja, todos os custos fixos e variáveis, acrescentando o lucro ou a margem de lucro pretendida. Observe que, nesse caso, pode ser que o preço assim calculado não interesse a nenhum comprador. Então, ao invés de preço, ele se torna somente custo, porque não houve venda!

Conclui-se que o que define o preço de venda é o mercado por meio do preço de mercado. Um valor só se torna preço quando encontra compradores e vendedores àquele valor, resultando em transações que transformam o valor em preço de mercado.

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Comentário do autor

O produtor rural, trabalhando de forma individual, dificilmente tem condições de interferir no mercado porque sua margem de lucro é muito estreita. Por outro lado, se o produtor rural reunir forças em cooperativismo, terá mais condições para competir. Reunidos, produtores podem diminuir custos, buscar novas tecnologias e novos mercados, negociar, reduzir preços de compras, aumentar preços de vendas, ter maior margem de lucro e transformar o seu custo em valor de fato.

Por isso, podemos dizer que o cooperativismo tem uma “função corretiva”, porque corrige distorções do mercado e dá condições a atores pequenos de competirem.

2. Diferença entre empresas mercantis e sociedades cooperativas

De acordo com o Código Civil, art. 982, uma sociedade simples explora a atividade de prestação de serviços decorrentes de atividades intelectuais e de cooperativa, independentemente de seu objeto. Já as sociedades empresárias (mercantis) são aquelas que têm por objeto o exercício de atividade própria de empresário.

A Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, que dispõe sobre as sociedades por ações, esta-belece que existem dois tipos de sociedades anônimas: a companhia aberta, que capta recur-sos do público por meio de negociações em bolsas de valores e é fiscalizada pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM, e a companhia fechada (também chamada de “empresa de capital fechado”), que obtém seus recursos dos próprios acionistas. Estas são as grandes empresas, como indústrias, redes de lojas etc.

ALink

Não deixe de checar o site da CVM: www.cvm.gov.br

Já nas sociedades simples, dentre elas as cooperativas, o seu capital é representado por quotas, e não por ações. No caso da cooperativa, o associado poderá subscrever até um terço do total das quotas-partes, mas só terá direito a um voto. Isto é, para cada sócio, um voto. Nas sociedades por ações, o voto de sócio será conforme o seu capital. Se um ou mais sócios detiverem juntos mais de 50% do capital, eles terão o poder de decisão.

Em todas as sociedades, as pessoas reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados.

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Comentário do autor

Isso quer dizer que as pessoas se associam para ganhar mais do que se trabalhassem sozinhas, podendo esse ganho ser social, econômico ou ambos.

Qual das sociedades é a melhor? Quais são as vantagens e as limitações de cada uma?

Essas são dúvidas que existem e devem ser analisadas antes da decisão. Assim, o interessado deve entender as diferenças entre os empreendimentos cooperativos e as empresas mercantis.

O quadro a seguir mostra as principais diferenças entre essas duas alternativas de sociedade.

Sociedade cooperativa Empresa mercantil

Sociedade simples, regida por legislação específica.

Sociedade de capital por ações.

Número de associados limitado à capacidade de prestação de serviços.

Número ilimitado de sócios.

Controle democrático: cada pessoa corresponde a um voto.

O voto é proporcional ao capital – quem tem mais capital decide.

O objetivo é a prestação de serviços. O objetivo é o lucro.

O quorum na assembleia é baseado no número de sócios.

O quorum é baseado no capital.

Não é permitida a transferência de quotas-partes a terceiros.

São permitidas a transferência e a venda de ações a terceiros.

O retorno dos resultados é proporcional ao valor das operações.

O dividendo é proporcional ao valor total das ações.

O compromisso é educativo, social e econômico.

O compromisso é econômico.

Fonte: OCB http://www.ocb.org.br/site/cooperativismo/papel_do_associado.asp

3. Conceitos de lucro, sobras e retorno

Considere os seguintes conceitos:

• Lucro é o retorno positivo do investimento.

• Sobras são o resultado obtido da diferença entre as receitas (vendas de produtos ou prestação de serviços) e os custos (dos serviços e das mercadorias vendidas), deduzido o total dos custos.

• Retorno é a devolução do lucro ou da sobra, como veremos a seguir.

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Veja o seguinte exemplo: somando-se os custos (fixos e variáveis) para produzir um quilo de feijão, chega-se a R$ 0,70. O preço de venda foi de R$ 0,90. Para se chegar ao lucro, é preciso fazer a conta:

Custo total = R$ 0,70

Preço de venda = R$ 0,90

Lucro líquido = R$ 0,20

Esses conceitos de contabilidade são imprescindíveis para uma atividade econômica! É extremamente importante anotar e fazer os cálculos de todos os custos da sua propriedade rural.

Ou seja, na empresa privada, ou sociedade empresária, o lucro é de R$ 0,20 e pode ser apropriado pelos sócios da empresa de maneira proporcional ao seu capital na companhia.

Já no cooperativismo, quem tem o lucro não é a cooperativa. O resultado da cooperativa, ou seja, os R$ 0,20 de lucro podem ser distribuídos aos cooperados com o nome de “distribuição de resultados”, mas é importante lembrar que, na cooperativa, os resultados não são considerados lucro, apenas como atos cooperados, que são operações ocorridas entre o cooperado e a cooperativa.

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Dica

Por exemplo: o cooperado comercializa (vende) o leite para a cooperativa ou adquire (compra) insumos da cooperativa. Esses são considerados “atos cooperados”, e não existe o lucro, ainda que possam existir resultados positivos nessas transações.

Mas, se a cooperativa aplica seu capital em um banco e obtém juros nessa operação, estes são considerados atos não cooperados, e o resultado é o lucro, portanto sujeitos à tributação como em outra sociedade mercantil. Da mesma maneira, existem cooperativas que vendem para pessoas da comunidade que não são cooperadas. Nessa operação, haverá incidência de IRPJ (Imposto de Renda da Pessoa Jurídica).

No caso de a nota fiscal ser emitida para pessoa não cooperada, pode ocorrer preço de venda diferenciado devido aos impostos existentes.

Retorno

Uma das características da cooperativa é o retorno das sobras líquidas do exercício proporcionalmente às operações realizadas pelo associado, salvo deliberação em contrário da assembleia geral.

É importante lembrar que, das sobras líquidas, deverão ser destinados no mínimo 10% para o Fundo de Reserva e 5% para o Fates (Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social), não

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sendo contabilizados para a distribuição entre os cooperados, pois a lei prevê a indivisibilidade dos fundos.

Sobras e perdas

Na apuração do resultado das operações, o estatuto da cooperativa deve prever a forma de devolução das sobras aos associados ou do rateio das perdas apuradas por insuficiência de contribuição para a cobertura das despesas da sociedade.

Rateio

Em razão proporcional entre os associados que tenham usufruído dos serviços durante o ano, o rateio das sobras líquidas verificadas no balanço do exercício, excluídas as despesas gerais, deve ser decidido em assembleia geral.

Os prejuízos verificados no decorrer do exercício serão cobertos com recursos provenientes do Fundo de Reserva e, se forem insuficientes, mediante rateio entre os associados na razão direta dos serviços usufruídos.

Algumas assembleias decidem, por exemplo, a incorporação das sobras ao patrimônio da cooperativa. Incluídas na quota-parte e com aumento do capital, a cooperativa terá maior poder de negociação. Já outras decidem pela distribuição da sobra.

Podemos exemplificar essa situação com uma cooperativa de produtores de leite. Acompanhe!

Estudo de caso

Um cooperado forneceu durante o ano mil litros de leite, e outro forneceu quinhentos litros no mesmo período. Suponhamos que tenha havido sobra líquida. Se, no rateio da sobra, o que forneceu mil litros receber cem reais, o que forneceu quinhentos litros receberá cinquenta reais se o estatuto não prever outra condição.

Se, ao contrário, houver perdas, o cooperado que forneceu mil litros deverá depositar para a cooperativa cem reais, e o outro cooperado, cinquenta reais. Caso a cooperativa tenha Fundo de Reserva, este poderá ser utilizado para abater os prejuízos.

Portanto, os associados deverão acompanhar muito de perto os negócios da cooperativa sob pena de ter de desembolsar dinheiro para pagar eventuais prejuízos.

'Dica

Sempre verifique a escrituração contábil da sua cooperativa e peça explicações sobre ela. O cooperado tem direito ao acesso a todas as informações.

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Tópico 5: A Sociedade CooperativaPara iniciar este tópico, vamos voltar a um ponto básico: o que é uma cooperativa?

1. Legislação

A cooperativa é assim definida pela Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971:

Art. 4º As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas a falência, constituídas para prestar serviços aos associados, distinguindo-se das demais sociedades pelas seguintes características:

I - adesão voluntária, com número ilimitado de associados, salvo impossibilidade técnica de prestação de serviços;

II - variabilidade do capital social representado por quotas-partes;

III - limitação do número de quotas-partes do capital para cada associado, facultado, porém, o estabelecimento de critérios de proporcionalidade, se assim for mais adequado para o cumprimento dos objetivos sociais;

IV - inacessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros, estranhos à sociedade;

V - singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais, federações e confederações de cooperativas, com exceção das que exerçam atividade de crédito, optar pelo critério da proporcionalidade;

VI - quorum para o funcionamento e deliberação da Assembleia Geral baseado no número de associados, e não no capital;

VII - retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às operações realizadas pelo associado, salvo deliberação em contrário da Assembleia Geral;

VIII - indivisibilidade dos Fundos de Reserva e de Assistência Técnica Educacional e Social;

IX - neutralidade política e não discriminação religiosa, racial e social;

X - prestação de assistência aos associados, e, quando previsto nos estatutos, aos empregados da cooperativa;

XI - área de admissão de associados limitada às possibilidades de reunião, controle, operações e prestação de serviços.

A mesma Lei nº 5.764 estabeleceu classificações para as sociedades cooperativas, escritas da seguinte maneira:

Art. 6º As sociedades cooperativas são consideradas:

I - singulares, as constituídas pelo número mínimo de 20 (vinte) pessoas físicas, sendo excepcionalmente permitida a admissão de pessoas jurídicas que tenham por objeto as mesmas ou correlatas atividades econômicas das pessoas físicas ou, ainda, aquelas sem fins lucrativos;

II - cooperativas centrais ou federações de cooperativas, as constituídas de, no mínimo, 3 (três) singulares, podendo, excepcionalmente, admitir associados individuais;

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III - confederações de cooperativas, as constituídas, pelo menos, de 3 (três) federações de cooperativas ou cooperativas centrais, da mesma ou de diferentes modalidades.

§ 1º Os associados individuais das cooperativas centrais e federações de cooperativas serão inscritos no Livro de Matrícula da sociedade e classificados em grupos visando à transformação, no futuro, em cooperativas singulares que a elas se filiarão.

§ 2º A exceção estabelecida no item II, in fine, do caput deste artigo não se aplica às centrais e federações que exerçam atividades de crédito.

Art. 7º As cooperativas singulares se caracterizam pela prestação direta de serviços aos associados.

Art. 8º As cooperativas centrais e federações de cooperativas objetivam organizar, em comum e em maior escala, os serviços econômicos e assistenciais de interesse das filiadas, integrando e orientando suas atividades, bem como facilitando a utilização recíproca dos serviços.

Parágrafo único. Para a prestação de serviços de interesse comum, é permitida a constituição de cooperativas centrais, às quais se associem outras cooperativas de objetivo e finalidades diversas.

Art. 9º As confederações de cooperativas têm por objetivo orientar e coordenar as atividades das filiadas, nos casos em que o vulto dos empreendimentos transcender o âmbito de capacidade ou conveniência de atuação das centrais e federações.

Art. 10 As cooperativas se classificam também de acordo com o objeto ou pela natureza das atividades desenvolvidas por elas ou por seus associados.

Fonte: Shutterstock

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O Sistema Cooperativo congrega, representa, promove e integra cooperativas de 13 ramos de atuação. Veja, a seguir, a lista completa e um resumo das atividades realizadas.

Agropecuário

Cooperativas formadas por produtores rurais e que têm como finalidade organizar a produção de seus associados em maior escala, garantindo melhor preço na comercialização dos produtos. O ramo agropecuário visa, também, integrar e orientar as atividades dos produtores, além de facilitar a utilização recíproca dos serviços (adquirir insumos, dividir custos de assistência técnica, entre outros) e a eliminação do atravessador para vender a produção dos cooperados diretamente ao consumidor.

Consumo

A atividade básica deste ramo é viabilizar aos cooperados mercadorias de boa qualidade a preços acessíveis. As cooperativas auxiliam na compra em comum de bens de consumo, como alimentos, roupas, medicamentos e material escolar, entre muitos outros itens.

Crédito

O objetivo principal de uma cooperativa de crédito é prestar serviços de natureza financeira, assim como reunir a poupança de seus cooperados e lhes proporcionar empréstimos com taxas menores que as praticadas no mercado.

Educacional

Ramo formado por cooperativas de alunos de escolas agrícolas, pais de alunos ou professores. Esses tipos de cooperativas buscam viabilizar algumas das atividades desenvolvidas pelo próprio estabelecimento de ensino e podem comprar insumos e materiais escolares, acompanhar o processo educacional dos alunos por meio da administração da escola/cooperativa, além de reunir profissionais da área da educação para disponibilizar seus serviços no mercado.

Especial

Reúne cooperativas constituídas por pessoas que precisam de auxílios especiais, dejam físicos, sensoriais, psíquicos e mentais, assim como dependentes químicos, egressos de prisões, condenados a penas alternativas ou pessoas em situação familiar desajustada. Desenvolve e executa programas especiais de treinamento visando aumentar a produtividade e a independência econômica e social desse grupo.

HabitacionalAs cooperativas desse ramo viabilizam a compra ou a construção da casa própria por um custo menor e dentro das possibilidades dos cooperados.

Infraestrutura

Ramo que administra serviços dos quais os cooperados necessitam e que não se encontram disponíveis ou são mais caros no mercado. As cooperativas mais conhecidas são as de eletrificação e telefonia rural, saneamento e limpeza pública. Podem comprar os insumos necessários e contratar terceiros para realizar os negócios.

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MineralSão cooperativas de mineradores constituídas para viabilizar a extração, a industrialização e a comercialização de produtos minerais.

Produção

Formado pelas cooperativas dedicadas à produção de bens e mercadorias, sendo os meios de produção de propriedade cooperativa, e não de propriedade individual. Nesse ramo, os cooperados organizam a produção dos bens e participam de todo os processos administrativo, técnico e operacional da cooperativa.

