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Curso: Introdução ao Ensino Religioso – Ênfase aos 1.º e 2.º anos Apostila 2 Pouca coisa é necessária para transformar inteiramente uma vida: amor no coração e sorriso nos lábios. Martin Luther King CONTEÚDOS Religião: o que é?.....................................................................02 Pressupostos pedagógicos do Ensino Religioso............................02 Concepção e objeto de estudo...................................................04 Proposição de conteúdos...........................................................05 Sugestões de planejamento de temas: Tema 1: A beleza da diversidade................................................06 Tema 2: Eu e a natureza somos expressões da beleza da vida......12 Referências...............................................................................14 ASSINTEC/SME Curitiba/ 2010

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Curso: Introdução ao Ensino Religioso –

Ênfase aos 1.º e 2.º anos

Apostila 2

Pouca coisa é necessária para transformar inteiramente uma vida: amor no coração e sorriso nos lábios.

Martin Luther King CONTEÚDOS Religião: o que é?.....................................................................02 Pressupostos pedagógicos do Ensino Religioso............................02 Concepção e objeto de estudo...................................................04 Proposição de conteúdos...........................................................05 Sugestões de planejamento de temas: Tema 1: A beleza da diversidade................................................06 Tema 2: Eu e a natureza somos expressões da beleza da vida......12 Referências...............................................................................14

ASSINTEC/SME

Curitiba/ 2010

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RELIGIÃO: O QUE É? Diná Raquel Daudt da Costa Religião depende de cada um É a crença, a fé, o amor Que as pessoas cultivam Nas suas casas, nas igrejas Nos templos, na natureza... Boa é a religião Do índio, do branco Do negro e do amarelo Que ensina o respeito e o amor Que liga as pessoas num elo Somos todos diferentes Tamanhos, cores, jeitos sem fim Ninguém é perfeito sabemos Mas podemos nos entender Importante é você saber Com todos conviver Nas diferenças pessoais, culturais e religiosas Com seu jeito próprio de ser.

1. PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICOS DO ENSINO RELIGIOSO

A Pedagogia Libertadora tinha a preocupação em libertar as pessoas de toda opressão,

principalmente da opressão social e política, e acabou também por exercer influência na definição de conteúdos e metodologia do Ensino Religioso.

Mesmo tendo a ASSINTEC nascida num período em que a Pedagogia Tecnicista era o ponto central da educação, a Educação Religiosa no Paraná tinha o compromisso de despertar o ser humano crítico, participativo, fraterno, liberto de preconceitos, ignorância e egoísmo, elementos estes inspirados pela Pedagogia Libertadora.

Na década de 80, os educadores envolvidos com o Ensino Religioso, assim como os das demais disciplinas, repensam a educação com base na proposta da Pedagogia Histórico-Crítica.

Sob a influência de Vygotsky (1896 – 1934), que preconiza a importância das interações sociais no desenvolvimento de processos psicológicos, o enfoque no diálogo e na alteridade torna-se hoje ponto de referência para a pedagogia religiosa.

Vygotsky afirma que dominar o sistema de signos produzidos culturalmente configura a forma de consciência do indivíduo sobre a realidade; o indivíduo muda, e a sua linguagem se altera. Durante o estudo de signos e símbolos religiosos se opera na consciência do indivíduo uma nova possibilidade de compreender o mundo e as diferentes culturas e tradições religiosas, espirituais e místicas. Para Vygotsky, havendo mais aprendizagens haverá, conseqüentemente, mais desenvolvimento do indivíduo.

Nesse sentido, não basta que o aluno conheça a sua realidade religiosa apenas, pois ele vive a realidade sociointeracionista, em que a diferença e a variedade configuram a realidade

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maior. Portanto, é necessário o uso do conhecimento religioso para compreender a relação com o outro e como este faz uso do seu próprio conhecimento.

Outra forte influência pedagógica no Ensino Religioso proposta pela ASSINTEC foi, e ainda de certa forma o é, a Teoria dos Sistemas, a visão da globalidade, em que a teia de inter-relações é o fundamento básico para a manutenção do equilíbrio dos sistemas. Muito se ouve falar da ecologia humana, sobre o diálogo interespécies, ou ainda o enfoque do novo paradigma: o cuidado, cujo expoente é o teólogo, escritor e professor Leonardo Boff. A vida cuidando da vida, o respeito à pluralidade, o enfoque dado ao sagrado enquanto meio de proteção e estabelecimento de um ethos nas relações do humano para com o humano, do humano com outras formas de vida, ou seja, abrangendo a relação interespécies.

Assim, o Ensino Religioso num modelo inter-religioso propõe: • Decodificar os elementos básicos que compõem o fenômeno religioso, visando à

construção da alteridade e do respeito no convívio social; • Compreender as relações do humano com o Transcendente/Imanente; • Abordar o conhecimento religioso focando a multiculturalidade; • Buscar o saber (informação sobre o fenômeno religioso), o viver (prática de valores

humanizadores), integrando a pessoa em seus aspectos: ter (horizontal) com o ser (vertical);

• Integrar ciência e consciência, ciência e ética, ciência e arte, ciência e tradição de sabedoria;

• Proporcionar espaço para a interiorização, sensibilização, observação, reflexão e informação da realidade social, política, econômica, cultural e religiosa;

• Desenvolver a consciência crítica e a criatividade; • Utilizar a linguagem formal e científica para aprofundar conhecimentos e a linguagem

simbólica para compreender categorias intuitivas, como os mitos, os símbolos, os ritos e os arquétipos expressos pelos povos;

• Dar à ciência e à tecnologia uma dimensão ética; • Educar com arte; • Educar para a paz, com base no respeito e reverência ao sagrado presente em si e no

outro; • Construir um referencial de conhecimentos culturais e proposições éticas, preparando o

estudante para o exercício consciente da cidadania ecumênica, democrática, planetária e humanitária. O fato de trazer à pauta o ensino comprometido com a totalidade do ser humano, a

inclusão das holopráxis, na preparação da turma para o trabalho com determinada temática, é resultado do amadurecimento de uma postura ética e pedagógica de profissionais da educação em face da vida, e não restrita apenas aos espaços escolares.

Como bem apontou Morin (1993), o conhecimento se diferencia da informação e se distingue desta. A informação comporta o primeiro estágio do conhecimento. Ao serem trabalhadas as informações estabelecem relações, contextualizam-se, são classificadas, analisadas, passando desse modo para o estágio denominado conhecimento. O autor sugere ainda um terceiro estágio, que se relaciona à inteligência, o da consciência ou sabedoria, que envolve reflexão, sugerindo novas formas de humanização.

No Ensino Religioso, a complexidade dos assuntos abordados para o estudo do fenômeno religioso requer que cada professor seja um investigador, pois, além da imensa gama de informações dessa área de conhecimentos, o fenômeno muda constantemente, assume relações diversas, transformações decorrentes dos processos de avanços e retrocessos sofridos pelos diferentes grupos sociais.

Outro fato importante é que a postura investigativa, no caso dos professores, não se limita apenas ao objeto de estudo de sua área de conhecimento, mas também à sua própria ação docente. Além de atualizações constantes em sua área, para trabalhar de forma adequada os conhecimentos em sala de aula, o professor precisa acompanhar as teorias de educação, envolver-se diretamente nas reflexões sobre sua práxis cotidiana, lançando o olhar para os resultados de seus procedimentos pedagógicos, para as transformações sociais, para a peculiaridade de cada classe e o desenvolvimento cognitivo/afetivo de seus aprendizes.

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CONCEPÇÃO E OBJETO DE ESTUDO

O Ensino Religioso sendo área do conhecimento é diferente de “aula de religião”, ou de catequese, ou de escola bíblica, ou ainda de qualquer modelo de doutrinação. Não pressupõe a adesão e muito menos o proselitismo ou a propagação de uma determinada crença religiosa.

A especificidade do Ensino Religioso, ou seja, o seu objeto de estudo, são as manifestações do sagrado, cuja decodificação ou análise permitem aos educandos o conhecimento e a compreensão do fenômeno religioso como fato cultural e social, bem como uma visão global de mundo e de pessoa.

Assim, o Ensino Religioso contribui com a formação de cidadãos capazes de conviver de modo respeitoso, democrático e ecumênico na diversidade cultural, a qual inclui também as diferentes expressões religiosas, místicas e espirituais.

Aprendendo a conviver com diferentes tradições [...] vivenciando a própria cultura e respeitando as diversas formas de expressão cultural, o educando está também se abrindo para o conhecimento. Não se pode entender o que não se conhece. Assim, o conceito de conhecimento do Ensino Religioso, de acordo com as teorias contemporâneas, aproxima-se cada vez mais da idéia de que conhecer é construir significados (PCNs – Ensino Religioso, 1997, p. 39.).

O objeto de estudo do Ensino Religioso abarca as diferentes manifestações do sagrado. O

fenômeno religioso inclui todas as manifestações religiosas, em outras palavras, reúne uma gama imensa de expressões que acontecem no contexto das mais diversas culturas.

Essas manifestações ou expressões podem ser tanto de ordem material como espiritual, e envolvem os seres humanos em sua busca e relação com o Transcendente/Imanente. Essa busca e relação pode ter um caráter individual ou comunitário.

Esse fenômeno acontece no universo de uma cultura, é influenciado por ela e, por sua vez, também a influencia; é inerente ao ser humano e tem como pressuposto a experiência do sagrado, a qual está na essência da expressão cultural dos povos.

Portanto, o fenômeno religioso é tudo o que pertence ao universo religioso e que mobiliza e determina certo comportamento dos cidadãos ou de grupos sociais, cujo objetivo é a experiência do sagrado.

O conhecimento do fenômeno religioso como fato social e cultural contribui na ampliação da visão de mundo, bem como na compreensão de que o ser humano é essencialmente um ser religioso.

A antropologia e a história constataram que não existe nenhum povo, por mais primitivo que seja, sem alguma forma de expressão de cunho religioso. Assim, a universalidade do fenômeno religioso é uma realidade presente entre todos os grupos humanos, desde os tempos mais remotos.