Saúde

Dividido em dois segmentos:Cooperativas de profissionais de saúde: dedicam-se à preservação e à recuperação da saúde humana, congregando profissionais das áreas de medicina, odontologia, psicologia, fonoaudiologia, fisioterapia, enfermagem, terapia ocupacional, entre outras.Cooperativas de usuários: compostas por usuários de serviços de saúde que buscam qualidade e atendimento rápido a preços mais acessíveis que os oferecidos no mercado.

Trabalho

Dedica-se à organização e à administração dos interesses inerentes do grupo de profissionais cooperados e organiza esses trabalhadores, posicionando o serviço prestado por eles no mercado. A Lei nº 12.690, de 19/7/2012, dispõe sobre a organização e o funcionamento das cooperativas de trabalho.

Transporte

São cooperativas que se dedicam à organização e à administração dos interesses inerentes do grupo de profissionais cooperados em atividades de transporte. Proporcionam para os cooperados maior volume de cargas e passageiros, garantindo mercado de trabalho.

Turismo e lazerRamo formado pelas cooperativas que atuam no setor de turismo e lazer, organiza as comunidades para disponibilizarem o seu potencial turístico, hospedando os turistas e prestando-lhes toda ordem de serviços.

Fonte: http://www.minasgerais.coop.br/pagina/31/ramos.aspx

2. Benefícios

Um dos benefícios diretos da sociedade cooperativa é o afastamento dos intermediários no decorrer dos negócios. Isso porque a atividade rural faz parte de um processo de produção que exige a participação de vários segmentos do mercado.

O produtor rural, responsável diretamente pela produção, necessita da participação de outras pessoas ou empresas para completar o ciclo da atividade, como especialistas na comercialização ou no financiamento das atividades. Ele compra insumos, produz e vende, diretamente para o

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consumidor ou indiretamente por outras pessoas ou empresas. Atualmente, o produtor atua mais na produção e utiliza o conhecimento e a experiência de outras pessoas ou empresas para completar toda a atividade.

Nesse sentido, a cooperativa, ou as associações de produtores, ao organizar alguns elos da cadeia produtiva (como a compra e a venda de insumos, e a comercialização da produção), atua no sentido de afastar os intermediários e os especuladores do mercado agrícola, aumentando os ganhos do produtor rural. A negociação por meio da cooperativa, com qualidade e em maior escala, será benéfica tanto para o produtor quanto para os outros que atuam no mercado.

Outro benefício direto é a defesa econômica dos cooperados, ou, como diz um ditado comum no mundo cooperativo: “Somar é compartilhar resultados.”

A cooperativa promove a defesa e a melhoria econômica dos cooperados, a partir de custos mais baixos dos bens e serviços prestados, e coloca no mercado, a preços justos, bens e prestações por eles produzidos, visto que a organização econômica, estruturada em empresa cooperativa, não tem existência estanque, pois está ao lado e em contato direto com as demais organizações econômicas que, no mundo liberal e democrático, nascem e atuam à sombra do regime da liberdade de indústria, comércio e serviços. (SCHNEIDER, 2006)

Fonte: Schneider, Edson Pedro Cooperativismo de crédito: organização sistêmica : ênfase no Sistema SICREDI / Edson Pedro Schneider. – Porto Alegre, 2006. 228 f. : il.

O produtor rural é um dos profissionais que necessitam do mais amplo conhecimento para o desenvolvimento de suas atividades.

Ele, para ser eficiente, deve ter conhecimentos e habilidades de agronomia, veterinária, contabilidade, ambientalismo, direito e administração, e ainda ser um bom comerciante. Mesmo o pequeno produtor se defronta, no dia a dia, com situações que exigem a tomada das mais diversas decisões.

Quando busca a participação em uma cooperativa, o produtor espera minimizar muitas das dificuldades encontradas no seu cotidiano por meio da orientação e da prestação de serviços especializados por parte das cooperativas.

Com isso, o seu foco poderá ser mais direcionado para a produção, deixando a “preocupação” das outras atividades com a cooperativa, que, quando atua de forma eficiente, oferece assistência técnica, financiamentos, informações tecnológicas e comerciais, facilita o acesso à compra ou ao aluguel de máquinas e equipamentos, orientação jurídica, entre outros, de acordo com as características das atividades dos cooperados.

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Fonte: Shutterstock

A confiança desse apoio pela cooperativa é decisiva para que o produtor tenha sucesso na sua atividade considerando os riscos que existem.

dComentário do autor

Podemos, então, considerar que a defesa econômica do produtor pela cooperativa está em todo o processo com o apoio constante, oferecendo infraestrutura necessária para suas atividades.

Outra forma fundamental de defesa econômica dos cooperados é a escala de negociação detida pela cooperativa, mas não pelo cooperado individualmente. Isso é chamado de “ganho de escala” e permite que a cooperativa negocie de igual para igual com as grandes empresas fornecedoras e compradoras, podendo influenciar decisões de governo com mais força. A escala ou o tamanho das cooperativas permite que elas sejam mais fortes em qualquer negociação do que seria o produtor individual, o que garante ao cooperado as melhores condições possíveis nos resultados dos negócios.

Fonte: Shutterstock

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O sucesso é, na verdade, aumento dos resultados com a melhoria da qualidade de vida do cooperado e de seus familiares, sendo também importante esse apoio nas atividades sociais.

'Dica

Verifique sempre se sua cooperativa possui condições de escala para negociações favoráveis aos cooperados!

3. Particularidades e cuidados

As cooperativas proporcionam, ainda, para seus cooperados uma coisa que se convencionou chamar de “dupla qualidade”, que merece bastante atenção.

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Comentário do autor

A dupla qualidade do cooperado se refere ao fato de ele ser, na cooperativa, tanto dono como cliente. As cooperativas de produção e comercialização do setor rural geralmente tanto compram a produção de cooperados como vendem a eles insumos, máquinas, assistência técnica etc. Assim, os cooperados possuem as qualidades de ser, ao mesmo tempo, donos, porque são quotistas associados, e clientes, porque tanto compram como vendem para a cooperativa.

Mas é importante perceber que essa dupla qualidade traz também implicações. Acompanhe a situação a seguir!

Estudo de caso

Como disseram que é vantajoso participar de uma cooperativa, um produtor rural vai até lá e pede para se associar. É bem recebido pelo gerente, conhece as instalações, toma cafezinho, bate um papo com o administrador, dá tapinha nas costas, assina sua ficha de inscrição e aguarda a decisão da diretoria.

Logo é comunicado de que, a partir daquela data, passaria a ser sócio da cooperativa. Ele começou a entregar o leite da sua propriedade rural para a cooperativa e passava lá todos os meses para receber o dinheiro, ou ver se havia sido depositado no banco, aproveitando para fazer umas compras de coisas de que estaria precisando na fazenda. Até aí tudo ia bem, e ele estava feliz em ser um cooperado.

Em certo mês, quando foi receber o dinheiro pelo pagamento do leite, observou que a coope-rativa estava pagando menos e que poderia ter pagado um pouco mais! Observou, também, que o preço do adubo da cooperativa estava caro e que poderia comprar mais barato.

Pensando sobre isso, “caiu a ficha”: como dono da cooperativa, isso era bom para ele, pois os resultados do negócio seriam melhores e ele poderia receber distribuição de resultados, mas, como consumidor, era ruim, pois o preço do leite estava barato e os insumos mais caros. Ou seja, era bom enquanto dono, mas ruim enquanto cliente.

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Vamos pensar um pouco: o dono do negócio procura vender mais barato ou mais caro? O cliente quer comprar mais caro ou mais barato?

O cooperado para e pensa: “E agora? Como faço? Sou dono e cliente.”

OInformações extras

Em alguns casos, além de ser cliente e dono, o cooperado ainda pode ser, também, membro do conselho, ou seja, dirigente da cooperativa.

Essa é uma situação que deve ser bastante discutida com os cooperados para que todos ganhem mais, sem prejuízo para os outros.

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Atividades para praticar em casa

Você conhece alguma situação semelhante à relatada nos estudos de caso? Como devo proceder sendo dono e cliente? É preciso aprender a ser dono de uma empresa da qual também seja cliente.

Registre suas impressões e seus pensamentos, e compartilhe com seus colegas no AVA!

Para reflexão sobre o tema, veja, a seguir, um trecho do artigo de enfoque jurídico “As falsas cooperativas não podem burlar a relação de emprego”, publicado por Waldir de Pinho Veloso na Revista da OAB-GO.

Estudo de caso

Segundo Iara Alves Cordeiro Pacheco, quem começou a lecionar que o cooperativismo exige o Princípio da Dupla Qualidade foi Walmor Franke. Pelo Princípio da Dupla Qualidade, o coope-rado é considerado, ao mesmo tempo, cliente e associado-cooperado. O próprio artigo 7º da Lei nº 5.764, tornando mais extensa uma parte do artigo 4º da mesma lei, traz explícito que “as cooperativas singulares se caracterizam pela prestação direta de serviços aos associados”. Pelo Princípio da Dupla Qualidade, um cooperado deve receber da sua entidade alguns be-nefícios diretos, alguns serviços especiais. A cooperativa não pode, destarte, prestar serviços exclusivamente a terceiros, sem que seus próprios cooperados também tenham benefícios diretos pelos seus serviços. Tem, assim, a Dupla Qualidade o cooperado que, além de sócio da cooperativa, e desta sociedade fazendo parte como real sócio que participa das assembleias, vota e pode ser votado, também recebe serviços da sociedade da qual é parte. Exemplos há com excesso de cooperativas das quais seus cooperados recebem serviços especiais. Aqui, estamos falando das falsas cooperativas. Não das verdadeiras sociedades que têm o coope-rativismo como lema.

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68(...) transcreveremos um trecho da sentença trabalhista do processo 1090/96, da mesma JCJ de Belo Horizonte, e tendo como presidente e relator o multicitado, porque multicapaz, Mau-rício Godinho Delgado: “No caso em exame, o princípio da dupla qualidade não é atendido, já que não se encontra, nos autos, qualquer mínima evidência de que a cooperativa reclamada trate a autora como sua beneficiária, sua cliente, a razão de ser de sua existência. Não. Ao contrário, o que se percebe, simplesmente, é a oferta de trabalho a terceiros. (...) Excetuado o pagamento pelos serviços, não há qualquer retribuição material ou de outra natureza que demonstre que a trabalhadora seja destinatária dos serviços da cooperativa. Já o princípio da retribuição diferenciada também claramente não é atendido pela cooperativa em análise. A cooperativa reclamada não potencia o trabalho da reclamante: apenas defere-lhe um lu-gar-padrão de prestação de serviços. Não se enxerga qualquer traço, nestes autos, de que a cooperativa permita que o cooperado obtenha uma retribuição pessoal em virtude de seu tra-balho potencialmente superior àquilo que obteria caso não estivesse associado. (...) Ao revés, emerge claro um aritmético rebaixamento do preço da força de trabalho, se comparado com o padrão mínimo autorizado pelo direito brasileiro (há confissão no sentido de que o salário obreiro é levemente superior ao mínimo da categoria equivalente, sabendo-se que nenhum direito laboral clássico é assegurado à trabalhadora...).”

Vê-se, pois, que em havendo uma real subordinação e uma comprovada continuidade de um trabalho oneroso, e desde que a sociedade não ofereça ao seu associado os princípios básicos do cooperativismo, há o reconhecimento do vínculo empregatício, a declaração da relação de emprego, e o “falso” cooperado veste-se de empregado e recebe todos os direitos trabalhistas que um empregado tem. Ao contrário, as verdadeiras cooperativas não têm vínculos emprega-tícios com seus associados, bem como os tomadores dos serviços da correta cooperativa não é empregadora dos associados daquela.

Vivenciamos, por diversas vezes, situações em que somos convidados para orientar grupos sobre a constituição de cooperativas e verificamos o que se relata nesse artigo. Pessoas que buscam a criação de cooperativa, mas, na verdade, querem “legalizar” o serviço que outras pessoas prestam para ela, como o caso, em uma região que produz frutas e verduras, dos produtores que querem criar uma cooperativa de trabalho para legalizar os serviços dos embaladores, ou seja, transformar os seus “empregados sem carteira” em “empregados cooperados”.

Essas atividades são ilegais e foram apelidadas de “coopergatos”, porque denigrem o sentido maior do cooperativismo. O Ministério do Trabalho tem se esforçado no sentido de coibir essas irregularidades.

Outro exemplo refere-se aos catadores de lixo. Com a lei que determina o fim dos lixões nas cidades, são constantes as denúncias sobre as “cooperativas de catadores de materiais recicláveis”, previstas na lei como forma de organização dos catadores.

Pessoas se apresentam para auxiliar na criação da cooperativa, mas transformam os catadores em seus “empregados”. A imprensa tem feito várias denúncias sobre o assunto.

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4. Dinâmica da sociedade cooperativa de produção agropecuária

Por definição, a sociedade cooperativa de produção agropecuária reúne produtores rurais para a prestação de serviços, que podem ser a compra em comum de insumos, a venda em comum da produção dos cooperados, a prestação de assistência técnica, armazenagem, beneficiamento da produção, entre outros.

No Brasil, as cooperativas agropecuárias são de grande importância para o dinamismo e o bom desempenho do agronegócio. Enquanto a maioria dos setores da economia brasileira apresenta resultados negativos nas exportações, o agronegócio continua mantendo resultados positivos na balança comercial brasileira. Em junho de 2015, o setor exportou US$ 9,13 bilhões e importou somente US$ 1,06 bilhão, o que resultou um saldo positivo de US$ 8,07 bilhões na balança comercial do Brasil, segundo dados divulgados em julho de 2015.

Fonte: Shutterstock

'Dica

Lembre-se de que no AVA você tem acesso a links e vídeos complementares aos assuntos tratados na unidade curricular!

Historicamente, as primeiras iniciativas cooperativistas no Brasil surgiram pouco tempo depois que o movimento despertou no mundo. Passados menos de 50 anos da criação da primeira

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cooperativa na Inglaterra, em 1844, os brasileiros registraram formalmente a sua pioneira. Em Minas Gerais, foi formalizada a Sociedade Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto no ano de 1889. Assim como os tecelões de Rochdale, os precursores brasileiros eram cooperados de consumo, mas a Sociedade Cooperativa oferecia produtos diversificados, desde gêneros alimentícios até residências e crédito. A partir da organização mineira, outras rapidamente surgiram pelo país.

No início do movimento, muitas cooperativas eram formadas por funcionários públicos, militares, profissionais liberais e operários, que juntos buscavam atender melhor às suas necessidades. Outras estavam vinculadas a empresas, as quais estimulavam a cooperação entre os funcionários, principalmente no Estado de São Paulo.

Ainda no século XIX, nasciam as organizações que se tornariam destaques do cooperativismo brasileiro: as agropecuárias. A primeira registrada foi a Società Cooperativa delle Convenzioni Agricoli, fundada no Rio Grande do Sul, na região de Veranópolis, em 1892.

Fonte: Shutterstock

A partir daí, esse segmento se desenvolveu com vigor no Sul do país, estimulado por imigrantes europeus e asiáticos, que traziam dos seus países o conhecimento da doutrina e buscavam a união para a garantia da subsistência. Conforme dados da Organização das Cooperativas do Brasil, o país tem atualmente 13 ramos do cooperativismo, com 6.835 cooperativas.

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Ramos Nº de cooperativas

Nº de cooperadosNº de empregos diretos

Agropecuário 1.597 100.767 161.701

Consumo 122 2.923.221 13.880

Crédito 1.042 5.487.098 38.132

Educacional 300 52.371 4.079

Especial 6 247 7

Habitacional 220 120.520 1.035

Infraestrutura 130 934.892 6.496

Mineral 86 87.152 180

Produção 253 11.527 3.386

Saúde 849 249.906 92.198

Trabalho 977 228.613 1.929

Transporte 1.228 137.543 11.685

Turismo e lazer 25 1.696 18

Total 6.835 10.335.553 334.726

Fonte: OCB, setembro de 2015.

Podemos comparar o número de cooperados com o número de habitantes da Cidade de São Paulo, que é de 12 milhões. É como se 86% da população de São Paulo fosse de cooperados.

O número de associados a cooperativas representa hoje 5,7% da

população brasileira, e, se somadas as famílias dos cooperados,

estima-se que o movimento cooperativista agregue 22,8% da

população nacional.

No mundo atual, o cooperativismo também cresce a passos largos em seu propósito de atenuar as contradições do capitalismo internacional. Nos Estados Unidos, 60% da população participa de algum tipo de cooperativa, que reúne mais de 150 milhões de pessoas; no Canadá, 45% da população (12 milhões de pessoas); na Alemanha, 20% da população (20 milhões de pessoas, sendo que 80% dos agricultores e 75% dos comerciantes); na França, 20% da população (10,5 milhões).

A Associação Cooperativa Internacional reúne nada menos do que 230 organizações de mais de 100 países e representa cerca de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo. Somente nas Américas, em 2010, eram 74 organizações filiadas de diferentes países, com cerca de 50 mil

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cooperativas e mais de 300 milhões de cooperados em todo o continente, o que demonstra o poder do cooperativismo em seu papel como organização social.

Tópico 6: Atos CooperativosDenominam-se atos cooperativos aqueles praticados entre a cooperativa e seus associados, e vice-versa, e pelas cooperativas entre si quando associadas, para a consecução dos objetivos sociais, nos termos do art. 79 da Lei nº 5.764, de 1971.

O ato cooperativo não implica operação de mercado, nem contrato de compra e venda de produto ou mercadoria, nem tributação.

1. Negócios-fim ou negócios internos

A Lei nº 5.764/71 define, em seu no art. 38:

A Assembleia Geral dos associados é o órgão supremo da sociedade, dentro dos limites legais e estatutários, tendo poderes para decidir os negócios relativos ao objeto da sociedade e tomar as resoluções convenientes ao desenvolvimento e defesa desta, e suas deliberações vinculam a todos, ainda que ausentes ou discordantes.

Os sócios participam dos negócios internos praticando, com a sociedade, o negócio-fim. Por meio desse negócio-fim, em contato com o mercado, a cooperativa deve promover o incremento das economias dos sócios e a obtenção de recursos destinados a obras de assistência, cultura e educação.

Você já estudou que o fim da cooperativa não se confunde com o

seu objeto. O fim é a promoção da defesa ou o fomento da economia

dos cooperados, mediante a prestação dos serviços a que referem

os estatutos. O objeto é a atividade empresarial desenvolvida pela

cooperativa para a satisfação daquele fim, ou seja, a melhoria do

status econômico dos sócios.

Os negócios jurídicos que a cooperativa realiza internamente com seus membros, para melhorar sua a situação econômica, regem-se pelo principio de identidade. O interesse do cooperado e o da cooperativa, nessas operações, obedecem à mesma causa (final): a cooperativa visa servir ao associado para melhorar sua posição econômica, e o associado serve-se da cooperativa para o mesmo fim (FRANKE & WALMOR, 1907).

d

Comentário do autor

Quando o produtor entrega o leite para a cooperativa para que ele possa ser processado, ela exerce o seu objeto empresarial de industrialização do leite para agregação de valor. Nesse caso, exercita-se, também, o negócio-fim da cooperativa: por meio de uma melhor condição de comercialização, fomenta-se a economia dos cooperados.

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2. Negócios-meio

O negócio interno (negócio-fim), comumente, só pode realizar-se em benefício do cooperado se precedido ou sucedido de um negócio externo, ou de mercado, denominado “negócio com terceiros” ou “negócio-meio”. Assim, nas cooperativas de produtores, o negócio interno, isto é, a entrega dos produtos pelo cooperado para serem vendidos pela cooperativa (in natura ou após transformados) necessita, para a sua total execução, de outro negócio, o negócio-meio, que é a venda do produto pela cooperativa no mercado, com reversão do respectivo preço, deduzidas as despesas, ao sócio (FRANKE & WALMOR, 1907).

A cooperativa beneficia e vende o produto no mercado em condições melhores do que se o produtor vendesse diretamente e individualmente, revertendo os ganhos ao próprio produtor.

Fonte: Shutterstock

Essa operação da cooperativa é o negócio-meio, porque é o meio pelo qual beneficia o cooperado.

3. Negócios-auxiliares

Até mesmo as cooperativas que adotam, no seu funcionamento, o princípio do exclusivismo, operando unicamente com associados, necessitam praticar, além dos negócios internos (negócios-fim) e dos negócios de mercado (negócios-meio), outros negócios que não se confundem com suas atividades específicas. Estes são os denominados negócios-auxiliares, que são “todos os negócios que, em dado caso, precisam ser realizados por motivos especiais e imperiosos no interesse da persecução do objeto da sociedade, os quais, por conseguinte, se tornam necessários à execução dos negócios-fim” (FRANKE & WALMOR, 1907).

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Fonte: Shutterstock

Incluem-se nos negócios-auxiliares a locação de imóveis para uso da cooperativa, a aquisição de material para escritório, a compra de combustível para máquinas agrícolas de uso comum, o fornecimento de caixas e cestos por uma cooperativa de fruticultores para uso dos sócios no acondicionamento de sua produção etc.

4. Negócios-acessórios

Os negócios-acessórios são aqueles que não têm relação com a finalidade da sociedade cooperativa e que ocorrem eventualmente na esfera operacional, mas não são fonte de receita autônoma e recorrente da cooperativa. Um bom exemplo de negócio-acessório é a venda de máquinas e equipamentos obsoletos e imprestáveis.

5. Tratamento tributário ao ato cooperativo na Constituição Federal

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 146, estabelece que cabe à lei complementar estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas.

Fonte: Shutterstock

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A Organização das Cooperativas do Brasil tem acompanhado os legisladores para o tratamento adequado às cooperativas e às federações nos estados e municípios.

Sobre o ato cooperativo, a Constituição assim estabelece:

Art. 79 Denominam-se atos cooperativos os praticados entre as cooperativas e seus associados, entre estes e aquelas e pelas cooperativas entre si quando associados, para a consecução dos objetivos sociais.

Parágrafo único. O ato cooperativo não implica operação de mercado, nem contrato de compra e venda de produto ou mercadoria.

Há várias discussões, inclusive na justiça, sobre as questões relativas ao ato cooperativo, pois a sua caracterização implica diretamente nos custos do produto ou serviço por meio da cobrança, ou não, dos tributos.

A Legislação Tributária, por meio da Lei nº 10.833, de 29 de dezembro de 2003, estabelece, com relação às cooperativas:

Art. 10 Permanecem sujeitas às normas da legislação da COFINS, vigentes anteriormen-te a esta Lei, não se lhes aplicando as disposições dos arts. 1º a 8º:

VI - sociedades cooperativas, exceto as de produção agropecuária, sem prejuízo das deduções de que trata o art. 15 da Medida Provisória nº 2.158-35, de 24 de agosto de 2001, e o art. 17 da Lei nº 10.684, de 30 de maio de 2003, não lhes aplicando as disposições do § 7º do art. 3º das Leis nos 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de dezembro de 2003, e as de consumo; (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004).

Quando a cooperativa contratar pessoas ou empresas para prestarem os serviços, o que é muito comum, deverá reter o valor relativo à Contribuição Social sobre o Lucro, a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social – Cofins e os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público – PIS/Pasep.

A responsabilidade pelo recolhimento desses tributos é da cooperativa.

Empresas contratadas, se forem optantes do Simples, devem apresentar a declaração de opção para a cooperativa e não estão obrigadas ao pagamento desses tributos em separado, já que é um valor único que a empresa paga e no qual estão incluídos todos os tributos.

A legislação esclarece:

Art. 30 Os pagamentos efetuados pelas pessoas jurídicas a outras pessoas jurídicas de direito privado, pela prestação de serviços de limpeza, conservação, manutenção, segurança, vigilância, transporte de valores e locação de mão de obra, pela prestação de serviços de assessoria creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção e riscos, administração de contas a pagar e a receber, bem como pela remuneração de serviços

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profissionais, estão sujeitos a retenção na fonte da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL, da COFINS e da contribuição para o PIS/PASEP.

§ 1º O disposto neste artigo aplica-se inclusive aos pagamentos efetuados por:

I - associações, inclusive entidades sindicais, federações, confederações, centrais sindicais e serviços sociais autônomos;

II - sociedades simples, inclusive sociedades cooperativas.

Art. 32 A retenção de que trata o art. 30 não será exigida na hipótese de pagamentos efetuados a:

I - cooperativas, relativamente à CSLL.

É importante observar que, devido à complexidade e às alterações constantes na legislação, é importante que a cooperativa tenha acompanhamento, jurídico e contábil, com profissionais que atuam com cooperativas. Nos contratos com os profissionais, é importante constar que qualquer orientação contábil ou jurídica deve ser informada por escrito com a assinatura e a identificação do registro profissional à responsabilidade técnica.

A cooperativa não pode ser optante do simples, independentemente do valor das receitas.

Devem-se observar as legislações estadual, no caso da comercialização, e municipal, da região em que a cooperativa tenha sede e atuação.

6. Atos não cooperativos

Os atos não cooperativos são aqueles que importam em operação com terceiros não associados ou não cooperados. São exemplos, dentre outros, os seguintes (arts. 85, 86 e 88 da Lei nº 5.764/71):

I) a comercialização ou a industrialização, pelas cooperativas agropecuárias ou de pesca, de produtos adquiridos de não associados, agricultores, pecuaristas ou pescadores, para completar lotes destinados ao cumprimento de contratos ou para suprir capacidade ociosa de suas instalações industriais;

II) o fornecimento de bens ou serviços a não associados, para atender aos objetivos sociais;

III) a participação em sociedades não cooperativas, públicas ou privadas, para atendimento de objetivos acessórios ou complementares;

IV) as aplicações financeiras;

V) a contratação de bens e serviços de terceiros não associados.

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O art. 87 da Lei nº 5.764 de 1971 estabelece que as sociedades cooperativas devem contabilizar em separado os resultados das operações com não associados, de forma a permitir o cálculo de tributos.

dComentário do autor

A cooperativa deve verificar o tratamento de outros tributos, como PIS e Cofins, relativos à operação com associados e não associados. Nesse sentido, é fundamental o assessoramento de um profissional de contabilidade.

Tópico 7: Gestão das Sociedades Cooperativas de Produção AgropecuáriaUm dos fatores preponderantes para o sucesso de qualquer negócio é a sua gestão. Nas empresas privadas, a má gestão é penalizada com a falência. A boa gestão é premiada com bons resultados e perpetuidade do negócio. A perpetuidade, contudo, implica na necessidade da sucessão empresarial (quando os gestores devem ser substituídos), o que muitas vezes é um problema.

d

Comentário do autor

Perceba que, nas sociedades cooperativas, esse problema não é tão significativo. Como a cooperativa é de vários donos, haverá sempre mais possibilidades de continuidade das suas atividades de gestão, já que, em tese, a sua administração é sempre acompanhada por todos os donos-cooperados.

Contudo, o histórico do cooperativismo brasileiro indica que esse tema é extremamente sensível, devendo haver sempre um esforço de profissionalização da gestão cooperativa, buscando que especialistas profissionais de fora dos quadros da cooperativa façam uma gestão técnica e profissional dos seus negócios. Essa prática pode evitar a quebra do negócio cooperativo, como, infelizmente, não é incomum no nosso país.

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Atividades para praticar em casa

Você conhece alguma situação como essa que tenha ocorrido na sua região? Compartilhe e discuta com seus colegas no AVA alguma situação que reflita aquele ditado popular: “Pai rico, filho nobre e neto pobre.”

Acompanhe, agora, detalhes jurídicos da gestão de sociedades cooperativas!

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1. Relações contratuais

A Lei nº 5.764/71, em seu art. 3º, diz, sobre a relação contratual entre pessoas em sociedade cooperativa, que “reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro.”

Reciprocamente se obrigam

O termo “reciprocamente se obrigam” indica que, em qualquer atividade, inclusive nas não econômicas, é importante que todas as relações, mesmo as parcerias, sejam feitas por meio de contrato escrito.

Na cooperativa, as relações de contrato podem ser entre o cooperado e a cooperativa, e entre a cooperativa e seus clientes ou fornecedores.

Os contratos devem ser bastante claros quanto a responsabilidades de cada uma das partes, deveres, direitos, obrigações, prazos, valores, penalidades por descumprimento etc.

A cooperativa, para que tenha uma gestão de qualidade, deve discutir e criar normas para contratos.

Sendo a cooperativa agropecuária responsável direta por parte do fornecimento da alimentação para a população, deve-se ter bas-tante atenção sobre as responsabilidades de cada um, desde o produtor cooperado até chegar ao consumidor final. Logística de transporte, armazenagem, câmeras frias, industrialização direta ou terceirizada, entre outros, devem ser levados em consideração.

Essa questão atualmente é mais evidente devido à legislação que obriga a rastreabilidade do produto, ou seja, deve ficar explícito para o consumidor todo o processo, desde a produção até a sua mesa, identificando possíveis riscos à saúde que podem ocorrer com o consumo daquele produto.