Nas antigas civilizações teocráticas, como a egípcia, romana, grega, inca, maia, entre tantas outras, constata-se que a religião esteve profundamente radicada na estrutura social, cultural, política e até na índole psicológica dos povos dessas civilizações.

A religião, a ciência, a arte e a filosofia constituem os quatro pilares sobre os quais as diversas civilizações são construídas.

Promover o conhecimento do fenômeno religioso no contexto da escola pública é favorecer a compreensão da realidade cultural religiosa tanto no âmbito local como global, é formar cidadãos do mundo.

Dom Hélder Câmara (1909 - 1999 ), um importante líder da Igreja Católica no Brasil, assim se expressou sobre essa

questão: “Se eu pudesse, daria um globo terrestre a cada criança... Se possível, até um globo luminoso, na esperança de alargar ao máximo a visão infantil e de ir despertando interesse e amor por todos os povos, todas as raças, todas as línguas, todas as religiões!”

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PROPOSIÇÃO DE CONTEÚDOS PARA 1.º E 2.º ANOS O fenômeno religioso abrange as diferentes manifestações do sagrado, portanto, a

organização e a seleção dos conteúdos do Ensino Religioso têm como eixo o sagrado nas tradições religiosas. Esse eixo integra um amplo conjunto de conteúdos, dentre os quais alguns serão explicitados:

ETHOS – Alteridade – Palavra de origem grega que significa caráter. É parte da filosofia

que trata do comportamento humano. “É a forma interior da moral humana em que se realiza o próprio sentido do ser.” (PCNs – Ensino Religioso, 1997, p. 37). São os costumes e maneiras de viver e conviver das pessoas.

A ética religiosa se relaciona ao sagrado e constitui um conjunto de princípios, padrões de conduta, prescrições, mandamentos e máximas, que os fiéis ou adeptos devem assimilar e cumprir.

Alguns desses preceitos se repetem em quase todas as religiões do mundo, como, por exemplo: não matar, não roubar, não praticar imoralidades, socorrer os necessitados, amparar os aflitos, amar o semelhante, promover a paz, entre outros.

Cabe ao Ensino Religioso favorecer aos alunos a percepção de que, mesmo nas diferenças, é possível uma convivência harmoniosa. É importante ressaltar os pontos comuns das tradições religiosas e místico-filosóficas, mostrando ao aluno que, apesar das diferenças, em sua maioria, elas buscam organizar e estabelecer regras para a vida em sociedade, fundamentadas em valores comuns.

A alteridade é um dos conceitos importantes a serem enfocados nesse processo de reflexão sobre a diversidade não só religiosa, mas também pessoal, étnica e cultural.

Alteridade é o estado ou qualidade daquilo que é “outro” ou diferente. Alteridade significa reconhecer o “outro”. De acordo com o Dicionário de Filosofia (1970), “alteridade é o ser outro, o colocar-se ou constituir-se como outro. A alteridade é um conceito mais restrito do que diversidade e mais extenso do que diferença.”

Vivenciar a alteridade requer valorização e aceitação das pessoas em relação às suas singularidades. Conviver numa sociedade multiculturalista pressupõe o reconhecimento do direito à diferença, a aceitação do outro com naturalidade e respeito.

É possível conviver de modo harmonioso com pessoas de diferentes culturas, religiões, filosofias de vida e mentalidades quando se compreende o sentido dos valores básicos que devem existir nas relações humanas, como a alteridade, o respeito e a abertura ao diálogo.

Cada ser humano precisa compreender-se como um ser em relação com o todo sistêmico, com todos os seres da natureza, e entender que a riqueza dos seres humanos e demais seres da natureza consiste nas diferenças. Sendo assim, é importante aprender a ver o outro como ele é, e deixar de querer transformá-lo ou convertê-lo naquilo que achamos ser o único padrão correto.

A consciência de pertença no coletivo se constrói com base no respeito às diferenças, numa atitude de acolhida a diversidade. O respeito ao outro é valor básico para a construção da paz, do diálogo e do entendimento.

HISTÓRIA E ESTRUTURA DAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS – Esse conteúdo aborda as

diferentes tradições, analisando o seu papel, sua origem histórica, mudanças evolutivas no decorrer dos tempos, estrutura hierárquica, questões de gênero, ação social, modo de ser, pensar e agir das pessoas, bem como a possibilidade de diálogo inter-religioso. Aborda também o que é cultura religiosa, como se estabelecem as relações na convivência entre pessoas de diferentes crenças, permitindo assim a compreensão do fenômeno religioso.

As religiões influenciam as diferentes formas de compreender e representar a natureza e o destino dos seres humanos. São fontes inspiradoras da arquitetura, da música, da dança, do teatro, da pintura, da poesia, entre outras. “Todas as religiões mudaram com o tempo, algumas mais relutantemente do que outras. A religião não vai desaparecer. Somos basicamente religiosos; somos preparados para a religião desde o berço, como somos preparados para inúmeros outros comportamentos básicos.” (BOWKER, 1997, p.10).

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Rudolf Otto define religião como sendo “[...] o encontro do homem com o sagrado” (apud BIRCK, 1993, p. 19), sendo o sentimento numinoso3 uma característica exclusiva da dimensão religiosa.

“Religião significa a relação entre o homem e o poder sobre-humano no qual ele acredita ou do qual se sente dependente. Essa relação se expressa em emoções especiais (confiança, medo), conceitos (crenças) e ações (culto e ética).” (C. P. Tiele In HELLERN, NOTAKER e GAARDER, 2000, p.17).

A religião, portanto, é a forma concreta, visível e social de relacionamento pessoal e comunitário do ser humano consigo mesmo, com o outro e com o sagrado. Ou, ainda, religião é um fenômeno que as sociedades humanas têm produzido em diferentes contextos geográficos, históricos e culturais para dar respostas às questões fundamentais da vida.

As tradições religiosas ou religiões como sistemas organizados a partir de uma estrutura hierárquica, conjunto de doutrinas, textos sagrados, ritos, símbolos e normas éticas, podem ser dogmáticas, mas também podem ser abertas e flexíveis. Sua função básica, pelo menos no plano ideal, é contribuir para com o processo civilizador da humanidade, orientar as pessoas em sua busca e relação com o sagrado, dar respostas às questões existenciais e sustentação à existência da comunidade por meio de seus preceitos éticos. Exemplos de algumas tradições religiosas: Religiões Indígenas, Religiões Afro-Brasileiras, Hinduísmo, Jainismo, Sikhismo, Taoísmo, Confucionismo, Xintoísmo, Zoroastrismo, Judaísmo, Cristianismo, Islamismo, Fé Bahá’í...

Partindo das experiências dos alunos, da descoberta de si mesmos como seres religiosos que participam ou não de uma determinada religião ou filosofia de vida, neste conteúdo, busca-se analisar e compreender as diferentes tradições presentes na realidade local e global.

2. SUGESTÕES DE PLANEJAMENTO DE TEMAS PARA O

ENSINO RELIGIOSO

TEMA 1: A BELEZA NA DIVERSIDADE Objetivo: Compreender que as diferentes religiões do mundo são expressões da espiritualidade dos seres humanos e que cada uma possui sua própria beleza, seu encanto. Atividade de sensibilização: Professor(a), ensine os alunos cantarem a canção sugerida. Depois oriente uma vivência conforme sugere a letra da canção. AS DIFERENÇAS Serrob O PATINHO FEIO NÃO É FEIO NÃO ELE É UM BELO CISNE E É NOSSO AMIGÃO LÁ LÁ LÁ LÁ LÁ LÁ LÁ LÁ TANTAS DIFERENÇAS VAMOS RESPEITAR JUNTOS DE MÃOS DADAS FELIZES CIRANDAR

3 “Sentimento numinoso, conforme Birck (1993, p. 31), é um estado afetivo não derivado de outros elementos

emocionais, mas produzido pela presença do objeto numinoso.” O objeto numinoso se relaciona ao sagrado.

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Procedimento: Professor(a), inicie contando a história do Patinho Feio.

O PATINHO FEIO

Autor Hans Christian Andersen, recontada por Clarissa Pinkola-Estés

Já estava quase na época da colheita. As velhas faziam bonecas verdes com a palha do milho. Os velhos remendavam cobertores. As moças bordavam flores de um vermelho vivo nos seus vestidos brancos. Os rapazes cantavam enquanto empilhavam o feno dourado. As mulheres tricotavam blusões ásperos para o inverno que viria. Os homens ajudavam a colher, arrancar, cortar e ceifar os frutos que os campos haviam produzido. O vento apenas começava a soltar as folhas,um pouco mais, e mais um pouco a cada dia que passava. E lá para os lados do rio, uma pata chocava uma ninhada de ovos.

Tudo estava indo como deveria para essa mãe pata e, afinal, um a um, os ovos começaram a tremer e sacudir até que as cascas racharam e deles saíram cambaleantes seus novos filhotes. Restava, porém, um ovo, um ovo muito grande. Ele estava ali parado como uma pedra. Uma velha pata veio visitar, e a mãe pata exibiu seus filhotes.

- Eles não são lindos? - gabou-se ela. Mas o ovo ainda sem rachar chamou a atenção da velha pata, e esta tentou dissuadir a mãe de continuar a chocar aquele ovo.

- É um ovo de peru - exclamou a velha pata. - Absolutamente não serve como ovo. Não se pode levar um peru para dentro d'água, você sabia? - Ela sabia, porque já havia tentado.

A mãe pata, no entanto, achou que estava chocando há tanto tempo que mais um pouquinho não ia fazer mal.

- Não estou preocupada com isso - disse ela. - Mas você sabia que o safado do pai desses patinhos ainda não veio me visitar uma vez sequer?