Também é necessário conhecer a legislação aduaneira e a de outros

países quando o produto for destinado à exportação. Caso haja

algum dano à saúde do consumidor e ele não tenha sido alertado,

produtor e cooperativa poderão ser responsabilizados.

Na contratação de profissionais, como agrônomo, veterinário, técnico agrícola, contador, engenheiro etc., deve-se exigir no contrato a Responsabilidade Técnica – RT com registro no conselho da categoria profissional quando houver exigência para a execução da atividade, mesmo sendo cooperado.

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2. Gestão específica

Cooperativas em que os gestores, ou conselheiros, sempre tomam decisões pessoais relativas a contratos terão dificuldades de relacionamento entre os cooperados.

Essa prática pode resultar em frequências mínimas nas assembleias, visto que as decisões já foram previamente tomadas. “Todos podem dar suas opiniões à vontade, só que a decisão final é a minha” – este é um exemplo de postura de um gestor autoritário, que se esqueceu de que, na cooperativa, a gestão deve ser democrática. Todo sócio tem direito a um voto e à participação democrática nas decisões.

Fonte: Shutterstock

Como toda forma organizada de gestão, uma cooperativa deve ter uma estrutura organizacio-nal sólida e bem dividida. Todos os cooperados devem ter bom conhecimento das formas de gestão e funcionamento da sua cooperativa, das determinações legais e de todas as caracte-rísticas que garantam a condução de ações da maneira mais eficiente e harmoniosa possível.

Os gestores devem verificar se a cooperativa está em conformidade com os requisitos da Lei nº 5.764/71 a partir de um diagnóstico dos pontos fortes e das oportunidades, elaborando o plano de gestão para a melhoria das práticas cooperativistas para que a cooperativa tenha eficiência.

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A OCB/Sescoop desenvolve o Programa de Desenvolvimento da Gestão das Cooperativas – PDGC, que tem como objetivo principal a adoção de boas práticas de gestão e governança, o aprimoramento dos processos de produção, a redução de custos e o aumento da competitividade das cooperativas.

3. Análise de eficiência

Partindo do princípio de que eficiência é o meio de se fazer corretamente um processo de boa qualidade, no prazo e de forma acertada, para a análise da eficiência é necessário conhecer a situação atual da cooperativa por meio de um diagnóstico que deve levar em conta a observância dos princípios cooperativistas, como a livre adesão, a cooperação, a participação nos resultados etc.

Outro item fundamental para o diagnóstico da eficiência da cooperativa é a sua situação econômica. Como estão os cálculos de custo da cooperativa para o rateio? O valor deduzido de cada sócio é suficiente? Há recuperação das perdas? Como estão os registros financeiros de cada cooperado? O cooperado conhece os custos de produção da sua propriedade?

Fonte: Shutterstock

A partir desse levantamento, devem constar no plano de ações corretivas quais as providências serão tomadas para resolver ou minimizar o que não está em conformidade prejudicando a eficiência operacional do empreendimento. O plano deve mostrar, também, quem é o responsável, se o gerente ou o conselheiro, de que forma será comprovada a execução e o prazo.

Sobre as questões financeiras, por exemplo, isso pode se dar por meio de acompanhamento do fluxo de caixa diário, balancetes, balanço anual, capacitação para os cooperados sobre custos de produção, capacitação dos conselheiros etc.

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dComentário do autor

Há situações em que se pode verificar diariamente ou imediatamente se foi implantado um sistema de acompanhamento financeiro. Em outras, somente no balanço anual nas demonstrações contábeis.

Após a elaboração do plano, a eficiência de sua implantação deve ser aferida com a avaliação das variáveis previstas. Exemplo: a média de remuneração dos cooperados aumentou de x para x+1, e a produtividade aumentou de y para y+2 após um ano de implantação do plano. Está como foi previsto? Podemos, ainda, comparar com outras cooperativas ou mesmo com empresas. É bom lembrar que um plano deve ser sempre feito “com o pé no chão”. Nada de previsões de metas que, antecipadamente, já se sabe que serão difíceis de serem alcançadas.

Por isso, a análise da eficiência deve começar com um diagnóstico bem elaborado e, no caso da cooperativa, de forma democrática. Deve-se ter a reavaliação constante por meio do chamado “Ciclo PDCA” – planejar, desenvolver, controlar e avaliar. Da avaliação, refaz-se o planejamento para corrigir falhas ou melhorar o que ficou bom.

Para saber se a cooperativa está sendo eficiente, devem-se utilizar dados comparativos ou indicadores, internos e externos.

Tópico 8: Análises Estratégicas de Gestão das Organizações Sociais Agropecuárias Para que a cooperativa, a associação, o sindicato ou qualquer organização coletiva possa ter sucesso, é necessário que a administração seja realizada de forma planejada, prevendo o futuro. O impacto decorrente das crises pode ser minimizado com uma estratégia de gestão.

Como ocorre no Brasil atualmente com relação à seca, e que tem reflexos nas atividades econômicas e sociais, existem estudos sobre o comportamento da natureza que poderiam ser utilizados pelos governos, pelos empresários e pela população para minimizar os efeitos dos longos períodos de estiagem.

d

Comentário do autor

Assim ocorre nas organizações agropecuárias. Por que esperar a falta de chuva, ou enchente, para providenciar o socorro? Como diz o ditado, “É melhor prevenir que remediar”, porque remédio pode ficar muito caro. Se o produtor sabe que poderá faltar chuva, por que esperar a falta de pasto para comprar a ração com preço elevado ou deslocar o rebanho para outra região? Por que não se prevenir e construir um silo para o período de dificuldades? Esse tipo de raciocínio e atitude é o que chamamos de “análise estratégica” ou “gestão estratégica”.

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Para Bateman e Snell (1998), a administração estratégica é um processo envolvendo administradores de todos os níveis da organização, que formulam e implementam objetivos estratégicos. Já o planejamento estratégico seria o processo de elaboração da estratégia, na qual se definiria a relação entre a organização e os ambientes interno e externo, bem como os objetivos organizacionais, com a definição de estratégias alternativas.

O planejamento estratégico prevê o futuro da cooperativa em relação ao longo prazo. Ele consiste em saber o que deve ser executado e de que maneira para se garantir a sustentabilidade empresarial do negócio. Isso é crucial para o sucesso da organização, e a responsabilidade pela condução desse planejamento é da alta gestão, mas sempre com a participação máxima dos cooperados e com a assessoria de profissionais especializados.

Fonte: Shutterstock

O planejamento pode ser dividido em dois níveis: planejamento estratégico e planejamento operacional.

1. Planejamento estratégico

Em um planejamento estratégico, deve-se analisar e definir a MISSÃO, que é o objetivo fundamental da cooperativa, traduzindo sua finalidade, e que consiste na definição dos seus fins estratégicos gerais.

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Dica

Veja o exemplo: “Promover a valorização dos cooperados, através da geração de oportunidades de trabalho, propiciando melhoria de renda e ascensão social” (Coopifor).

Deve-se, também, no planejamento estratégico, definir a VISÃO do negócio, que é o estado futuro desejado e alinhado com as aspirações da cooperativa, algo que ela pode definir e redigir após responder à questão “Para onde pretendo ir?”; é o sonho, algo que ainda não tem, mas pode vir a ser real.

'

Dica

Como exemplo: “Prestar serviços de produção e comercialização de frutas atendendo às necessidades dos nossos clientes por meio da adoção de tecnologias e processos eficazes que garantam a qualidade dos nossos produtos, assegurando o crescimento socioeconômico dos cooperados e funcionários, contribuindo para o desenvolvimento regional.”

Devem-se, ainda, definir os VALORES, que são o conjunto de sentimentos que estrutura, ou pretende estruturar, a cultura e a prática da organização, como: ética, democracia, honestidade, transparência, responsabilidade socioambiental, satisfação dos clientes internos e externos, qualidade e comprometimento.

Para a elaboração do planejamento estratégico, a cooperativa deverá decidir sobre o objetivo, a análise da situação atual e as alternativas para solucionar ou minimizar os problemas.

Com essas informações discutidas e analisadas pelos gestores com a participação dos cooperados, deve ser elaborado o plano de ação considerando-se as questões técnicas e administrativas.

Análise SWOT ou FOFA

Para a análise desse cenário, ou análise do ambiente, pode ser utilizada a ferramenta denominada Análise SWOT, ou Análise FOFA, que é uma ferramenta utilizada como base para a gestão e o planejamento estratégico de uma corporação ou empresa, mas podendo, devido à sua simplicidade, ser utilizada para qualquer tipo de análise de cenário, desde a criação de um blog à gestão de uma multinacional.

A Análise FOFA é um sistema simples para posicionar ou verificar a posição estratégica da empresa no ambiente em questão. O termo “FOFA” deriva das letras iniciais das palavras “forças”, “oportunidades”, “fraquezas” e “ameaças”, conforme a imagem a seguir.

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OPORTUNIDADES AMEAÇAS

FORÇAS FRAQUEZAS

FORÇAS são os pontos positivos internos da cooperativa, como: pessoal administrativo capa-citado e estrutura adequada. São fatores nos quais a cooperativa pode intervir diretamente, mas que lhe dão sustentação e poder de mercado. A cooperativa deve utilizar o máximo pos-sível as suas forças.

OPORTUNIDADES são pontos positivos externos à cooperativa, como: mercado em cresci-mento, políticas públicas favoráveis, financiamentos etc. São pontos favoráveis, mas nos quais a cooperativa não pode intervir diretamente; no entanto, deve sempre analisar e aproveitar as oportunidades.

FRAQUEZAS são fatores negativos internos e que podem ser controlados pela cooperativa: equipamentos obsoletos, instalações inadequadas para as atividades, pessoal administrativo com pouca ou nenhuma qualificação, alto índice de endividamento dos sócios, pouca participação dos sócios etc. Detectadas as fraquezas, a gestão da cooperativa deve trabalhar duro para superá-las, sob risco de não ter sustentabilidade.

AMEAÇAS são fatores externos que dificultam as atividades e nos quais a cooperativa não tem como intervir diretamente. Mercado desfavorável para as atividades da cooperativa, fatores climáticos que afetam a produção agropecuária dos cooperados e, consequentemente, a cooperativa, e políticas públicas inadequadas são alguns exemplos de ameaças.

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Com base no diagnóstico FOFA, que deve ser compartilhado com os cooperados, os gestores da cooperativa devem proceder ao planejamento estratégico para aproveitar os pontos positivos e superar os pontos negativos.

Depois que as informações são levantadas, deve-se definir a ordem de prioridade das ações propostas.

Perceba sempre que:

• tem problema que é urgente;

• tem problema que é importante;

• tem problema que é importante, mas não é urgente;

• tem problema que é urgente, mas não é importante.

d

Comentário do autor

Vamos para um exemplo do dia a dia. Uma pessoa possui várias contas para pagar, mas o dinheiro não é suficiente para todas. Qual deve ser paga primeiro? Para alguns, é a conta de luz – se não pagar, a empresa “corta”. Para outras pessoas, é o cartão de crédito. Ainda para outras, seria a conta de celular. Tudo isso depende do grau de prioridade que cada pessoa confere aos bens e serviços que consome e paga.

Por isso, as prioridades devem ser bem discutidas, sobretudo em uma cooperativa, em que todos são donos e têm o direito de opinar sobre as prioridades do negócio.

A partir das discussões com os cooperados por meio da análise FOFA, que resulta no planejamento estratégico, dever ser elaborado o planejamento operacional, que poderá ter o seguinte roteiro:

• O que fazer? A atividade a ser executada;

• Como fazer? É o projeto descritivo da atividade;

• Quem fará? Definir o responsável ou os responsáveis pela execução e por sua prestação de contas;

• Quando? Cronograma de execução: início, término e período de execução;

• Onde? Local de realização;

• Quanto? Custos para a execução da atividade.

Acompanhe, agora, os requisitos do planejamento operacional.

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2. Planejamento operacional

Fonte: Shutterstock

Para o planejamento operacional, os fatores de risco devem ser considerados não como descrédito do plano, mas para prevenir eventuais insucessos.

Veja um exemplo possível de planejamento operacional.

• Problema: foi verificada grande quantidade de sócios inativos, que não operam com a cooperativa há mais de um ano.

• O que fazer? Verificar quem são, quantos são e o período de inatividade.

• Como? Por meio das informações registradas na cooperativa, repassar para o conselho de administração notificar individualmente os inativos para sensibilizá-los a voltarem a se relacionar com a cooperativa.

• Quem fará? O gerente da cooperativa, por exemplo.

• Quando? Imediatamente, finalizando até o último dia do próximo mês, com a comunicação formal pelo presidente da cooperativa, lembrando a hipótese da exclusão dos quadros da cooperativa por inatividade prolongada, conforme estatuto.

• Quanto? Levantar os custos de correio para envio de correspondência.

• Posteriormente serão analisados os resultados. Quantos cooperados foram excluídos? Quantos decidiram permanecer?

De nada adianta fazer todo o planejamento estratégico se o planejamento operacional não for feito e executado. Neste caso, além da perda de tempo, a sustentabilidade do negócio da cooperativa ficará comprometida no longo prazo.

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d

Comentário do autor

Mas outro erro comum é achar que o que está escrito no papel não pode ser mudado. De tempos em tempos, é fundamental reavaliar o planejamento e, à luz dos resultados, fazer as possíveis correções de rota. Nesse processo, é importante que tudo seja documentado.

O planejamento estratégico e o planejamento operacional darão eficiência à cooperativa, resultando na sua eficácia – isso, sim, será o cooperativismo desejado.

Tópico 9: Sistema OCB/SescoopOCB/Sescoop é a sigla que significa “Organização das Cooperativas Brasileiras/Serviço Nacio-nal de Aprendizagem do Cooperativismo”. Trata-se da organização institucional representati-va do cooperativismo brasileiro.

A Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB é o órgão máximo de representação das cooperativas no país. Ela foi criada em 1969 durante o IV Congresso Brasileiro de Cooperati-vismo. A entidade veio a substituir a Associação Brasileira de Cooperativas – Abcoop e a União Nacional de Cooperativas – Unasco. A unificação foi uma decisão das próprias cooperativas e representou um grande avanço institucional e político para a organização do cooperativismo nacional.

Entre suas atribuições, a OCB é responsável pela promoção, pelo fomento e pela defesa do sistema cooperativista, em todas as instâncias políticas e institucionais, pela preservação e pelo aprimoramento desse sistema, e pelo incentivo e pela orientação das sociedades cooperativas. Sua missão é promover um ambiente favorável para o desenvolvimento das cooperativas brasileiras por meio da representação político-institucional.