Afinal, o ovo grande começou a estremecer e a rolar. Acabou quebrando, e dele saiu uma criatura grande e desajeitada. Sua pele era marcada por veias sinuosas azuis e vermelhas. Seus pés eram de um roxo claro. Seus olhos, de um rosa transparente. A mãe pata inclinou a cabeça, esticou o pescoço e o contemplou. Não pôde se conter: ele era feio mesmo. “Talvez seja mesmo um peru", preocupou-se ela. Contudo, quando o patinho feio entrou na água acompanhando os outros filhotes, a mãe pata viu que ele nadava muito bem. "É, ele é dos meus, apesar de ter essa aparência tão estranha. No fundo, porém, do ângulo certo... ele é quase bonito."

E assim ela o apresentou às outras criaturas do quintal da fazenda, mas, antes que percebesse, outro pato atravessou o quintal a toda e bicou o patinho feio bem no pescoço.

- Pare com isso! - gritou a mãe pata. - Ora, ele é tão feio e esquisito. Ele precisa que o maltratem - retrucou o

valentão.

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- Oh, mais uma ninhada! Como se já não tivéssemos bocas demais a alimentar! - exclamou a pata rainha com o trapo vermelho na perna. - E aquele lá, aquele grandão e feio: Bem, aquilo sem dúvida é um engano.

- Ele não é um engano - disse a mãe pata. - Ele vai ser muito forte. Foi só que ele ficou tempo demais dentro do ovo e ainda está meio deformado. Mas ele vai se recuperar. Vocês vão ver. - Ela limpou com o bico as penas do patinho feio e lambeu seu topete. .

Os outros, no entanto, faziam tudo o que podiam para importunar o patinho feio. Voavam para atacá-lo, bicavam-no e gritavam com ele. E, à medida que o tempo passava, eles o atormentavam cada vez mais. Ele se escondia, se desviava, saía em ziguezague, mas não conseguia escapar. O patinho era a mais infeliz das criaturas. A princípio, sua mãe o defendia, mas com o tempo até ela se cansou daquilo tudo.

- Como eu queria que você fosse embora - exclamou exasperada. E foi assim que o patinho feio fugiu. Com a maior parte das suas penas arrancada e todo enlameado, ele correu e correu até chegar a um pântano. Ali ele se deitou à beira d'água com o pescoço esticado e sorvia um pouco d'água de vez em quando. Dos juncos dois gansos o observavam. Eram jovens e cheios de si.

- Ei, você aí, criatura horrorosa - disseram, rindo à socapa. - Quer vir conosco até o próximo condado? Há um bando de gansas solteiras por lá, prontas para serem escolhidas.

De repente, ecoaram tiros. Os gansos caíram com um baque e a água do pântano ficou vermelha com seu sangue. O patinho feio mergulhou para se abrigar, e por toda a parte só havia tiros, fumaça e cães latindo. Afinal, o pântano ficou tranquilo, e o patinho saiu correndo e voando a maior distância possível. Perto do anoitecer, ele chegou a um pobre casebre. A porta estava pendurada de um barbante, e havia mais fendas do que paredes. Ali vivia uma velha esfarrapada com seu gato desgrenhado e sua galinha vesga. O gato fazia jus a morar com a velha por apanhar camundongos. A galinha, por botar ovos.

A velha achou que estava com sorte por ter encontrado um pato. Talvez fosse uma pata e também botasse ovos e, se não fosse, podemos matá-lo para comer. E assim o pato ficou, mas ele era perseguido pelo gato e pela galinha.

- Para que você serve se não bota ovos e não sabe apanhar camundongos? - perguntavam-lhe os dois.

- O que mais gosto de fazer - disse o patinho com um suspiro - é ficar "debaixo", quer seja debaixo da amplidão azul do céu, quer debaixo do frescor azul da água. - O gato não via nenhum sentido em querer ficar debaixo d'água e criticou o patinho pelos seus sonhos idiotas. A galinha não conseguia ver a graça de ficar com as penas molhadas e também debochou do patinho. No final das contas, ficou claro que aqui também não haveria paz para o patinho, e por isso ele partiu para ver se as coisas podiam ser melhores mais adiante. Ele encontrou por acaso um laguinho e, enquanto estava nadando, foi ficando cada vez mais frio. Um bando de aves passou voando lá em cima, as mais lindas que ele já havia visto. Elas gritaram para cumprimentá-lo, e ouvir suas vozes fez com que o coração do patinho saltasse e se apertasse ao mesmo tempo. Ele gritou de volta com uma voz que nunca havia emitido antes. Ele nunca havia visto criaturas mais lindas, e nunca havia se sentido mais desolado.

Ele girou e girou na água para observá-las enquanto desapareciam nos céus e depois mergulhou até o fundo do lago e ali se aninhou, trêmulo. Estava fora de si por sentir um amor desesperançado por aqueles enormes pássaros brancos, um amor que ele não conseguia entender. Um vento mais frio começou a soprar e foi ficando cada vez mais forte com o passar dos dias. E a neve caiu sobre o gelo. Os velhos quebravam o gelo nos baldes de leite, e as velhas fiavam até tarde da noite. As mães alimentavam três bocas de cada vez à luz de velas, e os homens saíam à procura de ovelhas sob o céu

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branco da meia-noite. Os jovens entravam na neve até a cintura para ir ordenhar, e as moças imaginavam ver o rosto de rapazes bonitos nas chamas do fogão enquanto cozinhavam. E no lago ali por perto, o patinho precisava nadar cada vez mais rápido em círculos para manter um lugar aberto no gelo.

Um dia de manhã, o patinho se descobriu preso no gelo e foi aí que ele sentiu que ia morrer. Dois patos selvagens vieram voando e chegaram escorregando no gelo. Eles observaram o patinho.

- Como você é feio - grasnaram. - Que pena. É uma tristeza. Não se pode fazer nada por alguém como você. - E saíram voando.

Felizmente, um lavrador passou por ali e libertou o patinho quebrando o gelo com seu cajado. Ele levantou o patinho, abrigou-o no casaco e voltou para casa. Na casa do lavrador, as crianças quiseram pegar o patinho, mas ele teve medo. Voou até os caibros do telhado, fazendo com que toda a poeira caísse na manteiga. De lá de cima, ele mergulhou direto para dentro do balde de leite e, quando ia saindo todo molhado e grudento, caiu no barril de farinha de trigo. A mulher do lavrador saiu atrás dele com uma vassoura enquanto as crianças riam a mais não poder. O patinho saiu agitado pela porta do gato e, lá fora afinal, caiu quase morto na neve. Dali, ele se forçou a prosseguir até chegar a mais um lago, a mais uma casa, a outro lago, a outra casa, e o inverno inteiro transcorreu dessa forma, alternando entre a vida e a morte.

Mesmo assim, a brisa suave da primavera voltou. As velhas vieram arejar os acolchoados, e os velhos guardaram suas ceroulas compridas. Novos bebês chegavam no meio da noite, enquanto seus pais andavam de um lado para o outro no quintal, debaixo do céu estrelado. Durante o dia, as moças enfiavam narcisos nos cabelos, e os rapazes examinavam os tornozelos femininos. E num lago por ali, a água ficou mais agradável e o patinho feio que nela boiava abriu as asas. Como eram grandes e fortes as suas asas. Elas o levaram bem para o alto acima da terra. Dos céus, ele via os pomares com seus mantos brancos, os lavradores arando, os jovens de toda a natureza saindo da casca, tropeçando, zumbindo e nadando. Também brincando na água do lago havia três cisnes, as mesmas criaturas maravilhosas que ele havia visto no outono; aquelas que lhe haviam causado um aperto tão forte no coração. Ele sentiu um impulso de se unir a elas. E se fingirem que gostam de mim, e depois, assim que eu me aproximar, saírem voando às risadas? Pensou o patinho. Ele desceu planando e pousou no lago, com o coração batendo forte. Assim que o viram, os cisnes começaram a nadar na sua direção. Sem dúvida, estou a ponto de encontrar meu fim, pensou o patinho, mas, se tenho de ser morto, melhor que seja por essas lindas criaturas do que pela mão de caçadores, donas-de-casa ou longos invernos. E abaixou a cabeça para aguardar os golpes.

Que surpresa! Na imagem na água ele viu um cisne em traje a rigor: plumagem branca como a neve, olhos escuros e tudo o mais. O patinho feio a princípio não se reconheceu porque era exatamente igual aos belos estranhos, igual àqueles que ele havia admirado de longe. E acabou se revelando que ele era um deles no final das contas. Seu ovo por acaso havia rolado para um ninho de patos. Ele era um cisne, um cisne magnífico. E pela primeira vez sua própria família se aproximava dele, tocando-o com cuidado e carinho com as pontas das asas. Eles lhe limparam as penas com seus bicos e nadaram muito ao seu redor para cumprimentá-lo.

- Ei! Tem mais um cisne! - gritaram as crianças que vinham trazer migalhas de pão para os cisnes. Como costumam fazer as crianças de qualquer lugar, elas correram para contar a todos. As velhas vieram até a beira d'água, destrançando seus longos cabelos prateados. Os rapazes juntavam nas mãos em taça um pouco da água limpa e a atiravam na direção das moças, que enrubesciam como pétalas. Os homens tiraram uma folga da ordenha só para tomar um pouco daquele ar. As mulheres pararam um pouco de remendar só para rir com seus parceiros. E os velhos começaram a contar histórias sobre

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como a guerra é longa e a vida é curta. E um a um, fosse pela vida, pela paixão, fosse porque o tempo estava passando, todos se afastaram dançando. Os rapazes, as moças, todos foram embora dançando. Os mais velhos, os maridos, as esposas, todos foram embora dançando.

As crianças e os cisnes também se afastaram dançando... deixando ali só nós... a primavera... e mais uma mãe pata chocando seus ovos junto ao rio.”