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Já o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo – Sescoop é integrante do chamado “Sistema S”, que congrega os sistemas nacionais de aprendizagem geridos pelas entidades representativas de classe. Foi criado pela Medida Provisória nº 1.715, de 3 de setembro de 1998, e suas reedições, e regulamentado pelo Decreto nº 3.017, de 6 de abril de 1999.

Seus objetivos são:

• organizar, administrar e executar o ensino de formação profissional, a promoção social dos empregados de cooperativas, cooperados e de seus familiares, e o monitoramento das cooperativas em todo o território nacional;

• operacionalizar o monitoramento, a supervisão, a auditoria e o controle em cooperativas;

• assistir as sociedades cooperativas empregadoras na elaboração e na execução de programas de treinamento e na realização de aprendizagem metódica e contínua;

• estabelecer e difundir metodologias adequadas à formação profissional e à promoção social do empregado de cooperativa, do dirigente de cooperativa, do cooperado e de seus familiares;

• exercer a coordenação, a supervisão e a realização de programas e de projetos de formação profissional e de gestão em cooperativas para empregados, associados e seus familiares;

• colaborar com o poder público em assuntos relacionados à formação profissional e à gestão cooperativista e outras atividades correlatas;

• divulgar a doutrina e a filosofia cooperativistas como forma de desenvolvimento integral das pessoas;

• promover e realizar estudos, pesquisas e projetos relacionados ao desenvolvimento humano, ao monitoramento e à promoção social, de acordo com os interesses das sociedades cooperativas e de seus integrantes.

A missão do Sescoop, por sua vez, é promover a cultura cooperativista e o aperfeiçoamento da gestão para o desenvolvimento das cooperativas brasileiras. A Organização das Cooperativas Brasileiras, por meio do Sescoop, oferece oportunidade de capacitação a todas as cooperativas e cooperados, além das assessorias técnica e pedagógica.

d

Comentário do autor

O cooperado deve sempre lembrar que a cooperativa é também dele e buscar o fortalecimento das atividades participando e fazendo sugestões, tanto nos períodos de fartura quanto nos períodos de dificuldades, e a melhor forma de participar é por meio de capacitações.

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Encerramento do Tema Neste tema, você pôde explorar conceitos aprofundados sobre o cooperativismo e viu que, mesmo com os desafios para a constituição e a gestão, o cooperativismo significa uma alternativa viável, comunitária e econômica para vários tipos de atividades, principalmente para o produtor rural, que participa atualmente de uma complexa cadeia produtiva.

A atividade rural, hoje, tem interferências em todo o mercado, desde a matéria-prima para a produção de componentes para indústrias de máquinas e equipamentos, até distribuidores, laboratórios, escolas especializadas, agentes financeiros, governos, produção de embalagens e transporte, e, por outro lado, após a produção, tem o beneficiamento, o atacadista, o varejista e o supermercado até chegar ao consumidor final.

O produtor rural é o responsável por fazer a alimentação chegar às mesas dos magnatas em restaurantes cinco estrelas e pelo cafezinho dos presidentes, assim como àquele que cada dia necessita buscar a sua sobrevivência em descartes de feiras e supermercados.

Enfim, o cooperativismo tem sido uma resposta positiva para superar esse desafio que hoje o empresário rural encontra a cada dia, mas que, com a cooperação de todos, facilita o acesso a tecnologias.

No próximo tema, você vai conhecer a importância do sindicalismo, que, além de promover o profissional, proporciona, junto com as associações e as cooperativas, a capacitação para que o produtor utilize as tecnologias disponíveis para aumento da produção, da produtividade e, consequentemente, da renda, gerando melhoria da qualidade de vida e enfrentando os desafios do dia a dia.

Atividade de aprendizagem 1. Qual é o motivo para as pessoas se unirem e formarem uma cooperativa? Marque a

alternativa correta.

a) Facilitar os trabalhos durante a exposição agropecuária que ocorre anualmente na cidade.

b) Reunir pessoas em uma atividade econômica para que, com a ajuda de todos, tenham mais lucro e melhoria de vida.

c) Sem a cooperativa, os produtores não poderão ter a vaquejada que será realizada anualmente na comunidade.

d) Unir as pessoas para a construção de um hospital para a comunidade.

e) Para que os filhos dos produtores rurais tenham acesso ao Fundo de Financiamento Estudantil – Fies com apoio dos vereadores.

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2. Qual item está corretamente relacionado à sociedade cooperativa?

a) É uma sociedade de capital.

b) É uma sociedade de pessoas.

c) O objetivo é o lucro.

d) É permitida a transferência de cotas a terceiros.

e) O voto nas assembleias é proporcional ao capital do sócio.

3. Qual das alternativas abaixo é considerada ato cooperado?

a) Venda direta da produção do produtor para o supermercado.

b) Financiamento pelo Pronaf.

c) Aquisição do adubo pelo produtor cooperado no armazém da cooperativa.

d) Aquisição do adubo pelo produtor não cooperado no armazém da cooperativa.

e) Financiamento direto com o Banco do Brasil.

4. O que é a OCB? Assinale a alternativa correta.

a) É um órgão do governo federal para decidir sobre questões relacionadas à produção rural do Brasil.

b) É a Organização de Cobrança do Brasil, criada por bancos cooperados, nacionais e internacionais, com a finalidade de manter as contas dos seus clientes em dia.

c) É o órgão máximo de representação das cooperativas do Brasil e tem sua sede em Genebra, na Suíça.

d) Com sede em Brasília, é o órgão máximo de representação das cooperativas do Brasil.

e) É a Organização dos Clubes de Basquete do Brasil, sem fins econômicos e que atua junto aos esportistas.

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5. Qual é o número mínimo de empresas necessário para criar uma cooperativa agropecuária singular? Marque a resposta correta.

a) 20.

b) 7.

c) Número mínimo para eleger o conselho.

d) Número mínimo para constituir o capital da cooperativa.

e) Nenhuma das respostas anteriores.

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Tema 3: SindicalismoO sindicalismo é um movimento social que preconiza a organização dos trabalhadores e profissionais em sindicatos representativos dos interesses trabalhistas e políticos dos associados. A história do sindicato confunde-se, portanto, com a do sindicalismo, vindo desde as antigas corporações de ofício da Idade Média, tendo se desenvolvido mais intensamente durante a Revolução Industrial na Inglaterra no século XVIII, daí se espalhando pelo mundo como forma de organização e luta dos trabalhadores pelos seus direitos trabalhistas e políticos.

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Ao final deste tema, espera-se que você desenvolva as seguintes competências:

• compreender a concepção moderna do sindicalismo;

• identificar as principais etapas históricas do sindicalismo rural;

• conhecer os princípios do sindicalismo;

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• compreender suas estruturas interna e externa;

• entender o funcionamento do sistema sindical sob a ótica das lideranças;

• conhecer o papel dos atores no sindicalismo rural;

• diferenciar o papel dos órgãos integrantes do sistema CNA.

Tópico 1: Aspectos Gerais e Históricos do SindicalismoA diferença de posição entre as partes nas relações trabalhistas é um fato que sempre acompanhou a luta entre os detentores da força de trabalho e dos meios de produção desde as primeiras formações dessa relação.

As organizações profissionais parecem ter origem nas mais remotas civilizações. Na Antiguidade, a divisão da sociedade se fundamentava na religiosidade e condicionava os homens a viverem predeterminados ao desenvolvimento de funções que confirmavam a manutenção da ordem estabelecida. Dessa forma, essas sociedades pouco contribuíram para o próprio desenvolvimento do que hoje podemos chamar de organização sindical.

1. Era romana

Os colégios romanos são considerados como as primeiras espécies de agremiações profissionais e tinham o objetivo de prestar assistência social aos trabalhadores que exerciam o mesmo ofício. Por meio da mútua ajuda, buscavam atender às suas necessidades de acordo com suas posições e condições de trabalho existentes na época.

Legenda: Foi na Roma Antiga que surgiram as primeiras agremiações de trabalhadores do mesmo ofício, como artesãos de couro.

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De acordo com Russomano (1995), com o progressivo desenvolvimento dos colégios, cresceu também a preocupação do Estado sobre eles, pois as associações começaram a exercer influência na condução dos negócios do Império. Por essa razão, passaram a surgir reações contrárias à formação dessas associações profissionais, tanto que, no ano 67 a.C., foi proibido, pelo senado romano, o seu funcionamento.

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No entanto, com a promulgação da Lex Júlio, em 56 a.C., o direito de associação foi regula-mentado em definitivo em Roma, e os colégios passaram a ter natureza privada, apesar de funcionarem como órgãos colaboradores do Estado e com isso ganharam força e relevância. Essa espécie de associação teve o seu fim com a derrocada do Império Romano.

dComentário do autor

Apesar dessa importância no desenvolvimento das organizações de classes, ainda não podemos dizer que os colégios romanos foram a origem do sindicato moderno.

2. Séculos XVII e XVIII

Muitos historiadores consideram as corporações de ofício na Idade Média, no século XVII, como o berço do sindicalismo. Isso porque também havia organização de classes profissionais com vontade coletiva, ainda que diferentes dos sindicatos modernos.

Essas corporações eram dotadas de uma rígida estrutura hierárquica constituída por mestres, companheiros e aprendizes, sem possibilidade de ascensão. Essa forte hierarquia levou ao envelhecimento e à extinção dessas instituições.

Legenda: O trabalho dos ferreiros era fortemente hierarquizado e não dava possibilidade de ascensão.Fonte: Shutterstock

Na Inglaterra, em 1720, surgiu a associação de trabalhadores alfaiates, que tinha como objetivo reivindicar melhores condições de salários e limitação da jornada de trabalho. Esse fato é considerado como a verdadeira origem do sindicalismo moderno. Esse tipo de associação foi proibido em 1799, sendo considerado ilícito penal o seu funcionamento. A França foi o primeiro país no qual ocorreu um movimento de contestação dos direitos sindicais que resultou no fim das corporações de trabalhadores. Após o movimento da revolução burguesa de 1789, foi editada a Lei Chapelier, que proibia, expressamente, o direito de associação entre os cidadãos de um mesmo estado ou profissão.

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3. Reconhecimento no século XIX

O sindicalismo só conseguiu se firmar depois do reconhecimento, pelo Estado Moderno, do direito de associação dos trabalhadores, que ocorreu no século XVIII sob grande influência dos ideais da Revolução Industrial. Ele surgiu como movimento contrário às repressões existentes desde o fim das corporações de ofício.

Enfim, em 1824, o parlamento inglês reconheceu o direito de associação dos trabalhadores, mesmo sem atribuir personalidade jurídica aos sindicatos e tampouco reconhecendo o direito de greve.

4. Sindicalismo no Brasil

Os primeiros passos do sindicalismo no Brasil surgiram após a independência, estando previsto já na sua primeira carta constitucional de 1824, ainda no período imperial. No campo das associações profissionais, essa Suprema Carta refletiu os movimentos que ocorriam na Europa, trazendo no seu art. 179 a proibição às corporações de ofício.

O fato que deu impulsão ao sindicalismo no Brasil ocorreu devido à chegada dos imigrantes europeus, que difundiram os ideais de organização de classes no intuito da defesa dos trabalhadores.

Legenda: Quando os colonos chegaram ao Brasil, trouxeram também suas organizações de classe trabalhadora.Fonte: Shutterstock

A primeira constituição republicana de 1891 não previu, expressamente, normas a respeito de associações sindicais, porém consagrou, no art. 72, § 8, o direito de livre associação e reunião. Pode-se considerar que esse tenha sido o primeiro passo para a organização e a formação da consciência do movimento sindical no Brasil.

Em 1907, o Decreto–Lei nº 1.637 regulamentou o artigo constitucional,

possibilitando o direito de constituir sindicatos.

Legenda: O ex-presidente Getúlio Vargas é lem-brado pela defesa da classe operária.

Fonte: Wikimedia Commons.

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Esse sindicalismo regulamentado foi um sindicalismo de ofício, ao agrado do Estado. No entanto, as leis re-pressivas tinham mais aplicabilidade, porque permi-tiam a expulsão de estrangeiros e o fechamento de associações vinculadas a danos, depredações incêndio etc., com o fim de controlar a organização sindical.

Depois de 1930, com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, o Estado passou a interferir mais sistema-ticamente nos assuntos trabalhistas. O Ministério do Trabalho foi criado, e, logo depois, em finais dos anos 1930, um decreto regulamentou a sindicalização das classes patronais e operárias.

Em 1934, a nova Constituição, de estilo mais democrata, reconheceu o princípio da pluralidade sindical, porém o Decreto nº 24.694, de 12 de julho de 1934, limitou a possibilidade de criação dos sindicatos em até três representativos de uma mesma categoria em uma

mesma base territorial estabelecida, bem como a implementação das Juntas de Conciliação e Julgamento para processos trabalhistas.

Posteriormente, essas conquistas dos sindicalistas foram suprimidas por causa da nova Constituição de 1937, que implementou o Estado-Novo. Tal Constituição proibiu a pluralidade sindical, não sendo reconhecido senão um único sindicato por cada profissão, ou seja, estabeleceu a unicidade sindical, e os interesses dos particulares ficaram submetidos aos interesses do Estado. Assim, para os sindicatos terem existência legal, necessitavam ser reconhecidos pelo Ministério do Trabalho.

Legenda A carteira de trabalho, conquista do trabalhador brasileiro, foi criada em 1943.

Fonte: Shutterstock

3. Reconhecimento no século XIX

O sindicalismo só conseguiu se firmar depois do reconhecimento, pelo Estado Moderno, do direito de associação dos trabalhadores, que ocorreu no século XVIII sob grande influência dos ideais da Revolução Industrial. Ele surgiu como movimento contrário às repressões existentes desde o fim das corporações de ofício.

Enfim, em 1824, o parlamento inglês reconheceu o direito de associação dos trabalhadores, mesmo sem atribuir personalidade jurídica aos sindicatos e tampouco reconhecendo o direito de greve.

4. Sindicalismo no Brasil

Os primeiros passos do sindicalismo no Brasil surgiram após a independência, estando previsto já na sua primeira carta constitucional de 1824, ainda no período imperial. No campo das associações profissionais, essa Suprema Carta refletiu os movimentos que ocorriam na Europa, trazendo no seu art. 179 a proibição às corporações de ofício.