QUESTÕES PARA REFLEXÃO

1. O que é o belo para você? 2. Em uma folha de papel, faça um desenho com uma cor que você ache muito bonita. Como ficou? Agora complete seu desenho utilizando outras cores, até mesmo as que você não gosta muito. Como ficou? 3. O que você acha bonito em você? O que você acha bonito em sua religião? 4. Fernando Pessoa, um poeta português, escreveu: “um dia de chuva é tão belo como um dia de sol. Ambos existem, cada um como é.” Você concorda ou discorda dele? 5. Que tal agora fazer uma composição plástica usando traços do contorno de várias partes de seu corpo? Exemplo: uma mão, um pedaço do braço, uma curva de joelho, etc. Veja o que você pode fazer a partir desses traços e, após ter colorido, apresente a composição para um colega seu e veja se ele consegue descobrir quais partes de seu corpo estão ali representadas. Vamos observar a diversidade de traços que nosso corpo proporcionou! 6. O que é diversidade? Você tem amiguinhos que são de outra religião, diferente da sua? Isso é diversidade religiosa. Pergunte para eles o nome de sua religião ou igreja e se eles gostam de ir ao culto, à missa ou a outro tipo de reunião religiosa.

SUGESTÕES DE ATIVIDADES 1.º passo: Agrupar os alunos três a três. 2.º passo: Sugerir que os elementos do trio se aproximem e comparem a altura corporal, a dimensão das mãos e suas linhas, as formas das unhas, as orelhas, o pescoço, o tamanho dos pés, a cor e o desenho do interior da íris (geralmente percebemos a cor dos olhos das pessoas, e não os desenhos que se formam na íris). 3.º passo: Colocar folhas grandes de papel bobina no chão para que, nelas, os alunos façam o contorno uns dos outros. 4.º passo: Dentro do desenho, cada um deverá escrever seu nome e a religião a que pertence. Se não possuir uma religião, poderá escrever um valor ético que seja vivido pela sua família, por exemplo: amor, honestidade, respeito, caridade, amizade, etc. 5.º passo: Após os contornos prontos, passa-se para o momento de refletir sobre a beleza das diferenças e sobre como podemos viver bem juntos, harmonizando-nos e auxiliando-nos a fim de que todos se sintam aceitos em seu direito de ser quem são. 6.º passo: Oriente os alunos a escreverem frases sobre as gravuras relacionadas à história do Patinho Feio.

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7.º passo: Professor(a), oriente a produção de um texto coletivo a partir do título A BELEZA DAS DIFERENÇAS. Depois da escrita do texto, conduza leituras coletivas do material produzido e proponha que os alunos o copiem em seus cadernos e ilustrem com desenhos.

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TEMA 2: EU E A NATUREZA SOMOS EXPRESSÕES DA BELEZA DA VIDA

Objetivo: Reconhecer que a vida em suas variadas formas é sagrada na concepção das diferentes religiões do mundo. Procedimentos: 1.º passo: Ler para os estudantes o texto intitulado “A sementinha”. Obs.: As crianças poderão estar deitadas no chão ou apenas inclinadas sobre a carteira. Se puder colocar uma música suave de fundo, com barulho de natureza, será bom. O(a) professor(a) com voz pausada e tranquila conduzirá este momento da forma que segue:

A SEMENTINHA

Pessoas, animais, plantas, pedras, ar, flores, estrelas, lua, sol, mar, rios, montanhas e muitas outras coisas mais fazem parte daquilo que chamamos de natureza.

A natureza sempre nos encanta com as suas formas, sabores, cheiros... Muitas religiões do mundo ensinam que devemos respeitar a natureza,

pois ela é sagrada, ensinam também que dela dependem a nossa e todas as outras formas de vida.

Eu e você fazemos parte da natureza! Somos expressões da vida, assim como são também expressões da vida a terra, a água, o ar, o fogo.

Vamos conhecer agora estes quatro elementos que fazem parte da natureza: fogo, ar, água e terra, por meio de uma viagem imaginária.

Vamos imaginar que somos uma sementinha colocada na terra, esta grande mãe que acolhe a todos os seres.

É noite... estamos dormindo. Devagarzinho o sol começa a despontar com seu calor, na cor do fogo que nos aquece. (pausa)

Vem a chuva que molha nossa casquinha. Chuva é água que nutre, que limpa e refresca.

De novo brilha o sol lá na superfície da terra, e nós aqui em baixo estamos quentinhos. Passa o tempo e nossa casquinha se rompe, vamos crescendo, crescendo, rumo à luz e ao ar do mundo da superfície.

Viva! Já estamos vendo o mundo em sua diversidade, sentindo o vento em nosso caule e folhas, e vendo o sol. Como tudo é lindo aqui! A força que nos fez brotar existe também fora de nós, pois vemos pássaros, outras plantas, pedras... Há tanta vida, tanta força dentro e fora de mim!

Agora compreendo o que as religiões dizem sobre a vida ser sagrada. 2.º passo: Fazer com os alunos uma pequena dança circular, comentando que também as danças da paz são sagradas e que pessoas do mundo todo estão se reunindo para dançá-las a fim de compreender que todos são importantes e podem ser respeitados nas suas diferenças. Sugerimos a dança circular conduzida pela música “Havia um Pastorzinho”.