O fato que deu impulsão ao sindicalismo no Brasil ocorreu devido à chegada dos imigrantes europeus, que difundiram os ideais de organização de classes no intuito da defesa dos trabalhadores.

Legenda: Quando os colonos chegaram ao Brasil, trouxeram também suas organizações de classe trabalhadora.Fonte: Shutterstock

A primeira constituição republicana de 1891 não previu, expressamente, normas a respeito de associações sindicais, porém consagrou, no art. 72, § 8, o direito de livre associação e reunião. Pode-se considerar que esse tenha sido o primeiro passo para a organização e a formação da consciência do movimento sindical no Brasil.

Em 1907, o Decreto–Lei nº 1.637 regulamentou o artigo constitucional,

possibilitando o direito de constituir sindicatos.

Legenda: O ex-presidente Getúlio Vargas é lem-brado pela defesa da classe operária.

Fonte: Wikimedia Commons.

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Em 1943, foi promulgado o Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio, que aprovou a Consolidação das Leis de Trabalho – CLT, de conteúdo espelhado no texto constitucional vigente e inspirada na legislação fascista italiana.

Por fim, em termos de Brasil, a Constituição Federal de 1988 trouxe uma grande evolução do direito sindical, pois concedeu a liberdade sindical, proibindo a interferência do Estado na organização dos sindicatos, mas, no entanto, manteve alguns resquícios da Carta de 1937 (unidade sindical, sindicalização por categoria etc.).

'Dica

Lembre-se de que no AVA você tem acesso a links e vídeos complementares aos assuntos tratados na unidade curricular!

Tópico 2: Legislação sobre Princípios, Liberdade Sindical e de OrganizaçãoA Organização Internacional do Trabalho – OIT estabelece que a atividade sindical deve ser regida por dois princípios básicos:

• o princípio da liberdade associativa e sindical;

• o princípio da autonomia sindical.

Fonte: Shutterstock

A Constituição de 1988 determina, no art. 8º:

É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:

I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical;

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II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município;

III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas;

IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei;

V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato;

VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho;

VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações sindicais;

VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei.

Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à organização de sindicatos rurais e de colônias de pescadores, atendidas as condições que a lei estabelecer.

d

Comentário do autor

Atenção a este ponto: a participação do trabalhador junto ao sindicato profissional é muito importante, no entanto a legislação não obriga a filiação em sindicato (inciso V do art. 8º). Mesmo assim, os benefícios decorrentes da negociação dos sindicatos serão extensivos a todos os profissionais da categoria, e é por isso que ficou assegurada na lei a contribuição sindical compulsória (obrigatória), que é distribuída para a manutenção do sistema sindical.

Tópico 3: Organização e Atividades SindicaisA organização sindical é regulamentada pela CLT, no Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, título V, “Da Organização Sindical”, capítulo I, “Da Instituição Sindical”, seção I, “Da Associação em Sindicato”.

Ela define, em seu artigo 511, que

é lícita a associação para fins de estudo, defesa e coordenação dos seus interesses econômicos ou profissionais de todos os que, como empregadores, empregados, agentes ou trabalhadores autônomos ou profissionais liberais exerçam, respectivamente, a mesma atividade ou profissão ou atividades ou profissões similares ou conexas.

Essa similaridade de condições na profissão ou no trabalho em comum compõe a expressão social compreendida como “categoria profissional”.

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d

Comentário do autor

Chamamos de “categoria profissional diferenciada” aquela que se forma dos empregados que exercem profissões ou funções diferenciadas por força de estatuto profissional especial ou em consequência de condições de vida singulares. São os exemplos de trabalhadores que atuam embarcados em alto-mar, por exemplo, que, por lei, têm horários e escalas de trabalho especiais.

Os limites de identidade, similaridade ou conexidade fixam as dimensões dentro das quais a categoria econômica ou profissional é homogênea e a associação é natural.

Fonte: Shutterstock

Sobre as atividades sindicais, o art. 512 da CLT determina: “Somente as associações profissionais constituídas para os fins e na forma do artigo anterior e registradas de acordo com o art. 558 poderão ser reconhecidas como Sindicatos e investidas nas prerrogativas definidas nesta Lei.”

Observe os deveres dos sindicatos a partir do artigo 514:

a) colaborar com os poderes públicos no desenvolvimento da solidariedade social;

b) manter serviços de assistência judiciária para os associados;

c) promover a conciliação nos dissídios de trabalho;

d) sempre que possível, e de acordo com as suas possibilidades, manter no seu quadro de pessoal, em convênio com entidades assistenciais ou por conta própria, um assistente social com as atribuições específicas de promover a cooperação operacional na empresa e a integração profissional na Classe. (Incluída pela Lei nº 6.200, de 16/4/1975)

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Parágrafo único. Os sindicatos de empregados terão, outrossim, o dever de: a) promover a fundação de cooperativas de consumo e de crédito; b) fundar e manter escolas do alfabetização e pré-vocacionais.

Tópico 4: Sindicalismo Rural – Regras e AtoresDepois de algumas décadas de vigor da Consolidação das Leis de Trabalho, atualmente, não mais se questiona o direito conferido aos trabalhadores. Essa condição de sindicalização se estende aos empresários rurais como uma das fundamentais garantias democráticas de liberdade e como decorrência de um princípio de igualdade em relação ao meio urbano.

No plano internacional, o Tratado de Versalhes prevê o direito de

associação para todos, sem discriminações, que inclui o pessoal do

campo.

Fonte: Wikimedia Commons

A Convenção nº 11, da OIT, da qual o Brasil é signatário, assegura igual direito, dispondo que

todo membro da Organização Internacional do Trabalho, que ratificar a presente Convenção, obriga-se a assegurar a todas as pessoas ocupadas na agricultura os mesmos direitos de associação e de coalização que o dos trabalhadores da indústria e a derrogar qualquer disposição legislativa ou de outra espécie, que tenha por fim prejudicar esses direitos no que respeita aos trabalhadores agrícolas.

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102 dComentário do autor

Vale destacar que a Convenção nº 87 da OIT (sobre liberdade sindical) não faz discriminação entre trabalhadores urbanos e rurais, fixando os mesmos princípios gerais em relação a ambos.

O sindicato tem o poder de representar institucionalmente os profissionais mediante instrumentos legais. Acompanhe a legislação!

A Constituição de 1988, no art. 8º, III, estabelece: ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas, sendo obrigatória a sua participação nas negociações coletivas de trabalho.

O art. 74, IV, § 2º, dispõe que qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União.

A CLT, no art. 513, define:

São prerrogativas dos sindicatos:

a) representar, perante as autoridades administrativas e judiciárias, os interesses gerais da respectiva categoria ou profissão liberal ou interesses individuais dos associados relativos à atividade ou profissão exercida;

b) celebrar contratos coletivos de trabalho;

c) eleger ou designar os representantes da respectiva categoria ou profissão liberal;

d) colaborar com o Estado, como órgãos técnicos e consultivos, no estudo e solução dos problemas que se relacionam com a respectiva categoria ou profissão liberal;

e) impor contribuições a todos aqueles que participam das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas.

Parágrafo Único. Os sindicatos de empregados terão, outrossim, a prerrogativa de fundar e manter agências de colocação.

Há dois princípios de organização do sindicalismo rural quanto aos critérios básicos a serem adotados na sua estrutura geral:

Princípio da paridade Princípio da diversidade

Não permite distinção entre o meio urbano e o rural, fixadas diretrizes comuns de sindicalização, tanto para o campo como para indústria e comércio.

Prevê leis especiais e diferentes para o meio rural, identificáveis em suas linhas básicas com as leis atribuídas ao sindicalismo urbano.

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No Brasil, passou-se do princípio da diversidade para o da paridade a partir do Estatuto do Trabalhador Rural (1963). Embora tal estatuto tenha sido revogado pela Lei nº 5.899, de 1973, esta manteve a paridade e as normas atinentes ao enquadramento sindical.

Em outras palavras, os critérios do sindicalismo urbano e os do rural foram unificados, mas é admitida a peculiaridade de tratamento na medida em que a norma constitucional transferiu para a lei ordinária a regulamentação da matéria.

A base legal para isso é a CLT (arts. 511 a 535; 537 a 552, 553, caput, “b”, “c”, “d”, “e”, §§ 1º e 2º; 554 a 562; 564 a 566; 570, caput; 601 a 603; 605 a 625), que regula a sindicalização rural, somada à Constituição Federal de 1988, que associa aos sindicatos rurais as disposições adotadas para os sindicatos urbanos.

1. Trabalhadores rurais

Os principais atores do sindicalismo rural são os trabalhadores rurais, os parceiros, os poceiros e os pequenos produtores, os proprietários rurais e todas as associações sindicais a eles vinculados: sindicatos, federações, confederações, associações etc.

Como você já estudou, a Constituição Federal de 1988 igualou o trabalhador rural ao trabalhador urbano, prevendo os mesmos direitos trabalhistas. O artigo 7º da Constituição prevê que:

São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos;

II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;

III - fundo de garantia do tempo de serviço;

IV - salário-mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;

V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;

VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;

VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável;

VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria;

IX - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;

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X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;

XI - participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei;

XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei;

XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; (vide Decreto-Lei nº 5.452, de 1943)

XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva;

XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;

XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento do normal;

XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal;

XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias;

XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei;

XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei;

XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei;

XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;

XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;

XXIV - aposentadoria;

XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até cinco anos de idade em creches e pré-escolas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;

XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei;

XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;

XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 28, de 25/5/2000)

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Associativismo, Cooperativismo e Sindicalismo

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XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;

XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência;

XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos;

XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)

XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso.

dComentário do autor

Atenção! É importante que você, enquanto trabalhador, conheça os seus direitos e obrigações, independentemente do sindicato. O sindicato tem a obrigação de representar a categoria profissional e prestar apoio jurídico.

Já a Lei nº 5.889, de 8 de junho de 1973, define no art. 2º que “empregado rural é toda pessoa física que, em propriedade rural ou prédio rústico, presta serviços de natureza não eventual a empregador rural, sob a dependência deste e mediante salário.”

Observe que, quanto à categoria de segurados pela Previdência Social, o trabalhador rural também pode ser empregado ou contribuinte individual. Acompanhe as características de cada.

EmpregadoNesta categoria estão os trabalhadores com carteira assinada e os trabalhadores temporários.

Contribuinte individual

Nesta categoria estão as pessoas que trabalham por conta própria (autônomos), os empresários e os trabalhadores que prestam serviços de natureza eventual a empresas, sem vínculo empregatício. Também podem ser os associados de cooperativas de trabalho e outros.

2. Produtor ou empregador rural

Alguns produtores rurais têm dúvidas quanto à sua categoria. A definição depende de cada atividade e da maneira de exercê-la. Por isso, é importante que tenham conhecimento básico da legislação para o seu enquadramento. Acompanhe a lei, descrita a seguir.

A Instrução Normativa nº 3 de 2005 da Receita Federal estabelece, no art. 240, que se entende por produtor rural:

I - produtor rural, a pessoa física ou jurídica, proprietária ou não, que desenvolve, em área urbana ou rural, a atividade agropecuária, pesqueira ou silvicultura, bem como

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a extração de produtos primários, vegetais ou animais, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por intermédio de prepostos, sendo:

a) produtor rural pessoa física:

1. o segurado especial que, na condição de proprietário, parceiro, meeiro, comodatário ou arrendatário, pescador artesanal ou a ele assemelhado, exerce a atividade individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, bem como seus respectivos cônjuges ou companheiros e filhos maiores de dezesseis anos ou a eles equiparados, desde que trabalhem comprovadamente com o grupo familiar, conforme definido no art. 10;

2. a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agropecuária ou pesqueira, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por intermédio de prepostos e com auxílio de empregados, utilizados a qualquer título, ainda que de forma não contínua;

b) produtor rural pessoa jurídica:

1. o empregador rural que, constituído sob a forma de firma individual ou de empresário individual, assim considerado pelo art. 931 da Lei nº 10.406, de 2002 (Código Civil), ou sociedade mercantil, tem como fim apenas a atividade de produção rural, observado o disposto no inciso III do § 2º do art. 250 desta Instrução Normativa;

2. a agroindústria que desenvolve as atividades de produção rural e de industrialização, tanto da produção rural própria ou da adquirida de terceiros, observado o disposto no inciso IV do § 2º do art. 250 desta IN.

d

Comentário do autor

É importante enfatizar que há trabalhadores da atividade urbana que, quando chegam à idade para se aposentar, adquirem sítios ou chácaras com o objetivo de tentar o enquadramento na previdência como segurado especial.

Na maioria dos casos, as pessoas não podem ser enquadradas como segurado especial. A Previdência Social tem se especializado em combater esse tipo de fraude, e essa prática pode gerar processo criminal e devolução do dinheiro da seguridade.

3. Agricultura familiar e sindicalismo

Nas duas últimas décadas, vem ocorrendo a construção da categoria “agricultura familiar” como modelo de agricultura e como identidade política de grupos de agricultores. Como você já estudou no Tema 1, foram criadas políticas públicas específicas de estímulo aos agricultores familiares (como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf, em 1995) e secretarias de governo orientadas para trabalhar com a categoria (como a Secretaria da Agricultura Familiar, criada em 2003 no âmbito do Ministério do Desenvolvimento Agrário, criado em 1998).

Promulgou-se, ainda, a Lei da Agricultura Familiar (Lei nº 11.326 de 24 de julho de 2006), que reconheceu oficialmente a agricultura familiar como profissão no mundo do trabalho, e foram

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Associativismo, Cooperativismo e Sindicalismo

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criadas novas organizações de representação sindical com vistas a disputar e a consolidar a identidade política de agricultor familiar, a exemplo da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar – Fetraf.

d

Comentário do autor

Podemos dizer que a criação de instituições representativas de novas categorias profissionais do agronegócio está lentamente se desenvolvendo, como mostra a representatividade da agricultura familiar.

Lembrando que o sindicalismo rural brasileiro foi criado na década de 1960, seguindo o modelo do sindicalismo urbano, as legislações subsequentes foram montadas em cima do princípio da unicidade sindical; portanto, toda a diversidade de grupos sociais e de situações de trabalho rural foi enquadrada na categoria “trabalhador rural”, sejam eles assalariados, pequenos proprietários, arrendatários ou posseiros.

Felizmente, a agricultura familiar está puxando de forma positiva a criação de novas instituições representativas desse setor.

4. Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – Contag

A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – Contag completou 50 anos de fundação em 22 de dezembro de 2013. São cinco décadas na luta em busca de melhores condições de vida e de trabalho para a categoria trabalhadora rural. Sua trajetória é fruto da organização, do trabalho, da articulação e da mobilização dos mais de quatro mil Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – STTRs e das 27 Federações de Trabalhadores na Agricultura – FETAGS filiadas, que compõem com a Contag o Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – MSTTR.

Foto: Cesar Ramos (CONTAG, 2015)

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A ideia de sua criação deu-se em uma época em que ocorriam sucessivos conflitos agrários e era necessário organizar os movimentos de camponeses espalhados pelo Brasil. Reconhecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego em 31 de janeiro de 1964, tornou-se a primeira entidade sindical do campo de caráter nacional.

A confederação iniciou sua atuação no momento em que se discutiam as reformas de base, inclusive a reforma agrária. Em 1964, o presidente João Goulart foi deposto com o apoio dos latifundiários. O regime militar, implantado no país, reprimiu todos os movimentos populares, inclusive suas lideranças e políticos comprometidos com as reformas de base. A Contag sofreu intervenção, e o primeiro presidente da entidade, Lyndolpho Silva, foi preso e exilado. Outras lideranças e dirigentes sindicais foram torturados, exilados e assassinados.

Entre 1968 e 1969, período do Ato Institucional nº 5 – AI-5, os trabalhadores e as trabalhadoras rurais realizaram um amplo movimento para retirar a Contag das mãos do interventor. Após a retomada, a confederação intensificou o processo de organização sindical e politização da categoria trabalhadora rural, fato que resultou no crescimento de sindicatos e sindicalizados em todo o país. Em 1979, o MSTTR contava com mais de cinco5 milhões de associados.

A Contag integrou, com outros movimentos sociais, a vanguarda na luta contra a ditadura militar e pela redemocratização do Brasil, reivindicando uma ampla e irrestrita anistia política, eleições diretas e a convocação da Assembleia Nacional Constituinte.

Durante a Constituinte, a entidade participou ativamente das discussões que envolviam os interesses da população do campo, alcançando significativas conquistas, como a inclusão dos trabalhadores rurais no Regime Geral da Previdência Social e a extensão dos direitos trabalhistas aos assalariados rurais.

Internamente, a Contag concentrou esforços em ampliar a participação de todos os segmentos da categoria, assegurando a integração das mulheres, dos jovens e das pessoas da terceira idade em suas mobilizações e instâncias deliberativas.

d

Comentário do autor

Portanto, historicamente podemos dizer que esses 50 anos foram marcados pelas constantes mobilizações em defesa dos interesses dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais. Entre os mais importantes, podemos destacar o Grito da Terra Brasil, a Marcha das Margaridas, o Festival da Juventude e a Mobilização dos Assalariados Rurais, que continuam conquistando melhorias para toda a população do campo.

A Contag é referência no país na luta pela construção de uma sociedade mais justa, democrática e igualitária, e na defesa permanente dos interesses dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais.

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5. Contribuição sindical rural

Você já estudou sobre a obrigatoriedade da contribuição sindical, ainda que não seja obrigatório que o trabalhador se sindicalize. Neste momento, você vai conhecer um pouco das regras da contribuição sindical rural.

A contribuição sindical dos empregados, devida e obrigatória, será descontada em folha de pagamento de uma só vez no mês de março de cada ano e corresponderá à remuneração de um dia de trabalho. O artigo 149 da Constituição Federal prevê a contribuição sindical, concomitantemente com os artigos 578 e 579 da CLT, os quais preveem tal contribuição a todos que participem das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais (vide Decreto-Lei nº 229, de 1967 e Lei nº 11.648, de 2008).

A contribuição sindical rural é feita anualmente por meio de guia de recolhimento enviada ao produtor rural, já preenchida com o valor da contribuição, e pode ser paga em qualquer agência bancária, também sendo disponibilizada nos sites das federações. A data de vencimento para pessoas jurídicas é 31/1 e, para pessoas físicas, 22/5.

O cálculo da contribuição sindical rural é efetuado com base nas informações prestadas pelo proprietário rural ao Cadastro Fiscal de Imóveis Rurais – Cafir, administrado pela Secretaria da Receita Federal. De acordo com o § 1º do artigo 4º do Decreto-Lei nº 1.166/71, devem-se observar as distinções de base de cálculo para os contribuintes pessoas físicas e jurídicas:

1º - Pessoa Física – a contribuição é calculada com base no Valor da Terra Nua Tributável – VTNT da propriedade, constante no cadastro da Secretaria da Receita Federal, utilizado para lançamento do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural – ITR.

2º - Pessoa Jurídica – a contribuição é calculada com base na Parcela do Capital Social – PCS atribuída ao imóvel.

Estão obrigados a contribuir o empresário ou empregador rural, pessoa física ou jurídica, que empreendem a qualquer título a atividade rural, proprietário ou não, mesmo sem empregado, ainda que em regime de economia familiar, ou seja, explore o imóvel rural que lhe garanta a subsistência, em área superior a dois módulos rurais da respectiva região.

d

Comentário do autor

Dentre as perguntas mais comuns quando o assunto é sindicalismo, está a seguinte: “Para onde vai o imposto sindical?”

Acompanhe!

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A art. 589 da CLT estabelece que, da importância da arrecadação da contribuição sindical, serão feitos os seguintes créditos pela Caixa Econômica Federal, na forma das instruções que forem expedidas pelo Ministro do Trabalho:

I - para os empregadores:

a) 5% (cinco por cento) para a confederação correspondente;

b) 15% (quinze por cento) para a federação;

c) 60% (sessenta por cento) para o sindicato respectivo; e

d) 20% (vinte por cento) para a “Conta Especial Emprego e Salário”’;

II - para os trabalhadores:

a) 5% (cinco por cento) para a confederação correspondente;

b) 10% (dez por cento) para a central sindical;

c) 15% (quinze por cento) para a federação;

d) 60% (sessenta por cento) para o sindicato respectivo; e

e) 10% (dez por cento) para a “Conta Especial Emprego e Salário”.

§ 1º O sindicato de trabalhadores indicará ao Ministério do Trabalho e Emprego a central sindical a que estiver filiado como beneficiária da respectiva contribuição sindical, para fins de destinação dos créditos previstos neste artigo.

d

Comentário do autor

Portanto, como você pôde constatar, 60% (a maior parte) vai para o seu sindicato no município.

Você sabe como pode ser usada a contribuição sindical?

Os sindicatos poderão destacar, em seus orçamentos anuais, até 20% dos recursos da contribuição sindical para o custeio das suas atividades administrativas, independentemente de autorização.

A contribuição sindical, além das despesas vinculadas a arrecadação, recolhimento e controle, será aplicada pelos sindicatos, na conformidade dos respectivos estatutos, usando aos seguintes objetivos:

I - Sindicatos de empregadores e de agentes autônomos:

a) assistência técnica e jurídica;

b) assistência médica, dentária, hospitalar e farmacêutica;

c) realização de estudos econômicos e financeiros;

d) agências de colocação;

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Associativismo, Cooperativismo e Sindicalismo

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e) cooperativas;

f) bibliotecas;

g) creches;

h) congressos e conferências;

i) medidas de divulgação comercial e industrial no país e no estrangeiro, bem como em outras tendentes a incentivar e aperfeiçoar a produção nacional;

j) feiras e exposições;

l) prevenção de acidentes do trabalho;

m) finalidades desportivas.

II - Sindicatos de empregados:

a) assistência jurídica;

b) assistência médica, dentária, hospitalar e farmacêutica;

c) assistência à maternidade;

d) agências de colocação;

e) cooperativas;

f) bibliotecas;

g) creches;

h) congressos e conferências;

i) auxilio-funeral;

j) colônias de férias e centros de recreação;

l) prevenção de acidentes do trabalho;

m) finalidades desportivas e sociais;

n) educação e formação profissional;

o) bolsas de estudo.

III - Sindicatos de profissionais liberais:

a) assistência jurídica;

b) assistência médica, dentária, hospitalar e farmacêutica;

c) assistência à maternidade;

d) bolsas de estudo

e) cooperativas;

f) bibliotecas;

g) creches;

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h) congressos e conferências;

i) auxílio-funeral;

j) colônias de férias e centros de recreação;

l) estudos técnicos e científicos;

m) finalidades desportivas e sociais;

n) educação e formação profissional;

o) prêmios por trabalhos técnicos e científicos.

IV - Sindicatos de trabalhadores autônomos:

a) assistência técnica e jurídica;

b) assistência médica, dentária, hospitalar e farmacêutica;

c) assistência à maternidade;

d) bolsas de estudo;

e) cooperativas;

f) bibliotecas;

g) creches;

h) congressos e conferências;

i) auxílio-funeral

j) colônias de férias e centros de recreação;

l) educação e formação profissional;

m) finalidades desportivas e sociais.

dComentário do autor

Para poder realizar isso tudo, além da contribuição sindical, os sindicatos podem cobrar, ainda, a contribuição social e a mensalidade sindical. Veja a seguir.

6. Contribuição social e mensalidade sindical

A contribuição assistencial ou social, conforme prevê o artigo 513 da CLT, alínea “e”, poderá ser estabelecida por meio de acordo ou convenção coletiva de trabalho com o intuito de sanear gastos do sindicato da categoria representativa.

Já a mensalidade sindical é uma contribuição que o sócio sindicalizado faz, facultativamente (conforme art. 5º, inciso XX da CF), a partir do momento em que opta filiar-se ao sindicato

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representativo. Essa contribuição normalmente é feita por desconto mensal em folha de pagamento, no valor estipulado em convenção coletiva de trabalho.

dComentário do autor

É importante que o trabalhador e o produtor rural conheçam as contribuições obrigatórias. A contribuição sindical, ou o chamado “imposto sindical”, pode ser cobrada judicialmente, com a inscrição do débito na dívida ativa.

Todas as penalidades aplicáveis ao não pagamento da contribuição sindical estão previstas nos artigos 602 e seguintes da CLT, podendo, inclusive, promover a respectiva cobrança judicial mediante ação executiva por falta de pagamento da referida contribuição.

Tópico 5: Sistema Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNAO Sistema Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA é uma organização que representa perante o governo federal as federações da agricultura (que trabalham nos estados) e os sindicatos rurais no âmbito dos municípios, defendendo de forma unificada os interesses dos produtores rurais brasileiros. Além do Executivo, também é papel da CNA representar as entidades perante o Congresso Nacional e os tribunais superiores do Poder Judiciário, nos quais dificilmente um produtor, sozinho, conseguiria obter respostas para as suas demandas.

CNA

27 federaçõesde agricultura

1949 sindicatos rurais 1123 extensões de base

1.7 milhões de produtoresrurais associados (voluntários)

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O Sistema CNA abrange três entidades:

• a CNA, que faz a representação e a defesa dos interesses dos produtores rurais;

• o SENAR, encarregado da formação profissional rural e da promoção social, promovendo todos os níveis de ensino para o campo;

• o Instituto CNA, uma associação civil sem fins lucrativos que desenvolve estudos e pesquisas sociais e do agronegócio, atendendo às demandas do Sistema CNA/Senar.

1. A importância da CNA na vida do produtor rural

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA é responsável por congregar associações e lideranças políticas e rurais em todo o país. A CNA também apoia a geração de novas tecnologias e a criação de agroindústrias responsáveis por aumentar a produtividade rural. Outra grande iniciativa da entidade é a cooperação e o apoio aos programas regionais de desenvolvimento agrícola, especialmente aqueles que se destinam a reduzir as desigualdades geoeconômicas em todos os estados brasileiros.

Missão

A CNA tem como missão representar, organizar e fortalecer os produtores rurais brasileiros. Ela também defende seus direitos e interesses, promovendo o desenvolvimento econômico e social do setor agropecuário. Para tudo isso se tornar realidade, a CNA congrega associações e lideranças rurais, e participa de forma ativa e permanente das discussões e decisões sobre a política nacional agrícola.

Objetivos

• Unir a classe produtora rural.

• Defender o homem do campo e a economia agrícola.

• Valorizar a produção agrícola e a preservação do meio ambiente associada ao desenvolvimento da agropecuária e da produção de alimentos.

• Defender do livre comércio de produtos da agropecuária e agroindústria.

• Buscar e demonstrar o correto conhecimento dos problemas e das soluções apropriadas às questões da categoria econômica.

A CNA é dirigida por uma diretoria executiva, subordinada ao conselho de representantes, órgão máximo da instituição, composto por um colégio de 27 presidentes das federações da agricultura. Sua atribuição é definir políticas e ações em favor dos interesses dos produtores rurais. O conselho se reúne, ordinariamente, duas vezes por ano, podendo convocar reuniões extraordinárias.

'Dica

Não se esqueça: no AVA você tem acesso a links e vídeos complementares aos assuntos tratados na unidade curricular!

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2. Federações de agricultura e sindicatos municipais

As federações de agricultura e pecuária nos estados são parte integrante do Sistema Patronal Rural, que tem como entidade líder a CNA, e representam os produtores rurais de todo o estado.

Ao lado dos sindicatos rurais, defendem os interesses políticos, econômicos e sociais da cate-goria, e propõem soluções alternativas para as questões relativas às atividades agropecuárias em busca da melhoria da qualidade de vida e da geração de emprego e renda.

As federações, juntamente com o Senar, que é parte do sistema e você vai conhecer melhor a seguir, buscam capacitar as pessoas do meio rural associadas, direta ou indiretamente, aos processos produtivos agrossilvipastoris por meio de cursos de Formação Profissional Rural – FPR e Promoção Social – PS.

Sobre os representantes municipais dos produtores, os dados da CNA apontam que existem no Brasil 1.949 sindicatos rurais e 1.123 extensões de base, atendendo a 1,7 milhão de produtores rurais associados.

Com o apoio da CNA e das federações, os sindicatos dos produtores rurais atuam nos municípios em apoio direto ao produtor agindo na defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas.

O Sistema CNA/Senar criou o programa Sindicato Forte para melhorar o atendimento prestado aos produtores rurais, verdadeiros clientes dos sindica-tos e de todo o Sistema CNA/Senar, buscando ainda estimular as boas práticas sindicais.

3. Entidades do Sistema CNA/Senar

O Sistema CNA/Senar é dividido entre Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Senar e Instituto CNA – ICNA.

Senar

O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Senar abre oportunidades para homens e mulheres que desejam ampliar seus conhecimentos para impulsionar a produtividade com preservação ambiental e melhorar a renda e a qualidade de vida no campo.