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Havia um pastorzinho que vivia a pastorar Saiu de sua casa e pôs-se a cantar dó ré mi fá fá fá, dó ré do ré ré ré dó sol fá mi mi mi dó ré mi fá fá fá Chegando ao paraíso uma fada lhe falou Gostei da melodia seu canto me encantou dó ré mi fá fá fá, dó ré dó ré ré ré dó sol fá mi mi mi dó ré mi fá fá fá

3.º passo: Conduza, professor(a), um momento de reflexão, fazendo perguntas aos alunos: Você sabe qual é o elemento religioso que aparece na música? Sim, paraíso. O que é paraíso? Sua religião ensina algo sobre isto? Você já ouviu falar na terra sem males dos povos indígenas? Sabia que a terra sem males é o próprio paraíso? Sabia que outras religiões do mundo também descrevem o paraíso? 4.º passo: Para concluir vamos ouvir uma história que nos fala sobre o Paraíso.

A HISTÓRIA DA ÁRVORE DO PARAÍSO

No início do mundo, o Grande Criador

plantou um jardim.

Inúmeras plantas formosas cresciam em

cada um dos seus diferentes campos.

Havia jardins de florestas,

completamente cobertos de musgo verde e

campainhas ondulantes, que acenavam

timidamente ao vento. Pequenos seres

povoavam estes jardins, farejando e sussurrando

a toda a hora.

Havia jardins de pradarias cheios de

ervas oscilantes, que os animais percorriam com

passadas graciosas.

Havia também jardins subaquáticos, para os seres do mar profundo. Tinham folhas

roçagantes, arrastadas pelas correntes, e misteriosas flores de pétalas trêmulas.

Os mais belos de todos eram os jardins de árvores. Eram tão altas que tocavam o

céu. Nessas árvores, os pássaros todos faziam os seus ninhos. Os ramos, cheios de folhas,

enchiam-se de trilos e chilreios, de gorjeios e assobios, de melodias trinadas, que caíam em

sonora cascata para deleite do mundo.

O Grande Criador pediu aos homens que tomassem conta do mundo e construíssem

para si próprios casas simples e seguras, num dos jardins de que gostassem.

Mas o tempo foi passando e as pessoas tornaram-se cada vez mais ambiciosas…

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— Vamos construir CASAS MAIORES! — disseram.

— Há materiais de construção em abundância para usarmos como quisermos.

Em breve começaram a construir palácios.

Cada novo edifício era mais alto do que o anterior e os palácios eram feitos cada vez

com mais magnificência.

As suas salas às centenas estavam cheias de todo o tipo de luxos… mas a ambição

das pessoas não conhecia limites.

Os jardins do mundo foram caindo em ruínas, cada um deles imagem da mais

desoladora devastação.

Todas as árvores tinham sido abatidas.

Os pássaros agitavam-se tristemente no chão frio, tentando, em desespero, construir

novos ninhos.

As suas canções foram silenciadas.

Então, do alto do seu palácio, uma criança olhou para o mundo devastado e chorou.

— Desce à terra — sussurrou-lhe, por entre o vento, a voz do Criador. — Lá

encontrarás uma semente, que deves semear num local onde possa crescer em segurança.

A correr, a criança desceu as escadas em caracol da torre do palácio.

Pousada na terra, estava uma semente castanha, enrugada, feia.

A criança pegou na semente com delicadeza.

— Onde poderei semeá-la em segurança? — perguntou-se.

Foi caminhando, caminhando, até que chegou a uma vala na qual uma lama escura

corria lentamente e alguns juncos baloiçavam no vento frio.

— Coloca-a aqui, onde nunca ninguém vem! — parecia sussurrar o vento.

E foi ali que a menina enterrou a semente.

Devagar, em silêncio e completamente invisível, a semente começou a germinar.

Cresceu e fez-se uma árvore forte. Sob os seus ramos, outros jardins começaram a

florescer. Em breve, as criaturas reuniram-se à sua volta.

A árvore cresceu mais alto do que todos os palácios. Os pássaros voavam por entre

os seus ramos e aí construíam os ninhos.

Cresceu tanto, que chegou ao Paraíso. E quem assim o desejasse, poderia subir

pelos seus ramos até ao Jardim do Paraíso do Grande Criador.

JOSLIN, M. The tale of the heaven tree. Tradução e adaptação. Oxford, Lion Publishing, 2001.

REFERÊNCIAS BIRCK, B. O. O sagrado em Rudolf Otto. Porto Alegre: Edipucrs, 1993. (Coleção Filosofia 7). BOWKER, J. Para entender as religiões. São Paulo: Ática, 1997. ESTÉS, C. P. Mulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1995. FONAPER – Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. Parâmetros curriculares nacionais do ensino religioso. 2.ed. São Paulo: Ave Maria, 1997. MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2000. ______. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. São Paulo: Bertrand Brasil, 2001. SCHLÖGL, E. Expansão criativa: por uma pedagogia de autodescoberta. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

Elaboração: Emerli Schlögl, Borres Guilouski e Diná Raquel Daudt da Costa

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