Criado pela Lei nº 8.315, de 23/12/91, é uma entidade de direito privado, paraestatal, mantida pela classe patronal rural, vinculada à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA e administrada por um conselho deliberativo tripartite. É integrante do chamado Sistema S e tem como função cumprir a missão estabelecida pelo seu conselho deliberativo, composto por representantes do governo federal e das classes trabalhadora e patronal rural.

SINDICATOFORTE

PROGRAMA ESPECIAL

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Curso Técnico em Agronegócio

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A produção nos campos brasileiros avançou com a ciência e a tecnologia, colocando o Brasil entre os maiores produtores de alimentos do mundo. O Senar contribui para essa mudança com ações de Formação Profissional Rural, atividades de Promoção Social, ensino técnico de nível médio, presencial e a distância, ensino superior e de pós-graduação e produção assistida.

d

Comentário do autor

É interessante destacar que o Senar atende, gratuitamente, dois milhões de brasileiros do meio rural todos os anos, contribuindo para sua profissionalização, sua integração na sociedade, a melhoria da sua qualidade de vida e o pleno exercício da cidadania.

As 27 administrações regionais do Senar promovem cursos e capacitações para desenvolver competências profissionais e sociais em aproximadamente 300 profissões do meio rural, e a sua Administração Central também possui um portfólio de programas especiais.

Nos últimos quatro anos, a entidade ampliou, significativamente, o seu leque de ofertas educativas de Formação Profissional Rural – FPR, Promoção Social – PS e educação profissional técnica e superior, e tem concentrado esforços na busca de novas parcerias para ampliar ainda mais o atendimento das necessidades de formação e qualificação no campo.

Veja alguns marcos:

• O Senar passou a fazer parte do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – Pronatec, em 2011, expandindo a oferta de cursos para jovens e adultos do Brasil rural.

• Em 2013, sinalizou um novo caminho para ofertar, também, cursos técnicos, presenciais e a distância. Aderiu à Rede e-Tec Brasil e, em 2014, passou a oferecer curso técnico de nível médio a distância, sendo parte da carga horária total em polos de apoio presencial criados em vários estados.

• Em 2013, o Senar Nacional iniciou a oferta de educação superior por meio do curso Tecnologia em Gestão do Agronegócio.

Com a enorme capilaridade que tem e por acreditar que pode contribuir ainda mais para a multiplicação do conhecimento, o Senar criou um programa de As-sistência Técnica Gerencial com Meritocracia. A pro-dução assistida da entidade auxilia, principalmente, os produtores rurais das classes C, D e E que não têm acesso à assistência técnica e às novas tecnologias.

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Comentário do autor

Pensando que a agropecuária brasileira tem hoje um nível elevado de sofisticação de suas operações, novas carreiras e novos perfis profissionais, o Senar tem papel importante nesse cenário. Os requisitos de cada cadeia produtiva – do laboratório de pesquisa até o ponto de venda no supermercado, na feira ou no porto – demandam diversas habilidades e competências.

Portanto, podemos dizer que o Senar é a escola que tira a tecnologia das prateleiras e a leva ao campo onde há necessidade, e aplica as pesquisas onde há demanda.

Realizar Educação Profissional e Promoção Social das pessoas do meio rural, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e para o desenvolvimento sustentável do país – essa é a finalidade do Senar.

Ao profissionalizar e oferecer atividades de Promoção Social no meio rural nas modalidades estabelecidas, o Senar contribui efetivamente para o aumento de renda, a integração e a ascensão social das pessoas a partir dos princípios de sustentabilidade, produtividade e cidadania, colaborando, também, para o desenvolvimento socioeconômico do país.

Acompanhe os princípios do Senar!

• Organizar, administrar, executar e supervisionar, em todo o território nacional, o ensino da Formação Profissional Rural e da Promoção Social das pessoas do meio rural.

• Com base nos princípios da livre iniciativa, da economia de mercado e das urgências sociais, aprimorar as estratégias educativas e difundir metodologias para ofertar ações adequadas de Formação Profissional Rural e Promoção Social ao seu público.

• Assessorar os governos federal e estadual em assuntos relacionados com a formação de profissionais rurais e atividades assemelhadas.

• Expandir parcerias e consolidar alianças públicas e privadas com o objetivo de cumprir a missão institucional.

• Estimular a pesquisa e garantir o acesso à inovação rural.

• Fortalecer e modernizar o sistema sindical rural.

• Aperfeiçoar os mecanismos de planejamento, monitoramento e avaliação de desempenho institucional.

• Promover a cidadania, a qualidade de vida e a inclusão social das pessoas do meio rural.

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Os recursos do Senar se originam de quatro fontes específicas – um tipo de pessoa física e três tipos de pessoa jurídica. Acompanhe.

FONTES DE RECURSOS CÁLCULO DA CONTRIBUIÇÃO

a) Produtor rural – pessoa física, empregador e segurado especial:

0,20% sobre o valor bruto da comercialização de sua produção agrossilvipastoril

b) Produtor rural – pessoa jurídica:0,25% sobre o valor bruto da comercialização de sua produção agrossilvipastoril

c) Agroindústrias (produtor rural – pessoa jurídica):

0,25% sobre o valor da receita bruta proveniente da comercialização da produção industrializada ou não

d) Outras pessoas jurídicas (sindicatos patronais rurais; federações da agricultura e da confederação da agricultura e pecuária do Brasil; prestadores de serviço de mão de obra rural constituídos como PJ; agroindústrias de piscicultura, carcinicultura, suinocultura e avicultura (somente com relação aos empregados que atuam na área rural); agroindústrias que se dedicam apenas ao florestamento e ao reflorestamento.

2,5% sobre a folha de pagamento

Instituto CNA – ICNA

O Instituto CNA é uma associação civil sem fins lucrativos. Criado em 26 de março de 2009, desenvolve estudos e pesquisas sociais e do agronegócio, atendendo a demandas do Sistema CNA/Senar. Desenvolve, ainda, tecnologias alternativas para a produção e a divulgação de informações técnicas e científicas, com foco no meio rural brasileiro.

O trabalho realizado no Instituto CNA traz uma importante contribuição para a formulação de propostas de políticas públicas, nas quais o beneficiário é a população rural brasileira.

O ICNA tem como missão o desenvolvimento integral das pessoas que vivem no meio rural, oferecendo-lhes os mesmos acessos que são conferidos ao meio urbano.

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d

Comentário do autor

O ICNA tem uma história interessante: em 2009, o Instituto realizou uma pesquisa sobre os “vazios institucionais”, ou seja, as desproteções que afetam a população rural brasileira. As informações recolhidas formam um panorama sobre a vida e as dificuldades das pessoas da zona rural, descrevendo como estão os acessos aos serviços básicos de saúde, educação e cultura.

Com base nessa pesquisa, já foram elaborados programas e projetos que passaram a fazer parte do portfólio de ações do Sistema CNA/Senar para minimizar as dificuldades e propor soluções duradouras para as comunidades rurais.

Encerramento do Tema Os conhecimentos sobre sindicalismo adquiridos nesta etapa do curso proporcionaram uma visão da atuação do trabalhador e do produtor rural como profissional, conhecendo seus direitos e suas obrigações.

Vimos, também, a importância da participação do produtor e do trabalhador junto ao sindicato rural do seu município e as oportunidades de capacitação que o sistema sindical, por meio do Senar, oferece para que se possa acompanhar a evolução do mercado.

Os produtores e trabalhadores rurais juntos e organizados em associações, cooperativas e sindicatos terão mais oportunidades e condições para a melhoria da qualidade de vida.

Atividade de aprendizagem

1. Por que as pessoas se associam em sindicatos? Assinale a resposta correta.

a) Porque é obrigado filiar-se ao sindicato para ter direitos trabalhistas.

b) Para facilitar a reivindicação dos direitos trabalhistas.

c) Para ter direito ao fundo de garantia quando for demitido da empresa ou pelo patrão.

d) Para que o banco possa financiar os projetos da atividade rural, como a construção do curral e a compra do gado.

e) Para pagamento da contribuição sindical.

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2. Pode ser constituído no município mais de um sindicato da mesma categoria profissional? Marque a resposta correta.

a) Poderá haver mais de um sindicato de trabalhadores rurais no município, desde que seja aprovado em assembleia geral.

b) Se os escritórios ficarem a mais de 100 quilômetros distantes um do outro, para facilitar, a diretoria pode propor a criação de outro, mas deve ser aprovado pela maioria presente na assembleia. A assembleia é soberana.

c) A lei não permite a criação de mais de um sindicato da mesma categoria profissional na mesma base territorial.

d) Se o Ministério do Trabalho e o INSS concordarem, poderá ser discutida com o pessoal da Federação dos Trabalhadores do Estado a criação de um novo sindicato de trabalhadores no mesmo município se conseguir cadastrar mais de dois mil trabalhadores rurais.

e) Poderá ser criado mais de um sindicato no município desde que haja autorização da prefeitura.

3. O que é o Senar?

a) O Senar é uma empresa criada pelo governo federal, com apoio da maioria da Câmara dos Deputados e do Senado, para atender aos fabricantes de máquinas e equipamentos agrícolas, facilitando o trabalho no campo.

b) O Senar, vinculado ao CNA, é uma instituição privada, responsável pela capacitação profissional e promoção social do produtor, do trabalhador rural e de seus familiares.

c) O Senar, Serviço Nacional de Atendimento aos Recursos Naturais, é um órgão publico para atendimento ao Ministério da Agricultura.

d) O Senar atua apenas para atender aos grandes produtores rurais, pois apenas eles contribuem com a sua manutenção.

e) É uma empresa paraestatal, que atua com orientações diretas do governo federal, criada para atuar com o saneamento rural do Brasil, vinculado ao Banco Central.

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4. A contribuição sindical que cada sindicato recebe pode ser aplicada nas seguintes atividades, exceto:

a) Assistência jurídica.

b) Assistência médica, hospitalar, dentária e farmacêutica.

c) Congressos e conferências.

d) Aplicar mais de 50% anualmente para custeio da administração do sindicato.

e) Finalidades desportivas e sociais.

5. O Decreto–Lei nº 5.452/43 permite a aplicação de no máximo 20% para custeio do sindicato anualmente. Após a sua criação, quem deve assinar o reconhecimento da associação como sindicato? Marque a opção correta.

a) Presidente da República.

b) Governador do estado.

c) O juiz de direito da comarca.

d) O Ministro do Trabalho.

e) A Contag.

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Atividade extra: Análise Conceitual ComparativaPara encerrar esta unidade curricular, tente elaborar um quadro comparativo entre as três categorias estudadas: as associações, as cooperativas e os sindicatos.

O objetivo é identificar e analisar os institutos sob as formas simétrica e assimétrica nos ambientes rurais, sendo que é importante que você tenha consciência de que cada uma das categorias possui a sua função de acordo com as suas características.

Vamos lá?

Associativismo Cooperativismo Sindicalismo

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Atividade de aprendizagem – Gabarito

Tema 1

1) Alternativa c. Empreendedor individual, pois a atividade é individual.

2) Alternativa e. Conforme a Constituição, ninguém pode ser obrigado a se associar ou permanecer associado. Os benefícios citados são direitos.

3) Alternativa b. Secretaria da Receita Federal do Brasil. O contador, ou outro profissional, pode auxiliar, mas o CNPJ é feito na SRF.

4) Alternativa e. Representar a comunidade perante o judiciário ou outros órgãos públicos para aprovação de projetos de interesses comuns – a representação deve constar no estatuto.

5) Alternativa c. Local onde a população participa na discussão e no acompanhamento das políticas públicas.

Tema 2

1) Alternativa b. Reunir pessoas em uma atividade econômica para que, com a ajuda de todos, tenham mais lucro e melhoria de vida – é o objetivo de uma cooperativa.

2) Alternativa b. É uma sociedade de pessoas – todas as outras alternativas são características de uma sociedade da capital.

3) Alternativa c. Aquisição do adubo pelo produtor cooperado no armazém da cooperativa – só é considerada ato cooperado a operação entre o cooperado e a cooperativa. No caso do produtor não cooperado, não é ato cooperado.

4) Alternativa d. Com sede em Brasília, a Organização das Cooperativas do Brasil – OCB é o órgão máximo de representação das cooperativas brasileiras.

5) Alternativa e. Todas as repostas estão incorretas – a cooperativa singular não pode ser formada com pessoas jurídicas (empresas), somente pessoas físicas. Empresas só podem se associar em caso excepcional.

Tema 3

1) Alternativa b. Para facilitar a reivindicação dos direitos trabalhistas – a contribuição sindical é compulsória, sendo sindicalizado ou não.

2) Alternativa c. A lei não permite a criação de mais de um sindicato da mesma categoria profissional na mesma base territorial (Constituição Federal, art. 8º, II).

3) Alternativa b. O Senar, vinculado à CNA, é uma instituição privada, responsável pela capacitação profissional e pela promoção social do produtor, do trabalhador rural e de seus familiares.

4) Alternativa d. Aplicar mais de 50% anualmente para custeio da administração do sindicato.

5) Alternativa d. O Ministro do Trabalho – de acordo com a lei –é quem tem poder de reconhecer a associação como sindicato após atendidas as exigências.

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Atividade extra: Análise Conceitual Comparativa

Associativismo

Podemos definir o associativismo como uma forma de organização social que se caracteriza pelo seu caráter normalmente de voluntariado, pela união de dois ou mais indivíduos que buscam o atendimento da satisfação das necessidades individuais humanas, ou seja, a melhoria da qualidade de vida.

Pode ser constituído de pessoas físicas ou jurídicas, que se unem sem objetivos econômicos, sem objetivo de lucro.

Para que possa ter representação, o grupo necessita de uma entidade formalizada, que pode ser uma associação, um clube, um conselho etc.

As pessoas se associam livremente.

Cooperativismo

Rios (1998, citado por Cavalcanti, 2006) informa que o “cooperativismo é uma doutrina econômica estruturada para a geração de riquezas por meio do livre associativismo entre pessoas que, espontaneamente, concordam em criar uma cooperativa, unidas pelos mesmos ideais e tendo os mesmos objetivos”. O cooperativismo, então, seria uma alternativa de exploração de atividade econômica que objetiva a satisfação das necessidades comuns de seus associados ou cooperados de forma conjunta, e não com exclusividade para este ou aquele membro.

Sindicalismo

É um movimento ou doutrina política que defende a organização dos profissionais e trabalhadores em sindicatos para que trabalhem juntos na defesa de seus interesses. Envolve atividade social, política ou reivindicatória dos sindicatos.

Pode ser, ainda, uma doutrina ou um movimento que visa fortalecer o sindicato dentro da organização econômica e social.Fonte: Dicionário online Caldas Aulete.

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